MADÁ

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Edição 01 • Distribuição Gratuita • www.revistamada.com.br



Uma nova Madá, a Madá de sempre!

EXPEDIENTE COORDENAÇÃO, DESIGN E PROJETO GRÁFICO

Tassiana Souza Érica Araújo Naara Muniz André Guedes Pedro Gabriel IMPRESSÃO

InPrima Soluções Gráficas ltda. Distribuição Gratuita www.revistamada.com.br

Essa é a Revista Madá! De cara nova, mas com a essência da nossa querida Vila Madalena de sempre. Com uma nova roupagem, que inclui não só a parte gráfica mas também as novas escolhas editoriais, a Madá trará uma Vila Madalena muito mais plural, cheia de cores, formatos, estilos, rotinas e rostos que mostram ainda mais essa ilha de diversidade que é este espaço. E o nosso mote nessa edição é esse: diversidade! Imagine se os mais de 7 bilhões de habitantes do planeta fossem iguais. Não teria graça, não é mesmo? A diversidade é uma das maiores riquezas do ser humano no planeta e a existência de indivíduos diferentes numa cidade, num país, com suas diferentes culturas, etnias e gerações fazem com que o mundo se torne mais completo. Em tempos como os que estamos vivendo, é de grande importância nos pautarmos nessa luta pela promoção do respeito à todos. Contamos com você e com todos para seguirmos nesse caminho. E ai? Embarca com a gente nesse novo formato? Vamos juntos desbravar a nossa Vila Madalena!!!


Sumário |

N° 1 JUNHO 2019

Cultura e Arte

Comunidade

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BECO DO BATMAN GANHA JARDIM DE CHUVA

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FAKE NEWS SECULAR?

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Ô DE CASA

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ARMAZÉM DA CIDADE

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FLORES NO CIMENTO

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Atração turística na Vila há mais de 30 anos. Conheça a história do lugar.

Lenda sobre nome do bairro e dia de fundação causam divergências.

Casa hostel recebe prêmio pela boa prestação de serviço.

Um galpão multicultural em uma pequena rua na Vila Madalena.

Projeto insere arranjos em espaços públicos sem cor.

ARTE DE RUA: O INCRÍVEL BECO DO BATMAN

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GALERIA A7MA

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MUSEU DA PESSOA

Grupo de amigos moravam juntos em atêlier e resolveram criar uma galeria que apoia artistas de grafitti e arte urbana.

Museu localizado na Vila eterniza histórias de vida, um importante acervo do patrimônio imaterial cultural e histórico do Brasil.


Capa

3o

INSTITUTO CHÃO Novas formas de relação, um espaço de convivência, um espaço para todos. Este é o Instituto Chão, uma associação sem fins lucrativos que prevê o desenvolvimento sustentável, que trabalha com economia solidária e formas de liberdade.

Gastronomia

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CAFÉS E ESPAÇOS DE COWORKING PARA FAZER O TRABALHO RENDER

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10 BARES DA VILA

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BANANA VERDE

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MATEBA CULTURA

Listamos os melhores bares e restaurantes da região para você conhecer.

Restaurante ovolactovegetariano com consumo consciente recebe selo de sustentabilidade pelo engajamento gourmet saudável.

Restaurante traz o conceito de consumo consciente e voltado para a terra.

Estilo

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O VALOR DAS CORES DA ESTILISTA FLAVIA ARANHA

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SLOW FASHION NA VILA MADALENA

BLOG DA VILA

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As transformações, seus moradores e as peculiaridades da Vila por Leonardo Morales Raposo.


Comunidade

BECO DO BATMAN RECEBE JARDIM DE CHUVA Estrutura ajuda a reter a รกgua da chuva e evitar transbordamentos. Texto: Ananda Apple Fotos: Jennifer Evaristo

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O

Beco do Batman recebeu um jardim de chuva para ajudar a evitar enchentes em uma ação do Projeto Verdejando, da Globo. O lugar conhecido pelos grafites também tem o problema de todo o solo estar impermeabilizado há muitos anos mesmo tendo um córrego passando bem abaixo. É comum em dias de muita chuva, principalmente no verão, de o Beco do Batman alagar. Alunos da Escola Estadual Godofredo Furtado fizeram um projeto e com a autorização da Prefeitura foi feito o jardim de chuva com plantas ornamentais. Um jardim de chuva ajuda a captar a água que volta para os rios. Na Vila Olímpia, dois jardins de chuva ocupam há seis meses espaço para dois carros na Rua Fiandeiras. Ele aproveita a água que cai da chuva como a que corre pela calçada. Isso diminui a velocidade e o volume junto à calçada. O autor do projeto, Nik Sabey, já fez 19 jardins de chuva pela cidade. “A gente consegue sorver muita água que cai na cidade com os jardins de chuva.” Na Vila Jataí, Zona Oeste, a água que corria para a parte baixa de uma rua era problema. Até que o plantio de árvores nas duas rotatórias que eram de asfalto ajudaram a reduzir o problema. A água passa por uma abertura e em vez de correr direto penetra na terra graças a uma bacia de preservação.

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VEJA COMO FUNCIONA UM JARDIM DE CHUVA

COMO FUNCIONA: A água acumulada é gradualmente infiltrada no solo.

BENEFÍCIOS: Alivia o sistema de drenagem urbana convencional e filtra a água na terra, que chega limpa aos lençóis e rios.

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VOCÊ SABE COMO É FEITO UM JARDIM DE CHUVA?

1. Muro de contensão 2. Pedrisco pequeno 3. Pedrisco médio 4. Muro Impermeabilizado 5. Bidin 6. Pedrisco pequeno 7. Dreno Perfurado 8. Extravasor 9. Terra

JARDINS DE CHUVA EM SÃO PAULO

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A Rua Fradique Coutinho (Foto: Eduardo José Afonso)

FAKE NEWS SECULAR? 10

Lenda sobre nome do bairro e dia de fundação causam divergências na Vila Madalena. Texto: Naief Haddad


N

o século 19, um fazendeiro português era dono de uma quantidade enorme de terras localizadas entre a região central de São Paulo e o rio Pinheiros. Esse homem tinha três filhas, Madalena, Beatriz e Ida, a quem distribuiu as suas propriedades. As áreas pertencentes às três moças deram origem a pequenos bairros vizinhos na zona oeste da cidade, posteriormente batizados com os nomes delas. É uma história simpática, que se popularizou entre os moradores e comerciantes da Vila Madalena. Pena que não seja verdadeira, assegura o historiador e professor Eduard José Afonso, da Unesp. “Isso é conversa para boi dormir. As pesquisas que tenho feito não demonstram nada”, diz Afonso, enfático. Dono de um acervo com cerca de 3.000 fotos da formação do bairro, Afonso estuda a história da Vila Madalena desde os anos 1980. A principal hipótese dele para o surgimento do nome do bairro está ligada a uma capela com imagens de Santa Maria Madalena. Nos anos 1950, o santuário deu lugar à igreja de Santa Maria Madalena e São Miguel Arcanjo, de pé ainda hoje na rua Girassol. Afonso critica o lançamento de uma cerveja chamada Três Fidalgas, que faz referência às filhas do fazendeiro. A bebida da Ambev chegou ao mercado há cerca de um ano, com venda restrita aos bares da região. “Como falamos no rótulo, [a

história das três irmãs] é um relato oral, que faz parte do boca a boca no bairro”, afirma Lucas Cunha, gerente de marketing da Ambev, sobre a observação do historiador. De fato, antigos moradores gostam de contar o causo do fazendeiro e de suas três filhas. É o caso de Rosa Landi, a dona Rosinha, que vive na Vila Madalena desde que nasceu, há 72 anos. “Queríamos, acima de tudo, homenagear um dos bairros mais boêmios do Brasil”, diz o gerente da Ambev.

"Como falamos no rótulo, [a história das três irmãs] é um relato oral, que faz parte do boca a boca no bairro"

FUNDAÇÃO No último mês de agosto, a Savima (Sociedade de Amigos da Vila Madalena), com apoio de patrocinadores, promoveu uma festa para celebrar os supostos 124 anos de fundação do bairro. A data tida como referência pela entidade é 17 de agosto de 1893. “É uma invenção esdrúxula. O que aconteceu nesse dia?”, diz Afonso, que deixa a pergunta no ar. “Se essa data fizesse sentido, nós teríamos o nome

do fundador, o que não existe. O jesuíta José de Anchieta, por exemplo, fundou o bairro de Pinheiros em 1.565, e isso está documentado.” O historiador ainda desconfia que essa data tenha surgido como uma jogada de marketing em meio à ascensão dos bares da região, a partir da década de 1980. “Para atrair os consumidores, é preciso ter um discurso sobre um bairro com história e suas raízes.” Para ele, essas “invenções esdrúxulas” representam desrespeito às pessoas que, de fato, deram vida à região, como os imigrantes portugueses de baixa renda, que levaram o bairro a crescer a partir dos anos 1920. Na sede da Savima, na rua Fradique Coutinho, ainda há banners de divulgação da festa dos 124 anos, que teve shows e food trucks.O publicitário Cassio Calazans, presidente da entidade, afirma que essas comemorações sempre deixarão um “legado positivo” para o bairro. Neste ano, houve uma reforma na paróquia do bairro, a Santa Maria Madalena. Sobre a controversa da data de fundação, ele diz que é resultado de uma pesquisa da sua equipe e foi encontrada nos “anais”, sem mais detalhes. “Se o historiador tem uma outra versão, peça a ele para nos provar que mudaremos a data da fundação”, afirma. Por ora, a festa que celebra os 125 anos do bairro da Vila Madalena está confirmada para celebrar em agosto de 2019.

