Quilombo Curiaú – Amapá Associação dos Moradores do Quilombo do Curiaú Endereço: Rodovia do Curiaú, nº 6.560 – Curiaú – Macapá – AP (Próximo ao canteiro central) - CEP: 78.909-312 26, 27 e 28/10/2012 Curiaú
– Primeiras impressões e contatos no Macapá e
26/27/10- Chegamos 6a., 26 tarde da noite. A cidade Macapá estava engajada na campanha eleitoral - 50% cada candidato (PSOL e PDT), é impressionante a mobilização nas ruas - parece não ter ninguém indiferente. A campanha ficou a noite inteira na rua. Buscamos por outro hotel durante o dia. Acomodamo-nos e em seguida entramos em contato com o quilombo, mas os quilombolas também estavam engajadas na campanha eleitoral. Propusemos à Josineide uma ida ao Quilombo, ao menos para conhecer o local e ter uma primeira conversa, caso não atrapalhasse as suas ações, pois a presidente da Associação do Quilombo também estava as voltas com a eleição. Ela pediu para retornarmos a ligação no dia seguinte, pois mesmo que não pudesse ir, buscaria por outra pessoa para nos recepcionar.
28/10 domingo – Visita ao quilombo Retornamos a ligação à Josineide e combinamos encontrar com Jô (Joaquina), sua irmã, que por não estar envolvida nas eleições, poderia nos recepcionar e nos acompanhar ao Curiaú. Visitamos o Curiaú, era dia de eleição. O quilombo também esta dividido entre os candidatos. Andamos e conversamos com a família de Joaquina, - irmã da Josineide, a presidente da Associação – A Jô nasceu no Curiaú, tem casa no quilombo e os pais e irmãos que vivem lá, mas ela vive na cidade, acompanha mas não está engajada na vida do quilombo e é atenta às questões de negritude. O quilombo surpreende - uma extensa área de terra, com as ruas principais asfaltadas, e as casas de uma parte dos moradores nas ruas principais são grandes, de alvenaria e bem construídas dentro de quintais e jardins, mas mais pra dentro há também casas de madeira relativamente precárias e pobres. Seguindo a estrada se chega no balneário, para onde se dirigem muitos carros vindos da cidade. (mais adiante do limite do quilombo há outros bairros, muitos também quilombos). Parece que Curiaú foi o primeiro dos quilombos a ter as terras legalizadas - a associação tem a posse e escritura da terra.
Desde a chegada ao quilombo pudemos reparar que todas as pessoas que vimos são negras. Perguntamos a Joaquina se no Curiaú, diferente da região onde estamos em Macapá, a maioria da população é afro descendente. Jô explica que apenas remanescentes quilombolas vivem lá, e estes são majoritariamente afrodescendentes. Jô, embora não tenha envolvimento com a campanha eleitoral, relata ter sua preferência partidária, independente e diferente de seus familiares. Diz ser a sua uma família que luta pela preservação da cultura e memória da ancestralidade africana. Ela faz mestrado em Filosofia na PUC (talvez em Minas?); Tatiane (filha de Jô) é formada em Publicidade e Propaganda, tem um filhinho de 6 anos, e é também trançadeira - uma das poucas na região, e usa essa habilidade como fonte de renda, além de preservação de cultura e trabalho de afirmação de identidade junto às demais garotas e mulheres do Quilombo. Bruno (namorado de Tatiane) é graduado (não lembro em que área) e quando nos encontrou, fez saudações idênticas às feitas por adeptos às religiões de matriz afro-brasileiras. Tivemos uma breve conversa sobre religiosidade, e ele identifica algumas pessoas seguidoras e/ou zeladores/as de terreiros, porém todos fora do Curiaú. O Bruno tem várias historias. Ele vem de outro mocambo do sul do Pará, que foi destruído com a cessão das terras do quilombo para a empresa americana FORD na época do governo militar- criaram a Fordlândia, marcaremos uma conversa com ele, se for possível. Conversamos longo tempo com Joaquina e sua família - filha, neto e o namorado da filha, Bruno. Por enquanto temos um mapeamento básico, e interessante conversar com pessoa de dentro, mas de fora do quilombo. Os bairros periféricos da cidade já cercam a área entorno e não raro tem problemas de invasão. Já tiveram que pedir intervenção da policia para integração de posse e desalojar cerca de 300 casas. Falas de Joaquina- "é difícil a vida la no quilombo, uma parte sai e trabalha fora - meu pai saiu e foi ser funcionário .... Meus pais tiveram 14 filhos e mais uma adotada, hoje tem netos e bisneto. Eu trabalho na policia, fiz curso, fiz concurso e hoje sou delegada. Quando tem problemas no quilombo tento acomodar os conflitos internos e a chamada à ordem Eu não me conformo com aqueles que se acomodam, não se movem pra conseguir melhorias pros filhos. Ha discordâncias internas, há problemas com alguns jovens, às vezes brigas, há dificuldades entre os que vão de fora para o balneário e a frequência dos jovens lá juntos. Minha irmã (Josineide) é três mulheres em uma - sacrifica-se pela melhoria do coletivo."
Ah nas eleições venceu o PSOL em Macapá - por pouco mais de 2.300 votos.
