Interatividade em radiojornalismo: Uma análise sobre o site da rádio A TARDE FM (103.9)

Page 1

Faculdade Social da Bahia - FSBA Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática

Interatividade em radiojornalismo: Uma análise sobre o site da rádio A TARDE FM (103.9)1

Andreia Santana2 Faculdade Social da Bahia, Salvador, BA

RESUMO O rádio é meio interativo por excelência desde a época em que ouvintes enviavam cartas à redação ou telefonavam às emissoras para pedir uma música, conversar com o locutor nos momentos de solidão ou mesmo fazer denúncias. Com o advento da internet e das tecnologias digitais, ampliaram-se também as possibilidades de interação com o ouvinte contemporâneo, acostumado a conviver em um ambiente multimídia em que ferramentas como Messenger, chat e SMS, além de redes sociais como Orkut e Twitter, permitem novas formas de fruição. Não basta acompanhar o programa favorito, é preciso participar dele. Neste contexto, este ensaio visa analisar o grau de interatividade oferecido aos ouvintes/internautas da rádio A TARDE FM (103.9), integrante do Grupo A TARDE, de Salvador-BA, através do seu site na internet (www.atardefm.com.br). PALAVRAS-CHAVE: interatividade, radiojornalismo, convergência. Introdução: A rádio A TARDE FM (103.9) foi criada em 1981, com o nome de rádio 104 FM. Durante mais de vinte anos, manteve-se como uma das líderes de audiência no segmento que os críticos musicais costumam denominar informalmente de Música Popular Baiana3, cujas maiores expressões são o pagode e axé music. Entre o final de 2005 e meados de 2006, o grupo A TARDE – formado ainda pelo jornal A TARDE, Agência A TARDE de Notícias e portal A TARDE On Line; além de um provedor de internet – iniciou o seu processo de convergência4 multimídia e integração de redações. As equipes do jornal impresso, agência de notícias e do jornal on line passaram a dividir o mesmo espaço após reforma na estrutura física da redação, no prédio central do grupo – situado à Avenida Tancredo Neves – Salvador – BA –, e a trabalhar em coberturas jornalísticas integradas. Dentro do processo de convergência, ainda no primeiro semestre de 2006, a rádio 104 FM sofreu uma reformulação geral da sua proposta, que envolveu mudanças no perfil da programação, que passou a ser voltada para as classes A/B, quando antes era direcionada para C/D/E. Houve a criação de uma equipe responsável pelo jornalismo, também integrada às coberturas das redações impressa e on line; além de mudanças no perfil da equipe de entretenimento. Um ano depois, a 1

Trabalho apresentado na disciplina Radiojornalismo e Convergência Midiática Jornalista formada pela Faculdade de Comunicação da Bahia – Facom/UFBA, editora do portal A TARDE On Line e Pós-Graduanda em Jornalismo e Convergência Midiática da Faculdade Social da Bahia - FSBA, email: decasantana@gmail.com 3 LISBOA JR. Luis Américo, A presença da Bahia na Música Popular Brasileira, editora DPL, 2008 4 “Convergência é a integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens que antes atuavam de forma desagregada, de modo que os jornalistas elaboram conteúdos que se distribuem através de múltiplas plataformas, mediante as linguagens próprias de cada uma”. (SALAVERRÍA, GARCIA AVILÉS & MASIP, 2007) 2

1


Faculdade Social da Bahia - FSBA Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática

