Os arquivos perdidos: Os esquecidos PITTACUS LORE (Tradução de John DC)
CAPÍTULO UM Meus olhos estão abertos, mas eu não vejo nada. Apenas a escuridão. Meus pulmões estão fracos e pesados, como se estivessem cobertos por uma espessa camada de fuligem, e quando eu tusso, uma nuvem de poeira aparece a minha volta, me fazendo tossir cada vez mais, me fazendo pensar em arrancar os pulmões. Minha cabeça está latejando, imóvel. Meus braços estão presos ao meu lado. Onde eu estou? Assim que a poeira se estabiliza, minha tosse finalmente começa a diminuir e então eu me lembro. Novo México. Dulce. Espere – tudo aquilo realmente aconteceu? Eu quero pensar que tudo aquilo foi um sonho. Mas agora eu percebo que eu sei o suficiente para ver que não existe sonho algum. E esse não era um. Eu sou o responsável por ter derrubado essa base. Sem mesmo saber como eu fiz, eu usei o Legado que Um me deu, e trouxe toda a estrutura dessa base governamental para baixo. Da próxima vez que eu fizer uma coisa dessas, vou assegurar que eu esteja bem longe. Faz sentido. Eu acho que eu tenho que aprender algumas coisas sobre ter Legados. Agora tudo ao meu redor está em silêncio profundo. Eu vou acreditar que isso é uma coisa boa. Significa que não há ninguém tentando me matar. O que significa que eles estão todos enterrados como eu, ou mortos. Agora estou sozinho. Um está morta. Malcolm e Sam se foram – eles provavelmente pensam que eu estou morto também. Para minha família, eles preferiam que eu estivesse morto. Ninguém nunca saberia se eu desistisse aqui, agora, e tem uma parte de mim que quer. Eu lutei tanto. Já não é o bastante eu ter chegado até aqui? Seria tão fácil apenas parar de lutar aqui, ficar enterrado. Ser esquecido. Se Um ainda estivesse aqui, ela lançaria seus cabelos impacientemente e me diria para sair daqui, para continuar. Ela me diria que eu ainda mal terminei a tarefa que ela deixou pra mim, e que há coisas mais importantes pra mim se preocupar do que comigo mesmo. Ela iria me lembrar de que não é apenas minha vida que está em jogo. Mas Um não está mais aqui, então sou eu quem deve me dizer essas coisas. Estou vivo. Isso em si é incrível. Eu explodi os armamentos com a consciência de que talvez fosse a ultima coisa que eu faria. Eu fiz, e então, Malcolm Goode, o homem que começou a fazer com que eu sentisse que tinha um pai, pôde escapar com seu real filho, Sam. Eu pensei que se eles escapassem, eu poderia ter sido morto fazendo uma coisa boa. Mas eu não morri, pelo menos até agora. E eu percebo que se eu ainda estou vivo apesar de tudo, tem de haver um razão pra isso. Ainda há algo que eu tenho que fazer. Então eu tento acelerar meu coração lento, respirar normalmente, e avaliar a situação. Mas há ar aqui, e eu posso mover minha cabeça, meus ombros, e até minhas mãos, mesmo que seja um pouco. Minha respiração atiça a poeira, que me mostra que o caminho é para cima, e também há um pouco de luz penetrando por algum lugar. E se ainda há luz, quer dizer que eu não estou longe da superfície. Não há espaço suficiente para eu mexer os braços, mas eu luto mesmo assim, tentando empurrar as pedras e o bloco de concreto sobre o qual eu estou. Não me faz bem nenhum, é claro. Eu não sou um vatborn com uma força extrema, nem uma pessoa normal dotada de força como meu irmão adotivo, Ivan. Sou alto, porém leve, sou como um homem normal, com capacidade apenas moderadamente física. Eu nem tenho certeza se nem os vatborn conseguiriam sair da onde eu estou. Não há jeito, estou sem opções. Mas então o rosto de Um entra na minha mente novamente – ironicamente me olhando com os olhos tortos, do jeito que ela me olharia, tipo: Sério? Isso é tudo que você consegue fazer? E às vezes isso me ocorre. Não é tudo o que eu possa fazer. Eu talvez possa não ter força, mas eu tenho poder. Eu foco nas pedras ao meu redor, sabendo que, com meu Legado – o Legado que Um me presenteou – eu posso balançar tudo isso e limpar esses detritos. Eu fecho meus olhos e me concentro, imaginando o tremor, a pedra se afastando até que eu esteja livre. Nada acontece. Nem se mexeu. Se mova, droga, eu penso. E então eu percebo que eu, na verdade, disse essas palavras em voz alta, sem querer. De qualquer jeito, as pedras não me ouvem. De repente eu fico bravo. Primeiro estou bravo comigo mesmo: por ser tão idiota, tão fraco, por não ter dominado o Legado que Um me dera. Por ter ficado preso aqui, acima de tudo.
Mas isso não é culpa minha. Eu só estava tentando fazer o que é certo. Não é comigo que eu deveria ficar bravo – é com o meu povo, os Mogadorianos que me deixaram aqui. Os Mogadorianos, quem trabalham força bruta e acham que a guerra é um jeito de vida. Logo eu posso sentir minha raiva se apoderando do meu corpo. Nada na minha vida foi justo. Eu nunca tive escolhas. Eu penso em Ivan, quem era meu melhor amigo. Nós crescemos juntos, e então ele me traiu. Ele tentou me matar – mais de uma vez. Eu penso no meu pai, quem não pensou duas vezes em me entregar para os cientistas Mogadorianos para fazerem experimentos em mim com máquinas não testadas, que chegaram perto de fritar o meu cérebro. Não era nada para ele, me sacrificar pela causa. E que causa era essa? A causa sobre criar mais destruição, de matar mais pessoas e ganhar mais força para ele mesmo. Mas poder pra que? Quando conquistamos Lorien, nós deixamos um planeta sem vida, destruído. Não há nada em Lorien. Era isso que iríamos fazer com a Terra também? Para pessoas como o meu pai, essa não é a questão. A questão é guerra. A questão é vitória. Para ele, eu era apenas mais uma arma para ser usada e descartada. É isso, ninguém nunca valeu a pena pra ele. Quanto mais eu penso nisso, mais eu sinto minha mente se encher de ódio. Eu o odeio. Eu odeio Ivan. Eu odeio Setrákus Ra e o Grande Livro por ter ensinado a eles tudo aquilo que como se fosse a única maneira de se viver. Eu odeio todos eles. Meus dedos começam a formigar. Eu sinto as pedras ao meu redor começarem a tremer. Estou conseguindo. Meu Legado está funcionando. Você pode deixar sua ansiedade te destruir, ou você pode usá-la para alguma coisa. Eu fecho meus olhos de novo, cerro os meus punhos e grito o mais alto que eu posso, liberando toda minha fúria em uma explosão. E com um grande barulho, a poeira e as pedras começam a desmoronar. Meu corpo está chacoalhando, e o chão também. Em pouco tempo, tudo se move para longe, e eu estou livre novamente. É como se uma pá gigante tivesse limpado tudo. Mas nem todos tem essa sorte. A mais ou menos dez metros de mim, há um soldado mogadoriano entalado abaixo do que parece ser um pedaço de metal do qual antes pertencia a uma porta. Ele geme e se mexe agora que o peso foi retirado. Ele está vivo como eu. Maravilha.
CAPÍTULO DOIS Eu puxo meus pés, cambaleando um pouco. Meu corpo todo está dolorido como se eu estivesse sido espremido em um torno gigante, mas eu não acredito que eu quebrei alguma coisa. Estou coberto de poeira e suor, sim, um pouco de sangue, mas não um monte. De algum jeito, eu me protegi de qualquer dano. Eu não sei como, e eu realmente não me importo. O outro mogadoriano não é tão sortudo. Enquanto eu me estabilizo, ele solta gemidos baixos, mas ele não olha pra mim nem se mexe. Ele está tão machucado e derrotado que eu acredito que ele nem tenha percebido que o pedaço de metal não está mais em cima dele. Eu acho que ele nem percebeu que eu estou aqui. Ele deve ter sido atingindo por algo a mais, por que esse cara não parece daqueles que é derrotado por coisa pequena. Ele é grande como Ivan com pescoço grosso e músculos grandes, mas eu posso dizer daqui que ele não é vatborn – o seus traços no rosto são muito bem visíveis, muito longe de ser um Mogadoriano geneticamente modificado do qual lideram o exército Mogadoriano. Esse aí e um trueborn, como eu. Como meu pai. Pela tatuagem no seu crânio eu posso dizer que ele é um secretário. Faz sentido. Os vatborns são criados para ficar a frente nas guerras, enquanto os trueborns apenas dão ordens. Talvez seja por isso que eu não me lembre de ter visto ele na tropa que eu matei. Diferente de Ivan, quem me caçou e acabou morrendo em troca, esse cara deveria estar liderando na traseira. Eu realmente sinto uma pontada de desgosto com esse pensamento. Um bom comandante tem que dar exemplo, não seguir protegido atrás de seus homens. Não que adiantou alguma coisa pra ele. De qualquer jeito, nada disso importa. Eu preciso pensar no que eu vou fazer com ele. Primeira coisa: Eu o observo pra ver se está armado. Ele resmunga um pouco enquanto eu procuro, e seus olhos palpitam de agitação por um momento, mas ele resiste à minha procura. Não que eu tenha encontrado algo útil com ele – se ele tinha alguma arma, ele a perdeu, e ele não parece ser aqueles que carregam facas caso aconteça algo assim. Eu não acho muita coisa além de uma bala de menta nos bolsos. O que seria melhor que uma arma para ele agora, por que o fedor que sai de sua boca é insuportável. A única coisa que não ajuda é o sangue. Esse cara está praticamente coberto com isso. Está escoando por debaixo da poeira que cobre sua pele fina, e está sobre a roupa que ele ainda veste. Eu não vejo nenhum ferimento grave, mas ele não presta, com certeza. Quando eu fico satisfeito em saber que ele não vai pular a qualquer momento para tentar me matar, eu o deixo pra trás, e olho ao meu redor para tentar me orientar. A maior parte da Base de Dulce foi construída nos subterrâneos para evitar olhares curiosos, mas eu acho que minha pequena explosão mudou isso. Estou parado em uma cratera gigante, de aproximadamente cem metros até o topo, e há um céu claro e azul acima. O problema é que, estou pelo menos a vinte metros de onde as pedras terminam e o céu começa. Há destroços por toda parte – pedras, cimentos e pilares destruídos, computadores quebrados e equipamentos com seus fios eletricamente expostos perigosamente. Quando eu sinto o cheiro familiar de gasolina, eu percebo que estou em cima de um barril de pólvora gigantesco. Esse lugar pode se explodir em chamas a qualquer segundo. É um milagre não terem acontecido mais explosões ainda. Eu tenho que sair daqui rápido. Por sorte, apesar do fato de que estou muito longe da superfície, há muito entulho empilhado até lá em cima, e eu percebo que não será difícil uma escalada até na superfície. Eu tento ver qual caminho será mais fácil, e começo a ir a tal direção – e então eu paro. Eu olho atrás de mim, para o cara que está caído no chão – o Mogadoriano que não havia se mexido além de soltar alguns gemidos. Eu poderia deixá-lo aqui para morrer sozinho. Eu já tenho que me preocupar comigo mesmo, e, além disso, mais um Mogadoriano morto é uma coisa boa. Mas alguma coisa me para. Não é que eu estou tentando ser legal. É muito tarde para começar a ter escrúpulos morais agora. Afinal de contas, eu já matei muitos Mogadorianos desde que isso tudo começou. Por um momento eu me pergunto se meu pai saberia que eu era capaz disso. Eu me pergunto se isso teria lhe dado um pouquinho de orgulho, se ele soubesse.
Claro, o orgulho do meu pai é a última coisa que eu quero agora. Não é por isso que eu resolvo voltar, entretanto. Em vez disso, é porque eu sei que um Mogadoriano sozinho, desarmado pode fazer mais bem a mim do que morto. Por um lado, se ele foi postado aqui ele deve conhecer os arredores, e bem no meio do deserto, sem nem mesmo uma bússola para me guiar, essas coisas importam se eu quiser sair vivo. Então eu me viro, agarro o cara pelos braços, e começo a voltar com ele junto a mim. Esse cara é realmente pesado, e tudo o que eu consigo fazer é arrastá-lo pelos escombros enquanto nós nos direcionamos pela cratera em direção ao topo. O sol está mais alto no céu agora, e estamos completamente expostos a ele. Eu sinto o suor se formando em minha testa e se escorrendo pelo meu rosto, e quando eu percebo, eu estou encharcado. Eu tento limpar o caminho enquanto eu ando, chutando para os lados monitores quebrados, e qualquer coisa a mais que seja um obstáculo no caminho. Nada disso me faz bem. Dentro de minutos, meus braços amolecem, minhas pernas doem e minha costa está me matando. Não estamos nem na metade do nosso destino. Isso não está funcionando. Finalmente, quando eu largo o Mogadoriano no chão para respirar, ele se mexe. “Hey”, eu digo. “Pode me ouvir?” “Uhhuuumm”, ele responde. Bem, isso não é bom, mas é melhor do que nada, eu penso. “Hey me escuta”, eu tento novamente. “Temos que sair daqui, você consegue andar?” Ele olha pra mim, com sua testa enrugada, e eu posso imaginar o porquê. Ele está tentando descobrir quem eu sou e o que eu estou fazendo aqui. Estou coberto de sujeira, então ele provavelmente pode ver que eu não tenho uma tatuagem no crânio que marca de quais setores somos, e então ele me olha, confuso. Eu não tenho tempo pra ele ficar confuso, ou tempo para que ele faça com que as coisas tomem sentido – assumindo que ele nunca fará isso. Temos que sair daqui agora. Eu não tenho ideia de onde há mais soldados vivos na base, ou se o reforço já está a caminho. Ainda mais que eu sei que esse lugar pode ir pros ares a qualquer segundo. Isso se eu não morrer de sede antes. Eu tento algo diferente. Eu falo com ele em nosso idioma nativo, o idioma que só é falado apenas em cerimônias. Eu cito o Grande Livro. “A força é sagrada”, eu digo. É um dos mais importantes citações de Mogadore. Os olhos dele entram em foco. “Em pé, soldado”, eu digo. Eu estou muito surpreso por isso ter funcionado, enquanto ele se levanta lentamente e fica de joelhos. Típico Mogadoriano – não há nada mais que meu povo responde a não ser basicamente por autoridade. Ele bamboleia um pouco enquanto ele se estabiliza em uma postura ereta. Seu braço esquerdo está pendurado de um jeito engraçado, e sua pele pálida, com suor escorrendo pela sua testa, e ao longo de seu lábio superior. Mas ele está de pé, pelo menos agora. “Vamos logo”, eu digo a ele, apontando a abertura acima de nós. “Marche”, sem dizer uma palavra, ele segue a minha frente. Eu o sigo, percebendo que eu não estou tão melhor em forma quanto ele. Enquanto caminhamos sobre os escombros, eu me encontro pensando em Sam e Malcolm. Eu espero que eles conseguiram sair daqui sãos e salvos. Meu celular quebrou quando eu derrubei a base, então eu não posso ligar para Malcolm e descobrir o que aconteceu, para marcar algum lugar para nos encontrarmos ou até para pedir ajuda. Tudo o que eu posso fazer é guardar um pouco de esperança. Parece que se passaram horas, quando finalmente chegamos à borda da base explodida, e como o sol ainda está no alto, não deve ter passado muito tempo. Pelo menos nenhum dos meus medos se tornou verdade: não houve explosões ou fogo, nem sinal de Mogadorianos cavando pelos escombros. A cratera é mais funda do que se parecia antes, e eu olho pra cima para ver o quanto tivemos que subir para sair de lá. Vejo que há lixo empilhado o suficiente para subirmos para o topo. Isso não será fácil. Alguma coisa já foi fácil? Estou encharcado de suor, e praticamente sugando o ar enquanto subimos pra cima, usando vigas e pedras ou qualquer coisa que sirva como apoio para subirmos. Meu novo melhor amigo está se torcendo de dor, seus olhos negros vidrados e sem foco, mas ele está subindo. Tenho vergonha de ver que mesmo nesse estado ele é mais forte do que eu. Acho que ele levou um golpe na cabeça durante a explosão. A noticia boa é que isso o fez ficar gentil e dócil – quando eu digo pra ele fazer alguma coisa ele faz. A má noticia é que ele não faz ideia do que ele está fazendo. Eu preciso dele vivo, então eu preciso manter os olhos nele durante o tempo todo, para evitar que ele faça alguma idiotice.
