IGUAPE - PATRIMÔNIO NACIONAL

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ANISIA lOURENÇO MENDES

IGUAPE PATRIMONIO NACIONAL

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Iguape, Patrimônio Nacional Anisia Lourenço Mendes Organizadora

Iguape/SP - 2021

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Este livro foi produzido através de recursos do PROAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo pelo Edital PROAC o N 35/2020 - Manutenção e Ampliação de Atividades realizadas por grupos, entidades, associações, coletivos culturais e empresas culturais no Vale do Ribeira (Programa Vale do Futuro).

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Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da organizadora. ISBN nº 978-65-996676-0-2

Contato da organizadora: Anisia Lourenço Mendes Av. Eduardo Ebano Pereira, 630 – Beira do Valo Iguape – SP – CEP 11920-000 13-9996005776 e-mail: anisiarlm@gmail.com Facebook: Anisia Lourenço Instagram : Anisia Lourenço Linkedin: Anisia Lourenço

Ficha técnica: Organização Anísia Lourenço Mendes Pesquisa Anísia Lourenço Mendes Editora Casa do Farol Leone de Souza Silva Junior Lilian Rochael Maciel Fotografia Leone de Souza Silva Junior Comunicação Editora Casa do Farol Leone de Souza Silva Junior Revisão de texto Editora Casa do Farol Elaboração de texto e editoração Anísia Lourenço Mendes Lilian Rochael Maciel Arte Gráfica Fernanda Rodrigues Alves Castanho

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“ O amor me motiva a seguir, mas o que me inspira a realizar é o brilho nos olhos de quem faz o que ama” Anisia Lourenço Mendes

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AGRADECIMENTOS

Ao Bom Jesus de Iguape que me acolheu nessa cidade que tanto amo e me dá coragem e forças para desenvolver o meu trabalho. Aos meus amigos queridos que se dispuseram de imediato a missão de escrever este livro. Eliana Maria Rocha e Silva Fernanda Castanho Leone de Souza Silva Junior Lilian Rochael À Valeria Gazafi e Aguinaldo Ribeiro do escritório do Iphan do Vale do Ribeira por todo apoio e incentivo. A Roberto Fortes que há anos se dedica a pesquisa histórica de Iguape e do Vale do Ribeira. A todos os proprietários e ex-proprietários dos bens tombados descritos neste livro pela ajuda na coleta de informações.

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DEDICATÓRIA

Dedico este livro à: Minha mãe Luzia Ribeiro Lourenço, nosso alicerce e porto seguro. Aos meus irmãos: Acedina, Alice, Amelia, Alzira, Almira e André , meus parceiros para toda vida. Aos três Antonios de minha vida. Meu pai Antonio Ricardo Lourenço (in memorian) que nos deu todo seu amor e nos faz muita falta. Meu marido e companheiro de todas as vidas Antonio de Lara Mendes, com quem eu vivencio o amor e a cumplicidades todos os dias. Meu filho Antonio A. F. da Silva Junior que é a melhor parte do meu ser, com ele descobri o maior amor de todos “O Amor de Mãe”.

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SUMÁRIO Nota da organizadora- Anísia Lourenço Mendes 12 Prefácio- Roberto Fortes 13 Cantiga para uma Princesa- Antonio de Lara Mendes 15 Linha do Tempo 16 Iguape : Um marco na histórico na formação do Brasil - Processo de ocupação e construção 28 A disputa pelas terras e pelo titulo de fundador 29 Abertura do Valo Grande 31 Porto Fluvial e Porto Marítmo 35 Arquitetura 38 Características urbanas e arquitetura 39 Bens tombados: Sobrado dos Toledos 48 Sobrado dos Fortes 64 Sobrado do Comendador 74 Sobrado dos Mâncios 88 Sobrado dos Balaios 96 Sobrado do Zé Juca 102 Sobrado dos Rollos 114 Cadeia Velha 124 Casa de Fundição de Ouro 142 Casarão do Ximbica´s 150 Correio Velho 154 Escola Vaz Caminha 168 Hotel do Comércio 180 Ruínas do Itaguá 188 Fábrica Única/Indústrias Matarazzo 198 Sobrado da Pirá 220 Palacete Eurico Moutinho 230 Santuário do Bom Jesus de Iguape 238 Capela de São Miguel 296 Igreja de São Benedito 310 Igreja de São João 334 Igreja de Nossa Senhora do Rosário 344 Casa dos Jesuítas 370 Funil de Baixo 376 Funil de Cima 380 Referencias Bibliográficas 386

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NOTA DA ORGANIZADORA A ideia do livro, Iguape -Patrimônio Nacional, surge no momento em que os olhares e a atenção do Governo do Estado de São Paulo se voltam para o Vale do Ribeira, uma vez que o recurso para a produção da obra veio do primeiro edital ProAc/2020 destinado exclusivamente às propostas da região do Vale do Ribeira. E vem, também, ao encontro dos esforços do governo municipal que, desde 2017, busca potencializar o turismo no município. O Departamento de Turismo de Iguape, em parceria com o COMTUR - Conselho Municipal de Turismo, vem desenvolvendo um trabalho efetivo pautado em referências técnicas com a união de atores do poder público, empresários e entidades em prol do turismo. Como gestora do departamento, e por estar atuante em trabalhos ligados à cultura, desde 2004, junto a AAPCI -Associação de Artesãos e Produtores Caseiros de Iguape, Ponto de Cultura desde 2010, percebi a necessidade de uma obra que abordasse os conteúdos apresentados no livro. O livro apresenta um contexto histórico e arquitetônico dos principais bens tombados do município de Iguape-SP, pelo IPHAN e CONDEPHAAT. Iguape detém o maior casario colonial preservado do Estado de São Paulo e seu Centro Histórico é o primeiro conjunto urbano do estado a ser protegido como Paisagem Cultural pelo IPHAN. A sua arquitetura e urbanismo remontam ao período da exploração aurífera e às conquistas do território no século XVI, às atividades ligadas à construção naval no século XVIII e à cultura de arroz no século XIX, as quais, estruturadas por uma trama urbana singular, resultam em um núcleo urbano notável no contexto das cidades da América Portuguesa. Esta obra é voltada a alunos, professores e, especialmente, aos condutores, monitores e guias de turismo que atuam no município e em todo o Vale do Ribeira. E, ao meu ver, irá contribuir para as futuras capacitações dos profissionais de turismo e na prática de suas atividades profissionais, bem como servir como um material de apoio sobre a história de Iguape nas escolas. Iguape - Patrimônio Nacional, é uma obra viva que estará sempre em construção e disponível a todos os públicos gratuitamente em formato digital e, estará aberta, de forma simples e natural, àqueles que se interessarem em colaborar com o seu enriquecimento. Anísia Lourenço Mendes Diretora do Departamento de Turismo de Iguape 12

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PREFÁCIO

Nascida nos primórdios da América portuguesa, a cidade de Iguape, fundada oficialmente em 3 de dezembro de 1538, pode ter a sua história recuada a 1502, com a chegada do misterioso Bacharel Cosme Fernandes que, segundo alguns historiadores, teria vindo na expedição que tinha Américo Vespúcio como piloto e cosmógrafo; ou até mesmo a 1498-1499, segundo outros pesquisadores, na expedição de Bartolomeu Dias, portanto, antes mesmo do Descobrimento do Brasil. A então Vila de Nossa Senhora das Neves de Iguape, que começou como um tímido povoado nas imediações do Outeiro do Bacharel, no bairro do Icapara, passou por vários ciclos econômicos, sendo o primeiro a mineração do ouro, praticada nos rios do Vale do Ribeira. Para fiscalizar a extração do ouro e cobrar o respectivo “quinto real” (vinte por cento), foi estabelecida na vila, por volta da década de 1630, uma Casa da Fundição do Ouro, considerada a primeira – ou umas das primeiras – do País. Com a descoberta das Minas Gerais, boa parte dos mineradores daqui migraram para aquela região, porém, a mineração, apesar de limitada, ainda se manteve no Vale do Ribeira até o final do século XVIII, quando a Casa da Fundição foi fechada pelo governo colonial. A atividade econômica seguinte foi a construção naval, quando na Vila de Iguape, em diversos estaleiros, foram construídas dezenas de embarcações, que eram vendidas para armadores de Santos e Rio de Janeiro, notabilizando-se nesse ofício os habilidosos “carpinteiros da Ribeira”. O ciclo do arroz – o mais rentável e que projetou a Vila de Iguape como a Capital do Sul da Província de São Paulo – teve início a partir do final do século XVIII, consolidando-se durante todo o século XIX, quando a vila foi considerada a maior produtora e exportadora nacional do afamado arroz, considerado “o legítimo de Iguape”. Em exposição realizada na cidade de Turim, Itália, em 1911, o arroz produzido no município foi considerado “o melhor do mundo”, recebendo um diploma de bronze, que hoje faz parte do acervo do Museu Municipal da cidade. Por volta de 1614, a vila transferiu-se para o local onde modernamente se encontra estabelecida, às margens do Mar Pequeno. Os primeiros edifícios construídos em seu novo sítio foram a Igreja de Nossa Senhora das Neves, a Casa de Fundição do Ouro e a Casa da Câmara e Cadeia, demolida em 1827 para o aumento da Igreja dedi-

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cada ao Bom Jesus. O processo de ocupação urbana teve início a partir do Funil (rua das Neves) e da rua Tiradentes (antiga rua da Palha). As casas eram pequenas, baixas, geminadas, inicialmente construídas de taipa e cobertas por palha de palmeiras. Com o incremento da mineração do ouro, sobrados de pedra e cal passaram a ser construídos, crescendo em número durante o ciclo do arroz, e assim o Largo da Matriz foi, aos poucos, adquirindo a sua configuração atual, apresentando, atualmente, a maioria de seus prédios ainda bem preservados. Anísia Lourenço Mendes, com a publicação do livro digital “Iguape - Patrimônio Nacional”, vem resgatar toda essa riquíssima história, quase cinco vezes secular, dando especial destaque à construção dos belíssimos casarões, suas técnicas construtivas e destacando a importância desse patrimônio arquitetônico não somente para o Estado de São Paulo, mas também para o Brasil. Boa leitura! Roberto Fortes Historiador e jornalista, sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo

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CANTIGA PARA UMA PRINCESA Autor: Antonio de Lara Mendes De onde vem teu encanto, de onde vem tua beleza Teus becos, tuas esquinas, veio do tempo do ouro e da lavoura de arroz Ainda te vejo princesa, com o teu ar de nobreza, as marcas nos velhos telhados Tuas altas calçadas, as sombras de teus beirais Centenárias igrejas, era um tempo de opulência, que já ficou no passado Os teus velhos sobrados, casarões coloniais... Era de se admirar, o sobrado dos Toledos, as ruínas do Itaguá, o casarão dos Veigas O sobrado da Pirá... De onde vem teu encanto...as sombras dos teus beirais. O sobrado dos Mâncios, o beco dos quatro cantos, teu rico casario, Casarão dos Oliveiras, rua do Funil Tem o sobrado dos Fortes, velho prédio do correio, Palacete Eurico Moutinho, onde guarda os seus mistérios, Onde esconde teu pelourinho

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LINHA DO TEMPO LINHA DO TEMPO

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Descobrimento da América – Em agosto, Christovão Colombo, a serviço dos Reis Isabel de Castela e Fernando de Aragão, embarca de Palos de La Frontera, Andaluzia, Espanha na Caravela Santa Maria. - 12 de outubro, encontrou a Ilha de Guanaani. Atualmente a ilha chama-se San Salvador, tendo sido chamada até 1925 por Watling, nome de um de seus primeiros colonos, John Watling. - 29 de outubro, chegou à costa de Cuba. - 15 de dezembro, ao Haiti, que chamou de Hispaniola. - 16 de janeiro do ano seguinte, começou o regresso, mas Colombo deixou em Hispaniola cerca de quarenta homens. Assinatura do Tratado de Tordesilhas - Tratado assinado entre Portugal e Espanha, que delimitou, através de uma linha imaginária, as posses portuguesa e espanhola no território da América do Sul, chamado de “Novo Continente”. Em 18 maio Alonso de Hojeda acompanhado de Américo Vespúcio embarca de Cádiz, Andaluzia, Espanha com uma frota de quatro naus, destinada a explorar as terras já descobertas por Colombo. Hojeda seguiu para o norte e Vespúcio para o sul, costeando o Brasil. Descobriu o estuário do rio Amazonas e foi até o cabo de São Roque, onde inverteu a rota e chegou até a Venezuela. Em 18 de novembro Vicente Yáñez Pinzón embarca de Palos de la Frontera, na Andaluzia, Espanha com 4 caravelas para sua quarta viagem. É considerado o descobridor do Brasil por diversos estudiosos e pelas enciclopédias Britânica e Barsa, por ter atingido o Cabo de Santo Agostinho no litoral de Pernambuco, em 26 de janeiro de 1500, cerca de três meses antes da chegada de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro.Trata-se da mais antiga viagem comprovada ao território brasileiro. Por ter descoberto o Brasil, Pinzón foi condecorado pelo Rei Fernando II de Aragão em 5 de setembro de 1501. No início de dezembro, Diego de Lepe, primo de Vicente Yáñez Pinzón, partiu do porto de Palos de La Frontera, na Andaluzia, Espanha, e alcançou a costa do Brasil, na altura do cabo de Santo Agostinho (Pernambuco). Após percorrer a costa das Guianas e navegar pelo mar do Caribe, retornou para a Espanha.

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Em 9 de março parte da foz do Tejo em Portugal, Pedro Álvares Cabral em uma missão exploratória que acabaria por estabelecer uma nova colônia portuguesa a oeste, no território onde futuramente se localizaria o Brasil. Nesta expedição Cabral deixou em terra dois degredados e dois tripulantes que fugiram e não voltaram com Cabral.” O rei de Portugal comunica a descoberta da Ilha de Vera Cruz, depois chamada de Terra de Santa Cruz, aos Reis de Espanha, Fernão de Aragão e Isabel de Castela, seus sogros e rivais. Por um longo período, a terra americana permaneceu quase que em abandono. A Índia continuava a ser o grande alvo das navegações marítimas portuguesas. Em maio o Rei de Portugal envia uma expedição de reconhecimento comandada por Gaspar de Lemos. Américo Vespúcio integra a expedição e recolhe informações sobre o local e suas possíveis riquezas. São creditados a esta expedição os seguintes feitos: - 7 de agosto é instalado o primeiro marco, o monumento mais antigo do Brasil, foi instalado em Touros, Rio Grande do Norte - 4 de outubro chegam à foz de um grande rio, que batizou rio São Francisco. Depois recolheu os dois degredados deixados por Cabral em Porto Seguro, juntamente com toras de pau-brasil. - 1 de novembro de 1501, descobre baía que batizou Baía de Todos os Santos.

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Ao comando de Gaspar de Lemos. - 01 de janeiro a expedição de reconhecimento comandada por Gaspar de Lemos descobre a baía da Guanabara, que confundiu com um rio e batizou de Rio de Janeiro. - 06 de janeiro de 1502, funda Angra dos Reis. - 22 de janeiro descobre a ilha de São Vicente, seguiram para o sul até Cananeia, onde abandonaram o enigmático Bacharel de Cananéia. O local era considerado na época, pelos portugueses, como último ponto dos territórios de Portugal. Percebendo que a costa se inclinava para sudoeste e talvez temendo estarem já em território espanhol de acordo com o Tratado de Tordesilhas, se afastaram dela, seguindo a partir daí uma rota desconhecida até chegarem à Serra Leoa. - 22 de julho de 1502, depois de 14 meses, e sem notícias de ouro ou especiarias nem nada de aproveitável, a não ser o pau-brasil aportam em Lisboa.

O Rei da Espanha envia Yáñez Pinzón e Juan de Solis em viagem que buscava uma passagem ou estreito para a Ásia, que culminou na exploração da América Central. A expedição, composta por dois navios, navegou até a América Central para procurar um estreito de ligação à Ásia (1509) e encontrar as terras que Cris17 17


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tóvão Colombo descobrira em 1502-1503. Quando Solis chegou em Sevilha, em Em 8 de outubro de 1515, expedição partiu da de Casa San Lúcar de Barrameda, Es-a 29 de outubro de 1509, foi apreso pelos oficiais da Contratação, devido panha, com objetivoNesta de descobrir uma passagem paraem o Oceano Pacífico. A exintrigas deoPinzon. viagem Solis teria deixado um lugar chamado rio pedição era composta por três navios e contava com 27 portugueses. dos Inocentes onde estava o Bacharel 7 (sete) castelhanos. - Em fevereiro de 1516, a expedição chegou ao porto de Punta del Este, no estuário no Rio da Prata, que na época foi chamado de “Mar Doce” por sua largura. Naquele local, tomaram posse das terras em nome ReiLúcar da Espanha. EntretanEm 8 de outubro de 1515, a expedição partiu dedo San de Barrameda, Esto, em vez de ocontinuar a expedição sul, para encontrar uma passagem para o panha, com objetivo de descobrir ao uma passagem para o Oceano Pacífico. A exOceano Pacífico, como era o objetivo inicial da expedição. A expedição ingressou pedição era composta por três navios e contava com 27 portugueses. nas águas do estuário paraa explorá-lo direção IlhaEste, de Martín - Em fevereiro de 1516, expediçãona chegou aooeste. portoAo dechegar Puntaàdel no esGarcía, da etnia Guaranideque capturaram, tuário foram no Rioatacados da Prata,por quenativos na época foi chamado “Mar Doce” porexecutaram sua largura. e Naquele devoraram Solís e oito de seus homens. Depois disso, a expedição foi liderada local, tomaram posse das terras em nome do Rei da Espanha. Entrepor Francisco cunhado de Solís, que decidiu à Espanha. Contanto, em vezdedeTorres, continuar a expedição ao sul, para retornar encontrar uma passagem tudo, a frota foi surpreendida com uma forte tempestade, que resultou no naufrápara o Oceano Pacífico, como era o objetivo inicial da expedição. A expedição gio de uma caravela, Ilha de Santa Catarina, e levou a segunda até aAo feitoria doà ingressou nas águasnado estuário para explorá-lo na direção oeste. chegar Rio Janeiro. SeuGarcía, feitor, João de atacados Braga, fugiu perceberdaa aproximação castelhana Ilhadede Martín foram poraonativos etnia Guarani que capnaturaram, Baía, deexecutaram modo que estes encontraram a feitoria carregada de pau-brasil e sema e devoraram Solís e oito de seus homens. Depois disso, nenhuma vigilância. Saquearam-na e resgataram o português João Lopes de Carexpedição foi liderada por Francisco de Torres, cunhado de Solís, que decidiu revalho, que estava degredado na Baía de Guanabara desde a partida da Nau Bretoa. tornar à Espanha. Contudo, a frota foi surpreendida com uma forte tempestade, - que 4 deresultou setembronodenaufrágio 1516 chegam a Sevilha. de uma caravela, na Ilha de Santa Catarina, e levou a segunda até a feitoria do Rio de Janeiro. Seu feitor, João de Braga, fugiu ao perceber a aproximação castelhana na Baía, de modo que estes encontraram a feitoria carregada de pau-brasil e sem nenhuma vigilância. Saquearam-a e resgataram o Em 20 de setembro, Fernando de Magalhães parte de Sanlúcar de Barrameda, Esportuguês João Lopes de Carvalho, que estava degredado na Baía de Guanabara panha com cinco navios e com 234 homens de tripulação a procura de uma pasdesde a partida da Nau Bretoa. sagem para Índia e descobre o Rio de Janeiro em 13/12/1519. - 4 de setembro de 1516 chegam a Sevilha. O povoamento de Iguape se inicia no sopé do Outeiro do Bacharel em Icapara, por dosetembro, degredadoFernando portuguêsdeCosme Fernandes doSanlúcar castelhano Garcia Emobra 20 de Magalhães parteede de Ruy Barrameda, de Mosquera, colonização de toda esta regiãoa eprocura a fundação de Espanha comresponsável cinco naviospela e com 234 homens de tripulação de uma inúmeros povoados entre os quais os precursores de Cananeia e São Vicente. passagem para Índia e descobre o Rio de Janeiro em 13/12/1519. O povoamento de Iguape se inicia no sopé do Outeiro do Bacharel em Icapara, por obra do degredado português Cosme Fernandes e do castelhano Ruy Garcia de Mosquera, responsável pela colonização de toda esta região e a fundação de Em 3 de abril ,Sebastião Caboto parte do porto de Barrameda, inúmeros povoados entre os quais os precursores deSanlúcar Cananéiadee São Vicente.Espanha, originalmente em direção às Ilhas Molucas , mas altera a rota quando encontra os náufragos da expedição de Juan Díaz de Solís em sua passagem pela Ilha Santa conhecimento da Sanlúcar riqueza do do Império Em de 3 de abrilCatarina. ,SebastiãoTomando Caboto parte do porto de de rei Barrameda, EsInca e da aventura de Aleixo Garcia, Sebastião Caboto decidiu subir o Prata e panha, originalmente em direção às Ilhas Molucas , mas altera a rota quando entrar peloosrionáufragos Paraná adentro. encontra da expedição de Juan Díaz de Solís em sua passagem pela -Fundou, ainda em 1526, primeiro estabelecimento uruguaio: Ilha de Santa Catarina. oTomando conhecimento daespanhol riqueza em do solo rei do Império oInca Forte de San Salvador, na confluência dos rios Uruguai e San Salvador. Nae e da aventura de Aleixo Garcia, Sebastião Caboto decidiu subir o Prata região, Caboto encontrou um grumete sobrevivente do massacre que culminou entrar pelo rio Paraná adentro. com a morte de Solís, dezoanos antes:estabelecimento Francisco del Puerto . Caboto envia uma Fundou, ainda em 1526, primeiro espanhol em solo uruguaio: o Forte de San Salvador, na confluência dos rios Uruguai e San Salvador. Na


região, Caboto encontrou um grumete sobrevivente do massacre que culminou com a morte de Solís, dez anos antes: Francisco del Puerto . Cabot envia uma carta ao Rei Carlos V, mas com a demora da resposta decide retornar a Espanha e deixa no forte de San Salvador como comandante Nuno de Lara com 170 homens, logo após o forte é atacado por indígenas e Nuno de Lara é morto e assume o forte Ruy Garcia de Mosquera que decide seguir para a costa do Brasil estabelecendo-se em um lugar chamado Iguape, onde fez plantações e viveu por algum tempo em relações amigáveis com seus vizinhos.

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O Rei D. João III envia para tomar posse e estabelecer colônia cinco navios e 400 homens com Martim Affonso de Sousa como comandante em mar e em terra.

Em 12 de agosto conforme diário de Pero Lopes , Martim Affonso de Sousa chega na Ilha do Bom Abrigo, Cananeia-SP, onde instala o marco de pedra com as armas de Portugal e também se encontra com o Bacharel e registram que o mesmo já estava há 30 anos nestas terras e vivia juntamente com 200 pessoas entre índios e europeus.

Em 20 de janeiro, Martim Affonso de Sousa chega a São Vicente enviado pela Coroa Portuguesa para constituir aqui a primeira Vila do Brasil, porém, o mau tempo impediu a entrada dos navios na barra e a descida à terra firme só aconteceu no dia 22 de janeiro. Coincidentemente, nesse mesmo dia, 30 anos antes, a expedição do também navegador português Gaspar Lemos havia chegado aqui e batizado o local como São Vicente, em homenagem a São Vicente Mártir. Martim Afonso, católico fervoroso, ratificou o nome. Logo após a sua chegada, adota as medidas recomendadas pelo Rei de Portugal e organiza um sistema político-administrativo nas novas terras. Assim, instala a Câmara, o Pelourinho, a Cadeia e a Igreja, símbolos da colonização e bases da administração portuguesa. Ruy Garcia de Mosqueira , Icaparenses e europeus que estavam fixados em Iguape e Cananeia, tomam de assalto um barco pirata francês e atacam São Vicente destruindo parte da Vila, o livro do Tombo e demais arquivos escritos sobre a região. Segundo conta Ernesto Young, não aceitaram a intimidação de Gonçalo Monteiro, capitão comandante do litoral nomeado por Martim Afonso que determinava que todos se recolhessem a São Vicente.

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O Rei Dom João III divide o litoral brasileiro em 14 capitanias hereditárias e doa para doze donatários, representantes do rei de Portugal na Colônia. Iguape fica como parte da Capitania de São Vicente. Os portugueses tiveram receio de perderem suas terras conquistadas para outros europeus que já estavam negociando com os indígenas e

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buscavam se fixar ali. Para tanto, a Coroa Portuguesa imediatamente adotou medidas para povoar a colônia, evitando, dessa maneira, possíveis ataques e invasões. O sistema de capitanias havia sido implementado pelos portugueses na Ilha da Madeira, nos Arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde.

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Ruy Garcia de Mosquera e outros espanhóis que viviam em Icapara, Iguape-SP estavam sendo perseguidos pelos portugueses e resolvem fugir para Santa Catarina e depois seguem no Rio da Prata onde servem por muitos anos o governo ali estabelecido. Construção de uma capela e entronização de Nossa Senhora das Neves.

Data oficial da fundação da cidade de Iguape.

Segundo o historiador Elian Alabi Lucci no livro : “Vale do Ribeira e arredores de São Paulo”, conta que os primeiros registros da existência de ouro no Brasil são desta data.

Foram iniciadas as missões jesuíticas no litoral de São Paulo. Foi celebrada a primeira missa na Vila de Iguape, em Icapara pelo jesuíta Pedro Correa.

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Ruy Mosquera retorna a Iguape e morre anos depois , sendo seu corpo enterrado sob o cruzeiro que ficava em frente a Igreja de Nossa Senhora das Neves em Icapara.

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Data de criação da Freguesia de Nossa Senhora das Neves. Ano em que foi aberto o primeiro livro do tombo da Igreja de Nossa Senhora das Neves.

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Transferência do povoado da Vila de Iguape do sopé do Outeiro do Bacharel para o atual bairro da Enseada, num local conhecido como Cubixatyva para só depois se mudar para onde é hoje.


1614 – 1620

Construção da Casa dos Jesuítas.

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Início das obras para a construção da Matriz Nossa Senhora das Neves no local doado pelo fazendeiro Francisco Alvarez Marinho.

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Freguesia de Nossa Senhora das Neves passa a ser referida como Vila.

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Mudança da vila para a fazenda de Francisco Alvarez Marinho, local onde hoje é Iguape, feita por doação apenas verbalmente sendo: “250 braças craveiros de terras em quadra,destinadas ao rocio da Vila”.

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Início do Ciclo Econômico do Ouro. Construção da Casa de Oficina Real de Fundição de Ouro, a casa de sessão da Câmara e da Cadeia.

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Conclusão da construção da matriz Nossa Senhora das Neves.

Os jesuítas são expulsos de São Paulo e de todas as capitanias.

Achado da imagem do Bom Jesus de Iguape.

Construção do Casarão do Ximbica`s. Construção do Sobrado dos Balaios.

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Doação oficial feita por Francisco Alvarez Marinho em 2 de julho das terras onde foi fixada a vila para a Câmara Municipal de Iguape.

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Realizada obra de canalização das águas das nascentes da Fonte do Senhor para conduzi-las até a Vila.

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A Câmara de Iguape mandou construir para proteger as pedras onde a imagem do Senhor Bom Jesus de Iguape foi lavada, uma espécie de gruta em alvenaria, a “casa em abóbada” chamada de Fonte do Senhor.

A Casa de Fundição foi fechada.

Fim do Ciclo do Ouro.

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Foram recolhidos por solicitação do Governo do Rio de Janeiro os objetos da Casa de Fundição.

Construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição no bairro de Subaúma.

A povoação de Nossa Senhora da Conceição foi elevada a Vila.

Início da construção da nova Igreja Matriz de Nossa Senhora das Neves.

Início do Ciclo Econômico do Arroz .

Construção da Capela de Nossa Senhora do Rosário pelas irmandades do Rosário e São Benedito.

