Os legados caidos

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Lorien RJ – Ane, Cherles, Et, Guilherme, Jadson, Natália, Raphaela, Sammy, Wellington

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Os Legados de Lorien – Os Legados Caídos

Capitulo Um Às vezes eu gostaria de saber o que eles pensariam se soubessem que estamos aqui. Bem debaixo de seus narizes. Estou sentado com meu melhor amigo, Ivan, no gramado do lotado National Mall, com o monumento de Washington, um estúpido obelisco, pairando sobre nós. Deixei meu exercício de lado por um instante, e comecei a observar os turistas estudando seus mapas e os advogados e funcionários descendo a Independence Avenue se preparando para suas próximas reuniões. Estou quase me divertindo com a situação. Estão tão preocupados discutindo sobre problemas bobos, como raios UV, produtos químicos em seus alimentos e os ''níveis de ameaça terrorista'' e qualquer outra coisa que essas pessoas se preocupam, mas nunca lhes vão ocorrer que aqueles dois jovens estudando na grama são a sua verdadeira ameaça. Eles não têm ideia de que não há nada que eles possam fazer para se protegerem. O verdadeiro inimigo já está aqui. ''Ei!'' - Às vezes gostaria de gritar isso, agitando os braços. ''Sou o seu próximo ditador! Tremam diante de mim, idiotas!'' É claro que eu não poderia fazer isso. Não agora. A hora vai chegar. No momento, todos eles podem me encarar como se eu fosse apenas uma pessoa diferente na multidão. A verdade é que eu sou tudo, menos normal, mesmo que eu faça meu melhor para parecer. Na Terra, em minha identidade diz que me chamo Adam, filho de Andrew e Susannah Sutton, nascido em Washington, DC. Mas não sou eu por um todo. Eu sou Adamus Sutekh, filho do grande general Andrakkus Sutekh. Eu sou um Mogadoriano. Eu sou quem eles deveriam temer. Infelizmente, agora, ser um extraterrestre conquistador não é tão excitante quanto deveria ser. No momento, ainda estou preso fazendo minha tarefa. Meu pai me prometeu que isso não irá durar para sempre; que quando os Mogadorianos ascenderem ao poder desse pequeno planeta de merda, eu vou poder controlar a capital dos Estados Unidos. Acredite em mim, após gastar meus últimos quatro anos nesse lugar, já tenho uma boa ideia das mudanças que irei fazer. A primeira coisa que irei fazer vai ser renomear todas as ruas. Nada de Independência e Constituição, esse patriotismo estúpido. Quando eu estiver no comando, ninguém será capaz de lembrar o que é uma Constituição. Quando eu estiver no comando, minhas avenidas levarão títulos de ameaças apropriadas. - Sangue dos guerreiros Boulevard. - Murmuro para mim mesmo, tentando decidir se soa bem. Difícil dizer. - Talvez Caminho da Espada Quebrada... - Hein? - Ivan pergunta, olhando de onde está sentado até mim com uma expressão confusa. Ele está deitado de bruços, passando um lápis entre seus dedos finos como um blaster improvisado. Enquanto eu sonho com o dia em que serei o líder de tudo que observo, Ivan se imagina como um franco-atirador, eliminando inimigos lorienos um por um à medida que eles deixam o memorial Lincoln. - ''O que você disse? 1


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- Nada. - Respondo. Ivanick Shu-Ra, filho do grande guerreiro Bolog Shu-Ra, dá de ombros. Ivan nunca foi muito fã de fantasias que não incluem algum tipo de combate sangrento. Sua família afirma um parentesco distante com o nosso amado líder, Setrákus Ra, e se o tamanho de Ivan for alguma indicação, estou certo de acreditar neles. Ivan é apenas dois anos mais jovem que eu, porém já é muito maior, com ombros grossos e largos, enquanto sou flexível e ágil. Ele já parece um guerreiro, sempre mantém seu cabelo negro cortado rente, ansioso pelo dia que irá poder raspá-lo por completo e assumir as cerimoniais tatuagens mogadorianas. Ainda me lembro da noite da primeira grande expansão, quando meu povo conquistou Lorien. Eu tinha oito anos naquela noite, muito velho para estar chorando, mas de qualquer maneira eu chorei quando me disseram que ficaria em órbita acima de Lorien com as mulheres e crianças. Minhas lágrimas duraram poucos segundos, até que o General me deu um tapa. Ivan observava minha birra, estupidamente chupando seu dedo, talvez jovem demais para entender o que estava acontecendo. Nós assistimos a batalha da janela de nossa nave, junto de minha mãe e minha irmã mais nova. Aplaudimos enquanto as chamas tomavam conta do planeta em baixo de nós. Depois que ganhamos a batalha e os habitantes de Lorien serem destruídos, o General voltou a nossa nave com o rosto coberto de sangue. Apesar do triunfo, seu rosto era sério. Antes de dizer qualquer coisa para minha mãe ou para mim, ele se ajoelhou diante de Ivan e lhe explicou que seu pai havia morrido em prol de nossa raça. Uma morte gloriosa, condizente com um herói mogadoriano de verdade. Ele esfregou o polegar na testa de Ivan, deixando um fino rastro de sangue. A benção. Como uma reflexão tardia, o General fez o mesmo a mim. Depois disso, Ivan, cuja mãe morreu no parto, veio morar conosco e foi criado como meu irmão. Meus pais são considerados sortudos por terem três filhos de sangue. Não estou sempre certo que meu pai se sinta sortudo por ter-me. As nota de meus testes ou avaliações físicas são sempre menos do que satisfatórias. O General faz piada, de que deveria transferir minha herança para Ivan. Tenho quase certeza de que ele está brincando. Meu olhar segue uma família quando eles cruzam o gramado, cada um deles vendo um mundo através das câmeras. O pai faz uma pausa para tirar uma série de fotos do monumento, e eu brevemente penso em reconsiderar meus planos de demoli-la. Em vez disso, talvez eu devesse pensar em fazê-lo mais alto, talvez instalar uma cobertura para mim no piso superior. Ivan poderia ter o quarto abaixo a minha. A filha da família de turistas provavelmente tem cerca de 13 anos, como eu, e ela tem uma forma graciosa, porém tímida. Eu a pego olhando para mim e encontrarme, inconscientemente, mudando para uma posição mais apresentável, sentandose ereto, inclinando meu queixo para baixo para esconder o ângulo grave do meu nariz grande demais. Quando a menina sorri para mim, eu desvio o olhar. Por que eu deveria me importar com o que algum ser humano pensa de mim? 2


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Devemos sempre lembrar por que estamos aqui. - Isso nunca surpreende a você, a facilidade com que eles nos aceitam como um deles? - Pergunto a Ivan. - Nunca subestime a estupidez humana. - Diz ele, estendendo a mão para tocar a página em branco do dever de casa em minhas mãos. - Você vai terminar esta merda ou o quê? A lição de casa que está em minhas mãos não é minha, é do Ivan. Ele está esperando para que eu faça isso por ele. Trabalhos escritos sempre lhe causaram problemas, enquanto que as respostas certas sempre chegam a minha mente rapidamente. Eu olho para o exercício, Ivan deveria escrever um pequeno ensaio sobre uma citação do Grande-livro de Mogadore, o livro que nosso povo deve aprender sobre a sabedoria e ética mogadoriana e interpretar o que a escrita de Setrakus Rá significa para ele, propriamente. - “Nós não invejamos a besta para a caça”. - Leio em voz alta, embora eu, como a maioria do meu povo saiba essa passagem do texto de cor. - ''É da natureza do caçador caçar, assim como é da natureza de Mogadore se expandir. Aqueles que resistem à expansão do Império Mogadoriano, portanto, estão em oposição com a natureza de si mesmos." Olho para Ivan. Ele tomou fim sobre a família que estava assistindo antes, fazendo os sons agudos do feixe de laser com os dentes cerrados. A menina com suspensórios faz uma carranca para ele e se vira. - O que isso significa para você? - Eu pergunto. - Eu não sei. - Ele resmunga. - Que nossa raça é superior, e todos devem lidar com isso. Certo? Encolho os ombros, suspirando. - Perto o suficiente. Pego minha caneta e começo a rabiscar algo, mas sou interrompido pelo toque do meu celular. Eu acho que é uma mensagem de texto de minha mãe, pedindo-me para pegar algo da loja a caminho de casa. Admito, a comida aqui na Terra faz parecer com que a nossa seja uma porcaria. O que eles consideram "processado" aqui seria valorizado no meu planeta natal, onde a comida, entre outras coisas, é cultivada em tanques subterrâneos. O texto não é de minha mãe, no entanto. A mensagem é do General. - Merda. - Resmungo, soltando minha caneta como se o general tivesse acabado de me pegar ajudando Ivan, o que é considerado fraude. Meu pai nunca envia mensagens de texto. O ato abaixo é dele. Se o General quer alguma coisa, nós devemos nos antecipar ainda antes que ele tenha de perguntar. Algo muito importante deve ter acontecido. - O que é isso? - Pergunta Ivan. A mensagem diz simplesmente: ''Em casa agora.'' - Nós temos que ir.

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Capitulo Dois Ivan e eu tomamos o metro para fora de DC, pegamos nossas bicicletas na estação de trem e pedalamos pelos subúrbios o mais rápido que podíamos. Quando nós finalmente passamos através do portão de entrada dos Ashwood Estates, eu caio pelo menos trinta metros atrás dele. Culpo minha camiseta umedecida de suor no calor fora de época e minha sensação de náusea pela mensagem de texto ameaçadora do meu pai. Ashwood Estates é idêntica a muitas das comunidades ricas fechadas fora de Washington, ou pelo menos parece idêntica. Mas, em vez de ser possuída por políticos e suas famílias, as mansões e gramados impecavelmente mantidos atrás das portas dianteiras são de propriedade de meu povo, os Mogadorianos, prestes a serem os conquistadores da Terra. E as casas em si, são apenas uma pequena parte dos Estates Ashwood reais. Debaixo das casas está um enorme labirinto de túneis que ligam as várias instalações Mogadorianas que são o verdadeiro propósito deste lugar. Só meu foi concedido acesso a pequenas partes de nossa sede subterrânea. Não tenho ideia de quão longe eles se estendem ou quão profundamente atingem abaixo da terra. Mas eu sei que esta vasta rede subterrânea abriga muitos laboratórios, depósito de armas, centros de treinamento e mais segredos do que eu posso começar a imaginar. É também lá onde vivem os Mogadorianos nascidos artificialmente. Se não fosse pelo nosso amado líder, Setrákus Ra, a raça Mogadoriana nunca teria sobrevivido o suficiente para começar a grande expansão. Ao longo dos últimos cem anos, por razões que ainda são pouco conhecidas, tornou-se mais e mais difícil para Mogadorianos terem filhos. Até o momento em que Kelly nasceu, partos naturais Mogadorianos eram tão raros que a nossa antiga, e orgulhosa espécie podia se extinguir. Quando as crianças eram capazes de ser concebidas, as mulheres Mogadorianas, como a mãe de Ivan, muitas vezes morriam durante o parto. Devido a isso, Setrákus Ra e uma equipe de cientistas vêm trabalhando para produzir artificialmente uma nova geração de Mogadorianos. Ao invés de nascerem na forma habitual, os nossos irmãos e irmãs são nascidos em tanques químicos gigantes, de onde surgem eventualmente, totalmente crescidos e prontos para a batalha. Estes nascidos em tanques não só asseguraram a continuidade da vida Mogadoriana, mas com a sua elevada velocidade, força e resistência, também são a espinha dorsal de nosso exército. Além de sua destreza física aumentada, os IVA's como assim são chamados, são diferentes dos Mogadorianos verdadeiros, nascidos como eu. Eles foram projetados para serem fisicamente adaptados para a guerra, mas para serem soldados e não oficiais. Em sua sabedoria, Setrákus Ra criou-os para serem mais sinceros do que Mogadorianos – quase máquinas - como em sua adesão às tarefas que são atribuídas e como guerreiros naturais, o que eles têm na forma de 4


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pensamento racional, muitas vezes transparecem em raiva e sede de sangue. Mas a diferença mais importante entre os IVA's e os verdadeiros Mogadorianos, pelo menos aqui na Terra, é o fato de que eles parecem diferentes do resto de nós. Enquanto os verdadeiramente nascidos são capazes de passar em meio a seres humanos, os IVA's não são. Sua pele é pálida e fantasmagórica, devido à vida subterrânea, e seus dentes são pequenos e afiados para o combate próximo em vez de comer. É por isso que somos capazes de nos revelar e, a eles, são raramente autorizados a mostrar suas caras à luz do sol. Então, quando vejo que os IVA's estão celebrando abertamente nos gramados de Ashwood Estates ao lado de seus superiores Mogadorianos, eu sei que algo grande está acontecendo. Ivan sabe disso também, e me dá um olhar confuso. Todas as famílias do Ashwood Estates estão em frente de suas casas, misturando-se uns com os outros, levantando brindes a partir de garrafas de champanhe recém-abertos. Os IVA's, com sua pele pálida, escondidos sob lenços e chapéus, com um olhar tanto animado e desorientado ao serem expostos ao céu aberto. O ar festivo é incomum na cultura Mogadoriana. Normalmente o meu povo não é dado a abrir demonstrações de alegria, especialmente com o General por perto. - O que diabos está acontecendo? - Ivan pergunta, como sempre olhando para mim pedindo respostas. Desta vez eu apenas encolho os ombros de volta para ele. Minha mãe está sentada no espaço em nossa frente, observando com um pequeno sorriso Kelly, enquanto dança descontroladamente em todo o jardim da frente. Minha irmã, girando loucamente, nem percebe quando Ivan e eu chegamos. Minha mãe parece aliviada ao ver-nos chegando. Embora eu não saiba o que estamos celebrando, eu sei por que ela não se juntou aos outros foliões gramados a fora. Ser a esposa do General a torna difícil de fazer amigos, mesmo com os verdadeiros Mogadorianos. O de meu pai se estende a minha mãe. - Meninos - Diz ela em tom serene enquanto Ivan e eu deitamos nossas bicicletas na grama. - Ele está procurando por vocês. Vocês sabem que ele não gosta de esperar. - Por que ele precisa nos ver? - Eu pergunto. Antes que minha mãe pudesse responder, o General aparece na porta atrás dela. Meu pai é um homem grande, de perto, parece ter quase 3 metros de altura, musculoso, com uma postura que exige respeito. Seu rosto possui todos os ângulos do rosto agudos, uma característica que eu, infelizmente herdei dele. Desde que chegou à Terra, ele deixou seu cabelo negro crescer para esconder as tatuagens em seu couro cabeludo, e que ele mantém cuidadosamente penteado para trás, como alguns dos políticos que eu vi caminhando pela National Mall. - Adamus, - Diz ele em um tom que não tolera questionamentos. - venha comigo. Você também, Ivanick. - Sim, senhor. - Ivan e eu respondemos em um tom uníssono, trocando um olhar nervoso um com o outro antes de entrar em casa. Quando meu pai usa esse tom de voz, isso significa que algo grave está acontecendo. Quando passo por minha mãe, ela aperta minha mão suavemente. 5


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- Divirta-se na Malásia! - Grita Kelly bem atrás de nós, depois de ter finalmente nos percebido. - Destrua a Garde tão forte como você pode!

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Capitulo Três Poucas horas depois, Ivan e eu estamos indo para a Malásia a bordo de um frio e desconfortável avião que foi comprado de uma companhia que não deve fazer muitas perguntas, afinal, eles venderam um avião para Mogadorianos. A área de passageiros não parece muito diferente da de carga abaixo, com apenas alguns bancos de metal e cintos de segurança desgastados, onde Ivan e eu nos sentamos, amontoados entre os guerreiros, alguns deles normais e a maioria composta por IVA's. Nosso passeio não é um dos melhores, mas estou muito nervoso para me preocupar com o conforto. Esta é a minha primeira missão, mesmo que o meu Objetivo seja apenas observar. Meu pai está como co-piloto. Sempre que o curso do avião torna-se momentaneamente inseguro, eu me pergunto se é uma mudança nas condições climáticas ou se é apenas o meu pai fazendo o piloto ficar nervoso. Para muitos dos Mogadorianos no avião, esta é a sua primeira missão desde a primeira Grande Expansão. Alguns deles passam o vôo relembrando a última vez que eles lutaram, se vangloriando de suas grandes matanças. Outros, os mais antigos, ficam quietos, completamente focados na missão, apenas olhando para o espaço. - Você acha que nós iremos disparar alguma arma? - Ivan me pergunta. - Eu duvido. - Respondo. Estamos a bordo nesta missão, simplesmente por que eu sou o filho do General e Ivan seu criado. Nós somos jovens demais para ter alguma utilidade real para a equipe de ataque, mas não muito jovens para assistirmos de longe a execução destes lorienos insurgentes. Meu pai quer que aprendamos com eles. Como nossos instrutores sempre nos dizem, as simulações de combate só servem para nos preparar para a batalha. - Isso é péssimo. - Ivan reclama. - Seja lá o que for. - Eu digo, mudando de posição e tentando esticar as pernas. – Eu simplesmente não posso esperar para sair deste avião. Depois disso, tudo ao nosso redor acontece como um borrão. Nós pousamos. Encontramos a Garde e sua Cêpan. Como fomos orientados, Ivan e eu ficamos para trás, olhando o General junto dos guerreiros Mogadorianos irem para a batalha. Não é uma coisa justa, não é como as batalhas são descritas no Grande Livro. Duas dezenas de Mogadorianos contra uma mulher de meia idade e uma adolescente. Primeiramente, nosso objetivo é simplesmente capturar e interrogar as duas. Há rumores desde que viemos para a Terra de algum tipo de encantamento Lórico que protege a Garde, obrigando-nos a matá-los em ordem. Fala-se de uma batalha nos Alpes, onde um de nossos guerreiros teve um Garde encurralado, e quando aplicou seu golpe mortal, de alguma forma o golpe se voltou contra ele. O general não tolera falarmos deste encanto Lórico, mas o meu povo ainda é cauteloso. A Cêpan é mais resistente do que o esperado, ainda que ela seja rapidamente capturada. A Garde é mais difícil ainda, ela tem poderes, o chão treme sob os pés dos nossos guerreiros. Eu me pergunto que poder eu gostaria de ter. Mas se para 7


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ter isso, tenho que fazer parte de uma raça em extinção, forçado a se esconder em cabanas de baixa qualidade, nas margens de um rio, eu passo. Sua estratégia para capturá-los pode sofrer mudanças, uma vez que nossos guerreiros percebam que podem ferir a Garde. Ou os rumores do feitiço Lórico são tão falsos quanto meu pai acredita, ou esta é a Número Um. O General podia ter levado a caça viva, mas quando os guerreiros entendem que eles podem matá-la, trazendo-nos mais perto de nosso objetivo, a sede de sangue supera as ordens. Termina quando um dos guerreiros atravessa sua espada nas costas da Número Um. - Isso foi incrível! - Grita Ivan. Até meu pai se permite um leve sorriso de aprovação. Eu sei que deveria compartilhar sua alegria, mas minhas mãos não param de tremer. Sinto-me grato que eu só tive que assistir de longe, que eu não era um dos Mogadorianos agora reduzidos a cinzas em um rio da Malásia. Também sou grato por não ser um lorieno, para não ter que passar a vida fugindo com medo de probabilidades impossíveis, apenas para ser apunhalado pelas costas. Ocorre-me que eu estou sentindo algo próximo a uma empatia com a Garde. O Grande Livro adverte contra isso, então eu logo retiro esse sentimento de minha mente. Eu preciso ir além desses sentimentos infantis. A batalha foi menos gloriosa do que eu esperava, mas ainda assim uma grande vitória para o progresso Mogadoriano. Agora apenas oito membros da Garde soltos permanecem em nosso caminho de destruição da Terra. Nove Garde mortos são um preço pequeno a pagar para a minha doce cobertura no topo do Monumento de Washington. Eles enfiam o corpo da Número Um em um saco e o despejam no avião com o resto da carga. A Arca Lórica que ela carregava com si é tida como bem, embora mesmo o mais forte dos nossos guerreiros não possa arrombar a fechadura. Seu pingente é arrancado de seu corpo pelo meu pai, ainda que eu não saiba em que isso lhe pode ajudar. O corpo de sua Cêpan é deixado para trás. Ela não tem nenhuma importância para nós agora. No avião na viagem de volta, os bancos são muito menos lotados. Eu fico quieto, mas Ivan importuna os guerreiros da linha de frente para detalhes sangrentos da batalha, até que o General o manda calar a boca. Se fossem um time de futebol, eu tenho certeza de que os guerreiros sobreviventes estariam distribuindo uns aos outros Gatorade, da mesma maneira que os atletas humanos fazem depois de uma vitória. Mas nós não somos um time de futebol. Somos Mogadorianos. E meu pai não deve nem saber o que é Gatorade. Nós viajamos o resto do caminho em silêncio. Durante o vôo, o General vem sentar-se ao meu lado. - Quando voltarmos para Ashwood Estates - Diz ele. - eu vou ter uma tarefa importante para você. Concordo com a cabeça. - Sim. Claro, senhor. 8


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Meu pai olha para as minhas mãos, ainda tremendo, não importa o quanto eu tente firmá-las. - Pare com isso! - Ele rosna antes de voltar para a sala de comando.