rádio criou a sua página na internet (www.atardefm.com.br) e em 2008, o site passou por uma reformulação, visando ampliar a oferta de conteúdo ao ouvinte/internauta. “A rádio A TARDE FM vem sempre adequando o seu perfil às mudanças de comportamento e hábitos de consumo dos ouvintes, oferecendo respostas para o mercado atingir seus públicos. Com programação musical segmentada, em menos de um ano após a mudança da sua grade, a emissora evolui sete posições no ranking das mais ouvidas nas classes A/B (Ibope EasyMedia) na Região Metropolitana de Salvador. Uma área que reúne mais de 2 milhões de ouvintes. A TARDE FM tem se mantido entre as três emissoras mais ouvidas não só pelo dial 103,9, mas também na internet, com 46 mil acessos diários de internautas que ouvem música e informação em streaming5” Este ensaio acadêmico tem a intenção de avaliar o site da rádio A TARDE FM, com base nos conceitos de jornalismo on line, interação com o usuário, convergência multimídia e rádio hipermidiática, buscando dessa forma analisar o grau de interatividade possível para o ouvinte/internauta através da navegação na página www.atardefm.com.br. Trata-se de uma primeira tentativa em analisar a interatividade redação/audiência no Grupo A TARDE como um todo. Em março deste ano, o Grupo A TARDE criou a Central de Interatividade para estreitar as relações da redação com as audiências dos seus meios integrantes. Em um primeiro momento, este ensaio utiliza conceitos acadêmicos e um estudo do site da A TARDE FM do ponto de vista do usuário atual, acostumado ao ambiente multimídia e manuseio de ferramentas como Messenger, SMS, chat, entre outras; e inserido no ambiente das comunidades virtuais como Orkut, Facebook, Twitter, Youtube, blogs e demais redes de relacionamento. Que meios de interação o site da rádio A TARDE FM oferece aos usuários contemporâneos, cada vez mais digitalizados? O ensaio presente não tem a pretensão de responder definitivamente a questão, mas apontar em que etapa do processo de participação da audiência, uma das conseqüências da própria convergência no Grupo A TARDE, encontra-se a emissora, servindo, inclusive, de base para estudos posteriores. Navegando no site da rádio A TARDE FM A interatividade, explica Salaverría (2005), pode ser classificada segundo o objeto ou o sujeito com quem o usuário estabelece diálogo. Bordewijk y Van Kaam (1986), citados por Salaverría, estabelecem quatro dimensões da interatividade, a saber: – de transmissão: própria dos modelos unidirecionais. Trata-se do tipo mais básico de interatividade e permite apenas que o usuário ative ou cancele uma emissão do meio; – de consulta: se produz em canais bidirecionais, em que o usuário, além de aceitar ou cancelar a emissão, pode eleger uma opção dentre um menu de possibilidades. O usuário controla quando e que tipo de informação lhe interessa receber. Implica uma participação mais ativa do usuário e ocorre nos serviços on-demand; – conversacional: este grau de interatividade é próprio dos canais bidimensionais e multidimensionais, em que o leitor pode tanto receber quanto emitir mensagens para outros destinatários; 5

Informações disponíveis no perfil da rádio A TARDE FM em http://www.atardefm.com.br/atardefm/radio/index.jsf. Última visita em 21/08/2009

seu

site.

Link

de

acesso:

2


Faculdade Social da Bahia - FSBA Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática

– de registro: este último grau ocorre quando o meio é capaz de registrar informações dos usuários e adaptar automaticamente, conforme esses dados e preferências, seu formato e conteúdo. É a personalização da informação, sendo que há um meio e jornalistas que fazem uma pré-seleção (gatekeeping6) das informações à disposição, para garantir a credibilidade. Conforme esta classificação, a navegação no site da rádio A TARDE FM (www.atardefm.com.br) indica que o meio atravessa as dimensões da interatividade de transmissão e consulta, com ênfase nesta segunda, e alcança, ainda de forma bastante incipiente, a dimensão conversacional. A página oferece espaço para o internauta comentar as notícias publicadas no formato texto; uma sessão peça sua música e um fale conosco, para receber e-mails com denúncias e/ou sugestões dos ouvintes/internautas. A TARDE FM também está no Twitter, com 129 seguidores (apurado em 20/08/09) e tem duas comunidades no Orkut: Radio A TARDE FM 103,9, criada pelo ouvinte Beto Fernandes Itapetinga, em 25 de abril de 2006, que tem 388 membros, enquetes e fóruns; e Na pista, criada pelo colaborador DJ Wilson para divulgação do seu programa aos sábados, na emissora. Tem 146 membros. No entanto, o site da emissora não dispõe de nenhuma ferramenta de conversação instantânea entre locutores e/ou produtores e o público, como o msn, não dispõe de enquetes e nem fomenta a discussão dos ouvintes/internautas com os locutores ou entre os próprios usuários (chats). O Twitter é usado na dimensão de consulta, pois os seguidores recebem informações sobre horários, dias e atrações em destaque nos programas, além das promoções para distribuição de brindes, mas não existe a conversação típica desta rede social. Nas comunidades do Orkut não existe a presença de nenhum profissional da rádio. Analisando o site quanto à navegabilidade, usabilidade, multimidialidade e oferta de serviços, embora a página se apresente com interface simples na home principal e com navegação auto-explicativa, é pouco interativa, não oferece download de músicas ou ringtones, não dispõe de vídeos e apenas três programas disponibilizam poadcast: Conversa Brasileira, de entrevistas com artistas e músicos; Na Pista, revival de discoteca dos anos 70 e 80 e Dicas de Carreira Profissional, com entrevistas de especialistas em Recursos Humanos e serviço de oferta de vagas no mercado. Este último produzido por uma jornalista da redação impressa, do caderno Empregos, dentro da proposta de integração das mídias e redações. No entanto, não existe arquivo dos poadcasts. O público só tem acesso aos quatro ou cinco últimos programas do mês e nem é possível baixar os áudios em formato mp3, caso o ouvinte/internauta queira colecionar o seu programa favorito ou guardar especialmente uma entrevista. O site também não dispõe de nenhuma ferramenta de busca. Quanto à produção de notícias, não há uma sessão de plantão de últimas notícias em destaque na home principal do site da rádio, que aproveite por exemplo, o conteúdo elaborado para os boletins de noticiário da emissora. São três boletins diários, além do Minuto A TARDE, mas após a veiculação do conteúdo por via sonora, ele se perde e o ouvinte/internauta interessado em acessar o conteúdo também em formato texto, enviar 6

