FOME DE QUE

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Crise Mundial de Alimentos “Na realidade, a fome coletiva é um fenômeno social bem generalizado. É um fenômeno geograficamente universal, não havendo nenhum continente que escape à sua ação nefasta.” Josué de Castro. Geografia da Fome. São Paulo: Brasiliense, 1946.

Mundial, a fim de dar um destino aos excedentes de produtos agrícolas e ao mesmo tempo estimular a demanda por esses produtos nos países pobres, nos quais a fome era generalizada (1)”. A partir daí, as práticas de ajuda alimentar melhoraram bastante, principalmente devido às mudanças das políticas comerciais e agrícolas dos países doadores, além

FOME: CONCEITOS E DELIMITAÇÃO • 1 O que é fome Causas e conseqüências da fome A fome no mundo O Brasil e a fome A PRODUÇÃO MUNDIAL DE ALIMENTOS • 9 A produção e a produtividade A recente alta de preços Política agrícola norte-americana AS SEMENTES TRANSGÊNICAS • 13 Da Revolução Verde à atualidade

da consolidação das práticas de segurança alimentar. Apesar desses avanços há ainda muita polêmica em torno da ajuda alimentar. Uma delas diz respeito ao volume de ajuda que pode ser dada sem afetar o mercado mundial de alimentos. O gráfico abaixo mostra a evolução, desde 1970, dos volumes de alimentos oferecidos para ajuda alimentar.

Países em crise que necessitavam de ajuda alimentar – Outubro de 2006

BOXES QUÍMICA / BIOLOGIA • 4 A FOME NA HISTÓRIA • 8 BIBLIOGRAFIA • 15 cód.: 83702928

ANGLO VESTIBULARES

Falta de acesso aos alimentos

Déficit de produção de alimentos

Insegurança alimentar aguda

Com base no conceito de segurança alimentar da ONU, a FAO preparou esse mapa, que mostra a situação do mundo, em 2006, quanto a vários aspectos que se relacionam a esse conceito e podem desencadear crises de alimentos e ondas de fome.

Evolução da ajuda alimentar no mundo FAO, El Estado Mundial de la Agricultura y la Alimentación 2006. Roma: FAO, 2006

A fome não é um fenômeno recente, como erroneamente têm sugerido alguns meios de comunicação que concentram suas análises apenas na oferta e procura de produtos agrícolas no curto prazo, ignorando as causas estruturais do problema. Pobreza, subnutrição e fome, crônica ou aguda, são condições preexistentes, e as recentes elevações de preços dos alimentos apenas agravaram essa situação. Em 1974, na Conferência Mundial sobre Alimentação da ONU, foi estabelecido que “todo homem, mulher, criança, tem o direito inalienável de ser livre da fome e da desnutrição...”. Visando assegurar esse direito, foi criado o conceito de segurança alimentar, que nomeia o patamar alcançado quando se garante o “acesso, sempre, por parte de todos, a alimento suficiente para uma vida sadia e ativa”. A meta da ONU, de ter alimentos para todos e de forma contínua, ainda não foi alcançada, apesar do crescimento da tecnologia aplicada à produção de alimentos, comprometendo a saúde de grandes contingentes de população. O mapa ao lado mostra que a falta de segurança alimentar, em diferentes níveis, no final de 2006, atingia mais de 30 países. Segundo a FAO, “a ajuda alimentar moderna começou após a Segunda Guerra

FAO, 2006.

FOME: CONCEITO E DELIMITAÇÃO

Milhões de toneladas 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0

70

72

74

76

78

80

82 Cereais

84

86

88

90

92

94

96

98

00

02

04

Outros alimentos

Vemos que o volume de ajuda internacional tem se mantido na média de 10 milhões de toneladas/ano, embora a população mundial e a produção total de alimentos no mundo estejam em constante crescimento. (1) FAO. El Estado Mundial de La Agricultura y La Alimentación 2006. Roma: FAO, 2006.

1

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A fome se distribui pelo mundo de forma bastante irregular, tanto sob o ponto de vista absoluto quanto relativo. Observe a distribuição no gráfico ao lado. ANGLO VESTIBULARES

FAO, El estado de la inseguridad alimentaria en el mundo 2006.

Evolução do número de pessoas subnutridas no mundo Milhões 1.000 900 800 700 600 500 400 300 200 100

Linhas de evolução das Metas do Milênio Linhas de evolução do Encontro Mundial Sobre Alimentação

0 1970

1975

1980

1985

1990

1995

2000

2005

2010

2015

De 1970 a 2007 o número absoluto de famintos caiu de cerca de 972 milhões de pessoas para cerca de 854 milhões. Em números relativos essa redução foi ainda maior.

FAO, El Estado Mundial de la Agricultura y la Alimentación 2006. Roma: FAO, 2006

Evolução da produção per capita de alimentos (índice 1999-2001 = 100) Índice 120 110

Países desenvolvidos

100 MUNDO

90 80

Países subdesenvolvidos 70 60 50 40 71

73

75

77

79

81

83

85

87

89

91

93

95

97

99

01

03

05

Quando comparamos a evolução da produção, com base no triênio 1999-2001, vemos que a produção dos países subdesenvolvidos tem crescido de forma contínua desde os anos de 1970, o que contribui de forma significativa para a redução de sua dependência da ajuda internacional para redução da fome.

Distribuição dos famintos por regiões (em milhões)

América Latina 52 FAO, El Estado de la inseguridad alimentaria en el mundo 2006.

O gráfico mostra que o volume de ajuda internacional não teve um crescimento contínuo e significativo ao longo dos últimos 35 anos, flutuando em torno de 10 milhões de toneladas por ano. Nesse período a população mundial saltou de 3,6 bilhões de habitantes para quase 6,5 bilhões. O que ocorreu, portanto, foi uma redução substancial na ajuda, verificável quando se relaciona o volume dela com a produção total de alimentos do mundo e com o crescimento da população. Nos anos 1970 a ajuda representava cerca de 10% da produção mundial de alimentos, caindo desde o ano 2000 para algo em torno de 2%. Em números absolutos a fome vem diminuindo no mundo, como mostra o gráfico ao lado. A queda do número de famintos tem se dado lentamente. As metas para 2015 são muito otimistas e dificilmente serão alcançadas. A redução do número de famintos no mundo não se deu devido à ampliação da ajuda alimentar internacional. A principal causa da redução da fome tem sido o crescimento (lento) da produção agrícola per capita dentro dos próprios países subdesenvolvidos, como mostra o gráfico ao lado. Há muitos mitos em torno das causas da fome no mundo. Os dois mais divulgados são: • O mundo não tem espaço suficiente para alimentar tanta gente: ainda há no planeta espaço e recursos suficientes para alimentar a humanidade inteira. Atualmente a agropecuária ocupa pouco mais de 15 milhões de km2 de um total de 49 milhões de km2 de terras ecúmenas, ou seja, facilmente ocupáveis. Há ainda uma parcela de terras, de extensão semelhante a essa, que pode ser trabalhada com uso de tecnologias, embora isso seja mais caro e mais difícil; • Há gente demais para alimentar: a fome não resulta da insuficiência de alimentos provocada pelo excesso de pessoas e não pode ser vista como um fenômeno global. Cada país ou região tem suas particularidades decorrentes de vários aspectos geográficos e econômicos. A China, por exemplo, país mais populoso do mundo, consegue alimentar praticamente toda a sua população, em padrões bastante razoáveis. Já em muitos países da África, com populações muito menores, há fome.

Mundo Islâmico 38

Países em transição 25

Países industrializados 9

Índia 212 China 150

Ásia e Pacífico 162

África Subsaariana 206

Na Ásia encontram-se mais de 520 milhões de famintos, cerca de 13% da população do continente. A África tem cerca de 220 milhões de famintos, mas isso representa 24% de sua população, o que a coloca como o continente com maiores problemas alimentares no mundo.