“Como é seu nome?” – eu o pergunto, quando recuperei a respiração. Melhor saber com quem estou lidando. “Rexicus Saturnus”, ele responde depois de um minuto. Esse nome soa familiar. Ele não parece ser mais velho do que eu, e eu me pergunto se eu já não havia visto ele quando eu morava com meus pais e irmã. Ashwood é a comunidade Mogadoriana mais extensa da Terra, então, há uma grande chance de ele ter sido criado lá também. Mesmo se ele for um pouco mais velho do que eu, eu devo ter visto ele ocasionalmente, ou ouvido seu nome. Eu estudo seu rosto, e então, eu me convenço de que eu não o conheço. “Eles me chamam de Rex” Eu assinto. Não há nada para dizer agora. Nós temos que continuar subindo. Então escalamos. E então, depois de quem sabe quanto tempo, nós surgimos na superfície e tropeçamos na borda, para um vasto deserto. Eu descanso por alguns segundos para recuperar a respiração e depois eu olho para o horizonte, procurando alguma coisa – qualquer coisa – sem ser pedras e areia, e depois de um minuto, meus olhos param sobre o que parece ser uma pequena construção. Eu sei o que vamos encontrar – pode ainda haver Mogadorianos lá, por tudo que sei – mas eu decido que não temos muitas escolhas, especialmente com a possibilidade haver água e um lugar para se esconder do sol. “Tudo bem então, Rex” – eu digo, apontando para a construção distante. “Vamos indo, pra lá”. Ele apenas assente e começa a andar. Eu o sigo, me perguntando novamente se eu estou fazendo a coisa certa. Seria tão fácil matar ele. Agora que ele está fraco, seus reflexos afetados, sua mente tonta. Não seria difícil para eu matá-lo pelas costas e me livrar dele logo. Essa pode ser minha única chance. Depois que ele se recuperar, ele será capaz de acabar comigo facilmente. E então ele não pensará duas vezes antes de me matar. Mas ele é um secretário Mogadoriano. Eu não faço ideia de quais informações ele tem ou quão valioso ele é para o meu povo. Tudo o que eu sei é que se ele sabe qualquer coisa que possa ajudar Malcolm e os Gardes, vale apena mantê-lo vivo mesmo se isso significa por meu pescoço em risco. É isso o que Um iria querer.
CAPÍTULO TRÊS Parece que meus pés foram feitos de chumbo, é um esforço supremo cada passo que eu dou. Minha cabeça dói, minha língua está inchada, e meu nariz está tão seco que dói respirar por ele, mas minha garganta está com tanta areia que me dá vontade de vomitar. Minha pele está crespa e coçando sem parar, e quando olho para o meu braço vejo um vermelho brilhante, a forte luz solar já me queimando. Cada movimento envia pequenos choques de dor das minhas juntas, sobre cada centímetro da pele exposta. Eu não posso ver o que há na frente – o deserto continua, e a construção que vimos nunca parece estar chegando perto. De fato, uma parte de mim começa a se perguntar se ela é real. Quando eu olho pra ela por muito tempo ela começa a oscilar, como se fosse apenas uma miragem que sempre permanecerá não importa quanto tempo eu andar. Embora eu não tenha certeza. Na verdade, eu não tenho mais certeza de nada. Eu nunca me senti tão sozinho em toda minha vida. No passado, mesmo quando as coisas eram horríveis, Um sempre estava comigo, me lembrando de o que era certo. E então Um se foi, mas pelo menos eu tinha Malcolm. Agora ele se foi, também, e eu só tenho a mim. Eu só queria ter mais alguém para confiar. Claro, eu não estou sozinho. Rex está aqui também. Mas ele não é meu amigo. Se ele soubesse quem – ou o que – eu sou, ele provavelmente me mataria na hora. Matar o Mogadoriano traidor quem se virou contra seu pai e trouxe a Base de Dulce para o chão daria pelo menos uma promoção digna pra ele. No momento ele é inútil. Seus passos estão mais irregulares, sua cabeça está baixa, como se ele quisesse falar sozinho enquanto atravessa o deserto inteiro do Novo México. Eu não sei o que ele está falando, mas eu tenho a impressão de que ele está falando com alguém. Alguém que obviamente não está aqui, agora. Então é apenas eu, o deserto e um soldado Mogadoriano alucinado. E então a construção para qual estamos indo começa a mudar de forma. De um borro distante para algo que eu posso começar a reconhecer. Está ficando maior, mais perto. Estamos quase lá. E então eu percebo o que é – com tudo o que aconteceu, eu praticamente esquecei. Alguns quilômetros antes da base, dentro do perímetro, havia uma torre de vigilância. Houve. Quando Malcolm e eu chegamos aqui na primeira vez, foi a primeira coisa que destruímos, junto com o gerador que está bem atrás e que era responsável pela eletrificação da cerca elétrica. Eu decidi destruí-la, mandando-a direto para o gerador, para que pudéssemos entrar e resgatar Sam. Eu pensei que havia destruído a torre por completo, mas agora que se aproximei, eu começo a ver que aquela estação de vigia que havia em cima da torre sobreviveu, uma sala de metal e concreto que agora está a uns cem metros de distância do gerador. Não é muito, talvez do tamanho de um banheiro, sério, mas podemos descansar nela um pouco. Estamos quase lá quando eu ouço o som mais maravilhoso do mundo. Eu tento não correr – a esse ponto eu duvido que se eu caísse eu conseguiria levantar de novo – mas eu corro em direção ao barulho. E lá, na torre desmoronada, há um pedaço de cano quebrado. Um cano quebrado jorrando água fresca. Eu caio de joelhos abaixo da torre, onde a água caindo do cano formou uma pequena poça, eu me jogaria lá se eu pudesse. Como eu não posso fazer isso, eu pego o tanto de água que eu posso com as mãos e jogo no meu rosto. Depois eu pego mais um pouco, molho os lábios e tomo. A água está quente e com gosto de metal, mas tem gosto de vida. Eu me sinto melhor imediatamente. Estou cheio de energia se espalhando pelo meu corpo, pelo meu peito, indo em direção aos dedos das mãos e dos pés. Eu finalmente posso pensar claramente agora. E então eu me lembro de Rex. Ele está de joelhos ao meu lado, olhando fixamente para água com os olhos vermelhos, mas ele não bebe. É como se ele não se lembrasse de como fazer. Eu me abaixo e jogo um pouco de água no rosto dele. Seus olhos se arregalam. Ele lambe os lábios, e então ele se abaixa e começa a tomar muita água, furiosamente. Eu me sento. Temos água agora, e abrigo. Talvez haja um pouco de comida ainda, se tivermos sorte. Quando eu começo a pensar que as coisas estão tudo bem, eu ouço um barulho ensurdecedor. Um rosnado. Eu viro minha cabeça, assustado com o barulho, e me dou de cara com uma besta poderosa. Um lobo – o maior que eu já vi em toda minha vida. Seus olhos dourados estão estreitos ameaçadoramente; sua calda está se contorcendo e suas orelhas estão em pé, atentas. Ele mostra suas presas.
CAPÍTULO QUATRO “Devagar aí, garotão”, eu digo cuidadosamente, levantando o mais devagar possível, esperando não assustar mais o animal do que eu já assustei. “Não estamos aqui para machucá-lo”. Ele cava o chão com as patas e ameaça atacar. Se ele decidir atacar, estamos prontos, e se eu puder usar o Legado de Um novamente para fazê-lo perder o equilíbrio, me dará tempo para correr para a sala de vigia e ficar protegido. Não é o melhor plano do mundo, mas é o único que eu tenho. A água me ajudou um pouco, mas minha cabeça ainda está latejando. Estou balançando sobre meus pés e minha pele está queimando. Não é a melhor hora para se usar um Legado que eu não tenha dominado ainda. Mas eu me concentro e cerro meus punhos. Eu o levando devagar e aponto para o chão. Há um tremor leve, e o chão abaixo treme como uma mesa que foi esbarrada por acidente. É alguma coisa, mas não vai ajudar muito. Estou surpreso com a reação do lobo: ele uiva baixo, e da um passo pra trás, me olhando agora com curiosidade em vez de raiva. Ele inclina a cabeça para o lado como se estivesse tentando me entender, e então começa a se aproximar devagar. Dessa vez ele não ruge. Ele quase parece amigável. O que quer que eu tentei fazer com ele usando o Legado, a reação foi oposta. “Uh, e aí amiguinho”, tentando fazer com que minha foz não parece ameaçadora, com as mãos para cima. Sem movimentos rápidos. Quando ele lambe a palma da minha mão esquerda, eu sei que ele não está tentando atacar. “Bom garoto”, eu digo e, bem devagar, faço cafuné nele. Sua pele é grossa e macia, e ele olha pra mim constantemente. Não tenho ideia do por que, mas de repente ele parece confiar em mim. Eu viro para ver o que Rex acha de tudo isso e eu descubro que ele não estava vendo nada disso: ele desmaiou. Por um momento me preocupo achando que ele está morto, mas então percebo que ele respira, devagar. Seus ferimentos – adicionados com a desidratação – deve ter o deixado muito mal. Eu preciso tirá-lo do deserto aberto. O sol está começando a descer no horizonte. Eu ouvi que no deserto, à noite, fica muito frio. A temperatura já começou a baixar. Seria bom ter quatro paredes para nos proteger. “Você vai ficar por aí?” – eu pergunto para o lobo, enquanto eu pego Rex pelas axilas e começo a arrastá-lo para a estação de vigia. Eu me sinto um otário falando com um animal, como se eu tivesse mais opções com quem conversar. Ele olha pra mim e começa a me seguir, silenciosamente. Por sorte, só demora alguns minutos até eu chegar à estrutura. Todas as janelas se quebraram com o desmoronamento, mas há persianas de madeira que parecem intactas. Depois de várias tentativas, a porta emperrada se abre. O lugar parece intacto. Há algumas mesas, cadeiras, guardaroupa, um computador quebrado, e um mini-freezer. É; isso dá. Eu entro, arrastando Rex comigo, e o lobo nos segue. Eu não sei por que, mas eu me sinto mais seguro por ter ele conosco. Infelizmente o lugar é apertado. Depois de largar o corpo de Rex no chão, quase não há espaço para se virar pra trás sem trombar no lobo. Estou achando que talvez não tenha espaço para todos nós aqui dentro. Eu dou um passo pra trás. Eu me pergunto se é isso que acontece quando você anda desordenado por um deserto o dia todo com um cara duas vezes maior que você. Eu abro minha boca para falar e então percebo que não há o que falar. Acontece tudo depressa: agora sua pele é áspera e escamosa, e então seu corpo todo começa a tremer como quando você joga uma pedra na água, e ela cria ondas. Ele está encolhendo. Aconteceu tão depressa que eu nem tive tempo de pensar no que estava acontecendo. Mas daí tudo acaba. Sentado no meu pé, piscando com olhos gigantes pra mim, há um lagarto. “Puta merda!” – eu murmuro. São as únicas palavras que eu lembro. Não é que minha vida tem sido chata. Eu fui criado em um condomínio secreto de aliens conquistadores, tive minha mente invadida por uma garota morta, e recentemente desenvolvi poderes. Mas nada disso foi tão esquisito do que ver um lobo enorme se transformar em um lagarto pequeno e escamoso.