Início da construção de um cais de pedra e cal no Porto Grande.

Abertura dos portos, após 1808, Iguape se beneficiou dos ares do liberalismo econômico que possibilitou o comércio diretamente com o Porto do Rio de Janeiro. 22

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Construção da residência e engenho no Itaguá. Construção do Sobrado dos Mâncios. Construção Sobrado dos Fortes - atual Câmara Municipal. Construção do Hotel do Comércio.

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1827

O Porto Grande recebe cais em pedra.

O prédio da Câmara e Cadeia que ficava no terreno nos fundos da atual Basílica do Bom Jesus de Iguape e foi demolida para dar lugar a construção da parte posterior da Basílica do Bom Jesus de Iguape. Projeto da Cadeia Velha. Início das obras de abertura do Canal do Valo Grande que por projeto teria pouco mais de 4 metros de largura e 2 km de extensão.

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Evidências da existência de uma pequena e modesta Capela a São João Batista no Porto do Ribeira, segundo Almeida (1945).

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A Câmara autoriza a abertura de uma rua ligando o atual Hotel São Paulo ao Porto da Ribeira e após dois anos essa rua recebeu o nome de Rua Direita.

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Inauguração do prédio do Correio Velho.

Construção do Sobrado dos Toledos.

Meados do séc XIX - Construção do Sobrado da Pirá. Construção do palacete Eurico Moutinho. 23 23


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Em 6 de março a Capela de Nossa Senhora do Rosário é concluída e recebe as bênçãos. Em 7 de março são realizados os traslados das imagens de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito para a nova Capela saindo da Matriz.

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Instalação do Vice-Consulado Português localizado na Praça da Basílica.

Em 17 de abril a então vila passa a ser chamada cidade de Bom Jesus da Ribeira.

Em 3 de maio por meio da Lei Provincial No3, foi restabelecida a denominação de Bom Jesus de Iguape.

O Canal do Valo Grande começa a ser utilizado.

Conclusão da obra do Canal do Valo Grande.

Em 27 de julho, conclusão e benção da nova igreja matriz de Nossa Senhora das Neves. Em 8 de agosto houve festividades para translado das imagens da velha matriz para a nova.

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Em 3 de março conforme lei a igreja matriz passa a ter o Senhor Bom Jesus de Iguape como santo de invocação. Demolição da antiga igreja de Nossa Senhora das Neves em adiantado estado de arruinamento.

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Lançamento da pedra fundamental Capela de São João Batista do Porto da Ribeira.

Início da construção do Sobrado do Comendador (Paço Municipal).

Construção da Capela de São Miguel no cemitério de Iguape.

A Rua do Funil passa a ser designada como Rua das Neves.

1869 O Porto Grande recebe obras de ampliação que resultaram na formação de uma espécie de plataforma em aterro, cercada por muros de pedra e cal, pois não mais suportava o volume de arroz a ser exportado.

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Em 30 de junho é concluída uma das torres da Basílica do Bom Jesus de Iguape

Em 5 de outubro tem início às obras da igreja de São Benedito.

Construção da Igreja de São João Batista. Final da construção do Sobrado do Comendador (Paço Municipal).

1887

Inauguração do Jardim Botânico da cidade construído no local da antiga Igreja das Neves, com recursos privados da família Toledo (donos do Sobrado dos Toledos).

1889

O governo do estado instala o Núcleo Colonial de Subaúma, que recebe muitas famílias de imigrantes, sendo, em sua época, um dos mais importantes núcleos coloniais do país.

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1890

1893

Inauguração da Cadeia Velha.

1895

Implantação de armazéns de uma colônia agrícola . As suas ruínas ainda podem ser vistas no bairro do Subaúma.

1905

1909

Herdeiros de Luiz Álvares da Silva venderam o Sobrado do Zé Juca.

O arroz de Iguape é premiado em Turim, na Itália, como o melhor arroz do mundo e recebe um diploma.

1913

Em 9 de novembro foi fundada no Bairro Jipovura a Colônia Katsura, a primeira colônia de japoneses no Brasil.

1918

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O arroz de Iguape é premiado em Versalhes, na França.

1911

1917

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A igreja de São Benedito é inaugurada e recebe as bênçãos.

A escola Vaz Caminha é finalizada.

Influenza espanhola em Iguape.


1920

Final do Ciclo econômico do Arroz. Fechamento do Vice-Consulado Português em Iguape. Inaugurado o Coreto da Fonte , nomeado como “Capitão Augusto Rollo”.

1921

Instalação da Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo.

1926

O pintor paulista Ernesto Thomazini pinta os motivos sacros que ornamentam o teto da Basílica do Bom Jesus de Iguape.

1930

A partir de meados da década de 1930, começaram a se estabelecer no município várias indústrias de pesca, para a industrialização da manjuba.

1938

1956

1970

1998

Inaugurado com grande festa o Obelisco do IV Centenário.

A Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus de Iguape foi elevada à categoria de Basílica.

A Casa de Fundição de ouro foi novamente reformada e tornou-se o Museu Municipal.

Construção do Coreto na Praça da Basílica.

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IGUAPE: UM MARCO HISTÓRICO NA FORMAÇÃO DO BRASIL PROCESSO DE OCUPAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA CIDADE Ao longo dos séculos, a história de Iguape carrega uma incerteza. Muitas são as suposições sobre a data de origem desse povoado e sobre quem o fundou. É bastante provável que tenha surgido entre os anos de 1498 e 1538. Após muitos levantamentos o município instituiu o dia 3 de dezembro de 1538, como a data oficial de sua fundação. Dados históricos apresentados por diferentes pesquisadores indicam o primeiro povoamento em I-CAA-PARA, hoje bairro Icapara, distante nove quilômetros do Centro, situado em frente ao norte da Ilha Comprida (antiga Ilha Branca), próximo a foz do Rio Ribeira. I-CAA-PARA, é de origem Tupi-Guarani (‘y = água; ka’a = mata; pará = rio grande, mar), e significa água e mato que se encaminham para a água grande, ou seja, o mar. No local há indícios da construção da primeira igreja e de um cemitério. Os pesquisadores não encontraram registros que apontem que o povoado de Icapara tenha sido desmembrado de outra freguesia, mas sim que se mudara de lugar, indo para o atual núcleo urbano de Iguape, em terras doadas por um português identificado como capitão Francisco Alvares Marinho. Na época, o pequeno núcleo de habitantes em Icapara estava em uma região de mar aberto, bastante vulnerável ao ataque de corsários - os piratas que se dedicavam ao roubo de cargas de embarcações. Ventos fortes que sopravam do oceano ameaçavam

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a segurança das famílias, havia pouca oferta de água potável e o espaço era restrito para a expansão do povoamento. Por essas razões, o grupo que ali vivia, formado por índios Tupiniquins (grafado ao longo dos anos de diferentes maneiras -Tupiniquins, Topinaquis, Tupinaquis e Tupinanquins) e alguns portugueses e castelhanos, decidiu transferir suas moradias para as margens do Mar Pequeno, ao pé do Morro do Espia, um local mais protegido e com água potável em abundância. Em 1577, o povoado foi elevado a freguesia de Nossa Senhora das Neves e a construção da antiga matriz, iniciada em 1614, foi concluída em 1637 e demolida dois séculos depois, em 1858, por se encontrar em adiantado estado de ruínas. Registros sobre a construção dessa igreja é um importante indício do período da transferência da população para o novo núcleo de ocupação, que ocorreu entre os anos 1600 e 1614. É provável que em 1619, a freguesia tenha passado a denominação de vila. Em 1638, na vila de Iguape existia, além das casas dos moradores, a Casa de Fundição de Ouro, a Casa da Câmara e a Cadeia, estas últimas que ficavam localizadas nos fundos da atual Basílica do Senhor Bom Jesus, e foram demolidas em 1827, para a continuação das obras da nova igreja. Estudos indicam que é muito provável que as casas desse período tenham sido construídas em madeira e, por isso, não resistiram ao tempo.


A DISPUTA PELAS TERRAS E PELO TÍTULO DE FUNDADOR O português Cosme Fernandes (ou seria Duarte Peres?), denominado Bacharel, e o espanhol Ruy Garcia de Moschera disputam o título de fundador de Iguape. Alguns historiadores ainda incluem mais um concorrente, Heliodoro (ou Eleodoro, ou ainda, Eduardo) Ébano (ou Eoban, ou ainda, Eobanos) Pereira. Deste último possível fundador, há registros do nome em diferentes grafias, o que deixa mais dúvidas se seria a mesma pessoa, de origem portuguesa ou alemã, de uma ou mais gerações, e que esteve na região no ano de 1565, ou em 1611 ou, ainda, em 1654. Há muitos questionamentos a respeito de quem encontrou o lugar e formou o povoado em Icapara. A presença do Bacharel Cosme Fernandes pelo litoral brasileiro, antes mesmo da fundação de São Vicente, em 22 de janeiro de 1532, é uma importante evidência de que ele seja, de fato, o fundador. Vale ressaltar que, como afirmam pesquisadores, o título Bacharel não está relacionado a uma formação em Direito, por exemplo, pois nos anos de 1500 essa titulação era utilizada para designar homem de grande erudição na técnica, como um médico, um físico ou um padre. O certo é que os registros históricos indicam que esse Bacharel fora degredado de Portugal e deixado em terras brasileiras no ano de 1502, que vivia na região quando Martim Affonso de Souza aportou em 12 de agosto de 1531, e que este o encontrou quando permaneceu em Cananeia por 44 dias devido ao mau tempo. O famoso português reconhecido por suas descobertas, teve contato com um grupo de europeus, entre eles Cosme Fernandes e Francisco de Chaves, identificado como seu genro, que dominava a língua dos nativos.

Outro possível fundador de Iguape é o espanhol Ruy Garcia de Moschera, que de acordo com dados levantados por pesquisadores, apareceu na região no ano de 1532, à procura de ouro e permaneceu em Icapara por um tempo, regressando para Cananeia. O grupo de espanhóis e indígenas que ali ficou fez o povoado prosperar com rapidez. Mas quem era esse homem? Seria um aventureiro ou um tenente desertor? A história não deixa claro, apenas aponta que ele pode ter encontrado o povoado dois anos antes de o Bacharel Cosme Fernandes chegar com sua família e ali se estabelecer. Alguns historiadores apontam que foram os espanhóis e indígenas que acompanhavam Moschera que deram o nome a Iguape. No início do século XVI, a disputa pelo domínio do litoral sul era reforçada pela delimitação do meridiano de Tordesilhas, que fora garantido no tratado assinado em 1494, entre espanhóis e portugueses, estabelecendo a divisão das terras descobertas. Como esses limites eram pouco precisos, muitos grupos de lusitanos e castelhanos navegavam pela Costa do Ouro e da Prata, como era conhecida a faixa marítima no trecho onde está Iguape e Cananeia, em busca de explorar as riquezas e garantir seus assentamentos. O local era ponto estratégico para o controle de toda a região, e o Rio Ribeira era o principal acesso aos territórios do interior. Essa disputa entre portugueses e espanhóis se intensificou em 1534, quando o capitão-mor de São Vicente, padre Gonçalo Monteiro, ordenou que as pessoas estabelecidas em Icapara deveriam submeter-se às determinações do rei de Portugal ou então perderiam seus bens ou estariam sujeitas à

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pena de morte. Os castelhanos defendiam que a terra pertencia a Coroa de Castela, e sua obediência seria ao rei D. Carlos V da Espanha. Nesse período, espanhóis rebeldes que lutavam pela integração dessas terras à coroa da Espanha, comandados por Ruy Garcia de Moschera atacaram um navio de corsários franceses que chegou a Cananeia, e com a ajuda de indígenas, dominaram a tripulação e se apossaram do navio, das armas e das munições. Os vicentinos irritados com essa atitude enviaram uma tropa comandada por Pero de Góis para combatê-los. Ruy Moschera planejou uma emboscada aos vicentinos que, para não serem atacados, desistiram e retornaram à São Vicente. Após esse episódio, o povoado de Icapara continuava descontente com as ordens vindas da Capitania, e organizou um ataque a São Vicente, que pode ter tido o comando de Moschera, com a participação do Bacharel Cosme Fernandes e de Francisco de Chaves. É certo que o grupo utilizou o navio e o armamento dos corsários franceses para a investida, saqueando a capitania e levando o livro do Tombo, que foi perdido durante a fuga para a Ilha de Santa Catarina de onde os espanhóis retornaram ao Rio da Prata. Pouco se sabe sobre o destino do Bacharel, e não foram encontrados mais registros de seus feitos. Teria ele retornado a São Vicente ou teria terminado seus dias em Iguape, Cananéia ou algum outro lugar? Quanto a Ruy Garcia de Moschera, pesquisadores apontam que, em Rio da Prata, ele servira a diversos governos chegando a ocupar posições de confiança, comandando tropas com a finalidade, dentre outras, de conter a invasão dos portugueses em novas terras. Em Icapara, os moradores que ali permaneciam deveriam ter se mudado para São Vicente, mas é provável que nem todos tenham ido ou que, após algum tempo, tenham retornado ao núcleo do povoamento.

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Imagem: Benedito Calixto de Jesus - Fundação de São Vicente, acervo do Museu Paulista da USP

Representação imaginária do Bacharel de Cananeia, por Carlos Fabra www.ovaledoribeira.com.br


ABERTURA DO VALO GRANDE

Igreja e área portuária, Iguape SP, anos 1930 Foto divulgação [Blog Fotos de Iguape / Domínio comum]

Vapor Itaipava atracado no cais de Porto Grande, Iguape SP, 1939 Foto divulgação [Blog Fotos de Iguape / Domínio comum]

No início do século XIX, Iguape vivia seu melhor momento econômico com o Ciclo do Arroz e rivalizava com o Rio de Janeiro em importância portuária e na vida social e cultural, onde as famílias mais ricas tinham a oportunidade na cidade de prestigiar e receber espetáculos europeus de arte. A sua riqueza e ostentação eram oriundas das exportações de vários produtos agrícolas, destacadamente do famoso “arroz de Iguape”, o que ensejou a instalação no município de perto de uma centena de engenhos de beneficiamento desse produto agrícola. Todos os produtos agrícolas que chegavam ao Porto Grande (porto marítimo) eram carregados a partir do Porto do Ribeira (porto fluvial), e assim, seguiam carregadas em carroças e carroções por terra até o porto marítimo, em um percurso de cerca de 3 km, com o custo de dez réis por saca e que era considerado oneroso, ou as canoas seguiam adiante pelo Rio Ribeira entrando no oceano através de sua foz e depois seguindo o percurso pelo Mar Pequeno até o porto marítimo. Para facilitar e baratear o transporte do Porto do Ribeira ao Porto Grande, os vereadores

da época com apoio dos agricultores, decidiram abrir um canal ligando o Rio Ribeira ao Mar Pequeno. Essa reivindicação, com a força da elite política e econômica de Iguape, foi levada a D. Pedro I. Segundo Fortes (2000), a ideia surgiu em 1779, quando vereadores de Iguape oficiaram ao ouvidor geral pedindo a abertura de um canal, de cerca de três quilômetros de extensão, solicitação negada pela Câmara, com a justificativa de que não “traria efeito ao bem comum”. Por duas vezes mais, várias décadas após, a Câmara de Iguape retomou o assunto, sem grande sucesso em sua viabilização, até que em 1825, um requerimento pedindo abertura do canal foi aprovado. À época cogitaram-se duas opções de localização para a obra: uma seguindo a oeste do núcleo urbano de Iguape, acompanhando o traçado do caminho que ligava o Porto da Ribeira até Iguape; a outra alternativa pensada, passava pelo lado leste do núcleo, margeando o Morro da Espia. Na ausência de consenso entre a localização da obra, o governo da província enviou o engenheiro tenente-coronel Eusébio Gomes 31


Barreiros, que recomendou o traçado pelo setor leste, cujos terrenos eram considerados “mais sólidos” pela proximidade do Morro do Espia. A indicação do engenheiro não agradou os moradores, preocupados com possíveis consequências da abertura de um canal próximo aquela que era a fonte de abastecimento de água e local de retirada de terra para as construções – o Morro do Espia. As características dos solos da baixada – formados por sedimentos arenosos inconsolidados e, portanto, muito suscetíveis à erosão – já eram conhecidas pelos engenheiros que se manifestaram sobre a obra. Paulo Freire de Andrade, engenheiro chefe da comissão de reconhecimento de terrenos da Marinha, por exemplo, assim tratou do assunto, em 1826: “A comissão especial encarregada de dar o seu parecer sobre o espaço que devem ter as fucturas ruas do Vallo indo alli e examinando maduramente assentarão que duzentos e vinte palmos de cada hum dos lados hera sufficiente espaço para a edificação das propriedades, tendo a Comissão em visitas que se poderá desbarrancar o terreno com as enchentes.” (Fortes, 2000, p.199)

O engenheiro, reconhecendo a fragilidade dos solos da planície, que levaria inevitavelmente a ampliação da largura dos canais por erosão e solapamento das margens, já alertava para a necessidade de distanciamento da obra em relação ao núcleo urbano. Porém, se de um lado havia a compreensão de que o canal sofreria alargamento pela atuação de processos erosivos, por outro lado, certamente não se tinha, na época, a dimensão do que viria a se constituir esse processo. Isso fica claro, quando em 1840, a Câmara de Iguape recomendou deixar sem ocupação às margens do canal, em uma largura de duzen-

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tos e vinte palmos, ou seja, cerca de cinquenta metros de cada lado, como se vê na seguinte passagem: “Se o terreno desde o Rio Ribeira até Icapara resistisse à impetuosidade da corrente, eu diria que o canal deveria passar pelo meio da vila, mas não resiste, nem pode resistir; logo deve passar ao norte ou ao sul dela.” (Fortes, 2000, p.196)

Canal do Valo Grande, Iguape SP Luciano Faustino [Wikimedia Commons]

Em agosto de 1827, eram iniciadas as obras do Valo Grande, que por projeto teria pouco mais de 4 metros de largura e 2 km de extensão. As escavações foram feitas com mão de obra escrava e, no início, custeadas pela própria população. A partir de 1837 uma resolução do Governo da Província determinou que fosse arrecadado imposto sobre a comercialização do arroz, cujo destino seria o custeio das obras do canal. O Valo Grande passou a ser utilizado a partir de 1852 dando passagem a pequenas canoas. Um ano após a finalização das obras com o solapamento das margens e a consequente obstrução do leito por sedimentos foram necessárias constantes limpezas para passagem de canoas. Nos anos que se seguiram, o canal ampliou-se significativamente, em 1908, quando a Comissão Geographica e Geológica – (CGG) esteve na região levantando o canal, este


já atingira largura de duzentos e noventa e seis metros, em seu maior trecho. A pequena vala de alguns metros transformou-se num imenso braço de rio de mais de 200 metros de largura. Suas margens começaram a desbarrancar de maneira vertiginosa; inúmeras casas e ruas inteiras foram tragadas pela erosão, assoreando o Porto Com o solapamento das margens, os sedimentos seguiam pelas correntes em direção ao Mar Pequeno, o que ocasionou a formação de bancos de areia em frente ao núcleo urbano de Iguape e na Ponta de Icapara, local de entrada das embarcações em direção ao Mar Pequeno, os quais, aos poucos, transformaram-se em ilhas, dificultando, assim, a passagem das embarcações. Além disso, o rio, ao direcionar a maior quantidade de sua vazão no Mar Pequeno, teve sua antiga foz, na Barra do Ribeira, assoreada. Este processo foi responsável, também, pela mudança abrupta de salinidade nas águas do Mar Pequeno, condição que afeta o ecossistema local resultando no desaparecimento de algumas espécies de peixes. Já no início do século XX, o Porto Grande não conseguia mais receber embarcações de maior calado, que eram obrigadas a fundear próximo ao Morro do Espia, há seiscentos metros do Porto. Segundo Fortes (2000), alguns historiadores têm interpretado o Valo Grande como uma obra pioneira na engenharia hidráulica brasileira, talvez pela sua característica específica de intervenção de grande magnitude em um curso fluvial. Esta se deu em um contexto histórico de formação de quadros técnicos de engenharia no Brasil, estimulado pela permanência da Corte Portuguesa nessas terras e, também, em um momento de implantação de obras que se tornaram referências na história da engenharia brasileira, como é o caso da primeira represa para aproveitamento hidrelétrico, construída, em 1811, junto à Fazenda Ipanema (Iperó)

e o Dique Imperial na Guanabara, obra iniciada em 1824. Em 1978, atendendo apelos da população foi construída uma barragem e uma ponte para a travessia de Iguape-Rocio, no entanto, não se procedeu a desobstrução da Barra do Ribeira. O Rio Ribeira voltou a correr para a sua foz original, mas o intenso assoreamento em sua desembocadura, resultado de mais de um século de intervenção no seu curso, dificultava a passagem das águas. A partir dos anos 1980, uma sequência de grandes inundações causou prejuízos enormes às atividades agrícolas e assim a barragem foi retirada pelas sucessivas enchentes e também com o auxílio de ferramentas manuais utilizadas por moradores locais. Uma nova barragem foi projetada 1992, desta vez com vertedouro e comportas de controle de vazão e com eclusa para possibilitar a navegação. A proteção das margens e do fundo do canal contra a erosão constituía parte integrante desse mesmo projeto. Em 1993, as obras civis da nova barragem foram concluídas, porém sem as instalações do sistema eletromecânico de comportas devido a escassez de recursos. Em junho de 2021, o Governo do estado publicou edital de licitação para a retomada das obras da barragem do Valo Grande. Os serviços abrangem a modernização dos projetos civis, eletromecânicos e das instalações de estrutura. Pelo edital a barragem contará com 18 comportas e permitirá ao Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) fazer o controle de cheias do rio Ribeira, além de resgatar as condições ambientais do complexo lagunar do Mar Pequeno – canal entre o continente e a Ilha Comprida –, importante área de reprodução de espécies nobres de peixes e crustáceos.

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Lagamar- Mirante do Cristo Foto: Leone de Souza Silva Junior

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PORTO GRANDE (MARÍTIMO) E PORTO RIBEIRA (FLUVIAL)

Porto Grande de Iguape 1919 Imagem colorizada - Arquivo Triibuna de Iguape

O Porto Grande tinha sua localização às margens do Mar Pequeno e o Porto do Ribeira na entrada da cidade às margens de um meandro do Rio Ribeira de Iguape, parcialmente desligado de seu curso, formando uma espécie de lagoa. Iguape se destacou em relação a Cananeia no desenvolvimento dos portos na região, pois possui uma localização privilegiada, mais central e com o Rio Ribeira de Iguape muito próximo a cidade o que permitiu uma relação mais intensa com setores serra acima e o planalto. O Porto Grande, que, para Fortes (2000), neste momento constituía-se apenas em um cais onde atracavam canoas e barcos à vela, localizado aos fundos da cidade, em sua porção voltada para o Mar Pequeno. À época, a paisagem era bem diferente da atual, com as águas do Mar Pequeno muito próximas aos fundos dos lotes. A vila cresceu no entorno do Porto Grande que era de fundamental importância para: o seu abastecimento, para a locomoção dos moradores que tinham propriedades na

Porto Grande de Iguape - inicio do sec XX - Arquivo Tribuna de Iguape (2)

zona rural e na vila, para moradores de outras localidades próximas que traziam seus produtos para serem vendidos na sede da Vila e para viagens a outras vilas já estabelecidas em seu entorno. Já o Porto do Ribeira surge com uma finalidade estratégica: encurtar o caminho, reduzindo o tempo de deslocamento até a Vila, funcionando como ponto de transbordo. Do porto fluvial, seguia-se por estrada de terra em carroças puxadas por bois, até o porto marítimo, o núcleo urbano. Todas as mercadorias vindas serra acima em direção ao porto marítimo de Iguape, eram descarregadas a vinte e sete quilômetros antes deste atingir sua foz na Barra da Ribeira. O porto fluvial, chamado de Porto da Ribeira, ficava em um ponto em que o curso do rio mais se aproximava do núcleo de Iguape. As canoas que viajavam no Rio Ribeira de Iguape vindas das serras ou dos morros dos Engenhos, dos rios Peroupava e Una, ali se convergiam. Conforme Fortes (2000), o Porto do

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Ribeira encontrava-se originariamente em terras particulares, pertencentes à sesmaria do bacharel Cosme Fernandes e, desde o século XVII, quando o núcleo de Iguape já havia sido transferido para o local atual, existia um pequeno povoado chamado de Porto da Ribeira. Foi apenas no século XIX, com o crescimento do cultivo e comércio do arroz em Iguape que o povoado cresceu. A história de Iguape sempre esteve ligada intrinsecamente a sua condição portuária fluvial e marítima nos seus dois ciclos econômicos mais importantes: o do ouro e do arroz. Sendo os dois portos de fundamental importância para o desenvolvimento da cidade por um grande período. Os dois portos funcionavam de maneira interligada, buscando minimizar o tempo de circulação e de trânsito. Com o início do Ciclo o Arroz o Porto Grande que era pequeno e com um pequeno movimento foi crescendo e assim, foi necessário que fossem feitas várias obras no decorrer dos anos para suportar o tráfego, sendo a primeira já no século XIX quando recebeu cais em pedra. O arroz começou a ter um papel decisivo na economia de Iguape já em fins do século XVIII. No Brasil, vivia-se um momento de retorno da agricultura à condição fundamental na vida econômica da colônia, em um contexto de grandes transformações na Europa com a Revolução Industrial e o consequente aumento da população urbana e, portanto, da demanda por alimentos, que resultou na valorização dos produtos de ultramar. Com a abertura dos portos do Brasil pelo príncipe regente D. João em 1808, Iguape se beneficiou do liberalismo econômico que possibilitou o comércio diretamente com o Porto do Rio de Janeiro. Até o período vigorava na província a proibição de envio de produtos diretamente ao Rio de Janeiro, para garantir a supremacia de Santos, segundo diz Valentim (2006). Este fato deve ter contribuído para

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estimular o crescimento das exportações em Iguape. O declínio do pacto colonial e o franqueamento dos portos da colônia ao comércio internacional também estimularam, no Brasil, a produção e exportação de alimentos, entre os quais o arroz, que chegou a corresponder ao segundo lugar em volume de comércio exterior, depois da cana-de-açúcar. O século XIX testemunha, desde seu início, um novo cenário econômico para o Vale do Ribeira, no qual a navegação assumia um papel fundamental, como atividade que viabilizava a exportação do arroz produzido regionalmente. Em 1825, Iguape exportou de 50 a 60 mil sacas de arroz, cifra que aumentou consideravelmente até 1860, e foram as lavouras e comércio do arroz que estimularam as ampliações e melhorias de uma nova infraestrutura e serviços junto aos portos, além do surgimento de uma nova atividade econômica a da construção naval, e também as inovações da engenharia, com a abertura do Canal do Valo Grande. Em 1869, não mais suportando o volume de arroz a ser exportado, o porto recebeu obras de ampliação que resultaram na formação de uma espécie de plataforma em aterro, cercada por muros de pedra e cal. É certo que, com a consolidação da agricultura comercial do arroz, no início do século XIX, Iguape recuperou o vigor econômico e a riqueza da época da exploração aurífera, inclusive, em uma dimensão mais ampla. Segundo Valentim (2006), o período de 1800 até 1840, correspondeu à implantação e expansão da rizicultura em Iguape, uma quase monocultura, para o autor. Os anos que se seguiram e até 1860, representaram o auge da produção e exportação do produto, coincidindo com a elevação do preço do arroz no mercado. Pelos portos fluvial e marítimo saía principalmente o arroz beneficiado nos engenhos da região e entravam produtos como tecido de algodão, carne seca, farinha de trigo, fumo, aguarden-


te, sal, além de escravos, testemunhando um trânsito constante e crescente de produtos necessários à vida urbana em Iguape. Ao longo deste século, existiam na cidade várias agências de companhias de navegação marítima, tal era a importância da função portuária de Iguape. Entretanto, de acordo com Fortes (2000), as embarcações que faziam a navegação de cabotagem nem sempre atendiam às necessidades dos fazendeiros e comerciantes de arroz, que buscavam um sistema mais eficiente. Em agosto de 1827, para facilitar o acesso das mercadorias que chegavam ao Porto do Ribeira iniciou-se a escavação do Valo grande pelas mãos de escravos e a pequena vala passou a ser utilizada a partir de 1852, dando passagem a pequenas canoas. A pequena vala de alguns metros transformou-se num imenso braço de rio de mais de 200 metros de largura. Suas margens começaram a desbarrancar de maneira vertiginosa; inúmeras casas e ruas inteiras foram tragadas pela erosão, assoreando o Porto Grande, impedindo a entrada de navios de grande calado e comprometendo o delicado equilíbrio ecológico da Laguna. Nessa época muitos fazendeiros e comerciantes de arroz de Iguape começaram a formar sua própria frota tornando-se, também, armadores. Para Valentim (2006), os grandes exportadores de arroz formavam uma elite de mais ou menos quatorze famílias, o que não eliminava a existência de pequenos comerciantes locais. Investiram em navegação fluvial e também na marítima, principalmente a partir de 1860, no auge da produção do arroz, quando o transporte de cabotagem não garantia a permanência das embarcações no Porto Grande. Em 1922, Iguape corresponderia ao segundo porto do estado de São Paulo, de acordo com Fortes (2000). A decadência da função portuária e do transporte fluvial teve início em 1940,

sendo a abertura do Valo Grande o principal responsável, pois desencadeou o assoreamento do Mar Pequeno, impedindo a entrada de barcos de maior calado junto ao porto marítimo, inviabilizando assim, o funcionamento do próprio sistema, pois impossibilitava o escoamento dos produtos pelo Rio Ribeira. Outros fatores que influenciaram essa decadência foram: a grande crise do sistema de navegação que se sucedeu devido a diversos fatores e as políticas públicas federais na época estavam voltadas preferencialmente para o transporte rodoviário. Com a assoreamento do Mar Pequeno a entrada de navios grandes no Porto Grande ficaram impedidos, pois já não podia ser utilizado por embarcações de maior calado. Assim, em 1967, toda a estrutura do Porto Grande foi aterrado para a implementação da urbanização da área. O Porto do Ribeira também foi desativado e passou a ter apenas a função de atracagem dos barcos de pesca em pontos específicos.