TRÄSEL, 2005. “O gatekeeping é um conceito utilizado por David M. White para descrever o sistema de seleção de notícias em uma redação de jornal típica”.

3


Faculdade Social da Bahia - FSBA Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática

por e-mail para um conhecido ou mesmo comentar a notícia, não dispõe de serviço para atendê-lo. Para acessar notícias em formato texto, existem apenas notas sobre artistas, atrações e bastidores do mundo das celebridades da indústria fonográfica. No entanto, o conteúdo é pobre em termos de multimídia, pois não dispõe de fotos, vídeos, galerias ou áudios. Embora o áudio seja o foco principal em uma rádio, do contrário não seria rádio, como bem lembra Nair Prata, as emissoras que ampliam sua atuação para a internet, buscam incorporar a linguagem multimídia inerente ao meio, criando especiais em que as mídias dialogam entre si de forma a ampliar a experiência do ouvinte/internauta para além do som, mantendo-o fiel ao site da sua rádio favorita. Hospedado no portal A TARDE On Line, como um hotsite, a página da rádio não replica, por exemplo, matérias e reportagens de serviço, saúde, política ou economia como um complemento aos seus boletins jornalísticos sonoros. Nem utiliza o conteúdo de cultura presente no banco de dados do portal principal do Grupo, para complementar suas notas sobre músicos e intérpretes. Descarta da mesma forma, o material da Web TV A TARDE, hospedada no portal principal do grupo, mesmo quando a cobertura é integrada, como quando ocorreu a série de debates, ao vivo, no estúdio da rádio, com os candidatos a prefeito de Salvador, em 2008. O encontro foi gravado pela Web TV, mas apenas exibido no portal e não no site da rádio. Completam a página da rádio A TARDE FM na internet, uma sessão institucional, com o histórico da emissora e perfil da equipe; área de promoções com os regulamentos dos concursos promovidos pela rádio e divulgação de vencedores; área para a programação, com nomes dos programas, dias e horários e link para poadcast daqueles que são gravados (Conversa Brasileira, Na Pista e Dicas de Carreira Profissional); área de shopping – única sessão do site que tem busca a partir dos classificados on line; ranking com as cinco músicas mais pedidas da semana; e, por último, mas não menos importante, o link para ouvir a rádio 103.9 pela internet. A rádio A TARDE FM está presente na internet enquanto mais um suporte de transmissão, mas não dispõe de uma rádio reconfigurada ou criada para a internet, com características de uma rádio hipermidiática. “No computador, o rádio passou a ter, além da transmissão sonora, também textos, hipertextos, fotografias, arquivos, vídeos, desenhos, cores (...) Na internet, a radiofonia continua sendo oral e permanece o diálogo mental com o ouvinte, mas também é textual e imagética, continua a ser transmitida no tempo da vida real do usuário, mas agora tem alcance mundial e permite o acesso posterior aos conteúdos transmitidos”, (PRATA, 2008). Nair Prata defende que, para uma nova linguagem, é preciso existir um novo conceito. Citando Vivar e Arruti (2001), a especialista avalia que existe uma quebra de paradigma e uma inversão de papéis provocada pelas novas formas de interação, “como as conversações entre locutor e ouvinte pelo chat, os debates pelos fóruns, os diálogos entre ouvintes da comunidade de uma mesma emissora e a possibilidade de interferência na programação”. (PRATA, 2008). Para o rádio, que é um meio interativo desde a época das cartas ao leitor, o advento da internet oferece múltiplas possibilidades de interação com esse ouvinte, que agora também é um usuário acostumado a desenvolver atividades simultâneas, como ouvir