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Capitulo Quatro Embora eu a tenha visto na batalha, a menina sobre a mesa de metal não é o que eu estava esperando. Desde a primeira Grande Expansão, fomos ensinados que a Garde é a última ameaça verdadeira para a nossa raça. Fomos ensinados que eles são guerreiros ferozes, capazes de destruir o motor do progresso Mogadoriano. De alguma forma eu pensei que esta ameaça para o meu povo fosse mais temível. Agora morta, a número um parece frágil. Ela possui a minha idade ou talvez um pouco mais velha, e sua pele, uma vez morena, agora está pálida, a ponto de eu conseguir enxergar suas veias. Seus lábios estão azuis. Finos traços de sangue seco estão marcados através de seu cabelo loiro. Seu corpo é coberto com um lençol branco, mas sob as luzes brilhantes do laboratório eu posso ver a sombra terrível da ferida que floresce em toda a sua barriga. Estamos debaixo do Ashwood Estates, no laboratório subterrâneo do Dr. Lockam Anu. Nunca me foi permitido entrar aqui antes, então assim que entro, fico maravilhado com a quantidade de máquinas brilhantes e tecnológicas, mas sem parecer abobado. O General não gostaria de saber que eu estava distraído. Eu estou ao lado do meu pai, ambos em silêncio, observando como Anu suavemente coloca a cabeça da Número Um em um capacete estranho. Anu é um homem velho, sua coluna é curvada, seu couro cabeludo é enrugado e tatuado. Ele anda em volta da Um conectando fios soltos ao capacete. - Deve estar pronto. - Anu murmura, afastando-se. - Finalmente. - Grunhe meu pai. Anu para em frente ao tornozelo esquerdo nu da Número Um, passando seus longos dedos na cicatriz da Número Um. As cicatrizes são umas das primeiras coisas que nos foram ensinadas, quando viemos à Terra. Examinar cada tornozelo para mim tornou-se uma segunda natureza há muito tempo. - Quatro anos de busca por uma criança com este símbolo. - Pondera Anu. - Você certamente perdeu o seu tempo, General. Eu posso praticamente sentir meu pai cerrando os punhos. É como estar ao lado de uma tempestade que se aproxima. No entanto, ele não responde. Dr. Anu lidera a equipe de pesquisas cientificas no Ashwood Estates e tem direito a determinados benefícios, como fazer uma escavação no General sem ser imediatamente espancado. Anu olha na minha direção, seu olho esquerdo está levemente caído. - O seu respeitável pai lhe explicou por que você está aqui, rapaz? Eu olho para o General. Ele balança a cabeça, concedendo-me permissão para falar. - Não, senhor. - Ah. “Senhor”. Que jovem educado que você criou General. - Anu faz um gesto para que eu venha me sentar em uma cadeira de metal, onde em cima paira uma imponente obra de tecnologia avançada. - Venha, sente-se.

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Olho de novo para o meu pai, mas seu rosto não diz nada. - Você vai fazer a nossa família orgulhosa hoje, Adamus. - Burburinha o General. Fico aliviado que minhas mãos tenham finalmente parado de tremer. Eu me sento. Anu agacha-se diante de mim, com seus velhos ossos rangendo em protesto. Ele prende meus pulsos e tornozelos em volta da cadeira por tiras de borracha. Eu sei que eu deveria confiar no meu pai. Eu sou muito importante para ele deixar algo de ruim acontecer comigo. Ainda assim, me sinto embaraçado. - Confortável? - Pergunta o Dr. Anu, sorrindo para mim. - O que é isso? - Eu pergunto, esquecendo completamente da regra do General contra perguntas. Meu pai olha para mim com uma paciência surpreendente. Talvez esteja se sentindo como eu, desconfortável, vendo seu filho preso em uma cadeira. - Dr. Anu acredita que esta máquina nos possibilitará acessar as memórias da Loriena. - Explica o meu pai. - Eu sei que a máquina funcionará. - Corrige Anu. Ele esfrega um líquido quente em minhas têmporas antes de ligar um par de eletrodos de borracha. Os fios de eletrodos correm para um monitor posicionado ao lado da Número Um, que de repente faz um zumbido. - Você apostaria sua vida na sua criação, que ainda por cima não foi testada, Dr. Anu? - Rosna meu pai. - Não testado? - Eu estremeço. E imediatamente me arrependo pela nota de pânico em minha voz, que faz com que o General faça uma careta. Dr. Anu pisca-me com um sorriso apaziguador. - Nós nunca tivemos um dos Garde para experimentar antes, então sim, nunca foi testado. - Ele dá de ombro alegremente, animado para testar sua engenhoca. - Mas a teoria por trás é muito forte. Dos Mogadorianos originais aqui em Washington, você é o que está mais próximo da idade da menina, o que deve servir para a transição da memória ocorrer mais tranquila. Sua mente vai interpretar as memórias da Garde como visões, em vez de através de seus olhos. Tenho certeza que seu pai não quer que seu único filho homem entre de repente no corpo de uma menininha, hein? Meu pai se endireita. Dr. Anu olhar sobre o ombro. - Brincadeira, Geral. Você tem um bom e forte filho aqui. Muito corajoso. No momento, eu não me sinto muito corajoso. Eu assisti a Número Um se ferir, mal capaz ela era de se defender enquanto vivia, ela então é certamente inofensiva morta. Eu, por está sendo ligado a ela, me renova a sensação de desconforto que senti na viagem de avião de volta da Malásia. Eu quase começo a oferecer Ivan para ser o porco de cobaia de Anu, mas escolho ficar quieto na hora certa. Ivan sentiu prazer ao ver a Número Um morrer, isso foi tudo o que ele foi capaz de falar. Para mim, só de pensar faz com que minhas mãos comecem a tremer novamente. Eu me contive - pare de ser tão covarde, Adamus, esta é uma grande honra, algo que deve ser motivo de orgulho. Eu tento não olhar para a menina morta, nem quando Anu a coloca na cadeira e abaixa o cilindro de metal do teto, coberto com circuitos parecidos com o de um 11


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foguete. A grande maioria dos fios ligados a Número Um está conectada ao cilindro. Anu faz uma pausa antes de colocar o cilindro no local sobre a minha cabeça e espreita para mim. - Você vai sentir um pequeno choque. - Ele brinca. - Talvez vá dormir por alguns minutos. Quando você acordar, você vai ser capaz de nos dizer o que esta Garde sabia sobre os outros Gardes. Eu percebo que a mão em meu ombro é de Anu. Ele aperta com força. Há alguns dias, a minha maior preocupação era saber respostas dissertativas suficientes para os meus deveres, fora os de Ivan. Desde então, tenho visto em primeira mão o guerreiro Mogadoriano em que devo ser, e eu não tenho certeza se estou pronto para isto. Agora eu estou sendo obrigado a compartilhar temporariamente meu cérebro com meu inimigo mortal. Eu sei que é a vontade de meu pai, e que se a máquina funcionar, vai ajudar a nossa causa e honrar a minha família. Ainda, eu não queria admitir isso, mas eu estou com medo. Anu coloca o cilindro sob a minha cabeça até cobrir o meu rosto por completo. Ele e meu pai desaparecem de vista. Eu ouço uma série de barulhos no laboratório. Os dedos de Anu passam através de uma série de botões, e o cilindro começa a vibrar. - Aqui vamos nós. - Anuncia Anu. O interior do cilindro explode com luz clara que arde meus olhos, todo o caminho até a parte de trás da minha cabeça. Eu fecho meus olhos, mas de alguma forma a luz ainda penetra. Eu me sinto como se eu estivesse flutuando, com a luz penetrando através de mim, me quebrando em minúsculas partículas. Deve ser assim que uma pessoa morta se sente. Eu acho que eu grito. E então tudo que eu vejo é a escuridão.

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Capitulo Cinco É como se eu estivesse caindo. Explosões de cores piscam em toda a minha visão. Haviam formas indistintas rostos, paisagens embaçadas - mas eu não posso fazer nada. É como estar preso dentro da minha TV, enquanto Kelly brinca com o controle remoto. Nada faz sentido, e eu começo a ficar com sentimento de pânico, uma sobrecarga sensorial. Eu tento manter meus olhos fechados, mas isso é inútil; isso tudo está acontecendo dentro da minha mente. Só quando eu sinto que meu cérebro está prestes a ser frito como uma batata pelo bombardeio de cores, tudo entra em foco. De repente, eu estou de pé em um salão de banquetes iluminado pelo sol. A luz se derrama para a sala por uma claraboia através da qual eu posso ver árvores diferentes de qualquer outra que eu já vira antes, trepadeiras floridas em vermelho e laranja penduradas nos galhos emaranhados. Embora eu nunca estivesse lá, - só olhei para ele a partir da órbita - de alguma forma eu soube que este é Lorien. E então eu percebo que eu sei onde estou por que Número Um sabe. Esta é uma das suas memórias. No centro da sala há uma grande mesa coberta com comidas estranhas, mas que aparentam ser deliciosas. Os lorienos estão sentados ao redor da mesa, todos eles com vestidos extravagantes e ternos. Eu vacilo quando os vejo - estou em menor número e meu primeiro instinto é correr, mas eu estou preso a este lugar. Não poderia me mover nem se tentasse, preso nesta memória. Os Lorienos estão todos sorrindo, cantando. Eles não parecem muito alarmados porque um Mogadoriano acaba de aparecer em sua festa. Foi quando eu percebi que eles não podiam me ver. Claro que não, eu sou apenas um turista na mente da Número Um. E lá está ela, sentada à cabeceira da mesa. Ela é tão jovem, talvez cinco ou seis anos, o cabelo loiro puxado em duas tranças que balançam nas costas. Quando os adultos terminam de cantar, ela bate palmas de excitação, e eu percebo que esta é a sua festa de aniversário. Não celebramos tais ocasiões tolas em Mogadore, embora alguns grandes guerreiros sejam conhecidos por marcar o aniversário de sua primeira morte com uma festa. Que memória inútil. O general não vai ficar impressionado se tudo com o que eu voltasse fosse o conhecimento sobre festas de aniversário Lorienas. Logo o mundo fica borrado de novo e eu estou caindo. O tempo passa em uma corrida e eu estou sendo arrastado, sentindo-me doentemente fora de controle. Outra lembrança toma forma. Número Um anda por um campo aberto, com as mãos estendidas para que as ervas altas toquem as palmas das mãos. Ela tem talvez um ano a mais que na festa de aniversário, ainda apenas uma criança, vagando feliz em seu planeta não destruído. Chato. 13


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Um se abaixa e pega algumas flores, entrelaçando os talos juntos, envolvendo a cadeia de flores em torno de seu pulso como um bracelete. Quanto disso é que eu vou ter que peneirar? Talvez se eu me concentrar eu possa ter algum controle dessas memórias. Eu preciso ver o outro Garde – não esta garota, porcaria de Loriena feliz. Eu tento pensar sobre o que eu quero ver - as faces dos Gardes, seus Cêpans - e então a memória no campo pisca para longe e eu estou em outro lugar. É noite, embora a escuridão seja iluminada por dezenas de incêndios próximos. As duas luas Lorienas descansam em lados opostos da linha do horizonte. O chão treme debaixo dos meus pés, uma explosão nas proximidades. Número um e oito outras crianças estão correndo em uma pista isolada, dirigindo-se para um navio. Seus Cêpans apressam-nos, gritando ordens. Algumas das crianças estão chorando enquanto seus pés batem contra a calçada. Número Um não está, ela olha por cima do ombro enquanto um Lorieno em uma roupa elegante dispara um cone de energia de congelamento cor-de-cobalto para o rosto de um Péken rosnando. Os olhos de Número Um se arregalam de admiração e medo. É isso. A primeira grande expansão. Exatamente a memória que eu precisava ver. - Corra! - O Lorieno de roupa elegante grita para o grupo de Gardes jovens que fogem. Seus Legados totalmente desenvolvidos e poderosos. Ainda assim, ele vai morrer nesta noite, assim como todos os outros. Eu varro meus olhos sobre as crianças, tentando pegar tantos detalhes quanto eu puder. Há um rapaz de aparência feroz com cabelo preto longo e outra menina loira, mais nova do que a Número Um, sendo carregada por seu Cêpan. Número Um é mais velha do que a maioria das outras crianças, um detalhe que eu sei que vai ajudar o meu pai a construir os perfis dos Gardes restantes. Eu conto quantos deles são meninos e quantas são meninas, e tento memorizar suas características mais distintivas. - Quem diabos é você? A voz é mais clara do que o som dos trovões de guerra da memória, como se estivesse sendo canalizada direto em meu cérebro. Viro a cabeça e percebo que Número Um está de pé ao meu lado. Não é a criança Número Um da memória, - não, esta é a Número Um que eu vi pela última vez: cabelo loiro fluindo pelas costas, ombros prostrados desafiadoramente. Um fantasma. Ela está olhando para mim, esperando uma resposta. Ela não pode estar aqui, o que não faz sentido. Eu aceno minha mão na frente do rosto, imaginando que isso deve ser algum tipo de falha na máquina de Anu. Não há nenhuma maneira de ela estar realmente me vendo. Número Um bate na minha mão. Estou surpreso que ela pode me tocar, mas depois eu me lembro de que nós dois somos fantasmas aqui. - Bem. - Ela pede. - Quem é você? Você não pertence aqui. - Você está morta. - São as únicas palavras que eu posso reunir. Um olha para si mesma. Por um momento, a ferida enorme pisca no seu abdômen. Tão rapidamente, ela se foi.

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- Não aqui. - Ela encolhe os ombros. - Estas são as minhas memórias. Então aqui eu acho que você está preso a mim. Eu balancei minha cabeça. - É impossível. Você não pode estar falando comigo. Um olha para mim, pensando. - Seu nome é Adam, certo? - Como você sabe disso? Ela sorri. - Estamos compartilhando um cérebro, Garoto-Mog. Acho que isso significa que eu sei uma coisa ou duas sobre você, também. Em torno de nós, todos os Gardes que estavam fugindo tinham embarcado em seu navio, os motores agora roncando para a vida. Eu deveria estar escaneando o navio para todos os detalhes úteis, mas eu estou muito distraído com a menina morta zombando de mim. - Seu General assustador/burro vai ficar tão decepcionado quando você acordar com nada suculento para dizer a ele. - Ela me agarra pelo cotovelo, e a sensação é tão real que eu tenho que me lembrar de que este é basicamente apenas um sonho. Um sonho em que a Número Um está de repente no controle. - Você quer as minhas memórias? - Ela pede. - Vamos lá. Eu vou dar-lhe uma visita guiada. Quando a cena muda novamente, eu começo a entender o que aconteceu. Eu estou preso aqui com meu inimigo jurado. E ela parece estar no comando.

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Capitulo Seis Desta vez a mudança da memória é diferente. Antes eu estava caindo ao longo do tempo, caindo através da memória. Agora me sinto imóvel, e de repente eu estou do lado de fora de uma fazenda em Coahuila, México. Nesta memória, Um e sua Cêpan estão carregando caixas para a casa. É dia de mudança. Este é o primeiro lugar onde Um e sua Cêpan (Hilde, o nome de sua Cêpan era Hilde) se instalaram desde que aterrissaram na Terra e seguiram caminhos separados. - Espera. Como eu sei de tudo isso? É estranho. Além de encontrar-me existindo aqui, observando este momento particular na vida de Um, eu também tenho um sentimento geral de suas lembranças da época. Eu sei de coisas que ela sabe e lembra, suas memórias. As memórias são tão vivas, que é como se fossem minhas. É como se eu fosse ela. A Um fantasma aparece ao meu lado, assistindo comigo a versão mais jovem de si mesma e Hilde, enquanto arrumam os pratos na cozinha. É assustador tê-la aqui, me dá uma sensação de vertigem. Tento ignorá-la, mas ela segue falando. - Nós ficamos ali por um tempo. - Diz ela, soando quase melancólica. - Então, Hilde pensou ter visto alguns de sua espécie bisbilhotando a cidade, portanto, tivemos que sair. Os Gardes se mudam muito, de cidade a cidade, país a país; seus movimentos são imprevisíveis. Meu pai vai querer saber disso. É completamente o oposto da maneira como os Mogadorianos têm feito, consolidar nosso poder em bases de todo o mundo. É por isso que eles são tão difíceis de rastrear. - Hilde, era uma droga algumas vezes. - Diz Um, observando sua Cêpan. Provavelmente, muito parecida com o idiota do seu pai. Exceto, que você sabe ser malvaado. Um enfatiza o “malvaaado”, esfregando seus olhos. -Cale-se! - Eu cuspi, parecendo mais irritado do que eu mesmo percebi que estava. –Você não o conhece. Apesar de tudo, me encontro estudando Hilde. Ela está no final dos cinquenta, e seu rosto está enrugado, tanto com as linhas naturais da idade quanto do desgaste prematuro de estresse. Seu cabelo cinza fortemente vinculado em uma trança severa. Seus olhos têm uma dureza, a voz dela é de aço e medida, mesmo quando apenas dizendo a Um (A Um de verdade) em que lugar vão os pratos. Na verdade, lembra mesmo o General. - E apesar de tudo, eu a amava como uma mãe. - Diz a Um fantasma, e noto uma tristeza em sua voz. Minha mente voa para a velha morta que nós deixamos para apodrecer na Malásia, e eu sinto algo como culpa, mas rapidamente afasto. “Ela está mexendo com a sua cabeça, Adamus.” - Eu gostaria que você parasse de falar comigo. - Digo a ela. - Sim? Bem, eu desejaria que seu povo não tivesse me matado.