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HOSTEL HOSTEL NA NA VILA VILA MADALENA MADALENA ÉÉ ELEITO ELEITO OO MELHOR MELHOR DO DO BRASIL BRASIL Texto: Diego Bonel

O Ô De Casa Hostel venceu o Hoscars, premiação anual do site Hostelworld

Ô

R. Inácio Pereira da Rocha, 385 Vila Madalena São Paulo – SP – Brasil +55 11 3063-5216 info@odecasahostel.com

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De Casa Hostel, localizando na Vila Madalena, em São Paulo, foi premiado como o melhor hostel do Brasil na categoria “por países”, segundo o site Hostelworld. A plataforma, uma das principais agências de turismo online do mundo, anunciou nesta segunda-feira (21) sua lista anual de melhores hostels, em diversas categorias, nos mais de 170 países que a empresa baseada na Irlanda atua. O Hoscars, acrônimo em inglês para Hostelworld Customer Annual Ratings, se baseia em mais de 1,2 milhão de avaliações deixadas por viajantes que reservaram suas camas pela plataforma. No registro de suas experiências, eles indicaram a qualidade das acomodações, a localização, o atendimento da equipe e limpeza, por exemplo. A premiação será entregue durante a Hostelworld Conference, realizada nos dias 29 e 30 de janeiro, em Dublin, e terá o pessoal do Ô De Casa Hostel representando a hostelaria brasileira. “A experiência de hostel é totalmente diferente do que é

encontrado na hotelaria convencional, tornaWndo o valor da nossa experiência difícil de ser mensurado. Por isso, estamos muito felizes com essas duas conquistas que chegaram nesse começo de ano”, comemora Marina Moretti, sócia do hostel que há dois anos já ocupava a posição de líder na cidade de São Paulo e, no início de janeiro, alcançou o disputado primeiro lugar na categoria “hotéis especializados” do portal TripAdvisor. Sabemos que a tecnologia, principalmente com as redes sociais, mudou completamente a forma como consumimos. A busca normalmente começa pelo preço, mas passa obrigatoriamente pela leitura detalhada da opinião de outros internautas. “Em 12 anos de hostel a coisa mudou completamente. Hoje, precisamos ter uma relação muito mais próxima com o hóspede, uma preocupação sobre o que acontece da porta para fora, depois do checkout, que não tínhamos antes”, conta. O resultado da premiação do Hostelworld e a chegada no topo do ranking do TripAdvisor,


segundo sócia do hostel, foram frutos de um planejamento que começou em 2017. Eles traçaram uma estratégia de naquele ano chegar ao topo da lista da plataforma em São Paulo e, no ano seguinte, atingir o primeiro lugar no TripAdvisor. A empresária não se dá por satisfeita e agora, em 2019, estão focados em chegar ao topo da lista da Booking.com, completando o que ela chama de “tríplice coroa”.

Converter boas experiências em avaliações positivas As avaliações têm cada vez mais peso no momento de decisão de compra principalmente na hora de planejar uma viagem e escolher onde se hospedar. Falando de hostels, um universo não muito conhecido pela grande maioria dos turistas brasileiros, elas se tornam primordial para que o futuro hóspede saiba o estilo e o clima do local onde está reservando sua cama. Façamos um exercício. Quantas das vezes que você comprou algo ou contratou algum serviço, e tudo saiu como planejado, gastou cinco minutinhos para deixar uma boa avaliação em algum perfil social do estabelecimento? Poucas, né? Mas puxe na memória os momentos em que você teve uma péssima experiência. Antes mesmo de sair do local já foi nas redes sociais e deixou sua opinião para que todos pudessem evitar ter a mesma

experiência ruim que você teve. Acertei? “A gente sempre leva o pessoal para passeios perto do hostel, indica as melhores opções da cidade, recebe todo hóspede com uma caipirinha de boas vindas e faz um verdadeiro trabalho de curadoria da cidade para que ele tenha a melhor experiência”, revela ela que começou a ver esses diferenciais, a partir do momento que foram trabalhados como valores, sendo apontados nas avaliações que o hostel recebia. As avaliações ajudam também, na experiência de Marina, a definir o próprio hostel. No caso do Ô De Casa os próprios hóspedes começaram a incentivar que fossem feitas festas, já que o hostel tem um bar, e registravam isso nas suas ava-

liações online, o que fazia com que mais hóspedes que procuravam uma hospedagem mais animada reservassem suas camas no hostel. Nós já escrevemos aqui no Brasil Hostel News sobre a importância de se dedicar a avaliar o hostel que você se hospedar de maneira honesta e principalmente, enquanto estiver pesquisando um para se hospedar, filtrar muito bem o tom das avaliações. Dá uma navegada no nosso conteúdo que você encontrará também dicas de como escolher o hostel que mais de encaixa no seu perfil, além de termos revelado o segredo de como conseguir descontos na hora de fazer sua reserva.

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ARMAZÉM DA CIDADE Um galpão multicultural em uma pequena rua na Vila Madalena. Texto: Grupo ocupação

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Armazém da Cidade, idealizado pelo jornalista Gilberto Dimenstein, também criador do Catraca Livre, começou a ser colocado em prática no final de dezembro de 2014 através dos projetos pilotos. Neste início, de acordo com a administradora de duas das lojas (Classificados e Vitrine), Jéssica Mendes, 22 anos, a ideia tinha o propósito de ocupar o espaço público apresentando novos talentos e promover temas, como moda nacional, sustentabilidade e gastronomia, de uma forma diferente. “Afinal é tudo sempre muito industrializado e os preços dos merca-

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dos são abusivos, então tentamos focar na relação direta do produtor com o consumidor”, afirma Jéssica. Com o apoio de Dimenstein, os organizadores Rafael Guandalini e Marcel Viganô foram atrás de novos produtores, pequenos estilistas e pessoas com ideias inovadoras e sustentáveis, que, agora, têm a oportunidade de apresentar seus produtos no Armazém em stands, ambientado em um Galpão – com uma decoração colorida e atrativa tanto para adultos quanto para crianças – na Vila Madalena (Rua Medeiros de Albuquerque, 270). Mas, além do galpão, es-

tabelecimento privado, a rua também é utilizada pelo projeto para reproduzir cultura: “Percebemos que a população quer ocupar alguns espaços em São Paulo e, por isso, resolvemos promover shows de jazz e chorinho na rua. Food trucks também para que os transeuntes possam aproveitar ainda mais”, explica Jéssica. A administradora também fala sobre a aceitação do público: “O galpão e a rua estavam abandonados e, a partir do momento que começamos a fazer shows culturais, contratar estabelecimentos de culinária e proporcionar um parklet – bancos de madeira em partes da


ARTE EO ATI VIS MO NAS RUAS

calçada que são cobertas por grama estética – para as pessoas ficarem à vontade, o projeto teve aceitação de 100%”. Ela completa, animada: “Por essas condições, todo final de semana vem um grupo de amigos, uma “super” galera querendo curtir o dia, querendo aproveitar um domingo de Sol, uma tarde de sábado ouvindo música e comendo algo. Observamos que a pessoa entra no galpão para comprar algo para consumir em casa e, por ficar tão confortável, acaba consumindo aqui mesmo, curtindo o show na rua”. Para Jéssica, a tendência é

o Armazém ser ampliado para outros Estados, pois, segundo ela, o modelo de negócio funciona tanto na parte comercial quanto na institucional: “Os próximos passos é levá-lo para outras regiões e ocupar espaços que estão abandonados, assim como o Galpão estava”. Caso essas expectativas se concretizem, muitas outras pessoas terão a chance de curtir um dia com parentes e amigos em ruas com belas expressões culturais e saborosas degustações, ocupando de fato o espaço em que vivem e não apenas passando por ele, sem reparar em suas finalidades e benefícios.

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FLORES no CIMENTO

Projeto insere arranjos em espaços públicos sem cor.