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• Fome crônica – é determinada pela deficiência de elementos nutritivos, tais como proteínas, vitaminas e sais minerais, essenciais para restaurar células e tecidos dos órgãos humanos e manter seus processos e funções. A falta prolongada dessas substâncias provoca distúrbios e lesões, muitas vezes irreversíveis.

O vocábulo fome tem, na língua portuguesa, diversos significados. Denominase fome a sensação fisiológica que o corpo passa a ter quando necessita de alimentos para manter suas atividades vitais. De forma mais ampla, esse termo é também usado para se referir à má nutrição e também à falta de comida para populações atingidas por guerras ou catástrofes naturais. Portanto, sob o ponto de vista coletivo, a fome é a escassez de alimentos para um grande número de pessoas, concentradas em um determinado espaço geográfico. Observada sob o ponto de vista de um indivíduo, a fome ocorre quando a pessoa fica, durante um período prolongado, carente de alimentos, essenciais para lhe fornecer calorias (energia) e/ou nutrientes.

Causas e conseqüências da fome

© Kevin Carter/Megan Patrícia Carter Trust/Sygma/Corbis Latin Stock.

Dentre as principais causas da fome destacam-se as seguintes:

O continente mais atingido pela fome é a África, sendo essa a maior causa direta e indireta da sua elevada mortalidade infantil. Na foto vemos uma criança faminta em Centro de Alimentação, sul do Sudão.

FOME NO MUNDO, SEGUNDO A ONU • Havia no mundo, em 2007, cerca de 850 milhões de pessoas subnutridas; destas mais de 820 milhões em países subdesenvolvidos. • Cerca de 15 milhões de pessoas morrem por ano devido à fome; a maior parte delas são crianças. • Há mais de 150 milhões de crianças com menos de 5 anos desnutridas no mundo. Os especialistas em nutrição apontam dois tipos de fome: • Fome aguda – caracteriza-se pelo consumo de baixa quantidade de calorias, ou seja, a quantidade de alimentos ingeridos diariamente é insuficiente para repor as calorias gastas pelo organismo humano. ANGLO VESTIBULARES

• Perdas de colheitas devidas a secas, excesso de chuvas e/ou inundações; • Destruição, por terremotos ou furacões, da infra-estrutura básica para a produção e a circulação de alimentos (estradas, represas, canais de irrigação, silos, máquinas, etc); • Perdas de colheitas devidas a ataques de pragas e/ou insetos; • Quebra de produção por instabilidade política resultante de golpes de Estado e/ou conflitos armados, que causam destruição de infra-estrutura ou dificuldade de circulação; • Produção de alimentos insuficiente devido a problemas ligados a governos, tais como administração pública corrupta, mal uso dos recursos naturais, planificação agrícola ausente ou deficiente; • Largas parcelas de terras improdutivas devido à sua má distribuição, com presença de latifundios. Faltam reformas agrárias mais profundas e rápidas; • Má distribuição da renda, devido à sua concentração elevada nas mãos de uma parcela pequena da população. Imensas massas ficam impossibilitadas de comprar e se integrar ao mercado moderno; • Destruição deliberada de colheitas, prática utilizada para especulação de preços e/ou pressão para elevação dos preços dos produtos alimentares, o que afeta especialmente a população de baixa renda; • Influência das transnacionais de alimentos e de matérias-primas agrícolas, que interferem na produção rural de vários países, contribuindo para a redução da área cultivada com produtos alimentares usados pelas populações locais; • Uso geopolítico dos alimentos, a chamada “diplomacia dos alimentos”, que utiliza a oferta desse recurso básico para pressionar países a se aliarem aos interesses de empresas ou Estados poderosos.

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© Peter Turnley/Corbis/Latin Stock

O que é fome

Criança ao lado de corpos de refugiados de guerra entre Ruanda e Burundi, vítimas de uma epidemia de cólera que atingiu os campos de refugiados em junho de 1994.

Dentre as conseqüências mais comuns da fome, em especial nos países subdesenvolvidos, estão: a desnutrição calórico-protéica, doenças causadas pela deficiência de vitamina A, distúrbios causados pela carência de vitaminas do grupo B, raquitismo gerado pela deficiência de vitamina D, anemia provocada pela deficiência de ferro e bócio. A fome provoca perda de peso e problemas no desenvolvimento nas crianças, além de contribuir para a elevação da taxa de mortalidade, em especial a infantil. Nas estatísticas sobre a mortalidade infantil nos países subdesenvolvidos, no entanto, a fome raramente figura entre suas causas principais. Dentre as causas estão pneumonia, desidratação, tuberculose e sarampo, por exemplo. Na verdade essas doenças oportunistas só matam crianças com problemas de fome e desnutrição. A desnutrição calórico-protéica (DC-P ou P-CD – Proteic-Caloric Desnutrition) atinge grande número de crianças em idade pré-escolar nos países subdesenvolvidos. Em graus avançados chega a exigir hospitalização. Nesse nível estão o Kwashiorkor e o marasmo: • Kwashiorkor – é um termo retirado do dialeto praticado na região de Gana, na África Ocidental, utilizado para referir-se à criança “desmamada”. O Kwashiorkor ocorre quando a criança é desmamada precocemente devido ao nascimento de outro irmão. Deixada de ser alimentada pelo leite materno (e por falta de outro alimento equivalente), a criança passa a ter carência de proteínas. As conseqüências disso são: inchaço do ventre; lesões na pele; parada do crescimento; SISTEMA ANGLO DE ENSINO


Crise Mundial de Alimentos e a Química e a Biologia ALIMENTAÇÃO

Podemos encontrá-las nas várias substâncias que ingerimos cotidianamente: na água, nos carboidratos, nas proteínas, nos lípides, nas vitaminas e nos sais minerais.

Por que precisamos ingerir alimentos? Uma analogia interessante responde a essa pergunta. Para que um motor funcione, é necessário algo que lhe forneça energia, por exemplo, um combustível. Como um motor complexo, nosso organismo funciona por meio de energia, obtida a partir dos alimentos que ingerimos. Nossa vida é mantida por um número muito grande de reações químicas, cujos reagentes são obtidos por meio da alimentação. Portanto os alimentos são necessários para manter os processos vitais, a temperatura corpórea, os movimentos musculares, a produção de células, etc. A necessidade de ingerir alimentos é regulada por centros nervosos existentes no hipotálamo.

Água Por ser um excelente solvente, a água é essencial à vida. No interior das células, ela se constitui um meio perfeito, que permite a mobilidade e a migração de outras moléculas. A água transporta para o interior das células moléculas como a glicose e íons como o sódio (Na+), o potássio (K+) e o cálcio (Ca2+), essenciais ao funcionamento do nosso corpo. Ela também transporta para fora da célula substâncias não desejáveis. Assim, as substâncias tóxicas produzidas nos processos metabólicos se dissolvem na água e podem ser eliminadas do organismo. Outra função da água é a regulação da temperatura corpórea, feita por meio da transpiração.

hipotálamo

Carboidratos

No hipotálamo há dois centros nervosos: um que acelera e outro que retarda a vontade de ingerir alimentos, a qual, por sua vez, também é influenciada pela visão e pelo olfato.

Os carboidratos são compostos formados por carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O). Também conhecidos como hidratos de carbono, os carboidratos são uma das principais fontes rápidas de energia para o nosso organismo. Podem ser classificados em monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos.