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ARQUITETURA

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CARACTERÍSTICAS URBANAS E ARQUITETURA O início do povoamento é datado de 1519 , no sopé do Outeiro do Bacharel em Icapara, por obra do degredado português Cosme Fernandes e do castelhano Ruy Garcia de Mosquera, sendo que deste primeiro núcleo de ocupação não foram encontrados vestígios das construções referidas pelos historiadores. Isso pode ter acontecido por ter sido utilizada madeira na construção e assim não resistiram à ação do abandono na mudança da Vila. A Vila, segundo Roberto Fortes (2000), a partir de registro no Livro de Tombo, ocupou um outro local após a saída do sopé do Outeiro do Bacharel, existem dados de que a Vila tenha se fixado por um pequeno período no bairro da Enseada antes da vinda para o local atual. Entre 1620 e 1625, a Vila de Iguape se estabeleceu às margens do Mar Pequeno por ordem do fidalgo português Eleodoro Ébano Pereira, onde, atualmente, situa-se o centro urbano do município, em uma sesmaria cedida pelo donatário Francisco Alvares Marinho, sendo o termo de doação assinado em 2 de julho de 1679- por Francisco Pontes Vidal e Manoel da Costa, herdeiros de Cosme Fernandes. O local era mais amplo que os anteriores o que possibilitava o crescimento da vila, assim como outras características: - A Vila de Iguape se difere em sua implantação por ter sido instalada em terreno plano, ao contrário de outras vilas da época que geralmente eram implantadas em terrenos elevado; - O seu sistema defensivo era feito a partir da barreira natural do Morro do Espia, que

leva este nome por servir de ponto de observação de todo entorno e servir como ponto de defesa da vila que também foi reforçado pelo traçado urbanístico do núcleo, voltado para si mesmo, e em forma de fortificação; - A fixação da vila próxima ao Mar Pequeno se deu para facilitar a instalação de um porto próximo que tinha a função do reabastecimento seguro das embarcações de passagem e ancoragem, das embarcações de comércio e das pessoas que moravam ali. Anos mais tarde este pequeno porto se transformou no Porto Grande; - O Morro do Espia possuía várias nascentes e água potável era abundante para abastecer toda a vila. - O Rio Ribeira de Iguape está muito próximo à vila o que facilitava a sua ligação do litoral à Serra do Mar. Segundo historiadores locais, a Casa dos Jesuítas, localizada ao lado da Igreja de São Benedito, já havia sido construída pelo antigo dono das terras doadas, e funcionou como sede da capela da cidade até a inauguração da Igreja de Nossa Senhora das Neves, em 1637, sendo a primeira casa a ser coberta com telhas na Vila de Iguape. A vila cresceu no entorno da igreja como era comum, obedecendo a organização comum a outros núcleos coloniais, em que a partir de uma rua paralela à linha do litoral, as demais ruas e os quarteirões se desenvolvem, tendendo à ortogonalidade. Conforme descrito no Dossiê de Tombamento do IPHAN (Dossiê de Tombamento do Centro Histórico de Iguape - SP/2009) em Iguape, a Rua das Neves ou a Rua do Funil de Cima é a rua principal que se abre progressiva39


mente até a passagem pelo Largo da Basílica, e tornando-se regular na Rua Tiradentes até o cemitério e o encontro com o canal do Valo Grande. As demais ruas seguiam paralelas a esta; no caso de Iguape, esta rua era a Rua XV de Novembro, com traçado extremamente singular, perfazendo uma curva em relação à linha do Mar Pequeno, de modo a proteger o núcleo, completando, junto com a Rua do Funil, o aspecto defensivo do desenho urbano. Não existe em Iguape o sistema de quadrícula, mas sim quarteirões alongados, retangulares, em que se alteram ruas principais e secundárias. Os lotes que fazem face com o Mar Pequeno tinham, originalmente, a face principal voltada para o interior do núcleo e os fundos para o mar, onde estava o porto. Este era acessado por pequenas e estreitas ruas, que asseguravam a indevassabilidade do núcleo urbano e sua consequente segurança. De modo geral, o núcleo central da cidade, composto por cerca de trinta quadras, é conformado por lotes de pequena testada (variando entre 2,5 e 8 metros), podendo ser mais ou menos profundos. Estes abrigam casas de meia morada e de porta e janela, ocupando majoritariamente as ruas XV de Novembro, rua das Neves ou do Funil e rua Tiradentes, com trechos significativos de unidade e continuidade visual. Na Praça da Basílica e na rua Nove de Julho, e em alguns pontos da rua XV de Novembro, os lotes são maiores, e têm sobrados de dois pavimentos, casas de morada inteira com telhados de quatro águas, e são pontuadas por edificações de aspecto eclético ou de início do século XX. Em 1787, foi concebido o primeiro plano oficial para melhorar o arruamento da cidade de Iguape - uma normativa que proibia a construção de prédios sem a definição do alinhamento, demarcado por funcionários da Câmara (Fortes,2000, p.160). Esta norma, aparentemente bastante simplória, indica uma preocupação presente com os rumos do crescimento da Vila num período de grande

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desenvolvimento econômico. Naquele ano a cidade contava com a seguinte malha urbana: rua do Mar Grande (atual avenida Princesa Isabel), do Funil (atual das Neves), da Ipiranga (atual Dr. Prudente de Morais), do Campo (atual Sete de Setembro) e das Casinhas (atual praça de São Benedito); além de três travessas sem nome e dos quatro becos que ligavam a rua da Palha (atual Tiradentes) ao Mar Pequeno. ( Dossiê de Tombamento - Centro Histórico de Iguape | SP/2009) Segundo dados levantados (Fortes,200), em 1815 existiam na Vila duzentas e vinte e nove casas; em 1823, já eram duzentas e sessenta e quatro unidades e em 1826, chegavam a duzentas e setenta e três casas na cidade. O patrimônio cultural edificado no conjunto arquitetônico tombado de Iguape configura-se uma herança inestimável.

Tipos de casas: O sobrado e a casa térrea eram os principais tipos de habitação, e estas definiam as classes sociais. Os que habitavam sobrados de piso assoalhado eram famílias ricas, e os que habitavam casas terras de chão batido eram pessoas mais humildes. Porta-e-janela: tipo de habitação mais simples cuja própria denominação define seus elementos de fachada. Internamente divide-se em três compartimentos (sala, dormitório e cozinha) conjugados, havendo apenas um pequeno hall de acesso na porta de entrada. Meia-morada: caracteriza-se por apresentar uma porta de entrada em uma das extremidades com duas janelas laterais. Internamente divide-se em cinco compartimentos: sala, dormitório e varanda, que são articulados por um corredor lateral de acesso na porta de entrada, cozinha e dependência de serviço no corredor secundário, integrando a varanda. Edificação do tipo ¾ de morada: apresenta uma porta ladeada em um dos flancos por uma janela e no outro por duas. A dis-


tribuição dos ambientes em planta baixa é semelhante à da meia-morada, acrescida de dois pequenos ambientes, na lateral do corredor, correspondente ao acréscimo de uma janela na fachada. Morada-inteira: apresenta na composição de fachada uma porta central com duas janelas de cada lado. A distribuição interna constitui-se de um corredor central ladeado por duas salas e dois dormitórios, varanda e dependências. Morada-e-meia: apresenta uma porta e seis janelas, correspondendo a uma morada inteira acrescida de duas janelas. Sua distribuição interna é semelhante à morada-inteira, acrescida de mais uma sala e um dormitório em um dos lados. Sobrado: prédio com mais de um pavimento – de dois, três e alguns, até de quatro pavimentos, somados às habitações térreas do tipo morada-inteira, meia-morada,morada-e-meia, ¾ de morada e porta-e-janela, com seus mirantes, quintais, telhados e muitas fachadas. O pavimento térreo funcionava como loja comercial e os andares superiores como residência do comerciante.

Técnicas construtivas Os edifícios são compostos, em linhas gerais, pela infra-estrutura (os alicerces ou fundações), pela estrutura (paredes estruturais ou pilares e vigas) e pela cobertura (estrutura e revestimentos externo e interno). Fundações: Os alicerces são sempre em fundação direta de alvenaria de pedra, em geral rejuntada com barro, ou excepcionalmente de pedra seca ou com argamassa de cal. Nas paredes em pedra e cal, ou adobe, os alicerces são em vala corrida, em pedra e barro com altura em cerca de 1,20m, largura um pouco maior que as alvenarias das paredes, mantendo a mesma espessura até o solo. Essas dimensões podem variar de acordo com o número de pavimentos a suportar. As sa-

patas isoladas só ocorrem nos pilares de sustentação . Nos casos de alvenaria de taipa de pilão os alicerces são, quase sempre, do mesmo material das paredes. Cantaria entendemos o serviço utilizando a pedra lavrada de maneira precisa, de modo que as peças se ajustam perfeitamente umas sobre as outras sem o auxílio de argamassa aglutinante. Para o assentamento rigoroso utilizam-se grampos metálicos e, às vezes, óleo de baleia como adesivo, para auxiliar na vedação. Apesar de ser um serviço sofisticado, que exige profissional bastante habilitado – o canteiro, é também milenar. No Brasil, entretanto, como também em Portugal, devido à dificuldade de mão de obra qualificada e, também, devido ao custo, a cantaria não era utilizada na totalidade do edifício, mas apenas em suas partes mais importantes: nos frontispícios, nas soleiras, nas pilastras, nas cornijas, nos portais, nas janelas e nos cunhais, sendo, no restante das vedações, utilizada outra técnica mural. A alvenaria é uma técnica de confecção de muros utilizando tijolos, lajotas ou pedras de mão, aglutinados entre si por meio de uma argamassa. No período colonial as argamassas mais utilizadas eram de cal e areia ou de barro. A taipa é uma técnica de construção de barro que apresenta duas variações: Taipa de pilão: Caracteriza-se pelo barro socado entre as formas de madeira, que vem a gerar uma estrutura monolítica depois de seca, e apresenta, em média, espessura de 40 a 80cm; Taipa de mão: utilizada para paredes secundárias e compunha-se de barro atirado a mão sobre uma amarração de paus verticais e horizontais devidamente amarrados.

Tipos de paredes: Paredes estruturais: Considera-se parede estrutural aquela que além de ter a função de vedação também suporta as cargas

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da construção. As paredes estruturais, também chamadas paredes-mestras, geralmente são externas à edificação. As paredes estruturais internas ocorrem principalmente no pavimento térreo e dividem os cômodos. Na maioria das edificações térreas e sobrados as alvenarias estruturais são em pedra e cal, rebocadas com argamassa de barro, cal e areia. A região dispunha de sambaquis, fornecedores de matéria-prima para a fabricação da cal. Paredes externas: apresentam na fachada principal alguns elementos arquitetônicos padronizados para a maioria dos imóveis, a saber: - Embasamento em forma de barra argamassada, normalmente pintadas em cor escura, cuja função é proteger a edificação dos respingos das águas de chuva que caem do beiral, sobre o passeio público; - Pilar de amarração estrutural (cunhal), situado nas esquinas do imóvel, formando ângulo (aresta) entre a parede paralela à rua com a outra de sentido ortogonal. Quando essa amarração ocorre em paredes meeiras, o pilar ou pilastra recebe o nome de cadeia; - Cimalha no remate do telhado em argamassa, finalizando o beiral em telha cerâmica, tipo capa e canal; - Aberturas de vãos com ombreiras, vergas , peitoris (janelas) e soleiras (portas). Paredes laterais: surgem sobre trechos intermediários dos vãos da sala, quarto ou alcova do andar inferior, utilizam apenas apoio nas extremidades das paredes- mestras. São em material mais leve, como a taipa de mão ou pau a pique, executada sobre uma viga de madeira, que funciona como se fosse um baldrame, onde são fixadas as peças de pau-a-pique, para armar a trama de varas, e por último é feita a vedação com barro. Paredes divisórias em pau-a-pique: técnica construtiva também conhecida no Brasil como taipa de mão ou taipa de sopapo. Esse tipo de parede de vedação é estruturado

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em uma trama formada por esteios verticais em madeira (pau-a-pique), que são fixados no frechal e baldrame, depois armados com varas (peças de menor dimensão) horizontalmente, que são amarradas com fibras vegetais pelas duas faces da parede ao pau-a-pique. Depois de montada, a armação é preenchida dos dois lados com barro e posteriormente rebocada.

Telhados Os colonizadores portugueses nas primeiras construções no Brasil adotaram métodos construtivos utilizados pelos indígenas como por exemplo, as coberturas das casas, no início, eram feitas com folhas e fibras vegetais e após alguns anos, os portugueses buscaram os padrões arquitetônicos de sua cultura: sólidas edificações de alvenaria de pedra e cal ou taipa de pilão, cobertas com telhas cerâmicas de uso tradicional na Península Ibérica. No Brasil essas telhas de cerâmicas eram conhecidas por vários nomes: capa e canal, romana, goiva e colonial, dentre outros; apresenta a forma de um semi-tronco de cone e é de fácil fabricação, muitas vezes no próprio local da obra. A cobertura dos imóveis do século XIX possui inclinação acentuada,telhado revestido em telha de barro, tipo capa e canal, apresentando beiral com diversas ordens de telhas (bica simples, dupla, tríplice ou beira seveira) arrematado por cimalha argamassada. Os planos inclinados que constituem os telhados recebem o nome de águas ou vertentes e o ângulo que estas formam com a linha horizontal do topo das paredes define a inclinação do telhado. Classificação dos Telhados Quanto à Sua Forma (Manual de conservação de telhados-IPHAN/1999): De uma Água, em Alpendre ou Telheiro Constituído de apenas uma água, este tipo é


geralmente usado para pequenos vãos, anexos e construções mais simples e é, vulgar e erroneamente, chamado de “meia água”. A aresta superior denomina-se cumeeira e a inferior beiral. De Duas Águas Constitui-se de dois planos inclinados cuja interseção define a cumeeira. Disto resulta que, em ambas as paredes laterais, surge um plano triangular acima da linha do beiral que recebe o nome de empena ou oitão. Quando a empena está voltada para a frente do terreno (como é o caso das igrejas), recebe o nome de frontão e é usualmente limitada por uma cornija recebendo um tratamento mais apurado. De Três Águas Apresenta três planos inclinados dos quais dois são trapézios retângulos, chamados de águas mestras e um triangular, chamado de tacaniça. A interseção entre as águas mestras define uma linha horizontal no cume do telhado, denominada cumeeira e as arestas do ângulo diedro saliente resultantes do encontro com a tacaniça chamam-se espigões. Este tipo é encontrado em capelas alpendradas e em casas situadas nas esquinas das quadras. De Quatro Águas Geralmente usado para cobrir edifícios de planta retangular, constitui-se de duas águas trapezoidais (águas mestras), e duas triangulares (tacaniças) tendo assim uma cumeeira e quatro espigões. Por não exigir o uso de calhas, é o tipo ideal para edifícios isolados e, por este motivo, foi largamente utilizado na arquitetura tradicional brasileira, em especial nos edifícios públicos e na zona rural. Com a popularização das calhas e condutores no século XIX, foi adotado também nas áreas urbanas, pois, no caso de lotes muito profundos, apresenta vantagem sobre o de duas águas, por possibilitar um

menor ponto de telhado. No caso de edifícios com plantas quadradas, todas as águas são idênticas e triangulares, e suas interseções geram quatro espigões e a cumeeira reduz-se a um ponto, sendo então o telhado chamado de pavilhão. De Cinco ou Mais Águas Este tipo é usado para cobrir plantas poligonais sendo que a cada lado do polígono corresponde uma tacaniça e ocorrem tantos espigões quantos forem os lados do polígono. Usualmente são usadas para cobrir pequenas construções, como quiosques ou coretos, quase sempre de estrutura e cobertura metálica. Irregulares Quando as plantas dos edifícios apresentam corpos que se cruzam, em ângulo reto ou não, surgem nos telhados ângulos diedros reentrantes que recebem o nome de rincões. Aos ângulos diedros salientes, resultantes do cruzamento de águas ou planos dos telhados, dáse o nome de espigões. Com relação a estes termos, neste manual será adotada a acepção usual no Brasil: rincão é a linha resultante do cruzamento de duas águas de telhado que formam ângulo diedro reentrante; espigão é a linha resultante da cruzamento de duas águas de telhado que formam ângulo diedro saliente e cumeeira é o caso particular de um espigão horizontal situado no ponto mais alto do edifício. Quando um dos corpos tem largura menor que o outro, sua cumeeira engasta-se num ponto abaixo da cumeeira do de maior largura. Beirais As extremidades dos telhados, chamadas de beirais, apresentam inúmeras soluções que dependem da técnica construtiva do edifício e do tipo de telhado adotado. Para conseguir maior eficiência no escoamento das águas

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pluviais, afastando-as ao máximo das paredes e, ao mesmo tempo, evitar seu refluxo para o interior do edifício, foram desenvolvidos, ao longo do tempo, certos detalhes construtivos, com os mais variados materiais e formas.

Períodos da arquitetura brasileira Colonial: A arquitetura civil produzida em Iguape, assim como em outras regiões do Brasil colonial, era baseada essencialmente no sistema e técnica construtiva portuguesa. Somente no início do século XIX, com a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, em 1808, com a Abertura dos Portos e a influência de artistas estrangeiros, principalmente aqueles integrantes da Missão Artística Francesa, contratada por D. João VI em 1816, tem início no Brasil o gosto pelo estilo neoclássico, em voga nas cidades europeias. Neoclássico: Teve início mais ou menos no ano de 1808, ao final do século XIX , apresenta uma renovação mais evidenciada na composição arquitetônica de fachada e volumetria, mantendo a mesma técnica construtiva empregada no período colonial. No entanto, muitas alterações construtivas foram determinadas através de leis. Com o intuito de dar-se uma feição neoclássica às construções do Rio de Janeiro, sede da corte portuguesa, uma dessas leis, determinava que as casas ficaram proibidas de lançar águas pluviais nas calçadas – seus beirais recebiam calhas, condutores, buzinotes e gárgulas, quando não eram substituídos por platibandas decoradas. Eclético: Surge no final do século XIX e início do século XX. As construções novas e algumas casas já existentes sofrem transformações na implantação no lote urbano e na composição de alguns elementos de fachada, mantendo, no entanto, a simetria

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na distribuição dos vãos de portas e janelas. Outras apresentam alterações apenas na ornamentação da fachada. A planta baixa apresenta a mesma estrutura de distribuição dos ambientes que, no entanto, apresentam recuos frontais e/ou laterais. Os beirais da arquitetura colonial, que jogavam águas pluviais diretamente no passeio público, são substituídos por platibandas, com recolhimento das águas através de calhas metálicas. Art Nouveau: também chamado de “arte nova”, foi uma corrente artística que teve seu início na Europa no final do século XIX, e no Brasil ganhou impulso no século XX, apresentando um caráter vanguardista e original em tudo que envolve as artes plásticas, o design de interiores e a arquitetura. Esse estilo conquistou adeptos mundo afora, tendo forte ligação com a Segunda Revolução Industrial, que sinalizava uma proposta de inovação, um progresso tecnológico e de produção em massa. Graças a seu caráter arrojado, o Art Nouveau se relacionou com o uso de novos materiais, como o vidro e o ferro, criando vitrais e mosaicos, além da madeira, e dentre outras características, se inspirou na natureza, utilizando formatos de folhas e flores, mantendo grande preocupação com a estética e elementos decorativos, tendo ainda orientação do rococó e do barroco. Art déco: Vigorou nas décadas de 1920 e 1930 (aproximadamente). O Art Déco é o estilo que antecede o modernismo, na verdade foi a transição de dois momentos bem distintos: o eclético e o moderno. Seu nome teve origem na Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas (em francês: Exposition Internacionale dês Arts Décoratifs et Industriels Modernes) que ocorreu em Paris em 1925. Numa época em que o estilo eclético já não dava mais conta de produção que o século XX demandava, emerge o Art déco, com suas formas menos rebuscadas e mais geometrizadas.


Glossário: Abóbada: Cobertura arqueada por meio de pedras ou tijolos entre duas paredes laterais. Adro : Terreno em frente ou em volta de uma igreja, podendo ser aberto ou murado. Água : Uma das faces da cobertura que recebe as telhas . Alcova : Quarto sem janelas e sem portas diretas para o exterior. Almofada: Relevo da madeira de portas e janelas encaixado nas folhas de forma retangular ou quadrada. Arco: ligação curva entre dois apoios verticais. Arco Cruzeiro: Arco que separa a nave da capela-mor de uma igreja. Arquitetura pombalina: Sistema construtivo com paredes autônomas, apresentando na fachada vãos ritmados de cheios e vazios, balcões sacados (púlpitos) guarnecidos por gradis de ferro forjado, vãos com vergas e ombreiras. Átrio : Pátio situado no centro ou na entrada de uma edificação. Balaustrada: Parapeito formado pelo ritmo de várias colunas de pequena dimensão, utilizada nos balcões, varandas e tetos. Bandeira: Folha fixa em madeira ou envidraçada, instalada na parte superior de uma porta ou janela. Batistério: O lugar onde fica a pia de batismo no interior das igrejas. Eiras e beiras ou Beira-seveira: Tipo de beiral composto por fileiras de telhas sobrepostas, embutidas na parede e cobertas com argamassa. Beiral: As extremidades dos telhados, chamadas de beirais, apresentam inúmeras soluções que dependem da técnica construtiva do edifício e do tipo de telhado adotado. Caiação: Pintura a base de água e cal que pode receber pigmentos para coloração. Caixilho: Quadros de madeira que formam uma esquadria destinada à sustentação de vidros. Capela-mor: Capela principal de uma igreja onde se encontra o altar-mor.

Cavilha: Peça em madeira ou metal, como um prego, que serve para unir duas peças maiores. Cimalha: Arremate ou coroamento superior que faz o encontro da parede com a cobertura, parte superior do entablamento, espécie de cornija. Coluna: Suporte construtivo cilíndrico vertical, frequentemente mais fino no topo. Geralmente é constituído por uma base onde assenta, por um fuste canelado e rematado por um capitel. Pode ser monolítico ou constituído por vários tambores. A coluna torsa possui um fuste em forma de espiral (muito utilizado no Barroco). A coluna salomónica tem um fuste em forma de espiral com o terço inferior estriado ou diferente, típico no Barroco. Cornija: Remate horizontal saliente da fachada de um edifício; espécie de moldura presente nos templos clássicos que faz parte do entablamento e limita o tímpano. Coro : acima da porta central de uma igreja destinado aos cantores da missa. Corrimão: Peça instalada ao longo dos lados de uma escada para firmar as mãos. Coruchéu: Remate piramidal ou cônico de uma torre ou de um campanário. Cruzeiro: Ponto de encontro da nave com o transepto da igreja. Cumeeira: Parte mais alta dos telhados, onde as águas iniciam sua descida inclinada. Cúpula: Cobertura hemisférica que exige uma parede circular ou tambor. Demão: Camada de aplicação de pinturas sobre uma superfície. Embasamento: Base inferior de uma parede ou imóvel. Emboçamento: Assentamento das telhas com argamassa. Emboço: Camada de argamassa aplicada antes do reboco. Entorno: Toda a área vizinha a qualquer construção: praças, ruas, serras, casas que compõem a paisagem ao redor da construção. Escuro: Folha de porta ou janela inteira de madeira; quando fechadas o ambiente interno fica escuro. 45


Espelho: Face vertical do degrau de uma escada. Esquadria: Indicação de portas composta por ombreiras e vergas; e janelas ombreiras, vergas e peitoris. Estuque: Argamassa moldável composta por gesso, areia e cal, para aplicar em ornamentos decorativos de interior. Estrutura: Parte da construção que sustenta o imóvel; em Natividade, a estrutura é composta por fundação, paredes e cobertura. Fasquia: Ripa de madeira que compõe as treliças. Ferragem: Conjunto de ferros utilizados na construção; fechaduras, trincos, ferrolhos, puxadores, dobradiças, argolas de bater, e outras peças. Folhas: Parte móvel das janelas, portas e armários. Forro: Revestimento interno de teto dos ambientes do imóvel. Friso: Barra horizontal decorativa entre a arquitrave e a cornija. Frontão: Superfície triangular ou semi-circular onde se insere o tímpano, que remata paredes e aberturas. Frontispício: Face principal de uma fachada ou monumento Gelosia: Folha e/ou painel de portas e janelas com treliças em madeira. Ladrilho cerâmico: Revestimentos de pisos feitos de barro cozido, instalados com juntas secas. Ladrilho hidráulico: Revestimentos de pisos feitos pelo método de prensagem hidráulica da argamassa de cimento colorida. Macho e fêmea: O encaixe entre duas tábuas onde a reentrante encaixa na saliente. Madeira torneada: Peça de madeira que recebeu trabalho em torno. Mainel: Ou parte-luz, suporte vertical que divide um vão. Nave: Espaço longitudinal de uma igreja, delimitado por colunas ou pilares, destinado aos fiéis. Nicho: Reentrância na parede para uma es-

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tátua ou elemento decorativo. Óculo: Janela circular ou de formas variadas que se destina à entrada de luz, normalmente colocada na fachada dos grandes imóveis. Ombreira: Peças verticais das portas e janelas onde se instalam as folhas e que sustentam as padieiras e vergas. Parede: Podem ser as vedações ou estruturas de uma edificação e diferentes de acordo com o método construtivo, como adobe, taipa, tijolos e pedra. Parede de meio-tijolo: Diz respeito à forma de montagem das peças do tijolo para fazer a fiada; o mesmo que assentamento a cutelo. Parede-meia: Parede que serve de estrutura e divisa para duas edificações. Pé-direito: A altura entre o piso e o forro ou a cobertura. Peitoril: Apoio da parte inferior de uma janela, a meia altura. Pilar: Elemento estrutural vertical que sustenta peças no alto. Pilastra: Pilar retangular de pouca espessura adossado à parede. Planta: Desenho que demonstra o corte horizontal de uma construção, feito acima dos peitoris do prédio. Platibanda: Coroamento de uma edificação como o prolongamento de uma parede que esconde a cobertura. Ponto: Inclinação da água do telhado. Púlpito: Tribuna acedida por uma escada e adossada a um pilar, na nave central, para os sacerdotes pregarem. Reboco: Composto por argamassa de cal e areia ou cal, areia e cimento, que reveste paredes e prepara a superfície para a pintura. Rincão: Encontro reentrante entre duas águas de alturas diferentes em declive; possui uma calha metálica ou de telhas, que escoa as águas da chuva das duas águas da cobertura. Ripa: Peças em madeira de largura estreita e grande comprimento, que se apóiam nos caibros e sustentam as telhas.