CAPÍTULO CINCO “Eu sei quem você é” São as primeiras palavras que Rex diz diretamente pra mim. Estamos aqui há alguns dias agora. Eu decidi ficar aqui para que ambos pudéssemos nos recuperar, embora eu não tenha dormido, por que cada barulho pequeno que eu ouço eu já me preocupo achando que são os Mogs – ou o FBI – vindos para verificar se não há sobreviventes da explosão. Eu não tenho visto uma pista se quer de alguém por aqui – Mogadoriano ou Humano. Eles devem ter concluído que todos morreram e que não há necessidade de revirar os escombros. Temos abrigo e água, e embora tenhamos acabado com toda a comida dos guardas, eu tenho bisbilhotado pequenas lojas em volta da Base de Dulce: bolachas, grãos e frutas desidratadas. Não estamos na fartura, mas poderia ser pior. Recuperei-me rapidamente usando o quite de primeiros-socorros que havia aqui, mas a água e o descanso ajudaram muito, Rex está se recuperando bem também. Ele retoma sua cor a cada dia, junto com sua respiração, embora seus braços pareçam estar quebrados. Nos últimos dias, ele tem estado entre a consciência e a inconsciência. Ontem ele passou a maior parte do dia acordado, apenas ficou sentado num canto, olhando para o teto, totalmente em silêncio. Era difícil dizer se ele não conseguia falar ou se ele não queria falar. Mas agora ele decidiu falar, e a coisa que ele disse era o que eu estava temendo. Ele me reconhece. Eu só dou de ombros, tentando fingir de que não sei do que ele está falando. “É?” – eu respondo. “Você é Adamus Sutekh. Filho do General Andrakkus Sutekh” – não há erro no seu tom de voz, e seus lábios se mexem com desgosto. “Você é um traidor”. Eu congelo. Ele sabe de tudo. Eu olho para ele, tentando imaginar o que ele vai fazer depois. Eu ainda posso matá-lo, se eu tiver que fazer isso – eu não vou ter essa chance depois que ele se recuperar totalmente. Eu afasto a ideia mais uma vez. Eu talvez esteja fazendo o maior erro da minha vida, mas eu ainda acho que ele é muito valioso para ser morto. É risco que eu vou ter que tomar. “Eu salvei sua vida” – eu digo normalmente. Rex bufa. “Você traiu seu povo, você destruiu o laboratório de Ashwood Estates”. Isso não é totalmente verdade – Eu destruí o laboratório de lá sim, com o Legado de Um – mas eu deixo passar enquanto ele aumenta o tom de voz. “E eu acredito que você é o responsável por toda essa bagunça, não é?” Eu viro de costas. Eu nem consigo olhar pra ele. Eu sei que eu estava fazendo a coisa certa – o que deveria ter sido feito – mas ainda há uma parte de mim que se sente envergonhada. Agora ele está quase gritando, embora ele esteja muito fraco pra soltar um grito de verdade. “Você é patético. Não sei como alguém fraco como você conseguiu fazer isso, mas foi você quem explodiu a base. Você matou todos. Seu próprio povo”. O que eu não digo a ele é que eu não fiz isso sozinho. Das peças do quebra-cabeça que eu consegui juntar – o caos e barulho durante o ataque, os escombros depois da explosão – eu tenho certeza de que não fui só eu que acabou com a base. Se ele quiser pensar que eu fiz tudo isso, tudo bem, mas eu sei que a Garde deve ter passado por lá também. Eu só dou de ombros. “Eu estava procurando por uma pessoa”, eu digo. “Vocês estavam mantendo ele preso lá. Eu apenas o libertei”. Rex está olhando pra mim. “Você matou todas aquelas pessoas por causa de uma pessoa?” – ele pergunta. “Aquele garoto humano que estava preso, por quê?” Meu novo amigo me salva da resposta que eu teria que dar. Ele esteve fora o dia todo, e agora e ele entrou pela porta e subiu no meu ombro. Ele está na forma de um falcão agora. Rex se afasta quando vê o pássaro. “Que diabos é isso?” “É o Poeira”- eu digo feliz por ter mudado o rumo da conversa. Rex apenas estreita seus olhos em mim. Eu posso ver as engrenagens trabalhando na sua cabeça. Posso imaginar no que ele está pensando, e o que quer que seja não são bom. Eu olho para o Poeira, e ele bica suas penas devagar. Ele e eu já nos tornamos amigos, e eu o chamei de Poeira, devido ao fato de estarmos num deserto. Eu não sei o que ele é ou que estava fazendo lá fora, mas eu começo a sentir que estivemos sozinhos por um bom tempo.
Rex, por outro lado, não parece nada feliz por termos essa companhia. Ele olha pra mim e para Poeira por um momento longo, e depois, do nada, parece que ele criou molas no pé. Antes de eu perceber o que aconteceu, ele está me mantendo preso à parede, com os dedos no meu pescoço. Poeira voa do meu ombro e pousa sobre a mesa da sala. Ele deixa escapar um grito alto, mas Rex ignora. “Eu não sei o que você está planejando, traidor”, ele rosna pra mim. “E eu não sei que coisa é aquela. Mas seus dias estão contados. Olhe como você é fraco. Mesmo machucado, eu poderia te matar agora mesmo”. “Então faça”, estou blefando, é claro. “Mate-me” – eu digo a ele. E então um rugido soa atrás de Rex, e ele se vira e fica cara a cara com o Poeira. Agora ele não é mais um falcão. Ou um lagarto. Ele se transformou em um leão enorme, tão grande que a sala onde estamos é pequena pra ele. Tento com sucesso atraído a atenção de Rex com o rugido, ele abre sua boca e mandíbula como se estivesse dizendo, vá em frente, tente. Rex pula pra trás, mas ele não está surpreso como eu achei que estaria. Ele gira a cabeça pra mim com uma expressão desagradável. “Eu sabia”, ele diz. “Apenas um otário como você teria um Chimaera como bicho de estimação”. Eu olho pra ele fixamente. “Chimaera”. Eu já ouvi esse nome, mas não me lembro de onde. Rex bufa. “Você nem sabe o que é, né? É isso o que ele é. É uma besta Lórica, um metamorfo. Pensei que eles eram apenas lendas, mas quando invadimos Lorien eu descobri que eram reais. Criaturas nojentas”. Claro. Chimaera. Agora eu me lembro. Eles são mencionados no Grande Livro – alguma coisa sobre pestes horríveis, eu acho – mas os dias que eu passava lendo o livro de Ra faz tanto tempo que eu nem me lembro direto. E então eu me lembro de outra coisa. Eu já vi essas criaturas antes – na memória em que Um escapava de Lorien. Mas eu pensei que eles estavam todos mortos agora, que eles foram exterminados pelo meu povo junto com o resto do planeta. O pensamento de que eu estava errado me faz sorrir. A Garde ainda tem alguns truques na manga. E Rex não é tão durão quanto ele quer que eu pense. Eu fiquei em choque em saber que ele tinha força suficiente para me atacar, mas isso deve ter esgotado ele, porque agora ele está de joelhos no chão. Poeira ainda está o observando, pronto pra atacar se for necessário, mas eu o digo para voltar a sua forma de pássaro. Eu deveria ter me acostumado com isso, mas não. Me encanta cada vez que ele se transforma, e agora que eu sei o que ele realmente é, me dá um pouco de esperança também. “O que ele faz aqui, então?” – eu pergunto mais pra mim do que pra Rex. Um sorriso atravessa seu rosto. Ele sabe alguma coisa. Então eu entendo. “Vocês estavam mantendo-o preso, não estavam? Como Sam. Como Malcolm”. Rex olha pra mim com fogo nos olhos. “Você não entende, não é?” – ele diz. “Estamos em guerra. Não é o contexto para sabermos quem é mais legal. Prisioneiros são presos. Pessoas morrem. Meus amigos morreram. Eles deveriam ter sido seus amigos também. Se você não tivesse decido traí-los, também”. Eu quase sou afetado por suas palavras, mas eu as tiro do pensamento. “Você está errado,” eu digo. “Eu entendo. Prisioneiros são presos. Pense nisso, parece que eu arranjei um prisioneiro pra mim: você”.
CAPÍTULO SEIS Estou mais preocupado do que eu aparento estar. Alguns dias depois da minha “briga” com o Rex, ele está mais saudável do que nunca. Eu tenho o Poeira para me proteger – eu sei que por hora ele não vai deixar acontecer nada comigo – mas se não fosse por ele, Rex seria capaz de me matar facilmente. Estou começando a perceber o quão sortudo eu estou nos últimos dias, e que foi um erro de minha parte ter mantido Rex vivo. Não é só por isso. Estou mais ansioso do que nunca sobre a possibilidade dos Mogadorianos aparecerem e nos encontrarem. Eu revistei Rex pelo menos umas dez vezes agora, procurando por aparelhos comunicadores ou armas, mas eu ainda estou preocupado de que ele tenha outro jeito para se comunicar com eles, preocupado dele trazê-los até nós. Precisamos sair daqui. Precisamos de um plano. Todo dia eu saio à procura de comida, e cada dia eu volto com menos comida do que o dia anterior. É hora de se mexer. Mas para onde? Não tenho ideia. Eu queria poder ter um jeito de se comunicar com Malcolm. Presumindo que ele saiu daqui vivo, ele saberia o que fazer. Mas todos os equipamentos da base estão destruídos, impossível de serem reparados. Até eu voltar à civilização, estou por minha conta. Eu tento pensar no que Um diria se ela estivesse aqui. Estou tão acostumado em tê-la em minha mente que eu se eu realmente tentar, eu posso invocar alguma imagem como se ainda dividíssemos a mente. Quando eu fecho meus olhos e vejo a imagem de seu rosto, eu nos vejo lá na Califórnia, parados naquela praia. Ela está surfando descalça, seus braços cruzados em seu peito, seu cabelo rosado no por do sol e ondulando com a brisa. Rex está melhor. Seus hematomas desapareceram e os cortes e escoriações que cruzam seu corpo parecem estar voltando ao normal. O grande corte nele que estava esguichando todo aquele sangue quando eu o encontrei levará algum tempo para se curar corretamente, mas é realmente apenas uma feria superficial. Quanto ao seu braço, não foi quebrado, apenas foi deslocado que, por acaso, voltou ao normal enquanto ele fazia caretas de dor. Seu humor era pior do que o meu. Ele passa a maior parte do seu tempo sentado no canto com um olhar escuro em seu rosto, algumas vezes resmungando para si mesmo e outras em um silêncio mortal por horas. Se eu não o conhecesse melhor, diria que está com depressão. Mas isso é impossível – verdadeiros Mogadorianos não entram em depressão. Eles se vingam. Estranhamente, a única coisa que tira toda a concentração dele é o Poeira. Eles tentaram uma trégua, e apesar de suas tentativas de parecer não surpreso, Rex parece tão fascinado com as transformações do Chimaera quanto eu. Um dia quando Poeira está de bom humor e fica mudando de forma toda hora – de coelho para papagaio para chimpanzé para labrador – eu vi Rex o observando com uma coisa muito perto de um sorriso. Isso me da uma ideia: “Quanto você sabe sobre ele?” - eu pergunto, apontando o Chimaera com a cabeça. Eu realmente não estou esperando resposta, então me surpreendo quando ele me responde. “Não muito”, ele diz. “Eu não sei aonde eles o encontraram, ou há quanto tempo ele estava em Dulce. Eu só sei que estávamos fazendo experimentos neles”. Experimentos. Eu me arrepio com a palavra, imaginando Poeira em alguma cela laboratorial subterrânea enquanto um cientista Mogadoriano o tortura em nome de Setrákus Ra. Eu sei muito bem como é a sensação. Eu fui um dos ratos de laboratório. Eu não quero pensar nisso, não adianta eu pensar nisso. E alguma coisa me vem à mente. Alguma cosia que Rex me disse que me deixa estranho. Eu só não sei o que é. “Neles?”– eu pergunto. “Huh?” – Rex diz intrigado. Ele tenta se desfazer do erro, mas eu sei pela culpa nos seus olhos que ele sabe de alguma coisa. “Você disse que eles têm feito experimentos neles. Em mais de um. Há mais Chimaera soltos? Pela Terra?”- Ele está olhando para o teto. Ele encolhe os ombros. “Eu pensei que os Chimaera haviam sido todos mortos em Lorien” – eu digo, com cuidado, para não lembrá-lo de que ele não deve me dar informações.
Ele se lembra. Não cai na minha isca. No dia seguinte, entretanto, quando eu o encontro no rotineiro canto, com o queixo apoiado nas mãos, eu tento de novo. “Há mais deles pela Terra, não há?” – eu pergunto. “Poeira não é o último Chimaera”. Rex olha pra mim. Seu olhar é morto e distante. Poeira é um gato agora, andando debaixo de mesa. “Ouça”, eu digo. Ele nem olha mais pra mim. “Poeira te mataria agora se eu quisesse. Você sabe disso, certo? Você ainda está fraco, e mesmo se não estivesse ele é mais forte do que nós dois juntos”. “Então mande ele me matar” – Rex responde ainda não me olhando. Quase soa como se ele realmente quisesse ser morto. Eu não posso esconder minha surpresa. “Eu não acredito que um trueborn é capaz de dizer isso”, eu digo. O choque na minha voz é genuíno. Rex levanta a cabeça e olha diretamente nos meus olhos, sua testa erguida com uma forma de ansiedade e vergonha. Foi a coisa certa pra eu dizer. Eu continuo. “Parar de lutar – te faz mais fraco do que eu”. “Eu nunca pararia de lutar”, ele resmunga. “Eu vou ver os lorienos mortos mesmo que seja a última cosia que eu faça. Mas matar você, Adamus Sutekh – isso será a primeira coisa que eu vou me preocupar em fazer”. “Certo”, eu digo. “Mate-me”. Ele sabe que não pode, não agora pelo menos. Mas eu tenho o Poeira. “Eu sei que meus dias estão contados,” eu o digo. “Você vai me matar de qualquer jeito, ou meu pai vai, ou algum vatborn que nem sabe meu nome. Mas agora, eu sou o cara que tem o poder. Você tenta fugir e aquela pequena coisa em baixo da mesa vai se tornar um gorila de dez toneladas e engolir você como uma banana”. Rex rola os olhos, e volta a olhar para o teto. Ele sabe que estou certo. Eu continuo, sabendo que estou progredindo. “Eu preciso de você também, Rex. Há uma razão pela qual você vive. É porque eu posso usar você. Você tem informações. E informação é o que eu quero”. “Eu não sei de nada”, ele diz. “Diga-me o que eu quero saber”, - eu digo, “e então sairemos daqui. Haverá tempo de sobra pra você me matar depois que sairmos daqui. Eu não vou impedi-lo”. Eu posso o ver considerando a questão. Eu seguro minha respiração. Se isso não funcionar, eu realmente vou matá-lo, eu decido. Quando eu vejo que ele está vulnerável, eu me jogo sobre ele e faço apenas uma pergunta. “‘Eles’, você disse ‘eles’. Onde estão os outros Chimaera?” “Eu não tenho os visto”, ele resmunga. “Mas há muito deles. Pelo menos dez. Talvez mais. Eles vieram de outra nave que veio de Lorien – pelo menos é o que eu escutei de um dos oficiais”. De repente tudo parece ser de extrema importância. “Você disse que eles faziam experimentos com eles”, eu digo, tentando esconder a urgência do meu tom de voz. “Que tipo de experimentos?” Eu acho que Rex percebeu que não há motivos para ele continuar reclamando, uma vez que ele já disse muito, porque agora ele responde sem hesitação. Parece que ele sente orgulho em explicar. “Eles estão tentando descobrir como a transformação do Chimaera funciona. Setrákus Ra acha que se conseguirmos isolar o gene que os da essa habilidade, podemos duplicar esse gene e aplicar nos vatborn”. O jeito que ele fala “conseguirmos” me arrepia. Eu esqueci como é a sensação de viver no meio deles, onde sua própria autoestima está ligada a glória confusa de um senhor de guerra que perseguiu nove adolescentes em um sistema solar apenas para se certificar de suas mortes. “Onde eles estão?” eu pergunto. “Diga-me onde eles estão, e iremos lá juntos”. Ele parece chocado com minha persistência, e ele solta um expiro profundo. “Eles não estão aqui. Poeira se separou dos outros de alguma maneira e eles o estavam mantendo preso até que alguém pudesse levá-lo de volta para o quartel central”. “Diga-me a onde, Rex”. Apenas agora caiu a ficha dele de que ele disse demais, e parece preocupado com as consequências que isso possa gerar. Revelar segredos ou informações é contra o regulamento do qual ele foi treinado, contra tudo do Grande Livro. Sua voz treme um pouco, mas ele me diz de qualquer jeito. “Nova York”, ele diz. “Um lugar chamado Ilha da Ameixa”.
