Associação dos Moradores e Produtores Rurais das Comunidades de Macuco, Mata Dois, Pinheiro e Gravata – APRONPIG Associação Quilombola de Macuco Minas Novas/ Minas Gerais
Sumário 1 17-2-2013 – Comunidade Quilombola do Macuco – reunião mensal dos associados e apresentação da pesquisa. 2 18-2-2013 – Reunião com Associação Quilombola do Macuco 5 20-2-2013 – Comunidade Quilombola do Gravatá 8 21-2-2013 – Comunidade Quilombola do Macuco 11 22-2-2013 – Comunidade Quilombola do Pinheiro 14 23-2-2013 – Comunidade Quilombola de Mata Dois 16 23-2-2013 – Comunidade Quilombola do Macuco – Encontro com os Jovens 18 24-2-2013 – Comunidade Quilombola do Macuco – Encontro com mais idoso - da. Maria Nunes Rodrigues, 93 anos 20 19-2-2013 - Minas Novas - Entrevista com Mestre Antonio Bastião 21 23-2-2013 – Minas Novas – Entrevista com Itamar Alves de Souza – Assessor da Associação e de comunidades quilombolas no Vale do Jequitinhonha. 23 Entrevistas com o governo local 21-2-2013 - Entrevista com Secretaria Municipal da Educação 25 19-2-2013 - Entrevista com Secretaria com Secretaria Municipal de Cultura 25
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17/2/13 – Comunidade Quilombola do Macuco – reunião mensal dos associados e apresentação da pesquisa. Depois de uma viagem desde Montes Claros, chegamos a Minas Novas, aparentemente uma cidade pequena, e sendo domingo quase todo comércio está fechado. Encontramos o Itamar Alves de Souza, que é um articulador das comunidades, e fomos diretos para a Associação Quilombola do Macuco, que agrega os quilombos de Macuco, Mata Dois, Gravatá e Pinheiro. Distante cerca de 9 Km da cidade, chega-se a uma bela sede, construção nova, com divisões internas para as atividades. No momento eles estão lendo uma ata da formação do Conselho, apresentada à Diretoria da Associação e aos associados. Uma reunião grande havia mais de 50 pessoas. Na formação do conselho dizem que assume, Rosa do sindicato, Geraldo, como representante da Associação Quilombola. E André Ferreira de Matos, o presidente da associação, faz uma fala de próxima eleição para a diretoria, indicando que ele deixará a presidência e pedindo candidatos voluntários. Em seguida discutem algumas questões: ● Chegada de 1080 caixas (cisternas). Dizem que no Estado saiu um milhão de cisternas adaptadas a região para todo o semiárido, no entanto Minas Novas ficou fora do semiárido. ● Atualmente há essa cessão de 1080 caixas- mas a condução de receber é ser produtor reconhecido ou receber algum programa do governo, como bolsa família, ou qualquer outro. ○ Depois nos explicaram que há um problema entre o uso da cisterna x o consumo da família, x a pequena produção, X o cultivo de mudas e sementes. ○ Na próxima 4ª. Feira haverá uma reunião no IDENE (Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais), para levantar o número de famílias aptas a se candidatar ao benefício de cisternas. ● Também falam da distribuição de mudas e semente que chegaram para 30 pessoas da associação, que tinham os documentos adequados e assinaram o recebimento. Mas serão distribuídas para cerca de 100 pessoas, conforme suas condições de poder fazer ‘vingar’ as mudas. Acham que 3 ou 4 mudas seria uma medida pra cada um cuidar, por conta da necessidade da água. ● Informam que vai voltar o programa ProJovem¹1 Entra em debate as seguintes questões: ● ● ●
Falta de água, que é suficiente para consumo diário, porém insuficiente para plantio. As vezes os programas sociais não chegam às pessoas que realmente precisam. Atualmente só vai receber cisterna se estiver vinculado a algum programa do governo. Mas criticam como uma incoerência: se o produtor não tem água como produzir? Se não produz não pode estar no programa do governo... forma um circulo vicioso.
1 Criado em 2005 e reestruturado em 2008 quando passa a ser denominado de Projovem Integrado, o programa
federal é uma extensão da Política Nacional de Juventude e se divide em quatro modalidades (Adolescente, Urbano, Campo, Trabalhador), voltada aos jovens com diferentes perfis. Cada uma é gerida por um órgão federal diverso, mas sempre conta com a parceria de estados e municípios.
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Chega a hora de nos apresentar e falar um pouco sobre a que viemos. Fomos apresentados como representantes da Biblioteca Nacional, a importância do programa de Pontos de Leitura, que deveríamos explicar o funcionamento, a importância dos outros projetos que a Associação tinha conquistado, particularmente sob a direção do Sr. Geraldo Fernandes Barroso. ● ●
Apresentamos ao projeto e dissemos o que pretendemos. Falamos um pouco da questão da ancestralidade e da importância da afirmação da identidade, da nossa pesquisa em quilombos e terreiros (aparentemente gerou um desconforto, sic) ● Numa altura dessa conversa falou um senhor que havia chegado pelo meio do encontro. Mestre Antonio, que pareceu entusiasmado com a nossa fala. Ele parece carregar a questão da ancestralidade africana como uma de suas batalhas. ● Fizemos uma breve agenda para as entrevistas: ○ Dia 18 – uma reunião com a Diretoria da Associação ○ Dia 20 – 14 hs comunidade do Gravatá. Mas também iremos as 13hs encontrar com a secretaria no Macuco, pra organizar o encontro de domingo. ○ Dia 21 – 14 hs comunidade do Macuco ○ Dia 22 – 14 hs Comunidade Pinheiros ○ Dia 23- sábado - 9 hs – encontro com os Jovens na Associação ● 14 hs – encontro com a responsável da Comunidade Mata Dois ● 15 hs – comunidade Mata Dois. ○ Dia 24 – domingo as 14 hs – Encontro com todos na Associação. (proposta de vir também o conjunto da Congada) ○ Previu-se também encontros na cidade com: ■ Secretário da Cultura, (dia 19/2 falamos um pouco com ele) ■ Grupo da Congada ■ Entrevista na Radio Local ■ Conversa com Mestre Antônio Bastião – um senhor de 73 anos, quilombola, produtor de tambores e artesão e que tem uma longa história de defesa da ancestralidade africana, com história narrada no Museu da Pessoa, e recebeu várias referencias como personalidade quilombola. (feita 19/02/13) ■ Possibilidade de encontros com o Sr. Geraldo Fernandes Barroso, que foi presidente da Associação e parece ter muita história pra contar. ■ Entrevista com Itamar, que é o articulador das comunidades (19/02) ●
Dizem que na comunidade há poucos velhos – geralmente chegam até 80 e poucos anos. E que os velhos não gostam de falar com estranhos.
●
Na Associação há uma sala de computação, com 13 computadores recebidos para o programa do Banco do Brasil, para um telecentro, sala de leitura, sala de artesanato, onde se encontram vários tambores e outros artesanatos de tecidos produzidos em oficinas que já ocorreram na Associação e tem uma área maior para os encontros. ● Observamos que os materiais do Ponto de Leitura já haviam chegado, embora ainda aguardem a instalação e exposição dos livros. Têm também outras bibliotecas recebidas de outros projetos.
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● São Joaquim é o padroeiro da comunidade, e estão pelejando pra terminar a construção da sua igreja, ao lado da Associação, que esta ainda em construção, só tem as paredes levantadas. ● A maior festa da cidade é a de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas, em junho. No caminho da volta viemos conversando com Mestre Antonio e definimos que será interessante uma conversa com ele.
