Habitação de interesse social e a atuação de arquitetos renomados: 3 casos paulistas

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CAIEIRAS

MAR

FRANCO DA ROCHA

MAIRIPORÃ

ARU

GUARULHOS

A DE BA

ITAQUAQUE

NORTE POÁ

OSASCO

CENTRO

CARAPICUIBA

FERRAZ VASCONC

LESTE

SUDESTE TABOÃO DA SERRA

SÃO CAETANO DO SUL

MBU DIADEMA

SANTO ANDRÉ

APECERICA DA SERRA

EMBU-GUAÇU

SUZA MAUÁ RIBEIRÃO PIRES RIO GRANDE DA SERRA

SUL

CUBATÃO

DA SÃO BERNARDO DO CAMPO SÃO VICENTE SANTOS ITANHAÉM

PRAIA GRANDE

10 KM


UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

Habitação de interesse social e a atuação de arquitetos renomados 3 casos paulistas

Andrea Lucena Prof. Orientador Dr. Eduardo Pierrotti Rossetti

Ensaio Teórico, disciplina obrigatória do Departamento de Teoria e História da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília

Brasília, Junho de 2016


Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Departamento de Teoria e História

Ensaio Teórico Habitação de interesse social e a atuação de arquitetos renomados: 3 casos paulistas Andrea Costa de Lucena 11/0024699 Orientador: Eduardo Pierrotti Rossetti Banca avaliadora: Cecília Gomes de Sá Ricardo Trevisan Brasília, junho de 2016


RESUMO Este projeto de Ensaio Teórico compreende uma investigação da arquitetura habitacional de interesse social produzida em São Paulo no período de 2005 a 2012 por arquitetos renomados, considerando, especialmente, a valorização potencial de cada caso estudado. A partir das ideias de Bourdieu de espaço social e como ele configura o espaço físico, com a divisão de pessoas por meio de capitais simbólicos e culturais, este Ensaio objetiva vislumbrar estes novos modelos publicados em obras, que representam as referências contemporâneas para a nova geração de arquitetos e estudantes de arquitetura.


SUMÁRIO

7    INTRODUÇÃO 10   1. DEMANDA HABITACIONAL: FRAGMENTOS DE UMA HISTÓRIA 12   2. POLÍTICAS HABITACIONAIS BRASILEIRAS DA MODERNIDADE 16   3. EXPERIÊNCIA DE SÃO PAULO 2005-2012 19   ESTUDO DE CASO 1: RESIDENCIAL ALEXANDRE MACKENZIE

Arquitetos: Alexandre Boldarini e Sérgio Faraulo

27   ESTUDO DE CASO 2:  PARQUE NOVO SANTO AMARO V

Arquitetos: Vigliecca & Associados

39   ESTUDO DE CASO 3:  JARDIM EDITE

Arquitetos: MMBB e H+F

46    CONSIDERAÇÕES FINAIS 49   LISTA DE FIGURAS 51    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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INTRODUÇÃO “Se o mercado de trabalho relega parte da população à pobreza, o mercado imobiliário nega aos pobres a possibilidade de habitar no mesmo espaço que moram os que podem pagar. Surge uma demanda economicamente inviável, mas socialmente inegável. Desta contradição se origina a habitação social. ” (SINGER apud BONDUKI, 2004, p. 71)

A produção do habitar sempre foi objeto de estudo do campo da arquitetura, ainda que aos moldes do mercado imobiliário, transformador do espaço do solo em mercadoria. De fato, o arquiteto, sujeito atuante no campo do mercado imobiliário, pode se inserir nele de várias maneiras, como na situação específica contemporânea, abordada neste Ensaio. Nesse caso, os arquitetos que se destacaram por uma atuação de certa forma elitista, para o tipo de cliente unifamiliar, agora estão atuando no campo da habitação de interesse social. Ao falar de mercado imobiliário, torna-se importante destacar Bourdieu e sua ideia de espaço social. Segundo o autor, o “espaço social reificado” ou “espaço físico apropriado” é definido pela “exclusão mútua das posições que o constituem” (BOURDIEU, 2013, p. 133), no qual os agentes sociais são organizados no espaço físico de acordo com a quantidade e com os tipos de capital possuídos. Já o autor Lefèbvre ainda acrescenta que o espaço social intervém no modo de produção e com ele se modifica, ou seja, se altera de acordo com “as sociedades”, criando uma “história do espaço”. Para o autor, o espaço da “modernidade” tem características de “homogeneidade-fragmentação-hierarquização”. Isso significa que apesar da homogeneidade de conjuntos, paradoxalmente eles são fragmentados em lotes e parcelas, produzindo pseudoconjuntos mal conectados aos arredores e aos centros. (LEFÈBVRE, 2013, p. 124-125) Ao considerar o espaço habitado pode-se ainda correlacionar o lugar ocupado com sua posição no espaço social, pois a existência social está atrelada ao lugar, ou seja, o sítio em que um agente ou uma coisa se situam, tanto permanentemente, como o domicílio, quanto temporário, como locais de honra. Assim, a ostentação do espaço apropriado, ou “space consuming”, é uma das formas de ostentar o próprio poder, tanto econômico, quanto simbólico. (BOURDIEU, 2013, p. 133-134)

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Essa crítica também pode ser detectada recorrentemente nos últimos programas brasileiros de habitação de interesse social, devido à repetição de projetos de baixa qualidade em áreas periféricas mal conectadas aos centros. Em razão deste problema, por exemplo, o arquiteto Vigliecca (2015) ironizou o Programa Minha Casa, Minha Vida1, afirmando que: “Fizeram a casa e esqueceram a vida”. Por sua vez, o especialista no assunto Bonduki (2015), ainda ressaltou que as questões urbanas e fundiárias foram ignoradas, com construções de projetos de baixa qualidade arquitetônica e urbanística nas periferias urbanas. (SERAPIÃO, 2015) Diante de um impasse, este Ensaio Teórico busca a exploração de projetos habitacionais de interesse social empreendidos pela Secretaria Municipal de Habitação da cidade de São Paulo, que partiram do pressuposto que as favelas são parte da realidade urbana paulista e optaram pela abordagem de melhorar essa cidade informal, em vez de eliminá-la e realocar os moradores. E para tudo isso, foram realizados concursos com arquitetos renomados, objetivando valorizar o papel do arquiteto como agente transformador do espaço.

+ capital econômico

+capital cultural

capital cultural

capital econômico

-

Gráfico baseado no “The Food Space” de Leigh Wells

Figura 1. Gráfico relacionando espaços apropriados aos capitais de Bourdieu, onde a Casa de Fim de Semana do arquiteto Angelo Bucci representa a casa da elite, com qualidade estética em espaço urbano privilegiado; a casa de condomínio representa os espaços segregados de classe alta, como Alphavilles; o loft representa as pequenas habitações mais econômicas localizadas em espaços urbanos privilegiados, geralmente ocupadas por intelectuais e; por último a periferia, o espaço desprovido de privilégios, habitado por quem não possui nenhum dos capitais. 1 O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) foi lançado em março de 2009 no Brasil pelo Governo Federal para facilitar o acesso à casa própria para famílias de baixa renda

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Figura 2. Rua Oscar Freire, 22 de fevereiro de 1938


Figura 3. Rua Visconde de Parnaíba, 1939

1. DEMANDA HABITACIONAL:

FRAGMENTOS DE UMA HISTÓRIA

Historicamente, a demanda habitacional teve início no século 19 quando a população urbana das cidades empresariais começou a crescer significativamente. Por exemplo, é estimado que a população de Londres dobrou em um período de cinquenta anos, entre 1801 e 1851 e no mesmo século se desenvolveu a região da Grande Londres. (MORREY, 1973) Na Europa, os novos avanços tecnológicos e industriais encorajaram migrações não só de áreas rurais para urbanas, como também entre cidades e continentes, criando uma complexa situação social. Com as cidades superlotadas, os bairros foram degradados e o espaço habitacional apresentava vários problemas sanitários, de ventilação e iluminação. (FRAMPTON, 1992)

