O Apocalipse Canônico de João e o Leitor Cristão: um Prefácio Hermenêutico

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O APOCALIPSE CANÔNICO DE JOÃO E O LEITOR CRISTÃO: UM PREFÁCIO HERMENÊUTICO THE CANONICAL APOCALYPSE OF JOHN AND THE CHRISTIAN READER: A PREFACE HERMENEUTIC

Ângelo Vieira da Silva1 RESUMO: Esse artigo propõe apresentar um exame introdutório sobre os processos hermenêuticos aplicados ao último livro da Bíblia cristã: o Apocalipse. Para tanto, considerando o leitor cristão, indica os principais e diferentes gêneros literários empregados na obra neotestamentária atribuída ao discípulo João, destacando as características fundamentais evidenciadas na literatura apocalíptica em geral, bem como os métodos interpretativos mais utilizados entre os especialistas da área, a saber: o preterismo, o futurismo, o espiritualismo e o modelo histórico.

PALAVRAS-CHAVE: Apocalipse, Hermenêutica, Apocalíptica, Preterismo, Futurismo, Espiritualismo, Histórico

ABSTRACT: This article aims to present an introductory examination of the hermeneutical process applied to the last book of the Christian Bible: Revelation. To do so, considering the Christian reader, identifies the principals and different literary genres employees in the work neo-testamentary attributed to the disciple John, highlighting the fundamental characteristics evidenced in apocalyptic literature in general, as well as the interpretative methods used among specialists, namely: preterism, futurism, spirituality and history model.

KEY-WORDS: Revelation, Hermeneutics, Apocalyptic, Preterism, Futurism, Spiritualism, History. 1

Mestre em Ciências da Religião pela Faculdade Unida de Vitória/ES. Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP e pelo Seminário Teológico Presbiteriano (intracorpus) Rev. Denoel Nicodemos Eller/MG. Pesquisador na área de Apocalíptica, Literatura Enoquita (Enoque Etíope), Escatologia (Milenarismo) e Angelologia. Reside na cidade de Resplendor, no leste de Minas Gerais, Brasil. E-mail: revavds@gmail.com


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Introdução “Apesar de tantas pesquisas, tanto gerais como particulares, os cristãos parecem continuar impenetrá-veis no mistério da história e do significado do Apoca-lipse” (Ernst Lohmeyer). Introduzir o leitor cristão nos caminhos hermenêuticos do último livro do cânon judaico-cristão envolverá muitas laudas. Delimitando-se o objetivo, porém, esse artigo poderá constatar os diferentes gêneros literários empregados na obra atribuída ao discípulo João, conciliando pensamentos e verificando o gênero literário mais adequado ao livro. Afinal, uma boa leitura levará em conta a tentativa de identificar a idéia que o autor quis expressar sem, no entanto, tentar vislumbrar exatamente o que ele descreve. O gênero literário é a identificação da “forma ou método literário usado em determinada passagem com vistas às varias formas como história, narrativa, cartas, exposição doutrinal, poesia e Apocalipse. Cada uma tem seus métodos únicos de expressão e interpretação”.2 A partir do gênero, o livro é interpretado. O desafio do leitor cristão será identificar qual gênero literário mais se adequa a um escrito. Tal desafio é mais evidenciado no seio da Igreja cristã, afinal, é notório o mistério que ronda o Apocalipse neo-testamentário entre seus adeptos. Alguns demonstram medo, outros não o compreendem e há ainda aqueles que o interpretam mal, sem um estudo apropriado. Concordando com o doutor em teologia David Broadus Hale, o livro de Apocalipse “não é um desvendamento, mas permanece sendo algo oculto”. 3 Portanto, um prefácio hermenêutico apropriado instruirá o leitor cristão sobre as principais definições literárias do Apocalipse atribuído a João, suas características mais evidentes e os métodos interpretativos mais utilizados. A revelação inicia-se pela definição.