CAPÍTULO SETE “Cidade legal”, Rex comenta com sarcasmo explicito enquanto olhamos a cidade. “Tudo isso valeu a pena”. Foi um dia longo para ambos de nós. Depois de tentativas e falhas de encontrar um veiculo que funcionasse em qualquer lugar ao redor da base, não tivemos outra escolha a não sei persuadir Poeira a nos levar, em suas costas. Em forma de burro. Ele zurrou e quase perdeu o equilíbrio quando Rex e eu subimos nele, mas ele conseguiu, e depois de horas, estamos aqui. Como a civilização anda, a cidade que nós estamos está apenas a alguns passos das ruínas da Base de Dulce, mas só alguns. É empoeirada e metade das lojas da rua principal está fechada. A outra metade é estranha, lojas de comida e farmácias que parecem que não trocaram suas vitrines por pelo menos trinta anos. Mas ainda há carros, ruas asfaltadas e as luzes dos postes funcionam. Sem falar na comida. Quando chegamos ao centro da cidade, não posso deixar de parar fora da Célia Café e olhar pela janela para olhar para as pessoas sentadas em estandes, olhando feliz a comida abaixo. Hambúrgueres, panquecas e ovos e bacon. Minha boca encheu de água. Depois viver comendo qualquer alimento enlatado e embalado e embrulhado que poderíamos furtar dos armários nos restos da base, o pensamento de uma real refeição adequada é suficiente para me fazer ficar com mais água na boca. Rex se aproxima da porta do restaurante e eu o puxo pelos ombros. “Mais tarde”. Ele faz uma cara azeda, mas solta a maçaneta da porta. Ele sabe muito bem que nem ele ou eu temos dinheiro para pagar uma refeição. Comida pode esperar. A primeira coisa que precisamos é dinheiro. Eu ainda estou na calçada, perguntando se seria viável roubar um banco, quando um casal de meia idade sai do restaurante e passa por mim. Eles continuam rua abaixo, e eu vejo como um rapaz magricela correndo uma mochila tromba no homem e rouba sua carteira. Acontece tão rápido que eu não acredito no que eu vi. Por um momento eu penso em sair correndo atrás do ladrão, recuperar a carteira e devolvê-la para o casal. Mas Rex tem uma ideia diferente. “Precisamos de dinheiro, né?” – ele pergunta, com os olhos seguindo o bandido, que agora corre freneticamente rua abaixo. “Vamos segui-lo, mas não de perto, não queremos que ele nos veja”. Eu não sei no que ele está pensando, mas eu assinto, e então começamos a segui-lo. O que quer que ele esteja pensando, tem que funcionar. O criminoso trabalha duro. Pelo que posso ver que ele rouba mais três carteiras e duas bolsas ao longo da próxima hora, enfiando tudo em sua bolsa sem fazer uma pausa por um segundo. De alguma forma, ele nunca dobra para trás, nunca anda na mesma rua duas vezes. Em um ponto eu vejo um carro da polícia, mas o ladrão o vê também, e se abaixa até que ele esteja bem longe da vista. Este cara é obviamente um profissional. Após os policiais se forem e do cara ter roubado a segunda bolsa, Rex me cutuca. "Prepare-se." Ele atravessa a rua, pega o ritmo para conseguir um bloco à frente da nossa presa e, em seguida, corta para trás por cima e começa a seguir na minha frente. Há um beco à frente, e Rex acerta perfeitamente: ele está apenas passando o ladrão de carteira quando ambos chegam ao beco, e com um empurrão rápido ele manda o cara menor caindo para os lados, direito para o beco e, temporariamente, fora da vista. Ou pelo menos o mais próximo que podemos controlar. Corro para alcança-los. O ladrão não perder tempo reclamando, ou para perguntar o que queremos, ou qualquer coisa assim. Em vez disso ele corre para outro lado do beco, e eu os sigo para o corredor estreito de tijolos do beco sem saída. Eu já posso ver seu plano, ele vai se lançar parcialmente contra a parede, e em seguida, pegue a parte superior e se impulsionar para cima para escapar. Frustrado, eu aumento o meu ritmo, assim como o Rex, mas é óbvio que não vamos pegar o batedor de carteiras antes que ele atinja o lixo, que está encostado na parede, o qual ele vai usar como apoio para a escalada. Eu paro - não temos muito tempo e posso pensar em uma outra maneira de parar esse cara no seu caminho. Eu canalizo minhas emoções de raiva, levanto a mão e me concentro no chão abaixo do lixo.
"Vamos lá!" - Murmuro, rangendo os dentes. E assim como o ladrão faz o primeiro salto, eu sinto um pequeno tremor no solo. O lixo vem voando em nossa direção. Ele bate no ladrão arremessando-o contra a parede lateral do beco. Ele bate com força suficiente para que ouvíssemos o ar escapar de seus pulmões enquanto ele cai. "O que foi isso?" - Rex diz, me alcançando. "Parecia-me que ele estava planejando ir para cima e acabou caindo", eu respondo ao agacharse ao lado dele. Ele ainda respira o que é bom, há uma grande diferença entre matar Mogs que estão atacando você e matar algum idiota que rouba carteiras das pessoas para viver. O impacto só o nocauteou. Eu olho para o lixo. "Acho que ele não sabia que o lixo tinha rodinhas" - Eu pego sal mochila, encontrando todos os seus bens roubados e passo-os de volta para Rex, um por um. "Pegue o dinheiro, deixe o resto”. Um minuto depois, joguei os sacos vazios de volta no colo do cara. Nós agora temos cerca de mil e trezentos dólares. "As primeiras coisas primeiro", eu digo Rex, ao sair do beco. "Suprimentos, uma refeição decente e então vamos descobrir como chegar a Ilha da Ameixa a partir daqui". Rex concorda. "Suprimentos, alimentação, transporte, confira." É um pouco estranho que de repente nós estamos trabalhando juntos com tanta facilidade, eu podia quase esquecer que nós devemos ser inimigos. E enquanto eu estou contente que Rex não está me atacando ou tentando entrar em contato com Mog na base, eu me sinto desconfortável. É bom finalmente ter alguém para conversar, mas eu não posso me deixar pensar que ele é meu amigo. Ainda assim, não vai doer comer alguma coisa juntos, certo? Voltamos para o centro da cidade, mas como estamos tontos estou distraído por um segundo pelo o que parece ser a sombra de uma figura correndo atrás de nós. Eu dou um pulo, e Rex me dá um olhar engraçado. Devo apenas estar cansado e com fome. Quando eu faço a varredura para cima e para baixo da calçada, não há ninguém em tudo à vista.
CAPÍTULO OITO Duas horas depois, estamos sentados na traseira de uma caminhonete, o vento soprando através dos nossos cabelos. Nós dois estamos satisfeitos – e eu comprei uma roupa de cachorrinho pro Poeira – e até comprei novas roupas, e então alugamos um quarto de motel para tomar banho e se trocar. Eu consegui comprar um celular enquanto Rex não estava olhando, mas Malcolm não responde as minhas ligações e eu não quis deixar uma mensagem – por precaução, pois não sei se outra pessoa está com o celular dele. Espero que ele e Sam estejam bem, mas é impossível de se saber. Mais uma coisa para se preocupar. Se mantenham juntos, eu digo a mim mesmo. Você chegou até aqui. Apenas ponha um pé na frente do outro, pois isso é importante. E o que eu estou fazendo é importante. Eu tenho certeza. Eu já vi o quanto Poeira é capaz sozinho. Encontrar o resto dos Chimaera e os entregá-los para a Garde pode ajudar a virar o jogo para eles. Significaria facilmente a diferença entre a vitória e a derrota, não apenas para os Lorienos, mas para a Terra também. Porém, se meu povo conseguir descobrir o gene dos Chimaera e transferi-lo para os vatborn, a guerra pode ser dada como ganha para eles. E então a morte de Um seria em vão. Minha traição terá sido em vão também. Mesmo que eu esteja cansado, sozinho e me sentindo que estou enlouquecendo, eu sei que eu tenho que ir a Ilha da Ameixa. Eu tenho que libertar os Chimaera. Se eu conseguir fazer isso sem ser morto durante a tarefa, isso vai ser um bônus. Antes de fazer qualquer coisa, eu preciso sair do Novo México. É mais fácil falar do que fazer. Há um trem. Infelizmente ele só faz três paradas – uma aqui, uma no Colorado e a parada final em Wyoming. Nenhum desses lugares nos aproxima de Nova York. Ônibus não é uma opção. Rex sugeriu o roubo de um carro, mas é uma coisa que eu não tenho ideia de como fazer, e é muito arriscado. Você não pode salvar o mundo se estiver preso. Eu sugiro alugarmos um carro, mas sem cartões de créditos e identidades, eu duvido que conseguiríamos fazer isso. Ainda temos a opção de pedir carona. Rex e eu temos uma pele pálida, mais branca do que o branco da pele dos Mogadorianos, e Rex têm suas tatuagens militares no crânio, com isso, nenhuma dessas características nos faz parecer caronas atraentes. Mas ambos puxamos nossas novas capas na tentativa de esconder a parte das características alienígenas mais reconhecíveis. Eu não tenho certeza de como funciona, mas nós ainda tempo uma arma secreta: Poeira teve o bom senso de transformar-se no mais atraente golden retriever do mundo. O tipo de cão que as pessoas abrandam apenas para olhar. Em pouco tempo, funciona. O terceiro veículo a passar é uma picape um pouco maltratada. Ele para até à nossa frente no acostamento da estrada. O motorista de meia-idade que rola para baixo da janela tem "Fazendeiro" escrito sobre ele, a partir da pele envelhecida para as mãos calejadas. "Querem uma carona?", ele pergunta. "Isso seria ótimo, obrigado", eu respondo, indo até o lado do passageiro. "Estamos tentando chegar a Alamosa”. "Fácil," ele me assegurou. "Não pense que cabe todos os três de vocês aqui comigo, mas vocês são bem-vindos para viajar lá atrás". Eu olho para baixo no banco do passageiro, que está cheio com um monte de sacolas de supermercado embalados. "Lá atrás soa bom, obrigado”, asseguro-lhe. Faço um gesto para Rex para subir, e Poeira pula para o lado depois ele. Eu pulo por último, e então nós estamos partimos. Estamos em Alamosa uma hora depois. "Onde você está indo na cidade?" - Ele pergunta através de sua janela aberta. "Em algum lugar em particular?" "Para a rodoviária", eu respondo, e ele concorda. Dez minutos depois, os freios na frente de um pequeno tijolo vermelho de construção com um sinal grande de “RODOVIÁRIA” na frente. "Obrigado mais uma vez," eu digo a ele, enquanto todos nós pulamos para fora. "Posso dar-lhe algum dinheiro para a gasolina?". Ele acena que não. "Eu estava vindo para cá de qualquer maneira", ele me assegurou. "Vocês, rapazes, vão chegar à sua casa a salvo agora!" Eu aceno para trás enquanto ele vai embora. Ele não tinha que nos trazer aqui ou pegar o nosso dinheiro. Ele poderia ter dado uma olhada em nós e nos dado como arruaceiros e não nos ajudar. Mas aqui não é Mogadore. Aqui, ele não é considerado fraco
por ajudar alguém. Este motorista é exatamente o tipo de pessoa que Um e os outros Garde está lutando para proteger. O tipo de pessoa que minha raça quer escravizar ou abater. Eu não posso – eu não vou deixar isso acontecer. Então eu compro duas passagens para a cidade do Kansas. O Poeira é colocado no bolso, em forma de lagarto, e todos se preparam para a viagem. Como o nosso ônibus acelera a descer a estrada, Rex fecha os olhos. Eu olho para ele e pergunto o que ele esta pensando. Parte de mim quer acreditar que o tempo gasto comigo e com Poeira mudou ele. Que talvez ele esteja lutando consigo mesmo - o que eu já fiz, questionando os princípios do Grande Livro – que foram pregados em sua cabeça desde que ele aprendeu a andar. Gostaria de saber também se ele quer saber por que ninguém está procurando por ele. Se ele está com raiva para saber exatamente como ele é descartável para os Mogadorians. Eu sei como ele se sente. Eventualmente eu adormeci. Como eu faço, Um parece-me mais uma vez. Eu sei que não é realmente ela. Às vezes um sonho é apenas um sonho. Mas ela me fala em sua própria voz pela primeira vez em anos. "Você é diferente dele”, ela me lembra. "Você não pode confiar nele. O ódio está em seu sangue. Ele sempre será um Mogadoriano”. "Está no meu sangue também", eu digo. "Esteve em seu sangue. Até que você me conheceu”. Quando eu acordei, eu me pergunto se ela está certa. Eu honestamente não sei a resposta. Talvez eu nunca vá saber. Quase exatamente um dia depois, paramos na cidade do Kansas. Union Station é um grande e imponente edifício de pedra, facilmente toma um quarteirão da cidade em todas as direções, e eu olhava para ele enquanto saímos do nosso ônibus. "Você acha que podemos pegar um trem direto para Nova York a partir daqui?" Rex pergunta à medida que caminhamos através do chão de mármore polido. Sinto-me estranho estar de volta a uma multidão após a solidão das últimas semanas. O lugar está lotado, com muita gente indo e vindo, incluindo a abundância de jovens universitários. O agitado da natureza de tudo isso me faz um pouco impaciente, mas eu sei que é uma coisa boa. "Eu não sei", eu admiti. Há uma linha de máquinas de venda de bilhetes para um dos lados do serviço real de contadores, e eu passo até um desses. Quando eu coloco Nova York como o nosso destino, eu recebo uma surpresa desagradável. "Não, não há nada que vai direto para lá", eu respondo, finalmente, olhando para a tela, como se isso vai fazê-lo mudar a sua mente. "Podemos ir daqui para Chicago, porém, e, em seguida, a partir de Chicago a Nova York." Eu estudo a informação um pouco mais. "Vai demorar 33 horas ao todos", eu relato, “e nos custou cerca de trezentos