A cicatriz

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OS LEGADOS

DE LORIEN


OS LEGADOS

DE LORIEN

EU SOU O NÚMERO QUATRO A CICATRIZ (PITTACUS LORE)

TRADUÇÃO: JOHN DC - 2014 TÍTULO ORIGINAL: I AM NUMBER FOUR: THE SCAR PITTACUS LORE – PITTACUS LORE – PITTACUS LORE - 2013

OS LEGADOS

DE LORIEN


ME FOCANDO NA TEMPESTADE QUE ACABEI DE CRIAR, eu mando um raio bem na cabeça da criatura que se parece um jacaré de três cabeças antes que ele possa atacar Oito novamente. O raio atordoa a criatura por alguns instantes, e Nove entra na briga, batendo na criatura com seu bastão. Pelo canto do olho eu vejo Marina ajudando Oito, usando seu Legado de cura no ombro machucado dele enquanto a criatura está distraída. Ótimo – não podemos perder ninguém ferido aqui por muito tempo. Assim que Nove está fora do caminho, eu mando mais dois relâmpagos, atordoando a besta mais um vez. Não parece adiantar quantas vezes e com que acertamos ela – porque ela sempre consegue continuar levantando. De repente um estranho som de apito paira no ar, e eu viro para ver Cinco tocando uma flauta estranha. Onde ele conseguiu aquilo? E onde ele esteve? Sentado, assistindo a essa batalha? O som fez alguma coisa com o jacaré mutante, pelo menos – ele está caído no chão como se tivesse pegado no sono. Eu ouço Cinco e Nove discutirem como sempre, até eu não aguentar mais. — Algum de vocês poderia matar aquela criatura para nós podermos sair daqui logo? Eu olho para o monstro, mantendo um olho nele para ter certeza de que ele não vai levantar de repente e nos pegar de surpresa novamente. BOOM! Alguma coisa bate na minha cabeça, e a dor com escuridão toma conta de mim.


— VAMOS SEIS... – Marina sussurra. — Acorde. Suas mãos estão geladas de cada lado da minha cabeça latejante, ou é por causa do seu Legado de cura ou é porque meu ferimento está me deixando com febre. Minha cabeça dói como se alguém tivesse batido com uma marreta no meu crânio. Sucessivamente. Eu não tento abrir meus olhos porque eu posso dizer que isso seria realmente uma péssima ideia. Eu mal posso mover meus lábios para dizer que estou acordada a ela, que estou consciente, porque tudo está doendo muito. O que quer que Marina esteja fazendo me parece que está funcionando, e eu posso sentir que a dor está diminuindo. Depois de mais ou menos um minuto, Marina tira suas mãos delicadamente de meu rosto e as apoia no chão. Eu ainda não posso me mover, mas consigo soltar um pequeno gemido. Eu sinto que ela está perto de mim, levantando e indo embora. Eu respiro fundo e bem devagar flexiono meus pés e mãos, e me foco nas partes que ainda estão doendo. Eu posso mover meus braços e pernas, e nada parece estar quebrado. Estou dolorida e provavelmente muito machucada, mas minha dor de cabeça e no rosto parecem ser as áreas que mais sofreram com o que quer que tenha me atingido. Mais uma vez o Legado de cura da Marina nos salvou. Embora tudo ainda esteja doendo muito, meu corpo parece que está querendo voltar a ficar inconsciente, mas eu tenho que me manter acordada. Eu preciso descobrir que diabos aconteceu comigo. Como me nocautearam. Qual é a última coisa que me lembro? Eu me lembro do homem velho do porto que nos alugou seu barco. Ele cheirava a bebida e fuligem, mas ele não fez perguntas então não nos importamos. Ele nos vendeu um mapa do local também. Nosso barco era daquele tipo que é impulsionado por um ventilador gigante. Nove estava dirigindo. Marina e Oito estavam de vigia. E era para eu estar navegando, mas eu não conseguia descobrir como ler aquele mapa esfarrapado. Mas Cinco... Cinco estava explorando na frente e sabia exatamente onde estávamos indo. Estávamos procurando por alguma coisa... A Arca do Cinco. Escondida em algum lugar no pântano. Deveríamos pegá-la e voltar. Então eu vi uma escama escondida com presas amarelas sair de dentro da água do pântano. Eu me lembro de gritar “Cuidado!” ao


mesmo tempo em que a criatura mergulhou para começar a atacar. Outra criatura Mogadoriana, a mais nova da linhagem de bestas que eles já mandaram para nos matar. Ele nos atacou, e eu devo ter sido nocauteada. Então enquanto todos os outros estão lutando contra aquela besta enorme, estou no banco de reserva, ferida. Ótimo. Eu juro que vou fritar aquela coisa com o maior e mais forte raio que eu conseguir conjurar. Pelo menos, eu devo um soco na cara dessa coisa. Agora, a única coisa que eu preciso é

