Revista Varal do Brasil - ed 32 - novembro de 2014

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ISSN 1664-5243

Ano 5 - Novembro de 2014—Edição no. 32


Você que nos lê, que acompanha as nossas atividades... Você que escreve conosco, que participa de nossas atividades... MUITO OBRIGADO! Você fortalece nossa vontade de seguir adiante! Você fortalece a literatura!


ISSN 1664-5243

LITERÁRIO, SEM FRESCURAS Genebra, outono de 2014 Edição no. 32 - Novembro de 2014


Foto UNICEF


EXPEDIENTE Revista Literária VARAL DO BRASIL NO. 32- Genebra - CH - ISSN 1664-5243 Copyright : Cada autor detém o direito sobre o seu texto. Os direitos da revista pertencem a Jacqueline Aisenman. O VARAL DO BRASIL é promovido, organizado e realizado por Jacqueline Aisenman Site do VARAL: www.varaldobrasil.com Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com Textos: Vários Autores Ilustrações: Vários Autores Foto capa: © Elina Lava - Fotolia

Muitas imagens encontramos na internet sem ter o nome do autor citado. Se for uma foto ou um desenho seu, envie um e-mail aqui para a gente e teremos o maior prazer em divulgar o seu talento. Agradecemos sua compreensão. Revisão parcial de cada autor

BLOG DO VARAL Você pode contribuir com artigos, crônicas, contos, poemas, versos, enfim!, você pode escrever para nosso blog. Também pode enviar convites, divulgação de seus livros, pinturas, fotografias, desenhos, esculturas. Pode divulgar seus eventos, concursos e muito mais. No nosso blog, como em tudo no Varal, a cultura não tem frescuras! (www.varaldobrasil.blogspot.com) Toda contribuição é feita e divulgada de forma gratuita e deve ser enviada para o e-mail varaldobrasil@gmail.com

A revista VARAL DO BRASIL circula

Revisão geral VARAL DO BRASIL

no Brasil do Amazonas ao Rio Gran-

Composição e diagramação:

de do Sul...

Jacqueline Aisenman

Também leva seus autores através

PARITICIPE DAS PRÓXIMAS EDIÇÕES:

dos cinco continentes.

Até 25 de NOVEMBRO você pode enviar textos para nossa edição de janeiro que trará o tema livre.

Quer divulgação melhor?

As inscrições podem ser encerradas antes se um número ideal de participantes for atingido.

VARAL DO BRASIL

Venha fazer parte do

E-mail: varaldobrasil@gmail.com Site: www.varaldobrasil.com Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com *Toda participação é gratuita


AGENDA DO VARAL ∗

Serão abertas as inscrições para o III Prêmio Varal do Brasil de Literatura a partir de 1o de dezembro.

Até fim de novembro estamos recebendo textos para o Concurso da Orelha e da Capa do livro Varal Antológico 5. Também fotos e artes para o Concurso da Capa do mesmo livro.

Até fim de dezembro estamos recebendo textos para o livro Varal Antológico 5.

Até 10 de dezembro estamos recebendo textos para a edição de janeiro da revista Varal que trará tema livre.

Inscrições para o Salão do Livro de Genebra estão abertas (para autografar e para enviar livros).

Até 25 de janeiro estaremos recebendo textos para a edição de março da revista Varal que terá a Mulher como tema.

Está sempre aberto o espaço no blog do Varal para divulgação de seus textos, sua arte, seus convites e eventos culturais. Toda informação: varaldobrasil@gmail.com


A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A revista está gratuitamente para download em seus site e blog. Informações sobre o 29o Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra e sobre o stand do VARAL DOBRASIL: varaldobrasil@gmail.com PARITICIPE DAS PRÓXIMAS EDIÇÕES: •

Até 25 de NOVEMBRO você pode enviar texto para a edição de JANEIRO, que trará o tema livre. Escreva em verso ou em prosa, envie poemas, crônicas, contos, artigos! Proponha uma coluna!

Até 25 de JANEIRO você pode enviar textos para nossa edição de março que trará o tema MULHER, MUITO ALÉM DE UM GÊNERO! e onde falaremos da mulher em todos os seus significados e expressões.

As inscrições podem ser encerradas antes se um número ideal de participantes for atingido.

PARTICIPE DE NOSSAS ATIVIDADES!


VARAL DO BRASIL E VOCÊ: MAIS DE QUARENTA EDIÇÕES! ATIVIDADES QUE LEVAM VOCÊ E A LITERATURA CADA VEZ MAIS LONGE!



A LITERATURA COM CARINHO FEITA PARA VOCÊ!


REVISTAS E LIVROS: A LITERATURA PARA TODOS!


Estamos comemorando neste mês de novembro cinco anos de atividades do Varal do Brasil que se iniciou como uma revista digital tão somente e hoje engloba inúmeras atividades literárias e artísticas. São mais de quarenta edições de nossa revista circulando pelos cinco continentes, levando nossa Língua Portuguesa através dos mares da internet. E hoje, além da revista e de todas as atividades, somos também a Association Culturelle Varal do Brasil com sede em Genebra, Suíça. São cinco livros de nossa coleção Varal Antológico, coletânea que firmamos como uma das melhores amostras dos autores atuais. E mais uma antologia (Voando em Bando) com o resultado de nossas oficinas criativas realizadas no Grupo do Varal do Brasil no Facebook. Dezenas de exercícios feitos em conjunto por uma equipe de amigos que, juntos, escrevem cada vez mais e melhor! Realizamos concursos irreverentes e acessíveis para as orelhas e apresentação de nossos livros e também para a capa. Assim, a participação é sempre maior, mais abrangente e, como nosso lema de trabalho, totalmente sem frescuras. Levamos nossos trabalhos durante estes anos a diversos locais na Suíça e também diversas cidades no Brasil. Espalhamos a nossa alegria em divulgar a literatura por onde passamos, divulgando e distribuindo livros que também são doados a muitas Associações e Bibliotecas suíças. São participações cheias de sucesso no Salão

do Livro de Genebra em 2012 (estande pioneiro na Suíça e na Europa divulgando livros em Português!), 2013 e 2014. Preparando a quarta participação para 2015, quando será lançado o livro Varal Antológico 5 e apresentaremos dezenas de autores. Entre eles, os nacionalmente conhecidos Cintia Moscovich, Marcelino Freire e Ronaldo Correia de Brito. São dois Prêmios Varal do Brasil de Literatura, lançando agora em dezembro o III Prêmio, que alcança os escritores em Língua Portuguesa em todos os continentes. Varal do Brasil hoje é sinônimo de seriedade e sucesso na literatura, mas ao mesmo tempo de descontração e alegria na divulgação de nosso idioma. Bem mais de mil autores já passaram por nossas páginas na revista e em nossos espaços (blog e site). Bem mais de mil textos já foram divulgados em nossas páginas e em nossos espaços virtuais. E continuamos, firmes com nosso propósito de, na Literatura, sempre somar e nunca dividir. Assim, unimos nossas forças com os que amam a Língua Portuguesa e continuamos, sempre, nosso caminho literário! Literário, mas sem frescuras! E que venham mais cinco anos!

Jacqueline Aisenman Editora-Chefe Varal do Brasil


AGLAE TORRES

EVELYN CIESZYNSKI

ALESSANDRO BORGES DE MOURA

FELIPE CATTAPAN

AMBROSINA CORADI

FLÁVIA ASSAIFE

ANA POLESSI

GAIÔ

ANA ROSENROT

GENI PIRES DE CAMARGO

ANDRE VALÉRIO SALES

GERMANO MACHADO

ANETTE APEC BARBOSA

GILDO PEREIRA DE OLIVEIRA

ANTONIO CABRAL FILHO

GLADIS DEBLE

ASSENÇÃO PESSOA

GRAÇA CAMPOS

BETE FRANÇA JUFER

GUACIRA MACIEL

BENILDA CALDEIRA ROCHA

IGOR BUYS

CARMEN LÚCIA HUSSEIN

HAZEL DE SÃO FRANCISCO

CLEBER REGO

HEBE C. BOA-VIAGEM A. COSTA

DANIEL DE CULLA

HILDA MENDONÇA

DANIELLI RODRIGUES

ISABEL C. S. VARGAS

DÉBORA VILLELA PETRIN

ISIS BERLINCK RENAULT

DECIO DE MOURA MALLMITH

ISIS DIAS VIEIRA

DEIDIMAR ALVES BRISSI

IVANE LAURETE PEROTTI

DIULINDA GARCIA DE M. SILVA

IZABEL MARUM

DULCE RODRIGUES

JACQUELINE AISENMAN

EDNA BARBOSA DE SOUZA

JANIA SOUZA

ELISA ALDERANI

JERMIAS FRANCIS TORRES

ELOISA MENEZES PEREIRA

JOANA PUGLIA

EMERITA ANDRADE


JOSÉ ALBERTO DE SOUZA

ROSSANA AICARDI CAPRIO

JOSÉ CARLOS PAIVA BRUNO

ROZELENE FURTADO DE LIMA

JOSÉ HILTON ROSA

RUI PEDRO PINHEIRO

JOSÉ PEREIRA DA SILVA

SANDRA BERG

JÚLIA REGO

SANDRA NASCIMENTO

JULIANO SOTTI

SERGIO ALMEIDA

LEANDRO MARTINS DE JESUS

SILVIO PARISE

LUIZ CARLOS AMORIM

SONIA CINTRA

LUIZ M. F. MAIA

SONIA NOGUEIRA

MAGDA RESENDE

SUZANA VILAÇA

MARCO MIRANDA

TULIA LOPES

MAIRA DELBONI

VALQUIRIA IMPERIANO

MARIA LUIZA VARGAS RAMOS

VALTER BITENCOURT JUNIOR

MARIA MOREIRA

VARENKA DE FÁTIMA ARAÚJO

MARIA (NILZA) CAMPOS LEPRE

VERA SALBEGO

MARIA SOCORRO SOUZA

VICÊNCIA JAGUARIBE

MARIANA GENTILE

VIVIAN DE MORAES

MARIO REZENDE

VÓ FIA

MARLUCE PORTUGAELS

W. J. SOLHA

MARLY RONDAN

WALNÉLIA CORRÊA PEDERNEIRAS

NELCI BACK OLIVEIRA

WILTON PORTO

NILDA DIAS TAVARES

YARA DARIN

OLIVEIRA CARUSO

RAI DE LAVOR

RENATA CARONE SBORGIA

ROBERTA BRUMMER MUNHOZ

ROGÉRIO ARAÚJO (ROFA)

ROSANGELA CALZA

ROSELENA FAGUNDES


COBERTURA – BIENAL DO LIVRO DO RIO DE JANEIRO

Bienal paulista atinge leitores de todas as idades Por Rogério Araújo (Rofa) * A 23ª Bienal Internacional de São Paulo, aconteceu entre 22 a 31 de agosto de 2014, realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), contou com a parceria do Sesc São Paulo. Foram nove espaços, com cerca de 400 atividades, ultrapassando 1500 horas de programação cultural e um público de mais de 400 mil pessoas, ou seja, mais de 50% do total de visitantes passaram pelos espaços culturais, que contou com apresentações de música, teatro, dança, circo, cinema, quadrinhos e debates com grandes nomes da literatura e personalidades.

autógrafos, o visitante foi o grande protagonista da experiência que a Bienal Internacional do Livro proporcionou nesta edição sob o tema “Diversão, cultura e interatividade: tudo junto e misturado”. O evento contou com a presença de autores e convidados nacionais e internacionais, destaque para

Cassandra

Clare,

da

saga

“Instrumentos Mortais”, que atraiu uma legião de fãs ao Pavilhão do Anhembi, seguido de Kiera Cass, de “A Seleção”, Harlan Coben, premiado autor norte-americano, o veterano Maurício de Souza, celebrando os 50 anos de Turma da Mônica, e a cantora Zélia Duncan, como a “Amazona” na série de apresentações chamadas de “Arquétipos” – fechando Além de conferir as principais editoras, livrarias e distribuidoras e suas sessões de

as cinco atrações mais procuradas da programação cultural oficial da Bienal.


Segundo Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro, o evento permite

tos de Miranda, Diretor do Departamento Regional do Sesc no Estado de São Paulo.

infinitas possibilidades e experimentações.

Com investimento de R$ 34 milhões,

“Durante a Bienal do Livro, a cultura e, espe-

esta edição alcançou uma média de 30% a

cialmente a literatura, permitiu a reunião de

40% mais movimentação de negócios do que

todas as idades, tribos e faixas sociais e eco-

a última edição da Bienal. Do total de ingres-

nômicas, todos juntos e misturados, nessa

sos, 40% meia-entrada, 30% escolas, 14%

grande celebração do livro e do prazer pela

entradas inteiras, 6% convidados da organi-

leitura”, destaca a executiva.

zação do evento (autores e personalidades), 3% menores de 12 anos e maiores de 60 anos. “A Bienal do Livro cumpre mais uma vez o papel de protagonizar o livro como o grande personagem da cultura e reforça mais uma vez que o evento trouxe oportunidades para a geração de novos negócios, crescimento de vendas para as editoras, capacitação profissional, discussões sobre momentos importantes da literatura no país, e principalmente, o contato do fã com seu autor favorito”, finaliza Karine Pansa.

Em 10 dias de evento, a Bienal do Livro reuniu 720 mil pessoas que conferiram os nove espaços do panorama cultural do evento: Arena Cultural, Cozinhando com Palavras, Escola do Livro, Espaço Imaginário, Salão de Ideias, BiblioSesc com Praça da Palavra e a Praça de Histórias, Anfiteatro e Edições Sesc. “Nesta edição, o Sesc São Paulo consolidou sua parceria com a CBL ao assumir o compromisso de realizar uma programação cultural com a proposta de acolhimento e oferta de atividades que ampliam a experiência do visitante, e para isto, tomamos o livro como ponto de partida e suporte para diversas linguagens artísticas”, afirma Danilo San-

Entre as curiosidades dessa edição da Bienal estão:


- Credenciamento de imprensa e blogs: 1367 jornalistas e 462 blogueiros credenciados; - Visitação escolar: 120 mil alunos, com a presença de 2 mil escolas; - E os levantamentos das redes sociais: . Facebook oficial – cerca de 2 milhões – 613 mil são orgânicos mais de 25 mil novos fãs; . Blog: 36 mil visualizações . Twitter: 64,5 milhões; . 10.500 pessoas utilizaram hashtag #bienaldolivrosp no Instagram.

a

Pessoalmente, a Bienal de São Paulo foi um marco em minha vida pelo lançamento de meu segundo livro “Crônicas, poesias e contos que eu te conto...” feiro no dia 25 de agosto, às 17h, no estande da Literarte e Mágico de Oz. Um livro que faz refletir, rir, chorar e de muita emoção nos três gêneros – crônicas, poesias e contos – em cinquenta textos. Uma emoção ímpar como autor e repórter do evento. E a 24ª Bienal do Livro de São Paulo acontecerá em 2016. Aguarde!!!

* Repórter da “Revista Varal do Brasil” na cobertura da XVIII Bienal do Livro de São Paulo; escritor, jornalista, autor do livro “Crônicas, poesias e contos que eu te conto...”, na própria Bienal de SP, em 2014 e de “Mídia, bênção ou maldição?” (Quár/ca Premium, 2011) e diversas antologias nacionais e internacionais; colunista nesta publicação, da coluna “Lupa Cultural” e do Jornal Sem Fronteiras. Contato: rofa.escritor@gmail.com



RONALDO CORREIA DE BRITO CINTA MOSCOVICH MARCELINO FREIRE NOSSOS CONVIDADOS DE HONRA PARA O 29o SALÃO INTERNACIONAL DO LIVRO DE GENEBRA EM 2015! E você? Vem também? Venha, será um prazer recebê-lo (a)! varaldobrasil@gmail para mais informações



Apenas você

Por Alexandra Borges de Moura

Não quero nada. Não quero a ciência dos doutores. Uma lua só pra mim, outros amores... Nem beijo de fada.

Não quero a inspiração das belas noites enluaradas. Não me pesam altíssimos senhores! Tenho voz firme e conheço bem os dissabores. Essa boêmia luz rompendo toda estrada.

Também o regresso do astro perdido, As nuvens arrebatadoras da libido... Não quero outra vez chorar!

Quero sentir-me verdadeiramente como os que amam profundamente. E livre; pleno... Eu precise apenas da luz caroável do teu olhar.


AS MULHERES NO MUNDO

A mulher atenta no mundo de tanta violência É também vítima dos açoites dos homens Bem poucas vez percebe o eco da sua voz

Por Ambrosina Coradi

Rebatida com críticas e sem respostas à sua dor

O mundo existe A mulher está presente

A mulher no mundo canal de comunicação

O papel da mulher se faz presente

Serviço humanitário entre povos e Nações

De geração em geração é geradora da vida

Elo de comunicação entre os homens de boa vontade

Deus véu ao mundo

Dedica esforço e serviço aos mais necessitados

Do seio de uma mulher Eleita e escolhida por Deus para ser mãe De Jesus, o Deus Filho Maria mãe da Terra Amada em todos os recantos do mundo Atenta aos sofrimentos dos homens Com a permissão do Pai , socorre os homens A mulher no lar assume os desafios de ser mãe Passa o seu tempo dedicando-se ao lar Entrega-se toda, de corpo e alma Sofre no trabalho, na família na busca do bem de todos A mulher na sociedade vai de encontro dos desafios Dos apelos do mundo que nos cerca Faz de tudo para atender as necessidade Da fome, miséria dos mais necessitados A mulher na família sempre disponível Deixa de fazer para si em prol dos filhos Atenta aos problemas da família Dá tudo de si para o bem estar de todos,


ESCRITA DOS PÉS Por Antonio Cabral Filho

Não danço a valsa das ondas nem ouço seu xuá-xuá hermetopasqualino reverberando na praia.

Não quero morrer no mar das canções de Caymmi caçando sandálias de pescador para enfeitar meus versos com as tragédias de Heminguay.

Assim como Neruda e Drummond, eu caminho na areia escrevendo pegadas... *


S@LÃO DO LIVRO DE GENEBR@ O M@IOR EVENTO LITERÁRIO SUÍÇO ESPER@ POR VOCÊ! Inform_-s_: v[r[l^o\r[sil@gm[il.]om


O Dono da Poesia Por Assenção Pessoa A poesia é livre. Seja no rabiscar das primeiras curvas de uma criança No seu sorriso ou choro, com leveza e esperança, Seja nas pegadas dos passos levemente compassados Do idoso que enobrece de orgulho sua amada, Ao lhe escrever trovas com as mãos trêmulas, enrugadas. A poesia é livre. Como é livre o revoar dos pássaros ao entardecer, Procurando no horizonte o pôr do sol Para então suas asas descansar, o rouxinol. E num novo dia, deslumbrante... Recomeçar. Poesia não tem dono. É livre como os traços firmes dos jovens Que apaixonados colorem o papel, Criando e recriando sua história. Literatura de cordel. E nos pergaminhos da vida, poetizam os amores contidos, Com a mesma magia, dos sonhos vividos. A poesia é livre. Para ser contemplada, exaltada, Legível ou ilegível, ter a idade revelada, Pela leveza irreverente do poeta Que descobre em cada ser, em cada rosto, Nas linhas do tempo, a serenidade secreta. Sutileza de poeta, que com poesia declara, Seu amor e sensível beleza, uma joia rara, Sensível beleza na primavera ou outono Nas linhas do papel, vagante e livre a bailar. E revela que poesia não tem dono, A poesia é como a flor, é como o mar...


O moço dos balões Por Bete França Jufer

verde, lembro-me disso. Descendo a rua 6 em direção à rua 4, na calçada do lado direito, um pouquinho mais adiante, havia uma loja de calçados, a “Evolução”. Esta sapataria era muito boa, /nha sandálias modernas, bolsas e também sapatos para uniformes escolares, como os calçados « Vulcabrás »: « Chuta lata, chuta bola, resistência Vulcabrás » - era essa a propaganda. Você comprava um par e o /nha pro resto da vida, a não ser que o pé crescesse!

As ruas de Goiânia, como Nova Iorque, não têm nomes, são numeradas. Somente as avenidas têm o privilégio de se chamar alguma coisa. Algumas avenidas mais an/gas, da época da fundação da cidade, receberam nomes de rios que banham o estado: Av. Tocan/ns, Av. Araguaia, Av. Paranaíba. Tem também a Av. Anhangüera, que foi nomeada de acordo com o nome do “nosso” bandeirante. O que vou contar passou-se nesta cidade jovem e moderna, cujas ruas não têm nomes. Só números. Poderia ter se passado em qualquer lugar pobre, onde as pessoas enfrentam a vida com a cara e a coragem. Na esquina da Av. Anhangüera com a rua 6, no centro, ficava a Drogasil. Farmácia grande, bonita, com um es/lo que na época eu achava meio nobre, chique, não sei porquê. Na fachada predominava a cor

Estávamos numa manhã de sábado no início da década de 70, diante desta sapataria, meu namorado (hoje meu marido) e eu, quando uma coisa linda nos chamou a atenção: balões coloridos. Pareciam um buquê, flutuando no ar, presos em um cordão que um jovem senhor segurava nas mãos. Feito flores flutuantes. Assim como um pequeno jardim suspenso. Quase todas as cores estavam lá reunidas: amarelo, cor-de-rosa, verde, vermelho, azul. Azul escuro, que se sobressaía no anil do céu goiano daquela manhã. O dia prome/a ser quente, o que obrigava o moço dos balões – ou papos de anjo, como se dizia naquela época em Goiás - a já usar um chapéu de aba larga.

(Segue)


O jovem comerciante tentava vender sua modesta mercadoria do outro lado da rua, em frente a uma papelaria de esquina que lá havia.

Depois disso, o pai voltou a seu posto e o menino entrou na papelaria. Para comprar caderno.

Estávamos nesta contemplação quando um menino de uns 7 anos chegou até nós, com uma folhinha de papel tamanho A5, e nos mostrou perguntando:

Um fato simples e comum. Mas nós nunca nos esquecemos dele.

Os senhores podem me ajudar a comprar meu material escolar? De fato a lis/nha estava lá, bem detalhada: Dois cadernos de linguagem, dois de matemá/ca (quadriculado), caderno de desenho (1), caligrafia (1), lápis(2) e borracha (1). Contribuímos com alguma coisa.

O menino, muito feliz, atravessou a rua e foi direto ao « moço dos balões ». Para comprar um balão no lugar de comprar caderno, deduzimos.

O que se passou, no entanto, foi bem diferente do que Rnhamos imaginado. O jovem vendedor atravessou a rua em nossa direção, acompanhado pelo menino. Carregava consigo toda aquela beleza flutuante, deu-nos a mão direita que estava livre e, com dignidade, agradeceunos ter ajudado com a lista do material escolar de seu filho.

Às vezes nos perguntamos o que foi feito desse menino. Levou seus estudos pra frente? Aprendeu uma profissão? Passou a ajudar seu pai na labuta diária? A figura daquele lutador anônimo, educando seu filho com suor e dignidade, ficou-nos gravada na memória, não sabemos bem a razão. Um homem sem nome, numa rua sem nome. Talvez porque ele, naquela manhã de sol, nos tenha presenteado tanto com sua poé/ca profusão de cores? Com seu exemplo de luta? Muito mais do que nós a ele?


CINCO COLETÂNEAS LANÇADAS NO BRASIL E NA SUÍÇA, MAIS DE QUARENTA EDIÇÕES DA REVISTA, TRÊS PARTICIPAÇÕES VITORIOSAS NO SALÃO INTERNACIONAL DO LIVRO DE GENEBRA: VARAL DO BRASIL, LITERATURA SEM FRESCURAS, LITERATURA FEITA PARA TODOS!

PARTICIPE DO VARAL! Escreva para a revista, escreva no blog! Inscreva-se para o livro Varal Antológico 5! Inscreva você e seu livro para o 29o Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra! Com o Varal a literatura é feita para todos, nossa revista circula via internet pelos cinco continentes! VARAL DO BRASIL LITERÁRIO SEM FRESCURAS! varaldobrasil@gmail.com


“O SÁBIO, O DISCÍPULO E A FOTO” Por Benilda Caldeira Rocha AO OLHAR ESTA FOTO ESTE SOL MARAVILHOSO LEMBREI-ME DE QUANDO ESTIVE NO RIO DE JANEIRO ADMIRANDO O CRISTO REDENTOR. PORÉM, AQUI OFERECEU-ME CARINHOSAMENTE UM BOTÃO DE ROSA E OLHANDO AS AS CORES EM TRÊS TOM SOBRE TONS PASMEI.



O operário

Por Carmen Lúcia Hussein

Ele erguia casas aqui Ilustração de Jean Errado

Apartamentos lá Igrejas, etc. Onde havia apenas chão Operário Trabalho árduo Com pá e com cimento Com suor e com cimento Constrói Põe /jolo sobre /jolo Pinta a casa Trabalha com dedicação E empenho Faz-se um grande silêncio Dentro do seu coração E um sorriso ilumina a sua face A imagem de seus filhos pequenos e família Que dão energia e força Para esse trabalho árduo.


DE TUDO QUE MORRE

morre o rio e a nascente, o quebra-mar e a água viva;

Por Cléber Rego. morre o músico, sua música seus acordes e sua guitarra; Morre a vida, o beijo, o dia, a noite, o desejo, um lugar no passado, o perfume do cabelo de quem jurando ficar, partiu; morre o gato, o cachorro e a rusga entre os dois;

morre o sangue no asfalto, o pneu, o corpo de homem e o rato de esgoto; morre os olhos da menina, o hímen, a boneca e o amor pelo padrasto; morre a barriga, o feto e a cartela de cytotec;

morre o milho, o cacau, o café e a praga que os matou;

morre o pênis e o esperma...

morre a morte de quem não faz falta e a lembrança do que se esquece;

(Morre tudo que é vivo, ou que assim se faz, na travessia em que vivemos entre vida e mortes).

morre os edifícios, as fábricas, os carros e os homens que ocupam o seu oco; morre deus, o diabo, o filosofo alemão, seus bigodes e seu martelo; morre a literatura, os poemas e seus poetas imortais; morre o homem, sua barba, seu rosto bonito, o diabetes e o diabético; morre a mulher, sua máquina de costura, seus dentes, e o preto dos seus cabelos; morre a infância, vovó, o gosto da cocada de coco no paladar de nicotina: morre o pulmão; morre a professora de francês, suas coxas, suas traduções: versos de Rimbaud;


PITONES Por Daniel de Cullá Los de Cuellar, en Segovia, tienen por groseros y licenciosos a los mozos de Iscar, en Valladolid; y para decir de uno que es para poco y holgazán, dicen: “Es de tierra de Cuellar”. Que esto se cumplió en extremo en unas fiestas patronales, y en la plaza de Iscar, cuando el toro va tras alguno y mis ojos se fijaron en una hermosa joven casi idéntica a Gloria Grahame, a quien recuerdo y adoro, quien después de tener tres maridos divorciados y otro dentro, su propio hijastro, (en Gloria fue el hijo de Nicholas Ray),se fijó en mi, dejando el río de mis sangres casi sin correr, moliendo las gradas de piedra los testículos como pan cocido con tocino, que es lo que se merienda después del tercer toro. Me vi cautivo de su “mal”, recordando su película “Cautivos del Mal”, del director Vicente Minnelli; y a ella como una mosca cojonera en “El Mayor Espectáculo del Mundo”, de Cecil Be DeMille. Volví los ojos al toro y al torero en un pase vistoso, ufano, de muleta. Un olé sostenido se presentía en las gradas. Una voz dijo: “Dios te guarde, hombre”; repitiendo otro: “Si no eres de Cuellar”. El matador teniendo que llevar tanto peso de arte a tan corta distancia mostraba una herida superficial en la ingle izquierda. Al instante, me acordé del picador y de los gritos de ¡Fuera, Fuera¡ que le lanzó el respetable, pues su caballo presentaba la enfermedad de las caballerías que se presenta con dolores en dos o en los cuatro remos. Gloria Grahame

Volviendo la cabeza, remiré a mi soñada hembra. Ella me toreaba. El torero fue cogido de gravedad por el toro. Y yo no me dí cuenta. “El Chotillo”, amigo de “El Bola”, mis amigos, me zarandeó el hombro derecho, y me dijo. “Majete, que el toro ha cogido al torero”. Yo le contesté: “Y a mí esos pitones de la zorra”. Mi sangre salida de la parte del cuerpo en que se juntan los muslos con el tronco besaba esos pitones que me volvían loco, como el cuento de la separación de Cataluña de España en ese grado que forma la hipotenusa del cartabón con los catetos de él. El torero a la enfermería, las peñas borrachas de vino y sangre, y yo cantando connatural y como nacido con uno mismo: “Qué bello es vivir” (obra maestra de Frank Capra).



Doçura de viver Por Danielli Rodrigues Entregai os sabores das cores nas brincadeiras das poesias aos vossos desejos reprimidos das loucuras interditas pelos laços dos vossos lábios. Vigiai os olhares dos mares nas valentias das vossas ausências aos vossos pecados cometidos das ternuras alvuras pelos dias e noites das vossas mãos. Almejai os odores dos amores nas aquarelas das vidas aos vossos corpos entremeados das capelas adoradas pelos apelos dos vossos pensamentos!


Noêmia, Doadora de Amor Por Débora Villela Petrin Olhos de cor azul-marinho que a gente preza em olhar, cabelos loiros, fartos, repicados com esmero, sempre impecáveis, pele de pêssego, andar delicado, tal como sua ges/culação, sorriso amigo, e risada com toque musical. Noêmia, personagem real, minha eterna mãe, não havia melodias tristes em seu repertório de vida, descrevê-la é um Hino à vida regada com gotas de camomila. Dotada de um arsenal de dons arRs/cos, conseguia transformar um pedaço de flanela de estampa quadriculada sem vida alguma, em uma bela camisa de es/lo moderno, um tecido esmaecido em uma blusa cobiçada, em tardes ensolaradas, ou chuvosas, confeccionava roupas, em poucas horas, muitas peças eram criadas. Passatempo favorito, entre tantos outros, como cul/var orquídeas, amava exercer o "cargo" de chefe de cozinha, /nha imenso prazer em inovar na arte de cozinhar, apreciava receber a família, os amigos para degustar a sua mágica refeição, que enfei/çava o paladar de todos, com seu jeito ca/vante, dizia… “É simples preparar e começava a explicar como se tudo fosse fácil, ela /nha conhecimento, agilidade, cria/vidade, e eterno bom humor em tudo o que preparava, aliás, para a vida’'… Seu tempero era de sabor delicado, e sempre inusitado. Se dedicava com muita afeição à sua família, com sua magia em ser doce, respeitava a vontade de cada um, era única em tudo! Fez de seus 73 anos uma limonada sempre doce, não havia amargura em sua alma, sua filosofia consis/a em uma escultura, lapidada em ouro. Não se aba/a por problemas, fazia deles uma nova peça de arte

para ser comparada com outras de maiores proporções, e assim viveu como uma colecionadora de obra-prima. Inúmeras peças me deixou... Palavras, sabedoria, autoes/ma, afeto, roupas bordadas, ou apenas no es/lo clean, sabores de quitutes inigualáveis, lembranças das mesas com o requinte da ar/sta nata que era, arranjos florais harmoniosos de /rar o fôlego pela beleza. Tinha nas mãos o dom de criar transformando, e no coração a sabedoria de amar gratuitamente. Um legado de ensinamentos, impossível de ser descrito em uma folha de papel. O vento assobia as vezes, nas tardes, enxugando minhas lágrimas que em um ano rolam incessantemente, sua ausência ^sica é a dor que receava desde garota sen/r. Meu coração procura pela sua voz carinhosa, me dizendo que a gente só vai deixar lembranças quando par/r, e que elas devem ser boas, as que ficaram são os gorjeios dos pássaros de todas as manhãs. Que parecem através do canto trazer a alegria contagiante dela, aquela que não cessava jamais, assim ficam eles na incansável intenção de me fazer sorrir, igual a nossa eterna amizade! "Tecida" com lealdade, e sempre regada com amor e risadas. Não houve despedidas, um dia a gente se reencontra, para con/nuar as conversas de esmaltes a coisas mais sérias, degustando de empadinhas a bolos, com sucos de frutas variados, ao som de nossas vozes, ora cochichando, ora gargalhando. Aquarela de vida dela prossegue, em cima do preto e branco que ficou em mim, as frases sábias reinam em minha mente, fazendo um ziguezague entre palavras e imagens. O luto con/nua soluçando na minha alma, e a certeza de ter /do o privilégio de uma Doadora de Amor em minha vida, embala meu coração com o lacre da esperança.