29/10/2012 – Conversa e apresentação à Associação de Moradores (Ponto de Leitura) Hoje fomos ao quilombo para uma primeira conversa coletiva. Inicialmente falamos com Josineide – presidente da Associação. Profissional Liberal (adv.) trabalha na cidade e também cuida da Associação. Diz que pegou a presidência há cerca de um ano e considera que a presidência anterior deixou muita inadimplência e poucas ações, muita coisa parada. Mostrou-nos uma lista de intenções de projetos a serem implantados, estimulados, desenvolvidos, desde projetos culturais, ambientais, de educação etc. A Associação tem uma sede que foi construída em sua gestão, em mutirão de alguns moradores. Tem uma sala de Biblioteca, com alguns livros e álbuns de fotos históricas do processo do quilombo. É onde também serão acomodados os livros para o Ponto de Leitura de Ancestralidade. Na sede fica um policia florestal, que quando pode auxilia na associação. Parece que tem muitos atendimentos, pois pela associação passam encaminhamentos para as coisas burocráticas dos moradores. A presidente parece sempre sobrecarregada e reclama de falta de ajuda, excesso de coisas a fazer ... Em seguida fomos encontrar com outras pessoas que apoiam e/ou colaboram com a Associação do Curiaú. Uma primeira conversa coletiva, se é que se pode chamar assim. Presentes- Joaquina (sra. casada, com filhos, que se dedica em trabalho voluntário na Associação), Silvana (secretaria), Vicente de Paula, Raimundo dos Santos, Josineide (presidente da Associação), José Ferreira (pai de Josineide, Joaquim (irmão do seu José e é um homem muito atento, alegre e cheio de historias), Paulo, filho de Zé Vicente que pareceu interessante de ter uma conversa. Venta muito e a reunião foi ao ar livre – assim, dificilmente o gravador vai conseguir registrar as falas. Foi uma conversa talvez muito formal, e há certo embaraço no ar, - nos apresentamos, falamos do projeto, e as pessoas falaram pouco, alguns nada disseram- e não parecia timidez... será que constrangidos? Será algum acordo interno? Não soubemos. Quem participou mais foi tentando ajudar a formar listas dos que seriam entrevistados.
Em seguida o Sr. Joaquim começou a contar algumas histórias das muitas que se ouve sobre os inícios do Curiaú- Cria U (Lugar bom pra criar gado) Disse que tinha um sujeito (talvez escravizado) que era de uma fazenda lá adiante e vinha sempre pra essas bandas a procura de mel. Um dia falou (pro fazendeiro? Seu dono?)... que havia uma terra muito boa pra gado. Daí o fazendeiro trouxe o gado todo e começou habitar essas terras. Depois vieram os moradores do Mazagão, que é uma região povoada pelos povos do Marrocos, trazidos pelos portugueses (há quem diga da cidade de Al Jazira). Há também a história dos 7 irmãos... bom, tem que ver a gravação dessas histórias, que são muitas, as vezes complementares, outras contraditórias... e vão se somando versões... Da reunião ficou descrito mais ou menos a agenda, ou os que deveriam ser entrevistados. Dos mais velhos: D. Chiquinha, Sr Marinho, da.Zefa, d. Izidia e Sr. Raimundo, Sr. Vicente, Sr. Biló e esposa da. Palmira, Sr. José e Sr. Zé (esses dois estão doentes de cama, talvez de pra ouvi-los) Há uma proposta de Josineide, de fazer uma roda com esses senhores e senhoras – pode ser mais estimulante para a lembrança dos acontecimentos – e fica previsto para domingo dia 04 pela manhã. Da 2ª. Geração – Sr. Joaquim, José Ferreira, Januário, Roldão Araújo, e outros - sábado, dia 3, pela manhã – 9 Hs 3ª. Geração - Chico, Rosilda, Vicente, Sr.Pedro, Paulo , João da Cruz, Zequinha, Tia Maroca, Guita e outros – sábado, dia 3, à tarde as 15hs. (essa roda não aconteceu) Oficina com os jovens – será na 6ª. Dia 02 às 15 hs. Ainda da roda: Eles falam (e todos falam nas outras entrevistas) do calendário de festas – tem o padroeiro – São Joaquim, em agosto, festa de uma semana. Antes se elegia um festeiro que organizava a festa do ano, aquele que pegou a bandeira no ano anterior- e todo mundo ajudava, aqueles que queriam agradar o santo davam um boi – que é pra alimentar toda a gente durante a festa. Antes o padroeiro era Santo Antonio – imagem pequenina – e tem a igreja de santo Antonio no quilombo. Sr. Joaquim conta que teve um dos moradores que foi a cidade e encontrou uma imagem de São Joaquim e ficou encantado – grande e com um santo que está sempre olhando para o céu. Perguntou o preço e era muito caro. Voltou pra casa contou pra família e mais adiante a mãe dele vendeu a única cabeça de gado que tinha e lhe deu o dinheiro pra ir buscar a imagem. Imagem com o santo olhando pro céu. Foi uma festa grande e são Joaquim ficou o santo principal.
Tem um calendário de festas quase todos os meses – algumas são no espaço principal – igreja e galpões de são Joaquim; outras são de uma família local que elegeu um santo, e tem geralmente uma área construída com um galpão ou um terraço grande e la fazem a festa. Também as falas constantes são do batuque e do marabaixo, que se compõe com os ritmos de caixas e tambores e com os improvisos, que são versos criados pelos cantadores, os “ladrão” – versos descritivos de situações que vão observando, muitas vezes irônicos, com fala e a resposta (uma espécie de desafio). Quando acontece algum evento, criam uma série de ladrão. O batuque é uma batida com os pandeiros (grandes pandeiros de couro) e os tambores – batidas muito ritmadas e alegres e as danças também. No marabaixo os instrumentos são a caixa e os tambores, mas a batida e a dança são mais lentas. (numa demonstração é uma dança arrastando os pés e a simulação que está amarrado). Atualmente a festa é patrocinada pelo governo. E, segundo os velhos, tocam muita musica com outro ritmo, muito alta, rápida. O quilombo é dividido, tem o Curiaú de cima, ou de fora, Curiaú de baixo, ou de dentro, e parece que outro Curiaú pequeno... Há também reclamações do barulho noturno que causa conflitos no quilombo- Esse parece ser um dos pontos de grande conflito – alguns moradores abriram casas noturnas, outros cederam pra particulares – e os alto-falantes altíssimos, que são impedidos de acontecer na cidade nas horas noturnas, se instalaram por lá – é um ponto de reclamação em muitas falas. Vem muita gente de fora, e inclusive os menores (meninos e meninas) se misturam nessas festas. Há problemas com os jovens, muitos acabam presos, e há muitas preocupações com as meninas. O quilombo tem uma escola que vai até 8ª.serie, um posto de saúde, um posto policial, e dois postos de guarda que ficam um no centro cultural (museu do Curiaú, que é ao lado da igreja de santo Antonio), outro do deck do balneário- de fato, duas mulheres, irmãs, da comunidade, que foram escolhidas como funcionarias e os seus maridos, também funcionários, fazem a guarda à noite. Atualmente tem um engenheiro, provavelmente da Secretaria de Obras que está indo ao quilombo conversar com os moradores, pois o governo destinou verbas para a construção de casas, dentro do projeto “minha casa, minha vida”. Ele nos diz que há muitas indecisões, idas e vidas, razões e desrazões contraditórias dos moradores,- e que finalmente parece que ninguém ou pouca gente quer a casa financiada (apesar dele insistir que é
um financiamento excelente). Seriam construídas casas independentes (mas populares, com cerca de 40 m²). Pelo menos, esse engenheiro salvou-nos: deu carona até a cidade.