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No contexto brasileiro, a partir da década de 1870, as áreas centrais foram muito adensadas e a moradia nas cidades era vista como uma fonte de problemas pelos higienistas, por não se adaptar aos padrões da medicina sanitária. As habitações das classes baixas eram ameaças à saúde pública, à moralidade e à produção. Desta forma, esse espaço marginal era destinado à devassidão, vícios e ócio, incompatíveis com a vida familiar regrada. (CORREIA, 2004) Após o regime monárquico escravocrata e a ascensão de uma nova ordem social e econômica, a cidade de São Paulo começou a se industrializar. Em 1870 já existiam as habitações coletivas de aluguel, ou cortiços e foi estimado que mesmo no final dos anos 2000, ainda existiam 1.648 imóveis nessa condição no centro da cidade de São Paulo. (LÓPEZ et al, 2010) As primeiras intervenções urbanas foram projetadas pontualmente por alguns poucos engenheiros, geralmente militares, ou mestres, a partir do final do século 18, mas de fato, apenas na metade do século 19 que surgiram os arquitetos estrangeiros, e no fim do século, os brasileiros, recentemente graduados na Academia de Belas-Artes do Rio de Janeiro. Os arquitetos recém-chegados em São Paulo contribuíram para a definição da arquitetura de classe média, muitas vezes trabalhando como “frentistas”, ou fachadistas. Essa contribuição foi responsável pelo advento do estilo eclético. (LEMOS, 1985). Dessa forma, com os arquitetos trabalhando para a classe média, as intervenções higienistas continuaram se desenvolvendo pelas mãos dos engenheiros sanitaristas aos moldes europeus. Em 1928, a população de São Paulo já havia chegado a 1 milhão de habitantes (LÓPEZ et al, 2010). Assim, no início do século 20, a cidade já era um núcleo urbano relativamente estruturado com arredores articulados, cujo crescimento ilustrou o processo de metropolização típico das cidades latino-americanas, ou seja, de forma a incorporar territórios e concentrar funções. Nesse período, a articulação do centro com o entorno imediato ocorreu devido as linhas de bonde e a conexão entre cidades próximas por meio das ferrovias, principalmente a São Paulo Railway, construída em 1897 (MEYER et al, 2004). Segundo Celso Furtado (1965 apud MEYER et al, 2004), a metrópole paulista foi inicialmente, na década de 1940, constituída de uma população migratória do campo e apenas depois recebeu uma massa de trabalhadores industriais, que necessitavam de moradias operárias. Com o crescimento populacional, a região metropolitana de São Paulo adquiriu padrão periférico2 desde o início de sua formação, e principalmente em 1950, em seu momento de maior expansão, a segregação residencial teve um papel decisivo (MEYER et al, 2004). 2 Conceituado por Bonduki (2001), é a lógica da extensão ilimitada da cidade, com loteamentos muito baratos e sem infraestruturas.

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2. POLÍTICAS HABITACIONAIS

BRASILEIRAS DA MODERNIDADE De acordo com Segawa (1999) num quadro de conflitos ideológicos, como o vivido na primeira metade do século 20, “nada mais patente que a questão habitacional como fulcro de divergências para a conjuntura política da época” (p. 115), e só a moradia popular é tão emblemática e simbólica para a modernidade. Assim, tanto os princípios do CIAMs, como as experiências de distritos residenciais norteamericanos como Radburn, influenciaram os programas oficiais de moradia de habitação popular no Brasil nas décadas de 1940 e 1950. Durante o Estado Novo, apesar das ideias populistas de Getúlio Vargas não solucionarem os problemas habitacionais do país, foi esboçado um esquema de financiamento e construção em escala de habitações populares mediante carteiras prediais estabelecidas na estrutura previdenciária dos vários Institutos de Aposentadoria e Pensões, ou IAPs. Os projetos mais significativos deste período foram os IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários), como por exemplo em São Paulo: o Edifício Anchieta (1941), projetado pelos irmãos Roberto; o Conjunto Residencial Várzea do Carmo (1940), projeto parcialmente implantado por Alberto de Mello Flôres, Attilio Correia Lima, Hélio Uchôa Cavalcanti e José Theodulo da Silva; e o edifício Japurá (1949) projeto de Eduardo Kneese de Mello em que se trabalhou a verticalização do edifício habitacional. (SEGAWA, 1999)

Figura 4. Edifício Anchieta (1941)

Figura 5. Conjunto Residencial Várzea do Carmo (1940)

Figura 6. Edifício Japurá (1949)


Figura 7. Pedregulho (1947)

Em 1947, o projeto do Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes – conhecido como Pedregulho – no Rio de Janeiro, do arquiteto Affonso Eduardo Reidy, foi considerado por Segawa a mais “difundida experiência de habitação popular da arquitetura moderna brasileira”. (SEGAWA, 1999, p. 118). Influenciado pelos conceitos urbanísticos modernistas do CIAM, o conjunto foi formado pela implantação de um bloco único sobre pilotis, acompanhando as curvas de nível do terreno. Por seu caráter de unidade de vizinhança, foram implantadas edificações genéricas, destinadas ao coletivo para assistência pública e lazer, como posto de saúde, lavanderia, mercado, escola primária e ginásio. (SILVA, 2006) Posteriormente, o conceito modernista de vãos livres foi colocado em prática no projeto do CECAP Guarulhos (1967), do arquiteto Vilanova Artigas. A planta da sua unidade habitacional consiste em um grande salão vazio, com uma das pontas composta pelas prumadas hidráulicas, onde concentra banheiro, cozinha e área de serviço. Abaixo das janelas foram dispostos armários, os quais não ocupam a área útil do apartamento e a modulação com estrutura aparente regula onde poderiam ser encaixadas as divisórias de gesso. Assim, o cliente pôde organizar o espaço de forma que fosse mais conveniente para seu uso (Figura 7). Diante desta experiência exitosa, o arquiteto José Armênio de Brito Jr. criticou os programas de habitação social dos últimos cinco anos, os quais construíram aproximadamente três milhões de unidades habitacionais com o projeto do BNH de 1963, anterior ao CECAP.

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2. POLÍTICAS HABITACIONAIS BRASILEIRAS DA MODERNIDADE

Figura 8. CECAP Guarulhos, Vilanova Artigas (1967)

1. Sala: 14,7 m² 2. Cozinha: 8,5 m² 3. Área de Serviço: 2,3 m² 4. Banheiro: 3,6 m² 5. Quarto: 8,2 m² 6. Quarto: 6,0 m² 7. Quarto: 6,0 m² Ele afirmou que mesmo com toda a técnica existente, ainda se faz projeto de unidades habitacionais unifamiliares, abstendo-se da qualidade de projeto, da sabedoria de desenho e das soluções arquitetônicas de uma habitação digna, com a integridade das obras do Artigas3. 3

(Conjunto Habitacional Cecap Guarulhos (1967) – Ocupação Vilanova Artigas, 2015)

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2. POLÍTICAS HABITACIONAIS BRASILEIRAS DA MODERNIDADE O programa do BNH, das décadas de 1960-1970, adotou o modelo de “modernismo autoritário”4 e fez vários conjuntos habitacionais inspirados na Vila Kennedy (1964), uma aliança americana contra comunismo. A arquiteta Elisabete França ironiza a cartilha da Vila Kennedy, explicando que o programa implantado no Rio de Janeiro para moradia de interesse social, ao modelo de Cidade Tiradentes, colocava as pessoas a uma distância de 50 quilômetros do centro, mas em contrapartida prometia ao futuro morador “um varal, uma arvorezinha, faltou a chaminé com a fumaça (sic)”5. De fato, definia uma imagem de um modo de vida e a vendia para a população. Consequentemente, tais conjuntos habitacionais construídos na década de 1970 contribuíram para o padrão periférico de urbanização, com aproximadamente 210 mil unidades habitacionais, sendo 130 mil através da COHAB6 e 79 mil pela CDHU7. Segundo MEYER et al (2004) a concentração nas periferias e a escala dos empreendimentos marcaram o espaço e influenciaram as dinâmicas de ocupação do território metropolitano.