por bilhete”. Isso é mais dinheiro do que eu gostaria de gastar, vai nos deixar quase nenhum dinheiro em nossos bolsos, e eu não quero poupar o tempo também, mas eu não vejo muito que possamos fazer sobre isso. A maneira Rex suspira, eu tenho certeza que ele concorda. "Tudo bem", diz ele finalmente. Como estou prestes a comprar bilhetes eu vejo um reflexo estranho na tela. Alguém está andando e olhando para o meu caminho, eu sei, porque não há um lampejo fracos de pele pálida, com uma faixa escura em toda ela -Óculos de sol. O resto da reflexão é escuro casaco muito escuro, chapéu escuro. Quase exatamente como Mogadoriano se vestem. Pânico toma conta de mim e eu procuro ao redor, mas não consigo encontrar a figura ou alguém como um Mog no meio da multidão. Eu tenho uma ideia. Eu mudo o nosso destino a St. Louis, que é apenas trinta dólares cada um em vez de trezentos. Eu levo os bilhetes, mas deixar o recibo para trás e viro rápido. "Vamos lá". Rex me segue sem dizer uma palavra. Eu mantenho em movimento até final, em seguida, empurro rapidamente através da porta marcada PESSOAL DE SAÍDA autorizado. "O que estamos fazendo?", ele pergunta enquanto saímos. Assim como eu esperava, estamos no pátio ferroviário em si. Lá estão os trens em todos os lugares, e algumas pessoas carregamento de bagagem ou de reabastecimento, ou apenas andando e verificando as coisas. Nenhuma delas nos presta atenção, e eu não olho o seu caminho mais de um segundo sequer. O melhor plano, eu acho, é moverse rápido e parecer que eu sei o que estou fazendo. Talvez eu até me convença. "Nós não estamos indo para o nosso trem, não é?", pergunta ele, colocando a mão no meu braço e me puxando. "O que está acontecendo?" Bem, o momento da verdade. Eu quadrados meus ombros. "Eu acho que vi um olheiro", digolhe, olhando-o de perto. E então eu espero. E tenso, reunindo minha força. Se ele tentar me agarrar, eu acho que eu posso usar o meu Legado para derrubá-lo o tempo suficiente para me perder na mutidão,
mas eu prefiro não fazer isso, a não ser que eu realmente preciso. E ainda tenho Poeira no meu bolso. Após alguns segundos, que se passa como horas, ele concorda. "E agora?" "Agora vamos pegar uma carona." Eu gesto em direção aos trens de carga do outro lado da rodoviária. Surpreendentemente, Rex sorri. "Tudo bem, então!" E ele quebra em uma corrida. Eu acho que faz sentido ele ficar a ideia de algo tão físico e tão perigoso como pegarmos uma carona em um trem de carga. Ivan provavelmente teria amado também. "Como vamos saber qual o comboio para saltar?" Rex pergunta sobre seu ombro -"Eles estão rotulados ou algo assim?" Eu olhar para os vagões, esperando que eles têm etiquetas de endereço ou grandes sinais destino como ônibus, mas cada um tem apenas um número, além de coisas como o fabricante e o modelo. "Eu não sei", eu admiti. "Eu estou fazendo isso até onde eu sei”. Rex bufa. Mas então eu vejo um cara andando com um uniforme ferroviário, carregando uma prancheta. "Eu aposto que ele sabe." "Sim?" - Rex zomba enquanto nós dois corremos entre dois carros para que o cara não nos veja. "O quê, você vai perguntar pra ele?”. O homem passou por nós, agora e como eu o vejo se dirigindo a uma pequena torre de vigilância no centro do pátio. Pendurou a prancheta em um gancho externo. "Não, mas, talvez", eu respondo, sorrindo. "Poeira?" Eu o tiro do bolso e o seguro na palma da minha mão. Ele mexe o rabo como se quisesse me dizer que ele está pronto para a ação. Nós desenvolvemos esse relacionamento. Às vezes ele se sente como se soubesse o que eu quero antes de eu pedir. "Precisamos daquela prancheta." Em um flash, ele é um falcão de novo. Ele desce rapidamente, agarra a prancheta entre suas garras e, em seguida, sobe para o céu. As poucas pessoas que o veem suspiram e o olha, mas perde ele no sol, é por isso que ninguém percebe quando ele cai para a minha direção e me dá a prancheta. Ele muda de volta para um lagarto. "Bom," eu digo. Eu faço a varredura da lista. "Aqui", eu disse depois de um segundo, apunhalando um dedo em uma linha. "Há um trem indo para Filadélfia, em poucos minutos. Acompanhe a linha doze.” – eu digo, enquanto Rex observa a lista. “Vamos!”. Rex acena com a cabeça, mas, em seguida, ele faz uma pausa, se abaixa e volta com um espesso, e massiva barra de metal. "Para arrombar a porta", explica ele. “As portas de correr, provavelmente não vai abrir por dentro". Isso faz sentido. Claro, isso também significa que agora ele tem um objeto pontiagudo que ele pode usar como uma arma. Ele não tenta nada, no entanto. Temos que acompanhar a linha doze. Assim que o trem começa a roncar em movimento, eu rapidamente detecto um vagão e começo a se mover em direção a ele, mas Rex está a bordo antes que eu mesmo: ele pula, transporta-se para a escada afixada ao lado e puxa a porta. Então ele, ajoelhando-se, bate o pico sob a borda inferior da porta para mantê-la aberta. Incomoda-me um pouco ver exatamente o que coisa milagrosa ele fez. Quando saímos da base, ele mal podia mover seu braço e agora ele está balançando em torno do trem como um atleta campeão. Como se isso não fosse nada. Instintivamente eu toco meu bolso, tranquilizado pela própria presença de Poeira. "Vamos lá!" - Grita Rex. “Vamos!” Eu pego o ritmo. Infelizmente, o mesmo acontece com o trem. Eu consegui ter uma mão sobre a escada, mas não posso pular sem parar primeiro. Meus pés estão raspando o chão agora, o trem acelerando além do que eu posso controlar, e eu sou forçado a puxar as pernas para cima e agarrar a escada para salvar a vida. Se eu cair agora eu provavelmente vou ficar parado sob as rodas. Minhas mãos estão começando a perder a aderência, meus pés estão descendo novamente e o chão está agora assobiando abaixo de mim. Se eu não fizer alguma coisa, e rápido, eu não vou ir para mais longe, porque eu vou ser nada além de uma mancha em todo o quilômetro de trilhos de Missouri. Rex resolve esse problema. Ele se abaixa e me agarra ao redor do peito, logo abaixo do braço, então ele cai para trás, me puxando com ele no vagão. Nós dois ficamos caídos ali, sem fôlego. Então ele começa a rir. "Woo!”, ele grita, nunca havia visto um sorriso estampado no seu rosto. "Nós acabamos de saltar sobre um trem em movimento!" - eu sorrio muito. Rex acabou de salvar minha vida. Agora estamos quites. Talvez haja esperança para ele, afinal. Nós temos que nos esconder uma vez, em Colombo, Ohio, quando o trem para e policiais ferroviários verificam todos os vagões para passageiros clandestinos como nós, mas é fácil ouvi-los
chegando. Nós apenas esquivarmos-se do vagão enquanto o trem para, tendo o pico com a gente, e depois circulamos ao redor, pulando de volta uma vez que eles sumiram. Quase seria divertido se eu não estivesse tão preocupado com o que vai acontecer quando chegarmos à Nova York. Eu ainda não tenho ideia de como vamos fazer na Ilha da Ameixa. Muito menos de como eu vou fazer para entrar, passar pelas medidas de segurança dos Mogs e libertar os Chimaera. É impressionante, mas eu estou começando a duvidar de mim menos agora. Quando eu olho para trás e penso no quanto eu consegui realizar desde que deixei Ashwood, estou surpreso. Eu poderia realmente conseguir isso. No entanto, ainda não consegui entrar em contato com Malcolm, e isso está me preocupando. Por que ele não atenderia ao telefone? A não ser que ele nunca chegou a se encontrar com a Garde. Eu não posso me deixar pensar sobre o que isso significaria. Rex e eu ficamos em silêncio durante a maior parte da viagem, mas em algum lugar no meio do caminho, enquanto eu estou assistindo o campo passar, eu me surpreendo com o som da minha própria voz. "Por que destruir tudo isso? Qual é a graça?" Rex não hesita antes de ele recita um dos princípios mais importantes do Grande Livro. "Conquistar, consumir, cauterizar." Ele encolhe os ombros. "É o que nós fazemos." É uma frase que eu ouvi tantas vezes que eu vou ser capaz de repeti-la de cor para o resto da minha vida. É a soma perfeita do objetivo Mogadoriano - viajar para um novo mundo, conquistá-lo completamente, drenar todos os seus recursos, em seguida, deixá-lo como uma casca queimada e partir para o próximo. "Mas por quê?" - eu pergunto. "Você nunca se perguntou?” "Porque é a faz parte da nossa natureza. É a maneira que o progresso acontece. O Píken come o Kraul. Ele não se sente culpado por isso. Ele apenas faz isso, por natureza". “Não, ele faz isso porque ele tem que fazer", eu protesto. "A sobrevivência é uma coisa. Isto é diferente." O rosto de Rex endurece em uma carranca de teimosia. "Olhe o que aconteceu em Lorien. Eles tinham tanto poder. Apenas seus Legados teriam lhes permitido lutar contra nós com facilidade. Mas eles não se prepararam. Mesmo com todo aquele poder, eles eram fracos. Seu mundo estava estagnado. Era nojento". "Eles estavam felizes. O que é nojento nisso?" Ele me corrige com um brilho tão forte que quase posso senti-lo. "Eu quase me esqueci de quem você é", diz ele friamente. É a voz do velho Rex. "Eu esqueci o que você é. E o que você fez. Eu não vou esquecer de novo". Então eu sei que, independentemente o outro Rex só foi temporário. Ele não vai mudar. Está em seu sangue. E quando chegarmos a Ilha da Ameixa, ele não vai precisar mais de mim. Ele vai estar de volta com seu verdadeiro povo, ele não terá nenhuma razão para não se virar contra mim. Eu desvio o olhar. Estou sozinho novamente. Eu não sei nem por onde Poeira anda, ele se transformou em um rato a algumas horas e foi explorar o trem por conta própria desde então. Dez horas depois que Rex puxou-me a bordo, chegamos à Filadélfia em silêncio. Nós não dissemos uma palavra desde nossa discussão. Poeira aparece e desliza no meu bolso enquanto Rex está saltando para fora no pátio ferroviário. Estou prestes a seguir atrás dele quando vejo que ele deixou o pedaço de metal para trás. Eu acho que ele pensa que eu sou tão fraco que ele não precisa disso. Eu o coloco no bolso e salto para a noite fria de Filadélfia. Nós não falamos mais do que algumas palavras para o outro enquanto estamos de embarcar no ônibus para Manhattan. Então, em teoria, é apenas um pulo rápido para o nosso destino. Após isso... Eu não sei. Estive pesando em minhas escolhas. Eu me pergunto se Rex tem pensado também. Enquanto estávamos comprando nossas passagens de ônibus, eu pensei sobre perdê-lo no meio da multidão e ir para a Ilha da Ameixa sozinha. Cheguei muito perto de fazer isso, e eu teria feito se eu achasse que ajudaria. Seria inútil, porém. Ele sabe aonde eu vou e o que eu quero. Com isso, tenho a sensação de que vou precisar de sua ajuda para entrar. Então, novamente, é perfeitamente possível que ele já alertou os Mogadorianos que ele está a caminho com seu troféu. "Última parada antes de chegarmos ao Túnel de Lincoln," o motorista do ônibus anuncia.
"Vinte minutos de intervalo. Eu sugiro que vocês estiquem as pernas, pessoal. A viagem pelo túnel pode ser longa”. Eu sinalizo que eu vou fazer xixi, e, juntos, Rex e eu saímos de nossos lugares e acompanhamos a maior parte do outros passageiros do ônibus. O passeio tem sido tranquilo, até agora. Devemos estar em Manhattan, em cerca de uma hora, talvez menos. "Eu vou pegar um pouco mais lanche", Rex diz-me com tristeza quando estamos andando pelo estacionamento. Eu apenas aceno com a cabeça. Ele acena com a cabeça para trás e dirige-se para a máquina de venda automática. No banheiro, eu tranco a porta do boxe atrás de mim e tento ligar para o Malcolm mais uma vez, rezando para que esta vez que ele vai responder. Nada ainda. Assim que eu me permito considerar o pior, minha mente se sente como um grande novelo de lã que está sendo rapidamente desvendado. Eu não posso parar o que eu comecei: E se eles foram pegos fugindo Dulce? Ou pior, e se a explosão levou-os juntamente com todos os Mogs lá? E se eu matei o meu único amigo, e seu filho cujo fomos lá para salvar? E se ele nunca encontrou o Garde? Ele é o único que pode me levar até eles. Se ele não está com a Garde, isso significa que eu não tenho nenhuma esperança de encontrá-los pessoalmente. Nunca. Não, eu digo a mim mesmo. Malcolm é inteligente, e ele é cauteloso. Ele provavelmente está sendo cuidadoso com os meios de comunicação. Se ele está com o Garde, ele não vai querer correr o risco de ter seu telefone celular e seu grampeado para que sua localização seja descoberta. De qualquer forma, não é como se ele não quisesse me ouvir. Quando ele estiver preocupado, estarei morto. Tudo faz o sentido perfeitamente. Não diminui minha preocupação. Eu estou saindo do banheiro poucos minutos depois, quando isso acontece: eu encontro o meu caminho bloqueado por dois homens. Eles estão vestidos de forma idêntica com capas pretas, chapéus pretos e óculos de sol pretos. Eles são tão pálido sob aquelas roupas e assim que eu coloco os olhos sobre eles, ambos sorriam pra mim, suas bocas se abrindo para revelar os dentes iguais aos de tubarões. Eu me viro imediatamente e tento voltar para o banheiro. Talvez haja uma janela que eu possa escapar ou algo assim. Eu nunca cheguei tão longe. Eles me pegam pelos braços. Rex está longe de ser visto. Os Mogadorianos me encontram.