Entrevistas com os mais velhos 30-10 - ENTREVISTA COM da. IZIDIA RAMOS DA COSTA (87anos) e Sr. RAIMUNDO DA COSTA, chamado de Sr. Guri (96 anos) Com a presença do filho – Manuel Ramos da Costa, na casa deste, pois a casa/área do casal é bem mais adiante, e, como dizem, um lugar grande, muito bem construído, todo cheio de plantas e flores, etc. Fomos recebidos na varanda ampla. Ainda no terreno tem também uma construção grande com ampla varanda coberta que é um restaurante onde a família do seu Manuel (e esposa, filhos e parece que tem empregados) gerencia, e servem refeições todos os dias. Da. Izidia parece bem disposta, atenta e boa memória, mas ficou cega. Sr. Raimundo, ou Sr. Guri, está bem, mas é sempre corrigido nas coisas que lembra. Da. Izidia... sempre estalando a língua, corrige com um ar sábio, e os homens se calam. Linda mulher. Nasceu no Curiaú. Contam que o Curiaú era um retiro na BR(rodovia). Na época da escravatura, um dos escravizados buscava mel na região, achou o Cria U, com área fértil e boa para o gado. O senhor dos libertos, finado Beto Severo, veio com o gado e os homens pra região. Depois juntou com os negros do Mocambo, que eram fugidos. Antigamente tinha muita fartura, pirarucu “que nadava de costas”, e tinha a época da subida dos peixes pra nascente, pra procriar. Pegavam peixe sempre para o consumo, mas era muito. No local tem 18 ilhas e 18 poços de água (criadores de peixes). As casas eram feitas com juçara e buriti (palmeiras) Sr. Raimundo é de fora do Curiaú, chegou com 5 anos na região- casou com da. Izidia e tem 12 filhos, todos vivem dentro do Curiaú. Tem muitos netos e 80 bisnetos, e embora diziam que não tem tataranetos, da. Izidia logo corrigiu que tem muitos a caminho pelo menos.... (coisas que mulher sabe...) Sr. Raimundo tem uma área grande, comprada e expandiu comprou mais terras e é onde mora. Parece que é terreno fora do Curiaú . Atualmente o casal vive mais na casa do filho, Manuel. Diz que já fez muita agricultura, plantio e gado, atualmente acha que tem pouco incentivo. Fala da necessidade de incentivo do governo pra poder melhorar.
Da. Izidia diz que quando criança havia muita fartura, trabalhou muito na roça. Hoje falta, tem pouco peixe. Da. Izidia tem um irmão, tio Zé, pai da Zefina, que mora no Laguinho, outro bairro de Macapá, fica do outro lado da cidade. Ambos falam das festas do Curiaú, dos tambores das musicas do marabaixo. Antes iam às festas, gostavam, mas não tocavam ou dançavam. Sr. Raimundo parece não gostar. De fato, na entrevista, Sr. Raimundo que fala muito e de alguma maneira constrangeu a conversa de da. Izidia, que parece bem mais contadora de casos e teria que ir mais devagar com ela, pra dar tempo pra história. Talvez será bom no encontro com os outros. Eles gostaram da ideia de encontrar os outros de sua geração. Fomos interrompidos pela TV Record de Macapá, que veio acompanhar um pouco da entrevista e nos entrevistar- saímos- IPR- na TV!!!! Repórter Wedson Castro – tel. 37242 0788 ou 3724 0788 (não tenho certeza)
30-10- Conversa com Sr. Benedito Machado dos Santos (Sr. Biló) e Da. Palmira, esposa. Seu Biló, 85 anos, filho de vaqueiro, nascido no Curiaú. Da. Palmira, 76 anos, nasceu na Ressaca (bairro mais adiante na estrada do Curiaú), e veio com seu Biló, casados a 59 anos, 12 filhos, todos morando no Curiaú. Plantam muitas arvores frutíferas e tem uma área de plantio de mandioca (maniva) e uma casa de farinha, que nos mostrou cuidadosamente todo o processo, onde agora tem uma maquina de ralar mandioca elétrica que facilitou o trabalho; fazem farinha na época das águas que é melhor pra lavar e a mandioca fica mais fácil; mandou fazer dois poços dentro da sua área pra criar peixe. Criou muito peixe em outras épocas, mas foi roubado em peixe e também nos plantios e no gado, por gente da própria família. Agora de velho, mora com filha e filho e continua as lides do campo. Pretende retomar os lagos e criar peixe,- fala nisso como aposentadoria. Na área o genro tem criação de gado e búfalos, e seu Biló mostrou as técnicas que tem pra chamar o gado pra dentro do cercado – queima esterco e eles vem, ou ainda quando quer grita - Vem Comer ! Vem Comer! E eles vem tudo. Da. Palmira acompanha as falas, e se preocupa em dizer que mulher com filho tem muita necessidade, é muito difícil. “melhor marido pra mulher é o estudo, vai se cuidar e se manter independente!” Seu Biló:”meu pai nunca contou história de como era antes, e dos ramos da família, então não sei, mas ele já morava aqui com a minha mãe”. Sr. Biló nasceu no quilombo, morava em outra área e depois veio pra atual, os filhos moram todos no quilombo na área limite, onde as casas foram
construídas pra impedir invasão da cidade. O limite Curiaú/bairro é uma rua. Longa. Lá pro final tem a entrada pra área deste casal. Eles falam das festas, mas o tempo maior eles reclamam que atualmente tem um enorme barulho, com os alto-falantes ligados extremamente altos, com festa toda hora. “ninguém mais dorme por aqui”. Eles se referiram muitas vezes a esse problema. (Também outros moradores, e a própria presidente tem em conta esse conflito)
31/10/2012 – Andando pelo Território Pela manhã, nossa recepção falhou, confundiu as possibilidades de entrevistas, e nada marcado. Andamos longamente pelo Curiaú – de dentro e de fora, na BR, até o deck do Balneário, Casa Grande, Vila Ressaca, Abacate. No deck, tinha um posto de guarda, com uma guarda mulher. Paramos na igreja Santo Antonio, onde tem festa em 13 de junho. Conversamos com uma família, que estava muito restrita nas respostas, e depois fomos ao museu do Curiaú, ao lado, onde conversamos com outra guarda, mulher também. As duas guardas (do deck e do museu) são irmãs. Durante o tempo em que passamos no museu, a profissional nos informou sobre o parentesco com a outra guarda e ainda que um tio, que foi presidente da associação de moradores do Curiaú, empregou outros familiares nestes postos públicos. Na porta do museu há uma placa com a seguinte frase: “Esta obra foi concluída para honra e glória ao nome do senhor Jesus Cristo” Almoçamos no terraço do Sr. Manuel. Voltamos à associação e a ideia era ir ate o Laguinho (bairro de Macapá) buscar dois idosos pra entrevistar junto com Da. Chiquinha (tia da Josineide) no quilombo, mas correu boato que tinha falta de gasolina na cidade - estamos com o carro na reserva e há filas enormes nos postos de combustível. Então ficamos no Laguinho a fazer entrevistas.