A ideia de Diego é que a intervenção demore muito tempo e propõe que os moradores da rua cuidem das flores.

J

á imaginou se cada arranjo de flores dado de presente para alguém fosse usado para transformar as ruas em locais mais coloridos e agradáveis? Foi com esse intuito que Diego Lahóz iniciou neste mês o projeto “Flores no cimento”: em vez de dar um presente, a pessoa encomenda um arranjo a ser instalado em algum espaço abandonado e sem cor, como muros ou postes. A experiência teve início no dia dos namorados, 12 de junho, com flores pelo centro de São Paulo e na Vila Madalena – em especial em uma pequena rua do bairro (Rua Medeiros de Albuquerque), batizada de “a rua do amor”. Os arranjos foram feitos usando materiais reciclados, junto do nome de quem se

quer lembrar e frases com declarações de amor. A ideia de Diego é que a intervenção demore muito tempo e propõe que os moradores da rua cuidem das flores. Ele já vinha fazendo esses pequenos gestos em ruas da Vila Madalena há alguns anos, mas decidiu aumentar sua atuação neste ano para o dia dos namorados. Os pedidos para quem quiser participar custam entorno de R$ 20,00 e é só entrar em contato pelo e-mail floresnocimentosp@gmail.com. Nessa fawe inicial, serão feitas apenas intervenções na região central da cidade de São Paulo, mas pode ser expandido dependendo da aprovação do projeto, e da aceitação e participação dos moradores em contribuição da manutenção do projeto.

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Cultura e Arte

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Texto: Alessandra Fratus, Thiago Kuin e Deyse Rodrigues

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eco do Batman, tradicional endereço do graffiti em São Paulo, fica escondido entre as vielas da Vila Madalena, mais precisamente nas ruas Gonçalo Afonso e Medeiros de Albuquerque, e é o paraíso para os amantes de arte de rua. O passeio é especialmente interessante para quem gosta do estilo artístico e para os amantes de fotografia. Os ângulos são infinitos e as paredes um deleite para quem gosta de se aventurar nos clicks. Os graffitis não se restringem apenas a essa rua e seguem por toda a região. Fique atento a todos os muros, neles podem estar nascendo um novo grande nome da arte brasileira.

Atualmente, os graffitis são renovados constantemente por grafiteiros e a comunidade ajuda a conservar as paredes que são disputadíssimas pelos artistas. Febre entre turistas e moradores de São Paulo, o Beco tornou-se um ponto turístico obrigatório para os amantes das artes urbanas. A cada visita, uma nova pintura é encontrada no local, o que faz que o visitante retorne mais de uma vez para apreciar e fotografar as obras dos artistas.

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A História do Beco do Batman

Ilustração: @magentaking

Referência para a arte urbana e o graffiti paulistano há mais de 30 anos. Reza a lenda que nos anos 80 um desenho do Batman apareceu da noite pro dia em uma das paredes do beco. A partir daí, o nome pegou e o Beco do Batman, como passou a ser conhecido, se tornou tela para artistas pioneiros na arte urbana em São Paulo, como Alex Vallauri e depois o Grupo Tupinãodá. O Beco é um dos lugares mais fotogênicos e coloridos de SP que atrai os amantes de grafite e arte de rua. O lugar, que antigamente era abandonado, largado, passou por uma imensa transformação com a presença dos artistas e as paredes cheias de arte e hoje em dia tem status de atração turística.

São Paulo e o graffiti O graffiti é um patrimônio da cidade de São Paulo. Não é à toa que São Paulo é considerada uma das capitais do mundo de arte de rua. No Beco do Batman, as paredes são disputadíssimas e os artistas têm um código de honra entre si: quando alguém quer pintar por cima de um graffiti antigo, tem que conversar com o dono do trabalho e mesmo sem existir uma curadoria oficial, as coisas por aqui estão funcionando! Se organizar direitinho, todo mundo pinta, né?!

O movimento de transformação das cidades pela arte de rua é algo global. Muitas cidades como Nova York e Londres tiveram bairros inteiros transformados pela arte de rua, como é o caso de Wynwood, em Miami.

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São Paulo é berço e tela de grandes artistas urbanos. E conhecê-los é mais importante ainda. Quer tirar uma foto usando um dos murais no Beco do Batman como fundo, ótimo, vai fundo, mas pelo menos leia mais e conheça o artista responsável por aquela arte. É dando valor e crédito a estes artistas incríveis, que a gente vai conseguindo estimular cada vez mais a arte. Aproveite que São Paulo é a melhor cidade brasileira para conhecer mais sobre graffiti, pixação, lambe-lambe, stickers e outras formas de arte que colorem e dão significado à cidade e vá pra rua.


Onde fica? O Beco do Batman fica entre as ruas Gonçalo Afonso e Medeiros de Albuquerque.

Fotografe, fotografe e fotografe Devido a fugacidade da arte de rua, a única forma de preservar cada arte é registrando, por isso quando estiver no Beco do Batman tire muitas fotos, imortalize os graffitis em fotos, mesmo que um dia ele não estiver mais lá, aquela foto vai existir pra provar sua estética, mostrar sua beleza e ser uma lembrança viva da criação dos artistas.

Essa inconstância é o que faz cada visita ao Beco do Batman ser diferente, antigos graffitis se vão para novos surgirem, mas não pense que é chegar lá e fazer um graffiti em cima do outro, existe toda uma política entre os artistas para que um novo graffiti seja feito, quando ele está desgastado é verificado com o autor da obra a necessidade de restauração ou a possibilidade de uma nova obra ser pintada. Pode acontecer de um muro ser pintado de cinza da noite pro dia no Beco do Batman? Pode! A maioria dos muros são casas de moradores que cederam o espaço, mas entre os artistas a política é nunca pintar sobre a arte do outro sem autorização, as paredes do Beco do Batman são disputadas e têm toda uma curadoria para novos graffitis e nunca uma parede fica muito tempo sem cor. Então, quando for fazer aquele passeio pelo Beco não se esqueça de fotografar as artes.

Quando ir? Geralmente fica lotado nos finais de semana, mas você também vai encontrar bastante movimento lá de segunda a sexta. Cada dia mais famoso, é comum ver uma quantidade enorme de turistas passeando por lá. Como chegar? Houve um tempo que era permitido passar pelo Beco de carro. Felizmente, a prefeitura resolveu interromper o trânsito de carros pelo Beco do Batman, permitindo a circulação de pessoas por aqui sem preocupações. De carro Você pode dirigir até uma das duas entradas do Beco e depois caminhar observando os graffitis. Como não dá para passar com o carro, você vai precisar estacionar nas redondezas, uma tarefa meio chata para quem não conhece muito bem a região. Procure por estacionamentos na rua Harmonia. Metrô A estação Fradique Coutinho da linha amarela é a estação de metrô mais perto do Beco do Batman (1.5 km). A estação Vila Madalena, linha verde do metrô, fica a 1.7 km de distância.

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Texto: Catraca Livre Fotos: Daia Oliver e Marcus Vinicíus “O Vine”

Eles moravam juntos em um atêlier; hoje, têm uma galeria que apoia artistas de grafitti e arte urbana. 24


A

7MA é uma galeria voltada para a arte urbana na Vila Madelena. Ela foi criada pela sociedade de cinco artistas, Tché Ruggi, Enivo, Jerry Batista do Coletivo 132 e os irmãos Alexandre e Cristiano Enokawa da FullHouse, empresa de serigrafia manual. A história da A7MA começou quando o Coletivo 132 foi criado, de acordo com Jamile Santos, gerente da galeria. O Coletivo surgiu numa casa na rua Nilo, 132, na Vila Mariana há mais ou menos sete anos. Nessa casa atelier vários artistas moravam juntos e, por isso, o local “tinha muita agitação cultural”, conta Jamile. Entretanto, com a especulação imobiliária na região, a casa em que o Coletivo começou foi demolida para a construção de prédios. Com isso, os artistas fizeram uma ocupação no lugar, se manifestaram pela destruição em forma de celebração e chamaram esse ato de In – Cômodo. A partir dai os artistas alugaram outra casa, mas, segundo Jamile, precisavam de mais espaço para expor o trabalho deles.

“O graffiti começou a ser reconhecido há pouco tempo”, relata a gerente. Dessa forma, na época os artistas bateram na porta de várias galerias e receberam nãos e disso surgiu à ideia de criar uma galeria própria, a A7MA. Jamile diz que como os sócios têm paredes no Beco do Batman resolveram fixar o coletivo ali mesmo, de frente para ele.

Enivo; um dos principais artistas da casa.

