FECHAMENTO AUTORIZADO. Pode ser aberto pelos Correios.
LAUSANNE 3
FECHAMENTO AUTORIZADO. Pode ser aberto pelos Correios.
JANEIRO–FEVEREIRO 2011 • ANO XLIV • Nº 328
Lições e desafios para a Igreja de Cristo
BRÁULIA RIBEIRO O REI ESTÁ NU
CATITO E DAGMAR GRZYBOWSKI
NINHO VAZIO: BOAS NOVAS OU DESESPERO?
RUBEM AMORESE ANELOS 2011
NASCE EM SÃO PAULO A ALIANÇA CRISTÃ EVANGÉLICA BRASILEIRA • A GRITARIA DOS PREOCUPADOS: PRENÚNCIOS DE UMA REFORMA INTERNA • SOBRE A PARTICIPAÇÃO EVANGÉLICA NA CAMPANHA ELEITORAL 2010 • POR UM AVIVAMENTO PENTECOSTAL Janeiro-Fevereiro, 2011
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A bertura
Um discurso sobre Deus no auditório mais intelectualizado da cidade mais culta do mundo
Deus fez o mundo e tudo o que nele há. Deus é o Senhor dos céus e da terra. Deus não habita em templos construídos por seres humanos.
Deus não precisa de alguém que o ajude. Deus dá a todos a vida, o fôlego e tudo o mais. Deus criou a partir de um só homem todas as raças humanas para viverem na terra.
Deus definiu as etapas da história e as fronteiras dos países. Deus fez tudo isso porque desejava ser procurado e achado, ainda que às apalpadelas. Deus não está longe de ninguém. Deus não tem nada a ver com os ídolos de ouro, prata ou pedra feitos pela arte e habilidade das pessoas. Ele nem sequer é parecido com tais objetos.
Deus ordena que todos os homens em todos os lugares se arrependam dos seus pecados. Deus marcou em sua agenda uma data para julgar o mundo com justiça por meio do homem que ele designou e que já mostrou quem é ao ressuscitar Jesus. Esse discurso de Paulo foi feito na colina do deus Áries (nome grego) ou Marte (nome latino), situada
entre a Acrópole (a parte mais alta da cidade) e a Ágora (o mercado), na cidade de Atenas, a capital da Grécia e do helenismo, com 25 mil habitantes. O conselho da cidade (algo parecido com a Câmara Municipal) se reunia frequentemente naquele mesmo auditório. O convite para Paulo falar partiu de filósofos de duas escolas diferentes: os estoicos (discípulos de Zenão) e os epicureus (discípulos de Epicuro), que chamavam o apóstolo de “tagarela” e “pregador de coisas esquisitas” (At 17.20). Era uma elite complicada, pois os epicureus acreditavam que o prazer era o principal objetivo da vida e os estoicos entendiam que “os seres humanos devem ser livres das paixões, indiferentes à alegria ou ao sofrimento, aceitando calmamente todas as coisas como resultado da vontade divina”. Atenas era famosa por ter sido, alguns anos antes, o centro das artes, da arquitetura, da política e da filosofia. Ali moraram Sólon (um dos sete sábios da Grécia), Platão (fundador da Academia) e Aristóteles (filósofo, educador e cientista). O discurso de Paulo sobre Deus provocou a conversão de Dionísio, “o areopagita”, de Dâmaris, que provavelmente era uma mulher da alta sociedade, e de outras pessoas cujos nomes o historiador não cita (At 17.22-31).
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C arta
ISSN 1415-3165 Revista Ultimato – Ano XLIV – Nº 328 Janeiro-Fevereiro 2011 www.ultimato.com.br Publicação evangélica destinada à evangelização e edificação, não denominacional, Ultimato relaciona Escritura com Escritura e acontecimentos com Escrituras. Visa contribuir para criar uma mentalidade bíblica e estimular a arte de encarar os acontecimentos sob uma perspectiva cristã. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com as obras, a evangelização com a ação social, a oração com a ação, a conversão com santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir. Circula em meses ímpares Diretor de redação e jornalista responsável: Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG Arte: Liz Valente Impressão: Plural Tiragem: 35.000 exemplares
NOV
o ano, as seções, os colaboradores, a identidade visual
Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro Carlos “Catito” Grzybowski • Carlinhos Veiga Dagmar Fuchs Grzybowski • Ed René Kivitz • Jorge Barro Marcos Bontempo • Paul Freston • René Padilla Ricardo Barbosa de Sousa • Ricardo Gondim Robinson Cavalcanti Rubem Amorese • Valdir Steuernagel
Participam desta edição: David Allen Bledsoe Délnia Bastos • Lyndon de Araújo Santos Saulo Xavier de Souza
Ed René Kivitz Arquivo pessoal
Notícias: Lissânder Dias
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Arquivo pessoal
fundada em 1968
Publicidade: anuncio@ultimato.com.br Assinaturas e edições anteriores: atendimento@ultimato.com.br Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte. Os artigos não assinados são de autoria da redação.
Administração: Klênia Fassoni • Ana Cláudia Nunes Daniela Cabral • Ivny Monteiro • Lucas Rolim Menezes Luci Maria da Silva Editorial e Produção: Marcos Bontempo Bernadete Ribeiro • Djanira Momesso César Fernanda Brandão Lobato • Gláucia Siqueira Paula Mendes • Paulo Alexandre Lobato Finanças/Circulação: Emmanuel Bastos Aline Melo • Ana Paula Fernandes • Cristina Pereira Daniel César • Edson Ramos • Luís Carlos Gonçalves Rodrigo Duarte • Solange dos Santos Vendas: Lúcia Viana • Lucinéa Campos • Romilda Oliveira Sabrina Machado • Tatiana Alves • Vanilda Costa Estagiárias: Cláudia Alvarenga • Jaklene Batista Juliani Lenz 4
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Arquivo pessoal
Editora Ultimato Telefone: (31) 3611-8500 Caixa Postal 43 36570-000 — Viçosa, MG
Carlos “Catito” e Dagmar Grzybowski
Jorge Barro Francisco Messias
Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro da Associação de Editores Cristãos (AsEC)
ao leitor
Marina Silva
omo resultado da pesquisa respondida por quase 3 mil leitores em outubro de 2010, Ultimato agora conta com novas seções e novos colaboradores. Ed René Kivitz, que assina a seção “Cotidiano — o leitor pergunta” (p. 38), tem 47 anos, é casado, tem dois filhos, é pastor da Igreja Batista de Água Branca, na cidade de São Paulo, e autor de vários livros (O Livro Mais Mal-Humorado da Bíblia, Outra Espiritualidade, Uma Igreja Como a Sua e outros). Jorge Henrique Barro, responsável pela seção “Cidade em foco” (p. 58), tem 48 anos, é casado, tem dois filhos, é pastor presbiteriano e professor e diretor da Faculdade Teológica Sul Americana, em Londrina, PR. Ed René é mestre em ciências da religião pela Universidade Metodista de São Paulo e Jorge Henrique, doutor em estudos interculturais pelo Fuller Theological Seminary, na Califórnia. Ed René foi alfabetizado com a Bíblia Sagrada pela avó paterna e se decidiu por Jesus aos 11 anos. Jorge Barro foi encontrado pelo Senhor aos 13, no Acampamento Palavra da Vida, em Atibaia, SP. Carlos “Catito” Grzybowski e sua esposa, Dagmar Fuchs Grzybowski, batistas, psicólogos e terapeutas de casais e famílias, assinam a seção “Casamento e família”. Catito é autor de Como se Livrar de um Mau Casamento e Macho e Fêmea os Criou, entre outros. A partir da edição de março/abril, a seção “Meio ambiente e fé cristã” estará a cargo da senadora Marina Silva, 52 anos, casada, quatro filhos, membro da Assembleia de Deus do Plano Piloto, em Brasília. Ela foi ministra do Meio Ambiente e se converteu a Jesus aos 39 anos. A seção “Estudos bíblicos”, muito solicitada pelos leitores, será oferecida na internet. Outra novidade para 2011 é a nova identidade visual da Editora Ultimato (veja pág. 44). Que o novo ano seja uma riqueza para você e todos os seus! Elben César
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O não-pentecostal
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ucas, historiador e médico, elogia muito certo pregador egípcio chamado Apolo (At 18.23-28). Diz que ele falava muito bem, tinha um conhecimento profundo das Escrituras Sagradas, era instruído no caminho do Senhor, pregava com entusiasmo e notável coragem, e possuía o precioso dom da pregação, com o auxílio do qual conseguia convencer os judeus pelos profetas do Antigo Testamento de que Jesus era de fato o Messias que havia de vir. Apolo havia nascido e crescido na cidade de Alexandria, o grande centro cultural do Egito, situada à margem ocidental do Delta do rio Nilo, junto ao Mediterrâneo. Além do mais, quando saiu de Éfeso para Corinto, o mesmo historiador afirma que Apolo sabia fortalecer os crentes novos na fé. Apesar de todos esses registros apreciativos, Lucas aponta um senão: “O seu ensinamento a respeito de Jesus era correto; porém [Apolo] conhecia somente o batismo de João” (At 18.25, NTLH). O batismo de Jesus é o batismo referido pelo Senhor no dia de sua ascensão: “João batizou com água, mas daqui a poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo” (At 1.5). Apolo não estava em Jerusalém no dia de Pentecostes (talvez ainda não fosse cristão) e, portanto, não havia participado da cerimônia da descida espetacular e marcante do Espírito Santo. Faltava-lhe o conhecimento da presença externa
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e interna do Espírito, de modo contínuo, como paracleto, santificador, revelador, consolador, capacitador e doador de dons e poder. Em outras palavras, Apolo ainda não era pentecostal no sentido histórico. E as informações de Lucas sobre o pregador egípcio não terminam por aí. Ele faz questão de salientar mais uma virtude de Apolo. Não explicitamente, mas o suficiente para o leitor enxergar de imediato a humildade do personagem: sobre o batismo de Jesus, ele deixa-se esclarecer por Priscila e Áquila, o simpático casal que o hospedava em Corinto (At 18.26). Embora em outros casos tenha havido imposição de mãos relacionada ao recebimento do Espírito Santo (At 8.17; 9.17; 19.6), o historiador nada diz a esse respeito com referência a Apolo. No entanto, deduz-se que o egípcio, até então não-pentecostal, tenha se tornado conscientemente pentecostal ali em Corinto, onde veio a ser um obreiro de peso. Na Primeira Epístola aos Coríntios, Paulo cita sete vezes o nome dele. Uma delas lembra seu pastoreio: “Eu plantei, e Apolo regou” (1Co 3.6). Ele era um homem de confiança de Paulo, como se vê nesta passagem: “Quanto ao irmão Apolo, tenho recomendado muitas vezes que vá visitar vocês com os outros irmãos” (1Co 16.12).
S umário
20 44 46 62 64
30 31 34 36 48 52 54 56 60 66
CAPA
Especial ultimato.com.br: um novo ponto de encontro Ultimato: nova identidade visual
22 Cinco lições de Lausanne 3
Como o grão de trigo, nasce e morre em São Paulo a Aliança Cristã Evangélica Brasileira
26 Novas geografias, velhas
A gritaria dos preocupados: prenúncios de uma reforma interna
28 Uma declaração de amor 29 Um lugar para Lausanne 3 na
A preocupação com o neopentecostalismo: o caso da Igreja Universal do Reino de Deus David Allen Bledsoe
desigualdades
história
O caminho do coração
O espírito de Lausanne Ricardo Barbosa de Sousa
Casamento e família
Ninho vazio: boas novas ou desespero?, Carlos “Catito” Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski
Da linha de frente
O rei está nu, Bráulia Ribeiro
Missão integral
A formação de discípulos (parte 2) René Padilla
Ética
Sobre a participação evangélica na campanha eleitoral 2010, Paul Freston
Reflexão
Lausanne: o olhar de um veterano Robinson Cavalcanti Por um avivamento pentecostal Ricardo Gondim
Redescobrindo a Palavra de Deus
O testemunho de Cristo enriquece a vida, Valdir Steuernagel
História
A missão da igreja: um conceito incompreendido, Alderi Souza de Matos
Ponto final
Anelos 2011, Rubem Amorese
Leia mais
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SEÇÕES 3 4 6 8 12 14 16 18 32 38 39 40 42 43 58
Abertura Carta ao leitor Pastorais Cartas Frases Mais do que notícias Números Notícias De hoje em diante... Cotidiano — o leitor pergunta Novos acordes Altos papos Meio ambiente e fé cristã Caminhos da missão Cidade em foco
ABREVIAÇÕES:
AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia de Jerusalém; BP - A Bíblia do Peregrino; BV - A Bíblia Viva; CNBB Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; CT - Novo Testamento (Comunidade de Taizé); EP - Edição Pastoral; EPC - Edição Pastoral - Catequética; HR – Tradução de Huberto Rohden; KJ - King James (Nova Tradução Atualizada dos Quatro Evangelhos); NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje; TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação foram retiradas da Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.
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Sofrimento
pai imigrou para cá em 1881. Nasceu na Lituânia e aqui se naturalizou russo. Como família, não tivemos nenhuma dificuldade. O delegado era um hóspede constante em nossa casa. Ele não nos considerava como pertencentes ao “eixo”. Sem dúvida, a guerra foi a causa de muitos sofrimentos. E qual é a nossa situação hoje? Do ponto de vista religioso, a confusão, o entrevero, os desacertos são terríveis! Helmuth Matschulat, Curitiba, PR
Sempre leio Ultimato página por página. Dessa vez, foi diferente. A foto de capa com o substantivo sofrimento me levou direto à página 25. Vou até arquivar o relato cronológico da Segunda Guerra Mundial. Ele me faz reconhecer os mesmos fatos. Eu era cinco anos mais velho que o estimado Elben e morava no interior do Rio Grande do Sul, numa colônia alemã. Minha mãe nasceu no Brasil e meu
Fiquei tocada com o artigo sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial. Embora não tão intensamente quanto o autor, também convivi com os relatos e noticiários da época, pelo rádio e pelos comentários dos familiares. Por causa do sobrenome alemão e porque meu pai era assinante de revistas alemãs e gerente da firma Carlos Hoepeke. Lembro-me de policiais indo à nossa casa, mandando queimar livros em
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alemão, batendo nos móveis para ver se havia algo suspeito. Vi lágrimas de desconforto no olhar de meu pai, cidadão honesto, cristão, com sangue alemão nas veias. Justamente no ano do término da guerra, Walter Hoeschl faleceu em consequência de um acidente, aos 58 anos. Eu tinha 12. Carmen Hoeschl, São Paulo, SP Nunca devemos nos esquecer da morte ou assassinato de 6 milhões de judeus. Também não podemos nos esquecer que mais de 20 milhões de soviéticos militares e civis morreram no mesmo período. No último capítulo de um documentário sobre a Segunda Guerra Mundial (Remember!), vi que 20 milhões de soviéticos, 5 milhões de alemães, 1,6 milhão de japoneses, 1,2 ou 1,3 de iugoslávios (sérvios em sua maioria), quase 400 mil ingleses e quase 300 mil americanos perderam a vida. George Kling, Viçosa, MG
Viktor Frankl e anabatismo Fiquei contente ao ver as enfáticas informações sobre Viktor Frankl publicadas na edição de novembro/ dezembro de 2010. Há anos venho falando sobre esse homem e sua posição com relação à psico-psiquiatria. Sobre o artigo sobre anabatismo (“Reflexão”), quero salientar que a única coisa que dá sentido ao ato do batismo é o seu significado. O modo não importa: imersão, afusão, aspersão, pouca água, muita água. O que importa no batismo é o seu significado. E ele varia nas igrejas. Quando a diferença é secundária (sobre o modo, por exemplo), não há necessidade de se rebatizar. Quando o significado é diferente, é preciso ministrar o batismo bíblico. Há casos em que o batismo está envolvido em superstições semipagãs, para não dizer pagãs. Odayr Olivetti, Águas do Prata, SP
Abraçando e reabrançando a santidade do corpo e da mente Quero fazer dois comentários sobre a edição de julho/ agosto de 2010. O conteúdo da carta de Patrícia Neme, de Palmas (“Cartas”), é absurdamente inaceitável. Porém, é a posição dela e a revista tem publicado, com respeito à liberdade de opinião, o que os leitores pensam — isso é bom. No entanto, nesse caso específico, quando ele propõe um assassinato e contraria frontalmente o ensino de Jesus sobre o perdão, seria preciso fazer um comentário abaixo, pois parece que ela está legitimando algo antievangélico. Muito bonita a arte de madeira que ilustra o artigo Sobre a sexualidade cristã (p. 31). Mas ela sugere abuso e controle do homem sobre a mulher. Se o texto tratasse criticamente dessa
questão, a imagem faria sentido. Porém, como não é o caso, parece que legitima a dominação masculina. Clemir Fernandes, Rio de Janeiro, RJ
Coração, juventude e fé Achei interessante e de grande valor a matéria de capa da edição de setembro/ outubro de 2010. Como jovem, não pude deixar de dar uma atenção especial a essa matéria sobre a juventude evangélica nos dias de hoje. Fiquei motivado ao saber que muitos jovens tem assumido liderança nas igrejas. A responsabilidade, o compromisso, o comprometimento com as coisas do reino de Deus é o melhor caminho a se trilhar a fim de nos tornarmos cada vez mais santos e separados. Timóteo Santana, C. dos Goytacazes, RJ
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Como contribuição à matéria Igreja e Juventude (Caderno Ultimato Jovem, p. 22), é importante agregar o Movimento de Clubes Bíblicos que aconteceu no Rio de Janeiro nas décadas de 70 e 80 e que celebrou 40 anos em novembro. Deus operou de maneira interessante em diversos lugares do Brasil, produzindo um avivamento na juventude que impactou a igreja tanto na evangelização quanto na liturgia e que produziu resultados duradouros. O movimento brotou com o impacto que os acampamentos do Palavra da
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Vida produziram em jovens cariocas. O nascimento efetivo, a identidade e os contornos foram estabelecidos quando um missionário afirmou publicamente não acreditar em líderes com idade inferior a 30 anos. De alguma forma, Deus usou essa declaração para deflagrar um movimento que geraria encontros de jovens, nas noites de sábado, em diversos pontos do Rio de Janeiro (pelo menos em sete lugares), que reuniam de trezentos a quatrocentos jovens, e que, uma vez por mês se agrupavam, sempre no intuito de evangelizar. O incrível foi a inexistência de uma liderança única
instituída e o florescimento de múltiplas lideranças jovens emergentes, que hoje operam nas mais variadas denominações, sobretudo as históricas. Milhares de conversões aconteceram, centenas de vocações foram despertadas, a liturgia e a música das igrejas foram enriquecidas, projetos missionários aconteceram, igrejas com novos perfis se estabeleceram e o papel da juventude na igreja foi reconhecido, apesar da resistência presente em muitas lideranças eclesiásticas denominacionais. Cerca de seiscentos participantes deste movimento que vicejou por uns 25 anos reuniram-se no dia 6 de novembro para contar aos filhos o que Deus fez por meio da juventude. Paul Pierson, em uma de suas últimas visitas ao Rio de Janeiro, ao analisar a história do movimento, declarou: “Vocês experimentaram um avivamento e não perceberam”. Neander Kraul, Rio de Janeiro, RJ
O sagrado e o secular
Parece-me que a igreja se tornou demasiadamente secular. Na cultura muçulmana, não se separa secular e sagrado. Para eles tudo é sagrado: o emprego, a roupa, a família, a comida. Já para a cultura ocidental, há coisas sagradas e coisas seculares. Temos uma roupa para ir à igreja e outra para ir a festas ou sair com amigos. Temos um comportamento ético na igreja e outro não-ético no trabalho. Temos uma docilidade e fraternidade dentro das paredes do templo e uma grosseria e má vontade no santuário familiar. Será que não percebemos o quanto temos sido dominados pelos meios de manipulação de massa? Samantha Gramacho, Rio de Janeiro, RJ
A teologia da confissão positiva Lamentavelmente, a maioria dos pregadores que está na mídia e nos holofotes não tem pregado o evangelho em sua pureza e inteireza. O tempo na televisão é mais ocupado com mensagens que giram em torno de curas, vitória financeira e a teologia de confissão positiva. Não se prega arrependimento, conversão, segurança de salvação e a volta do Senhor. Eliamar Vidal, Nova Venência, ES
Errata
— No artigo Viktor Emil Frankl — o salmista do século 20 (“Capa”, novembro/ dezembro de 2010, p. 27) diz-se que o padre da Igreja Votiva de Viena e Freud chamaram Viktor de ateu. Na verdade, foi o padre quem chamou Freud e Viktor de ateus.