levantar. Eu posso não ser capaz de me mover ou olhar a batalha, mas enquanto eu estou deitada aqui tentando juntar as coisas na minha mente, eu ainda posso ouvir o que está acontecendo. De certa forma, é como um jogo de combate que Katarina e eu costumávamos jogar durante nossas viagens, dirigindo horas de cidades pequenas para cidades pequenas para ficar sempre a frente dos Mogs, quando não podíamos parar para descansar, dormir, se esticar, para fazer exercícios físicos. Sombra, nos o chamávamos. Ela representaria um ataque Mogadoriano descrevendo as cenas para que eu pudesse responder revidando. Eu teria que lutar usando meu cérebro ao invés de reflexos ou instinto. Agora, a luta corporal está acontecendo ao meu redor, e eu tenho que descobrir o que está acontecendo com quem está lutando de verdade. Então eu vou saber o que fazer quando eu finalmente levantar. Eu não vou ajudar ninguém levantando para ser morta. Quanto eu tento focar, o que eu não ouço são os gritos daquele monstro gigante. Eles o mataram, ou a criatura apenas se escondeu debaixo d’água? De um jeito ou de outro, precisamos sair daqui antes que o reforço Mogadoriano chegue. Por que aquilo definitivamente era uma besta de Mogadore, e se ele nos encontrou os Mogs não estão longe. Eu ouço o que parece mais ser uma luta – gritos, grunhidos e um som ocasional de impacto. Talvez os Mogadorianos já chegaram? Não posso dizer com certeza. Mas tenho que imaginar que haveria muito mais barulho de luta e explosões se os Mogs já tivessem aqui. Eu ouço Marina, mas estou tendo dificuldade de distinguir as palavras e as vozes deles. Então um deles grita: — Calem a boca! Outra pessoa está rindo. Que diabos está acontecendo? Por que motivo alguém estaria rindo? Eles derrotaram a besta? Há – é o Nove. Essa voz arrogante não tem como não ser reconhecida:


— Você está ouvindo o que está dizendo, cara? Mas com quem ele está conversando? Cinco ou Oito? Ou talvez com Marina? Eu não duvidaria se ele a chamasse de “cara”. Eu preciso levantar. Eu preciso ajudá-los. Uma frustração se forma na boca do meu estômago, por trás da dor que está me mantendo aqui. Não sou boa para esperas. Me faz sentir inútil. Ninguém vai morrer hoje porque eu estava no banco de reserva de reserva como uma donzela em perigo. Essa não sou eu. Eu tento levantar antes de pensar realmente sobre isso. Eu já tive ideias melhores, e eu mal tentei mover um dedo. Com sorte, a dor no meu crânio foi substituída por uma enxaqueca. Está incrivelmente dolorido ainda, mas está longe da dor que eu senti quando fui atingida. Eu finalmente consigo abrir meus olhos. Minha visão está um pouco escura, mas ela clareia quando eu pisco várias vezes. O céu ainda está escuro com as nuvens de tempestade que eu invoquei então não se passou muito tempo. Quando eu levantar, eu ainda devo ser capaz de trabalhar com essas nuvens, me poupando a energia de criar uma nova tempestade. Mas isso vai ter que esperar até eu ver o que está havendo. Nove pode ser irritante e pretensioso, mas isso não está o deixando com raiva de propósito, deve haver um motivo. Eu respiro fundo, eu tenho uma vantagem para mim: se eu fui nocauteada e esquecida, eu vou ter o elemento surpresa do meu lado quando eu for capaz de voltar à luta. Eu posso usar minha invisibilidade para chegar perto antes que qualquer um possa notar que eu acordei. Contudo, eu já me senti melhor. Quero dizer, estar deitada no lodo esmagado com uma fratura recente do crânio não é uma ideia exatamente de estar bem. Mas enquanto eu ainda me sinto dolorida e confusa, eu sei que posso me esforçar e ficar em foco. Depois de sobreviver da captura dos Mogadorianos e tudo o que acontece depois conosco, estou forte o suficiente para aguentar uma dor de cabeça. Aqui vamos nós, eu penso, me apoiando no chão para levantar o máximo que eu posso. Um, doisUma onda de náusea me derruba novamente. Talvez Marina não foi capaz de terminar o processo de cura. Eu geralmente não me sinto assim quando ela tem espaço e tempo apropriado para fazer seu trabalho. Ou é isso, ou meus ferimentos são piores do que pensamos. Há coisas que você não pode se preparar, não importa quanto tempo você fique treinando. Eu ainda ouço gritos, mas não é claro quem está falando. Eu viro minha cabeça cuidadosamente para as


