DIÁRIO DE CAMPO Egbé Ile Iya Omidaye Ase Obalayo São Gonçalo, RJ 02/maio/2013 Breve entrevista com Marília Ferreira, educadora e artesã, assessora de Matrizes que Fazem e organização da agenda da pesquisa, visto que há dois eventos programados no Ile, em que todos estão envolvidos – o Lançamento do Ponto de Cultura de Matriz Africana no Ilê e a Festa de Oxum, e assim todos os presentes, que são muitos, filhos de santo e suas famílias, apoiadores e visitantes tem muitas tarefas a realizar para o sucesso dos eventos. Conta-nos sucintamente muitas coisas: Antes trabalhou em vários locais com pesquisas, organização de projetos, resgates de costumes afros, experiências de geração de renda, de aproveitamento de alimentos, Na Praça Mauá, Rio de Janeiro, existe um quilombo urbano Pedra do Sal, de eixo quimbundo, que inclusive organiza um bloco de carnaval “Escravos da Mauá”. Entre 2008-2009 andou por 24 quilombos do Rio de Janeiro, observando que 17 ou 18 deles ainda estão integrados, mas não cultivam a religião de raiz africana. Anota que o quilombo São José promove atividades de danças e produção e venda de artesanatos, também o quilombo da Serrinha. 02/maio/2013 Entrevista com Iya Marcia - IYA MARCIA D’ OXUM Iya Márcia conta um pouco da sua vida ali no bairro do Sacramento. Iya Márcia, Márcia Dória Pereira, demonstra ter uma solida formação tanto religiosa quanto cultural e explica muitas das propostas e ensinamentos com que dirige e alimenta o Egbé Ile Iya Omidaye Ase Obalayo. O que está narrado no relato dessa pagina.
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03-05-2013 – Inauguração do Ponto de Leitura de Ancestralidade Africana Lançamento do livro “Candomblé – um culto a natureza”, de Iyalorixá Márcia D´Oxum. Mesa com disposição do livro “Contos e Crônicas do Mestre Tolomi – África Viva no Brasil”, de Paulo Cesar Pereira de Oliveira, pai Paulo. Neste dia estava agendado o evento de inauguração do Ponto de Leitura de Ancestralidade Africana, projeto da FBN e SEPPIR. Estiveram presentes além de muitos filhos de santo da casa, vários representantes de outros terreiros amigos de São Gonçalo e também de outros estados do país, Vieram também Secretária de Políticas para Comunidades Tradicionais da SEPPIR, Silvany Euclênio e Paulo César Oliveira, Pai Paulo, do terreiro/Centro Cultural Orunmila, de Ribeirão Preto, as Secretárias da Cultura, do Estado e do Município, alguns vereadores e deputado estadual de São Gonçalo e Rio de Janeiro.
04-05-2013 - Rodas de Conversa com os filhos e frequentadores do Egbé Ile Iya Omidaye Ase Obalayo Roda de Ogãs Os Ogáns são apresentados como os tocadores dos atabaques com conhecimento de milhares de cânticos evocatórios e são auxiliares fundamentais nos rituais sagrados. Estiveram presentes Yoma Passos, que é açoba do Gantuá, Bahia, irmão de santo de Iya Márcia, e referencia para todos os ogãs presentes na roda; William Camargo, de Florianópolis, Douglas dos Santos, e Carlos Alexandre, ambos do Rio de Janeiro.
Roda das crianças As crianças dizem que gostam de frequentar o terreiro de mãe Márcia porque brincam com todas as crianças, leem ou ouvem histórias, aprendem a dançar e cantar, e mesmo quando são tímidos como se disse Iuri, aprendem a fazer muitas amizades, conhecem muita gente. Estiveram: Ana Vitoria, 10 anos, que veio com a mãe e fez o seu santo, considera o terreiro a sua segunda casa; João Pedro, 6 anos; Leila, 12 anos; Beatriz, 8 anos e mora em Natal/RN e seu avô é seu pai de santo; Iuri, 9 anos, neto de mãe Márcia, iaô; Ruan. Roda de Iaôs e filhos de santo da casa. Iaô – palavra de origem iorubá, que designa os filhos de santo já iniciados, mas que ainda não completaram sua iniciação. Na roda participaram também duas abiãs, que significa que estão em aprendizado para se decidir a seguir o candomblé.