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18/2/13 – Reunião com a diretoria da Associação Quilombola do Macuco ●
Trocamos de hotel e fomos para uma pousada bem no centro da cidade. Melhor pra se articular as visitas e etc. ● Amanhecemos dia 18 com toda a cidade sem comunicação de celular- essa situação dificultará nossa programação. Cedo ainda recebemos ligação do secretário da Cultura, para marcar um papo, que ficamos de confirmar pelo celular. – não conseguimos. Outros contatos são impossíveis Fizemos um reconhecimento da cidade. As 14 hs – encontro com a diretoria da Associação, na Associação Quilombola de Macuco. Começamos com uma roda de apresentação, que acabou sendo engrossada por muitas histórias. > Sr. André Ferreira de Matos – atual presidente da Associação Quilombola do Macuco, nasceu e mora no Macuco. A Associação foi fundada em 1996, tem um Conselho e uma Diretoria. Em 2005 – o Quilombo foi reconhecido pela Fundação Palmares como seus integrantes sendo remanescentes de quilombolas. Mas ainda não houve a delimitação das terras e não se sabe quando haverá. A medição da terra foi feita, mas disseram que está invalidada. Terá que se fazer outra. Discussão - No quilombo todos as famílias tem o seu terreno, que dizem receberam de herança dos avós, pais, agora eles e deixam pros filhos. Alguns tem documentos de propriedade, outros tem documentos que atestam a herança. Sr. Geraldo levanta a questão: Terra pra nós não é problema, o problema é a AGUA. Se não fosse as caixas (cisternas) e as barraginhas todos tinham ido embora. - Por que falta água? O problema foi o uso da terra, o assoreamento e fechamento de nascentes, secagem de brejo para plantar arroz, drenagem de brejos, ocupação nas várzeas, desmatamento e plantação de eucaliptos realizados por firmas de fora como a Suzano, a Cosipa. Em 1975 começam as plantações de eucaliptos, e foram ocupando e sugando os rios Fanado, rio Capivari. Todos tinham muita água, agora só um córrego quando chove. ..... > Sr Joaquim Oliva da Silva (Joaquim Barulho), de Mata Dois. Está na diretoria desde a fundação. Nasceu na barra do Mata Dois e voltou pra cabeceira. Quando criança ficou órfão e foi criado por família em outros lugares, um dia voltou pro Mata Dois, pois soube que existia a família Machado e foi buscar. Encontrou e ficou por lá como o seu lugar. Já saiu muitas vezes na “migração” – ir colher cana, trabalhar na construção civil, em São Paulo, várias cidades, Belo Horizonte. Trabalham uma época do ano depois voltam pra casa e vão novamente. Os filhos moram no terreno, mas os homens vão todos trabalhar fora, e deixam as mulheres e filhos ali. Ele agora se sente velho e, portanto fica também no terreno, já não vai pra fora. > Geraldo Fernandes Barroso, foi presidente da Associação durante 8 anos, e na sua fundação era vice-presidente. Atualmente é vice-presidente. Fez o projeto de construção da sede, programa executado junto ao Centro de Referencia da Cultura Negra de Belo Horizonte, e financiado pela Petrobras.
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Fez o projeto e acompanhamento do programa Pontos de Leitura, do projeto Arca das Letras, e outros. Nasceu e vive na Comunidade Pinheiro. Migrou pra São Paulo, durante 16 anos trabalhou na colheita de algodão, da cana, na indústria de açúcar e álcool, em 1979 foi pra capital, em 1988 – migração. Fala que já esteve trabalhando nas indústrias da cana de Barrinha, Guariba, e em toda a região de Jaboticabal. Referiu-se à vida dos “boias-frias”, dos barracões e também das lutas dos trabalhadores rurais da cana, que começou em Guariba, com as greves dos cortadores de cana. Ele estava lá. Discussão - Diz que desde essas greves é que começou a mudar e melhorar um pouco a situação dos cortadores, definindo melhor o tipo de contrato e pagamento, limitando a ação dos “gatos” (empreiteiros). Hoje está muito diferente a situação da migração – a gente já vai com um contrato e definição do ganho, o acerto geralmente é feito pela própria usina, tem um alojamento melhor. Tem os direitos trabalhistas definidos, como os impostos, quando acaba a safra e vai voltar pra casa.
> Geraldo Nunes de Macedo – do Macuco, vice-tesoureiro da Associação. Trabalha na lavoura e, muito tímido, precisou que o outro Geraldo dissesse que ele é artesão, um artista, faz tambores. Começou com o Paulo do Gravatá, fez oficinas na Associação (tem alguns tambores ali) e vende na feira. Nas feiras da Chapada, feiras anuais em RJ, SP, BH. Faz tambores, reco-reco, xique-xique, etc. Produz pra Minas Novas Congada. Diz que já houve época de boa produção e venda. Tem muitos pedidos. > Maria Ivonete Barros de Matos, casada com o André, é vice-secretária desde muito tempo. Nasceu em Capivari e vive no Macuco desde que casou há 24 anos. Diz que é descendente de quilombola do Capivari. Faz uma fala provocativa, dizendo-se mais negra que muitos negros dali, o que causa certo desconforto. Fala um pouco da ancestralidade – seu tataravô foi casado com uma índia pega “de Cachorro” (na época soltavam cachorro no mato para pegar as caças/ presas e escravizados fugitivos. Algumas vezes resultava em descobrir/ encontrar indígenas, em especial mulheres e recolhiam para escravizar e casar), depois os avós se casaram fora da comunidade. > Maria Odete Leite da Rocha, 55 anos, da comunidade do Gravatá. É do conselho fiscal da Associação desde 2002. Trabalha como distribuidora no Poço Artesiano da “Copa Norte” – que é uma empresa que tem plantação de eucalipto no entorno, e que construiu o poço artesiano. Ela é o distribuidor da água para as famílias – as famílias pagam uma taxa para a empresa para pagar a energia gasta para trazer a água (de 7 a 60 reais por mês) e também as famílias cotizam (geralmente cada uma dá $10 reais, pra remunerar o distribuidor, no caso a Maria Odete. Há uma discussão sobre essas empresas e a produção de eucalipto, e também ainda não muito explícito a questão do cercamento de grandes áreas e da pressão sobre as terras dos quilombolas. > Sandra Machado Rocha é do Mata Dois e do Conselho fiscal. Diz que é viúva e, portanto pai e mãe de sua família. Tem filho e uma mãe bem idosa precisando de cuidados. É uma senhora bastante disposta e diz que tem vários trabalhos nos cultos da igreja católica, visita famílias
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necessitadas, velhinhos da comunidade etc. também trabalhou nas oficinas de artesanato e bate tambor. Nasceu e se criou no Mata Dois. Recebeu a terra de herança do marido. > Antonio Soares Machado, é do Mata Dois e do Conselho Fiscal. Faz “migração” pras empresas e lavouras de São Paulo. Discussão sobre – migração- os jovens desde 16 anos e também mulheres vão pra colheita do café. De abril até novembro todo jovem da comunidade, a partir dos 18 anos migra pra colheita da cana ou pra construção civil. Hoje muitas mulheres também fazem essa migração. Vem um empreiteiro conversar com a comunidade e vão todos juntos. Hoje os jovens não querem mais continuar na roça, preferem ir trabalhar fora, geralmente abandonam os estudos. Há falas de como antes se esforçavam pra estudar, passavam fome, e hoje tem mais direitos, tem merenda etc e ainda assim os jovens abandonam. Escola tinha só do 1º. Ao 4º ano, mas agora estão acabando com as escolas nos quilombos e em vez de criar uma escola que reunisse as crianças dos quilombos, preferem mandar todos pra cidade. Nas escolas públicas de Minas Novas e no período em que as escolas funcionavam nas comunidades, não havia ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira, conforme obrigatoriedade da Lei 10.639/03. Há várias discussões sobre a questão da negritude, de quem se reconhece como negro, que há alguns mesmo no quilombo que tem dificuldade de aceitar e se diz moreno ou pardo. Falase também do preconceito que existe na cidade, atualmente um pouco atenuado. Fala-se que os jovens tem dificuldades de se aceitar como quilombola, (“culpa mesmo nossa, diz Sr. Geraldo, pois desde que fomos reconhecidos, nos devíamos fazer reuniões com os jovens e explicar a eles o que é quilombo, o que é essa nossa descendência ou remanescentes de quilombolas, qual o nosso papel na construção disso tudo”. Herança e começo do quilombo – diante da pergunta “o que é ter terra de herança, o que era essa terra”, vem muitas respostas controvertidas- o meu avô comprou 2 hectares... comprou mas não tem documento de propriedade, tem papel de direito de herança... somos posseiros que tivemos terra reconhecida... “quem eram os avós? Os bisavós? E como começou esse quilombo?” Respostas ainda mais controvertidas ... era dos negros. Os negros tinham a terra e um padre tentou tomar. Tinha um padre Barreiro, grande fazendeiro, os negros tomaram a terra e puseram o padre a correr... No Macuco – eram 3 famílias – a origem de tudo. No Macuco família Machado, no Pinheiro, família Rosendo e Nunes. Depois foram se estendendo casando um com outro, ou trazendo pessoa de fora. Foi ampliando a área de pequenos produtores, que mais recente foi reconhecido como quilombo.