31/10/2012 - Entrevista com da. Josefa (da. Zefa, 96anos) e Sr. Marinho (93anos)- muito alegres. Ambos moram fora do Curiaú. Da. Zefa nasceu fora do Curiaú, mas quando a mãe morreu foi morar no Curiaú com o padrinho, família que era irmã da mãe de dona Chiquinha (e elas se consideram irmãs).
Sr. Marinho nasceu e viveu no Curiaú, e também era parente das duas – são primos. Sr. Marinho também viveu longo tempo no Curiaú, depois se mudou para o Laguinho. Mora com a filha e netos. Ambos se criaram no Curiaú, mas depois vieram morar no Laguinho - e não voltaram pra lá - talvez tenha algo a ver com o acesso à distribuição de terra. (Da. Zefa e Sr. Marinho - ambos moram fora do Curiaú e também a Da. Tereza, que visitaremos em seguida). No Laguinho - houve distribuição do terreno pela Prefeitura e as pessoas construíram as casas. Eles, Da. Zefa e Sr. Marinho tem uma filha Raimunda que mora com da. Josefa – um extra, como eles dizem – “a gente era jovem e inocente, ela era mais velha, bonita e tava separada – foi sem maldade”, diz Sr Marinho. Ela diz “nessa época eu já era dona do meu corpo”. Depois se casaram com pessoas diferentes, ela novamente, e ele casou. Da. Zefa cantava e compôs vários „ladrão‟. Cantou vários versos. Aos 50 anos, o segundo marido também abandonou, e ela resolveu não ter mais casos. Criou os 8 filhos lavando roupa pra fora, trabalhando na roça, e cantando e dançando nas festas do quilombo. Costumavam os dois, além disso, trabalhar nas fabricas de farinha do Curiaú e trazer sacos de farinha nas costas até Macapá (14 Km) pra vender. Da. Zefa diz que criou a festa de Maria. (tem essa historia registrada em 2 gravações) Marabaixo e muitos versos - ambos dançavam muito e gostavam.
31-10 – fim da tarde, Entrevista com da. Tereza, 107 anos. Da. Teresa parece um pouco cansada. Faz muito calor e em sua casa bate muito sol à tarde, por isso marcamos à noitinha. Vive em Laguinho, com o Neto, Sr. Raimundo. Fala muito baixinho mas é muito lúcida e atenta a tudo. “Minha família já estão todos mortos.” Da. Teresa teve 13 irmãos Pai e mãe: Maria Rosa dos Santos e Manoel Inácio dos Santos Avos maternos – Severiano Pinheiro dos Santos e Rosa Francisca de Miranda. A família era de Mazagão Velho e vieram pro Curiaú, os bisavós. Ela nasceu no Curiaú, vivia da roça, plantava, depois veio pra Macapá pra trabalhar – trabalhava como limpeza numa companhia de aviação. Lembra-se de Festas de São Joaquim, Santo Antonio, Santa Maria. Casou e teve 5 filhos, um homem. Mas depois separou e criou sozinha os filhos.
Atualmente moram na cidade por conta da idade dela e quem cuida é o seu neto Sr. Raimundo. Vivem na casa de madeira, e ao lado mora uma filha de da. Tereza, também idosa. Sr. Raimundo diz que todos na família gostavam de musica, e ele faz parte de vários grupos de batuque e marabaixo ali no Macapá. Ele nos conta os significados do marabaixo e batuque- “são dança de negros!” o batuque é quando o senhor tinha uma boa colheita ele dizia pros negros escravizados que podiam ter uma mão de couro (era a roda do batuque pra festejar). O marabaixo é o lamento, é o escravo narrando um acontecimento triste- é pesado, tem grilhões nos pés, um fala e outro responde. .... Sr. Raimundo, neto, cuida afetuosamente da avó. Trabalhava fora da cidade, mas deixou o trabalho e agora vive e trabalha só no Macapá, para cuidar da avó e da tia. Moram numa casa de madeira que está em precário estado, com uma escada de madeira que dá medo de subir. Tudo muito difícil e parece que não tem iluminação elétrica. Essa senhora é mesmo uma heroína sobrevivendo 107 anos nessas condições! Ele canta e agita vários conjuntos de musicas regionais (semelhante ao Sr. Pedro Bolão, que falaremos mais adiante). Da. Teresa estava cansada. Mas se animou quando convidamos para o encontro dos mais velhos no domingo, lá no Curiaú. Seu neto objetou que seria muito difícil, pois ela é cadeirante, etc. Mas Da. Tereza avisou que iria. E assim fomos buscá-los no domingo para o encontro. No domingo, no táxi, a caminho do Curiaú, Sr. Raimundo contou que após alguns anos viajando a trabalho, cada hora em uma cidade diferente, decidiu retornar à sua casa para cuidar de sua avó (Dona Tereza) e da tia, ambas já idosas. Embora tenha conseguido alguns empregos fixos, optou por abandoná-los, mesmo tendo consciência de que sua renda não seria suficiente para custear os gastos da casa. Sr. Raimundo afirma que não se arrepende em viver de “biscates”, pois dessa forma tem tempo suficiente para cuidar da avó e tia (cozinha, limpa a casa, etc.). Aponta que uma das coisas que mais o incomoda, são as constantes promessas de pessoas, que se comovem com as condições precárias da casa onde vive Dona Tereza, e prometem reformar ou compra outra casa em espaço melhor. Ele ainda diz que tem feito de tudo para protegê-las destas pessoas, pois elas sempre ficam esperançosos. E nada acontece.