AGENDA DO VARAL

Estão abertas as inscrições para o Salão Internacional do Livro de Genebra (exposição de livros e sessões de autógrafos) 2015

Até 25 de novembro estaremos recebendo textos para a revista Varal de janeiro (com tema livre)

Até 15 de dezembro estaremos recebendo textos para o Concurso da Orelha e Apresentação para o livro Varal Antológico 5 ♦

Até 31 de dezembro estaremos recebendo textos para a úl>ma seleção para o livro Varal Antológico 5

Até 25 de janeiro estaremos recebendo textos para a revista de março com o tema MULHER, MUITO MAIS QUE UM GÊNERO!

PARTICIPE CONOSCO!


Primeira antologia do Grupo do Varal do Brasil no Facebook com trabalhos resultantes de nossas oficinas criativas!


Destinos Por Décio Mallmith Não pense que o meu destino é muito diferente do teu Ele só não comete o desatino De viver e perder-se no céu estampado nesse jeito felino que você tem de dizer adeus. Não seja o que você não é Apenas viaje de peito aberto, Sem passado, futuro, com fé arraigado em caráter ereto, sólido como a igreja da sé, Vá, faça tudo o que for certo. Só não pense que meu destino é muito diferente do teu, Porque ele, de fato, não é!


GUERRA

Por Deidimar Alves Brissi

Enquanto o Sr. Ministro Justificava a necessidade da guerra Para salvar o mundo... Diante da casa destruída, Ajoelhados, perto da mãe caída, Os dois irmãos Imploravam Para ela levantar!


CULTíssimo Por @n[ Ros_nrot

Naquele ano de 1953, as famílias se reuniam confortavelmente na frente de seus recémadquiridos aparelhos de T.V.; a magia do entretenimento podia ser desfrutada livremente de forma confortável e gratuita dentro de casa, ir ao cinema havia se tornado um luxo desnecessário. Os estúdios buscavam uma solução imediata para esse problema crescente e a Twentieth Century Fox encontrou: o CinemaScope (filmagem e projeção feitas com lentes anamórficas) a tecnologia que mudaria para sempre a forma de fazer e exibir filmes. Mas era preciso atrair novamente o público para as salas de cinema e dois filmes foram feitos inicialmente com esse intento: o primeiro a ser lançado foi “O Manto Sagrado (The Robe)” – épico bíblico e com apelo religioso, que explorava a grandiosidade dos cenários e locações no novo formato – e o segundo foi a comédia romântica “Como Agarrar um Milionário (How to Marry a Millionaire)”, que se tornou um dos filmes mais populares (e odiado pelas feministas) do mundo; um Cult perfeito. Baseado nas peças de teatro “The Greeks Had a Word for It” (Cortesãs Modernas) (também um filme de 1932), de Zoe Akins, e “Loco”, de Dale Eunson e Katherine Albert e escrito pelo roteirista Nunally Johnson, Como Agarrar um Milionário tem um enredo bem simples: três mulheres em busca de um príncipe encantado (com os bolsos bem cheios); mas a simplicidade acaba por aí: com direito a uma mega orquestra se apresentando (a Twentieth Century Fox Symphony Orchestra tocando “Street Scene”, composta e conduzida por Alfred Newman para promover a novidade do som em estéreo), figurinos extraordinários (de dar inveja) e três beldades loiras inesquecíveis: Lauren Baccal (grande diva do Noir e símbolo de elegância), Betty Grable (a eterna pin-up conhecida como “a

garota das pernas de um milhão de dólares”) e o mito Marilyn Monroe (linda e displicente mesmo de óculos); ainda assim o filme pode ser resumido em poucas palavras: inocência disfarçada de ambição. Há muito mais por trás das três alpinistas sociais que procuram um homem que as sustente, aqui podemos encontrar várias questões femininas atuais: a pressão da sociedade pelo casamento, o sacrifício feito pelas mulheres para parecerem bonitas e adequadas (como o personagem de Marilyn que prefere cair e fazer papel ridículo a ser vista de óculos), a preocupação com a perda da mocidade (o medo do “tarde demais”), a falta de dinheiro e a busca pelo amor verdadeiro; tudo isso é debatido de forma divertida e o público acaba se tornando mais uma conquista das três loiras. Um filme muito gostoso de ver e rever, o retrato de uma época e um conceito tão antigo e atual, realmente imperdível. Na próxima tem mais, obrigada!


Como Agarrar Um Milionário (How to Marry a Millionaire)(E.U.A. 1953) – Dirigido por Jean Negulesco é uma comédia romântica que conta a história de três amigas Schatze Page (Lauren Bacall), Pola Debevoise (Marilyn Monroe) e Loco Dempsey (Betty Grable), três modelos cansadas de namorados sem dinheiro que alugam em Manhattan (N.Y.) um elegante apartamento com o objetivo de arrumarem maridos ricos. Mas a situação se complica quando o dinheiro vai acabando e elas começam a se interessar por homens pobres. Indicado ao Oscar de Melhor Figurino, em 1954, ao BAFTA de Melhor Filme, em 1955 e ao prêmio do Sindicato dos Roteiristas (WGA) como Melhor Roteiro de comédia americana

Para contato e/ou sugestões é só mandar uma mensagem: anarosenrot@yahoo.com.br


PORTUGAL E BRASIL Por Dulce Rodrigues

Portugal e Brasil, uma longa história... Era uma vez um rei que realizara o sonho de ver os seus navegadores abrirem a rota marítima para a Índia. Mas, o sonho comanda a vida, como dizia o grande poeta português António Gedeão, e o rei quis ir mais longe, até outros mundos, outras gentes. Manuel – assim se chamava esse rei venturoso – enviou, então, Pedro Alvares Cabral e as suas gentes descobrir essas novas terras que o intrigavam. E nessa manhã de Páscoa de 22 de Abril de 1500, Cabral e os seus marinheiros avistaram a cúpula azulada de um monte, que seria baptizado com o nome de Monte Pascoal, em virtude de nesse dia ser quarta-feira antes da Páscoa. Ao aproximarem-se da costa, os navegadores depararam-se com uma praia de areia dourada e uma vegetação luxuriante. Que "terra graciosa"! Assim lhe chamaram. Com o passar do tempo, pela abundância do pau brasil, passou a ser conhecida por Brasil. E o nome perdurou até hoje. Quanto ao nosso rei sonhador, a ele se sucederam muitos outros, uns mais venturosos, outros menos... Uns conservaram os filhos junto de si, outros viram-nos partir e perder a vida e não mais voltar, outros viram-nos sair de casa para criarem a sua própria família. E como estes últimos, também o Brasil se emancipou um dia, soltando o seu grito de Ipiranga. Mas tal como os laços familiares entre pais e filho, assim os laços tecidos têm perdurado até hoje entre Portugal e o Brasil.

Arte de Mohammad222



HISTÓRIA DO BRASIL SOB A ÓTICA FEMININA Hebe C. Boa-Viagem A. Costa

Maria Angélica Ribeiro 1829 – 1896

sas investidas femininas? Para eles, as mulheres não tinham suficiente discernimento e vigor para se firmarem nesse campo. Deviam,

Primeira teatróloga brasileira

portanto, permanecer no “seu lugar”. A insistência em abordá-los não se ajustava às frá-

Maria Angélica de Sousa Rego,

geis condições femininas. Assim sendo, tudo

descendente de família nobre, nasceu em An-

que saia da lavra delas, de duas, uma: ou não

gra dos Reis – RJ. Seu pai, fidalgo da Real

prestava ou, então, era trabalho de algum ho-

Casa de D. João VI, faleceu deixando-a órfã

mem.

aos 5 anos de idade. Encantado com a inteligência e vi-

Maria Angélica desmistificou essa crença. Em 1855 escreveu a primeira peça.

vacidade da menina, seu tutor, o Brigadeiro

Sua obra teatral, de atestada qualidade, conta-

Bracet, procurou lhe dar uma educação de

va com mais de vinte peças. Muitas delas não

qualidade, bem diferente daquela que a popu-

foram editadas e seus originais estavam no

lação feminina de então recebia.

Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. In-

Aos catorze anos, Maria Angélica

felizmente foram destruídos num incêndio. Em 1863, foi encenado o drama

se casou com seu professor, João Caetano Ribeiro, que viria a se destacar como conceitu-

Gabriela no famoso Ginásio Dramático do Rio

ado ator do século XIX, no Brasil e em Portu-

de Janeiro. Era abolicionista militante. Sua pe-

gal.

ça Cancros sociais (1865), vigoroso libelo conDesde a adolescência, Maria An-

gélica Ribeiro começou a escrever e, sob o pseudônimo de Nênia Sílvia, colaborou em revistas. Só aos 25 anos é que ela resolveu invadir um território até então exclusivo dos homens: a dramaturgia envolvendo temas sociais

tra a escravidão, alcançou grande sucesso de publico e, ainda mais, veio a merecer elogios de Machado de Assis.

hoje, essa peça é superior ao drama Mãe de José de Alencar pela solução firme do desenlace, produto de sua posição política clara. (Segue)

e políticos. Como os homens reagiam a es-

Segundo críticos de


Depois da estréia, a peça teve oito récitas se-

Maria Benedita Câmara Bormann

guidas; e depois, outras nos meses e anos

– Delia

seguintes. Todo esse sucesso a tornou co-

1853 – 1895

nhecida e prestigiada no ambiente teatral da época, fato até então inédito para uma mu-

Precursora das campanhas para a educação sexual da mulher

lher.

Maria Benedita nasceu em Porto

Muito ativa, continuou escrevendo, publicando e encenando suas peças. Usava a dramaturgia para expressar suas idéias e reivindicações sobre a realidade social.

Alegre (RS) em 1853. Pertencia a uma família de prestígio e recebeu uma educação esmerada tal como se costumava dar às mulheres da classe alta.

Publicou as comédias Um dia na Falava inglês e francês, era

opulência (1877) e Ressurreição do primo Ba-

também pintora, cantora e pianista. Com to-

sílio (1878).

dos esses dotes logo se revelou também esEm 1879, seu drama Opinião pública foi encenado no Teatro São Luis. Maria Angélica Ribeiro faleceu no

critora e, aos catorze anos, escrevia crônicas para os jornais cariocas (O Sorriso, O Paiz, O Cruzeiro e a Gazeta da Tarde).

Rio de Janeiro em 1880. Deixou um legado

Casou-se com um tio materno,

significativo à história da dramaturgia no Bra-

José Bernardino de Bormann que, anos mais

sil. Simultaneamente, como pioneira nessa

tarde, se tornaria Ministro da Guerra e Mare-

atividade, abriu mais um espaço para a mu-

chal.

lher brasileira. Da crônica ela passou a escrever romances-folhetins ultra-românticos e, deReferências bibliográficas

pois, romances que fixavam a vida social flu-

COSTA, Hebe ao-Viagem – Elas, as pioneiras do

minense, seus conflitos e também os precon-

Brasil –Ed. Scortecci –p. 159–SP -2005 (Tb em e-book)

ceitos que tolhiam a liberdade das mulheres.

SOUTO-MAIOR, Valeria Andrade. Maria Angélica Ribeiro. In Escritoras Brasileiras do Século XIX. Zahidé L. Muzart (org.). Florianópolis: Ed. Mulheres, p.315, 2000. TELLES, Norma. Escritoras, escritas, escrituras. In Historia das Mulheres no Brasil. Mary Del Priore (org.). São Paulo: Ed. Contexto, p. 401, 2002.

(Segue)


Estudiosa da Roma Antiga, em

sencantou com os acontecimentos ocorridos

especial na fase em que as romanas goza-

após a Lei Áurea. A qualidade de vida dos

vam de mais liberdade, ela faz uma analogia

libertos não foi melhorada o quanto se espe-

com o que acontecia no final do século XIX

rava. Com o advento da República, nada se

quando desponta a figura da Nova Mulher

fez nesse sentido e, portanto, nova decep-

que, mesmo ridicularizada, difamada, procu-

ção.

ra, cada vez mais, alargar o seu espaço. Daí escolher o pseudônimo - Delia – nome da

Enfim, Delia queria justiça para o escravo, para a sociedade e para a mulher.

matrona romana amada pelo poeta Tíbulo. Seus personagens também ganham nomes romanos: Lésbia, Catulo, Aurélia... No começo do século XIX, as escritoras usavam pseudônimos para serem aceitas pelo público. No caso de Delia, entretanto, já no último quartel do século, tem uma

Suas publicações: Folhetins: Uma Vitima; Madalena; Os beijos do frade; A espera; O sorriso; A estátua de neve; Duas irmãs ( todos de 1883 e 1884). Romances: Aurélia (1883); Lés-

outra conotação. Mais parece uma auto-

bia (1890); Angélica (1894); My Lady

afirmação, um renascimento, um compromis-

(1895); Celeste (1895)

so com a Nova Mulher. Nos seus romances, ela defen-

Morreu no Rio de Janeiro, aos quarenta e dois anos anos, em 1895.

dia a educação para a vida e a necessidade do conhecimento da própria sexualidade. Ne-

Referências bibliográficas

les ainda insistia na educação sexual das jovens e combatia a hipocrisia das mulheres que se faziam passar por anjos de pureza e, às escondidas, liam livros pornográficos. Por meio de seus personagens questionava o casamento considerando-o o local de anulação do corpo e da mente. Por isso, a mulher não deveria aceitar o casamento como sua única opção de vida, com a agravante de lhe negarem até o direito de es-

COSTA, Hebe Boa-Viagem – Elas, as pioneiras do Brasil –Ed. Scortecci –p. 169 –SP -2005 (Tb em e-book) COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crí'co de escritoras brasileiras. São Paulo: Escrituras Ed., p. 411, 2002. TELLES, Norma. Escritoras, escritas, escrituras. In História das Mulheres no Brasil. Mary Del Priori (org.) São Paulo: Ed. Contexto, p. 401, 2002. TELLES, Norma. Escritoras Brasileiras do século

colha de seu futuro cônjuge. Tendo maiores

XIX. Zahidé L. Muzart (org) Florianópolis - Ed.

oportunidades de estudo, por que não seguir

Mulheres p.567, 2000

uma carreira e ganhar sua independência financeira, intelectual e sexual? Delia era abolicionista e se de-


Fuga Por Diulinda Garcia Atravessou o outono pisou as folhas sobre o chão seguiu descalça pelas calçadas nuas sem dar atenção a nada. Ninguém pra dizer adeus... Foi sem avisar nenhum rastro deixou para a estação seguinte o tempo varreria suas piores lembranças.


AMOR, DOCE LEMBRANÇA

Por Elisa Alderani

Falar de amor pode ser a coisa mais fácil ou mais difícil. Essa palavra carrega consigo muitas facetas ocultas. Quando se trata de lembrança de amor, logo pensamos na felicidade que este sentimento nos provoca numa determinada fase da vida. Pode ser no período da infância, pois nossas lembranças referem-se ao amor de mãe ou de pai, ou de pessoas que cuidaram de nós. Pode também ser na fase da adolescência, lembrando como nós sofremos com aquele novo sentimento que se apropriava da gente que ainda não era gente, e chamamos de primeiro amor. Parecia tão verdadeiro, tão forte que nos levava até as lágrimas se não encontrávamos a resposta ao nosso sentimento escondido por entre os bancos de uma escola; descobrindo depois, mais maduros, que éramos enamorados da palavra “amor”. Na juventude, já vem o encantamento por uma determinada pessoa, e nos apaixonamos, mas muitas vezes acontece, como por encanto que o amor acaba, se desfaz como nuvem empurrada pelo vento do tempo, que passa tirando o colorido à relação. A lembrança fica pendurada em nossa memória como um bonito quadro que, olhando para ele, nos dá prazer. Talvez seja um beijo apaixonado, um ramalhete de flores, ou um presente. Esses acontecimentos ainda nos fazem suspirar e leva-nos a reviver os momentos que mais atingiram o âmago do nosso coração. Acreditávamos que esse amor não terminaria, mesmo assim terminou, talvez sem um adeus, na indiferença, mas nunca nos esqueceremos da felicidade que nos preencheu o coração; deu brilho aos olhos e que até os outros percebiam que éramos diferentes em nosso comportamento. Era sim o amor, o amor de juventude, e só de lembrarmos novamente voltam às emoções que deixamos para trás e que nos fazem sorrir novamente como outrora. Essas doces lembranças acariciam nosso coração. São como pérolas de orvalhos escondidas por entre pétalas de uma rosa vermelha. Elas brilham quando recebem os primeiros raios de sol numa manhã de primavera.


Canto do silêncio Por Eloisa Menezes Pereira Na multidão vozes sussurram As lembranças do recente passado Imagens atravessam os encontros Deleitando –se

na saudade

Silenciosas, cantam à História A sobrevivência da memória Pensamentos

desajeitados lastimam

O silêncio dos olhares O tempo persistente Cantando suas perdas recordações Mudo, transforma as emoções Nos espaços da vida, insiste


É HORA DE VOLTAR

Fizeram deleitar-me... mil estórias... Vou embalada neste saveiro, sem desterro

Por Emérita Andrade

Que leve joga ao ritmo da mará, já soluçante

Sei que me esperas, oh terras feiticeiras!...

Cantarolando oníricas formas por tantos laboradas...

Nas emboscadas dos caminhos pedregosos;

Procurarei pedrinhas verdes, ofuscantes,

Correndo alegre menina-dona, saltitante viva

Ao despertar na madrugada sonolenta

Qual peregrino junto aos passarinhos... Busco conselho em ti, velha jaqueira: Gruta de caboclos - oráculo de Tupã Ruínas de argila e sal, antes morada, Eu tento imaginar como serias linda... Nos festins de grandeza, em teus salões, As caminhadas em noites densas, fogaréu E claras manhãs de horas mortas, Adormecidos dias... esquecidas horas... Na busca persistente de outros dias Enlevos descobertos de alvoradas Pescar no lago coisas perdidas, idas Com desejos permanentes de encontrar... Ver tornar realidade as santas fantasias! Que às vezes chegam, qual viajor fantasma... Que ás vezes voam, qual ave do sertão. E mergulhando assim, no paraíso... Beber conforto no mato que fascina. Quero os meus pés bem rentes na canoa, A mergulhar no rio de águas doces, cristalinas! Sentir ninada ao ritmo da maré... que... Leve e mansa flui, reflui, oscila e arqueja, Sem medo de voltar, ao tempo que passou Nem sombras, nem raios trovejantes, Irão dilacerar o meu querer Eu sou a mesma, nesta hora ainda... Para solfejar a melodia, que um colibri Cantarolava, para me acordar! quando Menina ainda... menina em camisolo!!!

Tremeluzentes de orvalho e pólen d’ouro, Vermelhas conchas que o sol beijou... De onde a lua brincando ainda brilha, Pérolas miúdas que guardou sua nobreza!! Vou cuidadosa cultivá-las para por certo Regaladas de cuidados entre húmus Virem-nas transformar-se sob a terra Em encantado brinco- de- princesa !!! Sigo em solfejo por entre ninhos e tocas, De caranguejos, maritacas, corujões. Na lama negra dos eternos manguezais, Para integrar assim... dentre as folhagens, Esta paisagem de clareza e luz tão virginais, Santificada sejas tu ó despedida: Em que rendo loas ao primitivo mundo Dos meus tão queridos ancestrais!!


Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura

HARMONIA

COMEMORE!

Por Sonia Cintra

Você e seu livro no maior evento literário suíço!

O mundo gira em vão nos desvãos do tempo que passa construamos pontes caminhos e sobre os abismos cantares de nada servem muralhas na projeção do futuro vamos assim de mãos dadas como já soou o poeta em sua longa jornada se vivemos um tempo enredado desatemos os nós doloridos e na sutileza da aurora teçamos os laços perdidos

Você e seu livro num dos melhores eventos culturais da Europa! Peça INFORMAÇÕES pelo e-mail varaldobrasil@gmail.com Você vai realizar um sonho!



Foda-se o título Por Evelyn Cieszynnski Apresento-me assim: Ricardo, prazer. Sou PhD em música, ou seja, escutar música com ênfase em Caetano. Passo a maior parte do tempo olhando pela janela E que há? só uns homens de cólera e algumas lagartixas E que há? um trampo: Ricardo’s geleia


PONTO DE VISTA Jeremias Francis Torres

O BRASIL É O PAÍS QUE

descarados da face da Terra!

FAZ TODA DIFERENÇA NO MUNDO...

Desde que se tem notícia, a humanidade tomou por norma, eleger a postos su-

Em esquecimento, desconhecimen-

periores, pessoas razoavelmente dignas para

to, desvio de finalidade de recursos e é claro,

fazerem a diferença e responderem por tal po-

corrupção!

der.

Ah, e aquela famosa frase, é usada

Daí surgiram as figuras dos Impera-

por todos: “é uma tentativa cruel e sórdida, de

dores, dos Reis, das Rainhas, Papas, etc, etc.

envolver meu nome (o nome de algum político)

E já muito recentemente, a figura do Presiden-

nessa acusação descabida!”

te! Porém, aqui neste país, na época

O Brasil, finalmente, atingiu a pós graduação! Governadores, prefeitos e presidentes desconhecem tudo!

das disputas eleitorais, os homens candidatos, vão buscar lá longe, os mais ínfimos detalhes para tisnar a candidatura do outro.

Não sabem de nada ao redor! des-

Eleito, seja para Presidente, Governador ou

conhecem tudo que ocorre debaixo de seus

Prefeito, esse mesmo homem que sabia de

narizes, no entanto, estranhamente, estão

tudo, passa a não se lembrar de absolutamen-

sempre antenados, nas pesquisas de opiniões

te mais de nada, passa a sofrer de ataques

é índices de rejeição ou de popularidade!

constantes de amnésia!

É impossível acreditar que homens tão articulados nunca sabem de nada! Para esse fenômeno, existe duas

maldade que se torna, a tentativa de sempre coloca-los como culpados por desvios, que ocorreram repetidamente, sistematicamente, continuadamente, em sua gestão...

teorias: ou são completamente inocentes, verdadeiros cordeiros enganados por seus assessores ou são os sujeitos mais mentirosos e

Isso sem falar da

(Segue)


Por essas e outras, infelizmente, é possível acreditar finalmente, que o Brasil tem em sua filosofia política arraigada, defender interesses isolados e a corrupção até ao fundo da noite dos tempos! Como isso é possível? mesmo após Abraham Lincoln ter sido enfático: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.” Ao que tudo indica, nossos amigos políticos, não acreditam nisso, caso contrário não agiriam “COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ!” e se o hoje, lhes diz respeito!


LITERATURA & ARTE

LUIZ CARLOS AMORIM

MAIS REFORMA ORTOGRÁFICA? O último acordo ortográfico da língua portuguesa, que se arrasta por anos, teve a sua vigência prorrogada pelo governo brasileiro de 2013 para 2016 – e já existe projeto de outra reforma na nossa língua portuguesa, essa com mudanças muito mais abrangentes do que a anterior. O projeto, chamado “Simplificando a ortografia”, é do professor de língua portuguesa Ernani Pimentel e sugere alterações como o fim da letra H no início de palavras (“homem” e “hoje” viram “omem” e “oje”), o fim da junção CH (“chave” e “chuva”, viram “xave” e “xuva”) e o fim da letra S com som de Z (“precisar” e “casa” viram “precizar” e “caza”), entre outras. O objetivo é tornar a linguagem escrita igual à falada. Muito nobre a intenção do professor, seria muito mais simples termos a nossa língua escrita exatamente da forma como é falada, mas estamos passando pelas dificuldades de uma reforma agora, reforma essa proporcionalmente simples, se comparada com a proposta agora. E já está dando o maior trabalho para todos, seja na escola ou para quem escreve, profissionalmente ou não. O Acordo Ortográfico, que pretende ser comum a todos os países que falam o português e que já está sendo aplicado nas escolas e nas publicações brasileiras há alguns anos, era para vigir a partir do dia primeiro de janeiro de 2013, mas teve a sua vigência obrigatória adiada por mais três anos.

Livros didáticos e apostilas, usados em todas as escolas do país, tiveram que ser atualizados e reimpressos. Muita coisa foi para o lixo para ser substituída por novas versões atualizadas com a nova ortografia. Agora tudo vai ter que ser substituído novamente? Isso envolve dinheiro público, que poderia ser canalizado para outras necessidades da própria educação brasileira, que vem sendo sucateada sistematicamente. Será que não há nada mais importante para se pensar, para reformar, do que tumultuar o ensino e o uso da língua mãe? Ou será que estão tentando “simplificar” a nossa língua justamente para disfarçar o sucateamento, por parte de nossos governantes, da educação brasileira, do ensino que está sendo praticado? Os governantes que aí estão mudaram, recentemente, entre outras coisas, a idade de alfabetização de nossas crianças, que sempre aprenderam a ler e a escrever aos sete anos. Há alguns anos, a data de alfabetização dos pequenos mudou para oito anos. Claro, porque foram feitas muitas mudanças, nos últimos anos, no ensino do primeiro grau, e não foi para melhor. Não só na maneira de ensinar, mas no conteúdo curricular, também. De maneira que existem muitos estudantes no terceiro, quarto anos do ensino fundamental brasileiro que não sabem ler e escrever. Por causa disso, o governo brasileiro decidiu aumentar um ano no prazo para a alfabetização dos estudantes. Simples, não?

(Segue)


Sem considerarmos a confusão que as mudanças causam na maioria dos cidadãos brasileiros. Já havia dificuldade para escrever corretamente. Agora, então, é que não se tem mais segurança de nada. Felizmente, o projeto ainda não está na Comissão de Educação do Senado, ela será apresentada no Simpósio Internacional Linguístico-Ortográfico da Língua Portuguesa que acontece em setembro, em Brasília. É um assunto que precisa ser pensado e discutido, com muita calma e serenidade, com objetividade, porque afinal, não saímos ainda de uma reforma e já estaríamos prestes a entrar em outra? O que diz disso a Academia Brasileira de Letras? E os outros países que falam a língua portuguesa, o que acharão disso? Como disse Sérgio Nogueira, colunista de português, “A ‘simplificação’ me parece muito mais um empobrecimento, uma confissão de incapacidade: Fracassamos. Não conseguimos ensinar nem a nossa própria língua porque as regras são difíceis. Não será um acordo ortográfico que vai resolver nossos problemas com o analfabetismo”. De pleno acordo. O que precisamos é de melhor manutenção e equipamentos apropriados nas escolas, melhor qualificação e pagamento digno aos professores, um conteúdo curricular planejado e eficiente para nossos estudantes. Gostaria que esse projeto inoportuno fosse apenas um boato irresponsável, mas conforme temos visto na imprensa, a “brilhante” ideia existe mesmo.



os derradeiros desejos

Vozes

dos últimos suspiros soluçados com lirismo

Por Felipe Cattapan

na fumaça do romantismo dos cigarros pós-modernos;

A voz distante

evocamos paixões contidas

de um amigo de infância

e distorcidas

me atinge metálica por telefone:

em velhas gravações

monofônica divaga...

de canções antigas

polifônica evoca... relembrando

uma vaga península itálica na

nostalgia

de

uma

Antiguidade

em solitária litania

esquecida...

- em uma desbotada boemia -

onde a poesia só era lida

que algo de saudoso se perdeu,

quando declamada

que a melodia da nossa voz

cantada

desapareceu

exaltada

ao desencantarmos a poesia...

- em voz alta vivenciada. - “O mio bambino caro”, O passar dos séculos nos decantou... amadurecidos, emudecemos: a necrose do tempo nos sedando, nos silenciou - (o que algum dia foi canção hoje é abstração ou mania). Afônicos sem som nem saudade sem ritmo nem timbre proclamamos a liberdade vociferando-a em versos livres: cantamos sem vibrato as vibrantes aventuras que não vivemos e todas as outras que jamais ousaremos; repetimos aos espelhos as crenças que já perdemos nas teses em que nos perdemos; sufocamos em pigarros

“Ne me quitte pas”!...


FILOSOFIA CÓSMICA INTEGRAL Por Germano Machado

I No enunciado da palavra, a verdade pura sem mesclas positivas e negativas posteriores. Lúcifer – Porta Luz. Nem mesmo se há de negar beleza à palavra. Portador de luz, mensageiro de claridade. A ideia-fato teológica posterior negativa, seja transformada em Diabo-diábolos = confusão, desequilíbrio, dia escuro. Angelos, anjos- mensageiros, arauto. Angelidade ou angelitude, qualidade de quem é enviado, pois, mensageiro. O arauto anuncia. Todos em função da Luz Plena – Deus -, o Ser, o Criador, lavé. Logos também, razão, lógica, a filosofia cósmica integral, uma vez que tudo é o Plano Total, um grande teatro de plena representação. Determine-se, assim, o filósofo a visão – teoria – do todo: visão de realidades completas e de horizontes sem fim. Deus – Théos – está implícito na teoria – visão, de modo que irracional será aquele que O nega. A palavra tem força de ser ou de fazer surgir o que é. Uma definição desde que chegue à raiz, radicalize, encontre o ser como ser. Lucifer, pois, não-diábolos, confusão. Estamos em um teste, configuramos um certame. II No caos está potencialmente o cosmo. Potencialmente bipolares. A Potência permiteas. Um homem integrado, ao mesmo passo anér a gyné –homem e mulher- separam-se as partes. As velhas línguas falam em zakar e ngebah- órgãos genitais masculino e feminino. Adão e Eva são dois posteriormente: antes eram como que hermafroditas: por isso, separam-se. Como ocorreu essa revolução biológica-teólogica-mítica e mística? Até hoje faz estragos de escuridão e proporciona equilíbrios à luz de claridades.Por isso, Freud tem razão; e não tem. Não tem quan-

do leva o fato em equivocidade; tem – quando mostra que Eva é reflexo e imagem. Do caos de todo o criado material irá surgir pelas potencialidades, as sementes, os espermas, o cosmo transmaterial da integralidade. A Matemática o explica: o 1 gera o 2 e 2 são 1 + 1= 2. Eis o homem. Deus cria através de um processo evolver. A evolução. III Não há evolução sem criação e a criação conduz o principio da evolução. O evolver é lei em todo o criado. A planta é semente? Ou vice-versa? O ovo é ave? A ave é ovo? A semente e o ovo são condicionadores. Permeiam, permitem, condicionam, são meios. Potencialidades. Água chega pelo encanamento, mas procede de uma fonte. O corpo humano veio através de animal ou animais. Fluiu assim. O que, finito, se demonstra, evidente que promanou do infinito. A luz elétrica procede, logicamente, da estação. O infinito cria os finitos e todos os finitos evolvem por meio de outros finitos. As potencialidades evolvedoras pedem a potência criadora. Se o princípio criador reside na Matemática (Einstein), Deus é o 1, o Um do qual procederão todos os números em sequência infinda. Assim o que se chama, na ciência, de homo sapiens é uma simples expressão, pois a palavra sapiens é latente, é pressuposto, continuamente se faz até hoje e sempre. O homo inteligens, o homem inteliegente e luciferino está em estado de sair, patente: chegaremos a esse estágio. O homo sentiens (homem sensível) está na base da evolução, pois a própria planta sente, tem sensibilidade. A sensibilidade da planta chegará ao homem em forma de sentimento, aproxima-se do mental. O homem – espiritual atinge graus mais superiores e supondo sapiens (comumente chamado, mal expresso), o inteligens e o sentiens.