1. Definições Literárias do Apocalipse Canônico

O livro de Apocalipse é diferente dos demais livros do Novo Testamento cristão. Ele não se parece com os Evangelhos nem com Atos dos Apóstolos. Não se assemelha 2

VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. 10ª Ed. São Paulo: Vida, 2001, p. 58.

3

HALE, Broadus D. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 423.


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com as cartas paulinas nem com as cartas gerais. Ele possui um estilo único. Os próprios comentaristas entendem esta diferenciação e, às vezes, complicam a compreensão do leitor, pois muito diferem uns dos outros quanto ao gênero literário mais adequando ao livro. Todavia, existem opiniões mais relevantes. O doutor em teologia Irving L. Jensen, ao refletir sobre o gênero literário de Apocalipse, insiste ser esse profético no seu caráter e apocalíptico na sua forma.4 Outros sugerem que o último livro da Bíblia deve ser entendido como uma revelação que diz respeito ao objetivo final da história, classe literária conhecida como literatura apocalíptica. Por outro lado, a simples leitura do livro de Apocalipse pode demonstrar um início e término semelhantes ao de uma carta  e, de fato, contém cartas dentro de seu corpo textual (Apocalipse 2.1 a Apocalipse 3.22). Willian Hendriksen, outro doutor em teologia, expôs que o livro de “Apocalipse tem o objetivo de mostrar que as coisas não são como parecem ser. A Besta que sobe do mar parece ser vitoriosa [...]; Parece que os crentes foram vencidos? Na verdade, eles reinam”.5 O afamado Robert Charles Sproul destacou que, “em virtude de sua forma literária obscura e misteriosa, o livro de Apocalipse tem sido motivo de uma enorme quantidade de interpretações fantasiosas e até bizarras”.6 Outros especialistas acreditam que o Apocalipse foi escrito no estilo de uma peça teatral, em forma de código secreto para evitar que autoridades hostis compreendessem seu significado. Enfim, muitas outras interpolações podem ser identificadas sobre as formas de interpretar, afinal através dos séculos, muitos métodos foram propostos, resultando em várias interpretações diferentes. [...] Como resultado, o Apocalipse tem sido um livro que as pessoas confundem, fazendo com que alguns se separem do mundo, para aguardar a consumação, enquanto, outras vezes, pessoas se encorajam a tomar uma posição heróica contra as forças do mal [...]. O problema, na interpretação, não está tanto no trato do material pelo autor como no fato de que, através dos anos, o fundo histórico e o caráter literário foram depreciados e completamente perdidos [...]. Os primeiros leitores aparentemente entenderam o significado, em virtude do conhecimento que tinham, mas este conhecimento perdeu-se para as gerações subseqüentes, e o Apocalipse, desde então, tem sido um mistério.7

Esse é um pensamento coerente diante das muitas interpretações estranhas do livro atribuído a João. Os enganos, muitas vezes, se firmam em uma escolha errada do gênero literário do livro ou, até mesmo, a pura falta de critérios. 4

JENSEN, Irving L. Apocalipse. 2ª Ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1987, p. 12.

5

HENDRIKSEN, William. Mais que Vencedores. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p.16-18.

6

SPROUL, R. C. Os Últimos Dias Segundo Jesus. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 107.

7

HALE, 2001, p. 441.


4

Doravante, o leitor deve reconhecer que a maioria dos estudiosos e exegetas do Novo Testamento colocam o Apocalipse numa classe literária cujo nome é derivado da primeira palavra do texto grego: apocalíptica, oriunda de apókalypsis (que em gr. é apokaluyij), substantivo que provém do verbo apókalyptô (que em gr. é apokaluptw) que significa revelar, expor. Ao que parece, as principais características literárias apontadas a seguir corroboram com a tese apocalíptica.