Rodapé: Faixa de ladrilho, madeira, tijolo ou reboco instalada no encontro entre o piso e o pé da parede. Rústico: Uma forma de acabamento grosseiro, tosco. Sacristia: Ambiente da igreja destinado à preparação do padre para a missa, onde é guardada parte dos objetos usados durante a missa. Sineira: Janela de torres de igreja onde são colocados os sinos, também chamada de janelas-sineiras. Sobreverga: Arco construído sobre a verga de uma janela ou porta. Soleira: Parte inferior de uma porta, no chão, que apoia as ombreiras; recebe material diferenciado do piso do ambiente. Tabuado liso: Forro de tábuas corridas instaladas em um mesmo plano. Terra batida: Piso rústico de terra apiloada. Tambor: Cilindros de pedra que constituem o fuste das colunas. Base cilíndrica ou poligonal de uma cúpula, frequentemente com janelas para iluminar. Tesoura: Conjunto de peças de madeira (pernas, pendural e linha) que sustentam o telhado. Tijolo: Peças retangulares de barro cozido em altas temperaturas. Tondo: Decoração circular pintada ou esculpida, utilizada particularmente no Renascimento. Transepto: corpo transversal que atravessa o longitudinal de uma planta em cruz. Tramo: Termo que define o troço situado entre dois apoios contíguos, de uma estrutura. Treliça: Montagem de fasquias de madeira que se cruzam, deixando espaços vazios e formam desenhos geométricos. Trompe: Pintura ilusória da realidade, através de um efeito óptico tridimensional, conseguido com o domínio da perspetiva, aplicado numa superfície. O seu objetivo é enganar o espectador ao reproduzir a ilusão de um objeto físico na pintura. Conhece-se desde a Antiguidade. Vão: Uma abertura na parede destinada às por-

tas, janelas e óculos, entre outros espaços. Veneziana: Tipo de folha da cobertura que possui paletas horizontais com inclinação suficiente para passagem de ar entre elas. Verga: Peça de madeira que sustenta o peso da parede acima das janelas e portas. Viga: Uma peça que apoia a estrutura de forma horizontal. Vigamento: Conjunto de vigas de uma cobertura. Voluta: Ornamento e elemento de construção em forma de espiral ou caracol, que serve de transição entre seções horizontais e verticais. Utilizado no capitel jónico. Zimbório: Cobertura de um edifício, geralmente sobre a cúpula do cruzeiro das igrejas, que constitui o principal meio de iluminação do espaço interior.

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SOBRADO DOS TOLEDOS

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HISTÓRIA DO IMÓVEL

Localização: Rua Jeremias Junior

O imponente Sobrado dos Toledos é um modelo de riqueza e de poder assegurados pelos arrozais que, entre o começo do século XVIII e final do século XIX, ditaram a economia e enriqueceram famílias de produtores. O imóvel, foi erguido na cidade de Iguape na primeira metade do século XIX, por volta do ano de 1840, por José Carlos de Toledo, filho do comendador José Jacinto de Toledo, este que foi o proprietário de outro prédio, o Sobrado dos Mâncios, localizado na Rua Nove de Julho (antiga Rua Direita), e onde, durante algumas décadas no século XX, funcionou o Hotel São Paulo. Após a morte do agricultor José Carlos de Toledo, o sobrado foi deixado para seus filhos e, em 1931, Ana de Toledo Aguiar, uma de suas herdeiras, por ser muito devota do Bom Jesus de Iguape, doou a propriedade ao Santuário da cidade para que abrigasse romeiros pobres durante as festividades do padroeiro. Desde então, o imóvel passou a ser conhecido por Sobrado do Santo. Na década de 1920, os clubes Chuveiro de Ouro e Grêmio Flor de Açucena funcionaram no pavimento superior e, no andar térreo ficava o Bar de Maneco Gatto. Entre os anos de 1970-1980, o

piso superior transformou-se em pista da danceteria 55 Disco Club. Entre 1980 e 1990, além do Cine Teatro Jureia, que se instalou em 1983, alguns setores da Prefeitura de Iguape foram transferidos para o local, e comércios, como bares e casa de ração, também ocuparam o prédio nesse período. Em 2002, a Mitra Diocesana de Registro, proprietária do imóvel, e a Prefeitura de Iguape assinaram um contrato de comodato onde o Sobrado dos Toledos passaria aos cuidados do município, o que não garantiu a sua manutenção. Após um forte temporal, em 2010, a cobertura do edifício desabou destruindo também os assoalhos do segundo pavimento e o piso do térreo. Somente em 2018, depois de um longo período em estado precário e com partes dos escombros ainda no local, o prédio foi reformado e restaurado, ganhando novo telhado, pisos, forro e alvenarias. Todas as esquadrias existentes foram recuperadas e os objetos decorativos da fachada restaurados, restabelecendo a beleza desse ícone da arquitetura nacional. Restauro de Patrimônio Ao longo dos anos e da história, o espaço do Sobrado dos Toledos foi sendo trans-

Essa obra foi realizada com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC Cidades Históricas, do Governo Federal, com execução do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e iniciada em julho de 2018, tendo sido finalizada e entregue à Mitra Diocesana, em maio de 2021.

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formado e utilizado para diferentes finalidades. Trabalhos de restauro e de estudos de arqueologia realizados em 2018, por uma equipe de arqueólogos ligados ao Projeto História, São Paulo, encontraram muitos objetos que demonstraram as ocupações do espaço e do edifício por diferentes povos, grupos sociais e etnias. São fragmentos de cerâmica indígena, provenientes dos níveis mais profundos de escavação, e outras que fazem referência ao período imperial e aos séculos XVIII e XIX, como incontáveis pedaços de diferentes tipos de cerâmica e de porcelana, frascos de vidros, moedas, cachimbos e botões. A restauração do prédio trouxe de volta à cidade um dos mais belos sobrados construídos em Iguape. O projeto buscou manter o imóvel o mais próximo possível do original, deixando um legado às futuras gerações. A proposta indica seu uso como um espaço de acolhida de romeiros durante a festa religiosa do Bom Jesus e, no restante do ano, o local poderá ser utilizado pela população para atividades diversas. Durante todo processo de restauro, a equipe técnica fez um estudo detalhado para encontrar as melhores soluções, uma vez que o prédio passou por muitas intervenções durante sua existência, que modificaram a sua fachada e alteraram a parte interna, em especial no térreo. Os levantamentos históricos definiram a fachada e concluíram que o pavimento térreo era composto apenas por portas, que voltaram a existir, e as paredes divisórias, construídas ao longo do tempo com diferentes materiais, como blocos de concreto e tijolos cerâmicos, foram demolidas, ficando apenas aquelas erguidas com pedra e cal entaipadas. Algumas 50

dessas paredes passaram pela técnica de descascamento, deixando à mostra a alvenaria de pedra e cal. O telhado foi completamente refeito recebendo nova estrutura de cobertura mista, composta por tesouras e terças metálicas, e ripamento, caibraria e contrafeitos em madeira. Para garantir a sustentação do pavimento superior a equipe propôs diferenciar as construções históricas e a contemporânea incorporando uma estrutura metálica independente aos pilares em pedra e cal existentes, evitando interferência de cargas sobre os mesmos. No térreo, voltada para a fachada frontal, há um espaço reservado para a recepção de romeiros durante os festejos do Bom Jesus, e na fachada lateral da Rua Major Rebello, um lugar destinado à loja de produtos religiosos. Subindo as escadas, no primeiro pavimento foi criado um espaço amplo que pode ser utilizado como área de descanso em tempos de festa, e como auditório ou área de exposições e eventos em outras ocasiões. Nesse mesmo pavimento, uma passarela em concreto garante a ligação entre o prédio histórico e o novo anexo de dois pavimentos, este erguido nos fundos na área externa ao lado da construção anexa original. É nesse novo anexo, que está a cozinha de porte médio, um café, os lavabos e os sanitários. A construção foi feita com ventilação em tijolo furado e revestimento em argamassa para se destacar da edificação histórica. Uma escada metálica helicoidal (conhecida por caracol) leva ao Solarium, um lugar ao ar livre com jardim.


Conceitos e detalhes da arquitetura Pedras unidas por argamassa composta por óleo de baleia, conchas e cascalho formam as paredes mestras estruturais do Sobrado dos Toledos, construído em três pavimentos e tido como a maior representação do estilo neoclássico na cidade. O imóvel é composto por duas edificações: a principal em maiores dimensões e outra menor, anexa à primeira, que pode ser observada na fachada da Rua Major Rebello. A edificação anexada é tão antiga quanto a principal que corresponde ao mesmo sistema construtivo de alvenaria de pedra entaipada, porém com uma significativa diferença no ritmo de vãos de janelas e de portas. O telhado do imóvel em duas águas sustenta, em destaque, esculturas de dois Leões, um em cada extremidade. As esculturas são produzidas em Faiança Portuguesa, uma forma de cerâmica, associada a argilas mais porosas de coloração branca ou marfim, que ao passar por um processo específico ficam com aspecto vitrificado. Ao centro, no lugar mais elevado, está uma estátua que é a representação alegórica da Europa (1). As esculturas são o retrato da força e do poder da família que construiu o imóvel. Na fachada do prédio, cimalhas dão acabamento ao telhado, protegendo-o de

fortes ventos, sol e chuva, e indicando que seus proprietários eram pessoas de muitas posses. Do lado direito, são os beirais que prolongam as telhas além das linhas da parede e garantem beleza ao acabamento. Por toda fachada, entre os dois pavimentos estão os vazadouros, sendo seis na parte frontal e três na lateral. No térreo, os vãos são preenchidos por dezessete portas, com duas folhas em madeira que possuem os seguintes elementos compositivos: soleiras em cantaria, ombreiras e vergas em arco abatido. Acima das vergas pode-se observar um friso horizontal que percorre toda a extensão do térreo. Os cunhais das duas colunas da fachada são em pedra trabalhadas em cantaria, e seu prolongameto, em reboco saliente. No segundo andar, os vãos são preenchidos por nove portas com as mesmas características das portas do térreo, possuindo também uma sacada em balanço feita com cantaria em pedra, com balcão corrido que se estende na lateral dando acesso a todas as portas do segundo andar, formando uma sacada única que embeleza a fachada. Acima das vergas, assim como no andar inferior pode-se avistar um friso horizontal que percorre toda a extensão do segundo andar. No gradil de ferro forjado dos balcões da fachada frontal, ao centro, a sigla JCT (José Carlos de Toledo) identifica seu proprietário. As colunas deste andar são

1. As alegorias representavam a visão europeia através de gravuras, de ilustrações e até mesmo de esculturas que expressavam características, geralmente estereotipadas, dos continentes no período da expansão oceânica e serviram para justificar algumas formas de discriminação e segregação. Essa maneira de representação teve início no século XVI, tornando-se mais comum nos séculos XVII e XVIII. Nas alegorias que representam os continentes, a Europa é a única que está vestida, calçada e sentada; que se encontra acima de todas as outras, com dois globos de cada lado, que demonstram seu domínio no campo celestial e terreno. Diversos outros símbolos expressam seu poder, como o cetro em sua mão direita, a coroa imperial, vestes ricas e ornamentos sóbrios. De acordo com o estudo feito por Cesare Ripa em seu livro intitulado “Alegoria, Iconografia e Iconologia”, a representação da América tem símbolos de inferioridade, caracterizados por “elementos indígenas, simbolizada por uma mulher nua de cor escura mesclada ao amarelo, com adereço de cabeça composto por plumas de diversas cores, carregando em suas mãos um arco e flechas”. 51


em relevo com representação em estilo dórico. Nesse pavimento ainda estão oito janelas, que podem ser vistas da Rua Major Rebello, e que também são em duas folhas de madeira e possuem: peitoril em madeira, ombreiras e vergas em arco abatido. Outras cinco janelas e duas portas, no mesmo padrão, se abrem para os fundos descortinando uma vista encantadora do Morro do Espia. No interior do sobrado, as paredes originais construídas em taipa de sopapo (pau a pique), que tinha uma estrutura leve e era de fácil manuseio, não existem mais. O piso do segundo e do terceiro pavimentos, que eram em tábua corrida, foram refeitos com material similar, mantendo as características da construção. No térreo, um piso hidráulico nas cores branco e preto, substituiu o piso original buscando manter o mesmo padrão e estilo. Estudos realizados no edifício mostraram que as portas e janelas eram originalmente na cor azul, os gradis na cor preta, e as vergas, cimalhas, colunas e elementos decorativos todos na cor branca. As paredes internas eram em cor branca, pintadas com tinta à base de cal, e na fachada, os barrados em tom avermelhado contrastavam com o amarelo das paredes externas, e assim ficaram após o restauro. Como na maior parte dos sobrados dessa época, o andar inferior era utilizado como comércio, o que justifica o elevado número de portas. Escadas em madeira com corrimãos de metal (inseridos durante a reforma e restauração do imóvel), levam ao piso superior, onde o proprietário que construiu o edifício vivia com sua família. Nesse pavimento, próximo a

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escada, há um vão que foi preenchido por um óculo, que promove ventilação e entrada de luz. A fachada do terceiro piso apresenta um frontão triangular e entablamento, e é ornamentada com porcelana originária da cidade portuguesa do Porto. A sacada púlpito em balanço feita em cantaria possui um gradil onde se destaca uma harpa esculpida em ferro forjado e alguns símbolos Marianos, como a flor de lótus. O vão é preenchido com uma porta-janela emoldurada com soleira em pedra, ombreiras, vergas em arcos ogivais e ainda bandeira fixa com vidros, representando o Sol resplandecendo. Nos fundos estão outras duas janelas internas. Do lado de fora do prédio, as soleiras e as calçadas construídas em cantaria são mais um símbolo da riqueza e da arquitetura que resiste ao tempo.

Piso hidráulico


Iniciais da família no gradil

COMO CONHECER

O Sobrado dos Toledos integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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ESCULTURAS

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FACHADA RUA JEREMIAS JUNIOR

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ORNAMENTOS

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GRADIS

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CANTARIA EM PEDRA

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ESPAÇOS INTERNOS

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SOBRADO DOS FORTES

Detalhe da construção 64


HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Rua das Neves

Situado na esquina da Rua das Neves com a Rua Jeremias Júnior este sobrado pode ter sido construído na primeira metade do século XIX pelo agricultor e capitão Antonio Borges Diniz. Tempos mais tarde pertenceu a Claudino Pereira da Silva e, na primeira década do século XX, foi adquirido pelo capitão José Anastácio Fortes, conhecido por Juca Anastácio, homem influente na cidade. Depois de 1945, o Sobrado dos Fortes, - como o imóvel passou a ser denominado- foi vendido outras vezes para diferentes proprietários, e por algum período sofreu com a falta de manutenção, chegando ao estado de ruínas. Em 1990, o prédio foi desapropriado pelo município e recebeu uma reforma geral e, desde então, é o local destinado à realização dos atos do Poder Legislativo, passando a ser conhecido também como Sobrado da Câmara Municipal, onde estão os gabinetes dos vereadores, os setores administrativo e jurídico, e o Plenário, disponível para as sessões ordinárias e extraordinárias da Casa de Leis e, eventualmente, para outros eventos, encontros, reuniões e solenidades.

O Largo da Matriz O antigo Largo da Matriz, existiu no local onde hoje está a Praça da Basílica. Dessa área é possível observar o magnífico conjunto arquitetônico do Centro Histórico de Iguape, com suas casas térreas e seus suntuosos sobrados, como o Sobrado dos Fortes que ocupa quase toda extensão da estreita rua lateral. No Largo existiu um chafariz de pedra lavrada com quatro torneiras, que abastecia as residências em todo seu entorno e que substituiu duas bicas d’água, por volta de 1887. Anos depois, no início do século XX, o antigo chafariz de pedra foi substituí-

do por outro, de ferro fundido, adquirido da Fundição do Brás, que permaneceu no local até o ano de 1921 quando foi retirado. Durante décadas o lugar foi denominado Largo da Matriz e, somente após a conclusão da nova igreja, que mais tarde recebeu o título de Basílica, o Largo passou a ser conhecido como Praça da Basílica.

Conceitos e detalhes da arquitetura Situado em local privilegiado, em uma charmosa esquina de rua estreita no Largo das Neves, o Sobrado dos Fortes é uma expressiva representação dos belos imóveis da arquitetura colonial, que preserva o modo construtivo da época, com paredes espessas em alvenaria de pedras, unidas pela cal extraída de sambaquis encontrados na região. Este prédio é composto por duas edificações: a principal em maior dimensão, e outra menor, anexa à primeira, que pode ser observada pela fachada da Rua Jeremias Júnior. Essa edificação anexa aparenta ser tão antiga quanto a principal, porém com diferença no ritmo de vãos de janelas e de portas. As bandeiras fixas das portas, portas-janelas e janelas são em madeira com três caixilhos envidraçados, sendo dois deles em vermelho e, o central, em menor tamanho, na cor azul. Todos os vãos do segundo pavimento são alinhados com os do térreo, tanto na fachada principal como na lateral. As calçadas são em pedra trabalhada em cantaria, como na maior parte das encontradas no Centro Histórico, e três cunhais embelezam a edificação principal. As colunas acima dos cunhais são em argamassa, as paredes externas pintadas na cor verde-claro, e as molduras das esquadrias, dos barra-

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dos, das colunas, dos beirais, dos ornamentos e dos frisos ganham destaque graças ao tom mais escuro de verde. Todas as portas, portas-janelas e janelas que se abrem para a rua receberam um toque amarronzado, e o gradil das sacadas preserva a tonalidade em cinza. Telhas de barro forram a cobertura da edificação principal, construída em três águas, e a edificação anexa, em apenas uma água, atualmente tem telhas de amianto. Em ambas as fachadas, eiras e beiras embelezam o acabamento do telhado e promovem um encantamento a todo conjunto arquitetônico. A fachada principal do pavimento térreo encontra-se enquadrada por cunhais em cantaria, possui cinco vãos preenchidos por cinco portas com vergas em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e soleiras em pedra trabalhada em cantaria. Acima das sobrevergas há um friso, que é cortado no centro por um elemento decorativo em argamassa O fechamento das portas é em duas folhas de escuro em madeira e, acima das sobrevergas, são encontrados vazadouros na cor verde. No segundo pavimento desta fachada estão cinco vãos rasgados até as soleiras em cantaria, preenchidos por portas-janelas com fechamentos internos em duas folhas de escuro em madeira pintadas na cor branca, e outras duas folhas externas preenchidas com caixilhos envidraçados na sua maior parte e, por almofadas na parte inferior. Essas folhas se abrem para uma sacada individual em balanço de pedra trabalhada em cantaria, guarnecida por guarda-corpo em gradis de ferro. Aqui, as molduras são idênticas às dos vãos do pavimento térreo. Na fachada da Rua Jeremias Júnior é possível observar as diferenças no ritmo dos vãos da edificação principal e a anexa, pois aquela encontra-se enquadrada por cunhais em pedra trabalhada em cantaria e, a anexa, por uma das colunas de argamassa. Em ambos os pavimentos desta fachada da

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edificação principal cinco vãos são preenchidos em cada um deles, e seguem as mesmas descrições dos vãos da outra fachada voltada para o Largo das Neves. Acima das sobrevergas de todas as portas do pavimento térreo, os vazadouros na cor verde também ganham destaque. Na edificação anexa, o pavimento térreo apresenta abertura de dois vãos: para uma porta que dá acesso aos fundos do sobrado, que é idêntica às outras desta mesma fachada, e para uma janela em madeira com duas folhas de escuro que se abrem para o interior. Nessa fachada, há um gradil em ferro, também pintado na cor marrom, vergas em arco abatido, sobrevergas e peitoril em argamassa. Janelas com duas folhas preenchidas por caixilhos envidraçados se abrem para o interior, também preenchendo os dois vãos do segundo pavimento. Essas janelas têm bandeira fixa idêntica às das portas e portas-janelas, além de vergas em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e peitoris em pedra trabalhada em cantaria. No sobrado que abriga a Câmara Municipal, o pavimento térreo é ocupado por uma recepção e uma sala de exposições. O acesso é pela Rua das Neves, conhecida também por Funil de Cima. Atrás da recepção está uma escada com dois lanços, que leva ao segundo pavimento e é de uso público. Ainda no térreo, o espaço posterior à entrada do imóvel é ocupado por pequenas salas identificadas como os gabinetes dos vereadores, além de outras dependências para uso administrativo, banheiros, almoxarifado e cozinha. No fundo desse pavimento, uma escada, também de dois lanços, possibilita o acesso ao piso superior. No entanto, seu uso é restrito aos vereadores e demais servidores. No segundo pavimento, com uma bela vista para o Largo das Neves, logo à frente, e para a Praça da Basílica, à direita, no interior do sobrado está uma grande sala. É nesse local que fica o Plenário da Câmara de Vereadores, onde há um espaço disponível, com


cadeiras enfileiradas, para o público que presencia as sessões legislativas, e outra área, separada, disposta para as mesas dos vereadores e para a Mesa Diretora, esta que se colocada em um plano acima, com lugares específicos do presidente da Casa e de secretários e, em um espaço ao lado, assentos para convidados. Atrás desta sala está o gabinete do presidente da Câmara, dos assessores e de outros funcionários, além de banheiros que atendem a este pavimento. Sacadas

Soleiras em pedra trabalhada em cantaria

COMO CONHECER

O Sobrado dos Fortes integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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GRADIS

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ORNAMENTOS/DETALHES

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CANTARIA EM PEDRA

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SOBRADO DO COMENDADOR

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Rua XV de Novembro

O prédio do Paço Municipal, também conhecido por Sobrado do Comendador, está localizado nas esquinas das ruas XV de Novembro e Nove de Julho (antiga Rua Direita), no coração do Centro Histórico de Iguape, e foi construído por Luiz Álvares da Silva, um abastado agricultor e influente comerciante e político de sua época, que recebeu o título de Comendador. Nascido em Cananeia por volta de 1808, o ilustre proprietário desse imóvel viveu por décadas em Iguape, onde faleceu em 1883. Não há registro que aponte a época exata em que esse belo sobrado foi erguido. Algumas datas prováveis, mencionadas em pesquisas e documentos divulgados ao longo da história, apontam a segunda metade do século XIX. Na fachada do imóvel duas datas intrigam, pois podem se referir a esse período de construção do edifício. Na lateral da Rua XV de Novembro, a data é 5 de agosto de 1865, e na da Rua Nove de Julho, a inscrição indica 20 de maio de 1886. A principal hipótese defendida é de que a primeira se refere ao início da obra e a segunda à sua conclusão. De qualquer maneira, o que se sabe (graças a dados obtidos no diário pessoal do Comendador, e que constam nos registros históricos) é que em 1868 os negócios do comerciante passaram para esse prédio, na área do térreo, e o piso superior foi transformado em moradia para sua família, que antes vivia em outro sobrado de sua propriedade, situado no então Largo do Ipiranga, hoje conhecido por Pirá. Após a morte de Luiz Álvares da Silva, o imóvel foi herdado por suas filhas Maria Pacífica da Silva, que era solteira, e Maria Salustiana da Silva, casada com Francelino Américo da Silva. Em fins do século XIX, as irmãs ar-

rendaram o prédio que se tornou sede do Clube Beneficente e Recreativo Iguapense. Em 1902, o imóvel foi alugado para a Câmara Municipal, que até então funcionava no Sobrado dos Mâncios, um edifício vizinho que abrigou o Hotel São Paulo durante algumas décadas no século XX. Em 2 de junho de 1945, o Sobrado do Comendador foi adquirido pela Prefeitura Municipal, após a morte das herdeiras, e a partir dessa data, o espaço se transformou em Paço Municipal. Os registros históricos destacam reformas em 1886 e 1895. No século XX, por volta de 1980, o sobrado mais uma vez foi submetido à obras, que não solucionaram todas as necessidades, pois em dezembro de 1987, o telhado desabou obrigando a transferência dos setores para outros imóveis, como o Sobrado dos Toledos e o prédio ao lado do Paço, pertencente a Igreja Presbiteriana. Em 1994, o edifício passou por uma reforma completa, quando o pavimento superior recebeu piso de laje e as salas foram repartidas com divisórias. Entretanto, a pouca manutenção ao longo dos anos permitiu que a água da chuva provocasse sérias infiltrações pelo telhado e pelas paredes, inviabilizando o uso do espaço para atendimento ao público. Os serviços que funcionavam no Paço Municipal, mais uma vez, foram transferidos para outros endereços, ficando o imóvel fechado por alguns anos até a obra de restauro ser executada entre 2018 e 2020, graças à inclusão do prédio no PAC CH (Programa de Aceleração do Crescimento – Cidades Históricas) do governo federal, em 2013. O restauro do Paço Municipal foi concluído e entregue ao município em 2021.

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Restauro de Patrimônio A estrutura do imóvel secular, que guardava poucas das lembranças de sua construção original, pedia socorro. Pilares, vigas e lajes de concreto sobrecarregavam o arcabouço de pedra entaipada; entalhamentos e estruturas de madeira diferentes modificavam o telhado; o interior do prédio mantinha alvenaria de tijolos e de argamassas cimentícias e divisórias de madeira, tudo muito diferente daquilo que poderia ter existido no passado. A proposta de mudança da estrutura interna do sobrado foi elaborada com base nas conversas com representantes da Prefeitura Municipal, e apresentada à população local em outubro de 2013, durante reunião na Casa do Patrimônio Vale do Ribeira, em Iguape. Os envolvidos sugeriram que o projeto fosse versátil, que pudesse se adaptar à diversidade de ocupação do espaço, de acordo com o formato de cada gestão municipal. Logo que a obra foi iniciada houve a necessidade de remoção da estrutura em concreto armado que sustentava o primeiro pavimento, tendo sido substituída por uma outra armação metálica independente, sem causar interferência de carga ou estética no arcabouço de pedra entaipada. A equipe de restauro ainda removeu os condutores de águas pluviais, as intervenções metálicas, os acréscimos em argamassa de cimento e as espessas camadas de pintura. Na parte dos fundos do edifício foram eliminados alguns anexos, que estavam em más condições de conservação, como depósitos no pátio interno do pavimento térreo, o sanitário privativo do gabinete do prefeito e a escada de rota de fuga que ocupava também parte desse pátio. Apenas a fachada foi mantida, uma vez que a equipe de restauro concluiu que as características de portas e janelas são originais e não sofreram alterações. Foram também executados serviços de limpeza de

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elementos pétreos- como as pedras em cantaria -, o preenchimento de argamassa de cal onde havia necessidade e a pintura geral do prédio com tinta à base de cal. A proposta de restauro indicou uma mudança de layout para o espaço interno e a construção de um novo anexo de apoio. Dessa forma, foram criadas aberturas de vãos no pavimento superior do pátio interno, com a finalidade de melhorar a ventilação e a entrada de luz natural. Aos fundos do edifício, no lugar do antigo anexo foi construída uma nova edificação de dois pavimentos, em estrutura de concreto e paredes de vedação em tijolos furados com revestimento em argamassa de cimento. Essa estrutura se conecta com a construção original e se destaca esteticamente por ter sido erguida em uma altura menor que a do prédio principal. No térreo há um grande salão destinado ao atendimento do público e áreas de trabalho, estas com divisórias em vidro, sendo algumas de painéis móveis, como quadros deslizantes que podem ser empilhados em uma das extremidades das salas. Neste local foi instalada uma escada com acesso limitado aos funcionários, que segue os mesmos moldes de outra escada de entrada do público que leva ao pavimento superior. O espaço recebeu um bicicletário indicado para uso dos colaboradores, localizado em área aberta, entre o prédio e o anexo. Neste anexo, há um lugar de apoio com cozinha e zona de refeição, e um ambiente destinado à permanência e descanso dos servidores. Todas as portas do térreo possibilitam o ingresso ao interior do prédio. A entrada pela Rua XV de Novembro dispõe de escada feita em madeira e ferro, que leva ao piso superior e tem acesso livre para o público. Essa escada foi inserida durante a obra de restauro e substituiu a de alvenaria antes existente. É muito provável que a original fosse em madeira. Há também um elevador próximo à escada principal, e a parede lateral


está descamada deixando aparente o modo construtivo do imóvel. Na calçada desta fachada foi instalada uma rampa, garantindo acessibilidade. Como no térreo, um grande salão preenche quase todo o espaço do pavimento superior. No anexo estão dois banheiros, um masculino e um feminino, e uma antessala recepciona aqueles que buscam uma audiência com o prefeito. A sala utilizada como gabinete possui uma extensa parede descamada e também uma escada caracol em concreto com acesso à Rua Nove de Julho.

