A Utilização do Lixo na Construção Civil - Ensaio Teórico

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A UTILIZAÇÃo DO LIXO NA CONSTRUÇÃO

CIVIL

Por: Ana Luisa Scalia Ensaio Teórico



Universidade de Brasília
 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Ensaio Teórico

A UTILIZAÇÃO DO LIXO NA CONSTRUÇÃO CIVIL ANA LUISA LAUXEN SCALIA Orientador: Oscar Luís Ferreira Banca avaliadora: Julio Eustaquio De Melo

Vanda Alice Garcia Zanoni

Brasília, 2016


Resumo Este Ensaio Teórico “A utilização do lixo na construção civil” tem como objetivos: compreender os conceitos de lixo, reciclagem e sustentabilidade; explicar o contexto histórico dos resíduos sólidos e mostrar dados atuais sobre o mesmo; descrever aspectos da legislação brasileira em relação ao tema; explicar os tipos de lixo, a coleta seletiva e os métodos de destinação final dos resíduos no Brasil; explicar como se dá a reciclagem de materiais; exemplificar métodos de reciclagem com foco na construção civil; aprofundar o estudo sobre a técnica de construção utilizada nas Earthships, mostrando materiais de construção, sistemas e críticas. Dessa forma, o trabalho busca enfatizar o estudo sobre as questões do lixo, muitas vezes menosprezadas pela sociedade, e busca maneiras de reciclagem desses resíduos que possam ser utilizadas por arquitetos e engenheiros em seus projetos. Palavras-chave: Lixo; Reciclagem; Construção Civil; Sustentabilidade.


A Buda é atribuída a seguinte estória: “Certa feita, Sya- mavati, a rainha consorte do rei Udayana, ofereceu quinhentas peças de roupas a Ananda, que as aceitou com grande satisfação. O rei, tomando conhecimento do ocorrido e suspeitando de alguma desonestidade por parte de Ananda, perguntou-lhe o que iria fazer com estas quinhentas peças de roupas. Ananda respondeu-lhe: “Ó, meu Rei, muitos irmãos estão em farrapos e eu vou distribuir estas roupas entre eles”. Assim estabeleceu-se o seguinte diálogo: “O que farão com as velhas roupas? “ “Faremos lençóis com elas”.
 “O que farão com os velhos lençóis? “ “Faremos fronhas.” “O que farão com as velhas fronhas? “ “Faremos tapetes com elas”. “O que farão com os velhos tapetes? “ “Usá-los-emos como toalhas de pés”.
 “O que farão com as velhas toalhas de pés? “ “Usa-la-emos como panos de chão”. “O que farão com os velhos panos de chão”? “Sua alteza, nós os cortaremos em pedaços, misturá-los-emos com o barro e usaremos esta massa para rebocar as paredes das casas”. Devemos usar, com cuidado e proveitosamente, todo artigo que a nós for confiado, pois não é “nosso” e nos foi confiado apenas temporariamente. A Doutrina de Buda (EIGENHEER, 2009, p.55)

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Sumário Apresentação..................................................................................................................................8 Introdução.....................................................................................................................................10 Capítulo 1 – Caracterização do Lixo..................................................................................13

1.1 Conceitos.............................................................................................................................13 1.1.1 Lixo e Resíduos Sólidos .......................................................................................13 1.1.2 Reciclagem, Downcycling e Upcycling...................................................................14 1.1.3 Sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e Tripple Bottom Line ................16 1.2 O lixo na história..................................................................................................................17 1.2.1 O lixo na história do mundo..................................................................................17 1.2.2 O lixo na história do Brasil....................................................................................19 1.3 A legislação brasileira atual: Política de Resíduos Sólidos.....................................................20 1.4 A classificação do lixo e a coleta seletiva..............................................................................22 1.5 Gerenciamento do lixo........................................................................................................25 1.6 Dados sobre o lixo e a reciclagem........................................................................................26 1.6.1 Dados sobre o lixo e a reciclagem no mundo....................................................26 1.6.2 Dados sobre o lixo e a reciclagem no Brasil......................................................29

Capítulo 2 - A reciclagem de materiais e sua utilização na construção civil.34

2.1 Reciclagem de papel............................................................................................................35

2.1.1 Tubos de papelão - Shigeru Ban...........................................................................36

2.1.2 Papelão – Corrugatered Cardboard Pod (“Capsula de Papelão”).............................38

2.1.3 Jornal – NewspaperWood (“Madeira de Jornal”)....................................................40

2.2 Reciclagem de plástico........................................................................................................43

2.2.1 Sacolas plásticas – Recy Blocks............................................................................44

2.2.2 Qualquer tipo de plástico – ByFusion Bricks.........................................................46

2.2.3 Garrafas PET – Polli-Bricks...................................................................................48

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2.3 Reciclagem de metal..........................................................................................................51

2.3.1 Alumínio - Stabilized Aluminium Foam (SAF)........................................................52

2.4 Reciclagem de vidro ..........................................................................................................55

2.4.1 Qualquer tipo de vidro – FOAMGLAS..................................................................56

2.4.2 Garrafa de vidro – World Bottle (WOBO).............................................................58

2.5 Orgânico............................................................................................................................61

2.6 Entulho..............................................................................................................................65

2.5.1 Café – Decafé Demolição....................................................................................62 2.6.1 Construção e demolição - StoneCycling...............................................................66

2.7 Pneu..................................................................................................................................69

Capítulo 3 – Estudo de caso: Earthships.......................................................................70 3.1 Earthship e seus objetivos...................................................................................................70

3.2 A utilização de pneus...........................................................................................................72

3.2.1 Justificativa para a escolha desse material...........................................................72

3.2.2 Como construir uma parede de pneus.................................................................74

3.3 A utilização de outros materiais reciclados.........................................................................76

3.3.1 Latas de Alumínio................................................................................................76

3.3.2 Garrafas de vidro..................................................................................................77

3.4 Outros sistemas de uma Earthship.......................................................................................78

3.4.1 Água ...................................................................................................................78 3.4.2 Eletricidade.........................................................................................................79

3.4.3 Conforto Térmico.................................................................................................80

3.4.4 Alimentação........................................................................................................81

3.5 As Earthships na prática.......................................................................................................82

CONCLUSÃO ......................................................................................................................................84 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................................86

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Apresentação Nas últimas décadas, tem se visto surgir uma grande preocupação com o meio ambiente e muitas ações em diversos campos do conhecimento em prol da sustentabilidade. Sustentabilidade não é uma preocupação com o mundo para que ele não acabe, mas sim, um cuidado para que o modo de vida dos seres humanos não mude a Terra de maneira drástica a ponto de o planeta não ser mais habitável para nós. Tudo o que fazemos e todas as decisões que tomamos afetam o equilíbrio da natureza, podendo ser de forma imediata e bastante visível ou de maneira pouco aparente. Pequenos gestos, como coleta seletiva dentro de casa ou a escolha por uma lâmpada que consuma menos energia, contribuem para diminuir os efeitos causados por nossa atividade na Terra. Tudo tem consequências, e a construção de edificações ecológicas também. Talvez os principais responsáveis pela demanda de energia e materiais sejam a construção civil e a ocupação das edificações. Para construir é necessário utilizar uma grande quantidade de energia e de recursos naturais, que muitas vezes são desperdiçados por má gestão do canteiro, ausência de procedimentos de execução, falta de treinamento da mão de obra e também pela falta de bons programas de aproveitamento dos resíduos da obra. Já a ocupação das edificações pode gerar uma maior ou menor demanda de energia, o que está diretamente ligado ao projeto, que pode fazer melhor uso da luminosidade natural e apresentar soluções adequadas ao clima do local em que a construção está inserida, de maneira a reduzir gastos de energia com iluminação e condicionamento de ar. Desta maneira, para reduzir o desperdício de recursos naturais e de energia, é de extrema importância que os arquitetos e engenheiros possuam um vasto conhecimento sobre como projetar e construir edificações sustentáveis e utilizem dos mais variados recursos para diminuir o impacto do modo de vida do ser humano no meio ambiente.

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Introdução Segundo a Secretaria Nacional de Informação e Saneamento - SNIS, no Brasil, a média de lixo produzido em 2014 foi 1,05 kg/habitante/dia, totalizando no mesmo ano mais de 64,4 milhões de toneladas de resíduos domiciliares e públicos. Com relação à recuperação de recicláveis secos (papel, plástico, vidro e metais), estima-se 1 milhão de toneladas, isso é, 1,6% do total de resíduos. Considerando que a percentagem de resíduos recicláveis secos presentes no montante de resíduos produzidos seja próxima a 30% do total, isso significa dizer que foi recuperado apenas 5,2% do que poderia ter sido reciclado (SNIS, 2014, pág. 2). Esse cenário e dois fatos ocorridos no Brasil em 2015 serviram de motivação para este Ensaio Teórico: o rompimento da barragem de Fundão, no município de Bento Rodrigues em Minas Gerais, causando perdas imensas para o país, e as epidemias das doenças Dengue, Zyka e Chikungunya, todas transmitidas pelo mesmo vetor, o mosquito Aedes aegypti. Estes dois fatos podem, aparentemente, não apresentar ligação com a arquitetura e o urbanismo, mas de fato configuram-se como um problema cultural e problema social, relacionados ao saneamento público e à deposição de rejeitos sólidos. O primeiro tem como motivo a extração do minério de ferro, de maneira descontrolada e despreocupada com a natureza, para ser utilizado em indústrias na construção de novos produtos. Já em relação ao segundo fato, as autoridades têm tido um grande trabalho para evitar que o mosquito que transmite essas doenças nasça. Este necessita de água parada para depositar suas larvas, de modo que surge uma grande preocupação com o depósito de lixo de maneira inadequada, visto que esses poderiam ser locais de foco do mosquito.

Figura 1 - Povoado em Minas Gerais, destruído após o rompimento da barragem. Fonte: Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS

Figura 2 - Imagem aérea da cidade Governador Valadares, Minas Gerais, e o Rio Doce, contaminado pela lama vinda do rompimento da barragem Foto: Daniela Fichino/Justiça Global

Figura 3 - Pneus abandonados em uma ex-empresa de reciclagem na cidade de LachapelleAuzac, França. Fonte: < http://www. portalternurafm.com.br/ noticias/40891/arvoreresiste-no-meio-demilhares-de-pneus-usados> Acesso em 14 de abril de 2016

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Observando esses dois acontecimentos, surge a questão: para quê essa extração tão intensa de recursos da natureza se possuímos grande quantidade de material já “extraído” perdido em aterros ou lugares impróprios que poderia ser utilizado de outra maneira? Em meio ao cenário descrito e essa indagação, pretende-se compilar informações sobre o lixo produzido no Brasil e no mundo, bem como avaliar a importância de se ter um adequado gerenciamento dos resíduos sólidos. Seguindo esse pensamento, pretende-se exemplificar de que maneira poderíamos redirecionar materiais normalmente jogados na lixeira para uma utilização na construção civil. O objetivo geral deste texto está em buscar responder à seguinte pergunta: como a construção civil pode utilizar-se de materiais recicláveis encontrados no lixo, de modo a contribuir com a diminuição de aterros e lixões e a extração de materiais da natureza, e assim oferecer uma arquitetura mais sustentável e que beneficie a sociedade? Dentre os objetivos específicos da pesquisa estão: compreender a situação do lixo e as formas de gestão desse no mundo e no Brasil; compreender historicamente como têm mudado a relação entre o ser humano e o lixo; buscar informações sobre como os resíduos podem ser reaproveitados de maneira geral e as possíveis utilizações desses na construção civil; aprofundar o conhecimento a respeito da técnica de construção escolhida: as Earthships. Para se alcançar esses objetivos serão coletadas informações sobre os conceitos de lixo, reciclagem e sustentabilidade e os termos neles envolvidos, buscando dados históricos e de legislação desses resíduos, bem como seu contexto nos dias atuais. Em seguida, serão compiladas informações sobre técnicas utilizadas ou pesquisadas por arquitetos e designers do mundo todo, as quais utilizamse de materiais provenientes de resíduos comuns produzidos pelo ser humano, como pneus, papel, garrafas de vidro, sacos plástico, resíduos de obras, dentre outros. Pretende-se buscar informações sobre os materiais como pontos positivos e negativos, possibilidades de utilização, custos e benefícios para a sociedade.

Figura 4 - Lixão da Estutural, Distrito Federal. É considerado o maior lixão da América Latina. Fonte <http://www.correiobraziliense.com.br/app/ noticia/cidades/2016/03/24/interna_cidadesdf,523908/ lixao-da-estrutural-e-berco-de-trabalho-infantil-nodf.shtml> Acesso em 14 de abril de 2016

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Figura 5 - Alunos da Earthshiop Biotecture Academy, Novo México, EUA, aprendendo a fazer construções utilizando latas de alumínio e pneus. Fonte: <http://earthship.com/ academy-hands-on > Acesso em 14 de abril de 2016

A metodologia utilizada será de revisão bibliográfica a respeito do lixo e desse na construção civil. Para a primeira parte do ensaio, a respeito da caracterização do lixo, as principais fontes seriam os estudos brasileiros recentes a respeito dos resíduos sólidos, como o Panorama dos Resíduos Sólidos do Brasil 2014(ABRELPE,2015), o Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos 2014 (SNIS,2015) e o CEMPRE Review 2014 (CEMPRE,2014) e a revisão da legislação brasileira de Resíduos Sólidos – Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, e decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Também serão analisados dados sobre o lixo de outros países e referências sobre reciclagem e sustentabilidade que podem ser lidas nos livros Fundamentos de Projeto de Edificações Sustentáveis, de Mirian Keeler e Bill Burke (2010) e What a Waste1 , de Daniel Hoornweg and Perinaz Bhada-Tata (2012). A segunda parte do texto explicará a reciclagem dos materiais, dividida em cinco grupos: papel, plástico, metal, vidro e outros, compreendendo materiais orgânicos, entulho e pneus. Serão estudadas as formas e os benefícios da reciclagem, a composição do material e o quantitativo de resíduos reciclados no país. As principais fontes utilizadas serão o CEMPRE Review 2014 e o site da organização de informações sobre reciclagem e meio ambiente, Recicloteca. Em seguida, serão exemplificados, dentro desses grupos, alguns modelos de reciclagem com foco na utilização do material final para a construção. Um dos principais livros utilizados será Building From Waste – recovered materials in architecture ans construction (tradução livre: “Construindo a partir do lixo – materiais reciclados na arquitetura e construção”) de Dirk E. Hebel, Marta H. Wisniewska e Felix Heisel. O livro traz exemplos de materiais que foram reciclados ou desenhados de maneira a possibilitar sua utilização na arquitetura. A terceira parte do ensaio tem como principio o estudo de caso a respeito das Earthships, modelo de casas alternativas construídas com pneus velhos presos com terra, que tem por fundador o arquiteto Mike Reynolds. A pesquisa sobre esse modelo de construção se dará a partir do site da empresa criada por Reynols Earthship Biotecture, por livros escritos pelo fundador e pelo livro da arquiteta Rachel Preston Prinz, Hacking the Earthship, que traz criticas a este sistema. Após estes estudos, acredita-se que será possível formar um pensamento crítico a respeito da utilização de lixo na construção civil.

Nome completo: What a waste: A Global Review of Solid Waste Management. A primeira parte do título pode ser vista como um trocadilho, podendo ser traduzido como: “quanto desperdício” ou “que lixo”. Tradução livre da outra parte do título seria “Revisão Global da Gestão de Resíduos Sólidos”.