Monossacarídeos

A vontade de comer

Os monossacarídeos (C6H12O6), açúcares simples, não podem ser transformados em açúcares mais simples por reações de hidrólise (hidro significa “água” e lise significa “quebra”). Eles são: glicose

H

H2C — OH

H —

H — C — OH —

HO — C — H —

— HO — C — H

HO — C — H — HO — C — H —

H — C — OH —

— H — C — OH

H — C — OH

H — C — OH

O — —

C

—O C—

H — C — OH

H — C — OH —

H2C — OH

H2C — OH

H2C — OH

No organismo, são encontrados na forma cíclica: glicose

Saciedade e velocidade

frutose

galactose

CH2OH

CH2OH

O

H

HO

HO OH

OH

HH

H

CH2OH O H H H OH H OH

HO

H2C — OH O H H H HO OH H OH

Alimentos quentes ou com alto teor de gordura nos dão a sensação de estarmos mais saciados, pois permanecem mais tempo no estômago. Alimentos líquidos ou pastosos, por permanecerem menos tempo no estômago, nos dão a sensação de menos saciedade.

H

OH

A glicose e a frutose estão presentes nas frutas e no mel da abelha. A frutose apresenta uma doçura bem maior que a glicose; logo, para obtermos a mesma doçura, é necessária uma quantidade menor de frutose. A galactose é encontrada em combinação com a glicose, formando a lactose, um dissacarídeo presente no leite e em seus derivados.

SUBSTÂNCIAS ESSENCIAIS Consideradas as responsáveis pela construção do nosso corpo e pela manutenção da vida, as substâncias essenciais se combinam para formar estruturas celulares. Assim, originam os sistemas, como o respiratório, o circulatório, o digestório e o excretório. São elas que mantêm a vida.

ANGLO VESTIBULARES

galactose

— C

O — —

frutose

A vontade de comer está associada à fome e ao apetite. A sensação de fome corresponde a um instinto de sobrevivência, despertando forte desejo por alimentos, e está associada a diversas sensações não agradáveis, como, por exemplo, a chamada “dor da fome”, ocasionada por contrações intensas do estômago, que ocorrem quando uma pessoa permanece várias horas sem se alimentar. A memória tem papel especial na vontade de comer: se o sabor de determinado alimento já causou uma sensação agradável em alguém, ela estimulará novas experiências de fome intensa. O apetite, por sua vez, está relacionado com a sensação de prazer e o desejo por certos alimentos, aguçado por sentidos como a visão, o olfato e o paladar. Em geral, paramos de comer quando nosso organismo indica que foi satisfeita sua necessidade de alimentos. Essa sensação é denominada saciedade. Uma das reações dela decorrentes é a distensão do estômago (“estômago cheio”).

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Crise Mundial de Alimentos e a Química e a Biologia

O

Embora existam mais de setecentos aminoácidos, somente vinte deles interessam ao nosso organismo, pois podem dar origem às proteínas. Desses vinte, somente oito (chamados de aminoácidos essenciais) não são sintetizados pelo nosso organismo. Para consegui-los, precisamos ingerir determinados alimentos, como ovos, carnes, arroz, milho e trigo. A interação responsável pela formação de proteínas ocorre

entre o grupo ácido — C

Dissacarídeos Os dissacarídeos (C12H22O11) são formados pela combinação de dois monossacarídeos. CH2OH

O

— —

OH

OH

— —

glicose

CH2OH

HO

OH

HO

OH + HOH2C

OH

O

, presente em uma molécula de

OH

aminoácido, e o grupo básico — NH2, presente em outra molécula, com a eliminação de uma molécula de água, originando uma

O + HOH

HOH2C

O — —

HO

O

ligação amídica ou peptídica: — C

O — —

frutose

N—H

Podemos citar como exemplo a interação entre a glicina e a alanina, que origina um dipeptídeo.

HO sacarose

N—C—C H

CH3

O — —

H

H

alanina

H2O

O — —

H

OH

H—C—C —

+ C6H12O6 + frutose + galactose + glicose

H

glicina

OH

NH2

O — —

H—N—C—C —

— H

CH3

C6H12O6 glicose glicose glicose

H—C—C

O — —

NH2

A equação acima representa a formação da sacarose, o mais importante dos dissacarídeos, conhecido como açúcar de cana e açúcar comum. As principais fontes são a cana-de-açúcar e a beterraba. Os dissacarídeos, ao sofrerem hidrólise, originam dois monossacarídeos. A reação geral pode ser escrita da seguinte maneira: C12H22O11 + H2O sacarose lactose maltose

.

— OH

HO CH2OH

HO CH2OH

OH

ligação amídica ou peptídica dipeptídeo

Lípides Os lípides são compostos orgânicos que contêm obrigatoriamente carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O). Sua estrutura pode ser representada pela fórmula:

Polissacarídeos Os polissacarídeos são formados pela combinação de centenas de moléculas de monossacarídeos. Formados por unidades repetitivas de glicose, os mais importantes na natureza são: o amido, o glicogênio e a celulose.

— —

O R — C — O — CH2 O

— —

Proteínas

R — C — O — CH O

— —

Proteínas são macromoléculas originadas pela reação entre α-aminoácidos (alfa-aminoácidos), cujos elementos mais comuns são: o carbono, o hidrogênio, o oxigênio e o nitrogênio (CHON). O nitrogênio presente nos aminoácidos provém do gás nitrogênio (N2), que existe no ar atmosférico.

R — C — O — CH2

Aminoácidos

onde R são grupos orgânicos que apresentam onze ou mais átomos de carbono, saturados ou insaturados.

Os α-aminoácidos podem ser representados genericamente por:

R = saturado — quando há somente ligações simples entre os carbonos.

NH2

R—C—C

— — H

R = insaturado — quando há uma ou mais duplas ligações entre carbonos.

O — —

Classificação

OH carbono(α)

Os lípides podem ser classificados em óleos ou gorduras, dependendo dos radicais (R): 2 ou mais R-saturados — gordura 2 ou mais R-insaturados — óleo

onde R são agrupamentos que irão originar diferentes aminoácidos.

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Crise Mundial de Alimentos e a Química e a Biologia Veja um exemplo de gordura: — —

O C15H31 — C — O — CH2 O

— —

O C — O — CH

— —

— —

C — O — CH2

C15H31 — C — O — CH O

O C — O — CH2

C17H33 — C — O — CH2

— —

— —

ou

O

Veja agora o exemplo de óleo: O

— —

— —

O C17H33 — C — O — CH2 O

— —

C — O — CH O C — O — CH2

ou

C17H33 — C — O — CH O

— —

— —

— —

C — O — CH2 O

C17H35 — C — O — CH2

A partir da observação desses exemplos, podemos concluir genericamente que: Nas gorduras, predominam radicais de ácidos graxos saturados. Nos óleos, predominam radicais de ácidos graxos insaturados.

Vitaminas A palavra vitamina vem de vital amina, pois as primeiras a serem descobertas pertenciam à função orgânica denominada amina. O grupo funcional das aminas pode ser representado por: R—N—R —

amina primária

R—N—R —

R — NH2

H

R

amina secundária

amina terciária

Atualmente, porém, sabemos que a maioria das vitaminas não são aminas. São substâncias orgânicas necessárias, em quantidade muito pequena, para a manutenção das funções biológicas e do crescimento. Elas desempenham função catalítica, isto é, aceleram as reações, que, sem elas, ocorreriam de maneira muito lenta. Produzidas em sua maioria pelos vegetais, poucas são as vitaminas que nosso organismo consegue sintetizar, o que ocorre apenas a partir de percussores (provitaminas) presentes na alimentação. Por isso uma alimentação saudável deve conter todas as vitaminas e/ou provitaminas. Em alguns casos, a falta ou presença insuficiente de determinada vitamina na alimentação pode acarretar avitaminose ou hipovitaminose, respectivamente. Não basta, porém, uma alimentação saudável e variada para que o suprimento vitamínico diário seja obtido. Observe a seguir a descrição de algumas situações ou hábitos que podem levar à carência vitamínica: • • • • •

ingestão de alimentos tratados com agrotóxicos; cozimento excessivo dos alimentos; doenças gastrointestinais (por exemplo: diarréia crônica); ingestão excessiva de álcool, antibióticos e anticoncepcionais; fumo.