(Segue)


IV Por isso, o universo, nessa amplidão infinda e ainda tão desconhecido, apesar dos bilhões de estrelas e sistemas de corpos, não é passivo, não é ativo e, assim dinâmico. Não se mostra caos senão quando em processo e, naturalmente, no âmbito particular, não pode monotonizar, porque exige harmonia, energia, luciferenidade, luz em todas as dimensões e direções, mesmo nos compartimentos trevosos. O universo não se firma no casual, o universo requer a casualidade. Tudo se faz pela casualidade. Somente assim entendemos o espaço-tempo, a duração e a dimensão. Em todo o universo há o luzir, o lucigênito. Sabemos a velocidade da luz, não da vibratilidade da luz. Há um luzir no luzir, luz na luz, vibração em toda lucernidade. O potencial cósmico se faz o atual telúrico e de todos os planetas, estrelas e vias-lácteas. O potencial que se faz atual conduz ao real. O realismo está em ser e estar. Movimento e forças, continuidade.

presenta uma disposição lógica. Também o homem faz parte dessa criação em germe : Deus o criou, assim como criou a erva da Terra antes que ela existisse. Criou-os como varão e mulher abençoou –os-criou-os segundo a força que a palavra de Deus, no único ato criador, depositou em germe no seio do mundo, força que, no decurso cronológico da evolução, leva tudo sucessivamente ao desdobramento, fazendo aparecer, a seu tempo, também Adão, “ do elemento da terra”, a sua mulher “ do lado do varão”. Porque, do mesmo modo que a Escritura faz surgir o homem “ do elemento da terra “, faz originarse também da terra os animais do campo. Se pois Deus formou a terra tanto o homem como animal, que vantagem tem então o homem como animal, que vantagem tem então o homem sobre o animal? O que o distingue é somente isso : que o homem foi criado segundo a imagem de Deus: quer dizer, o homem não segundo o corpo, mas apenas segundo a alma. Que atualidade, a de Agostinho!

V Santo Agostinho ponderou : “ O Eterno criou tudo de uma vez” ( Ecl.17,1). O Universo é comparável a uma grande àrvore, cuja beleza jaz desdobrada aos nossos olhos, no tronco, nos ramos, nas folhas e nos frutos. Não foi num ápice que tal organismo nasceu. Bem lhe conhecemos a evolução : originou-se da raiz que o germe lançou terra adentro, e, desta origem, desenvolveram-se todas as formas. De modo análogo, teremos de conceber o Universo : se está escrito que Deus criou tudo de uma vez, quer dizer que tudo quanto existe no Universo estava encerrado naquele único ato criador – não somente a terra e os abismos da terra, mas tudo quanto se ocultava da força germinadora dos elementos antes que, no decurso dos períodos cósmicos, se desenvolvesse, assim como está visível diante de nós nas obras que Deus cria até ao presente dia. Por conseguinte, a “ obra dos seis dias” não significa uma sucessão cronológica, mas re-

VI A Filosofia cósmica integral mostra-nos a universalidade do terráqueo; Filosofia de era nuclear. Partimos ao universo, rumo às estrelas, nós que somos parte do universo, portanto das estrelas. O que há em cima é mesmo igual ao que há em baixo. Trimegistus tinha razão. Somos seres destinados ao universo. O cosmos e a cosmicidade colocam em nós as sementes da evolução do homem inteligente e sensível para o homem sapiente, o homem espiritual. O homem plasmado pela evolução espiritual. A lei cósmica se pratica no amor, na integralidade do ser e dos seres no Ser. Saída e avanço. Nascimento na fonte infinita do Ser. Universismo de totalidade, de plenitude. É a Filosofia Cósmica Integral



PREPARO

Por Gildo Oliveira

Carvão, Dele o homem Fogo tira Pleno interiormente.

Fogo , carvão, Carvão e fogo... E novamente fogo e carvão, E novamente carvão e fogo É a eterna lição Sem esmorecimento, Com muita precisão!

Carvão e fogo Laços que unem Corpo, alma e espírito À luz do espírito.

Preparo: Vitória sobre a queda, Em seu lugar A manjedoura. O homem desenvolve o eu superior íntimo, O nosso salvador!


AQUARELA Poema e arte por Graça Campos Aquarela em pétalas, bonança Cheiro de flor primavera Nas folhas, verde esperança Acordando as quimeras...



Aprender e Viver Decreta o Imperador Marco Túlio Cícero Ano 55AC O Orçamento deve ser equilibrado O Tesouro Público deve ser reposto A Dívida Pública deve ser reduzida Os Funcionários Públicos devem ser observados e controlados O auxilio a outros Países deve ser eliminado para que não se vá a falência As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver a custa do Estado. a) Marco Túlio Cícero Imperador Romano Ano 55AC Por Hazel de São Francisco ( consultando a História...)


Súplicas Por Hilda Mendonça

Amor, não te peço que me esqueças, Não te peço que me procures, só te peço: Deixa que eu te ame, E te ame tão loucamente louca Que espaço não haja Para nenhum outro amor em tua vida. Não te peço que me entendas Não te peço que me cuides, Deixa que eu te entenda, Deixa que eu te cuide, E assim o nosso Céu será aqui, Neste lindo e conturbado mundo. Deixa que eu viva em nuvens serenas Que meu Céu não se escureça Por não deixares que eu te ame Assim, do meu jeito desajeitado Mas é assim que sou, torta na vida, Então amor, deixa que eu te ame Em mil vidas, se eu as tiver. Amor, deixa que eu te ame.


Esperança, eterna primavera...

Por Isabel C. S. Vargas A estação que mais gosto e que tem um efeito imenso sobre minha vida e bem estar é a primavera. Não sou adepta de extremos. Sou mais ponderada e, portanto mais afeita a amenidades. A primavera é doce, encantadora, suave e, ao mesmo tempo, engalanada pela beleza natural e esfuziante da natureza, da vida que brota nos campos, no ar, no coração das pessoas que não conseguem passar incólume por tanto esplendor. Na primavera o sol parece ser na medida certa. Nem escasso nem escaldante como no verão. Suficientemente quente e iluminado possibilitando que seus raios destaquem as diferentes nuances do colorido das flores. Seus raios se refletem no brilho do olhar das pessoas tornando o sorriso e a vida mais iluminada. Tem sabor de recomeço, de coisa nova, de despertar e, sobretudo de esperança e alegria. Não só para as pessoas. Também para a natureza que se enfeita e comemora todo o espetáculo da vida. A primavera nos mostra que não é necessário pressa. Para tudo há o momento certo. Há o tempo de plantar, o de podar, arrancar os galhos secos, coisas mortas para concentrar as energias, ter mais espaço força e vigor e assim fazer boa colheita. Renova-se em cada estação a esperança, a fé na vida, nas pessoas e na força da criação. Meu coração em cada primavera enche-se de esperança pela beleza da vida que brota. Consegue aliviar a dor das perdas que abalaram minha vida e que, por momentos, quase me fizeram sucumbir. Dão o perfeito entendimento do efêmero e do eterno, da morte, da vida, da esperança que é preciso renascer sempre para que cada ser cumpra sua finalidade nesta vida, ou seja, ser feliz. Assim como a primavera vem após as agruras do inverno, não há tristeza que perdura ante o milagre da vida e da renovação. Para mim, Primavera, eterna esperança...


UMA FOTOGRAFIA DO BRASIL: O VALOR DA VIDA HUMANA

Por Ivane Laurete Perotti

“Quando, sorrateiramente, sigo quase sem poder respirar, os macacos, os tucanos ou as pequenas aves nas matas, naquele momento entro em contato com o essencial significado da vida. Isso realimenta o meu espírito e dá sentido à minha existência.” Luiz Cláudio Marigo

Um homem sensível tomba. Verga o peito carregado de emoção e sabedoria no assoalho de um ônibus urbano. Urbana cena, não fosse a insensatez que se deflagra no transcorrer do quadro urgente. Gestos desesperados buscam socorro: “O papel dos fotógrafos é despertar a consciência do homem para a incrível riqueza da vida na Terra, sua beleza e valor espiritual.” No corredor do ônibus, os olhos que viram o mundo pelas lentes do amor e do respeito, procuram pelos olhos que lhe poderão acudir na hora em que a vida depende do conhecimento e da boa vontade. Se a solidariedade voluntária bastasse para manter-lhe a vida, o coração de Marigo estaria vibrando com o carinho angustiado de tantas mãos desconhecidas. Socorristas do acaso bateram às portas do lugar onde a medicina tem o privilégio de processar a cura, ou pelo menos, tentar alcançá-la. Desconheciam eles, cidadãos em trânsito que, além das palavras, as instituições brasileiras perdem o poder de referendar o que significam. Instituto Nacional de Cardiologia: desmotivados e inertes, não traduzem o pedido de socorro por uma simples questão retórica: quanto mal está aquele que está mal? Quem deveria dar a resposta usa-a como aríete de defesa indefensável.

“Passar mal” é jargão popular e não mobiliza a consciência, os braços e outras partes inertes daqueles únicos capazes de fazer a leitura correta. Quanto mal? Muito mal? Pouco mal? Mais ou menos mal? O sensível coração do fotógrafo da natureza bombeia a gentileza genuína dos que lhe confortam na espera vã. Descaso. Desrespeito. Vergonha inominável vem do único lugar que legitimamente poderia atendê-lo. Lugar errado? Hora errada? “Minhas fotos são dádivas que a natureza me oferece. Por sua vontade, o animal me espera, a luz brilha na hora certa, as flores abrem-se para a fotografia. Preciso apenas reconhecer sua beleza e estar no lugar e no momento certos para registrá-la...” Lágrimas cobrem o corredor do ônibus. Pudessem antes ser coloridas pela bondade consciente de um homem que decidiu ver o mundo e mostrar o melhor do que via. Pudessem ser mornas e aconchegantes como os seus movimentos no meio da natureza selvagem. Pudessem ser lágrimas de aplauso por uma vida inteira dedicada a salvar e construir uma consciência em absoluta degradação: quanto vale um gesto em favor da vida? “Espero que o meu trabalho transmita a mesma alegria e emoção que sinto nos ambientes selvagens e que as minhas fotografias não se transformem apenas em mais um documento do passado.” Ah! Grande e doce fotógrafo, vale pedir-lhe perdão pela selvageria humana que lhe negou um lenitivo? Sim, talvez fosse o seu momento e a sua hora, mas se diante deles você nos deixasse uma fotografia colorida, as lágrimas de dor não cavariam tão fundo, tão fundo o poço que nos registra ignóbeis e insensíveis na cátedra da negação instituída, fundada e instalada. Mais médicos? Não! Mais consciência! Mais dedicação, mais valor à vida. Em plena luz do dia, a escuridão fétida de um sistema de saúde caótico expõe uma vez mais as fotografias do Brasil: verde e amarelo? Ora! ...Uma casa para o coração doente deste país que não bate no peito, mas fica na saudade fértil de que, um dia, talvez um dia voltemos à nossa origem mais humana, menos profissional. Ao fotógrafo da vida, a VIDA ETERNA!


CADÊ ? OS OSSOS DA MORTE MORRIDA Por Izabel Marum

Armenegildo Freitas da Cruz Pedroso, soldado do exercito brasileiro. Miúdo baixinho, mas, muito honesto e crente na Justiça brasileira. Sempre dizia para a família: -A pátria em primeiro lugar, depois, a família e o resto, era resto.Os de cima, o tenente e o coronel sempre elogiavam o caráter e a honestidade desse homenzinho. Quando precisavam de qualquer coisa, chamavam Armenegildo e, eram imediatamente atendidos. Um dia, não se sabe quem, nem quando, chamaram “Gildo” para uma missão secreta.(Muito sigilosa) . Na calada da noite, a aguardada missão ,foi logo lhe confiada e a continência para o coronel, foi logo batida.As ordens foram dadas e nosso soldado partiu noite afora... A missão: Armenegildo F.da Cruz Pedroso estava preso. Mas, como?A família enlouquecida estava proibida de entrar na cadeia do exercito.A mãe dona Zefa só chorava e rogava ao coronel, saber, o que havia acontecido.O que o filho fez? Se, a glória para ele era ser soldado, e honrar a Pátria. O coronel falou uma vez. - Dona Zefa! Seu filho tá preso, por que foi pego em flagrante. Ele matou dois homens .Quando ele puder receber visita, eu mando lhe chamar. Dona Zefa , amparada pelos outros filhos, saiu cambaleando da entrada do batalhão .Ninguém sabia de nada e os colegas de Gildo diziam não saber nem que ele tinha saído em missão... O velho Goiaz (vizinho da dona Zefa) desconfiou daquilo tudo. Chamou os irmãos de Gildo e, pedindo segredo absoluto, falou o que pensava. -Olhem, eu acho que pegaram o Gildo de bode expiatório. Eles precisava de alguém , e Gildo foi o escolhido. Mas, sei não. Apenas imagino isso. Não falem para dona Zefa. Mas, acho que seu irmão tá morto. Com o tempo vão falar que ele estava doente e morreu de morte morrida........Não deu outra! Passaram- se dois anos de choro e imploração na porta do batalhão.....Dona Zefa foi chamada. Deram a noticia muito devagar, dizendo que Gildo havia morrido , de morte morrida. Era uma doença fatal infecciosa .E, não podiam abrir o caixão por ordem médica. Até hoje, a família inconformada, colocou, no túmulo de Armenegildo F. C.P. o seguinte: Armenegildo Freitas da Cruz Pedroso morreu, pelo exercito brasileiro e pela pátria brasileira, de morte morrida, doença fatal e infecciosa.


Café e Tempo

Por Jacqueline Aisenman

Eu bebo o café e enquanto bebo escrevo perguntas que não se faria a alguém ou se faria, mal ou bem, a alguém O tempo não é meu aliado hoje. Enquanto enfrento horas de espera ele se arrasta lento e desinteressado. O mesmo tempo que conta os dias para me ver mais velha, os brancos dos cabelos crescendo em frente ao espelho... O café vai de quente se tornando morno. Nem para o café o tempo é indiferente. Minha mão que quase saltou ao contato primeiro com o copo, agora encosta-se e recosta-se em sua tepidez. E eu bebo o café. E espero, a espera que é longa, mesmo sem olhar o relógio... e é ainda mais longa quando olho o relógio... O tempo, sem clemência, não salta e nem se ausenta.


Amor Vira Lata Por Jania Souza Só, pelo mundo Arrasto meus dias. Mesmo em bando Sou solitário Simples miserável, boêmio vagabundo

lamentos Abandonado, perambulante, desgarrado Por vezes tão só, tão sombrio. Fito com meus tristonhos olhos Quase gritantes de alegria em sua meiguice Qualquer ser que me aceite por perto.

Mesmo assim, sorrio, brinco

Oh! Essa é minha esperança

Faço-me e faço o outro feliz.

Nesse oceano inconstante

Lato, rosno, choramingo

Sinto-me gota d’água

Minhas desesperanças incontidas.

Por ser humilde Vira Lata A procura de um lar

Sou vagabundo Vira lata em busca de amor Embora eu seja o próprio amor. Nesse desalinho Trôpego Sem rumo caminho Sobre minhas frágeis patas Companheiras permanentes Nesse meu descaminho. Faminto, desamparado Necessito de afago Preciso urgentemente de carinho. Migalhas de amor Em minha sede de amparo Reacendem-me a esperança De encontrar segurança, abrigo Nos braços fiéis de um amigo. Enquanto o amor não vem Sigo meu destino, sem grandes

Aqui neste mundo tão errante!


Intervalos Por José Carlos Paiva Bruno

Pensando nos jogos da vida, em verdade entre tempos partidas, pois que chegadas são as razões, emoções de partir. Noções são o que temos nos intervalos, momentos de crescer, decidir viver e vencer... Ali ou aqui, pensem comigo nos intervalos, onde reabastecemos e planejamos novas rotas, entrópicas trocas. Assim, até mesmo nosso humano respirar, vive intervalos de ar... Lendo por agora “Dar & Receber” nos intervalos da labuta, recente Best-seller do brilhante Adam Grant. Onde reencontro o Fantasma de Sampson, pseudônimo usado pelo carismático caipira Abraham Lincoln em suas Cartas. Ele perdeu muitas vezes insistindo em sua postura de doador, antes de alcançar a vitória, o que – inferência – aliás, revelou ao mundo simplesmente natural consequência de sua competência em gestão, especialmente dos intervalos de sua existência, insistência, predestinação ao sucesso. Surpreendendo o mundo em sua chegada à presidência dos EUA, convocando os melhores talentos norte-americanos para composição de seu governo, inda que alguns fossem atrozes críticos adversários políticos. Pensando sempre no melhor para o todo, este todo EUA, sua grande paixão. Acima inclusive de quaisquer vaidades pessoais ou político partidárias... Minha admiração por Grant, revelação notória do intervalo parágrafo anterior, convenceu-me de que seus rabiscos científicos – suficientemente saborosos para igual meu intervalo – tratando São Francisco (seria o matcher de Adam) como o grande insight: é dando que se recebe. Mostram a receita a partir da culinária analítica. Onde os temperos estão conosco, e as dúvidas são as necessárias geradoras do intervalo, a diferença é como cada qual trata o seu. Afinal temos fantasmas (tomadores) e santos (doadores) em oração, digo cocção. Em tempo, creio no Brasil hexa, por nosso caipira Felipão, encarando a imprensa crítica, juízes, torcedores e os intervalos com naturalidade e personalidade. Treinador que convoca, prepara e dirige – seja qual for o jogador, o time, credo, etc – posições em campo. Posições para vitória do todo Seleção. Assim vamos com Fé! Brasil com a taça e que nossa Copa seja uma vitória sem pirraça. Intervalo para saborearmos melhor receita política, para todos...


FALANDO DE CULTURA Marluce Alves Ferreira Portugaels

Que triste, uma cidade sem verde!

Uma cidade sem árvores é como um deserto sem oásis, onde a aridez destrói qualquer tentativa de vida. E, portanto, há muito cidades pelo mundo nuas de vegetação, semelhantes a desertos que se desenvolveram sem que se notasse. Uma razão provável é a falta de planejamento, sem querer dizer a omissão, dos que regulamentam a arborização de uma cidade. Outra razão que salta aos olhos é a falta de educação ambiental, assim como a falta de consciência das pessoas, no que concerne à importância das árvores para a saúde e o bem estar da população. Nesta segunda hipótese estão incluídos os vândalos, ou seja, aqueles que destroem o que merece ser preservado, e que, neste contexto, depredam plantas e canteiros espalhados pela cidade. Assim como compreende a especulação imobiliária, isto é, os construtores que em nome do progresso derrubam a vegetação para construir casas. E, finalmente, estão as invasões desenfreadas que proliferam sem o menor respeito ao meio ambiente. Quem nasceu e se criou em ambiente telúrico, em geral, tem duas reações quando se fala de árvore e mato. Uma reação é o apego sem limites à natureza, quer seja flora ou fauna, posicionando-se radicalmente contra qualquer iniciativa que venha a modificar a

natureza. Uma segunda é o horror a tudo o que é verde. Como um amigo de minha família que vindo do interior onde vivia cercado de mato e de rio decidiu que sua casa recém comprada na capital seria barricada de pedra e cimento. Ele não queria ver nada verde em seu terreno! Numa posição intermediária, há os habitantes da cidade grande que, no fundo, gostariam de contar com jardins e parques públicos onde passearem com suas crianças aos domingos. É claro que para isso eles precisariam de áreas verdes. Aqui seria interessante citar o exemplo de cidades famosas que possuem logradouros verdes construídos para o bem estar da população. Essas cidades, acumulando a experiência de muitos anos, de uma maneira ou de outra preservaram áreas nobres onde brotaram parques com árvores frondosas ostentando beleza e frescor.


Não se precisa ir muito longe. São Paulo, a capital financeira do país, como cidade grande dominada pelo cimento armado, possui alguns parques e jardins que aos sábados e domingos regurgitam de amadores das caminhadas e dos folguedos ao ar livre. Há muitos, mas destacam-se o Parque Trianon e o Parque Ibirapuera. Em plena Avenida Paulista, em frente ao MASP, encontra-se o lindo parque Trianon, lugar de repouso e de lazer, cuja fundação remonta à abertura da própria Avenida Paulista em 1892, guardando ainda resquícios da Mata Atlântica, miraculosamente preservados. O mais famoso dos parques paulistanos, o Parque Ibirapuera, hoje sexagenário, localizado no elegante bairro de Moema, possui árvores que na primavera apresentam um festival de cores. São os ipês rosa, amarelo, branco, e minha árvore preferida, a sibipiruna, de flores amarelas. Passear pelas alamedas de árvores colossais no Parque Ibirapuera é verdadeiramente um privilégio. No interior do Parque, há também construções representativas da cultura paulista como o Obelisco, a Oca, o MAM (Museu de Arte Moderna de SP), o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, onde se realiza a Bienal Internacional de Arte de São Paulo.

Em países estrangeiros, cidades como Amsterdam, Bruxelas, Madri, Lisboa, Londres, Paris, e outras possuem parques e jardins memoráveis, difícil de acreditar, muitos localizados no coração da metrópole. Em Bruxelas, o Bois de La Cambre, que faz parte da Floresta de Soignes é um bosque imponente, onde famílias inteiras se reúnem para piqueniques e atividades esportivas. Em Paris, o famoso Bois de Boulogne domina o imaginário em termos de atividades ao ar livre. Mas há outros parque e jardins igualmente aprazíveis, como o Parque Monceau, perto do Arco do Triunfo, em pleno coração de Paris. Esses e outros logradouros públicos enfeitam a cidade de Paris, concedendo-lhe uma face mais humana. Em Lisboa, a dificuldade é escolher o jardim ou parque onde fazer um passeio. Alguns deles como o Jardim da Torre de Belém, o Jardim Botânico da Ajuda, o Jardim da Luz de Lisboa, a Tapada das Necessidades. Este último, lugar onde desde a época dos monarcas portuguesas se fazem piqueniques. Assim, muitas cidades européias são famosas também por possuírem áreas verdes que lhes humanizam o semblante. Os Estados Unidos da América possuem muitos parques nacionais, áreas naturais protegidas para usufruto da população. O impressionante Grand Canion, onde, além da oportunidade de admirar um panorama espetacular, os visitantes podem praticar esportes, como a canoagem. Yosemite, Yellowstone são parques de extrema beleza e que oferecem muitas opções de lazer. E todos abertos ao público. Manaus, a cidade onde cresci e passei minha juventude, a capital do Estado do Amazonas, precisaria ter uma política do verde mais objetiva, mais definida. Diga-se que progresso já foi feito, pois hoje conta com alguns parques, quando, no passado só havia praças. (Segue)


Há o Parque do Mindu que aproveita a corrente do Igarapé do Mindu, o qual atravessa Manaus e deságua no Rio Negro, que também banha Manaus. Há o Bosque da Ciência, anexo ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o INPA, órgão que muito tem feito pela pesquisa para preservar a natureza na Região Norte do Brasil. Recentemente, foi criado o Parque Jefferson Peres, em homenagem ao grande amazonense, o Senador Jefferson Peres, prematuramente desaparecido. Mas, precisa-se de mais áreas protegidas, numa cidade para onde os olhos do mundo estão voltados. Aqui é o berço da maior floresta tropical e do maior rio do planeta. Aqui a fauna e a flora são abundantes. Ou o que resta delas. Precisa-se de mais parques nacionais. Quantos há no Amazonas? Precisa-se de um zoológico tão importante quanto é importante o Amazonas para a natureza. O Zoológico do CIGS foi uma iniciativa louvável do Exército. Mas necessitaria ser maior. Precisa-se de um Jardim Botânico! Enfim, precisa-se de mais jardins públicos com árvores e flores. E mais parques e bosques. Mais árvores nas ruas, espalhadas, mesmo que os veículos tenham de desviar caminho por causa delas. Que deixem o logradouro natural do Tarumã em paz! Tão lindas que eram suas quedas apenas poucos anos atrás! Como minha amiga, a escritora Gilma Limongi Batista brada, que deixem em paz as Vitórias-Régias! Essa belíssima planta aquática da Região Norte, de grandes folhas redondas, flutuantes, de bordos arredondados, das quais brotam grandes flores brancas e rosadas!


Solidão Por José Hilton Rosa O som da noite passa por mim Ouço a voz daquela noite O frio me leva como companheiro Espero o horizonte chegar O tempo me ensina caminhar A esperança me leva ao passado A saudade chega e me fez triste Meu querer é viver todo tempo Esqueço da hora ao deitar Sonho tudo que pensei ontem O compromisso da mente me apavora Sonho também que encontrei aurora Com os pés descalços sinto o calor da terra Caminho seguindo pegadas amigas Levo comigo um cajado como arma Chego na hora e onde não sei o que colhe nesta terra


A igualdade entre as pessoas: atender a alteridade infinita Por José Pereira da Silva

É preciso o treino de toda a vida para que os olhos que procuramos sejam as do/a outro/a, não o reflexo das nossas nas suas pupilas. Só quando se é capaz de encontrar e reconhecer verdadeiramente o outro na sua verdadeira diversidade, é que o seu olhar nos restitui a parte melhor de nós. Não ter alguém que nos olhe assim, que nos reconheça e nos revele a nós mesmos, é uma das formas mais graves de miséria e privação da pessoa, muito frequente onde há grande riqueza e poder : raramente se é aí olhado e amado de igual para igual. Sempre que não queremos ou não conseguimos tardar olhares de igual para igual, acabamos por contentar-nos com olhares mais baixos, pedimos muito pouco a nós mesmos e aos outros. A cultura do trabalho e as suas novas formas de organização ameaçam hoje fazer-nos regressar à condição de isolados. Não só por causa das novas tecnologias ( às quais frequentemente fazem falta olhos para ver e corpos para tocar), mas, antes ainda, por causa de uma visão antropológica que pretende aumentar o bem-estar e diminui as feridas pura e simplesmente eliminados os encontros humanos entre iguais. Acaba-se assim por recriar à volta do indivíduo trabalhador paraísos artificiais onde existe árvores, mas onde não há alegria de viver. O cristianismo das origens levantou, em nome da universal pertença a Jesus, a bandeira da igualdade. A universalidade traduzia-se , então, numa igualdade fundamental. Velhos e novos desafios se colocam hoje às nossas sociedades no que diz respeito a igualdade. Sobre a igualdade, como reivindicação e sentimento, todos estamos de acordo. Mas sobre o que ela seja ou deva ser, talvez hesitemos. Seja como for, será nova e a reinventar. Reinventar a igualdade nas circunstâncias que nos tocam. Na massificação não há lugar para a igualdade, que supõe relação, mas apenas para o nivelamento, formal e irresponsável. Entre anônimos, pode não se aceitar a disparidade, mas não cresce a reciprocidade. A indiferença, como a indistinção não são o caldo de culturas da igualdade concebida e procurada na relação. Sobre a igualdade, por exemplo, há que recordar que só tratamos o outro como igual, quando atendemos profundamente à sua alteridade infinita.


INVERNO DE SÃO JOÃO Por Leandro Martins de Jesus Chegou o inverno no Nordeste Parece mentira, mas, aqui também faz frio Nem sempre o céu é azul Há dias em que a noite não é estrelada A brisa sopra uivante Trazendo o frio incomum Quem puder se aconchegue Na fogueira de São João Ouvindo o estalo do fogo Bebendo aquele quentão! Comendo milho cozido Fazendo aquele festão! Viva São João!


Virou o geral Por Luiz M. F. Maia Na bela tarde de sábado, Bernardo acomodava-se à sombra, sentado na soleira da porta e detinha seu olhar nas amarelinhas penduradas nos altos galhos, em meio à folhagem verde das mangueiras. Se a direção do vento mudasse, se virasse o geral(*) naquela hora seria bom. Com algumas rajadas despencariam as maduras, no ponto ideal para seu paladar absorver delícias. Mas era cedo para isso. O geral é momento feliz da garotada, das exclamações entre risos, da alegria retratada no colorido dos papagaios, das cangulas(**) e rabiolas no céu, com seus peitorais retesados a suster o tremor, a dança que os fazem vivos e impetuosos pela força do vento. É a hora vespertina ansiada todo dia pelos meninos, para saciar-lhes a fome de diversão, para libertá-los da impaciência de ver e sentir seus brinquedos subirem às alturas de seus desejos, refletidas no brilho de felicidade em seus olhos. Brinquedos presos às linhas enceradas com a mistura de cola fina e vidro moído em paciente movimento sob o peso de paralelepípedos nas calçadas. Linhas preparadas para a disputa de espaços no céu, a diversão em ares de batalhas aladas. Papagaio, brinquedo que atravessa séculos, tão antigo quanto atual, armação de talas coberta com papel de seda em desenhos de comuns apelidos – borboleta, camisa, vezinho, tê, bandola, japão. Bernardo sabia, cedo ainda para assistir aos laços e ouvir os gritos de comemoração dos vitoriosos em cortes sensacionais nas alturas, no aceite dos desafios pela aproximação ou investidas ameaçadoras dos adversários. Vitória emocionante à custa do poder de corte do cerol nas linhas e da habilidade dos contendores ao direcionar seus papagaios em cabeçadas, reviradas, puxadas, e controlar os sustentos e as descaídas à força do vento. Com o perdedor o último e lastimoso olhar sobre o seu brinquedo “chinando”, solto, desgovernado, ao sabor do geral. Atrás do papagaio em queda livre a correria de meninos aos gritos, alguns empunhando finas e compridas varas. Enquanto vento existir repete-se o empinar de papagaios em belos dias de céu claro, esse hábito ritualístico, paixão em gozo até o fim da festa ao pôr do sol. Naquele sábado ainda era cedo para o geral. Enquanto isso Bernardo olhava em direção às mangas.

(*) vento de nordeste que sopra na ilha de Marajó e nos estuários do Pará e do Amazonas. (Dicionário Michaelis) (**) cangula (sing.) – pipa de pequeno tamanho, termo usado em Belém – PA (nota do autor) Obs.: Em 07/05/2014 Aprovada no Brasil pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania projeto que proíbe a utilização de linhas cortantes com cerol ou semelhantes, ainda que seja para empinar pipas.