Conceitos e detalhes da arquitetura No sobrado do Paço Municipal as calçadas de pedras, trabalhadas em cantaria, se destacam por serem uma das mais altas do Centro Histórico. A pedra em cantaria também se evidencia no cunhal da esquina das ruas Nove de Julho com a XV de Novembro, nas soleiras de todas as portas do prédio e no balanço da sacada do pavimento superior. O imóvel erguido em dois pavimentos tem cunhais prolongados com reboco saliente. Na fachada do térreo na Rua Nove de Julho, nove portas enfileiradas em madeira com duas folhas de escuro estão pintadas na cor azul, e são ornamentadas com vergas em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e soleiras em pedra. Nesta fachada, há apenas um vão preenchido por uma janela, que se apresenta com fechamento externo em guilhotina envidraçada. A parte superior da janela é adornada por desenhos feitos com pinazios em curvos, coloridos em azul, que ficam a mostra para a rua , se destacando na fachada. O fechamento interno é em duas folhas de escuro, também na cor azul. A janela recebe molduras com verga em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e peitoril em madeira. Nesta lateral do imóvel pode ser observada a inscrição Agosto 5 de 1865, disposta no centro do friso que percorre toda a fachada

acima das sobrevergas, envolta por um ornato que se assemelha a ramos verdes com pequenas flores vermelhas. Logo acima, entre o friso e a sacada, estão dez vazadouros que garantem o escoamento da água em dias de chuva. Ainda no térreo, na Rua XV de Novembro, outras três portas podem ser avistadas ao lado de três janelas que seguem as mesmas características decorativas da outra lateral, incluindo suas molduras. Em cima das sobrevergas, um friso se estende por toda a fachada e, no centro, é dividido por um ornato com folhas e frutos de café, coloridos em verde e vermelho. Ainda nesse mesmo ornato está a inscrição Maio 20 de 1866 em alto-relevo e, logo acima, são avistados outros seis vazadouros no mesmo padrão dos encontrados na lateral da Rua Nove de Julho. No pavimento superior, os vãos da fachada são rasgados até o nível das soleiras e preenchidos com portas-janelas, sendo dez do lado da Rua Nove de Julho e seis na lateral da Rua XV de Novembro. Todas as portas-janelas possuem dois fechamentos: aqueles em duas folhas de escuro em madeira, que são abertas para a parte interna, e os que se voltam para a sacada, formados por bandeira fixa com desenho adornado por pinazios, detalhe este que as diferencia das janelas do térreo. A parte superior das portas-janelas possuem vidros que possibilitam a entrada de luz, e na parte inferior são as almofadas em madeira, pintadas em azul, que as decoram, como as do térreo. Em frente às portas-janelas uma extensa sacada em balanço com balcão corrido possibilita a circulação e permite o acesso a todos os vãos. As grades do balcão em ferro forjado são responsáveis em promover ainda mais beleza à fachada desse sobrado. Todas as colunas aparentes da parte externa do imóvel recebem elementos decorativos diversos, com destaque para o

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topo do edifício, onde há um ornamento em alto-relevo, que mais se parece com uma mão segurando um abacaxi. Abaixo da cimalha, que contorna toda a lateral, em ambas as ruas, estão ornamentos com frisos, iguais aos vistos no andar térreo. O telhado é construído em duas águas e foi completamente restaurado. O térreo ganhou piso hidráulico nas cores branco e preto e no pavimento superior, o assoalho de madeira remete ao original. Esse piso é sustentado por uma estrutura de metal, que fica escondida no forro feito em madeira do tipo saia e camisa, o que garante que não seja vista por quem esteja no térreo. Esse sistema estrutural tem pilares, vigas principais e vigas intermediárias que funcionam como barrotes sustentando o tabuado em madeira. Dessa forma, apenas a estrutura de pedra entaipada ganha destaque, valori-

zando o método construtivo da época. Assim como no térreo, no piso superior o forro é em madeira. Nos fundos do salão, ao lado da escada, estão seis janelas dispostas em uma parede em “L”, que podem ser abertas para fora e de onde são observados o bicicletário e o jardim suspenso, instalados no térreo. Essas janelas são emolduradas em madeira com três divisões preenchidas por vidros e possuem bandeira fixa, iguais àquelas das portas-janelas do pavimento superior. Todas as paredes internas do sobrado foram pintadas de branco com tinta à base de cal, assim como as paredes externas que, além da cor branca receberam o vermelho no barrado, nas ombreiras e nas vergas, oferecendo um belo contraste com o amarelo ouro das cimalhas, das colunas e de parte dos ornamentos.

COMO CONHECER O Sobrado do Comendador integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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DETALHES E ORNAMENTOS

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PORTAS E JANELAS

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FOTOS INTERNAS

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SOBRADO DOS MÂNCIOS

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Rua Nove de Julho

O suntuoso sobrado localizado na esquina das Ruas Nove de Julho e Major Rebello foi construído no início do século XIX, pelo comendador José Jacinto de Toledo, também proprietário, na época, do Sobrado dos Toledos. Ao longo dos séculos, o imóvel serviu como moradia, clubes, escola e hotel, e é mais um dos marcos do auge do ciclo econômico do arroz na cidade. Em 1855, um ano após a morte do comendador, o prédio foi herdado por sua filha Maria do Carmo de Toledo, casada com João Mâncio da Silva Franco, que era viúvo de sua irmã mais velha Délfica (ou Delfina) Belmira de Toledo. João Mâncio foi um importante agricultor, capitalista e político iguapense, tendo exercido vários cargos públicos. Foi também proprietário da Companhia de Navegação a Vapor da Ribeira, fundada em 1875 e, ao lado do comendador Luiz Álvares da Silva e de Miguel Antônio Jorge, esteve entre os homens mais ricos da região. João Mâncio morou no prédio com sua família e, por volta de 1876, mudou-se com sua esposa para a Corte do Rio de Janeiro, onde viveu por vinte anos, até seu falecimento. O imóvel no Centro Histórico de Iguape foi herdado por João Américo Mâncio de Toledo, filho de João Mâncio e Délfica (ou Delfina), que viveu no sobrado com sua esposa Maria de Souza Castro Mâncio de Toledo. Em 1898, após sua morte, a viúva assumiu a propriedade e, algum tempo depois, casou-se com o ex-padre Luiz Vinciprova. O casal morou na Fazenda Itaguá, também de propriedade de Maria de Castro, até 1909, quando ela faleceu. Um ano depois, seu filho Eurico de Castro Mâncio de Toledo vendeu o prédio

ao coronel Antônio Ludgero de Souza Castro. Nesse mesmo período, em torno de 1900, o Sobrado dos Mâncios foi alugado para a Câmara Municipal para abrigar o Grupo Escolar de Iguape, este que havia sido instalado na cidade em 7 de janeiro de 1894, pelo inspetor escolar Faustino de Oliveira Ribeiro Júnior, com o objetivo de promover a educação básica da população. Foi nesse sobrado que as alas masculina e feminina do Grupo Escolar foram unificadas no mesmo local, uma vez que funcionavam em prédios particulares alugados e pagos pelos próprios professores, sendo a seção masculina em um prédio no Largo de São Francisco, e a feminina na rua Dr. Cerqueira César. As atividades escolares no Sobrado dos Mâncios duraram mais de uma década, até que o novo prédio, erguido especialmente para abrigar o Grupo Escolar “Vaz Caminha”, estivesse concluído, o que ocorreu em 1916. Nesse mesmo ano, o sobrado foi vendido para Sebastião Ferreira de Moraes. O novo proprietário do prédio mantinha uma parceria comercial com o capitão Floramante Regino Giglio na firma Floramante e Ferreira, que administrava o já existente Hotel São Paulo, em funcionamento no sobrado hoje conhecido por Zé Juca, na Praça da Basílica. O comércio foi, então, transferido para o novo endereço na Rua Nove de Julho (antiga Rua Direita) e o Sobrado dos Mâncios passou a ser o Sobrado do Hotel São Paulo. Em 1945, com a morte de Sebastião Ferreira de Moraes, sua filha Deolinda de Aquino Moraes, casada com Orlando Sant’Anna de Moraes, herdou o imóvel man-

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tendo sua finalidade. O Hotel São Paulo permaneceu por décadas acolhendo viajantes e membros da Caravana Santista, que ficavam no sobrado durante os dias de Festa em Louvor ao Senhor Bom Jesus. Além dos quartos distribuídos em ambos os pavimentos, e os banheiros instalados no final dos corredores, o imóvel oferecia um amplo salão revestido com assoalho de madeira, e preenchido por mesas e cadeiras que recepcionavam os hóspedes em suas refeições. Uma cristaleira secular guardava os utensílios que seriam utilizados nos cafés da manhã, almoços e jantares. Em um dos lados do salão um piano era a garantia de refeições ao som de boa música. Havia também um bar, e alguns poucos degraus levavam a cozinha, onde a saborosa comida era preparada em forno a lenha. No ano de 1991, os herdeiros de Deolinda de Aquino Moraes e Orlando Sant’Anna de Moraes assumiram a propriedade, e na primeira década do século XXI (buscar o ano exato), o Hotel São Paulo deixou de acolher os hóspedes e sua atividade comercial foi encerrada. Enquanto o inventário não é concluído, a estrutura em pedra e cal, se degrada com a ação do tempo, parte do telhado que cobria o espaço do salão e da cozinha desabou, portas e janelas lutam para se sustentarem nos vãos voltados para a área externa. Depois de dois séculos e de muita história, o imponente sobrado aguarda por solução.

Conceitos e detalhes da arquitetura O Sobrado dos Mâncios se destaca no pórtico de entrada do centro histórico na Rua 9 de Julho, assemelha-se muito com o estilo construtivo do Sobrado dos Toledos, pois também tem muitas características do estilo neoclássico. Todas as paredes externas são pintadas de amarelo com as molduras de todos os vãos na cor branca e o barrado em vermelho. O telhado é em duas águas com telhas de barro.

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O sobrado está em completo abandono há muitos anos, as portas e janelas estão com partes faltando ou bastante deterioradas pela ação do tempo, a pintura já está muito desgastada, os cunhais, colunas e paredes também estão em muitas partes se desfazendo aos poucos e deixando à mostra as camadas do material utilizado na sua construção, os gradis estão resistindo ao abandono e no telhado e nas cimalhas pode se observar muitas plantas crescendo, ainda assim ele se mostra muito belo, sendo considerado um dos mais beloS sobrados do Centro Histórico. Da Rua Nove de Julho, uma cena vista na sacada do imponente frontão assusta bastante, pois não existe mais a porta deste vão que não aguentou a ação do tempo e assim pode se observar cavaletes sustentando o telhado. Na parte interna do prédio as marcas do tempo são ainda mais evidentes, pois toda estrutura interna está muito deteriorada, ainda se pode subir as escadarias para o segundo pavimento e observar pelas janelas as duas torres da Basílica, em algumas paredes o reboco caiu deixando à vista modo construtivo interno que era em taipa e no salão principal do pavimento térreo onde eram servidas as refeições e ocorriam grandes festas e recepções um velho piano ainda está lá para evidenciar a grandiosidade e a beleza do velho Sobrado. Através de fotos antigas que datam 1920, observa-se que os vãos do pavimento térreo das Ruas Nove de Julho e Major Rebello foram bastante alterados. Os da Rua Nove de Julho eram preenchidos por quatro portas e apenas uma janela, todas iguais as que hoje se encontram no sobrado e os da Rua Major Rebello possuíam os vãos preenchidos por tres portas idênticas às do segundo pavimento que possui varanda e os outros vãos eram preenchidos por portas e janelas intercaladas sendo que as portas eram em folha de escuro de madeira, as molduras iguais às atuais e as janelas do tipo guilhotina com os caixilhos


preenchidos por vidros. Isso evidencia que provavelmente o piso térreo foi construído para atender o uso como comércio. Na fachada da Rua Nove de Julho os vãos do pavimento térreo são preenchidos por quatro janelas e uma porta que dá acesso ao sobrado, todas estão pintadas na cor cinza, com molduras em vergas em arco pleno, sobrevergas e ombreiras. As janelas têm peitoris em madeira e a soleira da porta é em pedra trabalhada em cantaria. As janelas possuem duas bandeiras fixas sobrepostas, sendo a bandeira externa em ferro fundido com belos desenhos em formato de flor com a moldura e o miolo em rococós e a interna em madeira decorada com caixilhos envidraçados, duas folhas em escuro de madeira compõem as janelas que se abrem para parte interna e na parte externa as janelas são compostas de caixilharia envidraçada partilhada em seu terço inferior com as venezianas em madeira. A porta possuía também as duas bandeiras fixas iguais às das janelas, porém a bandeira interna já não existe mais, o fechamento é feito com duas folhas de escuro em madeira. Os dois cunhais e as colunas estão em reboco saliente. No barrado se destacam pequenas aberturas gradeadas, espécie de respiradouros abaixo das quatro janelas já próximas à calçada que permitem uma maior ventilação e assim evitam a umidade do solo ao piso. Acima das sobrevergas cinco vazadouros se destacam em um friso que corre toda a parede. No segundo pavimento os vãos são rasgados até as soleiras em pedra trabalhadas em cantaria e preenchidos por cinco portas-janelas com bandeira fixa em caixilharia envidraçada e com o fechamento interno de duas folhas de escuro em madeira e na parte externa duas folhas que possuem caixilharia em vidro na parte superior e na parte inferior almofadas em madeira. A varanda é corrida, em balanço com o piso em pedra em cantaria, com um gradil em ferro forjado com

muitas decorações que lhe proporcionam extrema beleza para quem avista da rua, sendo que na porta-janela central a sacada tem um avanço em semicírculo e o gradil acompanha este avanço formando uma sacada em formato de bacia onde se destaca as iniciais de seu proprietário JMSF (João Mâncio da Silva Franco). As molduras das portas-janelas são iguais às do térreo. Acima das sobrevergas deste piso, as cimalhas correm toda a parede abaixo do frontão e se abrem em um desenho que emoldura a sacada do pavimento superior. O terceiro pavimento apresenta um frontão triangular, entablamento e uma belíssima sacada individual em balanço com o piso de pedra trabalhada em cantaria, gradil em ferro forjado e uma porta-janela com moldura idêntica às do segundo pavimento. Na Rua Major Rebello um extenso paredão com dois cunhais, duas colunas e quinze vãos, sendo quatorze vãos preenchidos por janelas e apenas um por porta que fica no final deste paredão e dá acesso a entrada aos fundos do sobrado. As três primeiras janelas são idênticas em todos os detalhes e materiais utilizados às da fachada da Rua 9 de Julho e as outras onze janelas se diferenciam das outras por possuir apenas uma bandeira fixa que é preenchida por caixilharia envidraçada, sendo que algumas delas apresentam vidros coloridos nas cores azul e vermelho, e pelas suas molduras, pois as vergas são em arco abatido. Os outros elementos que compõem as janelas e as molduras são os mesmos das descritas na fachada 9 de Julho. A porta é em duas folhas de escuro em madeira com verga em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e soleira em pedra trabalhada em cantaria. Acima das sobrevergas um extenso friso corre toda a parede. No barrado pequenas aberturas próximas à calçada foram colocadas para maior ventilação e para evitar a umidade do solo ao piso. O segundo pavimento da Rua Major

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Rebello é preenchido por vãos com três portas-janelas idênticas às da fachada do segundo pavimento da Rua 9 de Julho com sacada corrida em balanço, piso em pedra trabalhada em cantaria e gradis em ferro forjado e por doze janelas guilhotinas com caixilharia envidraçada na parte externa e na parte interna duas folhas de escuro em madeira, as molduras das janelas são em vergas de arco abatido, sobrevergas e peitoris em madeira. Acima das sobrevergas um friso corre toda a parede e o acabamento do telhado é feito por cimalhas. As colunas deste pavimento recebem desenhos em relevo. A parede dos fundos do sobrado é em parte geminada a uma casa e nesta parede podemos observar uma grande parte descamada que deixa à mostra a parede em pedra e cal. A outra parede dos fundos do sobrado está na área de um jardim com acesso por portas no pavimento térreo. No pavimento térreo na parte interna um hall de entrada se destaca com duas colunas imitando as do tipo dórico

e um pórtico em arco pleno e ombreiras que emolduram a entrada do acesso a uma escada de madeira que leva ao segundo pavimento. O piso do hall de entrada e da ala esquerda do sobrado é hidráulico nas cores branco e preto, sendo que os pisos dos quartos é de taco de madeira, os banheiros ficam nesta ala e na ala da direita onde ficam a cozinha e um grande salão que era utilizado para servir as refeições e onde aconteciam festas e recepções o piso é em madeira. As duas alas possuem acesso ao jardim. O pavimento superior possui também vários quartos e banheiros. Todas as portas dos quartos dos dois pavimentos possuem bandeiras fixas em caixilharia envidraçadas com vidros coloridos nas cores azul e vermelho e duas folhas com almofadas em madeira e recebem as molduras com vergas em arco abatido e ombreiras. Também todas as janelas dos dois pisos que dão acesso ao jardim são do tipo guilhotina com os castilhos envidraçados e não possuem molduras. O piso e o foro do segundo pavimento são em madeira.

COMO CONHECER

O Sobrado dos Mâncios integra os roteiros turisticos pelo Centro Historico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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GRADIS E ORNAMENTOS

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DETALHES

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SOBRADO DOS BALAIOS

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Praça da Basílica Localizado na esquina da Praça da Basílica com a Rua Porto Osório este imóvel, conhecido por Sobrado dos Balaios, carrega em sua estrutura construtiva histórias que atravessam os séculos e é, certamente, o exemplar de uma das mais antigas edificações no núcleo urbano de Iguape de que se tem registro. Os poucos dados existentes sugerem que possa ter sido erguido na segunda metade do século XVII, quando o povoado se estabeleceu às margens do Mar Pequeno iniciando o novo núcleo de moradias, ocasião também em que a mineração de ouro de aluvião nos afluentes do Rio Ribeira se intensificava, dando origem ao primeiro ciclo econômico da Vila de Nossa Senhora das Neves. Apesar da ação do tempo, por quase quatro séculos, o prédio preserva características originais. Suas grossas paredes em pedra e cal construídas em declive, seguindo a linha do terreno, se aproximam do local onde existiu o Porto Grande, que nessa época era ainda bastante modesto, com o movimento de canoas e pequenos barcos, dentre aqueles dispensados com exclusividade ao escoamento do valioso metal garimpado nas águas do Ribeira e transformado em barras reluzentes na Casa de Fundição. Registros mais atuais sobre esse imovél datam do século XX, quando serviu como moradia para a família de Atanil Nascimento e, mais tarde, acolheu os familiares de Luiz Alberto Nascimento Barreiros. Por esse motivo, o sobrado passou também a ser conhecido por Sobrado do Atanil e por Sobrado dos Oliveiras e Barreiros. Os herdeiros de seu último proprietário são os responsáveis pelo imóvel onde também residem.

Conceitos e detalhes da arquitetura O Sobrado dos Balaios é um dos autênticos representantes da arquitetura colonial portuguesa e foi construído para ser utilizado como moradia. Uma das principais características é ter sido edificado acompanhando o desnível do terreno. Suas paredes externas são em pedra e cal; o telhado tem estrutura em três águas com uma delas vertendo para a fachada lateral, e as outras duas lançam-se à frente e aos fundos, com telhas de argila e beirais em eiras e beiras, típicos dos sobrados dessa época. O interior original do imóvel era, provavelmente, constituído por paredes de pau a pique, que ao longo dos anos foram sendo substituídas por outras de alvenaria de tijolos. O verde-claro colore as paredes do sobrado e o verde-bandeira destaca as molduras dos vãos, dos barrados, das colunas e do cunhal. As portas e janelas ganham destaque na cor branca. Todos os vãos são emoldurados por vergas em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e peitoris. A fachada principal do sobrado, voltada para a Praça da Basílica, apresenta no pavimento térreo, em declive e abaixo do nível da rua, vãos preenchidos por duas portas e duas janelas com os fechamentos internos em duas folhas de escuro em madeira, pintadas na cor branca. As portas têm soleiras em pedra trabalhadas em cantaria e o fechamento externo é em duas folhas em madeira. Na parte superior, as folhas em madeira são preenchidas por caixilhos envidraçados e, na parte inferior, por venezianas. Nas janelas, o fechamento externo segue o mesmo padrão das portas, em duas folhas com uma parte em caixilhos envidraçados e a outra em veneziana. 97


Nessa fachada, na parte superior do imóvel, os vãos são ocupados por quatro janelas com fechamento externo com bandeiras fixas envidraçadas, que ainda apresentam duas folhas com caixilhos de madeira preenchidos por vidros. O fechamento interno conta com duas folhas de madeira de escuro na cor branca. Na fachada da Rua Porto Osório todo pavimento térreo se apresenta em declive acentuado, e os vãos são preenchidos por cinco portas e duas janelas. As portas têm o fechamento externo e interno em duas folhas em madeira, mantendo o mesmo padrão daquelas da fachada principal. As soleiras de três dessas portas são em pedra trabalhada em cantaria e as duas janelas também têm as mesmas características das presentes no térreo da fachada voltada para a Praça da Basílica. Ainda desse lado da parede externa, nos fundos, há uma porta com duas folhas em madeira de escuro pintadas de branco, que leva a uma escada de aces-

so ao segundo pavimento, onde os vãos são preenchidos por seis janelas tipo guilhotina com caixilhos envidraçados do lado de fora, e o fechamento interno é feito por duas folhas de escuro em madeira também na cor branca. Voltados para a Avenida Princesa Isabel, no pavimento superior, os vãos são preenchidos por quatro janelas e uma porta. Três delas seguem o padrão de fechamento interno em duas folhas de escuro em madeira, e a parte externa é do tipo guilhotina com caixilhos envidraçados. A quarta janela está dividida em três partes móveis de caixilhos envidraçados. A porta é do tipo balcão, tendo quatro partes com caixilhos em madeira envidraçada, sendo duas fixas e outras duas que se movem para os lados, possibilitando a abertura de acesso. No térreo, na parte interna do imóvel, podem ser encontrados dois salões usados para fins comerciais, e o pavimento superior é utilizado como moradia.

COMO CONHECER

O Sobrado dos Balaios integra os roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial. Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADA

JANELAS E PORTAS

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BEIRAIS

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SOBRADO DO ZÉ JUCA

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Praça da Basílica Neste imponente edifício, localizado na esquina da Praça da Basílica com a Rua Padre Porto Roma, conhecido por Sobrado do Zé Juca, foi instalada a primeira sede do Hotel São Paulo, empreendimento administrado por Sebastião Ferreira que, naquela época, mantinha uma parceria comercial com o capitão Floramante Regino Giglio na firma Floramante e Ferreira de Moraes. Não foram identificados registros que orientem ao exato período em que o Hotel São Paulo esteve em funcionamento nesse imóvel, apenas que, em 1916, foi transferido para o prédio na Rua Nove de Julho, onde permaneceu até o encerramento de suas atividades, no início do século XXI. O Sobrado do Zé Juca tem uma localização privilegiada no Centro Histórico de Iguape. Recebeu esse nome em homenagem a um de seus proprietários, José Emílio de Carvalho. Entretanto, poucas são as informações sobre a origem desse sobrado, de seu idealizador e de seu construtor. Alguns historiadores sugerem que tenha sido o comendador Luiz Álvares da Silva, também proprietário do Sobrado do Comendador (Paço Municipal) e do Sobrado da Pirá. O fato é que os herdeiros do comendador venderam o imóvel ao capitão Augusto Rollo em dezembro de 1909, que depois o transferiu a João de Souza Gatto e sua esposa, no início de 1917. Após três décadas, em 1943, o prédio foi repassado a Arlindo Nunes Rodrigues, que por mais de uma década usufruiu do edifício, antes de ser adquirido por seu último proprietário, José Emílio de Carvalho, em 1956. Durante décadas, o espaço do térreo vem sendo utilizado como comércio. Por ali

passou o “Bar Viaducto”, o “Restaurante Zé Juca” e mais recentemente, a “Pastelaria Li”, além de outros estabelecimentos nesse ramo. O segundo pavimento sempre serviu como moradia, e é onde ainda vive sua família, que das sacadas pode apreciar o movimento em volta da praça e da igreja, às vezes, regido pelo som das marchinhas de carnaval e, em outros momentos, pelo silêncio das orações e demonstrações de fé, nos dias de festa em louvor ao Senhor Bom Jesus.

Vice-consulado de Portugal em Iguape Ao lado do Sobrado do Zé Juca, também na Praça da Basílica, está outro belo imóvel que ganhou destaque por ter sido sede do Vice-consulado de Portugal em Iguape, de 1864 até a década de 1920, quando encerrou suas atividades devido à decadência econômica e política da cidade a partir do final do século XIX causada, em parte, pela abertura do Valo Grande, que prejudicou diretamente o funcionamento do Porto Grande, e pela falência das lavouras de arroz, por não haver mais mão de obra escrava. Esse Vice-consulado tinha por objetivo tratar dos interesses lusitanos em Iguape. Hoje, no Brasil, essas repartições têm como propósito principal a defesa dos direitos e assistência emergencial dos residentes em sua jurisdição.

Conceitos e detalhes da arquitetura No início do século XX, a fachada principal do sobrado do Zé Juca tinha quatro janelas no pavimento superior e quatro portas no

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térreo. Na fachada voltada para a Rua Padre Porto Roma, eram dez janelas no andar de cima e no pavimento inferior oito portas, duas janelas e um portão. O sobrado é composto por três edificações, sendo que a principal possui a fachada voltada para a Praça da Basílica, e as outras duas para a Rua Padre Porto Roma. O edifício tem uma localização privilegiada, ocupando um lote que vai até a Avenida Princesa Isabel, onde ficava localizado o Porto Grande, e que está a apenas alguns passos da escadaria do Santuário do Bom Jesus. As suas características arquitetônicas são as mesmas dos sobrados construídos no estilo colonial. A cobertura é feita em telhas de argila em quatro águas. As paredes externas receberam a cor verde claro, e as portas e as janelas estão em marrom; as molduras dos vãos, os barrados, os frisos, as colunas, as cimalhas e demais ornamentos foram pintados na cor branca. A parte térrea da edificação principal é usada como comércio, e o pavimento superior e as outras duas edificações são utilizadas como moradia pelos proprietários. A fachada principal do imóvel é delimitada por dois cunhais em pedra trabalhada em cantaria, com colunas em argamassa salientes, e quatro vãos no pavimento térreo que estão preenchidos por quatro portas, sendo três delas utilizadas para acesso ao comércio. Essas portas possuem duas folhas de escuro em madeira e apenas uma delas tem bandeira fixa envidraçada. A porta localizada na extremidade à direita, com apenas uma folha de escuro em madeira, está isolada por uma parede do salão de comércio e serve de acesso ao pavimento superior, garantido por uma larga escada em madeira. Todas as molduras das portas desta fachada possuem vergas em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e soleiras em pedra trabalhada em cantaria. Acima das sobrevergas corre um friso que se estende por toda a fachada.