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Capítulo 1 Caracterização do lixo Este capítulo tem como objetivo situar o leitor de maneira geral sobre o lixo e a reciclagem. Para isso, serão explicados os conceitos de resíduo sólido, reciclagem e sustentabilidade, além de se fazer referência a dados históricos de tratamento do lixo, às premissas da legislação brasileira quanto ao tema, às classificações do lixo e dados atuais relacionados à geração e ao tratamento do lixo no Brasil e no mundo.

1.1 Conceitos

1.1.1 Lixo e Resíduos Sólidos A palavra lixo vem do latim “lix” que significa cinzas, relacionando-a com a antiguidade onde grande parte dos resíduos de cozinha era formada por cinzas e restos de lenha carbonizados nos fornos. Os dicionários atuais definem essa palavra como sujeira, imundice, coisas sem valor ou inúteis. Também usamos muito esse termo com conotação pejorativa ao qualificar algo, como quando falamos, por exemplo, “este texto está um lixo” ou “meu trabalho é um lixo”. A palavra em seu significado técnico seria o mesmo que resíduos sólidos, o qual é definido pela lei Brasileira nº 12.305 de 2 de agosto de 2010, Política Nacional dos Resíduos Sólidos - PNRS, como: material, substancia, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010, p. 11).

A PNRS, na definição apresentada, não atribui valor econômico aos resíduos sólidos gerados e para este ensaio utilizo como princípio o conceito de lixo apresentado por Hebel, Wisniewska e Heisel, no livro “Building From Waste - Recovered materials in architecture and construction”2 , no qual o lixo é entendido como uma commodity, ou seja, um recurso natural e também um material de construção. No entanto, ainda segundo os autores, para que o lixo se torne um recurso será necessário reciclá-lo, reutilizá-lo ou recuperá-lo.

2 Tradução livre: Constr uindo com Lixo - materiais reciclados na arquitetura e construção. Autores: Dirk E. Hebel, Marha H. Wisniewska e Felix Heisel. Birkhäuser Verlag GmbH, Basel. 2014

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1.1.2

Reciclagem, Downcycling e Upcycling

Assim como o conceito de resíduos sólidos, podemos utilizar, para entender melhor a reciclagem, o conceito estabelecido pela Lei nº 12.305 de 2 de agosto de 2010, no artigo 3º inciso XIV: Reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólizdos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produto (...). Dessa maneira podemos explicar reciclagem como o processo pelo qual um material, que foi dado como lixo por ter perdido sua primeira utilidade, é submetido a tratamentos específicos para se transformar em algo útil novamente. Diferente da reutilização, na qual o material é aproveitado na sua forma original, para a reciclagem é necessário que ocorram transformações nas propriedades físicas e/ ou químicas do material. Sendo assim, é possível que após esse procedimento o material se transforme tanto em uma copia do que ele era anteriormente, quanto em algo completamente diferente. A partir da publicação, em 2002, do livro Cradle to Cradle ("Do berço ao berço"), os escritores William McDonough e Michael Braungart formalizaram dois novos conceitos dentro da reciclagem: upcycling e downcycling. Segundo sua visão de reciclagem, essa poderia ser dividida dois tipos: a transformação do material em algo com alto potencial de utilização e alta qualidade, upcycling, e a transformação do material em algo com baixa qualidade e baixo valor, downcycling. Um exemplo do primeiro seria a reciclagem de latinhas de alumínio que podem se transformar em novas latinhas com a mesma qualidade da anterior, de forma que o material pode ser utilizado por tempo indefinido. Já o segundo, poderíamos dar como exemplo a utilização de garrafas PET para a fabricação de camisetas: estas estão apenas fazendo com que o material dure mais tempo antes de ser novamente jogada no lixo. Os dois métodos de reciclagem tendem a ser considerados ecologicamente benéficos, porém os escritores defendem que o downcycling seria prejudicial para o meio ambiente, porque além de diminuir o valor do objeto e retira-lo do processo de upcycling, geralmente utilizam aditivos químicos. Seguir um quadro que explica melhor os dois processos:

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Produção Consumo

Gasto de energia para a produção

O material volta ao ciclo para ser utilizado novamente

Lixo

Upcycle Downcycle

O material dura mais na Terra, sendo o seu destino ao lixo apenas adiado

Contaminação da natureza

Diagrama 1 - Diagrama explicando os conceitos de upcycling e downcycling. Fonte: < http://intercongreen. com/2010/02/17/recyclingvs-upcycling-what-is-thedifference/> Acesso em 27 de maio de 2016. Editado pela autora

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1.1.3 Sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e Tripple Bottom Line O termo sustentabilidade tem sido muito recorrente nos últimos anos, utilizado desde artigos científicos a campanhas publicitárias. Um conceito bastante difundido é o utilizado no Relatório Brundtland – Our Common Future ("Nosso Futuro Comum") de 1987 que define sustentabilidade e desenvolvimento sustentável como o conjunto de diversos processos da vida cotidiana que visem a satisfazer às necessidades da geração presente, sem comprometer as necessidades das próximas gerações. A sustentabilidade pode vir associada a uma série de fatores da vida humana. Segundo o ecossocioeconomista Ignacy Sachs, citado pelo site da organização Catalisa, o conceito de sustentabilidade possui sete dimensões principais: social, econômica, ecológica, cultural, espacial, política e ambiental. Cada qual destes aspectos possui suas particularidades, mas todos visam especialmente ao bem comum e ao bem das sociedades do futuro. Dentro do conceito de sustentabilidade, surge também, na década de 1990 , um outro conceito: Triple Bottom Line, que seria em português o Tripé da Sustentabilidade. Este tripé defende que a sustentabilidade é sustentada por três dimensões que se relacionam: a dimensão social, a econômica, e a ambiental, conhecida também como os 3Ps - people, planet, profift, ou em português pessoas, planeta e lucro. A dimensão social consiste na preocupação do bem-estar de todas as pessoas, direta ou indiretamente afetadas por seus atos. A dimensão ambiental consiste buscar formas de minimizar os impactos ambientais causados por uma empresa ou pelo modo de vida de qualquer pessoa na Terra. A dimensão econômica mostra que é importante o crescimento econômico da empresa ou do indivíduo, mas não se deve pensar economicamente esquecendo dos outros dois aspectos.

Diagrama 2 - Diagrama do Tripé da Sustentabilidade - a sustentabilidade só existe onde os três aspectos se encontram. Fonte: <http://pt.slideshare. net/nicholasgimenes/ psicologia-ambiental-por-quno-agimos-14129131> Acesso em 13 de junho de 2016

3 Ignacy Sachs começou a ser conhecido ecossocioeconomista como após sua tese Rumo à Ecossocioeconomia, lançado em 2002, no qual ele defende que o desenvolvimento sustentável deve ser atrelado ao bem-estar social e à preservação do meio ambiente. 4 Segundo Norman e MacDonald (2003) citado por Thiago Sena de Sousa, Adriana Simas da Silva, Elaine Ferreira (2012) o termo surgiu na década de 1990 e se tornou de conhecimento público em 1994 quando foi conceituado por Elkington (1994) como o Tripé da Sustentabilidade.

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1.2 O lixo na história 1.2.1 O lixo na história do mundo A produção de resíduos é algo inevitável na vida dos seres humanos. Nas inúmeras atividades do nosso dia a dia, geramos resíduos tanto na preparação de algo quanto ao final da vida útil desse. Um exemplo bem simples é quando nos alimentamos: existem os resíduos da preparação do alimento, como cascas e folhas, e os restos gerados pelo nosso organismo após metabolizar o alimento (fezes). O exemplo acima representa praticamente todo o resíduo gerado na antiguidade, ou seja, resíduos orgânicos e dejetos. Os resíduos orgânicos eram lidados de maneira bem simples sendo aproveitados como alimentação para os animais, ou simplesmente descartados na natureza. A preocupação maior deste período referia-se à captação de águas servidas (fezes, urina, banhos, etc), os esgotos sanitários. De acordo com Emílio Maciel Eigenheer (2009, p.27), há indicações de que o povo hindu da antiguidade já dispunha de instalações sanitárias e também, da existência de canais subterrâneos para a captação de águas servidas. Os egípcios possuíam canais para a coleta de águas servidas que eram mantidos por prisioneiros. Na antiga Grécia há indicações da existência de toalete com água corrente dentro do palácio de Minos, em Cnossos, e haviam também toaletes e banhos públicos na cidade. Os gregos já conheciam a adubação com fezes humanas e de animais e aproveitavam-se disto em seus cultivos. Já os romanos foram os detentores do maior sistema de captação de água para consumo: a rede de águas, das fontes até as cidades, que chegou a atingir 420 km em aquedutos pelo império. Com esta vasta rede de abastecimento, viu-se a necessidade de desenvolver um sistema de escoamento da água: foi construída uma rede de esgoto que se ligava às melhores casas da cidade. Com a decadência do Império Romano, perderam-se também muitos dos avanços sanitários conquistados na época. A situação de higiene na Idade Média foi precária: nos burgos, cidades muradas da época, as águas servidas eram descartadas simplesmente jogando-as para fora do muro . Utilizavase também o fogo como eliminação de resíduos. Os animais criados nos burgos, apesar de eliminarem de lixo orgânico, também geravam dejetos. A ação de jogar pela janela das casas as fezes foi uma prática permitida até o século XIV, e a atividade, mesmo ilícita, ocorreu até o século XVIII. Ao final da Idade Média, grandes pensadores como Leonardo Da Vinci e Victor Hugo já indicavam preocupações com a situação caótica que se encontravam as cidades medievais em relação à salubridade. De acordo com Eigenheer (2009, p. 63 ), avanços significativos podem ser detectados já a partir do século XIV em ações relacionadas à saúde pública. Em 1340, instalou-se em Praga um serviço regular de coleta do lixo e limpeza das ruas com o emprego de carroças. Bruxelas começou, em 1560, a fazer compostagem de seu lixo. A responsabilidade pela limpeza era dada, em grande parte, aos excluídos da sociedade: Berlim, em 1624, empregava prisioneiros e prostitutas nesta tarefa. Londres, em 1666, começou um serviço organizado de limpeza que contava com cidadãos sorteados, tarefa não muito bem aceita, o que fez com que o sistema não funcionasse. A cidade alemã de Lubeck foi a primeira, no início do século XIV a padronizar os vasilhames utilizados para a coleta de resíduos e instituir uma cobrança pelo recolhimento desses. Todas essas ações tiveram grande importância para a melhoria da limpeza urbana. Contudo, a situação das cidades continuava grave: a ação de jogar pela janela das casas os dejetos humanos por exemplo foi permitida em Hamburgo, Alemanha, até 1778.

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Com o surgimento da Revolução Industrial, em 1760, o crescimento acelerado das cidades trouxe ainda mais dificuldades em relação à questão sanitária e com isso, viu-se necessário grandes mudanças na limpeza urbana. Começou também um processo de valorização da qualidade da água, surgindo a necessidade de se separar esgoto de resíduos sólidos: até o século XIX não havia esta diferenciação entre lixo e esgoto, por serem coletados juntos. Neste século, inicia-se também o processo de reaproveitamento do lixo pelos catadores e a coleta seletiva, iniciada nos Estados Unidos. A destinação final dos resíduos ainda continuou precária até o século XX, sendo quase sempre despejado no mar e em rios. No início do século XX, os Estados Unidos e a Inglaterra procuraram dar destinos mais adequados ao lixo e é, ao final do século, que surgem os primeiros aterros sanitários. A destruição das cidades europeias, ocorrida na Segunda Guerra Mundial, gerou uma preocupação em relação ao desperdício, com foco na reutilização e na reciclagem. Contudo, após o fim da guerra, o incentivo do consumo em massa, como forma de reerguer economicamente as cidades, fez com que geração de resíduos sólidos se intensificasse e se modificasse em relação à complexidade da produção industrial. A destinação final do lixo continuava sendo, em sua maioria rios e mares. Porém, iniciou-se uma preocupação com a qualidade da água, desencadeando, em alguns países, medidas para mudar a gestão dos resíduos sólidos. Segundo Eigenheer (2009), um país que pode ser citado como vanguarda em relação à gestão do lixo é a Alemanha. Nesse país foi instituída, em 1972, a Lei de Tratamento de Resíduos que regulamentava os aterros sanitários, os quais tinham custos altos que eram arcados pelos cidadãos. Várias leis foram sendo criadas, voltadas para a coleta de lixo, limpeza das ruas, destinação, recuperação e não geração de resíduos sólidos. A partir de 1991, iniciou-se a obrigatoriedade de um sistema de recolhimento e aproveitamento de embalagens: ao comprar algum produto, o consumidor paga uma taxa que será reembolsada a ele quando retornar a embalagem. Inicialmente esse sistema, chamado de Sistema Dual (DSD), teve como objetivo apenas a reciclagem das embalagens. Depois percebeu-se também que essas poderiam ser utilizadas para recuperação energética com o processo de incineração. O sistema foi sendo aprimorado e funciona bem até os dias atuais. Para isso, foi necessária muita organização e fiscalização, mas principalmente esclarecer e educar para que a população entendesse a importância do aproveitamento do lixo.

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1.2.2 O Lixo na história do Brasil Durante o período da escravidão no Brasil, os escravos foram responsáveis por transportar o lixo e excrementos das residências senhoriais para o local de despejo, sendo o mar este local em cidades litorâneas. (E., 2009, p.95). As cidades, porém, eram bastante insalubres. Com a chegada da Corte no Rio de Janeiro, em 1807, a população foi proibida de jogar imundices nas ruas, tendo para este ato a punição com reclusão e multa. Em 1854, o governo imperial passou a ser responsável pela limpeza da cidade, mas não obteve grandes avanços. Durante todo este período escravos, conhecidos como “tigres”, faziam o transporte dos toneis com dejetos até as praias. Foram assim chamados, pois tinham a pele manchada pela ação da amônia presente na urina que transportavam. O grande diferencial para a cidade foi quando, em 1864, foi implementado o sistema de esgoto em uma parte da cidade, o que possibilitou que a limpeza urbana focasse em resíduos sólidos. Apesar disso, os tigres continuaram a existir até 1876, quando foi estruturado um sistema de limpeza urbana pelo empresário francês Aleixo Gary, o que deu origem ao nome “gari” utilizado até os dias atuais para se referir a pessoas responsáveis pela limpeza das cidades . O destino final dos resíduos nunca foi muito bem solucionado, tendo o país dificuldades neste quesito até hoje. Em São Paulo, no século XIX, o lixo era despejado em local pré-estabelecido próximo às residências. Esta proximidade foi considerada algo natural até meados do século XIX, quando se começou a tomar consciência de que estas práticas seriam nocivas para a saúde da população, sendo associadas a várias doenças transmitidas por ar contaminado. O primeiro Código Sanitário do Estado foi promulgado em 1894, com artigos sobre higiene e saúde pública. Em 1907, a incineração também era usada como solução para se livrar do lixo, buscando obter energia a partir deste processo, prática foi bastante comum até a década de 60. Já em 1970, o município de Caxias teve o primeiro aterro controlado do Brasil, recebendo o lixo de cidades próximas, como Rio de Janeiro. Ao longo do século XX, buscou-se obter no país novidades tecnológicas para o tratamento do lixo, por meio de usinas de triagem, onde o material orgânico pudesse ser utilizado como compostagem e o lixo seco, selecionado para a reciclagem. O século XXI teve mais avanços com relação à gestão dos resíduos sólidos no Brasil. No ano de 2010, foi promulgada a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que trouxe muitas metas para melhorias nas questões de gestão dos resíduos no país, tendo como princípio a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população. Porém, muitas das metas, que tinham como 2014 a data limite, não foram cumpridas. Por exemplo, os lixões deveriam ser fechados até 2014. Porém, apenas 58,4% das cidades tiveram a destinação do lixo adequada até esta data. Ainda há um longo caminho a percorrer até chegarmos ao melhor cenário possível em relação à limpeza das cidades. Apenas com educação, leis adequadas e preocupação de autoridades com o meio ambiente é que conseguiremos avançar nestas questões.

