Infância na Mídia - 12ª edição

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O

Ano 7 número 12 Março 2002

Pesquisa ANDI / IAS

infância na mídia

inocentes

GrITO

dos

inoCentes inocentes

U m a a n á l i s e do tratamento jornalístico dos c r i m e s s e x u a

REALIZAÇÃO

O

is

20 01 Ranking

Ranking Quem é quem na imprensa brasileira quando as crianças e os adolescentes estão no centro da pauta


P R O V

A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO CENTRO DA PAUTA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

É R B I O A F R I C A N O

O mundo que temos hoje não nos foi dado por nossos pais;

na verdade ele nos foi emprestado por nossos filhos.


DIREITOS DA INFÂNCIA E DO INSTITUTO AYRTON SENNA

A PRESENTE EDIÇÃO CONTA COM OS SEGUINTES APOIOS:

A pesquisa Infância na Mídia pode ser solicitada à ANDI. É distribuída gratuitamente aos assinantes das revistas Imprensa e

Educação – que se somam às parcerias desta realização.

ESTA PUBLICAÇÃO É DIRIGIDA A PROFISSIONAIS DE IMPRENSA, PROFESSORES E ESTUDANTES DE COMUNICAÇÃO E OUTRAS ÁREAS ACADÊMICAS, ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS E GOVERNAMENTAIS E A TODOS OS QUE ACREDITAM SER A INFORMAÇÃO UM DIREITO DO CIDADÃO, E QUE POR ISSO SE SENTEM (COMO JORNALISTAS OU FONTES) CO-AUTORES DE SUA PLURALIDADE, INDEPENDÊNCIA CRÍTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL.

jornalismo pluralista, crítico e o mais independente possível. Maior contextualização histórica e sócio-cultural aos fatos, assim como mais aguçada visão das situações cotidianas – enquanto fenômenos sociais possibilitadores (ou limitadores) do desenvolvimentro humano – são passos a serem dados com a mesma firmeza com a qual se construiu, ao longo da última década, a “ótica dos direitos”. Tudo leva a crer que a imprensa e os atores sociais estão prontos para ampliar e aprimorar o diálogo. A segunda parte desta edição apresenta análise detalhada sobre como a imprensa cobre um dos mais perversos crimes cometidos contra a infância e a adolescência, o crime de exploração e abuso sexual. Trata-se de uma reflexão para a qual foram convidados renomados técnicos e líderes sociais, e cujo objetivo mais imediato é oferecer subsídios a editores, repórteres e fontes de informação para que possamos experimentar um salto qualitativo nas reportagens que certamente serão produzidas a propósito do Dia Nacional de Combate à Exploração e ao Abuso Sexual (em 18 de maio), e daí por diante. Para esta análise, tornou-se imprescindível a dedicação e o conhecimento dos consultores convidados graças à parceria do Instituto WCF-Brasil e Fundación Arcor, que somam-se ao nosso intuito de contribuir para um jornalismo que ao construir uma visão holística das circunstâncias sociais promova o mais plural debate sobre os caminhos do desenvolvimento humano sustentável. A todos, agradecemos. GERALDINHO VIEIRA • ANDI

VIVIANE SENNA • IAS

Se puede encontrar un resumen de este informe en el sitio de ANDI en la Internet

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS

Em linha ascendente pelo menos desde 1996, a presença de questões relacionadas à criança e ao adolescente se consolida na imprensa brasileira. Os números do ranking anual apresentado nesta edição da pesquisa Infância na Mídia são a evidência de que a consciência da necessidade de melhoria da qualidade de vida de meninas e meninos do Brasil, o respeito a seus direitos e a coresponsabilidade de jornalistas e veículos de comunicação quanto à promoção do desenvolvimento humano são aspectos que na última década não simplesmente despertaram o País para a urgência de encontrarmos soluções para nossos problemas. Não pensamos ser exagero afirmar que, ao trazer a criança e o adolescente para o centro das prioridades, a própria imprensa renovou sua maneira de investigar a realidade e sua relação com os leitores – agora mais construtiva e propositiva. Uma das melhores conclusões do ranking anual da pesquisa Infância na Mídia está, entretanto, não no significativo número de matérias publicadas (mais de 75 mil em 2001) pelos maiores jornais e revistas do País. Está em dois índices qualitativos. Por um lado, o índice de Busca de Soluções (matérias que ampliam o debate, revelam experiências bem sucedidas e questionam a omissão dos setores sociais) ultrapassa 35% do total do noticiário, contra menos de 9% daquelas que se limitam à denúncia (fundamentais sim, mas parciais). Por outro lado, estão os índices que permitem avaliar o jogo de forças entre as Fontes de Informação com as quais a imprensa conta para alimentar o noticiário. Neste aspecto, parece extremamente saudável que a distância entre os percentuais de fontes oficiais e fontes da sociedade civil venha diminuindo a cada ano em benefício de um

Versión en español

É UMA REALIZAÇÃO DA ANDI -

You can find a brief summary of this research on ANDI´s website

A PESQUISA INFÂNCIA NA MÍDIA

O CENTRO DA PAUTA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

English version

N O S S O S PA R C E I R O S

www.andi.org.br

Primeiras palavras


Metodologia

T E M A S

SUBTEMAS

CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DA COBERTURA PATÚ ANTUNES EDITORA DE NOTÍCIAS E ANÁLISE DE MÍDIA

A ANDI monitora 49 jornais de 24 estados brasileiros e 10 revistas de circulação nacional. A clipagem, Comportamento

realizada diariamente, classifica toda notícia que cite,

Atitudes Família Protagonismo infanto-juvenil

ao menos uma vez, infância e adolescência. Cultura & Esporte

Classificadas como temas (17) e subtemas (80), as notícias viram inserções. É considerada uma (1)

Deficiências

inserção cada reportagem, artigo ou editorial dos jornais e revistas e também de suplementos infantis.

Esporte Inclusão social Inclusão na escola Saúde Outros

Não são classificadas notas, enquetes, infográficos, Desaparecidos

tabelas e colunas de consulta, além de suplementos para jovens (essa faixa etária é objeto de outra

Direitos & Justiça

Adoção (regular) Adoção (irregular) ECA (a favor) ECA (contra) Lazer Medidas sócio-educativas Privação de liberdade Promoção & Defesa de Direitos

Drogas

Ações & Campanhas Comunidade & Família Dependência & Tratamento Tráfico Tráfico & Escola

Educação

Ações & Reflexões Ações complementares à escola Arte-educação Educação pela comunicação Educação & Esporte Educação Infantil Educação Profissional Ensino Fundamental Ensino Médio Merenda escolar Professores/Eficientes Professores/Missionários Professores/Profissão Tecnologias da educação Transporte escolar Vestibular Outros

Exploração do Trabalho

Lixo Outras formas de exploração

pesquisa da ANDI, A Mídia dos Jovens, que circula em junho e dezembro). O processo de classificação define, além do tema e subtema para cada texto, seu público-alvo (crianças ou adolescentes), fontes principal ou primária (geradoras de notícia), se há chamadas de primeira página e se o enfoque dos textos reflete Busca de Soluções ou Denúncias. São consideradas 20 fontes em cinco grupos: Poderes Públicos, Sociedade Civil, Comunidade Escolar, Universidades e Empresas. Nas primeiras páginas (capas), a equipe de classificação verificou se a chamada estava situada na dobra superior ou inferior, se era manchete ou chamada na forma de nota e se vinha acompanhada de foto, ilustração ou infográfico. O total de textos monitorados nesta pesquisa é de 75.797, distribuídos em 17.567 edições. No caso das revistas, foram computados 1.131 inserções em 293 edições. Para contemplar estatisticamente edições que não foram clipadas, em virtude de problemas na distribuição dos jornais, a ANDI aplicou um índice de correção quantitativa em função do número médio de inserções diárias. Este índice vale para o ranking de Veículos Mais Atuantes e para o de Temas Mais Abordados. 4


T E M A S

SUBTEMAS

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INFÂNCIA NA MÍDIA – Pesquisa ANDI/IAS (Issn 1519-1702) ANO 7 / NÚMERO 12 / MARÇO 2002 ANDI • AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS

DA INFÂNCIA

PRESIDENTE

Âmbar de Barros DIRETOR-EXECUTIVO

Geraldinho Vieira

Exploração & Abuso sexual

Abuso & Violência Campanhas de prevenção Entidades de atendimento Exploração Sexual Pedofilia

DIRETOR-ADJUNTO

Marcus Fuchs DIRETOR-EDITOR

Veet Vivarta INSTITUTO AYRTON SENNA PRESIDENTE

Meio Ambiente

Viviane Senna SUPERINTENDENTE

Mídia

Margareth Goldenberg COORDENADORA/ÁREA DE COMUNICAÇÃO

Maria Helena Magalhães

Mortalidade Infantil

INFÂNCIA NA MÍDIA • Pesquisa ANDI/IAS

Saúde

Aids/Adolescência Aids/Ações e campanhas Aids/Gravidez Aids/Infância Aids/Privação de liberdade Aids/Situação de rua Gravidez Nutrição Saúde infanto-juvenil Sexualidade Outros

REALIZAÇÃO

ANDI / Instituto Ayrton Senna APOIO

Unicef / Instituto WCF / Fundación Arcor EDIÇÃO

Rubens Amador CONSULTORIA TÉCNICA / TEXTO EXPLORAÇÃO E ABUSO SEXUAL

Cynthia Garda CONSULTORIA TÉCNICA / ESTATÍSTICAS DE EXPLORAÇÃO E ABUSO SEXUAL

Guilherme Canela de Souza Godoi PRODUÇÃO

Ana Flávia Flôres

Situação de Rua

DISTRIBUIÇÃO

Adélia Rondon

Terceiro Setor

Assistência emergencial Cidadania empresarial ONGs Voluntariado

Trabalho

Acesso ao trabalho

Violência

Ações & Reflexões Homicídio (agente) Homicídio (vítima) Negligência Maus-tratos (agente) Maus-tratos (vítima) Roubos & Furtos (agente) Roubos & Furtos (vítima) Trânsito (agente) Trânsito (vítima) Violência nas escolas

EQUIPE DE CLIPAGEM, CLASSIFICAÇÃO E ANÁLISE DE MÍDIA

Editora • Patú Antunes Alaíse Beserra, Antônia Amélia, Bruno de Sá, Carolina Carvalho, Cláudia Alves, Deílson Vogado, Eduardo Tavares, Érika Nunes, Fabíola Coelho, Jeferson Vilas Boas, João Ricardo Oliveira, João Rodrigo de Lavor e Silva, Leonardo de Faria, Magda Dias, Pablo Tamoyo, Renata Noiar EQUIPE DE PESQUISA / EXPLORAÇÃO E SEXUAL

Classificação • Railssa Alencar e Vanessa Labarrere Processamento de dados • Paulo Marcello Marques, Diana Barbosa e Márcia Barbosa ASSISTENTES

Antônia Amélia, Eduardo Tavares e Rubenita Correa PROJETO GRÁFICO

Célia Matsunaga e Marcelo Terraza ILUSTRAÇÕES

Fernando Lopes (Correio Braziliense) FOTOGRAFIAS

Mila Petrillo - (Edisca) Escola de Dança e Integração Social de Crianças e Adolescentes (Ceará), p.2. • Fábio Corrêa - Crianças dos projetos do IAS, p. 22 e 23 • Luciana Cavalcanti, p.45 • Rayssa Petrillo - Fac-símiles FOTOLITO

Editora Segmento IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Vox Editora TIRAGEM

20 mil exemplares A pesquisa Infância na Mídia pode ser adquirida diretamente na ANDI: telefone: (61) 322-6508 ou adm@andi.org.br com Adélia Rondon. As opiniões e análises desta pesquisa são de responsabilidade exclusiva da ANDI e dos autores dos artigos. É permitida a reprodução, desde que citada a fonte. ANDI - Agência de Notícias dos Direitos da Infância SDS, Ed. Boulevard Center, Bloco A, sala 101 • 70391-900 • Brasília, DF Telefone: (61) 322-6508 e Fax: (61) 322-4973 • www.andi.org.br

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Í N D I C E Í

N

D

I

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E

INFÂNCIA NA MÍDIA 2001 TEMAS MAIS ABORDADOS Do trabalho para a escola

8

JORNAIS MAIS ATUANTES Um contra-ataque à cobertura do caos

10

PRIMEIRAS PÁGINAS Capa-e-espada em favor da boa notícia

14

TEMAS ASCENDENTES A prevenção da doença e do crime

15

FONTES DE INFORMAÇÃO A busca do equilíbrio e da pluralidade

16

EDITORIAIS E ARTIGOS Faça o que digo, não o que faço

17

REVISTAS MAIS ATUANTES Prioridade ao Terceiro Setor

18

INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO Ações sociais de empresas interessam ao leitor

20

EDUCAÇÃO INFANTIL E REDE ANDI A cidadania antes dos sete anos de idade

21

Parceria avalia noticiário da mídia catarinense

DESENVOLVIMENTO HUMANO EM BUSCA DA REDUÇÃO DE DESIGUALDADES

22

O GRITO DOS INOCENTES

24

Uma análise do tratamento jornalístico dos crimes sexuais

PONTO FINAL

47

Mortalidade infantil é tema prioritário em 2002

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Região Norte A Crítica – AM A Gazeta – AC Diário da Amazônia – RO Diário do Pará – PA Jornal do Tocantins – TO O Estadão do Norte – RO O Liberal – PA Região Nordeste A Tarde – BA Correio da Bahia - BA Correio da Paraíba – PB Correio de Sergipe - SE

e

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Diário de Natal – RN Diário de Pernambuco – PE Diário do Nordeste – CE Gazeta de Alagoas – AL Jornal do Commercio – PE Meio Norte – PI Jornal O Dia – PI O Estado do Maranhão – MA O Imparcial – MA O Norte – PB O Povo – CE Tribuna da Bahia - BA Tribuna de Alagoas - AL Tribuna do Norte – RN

s

q

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Região Centro-Oeste A Gazeta – MT Correio Braziliense – DF Diário de Cuiabá – MT Folha do Estado – MT Jornal de Brasília – DF O Popular – GO Região Sudeste A Gazeta – ES Diário da Tarde – MG Diário de S. Paulo – SP Estado de Minas – MG Folha de S. Paulo – SP

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Noticiário aumenta, apesar de Bin Laden, do apagão e da perda de mandato de senadores

E V O L U Ç Ã O Q U A N T I TAT I V A DO NÚMERO DE INSERÇÕES

O ano de 2001 foi pródigo em aconte-

O volume de textos se mantém em curva

cimentos de forte impacto e repercussão

ascendente desde 1996. Sua qualidade

mundial. Alguns deles – bombásticos –

também cresceu e os jornalistas se fixam

roubaram a cena no noticiário. Osama

em temas imprescindíveis ao ergui-

Bin Laden explodiu aviões nos EUA,

mento de nova realidade para a infância

senadores de peso renunciaram ou

brasileira.

foram cassados debaixo de acusações e

O noticiário dos jornais sobre Explo-

houve o perigo do apagão. No meio do

ração e Abuso Sexual, motivo de uma

caos, a ANDI – Agência de Notícias

análise especial nesta edição, é um dos

dos Direitos da Infância detectou

exemplos dessa postura.

uma ótima notícia no relatório analítico

Outro tema, Educação, essencial aos

anual da cobertura feita pela imprensa

destinos do Brasil, que há alguns anos

brasileira dos temas que envolvem

tinha presença modesta nos jornais, se

crianças e adolescentes.

consolida como o mais debatido pela

Apesar daqueles eventos dramáticos

mídia. Está no topo do ranking dos Temas

dominarem a atenção dos jornais, o

Mais Abordados, pelo quarto ano

número de textos sobre o universo

consecutivo. O Terceiro Setor também

infanto-juvenil (objeto deste estudo), ao

se firma entre os assuntos mais cobertos,

invés de cair, cresceu 15% em relação a

e os representantes dessas organizações

2000. Os 49 maiores jornais do País

passaram a ser vistos como referência

produziram, no ano passado, 75.797

confiável, fontes seguras de informação.

textos, 11.401 a mais do que em 2000.

Houve ainda crescimento do noticiário

Foram 1.546 matérias, em média, por

sobre Saúde e Privação de Liberdade.

jornal, ao longo do ano ou cerca de 4,2

Graças aos jornalistas, a pauta da infân-

matérias por dia em cada jornal do País.

cia e adolescência não sucumbiu com as

Dos 49 jornais, 43 publicaram mais

torres do World Trade Center, não viu as

matérias do que em 2000.

trevas nem foi cassada nas redações.

R U B E N S

U

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Gazeta Mercantil – SP Hoje em Dia – MG Jornal da Tarde – SP Jornal do Brasil – RJ O Dia – RJ O Estado de S. Paulo – SP O Globo – RJ Valor Econômico – SP Região Sul A Notícia – SC Diário Catarinense – SC Folha de Londrina – PR Gazeta do Povo – PR Zero Hora – RS

e

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E D I T O R - E X E C U T I V O

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Revistas Semanais Época – SP IstoÉ – SP Veja – SP

Jornais Total de inserções: 75.797 Busca de Soluções: 35,6% Denúncias: 8,8%

Revistas Mensais/Femininas Claudia – SP Criativa – SP Marie Claire – SP Uma - SP

Revistas Total de inserções: 1.131 Busca de Soluções: 38,6% Denúncias: 2,48%

Revistas de Economia e Negócios Carta Capital – SP (semanal) Exame – SP (quinzenal) Amanhã – RS (mensal)

Jornais + Revistas Total de inserções: 76.928 Busca de Soluções: 35,64% Denúncias: 8,7%

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A N D I

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TEMAS MAIS ABORDADOS

Do trabalho para a escola

2 0 0 1 M Í D I A N A I N F Â N C I A

• Crescimentos percentuais cumulativos em relação a 1998.