Eu queria Por Maria Delboni

Eu queria Algo para preencher o vazio Uma dor, uma lembranรงa Eu queria

Uma fagulha de esperanรงa Acabar com esta bonanรงa Um click, um estalo. Eu queria

Algo que mudasse O rumo deste marasmo Eu queria

Queria a dor da perda Queria a ilusรฃo que fosse Uma chama de vida.



hoje com o vento? Por Maria Moreira Hoje vou sair com o vento Horas para lá, horas para cá Vou arrastar as folhas, vou desfilar! Voltas e meia sorrateiras vou revirar! Hoje quero o café na cama Hinos de louvor hei de cantar Voltar no tempo, olhar bem longe Ver e ouvir o cân/co do sabiá Hoje tem festa na vizinhança Horas poé/cas, dança ao luar Volver casos de eras idas Velar por todos que cá está.


Sou um gato Por Maria (Nilza) Campos Lepre Antes eu era um cachorro. Sempre fiel, servil, protetor e amigo. Quando alguém ameaçava qualquer ente querido eu latia até cansar, e coitado daquele que resolvia me desafiar, partia em defesa com unhas e dentes. Hoje sou mais um gato do que um cão. Amo a liberdade, só faço o que aprecio ninguém me domina. Agora sou macia, carinhosa, amo ser afagada, mas adoro fazer carinhos. Piso macio, ninguém nota quando me aproximo ou me afasto. Busco sempre um cantinho aconchegante para escrever, ler ou apenas tirar um cochilo. Sou o resultado do que o mundo moldou; o resultado dos anos de alegrias, sofrimentos, desilusões e lutas. Sou a recompensa do esforço despendido para superar a adversidade. Sou apenas uma mulher vivida e cansada que quer curtir a vida que lhe resta. Quero poder apreciar as maravilhas que Deus deixou. Admirar um amanhecer, se apaixonar por um por do sol. Encantar-me com o vôo dos pássaros, e ver as nuvens navegando pela imensidão do céu. Gosto de ver as árvores se renovarem todos os anos, os pomares se encherem de frutos, as crianças nascerem, outras crescerem. Quero apenas apreciar a vida, não quero polemicas, discussões nem nada que me tire o sossego. Quero ser apenas um gato, já cansei de ser cachorro.


POR VOCÊ... Por Maria Socorro Sousa Por você brota meus lábios um suspiro Sutilmente meu olhar desvaira e açoita Sem lucidez busca minha alma o fremir Quando dedilha seus dedos em minha pele

Por você meus gritos se elevam aos céus Quero viver toda a essência desse amor Se no frio do inverno eu te amo sem censura Hoje me aquece sem pudor o seu calor

Por você meu coração que explode Como brasa que desliza em minha veia A cada toque me consome totalmente São os seus beijos que mim enlouquecem

Por você… Somente por você Que tudo confunde que tudo enlaça No êxtase absoluto por te amar assim Nuas Memórias. Amor, amor sem fim!


OLHOS VERDES Por Marina Gentile Você nasceu com olhos azuis, Parecia que era céu, parecia mar, Em meu colo, tão dependente, Eu cantava para você ninar, Como a calma de um velejar.

Seus olhos não são mais azuis, Agora são da cor das folhas, Das matas que filtram nosso ar, Parecem bolinhas- de- gude, Olhos faróis do nosso lar.

Minha criança, nossa flor, A cada dia uma surpresa, Palavras novas, aprendizados, Exigindo de nós, a família, Carinho, atenção, cuidados.

Minha criança, meu amor, Depois que você nasceu, A vida tem outro sentido, A vida tem mais valor


DICAS DE PORTUGUÊS com Renata Carone Sborgia

"Essa é a missão da poesia: Recuperar os pedaços perdidos de nós."

O correto é: recém-nascido (com hífen)

Rubem Alves

Regra fácil: O hífen é mantido com o prefixo “recém”.

O churrasco será na “chácara” de Pedro!!! Feliz escolha!!! E mais feliz com a forma correta da escrita!!! REGRA: Não muda a regra das palavras proparoxítonas. Todas as proparoxítonas da Língua Portuguesa continuam com acento. Eles farão uma “tramóia”??? Caso usem a Nova grafia correta: sim!!!

PARA VOCÊ PENSAR: “É mais fácil amar o retrato. Eu já disse que o que se ama é a ‘cena’. ‘Cena’ é um quadro belo e comovente que existe na alma antes de qualquer experiência amorosa. A busca amorosa é a busca da pessoa que, se achada, irá completar a cena. Antes de te conhecer eu já te amava.... E então, inesperadamente, nos encontramos com rosto que já conhecíamos antes de o conhecer. E somos então possuídos pela certeza absoluta de haver encontrado o que procurávamos. A cena está completa. Estamos apaixonados." Rubem Alves ,in Retratos de Amor

O correto é : tramoia. Regra fácil: Segundo a Nova Grafia, o acento Agudo: perdem o acento as PAROXÍTONAS com os ditongos abertos EI e OI. Maria foi visitar o lindo “recém nascido”!!! Parabéns, Maria!!! Porém, precisa “visitar” as regras da Nova Grafia!!!

“Não há adeus no idioma das aves.” Mia Couto


DIA DOS NAMORADOS EM PARIS

Por Mario REzende

- Victor, Victor Hugo. - Parlons en portugais? – Ela disse sorrindo. - Você é brasileira?! - De São Paulo. Você é do Rio, nem preciso perguntar.

Eu estava sentado num café em Paris, lendo um romance de Zolá, quando ela passou. Encarou-me por alguns instantes e seguiu o seu destino, senhora de que eu a observava. Fiquei encantado e não pude de deixar de acompanhá-la com os olhos. Ela parou na esquina, antes de atravessar a rua. Provavelmente ia para o metrô. Voltei à leitura depois que minhas vistas deixaram de alcançá-la. No dia seguinte, na esperança de revê-la, sentei-me no mesmo lugar. Era um café literário muito famoso, que já teve Satre, Picasso, François Truffaut e Simone de Beauvoir como frequentadores, Café Les Deux Magots. Estava cheio de casais, era dia dos namorados (St. Valentine), que na França se comemora no dia quatorze de fevereiro. O sol também surgiu, depois de alguns dias cinzentos e chuvosos, no céu límpido e azul. Um presente da natureza para os enamorados. Pedi café e fiquei aguardando. Linda, com seu ar juvenil, ela veio caminhando dos lados da Place Saint Sulpice, onde existem as melhores livrarias da cidade, bom sinal. Estava de jeans e jaqueta com acabamento em veludo adornando o colarinho, realçando o rosto branquinho, contrastando com os cabelos escuros e os olhos azuis como o céu de Paris. Fixei, encantado, meu olhar no seu rosto. Ela percebeu, sorriu para mim e seguiu o seu caminho. Tive a impressão que diminuiu o passo até chegar à esquina. Parou e olhou na minha direção. Então, eu caminhei ao seu encontro. Ela não atravessou a rua, embora o sinal tivesse aberto, evidentemente para eu me aproximar. - Bonjour! Quel est votre nom ? - Camille. Et le vôtre?

- Por quê? - Brasileiro e me olhando daquele jeito quando passei pelo café, só poderia ser carioca. - Quase não dormi à noite, sabia? Não conseguia tirar você da cabeça... Eu jamais iria imaginar que fosse paulista. - Como assim? - Você passou por aqui ontem. Hoje eu voltei para lhe ver. - Decepcionado porque não sou francesa? - Claro que não! Você está passeando aqui em Paris? - Não. Estudo moda no Marangoni. Minha mãe é dona de uma confecção e eu quero ser estilista. - Eu estou de férias e ganhei a viagem num concurso. - Você veio sozinho? - Vim. E você, tem alguém aqui? - Tá querendo saber se tenho namorado? - Não. Perguntei se você está sozinha aqui em Paris. - Moro com duas amigas que também estão fazendo o curso. - Você tem namorado? - Tinha, até semana passada. Eu o vi com outra, uma gordinha. Vivia dizendo que eu sou muito magra, o idiota. É um professor lá do instituto, Foi até bom, já estava de saco cheio dele. - Eu também não tenho. Quer ficar comigo? (Segue)


- Hoje é dia dos namorados... - Eu sei. Você quer ser minha namorada, hoje? Amanhã eu vou embora... - Só se você me prometer que este vai ser o dia mais feliz da minha vida. - Eu prometo que vou fazer o possível. Então, saímos de mãos dadas passeando pelos recantos românticos de Paris. Antes, eu quis fazer uma açucarada declaração de amor, oferecendo-lhe um bolo especial para o dia dos namorados, chamado millecoeurs framboise que estava sendo anunciado numa plaquinha em frente a uma patisserie chamada Fauchon Paris, mas ela não aceitou. Disse que não gostava de doces; em compensação, deu-me o primeiro beijo com a boca carnuda e doce, muito doce, deixando-me mais apaixonado. Estranho que ela passou o dia todo comigo e não comeu ou bebeu nada. Assim, não era de espantar o seu corpinho. Depois saímos passeando de mãos dadas pela beira refrescante do Sena. Atravessamos a Ponte dês Arts, uma das mais bonitas e charmosas de Paris. Nas grades dessa ponte, os casais, jurando amor eterno, prendem cadeados onde registram os seus nomes e jogam a chave no rio. Claro que afixamos um também, com os nossos nomes. Compramos um cadeado vermelho em forma de coração. Depois de jogar a chave no rio, beijamo-nos novamente, no meio da ponte, como se fossemos um casal há muito tempo. Fomos ver o mur des je t’aime em Montmartre. É um monumento dedicado ao amor, erigido em um jardim romântico onde está escrita a expressão eu te amo em várias línguas do mundo inteiro e passeamos pelas ruas aconchegantes do charmoso bairro boêmio. Assistimos ao deslumbrante por do sol do alto da Torre Eiffel. Camille me disse que para ela foi o mais bonito de toda sua vida, apesar de que naquele dia tudo tinha uma beleza diferente para mim também. Ela ficou comigo no hotel. A minha última noite em Paris foi compartilhada com Camille, namorada por um dia. Uma mulher de beleza indescritível, cujo corpo magro e esguio, harmonioso e delicado eu despi com prazer intenso, encantado com a pele alva e sedosa

em contraste com os pelos escuros em triângulo perfeito da eminência pubiana. Deliciosa criatura que me proporcionou uma das noites de amor mais agradáveis que já vivi. No dia seguinte, antes de partir, fui procurá-la no instituto em que estudava, a fim de me despedir e tirarmos uma fotografia juntos. Queria outra lembrança dela, além daquelas marcadas na minha memória. A pessoa que me atendeu na secretaria, quando disse que estava querendo falar com Camille, perguntou: - Camille Martins? - Não sei. Ela é brasileira, estuda aqui... - Um moment. A mulher saiu da sala, demorou alguns minutos e voltou acompanhada de outra, que veio falar comigo. - Ela foi me chamar porque eu falo português. O senhor está procurando por Camille Martins? - Acho que sim, eu não sei o sobrenome. Ela estuda e moda nesta escola. - Só tínhamos uma menina brasileira chamada Camille estudando aqui, mas ela morreu há uma semana. Foi atropelada quando atravessou a rua depois de brigar com o namorado. O local onde aconteceu o acidente, segundo a mulher me informou, foi justamente a esquina onde nos conhecemos.


HALLOWEEN Por Marly Rondan Dia 31 de OUTUBRO comemora-se o Halloween. Nesta data an/gamente reverenciava-se os mortos. Quase toda a Europa ainda comemora o Halloween. Hoje, não se reverencia os mortos, mas é um ritual reverenciando a vida, a dança, a alegria de viver... talvez a origem inglesa dessa palavra seja: hallow, quer dizer sagrado, santo, como era comemorado à noite, mais even (cair da noite em inglês), logo era uma noite consagrada aos mortos. Hoje, é uma noite santa, consagrada aos vivos, aos alegres. Inglaterra, Irlanda, Estados Unidos e Canadá, mais os países de língua inglesa, nunca deixaram de comemorar o Halloween. Atualmente outros países também comemoram esta data com alegria. Hoje, no Brasil, também comemora-se a data com festas a fantasia, até as Escolas fazem suas festas, as crianças adoram par/cipar fantasiados. Os condomínios usam seus salões de festa para os moradores comemorarem o Halloween. Uma amiga, Márcia Varella, (falecida em 2012, ainda jovem) Diretora da En/dade de Apoio ao Deficiente Mental, fazia a inclusão de seus alunos especiais, através do amor e da alegria. Ela montava, dirigia peças teatrais com a par/cipação de todos os alunos, da Vice-Diretora Marta Lins, hoje a atual Diretora, e algumas professoras, pessoas incríveis que aproveitam toda oportunidade para incluírem seus alunos especiais nessa nossa sociedade preconceituosa. E como não podia deixar de ser; o Halloween é uma ocasião maravilhosa para todos par/ciparem, eles sentem-se aceitos, incluídos, fantasiados interpretando: vampiros, bruxos, fantasmas, fadas, duendes, como todos os outros alegres foliões que par/cipam da comemoração da vida. Viva o Halloween, a vida, viva a alegria!


Tributo a Minha Avó Por Nilda Dias Tavares Elegante e orgulhosa nos seus sessenta anos, com a sua inseparável bengala preta com castão prateado, minha avó Ana parecia uma figura saída de algum castelo francês, das histórias que eu lia quando menina. Seus cabelos totalmente brancos estavam sempre impecavelmente arrumados e presos por uma travessa de prata, presente do vovô Paulo. Seus olhos verdes, grandes como duas esmeraldas, teimavam sempre em revelar as emoções que vovó queria esconder. Suas roupas sóbrias e elegantes inspiravam respeito e admiração a todos que a conheciam. Era uma mulher forte que sofrera perdas terríveis, mas mantendo-se firme como uma rocha, mantinha a família unida. Muito cedo aprendi com meus pais a admirar e amar vovó Ana. Meu pai era um professor alegre e carismático. Criado em um orfanato sem conhecer seus pais, apaixonou-se imediatamente pelo carinho de vovó Ana. Ele costumava brincar com minha mãe dizendo: -Só me casei com você pra ficar com “mãe Ana. Em 1959, com catorze anos, perdi meus pais em um acidente de automóvel e vim para esta casa morar com vovó Ana. Ela era mãe da minha mãe e sofreu tanto quanto eu a morte dos meus pais, a quem ela amava profundamente e perdeu tão prematuramente. Eu nunca tinha visto vovó chorar, mas seus olhos eram a testemunha muda da dor que ela escondia. A princípio, unidas pela dor, nos amparamos uma na outra, mas, com o passar dos dias os conflitos de gerações afloraram inevitável e fortemente. Vovó Ana tinha idéias pré-concebidas sobre quase tudo, incluindo bailes, mini-saias, “Rock and Roll” e namorados. Como era de se esperar, rebelei-me. Quando vovó me comprava roupas comportadas, eu usava mini-saias ou jeans. Quando me proibia de usar maquiagem, eu levava tudo na bolsa e usava no banheiro da escola. Fazia pirraças todo o tempo, queria mostrar que era adulta e ninguém devia me controlar. Queria liberdade. Tenho certeza, que naquela época eu transformei a

vida de vovó Ana num verdadeiro furacão. Mas, as coisas foram se ajeitando com o passar do tempo e com a paciência e o carinho da minha avó, eu aprendi a ceder de vez em quando para manter a nossa paz. Ela cedeu muitas vezes também. Vovó Ana era uma pessoa séria, mas atenciosa e bondosa e eu só a via rir com vontade, junto aos netos. Não era uma pessoa fria, pois cercava de amor toda a família. Ajudava inúmeras obras assistenciais, mas, não permitia que comentássemos com ninguém. Aos dezesseis anos, no Natal de 1961, eu queria dar a minha avó um presente todo especial, algo que falasse do meu amor, do quanto ela me havia ajudado a superar a perda dos meus pais e também pedir perdão por todas as vezes que eu fiz uma verdadeira revolução em sua vida. Encontrei num antiquário o caderno mais lindo que eu já tinha visto! Na capa havia um camafeu de madrepérola e em volta, violetas pequeninas adornavam toda a capa. Escrevi no caderno todas as palavras que eu não disse, todas as desculpas que eu não pedi e todo o amor e gratidão que eu sentia. Colei fotos antigas comigo, vovó e meus pais, coloquei uma rosa entre as páginas e assinei meu nome: Mariana! Depois, botei tudo em uma linda caixa desenhada com rosas amarelas e amarrei com um grande laço de fita branca. Ficou lindo! O dia 24 de dezembro começou com a chegada dos meus tios e primos e a alegria contagiando a todos. O espírito do Natal pairava no ar! Enquanto vovó e as tias cuidavam da preparação da ceia, meus tios arrumavam o quintal e o jardim com mil lâmpadas que piscavam alegremente. Eu, minhas quatro primas e dois primos, enfeitávamos com bolas coloridas a árvore de Natal, arrumávamos os presentes e a decoração da casa. Parecíamos formigas agitadas cuidando de um formigueiro. A noite chegou e todos elegantemente vestidos, nos sentamos à mesa. Como sempre fazíamos, demo-nos nossas mãos e fizemos uma oração de agradecimento a Deus, por estarmos juntos e por todas as bênçãos recebidas.

(Segue)


Fechei os olhos e pedi a Deus, que meus pais estivessem em um lugar bem bonito, de preferência, que tivesse um balanço em um jardim, como o que tínhamos em nossa casa. A ceia transcorreu animada e alegre e quando terminamos, fizemos a tradicional troca de presentes. Recebi muitos presentes e também dei presentes para todos, mas deixei de propósito o da minha avó por último. Como que adivinhando, vovó também deixou o meu presente por último. Abraçou-me fortemente, depois abriu a delicada caixa que eu lhe havia dado. Vovó Ana olhou o caderno com um brilho intenso nos olhos verdes, pediu licença e retirou-se para o quarto. Eu sabia que ela queria ter as suas emoções sem que ninguém visse. Só então abri o presente de vovó Ana e com grande surpresa, vi que era um caderno antigo, com a foto de uma jovem muito parecida com a minha mãe, mas, não podia ser minha mãe, pois seus olhos eram verdes e os da minha mãe eram castanhos, como os meus. Estava trancado. Tinha uma fechadura dourada e no cantinho, havia uma corrente com uma chave, também douradas. Era um diário. O diário de vovó Ana. A jovem linda na capa era a vovó bem mocinha. A emoção tomou conta de todos naquela sala. Meus tios enxugaram as lágrimas disfarçadamente ao perceber a falta que minha mãe fazia naquele momento. A alegria e espontaneidade da minha mãe, sempre brincando, sempre de bom-humor, nos fazia imensa falta! Todos, compreendemos que aquele diário seria dela, se estivesse viva. A saudade nos envolveu a todos naquele instante! Fiquei assustada e confusa: eu não merecia aquele diário! Não havia feito nada para merecê-lo. Corri para o meu quarto carregando aquele tesouro que vovó Ana havia guardado por tanto tempo e comecei a folhear aquelas páginas amareladas pelo passar dos anos. Meu coração batia descompassado e a emoção fazia minhas mãos tremerem! O diário começava pelo dia 4 de fevereiro de 1915. Vovó comemorava 15 anos. Ali, naquelas páginas, estavam registradas todas as dúvidas, mágoas, vaidades e rebeldias de uma adolescente, que como toda adolescente, pensava ser o centro do universo. Ali estava também a jovem grávida que se entre-

gara ao amor sem reservas e viu seu amado partir e partir também seu coração. Ali estava o casamento com um jovem oficial do exército, que assumiu a paternidade da minha mãe e por amor a minha avó nunca deixou que ninguém soubesse a verdade. Vovô Paulo foi o homem mais amoroso que eu conheci e naquele momento, eu descobri que ele era também o maior coração do mundo. Ali estava toda a carga emocional que a jovem Ana sofrera. Vovó Ana guardou aquele segredo por toda vida. Ali estavam também registrados todos os momentos felizes: o nascimento de cada um dos filhos e netos. Todos os Natais, aniversários, e todas as reuniões tão felizes em família que vovó tanto apreciava. Estava também toda a dor. A traição do homem que amara, a morte dos seus pais, a morte da minha mãe, que morreu sem conhecer a verdade sobre o seu nascimento. A morte do vovô Paulo. Vovó Ana e vovô Paulo tiveram mais três filhos e todos tiveram o mesmo amor. Eles eram para mim o modelo de casal, sempre carinhosos e atenciosos um com o outro e com a família toda. Viveram felizes por 40 anos, quando um câncer levou vovô Paulo. Ali estava toda a dor e o desespero da perda do companheiro a quem ela amara por 40 anos. Ali estavam as lágrimas que vovó nunca deixou que ninguém visse. Mas ali estava também, toda a alegria e esperança que ela depositava na minha vinda para esta casa. A neta que ela amava e que compensaria a falta da filha que o destino lhe tirou. Lendo aquele diário, compreendi que eu não precisava dizer o quanto eu a amava e nem pedir perdão: Ela sabia. Ela compreendia. Ela havia sido uma jovem como eu. Seus cuidados às vezes exagerados eram para me proteger. Não queria que eu sofresse. Passei a noite acordada lendo aquele diário. Eu estava fascinada pela verdadeira história da minha avó. Como vovó poderia adivinhar que a filha que tanto amava, partiria antes de receber o seu diário? Cada linha foi escrita para ela. Era para minha mãe que vovó havia guardado todos aqueles sentimentos. E que orgulho eu sentia por tê-las recebido! (Segue)


Todas as lágrimas ali guardadas. Eram para minha mãe, todas as emoções contidas naquelas páginas. E que orgulho eu sentia por tê-las recebido! Eu sempre amei a minha avó, mas naquele momento eu a compreendia muito mais. Era como se de repente, minha avó tivesse deixado de ser santa e se transformado em ser humano. Em uma simples mulher: pecado e virtude. Quando o dia amanheceu, arrumei-me e fui para a sala. Aos poucos a família foi se preparando para o café e eu estava impaciente, queria abraçar minha avó, dizer-lhe tantas coisas. Fui até seu quarto e vovó estava sentada em frente ao espelho, seus cabelos completamente brancos, delicadamente penteados contrastando com os seus enormes olhos verdes. Estava linda, como sempre! Não precisamos dizer nada. Só nos abraçamos com força, contendo as lágrimas que queriam cair... Tudo foi dito naquele abraço. O Natal passou, outros Natais vieram e se foram. E os anos se sucederam. Vovó Ana e eu vivemos juntas, dividindo todos os momentos. Quando eu me formei, vovó Ana estava lá. Quando me casei, vovó Ana estava no altar, maravilhosa em seu vestido longo. A cada tropeço do meu caminho, era para vovó Ana que eu corria. Eram os seus conselhos que me guiavam. Vovó Ana nos deixou em 1972, aos 72 anos. Morreu dormindo, calma e serena como sempre viveu. Nunca falamos sobre os nossos presentes no Natal de 1961... Não foi preciso. Os Natais nunca mais foram os mesmos e a família aos poucos, foi se distanciando. Restaram as lembranças que moram nesta casa até hoje. Guardei o segredo de vovó Ana, enquanto meus tios viveram... Não queria que julgassem minha avó por não ter lhes contado o seu segredo. Este ano farei 60 anos e percebi que o meu tempo está se esgotando. Por isso, resolvi escrever a história de vovó Ana, como um tributo a uma mulher que foi para mim, um exemplo de coragem, amor, fé, bondade e integridade. Em algumas ocasiões eu me olho ao espelho e vejo refletida a imagem da vovó Ana, de olhos castanhos... Aí, me lembro que sou eu, dentro do espelho.

Em datas especiais, eu sinto a presença dela junto a mim, sinto seu perfume de alfazema e sei que ela está comigo. Até breve, vovó Ana, eu já estou indo.


Indriso ao peixe-boi e ao homem Por Oliveira Caruso Vi um peixe-boi. Ele nem ĂŠ um peixe! Muito menos um boi! Vi o mesmo mamando de mamadeira gigante direto das mĂŁos do homem. Do homem, algoz seu. Caprichos da natureza?



QUATRO DÉCADAS EM BUSCA DE REALIZAÇÃO DE SONHOS Por Rai De Lavor Eu penei sofri chorei mais aqui cheguei. É incrível! Nem mesmo eu entendo como posso está morando no Rio de janeiro há 41 anos, e, continuo com meu coração plantado no sertão pernambucano. Meu Deus! Foi exatamente! Dia 29/04/1973 que cheguei há cidade maravilhosa. Feliz por está dando o meu primeiro passo de liberdade, e ao mesmo tempo triste e morrendo de saudades de todos os meus familiares e amigos que lá deixei. Lembro como se fosse hoje minha primeira viagem, uma aventura cansativa! Eu que até então usava como meio de transporte o jumentinho ou o cavalo, e lá uma vez ou outra, tirava onda nos chamados pau de araras, aqueles caminhões velhos que pareciam mais o lata velha como diz o Luciano Huck apresentador na Rede Globo. Porém, em abril de 1973. Surgiu-me essa oportunidade, tomei coragem e parti sem lenço e sem documento, cruzei os Estados da Bahia e de Minas Gerais 42 horas de estrada a fora... Enfim. Eu sofri, penei mais aqui cheguei. Trazendo na mala muitas saudades algumas roupinhas humildes minha certidão de nascimento e um monte de ideias e desejos na mente. Ideias essas que durante anos foram crescendo gradativamente em segredo absoluto! Só eu e Deus sabíamos do que se passava em minha mente e os desejos do meu coração. O lugar o dia e a hora das minhas ideias serem postas em prática, já estava consumado. Mas, foi exatamente! Em novembro do ano passado que o mistério foi revelado e as ideias começarem ganhar estrada. Estrada rumo ao sertão nordestino, por intermédio do desejo de um menino as ideias saíram do papel e tornaram-se realidade. E continua minha jornada. Aguardem em breve os próximos capítulos de mais uma linda história de amor e solidariedade. "Meus pés vão pisando a terra que é a imagem da minha vida: Tão vazia, mas tão bela, tão certa, mas tão perdida!" Cecília Meireles


LUPA CULTURAL Por Rogério Araújo (Rofa)

Espalhando sementes:

“Fui eu quem plantou!”. E, além do sentido real, há outros mais abrangentes como o de

plantando uma árvore,

produzir algo para a vida, seja o que for e que será apreciado e usufruído pelas outras pes-

escrevendo um livro e tendo um filho...

soas. E, assim, plantamos “árvores e mais árvores” em nossa caminhada! Que maravilha saber que espalhamos sementes e que elas cresceram!

Fiquei esses dias imaginando sobre a

Escrever um livro. Somente quem é

antiga e máxima de que para sermos real-

escritor sabe a importância em ver um “filho”

mente realizados na vida devemos fazer três

desses em “papel e tinta” impresso, bonito,

coisas: plantar uma árvore, escrever um livro

pronto para ser lido. Uma “gestação” que po-

e ter um filho.

de durar bem mais de nove meses e que é

Será isso verdade mesmo? Caso as

uma luta constante e que será degustado por

três ou uma dessas não forem conseguidos

quem se interessar. Aí, quem não tem esse

na vida não haverá a real felicidade na vida?

“dom da escrita” vai perguntar: “Então, eu

Refleti muito a respeito e cheguei a certas

que não sei escrever e não tenho ideias nun-

conclusões para que, junto comigo todos

ca terei essa realização na vida?”. E, se fi-

também reflitam.

zermos certa análise, podemos dizer que “um

Essas três “realizações” são muito im-

livro” pode ser, na verdade, a própria vida. O

portantes para uma vida feliz e completa. E

que as pessoas estão lendo em nossas atitu-

representa bem mais do que simplesmente

des e os exemplos que deixamos para os ou-

do que seu significado aparente.

tros.

Plantar uma árvore. Quem na vida,

Tanto é que a Bíblia, livro sagrado, bem anti-

ainda mesmo como criança, não colocou

go e mais livro no mundo fala sobre isso em 2

umas sementinhas na terra e molhou e espe-

Coríntios 3.2: “Vós sois a nossa carta, escrita

rou que ela brotasse para vê-la germinar e se

em nossos corações, conhecida e lida por

transformar numa frondosa árvore? E não fal-

todos os homens.”. (Segue)

ta o orgulho em dizer para quem quiser outir:


Então, somos, “um livro a ser lido por todos”

novos horizontes de ideias para abrir a mente

durante nossa existência neste mundo!

e tudo ver diferente.

Ter um filho. Esse representa a conti-

Um provérbio chinês nos ensina que “A

nuidade de sua trajetória, através de uma he-

persistência realiza o impossível”. E não é

rança viva, em forma de gente, muito falado.

verdade? Persistir com as pessoas e exem-

Uma dádiva concedida e que pode ser algo

plos é tudo na vida. E “ter filhos” é isso: per-

para lá de realizador. Um filho, ao contrário

sistir e não deixar se abater com a aparente

do muitos pensam, não é uma “ser uma cópia

rebeldia e falta de conselhos seguidos. É sa-

idêntica”, mas alguém até com traços seme-

ber que tudo que foi transmitido está em sua

lhantes, porém, outra vida com mente distinta

mente e uma hora ou outra irá emergir nas

e pensamentos para lá de diferentes pelas

situações vividas.

novas experiências vivenciadas. Desta forma,

Em resumo, que possamos “espalhar

“ter um filho” e mais que fecundar dentro de

sementes”, que nada mais é plantar árvore,

si um ser, mas também criar. Por essas e ou-

escrever um livro e ter um filho. E ver germi-

tras que sabiamente dizem que “Pai ou mãe

nar, crescer e dar frutos!

é quem cria”. E quantos “filhos do coração” as pessoas têm pela vida afora? Ter toda es-

Um forte abraço do Rofa!

sa consideração de gente próxima é mais que ter simplesmente um filho, pois será pelo coração e não apenas pela fecundação. É um “germinar” diferente a até mais sublime! Assim, certamente que o leitor dessa coluna percebeu que as três realizações: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho – passaram pelo olhar da “Lupa Cultural” de um modo bem abrangente. Voltaire disse que “A leitura engradece a alma” e estava para lá de certo. É resultado dos efeitos do que se produz na vida para outras pessoas que não ela própria. É o “plantar uma árvore” e vê-la brotar, crescer e ficar enorme e majestosa. Goethe afirmou: “Ler é a arte de desatar nós cegos”. Que declaração! Quantos nós existem na vida que ninguém sabe como desatar? São formados de forma misteriosa e que prende tudo e quem pode um livro ler, seja impresso ou e-book vai viajar e visitar

* Escritor, jornalista, autor do livro “Crônicas, poesias e contos que u te conto...” (Literarte), lançado na 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em 2014 e de “Mídia, bênção ou maldição?” (Quár/ca Premium, 2011), colunista do “Jornal Sem Fronteiras”; par/cipações em diversas antologias no Brasil e exterior; vencedor de prêmios literários e culturais; membro de várias academias literárias brasileiras e mundiais; menção honrosa no Prêmio Varal do Brasil de Literatura, em 2013, com a crônica “O amor... é cego, surdo e mudo?!”. O que achou da coluna “Lupa Cultural” e deste texto? Contato: rofa.escritor@gmail.com


Olho no olho Por Roberta Brummer Munhoz Meu maior segredo? É que eu tinha medo De não saber te amar No seu olhar de susto E aquele caminhar Que o vento já beijou Na luz do meu olhar Precipitou a paixão Em ondas de desejo Um beijo velejou certeiro E o susto se desfez em mar


A primavera da vida Por Rogério Araújo (Rofa) Existem quatro estações no ano, embora, hoje em dia com as confusões no clima, elas estejam mais parecidas ou mesmo entrando uma nas outras e confundindo tudo. Se o inverno é frio e todos reclamam; o verão, ao contrário, calor demais; o outono, já no meio termo; e então sobrou a primavera, uma estação que representa o “nascimento”. Um período de regar o “jardim de nossa vida” e plantar sementes para o nosso processo de renascimento. E essa renovação é mais que necessária para um viver melhor neste mundo. E será fácil conseguir? Certamente que não! Mas Deus pode nos ajudar e impulsionar a chegar a essa mudança para muito melhor. Basta pedir a sua ajuda que nos dará muito. Salmo 103:15, 16 diz: “A vida do homem é semelhante ao gramado; ele floresce como a flor do campo, que se vai quando sopra o vento...”. Desta forma, é bom não se deixar levar pelo que os outros querem e, sim, se manter firme e forte em seus ideais, com ajuda do Senhor. Que maravilha poder observar flores lindas nascerem no jardim de nossa vida que podem enfeitar e serem admiradas por todos à nossa volta! Como disse uma frase que li esses dias, sem autor identificado: “Se quiser ter prosperidade por um ano, cultive grãos. Por dez, cultive árvores. Mas para ter sucesso por 100 anos cultive gente.” Viva em plenitude a “primavera da vida” e aproveite muito mais os seus dias!