2. Características Literárias do Apocalipse Canônico

A literatura apocalíptica

é cheia de simbolismos, mitologia, orientação

cosmológica, numerologia (gematria), experiências extáticas, alegações de inspiração, visões esotéricas (no sentido de ensinamento ministrado a um círculo restrito de ouvintes), drama, empréstimo de outros Apocalipses, alegoria e prosa. Pode ser uma resposta às necessidades que surgem das perseguições, resolvendo o problema colocado pela justiça de Deus e o sofrimento do homem, expondo os objetivos do nacionalismo.8 Os elementos de uma situação histórica real podem representados pelas imagens do livro. Ainda

pode

conter

determinismo,

escatologia,

dualismo,

dramaturgia,

transcendentalismo, uma filosofia pessimista da história, divisão eônica do tempo e um número de ensinos éticos e morais. Em tudo isso, há uma constante tensão entre a história e o “eschaton”. O apocalipticismo abarca muita escatologia9 o que, de modo algum, é redundante. Ora, a escatologia pode existir e freqüentemente existe nos escritos básicos, separadas das seções apocalípticas. A própria natureza contingente no pensamento escatológico faz com que a escatologia se preste à expressão apocalíptica (mitológica). Por outro lado, o apocalíptico é sempre escatológico, seja explícita ou implicitamente.10

Dentre todos elementos citados acima, destaca-se a a visão altamente elaborada (esotérica). Esse é o principal método usado para se receber a mensagem dentro da perspectiva apocalíptica. Mediante simbolismos, o escritor revela a mensagem àqueles que estão familiarizados com o processo, e a mensagem é ocultada àqueles que não 8

SHREINER, J. & DAUTZENBERG, G. Forma e Exigências do Novo Testamento. 2ª Ed. São Paulo: Teológica, 2004, p. 425. 9

BUTTRICK, George Arthur (Ed.). The Interpreter’s Bible. Nashville: Abingdon, 1957, p. 347.

10

HALE, 2001, p. 426.


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estão. Daí a dificuldade de se interpretar o Apocalipse canônico atribuído a João.

3. Principais Métodos Interpretativos do Apocalipse Canônico

Os aspectos de interpretação da literatura apocalíptica envolvem, pelo menos, quatro métodos hermenêuticos principais, como explicado a seguir. 3.1. O Método Preterista11 de Interpretação A palavra preterista vem de “pretérito”, que significa “passado”. Os preteristas se dividem entre o “Preterismo” propriamente dito, o “Preterismo Radical” e o “Preterismo Moderado”.12 Não é objetivo desse breve texto aprofundar sobre cada um dos aspectos da hermenêutica preterista, o que tornaria esse artigo demasiadamente extenso. Pode-se dizer que, geralmente, tal método interpreta o livro de Apocalipse como se referindo principalmente a “eventos dos seus dias, escrito para confortar uma igreja perseguida, mas escrito em código que [somente] a Igreja daquela época haveria de compreender: a luta entre o cristianismo e o Império Romano”.13 Os preteristas, via de regra, descrevem o cumprimento do Apocalipse na queda de Jerusalém em 70 a.C., na queda do império romano ou em ambas as épocas. Nesse interim, o Apocalipse revelaria aos cristãos primitivos da Ásia a brevidade de seus sofrimentos, afinal, eles seriam libertados do domínio romano.14 Para os preteristas, portanto, se há mesmo alguma profecia no último livro da Bíblia cristã, essa foi cumprida há muito tempo atrás,15 pois argumentam que não só o reino é uma realidade presente como também, em um sentido histórico real, a parusia já aconteceu [...]. É fundamental para o Preterismo a alegação de que a frase “a consumação do século” se refira especificamente ao fim da era judaica e ao início da era dos gentios, ou a era da igreja [...]. Na visão [do Preterismo], as profecias do Antigo Testamento sobre a Vinda de Cristo apontam para a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C [...]. Segundo os Preteristas, “os últimos dias” se referem ao tempo entre o advento de João Batista 11

Muitos especialistas sugerem que os fundamentos desse método de interpretação surgiram com um monge jesuíta do século XVII chamado Alcazar. 12

SPROUL, 2002, p. 18.