A confirmação do tema Educação no topo do ranking entre os mais abordados pelos jornais brasileiros, com maior número de matérias que em 2000, e a subida de duas posições do tema Exploração do Trabalho têm conexão, explicam-se uma na outra. A cobertura da Exploração do Trabalho, que já havia melhorado em 2000, em função da campanha Criança no Lixo, Nunca Mais, uma parceria do Unicef com prefeituras, cresceu em 2001 com o lançamento do programa Bolsa-Escola, que o Governo Federal reproduziu em escala nacional (veja gráfico). Em meados de 1997, mas sobretudo em meados de 1999, quando as denúncias de Exploração do Trabalho chegaram ao pico na imprensa, o tema Educação foi alçado aos primeiros postos do ranking de temas mais abordados. Podem haver outras variáveis, mas é certo concluir que o País passou a falar mais em Educação quando se chocou com a brutal realidade da exploração da mãode-obra de crianças. A partir disso, a imprensa começou a investigar saídas para o problema. Com certeza, essa abordagem contribuiu para o crescimento em 2001 do índice geral de Busca de Soluções, que traz matérias com enfoque pró-ativo. Dentre os Temas Mais Abordados nas páginas dos jornais, aparecem: Educação, Violência, Saúde, Direitos & Justiça e Terceiro Setor. São os mesmos, e na mesma posição, que se destacaram em 2000. Em todos estes, e em mais oito entre os 17 temas de referência em 2001, a quantidade de matérias aumentou. Houve

8

queda no volume de matérias em apenas dois temas – Exploração & Abuso Sexual e Mortalidade Infantil – temas da maior urgência. Os temas Trabalho (acesso ao mercado profissional) e Mídia (notícias sobre a imprensa e sua relação com a infância e juventude) passaram a ser classificados em 2001. De qualquer modo, mesmo com a queda numérica de inserções naqueles temas, a avaliação do conjunto mostra elevação qualitativa, traduzida seja na maior presença de matérias com a ótica de Busca de Soluções (35,6%, em 2001, contra 31,01% em 2000), seja na maior presença de fontes da sociedade civil em quase todos os temas. A maioria dos jornais privilegia nas suas abordagens a Busca de Soluções para os problemas, ultrapassando o registro de Denúncias, embora estas sejam também fundamentais.

Desempenho por Tema A prioridade dada ao tema Educação revela a percepção pelos jornais desta área como principal fator de redução das desigualdades sociais. É uma visão que se confirma em outros três assuntos que compõem o pelotão de cima dos Temas Mais Abordados – Saúde, Direitos & Justiça e Terceiro Setor. Todos eles se conectam ao direito à vida, ao desenvolvimento humano e ainda ao fortalecimento das organizações da sociedade civil. A preocupação em contextualizar a temática educacional fica mais nítida na avaliação do tratamento noticioso de seus vários aspectos. Há predominância de matérias focadas em Ações & Reflexões na área, Ensino

Fundamental e Professores. Violência destoa no grupo dos cinco temas mais abordados. Mas é gratificante que tenha aumentado a distância numérica de inserções entre Educação e Violência. E que, além disso, tenha encurtado a distância entre o terceiro colocado no ranking dos temas mais abordados – Saúde – em relação à Violência. No segundo posto desde 2000, inquieta que Violência seja também um dos temas em que mais as reportagens se prendem a Denúncias e o último em Busca de Soluções. Esse descompasso evidencia uma cobertura mais fixada no ato violento do que na questão enquanto fenômeno social. Dois terços das matérias se limitam à descrição do delito e ao retrato das vítimas e agressores. Matérias com idéias e planos contra a criminalidade ou que cobram o Estado por negligência aparecem dentre as inserções restantes. E o agressor é tratado nos jornais como marginal, não como vítima social. O subtema Homicídio lidera os registros. Seguido de MausTratos, é o quarto assunto mais tocado em todo universo pesquisado. A soma dos dois tópicos (Homicídios e MausTratos) os leva ao posto de segundo subtema mais noticiado, atrás apenas de Educação (Ações & Reflexões). Cultura & Esporte subiu quatro posições no ranking. O maior número de matérias desmonta a impressão anterior de esgotamento do assunto, o que pode ter ocorrido pela descoberta de enfoques novos para a questão. Mas perdeu a liderança em Busca de Soluções, embora tenha tido uma queda no volume de Denúncias.


Comportamento perdeu um posto. E, neste tema, se desfez o equilíbrio de abordagem dos subtemas na pesquisa de 2000. Atitudes & Família mantêm paridade de inserções, mas caiu o número de matérias sobre ações pensadas e executadas por crianças e adolescentes, o protagonismo infanto-juvenil. Em um País onde os adolescentes são muitas vezes considerados “alienados”, é fundamental que a imprensa traga aos próprios jovens e seus pais exemplos da expressão cidadã da juventude. Em Exploração & Abuso

Sexual, intriga que o tema tenha descido três posições. Em 2000, a mídia indicava a disposição de romper o silêncio sobre o problema. Mas o fato é que em 2001 os jornais deixaram um pouco de lado o assunto, embora a pesquisa O Grito dos Inocentes (na segunda parte desta edição) mostre que, qualitativamente, a cobertura tenha muitos aspectos positivos. Drogas perdeu duas posições. Matérias sobre os subtemas Ações & Campanhas e Dependência & Atitudes dominam 80% dos textos. Tráfico & Escola e Comunidade

& Família têm abordagem menor. Mas a questão familiar, por ser sempre central, poderia merecer maior atenção da mídia. No tema Direitos & Justiça, que se mantém no 4º lugar, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) aparece em posição intermediária nos subtemas. Mas sua abordagem cresceu em relação a 2000, quando se comemorou os 10 anos de vigência do ECA. As matérias a favor do Estatuto são quase o dobro das que trazem enfoques que questionam aspectos da legislação. Terceiro Setor se consolida em

excelente posição. Está mais uma vez entre os cinco temas mais abordados. E, na comparação dos subtemas deste tema, a cobertura das ONGs e do trabalho voluntário superou a dos subtemas Cidadania Empresarial e Assistência Emergencial. O assunto obteve o segundo maior índice de Busca de Soluções (79,84%), perdendo somente para o tema Meio Ambiente, que registrou um índice bastante expressivo de 82,01% de matérias com enfoque pró-ativo contra apenas 2,33% de Denúncias.

(- ) TEMAS MONITORADOS PELA PRIMEIRA VEZ

75.797

INSERÇÕES ANO 2001

64.396

35,6%

INSERÇÕES ANO 2000

9

BUSCA DE SOLUÇÕES

8,8%

DENÚNCIAS


O GLOBO • 4/12/2001

O ESTADO DE S. PAULO • 15/7/2001

FOLHA DE S. PAULO • 1/7/2001

CORREIO BRAZILIENSE • 20/3/ 2001

Um contra-ataque à cobertura do caos

JORNAIS MAIS ATUANTES

As 75.797 matérias publicadas em 2001 mostram que dos 49 jornais mais atuantes, 43 tiveram crescimento no número de matérias em relação a 2000. A performance do jornal Tribuna da Bahia será mais bem avaliada a partir do próximo ano, uma vez que pela primeira vez, em 2001, integrou o universo da pesquisa Infância na Mídia.

Houve poucas alterações nos dez primeiros colocados no ranking. Apenas quatro subiram para este pelotão: Jornal de Brasília, Folha de LondrinaPR, O Estado de S. Paulo e O Globo (esses dois últimos empatados em 10o lugar). Ocuparam vagas do Estado de Minas, Diário de S. Paulo e Hoje em Dia-MG. Dos sete que permanecem na ponta, três perderam posições: Correio da Bahia (cinco posições), A Tarde-BA (uma) e Meio Norte-PI (quatro). Avançaram no ranking, dentre os dez primeiros lugares, Correio Braziliense (seis posições), Folha de S. Paulo (duas) e A Crítica-AM (seis). O Liberal-PA ficou na honrosa segunda posição. Correio Braziliense, que ocupava em 2000 o sétimo lugar no ranking, mas que sempre esteve entre os três primeiros colocados, volta ao cume da lista. Toma o posto do Estado de Minas, que cai para 16º. Na análise geral, somando-se todos os dados desde 1996, o Correio Braziliense é o jornal que nestes seis anos mais espaço dedicou às questões da criança e adolescência. Entre aqueles que hoje estão entre os dez mais bem situados, os maiores avanços foram do Jornal de Brasília (19º a 4º colocado), de O Globo, que saiu da 27ª posição para a 10ª, e da Folha de Londrina, que pulou do 24º para o 7º lugar. No sobe-e-desce, se consolida o fato de que os jornais de impacto regional têm marcado maior presença nas primeiras dez colocações, superando veículos da chamada “grande imprensa”, de circulação e influência nacionais.

OS “GRANDES JORNAIS” Folha de S. Paulo Ao subir duas posições, a Folha de S. Paulo traduz em quantidade de textos a qualidade que tradicionalmente imprime na cobertura dos temas da infância e adolescência. O jornal teve elevação de 22,59% no volume de reportagens e segue 10

sendo referência de um jornalismo investigativo, repercutindo com impacto esses temas. Em 2001, a Folha de S. Paulo deu prioridade, entre todos os subtemas, à cobertura da Promoção & Defesa de Direitos. De maneira geral, a Folha mostra um equilíbrio nas fontes, ouvindo Poderes Públicos e Organizações da Sociedade Civil em proporção muito próxima. O jornal teve ligeira queda em Busca de Soluções. Mas foi um dos dez jornais, em todo ranking, em que o índice de Denúncias caiu. Enquanto 24,60% das matérias investigam soluções, apenas 9,95% se limitam a denunciar, sem ampliar o debate entre as soluções e as causas do que é denunciado.

O Estado de S. Paulo O Estado de S. Paulo chega ao 10º lugar no ranking, ao lado de O Globo. Ao contrário de 2000, quando teve baixo crescimento de matérias (de apenas 2,43%), em 2001 cresceu 21,16%, o que indica a retomada da prioridade editorial para a criança e o adolescente. O crescimento se baseia principalmente no destaque dado ao subtema Ações & Reflexões e à Promoção & Defesa de Direitos. O jornal aumentou o enfoque de Busca de Soluções e de Denúncias. Mas

as inserções com soluções correspondem a 33,30% contra 8,39% de denúncias. Proporcionalmente, O Estado de S. Paulo aprofunda a visibilidade a experiências bem sucedidas, mais até que seu concorrente direto. O jornal ouve mais os Poderes Públicos do que fontes em Organizações da Sociedade Civil, o que prejudica um noticiário mais plural.

O Globo De 27º lugar em 2000, O Globo subiu 17 lugares. Teve o quarto maior índice de crescimento no número de matérias. Ficou à frente, nesse quesito, de todos os outros “grandes jornais”. A dedicação de O Globo aos temas Violência, Educação e Direitos & Justiça garantiu ao jornal carioca uma posição que se sintoniza com a tradição do veículo e com a determinação das Organizações Globo, em várias áreas, de priorizar questões sociais brasileiras. Em um estado com problemas como os que têm o Rio de Janeiro, é positivo observar que os jornais cariocas passaram a ouvir, em 2001, bem mais fontes nas organizações civis do que em 2000, embora as fontes oficiais ainda sejam as mais consultadas pela redação de O Globo. Mas a abordagem de Busca de Soluções caiu enquanto, ao contrário, o índice de Denúncias cresceu.



Jornal do Brasil O Jornal do Brasil perdeu duas posições, embora tenha tido crescimento de inserções. Por certo, em função da violência no Rio de Janeiro, o jornal, assim como O Globo, priorizou matérias sobre Promoção & Defesa de Direitos, um subtema de Violência. No JB, os temas priorizados foram Violência, Educação, Direitos & Justiça, Saúde e Terceiro Setor. Busca de Soluções caiu e Denúncias cresceu.

Correio Braziliense

MÉDIA DE INSERÇÕES

1.594

O jornal volta ao topo do ranking com o acréscimo de 53,91% de matérias. Mesmo que o maior impacto do Correio

ocorra no Distrito Federal, o jornal influi nacionalmente, uma vez que pauta as sucursais instaladas em Brasília e tem forte prestígio junto ao Governo Federal e ao Congresso Nacional. Educação é o tema mais coberto pelo jornal. Violência vem em seguida entre os temas mais abordados, com número expressivo de inserções – provavelmente devido ao forte aumento do número de ocorrências policiais no DF. Continuou a ter destaque a campanha Paz no Trânsito. Mesmo com o ótimo aumento no número de matérias sobre crianças e adolescentes, o Correio Braziliense mostra uma predominância de fontes nos Poderes Públicos.

12

JORNAIS REGIONAIS Jornal de Brasília e Folha de Londrina-PR chegaram em 2001 aos dez primeiros lugares do ranking quantitativo. Depois de estar em 8º lugar em 1999 e ter caído em 2000, o Jornal de Brasília teve, em 2001, crescimento grande em número de inserções (65,94%), só perdendo em percentuais para Diário da Amazônia-RO e Jornal do Tocantins. A prioridade que o Jornal de Brasília tem dado à criança e ao adolescente se reflete no significativo número de chamadas de primeira página sobre temáticas infanto-juvenis. O jornal publicou sobre elas uma média de quase uma chamada

de capa por dia. É preciso estar atento, no entanto, ao fato de que quantidade não quer dizer necessariamente qualidade. O Jornal de Brasília, por exemplo, se notabiliza por ser um veículo mais noticioso que crítico. A Folha de Londrina-PR ascendeu priorizando Educação e Direitos & Justiça.

Região a região O Nordeste possui três jornais entre as dez primeiras colocações no ranking. CentroOeste possui dois, o Sul tem um, o Sudeste tem três jornais entre os 10 e o Norte, dois. Na avaliação geral do ranking, dos seis jornais do CentroOeste, quatro subiram de


posição. O melhor desempenho é do Jornal de Brasília, que subiu 15 posições. Depois dele vem a Folha do Estado-MT, com 13 posições, tendo 53,69% de crescimento de inserções. O Popular-GO e o Diário de Cuiabá-MT caíram. No Sul, três dos cinco jornais subiram no ranking. A Folha de Londrina-PR chegou ao pelotão de cima com uma elevação de 59,15% no número de matérias, passando do 24º ao 7º lugar. Gazeta do Povo-PR passou de 12º a 11º lugar. Diário Catarinense avançou uma posição. A Notícia-SC (em 23º) e Zero Hora-RS (em 32º) caíram respectivamente duas e uma posições, embora tenham aumentado o número de

matérias. É incompreensível que Zero Hora-RS e Diário Catarinense estejam nestas posições, uma vez que a RBS, proprietária desses veículos, mantém uma das mais atuantes fundações sociais, a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho. Seis dos sete jornais do Norte subiram no ranking. O crescimento mais expressivo do ranking foi do Diário da Amazônia-RO. Cresceu 86,16%, pulando 22 posições. O LiberalPA se mantém firme na segunda posição nacional. A Gazeta-AC, embora esteja na 45ª posição, como em 2000, mostra reação, com acréscimo de 56,14% no número de matérias em 2001. No Nordeste se deu a queda mais significativa no ranking.

Onze dos 18 jornais cederam posições, mas essas quedas ocorreram enquanto em 17 jornais da região crescia o número de matérias em relação a 2000. Seis jornais avançaram: O Povo-CE, O Estado do Maranhão, Tribuna de Alagoas e Gazeta de Alagoas, Jornal O DiaPI e Diário de Pernambuco. Tribuna da Bahia não pode ser medido, pois está no ranking pela primeira vez. O Jornal do Commercio-PE publicou mais em 2001, mas perdeu uma posição. Dos 13 jornais do Sudeste, seis perderam posições. Apenas três subiram: Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo. O restante se manteve em seus postos. Em pelo menos dez jornais houve crescimento no

número de matérias. Entre os que mais publicaram aparece O Globo, com 63% de acréscimo. Entre os que perderam posições, em três houve acréscimo de matérias. O caso mais triste está no Estado de Minas, que publicou menos matérias e caiu da primeira posição no ranking para 16º. Sendo também um dos veículos dos Diários Associados, é impressionante que o Correio Braziliense tenha tão boa performance e o Estado de Minas seja tão irregular em sua prioridade editorial à infância e adolescência.

IMPACTO DAS INSERÇÕES JORNAIS NACIONAIS

13,45%

JORNAIS REGIONAIS

86,54%

Criança, adolescente e o mundo dos negócios

* PERCENTUAL OBTIDO A PARTIR DE CÁLCULO PROPORCIONAL A SETE MESES CLIPADOS EM 2000

13

VALOR ECONÔMICO, • 11/10/2001

responsabilidade social empresarial. Os dois próximos subtemas mais tocados por esses jornais são Promoção & Defesa de Direitos e Ações & Reflexões (Educação). Os dois jornais paulistas procuram mais fontes nos Poderes Públicos e em empresas, mas começam a abrir espaço para fontes nas organizações da sociedade civil. As matérias com a ótica de Busca de Soluções são esmagadoramente mais presentes do que aquelas que se restringem a fazer denúncias. Talvez falte até um tom um pouco mais crítico (ou inquisitivo) nas matérias sobre o setor privado. Sobre este tema recomenda-se a leitura do documento Investimento Social na Idade Mídia – Discurso e imagem da iniciativa privada na imprensa brasileira, uma publicação em parceria da ANDI com o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE). A publicação está disponível nos sites da ANDI (www.andi.org.br) e do GIFE (www.gife.org.br).

GAZETA MERCANTIL, • 23 A 25/3/2001

Dois jornais de grande importância para o Terceiro Setor brasileiro são monitorados com destaque pela ANDI: Valor Econômico e Gazeta Mercantil. Lançado em maio de 2000, e analisado pela ANDI desde junho daquele ano, o jornal Valor Econômico dedica noticiário frequente aos assuntos ligados às crianças e adolescentes. Edita ainda o caderno mensal Empresa & Comunidade com ações do Terceiro Setor, muitas delas voltadas ao segmento infanto-juvenil. Valor publicou 410 matérias sobre esta faixa etária, em 2001. O jornal teve crescimento de 40,68% (veja tabela abaixo). A Gazeta Mercantil teve acréscimo de inserções de 55,16%, passando a 436 matérias. Ambos priorizam a abordagem do subtema Cidadania Empresarial (Terceiro Setor), chamando atenção da classe empresarial para a necessidade de fazer investimentos na área social, publicando experiências bem sucedidas e debatendo razões e princípios do investimento social privado e da


Capa-e-espada em favor da boa notícia

PRIMEIRAS PÁGINAS

NORDESTE (14 JORNAIS)*

1 7 5 5 C A PA S

CENTRO-OESTE (6 JORNAIS)

1 3 4 6 C A PA S

SUDESTE (13 JORNAIS)

1 3 2 2 C A PA S

NORTE (7 JORNAIS)

9 5 5 C A PA S

SUL (5 JORNAIS)

5 6 0 C A PA S

• Quando se considera a média de inserções por jornal, muda a posição das regiões que mais deram capas. Nesse caso, em primeiro vem Centro-Oeste, com 192,2 capas por jornal, seguido do Norte (136,4 capas por jornal), do Nordeste (125,3 capas por jornal), do Sul (112 capas por jornal) e do Sudeste (94,4 capas por jornal).