MULHER Por Roselena Fagundes Mulher: palavra com seis letras que traduzem muitos adjetivos! Que definem as pilastras dos gêneros afetivos! Maravilhosa no seu feminismo, Única na sua sensibilidade, Linda no seu dinamismo! Humanamente divina, Eterna na sua essência, Radiante na sua transparência!


O meu melhor Vinho Por Rozelene Furtado de Lima

Hoje de repente, senti uma saudade Saudade, profunda saudade teimosa Uma intensa falta da outra metade Da minha metade ausente e amorosa Saudade de abraço aconchegante De beijo molhado, em êxtase ardente Que transporta o desejo ofegante E faz o sangue ferver languidamente Saudade de mãos que sabem afagar Que fazem vibrar todos os sensores Conhecem as notas musicais a digitar Apertam o liga-desliga dos controles Vem me fazer solfejar em meu ninho De amor e carinho minha vida refaça Vem me fazer destilar meu melhor vinho Matar a saudade e sorver na minha taça


Perdoa-me penetraste meus vãos misteriosos, minha alma de mulher. ocupaste meus espaços, provaste do meu mel, do meu corpo te embriagaste. bebeste em minha fonte, percorreste minhas formas, minhas fendas, minhas frestas, meus recôncavos, fizeste-me te desejar. conheces agora o objeto de meus suspiros, conheces a causa de minha doce e oculta desesperança. conheces meus sonhos, que perpetuo mesmo acordada, conheces minha voz naquilo o que calo. conheces meu sorriso onde escondem-se minhas lágrimas. perdoa-me por não me amares.

Por Sérgio Almeida


- VARAL DO BRASIL Por Silvio Parise Vamos todos continuar Alegremente escrevendo nessa já famosa Revista que sinto está Admiravelmente divulgando a nossa Literatura sem frescuras aproveitando os Dons e talentos que temos, quais, Orgulhosamente ao mundo revelamos. Brasil que assim fica Realmente muito bem representado Aliás, que a verdade seja dita: Sempre aquilo que a Jacqueline coordenar Independente das já esperadas críticas Literalmente, devido ao seu amor pelas Letras, brilhará.


PIRAÇÃO Sonia Cintra Arde a serra no horizonte os pássaros em revoada buscam alucinados outros cantos


Ao entardecer Arte e poema por Sonia Nogueira

Olho da janela o fim da tarde no verde a beleza, da saudade, o frio vem faminto na amplidão, sonâmbulo vagueia o coração. A estrada vazia sem as vozes, nem pés que trafegam na procura. Horas declinadas com as flores O vento em açoite confabula. Silêncio em êxtase nesta hora o pensamento aflito ri, implora: lágrima não ofusque meu pensar, que teima em consolo se afoitar. A face despojada de alegria recebe a lágrima sem alforria.


Comunicação Virtual Por Suzana Vilaça A velocidade se faz presente nesta comunicação insólita e segue cristalizando um jeito de chegar ao outro. Fria e impessoal, talvez, mas repleta de armadilhas quando sugere aproximação, quando na verdade deixa a emoção raramente presente, mesmo porque a troca de olhares é impossível, a união da troca de energias precisa apenas do toque de um teclado, caracterizando apenas o dizer das intenções e quase sempre compulsivamente registradas. Nesta linha de ação em nossos dias, ficamos ilhados em dúvidas e escapismos inconsequentes. Construímos virtualmente um processo compulsivo impregnado de solidão e retórica repetitiva, rotulada de redes sociais. Cada um exerce o livre arbítrio a seu bel-prazer, e com raras oportunidades de reflexão, pois o que está valendo é o disse me disse, sem nenhum conceito analítico mais profundo. Com isso as relações humanas criam dificuldades cada vez maiores ao diálogo espontâneo, em que se faz da presença física um elo sensível, amadurecido e repleto de aprendizado. Na era dos confrontos, agregados nos ditos blogs, existe apenas uma linha de ação – a de investir na frustração de querer olhar só uma faceta da liberdade –, esquecidos de que a liberdade vai sempre terminar com o direito de essa mesma liberdade aos oponentes ser exercida com a mesma autonomia. Essa simbólica relação com a comunicação virtual concilia as múltiplas facetas dos aspectos concretos, dando espaço para o interlocutor estar consciente do que une ou desune o mundo na busca da compreensão e entendimento. Quando, muitas vezes, estão sendo criadas atitudes equivocadas, despidas de bom-senso ou soluções imparciais. Usam as ferramentas virtuais na comunicação em que as pessoas se mostram o tempo todo, mas fica um vazio instigante denunciando a superficialidade e subestimando a privacidade diluída sem constrangimento nem pudor. Talvez, por isso, o diálogo hoje seja abreviado e as palavras sejam escritas em códigos, fortalecendo a mediocridade e deseducando com extrema facilidade. Esses aspectos se fazem presentes em toda comunidade planetária como uma teia frágil de con-

sequências imprevisíveis, onde a falta de cordialidade invade e desequilibra culturalmente jovens nets, ansiosos por serem vistos ou reconhecidos nas suas mensagens. Os valores se confundem no imediatismo desses contatos virtuais, em que tudo acontece com modismo surpreendente. É importante deixar claro o impacto das múltiplas facetas desse processo que tem um preço alto: uma realidade conduzindo a síndrome da ansiedade, da estagnação ou até mesmo de uma inércia sufocante. Tudo porque o mundo sempre precisou de harmonia e beleza, para acrescentar esperança e alegria em toda comunicação humanizada. Algo que a tecnologia não poderá jamais suprir, pois dela se espera apenas o repaginar dos sonhos e ideais de cada indivíduo. Vai daí uma única certeza, a de que os capítulos da história da humanidade precisam da comunicação verbal e filosófica, para trazer erros e acertos na busca da perfeição. Por tudo isso, somos mutantes e necessitamos dos canais silenciosos para ouvir os sons na musicalidade da condição humana, traduzindo o enigma de busca para que sejamos mais tocados pela cor, pelo perfume com o brilho do olhar de quem deseja alcançar uma real comunicação, qualificando assim uma existência ilimitada para fortalecer os laços de uma convivência fraterna e amorosa. A visão de uma comunicação com energias positivas está longe de consciência cibernética, mas no altar de nosso coração. Em suma, todos os apelos virtuais podem ser deletados por aquele que ouve a voz da sua alma, escutando seu coração.


Chuva Por Valquíria Imperiano

Gotas de chuva caem do céu trazendo com elas os segredos do universo cada molécula contém 3 elementos que a química desvendou, mas de onde veio cada elemento e como tudo começou? Tão perfeita é a agua Clara, fria, quente, molhada, calada e recata nada revela aos alheios são ordens do criador.


Quadra de São João Por Valter Bitencourt Júnior

Numa noite de lua Dia de São João Passeamos pela rua Vamos dançar no salão.

Garota bem trajada No dia de São João Venha ser minha amada Preenche meu coração.

No dia de São João O céu de estrela Palpita meu coração Que a noite ainda não vela.

Fogueira acesa A esquentar esta noite Tudo pode ser surpresa E um beijo traça a sorte.



VARAL DO BRASIL Por Varenka de Fátima Araújo

Por mistério oculto, recebo um e-mail do Varal do Brasil Numa noite onde abrigava festivos ventos, faz tempo E na luz a luz ilumina foram poesias, prosas firmadas O varal estendido foi crescendo nas páginas coloridas Vai mostrando uma potência na Europa e nas Américas O selo a prova da verdade, surge o primeiro livro Numa estação agitada vem para Salvador uma guerreira Para lançar seus livros, a Jacqueline que assina o Varal do Brasil De grande saber, abracei emocionada uma mulher vitoriosa Tantos foram os varais, mais livros lançados no mundo Ouvido a fama que o teu nome impulsiona tantos poetas Ó amiga e equipe do Varal do Brasil por cinco anos, só sucesso.


SOBRE LONDRES Por W. J. Solha

Primeiro deslumbramento: Sobrevoamos o norte da França, cheio de cordilheiras, cruzamos o Canal da Mancha e começamos a conhecer um outro planeta: do litoral até Londres, a cerca de 180 quilômetros, a Inglaterra é uma lavoura só, quadriculada em vários verdes, prenunciando a fartura sem tamanho que veríamos em seguida. Quando o Airbus da TAP começou a descer para seu destino - o comandante português falando em “descolagem e aterragem” - vimos o milagre impossível para nós, brasileiros: a megalópole sem o menor sinal da existência de favelas, sequer de nossas minúsculas “casas populares”. Nas ruas, depois, constatamos o fenômeno maior, que foi o de não ver nenhum mendigo. O motorista espanhol, que nos levou para o aeroporto quando saíamos da cidade, uma semana depois, explicou: - O salário mínimo, aqui, gira em torno de mil libras mensais – quase três mil dólares – e o governo garante emprego e casa para todos. Quem, ainda assim, pede esmolas, é preso! E repatriado, se for estrangeiro. Claro que não foi apenas a terra fértil, mas dois milênios de História que deram a Londres a sua grandeza. Não vimos – eu e minha mulher, Ione – nenhum monumento ao apóstolo das epístolas no adro da Saint Paul´s Cathedral, a catedral de São Paulo. Em lugar dele, deparamo-nos com uma estátua da Rainha Ana, Queen Anne, a primeira soberana do chamado Reino da Grã-Bretanha, quando Irlanda e Escócia foram anexadas à Inglaterra. Todos sabemos que Henrique VIII rompeu com a Igreja, fundando o anglicanismo, cujo chefe espiritual é, desde então, o rei. Mas o vínculo Poder e Fé inglês vai mais longe. Em torno da estátua de Queen Anne, demos – ao vivo - com uma multidão de velhos heróis militares com os peitos sobrecarregados de medalhas, aguardando uma cerimônia de três horas pelos seus mortos e pela própria glória obtida em combates por toda

parte. Quando o templo ficou livre, nós - apesar de exaustos sexagenários, vasculhamos tudo, nele, inclusive os 259 degraus até o vão imenso que se abriu ante a varanda em torno do bocal do domo de assustadores 110 metros de altura, o segundo maior do mundo. Imagens de santos no gigantesco recinto? Nenhuma. Em lugar de altares, um grande ... cemitério... de grandes guerreiros da nobreza britânica, todos em esculturas de corpo inteiro, em mármore, a começar pelo almirante Nelson, pelo Duque de Wellington e pelo general Sir Isaac Brock. Junto do altar-mor, um memorial pelos aliados americanos mortos na Segunda Grande Guerra, outro pelos ingleses abatidos na Guerra do Golfo. Mas é claro, também, que o esplendor britânico não provém apenas da força. Lá estavam túmulos e mais túmulos de grandes artistas como Turner, Samuel Johnson, Reynolds, Millais e John Donne, Repetia-se, na catedral em que se casaram Charles e Diana, o mesmo que víramos na Westminster Abbey, a Abadia de Westminster, logo atrás do edifício do Parlamento, onde foram coroados e sepultados todos os reis ingleses. No belo gótico do edifício com seus arcobotantes e vitrais, víramos o exato e feio perfil de Elizabeth I – feito a partir de sua máscara mortuária – a grande rainha deitada, com seu espalhafatoso luxo, em cima da tumba, entre tumbas de vários outros reis que viveram antes e depois dela. E – mais adiante - lá estava o Poet´s Corner – o Recanto dos Poetas – com a estátua de Shakespeare em destaque, mais os memoriais de Chaucer, Milton, Wordsworth, Keats, Shelley, William Blake e, para minha surpresa, do americano do Missouri, naturalizado inglês, T. S. Eliot. Também lá estavam as sepulturas de Dickens, Kipling, Thomas Hardy, Sir Laurence Olivier, todos na boa companhia dos imensos Handel e Henry Purcell. Lembramo-nos, é claro, do nosso descaso à memória de Zé Lins e Augusto dos Anjos. (Segue)


Segundo deslumbramento: Mal chegamos a Londres, saímos à rua. Devidamente encasacados, cruzamos uma praça – a Russell Square - e entramos numa rua estreita, a Montague Street, onde nos iluminamos com o que vimos: todos os postes – de ferro – ostentavam, cada um, dois cestões suspensos, cheios de flores miúdas e de um colorido muito vivo, as mesmas que enchiam todas as jardineiras e grades dos hotéis e bistrôs de terracinhos georgianos (do século XIX), como num cenário de conto de fadas. Londres é quase toda um jardim. A guia do City Tour, no dia seguinte, disse-nos: - A Prefeitura cuida de florir os lampposts da cidade. E há uma infinidade de empresas que mantêm as fachadas de casas, lojas, bancos e bares floridas o ano todo, inclusive no inverno, quando as espécies são substituídas por outras, resistentes ao frio.

desculpando-me pelo péssimo inglês - perguntei a um gentleman - que estava para cruzar a rua com duas crianças, onde ficava o British Museum. Ele não me entendeu e caprichei: - De Brítiche Miuseum. Não me compreendeu. Mostrei-lhe o nome impresso. - Ôh – ele disse – The British Museum! – mas isso numa pronúncia tão arrevezada e incompreensível, que eu disse Uau e pedi que me repetisse a dose. Ele fez isso, sentiu a própria extravagância e deu uma grande gargalhada. Do mesmo modo, aquecidos por tantas caminhadas, vimos, nos maravilhosos jardins posteriores do palácio de Buckingham, a vendedora de sorvetes mostrar-nos várias opções do produto que vendia, culminando por ler uma versão tão irreconhecível, para mim, de strawberry, morango, que a imitei, sorrindo. Poucas vezes fiz alguém rir tanto. Na Tate Britain, museu com obras exclusivamente inglesas, Ione parou diante de uma paisagem soberba que uma senhora negra, classe alta, em cadeira de rodas, também tentava ver, atrás dela. A mulher moveu sua geringonça para a direita, Ione, diante dela, idem. A senhora se moveu para a esquerda, Ione, diante dela, também. Acabamos, os três, gargalhando juntos e, juntos, comentando, embevecidos, o quadro tão disputado. (Segue)

Terceiro deslumbramento: Um professor universitário voltou todo um quarteirão para mostrar-nos como cortar caminho para o endereço que procurávamos. Uma jovem – típica inglesa pele de porcelana, olhos intensamente azuis – aproximou-se quando viu que um senhor não sabia dizernos onde ficava a catedral de São Paulo. Uma senhora e sua filha ofereceram-se, sorridentes, para fotografar-me com Ione diante do teatro Globe, onde Shakespeare apresentava suas obras-primas no século XVII. Doutra feita, perdendo-nos apesar do mapa, eu -


Quarto deslumbramento: Ao sairmos do Madame Toussaud – que tem peças perfeitas, como as réplicas em cera de Morgan Freeman, Leonardo DiCaprio, Nicole Kidman, Whoopy Goldberg, Paul Newman e Spielberg, mas péssimas reproduções de Harrison Ford, Sean Connery, Humphrey Bogart e Clark Gable - vi, perto dali, a entrada do Regent´s Park e me lembrei do romancista Esdras do Nascimento – que viveu dois anos em Londres – dizendo-me: “Nada de museus. Tome um porre no Hyde Park, que é o melhor que você faz!” E seria, mesmo, se tudo fosse como cinqüenta por cento do que acabáramos de ver na Marylebone Road. Valera, no entanto, a visita, pela surpresa de ouvir um rapaz, que se esgueirara com a namorada entre John Wayne e Robert Redford me perguntando: - Você não é o Solha? Paraibanos. Regent´s Park. Jamais imaginei um espaço como aquele fora dos paraísos que já vi pintados e descritos, ou das utopias. Belíssimos salgueiros derramavam-se, frondosos, no solo e na água, lembrando-me a willow tree de que Ofélia, louca, tomba para morrer afogada entre flores. Cisnes, alguns negros, deslizavam entre plantas aquáticas. Casais – com ou sem crianças – tomavam sol na tarde fria, deitados na grama “sem formigas” – como Ione observou – dando de comer a pombos que vinham voando de longe, atraídos pelo banquete, e a esquilos que desciam das árvores, lestos e ondulantes com suas caudas espessas, recebendo alimento das mãos dos doadores, como se fôssemos todos puros como Francisco de Assis e Branca de Neve. Ah, e dentro dos 166 hectares do Regent´s Park, no círculo chamado Queen Mary´s Gardens – os Jardins da Rainha Mary - , demos com a excessiva beleza e o perfume de trinta mil rosas de quatrocentas variedades – cada uma com seu nome numa placa -, além de canteiros de flores de tão maravilhosa variação de cores, que me lembraram os distantes dias em que eu punha o amarelo de Nápoles, o azul da Prússia e o vermelhão chinês juntos na paleta, em tentativas inúteis de criar maravilhas iguais. Quinto deslumbramento:

O Museu Britânico. The British Museum é um imenso complexo de edifícios neoclássicos majestosos, centrados por um cilindro que me lembrou o tronco de Yggdrasil, a árvore do conhecimento das lendas escandinavas, com os ramos, lá em cima, servindo de caixilhos para os vidros do alto teto transparente que nos cobria a todos, no pátio extenso. Passando no meio de uma multidão que dialogava com atores vestidos como legionários romanos e uma centúria de dançarinas dançando, tecelões e ceramistas do tempo do Imperador Adriano trabalhando, entramos numa série praticamente infinita de espaços vastos, locupletados de Arte e História, deparando-nos com uma coleção de impensáveis sete milhões de objetos maravilhosos, colecionados desde 1753, reunindo três mil anos de civilização egípcia, dezessete salões com os fantásticos destroços do gênio grego, sete magníficas salas com o gênio assírio, nosso espanto estendendo-se em volta, com o contato direto com o Império de César e a Etrúria, com a China, a Índia, os geniais Aztecas, a Babilônia, etc, etc, e, sendo o British o único museu londrino que permite filmagens e fotos, filmei – com minha pequena Sony uma senhora lendo para outra a parte grega da Pedra da Roseta, fiz um travelling longuíssimo do fabuloso friso em altos-relevos dos vívidos cavaleiros trazidos do Pártenon por Lord Elgin, fotografei cada fantástico fragmento do combate entre atenienses e centauros isolado nas paredes, Ione posou para mim diante dos gigantescos touros alados de Khorsabad, dos esplêndidos baixos-relevos do palácio de Nínive, das enormes cabeças de Ramsés II e Amenófis III, dos sarcófagos soberbos vindos do Vale do Nilo, tudo – sempre – envolvido em êxtase. (Segue)


Sexto deslumbramento: National Gallery. Para que se tenha idéia aproximada do espaço ocupado pelas 2.300 obras da Galeria Nacional, que se impõe ante a Trafalgar Square – a Praça Trafalgar - parei no centro dele e – ao me voltar para a série de salões a oeste, portas afora, depois para outro tanto delas a leste, eu disse: - Ione, é como se estivéssemos diante do antigo cine Municipal e olhássemos, de um lado, para o final da Visconde de Pelotas, com a Praça Dom Adauto ao fundo, e, do outro, para o Ponto de Cem Réis, fazendo o mesmo no sentido norte-sul, numa cruz sem tamanho. - Meu Deus! Com entrada franca, tal como no British, é comovente ver todo um mundo de gente – muita criança, muitos jovens e velhos - com acesso direto a peças de Leonardo, Bosch, Rembrandt, Renoir, Watteau, Holbein, Vermeer, Brueghel (o velho), van Eyck, Piero della Francesca, Seurat, Velázquez, Ticiano, Rubens, El Greco, Turner, Botticelli, Constable e tantos outros, grupos e mais grupos de crianças ouvindo professores dissertando sobre as mais notáveis realizações humanas, frente a frente com elas, sem as distorções das fotos, por melhores que sejam. Por falar nisso, e para não dizer que só falei de flores, registro minha decepção ante a sombra que cobre um quadro que cultuo desde a infância: O Casal Arnolfini, de van Eyck, famoso justamente por sua nitidez... desaparecida numa camada escura criada pelo Tempo, que não me permitiu ver detalhes que eu conhecia por fotos de dez, vinte, trinta anos atrás. Por exemplo: na parede ao fundo do retrato duplo, há um espelho curvo cuja moldura reproduz todos os passos da Paixão de Cristo. Não consegui vêlos, mesmo a dez centímetros do original. O mesmo se deu com todos os Vermeers de Londres, notabilizados por sua milagrosa manipulação da luz, mas que lá perderam essa Graça, como sem Graça me pareceu a Ceia em Emaús, de Caravaggio, célebre pela força de seu claro-escuro. Não bastasse isso, estavam incrivelmente fanados o imenso Ninféias, de Monet, e o largo Banhistas de Asnières, de Seurat. Já Os Embaixadores, de Hans Holbein, mantido rigorosamente claro, decepcionou-me por sua falta de ... algo especial, nele. O Adoração dos Reis Magos, de

Brueghel, pelo contrário, é realmente maravilhoso, como é maravilhosa a nudez da Vênus no Espelho, de Velázquez; a paisagem ao fundo de O Carro de Feno, de Constable; a geométrica precisão do Batismo de Cristo, de Piero della Francesca; o azul do céu ao fundo do Baco e Ariadne, de Ticiano; as cores intensas de Rubens em seu Sansão e Dalila; os detalhes milimétricos da natureza-morta As Vaidades da Vida Humana, de Harmen Steenwyck; a névoa diáfana das grandes distâncias por trás do Casamento de Isaque e Rebeca, de Claude Lorrain; o impressionismo -antes-da-hora de Turner, etc, etc. E veja como são as coisas: há dois auto-retratos de Rembrandt na Galeria Nacional: um em que ele está com 34 anos, do qual fiz uma cópia há tempos, outro em que ele está com 63. Pois bem: desinformado, esforcei-me, no simulacro que fiz, para emular a técnica que o mestre adquiriu apenas no final da vida, e o resultado foi que não gostei do original... apagado... mas em compensação me comovi intensamente com o registro que ele deixou da própria face na velhice, poderosamente densa e triste. Apenas um museu como esse poderia, desse modo, oferecer tanto. (Segue)


Sétimo deslumbramento: Há uma série de coisas que dão cor local a Londres: a troca da mão e contramão nas ruas, com motoristas dirigindo do lado direito dos carros e das pistas; os táxis – London cabs – conservando seu modelo antigo feioso, mas eficiente; as cabines telefônicas, tão vermelhas e onipresentes quantos os ônibus de dois andares – the red double-decker bus; a presença poderosa dos quatro enormes leões de bronze, deitados sobre o pedestal da Coluna de Nelson, na Trafalgar Square; a multidão aplaudindo, empolgada, o inesperado som nada marcial dos Beatles irrompendo da mecânica banda militar; os próprios músicos, tocando e marchando de jaquetas vermelho-sangue, enormes pelames negros sobre as cabeças; os portões de grades negras com belos brasões rococós dourados diante do Palácio de Buckingham; o desfile da cavalaria, que parecia ter saído do Grito do Ipiranga do Pedro Américo; a tarde da sexta-feira, com muita, muita gente conversando animadamente, bebendo cerveja nas ruas, diante dos pubs lotados; o arabesco dourado emoldurando o relógio da torre em falso gótico do Big Ben; e a roda gigante – de 135 metros – The London Eye (O Olho de Londres) do outro lado do Tamisa, girando lentamente, a cidade descendo no que vamos, muito devagar, subindo dentro de uma de suas 32 cápsulas de vidro. Marcante, também o passeio de barco no que passamos sob a velha e célebre Tower Bridge – a Ponte de Londres - com suas duas torres (que lembram as do Parlamento ) e Ah, o Shakespeare´s Globe! Comovi-me muito, no centro do velho teatro circular de madeira, na platéia sem poltronas, vendo a guia, exaltada, falar da emoção sem igual que se vivia ali todos os dias, no século XVII. Do que pude captar de seu inglês, ouvi: - Pensem no que é ver de perto o ator que faz Marco Antonio descendo estes degraus do palco até vocês, que o assistem aqui, em pé, ele com o corpo ensangüentado de César nos braços e começando seu discurso, olhando direto nos seus olhos, nos seus, e nos seus, e clamando: “Friends romans! Countrymen!!!” História e Arte por toda parte

Há sempre uma multidão em fila para conhecer os interiores do Palácio de Buckingham, que é – ele próprio – um reduzido mas seleto museu. Nele vimos uma coleção de mármores do frio porém perfeito Canova, e uma bela pinacoteca em que se destacava o notável retrato de Agatha Bas, de Rembrandt. Anexo ao edifício, a Queen´s Gallery reforça o prestígio que a coroa empresta à grande arte. Mas é caminhando um pouco mais para lá do Parlamento, na margem do Tamisa, que se vê o reduto principal da arte inglesa, antiga e contemporânea, na chamada Tate Britain, com sua grande coleção de obras de Turner em todas as suas fases, com o famoso Carnation, Lily, Lily, Rose – de Sargent -, e muita coisa de Dante Gabriel Rossetti, de Whistler, de Burne-Jones, maravilhosas paisagens de Constable, e – o supra-sumo da coleção – uma impactante obra-prima de Lucian Freud (neto de Sigmund), “The Painter´s Mother” – A Mãe do Pintor. E eis que nos vimos na British Library! A dez minutos a pé do Royal National Hotel, em que ficamos, a Biblioteca Britânica se impõe com seus 16 milhões de livros, sim, mas toca-nos profundamente pela exposição de uma série de mapas, livros, documentos e manuscritos preciosos, expostos em vitrines e consultáveis por completo em computadores disponíveis ao lado delas. Livros chineses em rolo; a primeira edição das obras de Shakespeare; as iluminuras de vários volumes medievais; a primeira partitura impressa na Inglaterra – o XX Songes, de 1530; a partitura original – cheia de arrependimentos e anotações - da Sonata para Violino op. 30, número 3 de Beethoven; vários desenhos de Leonardo; a Bíblia de Gutemberg, de 1454; a certidão de casamento de Mozart e Constanza; a carta de Thomas Morus a Henrique VIII antes de ser executado; o manuscrito do Mrs Dalloway, de Virginia Woolf e o de Jane Eyre, de Charlotte Bronte; a partitura manuscrita do Bolero de Ravel e da Marcha Nupcial de Mendelssohn e... last but not least, os versos, no exato momento de sua criação – com várias correções – de algumas das mais célebres canções de Paul McCartney e John Lennon, como Yesterday, Help, Strawberry Fields Forever, I wanna hold your hand e Michelle. Acho que já posso morrer sossegado.


Dedilhando Por Rosangela Calza E seus dedos não cansavam o teclado o tempo todo dedilhavam. E assim de toque em toque poemas do nada se formavam. E dedilhou, e dedilhou, e dedilhou... e seus dedos iam parindo amor, esperança e alegria em forma de textos iam surgindo. E assim de brincadeira o caminho branco de flores coloridas foi povoando... A teoria desmente a pråtica foi isso que acabou provando.


- Minha nossa! Quantos brinquedos!

CAZU - A MENINA AZUL

Que legal! Por Vera Salbego

Era uma vez num lugar muito distante, havia uma menina que queria estudar, mas seus pais eram tão pobres, que não tinham dinheiro para levá-la à escola. Os dias foram passando e Cazu ainda triste, com vontade de aprender, ia levando seus dias com todas as brincadeiras infantis. Na comunidade onde ela morava havia várias crianças que passavam os dias sem nada para fazer, apenas vendo as outras crianças indo e vindo de suas escolas particulares. Sua mãe, Dona Rita, lavava roupa para fora e ia às mansões do centro da cidade levar as roupas. Certo dia sua mãe a convidou para ir com ela entregar os pacotes de roupas. E ela foi feliz da vida! Chegando lá encontrou crianças bem vestidas brincando com bonecas maravilhosas... Ela ficou de longe apenas olhando aquelas meninas. Sua mãe a chama para irem embora; ela vai pensando naqueles brinquedos que nunca tinha visto. Sua imaginação fica a mil, e ela agora fantasia sobre aquela casa e aquelas crianças. Os meses foram passando e Cazu pensava sobre o dia em que viu aquelas meninas brincando com lindas bonecas de porcelana. Ela imaginava que nunca poderia ganhar aqueles brinquedos caros. Certo dia sua mãe é chamada àquela casa pela dona, que lhe oferece brinquedos dos seus filhos alegando que as crianças não os querem mais e estão atrapalhando na casa. Dona Rita agradece e fica feliz em levar os brinquedos para seus filhos. Vai para sua casa levando os pacotes. Chegando lá, as crianças correm em sua direção. - Crianças olhem o que eu trouxe para vocês. Ela entrega os pacotes e as crianças desembrulham ansiosos para verem o que tem dentro deles. - Mãe, isso é uma boneca? - Claro, filha! Ganhei daquela senhora da mansão.