Sais minerais Os sais minerais são compostos iônicos que podem ou não estar dissociados. Quando dissociados, originam cátions (íons positivos) e ânions (íons negativos). Quando esses íons são encontrados em grandes quantidades (concentrações) no nosso organismo, são denominados macroelementos. Quando encontrados em quantidades muito pequenas (traços) são chamados de microelementos. Independentemente da quantidade, são fundamentais para a manutenção da vida.

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Crise Mundial de Alimentos e a Química e a Biologia Macroelementos Sódio (Na+), potássio (K+), cálcio (Ca2+), fósforo (fosfato, PO3– ), cloro (cloreto, C –) e magnésio (Mg2+) são considerados macro4 elementos, pois necessitamos de mais de 100mg dessas substâncias em nossa dieta diária.

Microelementos Há vários minerais denominados microelementos porque a necessidade humana de tais substâncias é inferior a 100mg/dia. Vamos conhecer alguns deles: Fe2+, Zn2+, Cu2+, Mn2+, I– e F–.

SINOPSE DAS VITAMINAS Vitamina

Fonte

Absorção

Armazenamento

Dose diária* recomendada

Deficiência

Excesso

A

leite

intestino delgado

fígado

1mg

cegueira noturna

cefaléia cansaço

B-1 (tiamina)

nozes

intestino delgado

músculos

1,5mg

beribéri

B-2 (riboflavina)

manga

intestino delgado

globo ocular

1,7mg

dermatite

B-3 (niacina)

amendoim

trato intestinal

fígado

19mg

pelagra

B-5 (ácido pantotênico)

favo de mel

intestino delgado

fígado

5μg

distúrbios circulatórios e neuromotores

B-9 (ácido fólico)

espinafre

intestino delgado

fígado

200μg

anemia

B-12 (cobalamina)

carne vermelha

estômago

fígado

2μg

anemia perniciosa complicações neurológicas

possíveis reações alérgicas

C (ácido ascórbico

acerola

intestino delgado

glândulas suprarenais e hipófise

60mg

escorbuto

cálculo renal

D

cação

intestino delgado

fígado, músculos e gorduras

5μg

raquitismo

cálculo renal

E

óleo de milho

intestino delgado

tecido adiposo

10mg

dores musculares

K

alface

intestino delgado

fígado, músculos pele

80μg

hemorragia

* Valores recomendados para um homem adulto; 1mg = 10–3 g; 1mg = 10–6 g.

Edgard Salvador e João Usberco, professores de Química do Anglo Vestibulares de São Paulo.

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Crise Mundial de Alimentos e a História A FOME NA HISTÓRIA Dentre outros momentos, ocorreram duas situações na História em que surtos de fome provocaram mudanças sociais e políticas particularmente significativas.

A grande fome do século XIV

© Biblioteca Nacional, Paris.

No final do período conhecido como Baixa Idade Média, o sistema feudal vivia seu esgotamento, em meio a uma crise generalizada. A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) era travada em território francês, criando entraves para o comércio; a Peste Negra (a partir de 1347) devastava a população européia e, ao que parece, mudanças climáticas naturais levaram à fome generalizada. Segundo estudos recentes no campo da climatologia histórica, a agricultura européia foi prejudicada por verões mais amenos e invernos rigorosos, situação particularmente extrema entre 1310 e 1330. Além disso, no mesmo período, ocorreram três anos de chuvas torrenciais entre 1315 e 1317, que acabaram levando à Grande Fome do século XIV. Dentre as conseqüências da fome, houve um surto de movimentos heréticos que identificavam nos sofrimentos infligidos pela fome um castigo divino a uma sociedade cada vez menos piedosa. Diante de colheitas insuficientes, nobres proprietários de terra passaram a exigir cada vez mais tributos de seus servos, seja sob a forma de trabalho ou de produtos, aumentando a insatisfação dos setores populares. No longo prazo, esse novo regime de exploração estimulou revoltas camponesas, que passaram a ser cada vez mais freqüentes, culminando com a grande jacquerie na França (1358) e a revolta de Wat Tyler na Inglaterra (1381). Guerra, peste e fome são os três grandes indicadores da Crise do Século XIV, que anunciou o colapso do sistema feudal.

Massacre de Jacques (camponês insurgentes), na cidade de Meaux, onde Gaston Phoebus libertou a duquesa da Normandia e Orleans (Bibliothèque Nationale de France).

A fome européia de 1848

© Coleção Particular.

No século XIX, em pleno processo de industrialização, a Europa passava por um surto demográfico sem precedentes. Concentrada em centros urbanos cada vez maiores, uma vasta população proletária enfrentava as dificuldades impostas pelo regime de exploração do trabalho no âmbito da Primeira Revolução Industrial. Por essa época, a batata (produto originário da América) passou a ser cultivada em larga escala, por apresentar a possibilidade de alimentar um maior número de pessoas por área cultivada (em comparação com cereais tradicionais – como o trigo e o centeio – base da alimentação das populações mais pobres até então). A partir de 1845, uma grande praga começou a devastar as plantações de batata da Europa, gerando a fome generalizada. Uma das principais vitimas da praga das batatas foi a Irlanda, que não apenas teve um elevado número de mortos, como viu grande parte de sua população migrar em massa, sobretudo para os Estados Unidos. A fome na Europa foi um dos fatores que ajudaram a desencadear o movimento revolucionário de 1848. Conhecido como a Primavera dos Povos, este verdadeiro surto revolucionário atingiu quase toda Europa e marcou a primeira vez na história em que a população operária se manifestou em larga escala, chegando a defender as primeiras propostas socialistas.

Barricada na rua Soufflot, Paris, 1848. Tela de Horace Vernet.

Gianpaolo Dorigo, professor de História do Anglo Vestibulares de São Paulo.

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retardamento mental; lesões no fígado; descoramento e queda de cabelos; comportamento apático. As crianças com Kwashiorkor chegam a atingir dois ou três anos de idade, quando as taxas de mortalidade se elevam, em geral deflagradas por coqueluche, rubéola ou sarampo. • Marasmo – é uma forma de desnutrição causada pela deficiência de calorias na dieta alimentar da criança, que ocorre geralmente nas primeiras semanas de vida do recém-nascido. Caracteriza-se por emagrecimento, parada do crescimento e extrema debilidade. A criança chega a ter o seu peso 60% inferior ao normal e fica muito suscetível a doenças infecciosas.

África Subsaariana e na Ásia Meridional a população ainda está abaixo dos limites mínimos considerados ideais pela FAO. No caso da África Subsaariana a previsão é de que nem em 2015 o patamar mínimo será atingido. O problema da fome deve ser analisado, para uma visão mais precisa, sob o ponto de vista regional. Na verdade as fronteiras políticas, que limitam os Estados, determinam a maior ou menor gravidade do problema, mesmo que ele atinja uma ampla região, formada por vários países. Veja a redução ou o aumento do número de subnutridos segundo as regiões ou países:

Evolução do número de subnutridos por regiões (variação entre 1990 e 2003)

Dentre as Metas do Milênio da ONU, a primeira é “Erradicar a pobreza extrema e a fome”, reduzindo pela metade, entre 1990 e 2015, a porcentagem de pessoas com renda inferior a 1 dólar por dia. A evolução da redução da pobreza nos primeiros 15 anos dessa meta (1990-2005) não permite prever que ela será alcançada até 2015. O número de pobres e parcela de famintos, no entanto, têm diminuído, mas não na velocidade desejada. Os dados do gráfico abaixo mostram a evolução do consumo de calorias nos países subdesenvolvidos e em suas subregiões. Embora o conjunto dos países subdesenvolvidos já esteja dentro dos padrões mínimos de alimentação calórica – o que não significa que a qualidade seja satisfatória –, o gráfico mostra que na

FAO, El Estado de la inseguridad alimentaria en el mundo 2006.