14

* Correio de Sergipe (antigo Jornal da Manhã), Tribuna da Bahia, A Tarde-BA e Correio da Bahia não tiveram as capas monitoradas.

A GAZETA-ES, CAPA • 26/2/2001

A CRIANÇA NAS PRIMEIRAS PÁGINAS

A CRÍTICA-AM, CAPA • 12/7/2001

É animador que o espaço para a criança e o adolescente apareça nas primeiras páginas, seja em maior número, seja na maior presença no alto das capas dos jornais do que na parte debaixo. É positivo também que as manchetes acompanhadas de fotografias ou ilustrações sejam mais frequentes do que manchetes só textuais, pois mesmo situadas na dobra inferior das capas – sendo ilustradas – atraem mais o leitor. Mas quando se observa o volume total de manchetes somado a chamadas de capa (com ou sem imagens de apoio), é ainda predominante que esses destaques sejam editados na dobra inferior. Embora com forte presença, no geral as manchetes ainda são menos usadas do que chamadas na forma de notas curtas, na maioria dos casos sem foto ou ilustração. O veículo campeão de publicação de manchetes e chamadas foi o Jornal de Brasília. Os temas infanto-juvenis estiveram presentes na capa desse jornal em nada menos que 277 vezes. Depois dele, os que mais levaram a infância e adolescência às primeiras páginas foram A Gazeta-MT, O Popular-GO, O Povo-CE, A Crítica-AM e Correio Braziliense. Quantitativamente, deram mais capas, pela ordem, as regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Sul. Essa classificação sofre a interferência do maior ou menor número de jornais por região. Tendo o Nordeste o maior número de jornais, a tendência é que seja o campeão em capas. No Sul, o campeão de capas foi a Folha de Londrina-PR. No Norte, A Crítica-AM. Meio Norte-PI se destaca no Nordeste; A Gazeta-ES lidera no Sudeste e, no Centro-Oeste, depois do Jornal de Brasília, o jornal que mais capas deu sobre a infância foi O Popular-GO.

JORNAL DE BRASÍLIA, CAPA • 13/3/2001

Os temas da infância e adolescência mereceram destaque na condição de manchetes ou chamadas de primeira página em 5.938 oportunidades, em 2001, correspondendo a cerca de 8% das 75.797 matérias publicadas. Esse é o principal destaque na avaliação das primeiras páginas dos jornais.


A prevenção da doença e do crime

ambiente cruel e fértil para lançá-lo ainda mais em uma carreira de crime. Um outro aspecto da Privação de Liberdade diz respeito à sexualidade. O País tem hoje, extraoficialmente, 16 mil adolescentes privados de liberdade. Quase todos tinham vida sexual ativa antes da internação, muitos já são pais e mantêm parceiros estáveis. No entanto, a maioria não tem direito a visitas íntimas e não pode sequer receber preservativos. Mas nenhuma lei autoriza tais proibições, que são decisões internas das entidades.

Certamente a maior abordagem do tema se explica pela presença de matérias sobre a gravidez de mulheres adultas, sobre doenças infantis e ainda a respeito do sistema de atendimento médico hospitalar.

• Sobre esta última questão, leia o boletim Conversa Afiada, número 15 (de setembro de 2001). Para acessá-lo, visite o site da ANDI, no endereço www.andi.org.br/afiada/index.html.

CORREIO BRAZILIENSE • 29/12/2001

Maioridade venal

VEJA • 28/11/2001

TEMAS ASCENDENTES

Dois temas vêm tendo impacto crescente na mídia: Saúde e Privação de Liberdade (este como subtema de Direitos & Justiça e também de Saúde). Sobre Saúde, a imprensa publicou 9.300 matérias, ou seja, 12,24% de tudo o que foi veiculado em 2001 sobre infância e adolescência. A privação é abordada fartamente em Direitos & Justiça, terceiro tema mais tocado. Em ambos se destaca a ótica da Busca de Soluções para os problemas sociais.

Os debates sobre Privação de Liberdade ganham destaque porque, contra os fatos e a lógica, se discute no País a tese da redução da maioridade penal. A tese se baseia no falso argumento de que a criminalidade aumentou porque os infratores são protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Mas o fato é que os estudos comprovam que apenas 4% dos crimes de morte no País são cometidos por adolescentes. A maioria das infrações, na verdade, é contra o patrimônio, logo não faz sentido atribuir ao jovem ou ao ECA responsabilidades pelo crescimento da criminalidade. É importante também lembrar que a redução da maioridade penal traria outros problemas, pois anularia a possibilidade de aplicação de medidas sócioeducativas. Sem chance de ressocialização, o adolescente infrator que seja levado à penitenciária aos 16 anos, por exemplo, encontraria um

15


A busca do equilíbrio e da pluralidade

FONTES DE INFORMAÇÃO

O gráfico de jornais e o acompanhamento diário das matérias revelam que as decisões de governo nem sempre são repercutidas na sociedade civil. Talvez ainda mais grave: nem a sociedade civil se manifesta sobre decisões de governo, quando procurada pela imprensa. Mas o caminho de pró-atividade deve ter mão dupla, para que a notícia ganhe a pluralidade de opiniões esperada. Ao todo, foram analisados cinco grupos de fontes de informação para um melhor diagnóstico no que diz respeito aos atores que mantêm diálogo mais frequente com os jornalistas sobre infância e adolescência. Em 2001, nos jornais, a distância entre fontes oficiais e da sociedade civil caiu em relação a 2000. Ainda assim, os editores deram quase 28 pontos percentuais mais espaço para os Poderes Públicos do que para a sociedade civil. As fontes “oficiais” foram ouvidas em 58,86% das matérias. As civis aparecem em 31,05%, um ponto positivo, pois a presença das fontes civis se manteve no mesmo percentual de 2000. O pouco equilíbrio nas fontes consultadas resulta em matérias com visões menos plurais do que poderiam ser sobre os problemas sociais. Em 2001, os jornalistas se aproveitaram menos do que poderiam do reconhecimento e da credibilidade que têm as organizações civis enquanto fontes. No caso da cobertura de Educação – temática campeã de abordagens em 2001 – os jornalistas quase não ouviram diretores, professores, alunos e Associações de Pais e Mestres. Juntas, as fontes “escolares” tiveram apenas 4,5% de presença no noticiário. Ao recusarem essas vozes cruciais, os jornalistas desprezam intervenções de quem lida diretamente com a realidade e poderia oferecer um panorama mais complexo e real dos problemas do setor educacional. É impactante notar que as universidades estejam se alienando de seu papel enquanto produtoras de informação (pesquisas). São, ou deveriam ser, fontes fundamentais, por sua capacidade de análise independente e de diálogo com a mídia. Quando estão em pauta problemas que dizem respeito à própria universidade, seus atores têm sempre bom espaço na imprensa, o que leva a crer que estão mais dedicadas ao próprio umbigo. 16

Revistas Nas revistas, ao contrário, os jornalistas priorizam na escolha das fontes a sociedade civil. Ela lidera disparada, com quase 65% de presença contra 17,53% de fontes oficiais. Por serem veículos “não factuais”, as revistas não se prendem à necessidade de noticiar as decisões de governos. Mas a presença de fontes da comunidade escolar é ainda menor nas revistas do que nos jornais. Com um índice de 14,69%, o setor privado aparece bem representado, o que ocorre basicamente em razão das revistas especializadas em economia, negócios e política monitoradas pela ANDI – Exame, Carta Capital e Amanhã. Em 2001, o Poder Legislativo não foi ouvido pelas revistas. Em outras palavras, questões como o orçamento para a área social, projetos de mudanças da maioridade penal, entre outros, não foram pauta nesses veículos. Das semanais, Veja é a que mais espaço dá à esfera civil (83,33%), seguida de Época (75%) e IstoÉ (62,5%). Em geral, porém, essas revistas também não procuram fontes nas universidades. E muito pouco ouvem as fontes escolares. Nas femininas, o governo não é ouvido. Predominam fontes na sociedade civil. Entre as revistas especializadas em economia, negócios e política, Carta Capital se destaca por ter como fontes principais as organizações civis. Exame ouve sobretudo empresas e dá mais voz à sociedade civil do que às fontes oficiais. Amanhã foi a única revista, em 2001, a ouvir a comunidade escolar como fonte primária ou principal. Este desempenho se alimenta do espaço Projeto Educação, uma parceria da revista com o Grupo Gerdau.

• Nesta pesquisa, a ANDI analisa somente aquelas fontes que puderam ser percebidas nas matérias como “fontes primárias”– ou seja, principais.


10,37%

E X E C U T I V O M U N I C I PA L

13,24%

JUDICIÁRIO* POLÍCIA SOCIEDADE CIVIL

2,89% 6,78% 10,05% 31,05%

ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL

5,48%

PESSOA FÍSICA

2,59%

CONSELHOS TUTELARES

1,10%

CONSELHOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS

0,68%

FUNDAÇÕES/INSTITUIÇÕES

4,93%

ASSOCIAÇÕES

4,49%

E S P E C I A L I S TA S

7,11%

UNICEF

1,67%

OUTROS ORGANISMOS INTERNACIONAIS

2,96%

COMUNIDADE ESCOLAR

4,2%

ESCOLA

2,45%

PROFESSORES

1,35%

DIRETORES

0,40%

UNIVERSIDADE

3,4%

EMPRESAS

2,4%

PODERES PÚBLICOS EXECUTIVO FEDERAL

17,53% 10,20%

E X E C U T I V O E S TA D U A L E X E C U T I V O M U N I C I PA L

0% 3,26%

L E G I S L AT I V O

0%

JUDICIÁRIO*

3,26%

POLÍCIA

0,81%

SOCIEDADE CIVIL

64,87%

ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL

1,22%

PESSOA FÍSICA

4,89%

CONSELHOS TUTELARES

0%

CONSELHOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS

0%

FUNDAÇÕES/INSTITUIÇÕES

18,36%

E S P E C I A L I S TA S

31,02%

ASSOCIAÇÕES

1,22%

OUTROS ORGANISMOS INTERNACIONAIS

8,16% 2,44%

ESCOLA

0,81%

PROFESSORES

1,63%

DIRETORES

0%

UNIVERSIDADE EMPRESAS

Isso significa menos de seis artigos ou editoriais em média mensal por jornal. Além de mínimo, o crescimento, de 1,4%, foi brutalmente desproporcional à elevação do número de reportagens, de 15%. A comparação em separado da publicação de artigos e de editoriais mostra uma queda no número de editoriais: de 1.116 para 964. O volume de artigos evoluiu um pouco, de 2.354 para 2.552. Fica claro que se repórteres e editores de seções incorporaram a pauta da infância e adolescência, os editorialistas ainda não a assimilaram em doses relevantes em suas reflexões. Esses resultados indicam um descompasso quantitativo intrigante entre o pulsar dos acontecimentos e da redação, de um lado; e o isolamento dos editorialistas, de outro. Os editorialistas ainda consideram mais urgente ao País a crítica e o debate de questões econômicas e políticas do que a

0%

UNICEF

COMUNIDADE ESCOLAR

Nos jornais, a publicação de artigos e editoriais teve em 2001 uma elevação modesta em relação a 2000. Em 2001, foram publicados 3.516 textos opinativos – 46 a mais que no ano anterior.

0,4% 14,69%

* Apesar de não se tratar de um Poder constituído, o Ministério Público foi incluído em Judiciário. 17

18/5/2001

L E G I S L AT I V O

Faça o que digo, não o que faço

15,53%

E X E C U T I V O E S TA D U A L

FOLHA DE S. PAULO • 2/12/2001

EXECUTIVO FEDERAL

58,86%

EDITORIAIS E ARTIGOS

PODERES PÚBLICOS


Prioridade ao Terceiro Setor

REVISTAS MAIS ATUANTES

abordagem de questões sociais. Aquilo que cobram dos políticos não praticam nas redações! Querem ver decisões políticas e econômicas em promoção da equidade social, mas estão eles próprios, os editorialistas, atados à análise dos jogos de cena diários do Congresso, das Câmaras, das Bolsas, do FMI ... De qualquer forma, os temas mais abordados em editoriais e artigos coincidem com os temas mais abordados nas reportagens. Educação foi o assunto sobre o qual editorialistas e articulistas mais refletiram e exerceram o espírito crítico. Depois, pela ordem, foram Direito & Justiça, Violência, Saúde e Terceiro Setor. Nas revistas, a desproporção é muito maior entre reportagens e artigos/editoriais. Em 2001, elas publicaram apenas 26 artigos e seis editoriais, com predominância para textos sobre Educação e Drogas, e com enfoque maior no debate das soluções. Um caso à parte: se não é grande o número de reportagens sobre Exploração & Abuso Sexual, proporcionalmente há maior presença em 2001 de editoriais e artigos que tratam da questão. Embora ainda seja muito baixa a presença de textos opinativos em geral, a preocupação com esse tema é maior nas seções de Opinião do que na reportagem, onde o assunto caiu três posições em 2001, descendo ao 9º lugar entre os Temas Mais Abordados. Mas vale lembrar que, no ano passado, o assunto agitou várias esferas e culminou com o II Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças, ocorrido em Yokohama, no Japão.

A performance das revistas brasileiras, que havia sido pior em 2000 (com 817 reportagens) em relação a 1999, melhorou muito em 2001, com um acréscimo de 28% no número de reportagens. É extremamente positiva essa elevação, pelo alcance das tiragens dessas edições e pelo fato de terem circulação nacional, o que aumenta a responsabilidade dos jornalistas. Mais ainda porque se dirigem a vários segmentos de leitores: além das matérias de interesse geral, aí estão publicações para o público feminino e para homens e mulheres de negócios. Dez revistas são monitoradas para a pesquisa Infância na Mídia. Veja, IstoÉ, Época, Claudia, Criativa, Marie Claire, Uma, Exame, Carta Capital e Amanhã. Juntas, produziram 1.131 matérias. É visível a qualificação que as revistas dedicam à cobertura. Nesse sentido, a periodicidade aparece como aliada dessas

JORNAIS ARTIGOS EDITORIAIS

CARTA CAPITAL • 21/11/2001

TEXTOS EM 2001 2.552 964

TEXTOS EM 2000 ARTIGOS

2.354

EDITORIAIS

1.116

MARIE CLAIRE • JUNHO/2001

R E V I S TA S TEXTOS EM 2001 ARTIGOS EDITORIAIS

26 6

TEXTOS EM 2000 ARTIGOS EDITORIAIS

22 2

18


ÉPOCA • 2/7/2001

Nas semanais, IstoÉ continua no primeiro lugar. Veja está em segundo e Época chega em 2001 ao terceiro posto. Veja priorizou o subtema Atitudes e publicou edição especial sobre os jovens, além de editar um encarte sobre Voluntariado e Cidadania Empresarial, o Guia para Fazer o Bem.

predomínio total de reportagens. Entre as revistas de economia, negócios e política, a Exame (quinzenal) continua no topo em quantidade de matérias. Carta Capital (tornada semanal em 2001), que começou a ser monitorada pela ANDI naquele ano, ultrapassa a gaúcha Amanhã, embora por poucas inserções. É importante observar que Amanhã é mensal. Essas três revistas cobriram mais em 2001 o subtema Cidadania Empresarial, seguido, em duas delas, de ONGs e Voluntariado. Como tem feito desde o ano passado, a revista Exame publicou o Guia da Boa Cidadania Corporativa, uma edição especial sobre a atuação de empresas na área social. A revista Amanhã se diferencia quanto ao tema de segunda maior presença, discutindo o problema da exploração do trabalho. Há uma clara preocupação, neste segmento editorial, em iluminar os caminhos para a superação dos problemas sociais enfrentados pelos brasileiros.

ISTOÉ • 11/7/2001

Desempenho

IstoÉ e Época priorizaram Promoção & Defesa de Direitos. Por sua vez, Busca de Soluções supera Denúncias nas três revistas. Há predomínio de reportagens, são poucos artigos e editoriais. Raríssimas vezes os temas da infância e da adolescência foram motivo de reportagens de capa nessas revistas. Entre as femininas (de periodicidade mensal), Claudia segue na liderança quantitativa. Criativa mantém o 2º posto. Uma vem em terceiro e Marie Claire em quarto. Mas a qualidade das edições de todas supera qualquer diferença quantitativa entre elas. Claudia se fixou mais no subtema Família; Criativa, em Atitudes. Marie Claire se debruçou sobre Voluntariado. E Uma ocupou-se com maior preocupação do subtema Gravidez. Praticamente nenhuma dessas publicações ouviu fontes do governo, baseando seus relatos principalmente em especialistas. A ótica de Busca de Soluções se consolida nesses veículos. Houve

VEJA JOVENS • SET/2001

publicações, pois permite maior rigor na apuração dos fatos e na qualidade dos textos, dandolhes mais consistência. Os temas mais cobertos foram: Saúde, Terceiro Setor, Comportamento e Educação. Mas, na análise dos subtemas, verifica-se que as revistas cobrem mais, pela ordem, Cidadania Empresarial (Terceiro Setor), Promoção & Defesa de Direitos (Direito & Justiça), Saúde Infanto-Juvenil (Saúde), Ações & Reflexões (Educação) e Atitudes (Comportamento). A Busca de Soluções, em todos os subtemas, é superior às abordagens de Denúncias.

(-) MONITORADAS PELA PRIMEIRA VEZ EM 2001

1.131

INSERÇÕES

38,6%

BUSCA DE SOLUÇÕES

19

2,48%

DENÚNCIAS


Ações sociais de empresas interessam ao leitor

INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO

Esse crescimento deve-se em grande parte à comemoração, em 2001, do Ano Internacional do Voluntariado, definido pela ONU. O volume exclusivo de matérias sobre Cidadania Empresarial foi tão expressivo que superou inclusive o número total de inserções sobre todos os temas que se referem à infância e à adolescência publicados nos jornais Valor Econômico (410 inserções) e Gazeta Mercantil (436) e nas revistas Exame (89), Carta Capital (58) e Amanhã (46). A cobertura sobre Cidadania Empresarial extrapola os veículos especializados em economia e negócios, passando a ocupar mais espaços nas publicações em geral e priorizou o enfoque positivo da Busca de Soluções. A presença maior deste noticiário mostra que as redações de jornais e revistas superaram uma antiga dificuldade imposta por seus departamentos comerciais, para os quais as matérias sobre cidadania empresarial eram promocionais e, portanto, para merecerem publicação, deveriam ser pagas. Vencida a queda-debraço com o departamento comercial, as redações passaram a publicar essas reportagens, documentando em matérias as ações empresariais, cujas notícias são de importância crescente para vários atores sociais, entre eles os voluntários. O Ano Internacional do Voluntariado gerou sem dúvida um envolvimento maior das empresas no sentido de incentivar seus funcionários a dar sua cota de contribuição pessoal às melhorias das condições sociais do País.