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“T
Arquidiocese de Belo Horizonte
F RASES
em autoridade quem a exerce ancorado em consistência moral, intelectual, espiritual, técnica e humanista. Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte
“N
ão conheço maior crime do que matar o que luta para nascer. Henry Miller, escritor americano, sobre o aborto
”
”
“Q
ualquer criança que não é repreendida pelos pais sobre seus erros tende a crescer pouco civilizada. Se ela tem uma tendência antissocial, não haverá amarras para esse comportamento. Martha Mendonça, editora-assistente de Época
”
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orgulho científico entorpece a mente dos pesquisadores, fazendo-os desprezar aquilo que desconhecem. Marcus Zulian Teixeira, pesquisador da faculdade de medicina da USP
“E
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www.outreach.com
“A
into-me bem fazendo o que faço. Essa questão de aposentadoria não está na Bíblia. Claro que nem sempre terei boa disposição física, mas sempre serei uma testemunha de Jesus. Enquanto tiver fôlego, pregarei a todos a salvação. Usarei minha boca para pregar as boas novas. Eddie Fox, diretor de evangelismo do Conselho Metodista Mundial
”
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tempestade [entre pais e filhos adolescentes] se alimenta num mal-entendido fundamental: os adolescentes menosprezam a experiência dos adultos e os adultos menosprezam a experiência dos adolescentes. Contardo Calligaris, psicanalista
”
“S
m casa, lugar de computador é na sala ou no corredor. Jamais em quartos isolados ou fechados. Alexandre Hohagen, presidente do Google para a América Latina
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menina deveria compreender o crescimento dos seios como uma preparação para a maternidade, mas é induzida a desejar seios grandes e “atraentes”. Todas as mudanças projetadas por Deus têm um sentido espiritual e eterno, mas, no mundo, adquirem um sentido carnal e banal. Tony Davidson Felício, biólogo
e a palavra de Deus estiver somente na cabeça, não mudará coisa alguma em sua vida, mas se ela atingir o coração, sua vida nunca mais será a mesma. Henry Blackaby, autor de Holiness
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religião cai no fundamentalismo quando a relação entre a verdade e liberdade não é vista claramente; e isso é produzido quando a ideologia política se converte em um parasita da religião, utiliza a religião para seu próprio projeto. Cardeal Angelo Scola, patriarca de Veneza em entrevista à rádio Vaticano
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stive com Deus e com o Diabo e lutei. Deus venceu, agarrei-me na melhor mão e em nenhum momento duvidei de que Deus iria me tirar daqui. Mário Sepúlveda, um dos 33 mineiros resgatados da Mina São José, no Chile
”
ma igreja que se empenha em evangelizar sua comunidade sem saturar seus esforços de oração é como o piloto de corrida automobilística que toma posição na linha de partida e descobre que o tanque de combustível não foi abastecido. George Barna, presidente do Grupo de Pesquisa Barna
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+ DO QUE NOTí C IAS
Arcebispo francês diz que perversão e poder são as entranhas da pedofilia
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jornal Rumos, da Associação dos Padres Casados, publicou uma entrevista com Dom Albert Rouet, arcebispo de Poitiers, uma pequena cidade na região centrooeste da França, e autor do livro J’aimerais Vous Dire (Eu gostaria de vos dizer), publicado em 2009 (30 mil exemplares vendidos). Vale a pena transcrever algumas de suas declarações: • Para que haja pedofilia, são necessárias duas condições: uma profunda perversão e um poder. Isso significa que qualquer sistema fechado, idealizado, sacralizado é um perigo. • Há algum tempo, a igreja vem sendo atingida por tempestades externas e internas. • Temos um Papa que é mais teórico do que historiador. Ele pensa que, quando um problema está bem colocado, ele está meio resolvido. Porém, na vida não é bem assim: a igreja tem dificuldade em se situar no mundo conturbado em que se encontra hoje. 14
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• Duas coisas me chocam na situação atual da igreja. Hoje, há certo congelamento do discurso. O menor questionamento da exegese ou da moralidade é considerado blasfêmia. Questionar deixou de ser uma atitude natural, o que é lamentável. Enquanto isso, reina na igreja um clima doentio de suspeita. • A igreja enfrenta um centralismo romano, que se apoia em uma ampla rede de denúncias. • Reconheço que estamos no fim de uma época. Precisamos de um cristianismo de hábito e um cristianismo de convicção. • Com as novas religiões e a secularização, as pessoas não estão dando mais importância ao sagrado. Na minha diocese, por exemplo, há setenta anos, havia oitocentos sacerdotes; hoje temos duzentos (em 36 mil paróquias).
• A pobreza da igreja é uma provocação para abrir novas portas. A igreja deve se apoiar em seus clérigos (bispos, padres e diáconos) ou em seus batizados? Da minha parte, acho que temos de confiar nos leigos e parar de trabalhar a partir de um esquema medieval. É uma mudança fundamental. É um desafio. • O sacerdote deve ser o animador de sua paróquia, deve apoiar os batizados para que eles se tornem adultos na fé, formá-los, evitar que eles se fechem em si mesmos [...]. Se os leigos continuarem a ser crianças, menores, a igreja não vai ter credibilidade. • Muitas vezes, é a nossa maneira de falar que não funciona. É preciso descer da montanha e descer para a planície, humildemente. • É necessária uma imensa misericórdia por este mundo, em que milhões de pessoas morrem de fome. Cabe a nós melhorar o mundo e cabe a nós nos tornamos amáveis!
Educadora religiosa chama atenção para o perigo dos cânticos de autoajuda
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educadora religiosa Isabel da Cunha Franco se mostra preocupada com a letra de alguns cânticos que estão sendo entoados hoje, tais como: “Bendito serei”, “Transbordarei, prosperarei” e “Somos mais que vencedores”: “Quando tais músicas predominam, mesmo sem perceber, vamos trocando o culto que é devido ao Senhor pelo louvor ao ego”. Isabel teme que esses cânticos focados no “eu” tornem-se instrumentos de autoajuda e que os crentes absorvam muitos valores da sociedade atual em busca de sucesso e vantagens.
+ DO QUE NOTí CIAS
Só a santidade do clero pode acabar com a má fama da igreja
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irigindo-se a um grupo de católicos reunidos em Washington em agosto de 2010, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, declarou que o Papa Bento 16 está convencido de que, “diante dos ataques, muitas vezes injustos e infundados contra a Igreja e seus líderes, a resposta mais eficaz é uma grande fidelidade à Palavra de Deus, na busca mais firme da santidade e um maior compromisso com a caridade na verdade por parte de todos os fiéis”. Na mesma semana, o arcebispo Velasio de Paolis, presidente da Prefeitura de Assuntos Econômicos da Santa Sé, num encontro realizado na Itália, tocou outra vez na mesma
tecla: “A infidelidade do clero e a perda da identidade cristã representam perigos maiores do que as perseguições”. Na mesma linha e na mesma ocasião, o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, disse que “a mais sublime missão dos sacerdotes hoje é, sem dúvida, ser um Cristo agora, pois Jesus é o mesmo ontem, hoje e sempre”. Ele explicou que o sacerdócio ministerial é entrega, é imolação, é doar-se integralmente, é cruz. Tomar a cruz significa comprometer-se para derrotar o pecado que impede o caminho rumo a Deus, acolher cotidianamente a vontade do Senhor, aumentar a fé, sobretudo diante dos problemas, das dificuldades, do sofrimento”.
Homofobia: não cabe ao cristão discriminar
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lém de não poder praticar nem dar seu aval à conduta sexual adulterina e à homossexual, o cristão precisa aprender a arte da convivência com aqueles que as praticam. Por ter se comprometido espontaneamente com Cristo ao se converter, o cristão é membro de uma comunidade cristã e responsável por seu comportamento e testemunho. Porém, ele não é retirado do mundo, da sociedade no meio da qual vive. Segundo Paulo, o cristão não deve ficar separado dos não-cristãos, que vivem a seu bel-prazer. Para viverem separados, os cristãos “teriam de sair deste mundo” (1Co 5.10, NTLH), atitude com a qual Jesus não concorda. Na oração sacerdotal do Cenáculo, Jesus é claro: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo 17.15, NTLH). Retirado do mundo, o cristão jamais seria “o sal da terra” e “a luz do mundo” (Mt 5.13-16). Por uma questão de princípios, se o cristão não se retira da sociedade, ele tem de aprender a conviver com seus contemporâneos e vizinhos, sem se deixar influenciar ou enredar por eles. Convivência e conivência são coisas distintas: convivência é viver com outra pessoa; conivência é cumplicidade, colaboração, conluio. Não cabe ao cristão discriminar, desprezar, odiar, maltratar, humilhar ou apedrejar o homos-
sexual ou a lésbica, em uma sociedade em que há muitos outros desvios, como a injustiça, a avareza, o consumismo, a hipocrisia, a idolatria, o ódio, a vingança, a arrogância, a frivolidade e assim por diante. Cabe ao cristão conviver com todas essas pessoas, com temor e tremor, sem espírito de superioridade, reprovando todas essas coisas mais pela conduta do que pelas palavras. O ensino de Paulo tem um valor imenso se o contexto for considerado. Não há concessão alguma ao desregramento sexual. No mesmo capítulo, o apóstolo é enfaticamente contrário à presença de certo indivíduo da comunidade cristã de Corinto que estava tendo relações com a mulher de seu pai (já morto ou não), provavelmente sua madrasta. Ele deveria ser temporariamente afastado dos privilégios da comunidade, até que sua natureza carnal fosse suplantada pela nova natureza (1Co 5.1-5). No capítulo seguinte, Paulo recorda que entre os membros fundadores da comunidade cristã havia ex-homossexuais ativos e ex-homossexuais passivos, bem como muitos outros ex-isto-eaquilo (1Co 6.9-11). Na comunidade, o critério seria um; na sociedade, seria outro. Não se pode exigir que o nãocristão se comporte como cristão, mas é lícito exigir que o cristão se comporte como cristão. Janeiro-Fevereiro, 2011
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+ DO QUE NOTí CIAS
N ÚMEROS
160.000
visitas a sites pornográficos são bloqueadas por hora para proteger as crianças.
36,4
é a taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes no estado de Alagoas. É a maior taxa do país, que em 2007 era de 25.
23.000
cirurgias gástricas (para diminuir o peso de pessoas excessivamente obesas) são realizadas a cada ano no Brasil (nos Estados Unidos foram realizadas quase 7,5 vezes mais).
150.000.000
de chineses pertencem à classe A (no Brasil, a renda familiar média dessa classe é de 14.550 reais). O número poderá ser quatro vezes maior em 2025.
25.000
quilos de carne se perderam em apenas dois dias só no frigorífico de Viamão, RS, por causa da interrupção de energia elétrica.
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mulheres estão condenadas à morte nos Estados Unidos.
19.500
professores da rede estadual de São Paulo foram momentaneamente afastados por problemas emocionais entre janeiro e julho de 2010 (92 licenças por dia). O número representa quase 10% de todos os 220 mil professores. 16
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Pastores de almas têm de animar seus rebanhos
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ois mil anos antes de o arcebispo católico francês Albert Rouet dizer que os pastores deveriam ser os animadores de suas igrejas, os líderes da igreja primitiva já faziam isso. De volta a Antioquia, depois da bem-sucedida primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé passaram outra vez pelas cidades de Listra, Icônico e Antioquia de Psídia, para animar os recém-convertidos. Eles “lhes davam coragem para ficarem firmes na fé” (At 14.22, NTLH). No início da segunda viagem missionária, Paulo e Silas atravessaram “a província da Síria e a região da Cilícia, dando força às igrejas” (At 15.41, NTLH). Ao saírem da cidade de Filipos, a mesma dupla se dirigiu à casa de Lídia, onde se encontraram com outros crentes novos e só foram embora para Tessalônica depois de animarem a todos (At 16.40, NTLH). O livro de Atos dá muita ênfase à arte de animar. Além das passagens citadas, diz-se que Paulo atravessou as regiões da Macedônia e da Acaia “animando muito com as suas mensagens os cristãos” (At 20.2, NTLH). Lembra também que os cristãos de Éfeso animaram Apolo, o pregador egípcio, e este, por sua vez, “ajudou muito” os recém-convertidos de Corinto (At 18.27-28, NTLH). A ressurreição do jovem que cochilou e caiu da janela enquanto Paulo pregava deixou os cristãos de Trôade “muito animados” (At 20.12, NTLH).
Vale a pena lembrar que os apóstolos deram àquele levita nascido na ilha de Chipre o nome de Barnabé, que quer dizer “aquele que dá ânimo” (At 4.37, NTLH). Esse homem tinha o precioso dom de animar os outros. Foi ele que deu total apoio ao jovem Saulo, o voraz perseguidor da igreja convertido em Damasco (At 9.27, 11.25). E que deu a João Marcos a oportunidade de voltar ao campo missionário (At 15.37-39). Os apóstolos animavam os cristãos por meio de contatos pessoais e de suas muitas Epístolas, tanto as canônicas, como as demais, como se pode ver nos seguintes versículos: “Estejam alertas, fiquem firmes na fé, sejam corajosos, sejam fortes” (1Co 16.13, NTLH). “Peço a Deus que, da riqueza da sua glória, ele, por meio do seu Espírito, dê a vocês poder para que sejam espiritualmente fortes” (Ef 3.16, NTLH). “Para terminar: tornem-se cada vez mais fortes, vivendo unidos com o Senhor e recebendo a força do seu grande poder” (Ef 6.10, NTLH). Pedimos a Deus que vocês se tornem fortes com toda a força que vem do glorioso poder dele, para que possam suportar tudo com paciência” (Cl 1.11, NTLH). “Sejam também pacientes e fortaleçam o seu coração, pois a vinda do Senhor está próxima” (Tg 5.8, NVI). Talvez fosse melhor ordenar como pastores de almas apenas os Barnabés da vida — aqueles que querem, que sabem, que podem e que se dispõem a dar contínuo ânimo às ovelhas!
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N OTíCIAS por Lissânder Dias
Campanha comemora o Dia Mundial do Banheiro Uma campanha inusitada pretende sensibilizar o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, para o problema da falta de saneamento básico nos países pobres. A organização cristã Tearfund e a instituição de assistência social Cord lideram o Dia Mundial do Banheiro (19 de novembro). A campanha encoraja a população a enviar mensagens por e-mail ao primeiro-ministro pedindo que ele doe ofertas para a construção de banheiros em Burundi, um pequeno e pobre país africano devastado pela guerra civil. A frase principal da campanha é provocativa: “David Cameron sabe tudo sobre a importância de ter uma moradia segura, mas e sobre ter um banheiro decente?”. Segundo os organizadores, com o apoio público de Cameron, a campanha pode chegar aos ouvidos dos mais poderosos. A campanha de arrecadação de fundos para a construção de banheiros em Burundi foi lançada em 2008 e já beneficiou 9 mil pessoas. O doador faz a doação, que é destinada à construção de banheiros seguros e higiênicos, além de facilitar o acesso à água potável e o desenvolvimento de ações de educação e higiene. Em troca, ele recebe um certificado e uma foto do novo banheiro construído com sua ajuda. Segundo dados da campanha, uma em cada três pessoas ainda não tem acesso a um banheiro decente. Doenças associadas a falta de saneamento e água poluída matam por dia 5 mil crianças menores de 5 anos. “Como uma igreja global, precisamos falar sobre essa injustiça que mantém as pessoas na pobreza”, diz o texto de divulgação da campanha. Mais informações: www.tearfund.org. 18
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Vaticano cria órgão para evangelizar batizados A Igreja Católica criou um novo departamento para evangelizar os já batizados. O Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, criado em outubro de 2010, será responsável por encontrar formas adequadas de evangelização dos
Cristãos começam a se mobilizar para a Copa 2014 Muitos cristãos já estão planejando ações para o período da Copa do Mundo de Futebol em 2014, quando os olhos do mundo todo estarão voltados para o Brasil. A Rede Evangélica Nacional de Ação Social, Visão Mundial, Makanudos, Exército de Salvação e outras organizações querem aproveitar o campeonato mundial e realizar campanhas nas cidades-sede contra o turismo sexual de crianças e adolescentes. “Queremos mostrar ao mundo não somente os cartões postais, mas também a realidade de nossas crianças”, dizem os organizadores. Entre as atividades planejadas, estão passeatas para mostrar a situação de exploração sexual das crianças no país.
“muitos batizados que não compreendem mais o sentido de pertença à comunidade cristã”, disse à agência Zenit o presidente do conselho, Dom Rino Fisichella. Um dos objetivos do órgão será a promoção do estudo e da difusão do Catecismo da Igreja Católica, publicado em 1992. Dom Fisichella promete se apropriar de ferramentas mais atuais de comunicação, entendendo que estas “têm o leme da cultura e da mentalidade no contexto atual”.
Outra iniciativa está sendo liderada pelo ministério Amme Evangelizar. Com o foco na evangelização, eles querem “ajudar as igrejas a evangelizar todo mundo”. Para o presidente da Amme, José Bernardo, “os grandes eventos esportivos costumam ser boas oportunidades para a evangelização. Mais do que isso, a Copa em 2014 e a Olimpíada em 2016 são uma responsabilidade da igreja evangélica brasileira”. Os dois grupos já realizaram reuniões de trabalho em 2010 para definir melhor o foco das campanhas. O trabalho deve se intensificar neste ano. A expectativa é que igrejas locais e outros ministérios também comecem a planejar ações para 2014 e 2016. A previsão do Ministério do Turismo é que o país receba cerca de 600 mil turistas estrangeiros durante a Copa do Mundo.
Congresso Brasileiro de Missões vai discutir relevância para o mundo atual “A Missão Transformadora diante da Realidade Mundial”. Esse foi o tema escolhido para o próximo Congresso Brasileiro de Missões (CBM), que acontece entre 10 e 14 de outubro de 2011. Será a sexta edição do maior congresso evangélico de missões do país. O aumento da globalização, da crise financeira global e da perseguição religiosa estão entre os desafios atuais considerados mais importantes pela coordenação do
evento. Outras questões prioritárias são a desigualdade entre pobres e ricos, a propagação da aids e o aumento do número de crianças em vulnerabilidade social. O congresso pretende também discutir a situação dos chamados “povos nãoalcançados”, ou seja, sem presença cristã. Segundo Silas Tostes, presidente da Associação de Missões
Mais de 1 milhão de crianças nasceram fora do casamento nos Estados Unidos
Brasil perde dois tradutores da Bíblia
Arquivo SBB
75 anos; e Werner, em 8 de novembro, aos 85. Ambos eram também pastores: Josué, presbiteriano, e Werner, batista. Especialista em Antigo Testamento, tradutor de hebraico e O mineiro Josué Xavier e o revisor de língua portuguesa, Josué paulista Werner Kaschel. Os trabalhou na SBB durante 27 nomes desses estudiosos não são anos — de 1980 a 2007. Werner conhecidos nas igrejas, mas o era doutor trabalho que em teologia realizaram e especialista faz diferença em hebraico. sempre que Ele traduziu abrimos a todos os Bíblia. Eles livros do ajudaram a Antigo traduzir a Testamento. Bíblia Nova O mineiro Xavier (dir.) e o paulista Em sua Tradução na Werner (esq.): tradutores da Bíblia última Linguagem entrevista, de Hoje, em julho publicada pela de 2010, à revista A Bíblia Hoje, Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), Werner defendeu a causa de toda a e assim aproximar o conteúdo sua vida: “A Palavra de Deus deve das Escrituras Sagradas da língua ser compreendida por todos. E falada pela população brasileira. isso inclui ricos, pobres, cultos e Ambos morreram em 2010: incultos”. Josué, em 31 de março, aos Arquivo SBB
Em 2008, nasceram nos Estados Unidos, fora do casamento, 1,72 milhão de crianças. Os dados são do Departamento do Censo dos Estados Unidos, que divulgou a pesquisa “Casamento: a melhor arma americana contra a pobreza infantil”, em setembro de 2010. Segundo o censo, 75% das mães de crianças nascidas fora do casamento eram mulheres adultas jovens entre 19 e 29 anos. Outros números do censo revelaram ainda que o índice de pobreza para os progenitores solteiros com filhos em 2008 no país era de 36,5% (este número ficou em 6,4% entre casais casados que têm filhos). O autor da pesquisa, Robert Rector, acha que “o casamento continua sendo a arma mais forte contra a pobreza na América do Norte; ainda assim, continua diminuindo”.
Transculturais Brasileiras (AMTB) e coordenador do congresso, “o 6º CBM pertence a um contexto maior de despertamento missionário; porém, o seu contexto histórico próximo nos levou a considerar como poderemos ser relevantes à luz dos grandes desafios atuais. Assim, após oração, reflexão e muito diálogo, nos pareceu bem definir que esse fosse o tema do congresso”.
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Especial
ultimato.com.br um novo ponto de encontro por Marcos Bontempo
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uarta-feira é quase dia santo para alguns marmanjos que bem ou mal conheço na minha cidade. Todos, obrigatoriamente, acima dos 40 anos. Outro dia, antes de acender os refletores do nosso templo — de grama acinzentada pela seca insistente —, entre uma e outra gargalhada, alguém confessa: “Hoje, tomei dois comprimidos de Tandrilax, um pela manhã e outro à tarde. E os dois estavam vencidos. Mas estou ótimo”... Claro, qualquer produto fora do prazo de validade é um risco. Uma curiosidade prosaica é saber exatamente o que acontece “naquele dia” cuja validade termina. A curiosidade faz sentido, especialmente em relação às datas que marcaram a história. O que aconteceu antes e o que aconteceu depois fazem parte da história tanto quanto “o” dia apontado no calendário. E é assim que celebramos e anunciamos o nosso novo site, chamado carinhosamente de Portal Ultimato. Na web, mudar parece um verbo mais do que perfeito. Em 1997, publicamos as primeiras cartas à redação da revista Ultimato recebidas por e-mail. Em 2001, os leitores foram às compras na nossa primeira loja virtual. Desde então, várias mudanças, algumas visíveis, outras nem tanto. Em abril de 2010, inauguramos a nossa porção blogueira. Além dos vários hotsites a cada lançamento da editora, do Blog da Ultimato — blog editorial — e do Paralelo 10 — blog do nosso projeto para o fortalecimento de lideranças do Norte e Nordeste do Brasil —, alargamos a nossa tenda. Ultimato passou a abrigar
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blogs de colunistas, autores, ministérios em diferentes áreas da missão integral, além de outros escribas de plantão. O portal é, na verdade, um ponto de encontro. E, como aconteceu em 2008, quando celebramos 40 anos no nosso Encontro de Amigos, descobrimos que Ultimato não é um, mas muitos. Talvez, de modo mais prático e adequado aos tempos modernos, o novo site apresenta ao leitor aquilo que repetimos ao longo dos anos: “Ao lado de muitos outros, [Ultimato] participa da proclamação da boa nova que nunca fica velha, da esperança que nunca morre e de um Salvador que nunca muda”. Na primeira “página” do portal é possível perceber a mudança. Uma nova divisão e organização do conteúdo torna mais fácil para o leitor saber onde e o quê quer encontrar. Quatro grandes espaços
— ultimatoonline, revista, editora e loja virtual —, em cores diferentes, acompanham o leitor. Mais limpo, de fácil navegação e com mais conteúdo, o portal oferece também um sistema de participação dos leitores e publicação de textos sem complicações, com regras claras, mais espaço para comentários e ainda a possibilidade de réplicas a artigos publicados. São contados aos milhares. Numa época em que palavras, imagens e holofotes viram bytes num piscar de olhos, o velho e bom John Stott dá-nos um critério nada comercial, especialmente quando o assunto é blog: “Se você quer mostrar, esconda; se você quer esconder, mostre”. Nosso desafio é juntar a sugestão do escritor inglês à velha declaração de João Batista: “Convém que ele cresça e eu diminua” (Jo 3.30).
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LAUSANNE 3 Lições e desafios para a Igreja de Cristo
O 3º Congresso Lausanne de Evangelização Mundial – CapeTown 2010, mais conhecido como Lausanne 3, foi inesquecível em muitos aspectos. Quem esteve lá não pode fazer uma análise fria, sem emoção. Era uma parte significativa da Igreja de Cristo, celebrando a comunhão e louvando ao Deus que dá sentido à vida.