Figura 9. Cidade Tiradentes 4 (FRANÇA, 2014) 5 (IX Seminário Internacional: Habitação – Infraestrutura, espaço público e gestão, 2014) 6 As Companhias Habitacionais (COHABs) eram agentes financiadores, que podiam ser estaduais ou municipais, para o mercado popular dos programas do BNH (Banco Nacional de Habitação). Inicialmente, pretendia-se atingir as famílias com renda mensal de um a três salários mínimos, posteriormente, ampliado para cinco. (AZEVEDO e ANDRADE, 2011) 7 Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Estado, agente promotor de moradia popular do Governo Estadual, vinculada à Secretaria de Habitação. Ela produz moradias e intervém no desenvolvimento urbano das cidades. Anteriormente foi a CECAP, CODESPAULO e CDH. (CDHU, 2016)

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LAPA VILA ROMANA

1

OSASCO

BARRA FUNDA

TATUAPÉ

BRÁS

JAGUARÉ VILA MADALENA LIBERDADE

MOOCA

JARDINS VILA PRUDENTE

ITAIM BIBI

VILA MARIANA

IPIRANGA

VILA OLÍMPIA MOEMA PARAISÓPOLIS

3

VILA ANDRADE

INDIANOPOLIS

JABAQUARA

SANTO AMARO

VILA SANTA CATARINA

CAPÃO REDONDO JURUBATUBA AMERICANÓPOLIS

2 INTERLAGOS

3. EXPERIÊNCIA DE SÃO PAULO

2005-2012

“Residências alegres, de pessoas humildes e pobres, mas proprietárias das casinhas simples e de alegres quintais, exemplo de conjunto popular que denuncia as atuais soluções do problema habitacional”. Lina Bo Bardi (apud SERAPIÃO, 2012), sobre a favela do Real Parque

A habitação de interesse social do período militar foi responsável pela construção imagética desse espaço descrito por Lina Bo Bardi, um modo de morar periférico, mas maquiado pela ideia da casa própria. De fato, até a década de 1980, as políticas de habitação adotadas tinham como foco a construção de conjuntos desarticulados das cidades. Posteriormente, as políticas de urbanização do governo da prefeita Luíza Erundina (1989/93), aos moldes ENSAIO TEÓRICO | 16

2 KM


do Partido dos Trabalhadores e desenvolvidas por Nabil Bonduki, foram os mutirões de moradores tanto na elaboração dos projetos, quanto na construção das habitações. (SERAPIÃO, 2012) No entanto, a partir de experimentações isoladas que surgiram nessa mesma época, duas experiências concretas em 1993, financiadas com recursos internacionais de crédito mudaram o enfoque da destruição da favela para a sua transformação: o programa “Favela Bairro”, no Rio de Janeiro, idealizado por Luiz Paulo Conde e Sérgio Magalhães e o programa para o saneamento ambiental da bacia hidrográfica do Guarapiranga, idealizado por Elisabete França, durante o governo Maluf. Até a realização da intervenção do Guarapiranga, o foco da Sehab (Secretaria Municipal de Habitação) estava no “Projeto Cingapura”, que mantinha o morador na mesma gleba, mas foi um projeto-padrão, muito criticado por “esconder” a favela atrás dos edifícios. Entretanto, em 2005, dois fatores contribuíram para essa nova experiência paulista na construção de habitação de interesse social: o aumento do orçamento em 12 vezes e a valorização do arquiteto, deixando de lado o projeto-padrão e criando desenhos específicos para cada situação. Dos recursos totais recebidos, 10% foram destinados para intervenções em loteamentos irregulares, 40% para urbanização de favelas e 50% para áreas de mananciais. (SERAPIÃO, 2012) Assim, a partir de então, os programas habitacionais do estado de São Paulo são focados na continuidade, ou seja, retomar e finalizar os projetos dos governos anteriores e dar início a novos (BOLDARINI, 2008). Elisabete França (2014) justifica que a Sehab não trabalha com cálculo de déficit habitacional, mas com quem precisa de habitação. Partindo desse princípio, após assumir a Superintendência de Habitação Popular de São Paulo, em 2005, ela e a equipe mapearam e visitaram os assentamentos da região metropolitana, buscando conhecer o objeto de projeto, as reais necessidades e inclusive derrubar os mitos sobre as favelas8. Assim, a partir de três casos de estudos decorrentes dessa política habitacional, serão explorados os assuntos potenciais de cada caso estudado, com suporte do material não exclusivo publicado em revistas e internet. Os estudos de caso são: (1) Residencial Alexandre Mackenzie; (2) Parque Novo Santo Amaro V; (3) Jardim Edite 8

(IX Seminário Internacional: Habitação – Infraestrutura, espaço público e gestão, 2014)

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Figura 10. ResidĂŞncias do Residencial Alexandre Mackenzie


FICHA TÉCNICA

ESTUDO DE CASO 1: RESIDENCIAL ALEXANDRE MACKENZIE

Local Jaguaré, São Paulo Ano 2008–2010 Área Total 20.670 m2 Área Construída 32.722 m2 Unidades Habitacionais

“O objetivo foi criar vida em volta da edificação.

497 – 295 (prédios) e 132

Eliminamos barreiras que dificultassem acessos e

(casas sobrepostas)

a circulação das pessoas. À exceção dos quartos,

Autores

dispostos sempre para o fundo do lote, para preservar

Marcos Boldarini e Sergio

a privacidade, os espaços comuns foram pensados

Faraulo

como pontos de encontro dos moradores. As pessoas

Colaboradores

são visíveis das janelas. Isso anima a vivência, além de

Simone Ikeda, Daniel Souza

permitir o controle no condomínio”. BOLDARINI (2013)

Lima e Marina A. Malagolini

apud REVISTA PRISMA (2013)

Paisagismo Marcos Boldarini, Melissa Matsunaga e Simone Ikeda Estrutura Somatec Engenharia Fundações Geobrax Engenharia Instalações Elétricas e Hidráulicas Laranjeira Projetos (Edifícios) e Unika Projetos (Casas Sobrepostas)

O arquiteto Marcos Boldarini, pupilo9 da atual Superintendente de Habitação Popular da Sehab Elisabete França, representou o Brasil na Bienal da Arquitetura de Veneza de 2010. Ele foi considerado pela Folha de São Paulo, como o Isay Weinfeld dos subúrbios paulistanos. Aos 37 anos, já projetou 1.500 apartamentos para a Secretaria Municipal de Habitação e nunca projetou casas de classe alta, shoppings ou escritórios comerciais. (SERAPIÃO, 2012) 9

Terminologia de STEVENS (2003)

Execução da Obra Schahin Engenharia Gerenciamento do Projeto e Obra Consórcio Bureau – Sistema PRI Gerenciamento Social Diagonal Transformações de Territórios Realização PMSP – Secretaria Municipal de Habitação

ENSAIO TEÓRICO | 19 Figura 11. Arquiteto Marcos Boldarini


ESTUDO DE CASO 1: RESIDENCIAL ALEXANDRE MACKENZIE

A cidade Localizada na rua de mesmo nome, o Residencial Alexandre Mackenzie tem forma condominial, dividido em dois setores: um conjunto cercado por grades de edifícios de cinco pavimentos e outro residencial aberto e sem muros. Os três lados do condomínio têm vista para paredes cegas de galpões industriais e depósitos, enquanto a fachada posterior é dividida com outro complexo, Residencial Diogo Pires, projeto do mesmo arquiteto. Nova Jaguaré, inserida no bairro de Jaguaré, na Zona Oeste do município de São Paulo, foi ocupada na década de 1960 e nem mesmo as limitações naturais evitaram o processo de invasão. Retomando a ideia de espaço físico apropriado de Bourdieu, são espaços sem capitais cultural e econômico localizados em áreas de risco, ou seja, um solo sem qualquer valor, que não seria comprado por ninguém. A região que circunda o Residencial Alexandre Mackenzie apresenta visualmente abismos sociais em relação às residências, possuindo desde casas com alto grau de precariedade na região da Nova Jaguaré a outras mais bem estruturadas no lado oeste. A ideia do “habitat moderno”10, ou seja, a casa relacionada ao urbano, com acesso a rede de infraestruturas e equipamentos de uso coletivo não é atendida para ambas situações econômicas. Em um raio de 500 m, é possível encontrar poucos pontos de acesso ao transporte público, uma única creche e alguns pequenos comércios improvisados nas próprias casas, como bares e pequenas mercearias (Figura 11). O bairro Jaguaré é análogo ao que Lefèbvre (2013) descreve como espaços periféricos, ou seja, é homogêneo, com espaços repetitivos, mas fragmentado, em partes e parcelas, vendidas de acordo com o preço do solo, e por vezes invadidas irregularmente. É dessa forma que o principal argumento para a criação dos espaços de habitação de interesse social é o desejo pela cidade democrática, em que o espaço urbano transformado em mercadoria possa ser “comprado” por todos e possibilite a manutenção da diversidade no território urbano. (PEDRASSA NETO e VILLAC, 2013) Partindo-se desse princípio, a criação destes condomínios cercados e murados, sejam classe média ou de interesse social, se duplicam a fim de esconder a repetição dos elementos, o que pode gerar a contradição ao direito à cidade e à vida urbana. Com isso, apesar do arquiteto ter optado pela implantação de playgrounds e espaços de convívio no térreo entre as residências, mantendo o espaço totalmente permeável para os transeuntes e incentivando “os olhos da rua” 11 (PEDRASSA NETO e VILLAC, 2013), é possível contrapor com o lado do 10 (CORREIA, 2004) 11 Conceito de Jane Jacobs (1961): a vigilância informal do espaço urbano pelos próprios moradores, tanto voluntária quanto involuntária

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Figura 12. Inserção urbana (raio de 500m)

MARGINAL PINHEIROS

RESIDENCIAL ALEXANDRE MACKENZIE

Residencial Multiuso Industrial Praças

200 M

Áreas verdes

conjunto de edifícios, que contrariamente não proporcionou as mesmas condições para integração social entre as diversas classes que compõem a cidade. Consequentemente, seguiu os parâmetros de vigilância e restrição, em prol de segurança aos moradores. Seus espaços de uso coletivo foram resolvidos nos vazios entre prédios e em suas coberturas, com intuito de criar um espaço condominial com áreas públicas articuladas para os próprios condôminos. Além disso, mesmo com a proporção espacial coerente, sendo o perímetro da área cercada de 160 m x 70 m, poucas fachadas são voltadas para a rua, resultando na vigilância indireta dos moradores mais para o seu próprio espaço de lazer interno do que para o espaço público da rua.