Assim as crianças ficaram felizes pelo resto da semana. Os dias foram passando e a vida continuava a mesma. Cazu agora um pouco feliz com a boneca nova percebia que algo não andava bem em sua casa. Ela via seu pai andando triste e conversando baixinho com sua mãe. Eles se calavam ao perceberem que os filhos se aproximavam. Um dia, toda sua vida iria mudar... Certa manhã ouviu choros, resolveu levantar-se, chega à sala e vê alguns vizinhos abraçando sua mãe e falando que tudo isso vai passar. Curiosa fica por perto para saber o que esta acontecendo. Então ouve alguém falar que seu pai sofreu um acidente no centro da cidade. Sua mãe sai rápido para o hospital, levada pelos vizinhos e chegando lá já é tarde, seu esposo não aguentou a cirurgia e faleceu. Ela não sabia como fazer para contar aos filhos. Em casa Cazu estava triste e não sabia que seu pai já tinha falecido, quando chega sua mãe chorando e a abraça falando: - Filha seu pai não aguentou a cirurgia e faleceu. - Como, mãe? - Seu pai andava doente e a gente não queria preocupar vocês, mas hoje ele foi atropelado por um carro. Agora quero ver como vamos fazer para enterrá-lo. Não temos dinheiro em casa e nossos vizinhos também são pobres e não sei a quem pedir dinheiro emprestado. Cazu então se coloca a rezar e pede a Deus que as ajude naquele momento triste. Sua mãe sai e vai à busca de ajuda para poderem fazer o enterro. Procuram a assistência social do Município para ajudá-las. Assim conseguem fazer a cerimônia fúnebre e despedem-se do falecido. Fica uma lacuna em seu mundo infantil: a falta de seu querido pai. Os dias passam e sua mãe agora uma mulher triste mas batalhadora, tem que trabalhar dobrado para sustentar seus filhos Cazu e Paulo. Anda cansada de tanto trabalhar, vê seus filhos cada vez mais sozinhos dentro de casa. Sabe que são crianças e pede aos vizinhos para ajudarem a cuidar deles. (Segue)


Sabe que são crianças e pede aos vizinhos para ajudarem a cuidar deles. Numa das casas onde ela trabalha os patrões são pessoas boas, que perguntam sobre seus filhos. - Eles estão bem. Preocupam-me porque eles ficam sozinhos e tenho medo que algo venha a acontecer com eles. A dona da casa então responde: - Rita porque você não os traz um dia desses? - Posso? - Claro, querida, nós não temos filhos e adoraríamos conhecê-los. Então certo dia dona Rita veste seus filhos com a melhor roupa e dirige-se para a mansão. Chegando lá, as crianças são bem recebidas e ficam à vontade. Os donos da casa apaixonam-se pelas crianças e conversam com eles animadamente. Ficam impressionados com a desenvoltura de Cazu, que fala a eles de seu sonho de estudar. Os dois se entreolham e voltam a conversar com aquela doce menina. A tarde passa rápido e eles vão embora. O casal então volta a conversar sobre a menina e ficam falando do sonho de estudar que ela tem. Resolvem perguntar no outro dia para Rita, se eles podem adotar a menina para pagarem os estudos dela e, ainda, irão passar uma mesada para ajudarem na criação de Paulo. A noite chega depressa e Rita vai até à cozinha para fazer um lanche para eles. Percebe que ali não tem muita comida... Chora entristecida. As crianças comem o que tem e adormecem cansadas daquele dia maravilhoso.

lhar não é comigo. - Claro, se quiseres. Rita volta ao trabalho pensando sobre as ofertas, imaginando o que seus filhos irão falar sobre o assunto. À noite chega e Rita volta para casa. Chegando lá, diz aos filhos, que precisa conversar com eles. - Crianças, preciso contar sobre um ofereque meus patrões fizeram para nós. Começou a contar e as crianças ficaram pensativas imaginando como seria a vida naquela mansão. cimento

Cazu então percebeu que a oferta seria legal, pois assim ela poderia estudar naquela escola particular da cidade, visto que não havia escola pública naquele lugar. Seria maravilhoso! Cazu, agora com sete anos diz: - Mãe, eu acho legal, pois só assim irei para a escola e o mano e vocês vão morar bem. Você não precisa trabalhar demais. Vamos tentar mãe! Eles então começam a arrumar seus pertences pessoais para levarem à mansão. Rita chama seus vizinhos e distribui a eles suas mobílias; vende sua casinha de madeira. Pegam um carro de corrida para chegarem àquela mansão dos jardins e os donos, agora amigos, os recebem de braços abertos. Daquele dia em diante suas vidas mudaram para melhor. Cazu agora frequenta a escola, tem novos amigos e está feliz. Aquela mansão já não é mais a mesma, agora tem vida; as crianças trazem luz às vidas daquelas pessoas que moram lá. Até que um dia Cazu ouve de uma colega que ela tem sangue azul. Ela pergunta: - Por quê?

De manhã cedo Rita beija seus lindos filhos que ainda dormem, e vai para o trabalho. Na condução para ir ao centro da cidade, seus pensamentos voam... Ela entende que precisa pegar mais uma residência para limpar, pois o dinheiro está pouco.

eles

Quando chega à mansão vê seus patrões esperando por ela para conversarem.

Os dias foram passando e a família, cada vez mais feliz, vivia radiante com aquelas crianças sorrindo e cantando entre as flores do jardim.

- Rita! Estivemos conversando ontem à noite sobre você e seus filhos e gostaríamos de perguntar se daria sua filha para nós criá-la. Nós daríamos uma pensão para seu filho, afim de você não precisar sair de casa. Pensa com carinho, não queremos adotar com papel passado, apenas ajudar a Cazu em sua formação. Vai continuar a vê-la o quanto quiser. Acredite a gente quer apenas lhe ajudar. Quem sabe você vem morar aqui conosco e as crianças? Rita fica pensativa, e depois responde: - Preciso pensar, a oferta é boa. Mas eu vou continuar cuidando da casa, porque ficar sem traba-

A menina responde: - Porque você é filha daquela família rica e têm sangue azul. Assim Cazu fica deveras orgulhosa, pois daquele dia em diante dirá a todos que tem sangue azul.

Cazu cresceu e formou-se em Arquitetura. Faz planos para projetar uma Escola Pública na vila onde ela morava realizando, assim, o sonho de levar muitos jovens a estudar e ser alguém no futuro.

Assim viveram felizes para sempre!


Haicais

deus (que deus?) me livre! eu morro

Por Vivian de Moraes I

VIII

exercício

na água do riacho

sem nenhum

deságua

benefício

toda mágoa (rima fácil) IX

II

a confissão de lúcio

suco de manga

e o abraço

beleza

confuso

ancas X III

bobagens de pedro

somente agora

como dormir

tenho dó

e acordar cedo

da minha sogra XI caçando na mata IV

colho

rimas fáceis

uma lata

são as mais dóceis XII pode ser politicamente incorreto V

mas eu sou (tento ser)

a peruana

gramaticalmente correta

não sabe falar português desencana XIII VI

insônia

jesus na terra dos mamutes

como eu

apenas

como

me escute (Segue) VII cachorro


XIV eu rimo na segunda eu rimo na terceira com a primeira XV gógol -- eu não tenho nariz mas tenho um giz (vou dar aulas de literatura russa!) XVI séria, seria: se ria! XVII fibromialgia ó dor insuportável dos meus dias

CINCO ANOS DE VARAL DO BRASIL! Participe de nossas atividades! Informe-se e venha para o Varal! varaldobrasil@gmail.com www.varaldobrasil.com


NORMA

Por Maria Aparecida Felicori (Vó Fia)

As pessoas quando nascem não mostram o que serão ao crescer, porque criancinhas tem as carinhas vermelhas e bem parecidas, as vezes são bonitinhas e outras vezes bem feiinhas, mas as crianças crescem e mudam de aparência para melhor ou para pior; Norma nasceu normal e não era nada bonita, magrinha, branquinha chegando a ser desbotada. Durante sua infância ela era uma menina comum, nada diferente das outras e as vezes até um pouco mais feia que suas colegas; era calma, calada e estava sempre no seu canto, mesmo na hora do recreio ela não se misturava, se colocava a sombra de uma mangueira e comia seu lanche em total silencio, mas não participava das brincadeiras com as outras meninas. O crescimento não ajudava Norma, porque no começo da adolescência ela tinha o rosto cheio de espinhas e era insegura e tímida, quase não falava e as pessoas achavam que ela tinha alguma anormalidade, mas ela era inteligente e suas notas escolares eram ótimas; o tempo foi passando e Norma desabrochou e de repente ela se tornou linda. As espinhas sumiram, sua pele se tornou aveludada, seus dentes pareciam perolas, seu corpo era bem modelado e seus passos eram elegantes e para completar, seus cabelos eram longos, castanhos e desciam pelas costas em suaves e macias ondas, parecia um milagre aquela transformação e o melhor foi que sua timidez desapareceu e ela se tornou brilhante. Quando Norma aparecia as demais jovens desapareciam, porque era uma beleza perfeita demais e o povo da cidade de Santa Laura encantados com ela, a apelidaram de Norma Pavão, mas ela detestou o apelido e se zangava quando o ouvia, porque se sentia ofendida ao ser comparada a um pavão macho, pois ela era uma mulher. Em cidades do interior, os apelidos são normais e se a pessoa se zanga fica pior, porque ai se torna apelidada para sempre; a linda Norma sabia que o pavão é uma ave maravi-

lhosa e que a chamavam assim como um elogio, mas tentou de tudo para se livrar do Pavão e quando não conseguiu, se mudou para uma cidade distante e nunca mais voltou a Santa Laura, continuou linda e se livrou do Pavão.

- Abrimos um Concurso, gratuito, para as Orelhas e a Apresentação do livro Varal Antológico 5. É muito simples: você envia seu texto falando do Varal para nosso e-mail varaldobrasil@gmail.com e estará concorrendo. Os vencedores receberão cinco exemplares do livro. - Também estão ainda abertas as inscrições para o Concurso, gratuito, da capa do Varal Antológico 5: pintar, desenhar, fotografar... qual a sua arte? Envie uma foto em boa resolução de sua obra ou de sua visão fotográfica para nosso e-mail. O vencedor será capa de nossa quinta antologia e receberá dez exemplares do livro. - Para participar como autor do livro Varal Antológico 5, entre em contato através de nosso e-mail e enviaremos as informações para você. Esta é uma antologia da qual com certeza você vai querer participar! Lançamento na Suíça em 2015! - E se você ainda não se decidiu, ainda é tempo: venha autografar em Genebra ou envie seus livros para serem divulgados e vendidos aqui! Informe-se sobre como participar do 29º Salão Internacional do Livro da Imprensa de Genebra (Suíça)! varaldobrasil@gmail.com (Veja fotos e vídeos de nossas participações anteriores na Galeria do site www.varaldobrasil.com


Arvores Por Walnélia Corrêa Pederneiras numa outra rua da minha cidade no jardim da casa da esquina também não está mais a pitangueira... Assim a vida faz versos tristes para contar sobre aroeiras, pitangueiras goiabeiras e todas as arvores belas porque feio é o gesto do homem quando insiste em derrubá-las.. Na caixinha de recordações, agora tem mais fotografias e em cada foto está escrito: -Pitangueira-árvore que dá pitanga -Aroeira-árvore originária dos Andes peruanos -Goiabeira-árvore originária de regiões tropicais Amanhã passarei por lá e nada será belo pois estará escrito numa placa: Estacionamento. A beleza daquele jardim agora será lenda em meu pensamento


O ADEUS DE PRISCILA Por Wilton Porto Antes da morte ela estendeu-me o braço Queria que eu o segurasse com firmeza Tenho a impressão de que buscava segurança Ou estava dizendo-me: “Papai, adeus!” Antes quisera passear O que o fizera com alegria ímpar Ela sabia da morte presente Pois expirou como se Anjo fosse. Assim eu acredito Que nos Céus ela vibra por nós São os momentos em que temos paz Neste turbilhão de saudade e dor.


Regresso Por Yara Darin

Malas prontas devo partir bagagem vazia, inútil insistir não sentir saudades, fingir foi pura ilusão. Acreditei na versão da alegria dos meus versos todos os preços paguei não deu me enganei. Criei uma outra realidade que jamais chegou andei ao leu sem vida de uma forma iludida vagando nos escuros sem encontrar uma saída. O tempo passou tentei apagar-te da minha memória sem jamais conseguir . Regresso, para contigo vivenciar nossa intensa e cúmplice comunhão que transcende os limites da nossa pele.


tos. Sobram casas vazias com telhados arrombados pela intempérie; há portadas que deixam entrar a ventania no desespero da ausência; as chaves agrilhoaram-se por baixo do tapete. As cozinhas, agora, são composições desorganizadas de pedra estendida sobre o soalho gasto; a madeira foi carcomida por bocas esquecidas da gente desta terra; os ganchos Título dos enchidos continuam pendurados: tilintam a espaços, vazios de alimento seco. (E as laPor Rui Pinheiro reiras? Que é feito daqueles estalidos que aqueciam as noites mais frias da casa? Onde repousa o manto que suportava os corpos sa*Primeiro Lugar em Contos no II Prêmio Varal ciados pelo prazer do calor? E o restolho dos do Brasil de Literatura. suspiros que escapava por entre as frinchas dos barrotes de madeira?). A lâmpada do candeeiro alumia o silêncio do último poema.

Os escombros apagaram da memória dias inteiros de alegria; vive-se um apagão generaliDa janela, semiaberta, vêem-se partículas de zado de raízes: os braços da sementeira ainpólen a cair das asas de um enxame de abe- da não compreendem o objectivo da colheita lhas. A copa da árvore agradece o brilho para (faltam-lhe os sinos a dobrar o lavradio, as enafastar os aviões mais distraídos, e as crian- xadas a brincar com a terra, os homens a asças pululam sob a casa de madeira escondida sobiar sobre a seara, e as mulheres a sorrir pelos braços de folha verde (e aqueles abra- porque o cântaro jorra água feliz). ços que deixaram saudades nos corpos que Nada mais resta no trilho. Só os meus passos amadureceram? E os beijos que deixaram fios marcam os caminhos, agora mais curtos. Os de mel nos lábios secos de saliva? E os instin- dias crescem, mesmo no inverno, mas não o tos animalescos que desbotaram na pele de suficiente para afastar as noites frias. As histócordeiro?). rias dos livros bons não chegam para passar o

Na aldeia há um pincel que escreve desenhos com histórias paradas; as cores fogem do pastel e misturam-se com o amarelecido das espigas tardias: é o sol quem ressuscita a natureza morta dos buracos da palete e traz o canto das andorinhas na primavera. Os ninhos acomodam-se nos beirais, secos da chuva e das fisgas dos meninos que migraram para escolas maiores; as daqui, vazias da aprendizagem, comem os livros esquecidos nas prateleiras e bebem da palavra saudade.

tempo, e a poesia agudiza a espera desnecessária. Às vezes penso: para quando o encontro das páginas? Procuro atrás das palavras, mas não encontro respostas convincentes.

As metáforas são bipolares: ajeitam-se à medida do momento. Servem meros instantes não representativos da certeza que preciso. Apesar disso, sirvo-me delas para iludir a realidade do que quer que seja. É indiferente o Atrás da igreja ficaram as camas individuais, que é agora, desde que eu queira que assim protegidas com mantas de relva bem aparada; seja. as visitas escasseiam a cada ano finado, na proporção da ocupação do novo leito; em cer- Entre as raízes arrancadas à terra areada, sobressaem mãos cansadas da jorna. (Segue) tos dias ainda brotam rios de olhares desfei-


Só o sol já se pôs atrás do horizonte. A sombra regressa à casa despejada e o corpo é uma mera máquina pedestre: amolda-se à necessidade da viagem. A porta bate na réstia de luz e adensa o silêncio da escuridão. A mesa redonda sustenta uma toalha gasta só de um lado. Há uma cadeira sentada à minha frente. O candeeiro de petróleo já não sorri com os brindes que estalavam durante o jantar. Já não há vozes felizes, nem passos que bailam em cima do soalho de madeira. As mãos poisam exaustas; aos dedos restalhes o esmigalhar do miolo de pão (quem emudeceu o pardejo que sobrevoava o beiral para apanhar o repasto da prole, quando sacudias a toalha?); os hiatos alargam-se na impaciência da mesma volta diária; o recado ficou imóvel no guardanapo de papel (tal como naquele em que pintei o teu retrato nas margens do rio Sena). A morte dá à luz um sentido novo.

Fatalidade

Por Rossana Aicardi

Túnel, escuridão cruel paredes úmidas mãos tateando pés descalços tropeços, quedas águas lambendo feridas caminho sem rumo cego, congelado estou morrendo, eu sei lentamente, inevitavelmente a distância a luz cega os olhos ainda estou aqui estou vivo vejo-te recortado em raios brancos não estou morto te alcanço seguro tua mão em seguida, e acidentalmente vejo tuas asas brancas.

Menção Honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


No Face Por Ana Polessi Jurandir publicou novas fotos no “Facebook”. Levou um tempo para deixá-las perfeitas melhorando a luz, as cores, tirando as rugas do seu rosto, consertando uma calvície precoce e a falta de bronzeado com as ferramentas virtuais. Para a Internet ele não era o Jurandir. Para as centenas de seguidores ele era o Jura e o Jura era o cara descolado, o gênio, o pegador, o homem que as mulheres desejam e os homens invejam. Era o sujeito que lançava moda e ditava as regras. Ele não dormia mais. Alimentava-se de salgadinhos e energéticos. Assistia o nascer do sol pela Internet, tirava fotos do café da manhã. Conseguiu patrocínio para sua página e largou seu emprego, tornando-se cada vez mais dedicado ao mundo virtual. Jurandir passou a mão pelo rosto e decidiu fazer a barba. Tomou um susto ao olhar-se no espelho do banheiro e confrontar-se com a figura de rosto pálido e murcho. Parecia desbotado, meio amarelado e seco com seus reais 40 e poucos anos. Para a internet ele mentia dizendo ter 30. Jurandir começou a sentir medo de perder seus seguidores e saiu de casa em busca de inspiração e imagens idiotas que provocavam riso fácil. O Jura virou símbolo, meme, referência. Mas uma vez diante do espelho, o homem assustava-se com o que via. Seu aspecto real piorava. Era um Dorian Gray ao contrário. Nas imagens do Facebook, o Jura estava cada vez mais bronzeado de sol, suas roupas eram coloridas e de grife. O Jura sacaneava todo mundo, tinha tiradas impressionantes. O Jurandir virou uma sombra. O Jô Soares não falou do Jura no programa dele? Alguém achava que havia lido sobre isso na Internet, mas não sabia se era verdade. Ora, quem se importa com a verdade na Internet? Jurandir tocou a superfície do espelho. Seus dedos pareciam feitos de alguma matéria muito sutil. Sua pele adquirira uma tonalidade esmaecida, sépia.

Jurandir se transformou numa velha fotografia esquecida numa gaveta. Como no livro “A invenção de Morel”, de Bioy Casares, cada imagem que Jurandir registrou roubou dele um pouco de sua vida física, real. Transformado em fantasma, Jurandir lamentou ter criado o Jura, cuja vida era feita de imagens vazias e acontecimentos medíocres transformados em fatos mirabolantes. Sentia-se desfazer-se. Suas mãos transparentes encontravam dificuldade em sentir o teclado, porém, nada podia demovê-lo de enviar um aviso, um desabafo, a última frase. Era preciso dar a última palavra e triunfar sobre aquele universo virtual. Ele queria resumir tudo o que lhe acontecera numa mensagem, mas não houve tempo e só conseguiu publicar: “No Face a realidade é o Jura...” Jurandir não desapareceu, apenas se tornou espírito errante que não era notado no mundo real. No mundo real só a matéria é levada em conta. Ou o que se parece com a matéria. O Jura sobreviveu como lenda na Internet. A mensagem de Jurandir virou bordão de programa humorístico e sua página no Facebook foi invadida. Diariamente, novas fotos do Jura são postadas. São montagens muito bem feitas mostrando Jura na Europa, beijando Angelina Jolie, fazendo troça das celebridades internacionais. Uma nova mensagem confirma que Jura vai publicar um livro que vai virar filme. E que depois disso ele vai casar com uma atriz internacional que está largando do marido por causa dele. Nada disso é verdade. Mas quem se importa com a verdade neste mundo?

Menção Honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


Menção Honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura

CINEMA

Por Marco Miranda

Quando eu era pequeno queria muito ir a um cinema. Eu não sabia o que era cinema, porém queria muito ir a um. Pode parecer estranho, nos dias de hoje, alguém não saber o que seria um cinema. No meu tempo de criança, entretanto, onde ainda não havia tanta tecnologia e onde as informações e as mídias não tinham uma tão profunda penetração, a gurizada não sabia com clareza de várias coisas. No bairro em que eu morava, em um subúrbio muito distante do centro da cidade, havia um cinema pomposamente chamado de Cine Palácio. Somente o nome já indicava e remetia para algo suntuoso, onde coisas inimagináveis e magníficas aconteciam. Verdadeiros Castelos onde Sherazades maravilhosas nos recepcionariam e nos conduziriam aos mais mirabolantes sonhos das mil e uma noites. Depois de muita negociação em casa para ter o direito de ir ao cinema o tão esperado dia chegou. Claro que para ir a um local tão espetacular havia a necessidade de um banho especial e roupas próprias àquela ocasião, dignas daquele local. Minha mãe havia separado um terno de calças curtas que eu tinha. Era interessante aquele tipo de roupa. Creio que não existe mais. Existia, contudo, naquela ocasião um terno próprio para criança, com paletó, colete e calça. Com um detalhe: a calça era curta. Tudo arrematado com a impecável gravatinha borboleta. Para completar a vestimenta, usavam-se sapatos e meias pretas. Assim que sai do banho e vi que meu terno esta-

va esticado sobre a cama percebi que, de fato, iria a um lugar muito especial, uma vez que aquela roupa era reservada somente para ocasiões que exigiam algo superior. Quando terminei de me vestir, penteei o cabelo com muito cuidado e passei um produto, muito comum naquela época, chamado Gumex. O Gumex era uma espécie de geleia, talvez, um gel, que cheirava a álcool e que se passava nos cabelos. Quando úmido, era maleável e permitia que se penteasse e moldasse os cabelos como bem quiséssemos. Quando o produto secava, todavia, tornava-se duro e rígido e nem a mais espetacular ventania conseguia mexer em um único fio. Com os cabelos devidamente penteados e brilhantes, trajando o mais precioso terno emoldurado por uma gravata borboleta tão rígida quanto meus cabelos, sai do quarto e fui para a sala. Meu pai usava um terno de linho branco impecável e minha mãe sapatos com saltos de tamanho médio que lhe conferia certa estatura. O chapéu que usava pendia pela lateral da cabeça em um constante suspense para adivinharmos se cairia ou não. Vestia uma espécie de paletó com saia cinza claro e usava um broche que lembrava a figura de um índio com pedras de várias cores. Saímos para a rua. Se bem me lembro, naquele dia mais que nunca, percebi, ou intui, as mexeriqueiras, por trás de portas e janelas, comentando sobre nós e especulando aonde iríamos chics como estávamos. Chegamos ao cinema. A fachada era ostentosa e exibia um grande cartaz com o titulo do filme, “O último dos moicanos”, logo abaixo de onde se lia: Cine Palácio. Era um prédio grande, cujo interior parecia ainda maior, com o pé direito equivalente a vários andares. Havia, então, uma grande escadaria que levara ao mezanino. O Hall de entrada era largo e parecia imenso. Tudo parecia gigantesco. Havia um baleiro no lado esquerdo de quem entrava que vendia as famosas balas "boneco". Eram deliciosas. Um pacote de balas boneco equivalia a um prémio e somente aos muito especiais era oferecido o pequeno pacote que continha as preciosas balas. (Segue)


Naquele dia fui um dos contemplados. De posse do meu prêmio, subimos as escadas que nos levavam ao mezanino do cinema. Após nos acomodar e aguardar por algum tempo soaram fortes, profundas e graves várias badaladas. Era o sinal para o início da seção. As imensas cortinas vermelhas que cobriam a parede central da sala, exatamente à nossa frente, se abriram, puxadas para as laterais do espaço. As luzes se apagaram e um medo muito grande se apoderou de minha alma. O que aconteceria agora? O que viria a seguir? A escuridão permaneceu assim por curto espaço de tempo, o suficiente, entretanto, para eu procurar, achar e segurar firmemente a mão de minha mãe que estava sentada ao meu lado. E então a mágica aconteceu. Imagens, vívidas e brilhantes surgiam a minha frente, se movimentavam, sorriam e falavam. Um imenso navio apareceu como por um milagre e no instante seguinte já estava em alto mar navegando por águas turbulentas sob uma chuva forte e constante. Por um momento me perguntei se molharia minhas roupas. E isto era apenas o início, o trailer. E assim foi toda a seção. Ao final eu havia me transformado. Não era mais aquele garoto bobo que, havia pouco tempo, entrou naquele cinema. O que saia dali era um homem. Experiente e vivido. Que já havia ido ao Cinema.

O Beija-flor e o Violinista

Por Juliano sotti

O beija-flor ouve um som. Uma melodia! Fascinado, voa conforme o ritmo. As notas suaves o fazem ir de um lado para outro. Maravilhoso! Percebe que a música ocorre sempre no mesmo local, todas as manhãs: uma casa do lado da floresta, onde um senhor de cabelos brancos toca vagarosamente seu violino, alheio à criaturinha que balança ao seu tocar. Mas um dia o homem vai tocando em direção à janela e vê o pássaro a repetir seus movimentos. Coincidência? Faz vários experimentos com sua música para ver a dança do beija-flor, tomando sempre o cuidado de não exaustar o amigo, hipnotizado pelo seu som. Amigos do violinista vêm visitar ele e seu companheiro de música. Encantador! E estes chamam mais pessoas, e o velho começa a fazer apresentações em sua casa a cada final de semana. Ganha fama: passa a ser amigo de pessoas importantes e influentes, que vêm curiosos para ver a ave do paraíso dançar. Em uma apresentação decide testar algo diferente. Começa a tocar rápido e alto. Mais rápido e mais alto. E cada vez mais rápido o beija-flor se movia. E mais alto. Todos olham para o zigzag da ave, uma linha de sismógrafo subindo na vertical. Mais alto e mais rápido o violinista toca, até o pássaro chegar ao teto. Então cessa. O dançarino desce em mergulho, uma pedra, exausto. Bate ao chão. Morre. O violinista se culpa, mas todos se comovem e o consolam. Sabem que foi sem intenção. Na manhã seguinte ele se despede do pássaro e o enterra. Jura não tornar a cometer tal erro. E sai a andar na floresta. Com seu violino. Em busca de um outro beija -flor dançante. Menção Honrosa no II Prêmio

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A Mulher no Espelho Por Tulia Lopes

Quando eu era criança, costumava conversar com uma mulher no espelho. Éramos grandes amigas. Compartilhávamos um monte de coisas; penteávamos o cabelo juntas; até nossa primeira maquiagem fizemos juntas, quando eu "roubei" a caixa de maquiagem de minha mãe e experimentamos todas as sombras, batons, cores, antes que minha mãe descobrisse meu "pecado". Passávamos muito tempo juntas contando estórias uma para a outra. Eu adorava imaginar e contar para ela o que eu queria ser quando crescesse; esse era um de meus passatempos preferidos. Realmente gostávamos uma da outra e curtíamos estar juntas. Na verdade, ela estava comigo o tempo inteiro, porque minha mãe tinha me dado um dos seus pós compactos, e ele tinha um espelho; assim, eu a carregava comigo para todas as partes. À medida que fui crescendo, muitas outras pessoas apareceram em minha vida: amigas, amigos e os namorados. A vida ficou muito ocupada; muita coisa para fazer, para descobrir, para conversar e da qual fazer parte. O tempo foi passando e a mulher no espelho foi se transformando em uma figura embaçada, até que um dia ela desapareceu, e eu acabei me esquecendo dela completamente. Chegou o momento de assumir a profissão; relações sérias; compromissos sérios; decisões sérias. A vida tomou conta, como um rio, e eu me deixei levar pela corrente.

Eu já não era uma garota quando, um dia, de repente, depois do banho, levei um susto! Olhei para o espelho e vi uma mulher. Não a reconheci a princípio. Ela não era velha, mas tinha uma aparência desgastada pelo tempo, cansada; e tinha um olhar bastante triste. Na verdade, me senti incomodada em olhar para ela e minha primeira reação foi sair dali correndo. Mas ela olhou diretamente para mim, dentro dos meus olhos, e um calafrio percorreu todo o meu corpo, de cima para baixo; e aí eu soube imediatamente que tinha que encarála. Tentei iniciar uma conversa, e perguntei: "Oi, quem é você?" Ela me olhou um pouco surpresa e, com uma voz tranquila, porém triste, respondeu: "Você já não se lembra de mim?" Fiquei confusa, e perguntei: "Nos conhecemos?" Com um sorriso forçado ela olhou intensamente para mim e disse: "Já fomos grandes amigas". "Sério? Não me lemb… Oh... Meu Deus, sim, agora eu me lembro! Isso foi há muito tempo atrás. Sim, você tem razão! Mas... você era muito diferente antes", eu disse espantada. "Sim, eu era muito diferente, com certeza...",ela respondeu. "O que aconteceu com você?", perguntei. Ela olhou dentro dos meus olhos novamente e disse: "Deixei de ser amada. Fui esquecida pela pessoa que eu mais amava. Nos últimos anos, todas as pessoas, e qualquer pessoa, se tornaram mais importantes do que eu. Antes, nós éramos grandes companheiras, compartilhávamos muitas coisas, muitos sonhos, nossos segredos, e tínhamos muitos planos para o futuro. Nosso amor mútuo era nossa força, e não existia nada mais importante do que isso. Nós sabíamos que éramos lindas e éramos felizes. Tudo ao nosso redor valia a pena ser descoberto e vivido porque nos complementávamos, éramos uma só." Pude entender perfeitamente o que ela se referia. Eu tampouco me lembrava da última vez em que me senti amada dessa forma; eu, na verdade, estava muito só, perdida, tentando descobrir onde o rio da vida estava me levando. Tinha perdido o controle; sentia como se estivesse sendo levada para algum lugar desconhecido. Eu não era feliz, mas não sabia o que fazer, ou quem poderia me ajudar. De fato, estava com muito medo. (Segue)


Olhei para ela e perguntei: "Posso te ajudar?" Ela me olhou detidamente por um longo período, como se estivesse me examinando, e, finalmente, sorriu e disse: "Sim. Para falar a verdade, você é a única que pode me ajudar! Estive esperando por você todos esses anos. Algumas vezes fiquei desesperada; mas, no fundo do meu coração, eu tinha esperança de que você voltasse um dia. Sim, você pode me ajudar. Dê-me seu amor, e eu poderei ser o que nasci para ser— aquela mulher maravilhosa com quem você costumava conversar quando era criança; aquela que você admirava; a mulher sábia com a qual você dividia seus segredos; aquela que você acreditava que era a melhor e mais adorável; aquela que sabia espalhar amor por todos os lugares aos quais você a levava— aquela com quem você passou os dias mais felizes de sua vida."

Fiquei emocionada. Fiquei um pouco angustiada também, mas, ao mesmo tempo, senti um pequeno fio de alegria e liberdade nas profundezas do meu ser. Talvez esse fosse o caminho para voltar a sentir tudo aquilo que ela estava me dizendo. Apesar de me sentir confusa e não ter a mínima ideia por onde começar, fiquei feliz em saber que meu amor podia ajudá-la, a mulher no espelho. Prometi a ela que lhe daria todo meu amor, carinho, respeito e admiração todos os dias de minha vida. Dei a ela minha palavra de honra de que não a abandonaria. Já não seria necessário levar comigo o pó compacto que eu carregava quando era criança; prometi a ela que sempre a teria presente. Desde esse dia, criei uma rotina que sigo todas as manhãs: acordo e vou vê-la no espelho. Ela já está lá me esperando. Sorrimos uma para a outra e eu a cumprimento: "Bom dia, querida! V ocê está linda hoje; mais linda do que ontem. É sempre um grande prazer vê-la. Se cuida e não se esqueça: eu te amo. Tenha um ótimo dia!" Desde então, a mulher no espelho floresceu! É claramente visível que ela está feliz, completa, sentindo-se maravilhosa! Todo o amor que dou a ela, recebo de volta, multiplicado. Reencontrá-la mudou a minha vida para melhor. Cada manhã que a vejo, a vejo melhor, mais plena, mais bela, mais sábia, mais satisfeita e realiza-

da. E, todas as manhãs, renovo minha promessa de amá-la a cada dia!


A Aura do Varal

A Dançarina Por Julia Rego

Por Gladis Deble

Secavam no varal algumas roupas, andarilhas da vida qual marujos, que a noite no bistrô Depois do cais, a garrafa de vinho degustaram.

Fulgurantes sob o sol, livres dos corpos vestidos enlaçados pelas brisas... Camisas tão etéreas já sem manchas de uma caneta nova que vazou, agora enroscada numa blusa.