Compromisso x Marketing É essencial, nas reportagens, saber da comunidade se a ação empresarial corresponde às suas necessidades, assim como verificar a relação entre os recursos financeiros investidos pelas empresas nos projetos sociais e o seu faturamento. Aferir isso pode ser essencial para medir até que ponto um projeto tem verdadeiro sentido social ou se não passa de uma estratégia de marketing. Nesse sentido, é clara por exemplo a necessidade de diversificar os atores ouvidos, já que, em 2001, as empresas e seus “braços sociais” continuam a ser as principais fontes de informação consultadas pelos jornalistas em 34,18% dos casos.

20

1.404

50,43%

2,71%

INSERÇÕES

BUSCA DE SOLUÇÃO

DENÚNCIA

VALOR ECONÔMICO • 11/10/2001

EXAME • NOVEMBRO/2001

VEJA • DEZEMBRO/2001

ANA FLÁVIA FLÔRES PRODUTORA DE PESQUISA

O subtema Cidadania Empresarial (Terceiro Setor) se consolida na pauta dos jornais e revistas brasileiros. A cobertura do assunto, precária em 1998, vem crescendo a cada ano. Em 2001, os 49 jornais e 10 revistas monitorados pela ANDI publicaram 1.404 matérias sobre o assunto, 608 a mais do que em 2000.


A cidadania antes dos sete anos de idade

EDUCAÇÃO INFANTIL

Quarenta jornalistas de 20 estados brasileiros reunidos em São Paulo, em 24 e 25 de setembro de 2001, definiram uma lista de recomendações a si e aos colegas para melhorar a cobertura jornalística sobre a Educação Infantil no País.

N O V A

Nos dois dias, eles discutiram os conceitos da mídia sobre a cidadania antes dos sete anos de idade e fizeram uma radiografia do noticiário publicado sobre o tema. Os participantes conheceram os resultados da 11ª edição da pesquisa Infância na Mídia, lançada durante o encontro, promovido pela Fundação Orsa e pela ANDI, e produzida em parceria pelo Instituto Ayrton Senna e a própria ANDI. Na avaliação da cobertura da Educação Infantil, a edição teve apoio também da Fundação ORSA e do Ministério da Educação. A publicação traz uma análise do tratamento jornalístico dado a creches e pré-escolas em mais de 50 jornais e oito revistas nacionais – e pode ser solicitada à ANDI, pelo e-mail: adm@andi.org.br. As recomendações feitas naquela ocasião tem por objetivo apoiar profissionais de mídia geralmente pouco familiarizados com os aspectos relacionados à Educação Infantil, como legislação e responsabilidade social. Segundo a pesquisa, os jornalistas são ainda dependentes das fontes oficiais, o que resulta em matérias de tal forma superficiais que nenhuma diferença fazem na promoção de mudanças em favor dessa faixa escolar. Por conta disso, as reportagens são pouco ou nada questionadoras.

A G Ê N C I A

Parceria avalia noticiário da mídia catarinense

• Os resultados do encontro, incluindo a totalidade das recomendações para qualificar ainda mais a cobertura, serão divulgados em publicação especial da Fundação Orsa e da Unesco. Com lançamento programado para o 2º semestre de 2002, o livro trará também um Guia de Fontes em Educação Infantil, buscando aproximar o jornalista de um número bem maior e diversificado de boas fontes na área.

21

Uma nova agência de notícias integra a Rede ANDI de Comunicação. Com a adesão da Cidade Futura , com sede em Florianópolis-SC, passam a ser seis as agências regionais associadas à ANDI. Cidade Futura reproduzirá em Santa Catarina diversas das ações realizadas pela ANDI em nível nacional. Além de monitorar diariamente o noticiário dos jornais locais, se compromete a sensibilizar a mídia catarinense – fornecendo aos jornalistas informações e serviços para uma cobertura cada vez mais qualificada, que promova uma cultura de direitos e deveres, liberdade e responsabilidade em favor das crianças e dos adolescentes. Assim como as outras agências da Rede ANDI – Auçuba (PE), Uga-Uga (AM), Oficina de Imagens (MG), Cipó (BA) e Ciranda (PR) – a Cidade Futura trabalhará para facilitar ao máximo a vida dos jornalistas. Para atingir seus objetivos, a Cidade Futura realizará, entre outras tarefas, o acompanhamento cotidiano dos quatro principais jornais de Santa Catarina (Diário Catarinense, A Notícia, Jornal de Santa Catarina e O Estado). As reportagens, artigos e editoriais serão classificados, por temas e subtemas (como acontece nesta pesquisa que você lê), sempre que trouxerem notícias sobre o universo infantojuvenil. O resultado da análise quantitativa e qualitativa desse material será publicado pela agência na pesquisa A Criança e o Adolescente na Mídia – Santa Catarina, para que os jornais possam conhecer qualidades e falhas de sua cobertura, aprimorando a partir daí o seu noticiário. A agência também produzirá o Clipping SC Criança/Adolescente (resumo de notícias) e o boletim Prioridade Absoluta (agenda de acontecimentos e eventos ligados à infância), além de site incluindo Guia de Fontes e Banco de Projetos Sociais. A Agência Cidade Futura de Comunicação surgiu em maio de 2000. Para potencializar sua atuação, firmou até o momento duas parcerias, uma com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e outra com a empresa Parati Massas e Biscoitos.


PAUTA DA DÉCADA

Desenvolvimento Humano,

em busca da redução de

“O desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privações de liberdade: pobreza, tirania, carência de oportunidades econômicas, destituição social, negligência dos serviços públicos e intolerância.” Amartya Sen CLAUDINEI MONTES ASSESSOR DE COMUNICAÇÃO DO INSTITUTO AYRTON SENNA

O pensamento do indiano Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia e mestre do Trinity College da Universidade de Cambridge, inspira o caminho que norteia organizações como o Instituto Ayrton Senna e a ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância).

O desafio a ser enfrentado nos próximos anos em busca do desenvolvimento humano foi batizado de Pauta da Década. São ações de conscientização, mobilização e capacitação que envolvem encontros com jornalistas, debates com especialistas do Terceiro Setor, economistas e pessoas responsáveis por políticas públicas, cursos para alunos de comunicação e uma publicação de metas sociais. Para coroar essas iniciativas, há ainda a realização do Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo, que reconhece e premia o trabalho dos profissionais de comunicação.

Fotos • Crianças dos Projetos apoiados pelo IAS Praticando a liberdade de aprender, crescer, viver, brincar e sorrir

22

Educação, saúde e renda O novo paradigma baseado no desenvolvimento humano sintetiza as complexas dimensões do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), composto por uma cesta de indicadores estatísticos divulgado sistematicamente pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Essa pesquisa leva em conta três componentes básicos: educação (alfabetização de adultos e taxa de escolaridade), longevidade (expectativa de vida ao nascer) e PIB per capta (recursos necessários para aquisição de bens e serviços indispensáveis à sobrevivência). Mas o desenvolvimento humano vai além desses pilares. Proporciona prosperidade e


desigualdades bem-estar às pessoas, trazendo como resultado o viver com liberdades fundamentais, como o direito de ir e vir, de fazer escolhas com autonomia e de desfrutar de lazer com os amigos. É importante valorizar a liberdade de viver como se quer, inclusive, a oportunidade de escolher o próprio destino. Todas essas ações pretendem diminuir o abismo de nosso País, que é a 10ª economia do mundo, mas ocupa a incômoda 69ª posição em IDH.

pela imprensa brasileira: criar uma consciência nacional que esteja a serviço da transformação social e produtiva do país. Reportagens que tragam à luz essas prioridades têm certamente o poder de provocar transformações sociais profundas e sustentáveis que garantirão a melhoria da qualidade de vida de crianças e jovens que farão do Brasil uma nação melhor.

Mudança já Para o Brasil de hoje, a principal contribuição desse modelo é viabilizar a construção de uma agenda de equidade social que facilite o acesso das pessoas às oportunidades e aos frutos gerados pelo processo de crescimento econômico. Nesse ambiente favorável, nasce uma necessidade urgente, que deve ser ocupada

Í N D I C E D E D E S E N V O LV I M E N T O H U M A N O

O ranking da desigualdade NORUEGA CANADÁ E S TA D O S U N I D O S JAPÃO CINGAPURA BRUNEI ARGENTINA URUGUAI CHILE SURINAME BRASIL

1 3 6 9 26 32 34 37 39 64 69

FONTE: PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO • PNUD

23


E S P E C I A L A N Á L I S E

O GRITO DOS

INOCENTES

Com 3.717 matérias sobre a exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes em 2000 e primeiro semestre de 2001, os maiores jornais do País tentam romper o silêncio que encobre o tabu sobre o tema e procuram caminhos para investigar um crime que fere a alma da humanidade. Esta percepção foi comprovada em análise feita por um grupo de consultores reunidos pela ANDI e seus parceiros na execução do projeto

O projeto O Grito dos Inocentes é uma realização da ANDI, em parceria com o Instituto WCF/Brasil e a Fundación Arcor, e conta com o apoio do Instituto Ayrton Senna e do Unicef

O comportamento mais pró-ativo da mídia fica claro nesta pesquisa sobre a cobertura do delicado e urgente tema da Exploração e do Abuso Sexual, pela qual investigamos como os jornais tratam esse delito hediondo, se o fazem de forma espetacular ou com intensidade investigativa, se preferem o verniz policialesco ou a responsabilidade que o assunto requer. A pesquisa expõe virtudes mas também pecados da imprensa num momento em que o mundo debate a questão. E encontra plena sintonia com o II Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, ocorrido em dezembro, no Japão, onde os governos foram cobrados por descumprir o prometido no primeiro encontro, em 1996, na Suécia – ou seja, adotar sólidos planos de enfrentamento do problema. Se as políticas públicas no Brasil pecam por precariedade ou omissão, se o Plano

24

Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes está avançado no papel mas só agora começa a ser implantado, o fato é que o delito sexual e suas consequências exigem a mobilização de todos os setores da sociedade, dentre eles a imprensa. Sempre fundamental, a mídia muito tem a fazer para que o País encare a questão como deve ser – de frente, sem medo ou tabu, em busca de soluções conjuntas. Nesse sentido, é animador que a pesquisa prove que a imprensa apresenta melhor qualidade na cobertura sobre Exploração e Abuso Sexual do que sobre todas as outras formas de violência envolvendo crianças e adolescentes (ver pesquisa Balas Perdidas, de novembro de 2001). O noticiário carece ainda de uma abordagem mais consistente. Mesmo tímidos, os avanços indicam maior maturidade dos jornalistas, possivelmente incitada por um tema cuja reprovação social é ainda mais forte.


Estatística invisível Metodologia da pesquisa Apesar de alguns organismos da sociedade civil produzirem dados estatísticos sobre esses crimes no País, não se tem indicadores nacionais confiáveis sobre exploração e abuso. Caso exemplar dessa fragilidade: recentemente a Organização das Nações Unidas admitiu ser impreciso dado da organização ECPAT Internacional, utilizado pela própria ONU durante coletiva em Nova York: o de que haveria 100 mil crianças e mulheres vítimas de exploração sexual comercial no Brasil. Não se sabe se são 100 mil, 10 mil ou mil. O fato é que esses crimes, em qualquer quantidade, provocam fortes reações. O certo é que ao não cobrarmos do governo, ao não instigarmos a sociedade a agir e ao não falarmos do problema, estamos na verdade praticando crime ainda maior. Os crimes sexuais se alimentam do silêncio das vítimas, se nutrem da omissão ou da falência pública para lidar com a questão e se fortalecem na muda cumplicidade social.

O Grito dos Inocentes é uma análise sobre o noticiário dos crimes de exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes. Se baseia em noticiário publicado pelos 49 jornais de maior circulação do País, durante o ano de 2000 e o primeiro semestre de 2001. A avaliação se concentrou na cobertura jornalística envolvendo crianças e adolescentes (até 18 anos incompletos) enquanto vítimas, agressores e testemunhas de crimes sexuais. Sobre o tema, os jornais produziram em 18 meses 3.717 textos. O conjunto foi submetido a uma adaptação da metodologia de amostragem conhecida como Mês Composto. Passaram pela avaliação 718 textos escolhidos aleatoriamente do período da análise. Cada uma das 718 matérias foi submetida a um questionário analítico. Apoiados na leitura das matérias e nos resultados quantitativos, consultores convidados pela ANDI para compor o Grupo de Análise de Mídia construíram suas reflexões segundo três eixos de observação, como mostra o quadro acima à direita. Em cada um deles procurou-se responder três questões básicas: a) Como ocorreu a cobertura? b) Como esta deveria ser feita? c) Quais os instrumentos necessários à melhoria do noticiário?

BALAS PERDIDAS Com a pesquisa Balas Perdidas, publicada em dezembro passado, a ANDI analisou uma amostra de 1.140 inserções extraídas de 14.905 textos sobre Violência envolvendo crianças e jovens enquanto vítimas e agressores, publicados de julho de 2000 a junho de 2001 pelos 48 jornais de maior circulação nacional. O estudo foi feito em parceria com o Departamento da Criança e do Adolescente (do Ministério da Justiça), e a Amencar, com apoio do Instituto Ayrton Senna, do Unicef, do Conanda, da Comissão Européia e da ONG alemã Kindernothilfe. O estudo pode ser acessado, inclusive para download, no site da ANDI www.andi.org.br ou ser solicitado pelo e-mail adm@andi.org.br.

• A margem de erro da pesquisa é de no máximo 0,5 pontos percentual para cima ou baixo.

EIXOS DE ANÁLISE

Grupo Contexto: fez a crítica da cobertura jornalística do delito criminoso. Grupo Políticas Públicas: analisou a presença ou ausência de uma visão de políticas públicas no noticiário, e propôs caminhos para a abordagem deste enfoque nos jornais. Grupo Exploração e Abuso Sexual como Fenômeno Social e Psicológico: avaliou o tratamento jornalístico dado aos problemas estruturais, sociais e psíquicos. ASPECTOS OBSERVADOS

Ato violento: características da descrição dos delitos e de seus envolvidos, dos dados sócioeconômicos de vítimas, agressores e testemunhas, de peculiaridades do crime (local, uso de arma, de drogas), além das características de forma e de conteúdo das notícias. Consequências: os relatos sobre resultados diretos do ato violento (aborto, gravidez, morte) e também do atendimento (ou não) médico, psicológico e jurídico. Causas e soluções: em que medida os jornalistas fazem da ocorrência do delito sexual uma oportunidade para abordar as origens do problema, assim como os caminhos para sua solução. Políticas Públicas: como a imprensa tem abordado (ou não) propostas e ações governamentais dirigidas ao problema. Atores: a pluralidade (ou não) de distintos setores sociais como fontes de informação, e de que modo são retratados.

Jornais monitorados

49

Textos clipados

3.717

Textos analisados

718

25

Dados e discussões específicas: a presença (ou não) de estatísticas, legislações, bibliografia e referências ao Estatuto da Criança e do Adolescente, assim como do registro de serviços de atendimento às vítimas e aos agressores. Comportamento editorial: tipo (reportagem, artigos, editoriais...), tamanho, abrangência e autoria (ou não) dos textos publicados.


1 CONTEXTUALIZAÇÃO Elaborados por consultores convidados pela ANDI com base em critérios qualitativos e quantitativos, os indicadores de O Grito dos Inocentes para análise da cobertura de exploração e de abuso sexual mostram que a grande maioria dos jornais aborda o assunto com qualidade, profundidade e contextualização superiores à abordagem dada a todas as outras formas de violência envolvendo o universo infantil e adolescente. No ranking qualitativo, todos os jornais pesquisados obtiveram pontuação maior do que na pesquisa Balas Perdidas. Tanto assim que a média geral obtida subiu 8,3 pontos, passando de 30 para 38,3. Tabela 1 RANKING DOS JORNAIS NA COBERTURA DE VIOLÉNCIA (POR PONTOS) BALAS PERDIDAS

SEM ALGEMAS

Pontos positivos Os

JORNAL DO TOCANTINS (TO)

39,1

O GLOBO (RJ)

38,5

FOLHA DE S. PAULO (SP)

38,2

GAZETA DO POVO (PR)

35,0

MEIO NORTE (PI)

35,0

A GAZETA (MT)

34,8

JORNAL DO BRASIL (RJ)

34,7

O DIA (PI)

34,2

* MÉDIA GERAL DE TODOS OS JORNAIS PESQUISADOS: 30 PONTOS NUMA ESCALA DE 100.

da Cobertura

Tabela 2 RANKING DOS JORNAIS NA COBERTURA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL (POR PONTO S ) O GRITO DOS INOCENTES

A exploração e o abuso sexual de crianças e

FOLHA DO PARANÁ

48,1

adolescentes têm recebido dos jornais

TRIBUNA DO NORTE (RN)

47,6

CORREIO BRAZILIENSE

46,9

cobertura qualitativamente superior ao

A TARDE (BA)

46,0

noticiário sobre outros tipos de violência.

JORNAL DO TOCANTINS

45,8

CORREIO DA BAHIA

44,4

A cobertura diversifica fontes de informação e

FOLHA DE S. PAULO

44,4

amplia a abordagem do problema enquanto

* MÉDIA GERAL DE TODOS OS JORNAIS PESQUISADOS: 38,3 PONTOS NUMA ESCALA DE 100.

fenômeno social. Veja o ranking completo dos 48 jornais da análise O Grito dos Inocentes, na página 39.