ARTISTAS DA CASA “Temos mais de trinta artistas na casa”, revela Jamile. Todos esses artistas estão de algum modo envolvidos com o Coletivo 132 e com a arte urbana, o graffiti e a parede. Por exemplo, Vovó Nena Madalena é avó de Enivo e sofreu dois AVCs, perdendo a maior parte dos movimentos de seu corpo. Segundo a gerente, o artista incentivou sua avó a pintar como uma forma de terapia. Hoje, as obras dela estão expostas na A7MA. Os artistas que tem parceria com a galeria não são exclusivos dela. Os três sócios Tché Ruggi, Enivo e Jerry Batista sim. Já as gravuras produzidas pelos irmãos Enokawa são expostas em outros lugares e suas réplicas comercializadas na galeria.

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" “A gravuras têm um preço mais acessível do que as obras, mas possuem valor de arte”, afirma Jamile. O valor de arte seria a valorização comercial da obra, da gravura. A gerente aponta o exemplo de uma das gravuras de Rafael Sliks, um dos artistas da casa. Há dois anos as reproduções das gravuras dele valiam R$ 500, agora, com sold out (todas as reproduções vendidas) delas o preço está em torno de R$ 1500. Além de artistas brasileiros, a A7MA já exibiu a obra de artis-

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O grafitti começou a ser reconhecido há pouco tempo.

tas internacionais, com a argentina Zumi, que já é sócia da galeria, o italiano Etnik e o artista chileno Daniel Marceli.

REUTILIZAÇÃO DE MATERIAIS “Eu vejo muito a reutilização de materiais nas obras”, descreve Jamile. Ela cita a obra de Jerry Batista produzida com base em carteiras escolares que seriam incineradas, mas se transformaram em objetos de arte quando o artista pintou sobre elas.

"

Da mesma forma, outros artistas que já tiveram espaço na casa trabalham com materiais que seriam considerados lixo, como Arnaldo Pandolfo que trabalha com lonas de caminhão e Etinick, com madeira de demolição e outros materiais.

PRÁTICA ILEGAL De acordo com Jamile, o estilo dos artistas difere bastante quando o graffiti é passado aos quadros. Bem como os materiais utilizados, o spray é trocado pela tinta a óleo ou acrílica.


Faça a leitura do QR CODE e veja o vídeo com mais informações sobre a história da Galeria A7MA e suas exposições.

“Na rua é ilegal, eles não têm tempo, tem que ser uma coisa mais rápida, menos pensada”, diz a gerente. Para ela, essa ilegalidade é uma das razões que resulta na diferença da arte dos grafiteiros nas paredes e nas telas. Contudo, Jamile afirma que o estilo de alguns deles não difere em nada quando aplicado.

AMOSTRAS As exposições da galeria são mensais. A atual é a Atman, por Enivo. “Ele é um artista bem inquieto, ele tem diversas facetas”, conta Jamile. Segundo ela, o artista está sempre buscando novas formas, fazendo coisas diferentes, mudando seu estilo

e pintando na rua desde os 12 anos, quando conheceu o grafiteiro Jerry Batista pelas ruas de SP. Essa é a primeira amostra de Enivo na galeria e retrata o alcance do âmago, do fundo, a necessidade de se despir das máscaras, sair da bidimensionalidade, o alcance do além da tela, de acordo com a gerente. Esse trabalho é feito por meio da sobreposição de telas e o corte delas, com tesoura, estilete e fogo. A exposição também conta com textos que descrevem o artista, sua história ou uma obra especifica segundo Jamile. Toda primeira terça-feira do mês às 20h acontece o Sarau do Burro na A7MA. Outros eventos acontecem para promover as exposições e estão ligados ao que o artista daquela ocasião gosta, segundo Jamile, se ele é mais reservado ou não.

GALERIA A7MA Endereço: Rua Harmonia, 95, Vila Madalena, São Paulo – SP Telefone: (11) 2361-7876 Horário de Funcionamento: Segunda a Sábado, das 12h às 19h. Site: www.a7ma.art.br contato@a7ma.art.br

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MUSEU DA PESSOA Preservando histórias de vida de toda e qualquer pessoa da sociedade. Texto: InfoArtSP

Museu da Pessoa é um museu virtual e de cunho colaborativo fundado em São Paulo, em 1991. Desde sua origem, tem como objetivo registrar, preservar e transformar em informação, histórias de vida de toda e qualquer pessoa da sociedade. Nosso acervo conta atualmente com mais de 16 mil depoimentos em áudio, vídeo e texto e cerca de 72 mil fotos e documentos digitalizados. Em 22 anos de história, o Museu da Pessoa inspirou a construção de três museus fora do Brasil (Portugal, Canadá e Estados Unidos) e liderou campanhas internacionais para a valorização de histórias de vida. É um acervo que revela, de forma humana e pessoal, a diversidade de experiências e visões de brasileiros e brasileiras. Trata-se de um legado diferenciado da história do país. Ao

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longo de sua trajetória, o Museu da Pessoa também realizou cerca de 250 projetos de memória, nas áreas de Memória Institucional, Educação, Desenvolvimento Comunitário e Cultura. O Museu da Pessoa constrói e renova seu acervo diariamente através de algumas vertentes de produção de conteúdo:

As histórias podem ser registradas em estúdio - gravadas em vídeo e coletadas por entrevistadores especializados na metodologia de história de vida -, gravadas pelo estúdio itinerante Museu que Anda, por meio da Conte a Sua História, do portal do Museu da Pessoa e através de projetos temáticos.

MEMÓRIA INSTITUCIONAL

HISTÓRIAS DE INTERNAUTAS

Projetos com empresas estatais e privadas através de patrocínio direto, Lei Rouanet e Proac. A história de uma organização deve, e pode, se transformar em instrumento de preservação de saberes acumulados, resgates de valores, da identidade e de reconhecimento da importância de todos aqueles que a construíram com sua memória.

PARCERIAS E CONVÊNIOS

Parcerias e convênios com instituições e organizações com o objetivo de auxiliar as instituições a resgatarem suas memórias ligadas a uma causa social. Para isso, o Museu doa alguns dias do seu estúdio aberto para a captação das histórias de vida e acredita que todos tem uma história para contar, e que isso é importante para a construção de uma memória, contribuindo assim, para sua total democratização para a sociedade.

CONTE SUA HISTÓRIA

O Museu da Pessoa recebe semanalmente em sua sede pessoas interessadas em gravar um depoimento contando a sua história de vida.

Uma das principais ações do Museu da Pessoa é a participação colaborativa dos internautas que podem enviar sua história de vida ou de alguém que ele conheça, como familiares, amigos e etc., diretamente pelo próprio portal do Museu.

COLEÇÕES

O Portal do Museu da Pessoa também se utiliza do formato de coleções para organizar e segmentar seu acervo online. Através dos projetos e parcerias realizadas, e também de temas recorrentes nas histórias enviadas, são criadas coleções temáticas que destacam esse conteúdo do Museu da Pessoa.

PRODUÇÃO E CURADORIA

No Museu da Pessoa, além de visitante, toda pessoa pode também tornar-se parte do acervo ao registrar a história da sua vida, assim como também ser um curador, na medida em que pode criar suas próprias coleções de histórias, imagens, áudios e vídeos.

EDUCATIVO E TECNOLOGIA SOCIAL DA MEMÓRIA

Convênios e intercâmbios com universidades e organizações da sociedade civil garantem que os materiais coletados em suas pesquisas contribuam para a democratização da memória. Garantem também que sua metodologia, a Tecnologia Social da Memória, seja utilizada hoje por professores e alunos do ensino fundamental, comunidades e instituições, permitindo que cada pessoa e grupo torne-se um autor da história de sua própria comunidade. O Museu da Pessoa acredita que valorizar a diversidade cultural e a história de cada pessoa como patrimônio da humanidade é contribuir para a construção de uma cultura de paz.

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Capa

Todos querem conhecer o Instituto ~ Chao O que faz: Experimenta comércio sem fins lucrativos Sócio(s): Thiago Guardia, Fabio Mendes, Vladimir Paternostro, Luiz Fernando Schreiner, Vitor Mortara, Agatha Fernandes e Carolina Morelli Funcionários: apenas os 7 sócios Sede: São Paulo Início das atividades: maio de 2015 Investimento inicial: R$ 355.430 Faturamento: R$ 134.000 (no primeiro mês de operação) Contato: contato@institutochao.org e (11) 3530-0907

Quer pagar quanto? No Instituto Chão, é quase isso!