CAPÍTULO NOVE “Demorou um pouco para te capturarmos, Adamus”, o cara da direita diz. “Você quase conseguiu escapar de nós”. “Quase”, o da esquerda complementa. Ele tira suas mãos do seu bolso. Não fico surpreso quando ele tira com a mão esquerda uma arma e com a direita uma espada. Padrão de armamento Mogadoriano. Sorte para mim, o que eu estou levando é fora do padrão. E depois do meu choque inicial, estou mais resignado do que assustado. Eu estive olhando por cima do meu ombro para os Mogs esse tempo todo, e de uma forma que é quase um alívio de que eles estarem finalmente aqui. Ainda assim, há algo que eu preciso saber. "Como vocês me encontraram?" Eles apenas debocham. Ao contrário de mim e Rex e do resto dos trueborn, muitos escudeiros são vatborn e têm os dentes iguais os de tubarão. Eles sorriem para provar isso. Eles não precisam me dizer a resposta. Eu já sei: era Rex. Tinha que ter sido. Enquanto eu estava no banheiro tentando ligar para Malcolm, ele estava chamando a turma. Ele estava me traindo. E eu o odeio por isso. Eu não estou com medo. Eu não estou triste. Eu certamente não estou mais aliviado. Eu só estou com raiva. Rio dos vatborns quando o chão abaixo deles começa a tremer como água, tirando-os do controle de seus pés. O da esquerda perde o controle sobre sua espada, e eu mergulho para ele, pego a espada e o mato a queima roupa. Poof. Eu já estou avistando o segundo no tempo que ele se desfaz em cinzas. Se Rex acha que eu não sou um adversário digno só porque eu não sou tão grande quanto ele, ou porque eu não acredito que nas idiotices de Setrákus Ra, ele precisa pensar de novo. Eu tenho que sair daqui. Há muitas pessoas em um espaço muito pequeno, e se houver uma grande batalha aqui não há como dizer quantas pessoas inocentes poderia ser ferido. Antes que alguém possa me parar. Cem cabeças giram para olhar para mim, mas eu não me importo. Lá fora, eu me encontro em um estacionamento todo aberto, vazio. Estou procurando freneticamente por cobertura quando ouço o distinguível gemido agudo de um canhão Mogadoriano ligando para atirar em algum lugar atrás de mim. Eu me atiro para o lado, caindo no chão, assim como a explosão de energia chia perto de mim. O pavimento está fumando, um buraco circular no exato lugar onde eu estava parado apareceu. Olhando para cima do chão, eu vejo um quarteto de soldados Mogs trotando em direção a mim, rifles e mão e canhões apontados em minha direção. Muito ruim para eles. Agora eles me irritaram. Eu sinto meu rosto apertando-se em fúria, e meu corpo treme enquanto eu envio um tremor através do solo. Os dois Mogs mais próximos de mim vão tombando como pinos de boliche. Na confusão, eu mergulho atrás de um dos caminhões, isso me garante algum tempo, enquanto os restantes dos perseguidores se dividem para olhar pra mim. Quando eu não ouço nada por um minuto ou coisa assim, eu espio rapidamente de trás da cabine e vejo o outro soldado vindo em minha direção. Ele está sozinho, muito fácil. Ele é um caso perdido antes mesmo dele saber que eu estou o eletrocutando com a minha arma roubada. Cinco a menos - sem contar Rex. Claro, isso supondo que ainda não há mais deles. Eu devo ser muito sortudo. Ouço passos que se aproximavam, e ficando cada vez mais alto. Eles estão vindo rápido. Acho que foi muito esperar que o Alto Comando apenas tivesse enviado dois olheiros e quatro soldados atrás de mim. Mas quando eu coloco minha cabeça sobre a cabine novamente e vejo dezenas de Mogs no estacionamento vindo de todas as direções possíveis, espadas e canhões prontos, eu tenho que dizer que é um exagero. Eu acho que eu deveria estar lisonjeado, não por pensar apenas que eu valho a pena, mas que quem os enviou aqui me considera um adversário formidável. Abaixando-se, eu me espreito abaixo do caminhão e encontrar um Mog marchando em direção a mim, atirando em meu abrigo para manter-me preso, enquanto ele avança. Pena que ele não estava vendo os pneus. Eu atirar na perna dele, e enquanto ele cai, atiro em sua cabeça e acabo com ele. Então eu me escondo para analisar a área. "Poeira", eu grito. Onde diabos ele está? Falando nisso, a onde está Rex? Não que eu me importe.
Mais soldados viram da esquina do prédio. Eles estão se espalhando diante de mim, e eu não vou ser capaz de levá-los todos para baixo ao mesmo tempo. Eu agacho atrás do caminhão de novo, mas eu sei que não vou ser capaz de aguentar assim por muito tempo. Tudo isso vale a pena? Eu nunca odiei minha própria raça mais do que eu odeio agora. Principalmente, eu odeio Rex. Não porque ele me traiu. Não. Eu o odeio, porque, antes que ele pudesse me trair, ele me fez confiar nele. Pelo menos a minha raiva é boa para alguma coisa. Eu me concentro nisso e piso o pé no chão. Este tremor é ainda mais forte. Eu posso sentir isso fluindo pelo meu corpo como uma onda gigante de um oceano originário dentro de mim. Alguns dos soldados caem. Outros oscilam, mas ficam de pé. Um ou dois largam as armas. Eu cerro os dentes. Usando o meu Legado está me esgotando e eu não sei quanto tempo mais eu vou ser capaz de mantê-lo. Mas tenho que fazer. Eu piso novamente. Mais alguns caem, mas agora o resto está atirando em mim. Estou tentando descobrir o que fazer a seguir, quando ouço um rugido feroz. Olhando por cima de mim vejo um grande animal saltando das árvores e agarrando um do soldado pelos ombros, puxando-o para o chão. Poeira ruge e atira novamente, sua enorme mandíbula se fechou como uma armadilha em torno do pescoço daquele Mogadoriano. O grito do soldado é alto, e seu corpo entra em convulsão, uma vez que se transforma em cinzas. Mas o leão já se moveu. Ele está rasgando os soldados facilmente, o fogo apenas retardando-o. Garras do Poeira e suas mordidas, não parando para considerar qualquer inimigo por mais de um segundo antes de prosseguir. Os Mogs ainda de pé estão confusos, eles não planejaram isso, e agora eles não têm certeza se devem atirar em mim ou no Poeira, ou se está na hora de se retirar completamente da batalha. Aproveito a confusão. Dois soldados estão apoiados quase para mim, e eu o tiro do caminho antes de lembrar que eu ainda sou uma ameaça também. Poeira está finalizado outro soldado, e vários outros se abrigaram em torno da estrutura principal – derrubar algumas coisas é um truque muito bom que eu tenho com Malcolm, e embora isso provoca picos de dor em mim para atirar, eu tremo o telhado que se solta sobre os soldados, esmagando-os facilmente. Isso deixa apenas dois, e eles se movem para longe de Poeira e de mim, atirando na gente para nos retardar, e indo em direção à floresta, onde deve haver uma nave a espera deles. Se chegarem lá, eu estou frito. Eu estou usando o meu Legado muito além de qualquer coisa que eu já tenha feito no passado, e cada vez que eu fizer um novo terremoto eu fico cada vez mais exausto. Minha visão está começando a ficar escuro em torno das bordas, mas eu sei que eu não tenho outra escolha a não ser lutar. Concentro-me e envio um tremor em uma árvore grande, da mesma maneira que eu fiz com a torre de vigilância na Base Dulce. Ela cai, e com um gemido alto esmaga um dos soldados sob seu tronco. O último Mog simplesmente se vira e corre, mas Poeira esta sobre ele em um instante, em um borrão de dentes e garras. Poucos segundos depois ele está trotando de volta para mim, com a boca revestida em cinzas. Ele não parece perturbado por isso. "Obrigado," eu consegui murmurar fracamente quando ele chega perto. Então, tudo fica preto. Quando eu acordo, eu estou no banco do passageiro de um carro ao longo da rodovia. Minha cabeça ainda está latejando e minha visão ainda está embaçada. O horizonte de Nova York é quase irreconhecível como uma névoa abstrata de luzes. Eu não tenho ideia de como cheguei aqui ou para onde estou indo. Os acontecimentos do passado de algumas horas saltitando em meu crânio como um milhão de bolas de ping-pong. Tudo está confuso e difícil de fazer sentido. Gemendo, eu olho para o banco do motorista. Atrás do volante está Rex. Mesmo em meu estado confuso, eu me atrapalho com a maçaneta da porta. Eu vou saltar daqui, eu acho. Eu prefiro ser morto por atropelamento a ser morto por eles. "Hey!" – ele diz, quando ele me vê tentando escapar. Antes que eu possa abrir a porta, ele e trava todas as portas. Eu estou preso. "Acalme-se", diz ele. "Eu não sei o que você fez naquele estacionamento, mas que quer que fosse esgotou toda sua energia”. Eu não quero ouvir isso. "Onde você estava?" - eu exijo. "O que aconteceu lá?" Rex mal olha para a estrada. "A mesma coisa que aconteceu com você", diz ele calmamente, como se eu tivesse acabado de pedir para me lembrar da previsão do tempo de amanhã. "Os Mogs me pegaram também. Eles devem pensar que eu estou do seu lado agora. Eu lutei com eles mas no momento em que eu me livrei deles e fui atrás de você, esse cara já estava lá”. Ele aponta para um
nódulo no painel de instrumentos, que só então percebo que é Poeira, em sua forma de lagarto. "Quando eu te encontrei, você estava desmaiado na calçada, e Poeira estava apenas sentado ali, praticamente em cima de você, cuidando de você como se ele fosse sua mãe ou algo assim. Ele quase não me deixou chegar perto de você. Enfim, o que está feito está feito. Temos que tomar distância. O que você acha do carro? Eu roubei". Se ele espera que eu acredite nessa história, ele está enganado. "Foda-se, Rex", eu digo assim enquanto tudo fica preta novamente.
CAPÍTULO DEZ Estou em outro estacionamento, e dessa vez posso me sentir, estou recuperado. É o que parece, pelo menos. Se baseando pela luz que penetra os vidros do carro, presumo que seja manhã. Rex abaixou os vidros do carro e no ar há o cheiro do oceano. “Finalmente”, ele diz olhando pra mim. “Eu estava começando a achar que você tinha partido as botas!” Eu me sento. E olho pra ele. Não acredito no quanto idiota eu sou. Eu sabia perfeitamente que ele iria fazer isso comigo. Não devia ter salvado ele. “Você me traiu” – eu digo. Ele apenas ri. “Eu sabia que você ia dizer isso. Engraçado, não acha? Você é um traidor da sua raça inteira, e está bravo comigo?” Estou pronto para atingi-lo com toda a força que eu disponho, mas só de pensar nisso me da vontade de desmaiar de novo. “Você realmente acreditou que eu não saberia que foi você que chamou a máfia Mogadoriana? Você desapareceu misteriosamente e só reapareceu quando eles já haviam sido derrotados por mim?” “Eu já te disse” – ele começa. “Eles me atacaram também”. “Claro, com certeza” – eu sei que ele está mentindo, mas não sei o que vou fazer. O que eu não entendo é porque ele está me tratando assim. Se ele quisesse me matar, ele já teria feito. Ele poderia ter chamado mais Mogs. Em vez disso, eu ainda estou vivo, ainda não fui capturado, e ainda estou com o Poeira, sentando num carro roubado por Rex. Eu olho pela janela pra ver a onde nós estamos. Mais ou menos, pelo menos. Estamos em algum lugar com água. Eu levanto com o barulho de uma sirene e vejo que estamos em uma balsa. “Você queria ir para a Ilha da Ameixa, não queria?” – Rex diz, quando percebe a confusão no meu rosto. “De que outros jeitos poderiam chegar lá a não ser com uma balsa?” Eu ainda não acredito que ele não entregou aos Mogs a nossa localização. Mas isso não ajuda a entender porque ele voltou por mim, para me salvar. Ele poderia ter me deixado lá, para eu ser pego pelos Mogs, ou pela polícia, qualquer um. Eu preciso respirar. Rex não tenta me impedir quando eu abro a porta do carro. Poeira me segue. Rex me encontra em um banco meia hora mais tarde. Eu não sei mais o que fazer, então eu estou apenas sentado. Tentei ligar para Malcolm. Nenhuma resposta. Tentei imaginar Um na minha cabeça. Teria me ajudado apenas em imaginar seu rosto. Mas não consigo. Mesmo golden retriever (uma das formas do Poeira que eu mais gosto) desistiu de tentar me fazer sentir melhor. Ele está apenas deitado aos meus pés. “Eu não contei nada a eles”, Rex diz. Ele esta a alguns passos de distância, mas não tenta se aproximar. “Eles estavam te seguindo faz tempo. Eles te perderam algumas vezes, e acho que você se entregou a eles quando decidiu entrar no trem. Mas eles iriam nos pegar, de qualquer jeito”. “Onde você estava então?” – eu pergunto. “Não me tente dizer que foi capturado também”. “A verdade?” “Sim”, eu digo. “Uma vez. A verdade”. Rex faz uma pausa. “Eu estava escondido”, ele finalmente diz. “Eles já devem ter me visto com você, mas eu não queria que eles me vissem lutando por você – para pensarem que eu sou um traidor também. Então eu me escondi”. Eu examino seu rosto por sinais de mentira. Honestamente, eu não faço ideia. Eu não sei porque isso importaria agora. Mas importa. “Então você iria deixar eles me matar?” Ele olha pra o céu. “Sim, acho que se chegasse a esse ponto, sim”. “Mas porque está me ajudando agora?” “Estou” “Não entendo. Por quê?” Rex mexe os pés com nervosismo. “Eu não sei” – ele diz. “Eu ainda acredito na Causa Mogadoriana. Eu ainda acredito nos princípios do Setrákus Ra. Quando chegar a hora da Guerra, eu
estarei lá com o resto dos meus irmãos – se eu ainda for permitido. Guerra está no meu sangue. Mas eu vou te ajudar de qualquer jeito. Você não precisa acreditar em mim se não quiser. Não posso explicar nem a mim mesmo. Mas é a verdade”. Eu não o respondo. Eu não sei como respondê-lo. “Então você quer ir à Ilha da Ameixa e recuperar os Chimaera ou não?” – ele finalmente pergunta. Em uma comunidade à beira-mar como esta, a maioria das pessoas possui um barco, pelo menos um pouco delas. Rex e eu passamos a tarde perscrutando garagens autônomas até nos encontramos transportando um pequeno barco a remo para o porto. Nós escondemos isso atrás de algumas árvores no parque vizinho, até que o sol está se pondo e vemos a última balsa sair. Então vamos esperar mais meia hora só para ter certeza que ninguém vai nos atrapalhar. Do cais, é fácil o suficiente lançá-lo e colocá-lo na água, subir e começar a remar. Enquanto eu passei minha manhã desmaiado, Rex tinha vindo com um plano para nos levar para dentro com facilidade. Sentado em frente a mim em nosso barco, ele explica para mim. É tão simples que parece absurdo. “Eu vou dizer a eles que você é meu prisioneiro” – ele diz. “Que eu te rastreei no Novo México e o trouxe até aqui. Eles estão procurando você, certo? Eles enviaram vários escudeiros atrás de você, acham que você é importante. Podem até chamar Setrákus Ra. Se eu te colocar lá dentro, não há nenhuma chance deles te matarem.” “Eles podem atirar em mim” – eu digo. Rex torce o rosto e balança a cabeça. Ao longe, vejo luzes. Estamos chegando mais perto. "Nem", diz ele. "Primeiro, eles vão querer saber como você derrubou Dulce. Inferno, eu quero saber também". Eu sorrio rápido. "Então eles vão atirar em você." "Puxa, obrigado." Eu olho para onde Poeira está deslizando ao nosso lado em forma de falcão, inclinando para um lado de vez em quando para que a ponta da asa toque a água. "Nós não sabemos nada sobre o que eles têm lá, como eles são criados, o que eles ouviram, ou o que -" Rex me interrompe. “Dá pra relaxar? Eu conheço nossos procedimentos militares. Eles não vão atirar”. Se eu tivesse que fazer uma lista de todas as pessoas de confiança, seria uma lista muito curta, e Rex não estaria lá. Mesmo se eu confiar nele, eu ainda não gosto do plano. E se eles sabem que Rex vem trabalhando comigo todo esse tempo? E se eles nos matam antes mesmo de termos a chance de explicar a nós mesmos? Tudo depende de muita fé, e depois de ontem, a fé é algo que eu não tenho. Mas antes que eu possa argumentar, Poeira fica na borda do barco. Ele está batendo as asas furiosamente, e depois ele se transforma em gato. Tão rapidamente, ele muda novamente, desta vez em um lobo. Ele é muito grande para o barco, mas agora ele está mudando tão rapidamente que eu começo a perder a noção do que ele é. E ele está fazendo um barulho que é tão alto que eu tenho que colocar meus dedos em meus ouvidos, a meio caminho entre um grito e um toque de trombeta. Eu nunca ouvi nada parecido. “Poeira”, eu pergunto. “O que há de errado?” Eu coloquei minha mão para fazer carinho nele na esperança de que irá acalmá-lo. Seu corpo se sente como líquido, mas da certo, ele está começando a obter o controle de si mesmo novamente. Ele se transforma em lagarto, e finalmente se acalma. Ele ainda está agitado. Ele está se lançando em todo o chão do barco, inclinando a cabeça freneticamente em todas as direções, farejando o ar. Parece que ele tem algo que Rex e eu não possamos ouvir - quase como se houvesse algo chamando ele. É muito estranho, mas eu não sei o que fazer sobre isso. A ilha está perto o suficiente, agora basta ver onde que porto se abre. Rex puxa os remos pra dentro. "Você está pronto para fazer isso?", ele pergunta. Eu não estou pronto, mas eu assinto. Pelo menos Poeira se baixou o suficiente para subir no bolso do meu casaco. Eu ainda posso senti-lo contrair-se nervosamente lá, mas parece que ele está voltando ao normal. Rex não prestar atenção à forma de como isto está me tornando inquieto. Ele só escava através de seus bolsos até ele puxar os laços de plástico que ele comprou de uma loja de hardware local. "Dá-me os pulsos", diz ele. Cada pedaço do meu bom senso me diz para não fazer isso. – deixando-me ser amarrado e marchar a uma fortaleza Mogadoriana por um Mog cujo eu não confio – não parece ser o plano mais brilhante, não é?