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1.3 A legislação brasileira atual: Política de Resíduos Sólidos

A quantidade de lixo gerada no mundo todo cresceu muito nos últimos anos em função do desenvolvimento das industrias, do incentivo ao consumo e do crescimento populacional. Em oito anos, de 2000 a 2008, houve um aumento de mais de 20% de produção de lixo e poucas melhorias no que diz respeito ao adequado manejo dos resíduos sólidos (Pesquisa Nacional de Resíduos Sólidos, 2012, p. 10). Em meio a este cenário, viu-se a necessidade de se instituir uma legislação específica que visasse combater os problemas sociais, econômicos e ambientais trazidos pelo aumento da produção de lixo e pela má gestão desse. No ano de 2010, a lei nº 12.305/10, regulamentada pelo Decreto 7.404/10, instituiu a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS). Com seus conceitos e determinações bastante atuais, esta política tem como objetivos: o incentivo à reciclagem, o reaproveitamento do lixo, a destinação adequada desse e os hábitos de consumo sustentáveis. Sendo o meio ambiente um direito de todos, um dos principais pontos dessa lei seria a criação do conceito de Responsabilidade Compartilhada pelo ciclo de vida do produto. Desse modo, a lei coloca exige de todos os brasileiros o dever de cuidar para que sejam minimizadas as consequências

Tabela 1 - Tabela sobre as mudanças previstas com a PNRS. Fonte: Cempre 2014, p. 12

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geradas pelo acumulo de lixo. Assim, fabricantes, consumidores e o poder público têm seu papel na busca por melhorias ambientais e sociais nesse quesito. Outro ponto muito importante da lei é a questão da "Logística Reversa", que se trata de um conjunto de procedimentos e ações com o objetivo de viabilizar que o retorno do lixo ao setor empresarial para que esse seja reaproveitado em seu próprio ciclo ou em outros ciclos produtivos, e caso isso não seja possível, o produto seria teria sua destinação final em um local ambientalmente adequado. Dentro da questão da logística reversa, surgem conceitos importantes como coleta seletiva, que seria a segregação de resíduos previamente, e reciclagem. A educação ambiental também tem um papel importante na PNRS. Algumas medidas a serem tomadas seriam: o apoio do poder público às universidades para elaborarem pesquisas relacionadas ao tema, a implementação de planos de produção e consumo sustentável e a capacitação de gestores públicos para gestão integrada de resíduos sólidos. A seguir, um quadro elaborado pelo CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem ) no ano de 2014 a respeito do que mudou com a lei:

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1.4 Classificação do lixo e a coleta seletiva O lixo pode ser classificado de diversas maneiras, dependendo da finalidade. Pode ser categorizado simplesmente em lixo seco e úmido. Existe também uma classificação bastante conhecida feita com lixeiras coloridos, geralmente encontradas em locais públicos, que separam os resíduos em: metais, papel, vidro, plástico e orgânico. A PNRS classifica o lixo de duas maneiras: quanto a sua origem e quanto à periculosidade do material. Já o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em sua resolução nº 307/2002, por meio da qual são estabelecidos diretrizes e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, classifica os restos da construção como classes A, B, C e D que serão explicadas abaixo. A coleta seletiva é definida pela PNRS como "coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição", isto é, a separação de materiais de acordo com sua classificação antes de chegarem a seu destino final. Essa separação é um importante instrumento dessa nova política nacional por facilitar os processos de reciclagem, pois melhora a triagem do lixo para sua reutilização. Deve-se ter atenção no sentido de que a coleta seletiva por si só não tem grande importância ambiental, ela precisa vir acompanhada de processos adequados em sua destinação final. Para um bom sistema de reaproveitamento de materiais, a coleta seletiva é essencial.

A seguir serão explicadas as classificações do lixo e como isso se relaciona com a coleta seletiva:

Lixo seco e lixo úmido A classificação do lixo mais simples e comum se dá pela separação entre lixo seco e lixo úmido, o primeiro sendo o lixo reciclável e segundo sendo o lixo orgânico e o lixo não reciclável. Essa separação pode ser feita facilmente em residências, escolas e locais de trabalho utilizando-se de lixeiras diferenciadas. Porém, algumas pessoas não sabem o que pode ser reciclado ou não, utilizando das lixeiras de maneira errada. Por exemplo, guardanapos e plástico sujos de gordura não são recicláveis e devem ser colocados no lixo úmido. Apesar de essa classificação ainda unir materiais muito diferentes, ela é bastante eficiente para o processo de triagem do lixo para a reciclagem. A lei ordinária do Rio de Janeiro nº 2.306, de 12 de abril de 1995, estabeleceu a separação obrigatória do lixo em reciclável e orgânico e determinou a utilização de sacos plásticos azuis para o que é reciclável e sacos pretos para o lixo orgânico, o que facilita a separação do lixo em seu processo de triagem.

Figura 6 - Diferenciação entre lixo orgânico e lixo seco e a utilização de sacos pretos e azuis, respectivamente. Fonte: arquivo pessoal

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Lixeiras coloridas - classificação de acordo com o material Essas lixeiras estão presentes em alguns locais públicos e têm a função de melhorar a coleta seletiva. As cores utilizadas, descritas na resolução do CONAMA nº 275, de 25 de abril de 2001, para cada material: azul para papel, vermelho para plástico, verde para vidro, amarelo para metais e marrom para orgânico. Em entrevista publicada na página da Internet G1, o professor Sandro Mancini observa que essas lixeiras teriam sido implementadas com o objetivo de trazer ao Brasil hábitos de coleta e reciclagem. Porém, segundo o professor, essas não melhoram a coleta seletiva, pois os materiais terão de ser separados novamente nas empresas de reciclagem. Além disso, o professor afirma que estes cestos seriam um gasto extra e um desestímulo à população, que ao se ver na necessidade de escolher entre várias lixeiras, opta por qualquer uma sem o cuidado necessário. Para ele, a separação entre lixo úmido e seco seria a mais eficiente.

Figura 7 - Lixeiras coloridas estão presentes em diversos locais públicos. Fonte: <https://paracatumemoria.wordpress. com/tag/coleta-seletiva/ > Acesso em 23 de maio de 2016

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PNRS - Classificação quanto à origem e quanto à periculosidade Para efeitos de lei, a PNRS classifica os resíduos sólidos, no artigo 13, de duas maneiras: quanto a origem e quanto a periculosidade. A classificação quanto a origem se dá em 10 tipos. São eles: resíduos domiciliares; de limpeza urbana; resíduos sólidos urbanos (englobados nos dois anteriores); de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços; dos serviços públicos de saneamento básico; industriais; de serviços de saúde; da construção civil; agrossilvopastoris; resíduos de serviços de transportes; resíduos de mineração. Essa classificação é importante em termos de lei para definir quem terá responsabilidade sobre o lixo gerado e como esse será tratado em sua destinação final. Em relação a classificação quanto à periculosidade, os resíduos podem ser perigosos e não perigosos. Os primeiros são "aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental " (PNRS, 2010, art.13). Já os resíduos não perigosos são os que não se encaixam na primeira categoria. Esta classificação é importante visto que há necessidade de normas específicas para tratar dos resíduos perigosos, em função dos danos e riscos que podem gerar para a sociedade. CONAMA - Classificação dos Resíduos da Construção Civil A resolução do CONAMA nº 307/2002, classifica os resíduos próprios da construção civil como classes A, B, C e D. Os resíduos tipo A são os materiais possíveis de serem reciclados na forma de agregados, tais como: lixo de construção e demolição, componentes cerâmicos e restos de fabricação de peças pré-moldadas. Os resíduos tipo B são também classificados como resíduos recicláveis, porém para outros fins que não como agregado. São eles: plástico, papel, metais, vidros, madeiras e outros. Já os resíduos tipo C são os que não possuem tecnologia para viabilizar sua reciclagem, como por exemplo o gesso. Os resíduos D são os resíduos perigosos, tais como tintas, solventes e óleos, ou os provenientes de demolição de locais como clinicas radiológicas. O artigo 4º define que os resíduos de construção não poderão ser dispostos em aterros de lixos domiciliares. Em seguida, artigo 10 dessa resolução define como devem ser tratados os resíduos de acordo com sua classe. Os resíduos tipo A devem ser utilizados como agregado ou encaminhados para um aterro específico, onde ficarão disponíveis para uma utilização futura. Os resíduos tipo B deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados para área de armazenamento temporário. Já os resíduos tipo C e D deverão ser armazenados, transportados e terem sua destinação em conformidade com normas técnicas específicas.

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1.5 Gerenciamento do lixo

Para a PNRS, os processos de gerenciamento do lixo são, em ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. A não geração e a redução são medidas ligadas à eficiência energética que podem ser associada à inovação tecnológica e à geração de novos serviços ou produtos. Um grande exemplo disso seria a redução ocorrendo nas indústrias de papel com o advento dos computadores, tabletes e celulares. A reutilização consiste no aproveitamento de produtos sem que eles sofram alterações físicas ou químicas, passando apenas por sistemas de limpeza. Para se reutilizar, é importante que o material seja possua características que possibilitem isso, como durabilidade e rigidez. Um bom exemplo de reutilização são as garrafas de vidro retornáveis. Em relação à reciclagem, como já foi dito, consiste em transformar resíduos em novos produtos, idêntico ou não ao que lhe deram origem. Alguns dos benefícios da reciclagem seriam a preservação de recursos, economia de energia, redução do volume de extração de matérias-primas e diminuição de materiais indo para aterros e lixões. A reciclagem é também um tipo de tratamento dos resíduos, sendo a compostagem e a incineração os outros modelos mais comuns no Brasil. O processo de compostagem é empregado na matéria orgânica, resultando em um composto rico em nutrientes para ser utilizado em plantações e recuperação do solo. A incineração é o processo de queima controlada do lixo em altas temperaturas, sendo necessário ter instalações bem preparadas e operadas, tendo como vantagem a redução o volume dos resíduos, porém é um sistema com alto custo de implementação, operação e manutenção. Esse tratamento pode ser feito em praticamente todos os resíduos, exceto resíduos da construção, e é o mais indicado para o lixo hospitalar ou tóxico. A disposição final ambientalmente adequada deve ser utilizada quando os outros processos de gerenciamento não são viáveis e requer uma completa neutralidade com o meio ambiente. Essa disposição seria o aterro sanitário, local composto por um complexo sistema de proteção do ar e do solo, tratamento do chorume e de gases provenientes do lixo e cobertura diária dos resíduos do com material inerte. Dessa maneira, o aterro sanitário permite a confinação segura do lixo, diminuindo a poluição ambiental e protegendo o solo, o lenços freático, as águas superficiais e a atmosfera. Outros tipos de disposição final do lixo no Brasil seriam o aterro controlado e os lixões, sendo o último o mais inadequado e poluente. Nos aterros controlados o lixo é coberto diariamente com material inerte. Normalmente esses aterros não possuem proteção do solo, causando prejuízos à natureza, e precisam ter um sistema de coleta de gases para evitar a contaminação do ar. Já os lixões, são apenas locais onde o lixo é deixado a céu aberto sem nenhum preparo do solo ou tratamento dos gases e do chorume, sendo um método inadequado e de grande prejuízo ao meio ambiente.

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1.6 Dados do lixo

1.6.1 Dados sobre o lixo no mundo O livro What a Waste de Daniel Hoornweg and Perinaz Bhada-Tata (2012) traz dados sobre o lixo no mundo. Para facilitar a análise, os autores separaram os países em quatro classes, relacionadas ao poder aquisitivo de cada um. Essas classes são: alta renda, renda média-alta, renda média-baixa e baixa renda. Ao se comparar esses grupos, é possível perceber grandes diferenças na quantidade de lixo gerada, na sua composição e em como o lixo é tratado.

A seguir um mapa explicando quais países estão em cada grupo:

Renda Baixa Renda Média-Baixa Renda Média-Alta Renda Alta Sem informação

Figura 8 - Mapa de distribuição de renda Fonte: What a Waste, 2012, p.38

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Composição do lixo em países de Baixa Renda Outro 17% Metal 3% Vidro 3%

Composição do lixo em países de Renda Média-Baixa

Em relação à média de geração de lixo por pessoa, percebemos uma grande diferença no que Outro 17% desses países: quanto maior a renda, maior a geração de lixo. A seguir diz respeito à condição financeira Metal 3% uma tabela com a quantidade de pessoas nesses grupos, a quantidade de lixo total gerada por dia e a Vidro relação esses dois fatores. 3%

Plástico 8%

Orgânico 64%

Plástico 8%

Orgânico 64%

Papel 5%

População Urbana Total

Região

Papel 5%

Outro 13% Metal 3% Vidro 5%

Orgânico 54%

Total

Por pessoa (kg/

(milhões)

hab./dia)

343

0.60

204.802

Renda média-baixa Composição do lixo em países1.293 de Alta Renda

0.78

1.012.321

Renda média-alta Outro

572

1.16

665.586

Alta renda

774

2.13

1.649.547

1.19

3.532.256

Baixa renda Composição do lixo em países de Renda Média-Alta

Geração de Resíduos Sólidos Urbanos

Total

17%

Orgânico 28%

2.982

Metal 6%

(toneladas/dia)

Tabela 2 - Mapa de distribuição de renda Vidro Fonte: What a Waste, 2012, p.11 7%

Plástico 11%

Plástico 11%

Papel 14%

Papel 31%

É interessante notar também que a composição do lixo muda de maneira significativa se comparados os grupos. A seguir, os gráficos mostram a composição do lixo no mundo e a composição do lixo de cada um dos grupos. É possível perceber que quanto maior o poder aquisitivo, maior é a quantidade de resíduos sólidos inorgânicos em relação ao total. Isso pode ser relacionado ao modo de vida e de consumo que estes países possuem. Composição do lixo Global Composição do lixo em países de Baixa Renda

Outro 18%

Composição do lixo em países de Renda Média-Baixa Outro 17%

Outro 17%

Metal 4%

Orgânico 46%

Vidro 5%

Metal 3% Vidro 3%

Metal 3% Vidro 3% Orgânico 64%

Plástico 8% Papel 5%

Papel 5%

Plástico 10% Composição do lixo em países de Renda Média-Alta

Papel 17%

Grafico 1 - Composição global do lixo Fonte: What a Waste, 2012, p.17. Editado pela autora

Orgânico 64%

Plástico 8%

Composição do lixo em países de Alta Renda

Outro 13%

Outro 17%

Metal 3% Vidro 5%

Orgânico 28%

Metal 6%

Orgânico 54%

Vidro 7%

Plástico 11%

Plástico 11%

Papel 14%

Papel 31%

Grafico 2 - Composição do lixo de acordo com a renda dos países Fonte: What a Waste, 2012, p.19. Editado pela autora