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^ orgaNiCos PElo PrEco do Produtor

VENdidos sEm o luCro da loja


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naugurado no final de maio, o Instituto Chão vende produtos orgânicos e artesanais pelo preço do produtor. Mas é muito mais que isso. Eles são uma experiência socioeconômica: querem, entre outras coisas, provar que é possível eliminar do preço final os custos do ponto de venda. Para esclarecer o público desse funcionamento, o orçamento completo é exposto em um quadro negro, sobre o caixa, que também diz: “Nossa única fonte de financiamento são os frequentadores desse espaço”. Os sócios apostam que, dessa forma, seus custos operacionais serão cobertos por contribuições espontâneas de quem apoiar a proposta da casa. O resultado é um café onde o expresso sai por 1,50 real e a torrada integral custa 80 centavos, ou 1,60 real, se você quiser doce de leite para acompanhar. O valor do café cobrado na esquina, no coração do descolado bairro da Vila Madalena, em São Paulo, é 300% mais caro. No hortifruti do Chão, o quilo da banana está menos de três reais e um brócolis inteiro sai por quatro, quatro e cinquenta. Eles também oferecem uma série de geleias, molhos, queijos e outros alimentícios artesanais na mercearia, além de bebidas, mudas de árvores frutíferas, plantas ornamentais e objetos de cerâmica. O preço chamou a atenção da região e a demanda cresceu rápido. Tão rápido que, se você quiser pe-

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Eles têm uma rede de fornecedores orgânicos, ou artesanais, preferindo sempre os que praticam comércio solidário.

gar a feira de orgânicos, precisa chegar lá antes do meio dia para garantir. O espaço fica aberto de quarta a sábado das 10 horas às 20 horas, na rua Harmonia, número 123. A preocupação política está na raiz da iniciativa, iniciada pelos amigos de infância Thiago Guardia e Fabio Mendes, ambos com 30 anos. Thiago estudou Marketing e Fabio, Filosofia. Os dois trabalhavam juntos em uma clínica de saúde mental, onde desenvolveram durante alguns meses a ideia de transformá-la em uma associação sem fins lucrativos, mudando seu foco do business da doença para a promoção da saúde. Seguiram até o momento em que ficou claro que a diretoria não toparia aquelas propostas. Foi quando decidiram criar um caminho próprio, onde pudessem testar hipóte-

ses mais solidárias e menos focadas em lucro. Logo no começo, essa ideia também agregou os amigos Vladimir Paternostro, engenheiro ambiental de 30 anos, e Carolina Morelli, 35, formada em Psicologia. Durante o amadurecimento da ideia mais três amigos se juntaram: Luiz Fernando Schreiner, 31, formado em Engenharia Metalúrgica; Vitor Mortara, 28, com diploma em Letras; e Agatha Fernandes, 28, Ciências Sociais.

ELES QUERIAM FAZER ALGO HORIZONTAL, SOLIDÁRIO. FALTAVA ACHAR O RAMO Já tinham uma proposta de formato — sabiam que seria algo horizontal e sem fins lucrativos — só precisaram entender o quê exatamente iriam fazer. Chegaram a pensar numa em-


presa de gestão de resíduos, reciclagem, depois surgiu a ideia de lidar com plantas ornamentais, que todos gostaram. Porém, ao pesquisarem melhor o cenário, entenderam que a demanda maior mesmo é por alimentação. Encontraram um setor onde os pequenos produtores são historicamente mal remunerados. Os grandes varejistas trabalham com padronização de formato e cor dos vegetais, qualquer variação vira descarte. Também pagam pouco e geralmente em consignação, o que sobra é responsabilidade do agricultor buscar e dar conta das perdas. “Muitas vezes o cara se sente tão explorado que não quer esse acordo”, relata Thiago. Os sete sócios encontraram essa demanda e começaram a planejar o que seria o negócio. De cara,

tiveram que trabalhar para resolver alguns entraves, como Thiago conta:

A principal questão é viabilizar um ponto de distribuição onde os produtores não sejam totalmente esmagados pelo poder de barganha dos grandes compradores. Montaram, então, uma rede de fornecedores com parceiros de produção artesanal ou orgânica, preferindo sempre aqueles com arranjos sem exploração de mão de obra. Nesta busca, enquanto formavam rede e conceito, encontraram a casa onde estão alocados hoje. O imóvel é propriedade do pai de Vladimir, um arquiteto que reformou o espaço e concedeu um período de carência ao grupo: seis meses sem pagar aluguel. Conta como investimento

Tudo que está nas prateleiras do Instituto Chão é vendido pelo preço do fornecedor. O cliente é convidado a pagar algo a mais — se quiser, se puder.

inicial, recurso colocado em troca de ver as tais novas relações socioeconômicas serem testadas.

QUANDO O EXCESSO DE SUCESSO É UM PROBLEMA Com poucos dias de portas abertas, uma matéria no portal Terra lhes deu visibilidade e logo depois a cobertura do Catraca Livre catapultaria o Chão para os círculos de consumo consciente da Vila Madalena. A demanda explodiu e eles se afogaram no meio da logística de abastecimento, como Thiago conta:

Foi um erro não esperarmos tanta gente. Com a correria, nossa proposta política foi ficando para escanteio em nome de girar a mercearia, abastecer a feira e atender as pessoas bem. O excesso de sucesso, às vezes, é um problema. Eles, então, perceberam que ou davam um passo atrás, ou precisariam entrar na lógica de produzir para uma demanda sempre crescente, fazendo o Chão girar como empresa comum (algo que, por princípios, eles não querem). Decidiram segurar, reduzir os dias abertos do espaço. A terça-feira ficou reservada para receber produtores, mídia e outros parceiros, além de abastecer os estoques e colocar a casa em ordem. Foi neste dia que eu, repórter do Draft com um laptop

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Às terças, o espaço fica fechado mas é dia de trabalho para os sócios. Todo mundo faz um muito de tudo, pois não há outros funcionários.

embaixo do braço, os encontrei por ali. Thiago assumiu a tarefa de responder minhas perguntas. Os outros corriam ao redor, abastecendo prateleiras e tudo o mais necessário para organizar a semana que estava começando. Fábio, atento, deixou contribuições à conversa enquanto descarregava produtos, suas aspas logo mais neste

texto foram proferidas com alguns quilos de vegetais frescos nas costas. Durante a conversa, Pedro Carlos Pugliese Ribeiro, que planta na cidade de Cotia, encostou seu carro e começou a descarregar caixas de brócolis, repolho, couve e outras hortaliças. Pedro é simpático e tem aperto de mão forte. Sentou para conversar e começou a contar sobre seu processo produtivo, a difícil certificação orgânica e de como não vende para grandes redes: “Não vale a pena”. Seus clientes são alguns restaurantes na Vila Madalena e o Instituto Chão, apenas. O Chão costurou contatos como esse e hoje já conta com cerca de 50 fornecedores, muitos deles assentamentos rurais e cooperativas de agricultura familiar. Outro dia, receberam um representante da Pullman, querendo colocar alguns pães da marca nas prateleiras do espaço, o que negaram. “Esse cara pode chegar com o preço que for, para a gente não faz sentido”, conta Fabio. “Preferimos ter esse pão mais caro e que a gente sabe como foi produzido, que veio de um pequeno empreendimento que respeita o meio ambiente.” Por enquanto, o Instituto trabalha com os seguintes panificadores: Empório Vida, Monama, Três Barras, Pão do Céu e logo vão começar com a Poliana.

MAS… COMO ASSIM NÃO COBRAR NADA ALÉM DO CUSTO?


Esta questão, que é definidora do espaço, é sedutora e um tantinho complexa. O quadro negro acima do caixa diz: “Tudo que é vendido ou servido aqui é repassado diretamente pelo preço de compra. Nossa única fonte de financiamento são os frequentadores do nosso espaço”. Gastos como transporte e impostos estão esclarecidos em cada produto. Praticam essa transparência radical para conscientizar o público sobre a proposta do espaço. No mesmo quadro, concluem e explicam que, para cada real vendido é necessário arrecadar 35 centavos para conseguir fechar as contas. Com uma abordagem sutil, convidam o público a contribuir. Há duas maneiras: fazendo uma doação livre (que pode ser acrescida ao preço final na hora de pagar a compra) ou tornando-se um aliado do Instituto, por meio de uma contribuição fixa de 60 reais por mês. A ideia é que, no futuro, os aliados formem um tipo de conselho consultivo ampliado, com espaço para debater os rumos e influenciar decisões do Instituto, inclusive no reinvestimento do capital que, em outro modelo, seria absorvido como lucro do proprietário. Em seu primeiro mês de atividade, ou melhor, em seus primeiros dezessete dias de portas abertas, conseguiram 104 aliados e muitas outras contribuições individuais, totalizando cerca de 22 000 reais via doação. Ainda é pouco perto

dos quase 44 000 necessários para fechar o mês, mas ótimo para o começo da operação. Thiago entende que eles passam por um processo de compreensão: “Como foge muito da lógica habitual, precisamos de um tempo para o público entender. Mas estamos bem e acreditamos que nos dois próximos meses a gente já consiga chegar bem perto de cobrir os custos”.