pessoas que falam, mas eu não posso ver ninguém desse ângulo em que estou caída no chão. Não, espera, vejo o Oito. Ele está com suas mãos na frente do corpo e sua voz é inaudível e calma, como se ele implorasse por paciência. Mas como quem ele está falando? Com os Mogs? Eu olho em volta e tento ligar as coisas do melhor jeito que posso. Nenhum sinal da besta: eles devem tê-la derrotado enquanto eu estava desmaiada. Eles conseguiram. Já tem monstros feios, escamosos de Mogadore o suficiente no mundo, não precisamos de mais. Eu fecho meus olhos e me concentro nas vozes. De repente, a voz mais aguda de Marina se junta a dos outros. Eu a ouço gritar “— A mão esquerda dele!” – e eu não tenho certeza do que ela quer dizer – mão esquerda de quem? O que está acontecendo? Um grito de dor parece ter vindo de um dos garotos me faz mudar para uma posição sentada – eles estão lutando com outra criatura que surgiu do lado do pântano? Um segundo grito manda uma onda de medo até mim. E então, nada. Tudo ficou quieto, muito quieto. Eu penso – e não há mais ninguém gritando e isso me assusta. Quando eles estavam fazendo barulhos, pelo menos eu sabia que eles estavam revidando. Estou aliviada por ouvir a voz de Marina novamente e me apoio no meu cotovelo, poupando energia por mais alguns momentos. Ela está falando muito baixo para eu decifrar as palavras. O que me incomoda é que ela não parece feliz, ou triunfante, ou qualquer outro tom de voz de eu ficaria feliz em ouvir. Minhas mãos formigam com vontade de agir. Eu respiro fundo novamente e tento me levantar mais uma vez, lutando contra a exaustão do meu corpo e todas suas tentativas, através das dores e das náuseas e com uma rígida lama irritante, para me advertir. Basta. Tudo de uma vez, antes que eu mude de ideia, eu suspiro e me mudo para uma posição em que fico totalmente sentada. Fico tonta por alguns segundos, mas a náusea não piora. Estou cansada de ficar aqui deitada no lodo. Estou cansada de pedir desculpa para mim mesma. Estou cansada pelas pessoas que perdi – ou que vou perder. É hora de ter certeza de que isso não vai acontecer. Eu cerro meus dentes contra a dor que vem da minha nuca e olho para cima. Eu devo ter caído em algum lugar dos lados. Eu posso ver os outros através de alguns galhos de árvores, todos em pé muito tensos. Mas eu não consigo ver com quem eles estão argumentando. Parece que Nove está ferido, muito ferido, e claramente Marina não teve a oportunidade de curar ele ainda. Isso não é bom.


De repente todos eles começam a se mover, mas eu não posso ver eles claramente para dizer o que está acontecendo – tem alguma coisa atacando eles? Da onde veio? E então eu ouço Marina gritar. — Não faça isso! – ela berra, mas eu não tenho certeza para que ou para quem ela está gritando – eu preciso levantar agora. Nesse ponto, me parece que Nove está numa posição pior que a minha. E eu serei mais útil lá, na batalha a qual eu pertenço. Eu abaixo minha cabeça e começo a levantar, de verdade agora. Eu tiro alguns fios de cabelo do meu rosto, limpo o lodo da minha boca, e fico em pé sob pernas que estão tremendo. Ok. Até agora tudo está bem. Eu paro por um minuto antes de continuar. Alguma coisa está acontecendo – eu vejo uma forma larga no ar. Há um pássaro mutante nos atacando? E então eu ouço alguém gritando “NÃO!”. E eu estou prestes a tirar os galhos de árvore da minha frente para ver o que está acontecendo. Tarde demais. Demorei demais, e há uma dor muito familiar começando no meu tornozelo. Uma dor que eu senti apenas três vezes antes. Uma dor que eu desejei nunca mais sentir. Isso tira meus pés debaixo de mim rapidamente. Eu caio no chão, gritando. Eu agarro meu tornozelo com esperança. Meus dedos cavam na árvore que está perto de mim, meio que para me estabilizar, meio que para me distrair da dor intensa que sinto na minha perna. Eu não preciso olhar para baixo. Eu sei muito bem o que essa dor significa. Aconteceu. Justo quando havíamos nos encontrado e nos juntado, mais um de nós se foi. Mais um Garde está morto.


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