Composição do lixo Global Outro 18%

Metal 4% Vidro 5% Plástico 10%

Orgânico 46%

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Podemos observar também como os resíduos sólidos são tratados nos países. Percebe-se que nos países com alta renda, a maior parte do lixo vai para aterros, boa parte dele é reciclado ou incinerado e uma quantidade quase insignificante de resíduos vai parar em lixões. Já os países de média ou baixa renda reciclam e incineram muito pouco de seu lixo, sendo alta a taxa de utilização de lixões. A seguir, uma tabela com as principais formas de administração do lixo:

Alta renda

Renda Média- Alta

Quantidade Tratamento

(milhões de toneladas)

Quantidade Porcentagem

Tratamento

(milhões de toneladas)

Porcentagem

Lixão

0.05

0.01%

Lixão

44

32.4%

Aterros

250

42.5%

Aterros

80

58.9%

Compostagem

66

11.2%

Compostagem

1.3

0.9%

Reciclagem

129

21.9%

Reciclagem

1.9

1.4%

Incineração

122

20.7%

Incineração

0.18

0.1%

Outros

21

3.5%

Outros

8.4

6.2%

Renda Média- Baixa

Baixa Renda Quantidade

Quantidade Tratamento

(milhões de toneladas)

Porcentagem

Tratamento

(milhões de toneladas)

Porcentagem

Lixão

27

48.8%

Lixão

0.47

12.5%

Aterros

6.1

11.0%

Aterros

2.2

58.5%

Compostagem

1.2

2.2%

Compostagem

0.05

1.3%

Reciclagem

2.9

5.2%

Reciclagem

0.02

0.5%

Incineração

0.12

0.2%

Incineração

0.05

1.3%

18

32.5%

Outros

0.97

25.8%

Outros

Tabela 3 - Tratamento do lixo nos países Fonte: What a Waste, 2012, p.23. Editado pela autora

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1.6.2

Dados sobre o lixo no Brasil

Para explicar a situação do lixo no Brasil foram utilizadas informações de duas pesquisas realizadas no país. A primeira pesquisa, o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil de 2014, produzido pela ABRELPE, aponta diversos dados sobre o lixo nas regiões do Brasil, como quantidade de resíduos gerada, a abrangência da coleta de lixo, a existência de coleta seletiva na região e os tipos de destinação final mais comuns do lixo. Já segunda pesquisa, CEMPRE Review 2013, produzida pelo Compromisso Empresarial com a Reciclagem, traz dados circunstanciais e econômicos sobre a reciclagem no Brasil. A seguir, serão analisados tabelas e gráficos coletados dessas pesquisas a respeito do Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) A tabela a seguir mostra a quantidade de lixo gerado por dia nas regiões e o índice de lixo gerado por habitante por dia. É possível perceber que as regiões com os maiores índices são a Sudeste e a Centro-Oeste e a região com o menor índice é a região Sul.

2013 Regiões

2014

RSU Gerado (t/dia) / Índice (kg/hab/dia)

População Total

RSU Gerado (t/dia)

(kg/hab/dia)

Norte

15.169/0,892

17.261.983

15.413

0,893

Índice

Nordeste

53.465/0,958

56.186.190

55.177

0,982

Centro-Oeste

16.636/1,110

15.219.608

16.948

1,114

Sudeste

102.088/1,209

85.115.623

105.431

1,239

Sul

21.922/0,761

29.016.114

22.328

0,770

BRASIL

209.280/1,041

202.799.518

215.297

1,062

Tabela 4 - Quantidade de RSU Gerado e índice de lixo gerado por dia no Brasil Fonte: ABRALPE, 2014, p. 41

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Em relação à abrangência da coleta de RSU e a existência de iniciativas de coleta seletiva, os maiores índices encontram-se na nas regiões Sudeste e Sul. Já a região Nordeste está abaixo da média do país em relação às duas taxas. Diferentemente, a região Centro-Oeste está acima da média quanto à abrangência de coleta de RSU mas possui o menor índice de coleta seletiva do país.

Gráfico 3 - Índice de Abrangencia da coleta de RSU (%) Fonte: ABRALPE, 2014, p. 29

Gráfico 4 - Distribuição dos Municípios com Iniciativas de Coleta Seletiva Fonte: ABRALPE, 2014, p. 30

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A PNRS estabeleceu o ano de 2014 como prazo limite para a extinção dos lixões e a transferência dos resíduos para aterros sanitários. Apesar disso, o gráfico a seguir mostra que a relação entre a destinação final adequada e a inadequada permaneceu praticamente inalterada entre os anos de 2013 e 2014. Consideram-se destinações inadequadas os lixões e aterros controlados e destinações adequadas, aterros sanitários.

Gráfico 5 - Destinação final dos RSU Coletados no Brasil Fonte: ABRALPE, 2014, p. 30

Destinação Final

2014 – Regiões Brasil Norte

Nordeste

Centro-Oeste

Sudeste

Sul

BRASIL

Aterro Sanitário

93

455

164

820

704

2.236

Aterro Controlado

112

505

147

644

367

1.775

Lixão

245

834

156

204

120

1.559

BRASIL

450

1.794

467

1.668

1.191

5.570

Tabela 4 - Quantidade de Municípios por Tipo de Destinação Adotada – 2014 Fonte: ABRALPE, 2014, p. 43

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Em relação a composição do lixo no Brasil, o CEMPRE Review 2013, revela que o material mais descartado é a matéria orgânica, seguido de plástico e papel.

Gráfico 6 - Composição do RSU Coletados no Brasil Fonte: CEMPRE, 2013, p. 16

Com base na pesquisa da ABRALPE relacionada ao índice de reciclagem dos materiais, a reciclagem das latas de alumínio se mostra bastante significativa em relação à de alumínio no geral.

Gráfico 7 - Índices de Reciclagem Disponíveis para Alumínio, Papel e Plástico (%) Fonte: ABRELPE, 2014, p. 35

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Segundo o CEMPRE Review 2013, reciclar têm muitas vantagens economicas e o Brasil perde mais de R$ 8 bilhões anualmente ao enterrar lixo que poderia ser reciclado. A seguir duas tabelas que mostram as vantagens economicas da reciclagem. A primeira mostra que todos os tipos de reciclagem trazem grandes benefícios econômicos. A segunda mostra a relação entre o custo de produção da matéria-prima virgem e o da matéria-prima reciclada.

Gráfico 8 - Benefícios diários da reciclagem Fonte: CEMPRE, 2013, p. 24

Gráfico 9 - Custos de produção - comparação entre a matéria-prima virgem e a matéria-prima reciclada Fonte: CEMPRE, 2013, p. 24

A Utilização do Lixo na Construção Civil | 33


Capítulo 2

A reciclagem de materiais e sua utilização na construção civil

O capítulo anterior teve como objetivo apresentar dados e explicar de maneira geral o lixo, a reciclagem e a sustentabilidade. Já no presente capítulo pretende-se aprofundar um pouco mais na questão da reciclagem, explicando como essa se dá dentro de sete grupos: papel, plástico, metais, vidro, resíduos orgânicos, de demolição e pneus. Dentro desses grupos, serão exempli cados alguns modelos de reciclagem que têm com foco a utilização na construção civil. Alguns dos materiais já estão sendo comercializados e utilizados, outros ainda estão em fase de testes e aperfeiçoamento e há também aqueles que tiveram apenas algumas experiências e não foram mais utilizados.

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2.1 Reciclagem de papel O papel é um material que está presente na vida dos seres humanos desde a antiguidade, com o papiro egípcio, e evoluiu para os dias de hoje em diversos tipos e utilidades. A papéis são feitos de celulose, matéria presente em troncos de árvores e, no Brasil, a espécie mais utilizada é o eucalipto. A produção de papel no Brasil em 2013 foi de 10,4 milhões de toneladas (ABRALPE,2014,p. 106) e, nesse mesmo ano, 13,1% de todo o resíduo sólido brasileiro foi composto desse material (CEMPRE, 2014, p. 16) . Em relação à reciclagem, a taxa de recuperação alcançada pelo Brasil foi de 45,7%5 ; é possível perceber países com taxas mais elevadas que o Brasil, como Coréia do Sul e Alemanha, com 91,6% e 84,8% respectivamente, e países com taxas mais baixas como Rússia e Índia, com 36,4% e 25,9% respectivamente (ABRALPE,2014,p. 107) . Dados do CEMPRE 2014 mostram que o custo da matéria-prima virgem para a fabricação do papel é quase o dobro do custo da matéria-prima reciclada e que o benefício diário da reciclagem seria maior que 300 mil reais. Além da questão econômica, reciclar papel também tem vantagens sociais, pela geração de empregos, e vantagens ambientais, pela economia de madeira, energia e água: segundo a Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, 1 tonelada de papel reciclado evita o corte de 15 a 20 árvores, economiza 50% de energia elétrica e 10 mil m³ de água. A maior parte dos papéis utilizados podem ser reciclados. Porém, não são recicláveis papeis combinados com outros materiais, como plastificados, metalizados e adesivos, ou papeis sujos de gordura e de alimentos. A reciclagem de papel normalmente gera um produto com qualidade inferior ao primeiro, podendo ser considerado um exemplo de downcycling. Os produtos que podem ser feitos com papel reciclado seriam por exemplo guardanapos, papéis de embrulho, sacolas, embalagens para ovos e frutas, caixas de papelão e papel jornal. Existe também o papel reciclado para impressão, utilizado por exemplo em cadernos e materiais de escritório, o qual é obtido a partir de uma seleção rigorosa da matéria prima, podendo chegar a preços mais altos que um papel comum. Com relação ao papelão, trata-se de um papel especial com alta resistência, muito utilizado como embalagem e feito com três camadas: duas externas e uma central ondulada. A reciclagem do papelão normalmente se dá utilizando as fibras de melhor qualidade no exterior e as fibras com menor qualidade para a fabricação do papel ondulado. A reciclagem dessas embalagens no Brasil já é usual entre os supermercados e atacadistas, que ao receberem mercadorias já devolvem desmontadas as caixas utilizadas anteriormente. (RECICLOTECA) A seguir serão exemplificados três métodos de reciclagem de papel para a utilização na indústria de construção. O primeiro exemplo, a respeito de tubos de papel, foi escolhido pela representatividade do arquiteto pioneiro da técnica, Shigeru Ban. O segundo exemplo, que se utiliza de papelão, foi escolhido por seu design diferenciado. Já o terceiro, pelo seu conceito diferenciado do retorno do papel ao material de origem: a madeira.

5 A taxa anual de papéis “é obtida pela divisão da taxa de recuperação de papéis recuperáveis (com potencial de reciclagem) pela quantidade total de papéis recicláveis consumidos no mesmo período”. (Abralpe, 2014, p. 107

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2.1.1 Tubos de papelão - Shigeru Ban O arquiteto japonês Shigeru Ban é mundialmente reconhecido por utilizar materiais alternativos como os tubos de papelão (PICCOLI, 2013, p.45). Segundo Ban, ele começou a utilizar esta técnica em 1986, quando ainda não se falava de temas ambientais na arquitetura. Para ele não foi uma estratégia comercial ou ambiental, mas por se tratar de um material reciclável que poderia voltar a ser utilizado. Para serem aplicados na construção, os tubos de papelão são cobertos poliuretano, uma substância que os torna resistentes à água e ao fogo. O arquiteto declarou que "a força do edifício não tem nada a ver com a força do material" (JAPANTIMES, 2013), ressaltando que os edifícios de papel poderiam ser resistentes até a terremotos. Shigeru Ban participou de muitos projetos humanitários de assistência após desastres ambientais. Nesses o arquiteto utilizou além do papelão, outros materiais reciclados existentes no local, como por exemplo, o aproveitamento de engradados de plástico para transporte de garrafas como “fundação” ou base para a elevação do solo dos abrigos temporários (Figura 11).

Figura 9 - Christchurch, New Zealand, 2013. A catedral de papelão é uma das mais famosas construções de tubos de papel do arquiteto. Foi construída após um terremoto que destruiu a antiga igreja, que era muito importante para a cidade. Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/01-144107/premio-pritzker-2014-novas-fotos-da-catedral-de-papelao-de-shigeru-ban-na-nova-zelandia/5217f9e7e8e44e4 5fc00000f> Acesso em 18 de maio de 2016

Tubos de papelão Material utilizado Papelão Designer/Empresa Shigeru Ban Local e ano de inicio Japão, 1986 Aplicações Estrutura, vedação, isolamento

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Figura 10 - Paper House, Japão, 1995 Primeiro edifício de papel com autorização para ser uma estrutura permanente. Utilizou 110 tubos de papel Fonte: < http://www.shigerubanarchitects.com/works/1995_paper-house/index.html> Acesso em 18 de maio de 2016

Figura 11 - Paper Log Houses, Japão, 1995 - Dentre os projetos humanitários do arquiteto, encontram-se estas casa construídas em Kobe após um terremoto que destruiu a cidade. As paredes estruturais são feitas de tubos de papel e a fundação de caixas de cerveja com terra. Fonte: <http://www.shigerubanarchitects.com/works/1995_paper-log-house-kobe/index.html> Acesso em 18 de maio de 2016

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2.1.2 Papelão - Corrugated Cardboard Pod Em 2001 membros do Rural Studio, canteiro experimental da Universidade de Auburn (Alabama, EUA), construíram uma casa protótipo utilizando papelão como material: a Corrugated Cardboard Pod (tradução livre: “Cápsula de papelão” O papelão é prensado para se produzir blocos regulares, que são unidos com uma mistura de cimento e terra. Sua capacidade estrutural possibilitou que o material fosse utilizado tanto como parede estrutural quanto fundação. Além disso, os blocos foram utilizados também como isolante e acabamento, ao mesmo tempo. A casa deveria ser temporária, mas dura até hoje como objeto de estudo dos alunos. As paredes ainda estão preservadas.

Figura 12 - Casa protótipo de papelão, localizada no canteiro experimental da Universidade de Auburn. Fonte: <http://www.ruralstudio.org/projects/corrugated-cardboard-pod> Acesso em 17 de maio de 2016

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Corrugatered Cardboard Pod (“Capsula de papelão”) Material utilizado Papelão Designer/Empresa Rural Studios – Universidade de Auburn Local e ano de início Estados Unidos, 2001 Aplicações Estrutura, vedação, isolamento

Figura 13 - Processo de construção da casa protótipo em 2001. Fonte: <http://www.ruralstudio.org/projects/corrugated-cardboard-pod> Acesso em 17 de maio de 2016

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2.2.3 Jornal – NewspaperWood A designer holandesa Mieke Meijer junto com a empresa Vij5 desenvolveram o que eles chamam de NewspaperWood, ou "madeira de jornal" (tradução livre). Segundo Mijer (2007) o NewspaperWood seria o reverso do processo de produção tradicional: não da madeira para o papel, mas do papel (jornal) para a madeira. Sendo assim, esse projeto tem o objetivo de converter jornais antigos em um produto com propriedades semelhantes às da madeira. Para isso, várias folhas são coladas umas nas outras e enroladas de forma radial, de maneira que se pareçam um tronco de árvore. Quando cortado, o "tronco" lembra os anéis de crescimento de uma árvore. Além de poder ser cortado, o NewspaperWood pode ser perfurado, pregado e lixado, sendo tratado da mesma maneira que uma madeira. Como as madeiras, esse material também pode ser selado para se tornar impermeável. O produto pode ser aplicado como acabamento. O objetivo da designer seria introduzir uma nova alternativa de reciclagem de jornais, de modo a transformar lixo em algo com valor, utilizado em um contexto diferente. Meijer (2007) sugere que o material, após o seu uso na construção, possa voltar ao ciclo de reciclagem. Para isso, a cola utilizada não pode possuir solventes.