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Depois de México, Um e Hilde se mudam para Austin, Texas. Eu tento sair dessas memórias, para voltar à noite na pista de Lorien, onde eu possa realmente encontrar algo de útil, mas a Um não me deixa. De alguma forma, ela está me bloqueando. Eu posso ser um hóspede não convidado em sua mente, mas ainda é dela. Ela não pode me chutar para fora totalmente, mas ela tem algum controle sobre quais salas eu estou autorizado a visitar. Na maioria das vezes, quando eu tento forçar o meu caminho através de sua memória, a Um me faz ver uma de suas sessões de treinamento dela e de Hilde. - Eu costumava odiar estes. -Um diz, sorrindo. - Espero que você sinta o mesmo. Hilde é uma especialista em artes marciais, é um estilo de luta que nunca iria introduzir nos treinamento de Mogadorianos, onde a força bruta é valorizada acima de tudo. Hilde utiliza uma arte marcial de defesa, que usa o próprio impulso de um atacante, com focos graves em centros nervosos que irão incapacitar temporariamente o inimigo. Preso nessas lembranças, quando o tédio é total, encontro-me imitando movimentos de Hilde, praticando ao lado da Um mais jovem. Eu sei que nada disso é real, que é tudo da minha mente. Ou a mente de Um. Eu não estou tão certo de que há uma diferença. Meu corpo nunca serviu para os treinamentos de combate de Mogadore, para a decepção do meu pai e a diversão de Ivan. Mas, em suas memórias, eu nunca me canso. Mesmo que este treinamento seja basicamente imaginário, é bom finalmente poder me mover de uma maneira que me convém. Além disso, eu tenho que reunir informações. Como os Gardes lutam é uma informação essencial. Nas memórias de treinamento anteriores, Um é uma aluna impaciente. Ela pratica com Hilde do amanhecer até o pôr do sol, ouvindo extasiada como Hilde conta histórias dos heróis Lorienos que ela ajudou a treinar. Hilde está cheia de contos de concorrência honrada, de batalhas nobres que se lutaram em Lorien. Elas têm o objetivo de inspirar, para demonstrar a Um o espírito de perseverança Lorieno. Em comparação com as histórias no Grande Livro, há uma surpreendente falta de violência sangrenta e dizimação neles. - Um dia - Diz Hilde. - Você vai tomar o seu lugar entre eles como uma grande heroína para o nosso povo. Você será conhecida como aquela que protegeu os Oito. Eu posso sentir o orgulho crescer na Um com as palavras de Hilde, mas também a dúvida. Há uma parte dela que se pergunta como ela pode, eventualmente, ficar sozinha em oposição aos Mogadorianos que conquistaram seu planeta inteiro em uma única noite. - Eu sempre me perguntei por que eu não poderia ter a sorte de ser o Número Nove. - Diz Um, enquanto pratico posições com sua versão mais jovem. - Mas não, eu tinha que ser a primeira. Também conhecida como a mais condenada de nove idiotas condenados. Os anciões realmente me ferraram. Em Austin, Hilde permite que Um comece a frequentar a escola, para que eu me adaptasse. Arrastando-me sobre essas memórias de suas aulas. A escola parece tão inútil. O general nunca nos deixaria livremente para socializar com os humanos. E ainda assim, as memórias passam, eu me vejo sendo atraído para a vida de Um. Ela 17


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faz alguns amigos, se dedica a andar de skate, e tudo começa a se parecer com uma vida normal. Ao mesmo tempo, seu treinamento decaiu. Ela começa a faltar nas sessões, mesmo depois de ter desenvolvido sua telecinese, que é quando ela deveria estar treinando em dobro. Apesar de sua rigidez, Hilde não pode fazer muito pela Um, se ela sai de uma janela para sair com seus amigos. Como você será a última esperança de uma raça em extinção? Eu realmente não me importo com a vida social de Um. Esta menina é o inimigo do meu povo. Sua morte é inevitável, já aconteceu. E ainda assim... ao mover-me em suas recordações, não posso evitar sua situação. Mesmo quando ela viaja a Terra sob a constante ameaça de execução, me dói perceber que tenha chegado a ver mais deste planeta do que eu. O general nunca nos permitiu viajar para fora de Washington. Hilde pode ser uma Cêpan difícil, mas ela ainda permite que Um vá para escola, que faça amigos e que viva uma vida que não está dedicada somente à Guerra. Eu me pergunto como é isso. Pergunto-me como seria minha vida sem a necessidade de servir à expansão Mogadoriana, sem instruções e treinos, e as leituras supervisionadas do Grande Livro de Rá. - Este é algo assim, como um dos meus momentos favoritos de toda a minha vida. Diz a Um fantasma, introduzindo a memória de quando dá um soco numa líder de torcida. A líder que começou, ela estava mexendo com Um desde que ela começou a ir para escola em Austin. É estranho, mas eu sinto um pouco de satisfação por Um. É claro, com o soco ela fica expulsa da escola, que é a razão para Hilde precisar mudar novamente. Elas deixam Austin, em uma caminhonete desmantelada, indo para a Califórnia. Um vai de mau humor no banco do passageiro o caminho todo, reclinando para trás e ignorando Hilde em favor das três conchas do mar que mantém levitando sobre ela com sua telecinese. Nós Mogadorianos fomos avisados que a telecinese dos Gardes é mortal. Assistindo Um equilibrar as conchas, amassando o nariz na concentração, não parece tão mortal, mas bem fascinante. E não é só a telecinese, mas a maneira como o cabelo ruivo dela está caído sobre os ombros... Eu me afasto. Estava apenas verificando a Garde morta, cujas memórias eu roubei! Eu digo a mim mesmo que era para fins de pesquisa, apesar de uma descrição sobre como o sol reflete os tufos arruivados do lindo cabelo de Um, não é uma informação que meu pai espere. Quando elas chegam à Califórnia, Hilde tenta inspirar Um com algum tipo de magia Loriena para que ela comece a retomar seu treinamento mais a sério. - Você vai querer ver isto. – Diz a Um fantasma, aparecendo ao meu lado para assistir. Hilde usa ao que parecer ser uma esfera de vidro e cria um mapa flutuante da galáxia de Lorien. O cosmo rotativo, o sol laranja brilhante, e o planeta Lorien, cinza e morto. - Você vê o que os Mogadorianos fizeram? - Hilde pergunta a Número Um mais jovem. Um balança a cabeça, olhando para o planeta em ruínas. Hilde avança sobre a orbita flutuante de Lorien e suavemente sopra em toda a sua superfície. Lorien 18


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parece como deveria ser antes da Primeira Grande Expansão: rica e exuberante, próspera. A mudança desaparece rapidamente, o planeta volta à cinza novamente. - É por isso que nós lutamos. - Disse Hilde tranquilamente, com os olhos lacrimejantes. - Não apenas para vingar o nosso planeta e nosso povo, e um dia devolver a vida de Lorien, mas para evitar que esse seja o destino da Terra também. Você entende por que você é tão importante? Eu não presto atenção à resposta de Um. Estou muito distraído pela visão de Lorien. Sua superfície está negra, horrivelmente carbonizada, a atmosfera arruinada do planeta vazando para o espaço ao redor. Vendo um planeta como este, a vitória maior do meu povo não parece algo do que se orgulhar. - É isso que você quer para todo o universo? – Um fantasma me pergunta, apontando para sua casa destruída. - Eu nunca vi isso antes. - Eu respondo, tentando manter minha voz neutra. A visão de Lorien me perturba. Pensar tais pensamentos é uma traição, mas se a nossa vinda à Terra significa a metade da destruição que chegou a Lorien, ainda seria um lugar em que vale a pena viver? - É isso que o progresso Mogadoriano parece? – Pressiona Um fantasma. - Por favor. - Eu disse, balançando a cabeça. - Pare de falar comigo. Eu só quero que ela vá embora. Eu não quero que ela veja a minha dúvida.

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Capitulo Sete Eu estou em pé na praia. Eu não posso sentir qualquer coisa aqui em memória da Numero Um, mas está difícil me concentrar, eu quase posso imaginar o que deve ser ter o Oceano Pacífico lambendo meus tornozelos e a areia molhada entrando entre meus dedos. Eu nunca estive no oceano antes. Quando eu finalmente estou acordado de novo, eu gostaria de sentir uma vida real. Eu tomo um segundo para imaginar uma viagem para o oceano com o General. Meu pai sem uniforme, com uma bermuda florida de mergulho, pegando um cooler com suprimentos que está dentro do porta-malas do conversível de nossa família. Minha mãe e Kelly construindo um castelo de areia, enquanto Ivan e eu competimos quem de nós pode nadar mais longe. Ele ganha porque mesmo na minha fantasia eu sou um realista. Eu nado de volta para a praia e o General está me esperando com um hambúrguer. - Sério? - Pergunta o fantasma da Número Um, de pé na praia ao meu lado, e eu percebo que eu tenho um sorriso ridículo e bobo no meu rosto. Eu rapidamente o deixo desaparecer. - Você matou a minha raça inteira para que você possa desfrutar de um churrasco na praia? - Fique fora dos meus pensamentos. - Eu digo fraco, consciente da hipocrisia. - Psiiu - Bufa Um, revirando os olhos para mim. - Eu desejaria fazer, cara. Discutir com o fantasma de Um certamente não é o que meu pai descreveria como reconhecimento produtivo, assim eu me afasto, tentando ignorá-la. Nesta memória, a Número Um acabou de terminar um dia de surf. Acontece que ela é natural, a única de seu grupo de amigos surfistas que não caiu da prancha hoje. Entre isto e o skate, ela começou a se perguntar se o equilíbrio talvez reforçado não vá ser um de seus legados. Eu nunca diria isto a Um, mas eu gostava da memória do surf. Na verdade, eu nunca diria isso a ninguém. - Por favor, pare de pensar no meu próprio passado. - Diz o fantasma de Um ao meu lado. - Eu não estou. - Protesto. A memória continua aparecendo. Saindo da água, sua prancha passa por mim e ela pula para os braços de um humano jovem bronzeado e musculoso. Wade. Número Um tinha planejado se dedicar novamente aos seus treinamentos, depois que Hilde lhe mostrou o do sistema solar. Pelo menos, até que conhecer Wade. Wade tem 16 anos. Seu cabelo castanho chega até os ombros e tem algumas mexas com pequenas tranças. Ele é dono de uma camionete Volkswagen onde ele dorme, sua carteira tem um par de cartões de crédito pagos por seus pais, isso foi que o Um descobriu enquanto ela bisbilhotava as coisas de Wade para ter certeza de que ele não era um Mogadoriano disfarçado. Claro que não. - Eu senti que os meus pais tinham planejado toda minha vida. - Explicou Wade na noite em que conheceu Um, com seus braços nos ombros dela, os dois amontoados em frente a uma fogueira na praia. - Ir para a faculdade, conseguir meu diploma de

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Direito, juntar-me ao meu pai em sua firma. Plano de vida burguês. Isso só não foi para mim, sabe? - Eu entendo. - Respondeu Um, muito mais interessada nos músculos de Wade do que em tudo o que ele estava dizendo. Suponho que ela gostava dele ou pelo menos gostava de estar com ele, uma coisa que deixava Hilde chateada. Eu consegui ver a atração. - Então eu deixei toda aquela cena pra trás, subi na minha camionete e decidi surfar por toda a costa. Não existe um plano. Eu só vou, digamos, viver por um tempo. - Wade fez uma pausa. - Ei, alguém já lhe disse como seus olhos são assombrosos? Um se derreteu. Ah, vamos lá, eu penso e o fantasma de Um aparece ao meu lado. - Me dê uma folga. - Diz ela. - Ele é sexy e eu era estúpida. Quer dizer, eu não era tão estúpida. Eu sabia que ele era cheio de si, obviamente. Mas, olhe para ele. Ele é sexy. - Eu não sei. - Digo conscientemente. Esta memória aconteceu meses antes de Um deslizar em seguida. Ainda estamos na praia e Um tira sua roupa de mergulho e se senta na areia ao lado de Wade. Ela foi aos poucos fugindo de seus treinamentos para vir surfar com Wade. Um e Hilde mal se falavam, exceto quando Hilde tentava castigá-la. Eu não podia apreciar as memórias com Wade. Elas são irrelevantes para a causa Mogadoriana. Além disso... Eu sinto que Um poderia estar fazendo muito melhor. - Eu estava me divertindo. - Diz Um, aparecendo para se defender de novo. - Eu gostava de fingir que era normal. Eu não digo nada. - Você nunca quis ficar longe de tudo isso? - Pergunta um. Ela sabe que sim. Ela já vasculhou meus pensamentos também. - Você e esse perdedor gastam muito tempo em DC, e você nunca fala com outras crianças. - É proibido. - Por quê? - Porque interagir diretamente poderia comprometer a integridade da operação. Eu respondo, citando o Grande Livro. - Você fala como um robô. - Diz ela. - Eles não querem que você se envolva com os humanos, porque então seria mais difícil para você matá-los. Assim como eu. - O que quer dizer com “como eu”?. - Eu quero dizer que você meio que gosta de mim. - Diz ela olhando para mim de uma forma que me faz sentir-me desconfortável. - Eles não sabiam o que estavam fazendo quando enviaram você aqui. Se você soubesse tudo isso sobre mim antes, você ainda iria querer me matar? Minha cabeça dói só de pensar nisso, eu e Um a uma onda de distância. Eu não estou pronto para voltar para a memória da margem do rio, na Malásia. Então, eu me lembro de que a Malásia é no futuro, não no passado. - Não se sinta mal. - Diz ela. - Eu não sei se eu iria querer matar você também.

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Capitulo Oito Assim é como meu pai a encontra. O General não me contou esses detalhes, mas agora eu sei: Wade acredita em tomar uma posição contra o capitalismo, e aplica roubando lojas cada vez que tem uma oportunidade. Ele também fala, às vezes sem parar, sobre a coleção de discos incrível que foi forçado a deixar para trás quando deixou a mansão de seus pais. Isso coloca uma ideia na cabeça da Um. Ela vai para furtar alguns discos para ele da loja que está junto à praia. Parte dela quer impressionar Wade, outra parte dela só quer experimentar a emoção de que ele falou. Mas pegam a Um e arrastam para fora da loja com uma mochila cheia de mercadorias. O dono da loja é um tipo levam-o-prisioneiro, assim que chama a polícia. - Como ouvir isso Wade? - Eu pergunto. - Será que sua caminhonete tem um tocadiscos? Um sorri observando seu antigo eu sendo algemada. - Eu nem sequer pensei nisso. Levam a Número Um para a delegacia de polícia. Sua “avó” é contatada. A polícia acaba deixando ela em liberdade, mas com um aviso. Um detetive observa particularmente a marca do encanto lórico no tornozelo da Um, fazendo perguntas se ela faz parte de alguma gangue. -Sim. - Zomba Um. - Eu estou em um grupo chamado os invasores do espaço. Nós fazemos surf ao invés de tiroteios. Não há salva-vidas que possa nos parar. O detetive não parece encontrar muita graça na piada de Um, assim que tira uma foto da Um, e também uma da marca do encanto lórico, ele carrega duas imagens para um banco de dados estadual. Assim que o flash da câmera se apaga, eu sei que foi isso o que aconteceu. O meu povo tem equipes trabalhando o tempo todo patrulhando a internet, até mesmo os sites governamentais internos, para pistas como esta. Temos inteligências artificiais criadas que não fazem nada, mas alimentam imagens digitalizadas para qualquer coisa parecida com o encanto lórico. Depois de quatro anos de pesquisa, Um está no nosso radar. Hilde não dá um sermão em Um enquanto a pega na delegacia. Ela não precisa de palavras para expressar sua decepção. Um sabe o que significa ter sua foto tirada pela polícia. Pela primeira vez, o lado rebelde de Um dá lugar ao medo. Ela embala uma bolsa com as mãos trêmulas, antes mesmo de Hilde pedir. Lembro-me da forma como minhas mãos tremiam depois que eu a vi morta. Só a partir daí que a guerra que estamos lutando começou a me parecer real. Um deve estar se sentindo da mesma forma agora. Desta vez, elas viajam com rapidez. Hilde acha que elas precisam sair da América. Elas correm para o aeroporto e embarcam no primeiro vôo internacional que podem. Seu destino é a Malásia.

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Um nota os dois homens pálidos vestidos de terno no aeroporto, mas ela não percebe quem são. Eu sim. Reconheço minha gente. Apesar de todas as suas precauções, todo o seu treinamento, todo o seu conhecimento de seus inimigos, o que é tão claro para mim é completamente despercebido por Hilde e Um. Uma equipe de exploração Mogadoriana esta atrás delas. Eu sei o protocolo em uma situação como esta. Quando o meu povo tem uma pista sobre um Lorieno, os IVA exploradores são enviados para todos os lugares de partida imagináveis. Cobrimos todos eles: aeroportos, trens e estações de ônibus, cabanas de aluguel de automóveis. Seu objetivo não é se envolver. Seu trabalho é vigiar a Número Um. - Tem que despistá-los. - Eu me encontro murmurando. - Você precisa dar perdido nos exploradores antes de fugir. - Oh, obrigado por me dizer, amigo. - Disse a Um junto a mim. Ela tem um olhar triste em seu rosto ofuscado. Por alguma razão, me posiciono entre a Um e os exploradores. Não faz sentido, eu sou um fantasma aqui, eles veem através de mim. E, além disso, isto já aconteceu. Não posso fazer nada que pudesse mudar isso. Meu estômago cai ainda mais quando embarco no vôo para a Malásia. Eu não posso ver os exploradores, eles desapareceram no meio da multidão. Contudo, sei o que estão fazendo. Eles estão contatando por radio meu pai, ou algum outro superior, organizando para ter uma equipe de exploradores esperando do outro lado do oceano, esperando a aterrisagem do voo de Um. Minha equipe. Tenho pavor de ver o que vem a seguir.

