ANO 01 - EDIÇÃO 01 - Junho 2014
REVISTA
Sapientia
Uma viagem ao museu de Ciências Morfológicas da UFRN
E MAIS... IMT e seu espaço na UFRN Tecnologia a favor da saúde
VEGANISMO O Veddas-RN e suas ações anbolicionistas em prol dos animais
conscientização
“Montamos um braço do VEDDAS aqui para somar esforços, pois nosso
compromisso é com o abolicionismo.” Tiago Soares
coordenador do Veddas/RN
POR UMA QUESTÃO DE ÉTICA E ABOLICIONISMO
O empenho do grupo VEDDAS/RN em difundir seus ideais em favor de uma vida sem exploração animal
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fotos e texto por tamires olivieri Falar sobre Direitos Humanos é um assunto que rende ‘pano para as mangas’. Algo que está sempre em pauta e que reúne intensas discussões. Todos os cidadãos querem direitos e não é errado lutar por eles. Falando-se em Direitos Animais, as pessoas ainda batem o pé e dizem que eles têm seus direitos, afinal cachorro e gato devem ser tratados de maneira adequada. Mas quando lembramos que o que está na mesa da grande maioria da sociedade também tem direito, os ânimos ficam abalados e o estranhamento é intenso. Dizer que a vaca, o porco e a galinha, por exemplo, possuem direitos assim como os cachorros e gatos é uma atitude corajosa por parte dos ativistas.
Estamos acostumados a acreditar que o animal foi feito para ser comida. Por ser seres sencientes (isto é, que possuem a capacidade de sentir dor assim como seres humanos), também têm direitos. É nesta perspectiva que o grupo VEDDAS/RN – Vegetarianismo Ético, Direitos dos Animais e Sociedade – entra em cena. Formado há dois anos a partir de uma manifestação organizada contra a exploração animal, o grupo se viu na necessidade de praticar ações constantes, mantendo um grupo fixo e o tema dos direitos animais em voga. Na tentativa de esclarecer as pessoas sobre ética alimentar e o abolicionismo animal, o VEDDAS, que hoje possui 12 pessoas trabalhando fixamente nas ações e cerca de 57 voluntários que atuam esporadicamente, teve seu pontapé inicial dado pelos coordenadores Tiago Soares, 29, e Talita Ratto, 29.
abolicionismo.”
Talita Ratto
coordenadora do Veddas/RN
conscientização
“Queríamos mesmo um foco de educação e de conscientização pelo
Promovendo intervenções pelo campus universitário e pela cidade de modo geral, o grupo conta com uma programação bastante diversificada para chamar a atenção da população acerca da questão abolicionista. A divulgação de materiais informativos, protestos e eventos são algumas de suas ações. Atos contra a experimentação animal, como o ocorrido no centro de BioCiências na UFRN, em que uma pessoa, por vontade própria, se coloca como cobaia para fazer os testes no meio da rua são algumas ações que chamam bastante atenção do público. “As pessoas se tocam de maneiras diferentes, então a questão desses eventos é de reaproximar o tema com elas. Como esta cultura do consumo de produtos de origem animal ainda é muito arraigada e não se reflete sobre, essas são formas que apresentamos para a pessoa fazer, essa conexão”, completou Talita. Além das intervenções, ainda são realizados o “Veganic”, piquenique com comidas veganas, e o “Cine Veddas”, que ocorre geralmente na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e conta com um público significativo. Durante a exposição dos filmes, são oferecidos lanches veganos no intuito de que o público conheça novos sabores, quebrando assim o paradigma da alimentação carnívora. Já o evento DIDA – Dia Internacional dos Direitos Animais – que acontece anualmente, faz uma provocação às pessoas com corpos de animais adquiridos a partir do descarte das indústrias na tentativa de mostrar para o público o resultado das experimentações. Uma ação muito impactante, mas que prende a atenção das pessoas. “É uma ação muito interessante e que chama muito a atenção das pessoas, essas que se abrem para conversar com a gente e perguntar o que está acontecendo. É nesse momento que elas se tocam da exploração”, completou.