Figura 14 - NewspaperWood e seus subprodutos podem ser reintroduzido em um sistema de reciclagem de papel existente , uma vez descartado. 1. produção de papel; 2. jornal; 3. NewspaperWood (“Jornal madeira”); 4. reciclagem de papel; 5. celulose recuperada; 6. celulose nova. Fonte: Building From Waste, 2014,p. 46

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Figura 15 - Móveis feitos com Newspaperwood e textura Fonte: <http://vij5.nl/portfolio/framed-coloured-newspaperwood/> Acesso em 19 de maio de 2016

NewspaperWood (“Madeira de jornal”) Material utilizado Jornal Designer/Empresa Meike Meijer e Vij5 Local e ano de início Holanda, 2007 Aplicações Acabamentos

Figura 16 - As folhas de jornal são enroladas, coladas e cortadas da maneira que quiser. Fonte: <http://vij5.nl/portfolio/framed-coloured-newspaperwood/> Acesso em 19 de maio de 2016

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2.2 Reciclagem de Plástico

O plástico é um material relativamente novo se comparado ao vidro e ao papel: o primeiro plástico sintético foi desenvolvido no início do século XX (RECICLOTECA). Esse material é produzido a partir de processos petroquímicos e têm sido muito utilizados em suas mais variadas formas. O consumo de plástico no Brasil atingiu, em 2014, 7,24 milhões de toneladas (ABRALPE,2014, p. 106) e representa 13,5% do lixo gerado no país (CEMPRE, 2014,p. 16). Segundo análise de dados do CEMPRE 2014, o custo de produção de um plástico reciclado corresponde a 35% o valor do plástico virgem e o benefício diário da reciclagem desse pode chegar a 600 mil reais por dia. Além disso, a reciclagem de 100 toneladas de plástico evita a extração de 1 tonelada de petróleo. (SMASP). Também, é de grande importância ambiental que esse material seja reaproveitado, o plástico demora vários anos para se decompor. Os plásticos se dividem em dois grupos: os termoplásticos e os termorrígidos. O primeiro grupo, que corresponde a maior parte do que consumimos, compreende os materiais que amolecem ao ser aquecidos, podendo mudar de forma. Essa propriedade permite que eles sejam reciclados várias vezes a exemplo as garrafas PET, saco plásticos, tubos PVC e copos descartáveis. Fazem parte do segundo grupo os materiais que não derretem quando aquecidos, impossibilitando sua reciclagem de maneira convencional. São exemplos desse material os interruptores, teclados de computador e telefones. A seguir serão exemplificados três métodos de reciclagem de plástico para a utilização na construção civil. O primeiro exemplo chama Recy Blocks e foi escolhido por aproveitar sacolas plásticas, um material muito utilizado e descartado, e por sua estética e translucidez. O segundo material, ByFusion Bricks, foi escolhido pela possibilidade da utilização de vários tipos de plástico, sem a necessidade de passar por processos de triagem. Já o terceiro material, Polli-Bricks, necessita de um processo de triagem anterior pois são utilizadas apenas garrafas PET, mas foi escolhido por transformar as garrafas usadas e novas garrafas função diferente do convencional.

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2.2.1 – Sacola Plástica – Recy Blocks A designer holandesa Gert De Mulder desenvolveu em 2010 o que ela chamou de Recy Blocks, (“Blocos Recy”) que seriam blocos feitos com polietileno descartado, material encontrado em sacolas plásticas. As sacolas são colocadas em um molde, onde são aquecidas e comprimidas para se formar um bloco sólido retangular. Dentro dos moldes pode-se utilizar também outros materiais sintéticos recicláveis como decoração. Os blocos são unidos com tubos de metal de maneira que pode ser rotacionado, abrindo ou fechando as paredes (Figuras 19 e 20). Este material é impermeável, podendo ser utilizado tanto em um ambiente interno como externo. Além disso, dependendo do tipo de sacola utilizado podem ser translúcidos. Os blocos não são resistentes o suficiente para serem utilizados como paredes estruturais, mas podem ser aproveitados como paredes divisórias, além da utilização na fabricação de móveis e luminárias.

Figura 17 - Os Recy Blocks são translucidos, podendo ser utilizados em luminárias Fonte: <http://gert.tv/?p=512> Acesso em 19 de maio de 2016

Recy block (“Bloco Recy”) Material utilizado Sacola Plástica Designer/Empresa Gert de Mulder Local e ano de início Holanda, 2010 Aplicações Acabamento, autoportante

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Figura 18 - Parede de Recy Blocks Fonte: <http://inhabitat.com/recy-blocks-made-from-old-plastic-bags/> Acesso em 19 de maio de 2016

Figura 19 - Os Recy Blocks são unidos por tubos de metal Fonte: Building From Waste, 2014, p. 121

Figura 20 - O modo como os blocos são unidos da mobilidade a eles Fonte: Building From Waste, 2014, p. 120

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2.2.2 - Qualquer tipo de plástico - ByFusion Bricks ByFusion é uma tecnologia utilizada pela empresa de mesmo nome localizada nos Estados Unidos. Segundo o site da companhia seu objetivo de "colocar todo o plástico descartado para trabalhar permanentemente" foi alcançado com o maquinário, inventado e desenvolvido pelo engenheiro neozelandês Peter Lewis, que transforma qualquer tipo de plástico em um bloco de construção. Para isso, a empresa conta com um processo de produção que começa cortando em tiras todo tipo de plástico recebido Em seguida esse é lavado e colocado em um molde, onde seca e é comprimido com ar quente. Depois o material é resfriado e em seguida transferido para uma câmara de fusão, onde sofre pressão e aquecimento até se tornar um bloco maciço. O produto passa novamente por todo o processo e está pronto. (Figura 20) O design do bloco faz com que ele funcione como uma espécie de Lego, podendo ser encaixados uns nos outros, dispensando-se assim o uso de cola para uni-los. Porém, para aumentar sua resistência e a coesão entre os blocos, é geralmente utilizada uma barra de aço vertical (Figura 21). O material pode ser aproveitado com função estrutural e possui bom isolamento térmico e acústico.

Figura 20 - Processo de produção do ByFusion Bricks: 1. resíduos de plástico retalhados; 2. máquina de lavar ; 3. secadora; 4. silo; 5. material é pressionado; 6. correia transportadora; 7. câmera de fusão; 8. arrefecimento. 9 material é pressionado para sair da forma; 10 molde de recuperação; 11 Byfusion Bricks Fonte: Building From Waste, 2014, p. 120

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Figura 21 - Os blocos são unidos por uma barra de aço vertical Fonte: Cena do video Byfusion Building Example disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=4Wr0zjCxBy8> Acesso 20 de maio de 2016

Figura 22 - Parede feita de ByFusion Bricks; a parede pode ser revestida de maneira semelhante a uma parede comum de tijolos Fonte: <http://www.byfusion.com/gallery/> Acesso em 20 de maio de 2016

ByFusion Bricks (“Tijolos Byfusion”) Material utilizado Qualquer tipo de plástico Designer/Empresa Peter Lewis, ByFusion Local e ano de início Nova Zelandia, 2010 Aplicações Acabamento, autoportante

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2.2.3 – Garrafas PET - Polli-Bricks As Polli-Bricks ("tijolos de garrafas") são garrafas que foram projetadas e produzidas pela empresa tailandesa Miniwiz em 2010 para construir o pavilhão EcoARK para Exposição Internacional Flora em Taipei (Figura x) Essas garrafas foram fabricadas 100% com a reciclagem de garrafas PET convencionais e moldadas de modo a encaixarem-se perfeitamente umas às outras, de maneira que lembra uma colmeia (Figura y). O processo de produção da Polli-Brick se dá primeiramente coletando garrafas PET e retirando seus rótulos. Depois essas são trituradas e derretidas. O material é colocado em um molde e resfriado, tendo como resultado uma cápsula plástica e essa entra em uma câmara, onde será preenchida com ar quente até se moldar ao formato da Polli-Brick. As Polli-Bricks podem ser utilizadas como garrafas normais e após o seu uso serem levadas para a construção. Para serem aproveitadas na como elemento construtivo, essas garrafas produzidas têm que ter uma maior resistência que as garrafas convencionais. Elas são colocadas em uma tela própria que dá força ao edifício, podendo suportar uma carga leve, como de telhados, por exemplo.

Figura 23 -Edifício EcoARK, Tailandia, 2010. Foram utilizadas 1.5 milhão de garrafas no prédio Fonte: <http://www.miniwiz.com/miniwiz/en/projects/archi/ecoark> Acesso em 20 de maio de 2016

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Figura 24 - Ciclo de vida da POLLI-Brick: Reciclar, remodelar, montar, criar módulos, construir. Fonte: POLLI-Brick, Your Trash Our Building Material, 2010, p. 03

Figura 25 - O formado das POLLI-Bricks permite que elas se encaixem. Fonte: Building From Waste, 2014, p. 136

Figura 26 - Garrafa POLLI-Bricks Fonte: Building From Waste, 2014, p. 137

POLLI-Brick (“Tijolos de garrafas”) Material utilizado Garrafas PET Designer/Empresa Miniwiz Local e ano de início Tailândia, 2010 Aplicações Estrutura, revestimento

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2.3 Reciclagem de metais

O primeiro metal descoberto foi o cobre, ainda na pré-história, e com ele foi possível desenvolver ferramentas mais eficientes que a pedra (RECICLOTECA). Suas propriedades como ser sólido, opaco, condutor de eletricidade, brilhoso e a possibilidade de ser moldado facilmente ao ser aquecido fizeram com que esse material a utilização do metal desenvolvesse e nos dias atuais é possível encontra-lo em vários objetos, como utensílios domésticos, embalagens e automóveis. Existem 68 tipos de metais, sendo os mais conhecidos e utilizados o ferro, cobre, estanho, chumbo, ouro e a prata. Os metais podem ser divididos em dois grandes grupos: os ferrosos e os não ferrosos. Os materiais ferrosos compreendem o ferro e o aço, utilizados em latas de alimento, ferramentas e na construção civil. Os metais não ferrosos seriam o alumínio, presente em latas de bebida, o cobre, em cabos telefônicos, e os metais pesados (chumbo, níquel, zinco e mercúrio) em baterias e lâmpadas. O aço reciclado mantém suas propriedades como dureza e resistência, podendo retornar ao mercado como o produto que foi ou na forma de outros materiais e por inúmeras vezes. Porém, se lançado na natureza, o aço sofre processo de oxidação em aproximadamente 3 anos. O índice de reciclagem de latas de aço no Brasil em 2012 foi de 47% (RECICLOTECA). O alumínio, assim como o aço, pode ser reciclado por inúmeras vezes. A ABRALPE (2014) afirmou que a reciclagem de alumínio no Brasil em 2012 foi de 35,2% do consumo doméstico registrado no período, acima da média mundial de 30,1%, mas abaixo de países como Itália e Reino Unido que reciclaram mais de 50%. Já em relação à área específica das latinhas de alumínio, o Brasil é líder mundial na taxa de reciclagem, com 97,9% em 2012. Isso quer dizer que quase todas as latinhas utilizadas no país são recicladas. A reciclagem de metais traz grandes benefícios econômicos e ambientais. Segundo a SMASP (2013), 1 tonelada de alumínio reciclado evita a extração de 5 toneladas de minério, 100 toneladas de aço reciclado poupam 27kWh de energia elétrica e 5 árvores usadas como carvão no processamento de minério de ferro. Além disso, o alumínio reciclado custa 55% do preço do alumínio novo. A seguir será exemplificado um método de reciclagem de alumínio para a construção civil, o Stabilized Aluminium Foam, interessante pela diversidade estética que se pode alcançar.

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2.3.1 – Alumínio - Stabilized Aluminium Foam (SAF) Stabilized Aluminium Foam (SAF) é um material criado em 2001 pela empresa Alusion. Este produto utiliza alumínio reciclado e tem uma grande variedade de possíveis aplicações na arquitetura. Para a sua produção, é necessária alta tecnologia. O alumínio coletado deve ser aquecido acima da temperatura de fusão e colocado em uma forma, onde será injetado ar no material. As bolhas fazem com que o produto se transforme em uma espécie de espuma, que é transferida para outro recipiente onde será resfriada e solidificada em placas. Essa placa de "esponja metálica" está pronta para ser utilizada e pode ser cortada em diversos tamanhos. A superfície do material ainda pode ser submetida a outros processos de tratamento, melhorando a sua aparência. Além de possuírem uma aparência única, as placas de SAF têm tem ótimo isolamento térmico e acústico e resistência ao fogo. Deste modo, torna-se bastante interessante sua utilização como revestimento.

Figura 27 - SAF utilizado como revestimento em templo evangélico em Terrassa, Espanha. Fonte: <http://www.archdaily.com/294255/evangelical-temple-in-terrassa-oab> Acesso em 21 de maio de 2016

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Figura 28 - Algumas das possíveis versões de placas SAF. Da esquerda para a direita: células grandes, células médias e células pequenas Fonte: <http://www.alusion.com/index.php/products/alusion-versions> Acesso em 21 de maio de 2016

Figura 29 - Placa de SAF utilizada em banheiro. Fonte: <https://uk.pinterest.com/AlusionAlumFoam/> Acesso em 21 de maio de 2016

Stabilized Aluminium Foam - SAF (“Esponja de alumínio estabilizada”) Material utilizado Alumínio

Designer/Empresa

Cymat Technologies Alusion

Local e ano de início

Canadá, 2002

Aplicações

Acabamento, isolamento térmico e acústico

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2.4 Reciclagem de vidro

Conta-se que o vidro foi descoberto há milhares de anos por navegadores que perceberam a reação da areia com as conchas (calcário) ao fazerem uma fogueira próximo a elas. Existem registros da utilização do vidro datados de 7.000 a.C (RECICLOTECA) e até os dias atuais a matéria prima para a fabricação desse sempre foi a mesma: uma maior parte de areia e em menores quantidades calcário, barrilha (carbonato de sódio), alumina (óxido de alumínio) e corantes. Existem muitos tipos de vidro formados pelos mesmos materiais em combinações diferentes para determinadas funções. Esses materiais podem ser divididos em cinco grandes grupos: o vidro para embalagens, usado em garrafas e potes; o vidro plano, usado em janelas e espelhos; o vidro doméstico, utilizado em travessas e copos; as fibras de vidro, utilizadas para fazer tecidos e produtos de isolamento; os vidros técnicos, utilizados em lâmpadas, tubos de TV e vidros para laboratório. Uma das vantagens da utilização do vidro é o fato de ele ser 100% reciclável, sendo possível a sua utilização infinitas vezes sem a perda de sua qualidade ou pureza. No processo de reciclagem o vidro é separado por cor e tipo, então é triturado e os cacos são misturados com produtos virgens para obter o vidro reciclado. Os benefícios da reciclagem do vidro são: economia energética para a fabricação, visto que a temperatura de fusão do vidro reciclado é menor que do vidro comum; economia de água; maior durabilidade dos fornos; economia de gastos com extração e transporte dos minérios. Além disso, o vidro é um material de extrema dificuldade de decomposição, existindo estudos que afirmam que demoraria 1 milhão de anos para se decompor. Sendo assim, colocar vidro em aterros e lixões seria apenas ocupar espaço com um material que poderia estar sendo utilizado. Porém, segundo o CEMPRE (2014) a taxa de recuperação de vidro no Brasil é de aproximadamente 50%. A seguir serão exemplificados dois métodos de reciclagem de vidro para a utilização na indústria de construção. O primeiro exemplo, o FOAMGLAS, foi escolhido por fazer, com cacos de vidro e carbono, um material diferente do vidro convencional. Já o segundo modelo, a World Bottle, foi escolhido por seu conceito diferenciado em pensar na garrafa como material de construção a partir do design da mesma, que poderia ser utilizada como tijolos após seu uso convencional.