4


Faculdade Social da Bahia - FSBA Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática

rádio, teclar nas ferramentas de conversa instantânea, postar no blog ou Twitter, registrar e enviar fotos através do celular e baixar arquivos de áudio e vídeo, geralmente tudo ao mesmo tempo. No perfil em seu próprio site, A TARDE FM divulga que 46 mil ouvintes/internautas fruem a programação da rádio via streaming, na web. No entanto, analisando o site e o que é oferecido em termos de interação com esse universo de 46 mil pessoas, vê-se que a emissora está aquém do seu potencial em capitalizar a participação e colaboração dessa audiência. A rádio ainda está adaptando-se à convergência, assim como o próprio Grupo A TARDE, que iniciou o processo há menos de quatro anos, no final de 2005. Além de relativamente nova – redações de todo o mundo buscam seus caminhos – a convergência multimídia ainda não está consolidada em todos os seus níveis: profissional, tecnológico, empresarial e de produção, o que também afeta a recepção, uma vez que a redação como um todo, incluindo a rádio, impresso, portal e agência de notícias se habitua a esse novo perfil de usuário. O próprio perfil dos profissionais envolvidos no processo sofre mudanças para conseguir lidar com essa nova audiência que além de fruir, quer também participar da construção da programação. O ouvinte também fala Durante as eleições para prefeito em Salvador, em 2008, a rádio A TARDE FM fez diversas chamadas para que os ouvintes participassem das sabatinas com os candidatos a prefeito da capital. Os encontros ocorreriam ao vivo, direto do estúdio da rádio e os ouvintes tanto poderiam ligar para a emissora e fazer a sua pergunta no ar, no modelo clássico de radiojornalismo, quanto teriam uma página de comentários no portal A TARDE On Line, onde postar perguntas e mensagens. A página de comentários era sempre aberta um dia antes do debate e a média, nos cinco encontros ocorridos, um com cada candidato, foi de duas mil perguntas enviadas por ouvintes/internautas. Desse total, algumas seriam utilizadas durante o programa – dividido em cinco blocos – e as que sobrassem, enviadas à assessoria do candidato, para posterior publicação das respostas tanto na mídia impressa quanto on line. No estúdio, além dos prefeituráveis e da equipe da rádio, havia equipes da Web TV A TARDE filmando a entrevista; do jornal impresso e do portal A TARDE On Line. O modelo de cobertura integrada previa que, ao mesmo tempo em que o locutor sabatinava o candidato recebido naquela data, o prefeiturável também responderia as perguntas dos ouvintes que ligassem para o estúdio, dos repórteres do jornal impresso e dos internautas, que seriam moderadas pelo editor de internet presente ao encontro. Essa foi uma das primeiras experiências concretas de participação do ouvinte/internauta em um programa produzido pela rádio A TARDE FM depois do início da convergência no grupo de jornalismo baiano. A produção, planejamento e preparação da cobertura (das sabatinas) ficou a cargo da equipe da emissora, com apoio dos coordenadores das mídias impressa, on line e televisiva. Sem estrutura no próprio site para atender a demanda de comentários dos ouvintes/internautas, a produção da rádio utilizou o portal principal: www.atarde.com.br. O resultado foi uma maciça participação. Primeiro, porque o tema era de grande apelo popular: “O que você gostaria de perguntar ao seu candidato?” E em segundo lugar, porque serviu para mostrar que a nova audiência de rádio,