A fome no mundo

China Sudeste da Ásia América do Sul Índia América Central África Ocidental México África do Norte África Meridional América Central Ásia Oriental (– China) Ásia Meridional (– Índia) África Ocidental Orienta Médio África Central –50 –40 –30 –20 –10 0 10 20 30 40 Redução Milhões Aumento

Enquanto algumas regiões ou países tiveram redução no número absoluto de subnutridos, em outras, especialmente, na África, esse número aumentou.

Evolução do consumo de calorias por regiões Calorias/Hab./Dia

FAO, El estado de la inseguridad alimentaria en el mundo 2006.

3.500 3.000 2.500

O Brasil e a fome Entre 1974 e 1975 foi realizado o Estudo Nacional da Despesa Familiar (Endef), que apontou a existência de 46,5 milhões de brasileiros (cerca de 50% da população da época) com déficit de consumo de calorias. Segundo dados publicados pelo IBGE em maio de 2006, mesmo após a implantação de políticas públicas de segurança alimentar, como o programa Fome Zero, por exemplo, havia ainda no Brasil cerca de 14 milhões de pessoas com graves problemas de fome e desnutrição. Além disso, 72 milhões de brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar, sem garantia de acesso à alimentação em quantidade, qualidade e regularidade suficientes. Nesse período de mais de 30 anos, a produção agrícola para o mercado externo cresceu de forma acelerada, ao passo que a produção de alimentos dirigida ao mercado interno teve um crescimento mais lento. Paralelamente, acelerou-se o crecimento urbano, provocado pelo êxodo rural, ampliando o problema do favelamento e da marginalização social. Milhões de pessoas de baixa renda passaram a exercer atividades mal remuneradas, quase sempre insuficientes para garantir renda que lhes proporcione uma alimentação adequada, o que gera fome e/ou subnutrição. A necessidade de conquistar a segurança alimentar levou à criação, no Brasil, do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), por meio do qual os órgãos governamentais e as organizações da sociedade civil devem atuar conjuntamente na formulação e implementação de políticas e ações de combate à fome. As diretrizes dessa política são estabelecidas pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que acompanha programas como Bolsa Família, Alimentação Escolar, Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar e Vigilância Alimentar e Nutricional.

2.000

A PRODUÇÃO MUNDIAL DE ALIMENTOS

1.500 1.000 500 0

Países África Subdesenvolvidos Subsaariana 1969-71

Mundo Islâmico

1979-81

América Latina 1989-91

Ásia Meridional 1999-2001

Ásia do Sul e Sudeste 2015

Quantidade de calorias ideal

Na atualidade há mais de 350 mil espécies vegetais conhecidas. Dessa imensa variedade, pouco mais de 300 são cultivadas em escala comercial e destas apenas sete são responsáveis por mais da metade dos alimentos consumidos no mundo. Veja o gráfico a seguir:

Considerando o patamar ideal de consumo diário de calorias como 2.500, concluise que desde a década de 1990 o conjunto dos países subdesenvolvidos já saiu da situação de deficiência calórica.

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9

SISTEMA ANGLO DE ENSINO


necessitam de uma forte ação humana para que se tornem férteis e permitam o desenvolvimento agrícola. Para seu aproveitamento elas precisam de algum tipo de irrigação. Nas últimas décadas a área agrícola irrigada no mundo dobrou de extensão, como mostra o gráfico abaixo:

Maiores produções agrícolas alimentares

milhões de toneladas 800

715

700

693

659

Áreas irrigadas no mundo

500 milhões de hectares

400

350

300 198

200

300

100

63 trigo

arroz

milho

batata

banana

32

24

centeio

feijão

Em quase todo o mundo encontram-se plantas exóticas e alimentos regionais típicos, mas a maior parte da humanidade tem sua alimentação assentada nos sete produtos agrícolas mostrados no gráfico, com amplo destaque para os cereais básicos: trigo, arroz e milho.

O cultivo dessas plantas foi impulsionado pelo crescimento da população, especialmente após 1850, o que aumentou muito a necessidade de alimentos e matérias-primas agrícolas. Essa foi, sem dúvida, a maior causa da transformação de muitos produtos extrativos em produtos agrícolas e também do impulso à chamada agroindústria. Hoje, pouco mais de 10% da superfície dos continentes (cerca de 15 milhões de km2) é usada para a agricultura. A maior parte do planeta apresenta um ou mais

fatores naturais que limitam o espaço cultivável. Das terras emersas do planeta (cerca de 131 milhões de km2), apenas uns 49 milhões de km2 são ecúmenas, ou seja, facilmente ocupáveis. O restante é de difícil ou impossível ocupação, sendo cerca 43 milhões de km2 de desertos, geleiras e montanhas e 39 milhões de km2 de florestas. Veja no mapa abaixo as áreas de ocorrência de aridez. A extensa área com climas áridos e semi-áridos explica por que grandes parcelas das terras atualmente cultivadas

Regiões áridas no mundo

Trópico de Câncer

Equador

www.greenpeace.org

Trópico de Capricórnio

desertos quentes

zonas semi-áridas

desertos temperados

Os climas secos se estendem por grande parte da Terra, organizando-se em três grandes tipos: desertos quentes das zonas tropicais, com temperaturas médias entre 20°C e 35°C; zonas semi-áridas, também comuns nas áreas tropicais, em geral como continuidade dos desertos, mas estendendo-se às zonas temperadas, com temperaturas bem mais baixas; e desertos temperados, que surgem em áreas mais frias, a maior parte no interior de grandes massas continentais, como na Ásia, América do Norte e América do Sul.

ANGLO VESTIBULARES

10

CMS 2006. Visión Mundial del Água. 4o World Forun Water.

FAO, Yearbook production 2005. Rome, UN, 2006.

600

250 200 150 100 50 0 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

O problema da ampliação da área irrigada é o elevado uso de água potável, que está se tornando escassa no mundo. A agricultura irrigada utiliza cerca de 70% do volume total de água consumida no mundo.

A produção e a produtividade A observação histórica da questão alimentar mostra que a escassez de alimentos sempre se produziu em espaços geográficos relativamente restritos. Quase sempre essas ondas de fome estiveram associadas a desastres naturais, pragas ou guerras. A diferença entre o passado e o presente é a ocorrência de fome ou escassez de alimentos, de forma simultânea, em muitas nações, de vários continentes. A FAO, em junho de 2008, apontou a existência de 37 países que estavam em crise alimentar e afirmou que, nesse mesmo ano, o conjunto das nações mais pobres do mundo pagará 65% mais por suas importações de cereais. O Programa Mundial de Alimentos (PMA) estima que a crise atual de alimentos esteja ampliando o número de famintos no mundo em mais de 100 milhões de pessoas. Desde a década de 1990, os produtos agrícolas alimentares vinham apresentando uma queda dos preços reais. Em parte essa queda deveu-se à enorme elevação da produtividade agrícola alcançada nas últimas décadas com a aplicação de tecnologia no campo. Dessa forma, cada unidade de terra cultivada produz uma toSISTEMA ANGLO DE ENSINO


Exemplos de crescimento da produtividade agrícola Toneladas/hectare 5 Milho 4 Arroz 3 Trigo

FAO. Yearbook 2007.