Certamente eu estou entrando em algum tipo de armadilha extremamente elaborada, mas eu ofereço as minhas mãos de qualquer maneira. Eu tenho chegado tão longe. O que mais eu posso fazer, a não correr o risco? Em poucos segundos Rex tem-me habilmente amarrado. É quase como se estivéssemos de volta para o caminho que começamos a Dulce: um guarda e um prisioneiro, desta vez com os nossos papéis invertidos. Espero que seja apenas para mostrar. Estamos a poucos metros da costa quando um holofote ofuscante traga-nos em seu raio deslumbrante e um vozeirão chama. "Pare! Identifique-se!" Rex se endireita. "Rexicus Saturnus, de Dulce", ele grita. "E um prisioneiro" - ele agarra minhas mãos e as levanta para que eles prestem atenção. A pausa me faz suar apesar do frio saindo das ondas, mas, finalmente, as resposta da voz: "Vamos em frente." Eles não se oferecem para nos pegar, mas em vez disso, ficam para trás e deixam Rex remar-nos o resto do caminho para dentro da Ilha. "Não deveria haver soldados regulares aqui", eu sussurro. "Em vez de Mogadorianos?" "Costumava ser desse jeito", diz Rex. "Mas nós estamos ficando mais e mais poderoso no governo da América recentemente. Muito em breve a Casa Branca será comandada por Mogadorianos também." É um pensamento assustador em que teria me feito muito feliz há alguns anos atrás. Ao som dos Mogadorians gritando com a gente, Poeira tem se rastreado no meu bolso. E antes que eu tenha tempo para sequer dizer adeus, ele se transformou em um beija-flor e se foi para o céu noturno. Eu sei que é o melhor. Se eu vou ser jogado em uma cela, eu não o quero preso lá comigo. No entanto, eu me sinto incrivelmente vulnerável sem ele. O sentimento só se intensifica quando vejo o esquadrão de soldados esperando por nós no banco dos réus. Eles esperam até que os nossos pequenos solavancos do barco a remos, e em seguida, estendem a mão e nos puxa. "Quem é este?" O oficial dos Mog pergunta, olhando nos meus olhos e me agarrando pelo braço. "Um traidor", responde Rex. "Adamus Sutekh, filho do general Andrakkus Sutekh." Ele me dá um soco no estômago, forte o suficiente para dobrar-me e deixar-me sem fôlego. O capitão está franzindo a testa para nós. Ele é trueborn, é claro, mas os subordinados deles são todos vatborn. "Por que trazê-lo aqui?" - o capitão pergunta depois de um segundo. "E o que exatamente aconteceu em Dulce? Perdemos toda a comunicação com ele, enviamos alguns olheiros mas eles relataram que todo o lugar destruído." "Ele aconteceu", responde Rex, apontando para mim. Aprofunda a carranca do capitão, e Rex corre para explicar. "Eu estava estacionado na Base de Dulce. Este traidor apareceu com um aliado humano e atacou. Eles explodiram a base. Eu só estava atordoado, eu acordei a tempo de vê-lo escapar, então eu segui os a caminho de Dulce para aqui. Uma vez que eu tinha certeza de que este era o seu próximo alvo, eu o capturei e lhe trouxe para interrogatório”. O capitão concorda. Eu não posso acreditar que ele está acreditando nisso, mas ele está. "Bom trabalho", diz ele. "Nós vamos notificar o geral e descobrir se ele quer questionar seu filho pessoalmente. Nesse meio tempo, Rexicus, você vai precisar ser interrogado". Ele aponta em dois dos soldados. "Jogue o traidor em uma cela agora, mas não se empolgar demais - Geral vai querer lidar com o seu castigo pessoalmente". Então ele leva Rex, enquanto os guardas me agarram e me marcham em direção a uma construção grande. Droga. Não é nem mesmo no edifício principal. Isso vai tornar as coisas muito difíceis. Quando eles me jogam na minha cela, eu ainda estou tentando decidir se Rex me vendeu ou se tudo está acontecendo exatamente de acordo com o plano.
CAPITULO ONZE Eu não sei quanto tempo se passou. Horas? Dias? Mas ninguém veio desde que aqueles guardas me jogaram aqui. Eu acho que a ordem deles é que me deixem aqui sozinho até que meu pai chegue e ranque meu coração. Eu estou me enganando quando penso que Rex está do meu lado, por deixá-lo se aproveitar de mim. Eu pensei que podia confiar nele. E então eu ouço o barulho do cadeado da minha cela. Está muito escuro para eu ver quem é que está lá fora, mas eu rapidamente reconheço a voz de Rex. “Desculpe pela demora”, ele diz. E então alguma coisa me acerta no rosto e no peito – alguma coisa leve, flexível, e áspero. “Ponha isso!”. São roupas, uma calça e uma jaqueta, tudo padronizado de acordo com os uniformes militares, e eu rapidamente faço o que foi me pedido. “Por onde você andou?” – eu pergunto enquanto eu troco de roupa. “Eu tinha que ter certeza de que eles não suspeitaram de nada”, Rex responde, mantendo a porta entre aberta, e acenando para eu segui-lo. “E eu tive que descobrir a onde eles estão escondendo os Chimaera. Aqui.” Ele me da um boné militar, e eu também o visto. Ótima ideia – eu sou claramente um Mogadoriano, mas meu corte de cabelo não é militar. E também isso ajuda a esconder meu rosto, para o caso de que eu possa ser reconhecido por alguém. “Então? Onde estão?” – eu o pergunto enquanto ele me leva para fora do prédio. Estou surpreso pelo fato de não haver nenhum guarda, até eu ver um montinho de cinzas em um canto e outro atrás de uma mesa perto da entrada. Estou surpreso pelo fato de Rex estar disposto a matar para me tirar daqui. Surpreso, mas agradecido. “Eles estão mantendo-os no Centro de Enfermidade”, ele responde, facilmente abrindo a porta de entrada e espiando por dentro e depois assentindo que é seguro eu entrar. “Mas não no principal anexo – aqui ficam geralmente fuzileiros navais e humanos. Há um segundo prédio ao lado, composto inteiramente pelo nosso povo. Eles estão lá”. Isso faz sentido. Mesmo que o Alto Comando claramente está envolvido com o governo americano, eles não deixariam os humanos chegarem perto de alguma coisa que eles poderiam claramente usar contra nós. E os Chimaera se qualificam para isso. “Como chegamos lá?” Ele sorri enquanto nós damos a volta em torno de um jipe militar que estava estacionado aqui, já ligado. Rex não acende as luzes até quando estivermos bem longe do último prédio, e nossa visão é engolida pelas árvores. Demora apenas alguns minutos até que viramos uma curva e vemos o Centro de Enfermidade. A vantagem de estar numa ilha é que tudo fica muito perto. O prédio principal é enorme e parece um laboratório de pesquisa misturado com uma escola, mas com certe há tipo um armazém construído em um dos lados. Há soldados Mogadorianos guardando o lado de fora, mas eles saúdam Rex e nos deixam entrar. Interessante. “Essa é nossa base principal da Ilha”, ele explica uma vez que já estamos dentro e andando por um aberto hall com o chão de cimento. “Onde eles estão mantendo os Chimaera precisa de um certificado de segurança, mas tudo bem”. O que obviamente é verdade, mas eu não ajudo em nada me perguntando como vamos sair daqui e passar por aqueles guardas sem disparar nenhum alarme. Especialmente com um monte de Chimaera. “Nós tivemos muita sorte”, Rex está dizendo. Dirigimos-nos até um lance de escadas, depois outro. “Eles estavam sendo mantidos no porão, mas dois dias atrás eu ouvi que eles ficaram loucos. Eles acabaram com o lugar completamente. Então eles foram trazidos até aqui até que novas celas pudessem ser construídas”. Dois dias atrás? Foi exatamente no mesmo dia em que o Poeira teve o ataque no barco. Tudo está se encaixando. Falando nele... “Tem visto o Poeira? Sabe a onde ele está?” “Ele está por ai”, responde Rex sem olhar pra trás. “Ele me encontrou enquanto eu estava pegando o jipe. Ele sabe o que faz. Ele te encontrará na hora certa”. Eu assinto. Eu queria que ele estivesse comigo agora, mas eu sei que Rex tem razão. Poeira não me desapontou ainda.