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Capitulo Nove Hilde e Um se escondem em uma casa abandonada em palafitas no Rio Rajang. Seus vizinhos mais próximos são os macacos que habitam a floresta e gritam sem parar. Hilde está planejando uma viagem a Kuala Lumpur, para obter algum dinheiro da sua conta corrente, o suficiente para financiar seu próximo movimento. É tranquilo aqui, sem nenhuma das distrações dos Estados Unidos. Quando o rio está claro, Um pratica sua telecinese na praia. Quando a nossa equipa chega (depois de um vôo interminável que não sei de quantas horas foi), eu perdi completamente a noção de que dia é hoje. Tudo o que sei é que o sol começa a subir. Hilde ouviu a chegada da primeira onda. Nossos soldados não fazem nenhum esforço para esconder sua abordagem, tem a casa cercada. Hilde sacode a Número Um para despertar, quando os guerreiros destroem com um chute a porta. A Cêpan move-se rapidamente mesmo sendo uma mulher velha. É fácil vê-la como uma grande professora de artes marciais, treinava jovens Gardes quando estava em Lorien. Facilmente se esquiva do ataque de um punhal, enterrando seu punho na garganta de um guerreiro sem equilíbrio. Antes da queda do Mogadoriano, Hilde envolve seus braços ao redor da cabeça de um segundo mogadoriano, quebrando seu pescoço. Me pego incentivando-a, em seguida, eu paro. O Mogadoriano seguinte que passa através da porta se move na direção de Hilde, ele faz uma chave de braço na cabeça dela; mas Hilde faz um movimento tão sutil que mal pude ver, e consegue inverter o movimento, jogando-o sobre suas costas, embora ele tenha duas vezes o seu tamanho. E então, quando um mogadoriano saca do seu blazer uma arma, e esquecendo ordens, para não deixar passar sua humilhação súbita, dispara diretamente no peito. Quando Hilde bate no chão, Um grita. A casa inteira balança, já que suas oscilações vibram repentinamente. Gritando de dor e agonia, Um chuta o chão. Uma onda sísmica explode em seus pés, quebra o piso arremessando para longe os mogadorianos. Seu primeiro Legado... tarde demais. O pouco que resta da casa é equilibrado sobre palafitas. Enquanto mogadorianos se reagrupam lá fora, Um envolve Hilde em seus braços. A ferida é fatal. Hilde cospe uma bolha de sangue quando tenta falar. - Não é muito tarde para você. - Hilde diz. - Você tem que fugir. Um está chorando, ela se sente responsável, se sente impotente. - Eu falhei. – Um diz entre soluços. - Não, você ainda não falhou. – Contesta Hilde. - Vá. Agora. Eu estou de pé ao lado dela, desejando que se mova, mas eu sei o que a está esperando na praia. A Um fantasma, a menina morta, que tem sido minha companheira através de todas essas lembranças, tem me abandonado nesta hora. Não tem estado comigo desde o aeroporto.

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Um hesita por um momento pelo pedido de Hilde, e depois, sabe que sua única opção é ser lançada através de uma janela da casa, então, caindo pesadamente sobre o rio. Os mogadorianos encontram-na na praia. O teto da casa caindo passa por mim, sem causar qualquer dano. Observo a Um que se prepara para outro estalo sísmico, experimentando seus novos poderes, e a costa do chão molhado se abre para engolir uma parte do avanço mogadoriano. Eu me lembro disso. Eu olho cuidadosamente ao longo da borda, me perguntando se poderia ter visto de onde Ivan e eu assistimos com o meu pai. Mas não, ele estava longe, a sua atenção estava voltada para a batalha ao redor. Deveria me aproveitar disto, a chance de reviver esta grande vitória ao vivo e direto. Não há nada que alguém não seria capaz de dar para participar de novo disso como Ivan. É um dos destaques da dominação mogadoriana. E ainda sim, quero afastar-me. Eu tinha vergonha de admitir pela primeira vez, mas não agora. Repulsa-me estar na batalha, contra uma adolescente desarmada que luta contra dezenas de mogadorianos altamente treinados. É claro, Um não está completamente indefesa. O terreno ao seu redor continua agitado, fazendo com que os mogadorianos tropecem e percam seu equilíbrio. Recolhe algumas partes pontiagudas da casa com a sua telecinese e as lança para os mogadorianos mais próximos. Os guerreiros em que ela atira se desintegram virando cinzas que se perdem na água lamacenta do rio. Eu não sinto nenhuma compaixão pelos soldados mortos. Nos ensinaram que as perdas são aceitáveis. Estas equipes de ataque são dispensáveis. Um está exigindo muito de si. Seu legado recentemente descoberto está apenas abaixo do controle, sua telecinese está descuidada por ter abandonado alguns meses de treinamento. Está quase se esgotando, e os mogadorianos continuam chegando. Finalmente, um dos maiores guerreiros nascido em tanque consegue escapar da sua defensiva e ataca Um por trás, puxando-a fortemente por ambos os braços, a imobilizando. Ao fazer isso, Um grita de dor, pouco antes conseguir se soltar de suas mãos. Não foi um grito forte, provavelmente mais um grito de surpresa do que de dor, mas isso é o suficiente para que os mogadorianos compreendam. Ela foi ferida. Eles podem feri-la. E então as coisas mudam. Eu sei muito bem o treinamento dos Mogadorianos, para ver como muda instantaneamente a estratégia dos soldados. Eles sabem quem ela é. Número Um. Eles podem matá-la. E cada um quer ser o que pode fazê-lo. Um entra em pânico, tão cegamente lutando contra o guerreiro que não nota qual mogadoriano atinge essa glória em particular. Eu não sei o nome do guerreiro; simplesmente outro soldado anônimo sob as ordens de meu pai. Ele se aproxima por atrás, com a espada flamejante e preparado. Ele leva o seu tempo, traçando seus passos cuidadosamente pelo chão que vibra. Quando chega perto o suficiente, o guerreiro lança e enterra sua espada em Um, a lâmina sai de seu abdômen. A partir de agora, ele vai ser um herói do meu povo. Talvez a única coisa boa sobre a morte é que você nunca tem que reviver. Nunca tem que se lembrar da dor. Em exceção a Um. Embora tenha estado fora do 25


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aeroporto, de repente, a Um fantasma surge do meu lado repentinamente. Encostase e soluça, sua mente grita para mim através da lembrança que compartilhamos. Posso sentir que morreu. Sua mente lateja de dor e medo. Quando isso acontece, eu sinto que o bloqueio mental se desmancha e cai como se fosse as paredes da casa. Ela perdeu o controle das suas lembranças. Agora é a minha chance de voltar à pista de aterrissagem de Lorien, e ver o as identidades dos outros Gardes. Enquanto o corpo de Um cai sem vida no chão, tudo começa a se perder outra vez, como aconteceu quando entrei pela primeira vez na memória da Um, exceto que agora eu tenho controle. Passo para trás em suas memórias, sabendo exatamente o que quero ver.

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Capitulo Dez Me sento na praia para esperar Número Um sair da água. Quando ela sai, sua roupa de mergulho goteja, a prancha de surf está pendurada debaixo de seu braço, eu paro a memória. Então volto um pouco para trás, e a observo surfar uma onda e depois voltar para a praia novamente. Esta é a memória que eu escolhi para voltar. Eu repeti a cena várias vezes, sem saber quantas vezes eu a vi sair da água, até que finalmente o fantasma de Um aparece ao meu lado. Ela parece surpresa em me ver aqui, mas se senta perto de mim. Por um tempo, não diz nada, nós só olhamos para o oceano, observando a Número Um nos seus últimos dias felizes. Parte de mim deseja que eu pudesse pegar uma prancha e ir lá com ela, mas isto não funciona desse jeito. Este momento tem que ser feito. - Eu sinto muito pela sua morte. - Eu deixo escapar, com intenção. - Sim. - Responde Um. - Isso é uma merda. Penso outra vez na visão flutuante do sistema solar. O que vai acontecer quando o meu povo começar a invasão na Terra? Esta praia será como as de Lorien são agora? - Eu não entendo por que isso tem que acontecer. - Eu digo. - Talvez você deva perguntar ao seu pai. Ele tem todas as respostas, certo?. Eu aceno lentamente com a cabeça, embora a ideia de trazer esses sentimentos para o General me faz sentir náuseas. Um está me observando, formando um pequeno sorriso nos cantos de sua boca. - Eu vou. - Eu digo, me sentindo subitamente resoluto. - Eu quero saber por que. - Ótimo! - Responde Um, e ela aperta a minha mão, eu ainda posso sentir que parte dela ainda tem uma espécie de repulsa por mim. Um calafrio desce minha espinha e sem saber muito bem por que, eu rapidamente puxo minha mão. - O que acontece agora? - Eu pergunto para Um. - Agora - Ela diz. - você acorda.

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Capitulo Onze Eu acordo em meu quarto. Meu quarto, de volta em Ashwood Estates. Eu não estou mais na vida da Um. É de manhã, e meus olhos se ajustam lentamente á luz. Dói para abri-los. Sinto que meu corpo inteiro está dolorido e fraco. Não consigo me sentar, mas respiro profundamente algumas vezes e foco em tentar sentir meus dedos dos pés. Eu estou coberto por duas camadas de cobertores. Um dos meus braços pálidos mais pálidos do que de costume - descansa em cima dos cobertores, ligado a um tubo plástico que contém nutrientes. Estranho. Por quanto tempo eu estive fora para que eles tivessem que me ligar a esses aparelhos? Eu escuto um barulho ao meu lado e lentamente, dolorosamente viro minha cabeça. Tem uma garota ajoelhada no chão ao lado da minha cama, de costas para mim. Ela é magra e desajeitada como um pré-adolescente. Há algo estranhamente familiar nela, e eu me esforço para tentar reconhecê-la como alguém da vizinhança. O que ela está fazendo no meu quarto? A garota tem um “faça o seu piken” espalhado pelo chão á sua frente. É semelhante a um dos jogos de química da Terra, um dos poucos “jogos” permitidos para nós mogadorianos. Eu estou muito fraco para falar, ainda lutando para a umidade voltar para a minha boca desértica, então eu assisto em silêncio a garota arrastar um bisturi para baixo do corpo de uma minhoca se contorcendo. Em seguida ela enche um conta-gotas com uma solução clara e goteja na ferida aberta do bicho. A minhoca só se contorce no inicio, mas depois o seu corpo começa a se contorcer e mudar. Pedaços de carne flexível começam a sair da ferida onde foi derramada a solução. A garota pega um par de pinças e com cuidado estende a carne, ajudandoo a se formar em seis partes finas, como pernas de aranha. Hesitantemente o minúsculo piken consegue colocar as pernas debaixo dele, levantando a torção que continua sendo parte da minhoca. Ele arrasta alguns passos pelo chão, em seguida entra em colapso. A garota assiste com sua cabeça inclinada como a minhoca-piken tenta recuperar seus pés. Ele não pode, derrubado sobre o que seriam suas costas, suas pernas chutando impotentes no ar. Depois de um tempo de luta inútil, as pernas do piken param de se mover e se desintegram em cinzas. A menina limpa as cinzas com um pano úmido e pega uma nova minhoca de uma caixa próxima. Alguma coisa sobre isso me faz sentir-me incrivelmente triste. Não pela minhoca, mas mais pela garota. É perturbador ver como ela altera e mata a minhoca tão casualmente. Isso me deixa desconfortável, pensar como o valor da vida é pequeno para o meu povo. Assim que eu tenho esse pensamento, eu sinto um estranho desconforto no estômago. Vai contra tudo escrito no livro; na crença do meu povo. Uma imagem da Um empalada pela lâmina mogadoriana me vem á mente. Eu a afasto.

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Eu tento me ajeitar um pouco melhor na cama, e faço um barulho. A menina vira a cabeça bruscamente, ela arregala os olhos quando me vê a olhando. - Você está acordado! - Ela grita animada. Kelly. A menina é minha irmã. Mas... Ela cresceu. Quando ela se levanta, fica claro que ela está quase uns trinta centímetros mais alta do que da última vez que a vi, o que deve ter sido ontem de tarde, embora pareça mais tempo. Muito mais tempo aparentemente. - Quanto... - Eu tossi, minha garganta doendo. - Quanto tempo? - Eu consigo dizer. Kelly já tinha atravessado a porta, gritando no andar de baixo para nossa mãe. Ela corre de volta ao meu encontro. - Três anos. - Ela diz. - Por Rá, você esteve dormindo por três anos!

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Capitulo Doze Eu olho para mim mesmo no espelho do meu quarto. Eu estou mais alto do que eu era. Estou mais magro, também. Mesmo achando que isso não fosse possível. Qualquer que seja a coisa a que meus pais tenham me ligado durante o coma, com certeza não fez crescer nenhum musculo. Eu sugo ar em uma respiração profunda e vejo minha caixa toráxica se projetando na pele muito pálida do meu peito. Até mesmo estar em frente ao espelho, examinando meu corpo três anos mais velho, tem um preço físico. Eu devo parecer trémulo, porque minha mãe me agarra pelo cotovelo e me leva de volta para a cama. Ela está quieta desde que enxotou Kelly e seu disparo rápido de questões para fora da sala, dando-me tempo para achar eu mesmo. Sou grato por isso. Minha mãe sempre foi a gentil da família, para o desgosto do General. Posso dizer pelo jeito que ela me olha que ela não esperava que eu acordasse. Ela acaricia meu cabelo. - Como se sente? - Ela pergunta. - Estranho. - Eu respondo. É verdade, sinto meu corpo fraco e estranho, como se ele tivesse crescido sem mim. Mas é mais do que isso. Me sinto estranho estando de volta com meu próprio povo, sabendo o que eu sei agora. Até a minha mãe, aqui acariciando meu cabelo, é uma guerreira brutal de coração, com a intenção de matar a Garde. Eu lembro da imagem dos Mogadorianos atacando a Um, sentindo seu medo e sua raiva de novo. Eu não posso ajudar, mas vejo o rosto da minha mãe em um dos soldados. Enquanto suavemente ela pega minha mão na dela, eu estou imaginando minha mãe mergulhando uma espada nas costas da Um. De repente, eu não confio na minha própria família. - Eu não me lembro de nada, - Eu digo, mesmo sem ela ter perguntado. - a máquina não funcionou. Minha mãe concorda. - Seu pai vai ficar desapontado. Eu decidi mentir enquanto ainda estava vivendo nas memórias da Um, quando estávamos sentados juntos na praia. Eu não irei contar nada que vi ao meu povo. Não que alguma coisa que eu aprendi iria ajudar Mogadore a vencer esta guerra de qualquer jeito. O que eu poderia ao menos dizer? Que ao contrário dos Mogadorianos, os Lorienos podem desenvolver individualidade? Que a liberdade de doutrinas deles como no grande livro, é simultaneamente sua maior força e seu ponto fraco? Que eu vi o que nosso povo fez para Lorien e que é uma merda? Sim, isso seria demais. Sou grato por poder testar essa mentira com minha mãe. Quando chegar a hora de dizer ao General, ele não vai ser tão gentil. - Dr. Anu terá de voltar à prancheta de desenho, eu acho. - Digo, sondando um pouco para ver se ela acreditou em tudo. - Isso não irá acontecer, - Responde minha mãe. - quando você não acordou... 30


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Ela hesita, mas eu não preciso que ela termine de me dizer. Eu posso imaginar o General furioso, invadindo o laboratório de Annu e sacando sua espada. - Seu pai nunca gostou de Anu. Honestamente, do jeito que aquele velho homem falava, eu estou surpresa que isso não tenha acontecido antes. Há passos pesados na escada, vindo para o meu quarto. Então ai vem o General finalmente. Aqui para interrogar o seu único filho de sangue, provavelmente para repreender-me por não acordar mais cedo. - E ai magrelo? Ivan se inclina na porta, sorrindo. Quantos anos ele deve ter agora? Quatorze? Ele parece como o zagueiro de um time de futebol americano de alguma escola. Como eu, Ivan ficou mais alto nesses últimos três anos, mas ele está maior em todos os aspectos possíveis. Eu imagino todo treinamento de força e combate que ele vem fazendo sem mim, provavelmente treinado pelo próprio General. Eu imagino como suas notas de teoria Mogadoriana têm se saído sem mim por perto para ensiná-lo. - Você teve um bom cochilo? - Ele pergunta. - Sim, - Eu murmuro. - obrigado. - Ótimo. - Ele diz. - De qualquer forma, o pai quer te ver lá em baixo. Eu sinto minha mãe ficar tensa ao meu lado. Desde quando Ivan começou a chamar o General de “pai”? - Adamus precisa descansar. - Diz minha mãe. Ivan bufa. - Tudo o que ele vem fazendo é descansar, - Ele diz, então se vira para mim. Vamos lá, se vista. Há um tom familiar de autoridade em sua voz. Ele soa muito com o General.