A cobertura deve ainda melhorar, mas são nítidos os sinais de uma mudança positiva de enfoque. É o que fica evidente na comparação dos dados desta pesquisa O Grito dos Inocentes

2 TRATAMENTO SOCIOLÓGICO

com o estudo Balas Perdidas, pelo qual a ANDI

O número de menções sobre políticas públicas nas matérias de exploração sexual é maior do que o dobro das publicadas nos textos sobre outras formas de violência. Isso significa maior cobrança por ações governamentais e maior abordagem de programas de prevenção e de atendimento a vítimas e agressores. A análise das causas e soluções do problema é quase três vezes maior. É também expressiva a ampla discussão de aspectos que ajudam a contextualizar o problema. Por sua vez, é menor a abordagem centrada na mera narrativa do ato violento, o que comprova uma preocupação em aprofundar a discussão do tema.

radiografou o noticiário dos crimes não sexuais. O presente estudo comprova que a exploração e o abuso têm recebido tratamento preocupado em investigar a extensão e a dimensão do problema. São avanços dignos de reconhecimento.

26


Tabela 3

5 À PROCURA DE INDICADORES

T E M A S C E N T R A I S D A S M AT É R I A S ( E M % ) BALAS PERDIDAS POLÍTICAS PÚBLICAS

O GRITO DOS INOCENTES

4,8

9,7

CAUSAS E SOLUÇÕES

6,9

17,2

DISCUSSÕES GERAIS

5,6

8,3

80,0

67,5

ATO VIOLENTO

* O ITEM CAUSAS E SOLUÇÕES ABRANGE MATÉRIAS QUE TRATAM DO PROBLEMA COMO FENÔMENO SOCIAL, NÃO RELACIONADAS A UMA OCORRÊNCIA ESPECÍFICA DE CRIME.

3 INVESTIGAÇÃO MAIS PROFUNDA

Em relação a Balas Perdidas, aumentou em mais de 30% a presença de indicadores e estatísticas sobre crimes. Mas é ainda uma presença muito baixa. O importante é perceber que, mesmo com a dificuldade internacional de se obter dados numéricos sobre os delitos sexuais, ante seu caráter “clandestino”, os jornais buscam maior contato com os poucos organismos que se preocupam em registrar indicadores. Mas essa dificuldade não pode justificar a falência das estatísticas criminais sobre a violência. Tabela 7

Na comparação com Balas Perdidas, é o dobro o número de textos centrados na avaliação do problema. Esse crescimento vem acompanhado de um número significativamente maior de textos preocupados em investigar propostas para solucionar o drama.

M AT É R I A S C O M E S TAT Í S T I C A S ( E M % ) BALAS PERDIDAS

O GRITO DOS INOCENTES

10,0

13,4

6 SENSACIONALISMO

Tabela 4 NÍVEL DE ABORDAGEM (EM %) BALAS PERDIDAS

O GRITO DOS INOCENTES

AVALIATIVA

3,8

7,0

PROPOSITIVA

5,8

9,7

4 FONTES DIVERSIFICADAS Muitos dos melhores momentos da cobertura da exploração devemse ao fato de que, embora tímida, é maior a presença e a diversidade de fontes, como, por exemplo, do Judiciário, do Ministério Público e das ONGs. Os textos trazem outras opiniões que não só do Governo e da Polícia. A pluralidade de fontes (e portanto de visões de mundo) é sempre desejável, pois garante uma abordagem mais contextual dos problemas sociais. É nítido, por exemplo, que a cobertura avança do foco na segurança pública para aspectos relacionados ao sistema legal de garantia de direitos da infância em todas as suas esferas, buscando tratar o problema como fenômeno social. Não por acaso é três vezes maior a citação de leis. Menções ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) aparecem sete vezes mais em exploração sexual do que no noticiário sobre outras formas de violência.

Mesmo que 67,5% das matérias sejam meramente factuais (a descrição de atos violentos), na maior parte das vezes a imprensa escapa da armadilha de tratar um tema “sensacional” (porque de forte impacto), apelando para o sensacionalismo. Como em matérias sobre outras formas de violência, são raras as ocasiões em que a vítima ou os agressores são tratados de forma desumana ou depreciativa. Quando o tratamento é sensacionalista, a linguagem se deteriora ao nível do preconceito mais ofensivo (ver pág. 44). Tabela 8 M AT É R I A S C O M E N F O Q U E S E N S A C I O N A L I S TA ( E M % ) BALAS PERDIDAS 9,2

4,5

PROCURA CHOCAR

10,0

2,2

Tabela 5 O GRITO DOS INOCENTES

4,21

14,6

DIÁRIO CATARINENSE • 18/5/2001

T E X T O S Q U E C I TA M L E G I S L A Ç Õ E S ( E M % ) BALAS PERDIDAS

Tabela 6 Q U A N D O O E C A É C I TA D O ( E M % ) BALAS PERDIDAS

O GRITO DOS INOCENTES

0,8

6,7

O GRITO DOS INOCENTES

DESCRIÇÃO CORPO VÍTIMA

27


TABU INIBE INVESTIGAÇÃO DO PROBLEMA Os jornais têm melhor desempenho na investigação das causas da exploração e do abuso sexual e das soluções para o problema do que na cobertura de todos os outros tipos de crime envolvendo crianças e adolescentes. Contudo, ainda abordam os crimes sexuais de forma modesta. Possivelmente por conta do tabu que encobre o assunto, consequências do ato violento, como a gravidez indesejada, o aborto e traumas psicológicos, também tiveram abordagem pequena diante dos desafios que o tema impõe

Pobreza Quando a origem do problema é citada, a pobreza é apontada como causa em 16,8% dos registros. Se condição econômica é facilmente associada à exploração sexual comercial, o que se confirma na maciça maioria das vezes, especialistas afirmam que o mesmo não acontece quanto ao abuso. Embora ocorra em todas as classes sociais, o abuso submerge sob o tabu do incesto e a vergonha social, fatores que inibem a denúncia dos casos na esfera pública e, em decorrência, prejudicam a abordagem do tema pela imprensa. Especialmente nos casos de abuso na família, a condição social dos indivíduos é em geral disfarçada.

Coisa de pobres (e ricos!) As condições econômicas e sociais das vítimas são escondidas em 70,7% dos textos pesquisados. Deduz-se que o jornalista subentende que a exploração sexual vitimiza tipicamente crianças e adolescentes de baixa renda. O contrário ocorre com agressores e suspeitos. Destes, 25,5% são apresentados como de classe média; 16,4% da classe baixa; 7,3% da classe alta; 0,8% são “moradores de rua”. “Classe média” aparece mais porque a mídia costuma destacar o delito quando o agressor pertence às classes sociais mais altas.

28

DIÁRIO DE CUIABÁ • 9/5/2001

LIMITES

Vasculhar as motivações dos crimes sexuais é imprescindível para enfrentar a exploração e o abuso. Essa preocupação está presente em 18,2% de todo universo pesquisado. Detalhando esse dado, 10,5% das menções privilegiam uma abordagem do tema enquanto fenômeno social e psicológico, não estando relacionadas à ocorrência de crimes específicos. Os 7,7% restantes surgem associados a matérias que narram o ato violento. A discussão de soluções chega a ser superior a de causas: 19,4%. Dois assuntos dominam a abordagem: combate à impunidade (7,5% do total) e campanhas de conscientização contra o turismo sexual e delitos similares (3,1% dos textos). Nada mais que 1% do total dos textos indica serviços de denúncia e atendimento, em Delegacias da Mulher, SOS Criança etc. Por sua vez, as consequências do ato violento para os envolvidos aparecem em 19,4% do universo pesquisado, subdivididas sobretudo entre gravidez, problemas psicológicos, problemas físicos, aborto e morte. Em geral, o noticiário isola o delito na memória do leitor, que não fica sabendo das providências tomadas ou ignoradas, dos impactos existenciais, familiares e sociais do crime, dos mecanismos de prevenção e de atendimento. Resultado: o cidadão prossegue desmobilizado ante um problema que pode rondar sua família.


Tabela 9

Tabela 10

C A U S A S E X P L Í C I TA S E I M P L Í C I TA S D O S C R I M E S S E X U A I S ( E M % ) POBREZA (DESEMPREGO, TENSÃO SOCIAL)

S O L U Ç Õ E S PA R A O S C R I M E S S E X U A I S ( E M % ) 16,8

COMBATE À IMPUNIDADE

38,8

INEFICIÊNCIA DAS DIVERSAS AUTORIDADES LIGADAS AO TEMA

7,6

CAMPANHAS DE CONSCIENTIZAÇÃO

15,8

CULPABILIDADE DA VÍTIMA

7,6

PARCERIAS (ONGS, GOVERNO, EMPRESAS ETC.)

9,4

FALTA DE AÇÃO OU PREOCUPAÇÃO DA SOCIEDADE COM O TEMA

6,1

POLÍTICAS DE ACOMPANHAMENTO DA VÍTIMA

5,8

BANALIZAÇÃO DA SEXUALIDADE PELA SOCIEDADE/MÍDIA

5,3

SOLUÇÕES ADOTADAS PELA FAMÍLIA

5,0

FALTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS

5,3

PROTAGONISMO JUVENIL

4,3

PROBLEMAS MENTAIS

5,3

EFICIÊNCIA ADMINISTRATIVA

3,6

DESESTRUTURAÇÃO FAMILIAR

4,6

PENAS LEGAIS MAIS SEVERAS

2,2

EROTIZAÇÃO PRECOCE

3,8

SOLUÇÕES ADOTADAS NA ESCOLA

1,4

CORRUPÇÃO POLICIAL

3,1

MELHORIA DAS CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS

1,4

INADEQUAÇÃO DA FAMÍLIA AOS PROBLEMAS ENFRENTADOS PELA CRIANÇA

2,3

AÇÃO DA COMUNIDADE

0,7

INADEQUAÇÃO DA ESCOLA AOS PROBLEMAS ENFRENTADOS PELA CRIANÇA

2,3

POLÍTICA DE CULTURA/ARTE E EDUCAÇÃO

0,7

ABUSO SOFRIDO EM OUTRAS FASES DA VIDA

0,8

CAPACITAÇÃO DE POLICIAIS

FALTA DE POLÍTICA DE ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS

0,8

OUTRAS SOLUÇÕES

USO DE DROGAS

0,8

FATOR CULTURAL

0,8

OUTRAS CAUSAS

26,7

0,7 10,1

* ESSAS SOLUÇÕES SÃO FOCALIZADAS EM 19,4% DOS TEXTOS PESQUISADOS.

* ESSAS CAUSAS SÃO FOCALIZADAS EM 18,2% DOS TEXTOS PESQUISADOS.

Inadequação da escola

Abusadores e família

Surpreende que a “inadequação da escola” apareça como “causa” da exploração sexual e do abuso. Mas surge em 2,3% dos textos. Causa não é. Porém, é comum nos relatos a percepção de que a escola “pouco pode fazer” para enfrentar o problema, seja por contar com professores inaptos para identificar sinais de que seus alunos estejam sendo molestados ou explorados sexualmente, seja porque o tema sequer faz parte da rotina da escola. Esse despreparo expõe uma falha grave das políticas públicas, que deveriam ter na área da Educação, assim como na de Saúde, instâncias vitais de enfrentamento do problema em nível nacional.

Também apontada como causa do ato violento, a desestruturação familiar aparece em menos de 1% dos textos. Mas a família sempre está no centro do drama, especialmente em casos de abuso. Estudos psicológicos mostram, por exemplo, que alguns abusadores sexuais transferem para a vítima a violência que sofreram na infância. Embora especialistas comprovem essa tese, apenas 0,1% das matérias se refere a esse fator como uma causa do delito. A observação desse comportamento padrão é especialmente importante ao debate das consequências do abuso em crianças e adolescentes e à adoção de políticas de acompanhamento médico e psicológico inclusive do abusador, para quebrar o ciclo do problema.

ESCOLARIDADE A escolaridade da vítima não aparece em 97,3% dos textos. No caso do agressor, o dado surge em 11,5% das matérias, em que ele é citado, associado quase sempre ao direito à prisão especial que a formação universitária assegura. Fica evidente também que o jornalista não “trabalha” a escola como espaço de debate sobre o delito sexual.

ESTUPRO NÃO, INCESTO! O índice de matérias que registram casos de abuso entre pais e filhos ou irmãos é de 21,7%. Em pouco mais de um quarto dos casos, o cenário do delito é a casa da vítima. Chama atenção que a palavra incesto apareça só raramente nos jornais. Quando surge, vem travestida na roupagem de “estupro” ou “abuso sexual”, em prejuízo de uma abordagem precisa do crime, o que reforça o tabu sobre o tema.

29


Machismo A cobertura quase não destaca fatores de gênero como causa dos crimes sexuais. Mas é sabido que repercutem no comportamento sexual, como o machismo e toda a carga de distorções que acarreta. Não por acaso 90% dos abusadores pertencem ao sexo masculino, principal demandante do comércio sexual. Em 718 textos, somente um se refere ao fator cultural como causa dos crimes sexuais, embora essa abordagem contemple questões de gênero, regionalismos, tabus em torno do delito sexual, dentre outras explicações que ajudariam a entender o delito enquanto fenômeno social amplo e complexo.

FAIXA ETÁRIA E SEXO A informação sobre a idade de vítimas e de agressores é determinante para compor um quadro das circunstâncias em que ocorre a violência sexual. Mas ainda é alto o percentual de textos que omite a idade dos envolvidos, sobretudo do agressor. Mais da metade do material (50,9%) omite a idade do agressor. A maioria dos condenados e suspeitos que têm as idades citadas, possui de 31 a 50 anos. As vítimas são principalmente mulheres de sete a 17 anos. É impossível situar a faixa etária das testemunhas, grupo muitas vezes composto por adolescentes e jovens que viram alvo indireto da violência.

ONDE E COMO FAZER DENÚNCIAS De acordo com o artigo 13 do Estatuto da Criança e do Adolescente, casos de suspeita ou de confirmação de maus-tratos, incluindo abuso sexual e violência, devem ser comunicados ao Conselho Tutelar da localidade, sem prejuízo de outras providências legais. Se o município não possui Conselho Tutelar, o Juizado da Infância e Juventude pode substituí-lo. As denúncias devem também ser comunicadas às Delegacias da Mulher ou às Delegacias Especiais, como Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente e Delegacia de Polícia de Crimes Sexuais. O cidadão pode fazer denúncias pelo telefone 0800-99-0500, da Abrapia/Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil. A Abrapia (Associação Brasileira de Proteção à Infância e Adolescência) mantém atualizados os dados sobre denúncias e providências tomadas, no site www.abrapia.org.br. Por sua vez, o Cedeca-Bahia oferece um serviço de rastreamento da pedofilia por meio do site www.violenciasexual.org.br

Tabela 11

ATENDIMENTO Para conhecer projetos sociais de destaque no atendimento de crianças e jovens e no combate ao abuso e exploração sexual, acesse o site da ANDI (www.andi.org.br). Clique em Banco de Projetos/Guia de Fontes e selecione o tema Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes.

C O N S E Q U Ê N C I A S P A R A O S E N V O LV I D O S ( E M % ) GRAVIDEZ

24,1

PROBLEMAS FÍSICOS

21,9

PROBLEMAS PSICOLÓGICOS

20,4

ABORTO

10,2

MORTE

8,8

FUGA DE CASA

5,8

DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS

4,4

ABANDONO DA ESCOLA

2,2

EXPULSÃO DE CASA

1,5

SUICÍDIO

0,7

* AS CONSEQÜÊNCIAS SÃO FOCALIZADAS EM 19,4 DOS TEXTOS PESQUISADOS.

30


COMPORTAMENTO EDITORIAL

A maioria das matérias não é assinada. Em 54% dos casos, são omitidos o autor ou as agências das quais procedem as reportagens. Nas matérias sensacionalistas, com descrições detalhadas dos delitos (4,5% do total), os autores e a procedência dos textos são “protegidos” em mais da metade dos casos. Cômodo no anonimato, o jornalista fica imune ao julgamento alheio e pode se sentir estimulado a exercitar relatos sombrios. Além do anonimato, pouquíssimos jornais se posicionam com opiniões sobre o tema da exploração e do abuso. Apenas 0,4% dos textos analisados são editoriais. A sociedade manifesta sua opinião, por meio de artigos, em apenas 2,5% do material pesquisado. Reportagens compõem 95% do material classificado. Esse predomínio reduz também o espaço para entrevistas, verificado em apenas 0,3% do material. Mesmo entrevistas com autoridades policiais – principal fonte de informação sobre o tema – ocupam não mais que 0,1% do universo pesquisado, abordando sobretudo pornografia na Internet.

ANONIMATO PROTEGE AUTOR DAS MATÉRIAS

Tabela 12 QUEM RESPONDE PELA INFORMAÇÃO (EM %) IMPOSSÍVEL IDENTIFICAR

54,0

R E P Ó R T E R / E D I T O R / C O L U N I S TA /

Há significativa omissão na abordagem dos crimes de exploração e de abuso sexual envolvendo crianças e adolescentes: a maioria das reportagens não traz publicado o nome do autor das matérias. O anonimato se dá na contramão de algo positivo: a preocupação, ainda que modesta, em abordar o tema com maior fidelidade e dar tratamento mais contextualizado à informação

A R T I C U L I S TA E O U T R O S R E S P O N S Á V E I S AGÊNCIA DE NOTÍCIA

34,0 6,3

REDAÇÃO

2,5

R E P O R TA G E M L O C A L

2,1

SUCURSAIS

1,1

Tabela 13 A P R E S E N TA Ç Ã O D O T E X T O ( E M % ) R E P O R TA G E N S

95,0

ARTIGOS

2,5

E N T R E V I S TA S C / E S P E C I A L I S TA S

1,1

N O TA S

0,8

EDITORIAIS

0,4

COLUNAS

0,1

Tabela 14

A CRÍTICA-AM • 2/2/2001

ABORDAGEM DO ASSUNTO (EM %)

31

CONTEXTUAL

44,3

FACTUAL

29,5

PROPOSITIVO

9,7

DESCRITIVO

9,5

A VA L I AT I V O

7,0


FONTES

A URGÊNCIA DE

OUTRAS VOZES A Polícia é a principal fonte de informação buscada pelos jornais. Mas a presença de entrevistados fora da esfera policial é maior nos casos de crime sexual do que nos outros tipos de violência envolvendo crianças e adolescentes. Um noticiário baseado na fonte policial transmite a falsa idéia de que crimes sexuais, principalmente o abuso, só ocorrem em famílias pobres. Quando diversifica fontes, o repórter descobre que o delito acontece também nas classes média e alta, que na maioria das vezes evitam recorrer à Polícia

Nem sempre a autoridade policial aparece como quem transmitiu dados, verbalizou opiniões. Às vezes a Polícia é apenas citada nos jornais, em muitos casos en passant. Assim mesmo, está presente em 61,4% dos relatos, sendo a principal fonte das matérias sobre violência sexual em 28,6% dos casos. Quando o jornalista transpõe a fonte policial, em geral não ultrapassa a esfera do Judiciário e do Ministério Público. A presença de organizações da sociedade civil como fonte principal/provocadora é verificada em apenas 3,9% dos casos. Apesar de muito baixo, este índice é o dobro do encontrado nas matérias sobre outras formas de violência. Menções a essas entidades, não necessariamente na condição de fontes, chegam a 15,3%. A maior utilização da Polícia e do Judiciário como fontes reduz o espaço, por exemplo, para organismos internacionais, universidades e especialistas, que quase não aparecem como “provocadores” da discussão do tema na imprensa. Os jornais continuam desperdiçando outras fontes indispensáveis à ampla compreensão do crime sexual: Poder Legislativo, Conselhos Tutelares e de Direitos, além de autoridades das áreas da Saúde e Educação...