2

1

0 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

Os três produtos alimentares mais importantes do mundo tiveram no mínimo dobrada a sua produtividade nas últimas décadas.

O volume de produção também não parou de crescer. Em 2007 a produção agrícola mundial já era três vezes maior que a obtida no início da década de 1960. Durante esse período a população mundial apenas duplicou, havendo, portanto, uma oferta de alimentos maior que no passado. Isso permite concluir que o problema da fome, pelo menos no âmbito mundial, não decorre da falta de comida, mas sim da incapacidade de milhões de pessoas de comprá-la. Pode ocorrer ainda uma distribuição irregular da produção, quando analisada sob o ponto de vista da parcela de habitantes de cada área. Isso significa que determinados lugares do mundo podem ter excedentes de produção, enquanto em outros há escassez. Veja, no gráfico abaixo, a evolução da produção agrícola em diferentes partes do mundo.

Na maior parte dos países desenvolvidos o aumento da renda per capita, nas últimas décadas, não provocou elevação do consumo de alimentos, já que as populações desses países têm um padrão alimentar bom e não necessitam consumir mais alimentos a cada ano. Além disso, o crescimento dessas populações é muito baixo, o que não leva a um crescimento explosivo do seu mercado consumidor, contribuindo para a manutenção dos preços dos alimentos. O mesmo não ocorre em países subdesenvolvidos, onde milhões de pessoas são subalimentadas ou estão fora do mercado de consumo, já que vivem uma economia de subsistência. Nesses países, a elevação da renda, o acelerado crescimento da população, a urbanização e a integração de novas parcelas da população ao mercado consumidor, fazem com que ocorra uma pressão inflacionária gerada pela maior demanda, elevando o preço dos alimentos, já que eles são produtos de primeira necessidade. Frente aos dados de crescimento da produção e da produtividade agrícola, pela lógica do mercado, os preços das commodities alimentares deveriam estar caindo. Mas não foi o que ocorreu até agora. Veja o gráfico ao lado.

A recente alta de preços A aplicação de tecnologias mais eficientes tem melhorado o rendimento da terra e racionalizado a exploração do potencial dos elementos naturais. Entre 1950 e 1980 a produção mundial de alimentos per capita aumentou 49%. Entre 1981 e 2005 ela cresceu mais 57%. Se existe fome no mundo, ela se deve a guerras e à má distribuição de riquezas. Seguindo uma tendência comum a praticamente todas as mercadorias, o preço

Produção agrícola mundial por continentes ou regiões 1970

2005

África América 10% Latina 10%

África 11% Europa 33%

FAO. Yearbook 2007.

China 10% Resto da Ásia 18%

América do Norte 19%

China 22%

América Latina 12% América do Norte 16%

Resto da Ásia 21% Europa 18%

A China foi a região com o maior crescimento na participação da produção agrícola mundial, enquanto a Europa e a América do Norte tiveram a participação reduzida.

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Evolução recente dos preços das commodities Global Development Finance 2007. The Globalization of Corporate Finance in Developing Countries. World Bank 2008.

nelagem crescente de produtos agrícolas, como mostra o gráfico abaixo:

(índice 100 em Janeiro de 2003) 350

300

Minérios e metais

250

200 Energia 150

100

Produtos agrícolas

50 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

O gráfico mostra a alta dos preços dos produtos alimentares desde 2004 e a aceleração exagerada dos preços desde a metade de 2007.

dos alimentos varia segundo a oferta e a procura. Uma redução do consumo de certo produto, ou o excesso de sua oferta no mercado, pode provocar a queda de seu preço, o que desestimula os agricultores a produzir essa mercadoria na próxima safra. Isso reduz os estoques do produto e em pouco tempo ocorre uma nova alta dos preços. Foi o que aconteceu recentemente. Desde 2007 o mundo vem assistindo a uma aceleração da elevação dos preços no mercado internacional de alimentos, em taxas bem acima da média histórica, dentre outras coisas devido ao aumento da demanda e à redução dos estoques mundiais (em junho de 2008 o estoque de trigo estava 46% mais baixo que em 2000, o de milho 41% e o de arroz 51%). Além disso, outros fatores estão contribuindo para a alta dos alimentos. A escalada dos preços abarca muitos outros produtos agropecuários, já que em quase todo o mundo ocorreram aumentos de preço de laticínios, carnes, ovos, vegetais e frutas. Esse processo teve início em fevereiro de 2006, quando as reservas de grãos e oleaginosas tiveram uma redução substancial, a medida que os preços aumentaram rapidamente. Sua aceleração em 2008 foi ligada mais à especulação sobre o futuro da situação. Veja a evolução das relações entre produção, consumo e estoques dos cereais no mundo nos gráficos a seguir. SISTEMA ANGLO DE ENSINO


Evolução da produção e uso de cereais no mundo Milhões de toneladas 2.100 Produção

2.050 2.000

Utilização

1.950 1.900

Déficit com redução de estoques

1.850 1.800 1.750 1.700

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

FAO, El Estado Mundial de la Agricultura y la Alimentación 2006. Roma: FAO, 2006

Evolução mundial das reservas absolutas e relativas de cereais Milhões de toneladas

Porcentagem

800

40

700

35

600

30

Relativa

500

25

400

20

300

15

200

10

100

5

0

92

93

94

95

96

97

98

99

China

00

01

02

03

04

05

06

07

0

Mundo

Os gráficos mostram que em determinados períodos o uso dos cereais supera a produção do ano, o que leva a déficit e redução dos estoques. Vemos ainda o grande peso da China nas reservas (estoques), tanto na forma absoluta (toneladas) quanto na relativa (porcentagem).

De acordo com a FAO, em seu informe de abril de 2008, o preço dos grãos de primeira necessidade cresceu 88% desde março de 2007. O preço do trigo subiu 181% nos três anos anteriores e do arroz subiu 50% em apenas 3 meses. Esses aumentos são especialmente catastróficos para os 2,5 bilhões de seres humanos que vivem com menos de 2 dólares por dia e gastam até 80% de sua renda na alimentação. No Brasil, alimentos essenciais como trigo, arroz, feijão e milho tiveram um aumento de preço de cerca de 80%, entre junho de 2006 e junho de 2008. Mas seria a questão dos estoques o único fator determinante da elevação dos preços dos alimentos? Não. A elevação de preços pode ser explicada pela conjugação de seis fatores principais: ANGLO VESTIBULARES

• Elevação do preço do petróleo – a dependência da agricultura em relação ao petróleo é crescente. Os preços dos fertilizantes e dos produtos químicos derivados de petróleo utilizados na agricultura tiveram a maior alta da história após 2007. As máquinas e os veículos para semear, colher, processar, armazenar e transportar necessitam de combustíveis e derivados do petróleo. Energia elétrica, plásticos e materiais para embalar e transportar a produção também dependem do petróleo; • Aumento no preço dos insumos agrícolas – a maior demanda e a elevação do custo do petróleo aumentaram os gastos com insumos agrícolas (máquinas, adubos, fertilizantes, pesticidas, etc), sem perspectiva de redução no curto prazo;