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A cidade e a rua

Figura 13. Imagem eletrônica dos Residenciais Alexandre Mackenzie e Diogo Pires

Foi criada uma nova rua que divide o residencial em dois conjuntos, de um lado os edifícios altos e de outro as residências. A caixa viária, apesar de larga, com 15 m, prioriza o estacionamento e a passagem de veículos, segregando o conjunto em duas partes independentes. No entanto, a locação dessa via foi importante para dar passagem aos pedestres por entre a extensa área do conjunto e integrar o residencial Alexandre Mackenzie, com o vizinho Diogo Pires. Os

Figura 14. Edifícios

arredores

do

Residencial

Alexandre

Mackenzie se constituem como um espaço sem urbanidade12, rodeado de galpões com fachadas de muros cegos. Desta forma, além da precariedade de serviços, as ruas próximas são espaços desprovidos de vida urbana, com excesso de veículos de carga e sem espaços públicos qualificados para o lazer. Por isso, a fim de minimizar a degradação e o desuso do espaço público, o projeto Residencial Diogo Pires buscou atender novas demandas da vida cotidiana em seu programa. Ele faz a transição entre as instâncias do público e o privado, por meio de uma praça pública e ainda, dispõe de espaços de serviços, comércio e atividades comunitárias.

Figura 15. Área de lazer do condomínio

12 Adotado o conceito de Holanda (2003), uma condição “simultânea ao espaço físico e a comportamentos humanos” e que se caracterizaria pela “minimização de espaços abertos em prol de ocupados” ou seja, na densidade de edificações, na existência “do maior número de portas para lugares públicos / jamais paredes cegas’ ou seja, na constituição do espaço, na ‘minimização dos espaços segregados, guetizados, becos sem saída (...)” ou seja, na busca da condição de integração espacial decorrente do posicionamento do espaço no todo maior i.e., a condição de rede. (AGUIAR, 2012)

Figura 16. Área de lazer do condomínio


Figura 17. Implantação do Residencial Alexandre Mackenzie

Sistema construtivo, materiais e linguagem arquitetônica Foi adotado o sistema de alvenaria estrutural, com blocos de concreto de 14 cm de largura e lajes pré-moldadas de 12 cm de espessura. (CABRAL, 2016) O acesso às unidades habitacionais superiores ocorre por meio de circulação externa, corredores abertos que podem se converter em varandas públicas, onde coexistem os conceitos de passagem e permanência. O arquiteto ainda afirmou que essa circulação externa, criada devido a sua impressão negativa das circulações internas de um edifício do Cingapura, rompe com o paralelismo e rigidez das lâminas modernistas, tradicional dos conjuntos habitacionais convencionais. (SERAPIÃO, 2012) O conjunto é composto por diversos blocos simétricos de formas ortogonais dispostos em diferentes ângulos no terreno plano, destacados pela mescla de cores, azul, branco, verde e amarelo, além da diferença de alturas de cada lado da rua. Em cada bloco, as varandas e cores criam reentrâncias e texturas para a fachada. ENSAIO TEÓRICO | 23


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Figura 18. Plantas


ESTUDO DE CASO 1: RESIDENCIAL ALEXANDRE MACKENZIE

A planta e a organização do espaço Apesar dos seis tipos de unidades habitacionais projetadas, sendo uma inclusive adaptada para deficientes físicos, o conceito de “moradia mínima”, postulada por Le Corbusier como 45 m², a “justa escala humana” para uma família de seis pessoas, continua evidente nas plantas deste conjunto. Entre 48m² e 50 m², cada “célula” habitacional do conjunto é composta de dois ou três quartos, com layout tradicional em tripartido, ou seja, acesso pela sala de estar (área social), com uma ligação com a zona de serviços (cozinha e lavanderia) e outra com a zona íntima da casa, com quartos e banheiro. Todos os cômodos já foram pré-definidos pelo arquiteto, inclusive com sugestão de layout. No entanto, ao comparar a proposta desenhada pelo arquiteto, sujeito dotado de poder cultural e simbólico, às imagens dos espaços habitados, nota-se que a proposta com poucos móveis e espaços mais permeáveis não é mantida pelos moradores. Os cômodos são notoriamente mais cheios, com disposições de móveis diferentes do proposto. Por exemplo, ambos moradores, optaram por alocar os armários da cozinha na entrada, diminuindo o espaço de passagem da porta proposto pelo arquiteto (Figuras 20 e 21).

Figura 19. Apartamento entregue sem revestimentos

Figura 20. Cozinha de apartamento ocupado (vista da área de serviço)

Aqui vale retomar Bourdieu (2013) quando ele afirma que o espaço social não é o espaço físico, pois este deve ser pensado como tal por meio de uma abstração, isto é, ignorando o espaço físico habitado e apropriado, que é uma estrutura social em estado objetivado13 13 Por exemplo, a casa kabyle (casa cabila ou casa berbere), ou a planta de uma cidade.

Figura 21. Sala de apartamento ocupado com vista para cozinha

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Figura 22. Sala de apartamento ocupado

com a objetivação e a naturalização de relações sociais passadas e presentes. Ele ainda cita que se pode pensar que estruturas do espaço físico apropriado são resultado das estruturas sociais convergidas a sistemas de preferências e estruturas mentais. De forma análoga, ao comparar o espaço físico do apartamento entregue, com paredes brancas e sem revestimentos (Figura 19), com o espaço físico apropriado, é possível refletir sobre as estruturas sociais dos próprios moradores, por meio dos pisos e azulejos estampados e pinturas em cores vibrantes. Tais alterações na opinião da arquiteta Elisabete França são de “gosto duvidoso” . De fato, aquele objeto arquitetônico não é visto como um objeto de arte, mas como um espaço funcional, passível de transformação. Este processo é explicado por Stevens (2003) por meio da diferenciação de “lar” e “casa”. O lar, esperado em um projeto de habitação social, não seria um objeto. Ele é feito para o mercado de massas e expressa um espaço habitado. Diferentemente, a casa é arquitetada e dá ênfase à natureza reificada da edificação. Por exemplo, na obra de casas do arquiteto Mies Van der Rohe, o mobiliário por ele mesmo projetado e definido “não se destina ao conforto convencional, nem à especialização funcional: adquire, por si, um valor artístico e arquitetônico, transformando-se em um outro elemento-chave do sistema” (ÁBALOS, 2001, p. 33). Assim, a dinâmica de habitar uma casa torna-se completamente diferente da “apropriação do lar”, eis o fenômeno que será recorrente em outras situações deste Ensaio. ENSAIO TEÓRICO | 26


ESTUDO DE CASO 2: PARQUE NOVO SANTO AMARO V

Figura 23. Croqui do arquiteto Vigliecca

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Figura 24. Contexto urbano

“É gratificante saber que fizemos alguma coisa que coletivamente gera entusiasmo, gera vontade de ficar lá. É esse espaço de lazer que está faltando, mas temos que reconhecer que é um problema se esses espaços de lazer são limitados ao exercício de um projetinho. Colocamos no projeto um modo de transformação, que nós acreditamos (...), mas apenas quando esse modo de transformação seja multiplicado (...) (sic)”. VIGLIECCA (2015)

Histórico da ocupação Anterior ao projeto de Vigliecca, a ocupação irregular desmatou a vegetação ao longo de um córrego, o qual recebia esgoto das casas e águas pluviais. Assim, a ideia principal das intervenções era recuperar as margens do curso d’água, criando um eixo central verde e pontos de interesse nesse percurso, com áreas de encontros e lazer. Além disso, realocar para os oito blocos residenciais as famílias que viviam no fundo do vale. De acordo com Bourdieu (2013) o “efeito de gueto” é descrito como o inverso do “efeito de clube”, pois enquanto este se funda na exclusão de pessoas desprovidas de capitais econômicos, culturais e até mesmo sociais, aquele reúne um conjunto de agentes que “partilham de sua comum excomunicação” (BOURDIEU, 2013, p. 140). Diante disso, a ENSAIO TEÓRICO | 28


estrutura do espaço social se manifesta

FICHA TÉCNICA

no espaço físico habitado por meio da

Local:

hierarquização da sociedade, uma vez que

São Paulo, SP

não existe sociedade hierarquizada que

Data:

não exprima as diferenças sociais de um

2009-2012

modo deformado e, sobretudo, mascarado pelo “efeito de naturalização”. Este efeito reproduz as diferenças através das lógicas

Cliente: Prefeitura de São Paulo / Consórcio Mananciais: Construbase + Engeform Programa:

sociais, e assim, podem parecer emergidas

Program Saneamento Ambiental dos Mananciais

na natureza das coisas, assim como uma

do Alto Tietê – Programa Mananciais

ideia de “fronteira natural”.