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Capitulo Treze Eu estava esperando que Ivan me levasse ao escritório do meu pai, mas em vez disso descemos de elevador indo para os tuneis abaixo de Ashwood Estates. - Você acordou em tempo para alguma ação. - Ele diz. - Ótimo. Respondo, lutando para não soar indiferente. - O que está acontecendo? - Você vai ver. - Ele diz. - Uma grande confusão rolando lá em baixo. Quando as portas do elevador rangem se abrindo, Ivan me da um tapa nas costas. No meu estado de fraqueza, eu tropeço alguns passos para frente. Eu teria provavelmente caído no chão se Ivan não tivesse me segurado. Ele me puxa para um abraço fraternal, mas além de uma força intimidante, eu sinto um tipo de ameaça na maneira que Ivan bate rude em minhas costas. Minhas mãos começam a suar. - Sério. - Ele sussurra. - É bom que você acordou. Nosso pai vai ficar satisfeito que seu filho favorito está finalmente bom. Ivan me leva á sala de reunião. Lá, duas dúzias de mogadorianos guerreiros estão sentados em um semicírculo diante ao General. Meu pai está tão grande como sempre, sua presença imponente comanda a atenção de todos reunidos, nenhum deles ao menos notou quando Ivan e eu deslizamos para a sala. Projetado na parede atrás do meu pai está a imagem de um homem ruivo em seus quarenta e poucos anos. A imagem é granulada; parece ter sido retirada de imagens de vigilância. - Este homem, - Meu pai entoa, com a respiração entrecortada. - chama-se Conrad Hoyle. Acreditamos, com base em dicas de várias fontes como vigilância extensiva, que ele é um membro da insurgência Lórica. Um Cêpan. Meu pai aperta um botão no controle remoto em sua mão. O rosto de Conrad Hoyle é substituído pela imagem de uma casa incendiada em uma área rural. - Uma de nossas equipes teve um confronto com Conrad nessa localização nas montanhas escocesas. Nós tivemos grandes perdas. Hoyle conseguiu escapar. Aparece outra imagem. Conrad Hoyle está sentado em um trem, sua atenção focada na tela de um laptop. Quem seja que tirou essa foto claramente o fez com a câmera de um celular escondido algumas fileiras á frente de Hoyle. - Uma segunda equipe conseguiu pegar a trilha de Conrad e veem seguindo-o desde então. Nós acreditamos que ele e seu companheiro, um alvo prioritário da Garde que sabemos ter cerca de treze anos e do sexo feminino, se separaram. Logicamente Conrad e seu Garde têm uma casa segura onde planejam se reunir. Uma cidade aparece atrás do meu pai, e eu a reconheço dos meus estudos sobre os principais alvos urbanos da Terra. Londres. - Conrad Hoyle se dirigi á Londres. - Continua o General. - Lá, acreditamos que ele irá se reunir com o seu Garde e tentará desaparecer. Meu olhar passa pelos guerreiros na sala. Todos estão prestando atenção estrita em meu pai. Mas alguma coisa está fora de ordem. 32


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- Vamos seguir Hoyle á Londres e esperar que ele nos leve á garota. E vamos exterminar ou apreender os dois. De preferência exterminar. Assim que o general faz esse pronunciamento, eu a noto. Ela está sentada na primeira fila. Seu cabelo loiro se destaca no meio desse encontro de corpulentos mogadorianos de cabelos escuros. Mas ninguém a nota. Ninguém mais pode ao menos vê-la. Lentamente, Um vira em seu assento. Ela olha diretamente para mim. - Você tem que detê-los! - Diz Um.

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Capitulo Quatorze Há uma sala de conferências que está vazia, exceto pelo General e Ivan. Estou sentado em uma das mesas que anteriormente ocupavam um guerreiro mogadoriano. Minha cabeça está nadando, assim como foi à primeira vez que eu acordei. Meu pai está pendurado em cima de mim, me estudando. Deixando um copo de água em cima da mesa, eu o bebo com avidez. - O que aconteceu? - Eu pergunto. - Você desmaiou. – Diz Ivan rindo. Meu pai vira para Ivan. - Menino. – Grunhe - Saia. Enquanto Ivan sai da sala de mau humor, volto a pensar nas informações, na aparição da Um. Estava alucinando? Sinto que foi real, como todos esses momentos em que falamos dentro das suas recordações, mas tudo isso foi um sonho, uma criação da minha mente. Não seria capaz de ter aparecido agora. Não faz sentido. De alguma forma, sei que não era uma alucinação. De alguma maneira, Um estava dentro da minha mente. Eu percebo que estou tremendo. Coloco minha cabeça em minhas mãos, tento me concentrar, para ficar equilibrado. O General não vai tolerar esse tipo de fraqueza. A grande mão de meu pai se senta no meu ombro. Eu olho para cima, surpreso por encontra-lo olhando para mim com algo parecido com preocupação. - Você está bem? - Ele pergunta. Concordo com a cabeça e tento me concentrar nas mentiras que virão a seguir. - Eu não comi. - Digo. Meu pai balança a cabeça. - Ivanick. - Grunhe. - Ele deveria ter a certeza que estava pronto antes trazê-lo para mim. O general levanta a mão do meu ombro, o breve momento de carinho é esquecido. Posso dizer pela volta de sua coluna rígida, simplesmente assim, é tudo negócios novamente. O Progresso Mogadoriano antes de tudo. Não importa o custo. - O que você aprendeu com as memórias da Um? - Ele pergunta. - Nada. - Respondo, encontrando seus olhos duros. - Não funcionou. Eu me lembro de estar amarrado, então a escuridão, e agora isso. Senhor. - Adiciono rapidamente. Meu pai faz uma reflexão sobre isso, avaliando-me. Então, concorda. - Como eu temia. - Afirma. Me dói lembrar que eu nunca pensei que a máquina do Dr. Anu funcionaria. Acreditara na minha mentira porque já esperava o fracasso. Claramente, não se importa com o que aconteceu comigo no processo. Lembro-me do Dr. Anu fazendo piada com o meu pai, apostando sua vida à sua tecnologia sem provar que certamente funcionaria. Sim funcionou e ainda sim, havia assassinado Anu. A forma Mogadoriana. - Três anos perdidos. – Medita meu pai. - Três anos em que te debilitaste mais e mais, e te deixaste atrás dos seus companheiros. Por quê? 34


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Minhas bochechas queimaram com a humilhação, a frustração, a raiva, mas o que diria meu pai, se eu lhe dissesse que a máquina do Dr. Anu funcionou, que me deu as memórias de Um e com eles, as dúvidas? Obviamente, me contento em segurar minha língua. - Esta loucura reflete negativamente em nossa linhagem. Em mim. – Continua meu pai. - Mas não é tarde demais para remediar esta situação. - Como, senhor? - Pergunto, sabendo que ele deve responder com entusiasmo por qualquer oportunidade para aumentar a minha honra. - Venha conosco para Londres. - diz ele. - E caçará esta Garde.

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Capitulo Quinze As próximas 12 horas foram um borrão. Meu pai me fez colocar um uniforme novo; minha mãe me deu grandes refeições, como aquelas refeições que os atletas devem comer antes de grandes jogos, se esses atletas tiverem o apetite de um Píken adulto. Permitiram-me dormir algumas horas na minha própria cama, e, mais tarde o vôo através do Atlântico. Estou quase grato por esta confusão na atividade, pois não me deixa tempo para pensar sobre a Loriena clandestina no meu cérebro, ou sobre o que meu pai esperava fazer. Chegamos a Londres na manhã seguinte. O General trouxe Ivan, assim como duas dúzias de guerreiros escolhidos a dedo, a maioria deles nascidos realmente. Como objetivo principal, Londres já está em casa com a presença mogadoriana. Os Mogadorianos com sede em Londres operam cinco andares no centro para servir como base de operações. Trabalho organizado e eficientemente, mas nunca foram visitados por nascidos de verdade de nível tão alto como meu pai. Prestam atenção quando o General passa através dos corredores, inclusive olham a Ivan e a mim com respeito, enquanto o seguimos de perto. Nenhum desses guerreiros leais detecta a incerteza que eu estou sentindo por dentro. Para eles, eu sou um deles. Meu pai assume o principal centro de Londres. Uma parede de monitores servida por um par de exploradores, constantemente fornecendo imagens em tempo real da rede de câmeras de Londres. Outro conjunto rastreia pela internet atividades suspeitas e palavras-chave específicas lorienas relacionadas. Antes de sair para procurar Conrado Hoyle, o meu pai quer se assegurar do terreno. Ordena a vários exploradores que revisem vídeos e monitores; o General faz a avaliação de vários lugares ao redor da cidade para conseguir a vantagem estratégica. - Nossa unidade de rastreio informa que Hoyle está em um ônibus perto do centro da cidade, senhor. - Disse um dos exploradores retransmitindo a informação que lhe dão pelo aparelho. - Bem. - Disse meu pai. - Então é hora de sair. Enquanto meu pai estava estudando os vídeos e traçando o derramamento de sangue, desabo em uma cadeira próxima, ainda sentindo tonturas. Ivan está ao meu lado, com os braços cruzados sobre o peito severamente, mais como uma versão jovem do General. Quando meu pai se volta para nós, Ivan me lança um olhar torto. - Perdoe-me por falar fora de hora, senhor, - Começa Ivan. - mas eu não sei se o seu filho está pronto para isso. Meu pai cerra os punhos. Seu primeiro instinto é atacar Ivan por sua insolência, mas então olha para mim com uma sobrancelha levantada. - Isso é verdade? - Ele pergunta. Eu sei o que Ivan está fazendo. Ele passou os últimos três anos, abrindo caminho para conçagrar-se com o General, chamando-o de "pai", tomando o lugar que corresponde ao seu filho. Pensando que eu já não voltaria mais, a única preocupação de Ivan tem sido o seu próprio avanço. Antes, eu nunca aceitaria a 36


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oportunidade de me fazer ficar mal. Antes, eu nem sei se eu tentei. São coisas que eu não sei se me interessa tanto defender. Durante todo o tempo que passei nas memórias da Número Um, inclusive agora que já estou acordado, não tenho fantasiado uma vez sequer minha herança prometida em Washington DC. Como poderia fazer, agora que eu sei o preço que se paga? Ivan pode fazer. - Talvez tenha razão. - Digo, mantendo o olhar de aço do meu pai. - Em meu estado enfraquecido, pode ser uma desvantagem para a vitória mogadoriana. Desvantagem para a vitória mogadoriana. Eu sei as palavras certas que eu deveria usar com o meu pai, o que não mudou. Ele me dá um último olhar com sugestão de desgosto em seu rosto, antes de virar para Ivan. - Vem, Ivanick. – Disse, saindo da sala. Eu fui deixado sozinho com os dois técnicos. Ignorando-me, colados à sua parede de monitores, observando o ônibus de Conrad Hoyle que vagueia pela cidade. Compreendo que este é o primeiro momento de paz que eu tive desde que eu acordei do coma. Fecho os meus olhos e coloco minha cabeça em minhas mãos, tentando manter minha mente em branco, fora os sentimentos que eu tive sobre o meu povo. Estou aliviado por saber que eu não tenho que estar nesta operação. Não sei o que eu faria se enfrentasse e tivesse a tarefa de matar na realidade um Garde, mas então, quem sou eu? Fui criado como um caçador implacável. - Assim que funciona? Esse é o seu plano? - Pergunta uma voz familiar. - Sentar-se aqui e não fazer nada? Olho para encontrar Um sentada ao meu lado. Inclinei-me para trás na cadeira, com os olhos bem abertos e quase cai. - Bla bla blá. - Diz, apontando o dedo para mim. - Sério amigo. Tire sua bunda daí para fazer alguma coisa. - Fazer o quê? - Pergunto. - Você acha que eles não hesitariam em matar-me também? Um técnico me olha por cima do ombro, franzindo a testa. - Você disse alguma coisa? - Ele pergunta. Mostro-lhe um olhar vazio, então lentamente balanço minha cabeça. Ele se vira para seus monitores. Quando eu olho para onde Um estava sentada, a cadeira está vazia. Perfeito, agora eu sou louco. - Olhe. - Disse um dos técnicos. - Algo está acontecendo. Dirijo minha atenção para a tela, onde o ônibus de Hoyle faz uma parada repentina. As portas se abrem e os passageiros começam a sair apavorados. Uma das janelas traseiras explode e um homem sai voando por ela. Antes que pudesse tocar no chão, seu corpo se desintegra em cinzas. -É sobre nós. - Aponta o outro técnico, os dois se inclinam para ver a ação. Eles veem todos os flashes de tiros através da tela, e em seguida a parte traseira do ônibus pega fogo, e então eu vejo Conrad Hoyle sair pelas portas da frente. É muito maior do que indicava sua fotografia. Hoyle tem uma metralhadora em cada mão. - Por Rá. – Diz um dos técnicos. - Esse vai ser difícil. - Deveríamos estar lá! - Reclama o outro. 37


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A maioria dos pedestres estão fugindo da cena do ônibus em chamas, como alguém em sã consciência, exceto que há outros que se deslocam para o acidente: homens com casacos escuros, empurrando a multidão assustada que está em seu caminho. A equipe de ataque de Mogadore já está chegando. São recebidas por uma barragem de tiros de Hoyle, e não perderam tempo também, eles começaram a atirar. Se meu pai e Ivan não estão lá ainda, suportando o fogo de Hoyle, logo estarão. Ele deve estar satisfeito com esta nobre luta, como os técnicos, mas eu não estou. Não quero ver como vão assassinar Hoyle, um inimigo lorieno que nunca conheci. No entanto, apesar de meus sentimentos em conflito sobre a missão, eu não quero ver meu pai virando um monte de cinzas. Minha única opção é dar a volta. Os técnicos estão tão preocupados com a ação, que não ouvem quando a estação de monitoramento solta um bip, mostrando atividade na Internet. Movo minha cadeira e me inclino para tela, olhando para uma mensagem em um blog caracterizado com uma bandeira vermelha. Diz: Nove, agora oito. O resto de vocês está lá fora?

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Capitulo Dezesseis É preciso digitar apenas algumas coisas para descobrir o endereço de IP. É, está aqui em Londres. Os técnicos não me dão atenção, principalmente agora que estão entrando nas chamadas para suporte técnico. Hoyle está provando ser uma grande distração. Um pouco mais e eu encontro o endereço que fica a poucas quadras da base Mogadoriana. Encontrei a localização de um Garde fugitivo. Não foi o General, ou Ivan. Fui eu. Por um momento, sinto-me cheio de orgulho. Tome isso, Ivan. Suponho que ser grande e forte não contaria muito depois disso. Agora, o que eu faço com esta informação? Deveria dar a localização dos Gardes aos técnicos, fazer com que chamem meu Pai de volta da batalha. Isto significaria a maior glória para mim e minha família, e mais um passo do Grande Progresso Mogadoriano. Para isso fui criado. Mas, logo passa a emoção da descoberta, eu me dou conta que não quero nada disso. Quero ajudar esta Garde, talvez possa evitar outra cena como na Malásia. Espere, é isso o que eu quero, ou é uma sugestão da Um, um pensamento como resultado de viajar em suas memórias? Se eu estou tendo alucinações, há ainda uma diferença entre os pensamentos de Um e os meus? - Coisa profunda. – Diz Um. Olhando para a tela do computador acima do meu ombro. - Talvez possamos resolver suas questões filosóficas depois que salvarmos a vida deste Garde, né? Está resolvido. Minimizo a informação antes dos técnicos terem a chance de vê-la e saio da sala. Corro pelos corredores já vazios de pessoas, todos eles foram para a emboscada de Hoyle. Ao meu modo de entender, tenho tempo até Hoyle poder continuar lutando. Depois disso, o técnico, sem dúvida, descobrirá o blog e transmitirá os dados para a equipe de ataque. Estou sem fôlego quando chego à rua. Tenho que exercitar-me. Os músculos das minhas pernas se sentem como se fossem explodir depois de anos adormecidos, meus pulmões estão em chamas, e manchas cinzentas flutuam dentro e fora da minha visão. Ainda assim, eu levo meu casaco que me marca como um Mogadoriano, e começo a correr. As sirenes soaram à distância, as autoridades locais estão a caminho para o local da batalha. Levo 10 minutos para chegar à rua tranquila, onde o edifício está. Eu não posso acreditar que a casa segura da Garde era bem debaixo de nossos narizes. Se tivéssemos esperado, Conrad Hoyle viria para nós, e todo o caos na rua poderia ter sido evitado. Claro, é uma sorte para mim que as coisas funcionem assim. Estou ofegante, na entrada da porta do edifício. É uma casa de tijolo velho avermelhado, agora a casa é de três apartamentos, de acordo com as campainhas externas. Por sorte, uma mulher velha sai para passear com o cão branco e 39


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inchado, e agarro aporta antes que se feche. Corro para o apartamento no segundo andar, o único que não tem um rótulo com a campainha. Golpeio a porta, provavelmente achando que ela se abriria com minha força. Se eu fosse um Garde fugitivo, esse tipo de golpe forte me enviaria correndo para a escada de incêndio. Eu ouço o movimento dentro do apartamento, uma TV que fica muda, e depois o silêncio. Ataco novamente, desta vez mais suave, e pressiono meu ouvido contra a porta. Passos abafados se aproximam do outro lado da porta, mas ela não diz nada. - Abra a porta. - Sussurro, tentando manter minha voz suave e urgente. - Você está em perigo. Nenhuma resposta. - Seu Cêpan me enviou. – Tento. - Tem que sair daí. Há uma longa pausa, em seguida, uma voz respondeu. - Como eu posso saber que você está dizendo a verdade? Boa pergunta, mas eu não tenho tempo para isso. A esta hora, Conrad Hoyle provavelmente foi superado pela equipe de ataque Mogadoriana. Eu poderia dizer a esta menina que seu Cêpan está morto, que meu povo vai estar aqui em breve. Eu poderia tentar quebrar a porta, mas eu duvido que tenha força. De repente, Um está de pé ao meu lado no corredor. Seu rosto é sombrio e distante. - Diga a ela sobre a noite em que chegaram. - Diz Um. - A noite em que chegou sua gente. Volto à memória de Um na pista de vôo, os rostos assustados ao redor, a correria para a nave. - Lembro-me da noite em que chegaram. – Começo, inseguro no principio, mas ganho a confiança e continuo. - Foram nove de nós e nossos Cêpans, todos corriam em pânico. Vimos um Garde lutar contra um Píken. Não acho que tenha sobrevivido. Então, nos empurraram para a nave e... Perco a noção, contar a noite de Lorien me faz sentir estranhamente triste. Olho para o lugar onde a Um estava de pé, mas desapareceu outra vez da minha cabeça. A menina meche em meia dúzia de fechaduras e abre a porta do apartamento.