Cinco lições de Lau Não dá para cumprir o chamado missionário sem o árduo esforço da unidade
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Uma igreja desunida é uma igreja com pouca relevância, que não sente profundamente a dor do outro, não enxerga as chagas do próximo. Seu ensino sobre a vida parece frio e superficial, porque seu olhar é fechado em si mesmo. Essa verdade é relevante tanto para as igrejas locais — que precisam desenvolver ações em parceria que proclamem com mais consistência o evangelho da reconciliação —, quanto para a chamada “igreja global” — que precisa, por exemplo, olhar com mais compaixão para os cristãos que vivem em contextos de evidente perseguição religiosa. Lausanne 3 dedicou o último dia à temática “parcerias”. Porém, foi nos momentos mais espontâneos, como as discussões
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nas mesas e as conversas nos corredores, que o tema da unidade da igreja foi visto, não como uma simples questão de estratégia, de firmar parcerias, mas como uma expressão da riqueza teológica do trabalho em conjunto e da união em Cristo. Nesses espaços, a unidade foi vista como um verdadeiro anseio dos presentes e como o elo que pode ligar os grandes desafios da igreja. Mas por que é tão difícil manter a unidade? Lausanne 3 não respondeu a essa pergunta; porém, nos deu algumas pistas. Como diz Vaughan Roberts, “a unidade de Cristo não pode ser criada, é uma ação do Espírito. Por meio da verdade do evangelho, do Espírito, somos o Corpo de Cristo. Deus pede que vivamos de maneira digna da vocação a que fomos chamados. As divisões não são por diferenças teológicas, mas por orgulho”. Outra pista foi dada pelo teólogo Ronald Sider em uma conversa informal: “O que eu gostaria de ver como resultado deste congresso é um equilíbrio maior de cooperação financeira entre todos nós”.
Ao olharmos para a igreja brasileira, a necessidade de unidade parece ainda mais gritante. Alguns brasileiros afirmaram que a comitiva nacional foi uma amostra do que é a igreja: alegre e numerosa, mas pouco organizada e meio sem rumo (cerca de cem brasileiros participaram do congresso). Ao refletir sobre a crise de liderança cristã no país, Robinson Cavalcanti norteou o caminho: “Precisamos de um choque de humildade”. Não podemos considerar a questão da unidade cristã sem refletir sobre o papel dos nossos líderes. Sendo assim, o conselho do “choque de humildade” é um passo igualmente relevante para termos uma igreja mais unida. Não é à toa que no penúltimo dia, dedicado ao tema “integridade”, o britânico Chris Wright exortou os presentes a um autoexame sincero diante das idolatrias atuais: o poder (orgulho), a popularidade (sucesso) e a prosperidade (ganância). “Precisamos de um retorno radical ao Senhor. Precisamos ouvir a voz dos profetas, dos apóstolos e de Jesus Cristo. Quem precisa se arrepender primeiro não são os de fora, mas os de dentro.”
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as estatísticas mostram que a igreja cristã cresce, as dificuldades não diminuem. As pressões do mundo pós-moderno, as diversas faces da igreja em cada continente, o acirramento da perseguição religiosa, a complexidade da “tarefa inacabada”, as desigualdades sociais e de gênero e principalmente os próprios pecados da igreja cristã são desafios complexos e arriscados. A Igreja Cristã pode se beneficiar desse movimento, que naturalmente não representa integralmente o Corpo de Cristo. A multiforme sabedoria de Deus vai além. O Espírito Santo sopra aonde quer. Ultimato reconhece a importância do Movimento Lausanne e, nas páginas seguintes, quer aproximar a igreja espalhada neste mundo e chamar a igreja brasileira a participar.
por Lissânder Dias
A verdade é importante e não anda sozinha
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Eram histórias verdadeiras de cristãos e cristãs que estão na linha de frente em lugares extremamente difíceis, enfrentando o sofrimento e a morte, lutando contra a injustiça, levando esperança e o evangelho de Jesus Cristo. Fomos agraciados por momentos especiais, como quando a comissão brasileira pediu perdão aos líderes africanos pela dor da escravidão infligida ao seu povo. Em meio a lágrimas, tivemos a certeza de que Deus havia nos dado um presente inesperado. Ou quando uma nortecoreana de 18 anos contou sua história de fé e de como seu pai foi morto por anunciar essa mesma fé. O foco cristocêntrico, a valorização da história e a beleza litúrgica do culto de encerramento superaram nossas expectativas. Lausanne 3 é inesquecível porque se propõe a ser um movimento global duradouro, o que não é fácil. Enquanto
Assim como um náufrago precisa de terra firme, é ingênuo achar que nossa geração não precisa de — e não clama por — referências claras e absolutas. No entanto, em um mundo relativista, pluralista e indiferente a questões dogmáticas, como defender a verdade única do evangelho sem perder a dimensão pessoal, amorosa e humilde daquele que é a própria verdade, Jesus Cristo? Lausanne 3 foi ousado ao nos provocar com esse tema logo no primeiro dia, diante de um cenário tão
diversificado e do risco concreto de ressuscitar fundamentalismos e simplismos. As primeiras palavras do escritor Os Guinness foram fortes: “Oro para que não haja dúvidas de que a verdade é uma questão fundamental e decisiva para este congresso e para nós, como evangélicos. A verdade não é essencialmente uma questão filosófica, mas teológica. Deus é verdade, o seu Espírito é o Espírito da verdade; sua Palavra é verdade, nossa fé é verdade, e, a menos que sejamos seguros e firmes quanto à verdade, este congresso pode terminar agora”. À medida que o congresso acontecia, o clamor por clareza na defesa da verdade (com referências seguras e norteadoras) foi sendo entendido também como a necessidade de uma verdade integradora, que reúna histórias de vida e esforço acadêmico. Daí a agradável surpresa de ouvir tantos testemunhos de pessoas simples de diversos lugares do
mundo. As histórias de vida são tão importantes quanto as dissertações acadêmicas. Não que uma substitua a outra, mas elas podem se fortalecer mutuamente. Uma história de vida pode resgatar o academicismo de gabinete, sem amor e sem dor. A teologia pode dar luz às histórias de vida, trazendo-lhes um sentido histórico. Tudo isso, no entanto, não excluiu a justa crítica de alguns intelectuais brasileiros de que faltou profundidade e tempo para as discussões acadêmicas. Por último, é importante assumir o desafio de refletir sobre a unidade à luz da verdade (e vice-versa). Mais do que defender uma ou outra com unhas e dentes, a igreja cristã precisa dispor-se a fazer sérias reflexões sobre como conjugá-las harmoniosamente. Uma precisa da outra. Assim o evangelho será compreendido e digno de confiança e também amado e seguido. Janeiro-Fevereiro, 2011
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A igreja é global e as antigas categorias para delimitá-la precisam ser atualizadas à luz da globalização O fenômeno da globalização ficou evidente em vários aspectos do congresso. O evento foi mundial; a tecnologia permitiu que 100 mil pessoas o acompanhassem pela internet. Ouvimos experiências de igrejas europeias que já não são tão homogêneas, mas têm nos bancos gente de diversas nacionalidades e provenientes de países pobres. Além desses aspectos, Lausanne 3 nos ajudou a pensar que a igreja cristã
O texto bíblico e a oração são riquezas incalculáveis
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Esses dois recursos nos renovam quando as circunstâncias exigem algo mais do que argumentos humanos. São fonte de poder, de arrependimento, de amor e de sabedoria; são canais da obra do Espírito Santo no espírito humano. Abandonar essas duas práticas ou deixá-las em segundo plano é perder-se na caminhada. Dois momentos no congresso foram simbólicos quanto a isso: • Perdão regado a oração — no último dia a comissão brasileira, liderada pelo pastor Key Yuasa, tomou ULTIMATO
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não pode mais ser desenhada simplesmente em termos geográficos. Como lembra o pastor e cientista social Orivaldo Pimentel, “não se pode pensar a igreja com as mesmas categorias de antes. Não mais em termos de Norte, Sul, Leste e Oeste, mas sim da presença global num mundo globalizado”. Isso exige de nós novas formas de pensar a presença da igreja. O que significa ser uma comunidade global, mas que constrói a identidade localmente? Como devemos comunicar o evangelho nesse contexto? Como deve ser o nosso testemunho? Quais as oportunidades de serviço? Os efeitos desse fenômeno devem ser analisados a longo prazo, já que eles não são tão óbvios quanto seus sintomas. Outra dimensão importante da globalização, lembrada mais
claramente pelos teólogos René Padilla e Samuel Escobar no quarto dia do congresso, é a econômica. Padilla considerou a pobreza gerada pela globalização como um dos grandes desafios da igreja e achou que o assunto foi pouco abordado por Lausanne 3. Ele já havia aprofundado a mesma ideia no artigo From Lausanne 1 to Lausanne 3, publicado no Journal of Latin American Theology, a revista da Fraternidade Teológica Latino-Americana, distribuída durante o evento. “Cristãos conscientes não podem ignorar a extrema pobreza de milhões de pessoas, gerada pelo atual sistema econômico global controlado, em grande medida, por uma classe corrupta transnacional.”
a iniciativa de escrever uma carta pedindo perdão à igreja africana pela triste história de escravidão no Brasil. Um dos momentos mais emocionantes foi quando, após a leitura da carta, durante a reunião regional da África, os líderes africanos pediram ao grupo de sete brasileiros que representava a comissão que ficassem de joelhos. Em meio a lágrimas, os irmãos da África oraram longamente anunciando o perdão aos brasileiros; enquanto oravam, lembravam o sofrimento vivido por mulheres e filhos, sem maridos e pais, que foram trazidos cativos para o Brasil. Espontaneamente, um grupo de africanos foi até a reunião da comissão brasileira e orou novamente por nós. Nada poderia traduzir melhor e reunir os sentimentos de todos do que a oração. O perdão foi regado pela beleza da oração.
• Estudos bíblicos indutivos — todas as manhãs, nos reuníamos em grupos de sete pessoas e estudávamos juntos a carta de Paulo aos Efésios. Por diversas vezes, nos vimos desarmados pela riqueza da Palavra de Deus. Apesar do pouco tempo, cada momento de estudo indutivo nos fazia assumir novamente a responsabilidade para com o evangelho e o mundo, e nos permitia conhecer histórias de irmãos de diversos países. Experimentamos uma unidade misteriosa, movida pela Palavra, baseada nos relacionamentos, que gera alegria, respeito e amor pelo outro. Como disse o teólogo Samuel Escobar, “foi o momento mais rico do congresso”. O texto bíblico e a oração são pilares para a compreensão orgânica da igreja de Cristo.
The Lausanne Movement
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Coragem, idealismo, paixão por Cristo e pelas pessoas — esses são os recursos necessários para
Jovens e velhos no plenário de Lausanne: juntos eles precisam caminhar com alegria e em confiança
Sonho de 1810 só se concretiza em 2010
Quando era missionário na Índia, o inglês William Carey planejou realizar um congresso missionário internacional na Cidade do Cabo, na África do Sul, no ano de 1810. Foi obrigado a desistir por razões óbvias: os participantes da Europa e da América do Norte gastariam meses só nas viagens marítimas de ida e volta ao lugar da conferência, no extremo sul do continente africano. Ele mesmo levaria várias semanas para descer todo o Oceano Índico, de Calcutá à Cidade do Cabo. Carey, a esposa, grávida, e os três filhos embarcaram no navio dinamarquês Körn Princess da Inglaterra para a Índia no dia 13 de junho de 1792. A família só chegou ao destino cinco meses depois, no dia 11 de novembro. Carey não sonhou em vão; a conferência foi apenas “adiada”.
que as mais significativas mudanças aconteçam dentro e fora da igreja de Cristo. Não é à toa que 40% dos participantes eram pessoas com idade entre 20 e 40 anos. O esforço dos organizadores para que houvesse, de fato, uma representatividade de jovens líderes reforça a esperança de que o evangelho continuará sendo anunciado em todos os lugares, sem deixar de enfrentar as principais questões contemporâneas. Ao mesmo tempo, essa evidência aumenta a responsabilidade dos mais velhos. É preciso apoiar e pastorear nossos jovens nos mais desafiadores contextos: nas periferias das grandes cidades, nas igrejas, nas escolas, nas universidades e outros lugares. Juntos, jovens e velhos precisam caminhar em alegria e em confiança. Enquanto os jovens devem honrar a sabedoria dos mais velhos, estes devem permitir que aqueles liderem projetos e comunidades até então sob suas responsabilidades.
Ela se realizou em outubro de 2010, na Cidade do Cabo, 200 anos depois de planejada. Foi o 3º Congresso Lausanne de Evangelização Mundial. William Carey, batista, chamado de “pai das missões modernas”, era um superdotado com referência a idiomas: ele conhecia os idiomas originais da Bíblia (hebraico e grego), latim, italiano, francês, holandês e pelo menos três idiomas orientais (bengali, sânscrito e marathi). Graças a esse dom, traduziu a Bíblia toda para dois idiomas indianos. Ele dedicou à Índia 42 dos seus 73 anos de vida. Nunca voltou à Inglaterra, nem para tirar férias, nem para se aposentar. Ficou viúvo duas vezes e casou-se três. Janeiro-Fevereiro, 2011
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Os jovens são a grande força missionária
a mudança de geração, sem perder a herança histórica. Valorizar e reconhecer a juventude nos ajuda a celebrar o Corpo de Cristo, de tantas idades, e a discernir melhor as muitas faces e a velocidade do nosso tempo. Além disso, por sua grandiosidade e relevância, Lausanne 3 não pode ser assimilado a curto prazo. Os jovens são personagens fundamentais para
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oug Birdsall, presidente executivo do Movimento Lausanne, estava certo quando afirmou que o 3º Congresso de Evangelização Mundial foi a “assembleia evangélica global mais representativa da história”. Além dos mais de 4 mil participantes de 198 nações presentes em Cape Town, o congresso foi assistido por cerca de 100 mil expectadores a partir de quase setecentos sites que retransmitiram o evento em 96 países. Lausanne 3 marcou de vez a nova geografia da igreja global. Nas últimas décadas, o centro de gravidade do cristianismo deslocou-se do Norte e do Ocidente para o Sul e o Oriente (África, América Latina e Ásia) e isso foi visto e anunciado no congresso. A escolha da África do Sul como anfitriã foi uma forma de fazer jus a essa mudança. A primeira saudação no manual entregue aos participantes é assinada pelo arcebispo da Igreja de Uganda, Henry Luke Orombi: “Bem-vindos à África, nossa terra-mãe, e a Cape Town, a cidade-mãe”. Em outra mensagem, publicada no informativo diário, ele declara: “Em 1900, somente 9% da população da África era cristã. Em 2000, chegou a 46%, com 360 milhões de cristãos. Ao mesmo tempo, houve um trágico declínio no número de cristãos ativos e praticantes no mundo ocidental”. Citando Philip Jenkins, autor de A Próxima Cristandade, Orombi acrescenta: “Até 2025, 50% da população cristã estará na África e na América Latina e outros 17% estarão na Ásia. [...] Não somos mais apenas o alvo dos missionários ocidentais. Somos 26
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também os que enviam missionários para o Ocidente”. Se Cape Town 2010 reivindica a representação da igreja global evangélica, convém perguntar como esse objetivo foi alcançado. Segundo Tim Stafford (articulista do site Christianity Today), quando Doug Birdsall convidou o bispo metodista da Malásia Hwa Yung para trabalhar com ele no planejamento do congresso, este perguntou: “Que tipo de conferência você quer? Um congresso normal dominado por líderes do velho Oeste ou um que represente o que a igreja é hoje?”.
Lausanne 3 foi o corpo mais representativo da igreja evangélica já montado
Os 4 mil participantes foram escolhidos por meio do seguinte processo de seleção: o Movimento Lausanne elegeu um comitê, que incluía um representante de cada uma das doze regiões globais. Esse comitê escolheu um diretor para cada país convidado (duzentos ao todo), que deveria ser imparcial e representar toda a igreja de seu país, e não apenas seus amigos e companheiros de igreja. Para montar a delegação de cada país, esse diretor contou com a ajuda de um
comitê nacional. A quantidade de representantes dependia do número de cristãos evangélicos em cada país, com base principalmente nas estatísticas do Operation World, um guia mundial de oração (www.operationworld. org). Os comitês de seleção deveriam seguir estas orientações: concordância com o Pacto de Lausanne (declaração do primeiro congresso, em 1974), equilíbrio em termos de igrejas, etnias e gêneros, garantia da presença de jovens (30%), de mulheres (o critério era de 35%, mas a composição final foi de 27%), e de delegados que viessem do “mundo do trabalho” — leigos que não tinham cargo oficial na igreja ou missão (10%). O resultado final não foi um perfeito espelho da igreja evangélica, mas sem dúvida o corpo mais representativo da igreja evangélica já montado. Lindsay Brown, diretor internacional de Cape Town 2010, comentou que o equilíbrio global se refletiu também nas finanças. Os duzentos delegados da China (impossibilitados de participar porque o governo chinês se recusou a liberá-los) pagaram por todas as suas despesas, além de contribuírem com milhares de dólares para as despesas de outros. A maioria dos delegados da Índia pagou suas próprias despesas. Os da Malásia fizeram o mesmo. “China e Índia deram mais que a Europa”, disse Brown. “Essa é a primeira vez que eu vi esse tipo de liberalidade quanto aos recursos financeiros.” A representatividade desse novo cenário foi vista na composição das delegações: 70% dos participantes eram da África, América Latina
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velhas desigualdades por Klênia Fassoni e Ásia. Isso contrasta fortemente com Lausanne 1, em que 70% dos participantes eram do Ocidente, e com os números da conferência missionária mundial em Edimburgo, há um século. Nesta, dos 1.200 delegados, quinhentos eram dos Estados Unidos, quinhentos da Grã- Bretanha, quatro da Ásia e nenhum da África. A composição dos palestrantes e dos músicos também evidenciou essa representatividade: dos 42 palestrantes e mestres de cerimônia apresentados no caderno do participante, treze eram da África, onze da Ásia, oito da Europa e sete dos Estados Unidos e Canadá. Havia também um palestrante da Oceania. A participação de apenas dois latino-americanos foi um grave senão. Os 33 músicos e cantores encarregados da direção da adoração provinham de quinze países diferentes, de praticamente todos os continentes. A sugestão dada aos congressistas (“você pode tomar café-da-manhã com alguém da Ásia, passar o intervalo com alguém da América Latina, almoçar com um europeu e chamar um intérprete para ajudá-lo no jantar com alguém da Eurásia ou do Pacífico Sul”) pode sugerir que as tensões entre o Norte e o Sul estariam resolvidas. Porém, não é bem assim. Na apresentação do programa para o sexto dia, cujo tema era “formando parcerias no Corpo de Cristo rumo ao novo equilíbrio global”, os diretores do congresso reconhecem: O centro de gravidade da igreja cristã mudou do Norte para o Sudeste e Sul (África, América Latina, Ásia). Nesses continentes e entre suas diásporas vemos grande fervor espiritual e engajamento
holístico, e bons exemplos de liderança como à de Cristo-servo. Porém, o centro da liderança organizacional, do controle financeiro e das tomadas de decisão tende a permanecer no Norte e no Oeste. [...] [Isto] nega a verdade de que, no Corpo de Cristo, todos nós precisamos uns dos outros. O problema pode surgir por ignorância, estruturas falhas, independência e acúmulo de poder regional.
Um multiplex e algumas sessões de diálogo abordaram esse tema. Um dos palestrantes citou a estatística da ONU de que os cristãos doam, em média, 2% para missões e estimulou os participantes a imaginarem o que aconteceria se aumentassem para 3 ou 4%. Incentivou-os a pensar no Espírito Santo como inspirador das doações.
O centro de gravidade da igreja cristã mudou do Norte para o Sudeste e Sul. Porém, o centro da liderança tende a permanecer no Norte e no Oeste
Ele e outros insistiram que os temas mordomia e parcerias devem ser tratados juntos. Richard Stearns, presidente da Visão Mundial nos Estados Unidos e autor de A Grande Lacuna (Editora Garimpo), afirmou que o Ocidente abraçou uma visão fraca e unidimensional do
evangelho. “É um evangelho que protege o status quo injusto, que não exige nada do rico, no qual falta poder para mudar o mundo ou ganhá-lo para Cristo”. O teólogo latino-americano René Padilla, uma semana após o congresso, lamentou: Tristemente, o maior obstáculo para implementar uma verdadeira parceria na missão é a riqueza do Norte e do Ocidente; a riqueza que Jonathan Bonk, em seu importante livro Missions and Money (Missões e dinheiro), descreve como “um problema missionário ocidental”. Se é assim, e se o Movimento Lausanne vai contribuir significativamente com o cumprimento da missão de Deus por meio de seu povo, chegou o momento de a força missionária conectada com esse movimento, incluindo seus estrategistas, renunciar ao poder do dinheiro e modelar a vida missionária na encarnação, no ministério terreno e na cruz de Jesus Cristo.
A crítica de René deve ser aplicada também às desigualdades internas em cada país (seja o Brasil ou outro) e em cada região (seja a América Latina ou outra). A confissão lida na cerimônia de encerramento de Lausanne 3 pode ser um bom começo rumo ao “equilíbrio global”: Diante do Senhor, arrependemo-nos da extrema desigualdade material dentro da igreja global de Cristo, [...] do desequilíbrio dos recursos disponíveis para a missão em diferentes partes da sua igreja. Firmamos o compromisso de buscar um novo equilíbrio global enraizado no amor mútuo e profundo e na parceria humilde dentro do Corpo de Cristo em todos os continentes. Janeiro-Fevereiro, 2011
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Uma declaração de amor por Klênia Fassoni
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Compromisso da Cidade do Cabo, produzido por Lausanne 3, tem como subtítulo “uma declaração de fé e um chamado para agir”. Mesmo que o documento seja um minicompêndio de teologia, o subtítulo mais correto seria “uma declaração de amor e um chamado para agir”. A palavra amor aparece cem vezes, além das 98 vezes em que o verbo amar é usado. O amor é colocado como a mola propulsora para a missão da igreja e essa mesma ênfase permeou todo o conteúdo e metodologia do congresso (dramatizações, músicas, imagens, testemunhos, mesas de estudo, oração). Os relatores justificam: essa “declaração foi firmada na linguagem do amor, pois o amor é a linguagem da aliança, e as alianças são uma expressão do amor redentor de Deus [...]. Como Deus é amor, o amor permeia todo o seu ser e todas as suas ações”. E reconhecem: “Quando afirmamos nossas convicções e nosso compromisso em termos de amor, estamos assumindo o mais básico e o mais difícil de todos os desafios bíblicos”. Será muito bom trazermos à memória a forma como o amor de Cristo nos alcançou para, em seguida, renovarmos o nosso amor por ele. É por isso que Paulo, em Efésios (a carta foi estudada em pequenos grupos durante o congresso), ora para que Cristo habite em nós a fim de que possamos, juntamente com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejamos cheios da plenitude de Deus. O Compromisso da Cidade do Cabo está dividido em duas partes: “Para o Senhor que amamos; o nosso compromisso de fé” e “Para o mundo 28
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em que servimos; o nosso compromisso de agir”. A primeira parte, entregue aos participantes, é composta de dez itens, todos iniciados com a expressão “nós amamos”. E assim transcorrem 21 páginas de declarações em amor: “Renovamos o nosso compromisso de não flertar com o mundo caído nem com suas paixões transitórias”, “amamos a Bíblia como uma noiva ama as cartas de seu noivo, não pelo papel propriamente dito, mas pela pessoa que fala por meio dele”, “o mais elevado de todos os motivos missionários não é a obediência à Grande Comissão nem o amor pelos pecadores que estão perecendo, mas o zelo apaixonado pela glória de Jesus Cristo”.