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No pavimento superior, de frente para a Basílica, quatro vãos alinhados aos do pavimento térreo, são preenchidos por portas-janelas com sacada corrida em ferro, que destaca, ao centro, as siglas “FBSG”, talvez uma marca da família construtora ou que ali viveu, inscrições comuns em edifícios da época. Nesse piso, as portas-janelas são em duas folhas, sendo a porção superior com caixilhos envidraçados, e apenas uma pequena parte inferior almofadada. Também possui bandeiras fixas que embelezam a frente do imóvel e são idênticas às do Sobrado do Comendador (Paço Municipal), localizado na Rua XV de Novembro. As molduras dos vão carregam as mesmas características das do pavimento térreo e as colunas neste pavimento são ornamentadas com traços em relevo. Como no térreo, acima das sobrevergas, um friso percorre a parede entre as colunas. Na fachada da edificação principal voltada para Rua Padre Porto Roma, no pavimento térreo em declive, é possível encontrar seis vãos que são preenchidos por quatro portas com duas folhas de escuro em madeira, sendo que as duas últimas, bem próximas à coluna, possuem um gradil em ferro como parapeito do lado externo, pois esses dois vãos estão localizados bem acima do nível da calçada. As molduras das portas são iguais às da fachada principal, voltada para a Praça da Basílica, e duas das janelas têm fechamento interno feito por duas folhas de escuro em madeira e, o externo, em guilhotina envidraçadas. Estas janelas possuem vergas em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e peitoris e, acima das sobrevergas, observa-se um bonito friso em relevo, e um outro que demonstra a divisão entre os pavimentos. No piso superior desta fachada, seis vãos estão alinhados aos do pavimento térreo, sendo que os dois, próximos à esquina com a Praça da Basílica, estão preenchidos por portas-janelas com características iguais às


da fachada voltada para a igreja, inclusive com a varanda corrida. Os outros quatro vãos são preenchidos por janelas que também compartilham de todas as características daquela do pavimento térreo. A segunda edificação, que é anexa às outras duas e tem a fachada principal voltada para a Rua Padre Porto Roma, possui uma escadaria que leva à porta, pois o declive da rua é ainda maior neste ponto. Esta edificação é também composta por dois pavimentos, sendo que no térreo os vãos são preenchidos por uma porta e uma janela em duas folhas de escuro em madeira, e têm as mesmas características das molduras das outras fachadas. O friso acima das sobrevergas é marcante, e há a mesma linha da divisão dos pavimentos observada na edificação do lado direito. No piso superior está a lavanderia da moradia, que foi construída com recuo em relação ao pavimento superior das outras edificações. Também alinhado à parede térrea, acima do friso que divide os dois pavimentos, está um pequeno gradil em ferro. No pavimento térreo da terceira edificação anexa, que tem sua fachada principal voltada para a Rua Padre Porto Roma, há quatro vãos que estão preenchidos por três janelas e uma porta com duas folhas de escuro em madeira. Todas as molduras têm as mesmas características descritas nas demais fachadas. Acima das sobrevergas há um friso igual ao das outras fachadas desta rua, mas que não está alinhado a eles devido ao declive do terreno, ainda mais acentuado. O friso que demarca a divisão dos pavimentos também aparece nesta fachada alinhado aos demais. No pavimento superior, os quatro vãos são preenchidos por quatro janelas com o fechamento interno com duas folhas de escuro em madeira e, o externo, em guilhotina com caixilhos envidraçados, além de molduras em vergas de arco abatido, sobrevergas, ombreiras e peitoris. Eiras e beiras e, logo abaixo, um bonito friso, garantem o acabamento desta edificação em ambas as fachadas.

Aos fundos, na fachada voltada para a Avenida Princesa Isabel, das janelas do pavimento superior é possível apreciar uma vista privilegiada do estuário e de toda extensão da Orla do Mar Pequeno. No pavimento térreo, há uma alta calçada e dois vãos que são preenchidos por duas portas, sendo uma em cada extremidade da parede, com duas folhas de escuro em madeira e bandeira fixa com caixilhos envidraçados, e molduras com vergas retas e ombreiras. O friso em relevo presente em quase todo o imóvel, e que marca a divisão dos pavimentos, não aparece nesta fachada. O pavimento superior possui quatro vãos preenchidos por quatro janelas, com fechamento interno em duas folhas de escuro em madeira, e com guilhotinas com caixilhos envidraçados para o fechamento externo. As molduras são em vergas retas com ombreiras e peitoris. Há poucos anos, o Sobrado do Zé Juca passou por uma reforma geral, inclusive do telhado.

Detalhe da facahda

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Detalhes da bandeira fixa

COMO CONHECER

O Sobrado do Zé Juca integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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GRADIS

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PORTAS E JANELAS

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ORNAMENTOS E DETALHES

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SOBRADO DOS ROLLOS

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Praça da Basílica

O imóvel conhecido por Sobrado dos Rollos está localizado na esquina da Praça da Basílica (antigo Largo da Matriz) com a Rua Augusto Rollo (antes Rua Senador Feijó e, também, Travessa Quinze de Novembro). É um dos sobrados mais antigos do Centro Histórico de Iguape. Entretanto, não há dados que indiquem quem foi o idealizador e o construtor deste edifício. O mais provável é que o seu primeiro proprietário tenha sido o comendador João Mâncio da Silva Franco, que o vendeu em maio de 1877 a José Antonio Lopes. Em 1906, o prédio pertencia ao espólio de Isabel Lopes de Aquino Trigo, e em agosto desse mesmo ano foi adquirido pelo capitão Mário de Andrada Rollo, que o restaurou completamente, pois o imóvel estava em estado de ruínas. Nessa época, canos de chumbos foram embutidos nas paredes de todos os compartimentos para conduzirem o gás de carbureto, utilizado na iluminação dos ambientes internos. Após reformado, o imóvel serviu de residência para a família Rollo, que viveu no pavimento superior por mais de meio século. No térreo, funcionava um comércio, também de sua propriedade, onde se vendia um pouco de tudo: calçados, tecidos, querosene, bebidas, alimentos, produtos agrícolas, sacos de cacau, rapadura e diversos outros tipos de produtos. As mercadorias chegavam de navio pelo Porto Grande, e logo abasteciam as prateleiras e os espaços internos da casa comercial. Em 1931, com o falecimento do patriarca, o sobrado foi deixado como herança para seus oito filhos e, na década de 1950, recebeu nova reforma. Entre 1978 e 1979, ganhou

melhorias com a troca do telhado e de todo madeiramento de sustentação, enquanto as esquadrias externas do edifício foram substituídas por novas, respeitando as características originais. Em novembro de 1985, os irmãos José Olavo Rollo e Edgard de Oliveira Rollo adquiriram as partes dos demais herdeiros e, em sociedade, decidiram estruturar o prédio com o objetivo de incluir o imóvel no setor de hotelaria. Depois de um período de reformulação do sobrado e da aquisição de equipamentos, em janeiro de 1989, a pousada “Solar Colonial” foi inaugurada e, desde então, recebe turistas e romeiros do Bom Jesus. Como grande parte dos imóveis no Centro Histórico, em 1974, o Sobrado dos Rollos passou pelo processo de tombamento do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (CONDEPHAAT) e, em 2009, pelo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Os Lampiões a Querosene Até a primeira metade do século XIX, poucos lampiões a querosene eram a única opção de iluminação pública em Iguape, desde que substituíram aqueles à base de velas de cera ou de azeite de peixe, usados durante o período colonial. Esses lampiões a querosene eram encontrados apenas nas testadas de alguns casarões do Centro Histórico, ou em outros espalhados pelas cercanias, como no Porto do Ribeira, que naquela época contava com uma população considerável. Com o passar dos anos, a Câmara

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Municipal ampliou a aquisição de novos lampiões a querosene que passaram a ser instalados em largos e ruas, e outros locais estratégicos da cidade. Os lampiões utilizados para a iluminação pública vinham quase sempre do Rio de Janeiro, e eram afixados nas fachadas ou em postes de ferro encimados por elegantes lanternas. Esse serviço de iluminação era executado por uma empresa que firmava contrato com a Câmara Municipal, com validade de um ano. Durante esse período a firma contratada deveria além de acender os lampiões, cuidar de toda sua manutenção, inclusive dos postes de sustentação. Os lampiões eram acesos todas as noites, exceto em dias de lua cheia -quando a luz do luar possibilitava maior claridade às áreas públicas. Durante o período de festa em louvor ao Bom Jesus permaneciam acesos por mais tempo, assim como nas longas noites de inverno. Na estação de calor, o consumo era menor graças ao Sol que bem cedo já iluminava a cidade. Em 1916, a população iguapense reivindicava os serviços de fornecimento de energia elétrica, em plena utilização em outros centros urbanos. Quatro anos depois, em outubro de 1920, a luz elétrica finalmente chegou à cidade, deixando no passado as lamparinas e os lampiões a querosene. A primeira usina elétrica de Iguape funcionou em um prédio construído no sopé do Morro do Espia, ao lado do Mar Pequeno, que mais tarde foi demolido quando a “Estrada do Cristo” (hoje Estrada Municipal Vereador Manoel Alves da Silva) foi inaugurada. Naquela época, a iluminação das ruas ainda era incipiente, com pouco mais de trezentas lâmpadas distribuídas em postes de ferro.

Conceitos e detalhes da arquitetura O imóvel com dois pavimentos é um dos de-

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staques no entorno da Praça da Basílica. Este belo sobrado ocupa um terreno de esquina, e foi erguido com largas paredes em pedra e cal. A fachada principal é enquadrada por cunhais e robustas colunas de argamassa em relevo, que possuem a base e o coroamento delimitados e decorados por frisos e relevos. Todos os vãos são emoldurados por vergas em arcos abatidos, sobrevergas, ombreiras e peitoris nas janelas e soleiras nas portas. As paredes das fachadas receberam a cor amarela; as portas, as janelas, os cunhais e o barrado que percorre todas as fachadas foram pintados na cor azul; as colunas, molduras dos vãos, cimalhas e frisos se destacam em branco. Um belo friso percorre todas as fachadas acima das sobrevergas dos dois pavimentos, e o acabamento das paredes, já próximo ao telhado, é feito por uma belíssima e larga cimalha presente em todo prédio. As calçadas são em pedra trabalhadas em cantaria. O telhado é em quatro águas em telha de argila e o forro em madeira. A fachada principal voltada para a Praça da Basílica possui no pavimento térreo quatro vãos, sendo três preenchidos por portas e um deles por janela. As duas portas, próximas à esquina com a Rua Augusto Rollo, possuem duas folhas com a metade superior preenchidas por caixilhos envidraçados coloridos, e outra metade almofadada, sem contar a bandeira fixa envidraçada, com o vermelho nas laterais e o azul em um pequeno pinázio. Na janela, o fechamento interno é garantido por duas folhas de escuro em madeira e, o externo, em guilhotina com 12 caixilhos envidraçados, sendo somente coloridos os presentes na parte superior. Para acessar o prédio, há uma porta com uma folha de escuro em madeira na extremidade direita da fachada principal, e uma soleira em pedra trabalhada em cantaria. Essa porta se abre para uma pequena sala que hoje é utilizada como recepção da pousada, e uma larga escada com degraus e corrimãos em ma-


deira leva ao piso superior. A parede lateral à escada está totalmente descamada deixando aparente seu modo construtivo. O pavimento superior da fachada principal possui aberturas com quatro vãos rasgados até as soleiras que são em pedra trabalhada em cantaria, e estão alinhados aos vãos do piso térreo. Quatro portas-janelas iguais às duas portas do térreo se abrem para um avanço em pedra trabalhada em cantaria, com uma varanda corrida e gradil em ferro. Ao centro, nesse gradil, estão as iniciais “ RL”, da família a qual o sobrado leva o nome. A fachada voltada para a Rua Augusto Rollo está dividida em dois tramos, sendo o maior nas mesmas dimensões da fachada principal, e o outro um pouco mais baixo e com telhado independente. A divisão entre os dois pavimentos é bem evidente, marcada por um friso em relevo. O pavimento térreo desta fachada possui seis vãos no tramo maior, e dois vãos no menor, que estão preenchidos por duas portas e seis janelas. As janelas têm as mesmas características daquelas da fachada principal do pavimento térreo, e apenas o fechamento interno se diferencia, pois é feito em guilhotina em

madeira, e as portas possuem soleiras em pedra trabalhadas em cantaria, com duas folhas de escuro em madeira. Somente a porta do tramo menor possui bandeira fixa envidraçada. No pavimento superior desta fachada, as aberturas dos oito vãos são alinhadas com as do pavimento térreo, e os dois primeiros, próximos à coluna da esquina, se destacam pois são preenchidos por duas portas-janelas com as mesmas descrições das da fachada principal que possuem varanda entalada em avanço. Todos os outros seis vãos são preenchidos por janelas iguais às do pavimento térreo. O tramo menor desta fachada possui o acabamento do telhado em madeira. O Sobrado dos Rollos, há mais de três décadas, funciona como pousada, contando com 13 apartamentos divididos entre os pavimentos térreo e superior. O pavimento térreo da fachada principal é utilizado como recepção dos hóspedes, e nos fundos há uma cozinha e uma lavanderia. A área para o café da manhã fica no piso superior, bem na esquina, de onde é possível o hóspede apreciar um lindo nascer do Sol, e ainda vislumbrar a Praça da Basílica e o magnífico Santuário do Senhor Bom Jesus.

COMO CONHECER

O Sobrado dos Rollos integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADA

PORTAS E JANELAS

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ORNAMENTOS/DETALHES

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GRADIS

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CADEIA VELHA

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Rua XV de Novembro Este imóvel foi erguido no final do século XIX para receber a nova Cadeia, que até então ficava localizada na área central do núcleo urbano da cidade. A obra foi necessária quando o prédio que abrigava a Casa da Câmara e a Cadeia foi demolido para a edificação da igreja, no local onde, hoje, está o Santuário do Senhor Bom Jesus de Iguape. As obras foram iniciadas em setembro de 1827, mas, um ano antes, o tema já era pauta de debates entre os vereadores. O terreno foi escolhido pelos membros do Legislativo e doado pelo seu proprietário mediante uma indenização do município. Assim, a sede da Cadeia passaria para o lugar atual, conhecido naquele tempo por Largo do Rocio, e ainda lembrado pela população como Largo do Rosário. Conforme estudos registrados por diferentes historiadores, a planta original da obra pode ter sido modificada inúmeras vezes, e dessa forma, parte das paredes levantadas foram desmanchadas e a frente do edifício alterada, deixando o prédio menor do que havia sido projetado no início de sua construção. Quanto aos recursos investidos, a previsão era utilizar verba própria para pagar os custos do projeto, porém o valor também superou o programado, e o município precisou buscar ajuda junto ao Governo do Estado para concluir o prédio, o que ocorreu mais de seis décadas depois, com sua inauguração apenas em 1893. O edifício foi reformado em outras ocasiões, nos anos de 1898, 1904, 1917, 1935 e 1951, além de pequenas obras realizadas em diferentes períodos. A Cadeia e a Delegacia de Polícia funcionaram no sobrado durante parte do século XX, até 1976, quando a nova sede da

Delegacia foi erguida e inaugurada no Largo Comendador Luiz Álvares da Silva (antigo Largo do Ipiranga). Alguns anos mais tarde, na década de 1990, o espaço recebeu setores da Prefeitura Municipal, inclusive a Junta de Alistamento Militar e o Departamento de Assistência Social do Município, conhecido, na época, por PLIMEC. Em 2004, a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo assumiu o imóvel que recebeu o nome de Oficina Cultural “Gerson de Abreu”, em homenagem ao iguapense falecido em 2002, que fez carreira como ator, humorista, escritor e apresentador de programas infantis. O local funcionou por um tempo promovendo oficinas gratuitas de artes, até ser desativado poucos anos depois, sendo reintegrado ao patrimônio da Prefeitura Municipal. Após a Oficina Cultural encerrar suas atividades, o sobrado da Cadeia Velha ficou fechado por um período, sem nenhum tipo de utilização. Em 2014, uma empresa foi contratada para restaurar o imóvel, apresentando um projeto que previa a recuperação do piso tabuado e das esquadrias de madeira maciça, o restauro de pinturas decorativas e murais, da fachada e de elementos decorativos em argamassa. Indicava, ainda, a execução de novos elementos de pisos e placas em granito, argamassa de revestimento em alvenaria de pedra entaipada, reforma do telhado com estrutura de tesouras de madeira, construção de estruturas de aço e em concreto armado, pintura interna e externa, readequação de layout interno, instalação de plataforma elevatória para portadores de necessidades especiais, além de serviços de elétrica, hidráulica, iluminação, e outros. O trabalho foi iniciado, porém, a empresa logo abandonou 125


a obra, deixando o prédio impróprio para o uso. E, assim, o imóvel construído para manter pessoas encarceradas, se encontra preso à falta de manutenção.

O Largo do Rosário e o chafariz O prédio da Cadeia Velha está inserido no Largo do Rosário, que recebeu esse nome graças à vizinha Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, inaugurada em 1841. Ao longo dos anos, o lugar foi conhecido por diferentes denominações: até 1827, era Largo do Rocio; depois, por volta de 1840, passou a ser nomeado Largo da Cadeia Nova ou Largo do Cemitério e, durante as primeiras décadas do século XX, recebeu o título de Praça Duque de Caxias. Por volta da década de 1950, o Largo do Rosário começou a ser loteado, e o vazio passou a dar espaço a casas de moradia e a alguns estabelecimentos comerciais. O Largo de tantos nomes transformou-se em uma pequena praça e em diversas ruas, e a principal delas foi denominada Rua dos Estudantes, por ser a principal passagem em direção ao prédio onde funcionava o Curso Ginasial, depois renomeado Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Eulálio de Arruda Mello, hoje Escola Municipal de Ensino Fundamental Benedito Rosa Carneiro. Nos fundos da Igreja, a atual Rua Sete de Setembro era conhecida por Rua do Campo, e em frente, a antes Rua das Neves, se transformou em Rua Papa João XXIII, que segue em direção ao Mar Pequeno, onde havia um canhão. A rua, com terreno em pequeno declive, levou o nome de Beco do Rosário, depois de Beco da Peça, e hoje é melhor identificada como Porto do Rosário, também conhecida por descida do Hotel Itamiaru. Na região do Largo do Rosário, no centro do descampado, próximo a igreja, havia um chafariz, instalado por volta de 126

1878, que abastecia as casas, em especial, as de moradores da então Rua da Palha, que ficava a poucos metros dali. É muito provável que o chafariz tenha permanecido nesse lugar até meados da década de 1960 ou início da década de 1970, quando deixou de cumprir sua finalidade. Não há registros do local para onde possa ter sido transferido.

Conceitos e detalhes da arquitetura A fachada principal do edifício da Cadeia Velha está voltada para a Rua XV de Novembro, cercada por uma calçada bastante elevada, padrão mantido por toda extensão do prédio até a Rua Papa João XXIII. Ambas as fachadas são limitadas nas laterais por cunhais de argamassa em relevo que possuem o coroamento delimitado e decorado por frisos e relevos. Todo coroamento das fachadas é feito com platibanda e, abaixo, uma bonita cimalha percorre as paredes do sobrado. Telhas de barro cobrem toda extensão do telhado constituído em quatro águas. O sobrado de dois pavimentos recebeu tinta na cor terra, e o branco destaca as molduras das portas e janelas, das colunas, dos frisos e de outros elementos decorativos que embelezam toda a fachada. As paredes externas do pavimento térreo estão decoradas com largas linhas horizontais feitas no reboco da parede logo acima do friso. Na fachada principal do pavimento térreo, os vãos são preenchidos por uma porta, duas grandes janelas e outros dois pequenos vãos que eram as janelas das celas. Ainda na fachada da Rua XV de Novembro, a porta de entrada é em madeira, com duas folhas de escuro e bandeira fixa envidraçada, e há uma soleira em pedra trabalhada em cantaria, que se ergue além do nível das calçadas por meio de dois largos degraus, também em pedra trabalhada em cantaria. Todas as esquadrias são alinhadas por vergas retas, e as paredes têm marcações horizontais com frisos que definem a linha de piso do pavimento superior. As duas janelas


altas em arco se destacam uma de cada lado da porta, com caixilhos envidraçados, sendo que os quatro pinázios dos cantos superior e inferior são com vidros na cor azul. No centro da janela, em uma pequena porção, um estreito vitrô do tipo basculante permite a ventilação interna. Ainda nessa fachada, dois pequenos vãos em arco, engradeados, se destacam e apresentam fechamento interno de caixilhos envidraçados, tendo na parte central uma abertura tipo vitrô basculante. Nos dois vãos onde estão as salas que eram utilizadas como celas, as ombreiras descem abaixo do peitoril até o friso, que corre na horizontal de toda a parede, e está abaixo do peitoril das duas janelas maiores, garantindo beleza à esse lado da fachada. Os vãos do pavimento superior se alinham aos do térreo, e é possível observar que quatro colunas são em argamassa, decoradas com marcações em linhas horizontais. Nesse pavimento, cinco vãos ocupam a fachada principal, sendo três deles rasgados até as soleiras, preenchidos com porta-janelas, e os outros dois por janelas. As porta-janelas têm bandeira fixa envidraçada, fechamento interno em duas folhas de escuro em madeira, e os fechamentos externos são em caixilhos envidraçados, além de uma sacada entalada com o guarda-corpo em gradil de ferro. As vergas das esquadrias deste pavimento são retas. As duas janelas são em caixilhos envidraçados e possuem vidros na cor azul nos pinázios dos quatro cantos, e o basculante no centro, como as do térreo. Acima das vergas, um friso percorre toda parede, e mais no alto, podem ser encontrados ornamentos retangulares em argamassa encimando quatro vãos, ficando apenas aquele do centro, sem o adorno. Pequenas imitações de colunas em argamassa, que se iniciam em cima das vergas dos vãos e terminam adornados nas cimalhas, também dão um toque especial à fachada.

Na lateral e na parte dos fundos do sobrado as fachadas são idênticas. No pavimento térreo os vãos são preenchidos por três janelas das celas com as mesmas características daquelas da fachada principal, assim como, a decoração das paredes e os frisos. No segundo pavimento, nessas mesmas fachadas, três janelas alinhadas às do térreo preenchem os vãos e são idênticas às do segundo pavimento da fachada principal, onde também, os elementos decorativos acima das vergas se repetem. Apenas na fachada da Rua Papa João XXIII, um friso em alto-relevo na vertical, ao lado da coluna, aparece emoldurando a parede, e se diferencia das outras. Na parede dos fundos no pavimento térreo, uma porta em uma folha de escuro em madeira se destaca em meio a outros quatro vãos preenchidos por janelas das celas, com as mesmas características daquelas já descritas. Também podem ser observados frisos em argamassa acima das vergas retas deste pavimento. No piso superior, um friso percorre toda extensão da parede abaixo da moldura dos cinco vãos, ocupados por cinco janelas idênticas àquelas das outras fachadas. No interior do imóvel, no térreo, são encontradas paredes muito espessas e várias delas descamadas, deixando aparente o modo construtivo do sobrado, em pedra e cal. As celas que existiram no passado, foram transformadas em salas de trabalho. Uma larga escada em dois lanços, guarda-corpo e corrimões em madeira levam a um amplo salão no segundo pavimento, onde também são encontradas paredes descamadas, que enchem o sobrado de encantamento. Das sacadas e das janelas do piso superior a vista descortina a histórica Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

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Ornamentos

COMO CONHECER

A Cadeia Velha integra o roteiro turístico pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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PORTAS E JANELAS

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FOTOS INTERNAS

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ORNAMENTOS E DETALHES INTERNOS

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ESCADAS

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ORNAMENTOS E DETALHES

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CASA DE FUNDIÇÃO DE OURO MUSEU MUNICIPAL

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HISTÓRIA DO IMÓVEL

Localização: Rua das Neves, Largo da Neves

Em meados do século XVI, as águas do Rio Ribeira de Iguape e de seus afluentes seguiam o curso arrastando em seu leito quantidades consideráveis de ouro em pó, que era explorado por mineradores em Eldorado (antiga Xiririca), Apiaí, Iporanga, Cananeia, chegando ao litoral paranaense. O ouro de aluvião garimpado nessas águas seguia até um posto de fiscalização, situado no local onde hoje é a cidade de Registro. Ali, o metal era pesado e enviado para a Casa de Oficina Real de Fundição do Ouro, em Iguape. Apesar de não haver consenso entre os pesquisadores, muitos consideram essa a primeira Casa de Fundição construída no Brasil na década de 1630. Por outro lado, dados obtidos em registros da Receita Federal do Brasil indicam que foi em São Paulo que se estabeleceu a primeira Casa de Oficina, por volta de 1580, para fundir o ouro extraído das minas do Jaraguá e de outras jazidas nos arredores da vila. Conforme esse registro, somente mais tarde, em torno de 1650, duas outras casas de fundição foram instaladas na capitania de São Vicente: uma em Iguape e outra em Paranaguá. Outro documento localizado por um historiador iguapense, com dados transcritos na revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, aponta a existência de uma Casa de Fundição em Iguape no ano de 1668, com o nome de “Casa da Oficina”. As Casas de Fundição eram dirigidas por um provedor, auxiliado por escrivães. A parte prática do trabalho era desenvolvida por fundidores, ensaiadores, cunhadores, meirinhos, tesoureiros e fiscais. Estes últimos eram nomeados por indicação das

Câmaras Municipais. O local tinha como finalidade controlar a circulação do ouro e assegurar o pagamento do quinto para Portugal. Em Iguape, o prédio que recebeu a Casa de Fundição é uma das construções mais antigas da cidade e um dos imóveis que representam a época de prosperidade oferecida pela extração do ouro e pelo trabalho de mãos escravizadas. Nesse período houve a expansão dos povoados do Vale do Ribeira, incluindo os escravos que chegaram à região entre os séculos XVI e XVII, para a atividade mineradora. Todo o metal precioso encontrado na região era fundido em barras, gravado com o selo real e remetido para a Vila de Santos, onde se localizava o Tesouro Real da Fazenda. É muito provável que essa atividade tenha funcionado em Iguape até meados do século XVIII, quando os recursos auríferos da região foram deixados de lado após a descoberta das Minas Gerais, que atraiu a atenção de aventureiros para o interior do país. Por volta de 1763, o governo do Rio de Janeiro solicitou à Câmara de Iguape que recolhesse os utensílios e instrumentos usados na fundição do ouro e cunhagem de moedas, e que fossem levados para o Museu Nacional, encerrando esse processo na cidade. O prédio continuou sendo usado para outras funções. Entre 1778 e 1820, serviu como local para aquartelamento de tropas; por volta de 1820 e 1890 passou a abrigar a Cadeia e, em outro período, foi utilizado pela Câmara Municipal. No século XX, em 1969, grande parte do material histórico da cidade foi reunido no espaço utilizado como

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um museu, com um núcleo de peças composto por objetos antigos e variados, mas que não incluía uma política de acervo e não contemplava um propósito específico na área de museologia. Em 1975, o imóvel passou pelo processo de tombamento do Condephaat e, em 2009, do Iphan. Um projeto de reestruturação, em 1989, através da parceria do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo e da Prefeitura Municipal de Iguape, com o apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), alterou a configuração do espaço, com peças e painéis sobre a história dos homens dos sambaquis. Em 2014, a construção foi uma das três obras selecionadas para serem executadas com recursos do PAC Cidades Históricas -Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal.