Nós paramos no quarto andar e saímos da escadaria. O teto aqui tem mais de sete metros, e janelas enormes cobrem a metade das paredes, embora estejam fechadas. Apesar do chão de concreto, e das paredes externas serem de pedra e as internas de metal, o lugar ainda tem luz, e é arejado. E há portas. Muitas e muitas portas. “Eles estão aqui em cima em algum lugar”, Rex me assegura, abrindo a primeira porta e espiando lá dentro. Ele balança a cabeça e a fecha novamente. Eu abro outra porta, mas essa da em um pequeno escritório. Vazio, felizmente. “Não”. O próximo é um almoxarifado, que também não é. A porta depois dessa, entretanto, abre para um salão enorme que parece um teatro – há instrumentos dispostos em bandejas posicionadas em torno de uma grande mesa de exames. Também está vazio, o que eu considero ser uma coisa excelente. Eu não gostaria de dar de cara com uma sala cirúrgica, especialmente uma comandada pelo meu povo. Eles são mais interessados no desmembramento do que em por os membros no lugar. “Aqui!”, Rex chama e eu vejo que ele está uma porta a frente do que eu, só que no outro lado do salão. Eu vou até ele rapidamente e então espiamos lá dentro. É igual a um canil gigante, com gaiolas de arame alinhadas contra a parede. Será aqui o lugar? “Feche a porta”, eu sussurro, entrando para estudar melhor as gaiolas e seus habitantes. A primeira gaiola parece vazia, exceto por um tipo de gosma caída no chão. Mas quando eu chego um pouco mais perto, de repente a gosma se eleva, fluindo em um forma semelhante a de um guaxinim ou talvez uma doninha, estreita e magra, no escuro, com pelo emaranhado, um rosto pontiagudo e olhinhos redondos. E então ela grita. Eu nunca ouvi nada parecido com aquilo. E eu espero nunca ouvir de novo. É alto e agudo e faz com que meu corpo pareça ser um vidro prestes a explodir. Eu tropeço pra trás, quase perco o equilíbrio, até que o grito cessa. A gosma se estabiliza caindo de volta para o chão da gaiola. Rex e eu nos olhamos. Que merda foi essa? O que quer que tenha sido não há nada que eu possa fazer para ajudar, não se isso vai começar a gritar cada vez mais alto no momento em que eu me aproximo. A próxima gaiola está vazia, embora a julgar pelos jornais sujos no fundo, não esteve assim por muito tempo. Na terceira gaiola há um pássaro. Tem o tamanho de um papagaio, penas azuis que variam a partir de um profundo roxo tão escuro que parece quase preto a um azul pálido, branco como o próprio inverno. O pássaro não tem asas, porém, onde os apêndices devem ser são dois tocos, costurados e enfaixados. Ele grasna para mim, um único e longo som – como de lamento, e o som traz lágrimas aos meus olhos. Olho para Rex, mas ele parece apenas horrorizado. Ou ele é um ator melhor do que eu imaginava ou ele não tinha ideia do que iria encontrar. “Esses são... os Chimaera?” – ele pergunta, com uma voz baixa e áspera. “Eu não sei. Devem ser” – eu balanço minha cabeça. “Eu não acho que eles vão a lugar algum – mesmo se abrirmos as gaiolas, como faríamos para que eles nos seguissem? Especialmente sem arriscar os outros que encontramos?” – eu odeio ter de abandona-los, mas eu acho que devemos deixar esses dois aqui. Eu olho rapidamente para as outras gaiolas, mas elas estão todas vazias. Eu vejo outra porta na parede ao lado, e eu corro para abri-la, quase batendo em um par de Mogs que estão em pé na frente de outra linha de gaiolas. Um deles é baixo e magro e está vestindo um jaleco - definitivamente um cientista. O outro é grande e corpulento e está na engrenagem militar. Ambos olham para cima enquanto eu entro, e a mão do soldado vai automaticamente para a arma ao seu lado. “O que – quem?” – o cientista pergunta, mas eu o calo batendo nele o mais forte que eu consigo. Ele voa para trás em direção ao outro mogadoriano, o qual tropeça, sua mão indo involuntariamente para pegar seu companheiro. Os dois se tornam cinzas segundos depois, e eu olho para trás para ver Rex na porta, com uma arma na mão. Ele matou os Mogs. Ele matou os mogs que estavam guardando as gaiolas. “Por que...” – eu começo. “Eu prometi que iria te ajudar e eu estou te ajudando,” ele diz. “Vamos deixar as coisas do jeito que elas estão” – e então ele passa por mim. “Que sorte”, ele sussurra. Eu sigo o olhar dele para ver do que ele está falando. Pelo menos quatro gaiolas aqui estão ocupadas – não, cinco. E todas elas... bem, a primeira contém um cachorro pequeno, a segunda, um porquinho, a terceira um gato, a quarta um guaxinim e a quinta um pássaro bem colorido. Então eu
pisco. Agora eles são uma coruja, uma cabra, um rato, um castor e um macaco. Então eles mudam de novo, e de novo, igual o Poeira fez naquela noite, só que dessa vez é constante, mudando de forma em forma em forma, tão depressa que isso dá tontura de ver. “Isso é normal?” Rex pergunta. Ele parece tão surpreso quanto eu. A mudança continua não é estabilizável. “Eu não sei”, eu admito. Então eu noto uma prancheta no chão, aos meus pés. O cientista deve ter deixado-a cair. Eu a pego, eu vejo uma lista de coisas, com notas. Notas como “100cc injetados, taxa de variação aumentada em dez vezes” e coisas do tipo “lobotomia realizada, coesão quebrada”. A ânsia sobe pela minha garganta, mas eu engulo de volta, antes de responder. “Não, eles já começaram os experimentos neles”. Até agora, eu não tenho ideia de qual será a utilidade dessas criaturas vivas. Eu esperava encontrar muitos como o Poeira, e ao invés disso eu tenho cinco animais que não param de mudar de forma. Ainda, não há mais duvidas de que eles são Chimaera, e eu não perco mais tempo me perguntando isso. Invés disso, eu dou um passo a frente e arranco a porta das gaiolas, uma por uma. “Está tudo bem”, eu asseguro a eles, alto o bastante para que todos eles possam me ouvir mas também baixo o bastante para que minha voz não seja ouvida além dessas paredes. “Estamos aqui para ajudar”. Eu não faço ideia se eles me entendem, mas eu acho que isso não irá feri-los. Por um momento nenhum deles se mexe, e eu não posso culpá-los. Eu não sei por quanto tempo eles ficaram aqui, ou o que foi feito com eles, mas eles não têm nenhum motivo para confiar em um Mogadoriano – ou, por tudo que sei em um humano. O que agora é – nesse momento – voltou a ser um macaco é o primeiro que vai até a borda de sua gaiola, põe a cabeça para fora, range os dentes para os outros, indo para trás e para frente, avisando que estão livres da sua prisão. Um segundo depois, eles estão todos soltos, pulando e voando por todo lado. “Certo”, eu digo a Rex. “Hora de ir”. Quase na hora, uma sirene começa a soar aos berros. Luzes piscando no corredor. Então uma voz irrompe de alto-falantes no teto. "Atenção! Um prisioneiro escapou da cela. Adamus Sutekh foi visto pela última vez vestindo calça jeans e uma camisa preta. Ele tem cabelo comprido. Ele está desarmado, mas é um traidor conhecido. Se for encontrado, detenha-o se possível – se necessário, atirem”. "Sim", Rex concorda, balançando a cabeça. "Definitivamente hora de ir."
CAPÍTULO DOZE Nós corremos para fora da sala em direção ao grande salão e descemos a escadaria com os Chimaera nos seguindo. Rex segura meu ombro pouco antes de eu começar a descer mais um lance de escadas. “Não por esse caminho!”, ele me diz. “Eles vão começar a vasculhar o prédio pelo chão e depois vão começar a subir. Mas há um elevador lá atrás que só pode ser acessado daqui de cima. Se você pode lutar até chegarmos nele, então conseguiremos sair daqui”. Eu assinto e o deixo me arrastar de volta alguns degraus e então ele começa a me levar para o quinto andar. Julgando pela porta da qual viemos, cujo está pintada com um vermelho forte e é feita de algum tipo de aço pesado e extremamente reforçado, nós chegamos ao lugar onde eles realmente querem manter as pessoas longe daqui. Com um grunhido, Rex empurra a porta e nós entramos. O teto é bem mais alto aqui, e não há paredes de repartições internas. Em vez disso, há apenas uma sala muito grande, lotada de estações de computadores ao redor das bordas e um enorme mapa topográfico da Costa Leste no centro da sala. Aqui é obviamente o centro de comando. “Rápido! Se esconda!” – eu sussurro, e me abaixo atrás de uma mesa de um computador. Rex faz o mesmo. Eu me preocupo com o que as Chimaera vão fazer, mas eles estão todos comigo, mesmo que eles ainda estejam mudando de forma constantemente, todos mudam cada vez mais para criaturas menores – ratos, lagartos e libélulas. Espiando por cima da mesa eu vejo alguns Mogs aqui, digitando em computadores ou fazendo coisas em monitores touch-screens transparentes suspensas no ar. Outros estão juntos em grupos, discutindo alguma coisa em tons baixos. Ninguém nos notou ainda, e eles não estão se mobilizando para caçar um fugitivo. Eu acho que o trabalho deles é mais importante. A nossa sorte não vai durar muito. E – mais um problema. Sem contar as escadas que subimos, eu não vejo nenhum outro lugar de saída. Esse talvez não tenha sido o melhor plano de Rex. Outra sirene começa a soar de novo, e eu me encolho, achando que a hora é essa. Eles nos encontraram, penso, e estão chamando guardas para cercar-nos e prender-nos. Mesmo se eu derrubar o prédio inteiro igual eu derrubei em Dulce, ainda estaríamos presos. E estamos cinco andares acima – se o prédio cair vai ser uma longa queda. Mas essa sirene é diferente, parece mais um grito do que um guincho. E quando alguém começa a falar, o que ele diz não é o que eu esperava. “Atenção, todas as unidades” – o anunciador diz - suas palavras apressadas, mas é claro o que ele diz. “Todas as unidades se juntem! Garde localizada! Ataque em alta escala prestes a começar! Repito, todas as unidades se juntem, ataque em alta escala prestes a começar!” Eles encontraram a Garde? Ataque em alta escala? Eu olho para Rex, cujos olhos estão correndo por toda parte. Ele parece preocupado – mas excitado também, com o mesmo olhar de quando ele pulou no trem em movimento. Seu olhar parou em algum lugar, eu sigo para ver que ele está olhando para um Mogadoriano oficial inclinado no painel. Sua tela está mostrando alguma coisa – e eu percebo que todos tem a mesma imagem agora, e eu levanto um pouco para ver melhor. É o mapa de uma rua, mas não parece familiar – há um lago em vez de um oceano. Não é em Nova York. Os outros na sala estão falando nisso, ou falando rápido em walkie-talkies, ou correndo em direção às escadas, mas esse cara ainda está na sua mesa. E se ele se virar e me ver? Eu aparentemente fui movido para a lista de prioridades, mas eu tenho certeza de que se ele perceber quem eu sou ele ainda vai me pegar. Eu tenho que arriscar, mesmo assim. Se for lá a onde a Garde tem se escondido, Malcolm deve estar lá também. Eu dou alguns passos para frente, agora consigo mais detalhes, incluindo nomes de lugares. Shedd Aquarium, Water Tower Place, North Lake Shore Drive, Lake Michigan – é Chicago. Estão em Chicago. E o prédio que está no centro é o John Hancock Center. Lá deve ser a onde a Garde está. No momento em que eu percebo isso, o Mog se vira para trás e me vê. “Hey –” ele começa se levantando da cadeira. Ele parece confuso, como se ele soubesse que eu não deveria estar aqui, mas não caiu a ficha dele ainda de que eu sou o prisioneiro fugitivo. Então ele percebe algo no meu ombro, e seus olhos se arregalam. No canto do meu ombro há uma borboleta, um segundo depois é um beija-flor, e depois uma abelha. Droga. Ele percebeu quem eu sou.
Estou apenas a alguns passos dele agora. Eu chego mais perto e dou-lhe um soco na mandíbula o mais forte que eu consigo. Seus olhos se fecham e ele cai na cadeira. Um rápido olhar pela sala me diz que ninguém percebeu. Eu acho que todos aqueles anos treinando com Ivan me serviram de alguma coisa. “Você tem que sair daqui!”, Rex grita, se levantando e agarrando meu braço de novo. “Agora, já que todos estão saindo”. Eu concordo, e então paro. “EU tenho que sair daqui?” Ele olha para baixo, e então para outro lado. “Olha,” ele começa, “você salvou minha vida, e eu devo isso a você, e eu não te traí – e eu não vou. Mas –” – ele se encolhe. “Eu não sou como você. Eu já te disse isso. Eu estava apenas mantendo minha promessa. Eu sei que você deve haver motivos para fazer o que fez, e talvez eles façam sentido para você. Mas não para mim. Aqui é a onde eu pertenço. É quem eu sou”. É óbvio que não há como mudar sua mente. E ele não é como eu. Até onde eu sei, nenhum outro Mog é. Ele acredita que tudo o que foi ensinado sobre ser a raça superior e ter o direito de governar, controlar, e destruir. Talvez ele venha a apreciar as coisas um pouco mais pelo nosso tempo juntos, mas em sua mente, ele ainda é um soldado leal. E, mais cedo ou mais tarde eu acredito que ele vá me trair, nossas crenças são muito diferentes. Então eu apenas assinto, e estico minha mão. Ele bate nela, me dá um tapinha nas costas e me da um rápido sorriso. “Diga ao Poeira que eu disse adeus”, e então ele se virá e vai. Se ele tiver sorte, ninguém vai perceber que ele me ajudou. Espero que ele tenha. Estou sozinho no centro de comando, eu e os outros Chimaera – e um bando de Mogadorianos que começaram a perceber que seu fugitivo com seu zoológico estão no meio deles. “É o traidor!” – um deles grita, quebrando aquele momento de reconhecimento. “Pegue ele!” Ele corre em minha direção, junto com mais alguns. É então quando uma coruja branca enorme entra pela janela. É o Poeira. Estilhaços de vidros voam por todo lado, e mesmo antes de ele chegar ao chão ele já mudou de forma. Na hora em que ele pousa, ele está bloqueando o caminho entre mim e os Mogs. Ele é um lobo de novo, como na primeira vez que eu o vi. Dessa vez, entretanto, ele solta um gutural, grito primordial. O primeiro dos guardas nem sequer tem tempo para se desintegrar antes de ele ser despedaçado. Com isso, o resto deles para, para fazer algo que eu nunca vi um Mogadoriano fazer antes. Eles correm.
CAPÍTULO TREZE Muitas horas depois, estou na rodovia em um carro roubado junto com os Chimaera, em direção à Chicago. As criaturas finalmente estabilizaram a mudança continua, e quase estão ficando de uma forma só. É ainda a viagem mais estranha que eu já fiz. Sem falar do mau cheiro. Mas estou tendo um tempo bom. É quase a fronteira de Illinois quando, depois da quinta tentativa, alguém finalmente atende o celular de Malcolm. “Malcolm!” – eu grito imediatamente, jogando o telefone para minha outra mão. “Por onde você andou?!” Mas a voz que responde não é a dele. “Aqui é o Sam”. Há uma pausa. “Adam é você?” “Sam?” – eu espero um segundo – nós não fomos apresentados e eu estou um pouco estressado agora. Então eu me lembro. “Sam?! A onde esta seu pai?” “Ele está –” “Esqueça! Não tem problema!” – eu troco o celular de mão novamente, para que eu dirija melhor. “Escute-me Sam. Você está em Chicago, certo? No John Hancock Center?” Eu posso o ouvir respirar fundo. “Como – você sabe disso?” “Eles sabem Sam!” – eu não quis gritar, mas eu sei que eu gritei. “Eles sabem e eles estão a caminho!” Uma buzina de carro que se aproximava de mim enquanto eu entrava em sua pista me assusta, e eu sou forçado a largar o telefone para o banco ao meu lado e se concentrar na direção. Eu avisei a eles. Isso é tudo o que posso fazer agora. Eu só posso esperar que eles ouçam, e que eles estão preparados. Eles só têm que aguentar por mais um pouco. Eu olho para trás para o banco de trás. Poeira tomou a forma de um gato novo, e está enrolado em torno de sua família recuperada. Ele olha para cima e encontra o meu olhar, seus olhos dourados para os meus pretos, e rosna um pouco, mas eu sei que o aviso não é para mim. É para aqueles que fizeram isso com os outros Chimaera. Aguente firme, Malcolm, eu oro para que eu pressione o acelerador e o carro salta para frente, correndo para a noite. Estou indo. E eu tenho a cavalaria comigo. Espero que Um, onde quer que esteja agora, saiba o que eu fiz. O que eu estou fazendo. Eu gostaria de pensar que ela sabe, que ainda há uma parte dela em algum lugar. Não. Um sumiu. Eu finalmente aceito a verdade: se ela vive de qualquer forma em tudo, não é porque ela é um fantasma ou uma impressão psíquica persistente. Tudo o que resta dela é o que eu agarrei em minhas memórias. As coisas que ela me disse, a forma como ela me ensinou a viver. Ela não vai voltar. Eu não preciso que ela volte. Eu sei que ela está orgulhosa de mim, porque eu estou orgulhoso de mim mesmo. Porque eu me lembro dela.