Área de intervenção: 21.900 m²

De fato, essa “fronteira natural” pode ser

Área construída:

traduzida como a sensação de vínculo das

14.674,3 m²

pessoas a um lugar. A parcela da sociedade que possui capitais, se apropria do espaço privilegiado, próximo a bens raros, meio de

Unidades habitacionais: 201 unidades, 11 tipos, 52,5 a 76,5 m² Densidade do entorno: 79 hab/ha

transporte e comunicação, se beneficiando

Densidade do projeto:

dos “lucros do espaço”, enquanto os

405,8 hab/ha

desprovidos de capital se prendem ao

Arquitetura e Urbanismo:

espaço desprivilegiado e o conferem todo

VIGLIECCA & ASSOCIADOS

o seu peso ao “lugar de nascimento”14.

Héctor Vigliecca, Luciene Quel, Caroline Bertoldi, Neli Shimizu, Ronald Werner, Bianca Riotto, Thaísa

Tais teorias podem ser associadas à degradação conjuntos Santo

do

espaço

habitacionais

Amaro

permaneceram

pelos na

público do

dos

Parque

Fróes, Pedro Ichimaru, Kelly Bozzato, Aline Ollertz, Sérgio Faraulo, Paulo Serra, Luci Maie Gerenciamento: Consórcio JNS e Hagaplan

moradores

que

Infraestrutura:

informalidade.

Os

MC Engenharia

moradores formais se queixam de veículos

Fundações:

em alta velocidade nos espaços de lazer,

Berfac Consultoria de Solos e Fundações

nas passarelas de circulação de pedestres

Estrutura de concreto:

e até mesmo na circulação externa às

Camilo Engenharia

unidades, de atropelamentos, vandalismo e transformação do espaço em algo marginal e devasso. 14 Segundo o Data Popular (2014), 66% dos entrevistados não desejam sair da favela

Estrutura metálica: Projeto Alpha Prometal Engenharia Instalações elétricas e hidrossanitárias: Procion Engenharia

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Figura 25. Implantação dos conjuntos

“É o de fora que vem bagunçar aqui dentro, não é o daqui (sic)” (Maria de Fátima Gomes, moradora)

Desta forma, eles associam a segregação do espaço condominial, por meio de grades e muros, a solução ideal para o afastamento das pessoas “indesejáveis” que degradam o lugar. José Geraldo de Souza, morador e síndico geral do conjunto, relatou que na mesma semana que foi entregue o empreendimento, começou a instalação de portões.

“Vinha muita gente de fora, fazendo muita baderna. Então, fechando para nós é bem melhor. Estando fechado a gente organiza melhor (sic).” (José Geraldo de Souza, síndico geral do conjunto)

Por outro lado, o arquiteto Hector Vigliecca justifica que essas “invasões” demonstram a fraqueza do lugar e da falta da infraestrutura pública que corresponda a necessidade de uma demanda muito alta, resultando na transformação do complexo, em um condomínio fechado. Para ele, esses espaços segregados tanto nos conjuntos do Parque Santo Amaro, quanto em outras áreas de São Paulo, são como câncer, ou a criação da anti-cidade, refletindo a exclusão da exclusão15.

Figura 26. Espaço comum em 2012 e o espaço degradado em 2015 15

(Housing for a favela: Parque Santo Amaro V, 2015)

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Figura 27. Inserção urbana (raio de 500m)

ESTRADA DO M’BOI MIRIM

PARQUE NOVO SANTO AMARO

200 M Residencial Multiuso Institucional Áreas verdes

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ESTUDO DE CASO 2: PARQUE NOVO SANTO AMARO V

O arquiteto

Pesquisa Data Popular (2014) sobre as favelas

De acordo com Stevens (2003), a arquitetura e os arquitetos estão inseridos no campo da cultura e 94% declaram-se felizes que baseado em Bourdieu, essa cultura é utilizada 73% consideram morar em um lugar para esconder a verdadeira natureza entre as violento relações de poder entre grupos e classes. Dessa 59% afirmam ser alvo de preconceito forma, ele acredita que poucas pessoas fora das 66% não gostariam de sair da favela classes mais altas contratariam arquitetos para 70% recebem parentes, amigos e projetar suas residências particulares, mesmo vizinhos todos os meses que os honorários fossem de graça, uma vez 36% promovem churrasco na laje todos que o campo cultural legitima a dominação de os fins de semana práticas simbólicas das classes mais altas. Assim, 65% afirmam pertencer à classe média o processo é bilateral: o produtor cultural, ou o Representam um mercado consumidor arquiteto, produz o bom gosto e o consumidor de R$ 60 bilhões/ ano cultural, ou cliente, demonstra seu refinamento perante a sociedade. No entanto, como exposto na pesquisa do Data Popular (2014), 65% da população das favelas paulistas acreditam pertencer à classe média, e como tal, surge o desejo do consumo de bens culturais, característicos do bom gosto da alta sociedade. E de fato, a arquitetura, pelo seu poder simbólico, representa parte significativa desses bens. Elisabete França (2014) ao citar as dificuldades do processo de realocação das famílias afirma que o número de pessoas em vulnerabilidade sempre é maior do que o número de unidades disponíveis e os moradores que não são contemplados pela nova arquitetura se revoltam porque eles não estão morando em um apartamento do Héctor Vigliecca, e sim no conjunto do Cingapura, que ninguém conhece o projetista. Vigliecca ainda ressalta ser comum ouvir que o arquiteto não deve impor uma estética à habitação de interesse social, mas que esse pensamento apenas pressupõe que “a arquitetura é um bem de consumo em que a estética é um acréscimo decorativo, ou uma gratuidade inerente a uma classe burguesa” (VIGLIECCA, 2012, p. 93). Assim, contrariamente, ele procura não fazer dos produtos da pobreza o modelo de trabalho em sua arquitetura, evitando até mesmo o uso das cores à pobreza, com a consequência de estigmatizar a população. Figura 28. Arquiteto Héctor Vigliecca

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ESTUDO DE CASO 2: PARQUE NOVO SANTO AMARO V

Croqui: O método de projeto e o que os desenhos revelam

Figura 29. Croqui do espaço interno do apartamento

Os croquis do arquiteto refletem a atividade central da prática de projeto, o processo projetual que dá suporte ao pensamento criativo, transferindo a ideia da mente para o papel. Eles enriquecem o projeto como uma forma de registro e mesmo que ainda no esboço, expressam as ideias de proporção, mensuração das partes, fluxos, uso e humanização dos espaços com a representação de atividades cotidianas. De fato, o croqui revela que as pessoas pertencem àquele espaço projetado.

A família modelo Vale então recuperar a casa positivista de Jacques Tati, apresentada no filme de 1957, Mon Oncle (Meu tio), uma crítica sobre “a forma de pensar, projetar e habitar a casa propugnada pela ortodoxia moderna” (ÁBALOS, 2001, p. 68). Nesse contexto, a casa modernista é colocada sempre paradoxal ao cenário de onde o tio habita, que representa a indiferença à ideia de progresso. A personagem do tio Hulot representa um homem solitário, que reage frente ao mundo com a mesma intensidade e inocência de um menino, enquanto a família Arpel representa o progresso, moralidade e a felicidade material. Dessa forma, o sujeito adotado na construção social do Existenzminimum, ideia racionalista de um espaço mínimo habitável, eficiente para bem-estar do ser humano, só poderia ser o homem-tipo corbusiano e a família-estatística. (ÁBALOS, 2001). No entanto, esse modelo de família modernista não condiz mais com o que é esperado pela população e um programa de necessidades habitacional baseado nesse cliente mantém-se obsoleto e tradicional para os moldes atuais. É assim que Elisabete França (2014) posicionase a favor de repensar o programa da habitação de interesse social, pois em sua opinião, a unidade imutável de dois quartos já não reflete mais a família brasileira, a qual não é mais nuclear, formada por pai, mãe e dois filhos.