O Veddas conta com um grande número de voluntários, mas nem todos são veganos. Segundo Tiago Soares, muitas pessoas entraram para agregar força por ter se identificado com a questão da experimentação animal, outros por toda filosofia que o grupo carrega. “Não negamos força de trabalho pra ninguém, se a pessoa quer somar em determinada área, ela soma. Até porque é uma forma de fazer uma ponte para que outras pessoas tenham contato com o veganismo. Muitos dos voluntários entraram ovolactogetarianos e muitos outros nem mesmo vegetarianos eram e pelo convívio passaram a ser veganos. Manter contato com pessoas que não são veganas é muito bom para pode conseguir espalhar a mensagem”. O grupo tenta sempre acompanhar as novidades e reciclar as ideias para poder divulga-las durante suas ações. Produção de queijos vegetais, seitan (substituto para churrasco), cursos de nutrição vegana são alguns dos cursos que os organizadores do Veddas já participaram. O Veddas não faz críticas às pessoas que consomem alimentos e produtos de origem animal, mas tentam orientá-los sobre a quebra do paradigma do sabor e sobre a exploração desenfreada das indústrias alimentícia, de cosméticos e vestuário. “Nossa cultura nos leva ao consumo animal irrefletidamente. Não é que seja uma pessoa ruim, o que acontece, geralmente, é que essa pessoa nunca parou pra pensar sobre quais são as consequências e o que esse tipo de postura gera na sociedade. Ela, simplesmente, segue o rumo normal das coisas”. finalizou Tiago. O veganismo não é tido como uma dieta, mas como uma postura política que tem a ética animal como base primordial. Para os veganos, divulgar essa filosofia para as empresas que tratam os animais como objetos é de suma importância.
SAÚDE
“A ideia é que quanto mais cedo tratarmos as pessoas, mais cedo
iremos diminuir essa incidência.” Selma Jerônimo
diretora do IMT
Medicina Tropical ganha espaço próprio na UFRN
texto por diego campelo Um dos projetos do IMT pretende colocar coleiras com repelentes em cães para testar diminuição de infecções por calazar
fotos por joão paulo de lima e deivison pereira Inaugurado em fevereiro desse ano, o Instituto de Medicina Tropical (IMT), localizado no Campus Central da UFRN, no Departamento de Biociências, vem desenvolvendo importantes pesquisas sobre doenças infecciosas – que são aquelas contagiosas causadas por agentes biológicos como vírus, bactérias ou parasitas – e infectocontagiosas (provocadas por micróbios e transmitidas por vetor), características do clima tropical. A incidência dessas doenças em pleno século XXI é considerada como um atraso em saúde no país. Um dos serviços que o IMT presta à sociedade norte-rio-grandense é o diagnóstico de leishmaniose visceral. O nome é estranho, mas a doença é bem conhecida como o calazar, cujo vetor do vírus o mosquito palha. A leishmaniose visceral é a forma mais severa da doença e afeta, além de humanos, animais – principalmente os cachorros em áreas urbanas. De acordo com a diretora do Instituto de Medicina Tropical, professora Selma Jerônimo, só no Rio Grande do Norte são constatados de 150 a 300 casos da doença por ano. Já no Brasil o número varia de 3 a 4 mil casos anualmente, com mortalidade em 5% a 10%. Para tentar diminuir essa incidência de leishmaniose, o IMT, em parceria com a Prefeitura do Natal, através do Centro de Controle de Zoonoses, e a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), está viabilizando um projeto que irá realizar o encoleiramento de cães com coleiras especiais, as quais irão possuir um repelente. A ideia é testar se essa ação será capaz de diminuir a infecção por calazar. “Essa coleira já é comercial, o Ministério da Saúde quer testar para tentar diminuir o número de cães infectados e consequentemente a ideia é que venha a diminuir também o número de pessoas infectadas pela leishmaniose. Então nós vamos fazer a avaliação das pessoas e dos cães, colhendo sangue, para olhar se as taxas de infecção serão diminuídas”, explica a professora Selma.
Além de ações voltadas para o combate ao calazar, o instituto desenvolve ainda pesquisas voltadas para a hanseníase, doença que só no Rio Grande do Norte afeta de 300 a 350 pessoas por ano. O projeto consiste em examinar quais os possíveis marcadores de quem pode ter complicações com a doença. “A ideia é que quanto mais cedo a gente tratar as pessoas, a gente vai diminuir essa incidência”, explica.
Ainda em relação à leishmaniose, o Instituto mantém parcerias com as Unidades Básicas de Saúde (UBS) da Prefeitura do Natal, os hospitais públicos ligados ao Governo do Estado e ainda hospitais particulares da capital e do interior, para a realização de diagnósticos sorológicos da leishmaniose visceral. Esse tipo de teste é altamente importante no diagnóstico da leishmaniose. “Nós recebemos amostras de Mossoró, daqui de Natal; o que é encaminhado para aqui nós fazemos. Daqui de Natal recebemos principalmente do Hospital Varela Santiago e do Giselda Trigueiro”, afirma Selma.