03-11 –à noite. Visita rápida à casa de da. Chiquinha e seu filho, Pedro Bolão.
O objetivo era verificar se estava tudo bem para o encontro com os idosos no dia seguinte. De inicio conversamos um pouco com da. Chiquinha, que é uma senhora muito animada, e sua filha, Esmeralda, que é escritora e esse ano seria a patrona da Feira do Livro que se realiza nesse momento em Macapá. Da. Chiquinha sempre viveu no Curiaú. Foi casada com o Sr. Maximiliano Machado dos Santos, o Sr. Bolão, falecido. Esse Senhor Bolão era um homem muito animado e criou um grupo de Batuque e Marabaixo, inclusive em sua casa tem um grande galpão, onde se realizam festas de santos. Da. Chiquinha diz que criou a festa de Na. Sra. de Guadalupe, pois ficou encantada com a santa que conheceu em uma conversa com o padre. Ela sente no momento que está tendo algum problema com a vista e me pediu que lhe desse uma imagem de Santa Luzia: dia seguinte, andei Macapá atrás de uma casa de santo; encontrei e levei a imagem de Santa Luzia– as fotos de da. Chiquinha mostram a imagem. Da. Esmeralda, filha, é uma senhora escritora e prendada, atenciosa e alegre. Além de escrever livros e poesias (mostrou alguns impressos), também costura, faz bordados e cozinha paras festas. O Sr. Pedro Bolão, filho, é um homem muito expansivo, tem um grupo de musicas regionais, em parte com a família e inclui a mãe, e já faz shows pelo Brasil (tem um agendado pra São Paulo, este ano). Junto com os filhos tocam caixa, pandeirão e tambores. Eles também constroem e vendem esses instrumentos. O Sr. Bolão nos presenteou com dois CD gravados pelo grupo.
Entrevistas externas ao quilombo
01/11- Entrevista com Núbia, da CONAQ – Coordenação Nacional de Comunidades Quilombolas. No seu trabalho foram mapeadas as comunidades Quilombolas do Estado, e 12 pessoas fazem o acompanhamento. Falou de outras pessoas do Curiaú com atividades locais – Sr. Sebastião Menezes da Silva (escritor), Creusa Miranda, presidente do grupo de mulheres, e de Festas Tradicionais. Situou um pouco os conflitos do Curiaú. Vários grupos em divisão secular, com o problema da distribuição e posse das terras. Atualmente tem um problema grande com a associação – há desconfianças sobre a distribuição das terras entre os moradores, na regularização do quilombo. Repetiu que
Associação tem conflito com toda a população (o que a própria presidente também contou). Em 1900 e poucos eram três comunidades onde tiveram a 1ª. titulação do quilombo, mas separado – Curiauzinho, Pequeno, de Fora, Curiaú mirim- na fronteira com Ipê e N.Horizonte. Núbia faz uma observação quanto ao Curiaú Mirim: localizado na divisa com os bairros Novo Horizonte e Ipê, ficou destinado aos moradores (descendentes quilombolas) que regressaram ao Curiaú. Estratégia para impedir novas invasões de pessoas da cidade. Atualmente há conflitos partidários – um grupo familiar beneficia a Escola, há quem é ligado ao governo federal. Diz que não é difícil encontrar grupos partidários (citou os de direita) que estão dentro das comunidades oprimindo os moradores - conflito de terra. Núbia afirma que no Macapá dificilmente um quilombola se assume quilombola, negro/a e/ou adepto/a de religiões de matriz africana. Isso devido a grande repressão e assédio que sofrem, principalmente da igreja pentecostal. Talvez esse seja um dos motivos pelo qual a maioria não nos recebe nas casas e sim nas varandas ou malocas. Quanto a autoafirmação da negritude, durante as conversas na pesquisa, os mais velhos se assumem mais do que os mais novos. Durante a pesquisa, segundo a Cintia “pude constatar a partir das falas de alguns moradores, que assuntos como a autoafirmação foram mais constantes quando estávamos a sós. Isso, bem provavelmente, por conta de uma identificação e da proximidade étnico-racial”. Segundo Núbia, Macapá tem 34 comunidades quilombolas. No Amapá tem 154: no ramal Rio Pedreira – 44; Rio Malapi – 15 comunidades certificadas, BR156 – que vai ate Oiapoque – 80 comunidades, Mazagão, oriundo da passagem dos negros, Santana - Igarapé do Lago – 30 comunidades, até Mazagana. Faz fronteira com o Platô das Guianas Indicações da Região: Tem que conhecer a Maloca do Bolão (no terreno de dona Chiquinha) Tambor de Mina – Culumbu do Paluazinho- em Oiapoque Falar com a Mãe do Sabá – Sebastião Em Casa Grande – houve rebelião por conta de posse de terra. Sr. Bernardo: conflitos de terra e por conta de mulheres. Falou do: Encontro da Juventude Quilombola, Brasília, 22 a 25/11 Encontro dos Tambores Feira Quilombola de 27 a 30/11
Dia 01/11 – conversa com o Secretário Estadual da Juventude (do Amapá)– Alex Nazaré Alex diz que no Curiaú tem um projeto de Orquestra – trabalho do Instituto Essência com a Oi Futuro (financia) – proposta é formar músicos e dão os instrumentos para a orquestra. Conselho comunidades quilombolas – CECADA (também Sr. Sebastião e a Núbia falaram nisso) Associação de Mulheres Raízes do Bolão –filho de da. Chiquinha, tem um conjunto de Marabaixo – e produzem instrumentos. Da Secretaria da Juventude: projetos judô, caratê, cinema Falou um pouco dos programas que sua secretaria tem para os jovens: Credito pra juventude – credito individual de 1 a 10 mil reais pra abrir um negocio, 1 ano pra pagar em 60 x com juros de 0,5% se pagar antecipado, e 2,5 se na época.Tem até agora 20 negócios financiados Referencias da juventude e da cidade: 23 a 25 – Seminário da Juventude negra. Museu Sacaca – medicina tradicional. (levou-nos a passear no museu) Biblioteca Estadual Luli Tarso. Juventude Maruarum – SEAFRO Secretaria de Politicas Afrodescendentes. Área da Ressaca – periferia, hip hop, grafiti, biboys. Juventude indígena Marabaixo – tem varias casas – tem ladainha, reza, mastro, dança Também Mazagão e Santana Sul do Estado – Tumucumaque Terras indígenas homologadas. Carnaval- Boêmios do Laguinho, Maracatu da favela Radio Comunitária “Novo Horizonte” – Sr. Raimundo. Depois fomos fazer uma entrevista na Rádio – Programa juventude. Junto com o Secretário e apresentamos o projeto.