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Figura 30. Plantas


ESTUDO DE CASO 2: PARQUE NOVO SANTO AMARO V

A flexibilidade Dentre os três estudos de caso, o conjunto do Parque Novo Santo Amaro é o que possui mais variações de plantas, divididos em três conjuntos de habitação, com intuito de se adequarem melhor a insolação, vistas, declividades, configuração e qualificação das áreas públicas. O Conjunto-1 tem quatro blocos, com 92 unidades e quatro tipos de apartamentos, o Conjunto-2 possui três blocos, com 84 unidades e cinco tipos de apartamento e o Conjunto-3, o menor, com um bloco, 24 unidades e dois tipos de apartamentos. A área média dos 11 tipos de unidades, tanto de um pavimento, quanto dúplex e adaptados para deficientes físicos, é de 50 m², compostas de sala, cozinha, lavanderia, banheiro e dois ou três quartos. Além disso, os arquitetos planejaram uma unidade mobiliada para sugerir aos moradores como ocupar o espaço projetado. (TRONCOSO, 2012) As áreas internas dos apartamentos demonstram algumas particularidades do arquiteto, como por exemplo, a diminuição de corredores de circulação e o aumento da área de serviço. De fato, a redução de grandes áreas de corredores otimiza o espaço útil interno, de forma que em algumas unidades as áreas de circulação não atingem nem um metro quadrado. Quanto a área de serviço, Vigliecca acredita que esses espaços amplos, além de auxiliarem na secagem de roupas, não resultam na desfiguração das fachadas externas, o que gera um grande fator da degradação ambiental e exclusão quando comparada a cidade formal. (VIGLIECCA, 2012)

Figura 31. Espaço interno ocupado

Figura 32. Espaço interno ocupado

Figura 33. Espaço interno ocupado

ENSAIO TEÓRICO | 36


Sistema construtivo, materiais e linguagem arquitetônica Devido aos variados tipos de apartamentos, os andares não se repetem, e a fachada ganha ritmo e volume com cheios e vazios, em que os elementos vazados nas circulações e áreas de serviço conferem um pouco de transparência e leveza ao conjunto. Construídos em blocos de concretos, os edifícios foram implantados seguindo a topografia do terreno, variando assim sua altura em diversos pontos do espaço.

Figura 34. Textura e volumetria da fachada

Figura 35. Textura e volumetria da fachada

Vigliecca usa apenas uma cor neutra em todo o complexo, mas esquadrias variadas, com janelas mais estreitas, de piso a piso, outras mais largas a meia altura ou altas e até elementos vazados no concreto. Além disso, as escadas e passarelas metálicas possuem posição de destaque por todo o complexo, tanto quando fixadas aos blocos, quanto soltas entre eles.

Figura 36. Passarelas

Figura 37. Espaço público

ENSAIO TEÓRICO | 37


Figura 38. Jardim Edite


ESTUDO DE CASO 3: JARDIM EDITE A cidade O Conjunto do Jardim Edite é um projeto implantado em uma área mista e rica da cidade de São Paulo. Anteriormente, existia uma favela, e com a construção da Ponte Estaiada, o mais recente cartão postal da cidade, pensou-se no projeto do residencial, que na visão dos arquitetos objetivou-se não refletir a exceção, mas sim, tornar-se parte integrante do panorama urbano16. Foi o primeiro prédio com a experiência da verticalidade e com elevadores dos novos programas, e por isso, passou por uma intensa discussão com assistentes sociais que eram contra edifícios em altura para habitação de interesse social. A demanda se iniciou com os equipamentos, a unidade básica de saúde e creche, e posteriormente, o restaurante escola veio como um pedido da comunidade. Os arquitetos também propuseram novas demandas ao programa de necessidades, previsto com objetivo de evitar que o conjunto voltasse a ser um gueto. Além disso, as áreas de uso comuns foram pensadas como espaços de permanência e convívio, não apenas de circulação. Assim, os pátios criados entre os equipamentos públicos, além de proporcionar uma boa climatização entre eles, a ideia é que as árvores crescidas sombreiem a cobertura dos edifícios, que seria o nível condominial de lazer dos moradores.

As classes sociais Mais uma vez, Bourdieu é o autor que auxilia na exploração desse espaço por meio de sua determinação que os agentes sociais se caracterizam na sociedade por sua posição ocupada no espaço, através de suas propriedades. Desta maneira, aquele que não possui domicílio fixo, não tem, ou quase não tem, existência social. Isso se reflete de forma clara nas favelas, onde a maior parte dos moradores trabalham no mercado informal, pois a falta de endereço fixo dificulta as oportunidades de trabalhar formalmente. É assim que os novos conjuntos habitacionais favorecem a condição de existência dos indivíduos que neles habitam. Diante disso, vale então explorar os conceitos de habitat e habitus, os quais se completam mutualmente, uma vez que o habitus seria um conjunto de disposições interiorizadas do indivíduo que não determina, mas induz suas ações e reações e poderia ser também chamada 16

(Galeria da Arquitetura | Jardim Edite - MMBB, 2014)

ENSAIO TEÓRICO | 39


ESTUDO DE CASO 3: Jardim Edite de socialização ou “enculturação”, quase como uma herança genética (BOURDIEU, 1996 apud STEVENS, 2003). Assim, os agentes de mesmo habitus tendem a fazer parte do mesmo habitat, levando a crer que seria intolerável pessoas socialmente distantes coabitando em um mesmo espaço físico (BOURDIEU, 2013). Se por um lado, mais uma vez a ideia de “fronteira natural” surge, fazendo com que as classes sociais altas resistam a qualquer aproximação com o periférico, resultando em um embate conflituoso para a construção de habitação social em áreas privilegiadas, por outro lado, às vezes as famílias podem se sentir deslocadas naquele espaço que lhes é concedido. É assim que “pode-se ocupar fisicamente um habitat sem habitá-lo” (BOURDIEU, 2013, p. 139). Ainda é muito cedo para tais conclusões, mas talvez, essa dificuldade de inserção a um novo habitus pode ser refletida posteriormente nos moradores Jardim Edite, levando a um novo tipo de segregação social, no qual eles não ostentarão o espaço em que apropriam, excluindo-se do seu próprio espaço público. Figura 39. Inserção urbana (raio de 500m)

MARGINAL PINHEIROS

JARDIM EDITE

Residencial Multiuso Comercial Industrial Praças ENSAIO TEÓRICO | 40 Institucional

200 M


ESTUDO DE CASO 3: Jardim Edite

FICHA TÉCNICA

Arquitetos:

Estrutural e Consultoria (Projeto 2010)

MMBB Arquitetos, H+F Arquitetos

Fundações:

Localização:

MAG

Av. Engenheiro Luís Carlos Berrini - Itaim Bibi,

(Projeto 2008) e Portella Alarcon Engenheiros

São Paulo - SP

Associados (Projeto 2010)

Arquitetos MMBB:

Sondagem:

Marta Moreira, Milton Braga e Fernando de

Geosolo Geotecnia e Engenharia de Solos

Mello Franco

Instalações:

Arquitetos H+F:

PHE Projetos Hidráulicos e Elétricos

Eduardo Ferroni e Pablo Hereñú

Paisagismo:

Área:

Suzel Márcia Maciel (Projeto 2008) e Ricardo

25714.0 m²

Vianna [Bonsai Paisagismo] (Projeto 2010)

Ano do projeto:

Orçamento:

2010

Nova Engenharia

Fotografias:

Construtora:

Nelson Kon

KALLAS Engenharia

Fabricantes:

Gerenciadora:

Eucatex, Orsometal, Otis, Real Tintas, Serralheria

Consórcio Bureau Sistema PRI

Arcobox, Trialux

Consultoria de Projeto Geométrico:

Colaboradores MMBB:

System Engenharia

Eduardo Martini, Marina Sabino, Giovanni

Consultoria de Impermeabilização:

Meirelles, Cecilia Góes, Gleuson Pinheiro Silva,

Proiso

Adriano Bergemann, André Rodrigues Costa,

Impermeabilização

Maria João Figueiredo, Martin Benavidez, Naná

Consultoria de Estrutura Metálica:

Rocha, Tiago Girao, Guilherme Pianca, Giselle

Cia de Projetos

Mendonça, Eduardo Pompeo, Rafael Monteiro

Cliente:

e Lucas Vieira

Prefeitura Municipal de São Paulo - Secretaria

Colaboradores H+F:

Municipal

Tammy Almeida, Joel Bages, Natália Tanaka,

Secretaria Municipal de Desenvolvimento

Diogo

Urbano (SMDU)