13

HALLEY, Henry H. Manual Bíblico. 6a Ed. São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 604.

14

LADD, George Eldon. Apocalipse. 7ª Ed. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 11.

15

HALE, 2001, p. 442.


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e a destruição esta].16

de Jerusalém [e muitas outras interpretações semelhantes a

3.2. O Método Futurista17 de Interpretação

Oposto a interpretação preterista, esse método situa o livro de Apocalipse à frente de seu tempo, como “eventos que vão acontecer ainda”,18 no futuro, antecedidos ou seguidos do evento do advento de Cristo. Os futuristas acreditam que o cumprimento das profecias apocalípticas ocorrerá num período de crise final, pouco antes da segunda vinda de

seu

Senhor.

Subdividem-se

em

(a)

Moderados

e

(b)

Extremados

ou

Dispensacionalistas.19 Não se abordará os aspectos de cada um separadamente para não se estender demasiadamente o texto, porém, resumidamente, pode-se dizer que o futurista enxerga o Apocalipse como um livro de profecias não cumpridas e que tudo deve ser interpretado literalmente.

3.3. O Método Espiritualista, Idealista ou Poético de Interpretação Diferentemente do método futurista, o espiritualista “despe a linguagem simbólica de qualquer valor como predição de acontecimentos futuros, pois reduz a profecia a um quadro simbólico sobre o conflito contínuo entre o bem e o mal, entre a Igreja e o paganismo, com o triunfo eventual do cristianismo”.20 H. H. Halley, ao tratar do método espiritualista (ou, conforme denominado por alguns autores, “idealista” ou “poético”),21 enfatiza que o mesmo abstrai inteiramente as figuras do livro [Apocalipse] de qualquer referência a fatos históricos, da época de Jesus, da época da segunda vinda, ou da história da igreja, e considera-o como representação ilustrada dos grandes princípios do governo divino aplicáveis em todos os tempos.22

16

SPROUL, 2002, p. 18-72.

17

Os pesquisadores da área sugerem que o método futurista iniciou-se com um homem chamado Ribera (século XVI), como um resultado textual na polêmica contra os ataques dos protestantes pela Roma papal. 18

HALLEY, 1997, p. 604.

19

LADD, 1999, p. 12.

20

GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. 2ª Ed. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 410.

21

ERDMAN, Charles R. Atos dos Apóstolos. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1960, p. 18.

22

HALLEY, 1997, p. 604.


7

O último livro da Bíblia cristã é reputado pelo idealista como uma obra unicamente de princípios para todos os tempos que contrastam o Cristo vitorioso, o governo divino e seu povo com um Satanás derrotado e seus seguidores, princípios esses aplicáveis em todos os tempos.23 O espiritualista “vê somente um quadro simbólico do conflito cósmico espiritual entre o Reino de Deus e os poderes satânicos maus”,24 afinal, seu único propósito é ajudar a Igreja a compreender a pessoa de Deus e as suas maneiras de tratar o mundo em geral, excluindo-se aquele conceito de mapeamento de um curso de acontecimentos históricos.25 Portanto, diante dessas considerações, pode-se reconhecer que os intérpretes poéticos enfatizam os princípios apocalípticos de modo que sua mensagem seja aplicável aos cristãos de todas as gerações, desde o tempo de João até o fim das eras. 26 Por outro lado, a grande dificuldade desse método interpretativo repousa no instante que “torna o lugar do cristão do primeiro século demasiadamente sem importância no esquema de coisas, pois os princípios são aplicáveis em qualquer época”.27

3.4. O Método Histórico de Interpretação

Após um detalhamento dos métodos preterista, futurista e espiritualista, se perfaz a necessidade de verificar o modelo histórico. Os especialistas históricos denotam que o livro de Apocalipse é destinado a antecipar uma visão geral de todo o período da história da igreja, desde a época de João até o fim: uma espécie de panorama, uma série de quadros em que se delineiam as etapas sucessivas e aspectos importantes da luta da igreja até a vitória final.28

Os historicistas ainda declaram que o último livro da Bíblia cristã oferece um esboço cronológico básico do curso da história eclesiástica do primeiro século até a segunda vinda de Cristo, o fim dos séculos. 23

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 65. 24

LADD, 1999, p. 12.