O amor a que o Espírito de Deus nos inspira tem repercussões horizontais: é dele que vem a motivação de amar todos os povos, rejeitando qualquer forma de racismo e etnocentrismo e exigindo solidariedade e justiça
As declarações abrangem todas as áreas da missão. A missão é a missão de Deus, que nasce do seu amor por todas as coisas criadas e que consiste em fazer convergir a Cristo todas as coisas no céu e na terra, reconciliando-as por meio de sua cruz (“Deus em Cristo reconciliando consigo todas as coisas” era o tema de Lausanne 3). Essa missão deve ser o nosso foco, o nosso chamado e a nossa paixão. O amor a que o Espírito de Deus
nos inspira tem repercussões horizontais: é dele que vem a motivação de amar todos os povos, rejeitando qualquer forma de racismo e etnocentrismo e exigindo solidariedade e justiça, e de desejar que todas as nações o conheçam. Somos chamados também a ser uma comunidade que demonstre o amor de Deus. O Compromisso lembra que tanto o mandamento de Jesus de amarmo-nos uns aos outros como a sua oração (“para que todos sejam um”) são missionais: “Com isto todos saberão que sois meus discípulos” e “para que o mundo creia que tu [o Pai] me enviaste”. Esse é o grande desafio para o povo de Deus — “aqueles de todas as eras e nações que Deus em Cristo amou, escolheu, chamou e santificou como seu povo”. Neste mundo corrompido, temos sido apenas um reflexo fraco do amor, da alegria e da paz, não a noiva radiante de Cristo. Porém, o valor testemunhal de uma comunidade de amor é vital em lugares de sofrimento intenso — onde falar de um Deus amoroso parece brincadeira — ou em meio ao secularismo e à globalização, onde as relações são superficiais. Que o amor, fruto do Espírito Santo, cresça em nós! E que ele, o Espírito missionário do Pai missionário e do Filho missionário, sopre vida e poder na igreja missionária de Deus.
Para os organizadores de Lausanne 3, a forma como a igreja vai receber o Compromisso da Cidade do Cabo será, em boa parte, o impacto do congresso. O documento está disponível na íntegra em www.lausanne.org, em português e outros sete idiomas. Ele pode e deve ser copiado, reproduzido, estudado e adaptado em sermões e estudos bíblicos. As igrejas, os seminários e as organizações evangélicas devem se apropriar desse material. Em breve estará disponível também o guia de estudos.
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Um lugar para Lausanne 3 na história The Lausanne Movement
Lyndon de Araújo Santos
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ertamente, Lausanne 3 terá um lugar na história sob diferentes pontos de vista. Como testemunha ocular e num exercício de interpretação ampla, apresento algumas perspectivas históricas do congresso. História contemporânea. Em 1974, o congresso aconteceu no auge do conflito da Guerra Fria. Em 1989, ocorreu no início do período neoliberal e no fim do socialismo real. Em 2010, o congresso aconteceu num mundo mais multilateral em suas relações de força, urbano, plural e sob o alerta da destruição ambiental. História social. Lausanne 3 será lembrado pelo seu sentido histórico e relevância social. Deu-se o registro de um volume extraordinário de fontes históricas em discursos, documentos escritos e imagens. Memórias, sentimentos, percepções e olhares foram transformados em relatos orais, imagens e ações. Os efeitos desse impacto nos diferentes contextos trarão mudanças imprevisíveis em histórias de vida, contextos e comunidades. História conciliar do cristianismo. O congresso se inseriu na tradição conciliar da igreja (Hans Küng), embora sem um propósito dogmático normativo, tais como os concílios ecumênicos nos primeiros oito séculos de era cristã. Os católicos romanos tiveram Latrão (Idade Média), Trento (Idade Moderna) e Vaticanos 1 e 2 (1870 e 1962). Os protestantes tiveram Edimburgo em 1910. Entretanto, Lausanne se compreende como um
movimento, enquanto os concílios são conclaves em torno de controvérsias teológicas e que redefinem rumos da igreja. História das religiões. Lausanne 3 expressou a pluralidade atual do cristianismo ante o desafio dos diálogos ecumênico e inter-religioso. A presença de observadores de outras igrejas cristãs sinalizou a postura de ouvir, observar e dialogar pelos seus diferentes ramos. Por sua vez, a ação missionária nos contextos islâmico, hindu, budista e de outras religiosidades demonstrou a exigência do debate sobre o relacionamento com outras crenças, a tolerância e o estatuto da verdade religiosa. História cultural. Lausanne realizou um evento globalizado no seu aparato tecnológico e numa perspectiva predominantemente ocidental. Um exemplo disso foram as imagens e representações veiculadas da África desde uma estética hollywoodiana. Não há uma África, mas Áfricas. Foi o primeiro Lausanne também online. Embora a globalização em seus congêneres negativos (pluralismo e secularismo) tenha sido confrontada como ameaça à igreja, esta mesma igreja se mostrou afinada com os seus avanços. História das missões. O congresso constatou o deslocamento da força missionária para o eixo América Latina/ África/Ásia. Será que essas igrejas criarão suas próprias perspectivas teológicas e eclesiais marcando o século 21 com um cristianismo latino-
americano, africano e asiático? A opção será por uma ação missionária a partir do contexto de sua encarnação ou o discurso proposicional de imposição da verdade sobre o outro, conquistado não somente para a fé verdadeira, mas para uma cultura que se julga superior. Lausanne 3 demonstrou o esgotamento de um evangelicalismo etnocêntrico, nomeando inimigos a serem conquistados. Num movimento dialético, em 1974 os evangélicos discutiram a relação entre a proclamação e a responsabilidade social. Manila reafirmou a missão como anúncio a povos não-alcançados, em conflito com a missão como encarnação. Cidade do Cabo, por sua vez, recolocou a integralidade da missão pela força dos testemunhos e das experiências das comunidades cristãs no mundo. O lugar de Lausanne 3 na história se dará tanto por sua força como por suas fragilidades. Tal contradição pode se tornar um impulso motivador para a igreja no século 21. À beleza, luta e dinâmica missionária testemunhadas, se contrapôs a pouca reflexão teológica e missiológica sobre questões como gênero, diálogo inter-religioso, crise ambiental e homossexualidade. Quanto a uma história da igreja latinoamericana, ficou uma dívida pela sua quase invisibilidade, não coerente com a sua atual dinâmica, incluindo o Brasil. Lyndon de Araújo Santos é historiador, professor universitário e pastor da Igreja Evangélica Congregacional em São Luís, MA. Janeiro-Fevereiro, 2011
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CAMINHO DO CORA çãO
Ricardo Barbosa
O espírito de Lausanne
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1º Congresso Lausanne, em 1974, trouxe uma grande contribuição para o cristianismo global. O Pacto de Lausanne é reconhecido como um dos documentos mais completos sobre a missão da igreja. Desde então, o “movimento de Lausanne”, com seus altos e baixos, permanece como um referencial para a unidade missionária do mundo evangelical. O processo de compreensão e amadurecimento de tudo o que foi gerado a partir do Pacto de Lausanne levou vários anos. Compreender a missão integral da igreja e reconhecer que o evangelho de Jesus envolve todo o propósito de Deus para todo o ser humano, em todas as suas necessidades, não foi fácil e continua sendo um grande desafio. A busca pela contextualização, sem se deixar moldar por uma exegese cultural, tem requerido um esforço contínuo da igreja. Criar espaços de diálogo entre Norte e Sul, Leste e Oeste, ricos e pobres, homens e mulheres das mais diferentes matrizes sociais e/ou teológicas, e promover a unidade da igreja também não tem sido um caminho fácil. Porém, o que vimos no 3º Congresso Lausanne, na Cidade do Cabo, foi uma celebração de tudo isso e mais um pouco. A semente de Lausanne deu frutos. O espírito de Lausanne é hoje uma realidade no mundo evangélico. Ouvir testemunhos de irmãos e irmãs de todos os cantos do planeta, falando de suas lutas pela promoção da justiça, trabalhando pela reconciliação entre pessoas e grupos marcados pela hostilidade e pelo ódio, enfrentando corajosamente a opressão e a perseguição de governos totalitários,
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promovendo a integração na igreja de pessoas e grupos marginalizados, foi a colheita da semente plantada em 1974. A preocupação com a devoção e a prática de uma espiritualidade bíblica e missionária, a afirmação da unicidade e centralidade de Cristo e sua autoridade final na proclamação do evangelho e no discipulado, o chamado à humildade, integridade e simplicidade, demonstraram que o “espírito” de Lausanne é hoje uma realidade no cristianismo global. Uma das marcas desse espírito está na linguagem do “Compromisso da Cidade
Compreender a missão integral da igreja continua sendo um grande desafio do Cabo”. Em vez de usar a linguagem acadêmica dos pactos e declarações de congressos dessa natureza, usou-se uma linguagem pessoal e afetiva. O compromisso começa assim: “Para o Senhor que amamos: nosso compromisso de fé”. Toda a declaração é fundamentada em nossa resposta ao amor de Deus. No final da introdução, encontramos a seguinte explicação para a linguagem do amor: O amor é a linguagem da aliança. As alianças bíblicas, antigas e novas, são expressões do amor redentor de Deus e da graça que alcança a humanidade perdida e a criação deteriorada. Essa aliança nos convida a responder em amor.
Nosso amor expressa nossa confiança, obediência e o compromisso apaixonado com a aliança do Senhor. O Pacto de Lausanne definiu a evangelização como: “Toda a igreja, levando todo o evangelho, para todo o mundo”. Essa continua sendo nossa paixão. Nesses quase 40 anos que nos separam do primeiro congresso, a linguagem teológica do terceiro congresso alcança a maturidade de uma linguagem de amor apaixonado. A teologia da missão integral deixa de ser defendida teologicamente para ser celebrada como expressão do nosso amor pelo próximo. Em 1974 e 1989 (Lausanne 2), a preocupação com a salvação da alma provocava fortes reações entre os que achavam que a missão integral era uma nova versão do “evangelho social”. Em Lausanne 3, vimos com alegria a superação dessas reações e a afirmação do “nosso amor por todo o evangelho”, “nosso amor por toda a igreja”, e “nosso amor por todo o mundo”. Cheguei à Cidade do Cabo sem saber ao certo o que iria acontecer. Minhas expectativas apostavam nas plenárias, nos grandes e controversos temas do século 21. As primeiras impressões foram de frustração. Pouco tempo para as plenárias e para as conversas das mesas; tudo apontava para uma superficialidade teológica. De certa forma, foi o que aconteceu com alguns temas. Porém, de repente, me dei conta de que o espírito do congresso era outro — precisava mudar o olhar e a disposição. Mudei e voltei cheio de esperança. Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração.
Carlos “Catito” Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski
Casamento
e família
Ninho vazio “Enfim sós!” — foi
o que falei para minha esposa ao nos despedirmos de nosso filho no aeroporto. Ele havia se casado no dia anterior e estava indo com a esposa para o exterior para continuar o doutorado por mais 3 anos e meio. Nossa filha mais velha se casara oito anos antes e agora estávamos somente minha esposa e eu em casa. O chamado tempo do “ninho vazio”. Para muitos casais, esse é um tempo de desfrute da vida a dois. Todavia, para outros, é um tempo de pesar e luto. Por quê? Quando iniciamos a jornada conjugal, temos muitas expectativas: sobre o outro, sobre o relacionamento e a busca de um paraíso isento de perturbações. Logo vão surgindo algumas frustrações e a realidade se nos apresenta menos “cor-de-rosa” — o que pode ser superado por meio da arte do diálogo, pouco cultivada em muitos relacionamentos. Quando nascem os filhos, o casal assume compulsoriamente um segundo papel, além do conjugal: o papel parental (de pais). Filhos demandam cuidados, atenção e carinho. E o relacionamento que antes era entre duas pessoas passa a ser entre três. Assim, os cônjuges se veem obrigados a dividir as atenções, o cuidado e o carinho que eram dedicados somente um ao outro com essa terceira pessoa, e isso gera um desequilíbrio na relação. Se as frustrações do ideal nãoatingido dos primeiros momentos do casamento não forem superadas com
um diálogo fecundo, a desestabilização com a chegada do primeiro filho será maior e surge um enorme risco: a supervalorização do papel parental em detrimento do papel conjugal. Em outras palavras, com o nascimento do primeiro filho, o casal pode dedicar-se em demasia ao cuidado com o bebê e deixar de investir no relacionamento conjugal. O perigo é que após 20 e poucos anos os filhos se vão e o casal estará novamente sozinho. Se não houve investimento no relacionamento do casal, ele pode não ter mais motivação de continuar casado (muitos divórcios acontecem justamente após a saída do último filho de casa). Ou um dos pais pode apegarse excessivamente a um dos filhos, não permitindo que ele tenha uma vida independente, e isso causará problemas não só para o seu próprio casamento, como também para o casamento dos filhos. Ou pior ainda: eles podem não permitir que um dos filhos se torne plenamente adulto e ele permanecerá em casa para “cuidar dos pais” — há filhos que são verdadeiros heróis e sacrificam a vida pessoal com essa finalidade. O equilíbrio entre os papéis parental e conjugal é delicado e muito dinâmico. Também não é possível fixar-se somente no papel conjugal e abandonar os filhos. Em nossa cultura, entretanto, é mais comum — e um sinal de desequilíbrio dos papéis — que com o nascimento do primeiro filho o casal deixe de se tratar pelo apelido carinhoso de até então (amorzinho, querida,
Ali Farid
boas novas ou desespero?
O tempo de ninho vazio deve ser um tempo de alegria e aprofundamento da intimidade conjugal — jamais de desesperança
fofinho etc.) e passe a se tratar pela função (pai, mãe). Esse é um sinal de alerta de que a relação conjugal pode estar sendo colocada em segundo plano. Assim, para o casal ter um tempo agradável de vida a dois depois que os filhos se emancipam, deve desde cedo buscar esse equilíbrio dinâmico, não deixando de investir no relacionamento a dois. O salmista compara os filhos com flechas (Sl 127). Ora, as flechas existem para serem atiradas para longe, não para serem guardadas em casa! O tempo de ninho vazio deve ser um tempo de alegria e aprofundamento da intimidade conjugal — jamais de desesperança! Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e terapeutas de casais e de família. Catito é autor de Como se Livrar de um Mau Casamento e Macho e Fêmea os Criou, entre outros.
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HOJE EM DIANTE...
Não quero me enraivecer
com qualquer pessoa ou qualquer acontecimento
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Paolo Gadler
partir de hoje, com a ajuda de Deus, não vou ter crises de raiva, mesmo que alguém me irrite e que alguma circunstância me aborreça. A raiva pode ser o estopim de uma briga, de uma separação e até de um crime de sangue. Morto de raiva, Saul arrojou uma lança contra Davi, que só não morreu porque conseguiu desviar-se dele por duas vezes (1Sm 18.10). A raiva é uma coisa tão séria, que o verbo enraivecer tem vários sinônimos: enfurecer-se, enraivecer-se, irar-se, raivar, raivecer, raivejar. Por meio de uma explosão de raiva, mostrase o que está no íntimo; a fúria, a
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indignação, a ira, o ódio, o rancor. A raiva está sempre na companhia de outras obras da natureza pecaminosa do ser humano, como brigas, calúnias, ciúmes, discórdia, dissensões, divisões, egoísmo, facções, intrigas e invejas (2Co 12.20; Gl 5.19-21). Um dos Salmos mais bonitos da Bíblia diz: “Não fique com raiva, não fique furioso. [...] Pois isso será pior para você” (Sl 37.8, NTLH). Os Provérbios estão cheios de conselhos contra a raiva: “O homem que fica com raiva por qualquer coisa precisa ser castigado várias e várias vezes” (Pv 19.19, BV); “O tolo mostra toda a sua raiva, mas quem é sensato se cala e a domina” (Pv 29.11, NTLH);
“Quando você vai ajuntando raiva contra outra pessoa acabará tendo uma briga violenta com ela” (Pv 30.33, BV). Estou ciente de que a tentação da raiva existe. Por falta de carinho, de sabedoria, de paciência e de tempo, até os pais podem levar os filhos à raiva (Ef 6.4). Quando os defeitos alheios me afetam e me infernam a vida, minha propensão raivosa pode vir à tona e complicar ainda mais as coisas. Deus me livre, mas posso ser tentado a ter raiva dele quando me acontece algo inesperado em uma hora imprópria, quando adoeço, quando entro definitivamente no vale da sombra da morte. Talvez não haja raiva mais pecaminosa do que a raiva de Deus. Também não devo associar o pecado da inveja ao pecado da raiva, o que é muito comum. Talvez eu possa parafrasear Asafe e escrever: “Quando vi que tudo ia bem para os orgulhosos e os maus, quase perdi a confiança em Deus porque fiquei com inveja deles” (Sl 73.2-3, NTLH). Tudo é verdade. A raiva é forte, é frequente e é fácil. Porém eu, de hoje em diante, com a ajuda do Senhor, vou levar a sério o conselho de Paulo: “Abandonem toda amargura, todo ódio e toda raiva” (Ef 4.31, NTLH). Vou levantar as mãos para os céus, para Deus, livre do pecado, da raiva e do rancor (1Tm 2.8). Inculcarei em minha mente para sempre o que Tiago me ensina: “A raiva humana não produz o que Deus aprova” (Tg 1.20, NTLH)!
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LI N HA DE F R ENTE
Bráulia Ribeiro
O rei está nu
De como os Zoé se tornaram vítimas do ódio que o Ocidente tem a si mesmo
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Fernando Giantaglia
Ocidente está adoecido pelo ódio a si mesmo. Olhamos para nossa história, para o produto de nosso progresso, para nossa sociedade, e não gostamos do que vemos. O rei está nu. A utopia política do início do século passado se tornou uma experiência vergonhosa de domínio de poucos sobre as massas. As mentiras sobre superioridade racial em que acreditamos se transformaram em sangrentos genocídios. O capitalismo que iria permitir ao proletariado qualidade de vida se tornou um monstro de produzir riquezas, que nos engole sem piedade. As propostas religiosas se emaranharam promiscuamente a qualquer ideia que pagasse mais. Enfim, demos com os burros n’água vez após vez. Desiludimo-nos e nos odiamos. Precisamos de uma nova gênese. Por causa disso, olhamos para os índios isolados com uma esperança rousseauniana. Serão eles nosso
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renascimento? No Google você encontra nas referências sobre a tribo Zoé, que vive entre o Pará e o Amazonas, esse tom religioso. Pesquisadores e cineastas franceses veem neles a esperança de um renascimento para a humanidade. Porém, como todas as outras, os Zoé são apenas uma tribo brasileira pequena tentando sobreviver. Foram contatados pela Missão Novas Tribos do Brasil na década de 80. Foram conduzidos com cuidado do isolamento a um estágio intermediário, em que recebiam ajuda da Missão para as necessidades básicas. O isolamento por si só não garante a sobrevivência de nenhuma tribo, ao contrário do que dizem os sertanistas. Massacres de tribos isoladas inteiras, causados por contaminações de doenças, por seringueiros, madeireiros ou outros predadores amazônicos, ou até por guerras entre tribos ou clãs, acontecem com frequência. Voltando à história dos Zoé, a Missão acabou sendo expulsa da área. Os Zoé eram bonitos e puros demais para ficarem em contato com uma missão. Afinal, ela institucionaliza tudo o que mais odiamos no Ocidente: sua religião. A religião cristã continua pregando o que mais queremos esquecer, continua representando no mundo acadêmico moderno a cristalização dos valores que nos tornaram (entenda aqui a ironia) capazes de criticar aquilo que somos. Fora com eles. A missão deu lugar aos “humanistas” da Funai. Verbas internacionais vieram e o projeto Zoé se tornou modelo. Um hotel de selva foi construído em frente à aldeia. Tudo o que dava acesso a outro mundo foi retirado. Eles passaram a viver numa ilha de selva virgem
vigiada apenas por observadores bemacomodados. Os vídeos na internet que retratam a tribo são lindos, feitos com equipamento de alta qualidade só possível devido ao conforto e à tecnologia oferecidos pelo hotel/ observatório. A tribo “virgem” agora se torna entretenimento de turistas de alta classe, uma espécie de zoológico humano servindo ao voyerismo de antropólogos e cineastas estrangeiros. Suprema ironia. Os selvagens são mantidos escravos por causa de sua pureza. Vistos de longe, os Zoé são na’vi azuis andando por Pandora com rabos longos, etéreos, perfeitos. De perto, são um povo escravo de um idealismo que não inventaram. Presos a um paleolítico circunstancial, são impedidos de mudar. Não são humanos, não são cidadãos, não são nem índios brasileiros. São uma metáfora internacionalizada do ódio de nossa cultura por si mesma. O problema é que, não sabendo disso, eles fugiram de seu paraíso terrestre. Em outubro de 2010, os Zoé fugiram para pedir ajuda aos castanheiros locais e ao mundo. Num vídeo tosco filmado por um dono de castanhal, os índios se expressam em português fluente: “A gente quer coisa. A gente quer panela, faca, anzol. A gente quer ter o que os Tirió tem. Funai não dá nada pra nós não, mas a gente quer”. Tradução? Os Zoé estão dizendo: “A gente quer parar de ser uma coisa, a gente quer ser gente, vocês vão permitir?”. Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua família e está envolvida em projetos internacionais de desenvolvimento na Ásia. É autora de Chamado Radical. braulia.ribeiro@uol.com.br
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INTEG R AL
René Padilla
A formação de discípulos
(parte 2)
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mandato de Jesus Cristo é claro: “Fazei discípulos [...], ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.19, 20). Sabemos que o conteúdo do ensino sobre a formação de discípulos não é apenas teórico. Sem negar a importância da doutrina ou da teologia, a ênfase recai na prática do ensinamento de Jesus Cristo — a prática da verdade. Com o batismo inicia-se um processo de transformação que abarca a totalidade da vida; um processo de aprendizagem do que significa a obediência ao ensinamento de Jesus Cristo, isto é, à vontade de Deus. Sem obediência à vontade de Deus, não há discipulado genuíno. Sob a perspectiva bíblica, a ortopraxia, a obediência a tudo o que Jesus ordenou a seus discípulos, é no mínimo tão importante quanto a ortodoxia — se não for mais, já que sua meta é que os discípulos vivam em função do amor e assim sejam filhos do Pai que está nos céus, perfeitos, assim como ele é perfeito (Mt 5.45, 48). Os discípulos de Jesus não se distinguem por serem meros adeptos de uma religião (um culto a Jesus), mas sim por terem um estilo de vida que reflete o amor e a justiça do reino de Deus. Portanto, a igreja não pode limitar-se a proclamar uma mensagem de “salvação da alma”: sua missão é fazer discípulos que aprendam a obedecer ao Senhor em todas as circunstâncias da vida
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diária, tanto no privado como no público, tanto no pessoal como no social, tanto no espiritual como no material. O chamado do evangelho é um chamado a uma transformação integral que reflita o propósito de Deus de redimir a vida humana em todas as suas dimensões. Uma transformação baseada no evangelho integral, ou seja, centrada em Jesus Cristo e orientada para o cumprimento do desejo de Jesus de que seus discípulos sejam “sal da terra” e “luz do mundo”.