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20-2-2013 – Comunidade Quilombola do Gravatá Esta Comunidade, que se vincula à Associação Quilombola do Macuco, se divide em Gravatá de cima, no município de Minas Novas e o de baixo, que se estende ao município Chapada do Norte. E ainda ao Gravatá se juntam moradores do Córrego da Parceira e do Córrego de Barreirinha. Lugar cheio de morros, para alcançar as casas da comunidade significa descer grandes ladeiras em caminho de terra. O carro desce penosamente uma parte do caminho. Depois, temos que seguir a pé. Chegar e andar (o pouco que andamos) por esta comunidade é defrontar-se com a seca e os seus efeitos. Apesar de ser agora tempo de chuva, esta regateia e não tem vindo, “e quando vem, ela desce pelos grotões e fica muito pouco. Já se perdeu o plantio deste ano. No meio do ano, agosto isso tudo está completamente seco.” Na roda de conversa, após falarmos sobre a nossa visita e do projeto, pedimos que se apresentassem. A apresentação de cada um dos participantes vai revelando a proximidade parental entre eles, até que se apresenta uma família de sobrenome Soier, que diz que o pai, ou o avô era francês que casou com moça do quilombo. Exceto os estudantes (mais jovens) todos se declararam lavradores e lavradoras, a maioria nascido no Gravatá ou em comunidade vizinha. Pelo casamento eles migram entre as comunidades. Plantam milho, mandioca, abóbora, cana de açúcar, feijão andu (tropeiro ou de vara, de corda), criam galinhas e as vezes vendem e também aos ovos, e criam porco que é só pra consumo. Nesta comunidade tem um engenho, para produção de rapadura e tem um responsável por sua produção, embora o engenho atenda a todos. A farinha é produção caseira, e todos tem uma forma para ralar e também os fornos nas suas casas. Mas a Associação tem uma casa de farinha, com motores elétricos que é facultado aos associados. No Gravatá tinha uma escola para as crianças do 1º. ao 4º. ano do ensino fundamental, mas foi desativada, e isso é motivo de discussão, pois dizem que tinha poucos alunos frequentando a escola e assim a Prefeitura unificou enviando as crianças para escolas na cidade. Por um lado consideram que é bom porque assim eles frequentam salas separadas por níveis, mas por outro, tem a questão de distancia pra chegar até o ponto do ônibus escolar que passa só na estrada principal e ainda tem o risco de as crianças pequenas irem sozinhas pra cidade. Também tem uma visita de médico, a cada quinzena, para atender os casos rotineiros. Jucilene Alves Costa Soier (Leninha), que é secretaria da Associação do Macuco, e está cursando Magistério, nos acompanhou em todas as comunidades, e também Elisabete Costa Machado (Betinha), mãe de Leninha, a quase todas comunidades. Ambas moram no Macuco e colaboraram muito nas rodas de conversa. Betinha, que participa do Congado de São Benedito, estimula a discussão, dizendo que desde sua avó que participam dançando e cantando. Esse congado nasceu só com pretos. Ela já foi chefe/presidente do Congado. Betinha também conta que sua mãe Josefina e sua avó, Rosa eram parteiras e tanto ela como Leninha e também outros moradores do quilombo utilizam a medicina natural, cultivando ervas para chás e tratamentos. À pergunta de como começou a comunidade, há várias tentativas de resposta. Dizem que antes em Minas Novas tinha muitos negros escravizados. Não sabem bem como começou o quilombo. Dizem que os avós vendiam o que sobrava do consumo, mas era venda na base da troca de produtos. Forçando um pouco a lembrança, eles fazem uma lista de nomes das pessoas mais velhas que conheceram ou ouviram falar – Antonio Machado, Antonio Rodrigues, Zefina, Maria Timóteo, Mané Fel, José Fel, Adão Fel, e Adelaide. Dizem que antes tinham
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poucas casas no quilombo e que a vida era muito dura. A Festa do Divino durava 45 dias e 45 noites. Começava no dia das cinzas (4ª.feira de cinzas) e ia até o dia de Pentecostes. Com novenas, cantos e visitação das casas, no final tinha uma festa na cidade e era erguido o mastro do divino e tinha a Folia do Divino. Dos instrumentos lembram-se das caixas, viola, tocados pelos homens; e os cantos se compunham de versos, onde os homens cantam a primeira parte e as mulheres respondem. O grupo de Congada participa da festa do Rosário, na cidade de Minas Novas. Nesta data, os/as integrantes se reúnem bem cedo e vão até o rio buscar água para lavar a igreja de Na. Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Minas Novas. Na cerimônia os tocadores de instrumentos (caixa, tambor, pandeiro, chocalhos) vestem uma “guarda” – roupa composta de calça e um casaco de manga comprida, vestindo tanto homens como mulheres (essas apenas são aceitas como “tocadoras”, nos dias de hoje, devido a escassez de instrumentistas do sexo masculino) . As mulheres trajam vestidos brancos, compridos e rodados, um lenço na cabeça e outro na mão, e dançam em roda e cantam também num movimento de pergunta e resposta. Este mesmo grupo participa também da festa de São Benedito. Gravatá deve seu nome a uma frutinha parecida com o abacaxi, que era abundante naquele local, hoje tem quase nada mais. No Gravatá em julho tem a festa de Santana, comemorada com novena, quadrilha e congado. Estiveram presentes na roda de Conversa: Cleide
lavrador/lavradora nasceram e vivem no Gravatá
Luciano
idem
idem
Sônia
“
“
Geraldo, 74 anos
“
“
Paulo
“
“
Maria Sebastiana
“
“
Maria José
“
“
Maria Antonia
“
“
Herculana
“
“
Afonso
“
“
Dinalva
“
“
João Leite Machado, 52 anos “
“
Maria Hilda
lavradora
nasceu no Gravatá de baixo,
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mudou para o de cima Maria Hilda Rocha idem de Matos
nasceu no Macuco e mora no Gravatá
Ana Soares Santos
dos idem
nasceu no Córrego da Parceira e mora na Bandeirinha
Vilma
idem
nasceu no Ribeirão da Folha, casou e mora aqui.
Maria Geralda
dirigente do Gravatá
nasceu no Córrego da Barreirinha
Natalina
dirigente do Gravatá
Nasceu e vive no Gravata
Maria Odete
trabalha na distribuição de água do idem poço artesiano.
