Boletim 30/03/2014

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Resplendor, 30 de Março de 2014

SHEKINAH A maioria dos cristãos traduz ou entende que o termo “shekinah” é ou se refere a “glória de Deus manifesta”. Porém, eles próprios reconhecem que esta expressão não está na Bíblia. Outros sugerem que a “shekinah” é o equivalente judaico mais próximo do Espírito Santo, o que não parece ser correto. Afinal, o termo é extrabíblico, aparecendo nos Targuns e sendo utilizado no Talmude. O vocábulo hebraico “shekinah” não aparece na Bíblia. O verbo “shakan”, por sua vez, é utilizado em muitos lugares e pode ser traduzido como “habitar, morar ou residir”. Em Ex 3.22 e Rt 4.17 o verbo “shaken” é traduzido por “vizinho”. Nesse sentido, é estranho enfatizar que o termo seja usado para a habitação de Deus na coluna de fogo e sua glória manifesta no Monte Sinai, no Propiciatório (entre os querubins), no Tabernáculo, no Templo. Bom, todas essas expressões no hebraico têm outras palavras que a designam. Vejamos quatro exemplos principais: Coluna de Fogo

amud esh

Glória de Deus

kabod yahweh

Coluna de Nuvem

amud hamud

Fumaça

hasan

Entenda: se alguém definir “shekinah” como a manifestação visível da glória de Deus não está descrevendo a “shekinah”, mas sim “teofanias”, que possuem várias formas e propósitos. Esse é um assunto para outra pastoral; foquemos na “shekinah”. Há vários problemas ao redor da temática. O termo tem uso esotérico, por exemplo. De acordo com a concepção cabalística e do ramo hassidísmo do judaísmo, a Shekinah é uma energia cósmica poderosíssima, que habita no "interior" do Universo e vivifica-o, sendo a sua "alma" ou "espírito". Na cabala esotérica, “shekinah” é a essência do “Ain Soph” que, emanado, ficou preso ou enroscado em Malkuth, sendo correspondente à Shakti ou Kundalini na tradição esotérica oriental da Yoga. Segundo o livro cabalístico Zohar, a evolução do homem é o processo em que o pólo feminino do Divino (shekinah), presente potencialmente na criação e no homem (malkuth), se une ao pólo masculino da Divindade (kether). Tal reunião é apresentada na tradição “rosacruz” pelas Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreutz. Segundo a tradição da cabala, a reunião dos dois pólos da Divindade resulta em uma consciência cósmica ou crística, de união do homem e do divino, resultando no “Homem-Deus ou Cristo”. Tal estado de consciência é equivalente na Yoga, ao Samadhi, a consciência produto de quando Shakti, o pólo feminino do divino, presente no Chakra da base Muladhara, se une a Shiva, o pólo masculino do divino presente no chakra sahasrara, no topo da cabeça, resultando no Avatar, a encarnação humana do Divino, do Cósmico. Na tradição esotérica egípcia, o equivalente é a união entre Ísis e Osíris, resultando em Hórus, o Homem-Deus. Tal união é em muitas tradições, a iluminação, a iniciação. Outro problema é o uso judaico do termo “shekinah”, inda que menos do que o parágrafo anterior. O termo aparece no meio de, pelo menos, um "minyan" de adoradores quando eles oram na congregação, e de dois ou mais judeus quando eles se ocupam no estudo da Torah, ou em um homem quando ele recita o Shema. O shekinah habita no puro, no benevolente, no hospitaleiro e no marido e esposa quando eles vivem em paz e harmonia. Bom, se “shekinah” representa a presença majestosa de Deus e sua decisão de "habitar" (shakan) entre os homens, podemos aceitá-la como poesia, mas não como doutrina. Essa expressão foi tomada das passagens que dizem respeito à presença de Deus na qualidade de residente no Tabernáculo terrestre entre o povo de Israel (Ex 5.8; Ex 29.45-46; Nm 5.3; Nm 35:34; I Re 6.13; Ez 43.9; Zc 2.14). Teriam os cristãos este discernimento? Portanto, seria irrelevante usá-la visto que a habitação máxima de Deus em nós, hoje, é feita pelo Espírito Santo e não mais por meio das figuras do Antigo Testamento. Rev. Ângelo Vieira da Silva


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