Os discípulos de Jesus não se distinguem por serem meros adeptos de uma religião, mas sim por terem um estilo de vida que reflete o amor e a justiça do reino de Deus
Assim entendido, o discipulado tem um custo inevitável. E um aspecto desse custo é a renúncia a tudo o que interfere na lealdade absoluta a Jesus Cristo como Senhor. Ele mesmo definiu as condições do discipulado. E as definiu de tal modo que não deixou dúvida de que seu chamado é para um discipulado radical, que envolve uma obediência coerente com a vontade de Deus em todas as áreas da vida, desde as relações familiares até as posses
materiais (ver Lucas 14.25-33). A formação de discípulos à imagem de Cristo acontece no contexto da comunidade de fé, não fora dela. Jesus diz: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35). É claro que, para Jesus, a marca do discípulo é o amor. No entanto, ninguém pode aprender a amar estando isolado dos demais. Efetivamente, a experiência do amor de Cristo, que segundo Paulo “excede todo entendimento”, só é possível “com todos os santos” (Ef 3.18-19). Só é possível na igreja, “a família de Deus”, onde os discípulos aprendem a amar, e não só a amar, mas também a servir, a orar, a resistir ao mal, a cultivar o bem. Na igreja, o Corpo de Cristo, onde os discípulos descobrem e exercem seus dons e crescem para chegar “à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13). Para iniciar o caminho do discipulado é preciso arrependimento, ou seja, uma decisão pessoal que envolve a renúncia irrevogável a uma vida dirigida por Deus e a disposição de identificar-se com Jesus em seus sofrimentos. Aqueles que começam a seguir Jesus só podem avançar em sua peregrinação conforme experimentam a graça de Deus na igreja e por meio dela. Traduzido por Wagner Guimarães
C. René Padilla é fundador e presidente da Rede Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Fundação Kairós. É autor de O Que É Missão Integral? .
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Cotidiano —
o l e i t o r p e rg u n t a
Ed René Kivitz
Meu nome é Paulo Roberto, tenho 23 anos e estou no terceiro ano do curso de Direito. Sou cristão, mas tenho muitas dúvidas a respeito de Deus e do evangelho. Isso seria falta de fé? Paulo Roberto, você não é o único cristão que tem dúvidas. Na verdade, todos temos dúvidas, mas nem todos temos coragem de admitir. E não há problema em ter dúvidas, pois elas nada têm a ver com nossa fé, mas sim com nossas crenças. A fé diz respeito à nossa confiança em Deus; as crenças, às coisas que pensamos sobre Deus. É possível confiar em uma pessoa e desenvolver um relacionamento íntimo com ela mesmo quando não sabemos tudo a seu respeito. Por outro lado, é também verdade que o que pensamos a respeito de uma pessoa afeta a maneira como nos relacionamos com ela, e com Deus não é diferente. Por isso, gosto do que disse Anselmo de Cantuária, um teólogo do século 11, quando definiu teologia como fides quarens intelectum, isto é, fé em busca de entendimento. Mais ou menos o mesmo que “crer é também pensar”. Quanto maior o nosso desejo de conhecer a Deus, mais perguntas faremos a respeito de Deus, e justamente nesse processo de busca de entendimento é que surgem as dúvidas. Algumas pessoas acham perigoso fazer muitas perguntas sobre Deus e questionar as crenças tradicionais a respeito das realidades espirituais e do evangelho. Porém quando não fazemos perguntas e não penetramos no campo da dúvida nossas crenças se reduzem a clichês, que com o tempo deixam de fazer sentido para nós. Não demora muito caímos na armadilha de confundir Deus com as crenças, isto é, confundimos Deus com as coisas que pensamos a respeito de Deus, o que acaba por colocar em risco a nossa fé. O melhor antídoto contra a falta de fé é a dúvida. Somente quem tem coragem de fazer perguntas às suas crenças pode crescer na sua fé.
A nova seção “cotidiano” quer responder a perguntas dos leitores sobre a vida cristã. Envie sua pergunta para edrenekivitz@ultimato.com.br
Meu nome é Maria Cecília e tenho 47 anos. Nasci num lar cristão e nunca me afastei do evangelho, mas hoje estou muito decepcionada com a igreja. O que devo fazer? Maria Cecília, minha experiência pessoal é parecida com a sua, e é muito comum ouvirmos pessoas dizendo que a melhor coisa que podemos fazer para seguir a Jesus é romper com a religião institucionalizada e as estruturas eclesiásticas formais. Durante muito tempo desconfiei de que esse seria mesmo o melhor caminho. Mas aos poucos fui percebendo que minha dificuldade não era com a igreja em si, ou com a necessária vivência comunitária da fé, mas com as lideranças, os rituais, os legalismos e as crenças que pretendem expressar o evangelho de Jesus Cristo. A maioria das pessoas que me procuram trazendo a mesma angústia que você expressa na sua pergunta, na verdade, não está desapontada com o evangelho, mas com uma versão específica desse evangelho.
Mas também é verdade que se tirarmos as comunidades, os mentores espirituais, os rituais, as crenças e os imperativos morais, o evangelho deixa de ser uma realidade histórica e social, e passa a ser uma ideia abstrata que acaba se perdendo no caudal da cultura. Concluí que a questão não é ser cristão com igreja ou sem igreja, acatar ou não a autoridade de uma comunidade ou tradição religiosa, assumir ou não assumir determinados comportamentos como certos e outros como errados, e até mesmo participar ou não participar de rituais coletivos de celebração da fé. Mesmo num grupo pequeno, informal, haverá hierarquia, liturgia, crenças e uma estrutura mínima de organização da comunhão, comportamentos aceitáveis e outros rejeitados. Como nos ensinou Jesus, na falta do odre o vinho se perde. A questão não se resolve quando abrimos mão dos odres, mas quando temos a coragem de substituí-los, o que, em alguns casos, significará destruir um odre para que seja possível fazer outro.
Ed René Kivitz é pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo. É mestre em ciências da religião e autor de, entre outros, O Livro Mais Mal-Humorado da Bíblia.
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Carlinhos Veiga
N OVOS
ACORdES
As belas artes de Lausanne 3 se tivessem utilizado a linguagem sensorial, por meio de expressões corporais e musicais, luzes e cores, para transmitir o conteúdo. Sempre que assim fizeram conseguiram intento. Talvez minha única frustração tenha sido a música. Esperava ouvir canções culturais africanas legítimas, bem como de outros povos. Porém, com raras exceções, o que predominou foi o louvor globalizado presente em nossas igrejas brasileiras. As canções cristãs comerciais prevaleceram. Vez por outra era tocada uma canção africanizada, que estava mais para musical do Rei Leão — uma construção estética da África a partir do viés ocidental — do que para uma expressão genuína daquele povo. A história se repetiu. Infelizmente!
Carlinhos Veiga
Nota Para dicas musicais, acesse o podcast: www.carlinhosveiga.com.br.
No culto de encerramento, o telão de lead inspirava os congressistas com imagens fantásticas
Hyatt Moore
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s artes tiveram destaque especial em Lausanne 3. Gostei muito, pois, via de regra, os eventos cristãos dão pouco espaço para esse tipo de linguagem. Na Cidade do Cabo foi diferente: houve uma verdadeira integração entre pregações, testemunhos e arte. Um apontava para o outro, um reforçava o outro. Havia coerência no programa. Foi maravilhoso ver tanta diversidade artística num só evento. Nas plenárias, fomos enriquecidos por música de qualidade, conduzida por um grupo musical multicultural, por uma deslumbrante orquestra e um grande coral. Assistimos a performances teatrais, nos deleitamos com a dança contemporânea de gabaritados profissionais, e assistimos a vídeos bem produzidos — alguns com conteúdos questionáveis, mas com estéticas e enquadramentos diferenciados. Chamou a atenção o enorme telão de lead que fazia fundo ao palco central. A cada temática uma nova imagem era projetada. No último dia, na ceia, a multidão de mais de 4 mil congressistas cantava um hino que exaltava o Cordeiro Santo, embalada pela orquestra; enquanto isso, imagens de obras de arte se revezavam no telão, com variadas concepções étnicas de Cristo Jesus. Foi algo deslumbrante e emocionante. Do lado de fora do salão, mais arte era oferecida. Tínhamos acesso a mostras de cinema, além de sessões de diálogo sobre temas como arte e cura, arte e adoração, arte em missões, cristãos no mundo artístico, mídia visual nativa, filme e fé, entre outros. Pelos corredores e salas do centro de convenções, quadros a óleo se misturavam com colagens, esculturas, fotografias, pinturas em tecidos. No hall central, o artista Hyatt Moore expunha seus belos quadros, entre eles “A última ceia com as doze tribos”, no qual Jesus está ao lado de seus discípulos identificados por povos de várias nações. Até os “canela”, do Brasil, estavam lá representados. Nos intervalos, Hyatt pintava telas em tamanho natural dos congressistas tipicamente trajados. À medida que o congresso avançava, as obras se multiplicavam e se misturavam aos personagens reais que transitavam pelos corredores. Coisa bela de se ver. Concordo em parte com as críticas de que as performances teatrais foram longas e tomaram o escasso tempo das discussões dos grupos. Não creio que isso aconteceu. No entanto, percebi que algumas peças não foram tão eficientes em sua comunicação. Diálogos longos não eram apropriados para aquele espaço multilíngue. Eles teriam tido mais sucesso
O artista plástico Hyatt Moore coloriu os corredores de Lausanne 3 com sua arte Janeiro-Fevereiro, 2011
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Saulo Xavier de Souza
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AMBIENTE E fé cristã
René Padilla
O suicídio ecológico
contemporâneo
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eus deu ao ser humano a vocação de exercer domínio sobre a terra. Dessa forma, o Criador do universo quis compartilhar sua soberania com criaturas que são sua imagem e semelhança: feitas do pó da terra, mas chamadas a administrar a terra como mordomos da criação de Deus, em liberdade e obediência. A terrível crise ecológica que hoje afeta nosso planeta mostra até que ponto a humanidade abusou da autoridade que Deus lhe delegou sobre a criação. Em 1931, o filósofo inglês Bertrand Russell escreveu: “Para o homem moderno, o meio ambiente físico é meramente matéria-prima, uma oportunidade para a manipulação. É possível que Deus tenha feito o mundo, mas isso não é razão para nos abstermos de restaurá-lo”. Desde então, as consequências negativas do uso irresponsável dos recursos naturais aumentou de tal maneira que não é exagero afirmar que estamos avançando rumo a um suicídio global. Uma manifestação da gravidade do atual problema ecológico é a mudança climática que o mundo todo está vivenciando. Segundo o relatório AR4, publicado em 29 de junho de 2007 pelo Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), estabelecido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio-ambiente (PNUMA) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), “O aquecimento do sistema climático é inequívoco, como é agora evidente pelas observações do aumento das temperaturas médias do ar e do oceano, de derretimento generalizado de neve e gelo, e de uma elevação do nível do mar”. Os dez anos mais quentes registrados desde 1990 ocorreram a partir de 1997, e calcula-se que, no mundo todo, aproximadamente 150 mil pessoas morrem a cada ano por causa do impacto do aquecimento climático na saúde humana. Segundo o Greenpeace, a extensão mundial de terras afetadas pela seca no mundo duplicou entre 1970 e o início da década de 2000. Os relatórios especializados explicam cientificamente as notícias que escutamos com frequência ou aquilo que vivenciamos por causa dos desastres naturais causados pelo aquecimento climático. Tempestades, inundações e secas terríveis, ondas intensas de calor e frio são comuns no mundo todo. Os efeitos da mudança climática nos últimos anos foram devastadores. Segundo o relatório do IPCC, esse aquecimento provavelmente é causado
pela produção de gases como o dióxido de carbono, produzidos por certas atividades humanas. Embora os países ricos sejam especialmente responsáveis por essa produção, a situação se complica mais com o aumento da emissão de gases nos países em desenvolvimento, como China, Índia e Brasil, onde a emissão duplicou nos últimos vinte anos. Em última instância, o devastador fenômeno da mudança climática resulta do que o sociólogo Leslie Sklair denomina “a cultura-ideologia do consumismo”, que está no centro do atual sistema econômico global e de sua obsessão com o crescimento econômico. A ditadura do consumismo estabelece que o sentido da vida depende da posse pessoal de produtos tecnológicos que supostamente melhoram o nível de vida. O duplo desafio que essa sociedade consumista apresenta aos cristãos é, em primeiro lugar, dar ouvido à palavra de Jesus: “A vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc 12.15). Em segundo lugar, recuperar a prática da mordomia da criação estabelecida por Deus no princípio. Traduzido por Wagner Guimarães
C. René Padilla escreve regularmente na coluna “Missão integral” (veja pág. 36).
O devastador fenômeno da mudança climática resulta da culturaideologia do consumismo, que está no centro do atual sistema econômico global e de sua obsessão com o crescimento econômico
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Délnia Bastos
C AMINHOS
DA MISSã O
É possível terminar
a tarefa inacabada?
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lgumas pessoas me perguntam: “E então, o que saiu de concreto de Lausanne 3?”. Embora seja difícil “concretizar” tanta coisa que nos impactou por lá, há uma certeza: a tarefa de casa ficou muito clara para todos. Quem não sabe de cor Apocalipse 7.9-10? Esse é o grande desafio de missões no mundo hoje: fazer todo esforço conjunto e possível para que povos de todas as línguas e regiões tenham a oportunidade de louvar ao Cordeiro. Os organizadores trabalharam com afinco para atualizar os dados sobre os povos “não-alcançados” do mundo. Como fruto de muita pesquisa, lançaram a cartilha do dever de casa em oito línguas: uma relação dos 632 grupos etnolinguísticos de mais de 50 mil pessoas “que não dispõem de missionários, nem de igrejas, nem de pessoas planejando trabalhar com eles”.1 Muitos desses grupos estão na Índia. No Sudão, há 56 deles. Os surdos em Portugal, por exemplo, formam um grupo: ainda não existe um trabalho direcionado especificamente para alcançá-los. Os grupos menores ficaram de fora da cartilha, mas não da pesquisa. Aí são 1.505 grupos com populações de 5 a 50 mil pessoas que também precisam ouvir a Palavra e ser discipuladas. Foi lançado o desafio de designarmos uma força-tarefa formada por 4 mil contadores de histórias.
Esses missionários nada tradicionais seriam os Joões Batistas dos tradutores, os precursores da Palavra. Não significa que uma tarefa exclui a outra — enquanto os tradutores vão trabalhando, os contadores vão alcançando as pessoas com as histórias bíblicas. Na maioria das vezes, eles não precisam vir de tão longe, nem precisam de uma formação tão
O desafio de missões hoje é fazer todo esforço conjunto e possível para que povos de todas as línguas e regiões tenham a oportunidade de louvar ao Cordeiro
especializada quanto a dos tradutores. Uma senhora nos contou no plenário como tem sido seu trabalho nessa área, após treinar vinte mulheres como contadoras de histórias bíblicas. Elas estão indo para partes remotas e pobres da Índia que não possuem a Bíblia escrita, ou onde as pessoas ainda não são alfabetizadas. David Yoo e Paul Eshleman nos lembraram que 86% dos muçulmanos, hindus e budistas (que juntos perfazem metade da população mundial) não conhecem pessoalmente um seguidor de Cristo.
Também falaram da importância da mídia na evangelização mundial: hoje, um quarto das pessoas está se decidindo por Cristo por meio da mídia (rádio, televisão, internet etc.). Houve interação com os delegados dos 198 países presentes, por meio de perguntas como esta: “Você conhece algum cristão fluente em alguma destas línguas [que necessitam tradução] que possa colaborar?”. Qualquer delegado podia preencher uma folha de correção para algum dado na pesquisa que sabia ser diferente. Ao final, foi distribuído um “cartão-resposta” para quem desejasse se comprometer com algum grupo específico. Nesse sentido, Lausanne foi também uma reunião de trabalho. No encontro latino-americano realizado no último dia do congresso, Valdir Steuernagel nos lembrou: “Há uma mudança no foco da evangelização mundial. E a América Latina precisa aprender a se doar para o resto do mundo. Precisamos dar um testemunho de unidade, antes de tudo”. Lausanne 3 trouxe a mensagem de que é possível “terminar” a tarefa em nossa geração — se todos trabalharmos juntos, em unidade e cooperação. Qual será a nossa participação, como igreja brasileira?2 Notas 1. Segundo a pesquisa, “a informação dessa lista está mudando rapidamente”. Mais informações em www.finishingthetask.com. 2. Leia o artigo “Alguns pensamentos sobre a estratégia de ‘povos não-alcançados’” em www.ultimato.com.br.
Délnia Bastos é diretora da Interserve Brasil-CEM.
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Especial
por Klênia Fassoni
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nova identidade visual
uando a revista Ultimato comemorou 40 anos, em julho de 2008, era nosso objetivo apresentar uma nova identidade visual, o que, por vários motivos, não foi possível. Agora, com alegria, damos boas-vindas a 2011 de cara nova! Ultimato começou como um tabloide, cuja marca vinha acompanhada de uma cruz do lado esquerdo (1968 a 1970). Em 1971, a primeira alteração. Depois, em 1976, quando o jornal se tornou revista, a marca sofreu sua maior mudança. Desde então, houve apenas ligeiras alterações. Em 1993, teve início a publicação de livros pela Editora Ultimato. O atual logo, criado pela designer gráfico Sonia Couto, é substituído agora, depois de 11 anos. Desde a primeira edição, o texto de Isaías 55.6 acompanha a marca Ultimato. É possível que nem todos os leitores conheçam a origem do nome Ultimato. Confira um trecho do Diário
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Íntimo de Ultimato em que o diretorredator conta esta história: Dezembro de 1967 (Barbacena, MG) – Eufórico por ter conseguido, com a bênção de Deus, o primeiro programa radiofônico evangélico na história de Barbacena, dirijo-me à Rádio Correio da Serra para dar início a esse programa. O Deputado Andradinha me chama à parte e diz que teria de voltar atrás na concessão do horário porque havia recebido um ultimato do padre Hilário: se os protestantes entrassem, ele deixaria de apresentar o programa católico. Impressionado com a força de um ultimato e lembrandome das palavras que estão gravadas na parede externa de nosso templo – “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Is 55.6) –, entendo que o nome do jornal pode muito bem ser Ultimato. Perco o programa de rádio, mas ganho o nome do jornal.
O versículo se mantém com a nova marca. Ao lado dele, há outro texto
muito caro a nós e que traduz o que fazemos no dia-a-dia. A verdade de que Deus, em Cristo, reconciliou e continua reconciliando todas as coisas e nos confiou a tarefa da reconciliação (2Co 5.18-19; Cl 1.20) nos orienta a direção e nos encoraja na caminhada. A frase Deus, em Cristo, reconciliando consigo todas as coisas passa a fazer parte da nossa marca e será usada em peças institucionais da Editora. Foi neste texto e numa lista com mais de quarenta expressões que traduzem valores e ações da organização (listadas pela equipe de colaboradores e pelos leitores) que Cláudio Souto e sua equipe se basearam para desenvolver o símbolo (veja ao lado as etapas de criação) e a nova identidade visual. Souto Crescimento de Marca está completando agora 10 anos de existência. Cláudio Souto, proprietário da empresa, membro da Assembléia de Deus, visitou a sede da
Editora Ultimato, em Viçosa, MG, para nos apresentar a nova identidade. Por que uma nova marca? Em parte para reafirmar a imagem construída ao longo destes 43 anos. E em parte para renovar a imagem, dando corpo e visibilidade ao que somos hoje, atualizando para nós mesmos e para nossos leitores o que Ultimato representa. Somos mais do que revista, mais do que livros, mais do que um portal, mais do que parcerias. Ultimato é ponto de encontro — de reflexão e de iniciativas. A expansão pela mídia eletrônica é uma das faces do crescimento, da diversificação e do relacionamento com tantos provedores que também celebram o conteúdo bíblico. O desenvolvimento de linhas editoriais (na revista e nos livros) e de parcerias com temáticas relacionadas a criança em risco, ação social, missões, meio ambiente, evangelização transparoquial, unidade da igreja, missão integral, artes, entre outras, é outra face. Também internamente passamos por um período de mudança estrutural. O nosso leitor tem parte neste processo. Os comentários, as apreciações, as demandas, as críticas — por meio de cartas, e-mails, telefonemas, comentários feitos no site e nos outros canais, respostas dadas às nossas pesquisas — e, especialmente, a lealdade dos leitores têm contribuído (e acelerado) para mudanças. Uma de nossas tarefas no processo de reestruturação interna da editora é descrever o que pretendemos ser em 2018, quando vamos celebrar 50 anos. Sabemos o que queremos: continuar anunciando a boa nova que nunca fica velha, de que, em Cristo, Deus vai reconciliar todas as coisas! Continuamos contando com você!
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O equilíbrio das formas aponta para a união da reflexão com a informação. A inscrição da letra U, desenhada a mão, retrata a tradição do trabalho, iniciado com a revista Ultimato. O ponto final traz o ultimato de Deus para o homem do nosso tempo.