Prejulgamento A Polícia contribui para fomentar o estigma quando exerce o velho costume de expor a identidade dos envolvidos, induzindo à prévia condenação social de suspeitos. Alguns casos de injustiça se tornaram célebres, como o da Escola Base, em São Paulo, típico e dramático. A comprovação da inocência dos acusados e o mea culpa da imprensa por uma cobertura que condenou pessoas no embalo da versão policial terminou obrigando jornalistas e jornais a uma autocrítica sem precedentes. Como bem mostrou o caso da Escola Base, ao se prender à versão policial, o jornalista, além de correr o risco de cometer injustiças, acaba se fixando no delito e deixa de fazer a cobertura completa, que exige a investigação de fatores históricos, sociais, psicológicos etc. que encobrem o ato violento. Perdemos todos com isso, até porque os textos não destacam a urgência da adoção de políticas públicas governamentais em parceria com a sociedade para a prevenção da exploração e do abuso sexual, além do tratamento das vítimas e dos agressores, que precisam igualmente de socorro médico e psicológico.

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Corrupção e exploração No caso de exploração sexual comercial, a cobertura se baseia menos em eventos policiais. Por incrível que pareça, isso tem uma consequência “positiva”: sem um “monstro” à mão (às vezes só um suspeito) para o qual dirigir ódio e punição, o tratamento se posiciona no conjunto de fatores que causam o problema social e na complexidade de ações para resolvê-lo, avançando no contexto da agressão econômica, social e política contra os pobres. Há duas faces nesse fato. De um lado, ele confere maior qualidade à informação. De outro, faz suspeitar que a exploração sexual não esteja sendo coibida pelas autoridades, como dita antiga tolerância cultural à prostituição no Brasil. É sabido que a Polícia recebe denúncias sobre cafetões e redes de agenciamento. Contudo, raramente o tema chega aos jornais. Mais raras ainda são notícias sobre a prisão de agenciadores. Essa situação transmite à sociedade a sensação de que não existem leis para punir os culpados pelos delitos sexuais. Pior: pode estar espelhando o fato de que, mesmo existindo leis, a corrupção oficial trabalha para inibir sua aplicação. “O real problema da corrupção afeta países em todo o mundo e é um dos principais fatores de incentivo à prática de crimes sexuais”. Essa constatação foi feita no II Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, no Japão, em dezembro passado. Sem dúvida, é um enfoque que a mídia brasileira vem deixando de investigar.

Tabela 16* INSTITUIÇÕES MAIS MENCIONADAS (EM %) AUTORIDADES POLICIAIS

61,4

JUDICIÁRIO

28,7

ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL

15,3

MINISTÉRIO PÚBLICO

13,9

GOVERNO

10,6

CONSELHOS TUTELARES E DE DEFESA

9,9

AUTORIDADES DE SAÚDE

7,1

DEFENSORIA PÚBLICA/ADVOGADOS

6,4

L E G I S L AT I V O

4,2

AUTORIDADES DE EDUCAÇÃO

2,4

Tabela 17* QUANDO AS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL ESTÃO EM FOCO (EM %) T E M A Ç Ã O A N A L I S A D A , D E S C R I TA O U D I V U L G A D A

45,5

SÃO MENCIONADAS

31,8

S Ã O C O N S U LTA D A S

16,4

SÃO COBRADAS

5,5

SÃO RESPONSABILIZADAS

0,9

Tabela 18*

Tabela 15

PERSONAGENS OUVIDAS SOBRE A CENA DO CRIME (EM %)

F O N T E S G E R A D O R A S / P R O V O C A D O R A S D E M AT É R I A S ( E M % ) IMPOSSÍVEL IDENTIFICAR

30,8

VÍTIMAS

34,7

POLÍCIA

28,6

FAMILIARES DA VÍTIMA

23,7 20,0

MINISTÉRIO PÚBLICO

6,7

SUSPEITOS/AGRESSORES

V Í T I M A S , A G R E S S O R E S , T E S T E M U N H A S , FA M I L I A R E S

6,3

TESTEMUNHAS

JUDICIÁRIO

4,9

FAMILIARES DO AGRESSOR

5,9

ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL

3,9

VIZINHOS

3,7

E S P E C I A L I S TA S

2,6

OUTROS ADOLESCENTES

1,8

E X E C U T I V O E S TA D U A L

2,2

OUTRAS CRIANÇAS

0,9

EXECUTIVO FEDERAL

2,1

E X E C U T I V O M U N I C I PA L

1,1

CONSELHO TUTELAR

1,1

ABRAPIA

1,1

CONSELHOS DE DIREITOS DA CRIANÇA

0,7

UNIVERSIDADE

0,7

CONSELHOS PROFISSIONAIS

0,7

L E G I S L AT I V O F E D E R A L

0,6

L E G I S L AT I V O E S TA D U A L O U D I S T R I TA L

0,6

L E G I S L AT I V O M U N I C I P A L

0,1

ORGANISMOS INTERNACIONAIS

0,6

ASSOCIAÇÕES

0,1

EMPRESAS

0,1

OUTROS

4,5

8,7

* O TOTAL DE CADA TABELA PODE ULTRAPASSAR 100%, POIS DIVERSAS MATÉRIAS MENCIONAM MAIS DE UMA OPÇÃO.

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Notícias sobre o Poder Executivo “atento ou relapso” são enfocadas em apenas 9,9% dos textos. Dessas menções, menos da metade é composta por medidas plenamente explicadas e analisadas. O restante é prejudicado por uma abordagem superficial. Por sua vez, o governo, em suas três instâncias, quase não é cobrado pelos jornais por sua freqüente negligência diante do problema. A ainda escassa cobertura sobre políticas públicas de combate e prevenção aos crimes sexuais é constatada nas estatísticas que mostram quem o jornalista tem por hábito ouvir sobre a questão. Isso pode indicar a pura e simples falta de políticas públicas, fato este que deveria mobilizar a mídia justamente para cobrar o Estado em sua responsabilidade.

POLÍTICAS PÚBLICAS

A grande ausência no noticiário

O Estatuto presente

Os jornais estão mais atentos à questão das políticas públicas quando estão em pauta a exploração e o abuso sexual. Porém, a preocupação com a prevenção do delito e o atendimento dos envolvidos não ultrapassa um décimo das matérias sobre crimes sexuais. Embora se mencione com alguma frequência a legislação relacionada ao problema, a abordagem sobre o sistema legal de proteção aos direitos da infância e adolescência ainda precisa melhorar e aumentar muito

A GAZETA-ES • 18/2/2001

Das matérias analisadas, cerca de 15% citam leis. O Código Penal está presente em não mais de um terço dessas inserções. O campeão de registros é o Estatuto da Criança e do Adolescente. O ECA é citado em quase metade desses textos e sua aprovação é grande, pois raramente se propõem mudanças ao seu texto ou sua revogação. Consequências legais para supostos agressores sexuais são tratadas em 6,8% dos textos. Pouco mais da metade deles menciona que os suspeitos são ameaçados de morte. A morte vitima o agressor em 22,5% dos casos noticiados, por linchamento público ou dentro da cadeia.

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Gráfico 1

Tabela 19 O R I G E M D O S D A D O S E S TAT Í S T I C O S ( E M % ) ABRAPIA

13,5

UNIVERSIDADES

10,4

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (SECRETARIA DE ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS)

7,3

SOS CRIANÇA

5,2

UNICEF/ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL

4,2

SECRETARIAS DE SEGURANÇA PÚBLICA

2,1

CEDECAS

2,1

ORGANISMOS INTERNACIONAIS IMPOSSÍVEL IDENTIFICAR

P A Í S U N I D O E N F R E N TA V I O L Ê N C I A S E X U A L

Gráfico 2 QUANDO OS CONSELHOS ESTÃO EM FOCO

Gráfico 3 QUANDO A POLÍCIA ESTÁ EM FOCO

18,8

DELEGACIA DA MULHER E DA CRIANÇA

O Brasil marcará com uma série de eventos o próximo 18 de maio, Dia Nacional de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Jovens. A data de mobilização foi definida no Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, fruto de debate de mais de 160 entidades e aprovado em Natal, no ano de 2000. O Plano pode ser acessado no site da ANDI (www.andi.org.br). Ele busca, como princípio, garantir uma base jurídica legal de defesa de direitos infanto-juvenis. No todo, pretende criar, fortalecer e dar corpo a ações articuladas que assegurem proteção integral à criança e ao adolescente. O conceito de exploração sexual com o qual o Plano trabalha inclui abuso sexual, prostituição, tráfico e venda de pessoas, intermediação e lucro com base na oferta/ demanda de serviços sexuais, turismo sexual e pornografia infantil.

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1,0 33,3


INDICADORES

Brasil não tem estatísticas sobre problema A análise O Grito dos Inocentes mostra que os jornalistas publicam maior número de estatísticas sobre a exploração e o abuso sexual do que sobre outros tipos de violência envolvendo crianças e adolescentes. Trata-se de dado significativo, uma vez que existe enorme dificuldade de identificar e catalogar delitos sexuais, especialmente o crime de abuso (ou de incesto). Contudo, é preciso cuidado: a pressão sobre as fontes, por números, às vezes imprecisos, pode ajudar a dar força às matérias, mas forja uma consciência irreal da dimensão do problema

A Associação Brasileira de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia) é a principal fonte utilizada. Está presente em 18,8% do material que traz alguma estatística. É fácil entender isso, pois a ONG carioca é responsável pelo disque-denúncia relacionado à exploração sexual, implantado pelo Ministério da Justiça, com apoio da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), em 1997. Por conta dessa atuação, a Abrapia tem dados concretos a oferecer. As Delegacias de Proteção à Mulher vêm em segundo lugar; as universidades, em terceiro. Os Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedecas) surgem como fonte em 2,1% das inserções. Surpreende que dados estatísticos tendo como fonte os Conselhos Tutelares não tenham sido detectados nos textos analisados, pois é papel dessas instâncias encaminhar vítimas para atendimento em serviços de saúde, de educação e de assistência social, além de organizar e fornecer estatísticas das regiões onde atuam. Ou a imprensa não recorre a essa importante fonte ou os conselhos não têm dados. Confirmada a segunda hipótese, o repórter poderia investigar por que certos atores sociais não estariam cumprindo o determinado no Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes. Ou seja, não é suficiente cobrar/pressionar apenas os governos, mas também as esferas de articulação da sociedade civil.

Plano de combate Conhecer dimensões e causas do fenômeno da criminalidade sexual é o primeiro dos seis eixos do Plano Nacional, que prevê a realização (por instâncias oficiais) de pesquisas quantitativas e qualitativas sobre a incidência, modalidade, causas e fatores da exploração sexual comercial e do abuso dentro e fora da família. Além disso, está prevista a veiculação de informações sistematizadas sobre o delito e seu enfrentamento . A imprensa não tem cobrado essa ação de governo como deveria. A divulgação de estatísticas oficiais esteve em apenas 0,97% do universo de textos pesquisados. Ministério da Justiça e Secretaria de Estado dos Direitos Humanos divulgam números em apenas 7,3% do noticiário que traz estatísticas. Secretarias estaduais de segurança, em 2,1%. Outras secretarias estaduais ou municipais, assim como institutos de pesquisa, não contribuem com informações. O Ministério da Saúde não aparece como fonte de dados estatísticos. Não os possui ou a imprensa não se interessou por eles. 36

Números não são confiáveis

Mais de uma década depois da aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, o retrato da agressão sexual contra essa faixa etária continua impreciso, portanto “invisível” nas estatísticas nacionais. O fato é que a maioria das fontes de dados sobre o delito sexual tem hoje “pés de barro”. Isso resulta em verdadeiros “chutes” da imprensa, que usa números absolutos de um pequeno universo como se abrangessem a realidade. Para justificá-los, o jornalista se restringe a citar a fonte e transferir a ela a responsabilidade pelos dados, sem questionar os métodos da construção dos indicadores e sem expor os limites destes métodos aos leitores. A situação ideal é que as fontes admitam o problema mundial dessa precariedade. Por outro lado, o jornalista consciente, ao invés de se desinteressar da matéria, deveria escrever reportagem a partir dessa dificuldade, avançando para aspectos sociológicos, comportamentais, governamentais etc. A ausência de números não invalida a reportagem. Se jornalismo é fato, a divulgação de números imprecisos pode ajudar a “fazer o título e o lide”, mas acaba por forjar uma impressão falsa do problema, gerando opiniões e conclusões sem base lógica.

O ESTADO DO MARANHÃO, P. CIDADE • 29/4/2001


A INVISIBILIDADE DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

NA ESFERA PÚBLICA BRASILEIRA MARIA LÚCIA PINTO LEAL *

A radiografia da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes (prostituição, tráfico, pornografia e turismo sexual), embora o fenômeno seja questão social antiga, não é muito visível nas estruturas de poder das instituições governamentais, onde geralmente as informações existentes não se referem especificamente ao tema, embora possam aparecer diluídas em indicadores referentes a outros temas que perpassam aquele delito. Isso torna difícil quantiqualificar o fenômeno sem que o pesquisador confronte dados da mídia, estudos de casos e entrevistas com atores institucionais. Por outro lado, a natureza clandestina do crime, reforçada pelas vítimas, impõe ao fenômeno a censura (baseada na repressão, coação e práticas de violência), que silencia o sujeito violado e resguarda as redes de mercantilização de sexo. Além da imposição violenta do mercado do sexo sobre os sujeitos ser fator restritivo à informação, outros fatores inter-relacionados (e não acessíveis) encobrem o fenômeno, como por exemplo aqueles que se referem às condições sociais de crianças e adolescentes e à violência de gênero, raça, etnia e relações adultocêntricas, determinantes para construir a invisibilidade do fenômeno. Logo, o processo de “quebra do silêncio” sobre o assunto é uma questão de conquista da democracia e de direitos pelas classes, estratos e segmentos que estão sob jugo da dominação, exploração e da escravidão física e social. Nesta direção, a luta empreendida pela sociedade civil nos anos 90 provocou a

denúncia do crime através da mídia, de CPIs, de campanhas e seminários, além de outras formas de sensibilização e mobilização da opinião pública para os vários aspectos que recobrem o tema.

Mobilização Esta trajetória de luta, marcada por uma forte mobilização das organizações sociais comprometidas com essa causa social, vem despertando e revelando a fragilidade da esfera pública em prestar informações precisas e decisivas para o enfrentamento da questão pelo âmbito público. Entretanto, a questão da visibilidade, seja através da quantificação e/ou qualificação do fenômeno, depende: a) da compreensão da sua natureza complexa e multifacetada e de seus aspectos teóricos e metodológicos; b) da conjuntura macro-política e de seu impacto nos processos decisórios das gestões governamentais para o enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes; c) da mobilização das organizações sociais protagônicas desta luta em ampliar e criar bases políticas para a inclusão desta temática na agenda pública brasileira.

Para tornar a questão visível é necessário sensibilizar a opinião pública e potencializar as redes de informação no âmbito jurídico e social de modo a subsidiar políticas sociais e viabilizar a realização de estudos e pesquisas. Mas as pesquisas devem ser feitas em âmbito local, já que na esfera governamental e não governamental, assim como nas suas redes de notificações e informações, há fragilidade na sistematização de dados quantitativos/qualitativos sobre o fenômeno da exploração sexual comercial.

Crime organizado Nos últimos anos, Governo e sociedade buscam sistematizar essas informações através da organização de bancos de dados e de pesquisas. Destacamos a pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual (Pestraf), realizada em nível nacional por um pool de organizações não governamentais coordenadas pelo Cecria. A pesquisa corrobora a dificuldade de se obter indicadores, inclusive porque os delitos podem estar ligados ao crime organizado e à corrupção, o que evidencia terreno complexo para obter dados em certos organismos da esfera pública e mesmo contar com a solidariedade de informantes.

* MARIA LÚCIA PINTO LEAL É PROFª. DRª. DO DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, MESTRE EM COMUNICAÇÃOFAC/UNB, ESPECIALISTA EM POLÍTICAS SOCIAIS – SER/UNB E ESPECIALISTA EM SAÚDE PÚBLICA – UFF/RJ

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Em função das discussões desenvolvidas nos eixos temáticos desta pesquisa O Grito dos Inocentes, a ANDI e seus consultores elaboraram o ranking dos veículos baseados na avaliação das coberturas sobre exploração e abuso sexuais. A pontuação foi definida a partir de critérios de qualidade desejáveis. Foram escolhidos nove critérios qualitativos para compor o ranking. A todos foi atribuída nota 10 quando sua presença ou ausência era benéfica à cobertura. A nota foi zero na hipótese oposta. Cada texto obteve de zero a 90 pontos. Calculou-se a média ponderada de cada jornal. E definiu-se um sistema de classificação de zero a 100 pontos, baseado nos seguintes critérios:

No campo substantivo

NO RUMO DA QUALIDADE

Quem é quem na

imprensa Quando enfocam a exploração e o abuso sexual, os jornais realizam uma cobertura qualitativamente melhor do que a analisada na pesquisa Balas Perdidas, que verificou o noticiário sobre outras formas de violência. Porém, é preciso ter claro que mesmo o jornal mais bem pontuado no ranking qualitativo, produzido pela ANDI, obteve média de 48,1 pontos em 100. Portanto, abaixo de 50, pontuação mínima esperada para que a cobertura seja considerada aceitável do ponto de vista da qualidade. A média geral dos jornais, de 38,3 pontos, mostra que os jornalistas precisam ainda avançar bastante até apresentar um noticiário qualificado para a sociedade

A) Reportar o ato de exploração e/ou abuso sexual exclusivamente – Atribuiu-se nota zero às matérias centradas no ato violento. O objetivo é estimular abordagens que transcendam a descontextualização. Foram pontuados jornais que cobriram o tema de forma reflexiva e menos pautada nos Boletins de Ocorrência das Delegacias de Polícia. B) Causas – É difícil não noticiar crimes sexuais. Assim, outro critério de pontuação foi a presença da discussão de causas da exploração e do abuso, mesmo quando o foco foi uma violência específica. C) Soluções – Quando foram apresentadas soluções para as causas da exploração e do abuso, a pontuação do jornal foi elevada.