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Capitulo Dezessete Seu nome é Maggie Hoyle. Pelo pouco que vi de Conrad Hoyle, eu estou esperando Maggie ser uma militante mirim em treinamento. Em vez disso, ela é o oposto de seu Cêpan. Maggie não pode ter mais de doze anos. E é baixa para sua idade, tímida, com uma juba marromavermelhada em cachos caindo de cada lado de um par de óculos de lentes grossas. O único sinal da influência de Hoyle é a pequena arma que está segurando quando entro, o tipo de arma com aparência educada que você veria uma senhora rica carregando com ela em uma vizinhança ruim. Maggie parece aliviada ao pôr a arma para baixo assim que fecho a porta atrás de mim. - O Conrad está bem? - Ela me pergunta. A televisão no canto do pequeno apartamento está em um noticiário, um helicóptero filmando os restos queimados do ônibus de Conrad. Parece que a luta acabou. Temos que nos mover rápido. - Eu não sei. - Digo a ela, não querendo dizer que eu duvidava que seu Cêpan tivesse sobrevivido. Nós precisamos agir, e eu não quero chateá-la. Não há tempo para luto no momento. Ela não é só menor do que eu esperava, Maggie não tem a bravura que eu pensei que vinha pré-embalada com a Garde, depois de passar anos nas memórias da Um. Ela está inquieta e nervosa, não legal e confiante, e muito menos pronta para lutar. Então, isso faz dois de nós. Olho pelo apartamento. Não parece que alguém mora aqui. Maggie provavelmente se mudou na última semana. Uma camada de poeira ainda cobre a lareira vazia e bancadas. Há uma pequena mala aberta perto de um colchão de ar meio vazio, com pilhas de roupas caídas em volta, e uma mesa com uma tigela de cereais sobre ela, um pouco de marshmallows flutuam no leite tingido de rosa. Eu examino todo o quarto, à procura da arca que aprendemos todo Garde ter, mas não a vejo em lugar algum. Ou ela não tem, ou achou um bom lugar para escondê-la. Ao lado da tigela de cereal está o laptop que me trouxe aqui. O computador continua aberto na página do post no blog, rolado para baixo na parte inferior onde estariam os comentários. A pobre criança estava sentada aqui minutos atrás à espera que alguém a respondesse, e eu sou o único que apareceu. - Você não deveria ter feito isso. - Eu digo, acenando com a cabeça para o laptop. Maggie parece culpada, correndo para o laptop para fechá-lo. - Eu sei, Conrad ficaria bravo, - Ela diz, olhando para a cena na televisão. - eu só estava preocupada que ele não voltasse... Maggie para, parecendo embaraçada. Ela não tem que continuar, eu sei o que ela iria dizer. Que ela estava com medo de ter ficado sozinha. Medo. Solidão. Era uma mistura de sentimentos que foram a causa de Um começar a sair com surfistas sem cérebro e começar a furtar. Eu não queria realmente admitir, mas esses são os mesmos sentimentos que tenho tido desde que acordei. - Que número você é? - Ela diz. 41


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- Isso não importa agora. - Eu digo. Lembro-me do meu curso de preparação para legados. Nossos instrutores nos alertaram sobre tantos poderes diferentes que a Garde pode possuir, e eu tento pensar em um que possa ser útil agora. - É esperar muito que você possa se teleportar?” - O quê? - Ela pergunta, não entendendo. - Seus legados. - Eu explico. - Oh, - Ela balança a cabeça. - não. Conrad disse que faltam alguns anos para eu desenvolvê-los. Maggie me estuda enquanto ando pelo quarto, me ajoelhando na frente de sua mala. - Por quê? - Ela pergunta. - O que você pode fazer? Eu não respondo. Perto da mala há uma mochila que eu abri para achá-la cheia de livros, novelas de escritores humanos que nunca ouvi falar. Eu a esvazio e começo a encher com minhas mãos cheias de roupas da Maggie. Nós precisaremos viajar discretamente. Não presto atenção no que jogo dentro da mochila, apenas pensando que isso não será o bastante para atrasá-la se precisarmos correr. - O que você está fazendo? - Ela pergunta, ainda presa no chão perto do laptop. - Arrumando sua mala. - Eu respondo. - Pegue só o que você precisa. Definitivamente deixe o computador. Maggie não faz nenhum movimento para ajudar. Eu posso sentir ela me olhando, tentando adivinhar o que está acontecendo. - Eu quero esperar pelo Conrad. - Ela diz, sua voz baixa, mas firme. - Ele não vai vir. - Eu respondo, tentando não gritar com ela. Ela precisa começar a se mover, agora. Eu fecho o zíper da mochila e me levanto. - Você tem que acreditar em mim. - Winston acreditou em Julia e olhe como isso acabou. Winston? Julia? Tento lembrar-me do pouco que sei sobre a cultura Lórica, pensando que pode ser algum ditado popular que não estou familiarizado, ou talvez eles sejam outros membros da Garde que eu deveria conhecer, mas não cheguei a lugar algum. Decidi adivinhar. - Eu não vejo eles desde que aterrissamos na Terra. - Eu digo. - Um, eles são da Terra, - Maggie diz. - e também, não são reais. Eu olho para ela, confuso. - 1984, - Maggie diz, vendo minha confusão. - George Orwell? Um dos livros em sua mochila. Balanço minha cabeça. - Nunca li. - De quem você pensou que eu estava falando? - Uh... - Você não é de Lorien! - Ela diz, examinando meu rosto magro, minha pele pálida. - Não. - Eu respondo. - E você também não é humano. - Isso soa mais como uma acusação. Quando eu balanço a cabeça, Meggie vira para onde deixou sua pequena arma. Eu não faço nenhum movimento para impedi-la. Ela é perspicaz. Posso ver as

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engrenagens movendo em sua cabeça, analisando sua situação. Ela sabe que há problemas, mas não tem certeza se ele está a caminho ou se já está aqui. - Se você é um deles, porque não tentou me matar ainda? - Ela pergunta. Ela me lembra de mim mesmo um pouco mais: pequeno, inteligente e mantendo sua crença de que pode achar um jeito para fora de seus problemas. - Eu não sei o que eu sou, - Eu consigo dizer, percebendo enquanto digo que é a verdade. - mas eu não estou aqui para te machucar. Eu jogo-lhe a mochila. - Você precisa correr. Não importa se for comigo ou de mim. Só corra. De repente, há um som agudo, de algo quebrando, a porta da frente do apartamento é estilhaçada em pedaços como se tivesse sido arrancada de suas dobradiças. Tarde demais. Tarde demais para correr. - Adamus, - Rosna Ivan enquanto avança no quarto. - surpresa encontrar você aqui.

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Capitulo Dezoito Atrás de Ivan entra uma dúzia de guerreiros Mogadorianos. Dois ficam na porta; o restante se espalha, bloqueando as janelas, fechando qualquer possível rota de fuga. Eles são uma maquina bem oleada, o protocolo nesta situação é claro. Conter a Garde a todo custo. Estou congelado em meu lugar. Não estou armado, havia me esquecido de pegar uma adaga no caminho para fora do Quartel General Mogadoriano. Mesmo se eu tentar lutar (contra meu próprio povo, um conceito com o qual ainda não me acostumei), não teria nenhuma chance. Pelo menos é assim que eu justifico a minha covardia. Maggie não sofre com nenhuma das minhas incertezas. Ela pode ter me dado o beneficio da duvida, mas não a Ivan e sua equipe de ataque. Ela sabe que está em perigo. Ela executa com precisão de uma ginasta um salto mortal até a mesa onde deixou sua arma. Maggie se move mais rápido do que eu esperava, seus dedos quase se fecham em torno na arma. Mas Ivan é mais rápido. Antes que Maggie possa pegar a arma, ele chuta a mesa na direção dela. A borda atinge direto em seu estomago, deixando-a audivelmente sem ar. Maggie, a arma e a mesa, todos caem no chão. Maggie se recupera rapidamente, lutando desesperadamente para pegar a arma quando Ivan a chuta para fora de seu alcance. Ela quica até que para a poucos centímetros dos meus pés. Ivan pisa na parte de trás do pescoço de Maggie, apertando seu rosto contra o piso poeirento. Ele deve superar ela por mais de cem quilos. Maggie se agita, gritando de dor e frustação, mas Ivan a mantem imobilizada enquanto levanta sua camisa, examinando sua caixa torácica. Ao princípio não entendo o que ele está fazendo. Mas então me dou conta de que ele está buscando hematomas. Se Maggie ainda estivesse protegida pelo Feitiço Lorieno, então o dano de quando Ivan chutou a mesa nela seria feito nele. A menos, que ela seja a próxima da lista. Ivan acaba de confirmar que Maggie é a Número Dois. – Número Dois. – Disse, com uma nota espantosa de satisfação em sua voz. – Meu dia de sorte. Enquanto Ivan levanta sua camisa, noto uma ferida do lado. Parece um raspão de bala. O sangue escorre pelo seu corpo, juntando no cós da calça. Ele me vê observando e sorri orgulhosamente. – Não se preocupe amigo, – Disse Ivan. – devia ter visto o outro cara. – Pisca o olho. Ai é quando me ligo. Ivan não sabe o que eu estava fazendo aqui. Tudo o que ele se preocupa é que o protocolo da sua missão acaba de mudar de prender para eliminar.

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Ao compreender que Ivan estava se referindo a seu Cêpan, Maggie começa a lutar com vigor renovado. Ela consegue escapar debaixo da bota de Ivan, mas só consegue um forte chute em seu peito pelo problema que causou. A maneira que Ivan chuta Maggie é tão casual como a forma que vi minha irmã criar e extinguir um Piken. Maggie está no chão outra vez, e desta vez Ivan pressiona o pé sobre suas costas. Ela tosse entrecortada, então retorce o pescoço para olhar para mim. Uma das lentes de seus óculos está quebrada. – Você disse que me ajudaria. – Ela suspira. Ivan ri. Alguns dos Mogadorianos que estão no quarto sorriem. – É isso que ele te disse? – Exclama Ivan, divertido. – Astuto Adamus! Você sempre foi inteligente. Vir correndo sozinho para cá para ficar com toda a gloria, enquanto o resto de nós está em combate. Ivan agita a mão para a arma que está a centímetros de meus pés. – Vá em frente. – Disse. – Ajude-a. – O sarcasmo goteja em suas palavras. Eu pego a arma com a mão trêmula e mantenho-a vagamente ao meu lado. Nenhum dos Mogadorianos na sala tem suas armas em punho. Eles realmente não tinham ideia do que eu estava fazendo aqui. É claro que eles não acreditaram na Número Dois. Por que confiariam mais nela do que em um dos seus? Eu olho ao redor da sala e forço um sorriso. Ivan pensa que está me entregando um presente, e eu sei que preciso seguir com esse jogo, mas o que eu realmente estou tentando descobrir são quantos eu seria capaz de matar antes que eles abrissem fogo. Dois? Talvez três? De uma coisa tenho certeza, começaria por Ivan. Sinto a pequena arma ficar incrivelmente pesada. É agora ou nunca. Mas não posso fazer isso. Não posso matar meu próprio povo da mesma maneira que poderia matar Maggie. Encontro seus olhos, grandes e suplicantes. Eu gostaria de poder dizer a ela que sinto muito, mas as palavras não saem. Estou muito assustado até para falar. Deixo a arma cair e desvio o olhar. – Não tem estomago para fazer isso? – Zomba Ivan, desembainhando sua adaga. – De qualquer maneira, você fez sua parte. Ivan se abaixa e pega um punhado de cabelo de Maggie, puxando sua cabeça para trás para expor sua garganta. Vejo um brilho metálico em seu pescoço: seu pingente. Um sorriso se espalha pelo rosto de Ivan quando também o vê. Ele levanta sua adaga, e posso senti-lo olhando para mim. Será que ele pensa que eu sou um covarde, ou pior, um traidor? – Pelo progresso Mogadoriano. – Grita Ivan.

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Capitulo Dezenove Há centenas de imagens do interior da Irlanda na pasta de fotos da Número Dois. Mesmo que o céu esteja nebuloso, a paisagem é linda: exuberante e verde, colinas alastrando e às vezes com névoa. Eu as reviso até encontrar um conjunto de fotos dedicado a uma cabra, uma mestiça com manchas marrons na pele que parecem pequenas manchas de barro por cima de sua pelagem branca. O animal que Número Dois teve de deixar para trás quando ela e Conrad fugiram da Irlanda. Aqui está uma foto dela com os braços ao redor do pescoço da cabra. Eu me pergunto qual era o nome do animal. Eu olho para a mancha de sangue no chão do apartamento, como se fosse uma resposta. Os outros Mogadorianos foram embora, alguns para comemorar e outros para terem seus ferimentos tratados devido à batalha contra Conrad. Eu fui deixado sozinho aqui para tentar achar alguma coisa no laptop da Número Dois. Não haverá qualquer informação para baixar nesse momento; vasculhar os arquivos privados de Dois será o mais próximo que vou chegar de conhecê-la. Há poucas fotos de Conrad nos álbuns da Número Dois. Na maioria das vezes seu Cêpan sorri com indulgência, mas outras vezes as fotografias são naturais, como se ele não soubesse que estava sendo fotografado. Conrad lendo um livro ao lado da fogueira, Conrad cortando lenha. Tenho a impressão de que eles levaram uma vida tranquila juntos, muito menos perturbadora do que a de Um e Hilde. Além das fotos, existem alguns documentos no laptop. Dois nunca manteve um diário próprio, mas ela escrevia bastante. Há uma longa lista de "livros para ler". Há rankings atualizados com frequência de suas novelas favoritas, e mais específicas, como listas de "Personagens femininos fortes" e "Vilões mais geniais do que os heróis". Eu leio essas listas, embora eu quase não compreenda qualquer uma das referências. Eu faço algumas anotações mentais de livros que eu gostaria de ler. Eu acho que talvez Número Dois ficaria feliz que alguém, mesmo um Mogadoriano, tomasse algumas de suas recomendações. E então eu penso no pânico nos olhos da Número Dois quando Ivan trouxe sua adaga abaixo, como eu estive lá e não fiz nada. O que eu estou pensando? Que de alguma forma vou fazer o bem lendo todos os títulos da lista sobre os ''Livros que me inspiraram''? Quanto estúpido e sem sentido. - Algo de interessante?' Meu pai está parado na porta. Ele conseguiu sair da luta com Conrad Hoyle ileso. - Não. - Eu respondo, fechando o laptop da Número Dois. A verdade é que eu já exclui a única coisa interessante no computador de Dois. Uma resposta à sua postagem no blog. Eu apaguei o comentário junto da postagem original, embora eu tenha certeza de que os Mogadorianos na sede já sinalizaram isso.

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O General me encara. Normalmente, se supõe que nós devemos prestar atenção quando ele entra em uma sala, mas não posso trabalhar a energia para mover-me. Fico sentado na cadeira, olhando para ele. - Ivanick me disse que você não pôde matar a Garde. - Diz ele, desapontamento e repreensão misturados em sua voz. - Eu poderia ter matado ela, - Eu esclareço. - qualquer um de nós poderia ter matado ela. Ela era uma criança. O rosto do meu pai escurece. - Seu tom discorda de mim, garoto. - Sim? - Retruco, de repente lembrando-me da forma com que Um discutiu com Hilde. Quero dizer mais, porém penso melhor. Depois de tudo, olha o que aconteceu com a Número Um. - Desculpe pai - Eu digo no tom mais estável que consigo reunir. - isso não vai acontecer de novo. - Essa criança teria matado você, se a situação se invertesse, - Meu pai diz, e eu posso dizer pela forma como sua veia pulsa, que esse esforço para envolver-me na conversa civilizada está lhe exigindo grande auto-controle. - Ela iria ver todo o seu povo exterminado. Isso é o que nos foi ensinado. O que Setrákus Ra nos disse. Mas Dois sabia o que eu era, e ela não ia atirar em mim. Além disso, em nenhum lugar dos arquivos em seu laptop havia uma lista de "Métodos de genocídio preferidos". Mais uma vez a minha cabeça começa a girar, como tudo o que tenho acreditado é posto em causa. - Pai, eu não acho que isso seja verdade. - Eu digo baixinho. - Você duvida do que eu te ensinei, garoto? Do que aprendemos com o Grande Livro? Eu olho para o General. Encontrar seu olhar toma algum esforço, seus olhos ardendo com o seu temperamento mal contido. - Sim. - Eu sussurro. Meu pai me dá um soco na cara. Seu punho é tão pesado como um tijolo, embora eu tenha certeza de que ele pegou leve, ou eu estaria inconsciente em vez de simplesmente ter sido derrubado para trás da cadeira, meu lábio inferior se abriu. Eu sinto o sangue escorrendo pelo meu queixo e sinto o gosto na minha língua. Eu sei que a coisa mais inteligente seria a de me proteger com os braços, para evitar qualquer punição a mais, mas ao invés disso eu fico de joelhos, com o queixo levantado, esperando o próximo golpe. Ele não vem. Meu pai está em cima de mim, com os punhos cerrados, olhando nos meus olhos. Eu sinto um calor que eu não tinha sentido antes, raiva, raiva justa, tanta que a emoção deve alcançar meus olhos, porque o olhar inicial de meu pai de desgosto de repente revela uma coisa a mais. Um olhar com o qual eu não estou familiarizado. É respeito. Não para o meu argumento contra matar a Número Dois — certamente não para isso — mas por estar disposto a levar outro soco. - Finalmente, - Rosna o general. - tem um pouco de sangue em você.

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Eu olho para as minhas mãos. São pálidas, macias e limpas. Eu acho que de ver a Número Dois morrer. Minhas mãos deveriam estar cobertas de sangue. E assim, os momentos de raiva em mim são substituídos por algo mais, algo pior. Desesperança. - Sinto muito por desafiar você, - Eu digo, mantendo meus olhos baixos. - você está certo, é claro. Eu posso sentir o general me observando por mais um momento, como se estivesse considerando o que fazer comigo. Então, sem mais uma palavra, ele caminha para fora do apartamento, descuidadamente andando pelo local onde Ivan deixou a Número Dois caída. Eu me afundo em minhas mãos e joelhos, sentindo-me subitamente sem fôlego. Quanto tempo eu posso continuar assim, vivendo entre um povo que já não me entende?

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Capitulo Vinte De volta ao Complexo de Ashwood, estão celebrando um banquete para Ivan. Todos estes projetos de desenvolvimento suburbano vêm equipados com salões comunitários para festas do bairro. Já se passaram três anos desde que Um foi morta, e nosso salão comunitário não foi usado deste então. As pessoas da vizinhança passaram um fim de semana tirando pó, colocando uma mesa grande e preparando a comida. Não estava acordado para a última celebração. Quem me dera poder dormir nessa também. O general dá um discurso descrevendo o valor de Ivan na batalha. Ele espeta uma medalha em forma de espada Mogadoriana no peito de Ivan, e ele sorri estupidamente enquanto meus vizinhos aplaudem com entusiasmo. Não é feita nenhuma menção de minha chegada mais cedo à casa de Dois, e meu pai não gasta um momento sequer em memoria dos guerreiros que não retornaram para casa, mortos pelos tiros de Conrad Hoyle nas ruas de Londres. Não se desperdiça tempo com os fracos. Saio, deixando para trás uma janta meio terminada, e volto para casa, desfrutando da tranquila escuridão do meu quarto. Com olhares fulminantes que meu pai tem me dado desde Londres, tenho certeza que ele está feliz por eu ter saído cedo. Sem minha presença, ele pode fingir que Ivan é seu verdadeiro filho. Isso agradaria aos dois. Está um clima agradável, a noite está arejada, mas fecho a janela para não escutar o barulho do banquete. Olho com os olhos apertados as luzes do salão comunitário, meus vizinhos desfrutando de sua maior celebração desde que chegamos a Terra, graças a um assassinato a sangue frio de uma criança desarmada. Quando me afasto da janela, Um está no meio do quarto. É a primeira vez que apareceu desde Londres. Seu olhar é frio e acusador, muito pior do que os olhares de desdém que recebi do meu pai. – Você a viu morrer. – Ela diz. Pressiono meus dedos em minhas têmporas e fecho meus olhos bem apertado, tentando afasta-la. Quando os abro, ela ainda estava lá. – Qualquer que seja a parte de meu cérebro que você está se escondendo – Resmungo. – volte para lá e me deixe em paz. – Você poderia, pelo menos, ter chutado a arma para ela. – Ela disse, me ignorando. – Ter dado a ela uma chance de lutar. É um cenário com o qual eu estava atormentado: a idiota da arma aos meus pés, e a pequena Dois apenas a uma curta distância. Afasto essas possibilidades da minha cabeça e consigo racionalizar o medo que estava sentindo naquela hora como uma estratégia de autopreservação. Não havia nenhuma maneira de que Dois saísse viva daquele quarto, mesmo se eu a ajudasse ou não. Mas saber disso não me faz sentir menos covarde.