Elisabete (Betinha)
lavradora aposentada
Jucilene (Leninha)
secretaria magistério
estudantes:
curso ou ano / todos nasceram e vivem no Gravatá
Daniel
7o. Ano
Noé
do supletivo e é pedreiro em BH
Jonata
6o. Ano
Dalian
7o. Ano
Luciana 8 anos
3o. Ano
João Paulo, 10 anos
5o.
Associação,
Adenilson
ensino agropecuária
Bianca
ensino médio
Thais, 7anos
2o
Jaene
7o.
médio,
vive no Macuco estuda vive no Macuco
técnico
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21-2-2013 – Comunidade do Macuco A Comunidade do Macuco fica na área mais central e é onde se localiza a Associação que reúne as quatro comunidades. André que é presidente da Associação trouxe mais informações. Explica que no Município tem 120 associações, mas somente 35 delas funcionam regularmente. A Associação Quilombola do Macuco mantém documentação em ordem, com um contador que colabora para registrar documentos, prestação de contas etc. A Associação sobrevive com a colaboração dos associados que pagam uma taxa mensal por família. Conta com cerca de 200 associados, ou famílias associadas, sendo 37 famílias no Macuco, 28 no Mata Dois, 43 no Pinheiro e 21 ou 23 no gravatá. Além disso, tem também associadas outras famílias das comunidades do Curralinho, Capivari, Ribeirão do Meio, Laginha. A união de diversas comunidades em apenas uma entidade se dá pelo fato de que não há um número mínimo exigido, em cada comunidade, para a formação de uma associação comunitária. Quanto aos programas sociais e ações voltados às comunidades quilombolas, além da certificação, alguns destes moradores (associados) já foram beneficiados pelos Programas Luz para Todos, Bolsa Família, PETI ¹(Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), distribuição de cestas básicas por ano, um caminhão de alimentos que a diretoria divide entre os associados e que neste ano, dizem que a entrega está em atrasado. A Associação orienta as pessoas na obtenção de documentos para conseguir aposentadoria por idade ou por acidente. Todos os mais velhos são aposentados e recebem um saláriomínimo mensalmente. Também divulga os processos para conseguir ‘bolsa família’ e bolsa para os estudos. A Associação tem desenvolvido projetos, além da sede da Associação e os projetos de bibliotecas e telecentro (que ainda necessita de reparos das máquinas e atualizar o funcionamento), conseguiram a casa de farinha mecanizada, onde os associados podem trazer a mandioca e fazer farinha, polvilho, goma. O não associado pode usar também e paga 10% da produção para cobrir parte dos gastos com energia e conservação. Tem uma proposta antiga de ter um posto de saúde, e foi destinado inclusive um espaço no terreno. Mas a Prefeitura não realizou e não explicou por que. Tem a proposta de construir uma igreja católica, que está pela metade. A escola que atendia as crianças da comunidade foi desativada e praticamente destruída pela gestão anterior da Prefeitura, que levou não só os equipamentos, mas também o telhado e todas as janelas e vitros. André tem uma afirmativa “hoje sabemos que somos quilombolas e que temos direitos. Mas nós não sabemos quais são os nossos direitos”. As informações parecem chegar fragmentadas e esparsas, de diferentes fontes. Isso indica a necessidade de uma orientação integrada dos direitos e de uma capacitação especifica das comunidades Na roda de conversa com o interesse de estimular uma fala maior de cada um, propusemos que ao fazer a apresentação individual, cada um dissesse também de um fato muito bom e outro muito ruim que aconteceu com a comunidade, do qual se lembra ou que lhe contaram. Abaixo uma síntese das respostas:
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André, presidente da Associação, nasceu e vive no Macuco. Faz uma comparação de que era bom quando criança tinha mais gente vivendo no quilombo, eram mais unidos e tinham muitas festas. Hoje a maioria migra em busca de trabalho, os homens pelo menos acabam se mudando da comunidade, ficou mais triste o local. Irani nasceu em Minas Novas e morava no Mata Dois, atualmente no Macuco. Conta a história do nome do Mata Dois – teve dois homens (talvez irmãos) que buscavam ouro e encontraram uma pedra grande. Não querendo dividir um tentou matar o outro, e ambos caíram no rio e morreram afogados. Leonino Viana nasceu em Chapada do Norte e mudou para o Macuco. Gilvânia morava em Bandeirinha, veio pro Macuco quando casou. Lembrou de quando foi mãe, como um bom acontecimento. Enzo, 2 anos, filho de Gilvânia. Maria Ivonete (Nete) nasceu em Capivari, casou e mudou pro Macuco. Reforçou a fala do marido, André, dizendo que os vizinhos tinham mais tempo, faziam festas. Rosa Alves. Era do Gravatá, casou e veio ao Macuco, onde vivia o marido. Maria Geralda Alves Gomes nascida e criada em Macuco. Teve 10 irmãos, mas morreram, ficando apenas dois. Elisabete (Betinha) – nasceu, casou e desquitou no Macuco. Como bom acontecimento, aponta seus nove filhos que criou com a força (solidariedade) da comunidade. Hoje tem 13 netos. Tomé Lopes Soier nasceu e foi criado em Macuco; Augusta Machado, nascida em Macuco, onde vive até hoje; José Tomé Soier, 61 anos,diz que antes trabalhava muito e reclama que hoje os/as adolescentes, crianças e jovens não querem e não trabalham mais na roça, como antigamente. Durante muitos anos Sr. José foi para usinas de Ribeirão Preto, Bonfim, Santa Luíza, trabalhava na costura de sacaria de açúcar. Teve um acidente de trabalho e se aposentou. Neusa Soier nasceu e vive em Macuco. Trabalha há 4 anos na colheita de café no sul de Minas Gerais. Walace, 4 anos. Marluce Soier mora no Macuco e estuda na APAE – ela é portadora de necessidades especiais, embora seja bastante atenta ao que se passa e toma iniciativas para falar. Geni Alves da Rocha Soier, nasceu no Gravatá, casou e veio pro Macuco. Marli, sua irmã, gosta do Macuco. Lembrou como ruim perder a filha pequena, que morreu. Jucilene (Leninha) é do Macuco e casou com gente daqui mesmo. Diz que as pessoas mais velhas davam mais valor ao que tinham. Atualmente o desejo maior é de coisas de fora. June Alves Costa (irmã de Leninha) nasceu no Macuco, mas mora em Minas Novas.
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Maria Aparecida Gomes Soares (Cida, doceira), nasceu em Misericórdia, ficou órfã e veio pequena pro Macuco, foi criada por Maria Geralda. Casou aqui e tem 2 filhos e 4 netos. A história que conhecem das origens do quilombo leva a lembrança de nomes de pessoas mais velhas – Manuel Machado, Rosa, Augusta. Joaquim Alves, Sebastião Alves. Nete (Maria Ivonete) diz que pesquisou um pouco sobre as origens, que eram três famílias, Machado, Rosendo e Nunes. Quando as pessoas fugiram das lavras das minas, se escondiam nessa região. Teve um padre, que aproveitou a terra dos fugidos e se apropriou. Mas os fugidos expulsaram o padre e ficaram com a terra. Betinha tem uma versão diferente – os avós dos avós moravam aqui. Tinha também um padre Barreiro que morava no Tapera e tinha as terras. Mas o povo do lugar, o avô na irmandade dos filhos deles comprou o terreno. Aqui era a ‘Porta do Marmelada’ (nome). O seu avô comprou o terreno do padre. O Padre Barreiro era de Minas Novas e veio para cá, lá no Capivari e morava aqui. Lembrou de Zabel (talvez Isabel) do começo, a avó de sua avó. O tataravô Nunes casou com Maria Nunes. As histórias diferentes geram uma discussão e afirmação de lado a lado sobre qual a verdade, que somente se acalmou quando argumentamos que na história oral facilmente se encontram diversas versões dos fatos, particularmente fatos passados, e que todas as versões tem o mesmo valor. Cada um contribui com aquilo que sabe que lembra, visto que até o momento não há registro documentais. Betinha lembrou a sua avó Rosa, e diz que seu avô deixou um documento em seu poder de 1890, onde a escrita está quase apagada e a letra a mão é difícil de decifrar, ficando claro apenas a data sobre o selo. Antes os negros daqui casavam entre si. Teve um tempo que só tinha negro casado com negro daqui. Depois foi misturando, casando com pessoas de fora, ‘estragando a cor, desrraciando’, segundo ela. Veja o Tomé Lopes Soier era lá da cidade e veio pra cá. O Padre era de Minas Novas e veio para aqui. Teve também um padre italiano que comprou terra e veio pra cá, depois foi embora. A roda conclui que “sabíamos que somos negros, depois veio a Fundação Palmares e soubemos que somos quilombolas – remanescentes de quilombos. Temos orgulho disso, mas não conhecemos a nossa história.”