Jovens 2012-10-02 - workshop com os jovens
Presentes: Silvana, Diele, Diogo (garoto), Dirane, 19a., Cassia, 18, Joice, 16, estuda em Macapá, Sara, 20 – idem, André, 24, não nasceu no Curiaú, Luan, 19, ensino médio, Ale Lumira, mora ha 9 anos, família mudou pra cá, Joaquim Leandro, nasceu no Curiaú de fora. O encontro foi um pouco cortado pela presença de um adulto, Sr. Joaquim, que sempre se punha a narrar as questões antes e pelos dos jovens. Alguns falam mais, outros quase nada, mas praticamente todos afirmam que gostam de morar no Curiaú e consideram um privilégio, porque tem toda a família por perto, são amigos, tem uma área limpa, grande e linda pra viver. Citam problemas como a distancia da cidade, a dificuldade pra frequentar escola para além do ensino básico que tem no Curiaú, pois além da distancia, há pouco transporte (ônibus) e às vezes a família não dispõe de dinheiro para a passagem. Então muitos não vão além no estudo. Também dizem que a diversão é limitada, pois teriam que ir ate Macapá e tem os problemas com o transporte. Têm dificuldades para arranjar empregos, pois estes seriam na cidade e as pessoas dispensam ou não selecionam estes moradores jovens, devido à distancia. Reclamam (talvez pela presença do adulto) da frequente passagem de moradores da cidade na estrada, e as provocações que fazem; além disso, falam dos bares que tem programas sempre e até muito tarde. Dizem que há problemas de assédio e corrupção de menores, que sem o limite das famílias, frequentam ingenuamente esses bares até tarde, e acabam inclusive se prostituindo, engravidando etc. Gostam das musicas tradicionais e contam as histórias do Batuque (festejando a boa colheita) e do Marabaixo (lamento), histórias que eles repetem sobre os significados destes ritmos. Mas gostam também e muito das musicas atuais, inclusive o funk (e para ilustrar isso, uma das jovens se pôs a tocar as musicas que constam em seu celular. Alias todos/as tem celulares modernos e estão sempre conectados. Sobre sexo parecem conversar mais entre os respectivos gêneros. Dizem que as famílias não permitem que durmam juntos nas casas, embora algumas moças tenham filhos, ainda solteiras e ha muitos casos de casamentos não legalizados no Curiaú. Complementa o encontro com 2 jovens no sábado, dia 03-11-12: Sizane – mora a 10 anos no Curiaú, com a mãe, que não é do Curiaú, e é vizinha do pai. (Seguramente, a jovem veio pra garantir terreno dela e pra mãe, que não teria direito, já que se separou do pai). É secretaria da Associação. Fernanda Leite dos Santos (neta do Sr. Joaquim), estudante, trabalha de domestica em Macapá, dorme na cidade e só volta pra casa da mãe onde mora nos fins de semana. Pais- Oscarina e José Leite da Paixão, e avô- Clarindo dos Santos Filho, e o Sr. Joaquim da Paixão. As respostas são semelhantes às do outro grupo. Porem, essas jovens falam de maneira mais explicita que existe um assédio e um desrespeito às
jovens do Curiaú, pelo fato de serem mulheres negras e remanescentes quilombolas. Apontam também que acreditam que os homens de fora tem uma conduta abusiva, devido a esse preconceito, e facilmente convencem garotas, que se iludem com a possibilidade de sair da Comunidade, para viver uma vida com maiores facilidades e bens materiais. Dizem já ter sofrido preconceito fora do Curiaú, quando se identificaram moradoras da região, pois algumas pessoas dizem que as pessoas do Curiaú são festeiras, as mulheres bonitas e não se intimidam em assediar ou discriminá-las.
Adultos 03-10 - Sábado, manhã - Encontro com adultos. Roda com adultos Deve-se salientar que vieram três casais (aparentados e parentes da presidente da Associação) e mais uma pessoa lá do Curiaú de dentro, que ao menos nessas questões parece concordar com as posições. Era um grupo coeso e tinham a história articulada entre eles. - Raimunda Leite da Paixão, casada com Sr. Joaquim Araújo da Paixão. Irmã da da. Inácia e da. Maria - Maria Leite de Araújo, casada com Sr. José Pereira de Araújo, pais de Josineide (pres. Associação) - Inácia Souza Leite, vive com Sr. Antonio Picanço, mas não casaram no papel. *Todas filhas de Alice de Souza Leite e Oscar da Costa Leite - Manuel Ramos da Costa, Filho de Da. Izidia e Sr. Guri. Saiu um tempo do Grajaú e voltou. Seu irmão mora Tb no quilombo, e tem 3 irmãos que moram fora. Da. Izidia nasceu no Curiaú, o Sr. Guri, filho de Cearense, Sr. Oscar, com uma moça de Araguari do Maranhão. - José Pereira de Araújo Segundo sua filha, Sr. José saiu do Curiaú, virou funcionário e criou os filhos fora. Depois voltou. Diz que é bisneto dos primeiros donos do Curiaú* - *Maria Joaquina dos Santos e Vicente Paulo dos Santos. - Joaquim Araújo da Paixão, 67 anos, e irmão do Sr. José Nasceu no Curiaú e continua ali vivendo. Oficina: Com eles fizemos uma linha de história das famílias – algumas.