O mesmo quadro expõe todos os gastos da associação, a saber: Recursos Humanos, 28 000 reais; aluguel + IPTU, período de carência, impostos sobre doações, 1 566 reais; água, luz, telefone e internet, 2 350 reais; contabilidade, segurança e terceiros, 2 200 reais; comunicação, embalagens e TI, 2 100 reais; compra de equipamentos, 1 000 reais; material de higiene e limpeza, 600 reais; tarifas bancárias e cartão, 2 062 reais; frete de produtos, 2 000 reais; perdas 1 400 reais. Total: 43 278 reais.

Cinco dos sete associados do Instituto Chão: Luiz Fernando Schreiner, Thiago Gardia, Carol Morelli, Vitor Mortara e

Nos mesmos dezessete dias de operação, eles venderam 112 000 reais em produtos. Este é o faturamento total do espaço, até 30 de junho. O investimento inicial para abrir as portas do Instituto Chão foi de 355 mil reais (valor que cobre a reforma do espaço, compra de equipamentos, móveis e utensílios, consultoria jurídica e capital de giro). Para honrá-lo, os sócios amealharam 40 mil reais em uma campanha de financiamento coletivo, 83 430 reais de investimento (pessoal) dos associados e 230 mil reais de apoio para a reforma. A conta fechou em cima.

A UTOPIA DE UM COLETIVO, HORIZONTAL E (AINDA) SEM SALÁRIO O fato de um café custar 1,50 reflete-se em outro: os sete sócios ainda não receberam qualquer retorno financeiro pe-

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Tudo que está nas prateleiras do Instituto Chão é vendido pelo preço do fornecedor. O cliente é convidado a pagar algo a mais — se quiser, se puder.

la iniciativa. Eles projetam um salário de 4 000 reais para cada um, e imaginam que este modelo seja sustentável no médio prazo mas que, agora, é o momento de investimento pessoal de cada um. O grupo não tem problemas em admitir que está perseguindo uma utopia. Estão experimentando um modelo novo, potencialmente disrupti-

vo, ainda sem saber onde pode dar, como diz Thiago:

Claro que a utopia não é possível todo dia, mas é uma perspectiva. Sobre o processo decisório, entendem que a proposta horizontal exige trabalho diário e sabem que quanto maior o


Chão for, mais difícil será se organizarem desta forma. “Mas isso é das coisas mais importantes do projeto, se for pra crescer de outro jeito preferimos não fazer”, afirma Thiago. Toda segunda-feira, realizam uma reunião de avaliação e definição de rumos. Não há hierarquia, ninguém é chefe de ninguém e todos têm o mesmo poder

de decisão. Trabalham na busca pelo consenso, mas com um limite saudável de gasto de energia. Se necessário, votam. A divisão de tarefas começou a se delinear, mas não se estabeleceu, ainda estão entendendo como cada um lida com as diferentes tarefas. Essa flexibilidade se reflete também na compreensão da vida pessoal dos sócios, com suas limitações e potências. Por exemplo, Fabio e Carol têm uma filhinha pequena, então não conseguem estar ali tanto quanto outros, mas o grupo entende que isso é normal e que é seu papel considerar também as demandas pessoais de cada um. “Se a gente começar a engessar a estrutura, a cobrar horário, voltamos à lógica da exploração”, diz Thiago. Neste dia Fabio estava lá, organizando produtos na estante até as 22h. Carol, não. Pergunto a Thiago, então, como estão trabalhando sem receber. “Várias vezes eu me questionei, ‘quase não tenho mais um real no banco, quanto tempo a gente aguenta até isso virar?’’’. Eles têm um plano B na manga. Se a coisa realmente apertar, podem passar a praticar dois preços: um para aliados e outro para o público em geral, mas sabem que isso mataria o conceito e preferem deixar o plano B bem guardado na gaveta. Thiago fala a respeito:

Queremos muito que dê certo nesse formato. Vai, e se der medo, vai com medo mesmo

Provoco um pouco mais: e se cobrassem só um pouquinho, 10%, não estariam mais tranquilos? Não. Eles querem testar o conceito até o limite. Esta é apenas a primeira iniciativa da associação Instituto Chão, que, para além do hortifruti bacana no coração da Vila Madalena, pretende seguir experimentando novos arranjos socioeconômicos. “Realmente acredito que não conseguiremos falar em democracia enquanto a máquina política for regida por um poder econômico centralizador e autoritário. A questão econômica é o grande nó a ser desatado. Liberdade é em sociedade, liberdade individual só vem na morte. Considero que quanto mais livre o outro for, mais eu serei. Isso é a essência do nosso trabalho aqui”, afirma Thiago, com os pés bem firmes no chão.

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Gastronomia

CAFÉS E ESPAÇOS DE COWORKING PARA FAZER O TRABALHO RENDER Espaços criativos para beber um bom café enquanto trabalha desfrutando de um bom sinal de internet. Texto: Brunella Nunes

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om o trabalho remoto cada vez mais ganhando novos adeptos, especialmente entre os profissionais criativos, eis que brotam cafés e espaços de coworking em São Paulo na mesma frequência. Algumas delas incluem até um conceito inovador importado da Rússia: paga-se não pelo o que se consome, mas sim pelo tempo em que se ocupa o lugar. Assim,

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as ideias fluem melhor, o networking é praticamente garantido e a fome passa longe do expediente. O consumo da bebida milenar no país traz números que revelam o tamanho do gosto do brasileiro. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), o mercado de cafés especiais deve triplicar até 2019, gerando uma receita de

R$ 20 bilhões. Inúmeras pesquisas revelam ainda os benefícios de uma boa xícara de café. Um estudo recente divulgado pelo periódico Frontiers in Psychology mostra que o café pode até mesmo melhorar a memória quando consumido na hora certa. O pesquisador Lee Ryan notou que pessoas mais velhas são afetadas positivamente quando o consome


durante a tarde, afastando o cansaço vespertino. Já a pós-doutoranda da Universidade de Boston, Stephanie Sherman, conduziu um grupo de voluntários entre 18 a 21 anos para investigar as consequências de consumo da cafeína na parte da manhã, quando essa faixa etária apresenta maior indisposição. Ao consumir café logo cedo, trouxeram alguns resultados: além de se sentirem mais despertos, tiveram também avanços e melhoras na memória. Ou seja, a bebida pode realmente ser benéfica para quem trabalha, especialmente, com criatividade, que exige não só raciocínio, mas também um frescor e uma inspiração nem sempre disponível ao longo dos dias, mas que é necessária.

Numa cidade onde a labuta é praticamente o ar que se respira, é melhor buscar por escritórios alternativos o quanto antes para não afetar sua saúde.

O café pode até mesmo melhorar a memória quando consumido na hora certa.

Então vamos ao o que interessa e falar sobre algumas opções de coworkigs menos caretas e de coffee offices bem interessantes, com cafés especiais e com bom sinal de Wi-Fi disponível para quem deseja fugir das tão conhecidas franquias, para estudar, passar o tempo ou até mesmo trabalhar.

No trecho que liga Pinheiros com Vila Madalena há tantas opções que fica difícil escolher qual frequentar. O Coffee Lab, de Isabela Raposeiras, que é expert no assunto, serve alguns dos melhores grãos da cidade, mas é mais indicado para quem passa poucas horas fora de casa ou está na correria do dia a dia de apenas checar alguns e-mails e fazer leituras rápidas. O expediente completo do dia pode acontecer no famoso Lemni, um espaço onde o cliente não paga pelo o que consome e sim pelas horas em que se ocupa a mesa. Além é claro de servir bebidas e comidinhas, ainda dispõe de uma cozinha coletiva para quem preferir preparar a sua própria comida, enquanto está trablhando ou estudando por lá.

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A Vila Madalena é um berço boêmio de São Paulo. O bairro, localizado na Zona Oeste da capital, abriga diversos bares, casas noturnas e restaurantes. A lista de opções é variada e agrada todos os bolsos e gostos.

Resgatando o conceito conceito do do bar barclássico clássicopaulistapaulistano, no, o Boteco Bento é referência não pelo o Boteco SãoSão Bento é referência não sósó pelo estilo boteco-chique e clima de de paquera, queque é marca estilo boteco-chique e clima paquera, é registrada, como pelo chope tirado sistemarca registrada, como pelo bem chope bempelo tirado ma exclusivo criado pelos sócios. pelo sistema exclusivo criado pelos sócios.

O na Vila Vila Madalena Madalena O bar bar localizado localizado na éé também de jazz jazz ee blues, blues, também um um clube clube de com uma boa carta de vinhos amcom uma boa carta de vinhos ee ambiente intimista. biente intimista.