No campo da linguagem escrita e visual D) Apelo ao sensacionalismo I – Verificou-se matérias com descrições minuciosas desnecessárias sobre as consequências do abuso sexual para a vítima. Matérias focadas na exibição do horror não foram pontuadas. E) Apelo ao sensacionalismo II – Não basta evitar a descrição detalhista dos delitos. Deve-se evitar a autópsia narrativa e psicológica dos fatos; ou seja, é preciso deixar de chocar o leitor, pois isso contribui para superestimar o sentido de “sociedade violenta”. Notícia “dissecada” perde pontos.

No campo da pluralidade de informações F) Fontes Policiais – Os consultores foram unânimes: a subserviência ao Boletim de Ocorrência (BO) é caminho certo para uma cobertura negativa. Quanto mais o jornal recorreu exclusivamente às fontes policiais, menos pontos ganhou. G) Outras fontes – Jornais que mencionaram autoridades de saúde foram pontuados; os que mencionaram organizações da sociedade civil também.

Serviços H) Jornais tiveram seu conceito elevado quando, ao noticiar o ato violento, agregaram serviços à população, como telefones de atendimento, conselhos para identificar crianças abusadas e outros benefícios.

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PREOCUPAÇÃO DEVE SER COM AS CRIANÇAS, NÃO COM O TURISMO Dado impressionante: os jornais do Pará e de Alagoas aparecem entre os piores colocados no ranking, embora estes estados possuam índices alarmantes de exploração sexual comercial de crianças e mesmo de prostituição adulta. A análise da ANDI levanta uma suspeita: nos locais de forte atração turística, como nos estados citados, a imprensa tem preferido produzir informações reflexivas sobre o fenômeno da exploração sexual, inibindo denúncias sobre o crime organizado e reportagens sobre prisões de abusadores. Se a intenção dos jornais é não “prejudicar o turismo”, o gesto caminha na contramão das políticas mais modernas de atração dos viajantes, como a adotada pela Embratur, que fez questão de atacar o problema, na sua estratégia pública, sem preocupação de “perder turistas” (ver p. 45).

Média geral

38,3

* NÃO FAZEM PARTE DO RANKING JORNAIS QUE, MESMO TENDO SIDO OBSERVADOS NA PESQUISA, NÃO TENHAM VEICULADO 0,6% DO TOTAL DE 718 TEXTOS PESQUISADOS. * * COMPRADO POR OUTRA EMPRESA, O DIÁRIO POPULAR MUDOU DE NOME. AGORA SE CHAMA DIÁRIO DE S.PAULO.

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REDE ANDI

Jornalistas e fontes se aproximam para melhorar cobertura

Discutir os aspectos da cobertura jornalística sobre exploração e abuso sexual e mobilizar a sociedade para a prevenção e combate à violência sexual contra crianças e adolescentes. Esses foram os objetivos das oficinas de interação realizadas por Agências integrantes da Rede ANDI, em parceria com o Instituto WCF-Brasil e a Fundação Arcor (com apoio do Instituto Ayrton Senna e do Unicef), no Amazonas, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Pernambuco. Jornalistas, fontes e atores sociais que atuam nessa área concentraram seus esforços para elaborar um documento com as informações necessárias para que o tema seja tratado corretamente por parte da mídia e para que os projetos que vêm sendo desenvolvidos na área ganhem a visibilidade merecida. Uma síntese dessas recomendações foi apresentada pela ANDI no II Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças, no Japão. Comprometimento, responsabilidade e interação foram chaves em toda a discussão.

RECOMENDAÇÕES À MÍDIA

Agências da Rede ANDI promovem encontros entre repórteres e fontes de informação, com a missão de ajudar a quebrar o gelo no relacionamento entre esses atores, em busca da melhor qualidade da informação transmitida e publicada. Das reuniões saiu uma lista de recomendações úteis e criativas para bem posicionar o noticiário

• Não depender exclusivamente dos dados da Polícia para montar matérias. • Fazer uma abordagem contextualizada, focando vários aspectos: socioeconômico; cultural, de gênero, etnia e raça; de educação e saúde; legal. • Aprofundar cobertura em relação aos Conselhos Tutelares: papel dos conselheiros, trabalho realizado, estrutura de funcionamento etc. • Preparar matérias educativas para suplementos infantis e juvenis, incentivando crianças e jovens a denunciar a violência sexual. • Proteger as vítimas para que a informação pública não provoque o efeito contrário ao esperado pelo jornalista e o veículo de comunicação. Proteção significa não expor crianças e adolescentes, não identificar familiares, endereço, escola, namorado(a) etc. No momento de crise, não abordar a vítima. Estudos provam que o trauma pode ser agravado.

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• Pensar nos reflexos do ato violento para a vítima mas também para o agressor. • Divulgar programas e ações bem sucedidos, buscando exibir com isenção os avanços alcançados e os desafios a enfrentar. Ações positivas têm efeito multiplicador. • Dar visibilidade as instituições que são referências no combate à exploração e ao abuso. • Compartilhar conhecimento pessoal com colegas da profissão. • Pressionar as unidades responsáveis pelo registro de violências sexuais para que notifiquem corretamente os casos, fornecendo o máximo de detalhes sobre o local do crime, vítimas e agressores, especificando condição socioeconômica, nível de escolaridade, idade, estado civil etc. • Estimular médicos, professores, assistentes sociais e outros profissionais para que identifiquem sinais de violência sexual contra meninos e meninas, denunciem os casos às instâncias responsáveis e acompanhem o seu desdobramento. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), médicos, professores e responsáveis por estabelecimentos de Saúde e de Ensino devem comunicar às autoridades casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes, sob pena de multa que varia de três a vinte salários mínimos, podendo dobrar em caso de reincidência. • Pensar nas consequências psicológicas, físicas, sociais e emocionais. Fazer perguntas como: a escola possibilita que adolescentes se preservem de atos violentos?


RECOMENDAÇÕES ÀS FONTES • Indicar e esclarecer os artigos do ECA e do Código Penal que tratam do abuso e da exploração sexual de crianças e adolescentes. • Ressaltar sempre os termos corretos e sua conceituação (o que é abuso sexual, exploração sexual, incesto, pedofilia). • Manter diálogo transparente com os jornalistas para poder comentar matérias. • Dar retorno imediato à mídia, através de cartas, sempre que um assunto se destacar. Valorizar boas matérias e apontar equívocos contribui para aprimorar a cobertura. • Manter disponíveis estatísticas, dados, informações e números que possam subsidiar uma reportagem e oferecê-los aos jornalistas, provocando uma cobertura de melhor qualidade. • Indicar outras fontes, especialistas e entidades de atendimento para que as matérias fiquem mais completas. • Esclarecer os jornalistas sobre o caminho a ser percorrido entre a denúncia de um ato de violência sexual até a punição do agressor e o atendimento das vítimas. • Preparar/instrumentalizar os Conselhos Tutelares para atender a mídia. • Solicitar a divulgação de canais de denúncia (endereços, telefones, disquedenúncia) e as punições previstas para o crime, enfocando a prevenção. • Aproveitar todo contato para agir em benefício da formação do jornalista. Não desistir de nenhum profissional. • Mostrar às empresas jornalísticas que o tema da exploração sexual, apesar de árduo, desperta sério interesse da sociedade. • Promover cursos de formação para jornalistas e estudantes. • Conhecer a lei de imprensa. • Sugerir à mídia eletrônica campanhas de prevenção ao delito sexual nos programas dirigidos ao público infantil. • Estreitar laços com a mídia alternativa (rádios e tevês comunitárias, jornais de bairro etc) e com lideranças religiosas, que também são excelentes canais de comunicação.

O que pensam os participantes das oficinas de interação “O encontro mostrou que é necessário um contato maior da imprensa com as fontes”. Elisabeth Gomes, especialista em Exploração e Abuso Sexual de crianças e adolescentes, Belo Horizonte

“O desafio vale também para organizações e especialistas, que precisam ser transparentes e menos atreladas ao governo”. Tacyana Arce, repórter do jornal Estado de Minas , Belo Horizonte “Tínhamos um estranhamento com jornalistas, mas vimos que podem colaborar para discutir a exploração e o abuso sexuais, um assunto ainda silencioso”. Rosana Monteiro de Araújo, psicóloga, da Promotoria da Infância e da Juventude de Belo Horizonte

“Os jornalistas precisam se preparar mais para escrever sobre o tema. Muitos não conhecem nem o Estatuto da Criança e do Adolescente”. Rosalina Maués, diretora da Central de Resgate Social, Belém (PA)

“O abuso e a exploração sexuais precisam sair do gueto e ser debatidos com coragem. Quando a imprensa cumpre esse papel e o debate é apreendido pela sociedade, as vítimas se sentem protegidas, denunciando mais os casos de violência. Por sua vez, os agressores tomam ciência da vigilância sobre eles.” Ofélia Ferreira, oficial de Comunicação do Unicef para a região Norte, Belém (PA)

“O repórter tem de fazer a matéria de acordo com a linha editorial do veículo. E muitos veículos ainda usam o sensacionalismo para vender jornal”. Elcimar Freitas, repórter do jornal Amazonas em Tempo, Manaus (AM)

“O encontro serviu para fortalecer a relação entre jornalistas e autoridades no assunto. É importante que os dois lados se conheçam para que as matérias saiam do factual e se tornem mais elaboradas. Contudo, a falta de informações numéricas é um dos maiores empecilhos para uma cobertura fiel à realidade. Isto dificulta que a sociedade conheça a dimensão do problema a ser combatido”. Leonardo Franklin, jornalista da Gazeta do Paraná , Curitiba “A imprensa ainda é muito amadora na cobertura da exploração e do abuso sexuais. As matérias prestam um desserviço à população. Além disso, as más condições de trabalho do repórter prejudicam a notícia. Diariamente, ele tem que cobrir cerca de três pautas e acaba não aprofundando nenhuma”. Suzana Varjão, editora do Caderno 2 do jornal A Tarde (BA), Salvador

“As fontes acham que o repórter já sabe tudo e perdem a oportunidade de qualificar a informação. Mas as instituições devem estar preparadas para falar ao jornalista.” Marlene Vaz, socióloga, especialista no tema da exploração e do abuso, Salvador (BA)

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CONGRESSO DE YOKOHAMA

A vítima como

protagonista da mudança

A gravidade e urgência do problema da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes motivou um segundo encontro mundial, no Japão, para definir ações de cooperação capazes de enfrentar o drama. Vítimas de agressões sexuais no passado, alguns jovens tiveram participação marcante no evento, produzindo uma declaração na qual sugerem estratégias articuladas para combater o problema V E E T V I VA R TA *

* VEET VIVARTA, DIRETOR-EDITOR DA ANDI, PARTICIPOU DO II CONGRESSO MUNDIAL CONTRA A EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES, A CONVITE DO UNICEF, E CONTOU COM APOIO DOS INSTITUTOS WCF E AYRTON SENNA.

O II Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes teve como um dos focos centrais o reconhecimento de que ações eficazes de enfrentamento do problema devem necessariamente apoiar a participação cada vez mais ativa de crianças, adolescentes e jovens. O recado de incentivo ao protagonismo juvenil não encontrou voz apenas no documento gerado pelos próprios adolescentes e apresentado nas discussões: foi o tom dominante também em falas importantes das diversas plenárias, mesas-redondas e oficinas que mobilizaram mais de três mil representantes de governos, agências internacionais de cooperação e ONGs. Esta abordagem não deve ser encarada como mera retórica politicamente correta: objetos da Exploração Sexual Comercial, essas crianças e adolescentes entendem melhor do que ninguém o drama que envolve o problema. E conhecem por dentro os mecanismos associados às diversas formas de exploração. O Congresso de Yokohama pautou uma radical mudança de perspectiva em relação a essas crianças e adolescentes, até então tratados basicamente a partir da condição de vítimas. A equação que agora vem se provando viável resgataos inicialmente para a condição de sobreviventes. O suporte estrutural e psicológico apropriado pode em seguida levá-los a assumir o papel de agentes de mudança junto a outras crianças e adolescentes em situação de abuso ou exploração. E, finalmente, instrumentos podem ser mobilizados para potencializar a transformação destas pessoas, antes vitimizadas, para a condição de líderes. O extraordinário resultado destas trajetórias de resgate e ressocialização é flagrante em vários dos adolescentes e jovens que estiveram

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presentes no Congresso de Yokohama, engajados em centenas de ONGs em todo o mundo que vêm trabalhando na área de assistência às vitimas da Exploração Sexual Comercial. Uma das mais ativas líderes dentre esses adolescentes e jovens é a pernambucana Inês Dias, de 22 anos, desde os 14 ligada à ONG Coletivo Mulher Vida, de Recife, uma das referências brasileiras no atendimento a garotas vitimas de violência (seja ela de ordem sexual ou não). Após ser convidada a participar das oficinas que o Coletivo realiza a cada semana em várias comunidades carentes de Olinda e Recife, Inês foi se envolvendo mais e mais com o trabalho, acabou se tornando monitora e, poucos anos depois, passou a representar a entidade em encontros nacionais e internacionais.

Imprensa tem papel decisivo Oficina de Mídia estruturada pelo Unicef e pela Federação Internacional de Jornalistas discutiu os pontos críticos na relação estabelecida entre os profissionais de imprensa e os atores sociais que vêm combatendo a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes. Por um lado, existem claros progressos na qualidade das reportagens desde que foram adotados parâmetros para nortear o trabalho jornalístico sobre o tema, durante o I Congresso Mundial, em 1996, na Suécia. Por outro, as crescentes pressões sobre as redações, com redução de quadros e maiores demandas de produção, surgem hoje como fatores limitantes de uma melhor capacitação da imprensa diante da complexidade investigativa de uma cobertura que exige tratamento aprofundado e


sistemático, e não apenas uma intervenção pontual. Uma síntese dos dados da pesquisa O Grito dos Inocentes foi apresentada pela ANDI durante a oficina. O retrato de uma mídia que ainda volta sua atenção prioritariamente para o ato violento em si, dedicando pouco espaço para a discussão de causas ou soluções e de políticas públicas para a área, foi percebido como um problema comum a todos os países. As estratégias de análise de mídia, de realização de seminários e de construção - conjuntamente por jornalistas e atores sociais - de recomendações para um trabalho mais eficiente da imprensa no contexto da Exploração Sexual, impactaram de forma positiva os participantes da oficina. É opinião unânime de que só o estreitamento das relações entre os profissionais de mídia e as fontes de informação pode fazer dos meios de comunicação reais aliados das crianças e adolescentes vitimizados por essa bárbara forma de exploração.

O que querem os jovens

Adolescentes propõem modernização da luta contra a violência sexual Para os jovens participantes do Congresso, as pesquisas sobre a exploração sexual comercial de crianças, feitas hoje em dia, não são melhores porque não permitem comparações de dados. O mesmo se aplicaria aos projetos voltados a solucionar a questão. Isso impede que se avance a partir da análise contextualizada de dados estatísticos a respeito dos delitos sexuais e sobre o desempenho de projetos na área. Para reverter essa situação, eles sugerem a definição de uma metodologia única que permita sistematizar ao dados e fazer uma leitura coerente de todos os aspectos relacionados ao universo da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes. Querem também que as pesquisas não se atenham somente às vítimas, mas que explicitem a motivação e o histórico do agressor - o que ajuda na prevenção à exploração sexual e no tratamento do explorador. Os jovens defendem a harmonização da legislação na área e uma maior cooperação entre os agentes de aplicação da lei, nos planos nacional e internacional. Nesse sentido, pediram a descriminação para as vítimas de exploração sexual e exigem penas mais severas para os que exploram crianças e adolescentes e programas de reabilitação (há países que ainda prendem as vítimas). Leia ao lado algumas reivindicações feitas pelos jovens.

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Para os jovens presentes ao encontro de Yokohama, é fundamental que as vozes e a presença do protagonismo juvenil sejam incluídas em todos os níveis de desenvolvimento e implementação de programas. Veja algumas das opiniões que ratificaram numa declaração: • Aumentar a vigilância é fundamental para despertar a atenção do público para o problema. • A sociedade precisa se sensibilizar para a questão, inclusive por meio da mídia, tendo em vista que esse é o caminho mais eficaz e apropriado para disseminar idéias para o mundo. • Reconhecer que garotos também são sexualmente explorados, objeto de tráfico e sujeitos à violência, em particular ao abuso. • Atenção especial deve ser dada às crianças identificadas como transexuais. • Definir uma data a ser dedicada à luta internacional contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes. • A prevenção do delito passa pela educação acessível e adequada para as crianças. • Criar o Fundo de Combate à Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, a ser administrada por uma organização internacional. • Criar um “disque-denúncia”, com número igual em todos os países, para pessoas que queiram conversar, denunciar, fazer reportagens e obter informações. • Respeitar e apoiar as vítimas. A coisa mais importante, depois que uma criança inocente é molestada sexualmente, é o processo de cura que ela necessita para poder ter um papel produtivo na sociedade. A criança deve estar plenamente informada e ser consultada sobre qualquer decisão ou processo que a afete. Esse processo pode ser implementado em uma casa de segurança ou abrigo., que tenha condições para a cura, como educação, assistência psicossocial, além de suporte médico e legal. Conheça a íntegra da declaração dos adolescentes e a carta de Yokohama, assinada por todas as delegações presentes, no site www.andi.org.br/yokohama/index.html


A NOMENCLATURA DO DELITO SEXUAL

Exploração Sexual Comercial*

Ato ou jogo sexual em que o adulto utiliza a criança ou o adolescente para fins comerciais, através de relação sexual, manipulação, indução a participação em shows eróticos, casas de massagens, fotografias e filmes pornográficos etc.

PALAVRAS QUE FAZEM A TERRA

Abuso Sexual*

Ato ou jogo sexual em que o adulto submete a criança ou o adolescente para estimular-se ou satisfazer-se, impondo-se pela força física, pela ameaça ou pela sedução com palavras ou com a oferta de presentes.