Contam que 7 irmãos herdaram do dono da terra. Tem documento de 1892, diziam que tinham 3 documentos, mas os três eram copia do mesmo documento. O primeiro documento foi da Sra. Domingas. Faz doze anos que o quilombo foi regularizado, 1998, pela Fundação Palmares, que deu o 1º. Titulo de quilombos, junto com a nova Constituição. Regularização estipulante Houve três guerras – invasões da terra. Dizem que há problemas porque “os do Curiaú de dentro, ou de baixo, muitos tinham vendido parte de terrenos para outras pessoas, fazendeiros e muitos deles ainda querem vender as terras ou abrir negócios junto com comerciantes da cidade”. À pergunta se isso separa o Curiaú de fora do de dentro, ou se tem conflitos em ambos, mudaram de assunto. MAPA – DE FILIAÇÃO Sr. José e Joaquim 2 Bisavós: Domiciana, casada com um africano Foloforro, mãe da avó Custodia Maria do Rosário Domingas Espirito Santo, mãe da avó paterna, casada com Berto Aires Ramos. Sr. José: pais: Manuel Custodio dos Santos (Curiaú) Otilia Pereira de Araújo (índia, Aldeia Matapi) Sr. Joaquim: pais: Francisco Marinho da Paixão (Curiaú) Maria Oliveira da Paixão (Campina Grande De ambos: Bisavós- do Mazagão, e igual aos da da. Izidia Ramos da Costa Pais do Pai- Vicente Paulo dos Santos e Maria Joaquina dos Santos Pais da Mãe – igual aos Santos – Manuel José e Joaquim As 3 irmãs - filhas de Alice de Souza Leite e Oscar da Costa Leite Pai é irmão do Sr. Guri (pai do Manuel), veio de Araguari Mãe – Alice de Souza Leite Bisavô- Severo dos Santos Bisavó- Maria Rosa dos Santos. TENTATIVA DE MAPA DA HISTÓRIA No começo eram sete irmãos, que foram escravizados. Os sete vieram com o patrão, um português que ficou doente e quando chegaram no Curiaú, fugido, vieram para Pedreira (Retiro Paiol Grande). De lá saiu o pegador de mel- murumuru, de amêndoa (sabão); de mungubeira. Eles conhecem só as duas irmãs (Domingas e Demissiana)
Domingas teve 2 maridos, e os filhos: Duca, Manuel Céculo Ramos, pai de Izidia, avô do Manuel Berto Demiciana – filhos: Custodia Clarindo Gerenaldo 1941- Sr. José que teve 15 filhos, tinha 6-7 anos e o Curiaú era como vila. Só roça. As casas eram de palha de palmeira Casa de farinha – na casa do pai ou faziam conjuntos e produziam farinha de mandioca 1960- Sr. Joaquim- faleceu seu pai, e criou os irmãos – casou com Da. Raimunda. 1966- Foi instalado o Posto médico e usina geradora de luz 1977- Instalado o Posto médico atual Murilo na Prefeitura Sr. Joaquim era representante da Comunidade, o Sr. José Araújo da Paixão, irmão, era da Associação. Até 1979 energia elétrica de Santana vinha somente ao Palácio do Governo Em 1979 - Linha de eletrificação – O Prefeito atuava nos bairros mais velhos de Macapá. Programa energia para o estado todo. Quando passou de território a estado do Macapá – fizeram o asfalto, e construíram a estrada faz uns 10 a 12 anos- governador Capiberibe A Avenida vinha de Macapá até a Igreja Sto. Antonio. 1998 – regularização do quilombo. Curiaú de dentro- regulariza em condições excelentes, conforme o grupo. Tinha anteriormente 3 documentos de propriedade. Intercederam e passaram os documentos, nesta geração para regularizar titulo. Houve muita luta, disputa Gestão do Coruja (Noro) na Associação, depois foi presidente Raimundo de Souza, e a Josineide – atual presidente. ______________
Dia 03-11-12 – a tarde – Dia 03-11-12 sábado, dia 3, à tarde as 15hs.