Uma calça tecida de distâncias que ao longe o horizonte carregou, retorna enamorada de uma alça que no varal ao vento encanta-se. Peças íntimas balançam esvoaçantes Nem Cronos, nem Júpiter sabem o tempo que precisam pra secar.

Ouviram-se sete tiros. Uma nova coreografia fora anunciada, mas a dançarina não pode ensaiar. Nunca houvera imaginado dançar ao som daquela música, mas lá estava ela no centro do palco. Numa poça de sangue. Disseram que foi por amor. Curioso e paradoxal amor que se apodera da alma, ao tempo em que destroça o corpo. Não foram distribuídos convites, mas os espectadores surgiam, mesmo assim, aos poucos, curiosos e ávidos. O espetáculo estava aberto e a entrada era franca. Pobre dançarina. Conta-se que, quando dançava, arrebatava olhares e suspiros lascivos. Agora jazia ali, inerte, num cenário homicida e banal. Seu corpo não mais rodopiava ao som dos tambores e atabaques que marcavam, compassadamente, o ritmo frenético e sensual da mulata cheia de vida. Sua morte fora planejada em nome da honra que julga e condena impiedosamente. Fugiu covardemente seu algoz. No local, crianças brincavam, indiferentes à tragédia, numa estupefadora naturalidade, tipicamente, pós-moderna. Na escola ao lado, alunos debruçavam-se, sorridentes, nas janelas gradeadas, aproveitando o momento para escapar da monótona e inútil aula. Nos arredores, transeuntes comentavam o fato entre receosos e omissos. Jovens delinquentes afastaram-se da cena do crime, desconfiados. A polícia chegara. O rabecão incumbiu-se de carregar os restos mortais. Pobre dançarina. Ainda teria seu corpo despedaçado, em resposta à procura da óbvia causa mortis. De repente, começaram a surgir novos cenários. Vassouras, baldes, água. Panelas e roupas brancas, saias de renda rodadas e torço na cabeça. Pano da Costa. O beco precisava ser limpo, rapidamente, não havia tempo a perder. Aquele local era ponto de venda de acarajé.

Há essência de lavanda nessa aura dissolvida com o poema no bolso.

Menção Honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura

Menção Honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


PRETA

Por Maria Luiza Vargas Ramos

Durante minhas caminhadas pelo bairro, uma simpática cachorrinha, vira-lata puríssima, tanto me assediou que mereceu uma crônica. Na verdade, acho que ela me adotou É uma cachorra adulta, jovem e esguia, de pelo curto brilhoso, pretinho, apenas com as patas e as sobrancelhas manchadas de amarelo. Batizei-a de Preta, por motivos óbvios, e porque precisava dirigir-me a ela de alguma maneira, uma vez que passamos uma hora por dia juntas e já enfrentamos alguns perigos. Este bairro onde caminho é residencial, tem pouco movimento de carros, fica perto do mar e o ar é mais puro. Só tem um senão, que antes não me causava maiores cuidados: é cheio de cães de guarda das pomposas residências e grandes vira-latas rondando os lixos fartos. Minha presença não costumava incomodá-los, entretanto, parece que todos têm verdadeira aversão à minha nova amiguinha. De repente, surgem cães ferozes jogando-se contra os portões fechados e outros soltos, mais barulhentos e menos perigosos, colocando a pobre Preta em maus lençóis. Até aí tudo bem, tudo normal, se a danada não se arvorasse em minha propriedade e me cobrasse proteção. Sim, porque ela corre para mim, chega a subir com as patas dianteiras nas minhas costas, como se eu a tivesse visto nascer. E lá vou eu, com os bolsos cheios de pedras, colocando a cachorrada para correr... ganho lambidas, sacudir de rabo e até impressões digitais enlameadas na minha camiseta branca. Sempre usufruí duplamente das caminhadas, exercito o corpo enquanto reflito, programo, resolvo coisas. Gosto de caminhar sozinha e rápido, sem conversar. Nesse ponto, a companhia da minha nova amiga desconstruiu minha rotina. Andamos em tal estado de alerta, evitando as ruas de cachorros mais agressivos, que o tempo passa e não consigo pensar em mais nada. Despedimo-nos na praça, porque não posso tê-la em apartamento e nem teria coragem de privá-la da liberdade das ruas. Durante muito tempo critiquei duramente os donos de cãezinhos por gastarem fortunas em Pet Shops, quando poderiam adotar uma criança. Hoje mudei um pouco minhas ideias em relação ao tema. Os cães são amigos fidelíssimos, dão pouco trabalho, fazem mais companhia, enfim, dão aos donos um amor incondicional, mesmo quando repreendidos ou esquecidos horas a fio sozinhos. Poucas crianças têm a chance de adotar um adulto que as proteja e que ande com os bolsos cheios de pedras para livrá-la dos perigos. Infelizmente. Partindo para mais uma caminhada, me pergunto se encontrarei Preta por lá. Não sei, os fatos episódicos, como o próprio nome diz, não têm longa duração. Se não a encontrar, pelo menos a terei imortalizado nesta crônica, que é o meio mais eficiente de se eternizar alguém.

Menção Honrosa do II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


Primeiro Lugar em Crônicas II Prêmio Varal do Brasil de Literatura

VELHO CHATEAU DAQUELES RAPAZES DE ANTIGAMENTE

Por José Alberto de Souza

Um puxado de zinco sobre chão batido, pedras e tijolos ali disponíveis, logo se improvisava o fogão. A lata de querosene Jacaré dezoito litros tinha virado panela, já esterilizada pelo uso constante. O peixe – jundiá ou pintado – dividido em postas se cozinhava ensopado, em tempero de salsa, pimenta, alho e vermelhão, afora o sal, naturalmente. A água chiando, enquanto o trago solto corria de mão em mão, parecendo animar cada vez mais aquela gente na fanfarronice de seus causos. Não fosse o dono da casa servir pacientemente os seus convidados, estes avançariam famintos na panela indefesa. Assim, o corpo alimentado, é que se lembrava de tratar do espírito: de todos os cantos do barraco, surgiam violões, cavaquinhos, bandolins, pandeiros, agês, surdos e outros acessórios imprescindíveis àquele círculo sonoro. As cordas se esquentavam na afinação dos instrumentos. Uma melodia puxando outra e mais outra e mais outra, o repertório se formava ao natural. O tempo passando, alguém começava a se sentir melancólico em recordar alguma dor de cotovelo e não resistia àquele clima de tristeza e alegria alternadas. O sujeito, ensimesmado na sua saudade, recolhia-se solitário em sua discrição. Mal se dava conta de que os outros percebiam a sua fossa e, cortando o embalo, logo providenciavam que se levantasse o astral. Segredos não existiam entre eles. Pois que tratasse o dito cujo de ir desabafando a sua desdita. Esta o atingindo, contagiava o todo ali presente. A tensão do ambiente carregado, as horas calmas da noite, era chegada a ocasião de se mudar os ares – quem sabe encarar a madrugada lá fora e até acordar a causadora daquela perturbação repentina, interrompendo-lhe o sono tranquilo com uma inesquecível serenata? Que importaria a distância? Lá, todos iriam desprendidos ante o compromisso maior da solidariedade e da ventura de se fazerem presentes naquele momento decisivo na vida do companheiro. Lá, todos iriam nem que tivessem de gastar a própria sola dos pés. Para então voltarem de alma limpa e passos trôpegos, cantarolando as notas e acordes da melo-poesia que, pelo caminho, despertaria os adormecidos. Provavelmente, haveriam de se sentirem aureolados a andar nas nuvens como arcanjos-seresteiros.


DE VIDA, MÁGICA E MISTÉRIO

Vivo mastigando a vida que perpassa meu corpo. Em memória viva me derramo sombra e luz Enquanto abraço o desconforto Presente no gesto, Na mente, No riso escasso, No choro semente. Fecho o ângulo, foco o espaço Do raio aprisiono o facho, Ave palavra! A fala, O sonho. Encantoada na nesga do encanto Faço mágica e o poema se derrama No horizonte me refrato. Liberto-me! Minha alma deflagro Em mistério me espalho... Real manifesto!

Por Gaiô

Primeiro Lugar em Poemas II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


floresta fizeram uma cadeira de rodas muito especial para ele. Como eram muito amigos, estavam sempre juntos aprontando todas. Primeiro lugar em textos infantis II Prêmio Varal do Brasil de Literatura

Mas neste lugar também tinham outros amigos, o macaco Tobias, a raposa Tiburcío, a coruja Zilá, e a arara azul Ruana. Naquela manhã Tavito estava muito triste, porque no dia anterior ele viu outros sapinhos brincando no rio que não o deixaram brincar com eles, diziam que ele não saberia a brincadeira. O primeiro a chegar foi o macaco Tobias.

Tavito – um sapinho diferente Por Flávia Assaife

Mas o que é ser diferente? Não ser igual aos outros? E o que é ser igual aos outros? Você sabe o que é ser igual ou diferente? Ser diferente pode ser muito legal... Era uma vez uma floresta num lugar mágico. Lá haviam bichos que não eram iguais, haviam diferenças. Para começar, a floresta já não era igual, porque as flores eram altas, multicoloridas parecidas com as nossas árvores e as árvores eram mais baixas com suas folhas variando entre tons de amarelo, laranja e vermelho, não eram verdes. Tinha rios com águas azuis e límpidas como os nossos, mas também tinham rios onde a água corria ao contrário e sua cor era roxa... Diziam que eram os rios de águas mágicas! Mas nunca ninguém viu nada de mágico acontecer... Neste lugar o céu era muito azul de um tom claro onde os raios de sol alaranjados todos os dias vinham acordar a bicharada com seu quentinho abraço solar. A primeira a levantar era sempre Jajá, que se espreguiçava gostosamente. Ela era uma Jabuti que adorava se divertir, mas como nasceu surda, havia aprendido a linguagem dos sinais ( no Brasil, chamada Libras – aquela que fala com as mãos) numa escola da floresta e logo ia correndo acordar Tavito, seu grande amigo, um sapinho muito engraçado que não podia mais pular, porque sofreu um acidente e perdeu as patinhas, os animais da

_ Fala ai, grande Tavito! Bom dia! Hoje o dia amanheceu lindo, né cara? Tavito apenas olhou para Tobias e não disse nada. - Que foi cara? Que bicho te mordeu? Já sei ! tudo porque a Jajá não foi te acordar hoje... Nesse momento chega Jajá esbaforida e correndo, isto é, Jabuti corre? Jajá era maratonista. Venceu várias corridas na floresta, até mesmo da raposa Tiburcio. Ela dá bom dia para os amigos na linguagem das mãos e pede desculpas por não ter ido acordar o Tavito, mas hoje também levantou atrasada. Sim, na floresta era comum os animais usarem a linguagem de libras e falar com as mãos e/ou com a boca, conforme o necessário, não viam nada de diferente nisso, pelo contrário, achavam muito divertido. O Tobias explica para Jajá que Tavito estava meio cabisbaixo e que ele estava justamente perguntando o que tinha acontecido... Tavito conta dos sapinhos que não quiseram deixar ele brincar só porque ele era diferente deles. Nenhum dos amigos, havia percebido que a coruja Zilá os ouvia em silêncio, num galho acima deles em sua árvore. Calmamente ela desce até eles e diz: - Olá meus queridos, bom dia! Não pude deixar de ouvir a conversa de vocês, mas me digam uma coisa, o que é ser igual ou diferente? Os amigos se olharam confusos - Zilá também falou na liguagem de sinais, embora Jajá já tenha aprendido a ler os lábios – na verdade não sabiam bem o que era... (Segue)


Tavito quem se manifestou: - Eu queria apenas ser igual aos outros sapinhos, aí eles deixariam eu brincar com eles... - Ser igual é o que não varia, isto é, mesmo tamanho, gênero, cor, espécie, raça, natureza, esitlos, pensamento. Ser diferente é quem possui algo que não é igual ao da maioria, ou que poucos possuem, ter algo que não é comum. Você Tavito é igual à eles, mas diferente também. É igual porque é um sapo, mesma espécie, cor, natureza, mas é diferente porque possui algo que eles não tem: o seu possante... Disse Zilá. O Tobias para variar nao perdeu a oportunidade de falar macaquice: - Eu acho é que eles estavam é com inveja, porque precisam ficar pulando o tempo todo... Nisso vem chegando a arara azul Ruana voando e Tavito diz: - Há se eu pudesse voar como a Ruana, sem precisar do meu possante, poderia passear pela floresta, ver tudo do alto... - Bom dia amigos! Eu te ouvi Tavito! Disse Ruana. Voar também tem seus problemas, meu amigo, em dias de muita chuva, sol muito quente, muita ventania, não tenho como voar e não posso andar pelo chão... - Tavito, ninguém é melhor do que ninguém. Todos somos iguais em nossas diferenças, todos temos oportunidades, todos podemos aprender uns com os outros, todos temos coisas boas e coisas não tão boas. Veja, eu só falo a linguagem dos sinais, com as mãos, minha voz não sai direito, e isso não é impedimento para não fazer as coisas como os outros jabutis. Disse Jajá. Tavito olhou para os amigos tão carinhosos, abriu um belo sorriso e disse: - Vocês estão certos! Ser igual em nossas diferenças não é um problema. Uma pena que aqueles sapos ainda não saibam disso, perderam a oportunidade de brincar comigo e conhecer novos amigos. Me deem um abraço coletivo e vamos brincar que o dia está lindo! Os amigos se abraçaram e começou a algazarra... Jajá empurrava Tavito em seu possante que ria e se divertia, Ruana voava por perto com Tobais fazendo macaquices e Zilá e Tiburcio observando e sorrindo. Nesta manhã, Tavito descobriu como ser diferente pode ser muito legal...


RATO ZÉ O RATO QUE QUERIA MORAR NA ESCOLA Por Edna barbosa de souza

“UMA ESTÓRIA NA ESCOLA MUNICIPAL JOSÉ SILVA EM VESPASIANO/MG”

RATO ZÉ OUVIA AS HISTÓRIAS DE SUA AVÓ TODOS OS DIAS E OSERVAVA COMO SUA AVÓ ERA INTELIGENTE. UM DIA PERGNTOU PARA AVÓ PORQUE ERA TÃO SABIA E INTELIGENTE E ELA RESPONDEU: - É PORQUE EU DEVORO LIVROS, MEU FILHO, LEIO SOBRE TUDO. RATO ZÉ, FICOU PENSANDO NO TANTO QUE SUA AVÓ ERA SÁBIA E DECIDIU SER COMO SUA AVÓ. RATO ZÉ COMEÇOU A PROCURAR COMO FARIA PARA SE TORNAR UM DEVORADOR DE LIVROS E PENSOU QUE PRIMEIRO PRECISARIA ACHAR UM LUGAR QUE TIVESSE MUITOS LIVROS.

TROU A BIBLIOTECA, HAVIA UMA PRATELEIRA DE DICIONÁRIOS. ELE FICOU MARAVILHADO. ESCONDEU-SE ATRÁS DOS LIVROS E PÔS-SE A DEVORÁ-LOS. MAS LOGO FOI DESCOBERTO. A EQUIPE DA LIMPEZA DA ESCOLA NÃO DEIXOU POR MENOS, COMEÇOU A CAÇA AO RATINHO.

TODOS OS DIAS A BUSCA AO RATO TINHA UM NOVO CAPITULO. RATO ZÉ NÃO TINHA SOSSEGO PARA DEVORAR SEUS DICIONÁRIOS. NÃO TINHA OUTRA SAÍDA SE NÃO VOLTAR PARA O RECANTO DA AVÓ.

QUANDO CHEGOU, DESILUDIDO, VOVÓ LHE PERGUNTOU: - RATO ZÉ, PORQUE VOCÊ QUERIA TANTO DEVORAR DICIONÁRIOS E LIVROS? - VOVÓ, EU QUERIA ENCONTRAR UM SIGNIFICADO PARA MINHA VIDA: SER SÁBIO COMO VOCÊ. RESPONDEU RATO ZÉ, MUITO TRISTE PENSANDO EM QUE OUTRO LOCAL PODERIA SE HOSPEDAR.

O LOCAL MAIS PROXIMO DE SUA CASA ERA A ESCOLA “JOSÉ SILVA”.

RATO ZÉ CHEGOU À ESCOLA TODO ANIMADO E FOI SE INFORMAR ONDE FICAVAM OS LIVROS, MAS LOGO PERCEBEU QUE NÃO TINHA CARA DE MUITOS AMIGOS. TODOS TINHAM MEDO DO RATINHO.

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura

RATO ZÉ PROCUROU SOZINHO E ENCON-


SERÁ QUE PODE? Por Joana Puglia

Menina pode usar azul? Pode! Pode usar azul, rosa, preto, roxo, amarelo e verde limão. Pode andar de costas, abrir os olhos embaixo d’água, andar de bicicleta e brigar com seu irmão. Menino pode brincar de bonecas? Pode! Pode brincar de bonecas, de casinha, esconde-esconde, de roda e polícia-ladrão. Pode comer manga e beber leite, ir para o banho sem ninguém mandar e ter aulas de violão. Menina pode jogar futebol? Pode! Pode jogar futebol, bolinhas de gude, pedrinhas na água, amarelinha, cartas e gamão. Pode gostar de fazer os temas, subir em árvores, contar estrelas, por o dedo no nariz e lavar a mão. Menino pode ter medo? Pode! Pode ter medo de escuro, de ficar de castigo, de barata, de brigas, de raio e de assombração. Pode usar a toalha como capa, andar de skate, se esconder embaixo da cama, cheirar as flores e inventar uma canção. Menina e menino podem ter qualquer tipo de família? Podem! Podem ter família com pai e mãe, só pai, só mãe, só avós, só tios, todos eles e mais de um irmão. Podem ter dois pais, duas mães, cachorro, gato, papagaio, padrasto, madrasta, todos juntos dentro do coração!

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


ARIBELO Por Anette Apec Barbosa

Era 1 vez 1 menina chamada Catarina... 3 anos, cabelos lisos e compridos... Mais parecia uma linda princesa sapeca, levada da breca, arteira como ela só. Numa certa tarde chuvosa, a pequena - chorosa, teimava ficar na chuva para fazer companhia à Aribelo, seu amiguinho voador, que molhado não podia voar. Sob protestos veementes da menina, mamãe Alexandra tirou da chuva a solidaria Catarina antes que um resfriado malvado a pegasse e doente pudesse ficar. Mas, e o Aribelo? Será que a mamãe esqueceu-se dele naquele tempo ruim? Acho que não! Pois ela encafifada com essa estória, se perguntou: “Será que a minha filhinha arrumou um amiguinho imaginário, Será?... Só pode ser isso, pois ele não consigo ver!” Papai Luiz Henrique, por sua VEZ, preocupado com a menina, e em segredo - petrificado de medo, resmungava com os seus botões: “Humm!!..Quem será esse filhote de cruz credo com fantasma que a Tatá chora e quer proteger, e que só ela e mais ninguém vê!?.. Estranho!... E assim, o tempo passou, passou e junto com ele o temporal acabou. Uma nova manhã acordou tranquila, clara, refrescante, e no mesmo instante Catarina também acordou... E, antes de: lavar o rosto, escovar os dentes e botar o uniforme da creche, ela lembrou abruptamente do amiguinho Aribelo - que dormira na chuva, pois de asas molhadas não podia voar. Então, ela pulou da cama, e desesperada, em disparada ela correu ao jardim da sua casa para ver se ele estava bem. Aí , sempre olhando para o alto, arteira menina avistou uma libélula voando leve e faceira, no céu azul. Não demorou muito - pra que de norte a sul - sua face se abrisse num sorriso radiante, e ela correu, correu saltitante naquele chão florido, atrás do irrequieto inseto colorido, que voava no ar sem parar....E na maior emoção, lacrimejando, a pequenina Catarina seguia efusiva gritando: Aribelo, Aribelo é você “miguinho”... É você ?...Você vive e “segue” voar!... Bastou presenciar aquilo tudo para mamãe Alexandra finalmente compreender a sua menina: “Ahá! Então, Aribelo é aquela libélula no ar?”. E de repente lembrou de uma cena de tempos atrás, quando a pequena a ouviu comentar com o papai sobre uma libélula feliz que perambulava o jardim... Logo, por certo, a mente infantil da imaginativa criança entrou em ação, e dando asas a imaginação entendeu que a libélula chamava Aribelo...E por Aribelo ela o batizou”. E assim, descoberto o mistério ARIBELO termina a nossa historia da pequena Catarina, menina levada da breca, arteira como ela só.

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


Dentro da Gente Por Nelci Back Oliveira

Dentro da gente Tem uma coisinha Que faz a gente crescer E brincar de casinha.

Dentro da casinha Mora um menino Que a gente viu Andando sem destino.

Com lápis de cera Riscou o céu Surgiu um arco-íris Usando chapéu.

Dentro da gente Moram histórias de fadas De bichos, de bruxas, De crianças levadas.

Dentro da gente Mora morcego, cegonha, Lá dentro... mora tudo O que a gente sonha.

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


NÃO ME ABANDONE ELA

Oceano arquejando, indo e vindo no acúbito, Areia a ronronar, arranhando em decúbito; Beijo boca salgada, dois seios de orvalho, Dedos meus numa púbis de água e cascalho. A terra e o mar de fuga, o eterno e o súbito, Dois titãs se procuram, imenso concúbito, Como nós, nos amando, em meio ao crisalho, Vai-e-vem solitário, solidário malho. Amo a noite e a mulher, ela a mim e a Urano, Afogada entre estrelas, grávida de arcano. Dá-me ela o olhar onde a lua se espelha: — Não me abandone ela! peço a tal centelha. E a espuma e a marola transfogem de mim Quando a invadem odisseias, naufrágio e anequim...

Por Igor Buys

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


AURÉOLAS Por Sandra Berg

Um cadarço de sapatos me fez recordar um tempo distante Quando eu tive a chance de intentar Para mudar os caminhos. Eu estava sob a chuva que lava os erros E podia beber tranquila a temperança daqueles dias.

Por um descuido, talvez, deixei passar o momento E não me dei conta de que o pé crescia, Que os sapatos a cada ano aumentavam de número, Que o brilho inocente no olhar ia mudando, Tomando aquele ar mais sério (ou triste?)

Olhei os seus dedos tingidos de azul Da caneta esferográfica, e não me toquei De que eu jamais poderia reaver pedaços da vida Esperando entre as folhas dos cadernos Que, nos esconderijos do tempo se perderiam.

Não me ocorreu que eu não podia guardar manhãs de violinos, Quadrantes de sol, nem as tachinhas brilhantes Que se desprendiam das roupas, dos brinquedos e de tudo; Até as figurinhas que colecionavas Voaram com o vento

Lembranças ficam inertes ao ímpeto da vela do dia. No escuro da noite elas teimam em arder, Ficam de sentinela na insônia queimando na saudade Dum tempo que nunca mais vai voltar.

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura

LOUVOR À MULHER Por Isis dias vieira

Mulher de luz, chama divina Teu coração se abre E atrás dos teus passos Um caminho de rosas Exala a doçura do teu Amor. Como a Terra, tu tens em ti O canto de Deus de toda eternidade, A chave da luz e da vida. Vinda dos espaços celestes Às terras profundas, Tu encarnas a harmonia essencial, A trama da criação. Reconciliada com o infinito, Tu te tornas a estrela Do mistério do mundo.

Mulher de luz, chama divina Lugar Santo incomparável, O movimento da energia divina, A força do Amor, A casa de Deus. Em teu corpo fecundo O Céu e a Terra se reencontram E Deus se faz HOMEM.


As máscaras da dor Por Vicência Jaguaribe

Quando o pranto se nega a rolar Recolheu-se a dor nas entranhas da alma. A calma que se espraia é superfície. É superfície o riso que se ensaia.

Quando o pranto se nega a rolar Enredou-se a dor nos labirintos interiores. O controle que se irradia é superfície. É superfície a indiferença que se anuncia.

Quando o pranto se nega a rolar Escondeu-se a dor no profundo do espírito. A alegria que se espalha é superfície. É superfície a passividade que se esgalha.

A superfície é camada vulnerável. As aparências e as máscaras corrói o tempo. O riso e a alegria recuam e saem de campo. Como um pirilampo, brilha a dor sem anestesia.

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


A Phil Spector Por Sandra Nascimento Segue o homem acuado em seu viver Agora escondido de sua rosa original Os passos torpes caminham apenas até uma grade Enquanto a mente ávida amplia O movimento colorido do som Mas seus olhos já não podem alcançar estrelas Nem o coração cansado escala O mundo vivo em tons! São pálidos os muros que silenciam o canto Porque guardam o lirismo e inibem o dom Destinados a lugares desconhecidos Aonde gerações esperam para ouvir a outra canção Prenunciada em todos os tempos Menos no instante que pôde parar o verso Repleto de luz E vida Há alguém, por favor, para dizer Se é possível desautorizar O pensamento de vibrar Inventar rios Buscar os mares e encontrar Essas águas que dissipam o mal e depois – profundas e mornas – Aninham o sonho e expandem o canto? Lá fora é inverno de novo Outra flor resiste ao vento e teima em brotar na calçada A cidade anda triste Todos passam... E ninguém percebeu Era preciso cuidar do jardim guardado Na intuição do homem Porque a Lua, clara, ainda flutua distante

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


VIOLÃO AMANTE Por Aglae Torres

Nasci pelas mãos de um artista. Ele moldou-me com as formas femininas e pelas cordas deu-me a voz. Alma de mulher. Mantinha-me junto ao peito abraçando-me. Fazendo-me conhecer tão bem a alma feminina, apesar de eu ser masculino - Violão . Um cantor e o violão dedilhando canções apaixonadas arrancavam suspiros. A musa inspiradora, a Cabocla. Nos tempos de ouro e aplauso fui rei para os corações. Ela emprestou luminosidade às minhas cordas e eu me transformava nas origens. Um corpo de mulher. Eu em destaque no barracão inclinando-me em direção a ela. Meu dono abraçava-me junto ao peito na tradução do amor explodindo e cingia as cordas em versos musicais para a amada cabocla. A Lua queria compartilhar o Amor e infiltrou-se presenteando o barraco com astros pelo chão. E resplandecia meu corpo também. Eu revivia ao vê-la pisar nos astros iluminada. A Lua se escondeu em céus nublados e as estrelas apagaram-se espalhando tristeza... Para impedir as estrelas de brincar no ex-nosso chão, avivando a lembrança. Tuas pisadas no banho de lua e meus braços te envolvendo. O violão emudeceu, desafinou, perdeu a sonoridade que se originava na mulher amante. A cabocla voou. Lua estrelada... a grande ausente. E Ela? Demitiu-se de amar.

Inspirado na Música Chão de Estrelas: Silvio Caldas – Orestes Barbosa

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


com Bia vão ficando raras.

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura

AMOR REAL

Por Vera Salbego

No interior do Rio Grande do Sul, precisamente em Alegrete, havia duas adolescentes que começavam a frequentar a casa uma da outra, pois se conheciam desde a Escola Primária. Luiza e Bia passeavam juntas e, como moravam no interior, não tinham muitas opção de passeios, então iam aos parques e cinemas. As duas gostavam de estar juntas. Os dias iam passando e a vida também. Luiza tinha uma cachorrinha e gostava muito dela. Iam ao parque e caminhavam pelas largas avenidas daquele belo lugar. Durante o passeio, as amigas conversavam muito sobre vários assuntos e percebiam a afinidade que tinham uma com a outra. Passados os dias, aparece um rapaz loiro chamado Paulo, de olhos claros querendo namorar Luiza. Luiza ainda não tinha decidido ter namorado e foi levando Paulo até onde pôde. Até que um dia chegando a sua casa, vê que alguém esta falando com seus pais. Era Paulo! Estava pedindo permissão para namorar com ela. Luiza ficou quieta, pensativa e percebeu que estava entrando num beco sem saída. Embora não soubesse por que, sentiase dessa maneira. Os dias foram passando e Paulo começa a frequentar sua casa. Suas longas conversas

Luiza percebe que não gosta das carícias de Paulo, mas não tem coragem de falar para ele. Paulo cada dia mais apaixonado, não percebe a frieza da namorada Luiza. Confusa com suas ideias, ela fica quieta pensando em sua vida e percebe que nos seus pensamentos sempre vem a imagem de sua amiga. Bia estranha a ausência de sua amiga e fica caminhando sozinha pelas ruas de Alegrete. Certo dia vai a um rodeio e encontra Luiza e Paulo. Vai ao seu encontro, cumprimenta os dois e ficam ali conversando. Percebe que Luiza não para de olhar para ela profundamente e nota que fica corada com essa situação. Bia se envolve com seus eventos na escola e percebe que sente a falta de sua amiga, que hoje já não fica como antes depois do horário, para ajudar nas tarefas da aula. Meses se passaram e as duas só se viam na escola. Não mais saíam. Cada dia que passa Luiza sente uma tristeza enorme, que invade sua alma. Paulo entusiasmado com a beleza de Luiza resolve pedi-la em casamento e vai até sua casa. Lá chegando Luiza o recebe com o mesmo sorriso. Ele cheio de amor a pede em casamento querendo marcar para breve o enlace matrimonial. Luiza reflete sobre o pedido de casamento e pede que ele espere a resposta. Nota que não está feliz com essa situação, pois não deixa de pensar em Bia. Resolve ir à casa dela. Vai rápido e, chegando lá, encontra Bia dormindo. Fica admirando aquele corpo maravilhoso, aqueles cabelos longos e sedosos e um carinho todo especial começa a vir à tona. Sente no ar o perfume de sua amiga que inebria seus sentidos. Fica ali contemplando. Quando Bia acorda, vê sua amiga ali perto, com cara de felicidade. Sorri para sua amiga e pergunta: (Segue)


- O que tu estás fazendo por aqui, sua desaparecida? Luiza não responde, pega sua amiga e lhe dá um beijo demorado sentindo que é correspondida. Ficam ali abraçadas, fazendo carinhos uma na outra sem se dizerem nada. As horas passam e não percebem, pois estão tão felizes que parecem ouvir violinos em sua volta.

para sua família. Marcam um encontro ao luar. Chegando lá, as duas se abraçam e se beijam livremente selando assim o amor das duas! Nota - Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos, terá sido mera coincidência. Não são fatos reais.

Luiza, então, desvenda o mistério que sentia, pois pensava muito em sua amiga. Só não sabia que estava dentro do seu coração um carinho todo especial por Bia. As duas ficam conversando sobre o assunto. Luiza está feliz com sua amiga, ainda mais que Bia corresponde ao seu amor. Ela confessa que já gostava de Luiza, mas não tinha coragem de confessar esse amor por ela, ainda mais que a outra estava namorando, então procurou ficar quietinha, na dela, sofrendo calada. Luiza então diz que vai contar ao Paulo que não o ama, pois está apaixonada por sua amiga. Volta para sua casa e o encontra falando com seus pais. Respira fundo e diz a Paulo que quer lhe falar. Os dois vão para a varanda e Luiza conta o ocorrido. Paulo, agora triste com a situação, comenta que tinha notado a frieza de sua namorada. Despedem-se e ele parte triste, não retornando mais à casa dela. A noite chega e seus pais querem saber o que houve com eles. Luiza então os encara e diz a verdade: - Estou apaixonada por Bia e ela também me ama. Estamos felizes. Seus pais a olham e dizem: - Filha, não é fácil esse sentimento que está sentindo por sua amiga. Mas se você é feliz nós a apoiamos, porque a amamos, e será sempre a nossa menina. Os três se abraçam felizes. Luiza corre e liga para Bia contando sobre o que havia acontecido e que contou também

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O ENCONTRO DOS RIOS

gordura de porco!