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Especial
Como o grão de trigo, nasce e morre em São Paulo a
por Elben César
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om a visão de “manifestar a unidade da igreja por meio do testemunho visível do amor e serviço no evangelho de Jesus Cristo”, foi solenemente organizada, na Catedral Metodista de São Paulo, no dia 30 de novembro de 2010, a Aliança Cristã Evangélica Brasileira (ACEB ou simplesmente Aliança). Estiveram presentes cerca de 230 líderes representando dezenas de denominações e organizações evangélicas. A Aliança tem como missão “congregar seguidores do Senhor e Salvador Jesus Cristo como expressão da unidade da Igreja”. A Aliança confessa a sua fé em sintonia com o legado evangélico que tem marcado significativos setores da igreja cristã e se sabe alicerçada nos marcos da Reforma Protestante, com destaque para os seus postulados básicos: Sola Scriptura, Solo Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria. Ela pretende testemunhar a unidade do corpo, servir como espaço de relacionamento, exercer um papel de informação e comunicação entre os participantes e entre estes e a sociedade brasileira, potencializar ações e fazer parcerias e posicionar-se sobre questões relevantes. Podem ser filiados à Aliança não só igrejas, denominações, agências, organizações e movimentos, mas também pessoas físicas que desejam contribuir e participar. Todos, porém, precisam subscrever sua Carta de Princípios e Diretrizes.
brasileira mim [os discípulos de épocas posteriores], por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17.20-21). Em sua exposição bíblica, Ariovaldo Ramos, pastor da Igreja Reformada de São Paulo, demonstrou que “a unidade pedida ao Pai, pelo Cristo, foi de essência: “Eu em ti, tu em mim, eles em nós”. Essa oração foi respondida no Pentecoste, quando o Espírito Santo, que habita no Pai e no Filho, passou a habitar em nós. Nesse dia, o Espírito quebrou a maldição de Babel [que separava todos de todos] e a igreja em Jerusalém tornou-se exemplo do que seria a nova humanidade: comungantes, unidos e comunitários”.
Expressão da glória de Deus Logo após a exposição bíblica, Durvalina Bezerra, diretora do Seminário Betel Brasileiro e relatora do conselho nacional de oração em favor da Aliança, dirigiu o momento de oração. Pedidos explícitos de oração foram projetados na tela e alguns irmãos por ela convidados vieram à frente e oraram: “Ó Deus, oramos para que a Aliança seja a porta-voz dos evangélicos, representando-os diante dos poderes públicos e privados relevando os valores do reino”, “Ó Senhor, que as lideranças evangélicas em todo o país estejam apoiando e abraçando essa Aliança, como expressão da unidade da Igreja e testemunho à sociedade, para que o mundo creia”.
“Eu em ti, tu em mim e eles em nós”
Uma geração sem umbigo
O texto bíblico mais citado durante o dia foi a oração de Jesus: “Minha oração não é apenas por eles [os discípulos da época]. Rogo também por aqueles que crerão em
Em sua preleção, Robinson Cavalcanti, bispo anglicano da Diocese de Recife, afirmou que um povo sem passado é um povo sem futuro e um povo sem história
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é um povo sem identidade. Chamou a atenção para o perigo de um movimento que despreze a história e tenha a pretensão de querer descobrir a roda ou a pólvora outra vez. Para reforçar, Robinson lembrou que o Espírito Santo nunca tirou férias, nem no longo período da história da Igreja entre a morte de João e o nascimento de Lutero. Advertiu que o “restauracionismo sempre tem rondado — e tentado — o cristianismo” e adiantou que hoje, “mais na Igreja do que no próprio século, vive-se a síndrome de uma geração sem umbigo, individualista, imediatista, iconoclasta, antinômica e presentista”.
Se somos filhos, somos também herdeiros Em um dos momentos, o pastor Paulo Rodrigues de Arruda, diretor da base de Manaus da Missão CPCI (Cristo para a Cidade Internacional), contou o sonho que teve na véspera de viajar do Amazonas para São Paulo: “Sonhei que eu deveria viajar para um lugar distante para receber parte de uma herança destinada aos herdeiros. Fiz a viagem e qual não foi a minha surpresa quando fiquei sabendo que a herança não era só para mim e meus irmãos de sangue ou de denominação, mas para todos os filhos de Deus, o que hoje se cumpre na organização da Aliança”.
Aliança Evangélica Mundial A Aliança Evangélica Mundial (WEA), criada há 164 anos e que reúne 128 alianças nacionais e mais de cem organizações, esteve presente na pessoa do inglês Gordon Showell-Rogers, o secretário-geral. Ele disse que a WEA é a terceira grande “família” trinitária cristã do mundo, depois do Conselho Mundial de Igrejas (CMF) e do Vaticano. Ela envolve 420 milhões de
evangélicos espalhados em 128 países. A Aliança brasileira há de se filiar a essa aliança maior e quase bicentenária.
Culto e celebração da Ceia A última parte do longo programa da Aliança Cristã Evangélica Brasileira (das 9 às 20 horas) foi a celebração de um culto de adoração. Havia sinais visíveis de união: o bispo Adriel Maia, da Igreja Metodista do Brasil, apresentou e chamou ao púlpito o bispo Elisiário Alves dos Santos, da Igreja Metodista Wesleyana, sem sequer se lembrar da divisa que houve entre os históricos e os renovados, que separam as ovelhas “menos pentecostais” das ovelhas “mais pentecostais” de todas as denominações da época. Foi notável também a presença de um órgão de tubos e de uma bateria quase lado a lado no púlpito da Catedral Metodista de São Paulo, simbolizando a paz litúrgica. A pregação foi feita pelo pastor luterano Valdir Steuernagel, que é o primeiro nome do grupo coordenador da ACEB, seguido por Christian Gillis, pastor da Igreja Batista da Redenção, de Belo Horizonte, e Oswaldo Prado, missionário da SEPAL e ministro da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
“Nós nos reunimos em culto para celebrar o amor e a graça salvífica de Deus, para recordarmos um ao outro da nossa vocação para sermos dele e vivermos para ele, para sermos recordados de que fazemos parte do que Cristo nos deixou: o seu corpo”. Depois de ler a famosa oração de São Patrício, patrono da Irlanda, e o glorioso texto de Apocalipse 7.9-17, Steuernagel concluiu: “Celebramos a Deus e o que ele está fazendo em nosso meio, confessamos a ele as limitações da nossa obediência evangélica e comprometemonos com a igreja de Jesus Cristo e todos os rincões da terra e com o movimento missionário e intercessório, cujas fronteiras querem ser o mapa do coração de Deus”. A liturgia do culto, elaborada por Clemir Fernandes, um dos líderes da RENAS e pastor de uma igreja batista na periferia carioca, foi subindo vários degraus — unidade no louvor, unidade no arrependimento, unidade no testemunho, unidade na proclamação, unidade na eucaristia e unidade na graça e no cumprimento da missão. Os elementos da Santa Ceia foram oferecidos por dois bispos, Nelson Leite (da Igreja Metodista) e Walter McAlister (da Igreja de Nova Vida), e entregues aos fiéis por irmãos e
Culto de fundação da Aliança Cristã Evangélica Brasileira
irmãs de diferentes regiões e denominações do Brasil. E assim nasceu a Aliança. Nasceu um mês antes do novo ano; nasceu em São Paulo, mas não é paulistana. Nasceu sem trombone, sem holofotes, sem prosopopeias; com muito cuidado, com ofuscação de nomes, exceto o nome do Senhor. Steuernagel quase assustou a todos quando disse que a Aliança nasceu para morrer — naquele sentido dado por Jesus: “Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto” (Jo 12.24). De fato, a nossa Aliança nasceu para morrer, e morrer para viver! Os seguintes documentos podem ser encontrados no site www.aliancaevangelica.org.br: • Como chegamos até aqui • Termo de pré-adesão • Carta de princípios e diretrizes • A sustentabilidade da Aliança
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rimeiro, o esclarecimento. Os evangélicos não foram tão decisivos na eleição quanto muitos deles (e muitos opositores) pensam. Assim que terminou o primeiro turno, fui “assediado” por órgãos da mídia nacional e estrangeira, vários deles querendo que eu corroborasse a versão de que haveria um segundo turno porque muitos evangélicos abandonaram Dilma Rousseff, motivados pela polêmica em torno do aborto. Expliquei-lhes que, embora ainda nos faltassem dados concretos, era improvável que essa questão tivesse privado Dilma da maioria absoluta no primeiro turno. Disse que a polêmica sem dúvida custou votos a ela, mas não o suficiente para mudar o rumo da eleição. Que era natural que os líderes evangélicos mais empenhados na campanha anti-Dilma “valorizassem” a sua participação, 48
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retratando-se como politicamente mais importantes do que são. Natural, também, que algumas pessoas antipáticas aos evangélicos quisessem “jogar a culpa” nestes; ou que alguns evangélicos pró-Dilma quisessem se apresentar como peças fundamentais para garantir a vitória no segundo pleito. Mesmo assim, insisti, todos eles estavam errados. Posteriormente, uma pesquisa do Datafolha confirmou minha suspeita. Dilma perdeu quatro pontos percentuais no final do primeiro turno, somente 25% dos quais por causa de “questões religiosas”. O restante foi resultado dos escândalos da ex-ministra Erenice Guerra e da quebra de sigilo de políticos do PSDB. Essa comprovação de que apenas 1% dos eleitores (nem todos evangélicos) abandonou a intenção de votar em Dilma por causa do aborto é ainda contestada por evangélicos em vários pontos do espectro político.
Porém, a evidência sugere o contrário. Além disso, havia razões para minha desconfiança, mesmo antes dos resultados da pesquisa. Em primeiro lugar, a maior parte dos eleitores que deixou Dilma não foi para José Serra, mas sim para Marina Silva, cuja campanha não utilizava o tema do aborto. Em segundo lugar, havia outras razões claras para o declínio de Dilma (os escândalos). Em terceiro lugar, não há no Brasil uma tradição de evangélicos decidindo o voto principalmente com base no aborto, como há nos Estados Unidos. Em todo o país, os evangélicos costumam ser influenciados por um amplo leque de preocupações. Claro, é possível que isso esteja mudando, como resultado de uma economia estável e mais próspera e uma democracia consolidada. Porém, ainda é cedo afirmá-lo. E, em quarto lugar, o voto evangélico não é voto de cabresto. É fácil examinar
os pronunciamentos de líderes evangélicos; mas é mais difícil detectar a influência desses pronunciamentos sobre o comportamento eleitoral dos evangélicos comuns. Uma pesquisa internacional em 2006, feita entre pentecostais de vários países, fez duas perguntas sobre o aborto. As respostas dos pentecostais brasileiros são reveladoras: 91% disseram que o aborto é moralmente injustificável, mas apenas 56% disseram que o governo deveria interferir na capacidade de uma mulher obter um aborto. O mais provável é que a campanha anti-Dilma em torno do aborto tenha principalmente reforçado a convicção antiDilma de evangélicos que já não pretendiam votar nela. Agora, minhas três reflexões: uma positiva, uma ambígua, e uma bastante negativa. A reflexão positiva é sobre o comportamento eleitoral e o relativo sucesso de Marina Silva. Até hoje, é a candidata evangélica que mais perto chegou da presidência. E o fez sendo bastante discreta no uso eleitoral da identidade evangélica. Terá de manter tal discrição, pois a identidade evangélica é uma faca de dois gumes em eleições majoritárias. A péssima imagem pública evangélica, que vai se deteriorando a cada eleição, faz com que o apoio muito ostensivo de líderes evangélicos seja o beijo da morte em pretensões a cargos majoritários. Marina, politicamente, não é produto do meio evangélico. Ela (ainda!) tem valores éticos e universais que não suportam a proximidade com o messianismo, corporativismo e entusiasmo interesseiro de alguns líderes eclesiásticos. Estes querem, inclusive, interpretar o sucesso dela como mostra de força do segmento
evangélico. Bobagem, pois o suposto dever evangélico de votar em candidatos evangélicos claramente não funcionou no caso dela. Mesmo assim, setores antievangélicos quiseram, nas palavras dela, “desqualificar o voto evangélico que me foi dado”. A isso, Marina retrucou que os seus apoiadores evangélicos “votaram numa proposta fundada na diversidade [...]. E perceberam que procurei respeitar a fé que professo, sem fazer dela uma arma eleitoral”. Até que ponto tais palavras retratam a percepção dos seus eleitores evangélicos comuns, não sabemos; mas certamente não
Evangélicos de formação privilegiada têm a responsabilidade de fazer uma contribuição séria ao debate político nacional e de aprofundar o debate político no meio evangélico
expressam o pensamento daqueles que, no dizer de um líder que apoiou Marina no primeiro turno, querem governar porque “cansamos de ser cauda”. A campanha de Marina descortinou a diversidade de análises evangélicas (igualmente inspiradas?) do atual estado do país. Por exemplo, a análise da apóstola pró-Marina, Valnice Milhomens, diverge radicalmente da de muitos evangélicos pró-Serra. Ela fala das grandes mudanças no Brasil (queda da pobreza e do desemprego, estabilidade econômica), que saiu ileso da última crise internacional. Além disso, a igreja cresceu e goza de muito
tempo na mídia. “O que o Espírito Santo me disse em relação ao PT em 2002 cumpriu-se”. Não vemos aqui o anti-petismo que domina vários setores evangélicos, os quais diziam em 2002 que Lula fecharia as igrejas evangélicas. É interessante, também, que a posição de Marina de aceitar um plebiscito sobre o aborto não afastou esse apoio evangélico. Claramente, os evangélicos pró-Marina encaravam a questão de uma maneira diferente dos evangélicos que encabeçavam a campanha anti-Dilma. Isso leva à minha reflexão ambígua, sobre a maneira em que o aborto entrou na campanha. Não vejo problemas com a temática em si; ao contrário do que pensam alguns analistas, não há nada antidemocrático em defender uma legislação restritiva sobre o aborto. Afinal, como mostra o Datafolha, 71% dos brasileiros desejam que a legislação fique como está. Uma campanha tem o direito de abranger assuntos como esse, tanto quanto questões econômicas. Mesmo assim, há maneiras de introduzir o tema que não fortalecem a democracia e não educam o eleitorado. Depois da eleição americana de 2004, publiquei um artigo comentando as desvantagens da “política de questão única” que predominava entre os eleitores evangélicos brancos nos Estados Unidos. Perguntei se é sábio pensar que uma única questão pesa mais do que todas as outras possíveis questões políticas juntas. Votar é sempre uma negociação em que optamos pelo relativamente melhor. No entanto, como atribuir pesos a cada assunto? Não há solução fácil, e devemos evitar o dogmatismo (do tipo “quem vota em fulano não pode ser um verdadeiro cristão”; ou Janeiro-Fevereiro, 2011
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“é cristã dissimulada”, como disse um líder evangélico anti-Dilma a respeito de Marina, porque propôs submeter a questão a um plebiscito!). E, finalmente, ponderei que o aborto tinha sido usado por políticos espertos de determinado partido, que sabiam que era um atalho conveniente para mobilizar uma infantaria de eleitores e militantes, muitos dos quais não se importavam com as outras questões que realmente interessavam aos líderes partidários. Mas eu estava falando, claro, dos Estados Unidos... Quem sabe, resultará dessa eleição algo de bom, o início de um debate sério no meio evangélico sobre os aspectos morais e legislativos do aborto. Quando debates acontecem somente em épocas eleitorais, tendem a virar eleitoreiros. Daí a necessidade de debate sério em momentos não-impregnados pelos interesses de uma campanha.
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Minha última reflexão é negativa e tem a ver com o nível do debate político entre evangélicos de classes média e média-alta. Não é a opção pró-Serra da maioria desse contingente que me preocupa, mas sim a maneira em que o debate foi conduzido. É
É fácil examinar os pronunciamentos de líderes evangélicos; mas é difícil detectar a influência desses pronunciamentos sobre o comportamento eleitoral dos evangélicos comuns
natural haver defensores evangélicos das várias candidaturas; e eu esperaria ver, da parte dos evangélicos mais favorecidos no sentido educacional, uma discussão madura
e não-maniqueísta, que ajudasse a comunidade evangélica a amadurecer politicamente e jogar seu papel na sociedade com mais seriedade. Porém, o que vi na internet e em e-mails foi deprimente. A crescente informatização das campanhas dá ampla margem a táticas negativas fundadas em boatos. Um exemplo do gênero são os e-mails alarmistas sobre “leis que tramitam em Brasília”, cujo suposto alvo é sempre cercear a liberdade religiosa dos evangélicos. O problema é que quem grita “fogo” (ou “ameaça à liberdade religiosa”) a toda hora não será levado a sério quando houver um incêndio de verdade. Além disso, há as análises apocalípticas da realidade. Tomo como exemplo um e-mail que recebi de renomada líder evangélica. Na visão dela, “estamos lutando com uma ideologia política que levará a nossa nação” ao modelo de Cuba,
Venezuela e Coreia do Norte, com a igreja reduzida à clandestinidade. Também, o nosso governo “caminha em harmonia com o Irã, que planeja apagar Israel do mapa”. A campanha de Dilma (guerrilheira que “matou o embaixador americano”) está sendo financiada pelas “nações comunistas” e pelo “Oriente Médio”. Pior de tudo, o vice de Dilma é satanista, e para eleger a sua chapa “pessoas estão sendo sacrificadas em grande número”. O e-mail termina exortando à oração pelo “cancelamento de todo sacrifício humano”. Mesmo e-mails menos exaltados pintam cenários maniqueístas em torno da corrupção, da política econômica e do cerceamento da liberdade de imprensa. No entanto, se o PT foi jogado na “vala comum”, como se dizia à época do mensalão, é porque os outros partidos já estavam lá. Quanto à política econômica, é interessante ler os frequentes elogios do The Economist aos avanços recentes
do país, inclusive com avaliações geralmente positivas do bolsa-família. E o Brasil acaba de subir vários pontos no ranking internacional de liberdade de imprensa, segundo noticiou a Folha de São Paulo. Os maniqueísmos parecem, então, fora de propósito, mesmo para aqueles que acham que José Serra seria a melhor opção. Por fim, havia o argumento da necessidade premente de alternância no poder; mas cabe indagar aos missivistas se votariam em Dilma para garantir a alternância, se o PSDB estivesse no poder há oito anos. Evangélicos de formação privilegiada têm a responsabilidade de fazer uma contribuição evangélica séria ao debate político nacional e de aprofundar o debate político no meio evangélico. Deveriam justificar a sua opção por Serra (perfeitamente legítima) em linguagem sóbria e ponderada, e não em linguagem apocalíptica que coloca em dúvida o status evangélico de quem vota
diferentemente. Deveriam liderar o amadurecimento evangélico num debate político mais sério e condizente com a democracia mais estabilizada que o Brasil representa hoje. Em vez disso, vemos negligenciadas as virtudes cristãs de busca da verdade e de não distorcer as ações e intenções de nossos opositores. Infelizmente, períodos eleitorais são para muitos evangélicos como um Carnaval, uma época em que se pode falar qualquer coisa; um festival de argumentos interesseiros, radicalizações irresponsáveis e mentiras puras, pelas quais ninguém se sente responsável depois. É o equivalente evangélico de Las Vegas (“o que você faz e fala por lá, fica por lá!”). Quão longe estamos do evangelho. Paul Freston, inglês naturalizado brasileiro, é professor colaborador do programa de pós-graduação em sociologia na Universidade Federal de São Carlos e professor catedrático de religião e política em contexto global na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá.
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R EFLE XÃO
Robinson Cavalcanti
Lausanne: o olhar de um veterano C
hego para o Congresso Lausanne 3 e percebo que sou o único remanescente da delegação brasileira presente em Lausanne 1 (1974), na Suíça: uma parte da bancada já está na glória e a outra veste merecido pijama... Alguns poucos estiveram em Lausanne 2 (1989), em Manila, Filipinas. A cada congresso foi aumentando a nossa representação dos ministérios da “base” e escasseando os presidentes de denominações ou secretários de missões, pois o casamento do modelo de superstar norte-americano com o velho caudilhismo latino-americano tem, cada vez mais, fragilizado as instituições e fortalecido os líderes movidos a holofotes, que aparecem somente para pontificar e “brilhar”, nunca para compartilhar e aprender, 52
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pois humildade é uma virtude cada vez mais escassa. O Movimento Lausanne foi precedido pelo Congresso de Berlim (1966) e pelos congressos continentais de evangelização, como o CLADE 1 (1969), em Bogotá, Colômbia, motivados pela revista Christianity Today, dirigida por Carl Henry, e a Associação Evangelística Billy Graham. Havia então um mal-estar generalizado entre as lideranças mais lúcidas com a herança das polarizações liberalismo versus fundamentalismo, evangelho social versus evangelho individual, que infelicitaram os Estados Unidos no início do século 20, rasgando e parcializando o todo da mensagem bíblica, com efeitos deletérios no campo missionário, e pelo aparente triunfo do liberalismo e do evangelho social
no Conselho Mundial de Igrejas (CMI), em um desvio dos sonhos originais do movimento ecumênico representado pela Conferência de Edimburgo (1910), na Escócia. O que se pretendeu foi uma retomada da prioridade à Grande Comissão, aos postulados históricos do evangelicalismo: autoridade das Escrituras, centralidade do sacrifício na cruz, conversão e imperativo missionário. O evangelho em sua totalidade deveria se dirigir ao todo da pessoa humana, e “de todas as nações para todas as nações”. Lausanne 1 foi denominado pela revista Time “o Concílio Vaticano dos evangélicos”, e o seu documento final, o Pacto de Lausanne, deliberado soberanamente pelo plenário, após várias redações por uma comissão do mais alto nível, presidida pelo teólogo anglicano John Stott, foi tido como o mais
importante documento confessional da Igreja após o Credo dos Apóstolos e a Confissão de Westminster. O evento alcançou êxito porque foi transformado em um movimento de reflexão teológica e de mobilização missionária, mudando o curso da história da igreja desde então, com um acervo notável de encontros, textos e projetos. Os evangélicos readquiriram autoestima, iniciativa e hegemonia no cristianismo reformado internacional. O Congresso Lausanne 2, em Manila, por sua vez, foi por mim denominado “um passo atrás e um passo à direita”,
Lausanne 3, com as suas limitações, foi em muitos sentidos uma encorajadora retomada das propostas originais
em virtude do esvaziamento de uma liderança multinacional compartilhada pelo comando centralizado anglosaxão (desde o Congresso de
Amsterdã, em 1983), em que uma ala mais “conservadora” do evangelicalismo fazia fronteira com o fundamentalismo, era influenciada pela Guerra Fria, refletia as ideologias e os interesses do centro do poder mundial, tinha barreiras com o uso instrumental das ciências humanas e com um compromisso social a partir do evangelho. No Brasil, o Movimento Lausanne não foi inicialmente bem recebido, tido como “moderado” pelos mais extremados e como “extremado” pelos mais moderados, sinalizando o lamentável grau de polarização teológica/ ideológica que vivíamos após o Golpe Militar. Porém, desde 1970 que, em âmbito continental, fora organizada a Fraternidade Teológica LatinoAmericana (FTL), celeiro do evangelicalismo progressista, que muito influenciara o Movimento Lausanne e por ele seria influenciado. O Pacto de Lausanne continuou a ser valorizado e o “espírito de Lausanne” nunca morreu, embora o Movimento tenha sofrido certo esvaziamento nas décadas finais do século passado e início do presente.