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– Eles a matariam de todas as formas. – Digo com a voz trêmula. – E, em seguida eles me matariam. – O que é que realmente te importa. – Responde Um revirando os olhos. – Salvar sua própria pele. – Se eu morresse, o que aconteceria com você? – Pergunto levantando a voz. Quero que Um entenda. – Já estou morta, idiota. – Serio? Porque tenho certeza que você está aqui agora, certamente me fazendo sentir pior do que eu já estava. Sinto muito por não ter podido salva a Dois, mas... Sou interrompido por uma batida suave na porta do meu quarto. Estava tão distraído com Um que nem sequer ouvi os passos subindo as escadas. Sem esperar que a convide para entrar, minha mãe abre lentamente a porta, parecendo preocupada. Gostaria de saber quanto ela escutou da minha conversa com minha amiga imaginária. – Com quem está falando? – Ela pergunta. Lanço um olhar furtivo para onde Um estava momentos atrás. Ela já não estava lá, havia voltado para meu cérebro. – Com ninguém. – Respondo, sentando ao pé da minha cama. – O que quer? – Queria ver você. – Responde, e suavemente coloca a sua mão em meio queixo. Ela examina o machucado amarelado na minha mandíbula, uma parte com uma casquinha sobre meu lábio inferior. – Ele não deveria ter feito isso. – Eu estava sendo insubordinado. – Digo, a resposta a uma das repreensões do General sai com facilidade. Minha mãe se senta na cama ao meu lado. Tenho a sensação de que ela quer dizer algo mais, mas está tendo dificuldades para encontrar as palavras. – Ele me contou o que aconteceu. – Começa, hesitando. – Com você e garota Garde. Ele queria te mandar para West Virginia, mas eu o convenci do contrario. Há uma base em uma montanha em West Virginia, onde ocorrem as aulas de treinamento intensivo. Eu ouvi que o “treinamento” na verdade seriam horas intermináveis de trabalho em túneis subterrâneos. Para um Nascido de Verdade como eu, ser enviado para lá seria equivalente a um adolescente humano ser enviado para uma escola militar. – Obrigado. – Respondo, sem ter certeza do porque minha mãe está me dizendo isso. Ela se levanta e vai até minha janela, olhando as luzes do banquete. – Volte a seus estudos. – Ela diz tranquilamente. – Fique mais forte. E da próxima vez que você tiver a chance de matar um Garde, faça. Minha mãe se ajoelha a minha frente, segurando meu rosto machucado nas mãos. Ela olha nos meus olhos com um olhar suplicante. Olho para ela decepcionado, sentindo que ela quer me dizer algo mais. – Sim, mãe. – Respondo. Ela abre a boca para falar, mas a fecha sem dizer uma palavra.

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Capitulo Vinte e Um Eu sou um jovem modelo de Mogadoriano. Sou dedicado aos meus estudos. Meus instrutores me elogiam pelo meu conhecimento sobre o Grande Livro de Rá, minha dedicação ao progresso Mogadoriano é inquestionável. Termino como o melhor da classe em Planejamento Tático Avançado, o meu teste final foi de como um corpo de Guerreiros Mogadorianos poderia subjugar uma cidade bem defendida com um número mínimo de vítimas Mogadorianas, que se equipara a algo que meu pai poderia ter escrito em seus dias. - Seu filho assegura-me que as nossas forças armadas vão continuar a florescer bem na próxima geração. – Escuto o que diz um dos meus instrutores ao General. Meu pai só respondeu com um aceno de cabeça severo. Nós não temos nos falado desde Londres. Dois anos se passaram. Eu deixei minhas outras táticas para mim. Secretamente no meu quarto, escrevendo como um exército humano com inteligência estratégica adequada poderia impedir o exército Mogadoriano. Quando estou satisfeito com o plano, queimo as páginas no banheiro e lavo as cinzas. O combate corpo a corpo ainda não é o meu forte. Ivan sempre me escolheu como seu companheiro durante anos. Depois disso, eu sempre acabo dolorido e com vergões, e Ivan mal transpirando. É maior e mais forte do que qualquer outro aluno, e quando fazemos drible, vejo um distanciamento em seus olhos. É o mesmo olhar sombrio que ele me deu quando estava sobre o corpo da Número Dois em Londres. É como se nós ainda estivéssemos competindo pela aprovação do General, apesar de eu ter me retirado da corrida. Ele ganhou, mas é muito burro para perceber, e ainda me vê como um rival. Quando treinamos com espadas, ele corta meu braço "acidentalmente", e a ferida requer três suturas. - Vou endurecer você apesar de tudo Adamus. - Zomba ele, aproximando de mim, com o sangue vazando entre meus dedos enquanto eu aperto seu braço. – Farei seu pai se sentir orgulhoso. - Obrigado, irmão. – Respondo. No pouco tempo livre que tenho, eu passo na capital. Já não trago mais o Ivan nesses passeios, e já não desperdiço tempo observando os seres humanos no National Mall. Encontro uma tranquila biblioteca onde me entretenho por horas lendo os títulos que eu posso lembrar-me das listas de livros favoritos da Número Dois. Começando com George Orwell. - Por que eu tinha que ser presa no Mogadoriano com o cérebro mais chato do universo? - Um queixa-se durante uma viagem de fim de semana para a livraria. Ela me visita frequentemente, às vezes mais de uma vez por dia. De certa forma, é como se fosse uma espécie de minha única amiga. Ela tira sarro de mim, mas eu sei que não lhe importa estes momentos tranquilos em que leio algo mais do que o

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Grande Livro. Durante minhas aulas mogadorianas, pude sentir que a sua mente está cada vez mais inquieta dentro de mim. Às vezes ela se manifesta, e comenta quão terrivelmente são pálidos meus instrutores, ou quando estou treinando com o Ivan, disse que a descoberta de desodorante seria um grande passo para o Progresso Mogadoriano. Aprendi a não reconhecê-la em público, para limitar nossas discussões para as noites, quando todos os outros estão dormindo. Então, fazemos planos. Penso encostado na cama, Um está andando pelo quarto impaciente e irritada. - Devemos fugir amanhã. - Diz. - Poderíamos dizer ao presidente que há um monte de extraterrestre malvados planejando uma Guerra justo no seu quintal. - Ainda não. - Respondo, balançando a cabeça. - Saberemos quando for o tempo apropriado. - O que fazer se o momento nunca é apropriado? Passei dois anos assim, atuando em meu papel, à espera de uma oportunidade para fazer a diferença. Mesmo com seus vastos recursos, o meu povo é lento para encontrar o outro Garde. Há outras operações bem sucedidas de células: uma missão no estado de Nova York captura um Garde. Muitas vezes, há missões que nunca vamos em frente porque o alvo desaparece, ou desaparece a equipe de exploradores. Eu não tenho certeza de quanto tempo os Gardes podem manter este ritmo. Espero que eles consigam se organizar em breve, mas me preocupa que Um tenha razão, que estou aguardando uma oportunidade que nunca chegará. E então, finalmente, chega notícias da África.

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Capitulo Vinte e Dois Pela primeira vez em anos, fui convidado para a sala de reuniões do General. - Temos informações confiáveis de que um membro da Garde está escondido no Quênia. - Disse meu pai, entregando-me uma cópia de um artigo de uma revista de viagem. O artigo é de alguns meses atrás e considerando seu conteúdo vago, não é de se admirar que nossos técnicos levassem tanto tempo para descobrir isso. No artigo, enquanto passa por um mercadinho local no Quênia, o escritor descreve um garoto com uma estranha marca no tornozelo e que é diferente de tudo que ele já viu nas tribos locais. A descrição tem uma semelhança notável com o feitiço lórico. - Isso foi confirmado? – Indaguei, fazendo minha pergunta antes de Ivan, que passava seus dedos ao longo das frases do artigo. - Podemos confirmar usando nossos métodos que provem isto. - Não podemos nos misturar exatamente com esse tipo de comunidade. - Disse eu, ganhando um olhar penetrante de aborrecimento do meu pai, embora ele saiba que eu estou certo. - O que isso significa? - Perguntou Ivan, com dificuldade para entender, como de costume. Apenas nós dois fomos convidados pelo General para esta reunião. O que quer que meu pai tenha planejado no Quênia, será a primeira vez que eu e Ivan estaremos fora de nosso próprio país. Nós dois sabemos que é uma missão perigosa, porém de muito prestígio. Estou um pouco surpreso pelo General ter me escolhido para esta missão. Na verdade, surpreso para ser escolhido para qualquer tarefa... Será que ele não se preocupa mais comigo e não se importa em me colocar em situações de risco? Decido que agora é um bom momento para mostrar que sou um discípulo apto e assim, demonstrar minha lealdade com a Causa Mogadoriana. - Assumindo que eles estão em uma aldeia africana - Eu explico para Ivan, deixando minhas palavras ostensivamente lentas. - isso tornaria muito mais difícil infiltrar um dos nossos lá. Eles sabem que não somos moradores, e nós arriscaríamos muito derrubando os lorienos antes da hora. Esse é um plano muito inteligente por parte do Garde. Não é verdade, pai? - Sim - O meu pai admite. - é verdade. - Porque não basta ir lá e destruirmos a aldeia? – Pergunta Ivan. - Quem se importa em se misturar ao povo? Bufei. - Quantos incidentes como o de Londres você acha que podemos ter antes que os humanos comecem a fazer perguntas? E então? O que faremos quando começarem os questionamentos? Você iria colocar em risco a segurança e todo o esforço do planejamento dessa guerra, apenas para massacrar uma aldeia?

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- Adamus - Diz o general, com uma voz ameaçadoramente estrondosa. - Você gostaria de conduzir esta investida? - Não, senhor. - Eu respondo. Ivan sorri. - Quanto à sua pergunta, Ivanick, sutileza é exatamente a maneira como devemos trabalhar. Sinto Ivan esvaziar um pouco ao meu lado. Tenho certeza de que sutileza não é algo exatamente de que Ivan saiba o significado. - Conseguiremos garantir cobrir a identidade de vocês. Passarão despercebidos pelos moradores. - Continua meu pai. - Vocês dois vão se infiltrar nesta vila e determinar se existe realmente uma presença Garde. Terei uma equipe de ataque preparada na selva, para atacar assim que vocês nos confirmarem. Meu pai me dá um olhar longo, me avaliando. Em seguida, ele se vira para Ivan. - Ivanick, você estará no comando. Vai se reportar diretamente a mim. Ivan concorda ansiosamente. - Sim, senhor. Claro. O general se vira para mim. - Adamus... não me decepcione. - Não, senhor. - Eu respondo.

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Capitulo Vinte e Três Ivan observa como um mosquito pica seu antebraço, trêmulo ao levantar voo e logo cai, morto, no chão. Aparentemente, nosso sangue é venenoso para os insetos, embora isso não os impeça de tentar. Ivan olha furioso as picadas inchadas e vermelhas em seus braços. - Temos que terminar de limpar esse lugar. – Ele resmunga. Os três bronzeados voluntários italianos que estão conosco na cabana, fingem não ouvi-lo. Eu não sei o que eles pensam que somos, que história lhes contaram para convencê-los a nos deixar se passar por voluntários, mas posso afirmar que eles estão com medo. Eu imagino que todos eles tenham parentes presos em algum lugar como West Virginia, que a sua cumplicidade faz parte de alguma droga de pacto que meu povo os obrigou a fazer. Eu gostaria de poder dizer que eles não estavam em perigo, que isso terminaria logo, mas isso seria uma mentira. Chegamos ontem na vila, em um Jeep conduzido por um dos mal humorados voluntários. O lugar é pequeno, esculpido na selva invadida. É composto por cabanas em torno de um único poço e de um modesto mercado ao ar livre. A aldeia fica na estrada para Nairóbi, assim seu mercado atrai pessoas de pequenas aldeias vizinhas, seja para negociar uns com os outros ou para vender coisas aos turistas que passam nos ônibus duas vezes por dia. Há uma pequena quadra de basquete ao lado da cabana onde os voluntários vivem, construída por seus antecessores para ajuda-los a se conectar os moradores. As crianças correm pela terra plana, jogando uma deformada bola de basquete marrom-escuro pelo aro. Ivan e eu somos a escolha perfeita para se passar por voluntários humanitários. Estamos na idade certa para isso: adolescentes idealistas que oferecem voluntariamente seu tempo entre o ensino médio e a faculdade. Esse é o tipo de atividade que ajudaria muito na aplicação universitária de qualquer garoto. Claro que para Mogadorianos, ajudar os menos afortunados seria visto como uma perda de tempo. - Ajuda humanitária – Pigarreia Um, aparecendo ao meu lado. – o seu povo tem um senso de humor doentio. Balanço a cabeça. Ela está certa, mas duvido que o General perceba a grotesca ironia de nosso disfarce. Para meu povo, esses voluntários e moradores são meros peões táticos, peças de xadrez que nos vão ajudar a desmascarar o Garde que pode estar escondido na selva. Hoje, os voluntários humanitários fizeram circular um rumor de que eles têm uma nova remessa de vacina para os jovens da aldeia, algo para lutar contra a malária. Uma a uma as crianças locais fazem uma fila para ranger os dentes e receber a picada. Quando as crianças passam por nossa tenda, Ivan e eu as estudamos. A maioria delas chega descalça ou com sandálias, mas as que chegam com tênis ou meias, Ivan as manda ficarem descalças. Nenhum deles acha isso estranho. Os humanos

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são muito ingênuos. Há muitas crianças da idade que estamos buscando, mas nenhum deles tem a cicatriz loriena. Cada tornozelo intacto é um alivio para mim. Uma das crianças que recebeu a injeção olha para Ivan e diz algo em Swahili. As outras crianças começam a rir. - O que ele disse? – Pergunto. O auxiliar médico com a seringa faz uma pausa, me dando um olhar nervoso. Então, em um inglês não muito perfeito, responde: - Ele disse que o seu amigo se parece um hipopótamo pálido. Ivan dá um passo em direção ao garoto, mas eu o impeço colocando uma mão em seu ombro. - O garoto tem razão – Digo ao voluntário. – ele parece um hipopótamo. Pisco para o garoto fazendo um sinal de joia com o polegar e as crianças começam a rir de novo. - Isso é uma perda de tempo. – Furioso, Ivan entra pisando duro na cabana, onde temos armazenados os nossos equipamentos. Eu suponho que ele vai informar meu pai: ainda nenhum Lorieno foi encontrado; apenas crianças quenianas ferindo meus sentimentos. Saio da cabana, observando como os moradores passam um dia normal. Eu não posso evitar desfrutar de uma fantasia, como costumava fazer observando em Washington DC, sobre que tipo de melhorias poderiam ser feitas neste lugar. Desta vez, não é uma fantasia de conquista e sim uma de assistencialismo. Com os avanços tecnológicos dos Mogadorianos, seríamos capazes de melhorar muito a vida dessas pessoas. - Suas vidas melhorariam muito mais – Disse Um. - se simplesmente deixassem seu planeta em paz. - Você está certa. – Sussurro de volta, sentindo-me estupido. Na quadra de basquete, as equipes estão começando a se formar. Um menino de uns quatorze anos, me vê observando e acena. Quando aceno de volta ele corre até onde estou e me disse algo que acho ser em italiano. - Sinto muito. – Digo. – Não entendo. - Ah. – Disse o garoto, e o vejo girar as engrenagens de sua cabeça enquanto tenta encontrar meu idioma. – Inglês? Americano? Assento com a cabeça. O garoto está em boas condições físicas e é alto para sua idade. Ele tem a pele escura, mas com uma tonalidade um pouco mais clara que dos demais moradores e tem um punhado de sardas por causa do sol sobre seu nariz e bochechas. De todas as formas, parece bem exótico. Ele está vestindo uma camiseta regata, short de malha, calça, um par de desgastados tênis de basquete e meias altas e listradas. Meias altas! Meu estomago diminui à medida que percebo quem ele é. O Garde. - Desculpe – Ele disse em inglês lento, mas perfeito. – os outros voluntários falam italiano. Meu inglês está um pouco enferrujado. - Não, – Digo, engolindo em seco. – é muito bom. Ele dá um passo à frente para apertar minha mão. - Sou Hannu. 56


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- Adam. - Como o primeiro homem. Isso é bom, mas agora precisamos de um décimo homem para igualar as equipes. – Ele faz um gesto por cima do ombro às outras crianças que esperam na quadra de basquete. – Você quer jogar? O que eu quero é gritar para Hannu correr. Olho por cima do ombro, perguntando onde está Ivan. Não posso chamar atenção, não posso fazer uma cena. Se Ivan detecta algo anormal, imediatamente chamará meu pai pelo radio. A única vantagem de Hannu, neste momento, é que meu povo não sabe quem ele é. Ainda há uma chance, para ele e para quem seja seu Cêpan, de escaparem sem serem detectados. Preciso afastá-lo da cabana dos voluntários. - Claro. – Digo, embora eu nunca tenha tocado em uma bola de basquete. – Eu vou jogar. Ainda não tínhamos dado nem três passos antes de Ivan correr em nossa direção. A única maneira de descrever seu sorriso é como se ele estivesse comendo merda. - Adam, – Disse, falando comigo enquanto mede Hannu com os olhos. – quem é seu novo amigo? - Hannu. – Responde o Garde, apertando a mão de Ivan. Posso dizer que pela careta de Hannu, o aperto de mão foi bem forte. – Outro americano. Legal. Tudo em Hannu é calmo, até a forma devagar que ele nos leva até a quadra. Era como se ele estivesse em casa, confortável. Muito confortável. Me pergunto quanto tempo ele viveu aqui, quantas vezes ele veio a essa quadra para treinar arremessos. Penso no comportamento paranoico dos outros Cêpans, da vida nômade que Um era obrigada a suportar, da existência fechada de Dois. Parece que Hannu teve uma vida pacífica na Terra e se esqueceu de que há uma guerra. Algumas das crianças mais jovens sorriem para Hannu quando ele passa. Ele acaricia a cabeça deles e devolve o sorriso, brincando com eles em Swahili. Me pergunto quantas línguas ele conhece. - Você se vacinou? – Pergunta Ivan, contundente como sempre. – Não me lembro de ter te visto na fila. Hannu faz um gesto se afastando com um sorriso sereno. - Eu? Sou forte como um touro. Deixe isso para as crianças que realmente precisem. Uma das outras crianças passa a bola para Hannu e ele a arremessa em um arco. Ela cai através da cesta sem nem ao menos tocar nos aros. - Você mora aqui há muito tempo? – Me atrevo a perguntar. - Minha vida toda. – Responde. As crianças devolvem a bola a Hannu e ele lança para Ivan. – De um arremesso, grandalhão. Ivan aperta a bola com tanta força que por um momento temo que ela vá estourar. Em seguida, ele arremessa para a cesta em uma péssima imitação do arremesso de Hannu e a bola violentamente toca o lado de fora da tabela. Algumas crianças riem, inclusive o garoto que chamou Ivan de Hipopótamo. - Boa tentativa. – Disse Hannu alegremente, piscando para as outras crianças que estavam rindo. 57