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• Utilização de grãos básicos para elaborar biocombustíveis – em sincronia com o aumento do preço do petróleo no mundo, intensificou-se a elaboração dos chamados agrocombustíveis. Sua produção tem crescido impulsionada por subsídios e políticas públicas. A União Européia, por exemplo, definiu que em 2010 pelo menos 5,75% do transporte da organização deverá utilizar bioetanol e biodiesel. Nos Estados Unidos, a lei prevê o uso, até 2012, de pelo menos 276 milhões de litros de agrocombustíveis, baseado em um programa de incentivos econômicos aos produtores. Essa demanda de agrocombustíveis preocupa especialistas que temem pela redução da produção de grãos. No Brasil, onde há muito espaço agrícola a ser ocupado, a produção de álcool de cana-de-açúcar não concorre, necessariamente, com a produção de alimentos, mas essa não é a realidade de todos os países produtores; • Problemas climáticos – várias regiões do mundo têm apresentado comportamento climático anômalo, com secas mais acentuadas ou chuvas em excesso. Muitos estudiosos estão relacionando esses fatos com as mudanças climáticas globais. Por outro lado, o uso crescente de fertilizantes, a degradação de solos, a derrubada de florestas e a ampliação da pecuária estão contribuindo para a maior produção de gases que provocam o efeito estufa; • Mudanças no padrão alimentar – o crescimento econômico em países como a Índia e a China modificou o padrão de consumo alimentar de milhões de pessoas, que passaram a comer mais, melhor e de forma mais diversificada. Isso está acarretando uma pressão de consumo, amparada pelas importações, que eleva os preços dos alimentos no mercado mundial; • Especulação nas bolsas de valores – a especulação financeira em grande escala nas bolsas mercantis, em especial nas de Nova Iorque e Chicago, tem contribuído para a escalada de preços dos alimentos. O mercado agrícola de futuros usa mecanismos de compra e venda de papéis e não das mercadorias concretas (opções, opções a prazo, fundos indexados, com contratos de compra e/ou venda de mercadorias a preço e prazo pré-determinados – Uma opção de venda é uma aposta de que o preSISTEMA ANGLO DE ENSINO


ço futuro da mercadoria vai descer. Uma opção de compra, ao contrário, é uma aposta de que o preço vai subir). Esse mercado foi capturado por grandes investidores, em especial pelos poderosos fundos de investimento, que só em 2007 investiram 175 bilhões de dólares, passando a controlar mais de 40% desses negócios na maior bolsa agrícola do mundo, a de Chicago. Alguns economistas apontam as especulações financeiras no setor como a maior causa da alta de preços dos alimentos. O Banco Mundial e o FMI propuseram um plano emergencial de incentivo agrícola como resposta à crise alimentar desencadeada em 2007, por meio de mais empréstimos. Robert B. Zoellick (presidente do Banco Mundial) classificou a iniciativa como um plano de ação “para o desenvolvimento a longo prazo da produção agrícola (…) Temos que colocar o nosso dinheiro onde está hoje a nossa boca para que possamos levar comida às bocas famintas” (BBC, 02/05/2008). Teme-se, no entanto, que esses novos empréstimos sirvam para aumentar ainda mais as dívidas desses países. Não há soluções fáceis para o problema da fome no mundo e tampouco as propostas apresentadas são consen-

Combustíveis

suais. Porém, a análise do problema da fome deve levar em conta que: 1. a fome sempre existiu, mas hoje, pela primeira vez na História, há condições tecnológicas e econômicas para a sua erradicação; 2. ao contrário do que se tem feito, é necessário incentivar os países subdesenvolvidos a produzirem ainda mais produtos agrícolas alimentares para consumo próprio, reduzindo a dos países desenvolvidos.

Política agrícola norte-americana A produção de alimentos é uma arma poderosa que os Estados Unidos usam há décadas. Guerra, alimentos e direitos de propriedade intelectual fazem parte das estratégias geopolíticas e econômicas desenvolvidas pela Casa Branca desde os anos 1970. Nesse quadro, o desenvolvimento da indústria militar, a produção em larga escala de grãos e o desenvolvimento tecnológico, com o controle de patentes, formam três das mais importantes bases do poder dos Estados Unidos. Em 1974, Henry Kissinger, secretário de Estado norte-americano, escreveu o Memorando de Segurança Nacional número 200 (intitulado “Implicações do Crescimen-

× Alimentos?

O debate acerca do uso de produtos agrícolas para a produção de combustíveis foi aquecido nos últimos meses pela crise internacional do mercado de alimentos. Devemos, no entanto, destacar que a produção de etanol a partir do milho é muito diferente daquele feita com a cana-de-açúcar. Nos Estados Unidos aproximadamente 20% da produção anual de milho é destinada à produção de etanol. Graças ao elevado subsídio oferecido a esses produtos, sua produção tem se elevado nos últimos 10 anos, reduzindo a área cultivada com soja e trigo, por exemplo. No Brasil não há subsídio nem para cana e nem para o etanol. Além disso, um hectare de cana pode gerar 8 mil litros de etanol, enquanto que o mesmo espaço de milho produz apenas 3 mil litros desse combustível. Além disso, o balanço energético do milho é péssimo: ele consome 1 unidade de energia fóssil para produzir apenas 1,5 unidade de energia de etanol, enquanto a cana com 1 unidade de energia fóssil produz 9 unidades de energia de etanol. Aprofundando: a cana-de-açúcar não ocupa espaço agrícola alimentar. Isso se comprova pelas safras de 2007 e 2008, quando a produção de cana no país bateu recorde, bem como a produção de carne, leite e alimentos agrícolas. Entre 1990 e 2005 a área dedicada ao cultivo de grãos no Brasil cresceu 24% enquanto a produção cresceu 140%, indicando uma excelente melhora da produtividade. Isso significa aumento da produção sem ampliação das áreas cultivadas, sem redução da área de matas naturais. A produção de carne bovina cresceu, no mesmo período, cerca de 100% e a de frango mais de 200%. Apesar das dificuldades impostas pela falta de um acordo na rodada de Doha e pela manutenção dos elevados subsídios agrícolas nos Estados Unidos e Europa, o crescimento da demanda mundial por alimentos e a agroenergia continuam impulsionado o agronegócio no Brasil.

ANGLO VESTIBULARES

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to da População Mundial para a Segurança dos Estados Unidos e seus Interesses Ultramarinos”), no qual defendia a tese de que a fome no mundo poderia se constituir em um instrumento de controle populacional. Faz parte desse documento a famosa frase: “Controle o petróleo e controlará os países. Controle os alimentos e controlará a população”. Um pouco mais tarde, o secretário de agricultura dos Estados Unidos (19811985) Jonh Block afirmou que “O esforço de alguns países em vias de desenvolvimento em se tornarem auto-suficientes na produção de alimentos deve ser uma lembrança de épocas passadas”. Segundo dados da FAO, atualmente cerca de 70% dos países subdesenvolvidos necessitavam importar alimentos, o que parece comprovar a tese de Block. Em 2002, em suas justificativas para assinar a “Lei de Segurança para as Granjas e Investimento Rural”, o presidente George W. Bush, declarou “Os estadunidenses não podem comer tudo o que nossos agricultores e pecuaristas produzem. Por isso tem sentido exportar mais alimentos. Hoje, 25% das entradas agrícolas estadunidenses provêm de exportações, o que significa que o acesso aos mercados exteriores é crucial para a sobrevivência de nossos agricultores e pecuaristas. Permitam-me dizer claramente: nós queremos vender nosso gado, milho e feijões para as pessoas do mundo que precisam comer”. Como se vê, em seu discurso o presidente dos Estados Unidos não diz nenhuma novidade. Ele estava apenas reafirmando uma política econômica que caracteriza esse país há décadas. O êxito dessa política tem se baseado na manutenção de elevados subsídios agrícolas e ações governamentais para a redução dos custos de produção. Essa política está assentada na necessidade de manter elevadas as exportações, não apenas para reduzir o déficit da balança comercial, mas também porque o mercado interno do país não absorve a totalidade da imensa produção nacional. Há muitas décadas o país destina mais de 1/3 do seu espaço agrícola para cultivo ou criação voltados à exportação.