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2.4.1 – Vidro - FOAMGLAS FOAMGLAS é uma espécie de vidro celular produzido pela empresa Pittsburgh Corning desde 1942. Este é um material com ótimo isolamento térmico feito a partir de vidro reciclado, proveniente de para-brisas de automóveis, com adição matérias-primas naturais como areia, cal, dolomita e óxido de ferro. Para sua produção, o vidro obtido é misturado com as matérias-primas citadas acima, moído, misturado com uma pequena quantidade de carbono e colocado em moldes de aço. Em seguida o pó de vidro é aquecido em um forno onde o vidro e expandido, de maneira que finas células de ar emergem, sendo mantidas em um processo de arrefecimento controlado (figura y). A sua estrutura celular hermeticamente fechada, com milhões de pequenas células de vidro, faz com que o novo material tenha características muito diferentes do material do qual é proveniente, perdendo até uma das propriedades mais exploradas do vidro: a transparência (Figura x). Por outro lado, este processo dá ao material boa resistência à compressão e ao fogo, além de bom isolamento e impermeabilidade, possibilitando a aplicação desse em fachadas, pisos, paredes divisórias e coberturas.

Figura 30 - FOAMGLASS utilizado na fachada do restaurante. Fonte: <http://www.ribaproductselector.com/foamglas/5864/overview.aspx> Acesso em 21 de maio de 2016

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Figura 31 - O pó de vidro misturado com carbono expante ao ser aquecido Fonte: Building From Waste, 2014, p. 108

Figura 32 - Placa de FOAMGLAS Fonte: <http://uk.foamglas.com/en/building/products/product_overview/ foamglas_slabs/#1-1-1> Acesso em 21 de maio de 2016

Figura 33 - FOAMGLAS sendo aplicado em como piso Fonte: Building From Waste, 2014, p. 109

FOAMGLAS Material utilizado

Vidro de para-brisas de automóveis

Designer/Empresa

Pittsburgh Corning Bélgica, 1942 Revestimento, isolamento

Local e ano de início Aplicações

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2.4.2 – Garrafa de vidro - World Bottle (WOBO) Em 1963, Alfred Henry Heineken, dono da fábrica de cervejas Amsterdam Heineken, em uma viagem à ilha de caribenha Curaçao, percebeu a quantidade de garrafas de cerveja usadas sujando as praias e a escassez de materiais de construção na ilha. Teve então, ideia de juntar esses dois problemas em uma solução: buscar um método para transformar as garrafas de vidro utilizadas em algo útil para a população. O arquiteto John Habraken foi contratado para repensar o formato das garrafas, de maneira que, após serem utilizadas, essas pudessem se tornar material de construção. Habraken projetou então uma garrafa com um formato quadrado que, colocada na horizontal, funcionasse de maneira semelhante a um tijolo. Essas garrafas possuem uma textura especial para aumentar a aderência umas às outras e seu fundo tem uma entrada na qual se encaixa perfeitamente o gargalo de outra garrafa. A garrafa foi produzida em dois tamanhos, 330 ml e 500 ml e foi chamada de World Bottle (WOBO). Como elas não poderiam ser quebradas para formar portas, janelas e cantos, a ideia seria que cada camada fosse feita de maneira invertida à camada anterior. Este material não se trata de reciclagem, mas sim de reutilização, visto que não haveria mudanças físicas no produto. Na época foram produzidas 60 mil garrafas WOBO e a empresa construiu uma pequena casa experimental com essas, a qual foi monitorada durante alguns anos pela equipe da empresa. Apesar dos resultados promissores do material, nenhuma garrafa nunca foi utilizada com cerveja: a equipe de marketing julgou que o design não seria favorável à marca. Hoje, a única coisa que permanece desta iniciativa é uma parede de garrafas localizada do Museu da Heineken em Amsterdam (Figura x).

Figura 34 - Parede de WOBO localizada no Museu da Heineken em Amsterdam Fonte: <http://laughingsquid.com/heineken-wobo-a-beer-bottle-brick-for-buildingeco-homes/> Acesso em 21 de maio de 2016

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Figura 35 - Garrafas WOBO Fonte: <http://laughingsquid.com/heinekenwobo-a-beer-bottle-brick-for-building-ecohomes/> Acesso em 21 de maio de 2016


Figura 36 - Casa protótipo construída proxima a Amsterdã em 1965 Fonte: <http://inhabitat.com/heineken-wobo-the-brick-that-holds-beer/heineken-wobo-brick-house/> Acesso em 21 de maio de 2016

Figura 37 - Desenhos ilustrando o funcionamento das garrafas Fonte: Building From Waste, 2014, p. 133

World Bottle (“Garrafa Universal”) Material utilizado

Garrafa de vidro

Designer/Empresa

Heineken

Local e ano de início

Holanda/1973

Aplicações

Autoportante, Isolamento

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2.5 Reciclagem de Matéria Orgânica

Resíduos orgânicos seriam os resíduos de origem animal ou vegetal. Esses resíduos estão presentes em todos os locais e são gerados por todos os seres vivos: um animal quando se alimenta gera resíduos orgânicos, uma árvore quando perde suas folhas também. A matéria orgânica é responsável por mais de 50% do lixo gerado no Brasil (CEMPRE, 2014, p. 16) . Este resíduo é gerado tanto pelo que não consumimos normalmente, como cascas de frutas, quanto pela imensa quantidade de alimentos desperdiçados em locais de colheita e restaurantes. O processo de reciclagem da matéria orgânica mais conhecido seria a compostagem: a reciclagem na natureza. Na natureza, toda a matéria orgânica perdida é reabsorvida para o solo e utilizada para alimentar plantas, formando um ciclo infinito. A compostagem é o processo de transformação do lixo em adubo para ser utilizado em hortas, jardins e até grandes plantações com o objetivo de melhorar a terra. Porém, tanto no Brasil quanto em outros países, as taxas de compostagem são muito baixas. Nem tudo pode ser compostado. Os materiais orgânicos que não podem ir para a compostagem são: fezes e urina humana, madeira tratada com pesticidas, sementes, poda de vegetais doentes, ossos, restos de carne vermelha ou branca e alimentos cozidos e salgados (RECICLOTECA). Desta maneira, para se ter um processo de compostagem adequado e com grande abrangência seria necessário uma separação prévia do lixo em sua fonte geradora. Este Ensaio trará a seguir uma segunda maneira de reciclar um tipo de matéria orgânica tão comum no dia a dia das pessoas: a borra de café. Este material, que pode ser compostado até o coador utilizado, foi destinado à área de decoração.

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2.5.1 Café - Decafé Pensando na quantidade de situações cotidianas que envolvem café e na quantidade de grãos desperdiçados todos os dias, o designer espanhol Raúl Laurí teve a ideia de criar luminárias feitas de grãos de café jogados fora. Esta ideia, denominada pelo designer Decafé, deu a ele o Prêmio Salone Satellite 2012 em Milão. Segundo Raul, o processo de produção do material é bem simples: se mistura os grãos de café com um aglutinante natural e esta substância é submetida a alta preção e temperatura, que possibilita a transformação do café em um material com consistência o suficiente para ser aplicado em diversos produtos. O designer teve o cuidado em seus experimentos para que o produto final não perdesse a coloração e o odor natural do café. Além das luminárias, foram desenvolvidos também potes, molduras e até joias com o café. Na área da arquitetura, foi desenvolvida recentemente uma placa de café, ainda não está disponível no mercado. Esta poderia ser utilizada para revestimento de paredes, tendo várias possibilidades de aplicação, apesar de não ser resistente à água.

Figura 38 - Placas de Decafé para serem utilizadas como revestimento Fonte: <http://www.textura.com.au/blogs/news/9860178-tiles-by-decafeDe> Acesso em 21 de maio de 2016

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Figura 39 - Catálogo de objetos Decafé Fonte: <https://issuu.com/decafe2014/docs/catalogue_decafe2015_hd> Acesso em 21 de maio de 2016

Figura 40 - Lustre Decafé Fonte: <https://issuu.com/decafe2014/docs/catalogue_decafe2015_hd> Acesso em 21 de maio de 2016

Figura 41 - Anéis Decafé Fonte: <https://issuu.com/decafe2014/docs/catalogue_ decafe2015_hd> Acesso em 21 de maio de 2016

Decafé Material utilizado

Café

Designer/Empresa

Raúl Laurí Itália, 2012 Revestimento, Objetos

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2.6 Reciclagem de Entulho

Entulho é o nome que se dá aos resíduos de construção e demolição, que consistem em concreto, estuque, telhas, metais, madeira, gesso, aglomerados, pedras, carpetes, e outros. O entulho muitas vezes é gerado por falhas na gestão da construção, podendo ser, por muitas vezes, dado como desperdício. Segundo a resolução do CONAMA nº307/2002, os resíduos de construção não podem ser jogados em aterros sanitários comuns e os construtores são responsáveis pelo adequado direcionamento destes resíduos. As propriedades destes materiais possibilitam sua aplicação em outras áreas da construção. Por exemplo, o entulho pode ser triturado e utilizado em pavimentação de estradas, enchimento de fundações e agregados. A reciclagem dos materiais tem o potencial de tornar a obra mais barata: a produção de agregados com base no entulho pode gerar economias de mais de 80% em relação aos preços dos agregados convencionais (RECICLOTECA). As vantagens ambientais também são significativas por esse tipo de resíduo gerar grande impactos ambientais.

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2.6.1 Entulho - StoneCycling Em 2012, o designer Tom van Soest percebeu que o material perdido em demolições e desperdícios na construção de edifícios era pouco reciclado, e quando ocorria, era de maneira downcycle, isto é, se tornava algo com menos valor e qualidade. Visando desenvolver um material que aumentasse o valor deste lixo, Soest focou seu projeto de graduação em transformar estes resíduos em material de construção. Seu projeto foi denominado StoneCycling ("Ciclo da Pedra") e em 2013 foi fundada uma empresa com o mesmo nome para evoluir e produzir esta ideia. O nome do produto se deu da ideia do designer de buscar uma transformação circular do setor de construção: o edifício volta a ser material de construção que volta a ser edifício. O processo de produção se resume em colocar os materiais como vidro, concreto, tijolos e cerâmica em um "liquidificador" especial produzindo um pó que será cozido e transformado em um novo material. Não é necessário adicionar materiais de artificiais de ligamento nem aditivos. A empresa desenvolveu diversas "receitas" diferentes para seus produtos, criando uma vasta variedade de possibilidades deste material, podendo ter diferentes formatos, texturas, cores e a diferentes resistências. Este material é a prova d'água, podendo ser utilizado em telhados, pisos e paredes como acabamento ou vedação

Figura 42 - The True Talker - Pavilhão temporário construído Studio Nine Dots, Amsterdã, 2016 Fonte: <http://www.studioninedots.nl/projects/truetalker?h=3> Acesso em 21 de maio de 2016

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Figura 43 - Alguns de Stonecycling Fonte: <http://www.stonecycling.com/wastebasedbrick/> Acesso em 21 de maio de 2016

Figura 44 - Máquina desenvolvida por Tom van Soest para reciclar produtos de demolição Fonte: Building From Waste, 2014, p. 133

Figura 45- Bancada de Stonecycling com pedaços de garrafas Heineken Fonte: <http://www.stonecycling.com/newsblog/2016/3/23/ wkfe4r9pl8vd4ohtm4z36h0dqohoj3> Acesso em 21 de maio de 2016

StoneCycling (“Ciclo da Pedra”) Material utilizado

Restos de construção e demolição

Designer/Empresa

Tom van Soest Holanda/2012 Revestimento, Impermeável

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2.7 Reciclagem de Pneus

Segundo o site Recicloteca, os pneus foram inventados em 1845 pelo norte-americano Charles Goodyear e tornaram-se então substitutos das rodas de ferro e madeira utilizadas antigamente em carroças e carruagens, por serem mais resistentes e absorverem melhor o impacto com o solo. A maior parte dos pneus são feitos com 10% de borracha natural, 30% de petróleo e 60% de aço e tecidos que fortalecem sua estrutura. Os pneus têm um prazo de validade médio de x anos, sendo muito recorrente o seu descarte, o que gera consequências para o meio ambiente. Os pneus jogados em terrenos baldios acumulam água das chuvas no seu interior, servindo de local deposito para os ovos de mosquitos que causam doenças como dengue e febre amarela. Além disso, pneus, se queimados, podem causar grandes incêndios, visto que cada pneu pode ficar em combustão por mais de um mês. Em 1999 iniciou-se o Programa de Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis e em 2007, foi criada a Reciclanip, entidade voltada para a coleta e adequada destinação de pneus no Brasil. Esta entidade possuí um sistema de logística reversa com pontos de coleta de pneus, impulsionada pela resolução nº 416/2009 que estabeleceu obrigatoriedade de pontos de coleta de pneus em cidades com mais de 100 mil habitantes. Em 2013 já haviam 824 pontos de coleta e de 1999 até essa data já haviam sido coletados 536 milhões de pneus de passeio inservíveis (ABRALPE,2014, p.103). Para a reciclagem dos pneus é necessário separar a borracha dos outros componentes, o que é feito cortando-o em lascas e peneirando-o. A lascas são submetidas a processos químicos e refinamento, até a obtenção de grânulos de borracha (RECICLOTECA). Essa borracha possui características físicas inferiores à borracha original e composição indefinida. Mesmo assim pode ser utilizada de várias maneiras como em áreas de lazer, tapetes de automóveis, solados de sapatos, colas, entre outros. Além desta maneira de reciclagem, os pneus podem ser reaproveitados para a construção de barreiras à mar nos processos de recauchutagem, que seria adicionar camadas de borracha a pneus usados, e no utilizado em fornos no reaproveitamento energético em usinas termoelétricas. Os benefícios da recauchutagem seria o aumento da vida útil do pneu em 40% e economia de 80% de matéria prima e energia em relação a um material novo. Em relação ao reaproveitamento energético, cada quilograma de pneu queimado possui energia até 30% maior que um quilo de madeira ou carvão. O capítulo a seguir trará detalhes sobre uma técnica de construção que utiliza os pneus como principal material: as Earthships. Nas edificações construídas com essa técnica, os pneus têm grande importância conceitual, por seu caráter sustentável, e de isolamento, o qual funciona em um sistema complexo de condicionamento do ar no interior da habitação. Além dos pneus, são utilizadas também garrafas e latas

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Capítulo 3

Estudo de caso - Earthships No capítulo anterior foram explicados alguns tipos de reciclagem de acordo com o material e exemplificados diversos modelos de reciclagem com o foco da utilização do produto final na construção. Este capítulo tem como obejtivo descrever a técnica de construção das Earthships, que têm como principal conceito a sustentabilidade. Essa é buscada a partir de diversos sistemas combinados para tornar a residência autossustentável e a partir da reutilização, para a sua construção, de pneus, latas de alumínio e garrafas de vidro.

