Especial golpe 64 e seus reflexos em caçador (2)

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especial

01/04/2014

Documentos secretos revelam investigações do Exército em Caçador e região

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ocumento localizado no portal Brasil: Nunca Mais revela as incursões do Exército em Caçador e em outras cidades da região para analisar a situação dos chamados “subversivos” (contra o regime). Em documento datado de 09 de abril de 1964, com selo do Ministério da Guerra e da 5ª Região Militar e Divisão de Infantaria, consta ofício secreto onde um oficial é destacado para informar sobre as ações do “Grupo dos 11”. “Desde o início da preconização do ex-deputado Brizola, pedindo a organização da formação de “Grupo dos onze” em to-

dos os municípios, tive o cuidado de, discretamente observar a atuação dos grupos mais chegados, a política local, residentes nesta região, ligados a elementos da política da cúpula nacional”, relata o oficial no documento. “Na área do proletariado dos municípios de Caçador e Videira, notava-se maior ligação da classe com líderes da política nacional e estadual. O suplente de deputado estadual po PTB Agostinho Mignoni em suas constantes jornadas, mantinha ligação direta com dirigentes do Sindicato dos Oficiais Marcineiros e Trabalhadores das Indústrias de Serrarias e Móveis de Caçador...”.

Ex-vereador de Caçador foi preso e torturado

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oão Pedro Pereira Carpes, então com 45 anos, foi preso em 1969 em sua casa em Caçador. Ele foi vereador por três mandatos: 1959-1963/19631967/1967-1970. A filha Eliane Carpes que hoje mora no interior de São Paulo presenciou a prisão do pai. “Minha primeira lembrança é de ter sido acordada por vários homens do exército armados com metralhadoras que foram prendê-lo em casa. Eu me agarrava nas pernas dele pra não deixar que o levassem. Eles usavam capotes verde oliva e tinham aparência de monstros pra mim mas eu os enfrentei junto com minha mãe. Aí ameaçaram levar ela também”. Eliane tinha quatro anos e meio. A esposa de João Pedro, Laura era funcionária pública estadual, servente na escola Dante Mosconi, onde todos os filhos estudavam na época da prisão.

Meus irmãos mais velhos passaram a trabalhar para ajudar em casa e os correligionários amigos do pai nos ajudavam com cestas básicas e também com o transporte até Curitiba para vê-lo. Mas éramos apontados na rua como filhos de bandido. Ninguém sabia o que estava acontecendo e o motivo dele estar preso”, comenta. A filha relata que João Pedro ficou preso por um ano e alguns meses. Inicialmente no presídio em Curitiba onde presenciou coisas horríveis e sofreu tortura psicológica, mas não física. Depois na cadeia pública de Caçador onde foi respeitado. “Ele ficou muito abalado. Contava que não deixavam ele dormir ligando refletores dentro do cubículo em que ficou preso em Curitiba. E torturavam estudantes forçando ele a assistir. Enfiavam ratos vivos na genitália de moças estudantes. Ele sofreu com insônia e

João Pedro Pereira Carpes foi vereador por três mandatos pesadelos por muito tempo”, conta. João Pedro foi julgado inocente da acusação de subversivo. Mas na volta a Caçador perdeu o emprego. “Ele teve apoio de muitos amigos e continuou sua vida política, era

o que amava. Nas eleições de 78 ele não se reelegeu e sentiu-se traído, ficou deprimido e foi o que provocou nossa vinda para Itapeva – SP em junho de 1980”, conta a filha. João Pedro morreu em 1989, vítima de câncer intestinal.

Em 2002, o Ministério da Justiça declarou João Pedro Pereira Carpes anistiado político “post mortem” e concedeu em favor da esposa Laurentina Maria Pereira reparação econômica, de caráter indenizatório.


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