5


Faculdade Social da Bahia - FSBA Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática

principalmente quando este também está presente na internet, tem interesse em integrar as coberturas da emissora, tem necessidade de demarcar um lugar de fala e não apenas de escuta. “O rádio, interativo de nascença, fortalece a relação com o público. O âncora apresenta o programa diante do correio eletrônico, aberto às mensagens e interferências dos ouvintes, quase que imediatas. A entrevista mal começa e já chega a primeira pergunta do ouvinte. O entrevistado escorrega, e vem a crítica. O apresentador se engana, e a correção aparece. E assim, internauta ou ouvinte, conectado à internet, transforma-se em protagonista”. (JUNG, 2004:68 apud RIBEIRO & MEDITSCH, 2003). Para efeitos da análise a que este ensaio se propõe, avaliar o grau de interatividade presente no site da rádio A TARDE FM, a experiência da cobertura integrada durante as eleições mostra que na prática, embora tenha articulado uma cobertura multimídia, com desdobramentos no portal, Web TV e jornal impresso, além do programa ao vivo na rádio, faltou à emissora capitalizar esse interesse da audiência em prol da própria página na web. Faltou espaço para a participação mais ativa deste ouvinte/internauta, superando a fase da interatividade de consulta, ampliando o esboço de interatividade conversacional que se estabelece a partir do momento em que a audiência envia mensagens através do prosaico fale conosco e caminhando em direção ao grau de registro, em que o ouvinte/internauta vira colaborador efetivo, portanto, fiel à sua emissora. Em vez de usar o próprio site para chamar a audiência a participar da sabatina, usou-se o portal A TARDE On Line, o que à época justificou-se em termos de número de acessos e grau de visibilidade deste em comparação ao hotsite. Ainda assim, optou-se pela forma convencional de envio de perguntas aos candidatos, via e-mail ou através da postagem numa caixa de comentários moderada. Após a sabatina, o site da rádio poderia montar um especial, por exemplo, reunindo os poadcasts das sabatinas, os vídeos da Web TV, editados de forma temática, mas que só foram publicados no portal principal; o texto produzido pelo repórter de impresso; uma galeria de fotos com imagens das melhores expressões faciais dos candidatos enquanto respondiam as perguntas. Além disso, faltou um chat no estúdio ou mesmo msn, para que os ouvintes/internautas que desejassem, pudessem interagir instantaneamente durante o programa. Claro está que, dentro da lógica de uma emissora de rádio, o conteúdo sonoro teria de ser priorizado e a sabatina ao vivo, no estúdio, com o entrevistado/candidato respondendo perguntas de ouvintes, configura-se de forma a colocar o áudio no centro da cobertura. No entanto, uma vez que a rádio em questão também está presente na web via streaming e esse streaming hospedado no site da emissora, demonstra o interesse da empresa em conquistar não só aquele ouvinte clássico, que frui rádio no carro, na cozinha ou enquanto faz seu cooper matinal, mas em trazer para as suas estatísticas de audiência, este outro ouvinte, que também é internauta e portanto está habituado a consumir conteúdo multimídia. Não apenas consumir passivamente, mas interagir com este conteúdo, reconfigurar e re-enviar como uma nova mensagem para outros ouvintes/internautas, numa sucessão de narrativas rede adentro, acessíveis em qualquer

6


Faculdade Social da Bahia - FSBA Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática