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MEDICINA TROPICAL
SAÚDE conscientização
Além de ações voltadas para o combate ao calazar, o instituto desenvolve ainda pesquisas voltadas para a hanseníase, doença que só no Rio Grande do Norte afeta de 300 a 350 pessoas por ano. O projeto consiste em examinar quais os possíveis marcadores de quem pode ter complicações com a doença. “A ideia é que quanto mais cedo a gente tratar as pessoas, a gente vai diminuir essa incidência”, explica. Ainda em relação à leishmaniose, o Instituto mantém parcerias com as Unidades Básicas de Saúde (UBS) da Prefeitura do Natal, os hospitais públicos ligados ao Governo do Estado e ainda hospitais particulares da capital e do interior, para a realização de diagnósticos sorológicos da leishmaniose visceral. Esse tipo de teste é altamente importante no diagnóstico da leishmaniose. “Nós recebemos amostras de Mossoró, daqui de Natal; o que é encaminhado para aqui nós fazemos. Daqui de Natal recebemos principalmente do Hospital Varela Santiago e do Giselda Trigueiro”, afirma Selma.
A Medicina Tropical é um ramo da área Biomédica que lida com problemas de saúde que são mais incidentes ou mais difíceis de controlar em áreas tropicais ou subtropicais do mundo. Hanseníase (antigamente conhecida como lepra), malária, cólera, leishmaniose, sarampo, são algumas dessas doenças. Para cada uma dessas moléstias há linhas de pesquisa sendo realizadas no IMT, mesmo antes de ser fundado, visto que muitas pesquisas já estavam em andamento em outros laboratórios do Centro de Biociências antes da existência do novo Instituto. Selma Jerônimo explica quais os benefícios que o instituto traz à população do Rio Grande do Norte por meio das pesquisas que são realizadas. “Nós concentramos um grupo de especialistas de várias áreas, o que facilita o diagnóstico, a intervenção e o tratamento”, afirma. De acordo com uma das pesquisadoras do Instituto, professora Maria de Fátima Ximenes, a missão do IMT é fortalecer os três pilares da Universidade que são ensino, pesquisa e extensão. “A perspectiva é que possamos criar uma pós-graduação na área de doenças infecciosas nos próximos anos, auxiliando, assim, o fortalecimento de pesquisas médicas no estado e contribuindo para formação de profissionais da área de saúde”, prevê a pesquisadora. INVESTIMENTOS Para a construção do IMT foram investidos R$2.206.962,59 com verbas provenientes da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP/CT-INTRA), do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - Doenças Tropicais (INCTDT), do National Institutes of Health, e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Com a aquisição dos equipamentos, o montante investido subiu para cerca de R$ 5 milhões. Além do prédio do IMT-RN no Campus Central da UFRN, há um projeto de construção de um Núcleo de Pesquisa Aplicada em Doenças Tropicais, anexo ao Hospital Giselda Trigueiro (HGT), cuja construção será iniciada até setembro. A previsão é que o novo investimento custe em torno de R$ 10 milhões na construção e mais R$ 5 milhões para aquisição de equipamentos. ENSINO O IMT conta em seu quadro de profissionais com professores de vários departamentos da UFRN, entre eles do Centro de Biociências, do Departamento de Bioquímica, do Departamento de Microbiologia, Biologia e Genética e do Departamento de Infectologia. No entanto, como destaca a diretora, a “mola mestra” do instituto são os alunos. “Os alunos são fundamentais, porque eles são estimulados, eles são totalmente abertos a novas ideias e a energia que se tem é uma energia enorme. Nós temos alunos voluntários, alunos de iniciação científica e alunos de pós-graduação; então, eles são fundamentais”. Uma das alunas que atua no instituto como bolsista é a Joana Valverde, atualmente cursando o doutorado em Bioquímica. Ela recebe uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para executar pesquisas e coordenar equipes de iniciação científica no Instituto. Ela explica que como se dá a sua atuação no IMT. “Eu desenvolvo pesquisas relacionadas à resposta do paciente doente aos medicamentos contra a leishmaniose visceral”. Ainda segundo ela os estudantes são essências ao órgão, já que são eles a “mão de obra”, os que executam as ideias pré-concebidas nas pesquisas. Além de alunos de pós-graduação, como Joana Valverde, o IMT possui ainda equipes de graduação e iniciação científica, de cursos como Medicina, Biomedicina, Biologia e Farmácia. “Aqui a gente aprende como coordenar uma pesquisa, porque nós aqui ficamos bem à vontade para pensar, pesquisar, discutir e a gente aprende, inclusive, a ensinar os estudantes de iniciação científica”, acrescenta Joana Valverde.