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A expressão de Ivan se escurece. Me meto, tentando direcionar a conversa de um modo que dispare os alarmes de perigo desligados de Hannu, sem que Ivan perceba. - É esquisito ter estranhos que apenas aparecem em sua aldeia? – Pergunto. Hannu encolhe os ombros. - Recebemos turistas no ônibus, às vezes. – Ele olha por cima de Ivan. – Espero que tenham trazido protetor solar. Seu amigo está ficando vermelho. Ivan agarra meu braço antes que possa formar uma outra pergunta embaraçosa. - Vamos, Adam. Temos trabalho a fazer. Hannu parece desapontado, enquanto Ivan me arrasta pra longe. - Talvez mais tarde possamos jogar? - Espero que sim. – Digo a ele. Apenas quando estamos fora de seu alcance de audição, Ivan sussurra para mim: - É ele! – Ele parece muito emocionado. – Você pode ser inútil em uma luta, mas fareja um Garde melhor que qualquer um de nossos exploradores. Olho por cima do ombro. Hannu já nos colocou para fora de sua mente e ajuda algumas crianças mais jovens a treinar. - Não podemos confirmar que seja ele. – Digo. - Oh, qual é, Adamus. – Geme Ivan. – Deveria te-lo sufocado lá fora. - Você não quer desperdiçar o tempo do General, até termos certeza. – Digo, tentando ganhar tempo. – Além disso, mesmo se ele for o nosso Garde, não sabemos se ele é o Numero Três. Ivan debocha de mim, posso dizer que sua mente está decidida. Quando voltamos para a cabana, ele agarra o voluntario mais próximo pela camisa e o empurra contra a janela. - Aquele garoto. – Disse, apontando para Hannu. – Onde ele mora? O voluntario hesita, mas posso ver o medo em seus olhos. - Não tenho certeza. – Resmunga. – Fora da aldeia, eu acho. Perto do barranco. - Isso é o suficiente. – Disse Ivan empurrando o voluntário. Ele olha para mim antes de entrar no quarto dos fundos. – Vou dizer ao pai que você disse “Oi”. Então é isso. Logo a equipe de ataque estará aqui. Volto para a porta e observo Hannu driblar um defensor e fazer uma cesta. - Ele é um idiota. – Observa Um. De repente ela está ao meu lado observando Hannu. – Você tem que dizer a ele. Assento com a cabeça. Não há mais tempo para esperar, não há mais planejamento, nem sutileza. Nunca houve uma oportunidade mais perfeita para desertar. Eu já vi como um Lorieno morreu por minha incerteza, porque não agi a tempo. Não permitirei que capturem este, ou pior. - Você está certa. – Sussurro de volta. – Hoje à noite, escaparemos.

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Capitulo Vinte e Quatro A noite cai. A selva ao me redor se desperta com ruídos estranhos. Eu deveria estar preocupado sobre quais tipos de animais existem aqui, quebrando galhos ao me perseguirem, sibilando ao redor dos meus tornozelos. Mas há outros, muito mais perigosos. Aqueles que preciso impedir. Eu corro pela selva apenas com uma vaga ideia de onde estou indo. ‘’Correr’’, talvez não seja o termo certo a se dizer – mais como ‘’tropeçando’’. Parece que cada raiz na selva tem um plano para me derrubar. Está tão escuro aqui, estou praticamente cego. Meus joelhos e cotovelos estão arranhados, os galhos batem em direção à minha cara. Ainda assim, eu prossigo em direção ao barranco. O comunicador na minha cintura vibra. Roubei-o antes de sair da cabana. Meu plano é simples, o melhor que posso fazer sob tais circunstâncias. Chegar até Hannu e seu Cêpan, contá-los o que está acontecendo e usar o comunicador para monitorar o movimento dos outros Mogadorianos. Espero, que com o conhecimento de Hannu sobre a selva, estejamos um passo à frente da chegada da equipe de ataque. Não vai ser fácil por causa da localização da selva, meu pai autorizou uma equipe de ataque maior do que a de costume, incluindo um pikén – mas eu sei como meu povo pensa, como eles atacam. Eu posso fazer isso. Tudo que eu tenho de fazer é alcançar Hannu antes deles. E esta selva não está ajudando. Quando a selva começa a se abrir diante de mim, a lua brilha sob a minha cabeça, eu sei que estou perto. Posso ouvir a água correndo logo a frente, o rio que corta o barranco. E depois eu a vejo. Uma única cabana erguida. A selva ao redor parece meticulosamente limpa, deixando uma extensa área aberta com diversos equipamentos de madeira. Assim que meus olhos se ajustam à luminosidade, eu percebo alguns objetos simulando obstáculos. Pelo jeito Hannu faz mais treinamento do que só ficar jogando basquete na vila. Isso é bom. Ele precisa ser ágil para o que está por vir. Eu me aproximo da cabana com cautela. A última coisa que eu preciso é assustar Hannu e seu Cêpan. Se ele for como Conrad Hoyle, seu Cêpan pode emergir daquela cabana empunhando metralhadoras. Eu paro, os pelos da minha nuca se enrijecem. Ouço passos na selva vindos em minha direção. Eu começo a suar frio apesar do calor africano. Eu me viro pra ver Ivan emergindo da selva. À luz do luar, eu vejo um fio de suor escorrer pela sua bochecha, seu rosto se contorce num sorriso sem humor. - Adamus, o esperto. - Ele zomba. - Pensou que você fosse se safar dessa? Ele olha para mim. - Com o quê? - Eu pergunto, empatando. Olho por cima do ombro para a cabana. Não há nenhuma movimentação no interior, os sons que eu e Ivan estamos fazendo são engolidos pela selva. Eu irei deter Ivan se preciso, mas espero que não chegue a esse ponto. Talvez eu possa dar

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um jeito de sair dessa. Eu volto para a possível área de treinamento de Hannu, ficando a centímetros de distância de Ivan. - Saia daqui, Ivan. - Digo, tentando soar tão intimidador quanto possível. Ele bufa, incrédulo. - O quê? E deixá-lo roubar toda a glória? Você provavelmente vai congelar de novo. E então eu percebo o que ele acha que estou fazendo aqui. Ele não acha que eu vim aqui para avisar Hannu; tal traição nem é sequer uma possibilidade para ele. Ivan acha que eu vim para capturar Hannu ou matá-lo sozinho, assim como ele acha que eu fiz com a Número Dois. - Você nem sequer trouxe armas. - Ivan observa ironicamente. - Você vai levar os Lorienos à morte falando? - Ele está certo, eu vim desarmado esperando que isso ajudasse a convencer Hannu a confiar em mim. Além disso, eu nunca quis realmente lutar contra meu povo, apenas evitá-los. Eu esperava que a violência pudesse ter sido evitada. Com uma velocidade que surpreendeu Ivan, me abaixo e retiro sua adaga do punhal. Seu queixo cai quando a arremesso para a selva. - Adamus! - Ele exclama, parecendo ferido, como uma criança que teve seu brinquedo favorito quebrado. - Mas que diabos? É melhor você me ajudar a procurar isso. Eu seguro Ivan pela camisa e aproximo minha cara na dele. Ele está surpreso outra vez, não está acostumado a ser maltratado. Eu olho em seus olhos, tentando alcança-lo. Eu sei que é loucura, mas apesar de tudo, Ivan costumava ser o meu melhor amigo. Eu tenho que acreditar que ele ainda está me ouvindo. - Por que fazer isso? - Eu pergunto. - Matá-los não vai curar nosso planeta. Não vai ajudar no progresso Mogadoriano. Só vai levar a mais mortes, mais vidas desperdiçadas. É isso o que você quer? - O que diabos você está falando, Adamus? - Ele me olha, pasmo. Eu o sacudo. - Nós nem sempre nos demos bem. - Eu prossigo. - Mas você é como um irmão para mim. Você confia em mim, não é? - Em silêncio, Ivan faz que sim com a cabeça. Então confie em mim quando lhe digo que tudo o que foi dito para nós está errado! - Eu digo desesperadamente. - Nossa causa é injusta, Ivan. Nós podemos mudar isso. Você pode me ajuda a trabalhar no verdadeiro sentido do progresso Mogadoriano. Posso vê-lo tentando encontrar sentido nas minhas palavras, a confusão em seu rosto. Ele parece longe de mim, sobre o meu ombro, para a cabana onde Hannu e seu Cêpan dormem. Por um momento me permito pensar que eu tenha conseguido convencer ele. Então, ele me empurra para longe. Ele finalmente percebeu o que eu estou fazendo e sente desgosto. - Eu sempre soube que você era fraco, Adamus. - Sibila Ivan. - Mas não que fosse um traidor também. Isso revolve. Eu desencaixo o comunicador do meu cinto e o uso para bater em cheio na cara de Ivan.

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Capitulo Vinte e Cinco Queria e achava que meu golpe tinha nocauteado Ivan, deveria saber o que aconteceria. Ivan está de pé novamente, antes mesmo de eu poder me afastar dele, e nem ele mesmo percebe o fio de sangue que flui da ferida que fez na sobrancelha. Aquele olhar de morte que eu vi em muitas sessões de formação e treinamento se acende e dispara para mim. Ivan me bateu com o ombro no estômago e me levantou, me jogando contra uma árvore. O ar deixa meus pulmões e me faz arquejar. Ivan me puxa pelos cabelos, batendo minha cabeça contra as árvores; me bate tão forte que vejo estrelas, mas tento permanecer consciente. Desesperadamente, chuto Ivan, minha canela encontra sua virilha, com a dor ele me solta. Tropeço na selva, balançando as teias de aranha da minha cabeça. Ivan está sobre mim, e antes que eu tenha a chance de me colocar em guarda novamente, desta vez ao me bater usa uma combinação de dois golpes no peito, seguido de um gancho no queixo, isso faz com que eu caia sobre uma árvore caída. Apoio minhas mãos no chão, de costas enquanto deslizo minha língua pelo buraco onde costumava ser um dente. - Você pode fazer melhor do que isso! - Diz Um, sentada de pernas cruzadas em um tronco. - Cala a boca. - Murmuro. Ivan salta do tronco, de pé em cima de mim, me encara com o seu olhar selvagem nos olhos. - Você quer lutar contra mim por eles? - Ivan rosna. – Pelo lixo Lorieno? Você prefere eles a nós? - Sim. - Então você pode morrer com eles! Ivan salta com a intenção de me golpear na cara, mas me esquivo rolando no último momento, chutando-o no lado do joelho no instante em que toca o chão. Escuto que um osso se quebra dentro da perna do Ivan, e ele solta um grito de dor. Me levanto rapidamente, recuperando a postura de combate. Ivan se lança contra mim, agora ele vem correndo lentamente, mas desta vez eu estou pronto. Bloqueio dando socos com raiva e para frente, usando sua força e velocidade contra ele. É algo que eu nunca tentei em nossas sessões de treinamento, mas é exatamente isso o que Hilde tinha ensinado a Um. Ivan chega para mim de novo, frustrado, joga socos com mais fúria do que nunca. Eu o esquivo me abaixando e quando ele está fora de equilíbrio, o golpeio com uma das mãos, fazendo-o perder o equilíbrio. Aperto a garganta do Ivan com o pé, penso em Dois e na forma como ele estava esmagando seu pescoço. Pelo canto do meu olho noto um flash de luz na direção da cabine de Hannu. Talvez seja apenas a minha imaginação. - Não é tão fácil quando alguém bate de volta, hein? – Digo. 61


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Ivan é libertado da pressão do meu pé, mas tomo seu pulso com as duas mãos, ele me empurra para o chão e tenta se livrar de mim. Ele me golpeia de forma feroz com a mão livre, porém tento manter o controle da situação. Com as pernas realizo uma chave, colocando uma perna debaixo de seu queixo e outro atrás da cabeça, em seguida, agarro a cabeça com as duas mãos, suspendendo-o. Ivan leva um longo minuto para perder a consciência, me golpeando nas costelas cada vez com menos força. Quando já está inconsciente, solto seu corpo, deixando cair de volta à terra. Estou muito dolorido, mas ainda vivo. Ao meu redor a floresta se tornou muito silenciosa, mas logo escuto ordens vinda do comunicador meio quebrado que está alguns passos de distância e eu sei o que está acontecendo. É tarde demais.

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Capitulo Vinte e Seis Consigo arrastar meus pés e me dirijo cambaleando em direção à cabana. Percebo na floresta à minha volta sombras à espreita. São os batedores fazendo a manutenção do perímetro. Na porta da cabana, o corpo amassado de um homem de cinquenta anos de idade sangra de uma ferida feita por uma espada cruel. O Cêpan de Hannu. Morto como os outros Cêpans. O que significa que eles devem ter encontrado o menino que é o Número Três. Sinto meus joelhos se dobrando, com vontade de desistir. Joguei minha vida inteira fora esta noite, eu nunca poderei voltar para casa, agora sabem que sou um traidor. Vou passar o resto da minha vida correndo e me escondendo, sendo caçado, assim como a Garde. E para quê? Eu nem mesmo consegui ajudar Hannu. Cheguei tarde demais, demorei tempo demais em minha luta com Ivan. Eu não tinha feito nada. De repente, a parede de trás da cabana explodiu, lascas de madeira cairam em cascata em todas as direções. Ali estava Hannu, vivo, correndo e correndo muito rápido. Mais rápido do que era humanamente possível. Ele foge antes que meu povo tenha a chance de se aproximar, acelerando em direção ao desfiladeiro. Ainda há uma chance. Não há nenhuma chance de que eu possa acompanhar Hannu, mas eu corro tão rápido quanto meu corpo permite, com a respiração assoviando dolorosamente através de meus pulmões. Há outros perseguidores perto, e eu posso ouvi-los caindo na selva. Mesmo com todos os outros cheiros na selva, eu ainda posso sentir o cheiro ácido da respiração do piken em direção ao barranco. Se eu puder encontrar uma maneira de chegar a Hannu primeiro, talvez eu ainda possa ajudá-lo. O som de água correndo cresce. Não sei como Hannu planeja atravessar o penhasco. Talvez ele esteja forte o suficiente para saltá-lo. Talvez ele saiba alguma passagem secreta por baixo. Não importa, contanto que ele fuja. Se ele o fizer, ainda há esperança. Eu vejo a silhueta de Hannu se aproximando da borda do penhasco, talvez trinta metros de onde eu estou. Há um piken perto de seus calcanhares. Tenho medo por ele, ele não tem para onde ir, mas quando Hannu atinge a borda do barranco, ele salta, pousando em segurança do outro lado. É um salto que eu nunca poderia ter feito, nem tampouco o piken. Ele está seguro. Exceto por meu pai estar esperando por ele do outro lado do desfiladeiro. Não há nada mais que Hannu possa fazer. O general pega o menino e levanta-o com facilidade. Parece uma imagem impressionante, como um herói mogadoriano segurando sua presa no Grande Livro. Ele hesita por um momento, observando o seu prêmio, então retira o pingente em formato de lágrima do pescoço de Hannu e enfia em sua capa. Não há nenhuma maneira de chegar ao outro lado do desfiladeiro. Só posso ver como meu pai ri, em seguida, puxa a sua espada da bainha. Sua haste brilhante 63


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ilumina a noite e ele enfia-a no peito de Hannu e depois o deixa cair insensivelmente no chão. Ele está morto. Ouço um grito dentro de minha cabeça. Ou será que sou eu? Os olhares do general atravessam o desfiladeiro. Por um momento, nossos olhos se encontram. Ouço passos cansados se aproximando por trás de mim. Sei o que eles querem dizer, mas não me virei para enfrentá-los. Minha breve rebelião havia chegado ao fim. - Adeus, Adamus. - Sibila Ivan, quando ele bate com as duas mãos em minhas costas, me empurrando ao longo da borda do desfiladeiro, em direção às rochas e água lá em baixo.

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Capitulo Vinte e Sete O sol aquece o meu rosto, em contraste com o sabor maravilhoso, salgado e fresco da brisa do mar. Relaxo de novo em meus cotovelos e fecho os olhos. Volto a enfrentar de cara o sol, banhando-me com os raios de sol californianos. Quando abro os olhos, Um está sentada na areia ao meu lado. É tão bonita. Seu cabelo loiro solto, tocando levemente seus ombros despidos. Isto é maravilhoso, uma sensação agradável. Nem posso me lembrar quando me senti tão feliz assim. Por que ela parece tão aflita? - Adam.- Diz ela. - Tem que acordar. - Acordar de quê? - Eu pergunto, sem sentir nenhuma preocupação do mundo. Estendo a mão e pego a dela. Um não se afasta, apenas me olha com um olhar suplicante. - Você tem que acordar. - Repete. Eu sinto um arrepio. De alguma forma, meu corpo está em dois lugares ao mesmo tempo. O outro lugar é úmido e frio. Doloroso. Meu corpo é jogado contra as pedras, espancado incessantemente por uma corrente forte. Eu posso sentir que alguns dos meus ossos estão quebrados, e dores agudas percorrem o meu corpo. Deixo de lado essa realidade. E tente focar na Califórnia. - Por favor, acorde. - Implora Um. - Mas é tão bom aqui. - Se você ficar aqui, você vai morrer. Quando eu abro minha boca para responder, a água do rio lamacento me sufoca. Arquejo pelo ar, me sufocando, eu luto. A corrente é forte, me puxando para baixo. Mas isso não faz sentido. Eu estou em uma praia na Califórnia. Toda a dor é em outros lugares, passando-as para outra pessoa. Um está tão triste e desesperada, que tenho que voltar. O sol está começando a se pôr sobre o mar, o céu fica laranja e roxo. Em breve será noite, e eu posso descansar. - Acorde e lute. – Pedi Um. - Adam, por favor. Não sei se eu posso.

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