O Congresso Lausanne 3, com as suas limitações, como a escassa presença latino-americana, ou a ausência de conferências de peso sobre novos desafios (como a questão ecológica, por exemplo), foi, em muitos sentidos, uma encorajadora retomada das propostas originais. O número de países representados foi o maior. A nova geopolítica internacional afetou favoravelmente a geopolítica eclesiástica, com a disseminação do cristianismo por novas áreas do globo, a despeito de restrições e perseguições. O cristianismo é hoje uma religião mundial e ascendente, apesar da crise do espaço euro-ocidental. O envio de missionários não é mais monopólio dos países anglo-saxões, mas uma responsabilidade de todos, inclusive do Brasil. A Reforma Protestante está viva, o evangelicalismo (malgrado seus muitos “senões”) pulsa em dinamismo. Como um veterano de 36 anos de militância, volto de Lausanne 3 atualizado, motivado e encorajado para prosseguir com as velhas (e eternas) bandeiras, até o pijama e até a glória... Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política — teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo — desafios a uma fé engajada. www.dar.org.br
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Ricardo Gondim
Keattikorn l FreeDigitalPhotos.net
R EFLE XÃO
Por um avivamento
pentecostal D esde suas raízes, o movimento evangélico se fortaleceu no calor apologético. No final do século 19, a Alta Crítica junto ao revisionismo das escolas alemãs forçou alguns segmentos mais conservadores e herdeiros do pietismo e puritanismo europeu a buscarem solidificar posições. O fundamentalismo buscou simplesmente resumir o que considerava os pontos inegociáveis da fé cristã. Para ele, a inerrância da Bíblia, o nascimento virginal, a expiação mediante a fé na cruz e a volta triunfal de Cristo para arrebatar a igreja constituíam-se os alicerces da fé. Contudo, o fundamentalismo ficou tão hermético e sectário que
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antes da década de 50 alguns como Carl Henry, fundador da revista Christianity Today, e o evangelista Billy Graham perceberam que ele carecia de oxigênio. Pensadores mais ecumênicos e menos intolerantes se uniram para solidificar o Movimento Evangélico, conhecido nos Estados Unidos como “Evangelical Movement” (até então, os “evangelicals” não aceitavam os pentecostais, só recebidos mais tarde, depois que cresceram numericamente e já não podiam ser tratados como seita). Nos primeiros anos, os evangélicos eram considerados um segmento “diferente” dos antigos fundamentalistas. Segmento que dialogava com intelectuais e não descartava a cultura como mundana.
Assim, o fundamentalismo recrudesceu. Isolado, perdeu representatividade, enquanto os “evangelicais” se tornaram notórios, famosos e ricos. O Movimento Evangélico se consolidou no Ocidente como uma forte expressão do protestantismo. Empreendeu grandes projetos missionários, definiu os cânones literários e teológicos na formação de lideranças. Expandiu sua influência pela América Latina; construiu seminários e deu o perfil do que identificou como protestantismo. Porém, mesmo nos Estados Unidos, os “evangelicals” nunca abandonaram as raízes fundamentalistas. Na década de 70, consumiram os livros de Francis
Schaeffer, procurando dar um ar mais acadêmico ao literalismo hermenêutico, e desde o nascedouro sempre fizeram da teologia sistemática manual obrigatório nos seminários. O Movimento Evangélico desejava fazer teologia nas mesmas categorias que a academia secular, com critérios científicos de compreensão de Deus. Com hermenêutica, exegese e estudo das línguas originais, pretendia chegar à verdade objetiva do texto sagrado. Os tempos mudaram; paradigmas
Acontece que o movimento evangélico continua com o paradigma da modernidade. E a modernidade permanece com o “Cogito ergo sum” (Penso, logo existo), já ultrapassado. Nenhum texto é maior que a realidade. Não é preciso cogitar, mas ser. Revertamos em nós mesmos as palavras iniciais do Evangelho de João: “O Verbo se fez carne”. A contrapartida humana consiste em nos fazermos em verbo; tornar nosso discurso a nossa vida e fazer de nossa vida o nosso discurso. Ghandi afirmou: “Devemos ser no mundo a mudança que queremos ver no mundo”. Conseguimos pouco, mas urge transformar-nos no que proclamamos e escrevemos. O evangelicalismo nos apresentou a teologia como uma disciplina técnica, que nos ajuda a “entender” com exatidão quem Deus é e como ele se relaciona com os seres humanos. Porém, nenhuma técnica ilumina. O que ilumina é o sentir, o perceber, o vivenciar. Precisamos escalar uma montanha interior, atingir os patamares sensitivos, que vêm do Espírito Santo. Ele é o transmissor da vida que desejamos; ele reveste de virtude. Ele gera testemunhas. Hans Burki gostava de repetir a frase “we need to learn the unlearnable” (Precisamos aprender o inaprendível). Santo Agostinho afirmava que Deus tem filhos que a igreja não tem. Hoje, depois que muito já observei, acredito poder dizer: Deus tem se revelado a muitos filhos sem precisar de nossas doutrinas. Talvez, o descrédito que o Movimento Evangélico experimenta seja revertido por um novo Pentecoste. Assim espero! Soli Deo Gloria.
O Espírito Santo é o transmissor da vida que desejamos; ele reveste de virtude, ele gera testemunhas envelheceram. O mundo percebeu que as lentes racionais da modernidade eram insuficientes para se chegar à “verdade última”. Sem notar, as escolas pós-modernas de compreensão da verdade concordaram com Paulo, quando afirmou que “a letra mata, o espírito vivifica”. Hoje, lê-se para chegar aos afetos, não à exatidão de uma verdade “verdadeira”. O que o Espírito quer falar nas entrelinhas? Talvez seja uma pergunta mais pertinente. Não se busca entender, decodificar ou autenticar uma verdade, mas percebê-la com o coração. A cosmovisão pós-moderna não se interessa em discorrer sobre temas como justiça e verdade, mas em como encarná-los. A questão posta não é mais a repetição de dogmas tidos como verdadeiros, mas a integridade com que se vive. Credibilidade e testemunho são expressões em voga. O desafio é adensar o que se pensa com a vida.
Ricardo Gondim é pastor da Assembleia de Deus Betesda no Brasil e mora em São Paulo. É autor de, entre outros, Eu Creio, mas Tenho Dúvidas. www.ricardogondim.com.br Janeiro-Fevereiro, 2011
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R EDESCOBRINDO
A PALAVRA DE DEUS
Valdir Steuernagel
O testemunho de Dan l FreeDigitalPhotos.net
Cristo
enriquece a vida
“
Pregue sempre o evangelho. Se necessário, use palavras.” Essa frase de Francisco de Assis aponta para a necessidade de vivermos o evangelho e não fazermos dele um mero produto de nossa falação ou pregação. O evangelho não se presta a ser teoria. Ele só assume força e colorido real quando se transforma em realidade na vida de pessoas, famílias e comunidades. O mesmo Francisco de Assis diz que “não adianta ir a lugar algum para pregar se a nossa vida não for a nossa pregação”. Jesus advertiu seus discípulos sobre o perigo do que chamamos farisaísmo: dizer uma coisa e fazer outra. Quando o evangelho que anunciamos e vivemos, em vez de espelhar a realidade de quem Jesus é, expressa mais nossas ideologias, uma cultura de consumo e a promoção de nossas instituições e sistemas, ele se torna um discurso vazio. Como expressa o poeta George Elliot (18191880): “Ideias são meros fantasmas até que se encarnam numa pessoa. Então
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elas olham com compaixão, tocam com mãos quentes e redentoras e abalam o mundo como uma paixão”. Já em sua época, Jesus denunciou essa realidade e essa tentação. Seu evangelho nos exorta a estarmos atentos à mesma tendência em nossos dias, tanto na nossa própria vida e nas instituições e organizações que fundamos ou representamos como nas igrejas e organizações cristãs ao nosso redor. Quando nossa vida e nosso anúncio não caminham em uma mesma direção, nos tornamos um antitestemunho do evangelho que pregamos. Uma das mais certeiras e famosas expressões nesse sentido vem de Mahatma Gandhi: “Eu certamente seria um cristão, se os cristãos o fossem 24 horas por dia”. O evangelho ressalta ainda outra faceta dessa realidade ao afirmar que não adianta querermos fazer dele uma “realidade espiritual”, pois ela não nos aproximará nem de Deus, nem do outro — especialmente do outro que passa necessidade. Aliás, Jesus diz que a consequência disso é terrível:
Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: “Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram”. Mateus 25.41-43
Essa afirmação de Jesus aponta para o perigo da dissociação entre palavra e vida e convida a deixar-nos encontrar pelo evangelho que transforma a nossa vida numa “árvore plantada à beira de águas correntes”, que “dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham”, como diz o Salmo 1.3. Essa árvore floresce em qualquer lugar e se torna frondosa. Pode permanecer pequena por algum tempo ou, noutros lugares e estações, crescer com rapidez; porém, em ambos os casos, é marcada pelo viço e pela beleza. Nela os famintos são alimentados, os sedentos são saciados, os presos são visitados e os abandonados são acolhidos em expressão de amor e obediência a Deus e serviço ao outro.
Nós comíamos, mas a comida dela Um bom testemunho vai longe esfriava no prato enquanto nos contava Volto a falar da viagem à Albânia, sua história. Uma história com um mencionada na edição anterior. Aquele chamado claro, uma santa disposição país ficou fechado por muitos anos e para a obediência e um grande amor a população, sob as mãos de ferro de por um povo que, antes de ela conhecer, um ditador frio e inescrupuloso, não já estava muito presente no coração de tinha liberdade de movimento nem Deus. Foi sem estrutura nem grandes de expressão. Quando as fronteiras se compromissos financeiros que ela partiu. abriram, o que se viu foi uma terra de Primeiro Londres, depois Kosovo, gente triste, assustada e com alto nível até se instalar na Albânia. Aprendeu de suspeita, pois a rede de espiões havia a língua, amou o povo e envolveupenetrado em tudo — até nas estruturas se na proclamação do evangelho, familiares. A abertura acompanhada de um e a mudança de regime profundo testemunho O evangelho só assume trouxeram um novo de vida. força e colorido real ar, um novo espaço e Naquele domingo quando se transforma uma nova mensagem de Silêda e eu, já cativados em realidade na vida alegria. E quando isso pela natureza acolhedora de pessoas, famílias e aconteceu havia uma das pessoas e daquela comunidades brasileira pronta para linda terra marcada entrar no país. A história por mar e montanhas, de Najua é fascinante. descobrimos um pouco Quando foi encontrada pelo evangelho, mais da natureza amorosa de Deus Deus lhe mostrou que ela deveria ir para e da força vital do seu evangelho. a Albânia. A jovem procurou no mapa Outros missionários brasileiros foram e, como turista, foi espiar a terra. Assim chegando e ministraram ao nosso que a cortina opressora caiu, instalou-se coração por meio de vidas consagradas ali, pronta para ser mensageira da alegria a Deus e voltadas para um povo que, num país cético e triste. E ela nunca como todos nós, carecia deixar-se mais saiu da Albânia — ou, como ela encontrar por Jesus, aquele que veio mesma diz, “a Albânia nunca mais saiu para que tenhamos vida e a tenhamos de mim”. em abundância (Jo 10.10). Esse é o No primeiro domingo em Tirana, evangelho de vida, pelo qual vale a pena a capital albanesa, eu e minha esposa viver e morrer. fomos almoçar na casa de Najua. Valdir Steuernagel é pastor luterano e trabalha com a Visão Mundial Comida boa e abundante, conversa solta Internacional e com o Centro Pastoral e Missão, em Curitiba, PR. É autor de, entre outros, Para Falar das Flores... e Outras Crônicas. e fluente, num barulhento português.
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Jorge Henrique Barro
Rodrigo Roveri
C idade em foc o
Porque Deus amou a cidade... Ele, porém, lhes disse: “É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado”. E pregava... Lucas 4.43-44
Em Lausanne 3 foi percebida a importância de destacar as cidades como um dos desafios para a missão. No plenário, mostrou-se a realidade das megacidades. Havia o multiplex “Abraçando a missão de Deus global urbana”, e um dos diálogos foi “Missão em grandes cidades da América Latina”. O dia nem havia rompido e um bando de gente já estava atrás de Jesus: as multidões o procuravam. E tendo-o achado, insistiam que não as deixasse. Lucas 4.43 passa a ser então uma resposta de Jesus para essa multidão que tenta privatizar aquele que é público. Olhemos com mais cuidado a resposta de Jesus, que passa pelos temas a seguir. A importância – é necessário A principal visão que precisamos ter e desenvolver é esta: “Porque Deus amou a cidade...”. Ela é alvo do amor de Deus. Deus amou tanto a cidade que enviou seu único Filho para que ela encontrasse esperança. 58
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Jesus compreende o amor do Pai e engaja-se em sua missão nos centros urbanos. Se a multidão vê Jesus como uma oportunidade de isolamento, numa atitude de egoísmo e desprezo para com os que estão de fora, Jesus olha a necessidade dos outros de forma inclusiva. “O egoísmo não é amor por nós próprios, mas uma desvairada paixão por nós próprios”, como afirmou Aristóteles. Jesus entende e vê a vida humana por meio da necessidade. A multidão não vê a necessidade do outro — apenas a dela! Jesus, além de ver, se percebe como o agente de Deus para a cidade. O agente – que eu Só existe missão (e missionários) porque existem necessidades. Missão é sempre uma resposta à necessidade. Quem age primeiro é Deus. Jesus se coloca como o agente de Deus: “é necessário que eu”. Existem dois tipos de cristãos: os que não percebem a necessidade dos outros (multidões) e os que a percebem (Jesus). Ou imitamos as multidões ou imitamos Jesus. A igreja só é missionária quando todos se percebem agentes da missão.
O método – anuncie “É necessário que eu anuncie...” Esse anúncio não pode ser interpretado como sendo apenas palavras. Ao estudar os relatos de Lucas sobre o ministério urbano, ficamos perplexos ao ver Jesus em ação: “Jesus começou a fazer e a ensinar” (At 1.1). Ele é “poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo” (Lc 24.19). Seu anúncio é integral: obra e palavras em Jesus são inseparáveis. A transformação da cidade acontece por meio da manifestação concreta do amor de Deus e do poder transformador do evangelho. O evangelho é Jesus! Ele é a boa notícia em carne e osso, em atitudes e em palavras. O conteúdo – o evangelho do reino É o evangelho do reino que transforma tanto as pessoas como as cidades. Jesus disse: “Quando entrarem numa cidade e forem bem recebidos, comam o que for posto diante de vocês. Curem os doentes que ali houver e digam-lhes: O reino de Deus está próximo de vocês” (Lc 10.8-9). O evangelho do reino não é distração, mas atração. Somente ele tem o poder de atrair as pessoas para Deus. Só o evangelho do reino, cujo centro é a cruz, tem o poder de transformar.
(Lc 4.28-29). Porém, Jesus, em sua Infelizmente, existem comunidades que vocação missionária, não desiste. Ele já abriram mão da cruz na pregação do “passou por entre eles e retirou-se. evangelho. Pode até ser evangelho, ou Então ele desceu a seja, não deixa de Cafarnaum, cidade da ser uma notícia que Galileia, e, no sábado, distrai as pessoas, A transformação da começou a ensinar o mas certamente não cidade acontece por meio povo” (Lc 4.30-31). é o evangelho do da manifestação concreta Por que desistir, se ele reino, que atrai as sabe exatamente seu pessoas para Deus do amor de Deus e do propósito de vida? por meio da cruz. poder transformador do Jesus disse de forma evangelho A finalidade – pois muito enfática que para isso é que fui este e não outro enviado evangelho é que A expressão “para isso” implica vocação, deve ser pregado: “E este evangelho do propósito e senso de destino. Jesus se reino será pregado em todo o mundo percebe enviado com esse propósito. A como testemunho a todas as nações” obra não é de Jesus, mas do Pai. Tem (Mt 24.14). uma profunda compreensão da missio Dei. A missão é de Deus, que convoca A inclusividade – também às outras seus agentes para realizá-la. Assim, Jesus cidades é aquele “que andava de cidade em O desejo das multidões é justamente cidade e de aldeia em aldeia, pregando serem exclusivas. A ira de Deus com e anunciando o evangelho do reino de as pessoas sempre foi esta: enquanto Deus” (Lc 8.1). Como resultado, vinha ele busca a humanidade, o ser humano “ter com ele gente de todas as cidades” busca a si mesmo. Dois exemplos de inclusividade nos são dados pelo próprio (Lc 8.4). Jesus é nosso modelo de missão para Jesus na sinagoga de Nazaré: a viúva de a cidade. Seu ministério aconteceu Sarepta e Naamã, o sírio. Jesus acabara nas cidades e regiões do seu tempo: de reafirmar sua identidade missionária, Galileia (4.41–9.50), Samaria/Judeia confirmada na unção do Espírito, para (9.51–19.27) e Jerusalém (19.28–24.53). servir especialmente aos excluídos e desfavorecidos do seu tempo. Os judeus, E ele nos convida a andar e visitar as cidades que abençoou com o poder do assim como as multidões, achavam evangelho. Por onde começar? “Então... que eram destinatários exclusivos da regressou para a Galileia” (Lc 4.14). missão. Estavam errados e Jesus tratou logo de desenganá-los dessa ilusão. A Aceitamos o convite? missão de Deus é para todos. E a raiva Jorge Henrique Barro é diretor da Faculdade Teológica Sul Americana tomou conta do coração das pessoas e pastor da Igreja Presbiteriana do Caminho, em Londrina, Paraná.
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H ISTÓRIA
Alderi Souza de Matos
A missão da igreja: um conceito
incompreendido
O
ano de 2010 foi marcado pela ocorrência de dois importantes eventos na área de missões. O primeiro foi a celebração do centenário da histórica Conferência Missionária Mundial ou Conferência de Edimburgo (1910), que se realizou nessa cidade escocesa no início de junho. O site oficial anunciou: “Cristãos de todo o mundo se encontram em unidade e exploram diferentes maneiras de testemunhar de Cristo hoje”. O outro evento foi o 3º Congresso de Evangelização Mundial, realizado em outubro de 2010, na Cidade do Cabo, África do Sul. O encontro reuniu 4 mil participantes de 198 nações e foi a continuação do movimento iniciado em Lausanne, Suíça, em 1974. Curiosamente, esses encontros representaram duas orientações distintas do protestantismo: no primeiro caso, igrejas comprometidas com uma teologia progressista e ecumênica; no segundo, o evangelicalismo de linha moderada. Tais orientações, às quais correspondem diferentes entendimentos da missão da igreja, apontam para um grande desafio da missiologia: quais são exatamente os contornos da tarefa que foi confiada à igreja? O que a igreja é chamada a fazer no mundo contemporâneo? Infelizmente não tem existido unanimidade entre
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os cristãos nessa área vital, com sérias consequências para o seu testemunho na sociedade. Quando se observa o Novo Testamento, verifica-se que Jesus conclamou os seus seguidores a “fazer discípulos” (Mt 28.19), “pregar o evangelho” ou “o arrependimento” (Mc 16.15; Lc 24.47) e “ser suas testemunhas” (At 1.8), em todo o mundo. A versão joanina da Grande Comissão é um tanto indefinida quando afirma: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21). Além das palavras de Jesus, suas ações também foram decisivas quando os primeiros cristãos refletiram sobre a missão da igreja. O Mestre parece ter dado um sentido um tanto abrangente ao “evangelho” ou à mensagem do reino quando não somente pregou e ensinou, mas também socorreu os sofredores. Paulo entendeu a sua missão primordial como sendo anunciar o evangelho (Rm 15.16; 1Co 1.17; 9.16, 23). Ao mesmo tempo, ele também identificou uma tarefa subsidiária, secundária, que era auxiliar os pobres (At 20.35; Gl 2.10). Nos séculos seguintes, a resposta da igreja ao chamado de Cristo foi diversificada. Houve esforços missionários sérios, bem-intencionados e amorosos, que levaram muitos povos e culturas a abraçarem a fé cristã. Ao
mesmo tempo, em especial a partir do século 4, outras agendas passaram a ocupar de modo crescente as atenções da igreja, como o engrandecimento institucional, a busca do poder político e econômico, o anseio por controlar as diferentes áreas da sociedade. A relação com o outro, o diferente, ficou prejudicada pela intolerância doutrinária e religiosa, exemplificada na caça aos hereges e nas guerras contra os “infiéis”. Na Idade Média, os cristãos foram ao encontro dos pagãos não prioritariamente com o evangelho, mas com a espada. O missiólogo Ralph D. Winter se referiu às Cruzadas como “a mais imensa e trágica distorção da missão cristã em toda a história”. Esforços abnegados, porém isolados, de missionários como Raimundo Lull (†1316), pouco contribuíram para atenuar os danos causados. No período moderno, tanto católicos quanto protestantes continuaram a entender a sua missão principalmente em termos de proclamação da fé cristã, embora essa fé muitas vezes estivesse revestida de uma roupagem cultural e institucional tão forte que podia obscurecer certos aspectos do evangelho. Foi graças a uma visão primariamente evangelística que o século 19 ficou conhecido, na famosa expressão do historiador Kenneth S. Latourette, como “o grande século das missões” na
longa trajetória do cristianismo. Apesar das limitações citadas, pela primeira vez a fé cristã foi levada a todas as regiões do mundo, conforme o desejo expresso de Jesus. O século 20 testemunhou uma grande mudança de perspectiva. À medida que se sucediam as décadas, as preocupações de ordem social cada vez mais passaram a se tornar prioritárias na agenda das igrejas do hemisfério Norte e de suas missões no hemisfério Sul. Os missionários que chegavam aos campos já não tinham como objetivo principal evangelizar no sentido clássico e plantar igrejas, mas dedicar-se a tarefas como criar escolas e hospitais, realizar projetos agrícolas, lutar pelos direitos dos operários e assim por diante. Na segunda metade do século 20, os interesses sociais e políticos de muitas igrejas históricas não só se tornaram cada vez mais definidores de seu conceito de missão, como também se ampliaram de maneira inusitada. Os recursos e as energias de muitas denominações se voltaram para causas como os movimentos de libertação nacional, desarmamento, direitos das mulheres e de minorias (grupos étnicos, homossexuais), reforma agrária, aborto etc., as assim chamadas “questões de justiça e paz”. O “evangelho social” e a “teologia da libertação” foram dois movimentos muito influentes no sentido de
subestimar o objetivo da conversão individual e priorizar a transformação das estruturas, a implantação do reino de Deus na terra, a redenção da sociedade. O problema dessa abordagem é a sua forte tendência secularizante. Muitos cristãos que se envolveram com as causas acima e outras, com frequência associados a pessoas sem convicções religiosas, acabaram por se afastar completamente da igreja e de um compromisso explícito com a fé cristã.