Para este horário estava agendado o grupo da, chamada por eles, 3ª. Geração, com os srs/sras: Chico, Rosilda, Vicente, Sr. Pedro, Paulo , João da Cruz, Zequinha, Tia Maroca, Guita e outros – Dirigimo-nos ao local e aguardamos um bom tempo e nenhum compareceu. Não tivemos noticia do que aconteceu com essa convocação. E também não tivemos contato com essas pessoas, nem uma indicação para encontrá-los. Só mais tarde vieram duas moças - Fernanda Leite dos Santos e Sizane, que disseram vir para a roda, e cujas entrevistas foram somadas à roda dos jovens. (está relatado junto com workshop dos jovens, já que não apresenta diferenças grandes)
03-11-12- à noite
Deveria ter um encontro com pessoas que não fazem parte da associação (ou não compartilham as ideias/posições com os adultos entrevistados pela manhã) Nessa noite teria, após o culto que se realiza na igreja do Santo Antonio, uma reunião, que seria marcada pela irmã de Sr. Manuel, Claudete, que previa no sábado, um dia de convite casa em casa. Conforme combinado, pela manhã um de nós foi ao encontro de Claudete para realizarmos o corpo-a-corpo. Embora tivéssemos confirmado a presença por telefone, por algum motivo desconhecido, não conseguimos encontrá-la nem em casa com os pais, nem por telefone, neste dia. Por isso não foi possível realizar o corpo a corpo e convidar moradores do Curiaú de Baixo para uma roda conversa para apresentar o projeto e se possível realizar a pesquisa com eles também. Fomos até a Igreja só de passagem, pois diziam que eles não nos receberiam. Todavia, havia um casal que nos atendeu e nos levou até o Sr. Sebastião (escritor), que saberia de tudo. Sr. Sebastião, muito atencioso, mas desconfiado, nos faz muitas perguntas e diz que está muito ocupado. Conseguimos agendar uma conversa para o dia seguinte “de 14 às 15 horas”. Obs.: O Sr. Geraldo foi o primeiro presidente da Associação. Ele é irmão do Sr. Manuel, filho de Da. Izidia, e parece ter oposição com o grupo da Associação, que iríamos encontrar na Igreja Santo Antonio nessa noite; mas como narrado acima, houve desencontros com a Claudete, irmã deles e que deveria ser a mediadora dessa conversa. No dia seguinte encontramos
outro irmão que estava no restaurante do Sr. Manuel, e que nos cobrou a ida à Igreja Sto. Antonio na noite anterior. O 2º presidente foi o Sr. José Araújo Paixão, que é irmão do Sr. Joaquim e que também não apareceu nas entrevistas (ou não foi chamado) Numa conversa com o Sr. Manuel, sobre os conflitos no Curiaú, ele nos dá a versão de que os moradores do Curiaú tem problemas com a regularização porque veem mais vantagens em poder vender seus lotes de terra, ou fazer comercio, abrir bares com baladas, etc. Há uma pressão forte dos fazendeiros e moradores da cidade sobre a terra naquele balneário e muito interesse na compra de terras. Outras versões dizem que o conflito é secular, sobre a posse das terras e, mais recente, é uma questão da distribuição de terra e das normas que foram estabelecidas na regularização. Dizem que há pessoas com direitos que ficaram de fora, e outras que não teriam direito e que pegaram terras para si e pra todos seus filhos.
04-11 – Domingo - Encontro com Guardiões da Memória – Os mais velhos Foi acordado, sugerido por Da. Josefa, que o encontro seria na casa de Da. Chiquinha, que é tia da Josineide, mãe do Pedro Bolão, que é musico das coisas tradicionais, Marabaixo e Batuque e mantém um conjunto que se apresenta pelo Brasil. A casa é pequena, mas tem um galpão muito grande que é onde fazem a festa de Santa Guadalupe, e parece ser um território mais neutro para encontros. Organizamos um lanche e praticamente fomos buscar cada um dos senhores/as em suas casas pra levar e trazer ao local de encontro. Eles estavam todos muito arrumados para o evento. - vieram: Da. Chiquinha Da. Josefa Sr. Marinho Da. Teresa Da. Izidia e Sr. Guri Sr. Biló Veio mais um que ainda teremos de consultar o nome
Estiveram também o Sr. Bolão e família, que inclusive proporcionaram musica, onde o Sr. Raimundo (neto de da. Tereza) cantou. - Sr Raimundo - a filha de da. Josefa e Sr Marinho - filha de da. Chiquinha - Esmeralda - Josineide, Silvana e Sizane e mais três rapazes jovens, dos que estiveram na roda de conversa no dia 02. - chegaram depois outros adultos, todos animados com a reunião. Antes de começar, houve um movimento, pois veio a TV Globo local, para entrevistar a Associação, alguns presentes e também fomos entrevistados e depois apareceu na TV repórter local. Também havia outro grupo de escritores, inclusive esperavam pelo Ignácio Loyola, que estava na cidade, mas não apareceu no local. A filha da da. Chiquinha, da. Esmeralda, escritora, estava convidada e era homenageada na Feira de Livros da Cidade. Paralelamente, o Sr. Pedro Bolão preparava e nos ensinava a fazer gengibirra (bebida típica do Curiaú, preparada para dias de festas). Nesse momento um de nós presenciou uma cena, que os moradores disseram ser comum. Motos de alta cilindradas em alta velocidade na pista, aceleravam exatamente em frente das casas onde há uma grande quantidade de pessoas pra fora. Além de acelerar, empinavam as motos, num sinal de intimidação. Logo as pessoas presentes disseram que se trata de médicos, juízes, os doutores da cidade, que todo final de semana passam na região em direção ao balneário. Ainda afirmam que há cenas piores, como mulheres que, na garupa das motos, ficam nuas em certos trechos da rodovia. Estes são os mesmo que muitas vezes estão nas festas e assediam as “nossas meninas”.
Do encontro com os guardiões Eles vieram e se organizaram sentados todos como „alunos em sala de aula‟ deixando a pesquisadora isolada lá na frente! Estivemos o tempo todo emocionados e aquela situação era desconfortável. O que perguntar a eles? Havia milhões de perguntas e nada parecia suficientemente adequado. Alguma coisa como „como é viver em um quilombo‟? Quais os fatos mais marcantes que aconteceram nesse tempo? Como viviam antes? O que é diferente?
Poucas respostas. Aparentemente há um acordo de resistência, em não tocar em qualquer assunto que pudesse sugerir um desacordo entre eles. Há embaraços, alguns desconfortos – silencio e os gestos pareciam dizer mais que palavras. Foram convidados os outros presentes mais jovens para que fizessem perguntas aos mais velhos e eles também tentaram algumas, como „vamos dizer os nomes dos pais e dos avós, vamos fazer uma árvore genealógica. Pouca animação. Finalmente a questão se generaliza quando alguém diz – bom mesmo eram as festas. Há quantas festas?! Logo identificam quem dançava, cantava, os que faltam agora, as diferenças entre a musica que faziam e as de atualmente (põem ate microfone pra cantar!!!) . O Sr. Guri por exemplo tocava clarinete, enquanto as mulheres todas dançavam e a dona Josefa fazia ladrão (composições continuando a proposta da musica), alguns dos homens cantavam e passaram a lembrar os bons cantores e cantoras de outra época. Em seguida o Sr Bolão, seus filhos e alguns jovens pegaram os instrumentos e todos começaram cantar e dançar. O Sr. Raimundo, neto de Dona Tereza, mostrou sua arte no canto. Foi memorável. Depois, outros entrevistados disseram que esse encontro foi um feito marcante. Há muito tempo não se encontravam esses mais velhos e muitos já tentaram reuni-los, sem sucesso.