AS SEMENTES TRANSGÊNICAS O termo planta transgênica referese a plantas criadas em laboratório utilizando uma tecnologia de DNA recombinante. Elas possuem um ou mais genes provenientes de uma espécie diferente. O DNA dessa outra espécie é integrado SISTEMA ANGLO DE ENSINO


Da Revolução Verde à atualidade Na década de 1960 foi cunhado o termo Revolução Verde, usado para referir-se à invenção e disseminação de sementes modificadas e práticas agrícolas que permitiriam um aumento na produção agrícola em países subdesenvolvidos, com o fim de resolver o problema da fome. Dentro dessa política, a partir da década de 1970, foram introduzidas no México novas sementes de milho e trigo, que aumentaram a produção em seis vezes. Na Índia os resultados foram semelhantes, mas o elevado crescimento da população na época impediu a redução substancial do número de famintos. A Revolução Verde foi bastante criticada por demandar cultivo em grandes áreas com uso de irrigação, adubação e pesticidas, que levam à dependência tecnológica. Desde a década de 1970, o Brasil passou a desenvolver tecnologia agrícola própria, e a disseminação dessas tecnologias desencadeou um surto de crescimento da produção; ampliaram-se assim a fronteira agrícola e os tipos de cultura. Isso permitiu ao país elevar sua produção e sua produtividade, principalmente de soja, milho e algodão, e atingir recordes de exportação. Para muitos ambientalistas, no entanto, a “Revolução Verde” trouxe também efeitos negativos: • aumento das despesas com o cultivo e o conseqüente endividamento dos agricultores; ANGLO VESTIBULARES

Expansão da área cultivada com transgênicos Milhões de hectares

Total

100 90 80 70 60 50 Países desenvolvidos

40 Clive James, 2003 e FAO, 2008.

ao genoma vegetal da planta transgênica com o objetivo de criar uma planta com características específicas. Esse processo surgiu na década de 1970, sendo a Plant Genetic Systems a primeira empresa a desenvolver esse tipo de engenharia genética, criando um tipo de tabaco com tolerância a insetos, em 1985, em Gand, na Bélgica. As plantas transgênicas foram desenvolvidas por varias razões, dentre as quais destacamos: prazo de validade mais longo; resistência a doenças; resistência a herbicidas; resistência a pragas; resistência a estresse e não biológico, como a seca ou a escassez de nitrogênio no solo; e elevação das qualidades nutritivas da planta. Em 1994 foi aprovada a venda da primeira semente transgênica dos Estados Unidos: a Flavrsavr, uma semente que produzia tomates com vida útil (ou seja, apodrecimento retardado) mais longa. Logo depois sementes transgênicas de soja e milho passaram a ser cultivadas em grande escala nos Estados Unidos.

30 20

Países Subdesenvolvidos

10 0 1995 1996

1997 1998 1999

2000 2001 2002

2003

2005

2007

Apesar da oposição de muitos ecologistas e organizações ambientalistas, a área cultivada com transgênicos no mundo está crescendo a taxas muito acima das apresentadas pelos cultivos tradicionais.

• dependência dos interesses das grandes empresas agroindustriais; • possível uniformização das espécies agrícolas, com redução da biodiversidade; • vulnerabilidade das culturas uniformes ao ataque de certas espécies animais; • aumento do uso de pesticidas, herbicidas e fertilizantes, o que contribui para a poluição hídrica e do solo, além de contaminar os alimentos com resíduos tóxicos. Várias dessas críticas são rebatidas pelos defensores dessa revolução verde. Eles afirmam que os transgênicos permitiram baixar os preços de vários produtos agrícolas e que, sem isso, o número de famintos do mundo seria muito maior hoje. Na atualidade, as sementes transgênicas são um dos organismos geneticamente modificados (OGMs) mais comuns. A polêmica sobre o uso de espécies vegetais desse tipo cresceu muito nos últimos anos porque há dúvidas sobre os seus benefícios e existem denúncias de risco à saúde humana e ao meio ambiente causados por seu consumo e/ou cultivo. Apesar disso, grandes transnacionais como Monsanto, Syngenta, DuPont e Bayer já investiram bilhões de dólares em pesquisas, e a disputa pelo mercado de sementes transgênicas continua crescendo. Em 2008 a área cultivada com sementes transgênicas em mais de 20 países superou os 100 milhões de hectares. Sua evolução tem sido muito rápida, crescen-

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do em média mais de 10% ao ano, como indica o gráfico acima. No início de 2008, os países com maior extensão de terras cultivadas com transgênicos eram: Estados Unidos (53 milhões de hectares), Argentina (21 milhões de hectares), Canadá (8 milhões de hectares), Brasil (7 milhões de hectares) e China (6 milhões de hectares), totalizando mais de 90 % da área mundial. Os principais cultivos transgênicos são de milho, algodão, canola e soja (esse último o mais extenso, com 50% da área plantada de OGMs). Outros países produtores podem ser vistos no mapa a seguir. O potencial impacto sobre os ecossistemas mais próximos é uma das maiores preocupações associadas com plantas transgênicas. É motivo para preocupação se: • A planta transgênica se espalhar para fora da área de cultivo original; • A planta transgênica passar seus genes para as espécies selvagens locais; • A planta transgênica gerar descendentes férteis. O cruzamento de plantas transgênicas com as espécies locais pode criar riscos ambientais e ainda trazer problemas para os agricultores e produtores de alimentos. Numerosos países têm diferentes legislações para plantas transgênicas e convencionais, bem como para os produtos usados na alimentação humana e animal feitos com transgênicos. SISTEMA ANGLO DE ENSINO


Principais produções mundiais com sementes transgênicas Canadá (8 milhões) Canola, milho e soja Alemanha Milho

EUA (53 milhões) Soja, milho, algodão e canola

Romênia Soja

China (6 milhões) Algodão

Espanha Milho

México Algodão e soja

Filipinas Milho

Honduras Milho Índia Algodão

Colômbia Algodão

Paraguai Soja

FAO, 2008.

Argentina (21 milhões) Soja, milho e algodão

Austrália Algodão

Brasil (7 milhões) Soja África do Sul Milho, soja e algodão

Uruguai Soja e milho

Países desenvolvidos

Países subdesenvolvidos

A expansão dos transgênicos está ocorrendo em todos os continentes, sendo limitada especialmente na África e no Oriente Médio devido principalmente a dificuldades técnicas e econômicas.

Os consumidores e algumas ONGs estão exigindo que se identifiquem claramente os alimentos geneticamente modificados e os que os têm em sua composição. Por isso, os agricultores e os produtores devem separar as cadeias produtivas tradicionais das que usam OGMs, desde o campo até as indústrias de alimentos. No Brasil, a situação tem sido confusa, com disputas que chegam até os tribunais e polêmicas sobre a legalidade do plantio e da comercialização de grãos modificados. As maiores produções desse tipo estão no Rio Grande do Sul.

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BIBLIOGRAFIA AMAROVAY, Ricardo. A fome no mundo. São Paulo: Brasiliense, 1998. CASTRO, Josué de. Geografia da Fome. São Paulo: Civilização Brasileira, 2001. (1a edição de 1946). . Geopolítica da Fome: Ensaio sobre os problemas de alimentação e de população no mundo. São Paulo: Brasiliense,1957, 4a edição CHOSSUDOVSKY, Michel. A Globalização da Pobreza. São Paulo: Moderna, 1999. FAO. The state of food insecurity in the world. 2001.

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KRUGMAN, Paul. O que está por trás da crise de alimentos? OESP, 08/08/2008. ONU. Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo. Informe Anual 2007. . Objetivos de desarrollo Del Milenio. Informe 2005. . World Economic Situation and Prospects 2007. New York: United Nations, 2008. Revista Agroanalysis – A revista de agronegócios da FGV. Instituto Brasileiro de Economia, vol. 22, no 10, dez./jan. de 2003. Edição especial de virada do ano: Fome Zero em debate.

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