Astor éé uma uma ótima opção pra OO Astor quem curte curte um um bar, bar, mas não abre quem mão do do conforto. conforto. A A decoração remão meteaa década década de de 1950 1950 e o balcão mete traz uma uma longa longa peça peça de mármore traz trazidada daFiladélfia. Filadélfia. trazida

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O Morrison é o bar para os amantes do rock. Por O Morrison é o bar para os amantes do rock. Por covers de diversas bandas clássicas do gênero covers de diversas bandas clássicas do gênero sempre se apresentam. Nos dois andares do Morrisempre se apresentam. Nos dois andares do Morson, o fã de rock pode curtir uma pista de dança ou rison, o fã de rock pode curtir uma pista de dança mesas para ficar tranquilo. ou mesas para ficar tranquilo.

No boêmiobairro bairroda daVila Vila MadaleNo boêmio Madalena, na, o São Cristovão o nome de o São Cristovão temtem o nome de um um carioca é um autêntico timetime carioca e é eum autêntico bar bar indicado os amantes de indicado parapara os amantes de futefutebol. O São Cristovão agrada bol. O São Cristovão agrada aos fãs aos fãs de do futebol mix de & futebol & botedo mix boteco. A deco. A decoração da casaao remete ao coração da casa remete passado passado áureo do esporte, estamáureo do esporte, estampando nas pando paredes fotoscomo de craparedesnas fotos de craques Peques como Pelé, Zico, Garrincha e lé, Zico, Garrincha e outros. outros.

O bar Salve Jorge foi inaugurado Oem bar Salve Jorge foi inaugurado setembro de 2004, com a proem setembro de 2004, com a proposta de homenagear todos os posta de que homenagear os homens vivem sobtodos a alcunha homens que dois vivem sob afamosos alcunhae de “Jorge”, deles de “Jorge”, dois deles famosos e frequentadores assíduos da casa, frequentadores da casa, Jorge Ben Jor eassíduos Seu Jorge. Jorge Ben Jor e Seu Jorge.

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Mistura de bar e balada na boêmia Vila Madalena, o bar Vila Seu Justino tem mesa de sinuca, um lounge, música para todos os gostos e até um jardim. Inaugurado em agosto de 2012, o Vila Seu Justino é um mix de bar e balada localizado na região da Vila Madalena. Dividido em espaço para sinuca, lounge e mesas ao ar livre, a decoração relembra um sitio. A discotecagem é totalemente eclética.

Localizado em uma esquina da Vila Madalena, o Alto da Harmonia oferece uma bela vista da badalada região de São Paulo. Localizado em um imóvel de três andares, o bar possui uma simpática varanda logo na entrada. Porém, é a cobertura da casa que faz grande sucesso: toda ao ar livre, ela oferece uma vista panorâmica do famoso bairro paulistano.

O bar Genial, tem clima intimista, com móveis de madeira e azulejos em preto e branco, e atrai o público que procura pelo espaço ideal para a happy hour. 44


O Piratininga é um tradicional boteco chique da Vila Madalena, onde casais, famílias e jovens relaxam ao som de MPB, piano e violão. A luz baixa e a música leve deixam um bom ambiente pra conversar e namorar.

Inspirado nos botequins cariocas, o Posto 6 faz parte dos botecos chiques da região da Vila Madalena. A comida e a cerveja são de primeira e a casa é muito bem frequentada.

O Boteco Todos os Santos é um dos mais famosos bares de São Paulo. Como diferencial, o estabelecimento abre de terça a domingo com música ao vivo, cerveja gelada, pratos e petiscos tradicionais de boteco, além de bar, estende-se pela madrugada como balada.

O Bar do Sacha divide sua fama com três responsáveis: o chope geladíssimo, as porções generosas e uma happy hour lotada onde a paquera rola solta.

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Selo dá upgrade de sustentabilidade a restaurante Clientela atenta, preocupação com o ambiente e promessa de economia impulsionam mudança Texto: Mara Gama Foto: divulgação Banana Verde

É

o segundo restaurante a conseguir o selo em São Paulo. O primeiro foi o Badebec, dentro do hotel Clarion, em janeiro de 2018. Para obter o CSR, o restaurante se submete a um diagnóstico e um processo educativo, com reuniões e metas. Ele tem de atender a 28 critérios, que vão do abastecimento, com atenção às compras e fornecedores, ao descarte, uso de energia e de água, passando pela elaboração do cardápio, comunicação com os clientes, engajamento em campanhas pela diminuição do desperdício e bem-estar da equipe de colaboradores. O selo pode ser adotado em hotéis, escolas, hospitais e indústrias e é baseado em cinco pilares: alimento, saúde, ética sócioambiental, bem-estar da equipe e arte e cultura. São três etapas: inicial, equivalente ao atingimento de 50% do 28

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critérios; padrão, com 75% a 85% dos critérios; e excelência, de 85% a 100% dos quesitos. Criado por Ana Rita Cohen, o CSR é o único selo que une cozinha de alimentos saudáveis e empresa responsável, com boas práticas que regulam desde os ingredientes até o tratamento com as equipes de colaboradores. Segundo ela, o programa gera economia em menos de um ano de aplicação. Em primeiro lugar, porque faz um diagnóstico de como se gasta e no que se gasta, o que já gera corte de desperdício. Em segundo, porque usa o que não foi passível de corte para compostagem e com isso gera um outro recurso que pode ser usado em horta. Em terceiro, porque reestrutura a política de compras, com o fortalecimento de vínculos com uma rede de fornecedores locais. “Vejo muito


gerente de compras que acha o máximo estocar. Isso não é nada sustentável. No programa, indicamos que o melhor é comprar com consciência, para os cardápios específicos, e sempre que possível direto dos fornecedores, para não pagar pela logística.” A economia também aparece, segundo Ana Rita, na atenção ao uso de equipamentos como freezers e ar-condicionado, e no incentivo ao uso de água filtrada em vez de água engarrafada. “Quanto mais profunda por a conscientização da equipe, maior é a economia”, diz. Para implantar o programa, o valor inicial é de R$ 17 mil, num processo que dura seis meses. Para a manutenção do selo, os preços variam de acordo com a capacidade de servir do restaurante começando com R$ 2,5 anuais para os que servem até 150 refeições, até os R$ 6 mil para os que servem 5 mil. “Alimentação vegetariana envolve meio ambiente e saúde. Como cada um tem uma função numa cozinha, muitas vezes os processos passam despercebidos. Ter alguém acompanhando as mudanças torna as coisas mais fáceis”, diz Cecília Lume de Carvalho, 23, nutricionista que acompanhou todo o processo de certificação do Banana Verde. “Acho que o selo aponta uma tendência. Ter uma cozinha mais responsável é muito bem-visto pelos clientes”, diz Cecília. Segundo a nutricionista, entre os ganhos com o processo do selo no Banana Verde estão o combate ao desperdício. O restaurante também passou a doar o excedente de comida já preparada aos seus colaboradores, em marmitas no final do expediente, diariamente. Aos funcionários também está sendo oferecida uma cesta de orgânicos, com

preços mais em conta. Também estão sendo melhor aproveitados nas preparações os talos de folhas, em sopas e saladas. O início da vermicompostagem - compostagem com minhocas - também reduziu as sobras e gera fertilizante para a horta. Atualmente estão sendo compostados de 3kg a 4 kg por dia. Outros resultados foram o aumento do uso de orgânicos e de produtos de produtores locais e a preferência pelas compras a granel, com economia de custos que evita embalagens desnecessárias. Canudos de plástico, que já foram abandonados, foram substituídos por biodegradáveis, que são oferecidos apenas em situações especiais, para crianças ou alguém que tenha alguma dificuldade. Para melhorar a pontuação, o restaurante já está em processo de substituição de suas embalagens de entrega por reutilizáveis. Talheres de plásticos, potes e bandejas serão substituídos por itens confeccionados com amido de milho. “Acho que não existe um fim para o processo. Vamos seguir”, diz Cecília.

