Na Batida da Rua (Teaser)

Page 1


Longe Demais das Capitais Nossa cidade é tão pequena E tão ingênua Estamos longe demais Das capitais

Recuperar a história, relembrar os velhos tempos, valorizar quem somos e, através dessas atitudes, nunca esquecer de onde viemos. Essas são as premissas básicas daqueles que precisam de argumentos para se orgulharem do lugar de onde vieram. Para contar a história de um grupo de jovens que gostavam de dançar na pequena Cidade Ocidental, Goiás, no Entorno de Brasília, lá pelos idos da década de 1980, é necessário traçar um panorama das manifestações culturais praticadas pelos jovens daquela geração, recuando um pouco no tempo e contando como milhares de famílias vieram parar fora do quadrilátero que abriga várias cidades outrora conhecidas como cidades satélites, por orbitarem o centro do poder, o Plano Piloto.


Baianos, mineiros, cariocas, goianos e milhares de operários conhecidos hoje como candangos, vieram participar da epopeia que foi a construção de Brasília, sonho de Dom Bosco e de Juscelino Kubitschek. Paralelamente à construção, os candangos foram se assentando nos limites e até mesmo dentro do que seria o Plano Piloto de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Os assentamentos mais distantes, que mais tarde viriam a se constituir em cidades, fazendo parte das regiões administrativas do Distrito Federal eram Taguatinga e Gama. Este último, o ponto mais próximo da divisa com Goiás. Local que vinte anos mais tarde faria parte da chamada Região Geoeconômica de Brasília ou simplesmente Entorno Sul, por abrigar os então núcleos habitacionais de Valparaíso, Cidade Ocidental e Novo Gama, que por um tempo estariam submetidos à Luziânia, cidade centenária de Goiás. Teve início aí, uma especulação imobiliária que perdura até os dias de hoje e que começou há mais de 40 anos, com o loteamento de terras às margens da BR 040, que corta o DF em direção ao Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, mas de forma tímida, comparando-se com agora. Cidade Ocidental contava em 1977, ano de sua fundação, com pouco mais de mil unidades. Até o final da década de 1970 a cidade era apenas um bairro, mais tarde passando

à

categoria

de

distrito

de Luziânia.

Nos

endereços

de

correspondência, era imprescindível constar: Cidade: Luziânia. Bairro: Cidade Ocidental. Para chegar à cidade, você tem que passar por baixo de um viaduto que sustenta a linha de trem de cargas que cortam o Goiás em direção ao DF. É a referência que funciona como um portão de acesso ao município. Mas, o principal ponto de referência já era o Lago Jacob, famoso na época por ceifar a vida de quem ousasse atravessá-lo. Porém, hoje, reprojetado, com orla de lazer e vários outros acessórios, em nada lembra aquele lago de antigamente, tamanha sua beleza, hoje chamado de Orla Plínio Araújo, em homenagem ao antigo prefeito, já falecido, que iniciou o projeto de revitalização, concluído por Fábio Correa, atual prefeito.


Conforme os anos 1970 iam terminando, famílias iam chegando em busca de novas perspectivas de vida. Uma casa para morar era a meta, que muitas vezes se mostrava inalcançável. Embora naqueles anos o País estivesse vivenciando um desenvolvimento econômico extraordinário, ainda que sob uma ditadura militar, isso não se refletia nas periferias, onde nem todos tinham condições de pagar por uma casa própria. Invadir os imóveis que estavam vazios seria a solução para se furar a fila por uma habitação e conseguir um teto na marra. Mas nem todos davam a sorte de não serem despejados por Cleto Meirelles, fundador da cidade, que vendia pessoalmente as moradias, antes do Banco Haspa sentar praça naquelas bandas. Muitos que compraram suas casas de maneira honesta, naquela época, ainda vivem por aqui. Aqueles que hoje têm cerca de 50 anos de idade, são daquela época. Período em que a cidade se resumia apenas ao centro e tinha poucas opções de lazer. Vivia-se uma época em que não tinha internet para nos relacionarmos com os amigos, poucos tinham telefone, os que tinham televisão tinham que se contentar com apenas quatro canais. Portanto, tudo que ensejasse diversão, que reunisse jovens em torno de um objetivo, era bastante concorrido. É nesse contexto que a música entra e promove mudanças substanciais em uma comunidade acostumada a ficar em casa, assistindo futebol, Chacrinha, os Trapalhões, novelas e programas como Fantástico, ainda chamado naquela época de “O Show da Vida”. Embora a presente história possa parecer muito regional, centrada em uma pequena cidade de Goiás, às margens do Distrito Federal, ela também traça um panorama dos anos 1980 e principalmente a angustia de jovens pobres e famintos por diversão da periferia da Capital Federal, coisa comum em todas as periferias do mundo, não só naquele período, mas ainda hoje, onde jovens, longe do centro das decisões, precisam lutar em dobro para terem direito à cultura e através desta, à cidadania.


Quer ler mais? Contribua para que essa publicação chegue até você. Clique e doe agora mesmo.

https://vaka.me/1600721


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.