Pereira,

Gabriel

Rocchetti,

Danilo

Projesolos

Projetos

da

Engenheiros

e

Associados

Consultoria

Habitação

(Sehab/Habi)

de

e

Hideki, Thiago Benucci, Mariana Puglisi, Luca Mirandola, Thiago Moretti, Luisa Fecchio, Bruno Nicoliello, Renan Kadomoto e Carolina Domshcke Estrutura: Kurkdjian

e

Fruchtengarten

Engenheiros

Associados (Projeto 2008) e Projetal Projeto

ENSAIO TEÓRICO | 41


ESTUDO DE CASO 3: Jardim Edite

O arquiteto Esse projeto resultou de uma parceria dos escritórios MMBB e H+F, ambos reconhecidos por seus projetos institucionais, requalificações urbanas e residências unifamiliares e multifamiliares de classe média alta. De acordo com a teoria de Collins (apud STEVENS, 2003) as principais estruturas sociais de um campo intelectual, como o da arquitetura, são as cadeias de mestre-pupilo, nas quais o mestre transmite capital cultural para seus pupilos. Um exemplo disso é a relação dos escritórios citados, em que Hereñú e Ferroni (H+F) foram pupilos de Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga (MMBB), que por sua vez foram pupilos de Paulo Mendes da Rocha.

Figura 42. Complexo do Jardim Edite

ENSAIO TEÓRICO | 42

Figura 40. MMBB Arquitetos

Figura 41. H+F Arquitetos


Consequentemente, essa cadeia de mestre-pupilo denota um forte peso de capital cultural que é transpassada para a obra, fazendo com que ela seja comparada aos demais projetos de classe média alta e ocupe também as páginas das revistas de arquitetura como um exemplar arquitetônico de qualidade.

Figura 43. Solução de fachada

Sistema construtivo, materiais e linguagem arquitetônica A solução formal do edifício é marcada pelas aberturas e pelos fechamentos, de forma bastante gráfica e sem recursos muito caros. A presença de sombras marcadas, faixas e a circulação com gradeado, que se apresentam como uma matriz coletiva do conjunto, foi capaz de disciplinar as fachadas sem esconder a vida dos moradores. As saliências de 50 cm nas fachadas laterais das torres, criam armários sem ocupar o espaço útil interno do apartamento e já sustentam os caixilhos das janelas, semelhante ao que Artigas fez no CECAP, na década de 60. A escolha do sistema partiu do princípio de algo que uma vez feito, fosse de fácil manutenção e boa resistência. Assim, optou-se pela estrutura concreto moldado em loco e fechamentos em alvenaria revestida. As unidades têm uma boa relação com a cidade, onde suas aberturas nunca são voltadas para pátios fechados ou prédios próximos e a vista é ampla, com possibilidade de insolação e ventilação cruzada.

Figura 44. Solução de fachada

O habitat O conjunto formado por duas lâminas habitacionais de quatro andares e três torres de apartamentos com 15 andares abriga também uma creche, uma unidade básica de saúde e um restaurante-escola. No total são 252 unidades habitacionais, com área média de 50 m², todas com dois dormitórios, sala, cozinha e área de serviço. O

Figura 45. Imagem digital da cobertura condominial

Figura 46. Vista da rua


ESTUDO DE CASO 3: Jardim Edite edifício lâmina possui um único tipo de planta e o edifício torre dois tipos. Em ambos os casos os espaços internos são bem reduzidos, como por exemplo: a lavanderia que se resume ao espaço do tanque e máquina de lavar; a cozinha, que quando não conjugada com a sala, é apenas o corredor com espaço para bancada de pia, geladeira e fogão e; um quarto que propõe um layout pouco convencional de duas camas unidas pelas cabeceiras.

Figura 47. Apartamento entregue

Figura 48. Apartamento reformado

Figura 49. Apartamento reformado

ENSAIO TEÓRICO | 44

No entanto, percebe-se a negação da planta tripartida dividida em zona social, serviços e íntima, pois em dois tipos de apartamentos a entrada acontece em um salão único de sala e cozinha, com acesso direto para a lavanderia e outro acesso para a zona íntima. Ainda, em todos os tipos, a circulação foi reduzida para ocupar o mínimo de área possível, evitando inclusive corredores. Além disso, nas torres as entradas dos apartamentos se voltam para um amplo corredor de acesso, com aberturas do piso ao teto para o exterior, em que foi pensado como lugar de encontro, onde os moradores pudessem abrir as portas e usar como uma área coletiva. (FRAJNDLICH, 2013) Por fim, retomando a ideia de habitus e habitat, através da manifestação dos próprios gostos dos moradores na transformação do espaço interno, percebe-se de fato as diferenças de capitais culturais e intelectuais das camadas sociais. Elisabete França citou que Milton Braga, autor do projeto do Jardim Edite, dizia que sua arquitetura é branca. No entanto, a reforma feita por esse morador (Figuras 46-48) chega a ser uma ironia à arquitetura de Milton Braga, em que todas as paredes brancas e os rejuntes dos azulejos são transformadas em verde-limão, combinando inclusive com os estofados das cadeiras, filtro e até mesmo tapetes. Nesse momento, percebe-se que a arquitetura aqui construída não é um objeto intocável produzido por um gênio, mas um espaço habitável, vivo e passível de mudanças por quem se apropria, independente da relação entre o capital de quem projetou e de quem vive.


Figura 50. Plantas


Figura 51. Plantas Pedregulho

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Este Ensaio Teórico tratou da nova produção paulista, atual referência de habitação de interesse social que influencia a nova geração de estudantes e arquitetos. Para a leitura dos três estudos de caso apresentados foram utilizados materiais não exclusivos, ou seja, publicações em revistas de arquitetura e internet. Deste modo, como resultado da heterogeneidade do material, a pesquisa buscou valorizar o potencial de cada exemplar. De fato, considerando esses novos modelos de produção paulista como as novas referências arquitetônicas de habitação de interesse social, é pertinente os comparar com o paradigma de habitação de interesse social representativo do modo moderno de morar, a fim de entender suas similaridades e diferenças: o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes – Pedregulho – no Rio de Janeiro, do arquiteto Affonso Eduardo Reidy. Primeiramente, apesar de todos os objetos de estudo considerarem a ideia de “habitação mínima”, que determina a área confortável suficiente para uma família viver, os modelos atuais se mostraram consideravelmente divergentes em relação às áreas internas das unidades do Pedregulho. Nas habitações paulistas analisadas, a área média dos apartamentos é de 50 m², chegando no máximo a 66 m² nas unidades de três quartos do conjunto do Parque Santo Amaro V. No entanto, no complexo do Pedregulho, apenas o conjugado com cozinha, banheiro, sala e quarto possui 40 m². As demais unidades variam de 65 m² a 100 m². Outro ponto a ser considerado é a flexibilidade dos tipos de plantas. Enquanto o Pedregulho possui unidades entre um a quatro quartos de áreas variadas, os objetos de estudo apresentados possuem variação entre dois a três quartos apenas. Considerando a mudança da família modelo um ponto de enfoque no programa de necessidades da habitação contemporânea, comparado aos modelos atuais, o conjunto do Pedregulho mostra-se mais flexível para atender diversos tipos clientes. No entanto, a acessibilidade é algo a ser considerado como uma evolução nas unidades habitacionais estudadas. Por ser parte da agenda contemporânea, os projetos do Residencial Alexandre Mackenzie e Parque Novo Santo Amaro se mostraram preocupados em propor apartamentos adaptados e evitar espaços muito reduzidos. Ainda, é importante comparar a relação do projeto executivo em ambos recortes temporais. A unidade habitacional do Pedregulho foi pensada nos mínimos detalhes, com armários e ENSAIO TEÓRICO | 47