3.1 Earthships e seus objetivos Em meio à grande preocupação com o crescimento econômico desordenado e a necessidade premente do desenvolvimento sustentável, iniciada ainda na década de 1960, o arquiteto Michael Reynolds fundou, em meados da década de 1970, a empresa Earthship Biotecture. Localizada na cidade de Taos, no Novo México, Estados Unidos, esta empresa tem como principal objetivo projetar, construir e ensinar como constrói uma Earthship6 , definida por Reynolds como um "navio independente para navegar nos mares do amanhã" (REYNALDS, 1990, p. 8). Em verdade, as Earthships são construções, em sua maioria residências, projetadas e construídas com o intuito incorporar os conceitos de sustentabilidade da melhor maneira possível. A empresa defende que as Earthships são o modelo mais sustentável de residência existente nos dias atuais. No entanto, não é possível aceitar prontamente esta afirmação sem a necessária investigação científica. No ano de 1990, Reynolds lançou um livro chamado Earthship – How to Build Your Oun, volume 1 (tradução livre: “Earthship - Como Construir a Sua”), para explicar quais os conceitos desta modalidade de construção, como construir e como funcionaria. Em seu livro Reynolds (1990) explica que um "navio independente" seria uma residência autossuficiente, isto é, independente de sistemas externos, como energia, abastecimento de água, materiais de construção e até alimentação. Deste modo, a casa deveria gerar sua própria energia, seu próprio alimento e manter a temperatura interior agradável sem o uso de condicionantes térmicos. Além disso, as Earthships devem ter a possibilidade de funcionar em qualquer lugar do mundo, ser acessíveis para pessoas comuns, lidar de maneira

Figura 46 - Michael Reynolds em uma de suas Earthships. As paredes são decoradas com garrafas de vidro. Fonte: < http://www.archdaily.com.br/br/01-177963/nave-tierra-a-casa-autossustentavel-de-michaelreynolds-na-argentina> Acesso em 23 de maio de 2016

6

A tradução para o termo, utilizada pelo livro Fundamentos de Projetos de Edificações Sustentáveis, seria “Naves Terrestres”

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sustentável com os resíduos gerados dentro dela e utilizar materiais provenientes de subprodutos da forma de vida do século XXI. Este Ensaio tem como objetivo tratar especialmente do último ponto citado: a utilização de subprodutos. Em outras palavras, Reynolds (1990) afirma que as casas devem ser construídas com materiais reciclados, o que deu fama às edificações e ao arquiteto, apelidado de “Guerreiro do Lixo”7 . Suas casas construídas com pneus usados, garrafas e latas vazias e terra local dão à residência arquitetura e design únicos. Os pneus, preenchidos e unidos com terra, são a unidade principal de construção da Earthship.

Figura 47 - As Earthships normalmente são casas com formato orgnânico. Earthship em Taos, Estados Unidos. Fonte: <http://www. perfectvacation.co/13of-the-most-bizarrehotels/13/686/3/?utm_ source=&utm_medium=&utm_ campaign=&utm_term=> Acesso em 23 de maio de 2016

Figura 48 - Os materiais utilizados fazem com que as Earthships tenham uma estética própria. Fonte: <http://ecowatch. com/2015/05/27/earthshipperfect-home-photos/5/> Acesso em 23 de maio de 2016

7

Garbage Warrior foi um documentário produzido por Oliver Hodge e estreado em 2007 sobre eco arquitetura e sobre o arquiteto Michael Reynolds.

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3.2 A utilização de pneus

3.2.1 Justificativa para a escolha do pneu A escolha pela utilização dos pneus, de acordo com Reynolds (1990), ocorreu depois de muitos testes e após a seleção das características e princípios que o material utilizado para construir uma casa sustentável deveria possuir. O autor lista sete conceitos que considera fundamentais para a escolha do material das Earthships. Desta maneira, a decisão pelos pneus usados cobertos por terra é justificada não apenas com o objetivo de elimina-los de lixões e centros de reciclagem, mas por ele ter, de certa forma, as sete características fundamentais, que serão apresentadas a seguir: 1. Material encontrado em qualquer lugar Material ideal: O material ideal deve ser encontrado em várias partes do planeta, visto que deve ser acessível a todas as pessoas e ter pouco impacto na energia do planeta: levar materiais a grandes distâncias exige um gasto muito grande de energia, não sendo desta forma sustentável. Pneu com terra: Pneus usados podem ser encontrados em quase todas as partes do mundo. Todas as cidades são fornecedoras naturais de pneus usados, visto que eles têm um prazo de validade nos carros de até 10 anos, sendo descartados. Já a terra utilizada pode ser coletada no próprio terreno da construção. 2. Adequação para o uso Material ideal: Os materiais utilizados na Earthship devem gastar o mínimo de energia possível para se adequarem à utilização proposta. O ideal seria não precisar mudar a estrutura física do material. Pneu com terra: os pneus podem ser utilizados sem nenhuma modificação de suas características físicas. O processo de encher os pneus com terra pode ser feito com simples trabalho braçal. 3. Massa Material ideal: Os materiais da Earthship devem ser densos e maciços para manter a temperatura interna: a construção dever ser uma "bateria" para estocar temperatura. Este material também deve ter função estrutural. Pneu com terra: Terra batida é um dos melhores materiais para isolar a construção e energia térmica. Os pneus possuem naturalmente um formato fácil se manejar a produção de um bloco de construção. Este material também possui capacidade de suporte estrutural.

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4.Durabilidade Material ideal: O material utilizado deve ter a longa duração como característica intrínseca, isto é, sem a necessidade de utilização de materiais químicos para protege-lo e aumentar sua durabilidade. Pneu com terra: De acordo com Reynolds (1990), a durabilidade de pneus preenchidos com terra seria dificilmente superada por outros materiais. As únicas coisas que deterioram a borracha de um pneu são o sol e o fogo. Um pneu coberto por terra não será atingido pelas radiações solares e não poderá ser queimado por não está próximo ao ar. Assim, o problema que é um pneu na sociedade pelo fato sua borracha não se deteriorar, é o que faz ele ser um material muito durável para as Earthships. 5.Resiliência Material ideal: o material utilizado deve ter capacidade de se movimentar de forma a não quebrar em adversidades da natureza, como terremotos. Como uma "borracha", o material deve ter resiliência. Pneu com terra: Uma parede de pneus enchidos de terra é muito forte, porém não quebra. A estrutura teria um bom potencial para absorver e se mover com o impacto de um terremoto. 6. Requerer habilidades simples para ser construído Material ideal: Para que seja acessível a todas as pessoas, a técnica para a utilização deste material na construção deve ser simples de ser ensinada e aprendida. O construtor não precisa ter algum talento específico para construir. Pneu com terra: qualquer pessoa poderia, em duas horas, virar um expert na arte de encher pneus com terra. Esta atividade necessitaria de bastante energia física, mais que força bruta. 7. Requerer pouca tecnologia Material ideal: deve ser dispensável o uso de tecnologias sofisticadas para construir uma Earthship. A tecnologia do Earthship é a tecnologia do fenômeno natural, como a física do sol, da terra e das próprias pessoas. (R. 1990. p. 82) Pneu com terra: o equipamento mais caro para construir seria uma retroescavadeira, a qual poderia ser alugada. Além disso, seriam necessários apenas uma serra e um misturador de cimento, materiais com fácil acesso da população. Ainda em seu terceiro livro Earthship Volume III: Evolution Beyond Economics (“Evolução além da economia” 1993), Reynolds afirma que, mesmo após 20 anos pesquisa e desenvolvimento da técnica, estaria muito além de qualquer outra técnica de construção, em termos de conforto térmico, estrutura, meio ambiente e disponibilidade.

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3.2.2. Como construir uma parede de pneus Em 2012, com quase 40 anos de pesquisa, Michael Reynolds lançou outro livro: How do Build a Global Model Earthship – Operation I: Tire Work (“Como Construir um Modelo Global de Earthship – Operação I: utilização de pneus”). Neste livro, o arquiteto explica passo a passo como construir as paredes de pneu das Earthships. 1. A primeira camada de pneus Primeiramente deve-se marcar no terreno onde serão colocadas as paredes. Depois, colocase todos os primeiros pneus lado a lado de maneira nivelada ao chão. Na primeira camada de pneus é preciso colocar um pedaço de plástico tampando a cavidade inferior do pneu; após encher estes com terra, estará definida a localização das paredes da construção.

Figura 49 - Deve-se colocar um saco plástico no interior dos pneus da primeira camada. Fonte: How to Build a Global Model Earthship Operation I: Tire Work. 2012. p. 7

2. A quina de três pneus Para se formar a quina da Earthship, o eixo do pneu da ponta deve estar localizado no prolongamento da linha dos eixos do pneus ao lado, pois não seria possível fazer um ângulo reto com pneus. Desta maneira, os prédios sempre ficam com arestas um pouco arredondadas.

Figura 50 - Esquema da quina de três pneus. Fonte: How to Build a Global Model Earthship Operation I: Tire Work. 2012. p. 9

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Figura 51 - Quina da Earthship sendo montada. Fonte: How to Build a Global Model Earthship Operation I: Tire Work. 2012. p. 10


3. O passo a passo para se encher os pneus Para formar a parede de pneus, esses devem ser colocados camada por camada de maneira escalonada, como tijolos. Depois colocados no local adequado, enche-os com terra. Reynolds dá o passo a passo para encher os pneus: 1. Colocar o pneu no local certo - após terminado o processo, o pneu estará pesando aproximadamente 130kg, sendo viável fazer apenas pequenos movimentos. 2. Colocar papelão no fundo do pneu para manter a lama por algum tempo - este papelão irá se decompor depois de um tempo sem afetar a estrutura

3. Colocar a lama dentro do pneu com as mãos

4. Pressionar a lama dentro do pneu com uma marreta

5. Iguale a terra dentro dos pneus em todas as direções e em relação aos pneus adjacentes.

6. Pressione a terra no centro do pneu.

Figura 52 - Pneus escalonados na construção das paredes. Fonte: How to Build a Global Model Earthship Operation I: Tire Work. 2012. p. 11

Figura 53 - Esquema explicando como encher os pneus. Fonte: How to Build a Global Model Earthship Operation I: Tire Work. 2012. p 12

4. Encanamentos Antes de subir toda a parede, é necessário colocar o encanamento entre os pneus, como por exemplo os tubos de ventilação, que irão servir para o controle térmico da residência.

Figura 54 - Tubo de ventilação passando pelo parede de pneus. Fonte: How to Build a Global Model Earthship Operation I: Tire Work. 2012. p. 35

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3.3 A utilização dos outros materiais reciclados

3.3.1 Latas de Alumínio Para a construção das paredes são estruturais, como a separação de banheiros e quartos, Reynolds (1990) sugere em seu primeiro livro a utilização de latas de alumínio. Segundo o arquiteto, estas latas teriam todos os requisitos necessários para o material, citados anteriormente, exceto a questão da massa, que não é necessária para este tipo de parede. O espaço entre as latas é preenchido com concreto, que seria o que dá força a elas. Além dessas paredes, as latas também podem ser utilizadas para preencher espaços vazios na estrutura, como por exemplo, o espaço entre as vigas de sustentação do telhado. Nesse caso, a abertura das latas deve ser voltada para o interior da construção. Estas aberturas serão utilizadas como uma placa metálica para a fixação do gesso.

Figura 55 - Desenho esquemático da utilização de latinhas na construção. Fonte: Earthship vol. I, 1993, p. 116

Para formar a parede de latas, a distância de uma lata a outra deve ser aproximadamente entre 2 cm (3/4''), e elas não devem nunca tocar uma a outra. Para encaixar a lata na argamassa, esta deve ser pressionada em seu lado inferior, formando um "V" (Figura 56).

Figura 56 - Esquema explicando como colocar fazer a parede de latinhas. Fonte: Earthship vol. I, 1993, p. 143

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Figura 57 - Reynolds construindo uma parede de latinhas. Fonte: <http://mables.com/blog/green-living/garbagewarrior-dvd-earthships.php> Acesso em 3 de junho de 2016


3.3.2. Garrafas de Vidro Não foram encontradas informações sobre a utilização de garrafas nos livros escritos por Reynolds na década de 1990, mas no site de sua empresa Earthship existe uma reportagem, How to Build a Bottle Brick ("Como construir uma garrafa tijolo" 2015) explicando como construir uma parede de garrafas de vidro. Essa reportagem afirma que além da importância pela utilização de materiais reciclados, as paredes que utilizam essa garrafa têm também função estética, de decoração, e de insolação. Em relação à função estética, devido à variedade de cores das garrafas, é possível criar "vitrais" muito bonitos nas paredes. Já para se conseguir um pouco de insolação, é necessário partir a garrafa ao meio; unir, pela parte inferior, duas garrafas semelhantes e utilizar esse conjunto na parede sem ser tampado, pelo elemento de ligação, em nenhum dos lados. Para unir as garrafas na construção da parede, pode ser utilizado materiais como areia, cimento, argamassa e gesso, entre outros possíveis elementos de ligação. A fundação dessa parede se da normalmente iniciando sua construção um pouco a baixo do nível do terreno, em uma espécie de trincheira. Essa será preenchida com cascalhos e cimento para estabilidade. A construção da parede se dá camada por camada, encaixando as garrafas no elemento de ligação utilizado, separando-as aproximadamente 3cm uma da outra.

Figura 58 - Colocação das garrafas de vidro na parede da Earthship. Fonte:< http://earthship.com/ blogs/2015/01/make-bottle-bricks/> Acesso em 4 de junho de 2016

Figura 59 - Parede de garrafas de vidro e latas de alumínio. Fonte:< http://earthship.com/ blogs/2013/09/10-reasonswhy-we-need-an-earthshiphome/> Acesso em 4 de junho de 2016

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3.4 Os outros sistemas de uma Earthship

3.4.1Água Segundo os livros de Reynolds, as Earthships têm um sistema de captação de água de chuva e neve e um sistema de reaproveitamento da água. O site Earthship Biotecture explica como isso funciona. Captação de águas O telhado das casas tem um telhado específico para que a água seja captada. A água escorre do telhado para uma calha que canaliza a água pra as cisternas da casa, localizadas em um local protegido dos raios solares, geralmente enterrada. A água da cisterna entre em um sistema chamado específico que filtra e bombeia a água para uma caixa d'água convencional. Filtros localizados dentro da casa disponibilizam a água para consumo Utilizar e reutilizar A água captada das chuvas é reutilizada quatro vezes em uma Earthship. Na primeira vez, a água é utilizada de maneira convencional para consumo, banho e lavar louças, por exemplo, exceto nas privadas. Essa água vai para seu segundo uso que seria como irrigação das plantas no interior da casa. Em seguida, em seu terceiro uso, a água parte para a sua utilização para dar descarga. Agora essa água vai para um recipiente onde é contida e tratada para ser utilizada uma quarta vez na irrigação das plantas externas. Água quente A água da residência é aquecida principalmente por meio de energia solar gerada por placas solares. Caso não haja sol o suficiente para aquece-la, a segunda opção seria a utilização de gás natural. Turbina de vento Painel Solar

Energia Solar

Cisterna

Coleta água da chuva

Bateria

Conversor dc para ac

Painéis de Vidro Pia

Filtro de gordura

Água Cinza

Terra

Vaso Sanitário Plantas não-comestíveis

Frutas/ Vegetais Célula Vegetal Filtro de turfa Depósito de água-cinza Água preta

Célula Vegetal

Filtro

Depósito de água limpa

Para água potável

Pneus com terra Filtro de carvão

Tanque septico solar

Figura 60 - Esquema do sistema de águas de uma Earthship. Fonte: <http://earthship.com/blogs/2013/09/10-reasons-why-we-need-an-earthshiphome/ > Acesso em 5 de junho de 2016. Editado pela autora

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Bomba


3.4.2 Eletricidade Segundo Reynolds, as Earthships produzem sua própria eletricidade a partir de um sistema que capta do sol e de ventos, por painéis fotovoltaicos e pequenas hélices. A energia é convertida e armazenada em um sistema próprio, chamado de Power Organizing Module, POM, que pode ser traduzido por "Modulo de Organização de Energia". Esse sistema armazena energia e a distribui para ser normalmente utilizada por todos os equipamentos da casa que necessitam de energia elétrica, podendo ser utilizada tanto em computadores como máquinas de lavar.