parte do mundo, num “fluxo e refluxo” contínuo de migração de dados característicos do meio internet. Ribeiro e Meditsch, citando Maria del Pilar Martinez-Costa, lembram que o cenário atual da comunicação radiofônica se caracteriza pela necessidade em responder a uma anunciada ruptura dos processos tradicionais. O rádio não vai deixar de ser rádio se seu foco principal for transmissão sonora, no tempo de vida do usuário, mas vai precisar ser mais que isso para afirmar-se ante essa nova audiência. Se há “mudanças no modelo de consumo, produto da modificação dos comportamentos sociais e da implantação das tecnologias interativas”, é preciso que também ocorra alterações “no planejamento dos conteúdos produzidos pela multiplicidade da oferta, a sinergia entre os diferentes suportes e as novas demandas da audiência” (MARTINEZ-COSTA, 2004:320 apud RIBEIRO & MEDITSCH, 2003). Os dois autores ressaltam, ainda, que os termos “interatividade” e “participação” não são sinônimos e lembram que a participação do público na produção e emissão de conteúdo se dá, geralmente, através de ferramentas interativas que tanto podem ser analógicas quanto digitais. “Mas nem sempre o uso dessas ferramentas gera um conteúdo novo, com grau significativo de autoria do usuário (ou receptor), requisito necessário para considerá-lo resultado de uma produção compartilhada, ou participativa” (RIBEIRO, 2006 apud RIBEIRO & MEDITSCH, 2003). Conhecer a audiência para interagir Na experiência diária da redação, o que se percebe, dentro dessa afirmação de Ribeiro, é que uma parte da audiência quer participar, quer o seu lugar de fala no processo de comunicação, quer ser protagonista como afirma Jung, mas não necessariamente aquele que desencadeia o processo. O público, habituado durante décadas ao papel de coadjuvante, começa a acostumar-se com o protagonismo. Mas, neste início, deseja apenas estar entre os principais, tendo direito de opinar, criticar, sugerir, apontar erros, expressar ideias, debater, reconfigurar a informação, até redistribuir para outros da sua comunidade, mas não ser o principal. O locutor, produtor do programa, o entrevistado – que detém o conhecimento de “especialista” –, esses ainda são os protagonistas que dão início ao show. Para Träsel, essa diferença ocorre porque é a credibilidade da informação que está em jogo. No senso comum, o grupo de comunicação, a marca – sinônimo de experiência em apurar e filtrar os dados – garante a segurança de que o que está sendo dito, embora possa ser questionado, tem o status da confiabialidade. “A função de gatekeeping ainda é majoritariamente do jornalista” (TRÄSEL, 2005). Em dissertação de mestrado defendida em 2005, na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom-Ufba), Luciana Moherdaui analisou o perfil do usuário de notícias de internet, a partir do estudo da função do sujeito e do comparativo entre o padrão de navegação nos portais Último Segundo e A TARDE On Line. Com base em revisão bibliográfica e observação, foram estudados três tipos de internauta: o que apenas lê a notícia, o que lê, comenta, manda e-mail e faz sugestões e o que lê, comenta, manda e-mail, faz sugestões e participa da cobertura enviando conteúdo.

7


Faculdade Social da Bahia - FSBA Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática