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EDUCAÇÃO
ENTREVISTA
PERFIL Maria da Conceição Fraga texto e foto por caio rodrigues e vivian lucena
“A gente nunca deixa de ser professor, só quando se aposenta”
Graduada em sociologia e ciência política pela UFRN, a Prof.ª Maria da Conceição possui também mestrado em ciências sociais pela mesma universidade, e doutora em sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Já foi professora da UFAM, como também da própria UFRN. Hoje em dia, mesmo não estando diariamente na sala de aula, faz questão de frisar: “a gente nunca deixa de ser professor, só quando se aposenta”.
Tem experiência na área de Sociologia e História, sendo nesta última o departamento onde está alocada atualmente. Foi chefe do departamento de Ciências Sociais e diretora de interiorização da Universidade Federal do Amazonas. Na UFRN em cargos administrativos foi chefe do departamento de História e vice-diretora do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes. Atualmente está na Pró-Reitoria de Extensão. No âmbito da pesquisa, Conceição Fraga lançou um livro próprio na década de 90 “ESTUDANTES, CULTURA E POLÍTICA: A EXPERIÊNCIA DOS MANAUARAS” 1. ed. Manaus: EDUA, 1996. v. 1. 140 p.
Além de ter participação em capítulos de livros de outros colegas. A professora está à frente de projetos como o Trilhas Potiguares, dentre outros, os quais em sua maioria objetivam temas voltados para a política. Suas últimas pesquisas trataram de movimentos sociais e políticos do estado, principalmente no período da ditadura militar, (temáticas como a anistia e os anistiados aqui no Brasil). Ela ainda está coordenando uma linha de pesquisa que investiga a participação dos clérigos e leigos católicos na luta contra a Ditadura Militar no Rio Grande do Norte.
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TECNOLOGIA
O AVC atinge cerca de 6 milhões de pessoas no mundo todos os anos, das quais 6 milhões chegam a óbito Alunos da UFRN desenvolvem luva para auxílio a pacientes de AVC texto e fotos por isadora vasconcelos
As sequelas de um AVC são muitas entre elas a paralização de parte do corpo e dificuldade de fala
Popularmente conhecido como derrame, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) atinge cerca de 16 milhões de pessoas no mundo todos os anos, das quais 6 milhões chegam a óbito. Acidente Vascular ocorre quando há insuficiência do fluxo sanguíneo em determinada área do cérebro, podendo ser causado por mal formação arterial no órgão (aneurisma), hipertensão arterial ou um bloqueio na artéria pulmonar. As sequelas de um AVC são muitas entre elas paralização de parte do corpo e dificuldade na fala, que requerem tratamento fonoaudiológico e fisioterápico. Alunos do departamento de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob orientação do Prof. Dr. Rummenigge Rudson Dantas e em Parceria com o Departamento de Fisioterapia da UFRN, desenvolveram a Flex Glove, uma luva voltada para o uso em ambientes virtuais com o intuito de estimular o paciente de AVC a movimentar o lado afetado pelo acidente vascular.
A luva capta todos os movimentos da mão do paciente informando quais áreas da mão estão sendo trabalhadas durante as sessões de tratamento. Os exercícios são realizados a partir de um jogo, criado pelos alunos de Ciência e Tecnologia da UFRN, que requer do usuário realize o movimento de abre-fecha e o movimento de pinça. Movimentos estes normalmente afetados pelo AVC. O desafio do jogo é levar um barquinho/caiaque até a linha de chegada no menor tempo, mas desviando de obstáculos, coletando estrelas ao longo do caminho. Hoje, o projeto conta com dois modelos de luva, o primeiro que tinha custo de 2000 dólares e outro que vem sendo desenvolvido nos laboratórios do departamento de ciência e tecnologia da Universidade, com um material especial e mais completo que tem o custo máximo de 100 dólares. O aluno de Ciências da Computação, Lucas Cassiano, informou que tal projeto vem sendo desenvolvido há mais de dois anos e hoje aguarda autorização para ser testado em pacientes do Hospital Universitário Onofre Lopes em uma parceira do departamento de fisioterapia da Universidade Federal com o departamento de Ciência e Tecnologia.
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