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22-2-2013 – Comunidade Quilombola do Pinheiro Nessa comunidade chegamos primeiro na casa do Sr. Geraldo Fernandes, que foi presidente da Associação Quilombola do Macuco em duas gestões e atualmente é vice-presidente. Mostra-nos a sua casa que é razoavelmente grande e toda pintada de branco, e nos diz que é toda feita de adobe. Sr. Geraldo vive com a filha e o genro, e a esposa morreu há pouco tempo, o que entristece muito a família. A área do entorno é bastante verde, com muitas plantas e flores, o que além dos cuidados, provavelmente se deve a uma barraginha que tem logo ao lado no terreno. Da casa de Sr. Geraldo seguimos ao encontro com o grupo do Pinheiro que estava reunido sob uma frondosa mangueira – aqui é mais fresco, dizem. Na Comunidade teve uma escola, mas foi desativada e semi demolida, assim que geralmente fazem as reuniões e cultos sob a mangueira. Nessa comunidade apareceu a questão da existência de barbeiros na comunidade e da doença de chagas que inclusive afeta alguns da roda. Solicitados para a roda de conversa, Sr. Geraldo inicia a apresentação falando das barraginhas, existentes no quilombo, feitas pela Embrapa, pelo sindicato, pela Prefeitura, enquanto a Associação construiu 30 barraginhas, com projetos com o Canadá. Existem também quatro barragens de maior porte feito pelo PPP- Produção de Pequenos Projetos. Diz que existia um grupo de pequenos produtores, Grupo do Nico, que era reconhecido na Itália e em outros países. Eram orientados por um ex padre, italiano, Paulo, que se casou e mora no Pinheiro. O padre Silvano mora em Turmalina. Outro padre, Pedro, também italiano, foi o fundador na região das pequenas comunidades de base – daí o nome de comunidade e o Sr. Geraldo nos dá uma chave para essa denominação. De fato, tratavam-se das CEBs – as Comunidades Eclesiais de Base, ações dos padres católicos progressistas, que aderiam a Teologia da Libertação, tão atuantes nas décadas de 60 e 70 no país. ● Sr. Joaquim Rodrigues da Rocha, nasceu no Córrego e veio pra o Pinheiros. Saiu durante muito tempo – 36 safras - na migração para as usinas Bonfim, Santa Luíza, São Francisco, em São Paulo. Desde 2007 que não vai mais, adoeceu e se aposentou. Conta que quando pequeno, seu pai e mãe garimpavam, e carregava tudo nas costas até a cidade. ● Sr. Joaquim (outro), nasceu e vive no Pinheiro. Desde os 15 anos que migra para o trabalho na cana. Parou em 2002, também se aposentou por doença. Lembra que em outro tempo era melhor, tinha muita água. ● Geraldo nasceu no Pinheiro e saiu umas vezes na migração no interior de São Paulo e na capital, até 1987. Aposentou. Falou da doença de chagas. Diz que antes tinha água, chovia mais, enquanto que financeiramente era mais apertado. Hoje melhorou com alguns direitos, como a aposentadoria, assistência social, programas do governo, projetos de cisterna, barraginhas. Hoje com a Associação pressiona e consegue. A comunidade Pinheiro tem 43 famílias. Também hoje melhorou porque reduziu o preconceito. Antes quando passava um preto, logo alguém chamava de urubu. Hoje o branco tem inveja de preto. ● Pedro Rodrigues de Souza nasceu e vive no Pinheiro e trabalhou até 1997 no interior de São Paulo e Minas. Atualmente toca a roça. Diz que trabalhar fora era difícil, mas precisava pois mandava dinheiro para o filho não passar fome.
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● Alcides Ramos nasceu no Pau D’Alho, casou e veio pro Pinheiro. Durante oito anos foi lavrador no corte de cana. ●
Luiz, do Córrego Pinheiro. Trabalha no corte de cana. Diz que a água sumiu.
● Ronaldo Adriano Souza. Nasceu no Morro Branco, veio há 3 meses para Pinheiro, pois casou. ● Mailde nasceu e vive no Pinheiro. Estudante do 1º. Ano médio. ● Leandra nasceu e cresceu no Pinheiro. ● Maria da Penha nasceu e criou no Pinheiro. Antes era melhor. ● Maria Rosa, lavradora, nasceu no Pinheiro. Tem nove filhos. ● Neusa nasceu e cresceu na comunidade. ● Ivanilde nasceu em Buriti e mudou pro Pinheiro. Há nove anos foi colher café em Ribeirão Preto. ● Geidiana nasceu em Chapada do Norte, há 3 anos casou e mudou pro Pinheiro. Ano passado foi pra colheita do café. ● Simone nasceu no Pinheiro, estudou até 2º.grau. ● José Aníbal nasceu aqui e vai pro corte de cana. A conversa volta a comunidade Pinheiro. Dizem que tinha aqui 8 famílias. Em 1979 começou com Padre Pedro a comunidade de base. Ele falava das comunidades dos índios e dos quilombos – há uma mistura de negro com índio. Com a migração os jovens foram perdendo o gosto das raízes, como a dança de roda, o Congado. Na comunidade tem uma banda ‘Serena e Companhia’. Com as comunidades de base, antes foi fundada como Associação. Em 1985 é que muda o estatuto como Associação Quilombola. Em 2005 reconhece como remanescentes de quilombos. Falam um pouco da associação, que tem alguns critérios para associar tem que trabalhar ou morar na comunidade. Também tem obrigatoriedade de frequentar as reuniões - se falta em três reuniões sem justificar fica excluído. Mas de alguma maneira a Associação acabou admitindo gente de outras comunidades. A conversa caminha um pouco mais em torno do reconhecimento como quilombola. E da importância que tem sido ver outros negros que começaram a aparecer também em postos de comando. No posto tem uma médica negra, as pessoas tem dificuldade de reconhecer. “Depois a gente fica orgulhosa”. Outro dia veio o ex- Ministro da Seppir, Edson Santos, negro. “Parecia que eu tinha um irmão lá”. Depois veio o Obama, negro. “A gente começa a se reconhecer como também sendo capaz, que não somos inferiores.”