TREMER

Estupro

Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça (Código Penal 213). O termo é usado somente quando a vítima é do sexo feminino, adulta ou menina.

MARLENE VAZ*

Prostituição

Induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá-la ou impedir que alguém a abandone (Código Penal 227, 228 e 229). Atentado Violento ao Pudor

Os sumerianos diziam que as palavras têm o poder de fazer a terra tremer. Em algumas matérias jornalísticas de 2001, a terra de fato tremeu. Constatamos isso na análise que, juntamente com outros colegas consultores, fizemos do noticiário sobre exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes, e que serviu de base para a avaliação especial desta edição da pesquisa Infância na Mídia. Palavras e expressões usadas nos relatos mostram que alguns jornalistas ainda não tratam o assunto com a seriedade que exige, ao utilizarem uma linguagem desqualificada. Por vezes, acusados de crimes sexuais são tipificados como “monstro, bestial, animalesco, besta, tarado, pastor do diabo”. De “maníaco, psicopata, adulto desequilibrado, portador de desvio de caráter”. Quando o tratamento é jocoso - “o cara de pau do acusado, assaltante sem dente, malandro”. “Desocupado” aparece como sinônimo de suspeito. Quanto às vitimas, o machismo e o preconceito ficam explícitos em frases do tipo “vestígios de não serem mais virgens; donas de antecedentes sexuais; felizmente ela ainda é virgem; ela se vendeu”. A análise do conteúdo erótico desvendou nos relatos expressões como “ela tem peitinho”, seguida da descrição de detalhes do corpo da menina e da orgia sexual ocorrida, fazendo propositadamente da notícia de exploração sexual um “produto de consumo”. Um desserviço. Tendo os jornalistas como os mais importantes dos parceiros no enfrentamento da violência sexual, e sem concordar com a censura dos antigos sumerianos, apenas alerto os profissionais da mídia para as armadilhas do conteúdo simbólico das palavras, de maneira que se tenha certeza de que a terra não tremerá mais nos jornais, ao menos quando o assunto for o abuso e a exploração sexual.

Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso (o que visa o prazer sexual) diverso da conjunção carnal (Código Penal 214), isto é, o ato sexual propriamente dito. Rufianismo

Tirar proveito da prostituição alheia, lucrando com ela ou fazendo-se sustentar por quem a exerça (Código Penal 230). Sedução Seduzir mulher virgem, maior de 14 e menor de 18 anos, e ter com ela conjunção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança (Código Penal 217) Corrupção de Menores

Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de 14 anos e menor de 18 anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo (Código Penal 218) Incesto

Relações sexuais entre ascendentes diretos, seja o parentesco legítimo ou não, natural ou civil; os afins em linha reta, seja o vínculo legítimo ou não; o adotante com o cônjuge do adotado e o adotado com o cônjuge do adotante; os irmãos, legítimos ou ilegítimos, do mesmo pai e da mesma mãe ou não, e os colaterais, legítimos ou não, até o terceiro grau inclusive; o adotado com o filho legítimo do pai ou da mãe adotiva (Código Civil 83) Pornografia

Filmagem ou fotografia de atos libidinosos envolvendo menores de 18 anos. (Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA 240 e 241) Tráfico de Crianças e Adolescentes

Promover ou facilitar da saída ou entrada no território nacional de crianças e adolescentes sem a observância da lei (ECA 83, 84, 85 e 251) Tráfico de Mulheres

Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de mulher que nele venha exercer a prostituição, ou a saída de mulher que vá exercê-la no estrangeiro. *CONCEITOS SOCIOLÓGICOS.

Código Penal terá novas tipificações Na proposta do novo Código Penal, ainda não em vigor, entrarão as seguintes tipificações de crime: • Abuso Sexual de Menor ou Incapaz • Ofensa ao Pudor do Menor • Satisfação da própria Lascívia (desejos sensuais) Haverá um capítulo especial para Exploração Sexual. Nele, estarão as tipificações: • Tráfico de Pessoas • Lenocínio (prestar assistência à libidinagem alheia ou dela tirar proveito). No capítulo “Do Ultraje Público ao Pudor”, serão incorporadas mais duas tipificações: • Representação de Espetáculos Obscenos • Pornografia Infantil.

* MARLENE VAZ É SOCIÓLOGA E ATUOU COMO CONSULTORA DO PROJETO O GRITO DOS INOCENTES (AUTORA TAMBÉM, NESTA PÁGINA, DA NOMENCLATURA AO LADO)

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TURISMO SEXUAL

A

ESTRATÉGIA Peça publicitária: alerta aos estrangeiros e brasileiros

CIDADÃ DA EMBRATUR

A Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) vem obtendo reconhecimento internacional pela coragem de dar início, em 1997, a uma campanha de comunicação pioneira (e ousada) contra o turismo sexual no País. Amparada no slogan Turismo Sexual, o Brasil está de olho, naquele ano a Embratur criou um serviço telefônico para denúncias de casos envolvendo crianças e adolescentes. Situada no Rio de Janeiro e gerenciada pela Abrapia, com patrocínio da Embratur, a central (0800 990500) foi o primeiro passo da campanha, que entra agora na segunda fase. O lançamento da nova etapa, prevista até o ano 2003, ocorreu no último dia 7 de fevereiro. A Embratur chamou vários atores sociais para construírem juntos o novo perfil da mensagem, baseada neste momento no slogan Turismo Sexual, o Brasil está alerta. A campanha deixa claro que o turismo sexual é crime no País e que existem leis para punir os infratores. Participaram desse debate os Ministérios de Justiça e da Previdência Social, por meio, respectivamente, do Departamento da Criança e do Adolescente e da Secretaria de Assistência Social. Colaboraram também ONGs nacionais e internacionais e entidades de classe. Para veicular a campanha, os organizadores espalharam cartazes por hotéis no País. Nos aeroportos, avisos luminosos alertam os viajantes. A Polícia Federal colabora, anexando um folder da campanha ao passaporte de turistas ao carimbar o visto de entrada no País. Companhias aéreas passam vídeos em seis línguas (Espanhol, Francês, Alemão, Inglês, Italiano e Português) durante as viagens. Ao todo, 700 mil cartazes foram espalhados pelo mundo afora, expostos em embaixadas, que exibem ainda os vídeos divulgados nas aeronaves. “Pela primeira vez houve consenso nacional em torno de um tema, e a campanha da Embratur é baseada neste consenso”, afirmou o presidente da Embratur, Caio Luiz de Carvalho.

Reconhecimento O reconhecimento pelo êxito da iniciativa atraiu o interesse de vários governos de ter o Brasil como consultor na implantação em seus países de ações estratégicas semelhantes. Dentre esses países, aparecem Tailândia, Sri-lanka e República Dominicana. Por conta também desse exemplo, a partir da Feira de Turismo de Berlim, encerrada há pouco, o Brasil assumiu o posto de Gerente do Código de Conduta Mundial, a ser exercido, na prática, pela Embratur e as outras instâncias governamentais e não governamentais envolvidas na campanha. Criado pela organização ECPAT Internacional, o Código é representado por governos, ONGs, setor privado e sociedade civil e tem por objetivo regular as relações mundiais em torno da adoção de parâmetros de comportamentos próativos voltados ao combate à exploração sexual de crianças e adolescentes, além de privilegiar ações de enfrentamento do turismo sexual. Em sua atuação na área social, a Embratur patrocina, entre outros, o projeto Jornalista Amigo da Criança, uma realização da ANDI com apoio do Unicef, da Abrinq e da agência Mccan-Ericsson.

CAIO LUIZ DE CARVALHO: ESTRATÉGIA COERENTE

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GRUPO DE ANÁLISE DE MÍDIA

C O O R D E N A Ç Ã O CYNTHIA GARDA E G U I L H E R M E C A N E L A

O que é o WCF-Brasil Alison Sutton é oficial de projetos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, mestre e doutoranda em História.

Anna Christina Cardoso de Mello é doutora em psicologia pela USP, coordenadora do Programa Criar da Fundação Orsa e psicóloga do Tribunal de Justiça do Estado de São de Paulo. Claudio Cohen é professor do Departamento de Medicina Legal e Ética Médica da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do Centro de Estudos e Atendimento Relativos ao Abuso Sexual. Graça Piza é mestre em psicologia clínica pela PUC-RJ, psicanalista, pesquisadora do Centro InfantoJuvenil do Instituto de Psiquiatria da UFRJ e fundadora e diretora da Clínica Psicanalítica da Violência.

Madelene Barboza é graduada em Relações Internacionais pelo London School of Economics, na GrãBretanha, e diretora do Instituto WCF.

Mariângela Almeida é jornalista da equipe de Comunicação do Instituto Ayrton Senna.

Marlene Vaz é socióloga, pesquisadora e consultora na área de enfrentamento à violência contra a criança e o adolescente.

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* MARCOS KISIL

Criado em 1999, o Instituto WCF-Brasil é uma associação civil sem fins lucrativos associada ao World Childhood Foundation, uma fundação internacional criada pela S.M. Rainha Silvia, da Suécia. Apóia técnica e financeiramente projetos sociais consonantes com sua missão: “criar oportunidades para o resgate da cidadania das crianças e jovens brasileiros, privados de seus direitos fundamentais, através do apoio técnico e da doação de recursos para projetos exemplares, operados por organizações comprometidas com a qualidade, a efetividade e a responsabilidade social”. A partir de 2001, o WCF-Brasil, ciente de seu papel social na garantia do desenvolvimento integral da criança e do jovem, concentrou sua atuação na linha programática de “Apoio às crianças e jovens em situação de risco”, com foco no tema de abuso e violência sexual. Poucas organizações financiadoras atuam para minimizar este grave problema impregnado de tabus sociais e culturais. É por esta razão que o WCF apóia ações em conformidade com os eixos estratégicos do Plano Nacional de Combate à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, visando assim obter não só impactos locais, mas uma participação ativa na promoção de uma mudança social nacional. Neste sentido, temos o prazer de sermos parceiros da ANDI na pesquisa nacional Infância na Mídia. Promover o diálogo entre jornalistas e atores sociais comprometidos com a implementação do referido Plano é uma forma de buscarmos uma abordagem mais correta para o tema do abuso e da violência sexual. Um tratamento mais responsável por parte da mídia representa um ganho para todos aqueles que estão comprometidos com a causa. Este trabalho da ANDI é uma oportunidade ímpar de dar a visibilidade necessária e adequada ao tema, pois traz ferramentas para que se passe da simples denúncia para uma agenda propositiva, possibilitando assim ampliar o leque de parceiros. * DIRETOR PRESIDENTE DO INSTITUTO WCF-BRASIL


P O N T O

F I N A L

MORTALIDADE INFANTIL é

TEMA PRIORITÁRIO em 2002

Cinquenta jornalistas de várias cidades brasileiras estão reunidos numa mesa para pouco mais de 50 pessoas. Todos haviam passado por uma manhã que marcaria suas carreiras: foram diplomados “Jornalistas Amigos da Criança” O título foi conferido pela ANDI, Embratur, Fundação Abrinq e Unicef aos profissionais de imprensa que conjugaram esforços profissionais com envolvimento pessoal na defesa dos direitos da criança brasileira. Todos vinham de uma manhã de discursos emocionantes, onde o início da carreira de alguns foi lembrado, onde familiares foram homenageados, onde se fez do Brasil uma entidade próxima, possível de se imaginar amável, respeitável e cujo futuro teria a ver com o nosso conceito de felicidade. O Brasil esteve nos discursos, o Brasil estava na mesa. Em reunião de jornalista, tudo acaba em pauta. A violência na escola é um tema sempre preocupante, ela deixa marcas que não podem ser aferidas, deixa rastros que interferem no formação da personalidade, na gênese do desejo e da esperança, fere a ferro uma região de difícil acesso, onde nenhuma estatística poderá alcançar: por dentro. Meninos e meninas que caminham para a privação da liberdade é outro tema forte, atual e que traz, principalmente, a possibilidade de uma ação objetiva. Existem quatro medidas sócio-educativas antes da privação da liberdade; a liberdade assistida é a última – a fronteira entre ser livre e estar preso. A luta é clara: dali não pode passar. O que é preciso para um garoto ou garota não ultrapassar a última fronteira, e se manter do lado da vida onde ainda é possível escolher para onde se vai? É consenso: todos sentem falta de mais matérias na imprensa sobre o tema, muito explorado apenas quando temos rebeliões e aí, no meio da rebelião, os meninos aparecem do alto de um prédio, com lençóis sobre a cabeça, com pedaços de pau

nas mãos que ganham status de metralhadoras e viram síntese da ameaça à liberdade de quem está em casa, no sofá e vê naquela cena, não mais inusitada, a estratégia do mundo perdido, como se por trás daquela imagem de gente encoberta, não houvesse dois olhos que têm brilho, que pedem socorro, e que muitos recorrem à guerra num último e desesperado pedido para compreender a paz. É claro: faltam reportagens sobre esses meninos fora das rebeliões. Se a rebelião serve para aumentar a audiência das tvs e vendas dos jornais é porque a “embalagem” das rebeliões excita a perigosa imaginação coletiva de que ali está, concentrado, todo o mal da sociedade e que meninos que não têm olhos, não tornam-se íntimos de quem os vê e ao não serem íntimos, não é morte que se lamente. Sem dúvida, a pauta é forte, mas é preciso imaginá-la fora do “factualfaustão”, sem “off” do Gugu. As quatro medidas previstas antecedem a Febem, que é um instituto de privação da liberdade, entre vários outros. Todas estas medidas passam pela integração social ou pela cumplicidade com a desgraça que se anuncia. Não há meio termo, a sociedade civil, as empresas e o governo precisam decidir o que efetivamente pretendem. Se a resposta for: “nada, temos problemas mais urgentes”, aguarde, a qualquer momento, mais um domingo. E agora? Só uma pauta pode ser escolhida! O que fazer? Surge o terceiro tema; mortalidade infantil. Ah, esta sim, é muito coberta pela imprensa, as estatísticas são bastante divulgadas, toda hora alguém compara o Brasil com algum país desconhecido da África, todo mundo

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ROBERTO

FAUSTINO

Jornalista. Diretor da Documentária Filmes

sabe que morrem 36 crianças a cada mil entre zero e quatro anos no Brasil (no Nordeste são 59, em Botswana, são 38), várias vezes vimos na imprensa números que soavam tão alarmantes que pela repetição foram virando apenas estatística. Só que, amigos, não podemos esquecer que números têm donos, donos têm nomes, nomes têm vida; por trás de cada vida, famílias e no meio delas, esperança que se vai, país que vira símbolo de ódio, ódio que vira estilo de vida, a vida-possível que incorpora a perda da vida. Morrer, prerrogativa inevitável de quem vive, vira mera circunstância da vida. Vida e morte se parecem, passam a ter a mesma face. Seus cheiros ficam próximos, se confundem. Enquanto o brasileiro conviver passivamente com a morte de crianças (uma com menos de um ano a cada cinco minutos), sejam elas quantas forem, esse será sempre tema prioritário da imprensa, por mais privilegiados que sejam os outros. Eu fui um dos cinquenta jornalistas que defendeu essa idéia que acabou aclamada por maioria. Não seria fácil ser diferente! E na semana de aniversário do Estatuto da Criança e do Adolescente, 13 de Julho, estaremos todos que foram diplomados naquela tarde, em Brasília, tentando dar olhos aos números que tiram o brilho do País.


Inscrições

Inscrições Concurso

Rede ANDI financia projetos de comunicação

INFÂNCIA NA MÍDIA • PESQUISA ANDI/IAS

Concurso Com o propósito de identificar idéias e parcerias sociais que contribuam para melhorar a qualidade da informação e da comunicação feita no Brasil a respeito dos direitos da criança e do adolescente, a Rede ANDI criou o 1º Concurso Rede ANDI para Projetos em Comunicação. A promoção vale para todo o País. Seis projetos serão selecionados. A cada um deles serão destinados pela Rede ANDI R$ 15 mil, além de apoio técnico para que, na prática, promovam o diálogo responsável entre atores sociais, jornalistas e imprensa e possibilitem o desenvolvimento de ações de comunicação voltadas à educação dentro e fora da escola, com foco no desenvolvimento humano sustentável. Os critérios de seleção são simples e diretos. Os projetos devem ter potencial para agregar parceiros em torno da sua execução, ou seja, organizações privadas que queiram investir e universidades dispostas a colaborar com sua infra-estrutura para o êxito do trabalho. Os responsáveis também devem demonstrar que podem executar os projetos integralmente no período de 1º de agosto a 30 de outubro de 2002. Além disso, os projetos deverão oferecer uma contrapartida de R$ 3 mil, captados junto à iniciativa privada local.

LUÍS CLÁUDIO ALVES • COORDENADOR DA REDE ANDI

As inscrições ao Concurso podem ser feitas até o dia 20 de maio de 2002, por meio de formulário disponível no site da ANDI www.andi.org.br. Estão impedidos de inscrição projetos provenientes de Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Amazonas e Distrito Federal, pois nesses estados e na Capital Federal existem agências integrantes da Rede ANDI. Só podem se inscrever organizações da sociedade civil sem fins lucrativos. Pessoas físicas devem se associar a ONGs para apresentar seus projetos. Depois de selecionados, os projetos serão apresentadas no Seminário de Intercâmbio e Aprimoramento de Idéias, programado para 19 e 20 de julho de 2002, com vistas a “enriquecêlos” por meio do intercâmbio de reflexões, de conhecimentos, de materiais e de recursos humanos. Nesse processo, serão preservadas a originalidade dos projetos e a autonomia dos responsáveis. Os recursos serão liberados depois do Seminário, de acordo com o orçamento apresentado. O apoio técnico será dado pelas agências da Rede ANDI. O Concurso é uma parceria da ANDI com as organizações integrantes da Rede ANDI (Auçuba - Comunicação e Educação, de Pernambuco; Agência Uga-Uga de Comunicação, do Amazonas; Cipó - Comunicação Interativa, da Bahia; Ciranda - Central de Notícias dos Direitos da Infância e Adolescência, do Paraná; Associação Educacional e Cultural Oficina de Imagens, de Minas Gerais; e Agência Cidade Futura de Comunicação, de Santa Catarina), em aliança com a Fundação Avina e Save the Children-Suécia. A Rede ANDI tem o apoio da Fundação Kellogg, Unicef, Avina e União Européia/Novib/Missão Criança.

APOIO

R$ 5,00


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