A partir da proposta da pesquisadora, é possível aplicar o mesmo princípio ao ouvinte/internauta de uma emissora de rádio que também está presente na web. Existem aqueles que apenas acessam o site para ouvir a rádio preferida em streaming enquanto, por exemplo, digitam um texto ou fazem outra coisa no computador; os que navegam no site da rádio enquanto ouvem a emissora em streaming, interagindo com os recursos colocados à disposição, como baixar ringtones, ler as reportagens, assistir vídeos, baixar o poadcast do programa preferido que não pôde ser acompanhado ao vivo, comentar algum fato com o locutor via msn, chat ou mesmo através do fale conosco; e, por último, há os ouvintes que além de fazer isso tudo, ainda sugerem pautas e enviam conteúdo próprio para a emissora. A ideia que se pode ter ao analisar esses três perfis de usuário é de que a audiência evolui ao longo do tempo, começando como apenas ouvinte e por fim passando a também produzir conteúdo. No entanto, na prática, o que ocorre é que a navegação na rede mundial de computadores é subjetiva, da mesma forma que subjetiva será a reação do ouvinte/internauta a um estímulo do locutor. Nem todo ouvinte vai comentar, nem todo comentador vai também produzir. “Entre agora no nosso site e deixe o pedido da sua música favorita”; ou “Sugira uma pauta para A TARDE FM através da sessão fale conosco do nosso site”. Estes são “apelos” que o locutor poderá fazer ao longo do programa, mas se ele obterá resposta ou quantas respostas vai obter, fica a critério da vontade do ouvinte naquele momento, do fato dele estar ou não diante de um computador ou acessando o site via celular, do seu interesse no tema, do interesse em sugerir, do tempo disponível para aprofundar a imersão no programa. Há ouvintes que, seja no dial ou na web, querem apenas ouvir, fruir a programação musical, acompanhar o noticiário ou o programa de variedades preferido. Há aqueles que fazem questão de opinar, comentar, sugerir, interagir com a equipe enquanto ela está no ar; e, por último, há os que querem sentir-se parte do programa, assumindo a função de repórteres ao enviar conteúdo elaborado; ou de produtores, ao sugerir uma fonte e já passar os contatos e disponibilidade de horário para a entrevista. O que estudiosos como Martinez-Costa propõem, diante de tantas possibilidades na internet, é que as emissoras aprendam a explorar as potencialidades da web e da interação com seu público. A grosso modo, seria dizer que, não é porque a maior parte da minha audiência acessa apenas o streaming, que eu não vou produzir um conteúdo diferenciado no site da minha rádio para atender àqueles usuários que querem agregar outras experiências ao ato de ouvir rádio. Ou para fazer com que esse internauta que apenas ouve, passe a também navegar, aumentando seu tempo de conexão na minha página. Conclusão A mudança no perfil da audiência, que é gradativa e ocorre em vários níveis, também requer mudança no perfil dos profissionais que atuam em rádio nesses tempos de multimidialidade. “Há necessidade de adaptação e capacitação dos profissionais para trabalharem em parceria com o público neste novo ambiente de convergência”, (RIBEIRO & MEDITSCH, 2003). Essa alteração da relação do usuário com o rádio e, consequentemente, dos radiojornalistas com a audiência, ocorre desde a invenção do transistor, lembra Lopez.

8


Faculdade Social da Bahia - FSBA Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática

“O desenvolvimento da tecnologia do transistor permitiu, a mudança da fonte de alimentação de aparelhos de rádio, propiciando a portabilidade tanto para o ouvinte, que agora tinha no veículo um companheiro que o acompanhava em seu dia-a-dia (FERRARETTO, 2001 apud LOPEZ, 2009), quanto para o comunicador, que agora tinha a possibilidade de se deslocar com equipes móveis e implementar o sistema de reportagens (NEUREMBERG, 2009 idem). As alterações, porém, vão muito além da portabilidade e das unidades móveis de reportagem. Os hábitos de consumo de notícias e entretenimento deste novo usuário, ouvinte que é ao mesmo tempo internauta, a sua necessidade de integrar de forma mais ativa o fluxo da comunicação e o advento de novas tecnologias que surgem a cada dia no mercado, só reforçam a necessidade de capacitação e adaptação do profissional a essas novas diretrizes. Lopez, citando Martinez-Costa, lembra que as novas tecnologias como os celulares 3G, possibilitam tanto agilidade de cobertura, quanto uma maior interação do usuário com a redação e desta com a audiência. “Hoje, através da utilização de tecnologias como a 3G é possível assistir programas de TV, ouvir programas de rádio, navegar na internet, utilizar programas de mensagens instantâneas e interagir através de ferramentas de microblogging” (LOPEZ, 2009). Diante deste cenário, as redações de radiojornalismo precisam reaprender a ouvir. Emissoras como A TARDE FM, que disponibilizam uma página na internet, precisam incorporar na sua rotina um nível de interatividade com o ouvinte que vai além das cartas e telefonemas. A checagem de e-mails, monitoramento das redes sociais, uso de msn, chat ou outra forma de comunicação instantânea durante os programas, checagem das pautas e denúncias sugeridas pelo usuário – ao menos uma triagem dos temas de maior apelo –, que renderão um bom serviço a comunidade, são só algumas das novas formas de interação necessárias para ampliar a empatia da audiência com a emissora. “Rádio é sempre e em qualquer lugar produzida para a audiência – para nós -” (HENDY, 2009). Nos sites das rádios, junto ao streaming para acompanhar a programação em tempo real, é necessária a construção de uma “narrativa hipermidiática” (Lopez, 2009), que amplie o raio de ação dessas rádios que deixam de ter apenas o alcance das ondas médias e passam a veicular sua programação em escala global. Navegabilidade, usabilidade, hipertextualidade necessitam deixar de ser apenas conceitos para traduzirem-se em uma página agradável, prática, de fácil acesso, mas com um rico conteúdo que possibilite graus de interatividade diferenciados para todo tipo de ouvinte/internauta. Mesmo que a proposta da emissora ou grupo de comunicação não seja investir no jornalismo cidadão, com fomento à criação de páginas ou programas 100% feitos pelos usuários não-jornalistas, a partir do momento em que se abre um canal de diálogo como o fale conosco, que se divulga um e-mail para contato e que se chama o ouvinte/internauta a opinar e sugerir, é preciso dar a ele esse espaço de fala e ampliar suas opções de conexão/contato com essa redação que afirma querer ouvi-lo. Ainda que a função de “gatekeeping” esteja concentrada nas mãos dos jornalistas diplomados, que para o senso comum detêm o conhecimento “especializado” há que se levar em consideração que o público atual vem refinando seu senso crítico graças, em