25

CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2001, p. 538-539. 26

KISTEMAKER, 2004, p. 65.

27

HALE, 2001, p. 444.

28

HALLEY, 1997, p. 604.


8

Vários movimentos na Idade média surgiram em meio à convicção de que o milênio estava para começar. Em apoio a suas crenças viam em Apocalipse um esboço da história da época de Cristo até os seus próprios dias. Essa abordagem (kirchengeschichtlich) também foi popular entre os reformadores, permitindo-lhes identificar a besta de Apocalipse com o papado.29

Por isso, George E. Ladd reconheceu a popularidade do ponto de vista histórico, modelo que durante muito tempo, foi adotado como o protestante.30 A partir da interpretação histórica, duas outras linhas hermenêuticas se desenvolveram dentro do método. Ainda que aparentmente idênticas, merecem considerações distintas em virtude do tempo de suas formulações. São elas o método histórico-sincrônico de Vitorino de Pettau e o paralelismo progressivo de Willian Hendriksen.

3.4.1. A Interpretação Histórica-Sincrônica O método da recapitulação ou histórico-sincrônico deve-se a Vitorino,31 no quarto século.32 Nele, ensinava-se que há uma série de sete porções em Apocalipse e que essas são paralelas, cada série começando próximo à época de João e estendendo-se até o fim dos tempos. O método é muito semelhante ao adotado por especialistas hodiernos, tal como Hendriksen. Destarte, a pesquisa não logorou êxito em constatar se esse último conhecia o sistema de Vitorino. Por enquanto, pode-se dizer que Hendriksen descreve um modelo semelhante, com a mesmo idéia de sete seções paralelas e se utilizando muitas vezes da própria palavra sincrônico, utilizada por Vitorino.

3.4.2. O Paralelismo Progressivo

O paralelismo progressivo, como em Vitorino, é um método de interpretação do Apocalipse através da série de sete porções no livro que são descritas como realmente paralelas, cada série começando próximo à época de João e estendendo-se até o fim dos 29

CARSON; MOO; MORRIS, 2001, p. 538.

30

LADD, 1997, p. 12.

31

Certamente este era Vitorino de Pettau, escritor eclesiástico em 304 d.C., mártir no tempo de Diocleciano. Seus escritos exegéticos muito influenciaram Jerônimo. Para mais informações ver Grande Enciclopédia Delta Larousse. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Delta S.A., 1970, p. 7061. 32

HALE, 2001, p. 444.


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tempos. Hendriksen explana que as sete seções podem ser agrupadas em duas divisões maiores. A primeira divisão maior (capítulos 1-11) consiste de três seções. A segunda divisão maior consiste de quatro seções. Essas duas divisões maiores revelam um progresso em profundidade ou intensidade de conflito espiritual. A primeira divisão maior (capítulos 1-11) revela a igreja habilitada por Cristo, perseguida pelo mundo. Mas a igreja é vingada, protegida e vitoriosa. A segunda divisão maior (capítulos 12-22) revela o cenário mais profundo do conflito. É um conflito entre Cristo e o dragão, em que Cristo e, portanto, sua Igreja, são vitoriosos.33

Também salienta que o último livro da Bíblia cristã possui duas maiores divisões. Igualmente, mostra que cada divisão maior é subdividida em seções menores que também são paralelas entre si. Na verdade, quando Hendriksen trabalha com o paralelismo progressivo, orienta no sentido de que as sete seções do Apocalipse são organizadas em ordem climática crescente. Para ele, há um progresso na ênfase escatológica, pois uma leitura cuidadosa do livro de Apocalipse mostra claramente que o livro consiste de sete seções, e que essas sete seções correm paralelas umas às outras. Cada uma delas abarca toda a dispensação, da primeira à segunda volta [sic, vinda]. Este período é visto ora de uma perspectiva, ora de outra.34