Restauro de Patrimônio A primeira reforma e restauração do imóvel onde funcionou a Casa de Oficina Real de Fundição do Ouro foi em 1737, em função de seu precário estado de conservação. Em 1969, foi novamente reformado para receber o Museu Municipal, mas não havia, na época, um projeto de recuperação e adaptação do prédio para essa finalidade. Na década de 1990, um trabalho de escavação no quintal do então Museu, realizado por uma equipe de arqueólogos da Universidade de São Paulo, resgatou informações que comprovam o uso do espaço como uma Oficina de Fundição do Ouro. Durante esse estudo foram encontrados vestígios de artefatos de ferro, de louças, vidros de uso doméstico e alguns ossos como restos de alimentos, que podem sugerir que a parte superior da construção era usada como moradia, possivelmente para abrigar guardas e funcionários. Apesar de as ocupações

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posteriores ao período do ouro terem descaracterizado o local, a indicação é de que no térreo funcionavam o atendimento e a administração e, na parte dos fundos do prédio, onde hoje está o jardim, ficava a Oficina de Fundição do Ouro. Por duas décadas, o imóvel permaneceu sem grandes reformas. Em fevereiro de 2011, a Prefeitura de Iguape admitiu uma empresa para elaborar um projeto de recuperação e de restauro da antiga Casa de Fundição. Entretanto, a proposta apresentada foi básica, e incluía apenas o diagnóstico e a intervenção acompanhada dos devidos desenhos. Dois anos depois, em 2013, outra organização foi contratada para rever e complementar o projeto preliminar. Essa revisão levantou itens sobre o sistema construtivo histórico do imóvel, análise arquitetônica da edificação, levantamento cadastral, diagnóstico de patologias, e outros itens que pudessem manter ou resgatar as características da arquitetura do prédio. O projeto contemplou duas salas para exposição no térreo e duas no pavimento superior, onde também está uma sala de “reserva técnica de objetos”. No térreo fica o arquivo técnico e mais um pátio coberto, que pode também ser utilizado para exposição e, na parte dos fundos, há um anexo, que de acordo com as pesquisas, foi construído posteriormente ao prédio principal. Nesse espaço estão os sanitários adaptados para portadores de necessidades especiais e uma copa para uso de funcionários e durante eventos culturais realizados nos jardins do Museu. A obra de restauro foi licitada em novembro de 2013 e iniciada em meados do ano seguinte, tendo sido finalizada em 2016. Em contrapartida ao investimento do Iphan na obra de restauro, a Prefeitura de Iguape deveria apresentar um projeto museográfico para o espaço, o que não ocorreu na época. Em 2017, a municipalidade solicitou ao Iphan autorização para utilizar o pré-


dio como espaço para exposições, enquanto viabilizava a contratação de uma empresa para elaborar esse projeto, o que aconteceu apenas em 2021, quando uma outra firma recebeu a missão de desenvolver um novo estudo museológico e museográfico visando transformar a antiga Casa de Oficina Real de Fundição do Ouro, finalmente, em Museu Municipal.

Conceitos e detalhes da arquitetura A fachada do imóvel, como na maior parte das construções do Centro Histórico, possui paredes grossas em pedra e cal, e recebeu pintura recente na cor branca, que cobre as paredes e, em amarelo, que destaca os barrados do prédio, das sacadas, assim como dos beirais, das ombreiras, das vergas em arco abatido e dos peitoris. Um azul vibrante colore a madeira da porta central e das duas janelas do térreo, e de uma janela e duas portas-janelas do piso superior. Na parte térrea do imóvel estão duas salas para exposição e uma para arquivo técnico. A primeira fica logo na entrada, seguida por um vão aberto que dá acesso à segunda sala. Ambas possuem as paredes do lado direito com o processo de descascamento, deixando à mostra o modo construtivo em pedra entaipada. As demais paredes que circundam os ambientes receberam reboco e pintura na cor branca. O arquivo técnico possui uma porta e uma janela com vista para o jardim, e ambas são feitas em madeira. Na parte dos fundos do imóvel, há uma sala anexa, que mantém as características de pintura em branco. Uma abertura interligada a um pátio cimentado e coberto por telhas de vidro, leva aos banheiros (todos com acessibilidade), à cozinha, à área de serviço e ao jardim, onde podem ser encontradas grandes rodas em pedra- que eram utilizadas em moinhos de água - além de uma corrente usada, na época, para apor-

tar navios. Ainda nos fundos, um portão de ferro forjado dá acesso a Rua XV de Novembro, popularmente conhecida por “Funil de Baixo”. Na segunda sala do térreo, por uma passagem estreita e em um ângulo bastante acentuado, uma escada em madeira possibilita o acesso ao segundo pavimento. Da escada também é possível observar duas vigas originais e uma abertura na parede, à direita, onde foi instalada uma peça em madeira com frestas para ventilação. Em busca por resgatar aquilo que possa ser mais parecido com o original, a obra de restauro instalou nas salas do térreo um piso que simula cimento queimado, oferecendo um aspecto mais rústico ao lugar. As salas não possuem forro, o que deixa aparente o piso em madeira do andar superior, que é sustentado por uma viga central. Acima das escadas, o pavimento conta com três espaços, sendo duas salas abertas e uma sala para reserva técnica. As salas são separadas por uma parede construída com tábuas que atendiam às necessidades do Museu quando foi aberto em 1969, e tem outras paredes rebocadas e pintadas de branco. A sala principal, com piso e o forro feitos de madeira e vãos voltados para a rua, garante vista para o Largo das Neves, para o prédio histórico do antigo Clube Primavera e para o Beco do Porto Grande. Do lado esquerdo, em direção ao Morro do Espia, ainda é possível observar a Rua das Neves, conhecida popularmente como “Funil de Cima”, e, do lado direito, está a Praça da Basílica e boa parte do casario do Centro Histórico, com destaque para a Basílica do Senhor Bom Jesus. Esta sala possui uma janela e duas portas-janelas com sacadas entaladas, e são todas em duas folhas de madeira. Todas as salas do prédio receberam iluminação especial, projetada para atender às necessidades das exposições museológicas. O telhado em quatro águas é cober-

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to por telhas constituídas de argila do tipo capa e canal, também conhecida por telha colonial, que têm forma côncava e são assentadas em fileiras com posições invertidas. A fachada e as laterais do prédio possuem beirais, e as paredes laterais são geminadas com pinturas em cal na cor branca.

Molduras da janela

Detalhe da porta de entrada

COMO CONHECER

A Casa de Fundição de Ouro integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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DETALHES E ORNAMENTOS

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FOTOS INTERNAS

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DETALHES DO PORTAO E PAREDES EXTERNAS

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CASARÃO DO XIMBICA`S

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Rua Porto Osório

É muito provável que este casarão localizado na esquina do Largo das Neves com a Rua Porto Osório seja uma das mais antigas construções do Centro Histórico de Iguape, e que tenha sido sempre utilizado para fins comerciais. As características do modo construtivo sugerem que o imóvel possa ser originário do final do século XVII, ainda no período colonial, quando a Vila era acessada por barcos a vela e por canoas que chegavam ao atracadouro de madeira do Porto Grande, este que somente dois séculos mais tarde teve importância marcante, devido às transações comerciais resultantes da lavoura do arroz. No que se refere a este antiquíssimo casarão, os registros documentais não apontam quem idealizou e construiu esse prédio e, nem mesmo quem foi o seu primeiro proprietário. Muitas importantes informações podem não ter sido registradas ou foram apagadas com o passar dos séculos. Os poucos dados sobre o imóvel indicam o ano de 1907, quando o então capitão Eurico Moutinho adquiriu a propriedade de Humberto de Castro. Anos depois, por volta de 1970, o casarão foi vendido a Manoel Moraes Netto e no espaço passou a funcionar uma confeitaria. Nas décadas de 1990 e 2000, o lugar abrigou o restaurante Visomar e os bares “E o vento levou” – que recebeu esse nome depois de uma forte chuva ter derrubado toda a cobertura –, “Ximbica`s Bar” – identidade essa que o tornou mais popular – e “Armazém”. Em 2020, após uma reforma do telhado e da parte interna, o casarão foi alugado e transformado em pizzaria. O imóvel pertence aos herdeiros de Newton Giani França.

Conceitos e detalhes da arquitetura Este casarão colonial de esquina mantém características que o identificam como imóvel comercial, pois é uma casa térrea, com diversas portas e janelas que foi construída originalmente em alvenaria de pedra e pau a pique, e com o passar dos anos, suas paredes internas foram substituídas por alvenaria de tijolos. Antes da chegada do querosene, na segunda metade do século XIX, e da luz elétrica, no século XX, era bastante comum encontrar lampiões em fachadas de imóveis como esse, que eram abastecidos por azeite de peixe ou por velas de cera, que garantiam iluminação às ruas e às vielas, a medida que a escuridão da noite tomava conta do lugar. O casarão possui telhado em três águas, e o acabamento nas duas fachadas é garantido por eiras e beiras, que ganham ainda mais destaque graças a uma larga faixa pintada na cor branca na parte superior da parede. O amarelo nas paredes externas destaca o vermelho que colore as molduras das portas, das janelas e dos barrados, na parte inferior, bem próximos à calçada. Como na maior parte das construções do período colonial, as molduras das portas e das janelas são todas com vergas em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e peitoris. A fachada voltada para o Largo das Neves possui cinco vãos preenchidos por portas com duas folhas de escuro em madeira, pintadas na cor marrom. O cunhal e a coluna na esquina com a Rua Porto Osório também receberam a cor vermelha. Do outro lado, é possível observar na fachada que a edificação se encontra em

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declive. Ao todo são oito vãos que estão preenchidos por três portas, com duas folhas de escuro em madeira pintadas de marrom, duas janelas também com duas folhas de escuro em madeira pintadas na mesma cor, e três outras portas que foram fechadas com alvenaria e receberam pintura na cor branca do lado externo emoldurando uma janela. Na parte interna do casarão, o piso cimentado se destaca em vermelho e desenhos geométricos ganham vida em amarelo. As grossas paredes e colunas em pedra e cal estão descamadas e embelezam o interior do imóvel protegido por um forro em madeira. O casarão sempre foi utilizado para fins comerciais e sofreu muitas mudanças

com a utilização de vários tipos de materiais na sua estrutura interna. Atualmente, todo espaço é preenchido por um grande salão com mesas e cadeiras para atendimento ao público, este que pode acompanhar a preparação de seu pedido através de uma área construída com paredes de alvenaria e com vidros. No interior do imóvel são, ainda, encontrados um balcão em alvenaria onde está o caixa e, onde são refrigeradas as bebidas, além de um pequeno mezanino em madeira que acolhe os clientes em eventos reservados ou quando não há mais espaço no salão térreo. Os banheiros estão na parte dos fundos do casarão, onde também fica uma área reservada para estoque e para outras utilidades.

Molduras da fachada

COMO CONHECER O Casarão do Ximbica`s Bar integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: valevisitariguape.com.br/roteiros 152


FACHADA

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CORREIO VELHO

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Praça Engenheiro Greenhalgh

O sobrado conhecido por Correio Velho foi construído na primeira metade do século XIX, mas não há registro que aponte a data exata do início das obras e de quem, de fato, o idealizou. Consta o ano de 1839, indicado como o de inauguração do prédio. Localizado na atual Praça Engenheiro Greenhalgh, conhecida também por Praça de São Benedito (antigo Largo São Francisco), tem sua fachada voltada para o Morro do Espia e preserva a imponência dos casarões erguidos durante o auge do ciclo do arroz na cidade de Iguape. Outra data encontrada nos levantamentos históricos é o ano de 1893, quando após ter passado por uma reforma, o imóvel foi adquirido pelo coronel Agostinho José Moreira Rollo, e depois pelo comendador João Mâncio da Silva Franco. Passadas algumas décadas, em 1926, o sobrado foi transformado em sede da Agência dos Correios e Telégrafos, e por isso passou a ser intitulado Correio Velho. No período em que o edifício abrigou o órgão federal, o térreo era utilizado para o Serviço Postal e o Serviço de Telégrafos ocupava o pavimento superior. O sobrado recebeu uma reforma para adaptação e instalação dos serviços dos Correios, o que levou a uma descaracterização quase completa de seu espaço interno original. Em 1951, quando a Agência dos Correios foi transferida para a nova sede, de propriedade do governo federal, então localizada na rua Major Rebello, o imóvel ficou desocupado, permanecendo assim até início da década de 1980. Foi entre 1980 e 1989, que as paredes do sobrado centenário passaram a acolher o Centro Cultural e Turístico de Iguape, administrado pela Prefeitura. Entre 1991 a 1992, o prédio foi utilizado pela Divisão

Municipal de Serviços Urbanos, que logo foi transferida para outro imóvel, pois o Correio Velho manifestava sinais do tempo, e sua cobertura, que antes protegia o bonito sobrado, começou a apresentar risco de desabamento. Nessa época, o edifício, como tantos outros imóveis históricos da cidade, integrava a lista de bens tombados pelo Condephaat, e toda e qualquer obra deveria cumprir o protocolo de preservação. Assim, na tentativa de impedir o total desmoronamento do telhado, o referido órgão estadual de preservação do patrimônio realizou uma intervenção no prédio, que contou com a instalação de perfis metálicos para estabilização das empenas laterais. Porém, isso não foi o suficiente. Em 1992, o telhado ruiu por completo e, nos anos seguintes, a estrutura metálica de contenção também não suportou a sobrecarga, levando abaixo as paredes remanescentes internas e o piso do pavimento superior. Desse trágico acontecimento restaram, intactas, apenas as paredes laterais e a fachada principal. O sobrado permaneceu vazio, sem nenhum tipo de manutenção, durante alguns anos. Em 2001, o então prefeito da cidade enviou um ofício à Superintendência Regional do Iphan, em São Paulo, solicitando a restauração de três edifícios históricos, entre os quais, o Correio Velho. Em 2009, com o tombamento feito pelo Iphan e com a previsão de recurso do Programa de Aceleração do Crescimento - Cidades Históricas (PAC-CH), os poderes públicos municipal e estadual voltaram os olhos para o prédio, que estava em estado avançado de deterioração, quase em completa ruína. Com os recursos garantidos, os trabalhos para a restauração do imóvel puderam ser iniciados. Em abril de 2010, foi elaborado

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o edital de tomada de preços, publicado em agosto do mesmo ano, quando empresas interessadas para a contratação de projeto de restauração do edifício apresentaram suas propostas. Após um longo e demorado processo de recuperação e restauro do prédio, as obras, enfim, foram concluídas em 2020, e o Sobrado do Correio Velho foi entregue ao município.

Restauro de Patrimônio A arquitetura original do Correio Velho se caracterizava por espessas paredes externas construídas em pedra e cal que se mantiveram em pé até o restauro. As paredes internas que eram feitas em taipa francesa, não resistiram à ação do tempo e do abandono, assim como o telhado original em duas águas que desabou. Durante o processo de restauro, a equipe fez um estudo que incluiu relatos históricos e de imagens, além da visita ao local, a fim de verificar se houve alteração nas fachadas. Felizmente, nenhuma abertura, entre portas e janelas, havia sido modificada. Por outro lado, foi preciso recuperar o desenho das portas, janelas, batentes e molduras que estavam bastante deterioradas. Esse trabalho foi possível, graças aos vestígios presentes na construção e às pesquisas referentes ao período que possibilitaram o resgate dos padrões originais. Toda cobertura foi refeita em duas águas, com uma nova estrutura metálica independente, e com a instalação de telhas tipo capa e canal, seguindo a inclinação dos oitões existentes. Isso trouxe de volta a volumetria inicial da construção. Os balcões, o piso de pedra em cantaria, os gradis de ferro forjado e todos os arremates dos beirais em eira e beira também puderam ser restaurados, resgatando a beleza dos traços arquitetônicos do sobrado. Houve ainda o restauro das empenas

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remanescentes, a incorporação ao projeto dos pilares em pedra e cal e o reaproveitamento da estrutura de uma edícula, construída posteriormente, para ser utilizada como área de apoio e para instalação da cafeteria. Quanto ao novo desenho do interior do edifício, logo no início, não houve um acordo por parte da equipe técnica. Alguns defendiam a recriação dos espaços internos resgatando o período em que o prédio foi utilizado para abrigar a Agência dos Correios e Telégrafos, uma vez que existiam desenhos capazes de demonstrar essa configuração anterior. Um outro grupo de técnicos apostava na recuperação do edifício utilizando uma intervenção mais contemporânea, preservando, entretanto, a originalidade e deixando em destaque os diferentes momentos de transformação do sobrado. Após muita conversa e pesquisa, a segunda opção foi considerada como a mais interessante.

Conceitos e detalhes da arquitetura A fachada do Sobrado do Correio Velho ganhou vida com as paredes na cor branca e as portas, janelas e sacadas em verde, enquanto o vermelho garantiu destaque aos barrados em reboco saliente que contornam todas as portas do pavimento térreo, bem como os ornamentos e os elementos decorativos de toda a fachada. O imóvel possui dois pavimentos e teve o telhado refeito em duas águas com telhas de argila tipo capa e canal, e o seu acabamento na fachada preservou as tradicionais eiras e beiras onde, abaixo destas, um ornamento com pinturas em alto-relevo se destaca por toda frente do prédio. A parede externa do lado esquerdo foi rebocada e pintada de branco e tem em destaque o seu beiral. Do outro lado, não há beiral e a parede sem reboco deixa à mostra a técnica construtiva em pedra e cal. A calçada de pedra em cantaria remete ao tempo em que o sobrado foi construído. Os dois cunhais e as colunas também


estão em reboco saliente, sendo que estas são decoradas com desenhos de linhas intercaladas na horizontal e na vertical até o topo do segundo pavimento. Acima deste ponto, nas extremidades do friso em vermelho que corre por toda extensão da fachada, está um adorno em forma de flor, logo abaixo do friso e, acima, é possível observar uma marcação em linhas cruzadas. Os vãos da fachada do pavimento térreo são preenchidos por cinco portas e uma janela, sendo todas em madeira com duas folhas de escuro. As portas são emolduradas com vergas em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e soleiras em pedra trabalhadas em cantaria. A janela possui vergas em arco abatido, sobrevergas, ombreiras e peitoril em madeira, sendo que as ombreiras se alongam abaixo do peitoril e são finalizadas no barrado na mesma altura das ombreiras das portas, sugerindo que neste vão anteriormente havia uma porta. No interior do sobrado, um grande salão ocupa o térreo onde também estão três colunas em pedra entaipada, resquícios da construção original. Nos fundos, paredes laterais e partes do piso abaixo de três das janelas também estão descamadas. Nesse salão o piso é cimentado e o acesso ao segundo pavimento pode ser por um elevador e por uma larga escada em ferro. As paredes dos fundos deste pavimento possuem vãos que são preenchidos por duas portas e quatro janelas em madeira com duas folhas de escuro. Essas portas levam a um anexo de dois pavimentos e a um jardim, de onde é possível observar as janelas do segundo pavimento e o bonito acabamento do telhado, feito em eiras e beiras. O anexo possui banheiros e um espaço com uma bancada para cafeteria. O segundo pavimento é composto por um salão, e os vãos da fachada que se abrem para a Praça de São Benedito são rasgados até as soleiras e preenchidos por seis por-

tas-janelas com duas folhas com os caixilhos envidraçados na maior porção, sendo embaixo apenas uma pequena parte preenchida por almofadas de madeira. As molduras que enfeitam as portas-janelas são iguais às da fachada do térreo, e em frente a elas destacam-se sacadas de púlpito em balanço com o piso em pedra, trabalhada em cantaria, e lindos gradis em ferro forjado ornamentados com flores. As sacadas foram emolduradas com duas linhas horizontais pintadas na cor vermelha que terminam nas colunas. Abaixo das sacadas estão em evidência os consolos e, acima das sobrevergas, um ornamento em alto-relevo divide o friso ao meio despertando a atenção para a inscrição “1882”. Nos fundos deste pavimento a parede apresenta partes descamadas e uma porta em madeira, com duas folhas de escuro, permite a entrada ao anexo. Outras quatro janelas tipo guilhotina, com os caixilhos e a bandeira fixa envidraçados, e com fechamento interno feito por duas folhas de escuro em madeira garantem claridade e ventilação ao salão interno e permitem avistar o jardim. Na parte superior da parede do corredor que leva aos banheiros há uma seteira, que possibilita a entrada de luz. Nos fundos, em destaque, estão uma parede em pedra e cal e uma peça em pedra trabalhada em cantaria incrustada nessa estrutura entaipada. Nas paredes de pedra e cal do segundo pavimento foram deixadas à mostra perfurações onde eram encaixadas as vigas de sustentação desse pavimento. Ainda nesse segundo pavimento, o projeto de restauro incluiu um mezanino com divisões em vidro. Quatro seteiras promovem luminosidade ao espaço e as paredes laterais estão, em grande parte, descamadas deixando aparente o modo construtivo da época.

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Detalhe da fachada

COMO CONHECER

O Correio Velho integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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DETALHES DA FACHADA

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GRADIS

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PORTAS E JANELAS

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INTERIOR

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Rua Capitão Dias A Escola Vaz Caminha é uma das edificações planejadas pelo governo do Estado de São Paulo entre os anos de 1890 e 1930, e sua arquitetura remete ao padrão de construção de escolas durante a Primeira República, quando surgiram os Grupos Escolares e as Escolas Normais. Em Iguape, o local escolhido para instalação do então Grupo Escolar foi uma grande área localizada na esquina das Ruas Capitão Dias e Major Rebello. Nessa época, o Grupo Escolar estava em atividade no prédio conhecido por Sobrado dos Mâncios, que depois funcionou durante décadas como Hotel São Paulo. A estrutura da nova escola foi entregue à população em 1917, com projeto de dez classes de ensino primário. Anos mais tarde, entre 1947 e 1951, o espaço acolheu alunos do ensino secundário, até a inauguração do prédio próprio do Ginásio de Iguape. E, assim, as turmas foram transferidas para a escola que recebeu o nome de “Coronel Jeremias Júnior”. Em dezembro de 1940, o Grupo Escolar de Iguape passou a ser chamado Escola Vaz Caminha, título em homenagem a Pero Vaz de Caminha, o português nascido na cidade do Porto em 1450, que fez parte da esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral, aportando no Brasil em 1500. Ele foi o escrivão responsável por descrever as impressões iniciais das terras brasileiras no relato que ficou conhecido como “A Carta de Pero Vaz de Caminha”, o primeiro documento oficial sobre a história do país. Em 1971, o governo do Estado implantou o curso ginasial na Escola Vaz Caminha, e os estudantes da cidade passaram a se dividir entre essa unidade escolar e o antigo

ginásio “Professor Eulálio de Arruda Melo”. O prédio da Escola Vaz Caminha passou por sucessivas reformas e, em 1979, foi inteiramente reformado. Em julho de 2010, a unidade escolar foi tombada pelo Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT), juntamente com outras 126 escolas instaladas em diversas cidades paulistas. O órgão considerou como alguns dos critérios, o valor histórico e arquitetônico do prédio e da instituição, por sua importância cultural na categoria de bem cultural. O prédio pertence à Rede Estadual de Ensino, mas a escola é destinada ao ensino fundamental sendo denominada E.M.E.F “Vaz Caminha”. Dessa forma, a escola participa do Programa de Restauro de Edificações Escolares Estaduais, da Secretaria de Estado da Educação, cuja proposta é restaurar escolas estaduais localizadas em municípios paulistas, dentre eles Iguape. A recuperação dessas unidades escolares tem por objetivo não só a restauração física, mas o resgate de valores históricos e culturais.

O Grupo Escolar e o Ginásio Ao longo dos anos, os levantamentos históricos não conseguiram identificar informações precisas sobre a área da educação em Iguape durante o período colonial. É provável que o ensino básico, destinado a meninos e meninas, tenha sido orientado por missionários jesuítas da Companhia de Jesus, no período em que estiveram na região - por volta da segunda metade do século XVII -, e as aulas fossem ministradas no imóvel até hoje

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conhecido por “Casa dos Jesuítas”, ao lado a igreja de São Benedito. Com a expulsão desses missionários do Brasil é possível que o ensino básico tenha passado a ser aplicado nas residências das famílias mais abastadas, beneficiando uma parcela da população em idade escolar. Durante o período do Brasil Colônia e do Império, a falta de maior investimento na qualificação e remuneração dos professores foi uma das consequências de um ensino primário pouco eficiente, além da dificuldade em convencer os pais sobre a importância de encaminharem seus filhos à escola. Somente a partir de 1827, quando o Governo Imperial decretou que fossem instituídas as escolas primárias em todo o país, o ensino básico se estabeleceu, de fato, e recebeu melhorias. Nessa época, por volta de 1829 havia, em Iguape, uma pequena sala onde eram ministradas aulas de educação básica. Nos anos da República foram criados os primeiros grupos escolares em todos os estados brasileiros. O Grupo Escolar de Iguape foi instaurado em janeiro de 1894 com duas turmas, mas, mesmo assim, era necessário que a educação básica na cidade fosse ainda melhor. Os próprios professores eram quem alugavam e mantinham prédios particulares que serviam como salas de aula. As crianças eram divididas nas chamadas seção masculina e seção feminina, que funcionavam em locais diferentes: para as meninas, uma casa no Largo de São Francisco (hoje Praça de São Benedito), ao lado do Correio Velho, e para os meninos, um casarão na rua Doutor Cerqueira César (atual rua Major Rebello). Somente em 1900, as alas masculina e feminina foram unificadas e as atividades escolares passaram a acontecer no Sobrado dos Mâncios, até que o novo prédio estivesse concluído, o que ocorreu no ano de 1917. Até 1941, não havia um curso ginasial, e muitos alunos cujas famílias tinham

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poder aquisitivo maior, conseguiam estudar em outras cidades. Foi nesse período que a prefeitura fundou a Comissão Pró-Ginásio de Iguape, com o objetivo de promover a construção do prédio para abrigar o ginásio, com apoio da sociedade, pois a verba do município não era suficiente. Os responsáveis por essa comissão organizaram a “Campanha do Tijolo”. Em abril de 1942, a comissão passou a ser chamada de Sociedade Pró-Ginásio de Iguape, que arrecadou uma considerável quantia, utilizada na compra de material e no pagamento da mão de obra. O Ginásio Estadual de Iguape foi oficialmente instituído em 1947. No entanto, o prédio ainda não estava concluído e as turmas se instalaram no Grupo Escolar Vaz Caminha até o final de 1951, quando foram transferidas para o prédio recém-inaugurado e denominado “Coronel Jeremias Júnior’’.

A Escola Normal Entre as décadas de 1870 e 1880, existiu uma Escola Normal em Iguape, em uma sala mantida pelo governo que funcionava em situação precária. Esse curso durou poucos anos, pois, na década de 1890, os estudantes normalistas foram estudar em outras cidades. Algumas décadas depois, em 1930, houve mais uma tentativa de investimento na formação de professores no município. A própria comunidade local organizou um movimento pela implantação da Escola Normal, mas o ensino era particular e, algum tempo depois, a escola foi fechada. Finalmente, em 1953, um Projeto de Lei enviado à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo propôs a criação da Escola Normal de Iguape, que funcionaria anexa ao Ginásio Estadual da cidade. Passados alguns anos, e então denominada Escola Normal Municipal “Professor Veiga Júnior”, ganharia prédio próprio. Além da


formação de professores, a escola mantinha o Colegial e cursos profissionalizantes. Em razão disso, por um período, a unidade ficou conhecida como “Escola Industrial” e depois recebeu o título de EEPSG “Professor Veiga Júnior”, mantido até os dias atuais.