Por Isis Dias Vieira

Situada num vale, entre duas montanhas cobertas de mata ciliar e cercada de árvores frutíferas nativas, Vila Verde fazia jus ao seu nome. Jamais existiram nem existirão nos supermercados, bananas, mixiricas, laranjas, goiabas e mangas tão doces, tão saborosas e tão suculentas!

Nos tempos da minha infância, quando não havia a consciência de separação entre nós e a natureza, a vida era simples, devagar, despreocupada e, por isso mesmo, feliz. Tudo se resumia em ir para a escola, brincar livremente, fazer algumas tarefas domésticas e explorar de todas as maneiras a natureza ao nosso redor: subir nas árvores e colher seus deliciosos frutos, caçar passarinhos com estilingue, tomar banho de rio, brincar na chuva, pescar, jogar amarelinha e bilisco, brincar de “cabo de guerra” (meninos contra meninas) ...

Nessa vila do interior, ao norte do Espírito do Santo, chamada Vila Verde, dois rios, o São José e o Rio Novo, se encontram e se fundem num sublime abraço fraternal, lembrando-nos da eterna unidade de todas as coisas. No encontro das águas desses dois rios, havia um enorme ingazeiro, onde os meninos se divertiam comendo ingá e pulando das alturas de seus galhos, para mergulhar pelados nas águas frias do rio São José.

As águas do rio São José são transparentes e frias, porque brotam em nascentes numa montanha próxima à vila. As do rio Novo são barrentas e mornas, pois percorrem outros vilarejos e vales, antes de chegar à vila. A pureza das águas desses rios permitia a existência de muitos e variados tipos de peixes, que supriam as necessidades alimentares da pequena população. Era comum, à noite, meu pai e meus irmãos irem, munidos de puçás, lanternas e facões, pescar cascudos, traíras e robalos, que eu e minha irmã mais velha limpávamos na pedra à beira do rio Novo. Nos finais de semana, as crianças pescavam lambaris com anzol. Que delícia eram os lambaris crocantes que minha mãe fritava na

O tempo passou, vieram as madeireiras, os “barões do café” e, com eles, a destruição das matas próximas à vila, transformando tudo em pastos e cafezais. A vila cresceu e, com esse crescimento, chegaram o asfalto, a televisão, o comércio, os carros. Mas junto com esse progresso, não chegaram o respeito e o cuidado com a natureza. E nós, que a amávamos e vivíamos em unidade com ela, fomos todos embora da vila para continuar os estudos na cidade grande.

Hoje, o que temos é o rio São José mais estreito, por causa das ervas daninhas que infestam suas margens, devido ao seu assoreamento; e o rio Novo, velho e moribundo, por causa dos esgotos que o infectam. No lugar do encontro das águas desses dois rios, onde os meninos tomavam banho pelados, foi construído um depósito, que a população chama de “Pinicão”, para filtrar, sem tratamento, os esgotos.

E a vila, que era verde, continua a existir. Vila Verde, como era dantes, existe apenas nas lembranças da minha infância!

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura

seja profissional, social, ou apenas um jantar familiar. Toda mulher dá uma paradinha lá, seja para trocar o óleo, calibrar os pneus, regular a direção, não importa. Todas fazem o mesmo. Umas em casa, outras no salão da esquina e outras só se lançam nas mãos de velhos conhecidos – são fiéis aos profissionais que cuidam de sua “máquina”. Por isso existe também o cartão fidelidade, que lhe permite acumular pontos, que posteriormente são revertidos em vantagens ou descontos em algum tratamento ou numa compra de produtos. - Desculpe-me, querida, meu número é 1100.

Salão de beleza. Por Magada Regadas Resende

Em meio àquele barulho todo, estava difícil entender alguma coisa. A questão se torna ainda mais séria quando seus ouvidos estão parcialmente tampados por uma onda de papel que pendem da cabeça em cachos, formando a mais estranha das árvores de natal. Procuro outra forma de compreensão, faço uso da visão; olho fixamente para a boca da locutora, que repete pela terceira vez a pergunta, já alterando o tom da voz e a expressão facial - de delicada para impaciente. Funcionou! Entendi a pergunta. Estou ficando craque em leitura labial. - Qual o número de seu cartão? Claro que algum tempo atrás essa pergunta não faria o menor sentido, a não ser na hora do pagamento, ao final de todo o processo do “pit stop”. Mas não é o caso, estou no meio da minha “parada”, ainda falta um alinhamento aqui, outro ali e um apertinho na cola para a “unha” não sair no meio da corrida da semana. Ele existe aqui também! A era do cartão chegou ao mundo dos grandes salões de beleza. Você chega ao balcão da recepção, diz seu horário, recebe um cartão numerado e aguarda sua vez de cair nas mãos de vários profissionais. É a parada obrigatória antes de qualquer evento,

Não era a primeira que me perguntava isso hoje. Eu já devia ter deduzido, era óbvio que ela queria saber o número do meu cartão, por que demorei tanto a entender? A primeira foi a Sabrina, responsável por deixar minhas sobrancelhas na linha; depois, a Cláudia, que deixou meu buço clarinho, sem sobra; em seguida, o rapaz que lavou freneticamente meus cabelos. Então chegou a vez de a manicure perguntar como colocaria na minha conta os seus serviços. No fundo, eu sabia o que estava acontecendo comigo. Era o stress. Quem disse que salão de beleza é lugar de relaxar? O ruído do secador de cabelos, vindo de todas as partes, enche o ambiente com sua melodia “soprosa”. A essa orquestra juntamos a risada da manicure que conversa com a colega como se a cliente não existisse, a maquininha da podóloga logo atrás, somada a outra máquina de dar acabamento às unhas de gel, de cristal, de porcelana. Tudo isso se mistura com as notas musicais dos timbres mais variados de vozes que falam ao mesmo tempo formando um burburinho único e típico dos salões de beleza. É um local de tortura auditiva, superada apenas pelos consultórios dentários. Não importa o tamanho da tortura, todas nós, mulheres, resistimos aos aparentes danos por uma causa maior: a vaidade. Vaidade? Não gosto dessa palavra. Ela me remete a algo “menor” contra a qual devemos lutar e nos libertar de vez desse estigma. Até que um dia encontrei a expressão perfeita para definir o que fazemos e por que nos submetemos a isso: chama-se cuidado pessoal.


Afinal já é sabido por todos que quem ama cuida.

de mais nova.

Me ajuda aí, né! Nada de deixar o bigode crescer, de andar desfilando com uma taturana acima dos olhos e estender uma mão toda ferida de cutículas arrancadas com os dentes. Ahhh, nem! Dedos dos pés com frieira e calcanhar rachado ninguém merece. Axila cabeluda é o fim! Ainda bem que inventaram a depilação a laser “Pelos nunca mais”.

Sou grata aos profissionais que me ajudam a me cuidar, que tratam de mim, que cuidam da minha pele, dos meus dentes, do meu cabelo, do meu corpo.

Até aqui, completamente compreensível. Dá pra ver um toque mais higiênico além da pura vaidade? Independente do que se passa, eu passo por aqui. É o teste prático da semana para saber se toda aquela meditação está valendo para alguma coisa. Tenho de entrar e sair dali sem me contaminar. Tenho de manter minhas convicções, senão vou sucumbindo ao que me é oferecido. Eles estão evoluindo, digo, os salões.

Sim, eu me cuido, tenho um cartão fidelidade! Mas quero envelhecer de bem comigo mesma, me achando linda em cada fase da minha vida. Linda aos 20, aos 30, aos 40 e agora aos 50. Infinita mulher! Parabéns aos salões de beleza. Vocês evoluíram, são informatizados, têm cartão e atendimento personalizados. O desafio da classe? Diminuir o ruído interno. O nosso desafio? Ficar de bem com o espelho e não sucumbir aos apelos da ditadura da beleza.

O cardápio oferecido é variado. Unhas: Não é apenas deixá-las limpas, pintadas e bem cortadas, elas agora têm de ter um tamanho e formato regular – temos unhas de gel, de cristal, de porcelana. Você sai de lá com as unhas perfeitas, como elas nunca foram antes e do tamanho de sua preferência: pequena, média, grande ou extragrande. Cabelos: não há mais cabelo cacheado, ondulados, afro ou arrepiado. Todos são lisos e bem domados. Nada de “frizz” nada de cabelo volumoso, cheio. Todos são minguados, escorridos; no máximo, com um corte mais repicado que deixa um leve movimento nas pontas. O tamanho do cabelo? Não é problema. Temos o mega hair, o aplique, o rabo falso, o tique- taque. Você escolhe o tamanho. A cor deles? Vai muito além da tradicional tinta para disfarçar e esconder os fios brancos. Somos na maioria loiras. Ser loira é moda. Todas são ou têm uns fios dourados para iluminar a face. Eu digo sempre que mulher não envelhece, ela enlourece. Sem falar nos cílios implantados um por um com cola, que duram meses. Do botox na testa, nos olhos, no pescoço, na boca, nos preenchimentos... É um desafio. Para todas! As mais novas querem ter aparência de mais velhas e as mais velhas, cara

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O DIA EM QUE PEDI PERDÃO A LEONARDO DA VINCI Por Isis berlinck Renault De repente me lembrei que, há exatamente 50 anos, eu pedi perdão a Leonardo da Vinci.Estranho, não? Mas é verdade. Era era minha primeira viagem à Paris e eu estava superentusiasmada, cheia de expectativas. Não estava nem um pouco preocupada com a arrumação das malas, tipo: que roupa vou levar? Só pensava na chegada à Paris, nos lugares aonde ir, nos monumentos a visitar e - acima de tudo! - na visita ao Museu do Louvre! Finalmente, eu ia ver de perto todas as obras de arte maravilhosas que aprendi a amar através de livros, de publicações e de cartõespostais. Sim, porque àquela época, o cartão postal era muito usado e nos trazia, em cores, as belezas de além-mar. Duas grandes emoções enchiam minha alma: a da expectativa e a da realização. O grande dia chegou. Fiquei maravilhada com a Cidade Luz. Visitei todos os lugares a que me tinha proposto, deslumbrada com tudo o que via e vivia. Só faltava visitar o Museu do Louvre que, propositalmente, deixara para o fim. Embora possa parecer estranho, eu não estava nem um pouco interessada em ver Mona Lisa, quadro famosérrimo de Leonardo Da Vinci e foco principal dos visitantes. Para mim, a Mona Lisa era por demais badalada e explorada pelo que hoje chamamos de mídia. Eu estava cansada de ver a imagem do quadro em anúncios de publicidade. Com bigode, com barba, fantasiada de odalisca, de pirata... sei lá. Um monte de interpretações que não me agradavam nem um pouco. E, por isso mesmo, sem nenhum encanto. Meu interesse, portanto, era mínimo. O que, em absoluto, significava que não iria vê-la. Claro que iria. Mas sem pressa. Na medida em que percorresse o museu, quando chegasse à sua sala, aí sim, eu pararia para vê-la. Por mínimo que fosse meu interesse, não chegava ao ponto de ignorar uma obra de arte, Jamais! O primeiro grande impacto que tive ao entrar no Templo das A rtes foi a visão da Vitória de Samotrácia, lindíssima escultura, que é minha paixão e representa a deusa grega Nice (Nike, em grego, que quer dizer Vitória). Hoje, ela está em um espaço privilegiado no alto de uma escadaria, sobre um pedestal em forma de nave parte da escultura - que foi encontrado em novas

escavações, e restaurado. Quando a vi pela primeira vez, estava no início de outra escadaria, sem o pedestal. Muito merecido o espaço que ocupa agora. Daí pra frente, foi uma emoção atrás da outra: ver as pinturas mais famosas que existem, tão de perto a ponto de poder tocá-las e não fazê-lo, por respeito, foi algo inesquecível. O museu do Louvre mudou muito, daquele tempo até hoje. Concordo que as mudanças foram necessárias, mas, a meu ver, perdeu o encanto. A começar pela pirâmide, que não aceito de forma alguma. Reverencio a tecnologia, mas detesto o que fizeram com o ambiente. Hoje, o museu é quase um grande shoping . Com admiráveis obras de arte, mas um shoping. Já não se pode mais, por exemplo, chegar perto da Mona Lisa, pois, além de estar cercada por uma grade divisória que a mantém distante dos visitantes, ela está protegida por vidros à prova de balas Mas, como ia dizendo, de uma emoção atrás da outra, cheguei, finalmente, à sala em que estava a Mona Lisa. Quando avistei aquela parede imensa, toda branca, com um só quadro de 0,77 X 0,53 cm, foi um impacto! Caminhei em sua direção, sem conseguir tirar os olhos da pintura. Quando cheguei perto, não consegui me afastar. Quanto mais a olhava, mais a admirava. Vi detalhes que nunca pensei existir. Como um finíssimo véu que cobre sua cabeça e desce até os braços. Inacreditável! Perfeita! Uma certeza me ocorreu: “Ela é a senhora absoluta deste Templo”. Por longo período, fiquei lá, olhos presos na pintura, como que hipnotizada. Senti que ela olhava direto para mim, com seu leve sorriso nos lábios e nos olhos. E um semblante que me perguntava: “E agora?” Só consegui balbuciar: “Meu Deus!” E pedi perdão a Leonardo de Vinci.

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


MEIA MULHER

Por Geni Pires de Camargo Prado

Sou meia mulher. Entrei no caracol escuro e triste de ser meia mulher porque não ousei transpor a muralha árida da timidez. Preferi me encolher no frio do desalento de minhas emoções, cerrando com minhas próprias mãos todas as possibilidades de ser mulher inteira. Nos anos trinta, dignificavam a jovem donzela virgem. Quem se aventurasse a praticar o sexo sem o casamento, caso não fosse expulsa de casa, era descriminada e taxada de leviana. No caso dos meninos, a situação era bem outra. A liberdade sexual era estimulada pelos pais, enquanto a explosão dos hormônios sexuais das meninas não era considerada. Vivi essa geração. A meia mulher solteira, castrada na sua sexualidade, nunca chega ao orgasmo a dois. A meia mulher casada, que não se completa na sexualidade, também não. Enquanto a meia mulher solteira entrega-se à masturbação que a leva ao vazio depois do prazer, a meia mulher casada nem procura um especialista para o problema. Apenas dedica-se à maternidade, chegando à velhice conformada com essa situação esdrúxula. Uma delas, em desabafo, me confidenciou: “Meu marido pode me virar no avesso e eu não sinto nada!”

Não posso me esquecer de um caso verídico, acontecido em Santos, SP. Uma adolescente, no impulso de sua sexualidade, transou com o cachorro da casa. A família notou a ausência dela, que estava trancada no quarto e não respondia. Arrombaram a porta e constataram a infeliz cena: a jovem e o cachorro permaneciam grudados. Sem possibilidade de se desvencilhar, foram levados para o hospital. Dois meses mais tarde, a garota deu fim à sua vida. Num passado não muito distante, as mulheres não enfrentavam a própria família. “O casamento é indissolúvel” - diziam alguns pais, e complementavam - “mulher separada é desonroso”. Muitas meias mulheres foram geradas por esse preconceito, sem que pudessem ter a chance de viver com integridade. Por consequência, essa meia mulher ficou sem voz e sem vontade própria. Subjugada pelo marido, ela não existe, apenas obedece. Aceita o constrangimento por ter se casado com um machista, um meio homem, um animal inteiro. A história atual é bem outra. A mulher inteira sabe o que quer. É bem resolvida na parte pessoal, profissional e sexual. Assim entendo a mulher inteira, uma mulher realizada em todas as etapas da vida, criança, jovem, adulta, mãe e mulher. Privilégio de poucas da minha geração, mas oportunidade presente às mulheres de hoje.

Então, ousei perguntar se na masturbação ela se satisfazia. Ela corou e, com a cabeça, respondeu-me afirmativamente. Masturbação, palavra proibida. Pais se preocupam quando seus filhos chegam a essa fase e filhos ficam perdidos quanto a como lidar com a situação. Pode ou não pode, falar ou não falar. No fim, todos ficam em dúvida. Paralisado pelo medo de enfrentar a situação, o pai se omite em abordar o assunto e o filho esconde a prática.

Menção honrosa no II Prêmio Varal do Brasil de Literatura


NO UNIVERSO DE GUACIRA MACIEL

Pretérito Nascia e anulava-me sucessivamente; buscava-me consistente, mas era massa disforme e morna penetrada pela lança aguda da ausência antecipada, quando o silêncio deixava ouvir apenas o coração em descompasso de espera...e só os meus ouvidos, as paredes e o porta retrato escutavam. Só lembranças...seguravas meu rosto entre as mãos ágeis, e inocentemente afundavas os dedos em meus cabelos leves e suados, que embaraçavam-se ao o ritmo apressado da tua respiração; aqueles dedos inocentemente escorregavam buscando tocar qualquer pedaço da minha pele em brasa. Depois a tua mão tão conhecida e quente deslizava inquieta mas suavemente por toda a superfície do meu corpo, como se tentasse desvendar-lhe cada pedaço, recompondo-o. E eu? eu, sensível como uma ferida aguardava o toque como da primeira vez... e era sempre novo e infinito...morria então e me perdia...mas me guiava o sol que se dourava ao contato dos pelos louros do teus braços e da tua fina sobrancelha que guardava o tesouro daquele azul abissal, que se inundava inesperadamente. Quero lembrar a todo instante e sentir de novo a dor dessa presença, a dor da consciência de ti e da tua ausência; de qualquer forma serão sempre uma dor...preciso abrir as comportas e todas as portas e janelas, e soprar para longe o cheiro mofado que elas ressuscitam em mim...


“O CASO DA FAMÍLIA PAIVA, EM AREZ/ RN: SERÃO ELES TAMBÉM DE ASCENDÊNCIA JUDAICA?” Por André Valério Sales

“A documentação inquisitorial confirma a veracidade de (...) que em 1594 Maria de Paiva declarava ao Visitador [da “Santa” Inquisição] ser cristã-nova [judia forçada a converter-se ao catolicismo]” (Mello, 2009: 84). i

1. Introdução: Em pesquisa desenvolvida por mim recentemente para a construção de meu próximo livro: “Câmara Cascudo e Hábitos Judaicos Presentes no Cotidiano dos Brasileiros e em Arez/RN”, encontrei, por obra do destino, uma referência muito interessante acerca da família Paiva, advinda de Castelo Branco, em Portugal. O autor João dos Santos cita, num livro seu (Vasco da Gama, 2004), a presença desta família portuguesa como sendo de origem judaica, desde, pelo menos, 1487. Numa conversa informal com o advogado e poeta norte-rio-grandense Horácio Paiva de Oliveira, este célebre poeta me estimulou a continuar pesquisando as origens do sobrenome Paiva, não apenas por mexer com seu próprio sobrenome, mas porque em Arez/RN, onde moro e lugar que é o foco dos estudos deste livro, também há inúmeras pessoas da família Paiva. Devo ao dr. Horácio a referência ao livro do grande historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello (O Nome e o Sangue, 1989), autor que já vem tendo sua obra acompanhada por mim há algum tempo, e que cita neste seu livro – que eu desconhecia até então –, raízes da família Paiva no Brasil que remetem à senhora Maria de Paiva, em 1594. Com estes incentivos e com tudo o que construí na pesquisa empírica e teórica para o livro citado, escrevi, também utilizando pesquisa de campo – com a realização de uma entrevista – e documental, o texto que vem a seguir que, despretensiosamente, quer apenas contribuir para futuras pesquisas mais aprofundadas sobre a família Paiva do Rio Grande do Norte. 2. História da Família Paiva de Arez/RN: Unindo Hábitos Existentes na Cidade à Presença deste Sobrenome:

Segundo já comentado num outro capítulo do meu livro em questão, encontrei em documentos analisados e durante minha atual pesquisa, sobre Arez/RN, um caso análogo ao antes citado que ocorreu com Anna Maria Cascudo, em se tratando de sua curiosidade ao buscar, inclusive na Península Ibérica, possíveis raízes de sua família; o que não se confirmou como verídico no caso da escritora/acadêmica da ANRL... Ou seja, trabalho agora sobre outro exemplo: o da família Paiva, presença constante na atualidade arezense. Os Paiva de Arez são, reconhecidamente, um povo “branco”, de origem claramente europeia (como queria a Inquisição do Santo Ofício), cuja cor da pele nada demonstra de origens africanas ou indígenas; é também conhecida como uma família de empreendedores, negociantes, médicos, políticos, etc., portanto, bem-sucedidos econômica e politicamente na História de nossa cidade. Em seu livro sobre Vasco da Gama, João dos Santos escreveu que em 1487: em Portugal os Paiva falavam árabe, eram “também corajosos e empreendedores, como a maioria dos cristãos-novos [judeus convertidos]”. Assinala ainda Santos que Samuel Schwarz afirmava, já em 1946 (quase 500 anos depois), em primeira mão, “com argumentos que me parecem irrefutáveis”, que os Paiva eram “de origem hebraica”. No distrito lusitano de Castelo Branco, lugar de onde Afonso Paiva (além de Pero de Covilhã) eram naturais, “ainda hoje o Paiva é tido por sobrenome judaico” (Santos, 2004: 52, grifos meus). Ao encontro de Pero de Covilhã – continua Santos –, “também natural de cidade onde sempre preponderaram os filhos de Israel, mandou d. João II dois emissários procurá-lo no Cairo [Egito], os quais eram Rabi Abraham de Beja e mestre Joseph, judeu de Lamego” (id.: 52, o grifo é meu). (Segue)


Ao encontro de Pero de Covilhã – continua Santos –, “também natural de cidade onde sempre preponderaram os filhos de Israel, mandou d. João II dois emissários procurá-lo no Cairo [Egito], os quais eram Rabi Abraham de Beja e mestre Joseph, judeu de Lamego” (id.: 52, o grifo é meu). É acerca desta coincidência, ou não, de sobrenomes, entre os Paiva de Castelo Branco, em Portugal, e os de Arez/RN, que tratarei neste artigo. 3. Entrevista com Dr. Erço de Oliveira Paiva (Arez/RN): Em termos de Brasil, o historiador Evaldo Cabral de Mello (2009: 84) encontrou referências da Inquisição do Santo Ofício à senhora Maria Paiva, em 1594, moradora do Nordeste, e declarando-se como “cristãnova”, ou seja, descendente de judeus, porém, convertida à força ao catolicismo. De acordo com a pesquisa de campo que realizei em Arez (entrevista efetivada a 22 de abril de 2014) com um importante representante – já idoso – da família Paiva, inegavelmente de cor da pele branca, portanto, sem traços negroides/africanos ou indígenas/ brasileiros nativos: o Capitão-de-Fragata Médico, dr. Erço de Oliveira Paiva, filho de Tobias Joaquim de Paiva e Isaura Archanjo de Oliveira. O entrevistado destacou que há no Rio Grande do Norte, independentemente de sua família arezense, outros representantes dos Paiva, principalmente, em quatro diferentes municípios potiguares: Mossoró, Pau dos Ferros, Portalegre e Monte Alegre. As cidades de Pau dos Ferros e Portalegre (este que é o quarto município mais antigo criado no Estado), notoriamente, são quase vizinhos ao município de Venha Ver, local onde a presença judaica, desde muito tempo, já foi comprovada há muitos anos, e após muitas pesquisas de especialistas no assunto (ver o filme de Eiger & Valente 2005). Esta proximidade, no entanto, entre terras habitadas por famílias Paiva no Rio Grande do Norte e a cidade de Venha Ver, não me parece ser mera coincidência. Da mesma maneira, Monte Alegre, assim como Arez, são lugares que ficam perto

da atual João Pessoa, capital da Paraíba (as três sendo cidades próximas ao litoral): lembremos que de João Pessoa e do Recife viajaram e se espalharam pelas redondezas, do litoral e interior/sertão nordestinos, muitos judeus que permaneceram morando no Brasil após o fim da ocupação holandesa (em 1654), tema sobre o qual já tratei em capítulos anteriores do livro citado e até em outro livro meu (Sales, 2007; ver também: Mello, 2001 e Cascudo, 2001). Para o entrevistado Erço Paiva não há ligação entre as diferentes famílias Paiva residentes nos quatro municípios acima citados e os que moram atualmente em Arez. Ele acredita que existe apenas uma coincidência de famílias diferentes, porém com um mesmo sobrenome, habitarem em núcleos tão próximos e num mesmo Estado brasileiro. Na pesquisa que realizei no Cartório de Arez, encontrei registros do pai de dr. Erço: Tobias Joaquim de Paiva (arezense nascido em 1913), filho de Maria Francisca de Paiva e Joaquim José de Freitas. A avó paterna de dr. Erço, Maria Francisca, por sua vez, era filha de Maria Francisca de Paiva e Pedro Ferreira de Paiva (bisavós do entrevistado)[1]. Mesmo que eu parasse por aqui, a abrangência da pesquisa nos remonta a ascendentes da família Paiva existentes em Arez, aproximadamente, desde inícios dos anos 1800. O que importa é que existe a presença desta família espalhada por terras potiguares, e que eu apenas recorro a ela como exemplo para levantar hipóteses, fazer suposições... Mas, quem sabe (?) alguns deles não sejam descendentes dos Paiva de Portugal, já famosos como sendo de ascendência judaica desde 1487? Continuando a pesquisa documental no Cartório de Arez em 22 e 28 de abril, e ainda em 5 de maio de 2014, dos representantes da família mais antigos encontrados (agora nos Livros de Óbitos) cito mais dois exemplos: a)

Zulmira Paiva de Freitas, nascida em 1881 (e falecida em 1965) nesta cidade, era também, como Maria Francisca – avó paterna de dr. Erço –, filha de Maria Francisca de Paiva e Pedro Ferreira de Paiva. (Segue)


Ou seja, Zulmira Paiva era irmã de Maria Francisca de Paiva (filha)[2], sendo por isso, tia de Tobias Joaquim e tia-avó do dr. Erço Paiva. Pelo sobrenome paterno de Zulmira, fica então demonstrado que a família Paiva reside em Arez desde muito antes de 1881, fossem seus pais antigos moradores do Brasil ou comprovadamente imigrantes da Península Ibérica. Os documentos não registram/revelam a procedência dos demais ancestrais de Zulmira (Cf. Livro de Óbitos C-1 (b), Termo 372, pág. 94). b) Encontrei, também, documentos do óbito de Isabel Assendina de Paiva, nascida em 1900, em Arez, filha de Roberto Arcanjo de Paiva e Antonia Eloi de Andrade. Os comentários que fiz acima, sobre Zulmira, são os mesmos a serem feitos sobre Isabel Paiva: ou seja, que pelo sobrenome de seu pai, nota-se que a família de Isabel reside em Arez desde antes de 1900, quando ela nasceu. A documentação analisada não registra ou revela nada mais sobre outros antepassados dos pais de Isabel (Cf. Livro de Óbitos C1(b), Termo 102, pág. 200v). Para finalizar, acrescento mais uma coincidência: de acordo com os documentos cartoriais de óbitos, a família Paiva de Arez (seja de Zulmira, Isabel ou Tobias) assim como as de outros municípios potiguares, podem ser residentes no Rio Grande do Norte há tantos anos quanto os cerca de 200 anos que as famílias judaizantes de Venha Ver/RN dizem habitar aquelas terras. Finalizo esclarecendo que minha intenção aqui foi apenas incentivar a futuros investigadores sugestões para pesquisa, hipóteses, suposições, datas, documentos cartoriais e livros clássicos que tocam no assunto, objetivando lhes diminuir parte de seu trabalho. A importância de toda essa história é inegável, ainda que os atuais representantes da família Paiva não se saibam descendentes de cristãos-novos, e nem se interessem pela religião judaica (ver Medeiros, 2005). Lembrando o empirista inglês John Locke (1632-1704), na sua “Carta Acerca da Intolerância”, de 1689, ali ele já declarava que: a intolerância era uma coisa monstruosa; que a recusa à tolerância com os que têm opiniões diferentes das nossas, é irracional; e que nenhum indivíduo deve atacar ou prejudicar outra pessoa nos seus bens

civis porque professa outra religião. Para Locke (1978), ninguém pode ser molestado por suas escolhas ou forçado a nada no campo da fé. Ou ainda: ontem, como hoje, ser de origem judaica ou religioso assumido como israelita não é, nem nunca deveria ter sido, uma vergonha ou erro. Há que se respeitar a fé que cada um escolher acreditar. Por isso tudo, penso que o passado de Arez pode ter sido rico em pessoas ou famílias judaizantes e isto pode ter se perdido com o passar dos anos, com as perseguições intermináveis, etc., mas, mesmo assim, precisamos conhecer, ou buscar descobrir alguns véus que cobrem nossa rica História. 4. Citações: [1] Esta parte da pesquisa foi feita no Cartório de Arez em junho de 2014. Os livros consultados foram: AA-2 de Nascimentos (Termo 39, pág. 23) e B5-A de Casamentos (Termo 93, pág. 93), ambos remetendo apenas a Tobias Joaquim de Paiva. [2] Apenas a título de esclarecimento, são duas mulheres diferentes, mas chamadas de Maria Francisca de Paiva, a avó e a bisavó do dr. Erço de Oliveira Paiva. 5. Referências: CASCUDO, Luís da Câmara. Mouros, Franceses e Judeus: Três Presenças no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Global, 2001. / GOMES, Dias. O Santo Inquérito. 23ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. / LEITE, Humberto Ferreira. História dos Judeus no Seridó, no Sertão da Paraíba, na Serra da Borborema – Século XVII. Natal: Gráfica Sul e Editora, 2011. / LIVRO DE NASCIMENTOS Nº AA-2, DA VILLA DE AREZ. Arez/ RN: Cartório Único, manuscrito. / LIVRO DE CASAMENTOS Nº B5-A, DA VILLA DE AREZ. Arez/RN: Cartório Único, manuscrito. LIVRO DE ÓBITOS Nº C-1(b), DA VILLA DE AREZ. Arez/RN: Cartório Único, manuscrito, 1961 a 1978. / LOCKE, John. Carta Acerca da Tolerância. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção “Os Pensadores”, trad. Anuar Aiex). / MEDEIROS, João F. Dias. Nos Passos do Retorno: Descendentes dos Cristãos-Novos Descobrindo o Judaísmo de Seus Avós Portugueses. Natal: Gráfica Nordeste, 2005. / MELLO, Evaldo Cabral. O Nome e o Sangue – Uma Parábola Genealógica no Pernambuco Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. / MELLO, José Antônio Gonsalves. Tempo dos Flamengos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001. SALES, André Valério. Câmara Cascudo: O Que É

Folclore, Lenda, Mito e a Presença lendária dos Holandeses no Brasil. João Pessoa: EdUFPB, 2007. / SANTOS, João Alves. Vasco da Gama. 2ª ed. São Paulo: Editora Três/Brasil 21, 2004. (Biblioteca de História: grandes personagens de nossos tempos, nº 25). / Filme: EIGER, Elaine; VALENTE Luize (Diretoras). A Estrela Oculta do Sertão. Rio de Janeiro: FotoTema, 2005.


OBRIGADO AMIGOS! OBRIGADO POR ESTES 5 ANOS DE VARAL DO BRASIL! OBRIGADO POR PARTICIPAREM! OBRIGADO POR ESCREVEREM! OBRIGADO PELA LEITURA! MUITO OBRIGADO!



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VARAL DO BRASIL no. 32 Voltaremos em dezembro com o especial de NATAL!

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