Figura 61 - Pequena turbina de vento produtora de energia eólica. Fonte: <https://nomadicbytes.wordpress.com/2013/01/15/findingmyself-in-taos-new-mexico/> Acesso em 10 de junho de 2016

Figura 62 - Painéis fotovoltaicos para produção de energia elétrica a partir da energia solar. Fonte: <http://earthship.com/Systems/electricity> Acesso em 10 de junho de 2016

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3.4.3 Conforto Térmico Em seus livros, Reynols também explica a existência, nas Earthships, de um sistema de conforto térmico capaz de trazer temperaturas agradáveis para qualquer residência, localizada em qualquer lugar e em diferentes climas, sem a necessidade de condicionantes térmicos artificiais. Em seu site, Earthship Biotecture, o arquiteto explica que tanto planeta Terra quanto o sol possuem propriedades transmissão de temperatura: o primeiro transmite frio, o segundo calor. Deste modo, para manter a temperatura dentro da Earthship, é necessário uma adequada interação entre o sol e a Terra. Segundo Reynolds, a temperatura da terra a aproximadamente 1,5 m do solo se mantém constante em torno de 14,5°C e pode ser utilizada para resfriar e estabilizar a temperatura, se a casa possuir um design apropriado. Aquecimento Caso queira que a residência seja aquecida, deve-se deixar o sol entrar. O sol bate na massa da casa, que armazena o calor, e o isolamento não deixa este sair. No caso de não haver sol, o calor armazenado na massa da casa é irradiado. Resfriamento Caso queira que a residência seja resfriada, deve-se admitir a temperatura da terra e bloquear o sol. A massa fria da terra se conecta com a massa do abrigo, como se uma grande bateria, a terra, se conectasse a uma pequena bateria, a casa. Isolamento e Massa térmica Segundo Reynolds, o isolamento não coleta nem armazena temperatura, apenas bloqueia a passagem desta de dentro para fora e vice-versa. Um material com bom isolamento possui em sua composição vários espaços de ar que atrapalham o movimento da temperatura. Já uma massa densa, como seria o caso, por exemplo, de terra compacta e concreto, tanto coleta como armazena temperatura. Porém, densidade serve como condutor, não bloqueando a passagem da temperatura. Ar quente sai

Sol é admitido

Isolamento Rígido

SOL

DIA

Isolamento

Sol é bloqueado

Ar quente é sugado para fora

Armazenamento em massa

VERÃO CALOR

Ar é resfriado no tubo Ar frio entra Ar quente entra

NOITE

Figura 63 - Os pneus com terra têm a função de armazenar energia solar e libera-la quando não houver mais sol. Fonte: <http://makecalgary.com/?p=16397> Acesso em 10 de junho de 2016. Editado pela autora

Isolamento Rígido

Isolamento

Sol é permitido

Armazenamento em massa

Ar frio é bloqueado

Figura 64 - Esquema sobre como a casa se comporta no inverno e no verão Fonte: <https://earthship360.com/systems/> Acesso em 10 de junho de 2016

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INVERNO FRIO


3.4.4 Alimentação Segundo o site da Earthship Biotecture, um dos conceitos fundamentais das Earthships seria, como dito anteriormente, a utilização de águas cinzas, provenientes de pia e chuveiro, para irrigar uma pequena plantação interna e a água de privadas, filtrada e utilizada uma plantação maior externa à casa. As Earthships têm como objetivo o cultivo de plantas, não apenas por questões estéticas ou pela sua contribuição com a saúde das pessoas, mas também para alimentação: é possível cultivar plantas que produzam comida, podendo chegar a um outro nível de sustentabilidade e independência de sistemas externos. É preciso fazer pesquisas e alguns testes com as plantas para saber quais se adequariam melhor à residência. O site também cita um exemplo de sucesso relacionado ao cultivo: a Phoenix Earthship. Funcionando como pequeno hotel ecológico no Novo México, já foram produzidos dentro dessa construção e de seu terreno 27 espécies de vegetais, dentre eles, cenoura, berinjela e milho; 14 espécies de frutas, como morango, banana e tomate; 12 espécies de ervas, como orégano, menta e coentro e 11 espécies de flores comestíveis, como o hibisco e o girassol.

Figura 66 - Bananeira dentro de uma Earthship. Fonte: <http://earthship.com/blogs/2013/09/10-reasons-why-we-need-an-earthshiphome/> Figura 65 - Plantações dentro de uma Earthship Fonte: <https://nomadicbytes.wordpress.com/2013/01/15/ finding-myself-in-taos-new-mexico/> Acesso 12 de junho de 2016

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3.5 As Earthships na prática

A empresa Earthship Biotecture defende que suas residências são inteiramente sustentáveis. Algumas das características defendidas por eles que enquadram a técnica no rol de construções em prol da sustentabilidade seriam o fato de serem muito econômicas, de serem facilmente construídas, de terem uma grande durabilidade, de poderem se implementadas em qualquer parte do mundo, de fornecerem tudo o que seus inquilinos necessitam e a utilização de materiais reciclados ou naturais. Na teoria, as Earthships seriam um modelo ideal de moradia visando a sustentabilidade, mas, de acordo com a arquiteta e escritora Rachel Preston Prinz, na prática o que acontece é um pouco diferente do que é pregado. Em 2015, Prinz publicou o livro “Hacking the Earthship” no qual ela conta suas experiências com o sistema na cidade de Taos, suas pesquisas sobre a técnica e entrevistas com moradores de casas construídas pela empresa. Juntando as informações obtidas, Rachel mostra que os fatos apontados acima seriam “mitos” e que a realidade é diferente do que Reynolds (1990) afirma. A arquiteta explica um por um dos pontos e mostra contradições e “mentiras” existentes dentro deles. Em relação ao nosso objetivo neste ensaio, Prinz (2015) desmistifica a relação das “Earthships e a reciclagem” como propostas por Reynolds (1990). Para a autora as Earthships não reciclam pneus, garrafas e latas usados, apenas retiram-nos do lixo ou de empresas de reciclagem e os depositam em outro local, sendo que tanto o vidro, o aço e o alumínio de latas e garrafas podem ser reciclados indefinidamente. Desta maneira a autora questiona até que ponto a reciclagem destes materiais em construções seria uma vantagem para a sustentabilidade. Prinz (2015) utiliza em seu livro os conceitos de downcycling e upcycling, sendo o primeiro um processo de reciclagem que converte o material em um produto com qualidade inferior e o segundo um processo em que o material volta para a sua forma original ou é convertido em algo melhor. Downcycling seria o processo menos desejável e adequado, enquanto o upcycling seria o processo mais adequado a ser utilizado quando possível. Garrafas de vidro e latas, materiais muito utilizados nas Earthships, são um exemplo de materiais que podem facilmente entrar no processo de upcycle, pois existe tecnologia o suficiente nos dias atuais para que continuem retornando ao mercado com sua forma original ou melhorados. Pneus podem ser triturados, terem seus componentes separados e serem utilizados em diversas funções como na pavimentação de vias e quadras de esporte e até para recauchutar outros pneus: isto é também um exemplo de upcycle. Desta maneira, como aproximadamente 45% de uma típica Earthship é feita com produtos reciclados, isto significa que 45% do material utilizado teria sido retirado do fluxo de reciclagem, no qual ele poderia ser reutilizado até que não fosse mais possível (PRINZ, 2015). Cabe-nos questionar se isso seria realmente sustentável ou não.

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Outra questão que a arquiteta aborda em seu livro é que, em verdade, os materiais utilizados não são reciclados e sim reutilizados. Para reciclar um material, é necessário mudar suas propriedades físicas, mesmo que para transforma-lo no que ele era anteriormente. Já as Earthships reutilizam o material, visto que o utilizam intacto dentro das paredes. Este processo ajuda que se explore o material o máximo possível antes de este ser descartado, porém estes materiais não voltam para o ciclo de produção, fazendo com que a cadeia da reciclagem dure mais tempo. Além das questões de reciclagem, outro mito a respeito dos materiais utilizados descrito pela autora seria a questão econômica. A empresa Earthship Biotecture garante que suas residências teriam o o design mais econômico do mundo. Isto faz sentido pois temos a tendência a acreditar que lixo seria de graça. O lixo pode até ser, mas existem muitos custos ocultos por traz disso. Primeiramente a questão econômica em relação ao dinheiro que poderia ser perdido retirando materiais de seu ciclo de reciclagem, fazendo as empresas de reciclagem perderem parte da sua fonte de renda. Além disso, estes materiais não são encontrados em qualquer lugar a disposição do construtor da Earthship. Seria necessário procurar um fornecedor de pneus, garrafas e latas e para provavelmente seria necessário viajar longas distâncias. Dai a segunda questão econômica seria o gasto com o transporte. Uma Earthship utiliza em média 900 pneus, 10 mil latas de alumínio e 2 mil garrafas de vidro. Para carregar todos estes materiais até a localização da construção seria necessário fazer várias viagens com um carro comum ou alugar um caminhão e mesmo um caminhão não teria condições de, em uma só viagem, transportar todo o material necessário. Este é um gasto muito importante de ser contabilizado e pode aumentar expressivamente o preço da obra no final. Por último, temos os gastos para higienizar garrafas e latas. É importante que se limpe bem estes materiais para que a residência não tenha cheiro de cerveja ou refrigerante e não seja alvo de pragas. A quantidade de água e o tempo gastos para realizar esta tarefa é bastante expressivo e deve ser levado em consideração. Também é importante percebermos o fato de que este é um gasto que as empresas de reciclagem não teriam: quando o alumínio ou o vidro são derretidos para serem moldados em outras coisas, as impurezas por terem um ponto de ebulição menor somem no ar.

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conclusão

Este Ensaio Teórico teve como proposta mostrar a dimensão do lixo nas sociedades, métodos de reciclagem voltados à construção civil e compreender por meio do estudo de caso das Earthships como o lixo pode ser utilizado de maneira bastante abrangente. Em relação à dimensão do lixo, é possível observar que esse é um problema para o meio ambiente e para as cidades e que é de grande importância se estudar, pesquisar e investir em melhorias no que diz respeito à gestão do lixo. Ao analisarmos o histórico do lixo, é possível perceber as diferenças em relação à composição e à quantidade que tem tido o lixo ao longo do tempo. Analisando também a diferença entre os países com alta e baixa renda em relação aos aspectos citados acima, é possível perceber que com a evolução econômica das cidades e a globalização, tem-se a tendência de que o lixo seja cada vez mais composto de materiais inorgânicos e que a quantidade gerada aumente, tanto em relação ao aumento da população, mas principalmente às diferenças no modo de vida. Seguindo esse raciocínio, é de suma importância que os processos de gestão do lixo se voltem a esse cenário de mudanças no lixo. Aliás, isso não é uma coisa para se pensar no futuro e sim para se pensar agora: gestão do lixo no Brasil e em muitos outros locais precisa melhorar significativamente para que se tenha uma gestão adequada do lixo que está sendo produzido nos dias de hoje. Dentre os processos de gestão do lixo, a reciclagem é destacada com a promessa de sustentabilidade, sendo na maior parte dos casos, a melhor possibilidade, em termos ambientais, para os resíduos. Deve-se atentar ao fato de que para se alcançar a sustentabilidade precisam estar inseridas, também, questões de economia: para ser realmente sustentável reciclar, o processo deve ser viável economicamente. Além disso, o produto deve ter boa qualidade e durabilidade, o que está relacionado à economia de materiais, por diminuir a necessidade por manutenção. Dessa maneira, esse Ensaio mostrou um pouco sobre como é feita a reciclagem convencional de materiais e seus benefícios econômicos e ambientais. Outro dado importante a ser ressaltado é o índice de reciclagem desses materiais, que tem grande possibilidade de aumentar, caso haja investimentos. O aumento do índice de reciclagem significaria uma economia grande economia de materiais, de recursos e benefícios para o meio ambiente e para a sociedade como um todo. Foram mostrados também doze processos de reciclagem não convencionais, que transformam lixo em material de construção, podendo ser utilizados como revestimento, acabamento, materiais autoportantes, de isolamento e na confecção de objetos. Esses materiais vêm com a ideologia de sustentabilidade, mas deve se pensar criticamente em sua qualidade, durabilidade e custos. Além disso, é interessante perceber se o material reciclado explora adequadamente o potencial e as características do material original, buscando que o processo possa ser considerado um método de upcycling, e não de downcycling.

Outro ponto que deve ser levado em consideração ao julgarmos se um material reciclado

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utilizado na construção civil é mesmo sustentável é a resposta à seguinte pergunta: vale a pena reciclar de modo a transformar o material em uma coisa nova se haveria a possibilidade recicla-lo de maneira que ele continue sendo o que era? Quando pensamos que estamos tirando o lixo de lixões, aterros controlados ou aterros sanitários, podemos ver essas iniciativas como muito boas para o meio ambiente. Porém, caso esses materiais sejam retirados de outros processos de reciclagem, cabe refletir se valeria a pena: é sustentável transformar uma garrafa de vidro em um tijolo se ela poderia continuar garrafa de vidro? Estaria sendo melhor aproveitado o potencial do vidro ele estando em uma parede ou como embalagem nos mercados? Esses questionamentos vieram a tona após análise das Earthships e a leitura das criticas da arquiteta Rachel Prinz, e que valem para qualquer outra técnica reciclagem com foco na construção: será que vale a pena utilizar pneus, garrafas e latas para construir se existem outros processos possíveis de reciclagem para esses materiais? Em relação às latas, provavelmente não valeria a pena, especialmente em um país como o Brasil onde a taxa de reciclagem de latas de alumínio é maior que 95%. Além disso, as latas não têm uma função importante na construção, diferente do que acontece com os pneus, que têm função de isolamento, e as garrafas de vidro com sua função de iluminação indireta e função estética. Já em relação às garrafas, apesar de poderem ser recicladas infinitamente, a taxa de reciclagem no Brasil é de aproximadamente 50%, existindo muito material perdido; desta maneira, é interessante pensar em termos da função das garrafas. Os pneus, por outro lado, possuem diferentes modos de reciclagem, mas nunca voltará a ser um pneu novo, no máximo melhorará pneus antigos. Sendo assim, analisando sua função na construção e o contexto atual do material, pode-se dizer que sua utilização é válida para a construção das Earthships. As Earthships, de modo geral, têm conceitos muito bons de sustentabilidade relacionados à autossuficiência da residência, com seus sistemas de construção e funcionamento. Esses podem ainda não serem o ideal e ainda não funcionarem da melhor maneira possível, mas com certeza são um pontapé para visões mais conscientes do mundo. Portanto, o estudo sobre a configuração do lixo e as diversas possibilidades de reciclagem e reaproveitamento desse se faz muito importante na busca por melhorias nesse sistema. Uma empresa ou um pesquisador que busque no lixo sua fonte de matéria prima estará, de certa maneira, contribuindo para o meio ambiente: mesmo que o material não seja completamente sustentável e possa ser criticado em alguns aspectos, ainda haverá a propagação dos pensamentos de sustentabilidade e reciclagem.

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