9


Faculdade Social da Bahia - FSBA Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática

parte, ao avanço tecnológico que possibilita uma maior distribuição e acesso à informação em multiplataformas, aprendendo a exercer a cidadania. O jornalismo, sobretudo em rádio, configura-se essencialmente pelo seu caráter de prestação de serviços à comunidade e incentivo ao desenvolvimento social. Com a dimensão alcançada pela internet, ampliam-se os meios para alcançar esse objetivo de formação da consciência cidadã, na mesma proporção em que se aumenta a responsabilidade dos meios. Dar voz ao ouvinte é reconhecer nele alguém capaz de contribuir com o avanço da sociedade como um todo. Do contrário, o advento das novas tecnologias da informação não passará de modismo vazio e deslumbramento com equipamentos ultra-sofisticados, ainda de uso para poucos, gerando conteúdos que não proporcionam nenhum impacto social.

REFERÊNCIAS Sobre Radiojornalismo e convergência midiática: ESTEBAN, Luis Miguel Pedrero. Nuevas Audiencias, nuevos formatos. In MARTÍNEZ-COSTA, Mª Pilar. Reinventar la radio – Actas de Las XV Jornadas Internacionales de La Comunicación. Facultad de Comunicación, Universidad de Navarra, Espanha. HENDY, David. Radio in the global age. Cap.3: Audiences, p.p 115 a 147. In Módulo Acadêmico da Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática, Faculdade Social da Bahia, 2009. MEDITSCH, Eduardo e RIBEIRO, Ângelo Augusto.O chat da internet como ferramenta para o radiojornalismo participativo: uma experiência de interatividade com o uso da convergência na CBN-Diário AM de Florianópolis. Trabalho apresentado ao NP Rádio e Mídia Sonora, do VI Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom do XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2003. PRATA, Nair. Webradio: novos gêneros, novas formas de interação. Trabalho apresentado no XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Natal – RN, 2 a 6 de setembro de 2008. LOPEZ, Débora Cristina. Radiojornalismo e convergência tecnológica: uma proposta de classificação. Trabalho a ser apresentado no GP Rádio e Mídia Sonora do IX Encontro dos Grupos/Núcleos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Curitiba, PR – 4 a 7 de setembro de 2009. Sobre Interatividade: KUKLINSKI, Hugo Pardo y ROMANÍ, Cristobal Cobo. Planeta Web 2.0 – Inteligencia colectiva o medios fast food. Flacso. México, Setembro de 2007. Acessível em: www.planetaweb2.net, acessado pela última vez em novembro de 2008

10


Faculdade Social da Bahia - FSBA Especialização em Jornalismo e Convergência Midiática

MOHERDAUI, Luciana. O usuário de Notícias no Jornalismo Digital: um estudo sobre a função do sujeito no Último Segundo e no A TARDE Online. (Dissertação de Mestrado). FACOM/UFBA, Salvador. 2005. TRÄSEL, Marcelo. Gatekeeping no jornalismo digital: o caso Wikinotícias. Trabalho apresentado no III Encontro da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Jornalismo, na ECE-UFSC. Florianópolis, Novembro de 2005. SALAVERRÍA, Ramon. Interactividad. In Redacción periodística em internet. Eunsa – Ediciones Universid de Navarra, S.A – Pamplona, 2005.

11


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.