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Arethuza, filha de mãe Márcia, foi iniciada com cinco anos de idade. Pontua que antes conviveu com sua avó, IvoneD’Oxossi , também mãe de santo. Arethuza se casou e mora em Florianópolis. Para ela o Ponto de Leitura contribui para recuperar o interesse pelos livros. “Hoje as crianças perdem o habito de leitura com o estimulo aos equipamentos eletrônicos” . Entende que esse programa deveria se estender para todos que queiram. Camila D’ Ogum _diz que aprendeu a viver e considera que nasceu de novo com a iniciação nesse terreiro há 11 anos. Teve muitas informações, aprendeu compreensão, união fraternal, é uma grande família. Sabrina, D’Oxumar e mãe de Safira D’ Iansã conheceu o terreiro pelas amigas, e também trouxe o seu marido. Considera que no terreiro aprende respeito e amor, oportunidade de crescer e de ir mudando. Conta que na escola teve que pedir autorização para usar o pano na cabeça. Carolina, D’ Nanã. Era uma criança quando foi iniciada por mãe Márcia. Aprendeu tudo no terreiro. Nossa biblioteca era mãe Márcia que usava uma linguagem com a qual todos aprendiam. Foi aluna do projeto e agora é professora, ‘fazer arte para gerar renda’. Considera que qualquer pessoa pode ser capacitada. Precisa, as vezes de algumas orientações apenas. Cleide D’ Oxalá. Mora na comunidade e seus filhos e o marido também vem ao terreiro. Ela tem um gosto particular por leitura e se diz contente de poder ler livros temáticos agora. Quanto à situação do espaço, aponta que os governantes não mandam buscar o lixo do local, e os lixeiros são proibidos de buscar lixo em terreiros. Também que só arrumam um pouco as ruas da comunidade quando nas festas. “Nós pagamos impostos igual a todo mundo”! Elizabeth de Estremois do Norte, que fica a 70 km de Natal/RN. É quilombola. Diz que veio ao terreiro por necessidade espiritual, e tem três filhas da casa. Considera que o candomblé ensina o respeito aos mais velhos e à diversidade, e que só nos últimos dez anos que se tem conseguido algumas iniciativas em atender os direitos políticos, pois o governo finalmente tem começado a abrir esses espaços de participação. Diz da importância de dar visibilidade às ações que os terreiros realizam e de amparo legal dentro da Constituição. Considera que o Ponto de Leitura é um direito, e que seria necessário ter muitos destas bibliotecas temáticas. Espera que o governo atenda a quantidade de demandas, pois a lei 10.639 tem tido pouca aplicabilidade. E poucos conhecem a história dos negros que foi feita por muitas Iyas, contra todos os preconceitos e racismos. Através da religião se processou a resistência. Faltam políticas públicas, é necessário que nos filhos estudem e contem a nossa história. No Rio Grande do Norte eles também tem uma organização que promove muitas atividades junto à comunidade, à semelhança com o ‘Matrizes que fazem’. Babalorixá Rosildo Alves é filho de santo de mãe Márcia e diz que nasceu executando tambor. Em Natal onde mora ainda não leva trabalho comunitário. Flaviana, D’ Oxum. Vem de Natal onde tem casa que vem desenvolvendo o lado social junto com a comunidade. Diz que o que aprendeu as ideias, o universo veio do terreiro que abre suas portas para oferecer um mundo de cultura e de vivencia. O candomblé nos prepara para a vida. As crianças aqui assumem com amor e não como obrigação. www.ancestralidadeafricana.org.br
Ponto de Leitura é uma necessidade da ancestralidade. Flaviana enumera as atividades que tem em Natal: Na comunidade seu pai abre a casa dele como um centro de cultura de leituras, de filmes da cultura negra. Faz cortejos para mostrar nossa casa, como somos comuns. E em abril fizeram outro percurso e veio muita gente. Tem projetos pedagógicos com a Universidade Federal de Natal. Leitura e conhecimento – marca textos com textos. Apreende e estimula a buscar mais conhecimentos, pois orienta. A crença narra uma realidade diferente. A leitura estimula e ensina e está conquistando espaços. Tem um Afoxé festival mensal em Natal com lavagem do Beco. Axé da 3ª idade e de crianças. Adelaine, Fomutinha