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23-2-2013 – Macuco – Comunidade Mata Dois Sábado à tarde, muito sol e a comunidade do Mata Dois nos esperava num espaço rodeado de árvores – aqui é mais fresco! dizem. A comunidade tem 35 famílias. Enquanto aguardávamos os demais, Da. Alzira nos conta que sua mãe, Joana Cordeiro, era benzedeira e parteira. Esta andava todo o povoado para atender as mulheres parturientes – andou tanto no vento e no frio. A própria Da. Alzira diz que teve 10 filhos, nove que a mãe ajudou e um foi a sua sogra que também era parteira. A Dona Joana benzia quebranto, cobreiro, com arruda, sala, fazia simpatias, chamava as pessoas e punha mulher com os pés na soleira da porta quando o parto parecia difícil, fazia defumadores de semente de mostarda e chás para ajudar meninos a nascerem. Morreu aos 55 anos porque tomava muita friagem, andava demais na sua missão de parteira. Diz que teve épocas de muitas dificuldades, comiam erva ora-pro-nóbis em farofa, que era o único alimento. ●
Alzira Cordeiro Machado nasceu e vive no Mata Dois e diz que queria muito estudar, mas o pai não deixou, assim que ficou analfabeta e se ressente disso. Diz que os seus irmãos foram pra escola, mas também trabalhavam na roça pela manhã. Teve onze filhos e um deles mora com ela, mas ela se mostra muito preocupada, pois ele gosta de frequentar o bar e beber ficando pouco sociável. ● José Joaquim Alves Machado, chamado, Tinem, diz que casou viajou e trabalhou no quebra bateia (garimpo), vivia no Gravatá de baixo. Ficou viúvo e veio pro Mata Dois e mora aqui casado com outra companheira. Diz que trabalhou muito tempo no corte de cana (migração) e parou quando aposentou. ● Maria Aparecida Alves Macedo nasceu aqui e foi trabalhar em São Paulo. ● Maria Bento dos Santos nasceu no Córrego Grande e veio para aqui, onde diz ter muita união. Tem dez filhos todos empregados. ● Maísa Aparecida Gomes Machado, 10 anos, estuda no 5º. ano. ● Maria Elisa Moreira Gomes Machado, 49 anos, veio com 17 anos com a família, e depois casou com pessoa daqui do Mata Dois. ● José Eustáquio Machado nasceu aqui e mora em São Paulo, em Ferraz de Vasconcelos. Está na comunidade no momento para construir uma casa. Em São Paulo é armador de ferragem para a construção civil. Trabalhou por 25 anos em São Paulo e perdeu uma vista, durante acidente de trabalho. Aposentou-se e agora pretende voltar a morar na comunidade. ● Eva Maria Soares, 47 anos, tem um filho de 19 anos e tem uma mãe, da. Alice Rodrigues Pereira com 85 anos, que ela cuida. Tem também uma tia com 96 anos. Eva trabalha em serviços gerais na escola na cidade, diz que levanta as 4hs da madrugada. Conta como uma coisa ruim que passou foi que ela tinha um irmão gêmeo. O pai e a mãe foram para Guariba/SP pra trabalhar e houve um acidente com o irmão e quando soube que Eva estava grávida, o pai foi embora. Ela cuida da mãe. ● Diego e Tatiana,18 anos, são jovens e estiveram na roda de conversa dos jovens. ● Maria Aparecida Ramos Machado morou no Ribeirão do Meio e em Barra, agora aqui. Faz serviços domésticos. ● Helena Soares Macedo tem filha de 16 anos. Nasceu aqui e os pais moram fora. Já foi colher laranja, café e trabalhou em casa de família. Hoje capina e amasiou, segundo ela, com um dos Machados e vive aqui. ● Claudiane Soares Rodrigues, 22 anos. Estudante no 3º.ano, nasceu em Minas Novas e casou com moço daqui do Mata Dois. ● Maria de Lurdes Machado Soares, 43 anos, nasceu casou e mora aqui. ● Osvaldo Alves Machado nasceu aqui e morou 22 anos em São Paulo, aposentou e voltou pra Mata Dois.
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Antonio Soares Machado nasceu e mora aqui, mas vai pra migração . Atualmente está trabalhando na construção civil em Minas Novas. ● Santa Machado Costa é coordenadora da Comunidade e diretora da Associação do Macuco.
Fica logo claro, que muitos deles tem por sobrenome Machado. Qual o motivo? Do que se lembram a comunidade começou com dois irmãos. Lembram-se do Sr. Antonio Machado, casado com Rosa Machado, e era avô do Sr. José Joaquim, o Sr. Tinem. Daí as pessoas foram se casando, muito entre os próprios quilombolas. A história não vai muito a frente. Contam que a maioria dos homens sai pra trabalhar nas safras de cana de açúcar ou café, laranja em São Paulo. Repetem a história dos dois homens que encontraram ouro e não queriam dividir, assim que um matou o outro e ambos caíram e se afogaram no rio, daí que chamou Mata Dois. A escola que tinha no quilombo também foi fechada e isso gera uma discussão sobre se é melhor ou não. Os jovens dizem que é muito melhor ir pra cidade, conhecem mais gente, se relacionam mais. Algumas mulheres mais novas dizem que fizeram a escola no quilombo e que verificou que quando vai estudar o colegial ou quando comparam o que os filhos aprendem na cidade se dão conta de que aprenderam muito pouco, pois aqui a escola tinha uma professora para ensinar para as quatro séries na mesma sala, e isso confundia muito a cabeça, além de não dar tempo de dar toda a matéria. Quando alguém levanta da oportunidade de haver uma escola para os quatro quilombos, o que teria mais crianças e poderia ter as quatro séries, concordam também que teria que ter ônibus que pegasse as crianças em casa de cada um dos quilombos para levar e trazê-las, pois são muito distantes e ruins os caminhos. A comunidade tem um posto médico, de fato, uma sala cedida na casa do Sr. Joaquim Alves Machado, onde atende a cada dois meses. Dizem que no Macuco tem um agente de saúde que mede a pressão, pesa gestante, bebês, vacinação e marca consultas para medico e dentista na cidade. Tem um poço artesiano e a Eva controla a distribuição da água e tenta solucionar os problemas que volta e meia surgem com essa distribuição.
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23-2-2013 – Macuco – Encontro com os Jovens Sábado de manhã marcamos com os jovens de todos os quilombos que compõem a Associação, na sua sede. Apesar de ter muitos jovens naquela população, vieram relativamente poucos – a maioria do próprio quilombo do Macuco, que ficava mais perto, além de mais três que vieram do Mata Dois. Com os jovens, após a apresentação, a conversa demorava a fluir – eles se mostram muito menos tímidos quando em reunião com o conjunto do seu quilombo. Todos estudam, duas das meninas disseram que ajudam nos trabalhos de casa e quatro dos rapazes, que ajudam na roça da família. A primeira conversa foi sobre os seus planos, e eles afirmam que pensam como se organizar para o seu futuro principalmente, enquanto uma das moças, que pretende fazer medicina disse que pensa na sua função social. Os planos são de ampliar os estudos para melhorar a vida. Os rapazes maiores tem oportunidade de fazer Cursos Técnicos em Agropecuária em Veredinha, onde podem passar uma quinzena na própria escola que é pública e tem um alojamento para hospedá-los. Com isso os que para lá se dirigem fazem o colegial durante o dia e a escola técnica à noite. Os dois que estão cursando se mostraram insatisfeitos com a escolha e pretender cursar informática. As meninas que pretendem fazer o curso técnico em agropecuária tem mais dificuldades pois dependem de conseguir formar uma turma para a escola abrir o curso. Uma das jovens cursa o Magistério, que é a única alternativa existente em Minas Novas. Duas delas pretendem estudar engenharia e uma, medicina dizem que precisam ir morar em Belo Horizonte, onde tem parentes que podem acolhê-las. Os que ainda cursam o ensino fundamental e ensino médio vão todos os dias para Minas Novas e se mostraram contentes com isso. Dizem que quando tinha a escola no quilombo, por conta da quantidade de estudantes, havia uma professora que ministrava curso para todas as séries na mesma sala, o que dificulta o aprendizado. Com relação ao lazer, passeios e festas – dizem que tem muito pouco e raramente saem, pois teriam que ir a Minas Novas e o transporte é difícil. Gostam de música, e inclusive alguns dos rapazes presentes disseram que tocam órgão e violão. Também que em Mata Dois tem uma banda ‘Serena’ formada por moradores jovens. Afirmam que há poucas festas na região. Eles falam das festas do Rosário, Carnaval, Semana Santa na cidade, mas alegam que não se interessam em participar. As festas estão mudando, perdendo a tradição, tem muito luxo e pouca tradição. O Congado conta a história do passado. Esses jovens além dos que estiveram nas reuniões da comunidade mostraram interesse com o Ponto de Leitura e a oportunidade de aprender mais sobre as suas identidades como negros/ negras e quilombolas. Dizem ter orgulho de serem quilombolas, e a conversa gira sobre os muitos preconceitos que sofreram em épocas anteriores por conta da sua cor e afirmam que atualmente mudou bastante, são menos discriminados. Começam uma história fantástica de que as vezes aparecem pela mata uma luz de fogo. “Onde tem luz é porque tem ouro”. Contam que antes tinha muito ouro naquele espaço. Um dia apareceu uma luz de fogo, muito forte e sumiu. Um deles diz que o seu pai já viu. Outra vez apareceu uma ‘bonequinha de fogo’ e a pessoa foi atrás, o fogo entrou na terra e sumiu. Ninguém confirmou que acharam ouro depois nos lugares! Contam que atualmente, apesar da pouca chuva ainda é tempo bom, o problema é a seca de julho em diante, em agosto é o ‘tempo duro’.