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Mateba Cultura da Terra traz o contato com a terra Texto: Gerson Azevedo Foto: Panorama da Aquicultura

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Mateba Cultura da Terra traz o conceito de consumo consciente e voltado para a terra. Técnicas de aquaponia que permite a qualquer um ter sua horta urbana em casa entre outras novidades. O casal e sócios Ian Guedes e Paula Zomignani criaram a Mateba (o nome foi inventado por eles) para resgatar “o contato com a terra e aproximar produtores artesanais com o público consumidor que na Vila Madalena está crescendo bem”, informa Paula que também é dona da Integra Consciência Corporal, também sediada na Vila Madalena. “Temos um sítio em São Luiz do Paraitinga e lá plantamos e criamos um pouco de tudo. Este contato com a terra nos levou a criar a Mateba e oferecer além de produtos, serviços e soluções para agricultura urbana e também comida boa e saudável”, explica Ian Guedes que é formado em hotelaria na Suíça e já teve outros negócios aqui na região além de ser morador deste a infância. A Mateba Cultura da Terra funciona em sistema soft-opening a partir do dia 18 de março. “Neste período estaremos afinando nosso atendimento e passando aos clientes nosso conceito”, informa Ian. Os produtos que a Mateba terá serão, segundo Paula, “na maioria fornecidos por produtores artesanais que conhecemos pessoalmente. Queijos, doces, geleias, grãos, cervejas e outros itens que vamos agregar aos poucos”. Além do empório com venda direta ao consu-

midor os empresários informam que terão um café e cardápio com sanduíches, pratos leves e saudáveis no almoço e também brunch. Ter uma horta dentro de casa parece ser difícil, não é mesmo? Ian e Paula querem quebrar esse paradigma através de técnicas e equipamentos que permitem à maioria das pessoas, principalmente às que moram em apartamento ter seus temperos, vegetais e flores. “Teremos equipamentos que estão sendo importados voltados para esse público”, garantem. Além de equipamentos, a Mateba está formatando cursos, workshops e encontros de profissionais com pessoas interessadas em temas como cozinha, jardinagem, hortas urbanas, produtos e por aí vai. Avisam que a Mateba será um local voltado para eventos particulares e oferecerá toda a estrutura de serviço. A aquaponia é um dos atrativos na Mateba. O sistema que ocupa boa parte de um dos muros consiste em um sistema vertical formado por tubulações de PVC e que não faz uso da terra para que as plantas cresçam e sim água. Em um pequeno lago na área externa, nadam tranquilas algumas carpas japonesas (nishikigoi) e são elas que produzem os nutrientes para as plantas em um circuito fechado que auto se alimenta. Nos dias 23 e 24 de março acontece o curso básico e comercial de aquaponia na Mateba.

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Estilo

O VALOR DAS CORES

F

olhas de indigofera fermentadas espalhadas entre cascas de romã cozidas e raízes de ruivinhas. Poderia ser um tradicional mercado municipal de uma cidade interiorana ou um sofisticado restaurante de cozinha molecular de alguma metrópole. Entretanto, é nas criações da estilista Flavia Aranha que tais ingredientes exóticos ganham vida, e não nos pratos de um chef famoso. Ao entrar na loja-ateliê de Flavia, localizada em uma casa no bairro da Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo, tem-se uma nítida impressão de leveza. Não há música alta, a iluminação é quase toda natural e os tecidos esvoaçantes das peças de roupas expostas nas araras são tingidos de cores suaves. “Quando fiz minha primeira coleção, inteira de roupas de algodão com tons de chá, algumas clientes me perguntavam se eu só tinha uma cor”, diverte-se Flavia. “Eu dizia que não, que eram dez. Estava tão envolvida no processo produtivo que não entendia como podia surgir essa dúvida, mas estamos acostumados a um pantone de

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Texto: Rony Meislert

certa forma berrante, então fazia sentido”. Podia até fazer sentido, mas não fez com que ela mudasse seu rumo. “O tingimento natural é o coração da nossa marca”, conta a estilista. É nesse processo que ela usa as flores rosas-claro da indigofera, as cascas de romã, as ruivinhas e muitas outras coisas, de pau-brasil à casca de jabuticaba. O resultado da junção entre o processo artesanal e as matérias-primas de pequenos fornecedores espalhados pelo Brasil estão nas blusas e vestidos concorridos da marca. “O que eu sempre quis foi voltar para a terra e refazer todos os elos da produção até chegar ao produto”, explica Flavia. A vontade surgiu de uma desilusão. Depois de formada na faculdade, Flavia trabalhou por cerca de 4 anos na indústria da moda. Deixou de lado sua veia criativa e artística – seu trabalho de conclusão de curso chamava-se “Mulheres que Sopram a Vida – e passou a operar com questões como custo, ranking, volume e estoque em uma grande marca de


fast fashion. “Foi legal ter uma oportunidade de conhecer como funciona aquela indústria, para o bem e para o mal”, diz Flavia. “Mas eu olhava para mim mesma, para meu trabalho, e simplesmente não me enxergava”. O momento decisivo para tal realização, conta ela, deu-se em uma viagem de trabalho que realizou para a China e a Índia. Ao deparar-se com a condição de trabalho dos empregados da indústria têxtil, decidiu que não gostaria de fazer parte daquilo. “Eu não quero negar o futuro, nem propor uma volta ao passado. Os tempos são os tempos”, diz. “Mas se a lógica da indústria for sempre a de produzir mais para vender mais, se ela não entender que sua força precisa atuar em uma mudança de sistema, nenhuma tecnologia vai nos salvar. Não é uma questão de interesse na mudança, até porque ele não existe, mas de necessidade mesmo”. Flavia o faz. Com o projeto Circular, que adota em sua loja, propõe a clientes que levem peças antigas em troca de descontos em peças novas. As roupas usadas, então, são revendidas por uma fração do preço original no site da marca. A renda gerada é utilizada em projetos socioambientais que ajudam os grupos produtivos que trabalham com a marca, localizados principalmente em regiões isoladas e com pouca

estrutura. “Todo mundo ganha. A gente estimula a consciência do consumo de quem pode comprar. Será que a pessoa precisa de mais uma roupa?”, questiona. “Dessa maneira, a gente dá acesso ao nosso produto para quem normalmente compartilha nossas ideias e valores e que não possui dinheiro para comprar uma peça nova. E ainda procuramos gerar uma independência para esses grupos produtivos. Isso gera consciência acerca dessa cadeia, e a consciência muda a maneira como você se relaciona com o que compra”, explica Flavia. Globalmente, a indústria da moda gera cerca de 3 trilhões de dólares anuais e um rastro considerável de problemas ambientais e sociais. Uma terra de gigantes em que muitos não se importam muito por onde pisam. Mas onde também habita gente como Flavia. “Essa coisa de dominar o mundo não é para mim”, brinca a estilista. “A gente tem que resistir pelas beiradas”.

“O que eu sempre quis foi voltar para a terra e refazer todos os elos da produção até chegar ao produto”

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M O DA MO SLOW FAS H I O N V

amos dar uma volta pela Vila Madalena. Suba a Rua Harmonia e veja entre os bares a loja de cosméticos Aesop, caracterizada pelo uso do tijolo brasileiro Cobogó, em um projeto feito pelos irmãos Campana. Do outro lado fica a Tiê, uma marca de moda que afirma produzir peças com “um mínimo de impacto ambiental, utilizando materiais reciclados”.

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Mais adiante, na Rua Aspicuelta, está o ateliê de Flavia Aranha, um dos principais nomes da moda sustentável no País. Ali, ela vende as coleções, com roupas de linho, lã e algodão, e promove workshops nos quais ensina técnicas de tingimento natural. Com bares famosos e longo histórico na vida boêmia, o bairro acabou virando reduto do slow fashion paulistano.

Texto: Maria Rita Alonso

Nos últimos anos, com novos prédios e a popularização de coworkings, o número de pessoas circulando pelo bairro aumentou. E isso fortaleceu o comércio local. “O bom é que tanto as lojas quanto o público que frequenta o bairro compartilham os mesmos valores em relação ao consumo consciente”, diz Karina Mota, diretora de comunicação da Básico.com.


O slow não é um conceito que vai e vem. Na moda, é um movimento sustentável, uma alternativa à produção em massa, que vem ganhando força e veio pra ficar. Foi criado em 2008 pela inglesa Kate Fletcher, consultora e professora de design sustentável do britânico Centre for Sustainable Fashion, inspirado no movimento Slow Food. 53


Blog da Vila

Fique por dentro do que acontece na Vila ECOBECO O Beco do Batman ganhou eco lógico depois que o arquiteto sustentável Rafael Loschiavo Miranda trouxe para o local o EcoBeco. Trata-se de um espaço onde as pessoas aprendem digníssimas técnicas sobre construções sustentáveis. Aos fins de semana, rola uma feirinha supersimpática com sandubas naturais e ecodrinks servidos sob o pé de manga.

PONTE Interesse próprio ou não, de vez em quando aparece um sangue-bom para facilitar a vida dos pedestres que enfrentam diariamente as íngremes e acidentadas calçadas da Vila.

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LOCAL STUDIO ART Um dos locais mais secretos no âmago do Beco do Batman, o studio/galeria é formado por artistas responsáveis por boa parte dos grafites na viela. De lá, é possível ver, além das obras, o próprio Beco de um ponto privilegiado.

CAZA ZERO A Caza Zero, loja de obras de arte e pracinha gastronômica, chegou devagar e ocupou o coração do Beco do Batman. O local foi construído com a ajuda de todos e teve como base, eventos experimentais. Hoje, tornou-se um pit stop obrigatório para os turistas/visitantes sedentos de drinques e grafites.




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