de Oyá. Agora é iaô,mas frequenta o terreiro desde 2008, estava fazendo a monografia de curso – a infância no candomblé - e o professor disse-lhe para sair do livro e vir para a realidade. A partir do terreiro se reconheceu como negra e acabou de fazer o santo. Trabalha no projeto Matrizes, com geração de renda, ajuda na parte pedagógica, aprende como se comportar e o que fazer na vida. São Gonçalo é muito carente, tem muita gente da comunidade procurando cursos, ensinamentos, trabalho social. A Biblioteca é um sonho, há necessidade de ler, apesar da tradição da oralidade. E pontua que precisa vir os livros com a temática ancestralidade. Projeto Matrizes tem preocupação com o entorno, ele já andava muito antes de ter o patrocínio da Petrobras. Aprende-se a fazer coisas, a criança tem aqui um espaço aberto. Nas escolas muitas crianças enfrentam o racismo de professores. A biblioteca é um instrumento de incentivo à escola. Manana, Dofoninha de Oxum, de Fortaleza, veio com a mãe. André vem de Florianópolis, e tem oito meses de iniciado no santo. Lizete, de Iemanjá, filha da casa, é de Florianópolis, professora. Teve família católica, mas sempre foi encantada com a cultura afro, pois achava que a sua religião anterior tinha muito preconceitos. Então, o seu filho casou com a filha de Iya e ela conheceu o terreiro e está junto. Diz que a Educação é a própria vida. Renata, microbiologista, pesquisadora. É abiã, e pretende ser iniciada. Veio com uma amiga e no terreiro se abriu para si um mundo novo. O Ponto de Leitura é uma referencia de conhecimentos. Rafaela, 22 anos, de Florianópolis e é técnica. O seu namorado (Lucas) é ogã e filho de pai e mãe de santo. Agora ela está conhecendo. Celina Batalha, filha de Oxossi e Oxum, é Iyalorixá de um terreiro em São João Del Rei/MG. E para isso rompeu com tudo, suas filhas voltaram para o pai. É branca e vive rodeada de negros. Sedimentada ara o conhecimento. Conheceu Iya Márcia pela internet e por sua atuação comunitária e cultura. Carlos André Ferreira dos Santos - Dofonitinho D’Logum, estudante do ensino médio. Veio para o projeto Matrizes, iniciou em danças no ano passado e fez um grupo de teatro aqui com história da capoeira. Aqui percebeu a sua identidade como afrodescendente. Esse ano com o Ponto de Leitura pode ajudar aproximar dos livros, através do teatro, com leituras em grupo. www.ancestralidadeafricana.org.br
Babalorixá Melke de Xangô. Vive em Estremois, RN. Considera o candomblé uma opção de vida. A iniciação é uma reconstrução da nossa identidade. Em Estremois há uns 10 anos _ trabalha com conscientização ioruba. Esclarece que Elizabeth é quilombola. Diz que o terreiro é um quilombo urbano. Trabalha com o quilombo o resgate social e a igualdade racial. Diz que o Estatuto existe no papel, mas não é efetivo. Considera que o quilombo guardou a etnia. Os terreiros são os porta-vozes. Celso de Oliveira tem família evangélica kardecista. Conheceu o trabalho social de Iya Márcia e se aproximou do terreiro. Entende que orixá é trabalho é a intervenção social. O Ponto de Leitura da ancestralidade tem que levar o conhecimento da história, o resgate das coisas que foram perdidas/roubadas.
Marília Ferreira, educadora e artesã. Entende educação como compromisso. Trabalhou com EJAs em comunidades, através da COMCAT – casa de gestores na Pça. Mauá do Rio. Teve convivência com os gestores, quilombos, quilombo urbano. http://www.catcomm.org Conheceu a Iya quando ela estava num grupo com 40 mulheres “Mulheres em ação” que foram reunidas por uma cineasta, onde elas trocavam conhecimento. Iya Márcia convidou para fazer um grupo de formação aqui no terreiro. Tinha a ideia do Projeto Matrizes com artesãs. Em 2011-12 conseguiu financiamento do projeto. Veio para cá. Considera como desafio aproximar a população local deste elo (o Ilê) sem preconceito. Marília era ekede de outro terreiro. E brevemente irá fazer parte deste espaço. Por enquanto se mantém reservada quanto aos cultos religiosos deste Ilê.
05-05-2013 Festa para Oxum no Egbe Ile
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