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Estiveram presentes – Samuel, 15 anos, faz o 1º.ano e ajuda na roça; Lucas, 16ª e Jair, 18a, estudam agrotécnica em Veledinha; Olavo, 15a, 9º ano e trabalha na roça; Carina, 16a, 2º.ano e trabalha em casa, Diego, 15a estuda no 2º.ano e trabalha na roça; Tatiana, 18ª e faz 3º.ano e trabalha em casa; Letícia, 6a e está no 1º.ano; Eduardo, 10a está na 4ª.serie, Daniel, 9a, 3ª. Serie; Samuel, 10 a. 3ª.serie; Pedro, 7 a, 2ª.serie; Caetano, 17 a ajuda na roça. Estiveram presentes também duas mulheres adultas, Rosimar e Dona Silvia de 67 anos, lavradora.
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23-2-2013 – Macuco – Encontro com mais idoso - Dona Maria Nunes Rodrigues, 93 anos Nascida e criada na Comunidade de Macuco se casou aos 19 anos e teve sete filhos e é viúva há 14 anos. Filha de dona Maria Nunes de Oliveira e senhor Modesto Rodrigues Machado (lavrador), neta de dona Luzia (avó materna), teve 13 irmãos de mãe e pai, e quase 20 outros, pois o pai casou-se por duas vezes. Alguns irmãos: Antonio Machado, Mané Machado. Pedro machado, sobrinho. Lembra que no começo tinha umas três famílias na comunidade. Em Macuco, nome de um pássaro, tinha um rio muito grande e muitos pássaros. Dona Maria diz que o passado foi muito ruim. Pra ajudar criar os filhos lavava roupa para as pessoas da comunidade e ia a Minas Novas 4 vezes na semana. Também vendia leite do irmão a ‘meia’ – o irmão tinha o gado, ela ia a Minas Novas vender e dividiam o dinheiro. Sempre que podia ‘ia pro rio bateiar’ (garimpava) pra achar algum pouco de ouro pra comprar comida. O marido trabalhava na terra, na roça. Ela era muito pobre, não tinha comida, roupa (conta que uma vez não tinha roupa para vestir o filho e este sentia tanto frio, que ela pediu e recebeu de doação de uma comadre, um vestido para cobri-lo, e ele ficou extremamente contente). Da. Maria conta que já passou muita fome com o marido e os filhos, tempos de muita seca, tempos em que tinha que comer qualquer folha do mato e não conseguia dinheiro pra poder comprar. Criou seus filhos todos com remédios caseiros. Conhecia os chás que dava como remédio, hortelã, poejo, sabugueiro e outros. Um filho dela, quando conseguiu emprego ‘na migração’ construiu uma casa pra ela morar. Diz que sua vida só melhorou quando conseguiu a aposentadoria – tem um salário todo mês, daí é que pôde comprar uma mesa, uma geladeira, um fogão a gás... Atualmente tem uma filha que mora perto e a uma nora que cuida dela. Já foi muito em festas, e dançou nove anos no Congado. Havia mutirão de homens e mulheres dançando. Principalmente na festa de Na. Sra. do Rosário.
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19-2-2013 Macuco - Entrevista com Mestre Antonio Bastião Vamos aprendendo um pouco do que é viver em Minas Novas- se desde ontem o dia todo estamos sem sinal no celular do único provedor, TIM, hoje, além disso, amanhecemos também sem energia elétrica. “é uma constante ... esse sinal de telefonia funciona um dia, no outro não”. No nosso dia, tudo voltou a funcionar por volta das 13 hs. Pela manhã, fomos até a Secretaria da Cultura, já que andar era o único meio de comunicação. Não encontramos o secretário, mas pudemos observar um museu com objetos e documentos antigos e uma pequena exposição dos artesãos da região. Consta principalmente de produção de barro, - jarros, vasos e figuras, tecidos de teares, de tricô e de palha. 19-02-2013 - Conversa com Mestre Antonio Bastião
Figura 1: Mestre Antônio Bastião, durante entrevista ao Projeto de Memória da Ancestralidade Africana nos Pontos de Leitura Tematicos. Crédito: Cintia Sampaio
Para chegar a sua casa, basta perguntar pela cidade, que todo mundo conhece e vai indicando. Mestre Antônio Luiz de Matos, ou Antonio Bastião, é referencia por sua arte de luteria de tambores e caixas de linha africana e por suas muitas apresentações, oficinas, prêmios e caminhos na cultura popular. Mestre Antônio diz que ‘mora mesmo na sua roça’, na comunidade de São Bendito do Capivari, zona rural de Minas Novas, tem 70 e poucos anos. Mas tem também uma casa em Minas Novas onde passa alguns dias da semana, onde tem muitas sacolas de documentos e gravações em CD-ROM e DVD de suas apresentações, oficinas e pelas paredes, grande quantidade de certificados, desde premiações e reconhecimento de sua identidade de Mestre, como das muitas oficinas a que foi convidado a ministrar. Entre esses certificados ele nos mostra um onde foi reconhecido como Mestre artesão lutier em 27/2/2001 pela Fundação Artística de Ouro Preto (FAOP), que ele chama de “patente”. A partir dai o Mestre passou a ministrar oficinas sobre seus conhecimentos de luteria e se tornou uma figura representativa do Vale do Jequitinhonha e das artes da produção de tambores, dos melhores em qualidade e como o único mestre artesão que domina o oficio de “tamborzeiro” (conforme Revista Raiz, http://revistaraiz.uol.com.br/portal/index.php?