tábua de passar roupas embutidos, fogão, coifa, banheira e passa pratos já alocados, a fim de aproveitar o espaço com maior funcionalidade e eficiência possível. No entanto, as unidades habitacionais estudadas entregam ao morador o apartamento apenas com equipamentos hidráulicos instalados, sem revestimento e pintura, evidenciando uma maior flexibilidade do projeto em relação a como o morador vai se apropriar. Consequentemente, às vezes não resultando no uso mais eficiente do espaço interno, mas refletindo as preferências e gostos pessoais dos habitantes. Por outro lado, esses novos modelos têm em comum com o Pedregulho a escolha da circulação linear, aberta ou pelo menos permeável ao ambiente externo e a otimização de espaços de circulação ociosos. Ainda é possível destacar que a mesma ideia de unidade de vizinhança do Pedregulho, com a construção de edifícios genéricos que abrigam serviços coletivos, foi repetida no Jardim Edite, com equipamentos para cumprir com a demanda local. Em virtude dos estudos apresentados, foi possível inferir que a habitação de interesse social continua sendo um objeto de estudo contemporâneo e produtivo, principalmente no contexto brasileiro. Assim, cabe aos arquitetos e urbanistas, por meio de políticas habitacionais inovadoras, ter a responsabilidade não só de criar discursos transformadores, mas fazer disso parte ativa de seus projetos.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1. Nelson Kon, 2014. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.160/5130 http://totalempreiteira.com/Obras-resid%C3%AAnciais.php?currDir=.&pageType=image&image=obras_residenciais.jpg http://www.planete-deco.fr/2015/06/26/un-loft-atelier-a-paris/ Rafael Nobre. http://alternativas.osu.edu/pt/issues/spring-2014/visuzal-culture/hikiji-caffe.html Figura 2. Coleção MCSP/ DPH/ SMC/ PMSP. Disponível em: LÓPEZ, A.; FRANÇA, E.; COSTA, K. P. Cortiços: A experiência de São Paulo. São Paulo: HABI - Superintendência de Habitação Popular, 2010 Figura 3. Coleção MCSP/ DPH/ SMC/ PMSP. Disponível em: LÓPEZ, A.; FRANÇA, E.; COSTA, K. P. Cortiços: A experiência de São Paulo. São Paulo: HABI - Superintendência de Habitação Popular, 2010 Figura 4. KOK, Pedro. Disponível em: http://4.bp.blogspot.com/-myEO4UI4w5o/UBW_c-T_oQI/AAAAAAAAAzg/oxwzqgE90fA/s1600/ Captura+de+Tela+2012-07-29+a%CC%80s+19.55.35.png Figura 5. GARCEZ, Raul (1979). Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/04/fotos-revelam-conjunto-habitacionalmais-antigo-de-sp-na-decada-de-70.html Figura 6. BONDUKI, Nabil. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.031/724 Figura 7. BONDUKI, Nabil. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-12832/classicos-da-arquitetura-conjunto-residencialprefeito-mendes-de-moraes-pedregulho-affonso-eduardo-reidy Figura 8. CERÁVOLO, Fabiana. Disponível em: CATTANI, 2011 Figura 9. Disponível em: https://staticcdns3.bidu.com.br/jamal/uploads/2016/01/14181411/Bairro-de-Cidade-Tiradentes.jpg Figura 10. DUCCI, Daniel. Disponível em: http://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/boldarini-arquitetura-e-urbanismo_/ residencial-alexandre-mackenzie-favela-nova-jaguare/748 Figura 11. Disponível em: http://revistatrip.uol.com.br/trip/marcos-boldarini Figura 12. Google Earth, 2016 Figura 13. BOLDARINI, Marcos. Disponível em: http://www.boldarini.com.br/projetos/residencial-diogo-pires/ Figura 14. DUCCI, Daniel. Disponível em: http://www.boldarini.com.br/projetos/residencial-alexandre-mackenzie/ Figura 15. DUCCI, Daniel. Disponível em: http://www.boldarini.com.br/projetos/residencial-alexandre-mackenzie/ Figura 16. DUCCI, Daniel. Disponível em: http://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/boldarini-arquitetura-e-urbanismo_/ residencial-alexandre-mackenzie-favela-nova-jaguare/748 Figura 17. BOLDARINI, Marcos. Disponível em: http://www.boldarini.com.br/projetos/residencial-alexandre-mackenzie/ Figura 18. BOLDARINI, Marcos (modificada). Disponível em: http://www.boldarini.com.br/projetos/residencial-alexandre-mackenzie/ Figura 19. DUCCI, Daniel. Disponível em: http://www.boldarini.com.br/projetos/residencial-alexandre-mackenzie/ Figura 20. DUCCI, Daniel. Disponível em: http://www.boldarini.com.br/projetos/residencial-alexandre-mackenzie/ Figura 21. DUCCI, Daniel. Disponível em: http://www.boldarini.com.br/projetos/residencial-alexandre-mackenzie/ Figura 22. DUCCI, Daniel. Disponível em: http://www.boldarini.com.br/projetos/residencial-alexandre-mackenzie/ Figura 23. VIGLECCA, Hector. Disponível em: http://www.archdaily.com/601717/novo-santo-amaro-v-park-housing-vigliecca-andassociados Figura 24. FINOTTI, Leonardo. Disponível em: http://www.archdaily.com/601717/novo-santo-amaro-v-park-housing-vigliecca-andassociados Figura 25. VIGLECCA, Hector. Disponível em: http://www.archdaily.com/601717/novo-santo-amaro-v-park-housing-vigliecca-andassociados Figura 26. FINOTTI, Leonardo. Disponível em: http://www.architectural-review.com/today/parque-novo-santo-amaro-v-in-so-paulo-byvigliecca-and-associados/8682725.fullarticle

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Figura 27. Google Earth, 2016 Figura 28. Disponível em: http://images.adsttc.com/media/images/53a0/50ce/c07a/80d6/3400/00d8/large_jpg/vigliecca148. jpg?1403015356 Figura 29. VIGLECCA, Hector. Disponível em: http://www.archdaily.com/601717/novo-santo-amaro-v-park-housing-vigliecca-andassociados Figura 30. VIGLECCA, Hector (modificada). Disponível em: http://www.architectural-review.com/today/parque-novo-santo-amaro-v-inso-paulo-by-vigliecca-and-associados/8682725.fullarticle Figura 31. FINOTTI, Leonardo. Disponível em: http://www.leonardofinotti.com/projects/parque-novo-santo-amaro Figura 32. FINOTTI, Leonardo. Disponível em: http://www.leonardofinotti.com/projects/parque-novo-santo-amaro Figura 33. FINOTTI, Leonardo. Disponível em: http://www.architectural-review.com/today/parque-novo-santo-amaro-v-in-so-paulo-byvigliecca-and-associados/8682725.fullarticle Figura 34. FINOTTI, Leonardo. Disponível em: http://www.archdaily.com/601717/novo-santo-amaro-v-park-housing-vigliecca-andassociados Figura 35. FINOTTI, Leonardo. Disponível em: http://www.archdaily.com/601717/novo-santo-amaro-v-park-housing-vigliecca-andassociados Figura 36. FINOTTI, Leonardo. Disponível em: http://www.archdaily.com/601717/novo-santo-amaro-v-park-housing-vigliecca-andassociados Figura 37. FINOTTI, Leonardo. Disponível em: http://www.archdaily.com/601717/novo-santo-amaro-v-park-housing-vigliecca-andassociados Figura 38. KON, Nelson. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-134091/conjunto-habitacional-do-jardim-edite-slash-mmbbarquitetos-plus-h-plus-f-arquitetos Figura 39. Google Earth, 2016 Figura 40. Disponível em: https://enedois.files.wordpress.com/2013/05/mmbb.png Figura 41. Disponível em: http://www.galeriadaarquitetura.com.br/escritorio-de-arquitetura/a-p/hf-arquitetos/119435/ Figura 42. MMBB. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-134091/conjunto-habitacional-do-jardim-edite-slash-mmbbarquitetos-plus-h-plus-f-arquitetos Figura 43. KON, Nelson. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-134091/conjunto-habitacional-do-jardim-edite-slash-mmbbarquitetos-plus-h-plus-f-arquitetos Figura 44. KON, Nelson. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-134091/conjunto-habitacional-do-jardim-edite-slash-mmbbarquitetos-plus-h-plus-f-arquitetos Figura 45. MMBB. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-134091/conjunto-habitacional-do-jardim-edite-slash-mmbbarquitetos-plus-h-plus-f-arquitetos Figura 46. KON, Nelson. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-134091/conjunto-habitacional-do-jardim-edite-slash-mmbbarquitetos-plus-h-plus-f-arquitetos Figura 47. KON, Nelson. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-134091/conjunto-habitacional-do-jardim-edite-slash-mmbbarquitetos-plus-h-plus-f-arquitetos Figura 48. KON, Nelson. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-134091/conjunto-habitacional-do-jardim-edite-slash-mmbbarquitetos-plus-h-plus-f-arquitetos Figura 49. KON, Nelson. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-134091/conjunto-habitacional-do-jardim-edite-slash-mmbbarquitetos-plus-h-plus-f-arquitetos Figura 50. MMBB. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-134091/conjunto-habitacional-do-jardim-edite-slash-mmbbarquitetos-plus-h-plus-f-arquitetos Figura 51. BONDUKI, Nabil (Org.) Affonso Eduardo Reidy. Lisboa: Editorial Blau, 2000. (modificado)

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