A tarefa mais urgente e prioritária da igreja é o anúncio do evangelho, a mensagem de reconciliação com Deus por meio de Cristo
Um bom exemplo desse fenômeno foi Samuel G. Inman (1877-1965), antigo secretário executivo do Comitê de Cooperação na América Latina, uma agência protestante norte-americana. Qual o caminho a seguir? Em primeiro lugar, a missão cristã precisa ter um compromisso básico com a Escritura, com a fé bíblica, e não com a ciência, a filosofia, a política ou as ideologias humanas. Caso contrário, ela será tudo, menos missão “cristã”. Em segundo lugar, é preciso lembrar que a
tarefa mais urgente e prioritária da igreja é o anúncio do evangelho, a mensagem de reconciliação com Deus por meio de Cristo. Outras instituições podem dedicar-se a atividades de promoção humana e defesa de direitos, mas se a igreja não pregar o evangelho redentor, ninguém mais o fará. Por último, não se trata de minimizar as questões sociais, mas de não considerá-las “a missão” da igreja. Se o evangelho for entendido em sua plena dimensão bíblica e teológica, ele incluirá outros interesses, mas sempre de maneira subsidiária e derivada, como entendeu o apóstolo dos gentios. Um modo de conciliar essas alternativas é a proposta do teólogo reformado Michael Horton, segundo o qual a igreja, como instituição, deve se concentrar na pregação do evangelho, sua missão exclusiva e inescapável. Ao mesmo tempo, deve incentivar os seus membros para que, em caráter pessoal, também se envolvam com outros interesses coerentes com o evangelho, ilustrando assim o amor de Deus pelo ser humano integral. Uma vantagem dessa perspectiva é acentuar a ênfase dos reformadores do século 16, de que a verdadeira igreja não é meramente uma instituição, uma estrutura, mas o povo de Deus que o adora e o serve. Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil. asdm@mackenzie.com.br
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A gritaria dos preocupados: prenúncios de uma reforma interna
Pastor metodista questiona o rigor da estrutura eclesiástica J. C. Peres, pastor da Igreja Metodista de Tucuruvi, pergunta: “Somos ou não somos de certo modo prisioneiros de nossa estrutura eclesiástica?”. Ele sugere que, de alguma forma, os presbiterianos são muito dependentes de Calvino; os metodistas, de Wesley; os luteranos, de Lutero; e assim por diante. Seu artigo O sonho da independência, publicado no Expositor Cristão, baseia-se na exortação de Paulo aos Gálatas: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão” (Gl 5.1). Na democracia, lembra Peres, “escolhemos quem querem que escolhamos e não quem gostaríamos de escolher, pois não temos opção daquilo que se apresenta”. O desabafo do pastor metodista é edificante: “Quero viver minha fé de modo simples. Quero crer que Cristo morreu na cruz do Calvário para que eu pudesse viver a sua vida. Quero crer que ele me enviou o Espírito Santo e que o Espírito habita em mim. Quero fazer jejum e oração em qualquer intensidade, conforme o chamado de Deus para minha vida. Quero dizer que Cristo é Senhor da minha vida e procurar viver como ele gostaria que eu vivesse. Quero essas e outras coisas em minha vida sem ter de dar satisfação a Calvino, Lutero, Wesley ou qualquer outro fundador da igreja. Quero viver essas coisas da fé porque sou livre, liberto por Jesus Cristo para viver a plenitude da fé”. Pastor batista queixa-se dos cristãos insuportavelmente espirituais Renato Cordeiro de Souza, pastor da Primeira Igreja Batista de Teresópolis, 62
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RJ, não se queixa da estrutura eclesiástica, mas dos “cristãos insuportavelmente espirituais”: “Tenho muito receio da espiritualidade de gabinete, de púlpito e de reuniões da igreja. Desconfio da espiritualidade com hora e lugar marcados. O sujeito começa a ficar santo assim que entra no templo. Esse geralmente cria muita encrenca longe da igreja”. “Duvido muito da espiritualidade constituída de frases feitas e chavões evangélicos. Assim, o ‘pastor espiritual’ tem de iniciar o culto dizendo ‘que a graça e a paz do Senhor sejam com todos!’. Se não disser isso, ou algo parecido, muitos crentes acham que ele vive sem unção”. “Não me sinto à vontade com gente tão especial que só sabe conversar sobre Deus, igreja, culto, céu e pecado. Desconfio do crente muito sério, que nunca ri, que nunca confessa pecados e em quem tudo é certinho.” “Tenho aversão a crentes espirituais que colocam seus diversos títulos à frente. Ele é PhD, doutor, mestre, professor etc. Ele é mais conhecido por seus títulos do que por sua vida.”
Para Marcos Schmidt, “basta ao discípulo ser a boa semente que germine, cresça e fortifique. Deixem que os anjos separem o joio do trigo e façam a colheita”. Assim como George W. Bush cometeu o erro de invadir o Iraque na tentativa de arrancar o joio, provocando, em sete anos de guerra, a morte de 100 mil civis, 13 mil soldados iraquianos, 4.446 soldados americanos, 40 mil feridos e a própria expansão terrorista dos extremistas muçulmanos — qualquer empreitada para separar o joio do trigo sempre será, mais cedo ou mais tarde, uma infeliz empreitada. Marcos tem certeza de que aquele pastor norte-americano que quase queimou o Alcorão estava tentando separar o joio do trigo. No site da igreja desse pastor afirma-se: “Devemos nos levantar contra o pecado e chamar as pessoas ao arrependimento. O aborto é um homicídio, a homossexualidade é um pecado”. “Isso que pregam está na Bíblia e é a mais pura verdade”, considera o pastor luterano brasileiro. “No entanto, há um problema: a forma como enunciam transforma o evangelho em mentira.” Pastor luterano abomina a tarefa inglória Em seu feliz artigo publicado no de arrancar o joio antes do tempo Mensageiro Luterano, Marcos declara que “A grande missão da igreja”, declara Marcos desobedecer ao imperativo da parábola de Schmidt, pastor da Igreja Evangélica Jesus “é arrancar o trigo em vez de colhêLuterana do Brasil em Novo Hamburgo, lo, é semear o ódio no lugar do amor, a RS, “sempre será semear e não ceifar, injustiça no lugar da justiça, a lei no lugar evangelizar e não moralizar”. Ele lembra do evangelho”. Ele acrescenta na última as palavras enfáticas de Jesus Cristo na linha: “É voltar para casa igual aos soldados parábola do trigo e do joio: “Quem semeia que estão saindo do Iraque”. a boa semente é o Filho do Homem. O Teólogo latino-americano critica a ênfase terreno é o mundo, a boa semente são as pessoas que pertencem ao reino, o joio são demasiada no crescimento numérico da igreja os que pertencem ao Maligno, o inimigo é o próprio Diabo, a colheita é o fim dos tempos, e os que fazem a colheita são os anjos” (Mt 13.37-39).
René Padilla, teólogo equatoriano radicado na Argentina e porta-voz da missão integral, chama de problema
David Ritter
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fundamental das igrejas a ênfase exagerada no crescimento numérico. “Em nome dele, o evangelho é diluído, os cultos são transformados em entretenimento e o mandamento de Jesus sobre fazer discípulos é substituído por uma estratégia de alistar o maior número possível de ‘convertidos’ às fileiras das instituições religiosas.” Em suas viagens, Padilla tem visto “um número enorme de megaigrejas com altas taxas de crescimento numérico, mas com baixo grau de preocupação com a fidelidade ao evangelho completo e às dimensões éticas do discipulado na vida como um todo”. A partir da perspectiva do Pacto de Lausanne, elaborado pelo 1º Congresso de Evangelização Mundial, realizado na Suíça, em 1974, e recentemente reafirmado no 3º Congresso, na África do Sul, “a missão da Igreja não deve ser reduzida à proclamação oral do evangelho, pois evangelismo e envolvimento sociopolítico são ambos parte de nossa responsabilidade cristã — e a tradicional dicotomia entre evangelismo e responsabilidade social é, assim, praticamente descartada”. Bispo metodista da Malásia acha estranho o desequilíbrio entre o natural e o sobrenatural Por ter crescido num contexto em que os espíritos ancestrais, os poderes demoníacos, os deuses e os milagres eram característicos de sua religiosidade oriental, o bispo Hwa Yung, da Igreja Metodista da Malásia, por pressão do secularismo, quase abriu mão do elemento sobrenatural do evangelho. Ele cita o especialista em história da religião Philip Jenkins, segundo o qual a profecia, a fé curadora, o exorcismo e as visões fazem parte da realidade de boa parte das igrejas recentemente surgidas na África, na Ásia e na América Latina. Naturalmente, nem tudo o que acontece é sobrenatural, mas alguns desses elementos o são. No artigo intitulado Resgate do sobrenatural, publicado primeiramente na revista americana Christianity Today e depois em sua congênere brasileira (Cristianismo Hoje), o bispo Yung diz que “a maior parte dos liberais nega o sobrenatural, tanto na Bíblia como no
presente”. Por outro lado, os não-liberais costumam defender com unhas e dentes a presença do miraculoso nas Escrituras, mas raramente associando-a com a vida real. Essa relutância em admitir o sobrenatural no que diz respeito à atividade satânica não ajuda aos que ministram “àqueles que estão endemoninhados ou debaixo de amarras espirituais”. Outro problema, acrescenta o bispo malasiano, “é que os cristãos ocidentais frequentemente falham em acomodar as manifestações sobrenaturais do Espírito Santo e sua estrutura teológica”. Para Hwa Yung, “a reforma do século 21 buscará reinserir o sobrenatural no coração do cristianismo [e] isso vai resultar não apenas numa teologia bíblica mais saudável, mas também numa igreja missional mais poderosa”. Pastor assembleiano receia que a maior denominação evangélica brasileira deixe de ser Assembleia de Deus e se torne Assembleia dos Homens Pode ser que o pastor assembleiano e professor universitário Nelson Gervoni, membro do Movimento Evangélico Progressista (MEP), em Campinas, SP, esteja exagerando. Porém, algo do que ele diz cheira à verdade. Para Nelson, a Assembleia de Deus perdeu sua característica de comunidade simples e tornou-se uma das denominações mais ricas do Brasil. Em geral, os pastores-presidentes regionais e distritais recebem um salário muito alto, enquanto os pastores simples das periferias experimentam provações e apuros financeiros. Outra coisa que preocupa o professor de Campinas é a hereditariedade do poder nas esferas regionais. Via de regra, não poucos líderes são substituídos pelos filhos. Nelson calcula que esse problema, juntamente com a centralização econômica e a falta de transparência financeira, “são próprios das instituições contaminadas pelo abuso de poder, pela ganância, pelo nepotismo etc.”. Trata-se “de um quadro muito comum nas esferas da política partidária”. E, como um abismo chama outro abismo (Sl 42.7), por
meio de sua atuação político-partidária, o casamento entre a Igreja e o Estado tornase responsável pelo apodrecimento da fé. Segundo Nelson Gervoni, seu avô já dizia que, “quando a Assembleia era de Deus, isso não acontecia”. Tais coisas só acontecem quando os homens se juntam e tomam de Deus a Assembleia de Deus! Apesar de tudo, Nelson não é pessimista: “Não chego a afirmar que a Assembleia não é de Deus, pois ainda há um povo caminhante que serve a Deus com sinceridade e aguarda a volta de seu Redentor”. Pastor presbiteriano renovado denuncia a desordem pentecostal Sérgio Dário C. Silva, do Seminário Presbiteriano Renovado de Anápolis, GO, denuncia a falta de seriedade no trato do sagrado: “Hoje é comum vermos ministros e líderes eclesiásticos lidando com o sagrado de forma irresponsável. Alguns usam o seu ofício para extorquir os fiéis, manipular as pessoas e ameaçá-las em nome de Deus. Há pregadores que profanam a mensagem do santo evangelho de Cristo, adequando-o aos seus interesses corruptos, visando à autopromoção. Pastores que usam a fé dos simples irmãos para escravizá-los, pois estão apenas preocupados em saqueá-los e despojálos para manter seus gastos pessoais. Ministros que transgridem as leis divinas e induzem outros a fazer o mesmo. Líderes que brincam com o espiritual, com os dons e com as Escrituras, que forçam a Bíblia a dizer aquilo que eles querem. Pastores que ignoram princípios éticomorais básicos, essenciais e indispensáveis à prática ministerial, manipulam os liderados e estão dispostos a negociar tudo, desde que alcancem seus alvos egocêntricos”. Sérgio termina o seu discurso com um daqueles gritos reformadores: “Que Deus tenha misericórdia dos ministros do século 21!”. Fontes • Expositor Cristão (9/2010) • O Batista Mineiro (9/2010) • Jornal Igreja Nova (4-7/2010) • Aleluia (9/2010) • Cristianismo Hoje (9/2010) • Mensageiro Luterano (10/2010) • Adital (10/2010) Janeiro-Fevereiro, 2011
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David Allen Bledsoe
Especial
Marcelo Gerpe
A preocupa neopentec
o caso da Igreja Universal d
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o chegar à cidade mineira de Ouro Preto, iniciei uma conversa com o gerente de um hotel próximo à igreja onde eu esperava por um amigo pastor. Ao descobrir que eu era pastor, o gerente me disse, com entusiasmo, que também era evangélico e fora batizado naquele dia. Perguntei a qual igreja pertencia e ele me contou que era da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Depois de cumprimentá-lo pelo batismo, perguntei ao meu “novo amigo evangélico” se ele tinha certeza de estar andando na graça de Deus e se estaria com o Senhor quando morresse. Ele respondeu rapidamente: “Oh, como eu gostaria de saber isso!”. Infelizmente, esse diálogo aconteceu várias vezes em minhas conversas com evangélicos, especialmente neopentecostais. Geralmente, o neopentecostalismo é caracterizado por alguns elementos: a proeminência da teologia da prosperidade, uma ênfase extremada na guerra espiritual, a liberalização dos usos e costumes e a redução dos laços fraternais entre os
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membros da congregação. Dos 17,6 milhões de evangélicos autodeclarados no censo de 2000, quase sete em cada dez são pentecostais. No entanto, é difícil determinar o número exato de neopentecostais, pois o pentecostalismo de “terceira onda” é um movimento e não se encontra agrupado em apenas uma denominação. Alguns estimam que os adeptos representem mais de 42% da população pentecostal em geral. No entanto, a porcentagem pode ser mais elevada, pois seus ensinamentos e práticas fluem para outras igrejas pentecostais, bem como para igrejas históricas. Após desconfiar que a maior parte dos seguidores e líderes neopentecostais compreendia pouco da mensagem evangélica de salvação (conforme revelada nas Escrituras e confirmada pelos reformadores), fiquei profundamente perturbado. Tal situação me motivou a estudar a IURD, a mais conhecida denominação neopentecostal. Desde seu início, em 1977, ela avançou para mais de 2,1 milhões de fiéis no Brasil. Sem dúvida, a influência numérica aumenta quando
se incluem os milhões de visitantes das quase 5 mil igrejas afiliadas e os que acompanham seus programas de rádio e televisão. Além disso, seus líderes declaram ter espalhado sua presença em 172 países — mais do que os alcançados pelo McDonald’s. Por essa razão, o sociólogo Paul Freston acredita que a IURD possivelmente seja a maior exportação cristã vinda de um país do terceiro mundo. Minhas leituras do bispo Edir Macedo e as leituras de outros estudiosos confirmaram as preocupações com a IURD e outros segmentos neopentecostais. O pastor Luiz Sayão, por exemplo, observou um considerável abismo entre o que a IURD e denominações similares ensinam e o que a maioria consideraria evangélico. Observei também que a liderança da IURD promove um sistema religioso que aprisiona seus participantes em uma cosmovisão animista não-redimida e narcisista, o que é claramente proibido pelas Escrituras. Ainda mais preocupante é o fato de a mensagem da salvação eterna ser não apenas negligenciada, mas também
ação com o costalismo
do Reino de Deus totalmente distorcida. As obras e os rituais organizacionais prescritos são misturados à determinação de uma pessoa quanto à salvação. Portanto, é compreensível que a maioria na IURD deixe de mencionar o nome de Jesus ao expressar a razão de sua salvação. Tal omissão revela um dilema evangélico grave, pois como uma pessoa pode ser salva sem ao menos fazer menção a Jesus? Durante a pesquisa, me perguntei: “Existe alguém realmente salvo na IURD?”. Minha conclusão é: se existe, não é por causa da igreja, mas apesar dela. A proliferação de tais grupos sob a bandeira evangélica tem contribuído para o que chamo de uma crise soteriológica no Brasil, imunizando muitos contra o evangelho, embora pensem ser crentes. Mesmo assim, muitos líderes evangélicos falham em excluí-los do campo evangélico. Nesse ponto, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) tem sido um exemplo de como acessar, discernir e advertir, de maneira pastoral, seus membros. Em 2007, o Supremo Concílio produziu uma edição
revisada de sua avaliação sobre a IURD e pontuou como as igrejas deveriam responder a ela e a grupos similares. Na lista consta que as igrejas afiliadas devem explicar cuidadosamente o evangelho aos ex-participantes da IURD e rebatizálos antes de recebê-los como membros. Além disso, os membros e pastores da
Devemos verbalizar com sabedoria para a sociedade brasileira o que queremos dizer ao nos declararmos evangélicos
IPB devem evitar a participação em eventos organizados pela IURD ou com a colaboração de seus líderes. À luz de tais observações, como nós, crentes e igrejas evangélicas, deveríamos responder biblicamente à IURD e a grupos similares? Primeiro, seguindo o
exemplo de nosso Senhor (Mt 9.36), devemos mostrar compaixão e interesse pelas pessoas enganadas que estão sob sua influência. Segundo, como líderes, devemos constantemente lembrar os membros o que está envolvido na mensagem do evangelho e da fé salvífica, bem como mostrar o que está fora do cristianismo bíblico (1Co 15.1-19; Gl 1, 2). Terceiro, devemos verbalizar com sabedoria para a sociedade brasileira o que queremos dizer ao nos declararmos evangélicos. Quarto, seguindo o exemplo dos apóstolos, devemos denunciar os falsos profetas entre nós; Jesus foi compassivo com os enganados, mas duro como os enganadores. Finalmente, devemos orar e buscar oportunidades para compartilhar, pacientemente, com as pessoas que estão sob influência desses grupos a fim de que elas vejam a graça e a salvação do Senhor por meio do evangelho de Jesus Cristo. David Allen Bledsoe é missionário batista da International Mission Board em Belo Horizonte e coordenador do projeto e parcerias teológicas no Brasil para o Southeastern Baptist Theological Seminary. Este artigo é um resumo de sua tese de doutorado na Universidade da África do Sul, em Pretória (2010). Janeiro-Fevereiro, 2011
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P ONTO
FINAL
Rubem Amorese
Anelos 2011
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Asif Akbar
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m 1989 fui a Lausanne 2, em Manila, Filipinas. los, de acordo com o que estivesse ao nosso alcance. Voltei comprometido: falando e escrevendo Juntos, buscaríamos crescer na comunhão e no sobre “missão integral”. Já em 2010, não estive compromisso eclesiástico: na disponibilidade para as em Lausanne 3, na África do Sul. Encerra-se assim meu necessidades dos irmãos, na presença, na constância, compromisso “formal” com o movimento. Porém, na fidelidade, na paciência, no altruísmo e no serviço não com a missão da igreja. É assim que, sob essa ótica anônimo. “congressualmente alienada”, faço meus votos para Juntos, buscaríamos uma diligência evangelística 2011. Na verdade não são votos, e sim pedidos. Talvez movida pelo amor e não apenas por um “ide”; diligência apenas anelos. Talvez apenas o desejo de querer. Eis essa que rompe fronteiras, que fala, que exorta, que minha singela ousadia. sofre, que chama, que abre a Bíblia e Em 2011, gostaria de receber que testemunha. três “irmãos de confissão”; irmãos Juntos, certamente encontraríamos que me ouvissem e de quem eu uma nova alegria no evangelho; um também pudesse ouvir o coração. novo cântico, um novo compromisso, Talvez uma tímida Pediria mais: doze pessoas que uma nova sensibilidade para o mover vontade, nas quisessem trilhar comigo o caminho do Espírito de Deus. Um novo com o qual passo a sonhar, a seguir. fôlego de afeições e confiança, em mãos de Deus, Juntos, buscaríamos a leitura Cristo, que leva à adoração, à ousadia seja suficiente devocional, o conhecimento espiritual, ao dispêndio de tempo apaixonado, a obediência amorosa e na presença de Deus, à fé bíblica, à a proclamação destemida da Palavra confissão de pecados, à misericórdia, de Deus. ao perdão sacrificial, à superação de Juntos, nos estimularíamos limitações pessoais e relacionais. à oração, entendida como relacionamento íntimo e Juntos, buscaríamos com avidez aprender sobre as amoroso com o “Pai-Nosso”. múltiplas dimensões da nossa missão na “Jerusalém” em Juntos, nos abriríamos aos dons espirituais; aqueles que vivemos. carismas e manifestações do Espírito que nos habilitam E então, com aqueles que o Pai nos acrescentasse, para sua obra (os ministérios) e os ofereceríamos à igreja, buscaríamos crescer em maturidade, com fé e humildade. em obediência e anonimato (e gozaríamos da felicidade Com singela alegria e gratidão, suportaríamos com de ver o nosso cálice transbordar). paciência as tribulações, sabendo que tal experiência, ao Juntos, escolheríamos a Deus como o centro de final, produzirá em nós boa esperança. nossa devoção. Nas decisões, nos planos, nos negócios, Estarei sonhando demais? Quero mesmo tudo isso? na família, nos ministérios e no andar juntos. Já não De uma coisa estou certo: gostaria de querer. Talvez essa pensaríamos tanto em nós mesmos, mas nele e em seu tímida vontade, nas mãos de Deus, seja suficiente. reino; e diríamos, com um fervor renovado: “faça-se a tua vontade”. Juntos, buscaríamos mais sensibilidade ética; mais Rubem Amorese é consultor legislativo no Senado Federal e presbítero na Igreja capacidade de perceber o erro e a injustiça, fossem Presbiteriana do Planalto, em Brasília. É autor de, entre outros, Louvor, Adoração e Liturgia e Fábrica de Missionários — nem leigos, nem santos. ruben@amorese.com.br acidentais, pessoais ou estruturais, e de lutar para repará-
AnĂşncio
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