Nessa, o juízo final é primeiramente anunciado, depois apresentado e finalmente descrito. Igualmente, o novo céus e a nova terra são descritos mais plenamente na seção final do que nas precedentes. Veja o seguinte quadro explicativo:

PRIMEIRA

SEGUNDA

GRANDE DIVISÃO (1-11)

GRANDE DIVISÃO (12-22)

1a seção

Apocalipse 1.1 a 3.22

4a seção

Apocalipse 12.1 a 14.20

2a seção

Apocalipse 4.1 a 7.17

5a seção

Apocalipse 15.1 a 16.21

3a seção

Apocalipse 8.1 a 11.19

6a seção

Apocalipse 17.1 a 19.21

7a seção

Apocalipse 20.1 a 22.21

Guardadas as devidas proporções, pode-se afirmar que a recapitulação ou método histórico-sincrônico de Vitorino é o mesmo paralelismo progressivo de 33

HENDRIKSEN, 2001, p. 37.

34

HENDRIKSEN, 2001, p. 31.


10

Hendriksen. Pode-se conjecturar que foi Hendriksen que ampliou e sistematizou com mais profundidade esse método hermenêutico, uma vez que quase nenhum exegeta cita Vitorino e seu método histórico-sincrônico.

4. Considerações Finais

O estudo do livro canônico de Apocalipse e da literatura apocalíptica judaico-cristã estão em constante ascensão no meio acadêmico. A busca pela revelação daquilo que foi considerado impenetrável cresce igualmente. Naturalmente, este suscinto texto poderá introduzir os leitores cristãos ávidos por entrarem nesse universo de símbolos. Diante disso, espera-se que o artigo obtenha êxito em ser uma introdução à hemenêutica aplicada ao Apocalipse joanino e dos pilares da literatura apocalíptica em geral. Como citou Ernst Lohmeyer, ao escrever sobre o livro de Apocalipse em 1934, apesar de tantas pesquisas, tanto gerais como particulares, os cristãos parecem continuar impenetráveis no mistério da história e do significado35 do último livro da Bíblia. Por isso, o artigo é só mais uma vela que intenta iluminar um caminho de segredos milenares em torno do Apocalipse, capacitando o leitor a vislumbrar o que está oculto.

5. Referências Bibliográficas BUTTRICK, George Arthur (Ed.). The Interpreter’s Bible. Nashville: Abingdon, 1957; CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2001; ERDMAN, Charles R. Atos dos Apóstolos. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1960; GINGRICH, F. Wilbur & DANKER, Frederick W. Léxico do Novo Testamento Grego/Português São Paulo: Vida Nova, 1993; GRANDE ENCICLOPÉDIA DELTA LAROUSSE. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Delta S.A., 1970; HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001; HALLEY, Henry H. Manual Bíblico. 6a Ed. São Paulo: Vida Nova, 1997; 35

LOHMEYER, Ernst apud SHREINER, J. & DAUTZENBERG, G. Forma e Exigências do Novo Testamento. 2ª Ed. São Paulo: Teológica, 2004, p. 411.


11

HENDRIKSEN, William. Mais que Vencedores. São Paulo: Cultura Cristã, 2001; JENSEN, Irving L. Apocalipse. 2ª Ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1987; KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004; LADD, George Eldon. Apocalipse. 7ª Ed. São Paulo: Vida Nova, 1999; SHREINER, J. & DAUTZENBERG, G. Forma e Exigências do Novo Testamento. 2ª Ed. São Paulo: Teológica, 2004; SPROUL, R. C. Os Últimos Dias Segundo Jesus. São Paulo: Cultura Cristã, 2002; VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada. 10ª Ed. São Paulo: Vida, 2001.


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