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option=com_content&task=view&id=342&Itemid=190 Também conta que esteve em uma reunião de mestres tamborzeiros do mundo inteiro, no Cariri. Em sua linhagem ele lembra de sua bisavó, Tereza, que era uma índia fugida, de Salina. Fumava cachimbo e era mãe do seu avô Artur, que de fato foi quem o criou e ensinou as artes de tambozeiro. Dona Tereza segundo diz era índia fugida que se escondeu no mato e foi ‘pegada por cachorro’ do caçador, que a encontrou no mato. Ela talvez não foi escravizada, mas alguém perto dela foi, pois ela contava e também ela escondia o corpo, e não gostava de mostrar, pois tinha sinal de chicotada e também outra mulher por perto, da. Rosa, que tinha marcas de ferros nos pés. Seu avô paterno, Artur Luiz Pereira dos Santos, ou Artur Barreiro, era tropeiro, garimpeiro, construiu uma olaria em Bananal, perto de Teófilo Otoni, veio fugido pra região. A sua avó paterna, Flozinha, fazia peneiras, era ‘bugre’ (segundo ele, os bocudos africanos), e tinha conhecimento sobre as plantas curativas e as histórias; também era parteira e caminhava por toda a região ajudando as mulheres no parto. O pai, Sebastião Luiz dos Santos, quando a mãe Maria das Dores de Matos morreu foi para o Paraná, e quando voltou, morreu logo. Sua tia Luzia, irmã do seu pai tinha um terreiro em Belo Horizonte, mas a filha desta não continuou depois de sua morte. A partir dos conhecimentos ensinados por seu avô e sua avó, Mestre Antonio constrói os instrumentos, tambores ‘de linha africana’, como os denomina o Mestre, e que são utilizados pelos grupos de músicas regionais, como o Congado de São Benedito, a Banda de Taquara, Tamborzeiros da Irmandade do Rosário, entre outras. Construir instrumentos se constitui num ritual sagrado para Mestre Antonio – de permissões, busca, cheiros, toques e audição do som que indica o material adequado na mata. Segundo ele, a mata – o Rei da Mata exige respeito. “houve um tempo em que os homens e as plantas conversavam, depois elas pararam de falar e de ouvir”, ele nos diz. (Nós pesquisadores poderíamos perguntar – se não será que os humanos é que se afastaram da natureza e que já não podemos ouvi-los, deixamos de compreender a fala da mata e dos animais?) Desde o seu reconhecimento como Mestre Artesão Lutier passou a ministrar oficinas para ensinar grupos todas essas suas artes – e isso justifica todos os certificados que ele guarda nas paredes e em sacolas em sua casa. São muitas oficinas que realiza e diz 'vou continuar ensinando até que eu tenha vida.” Conta-nos que está construindo na sua roça um espaço de história da trajetória de seu avô e a sua própria. Um lugar pra deixar para os netos, bisnetos e para o mundo, que para que não esqueçam e possam continuar nessa arte. Museu da Pessoa registrou a história do Mestre Antônio, que é apresentada no seu livro impresso e faz parte do acervo na página de internet - www.museudapessoa.net
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23-2-2013 – Macuco – Itamar Alves de Souza – Assessor e Articulador da Associação e de comunidades quilombolas no Vale do Jequitinhonha. Itamar vincula-se a uma ONG – ASCOP, que fica em Minas Novas e tem a sede na CEADES, em Chapecó. O Ceades é uma organização grande e tem muitos projetos com trabalhadores rurais e quilombolas. Conta que já trabalhou em muitas coisas, teve bar, vendas, etc e a partir de 2003 tem se dedicado a comunidades quilombolas. Ele percorre a região, visitando-as, algumas como trabalho, outras como trabalho voluntário, procurando contribuir. Diz que em Minas Novas tem 15 quilombos identificadas pelo Cedefes, sendo três certificadas pela Fundação Palmares. São comunidades/Associações: Bem Posta, Ribeirão da Folha, Quilombo (que reúne 5 quilombos), Cabeana, Moeur (4 quilombos), Maria Pinto, Macuco (4 quilombos). A comunidade Nagô, apesar do nome não é quilombola. Itamar diz ter contato com todas elas, em 23 municípios do Vale do Jequitinhonha (que é muito maior e tem muitos outros). Existe uma série de direitos a partir da certificação de quilombos, e o município também pois passa a receber recursos para melhorar o atendimento à esta população: - como o valor da merenda que deve ser o dobro para os quilombolas, tem diversas linhas de crédito que se destinam a melhorias para comunidades. Cita como exemplo a disponibilidade de recursos para construir e equipar escolas e casa para o professor/a dentro dos quilombos, o que a Prefeitura de Minas Novas ignorou. Atualmente há também linhas de crédito para beneficiar o trabalho rural, distribuição de tratores, prainadeiras, etc disponíveis para os municípios utilizarem exclusivamente às melhorias das comunidades remanescentes de quilombos. - Todos identificados podem participar dos editais públicos. - Tem o programa de cisternas para os lavradores, cuja ampliação está em curso no momento. - Próximos – são dedicados às mulheres educadoras de saúde, produção ambiental, independente da certificação e do município - Tem relação direta com o governo federal. - Diz que existem leis que obrigam a ter escola nos quilombos, ou a proibição dos meninos e meninas quilombolas serem transportados para a escola da cidade.
Problema da água No Macuco houve muita desmata das nascentes. Diz que o problema das reflorestadoras como causadoras da seca é real, mas se refere a outras regiões do município. Minas Novas foi o primeiro município brasileiro a ter barragens (barraginhas, que resulta de um estudo técnico para construir pequenas barragens no rio, que funciona como retenção e umedecedor do solo ao redor para o plantio. Existem seis mil barraginhas no município. Tem o programa das cisternas de placas (que facilita a construção, pois já vem pronta e é só montar, diferente das anteriores que tinha que construir no local e as vezes dava problema de vazamentos ou inadequação com a terra do lugar. Considera que o problema da água é a necessidade de assistência a agricultura, num programa de convivência com a seca, estimulando plantios mais adequados a região. Panorama da Associação do Macuco. Negros. No inicio tinha 70 famílias ligadas a Associação. Aumentou a participação, com os benefícios e conquistas como o autorreconhecimento, conquistas sociais, recebeu dois ministros, construiu a sede, tem benefícios do governo do Estado e Federal, editais etc.
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Considera que no momento se faz necessário um programa de maior reconhecimento dos direitos conquistados e de empoderamento dos programas sociais. Mais conhecimento da lei 10639. Tem que solucionar a questão de ter admitido mais gente de fora do quilombo e aumentado muito o número de famílias que dividem entre si os benefícios. Será necessário trabalhar a cláusula de venda da terra, pois não se estabelece no estatuto, o fato de que as terras, os terrenos individuais somente podem ser vendidos para pessoas do próprio quilombo. Com a mudança de famílias para outras cidades, e a venda das terras, correm o risco de integrar pessoas não quilombolas.
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Entrevistas com o governo local 21-2-2013 Entrevista com Secretaria Municipal de Educação Articulado pelo Secretário da Cultura, tivemos um encontro com a Secretaria de Educação do Município, Sra. Maria Lina Silva Guedes, que nos recebeu atenciosamente, e pudemos observar que é bastante atenta quanto as questões de sua área, inclusive como professora da rede estadual. Ela também iniciou neste ano a sua função e nos disse que tem saído a visitar algumas comunidades quilombolas, mas que ainda não conhecia a Associação do Macuco. Apresentamos as entidades, o nosso projeto e as questões referidas ao funcionamento e atividades do Ponto de Leitura de Matriz Africana. Mostrou-se interessada em conhecer quais as ações esperadas da Prefeitura para este Ponto de Leitura e inclusive em visitar a Associação. Consideramos que seria interessante ela conversar com a Associação para essa parceria. Nos dias seguintes consultamos os integrantes da Associação sobre a conveniência de convidála para a reunião no próximo domingo, quando faríamos a devolutiva de nossa pesquisa na semana. Assim, convidamos a Secretária que aceitou e esteve presente no domingo, conhecendo e conversando com os integrantes da Associação.
19-2-2013 - Entrevista com Secretaria Municipal de Cultura Dada a intermitência de sinal de celular na cidade, sempre foi difícil conseguir agendar conversas por telefone. Depois de vários recados, visitas pessoais etc., conhecemos e conversamos com o Secretário da Cultura João André. A entrevista foi rápida, pois ele nos alcançou na casa do Mestre Antônio, onde estávamos fazendo outra entrevista. Falou de sua recente posse no cargo e que ainda está se familiarizando com as possibilidades e projetos da cultura. Iniciou-se uma discussão sobre a Lei 10.639/032, e o Secretário considerou a importância de um encontro com a Secretária da Educação, o que se empenhou em agendar.
2 A Lei 10.639/2003, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/1996), e inclui no currículo
oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Os conteúdos devem ser ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras (Seppir, 2013).
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