Conceitos e detalhes da arquitetura A construção deste imóvel reflete as inspirações neoclássicas e o padrão das edificações da Primeira República, características marcantes dessa fase da arquitetura paulista. A Escola Vaz Caminha foi edificada recuada da via pública, e na frente da fachada principal há um jardim e grades de ferro. A estrutura do prédio contempla porão, pé direito alto, fachadas simétricas, muros de alvenaria que protegem todo entorno da escola e o acesso central é destacado pelo seu lindo frontão. As paredes externas estão pintadas na cor verde-claro, as janelas em branco e as molduras, os barrados, os elementos decorativos e o porão receberam a cor salmão. Os telhados são com telhas de argila em duas águas, com forros de madeira. A planta da escola é composta por quatro edificações, no formato de um quadrado. Ao centro, há um pátio interno descoberto, construído no nível dos porões, com vários respiros à amostra que possuem o mesmo fechamento e formato dos respiros localizados nas partes externas da fachada. As escadas levam a varanda e têm corrimãos em ferro e são gradeadas, pintadas na cor branca. A varanda é coberta, tem piso em ladrilho hidráulico e percorre todo o entorno do pátio. Possui várias pilastras em ferro que permitem sustentação ao gradil, também em ferro. As aberturas dos vãos são retos e na parte superior receberam um barrado em madeiras torneadas, pintadas na cor branca, assim como o gradil. As salas de aula e outras dependências da escola, como a sala da diretoria, a sala de professores, a biblioteca e a secretaria ficam

voltadas para essa varanda. Os banheiros e o refeitório foram construídos em um outro prédio anexo que está atrás do principal. A fachada principal do edifício é voltada para a Rua Capitão Dias e está dividida por cinco tramos, sendo que o central e os dois localizados nas extremidades foram construídos com recuo. O acesso ao interior da escola é através do tramo central, por uma escadaria dupla que leva à um alpendre coberto por telhas de argila em meia água e tem um guarda-corpo em alvenaria, centralizado entre os acessos laterais, ricamente ornamentado com elementos decorativos diversos em argamassa. Esse guarda-corpo está sobre uma parede que possui um vão na parte inferior, em formato abaulado, onde está um dos respiros do porão. Todos os tramos da fachada principal e das laterais possuem aberturas de vãos iguais no porão. São respiros em formato retangular com fechamento em treliças de madeira, alinhados abaixo de todas as janelas, onde há um friso em alto-relevo logo acima que destaca a divisão entre o porão e o pavimento térreo. Um vão retangular acima de todas as janelas e das portas tem a parte superior em arco e o fechamento em treliça de madeira para respiro das salas. O tramo central possui um alpendre com as paredes ornamentadas por largos frisos horizontais e verticais. O acesso principal à escola é através desse alpendre, que conta com três vãos preenchidos por uma porta, pintada na cor marrom, e que possui duas folhas almofadadas, bandeira fixa com caixilhos envidraçados e está centralizada entre duas janelas altas e estreitas, estas que ficam alinhadas à altura da porta. As janelas são idênticas, com bandeira fixa em caixilhos envidraçados, fechamento interno feito por duas folhas de escuro em madeira e, o externo, por duas folhas com dez caixilhos envidraçados, e com dois pinázios em destaque na parte central por serem bem maiores que

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os outros quatro, que estão localizados na parte superior e na inferior. Acima da fachada principal há um belíssimo frontão em arco, com diversos ornamentos e, no centro, entre duas colunas, está o brasão do Exército Brasileiro em destaque. Nas duas laterais são, também, encontrados elementos decorativos em alto-relevo emoldurando o frontão e, atrás desse frontão, uma platibanda com frisos horizontais em alto-relevo e quatro pequenas e robustas colunas, sendo duas alinhadas no centro, acima do brasão, e duas alinhadas nas extremidades. De cada lado do tramo central estão tramos idênticos, delimitados por colunas. Eles se destacam na fachada principal, pois foram construídos com um pequeno avanço em relação ao tramo central e aos dois outros presentes nas laterais do imóvel. Os vãos são preenchidos por três grandes janelas, com bandeira fixa em caixilhos ocupados por vidros. As janelas foram divididas em quatro folhas que se abrem para dentro das salas de aulas e possuem caixilhos envidraçados. Elementos decorativos em argamassa estão centralizados abaixo de cada janela. O coroamento deste tramo é feito por uma cimalha e um frontão em arco decorado por cornijas e quatro colunas com riscos verticais em evidência, sendo as duas maiores alinhadas no centro e, as outras duas nas extremidades. Os dois últimos tramos ficam nos limites da fachada principal e também são idênticos, construídos com recuo, seguindo o alinhamento do tramo central. Os vãos são preenchidos por duas janelas idênticas às do alpendre. O coroamento deste tramo é feito por uma estreita platibanda e as paredes receberam ornamentos iguais aos dos tramos laterais. As fachadas laterais -uma para a Rua Major Rebello e outra para a área interna da escola -têm as mesmas características, sendo que estão divididas em seis tramos. O tramo próximo à fachada principal possui dois vãos preenchidos por duas pequenas

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janelas idênticas às da fachada; no lado esquerdo há um único vão ocupado por uma porta, com bandeira fixa envidraçada e duas folhas almofadadas, que se abre para o corredor interno, onde há uma escada em frente à essa porta; os outros tramos subsequentes possuem todos a mesmas características, com os vãos preenchidos por três grandes janelas, com bandeira fixa em caixilhos preenchidos por vidros. As janelas foram divididas em quatro folhas que se abrem para dentro das salas de aulas e possuem caixilhos envidraçados. Os ornamentos das fachadas laterais têm as mesmas características da fachada principal e o acabamento do telhado é feito por uma estreita platibanda. Na parte dos fundos, a fachada se encontra anexa ao refeitório e aos banheiros, e conta com duas portas nas extremidades, que unem o corredor central avarandado ao anexo, e oito janelas idênticas às das salas de aula das fachadas laterais. As portas são em duas folhas de escuro em madeira, e uma estreita platibanda também garante o acabamento do telhado. Todas as salas de aula possuem piso em madeira e duas portas altas com bandeira fixa, uma parte ao centro em madeira com veneziana e nas laterais dois caixilhos envidraçados. As portas são em duas folhas de madeira, sendo a parte superior em veneziana e a inferior almofadada que se abrem para o interior da sala. A qualidade arquitetônica desse conjunto é caracterizada pela técnica construtiva simples e por uma organização espacial que distribuiu salas de aulas ao longo de locais de circulação, o que garantiu higiene, ventilação e iluminação aos espaços internos.


Ornamento da fachada

COMO CONHECER

A Escola Vaz Caminha integra um roteiro turístico pelo Centro Histórico de Iguape: o do Museu a Céu Aberto. Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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ORNAMENTOS/DETALHES

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HOTEL DO COMÉRCIO

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Rua das Neves Este bonito sobrado, localizado no Largo das Neves, se tornou um dos primeiros hotéis em funcionamento na cidade. Registros históricos indicam que sua construção original, no estilo colonial português, foi executada durante a primeira metade do século XIX e custeada pelo capitão Antonio Borges Diniz, um agricultor de posses e de influência na Vila, que foi proprietário de grandes sesmarias distribuídas pelo vasto território iguapense. Após a morte do capitão Diniz, em 1865, o prédio foi herdado por seu neto, o padre Antônio Carneiro da Silva Braga, mais conhecido por Cônego Braga. Anos mais tarde, após o falecimento do sacerdote, em 1891, outros herdeiros assumiram o imóvel e, em março de 1910, o venderam para o capitão Manoel Lino Alves Vieira, que fez uma reforma completa reconstruindo todo o sobrado em estilo arquitetônico Art Nouveau. Nessa ocasião foi instalado o Hotel do Comércio, que passou a hospedar visitantes que chegavam na cidade trazidos pelos vapores que ainda atracavam no Porto Grande. Em 1921, Juvenal de Mello, um comerciante local, arrendou o prédio da viúva do capitão Manoel Lino, e investiu na melhoria da qualidade do atendimento. O hotel foi alugado por outros comerciantes, e o estabelecimento teve seu nome alterado por duas vezes: Grande Hotel do Comércio e Central Hotel. Pouco tempo depois, em janeiro de 1929, o casal espanhol José Sanches Paz e Josepha Garcia Golpe desembarcava no Porto de Santos. Eles seriam os próximos proprietários do sobrado e, ao chegarem em Iguape, em 1943, logo adquiriram o prédio dos herdeiros do capitão Manoel Lino. O imóvel tinha muitos problemas estruturais e novamente recebeu uma reforma. Com tudo

arrumado, seus novos donos resgataram o nome original do estabelecimento. Em janeiro de 1945, o sobrado foi doado aos filhos do casal: José Sanches Garcia, Carmem Sanches Garcia e Josefa Sanches Carneiro. Os dois primeiros faleceram em 2003 e 2018, respectivamente. A filha mais velha, Josefa, de 92 anos, continua sendo a principal herdeira do imóvel. Na década de 1960, além de acolher os hóspedes, o Hotel do Comércio contava com um amplo restaurante que servia deliciosas refeições àqueles que ali se hospedavam, e à algumas outras pessoas que viviam na cidade, como o Juiz de Direito e outros visitantes conhecedores dos apetitosos pratos preparados por sua proprietária, conhecida por todos como Dona Pepita. Com o falecimento de José Sanchez Paz, em 1967, as atividades do hotel ficaram paralisadas por alguns anos, tendo sido retomadas em 1980, quando sua viúva passou a cuidar do estabelecimento, com a ajuda de José Sanches Paz Neto, um de seus netos. E, assim, o Hotel do Comércio funcionou regularmente até dezembro de 2000, quando Josepha Garcia Golpe, também faleceu, aos 95 anos. Desde então, o imóvel deixou de funcionar como hotel e passou a ser utilizado como moradia de parte dos herdeiros, que hoje são responsáveis pela manutenção e pela preservação da memória desse importante edifício.

Alfredo Volpi e a “Grande Fachada Festiva” Na primeira metade do século XX, o Hotel do Comércio era sinônimo de bom atendimento e de serviço de qualidade. Muitos foram os que ali se hospedaram, dentre eles, o pintor 181


ítalo-brasileiro Alfredo Volpi que visitou Iguape em 1953 e registrou a fachada deste hotel em pintura sobre tela, que ganhou fama e se tornou mundialmente conhecida. Intitulada “Grande Fachada Festiva” a pintura é considerada uma de suas principais obras de arte. Nascido em Lucca, Itália, em 1896, Alfredo Foguebecca Volpi chegou ao Brasil com pouco mais de um ano de idade, e sua família se estabeleceu em São Paulo, cidade onde ele viveu e faleceu em 1988, aos 92 anos. Volpi foi autodidata e começou a pintar murais decorativos com apenas 15 anos de idade. Suas pinturas representando casarios e bandeirinhas de festas juninas, garantiram a ele um destaque no mundo da arte e tornaram-se a sua marca registrada. O artista foi premiado em várias oportunidades, como o de melhor pintor brasileiro na II Bienal Internacional de São Paulo (1953), esteve na Bienal de Veneza (1952, 1954, 1962 e 1964), e integrou importantes exposições em cidades como Tóquio, Paris, Buenos Aires, Roma e Nova York. Em 2013, a Oficina Cultural Gerson de Abreu, atuante em Iguape naquela época, realizou um encontro para comemorar as seis décadas da visita do artista à cidade. A palestra “Volpi, 60 anos Depois” foi no próprio Hotel do Comércio, onde ele havia se hospedado. Dezenas de convidados prestigiaram o evento que contou com a apresentação feita pelo crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, também cineasta e curador de mostras de artes, entre elas duas sobre o pintor. Durante o tempo destinado a palestra, que também foi transmitida, ao vivo, pela internet, o crítico de arte comentou sobre as mudanças estilísticas que aconteceram na pintura de Alfredo Volpi de 1953 até o ano da morte do artista.

Conceitos e detalhes da arquitetura Este sobrado de dois pavimentos em estilo Art Nouveau tem grande influência do Neo-

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clássico, que pode ser encontrado na simetria da composição e no repertório ornamental. O seu telhado é em três águas com telhas de argila. A divisão entre os pavimentos está em evidência, em relevo saliente, nas duas fachadas, sustentadas por grossas paredes em pedra e cal. A fachada principal voltada para a Rua das Neves possuía, em sua forma original, os vãos preenchidos por quatro janelas e duas portas no pavimento térreo. Após a reforma, que transformou o imóvel no novo estilo arquitetônico, uma das portas foi fechada com alvenaria. Hoje, os vãos da fachada desse pavimento estão preenchidos por uma porta central com duas janelas do lado esquerdo e três janelas do lado direito, com vergas retas embelezando as molduras retangulares. Todos os vãos possuem bandeira fixa com caixilhos envidraçados. As paredes, os barrados, os balaústres, as janelas e as portas da fachada receberam pintura na cor vermelha e as molduras, colunas, cornija, cimalhas e ornamentos estão na cor branca. A porta é em madeira com duas folhas de escuro, e se abre para um corredor com piso hidráulico, destacando figuras na cor vermelha onde se encontra a porta de acesso ao sobrado que também possui bandeira fixa em caixilhos envidraçados e duas folhas de escuro em madeira almofadadas, que possuem na parte superior de ambas, uma abertura preenchida com vidro. As janelas seguem as mesmas características, são em duas folhas de caixilhos envidraçados sendo que abaixo do peitoril, o vão é preenchido na parte interna em alvenaria rebocada e, em frente à essa parede, do lado externo, foram inseridos balaústres que imitam uma sacada entalada, que anteriormente ali existia. No segundo pavimento da fachada principal os vãos, que durante muitos anos foram preenchidos por seis por-


tas-janelas com sacada entalada, passaram a ser preenchidos apenas por seis janelas, mantendo o padrão das do pavimento térreo que foram fechadas abaixo do peitoril com balaústres, como uma sacada entalada. As janelas são em caixilhos envidraçados com quatro pinázios separando os vidros. Acima das vergas retas das janelas um friso corre toda a parede e, acima do friso, está uma linda cimalha onde foram inseridas telhas de argila. O telhado do sobrado fica oculto por uma platibanda abalaustrada que possui, ao centro, um retângulo em relevo e, acima dele, um lindo ornamento em uma abertura em semicírculo, onde se destaca o rosto de um homem com um capacete e com asas de um anjo e, atrás de sua cabeça, existe um pináculo. Toda a platibanda é emoldurada por cornijas que se abrem ao centro adornando o ornamento. Dois globos, um de cada lado, em cima das cornijas enfeitam ainda mais o belo sobrado. O imóvel se estende até o Funil de Baixo, na Rua XV de Novembro e essa fachada, curiosamente, possui características bastante diferentes da principal, com elementos que remetem à arquitetura colonial, o primeiro estilo arquitetônico do sobrado quando da sua construção, o que pode ter sido mantido. Nessa fachada, o pavimento térreo possui cinco vãos que são preenchidos por uma porta e quatro janelas, com as molduras em vergas em arco abatido, sobrevergas e ombreiras e as janelas com peitoris. A porta é em duas folhas de escuro em madeira com bandeira fixa em caixilhos envidraçados, assim como as quatro janelas também com bandeira fixa com caixilhos em vidros. No centro, dois retângulos com veneziana, e duas folhas de escuro em madeira se abrem para dentro, e duas folhas com a parte superior em caixilhos e a outra metade com veneziana, se abrem para o lado da rua. No pavimento superior os vãos são preenchidos por cinco janelas, com duas folhas de escuro em madeira e também possuem as

molduras iguais às do pavimento térreo. As eiras e beiras emolduram o acabamento do telhado que se encontra coberto por flores. Abaixo, um lindo barrado em argamassa em relevo se destaca na cor vermelha, que é a mesma cor que recobre todas as molduras, as portas e as janelas desta fachada. As paredes são na cor branca. Internamente, a parte original do hotel era de pau a pique, constituída por 18 quartos, com alguns no piso superior do prédio e outros no térreo, com banheiros nos corredores. No momento o sobrado passa por uma nova reforma das fachadas.

Sacada entalhada 183


Platibanda

COMO CONHECER O Hotel do Comércio integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADA

ORNAMENTOS E DETALHES

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RUINAS DO ITAGUÁ

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: : Às margens do Mar Pequeno Do alto do Morro do Espia, na Estrada do Cristo - como é mais conhecida a Estrada Municipal Vereador Manoel Alves da Silva -é possível avistar algumas ruínas que se destacam em meio à vegetação de encosta que divide espaço com as águas do Mar Pequeno. São memórias materiais que restaram da Fazenda Itaguá onde, durante o final do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX, possivelmente tenha funcionado um engenho acionado a roda de água, que pilava todo o arroz que ali chegava, transportado por canoas e pequenos navios, único acesso ao local até meados do século XX. Hoje as ruínas podem ser estruturas que restaram de um sobrado, utilizado como moradia, e uma outra construção menor, que remete ao que poderia ter sido uma senzala ou o próprio engenho. Muitas são as hipóteses sobre a construção e sobre os proprietários desse imóvel. Uma das possibilidades aponta que as construções do Itaguá tenham sido erguidas em época colonial, por jesuítas da Companhia de Jesus, que podem ter vivido em Iguape durante esse período. No entanto, uma escritura de venda de terras, datada de 1692, em nome de Maria Nunes Chaveiro e do padre Antônio Barbosa de Mendonça, pode ser o documento mais antigo, onde nada consta a respeito de nenhuma construção, o que indica apenas a transação de venda de gleba. Até metade do século XIX, não há referênciadocumental que comprove a data precisa da construção do engenho ou dados sobre seus proprietários nessa época. Documentos resgatados por importantes historiadores que viveram nos séculos XIX e XX, sugerem que essa gleba de terra teria pertencido a João Mâncio da Silva Franco, que residia em um palacete localizado no Centro Histórico.

Porém, informações obtidas em um inventário encontrado pelo historiador Roberto Fortes, em 2019, mudaram essa versão. O documento assegura a posse da Fazenda Itaguá ao comendador José Jacinto de Toledo, sogro de João Mâncio, e mesmo sem comprovação documental, sugere que o próprio comendador possa ter construído o engenho, durante o apogeu do ciclo do arroz. Após sua morte, a propriedade passou a seus herdeiros: Theolinda Maria de Jesus Toledo, Carolina Leopoldina de Toledo (casada com João Baptista da Silva Carneiro) e Maria do Carmo de Toledo (casada com João Mâncio da Silva Franco). Na década de 1870, a fazenda pertencia a Antônio Martins de Castro, casado com Theolinda Maria de Jesus Toledo. Em 1900, Maria de Souza Castro, viúva de João Octávio Mâncio de Toledo (filho de João Mâncio da Silva Franco e Maria do Carmo de Toledo) que possuía uma loja comercial no prédio onde funcionou a Casa Bento Netto, na esquina da Praça da Basílica com a Rua Tiradentes - morava na propriedade juntamente com seu novo esposo, o ex-padre Luiz Vinciprova, que possivelmente abandonou ou vendeu o imóvel após o falecimento de sua esposa, em 1909. Nas primeiras décadas do século XX, o local era uma bela chácara e estavam conservados o engenho movido à água e toda construção ao redor. Após 1940, a fazenda pode ter pertencido a Oswaldo Leite Silva. Porém, a partir das décadas de 1940 e 1950, as estruturas da propriedade passaram a se degradar e, aos poucos, o engenho foi se transformando em ruínas. No início dos anos de 1980, a Prefeitura Municipal de Iguape desapropriou a 189


área para construção de um empreendimento que não chegou a ser iniciado e, desde esse período, é responsável pela manutenção das Ruínas do Itaguá, que cercadas por uma bonita vegetação, tornaram-se um importante atrativo histórico-cultural e natural da cidade.

Conceitos e detalhes da arquitetura As ruínas da Fazenda Itaguá remetem ao período em que a produção de arroz movia a economia iguapense e toda sua estrutura, certamente, foi erguida nos moldes construtivos das igrejas e dos casarões do Centro Histórico da cidade. Apesar de partes dessa construção apresentarem traços que remetem a Casa dos Jesuítas, localizada ao lado da Igreja de São Benedito, se assemelhando às naves das antigas igrejas coloniais, com a presença de nichos que podem ter sido usados como tronos e o espaço como capela, a hipótese mais provável é que a propriedade tenha sido uma casa de morada, com uma senzala e um engenho de arroz. Para a abertura da estrada que liga o centro histórico a vários bairros e a Praia da Juréia , que fica na Barra do Ribeira, foram utilizados explosivos para dinamitar as rochas acima da Fazenda Itaguá e essa ação prejudicou bastante as estruturas existentes e muitas cederam. Da estrutura original da Fazenda Itaguá restaram partes das construções, uma ao fundo com apenas os alicerces, e outra com paredes, pilastras e aberturas, ainda conservadas, todas feitas em pedras unidas por argamassa com conchas e cascas de ostras, misturadas ao cascalho e óleo de baleia. No terreno, há um paredão de pedra onde é possível observar um aqueduto, por onde a água era conduzida e, ao cair sobre as grandes rodas de pás, movimentava o mecanismo dos pilões para o descascamento

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do arroz. É muito provável que ao lado desse paredão ficasse o engenho. A casa de moradia possui paredes muito espessas, pé direito alto como era comum na época e as aberturas dos vão todos em arco na parte superior, possui dois pavimentos e com a fachada principal voltada para o centro da cidade e o porão habitável voltado para o Mar Pequeno. A casa possui um anexo construído na lateral com sua parede voltada para os galpões do engenho e sua fachada voltada para o Mar Pequeno, sendo que essa fachada não está alinhada com a fachada do porão habitável ficando recuada. O Mar Pequeno na época era a principal via para o transporte de produtos como o arroz e outros para o engenho e também para as pessoas que habitavam a casa e os visitantes. Assim, com certeza, em frente a esta fachada ficava o porto para a ancoragem das embarcações que serviam a casa e ao engenho. Desta forma esse anexo servia como um dos acessos com uma escada para o pavimento superior da casa e também aos galpões do engenho. Outro acesso ao pavimento superior era feito por uma escadaria que ainda existe e está do lado direito do porão habitável que também possui um muro e uma abertura onde anteriormente existia o portão que restringia o acesso direto a escadaria, pois a mesma daria acesso a entrada principal da casa que ficava voltada para o Centro da cidade A fachada principal possui nove aberturas de vãos, sendo cinco portas que ainda conservam as soleiras em pedras trabalhadas em cantaria e quatro janelas. Todos os vãos desta fachada possuem grandes dimensões. A fachada do pavimento acima do porão habitável voltada para o Mar Pequeno possui dois vãos que eram preenchidos por duas janelas. A fachada voltada para o engenho de arroz possui no pavimento superior seis vãos que eram preenchidos por cinco janelas e uma porta, sendo que os dois vãos próximos a


fachada do Mar pequeno possuíam pequenas dimensões enquanto os outros possuíam dimensões como as da fachada principal. O porão habitável possui abertura de três pequenos vãos que possuem as mesmas dimensões do pavimento superior, aos quais estão alinhados dois deles. A fachada voltada para o Morro do Espia possui apenas um vão com abertura para uma porta. A parte interna acessada pela porta principal que fica na fachada voltada para o centro da cidade possui um grande salão que devia ter algumas divisões feitas com paredes internas e vãos, mas que não se pode descrever com precisão. Nas paredes pode-se ver cinco grandes nichos e buracos abertos na altura do teto do porão habitável que eram

onde ficavam as madeiras de sustentação do piso em madeira. Uma parede interna e um vão com abertura para porta ainda estão resistindo às ações do tempo e mostram um cômodo que possui três portas de acesso, sendo uma voltada para a fachada principal, outra para os fundos do engenho e outra para o Morro do Espia. No salão principal no cômodo acima do porão habitável existem duas aberturas de vãos que indicam ser para duas portas que dão acesso ao anexo e no porão habitável existe um vão aberto para porta que dá acesso ao anexo. Os galpões do engenho estão em completa ruínas e ficaram apenas partes das paredes dos fundos voltadas para o Morro do Espia e partes das muretas. Quanto à senzala é provável que ela tenha sido instalada no porão habitável.

COMO CONHECER

As Ruínas do Itaguá integra o roteiro turístico da Trilha das Ruínas do Itaguá. Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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PAREDES

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DETALHES

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FÁBRICA ÚNICA INDÚSTRIAS MATARAZZO

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Rua Euclides Roque Bastos Às margens do Valo Grande - canal que foi aberto para ligar o Rio Ribeira e o mar - é possível encontrar uma enorme construção que faz parte da memória do que, um dia, foram as Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo, em Iguape. No ano de 1921, a cidade presenciou a implantação de uma das unidades dessa Indústria voltada, principalmente, para o beneficiamento e comercialização do arroz, período em que também foi construído um engenho que empregou grande parte da mão de obra local. Além do arroz, outros produtos eram comercializados como sal, querosene, gasolina, farinha de trigo, sabão, velas, fósforos e sacaria. Foi também instalado um porto em frente ao imóvel para o escoamento das mercadorias. A empresa possuía um serviço de navegação fluvial e marítima particular, com o paquete Montenegro e o iate-mor Alayde. Porém, poucos anos após a construção dos edifícios, na década de 1930, a produção de arroz em terras iguapenses começou a perder espaço para outros mercados produtores, com significativa concorrência internacional, e não atraía mais investimentos como antes. Assim, a economia que sustentava a filial das Indústrias Matarazzo na cidade foi entrando em recessão. Apesar do investimento para sua instalação, a indústria acumulou prejuízos sucessivos, até encerrar as atividades em 1935, abandonando todas as máquinas e equipamentos no local. Os edifícios seriam ocupados novamente em 1939, pela Indústria de Pesca Única, voltada para o beneficiamento de manjuba. Essa indústria funcionou até a década de 1960, quando também entrou em falência.

Durante muitos anos, o prédio permaneceu fechado, em estado de abandono, período em que deixaram de existir os telhados do edifício principal e do edifício administrativo. As alvenarias do complexo passaram a apresentar rachaduras, inclusive na imponente chaminé, e os tijolos maciços foram afetados pelas ações do tempo. Dessa maneira, a solução encontrada foi a interdição total do imóvel por risco de desabamento. Em 2011, o Ministério Público do Estado de São Paulo moveu um processo para que o município desapropriasse o complexo de edificações, cadastrado como pertencente à Indústria de Pesca Única. Um ano depois, a propriedade foi entregue à Prefeitura que, em 2021, apresentou um projeto para transformar o prédio da antiga Fábrica Matarazzo em Centro Cívico e Administrativo de Iguape.

História das Fábricas Matarazzo Na primeira metade do século XX, as Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo (IRFM) se transformaram em um marco na história do Estado de São Paulo, destacando-se como o maior grupo empresarial da América Latina, que empregava cerca de 6% da população da Grande São Paulo e possuía a quarta maior renda bruta do Brasil. Na década de 1940, durante seu apogeu, tinha unidades em vários municípios brasileiros, com a maior concentração no estado paulista, com um total de 365 fábricas em diversos ramos como alimentos, tecidos, bebidas, transportes terrestres e marítimos, portos, ferrovias, estaleiros, metalúrgicas, agricul-

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tura, energia, bancos, imóveis e outros. Seu fundador foi o imigrante italiano Francesco Matarazzo, que desembarcou no Brasil em 1881, e em apenas nove anos da sua chegada já era notável a expansão de seus negócios, que começaram com a venda de banha de porco em uma pequena mercearia na cidade de Sorocaba. Foi o homem mais rico do país e chegou a possuir a quinta maior fortuna do mundo. Faleceu em 1937. Ao final dos anos 1980, a organização pediu concordata, sob o comando de Maria Pia Matarazzo, neta do fundador, e seguiu falência logo em seguida. Ainda detém diversos imóveis e terrenos espalhados pelo país, como também arrenda fábricas de papel, usinas de açúcar e álcool.

Conceitos e detalhes da arquitetura Não há como afirmar a data exata da construção dos edifícios da IRFM em Iguape. No entanto, é possível observar através das alvenarias uma certa cronologia construtiva. A hipótese é de que os galpões tenham sido erguidos antes, uma vez que as alvenarias, tanto internas quanto externas, estão mais desgastadas e os tijolos apresentam uma corrosão muito mais acentuada que os dos outros prédios, o que sugere que foram usados tijolos de menor qualidade e resistência. O frontão interrompido na Rua Cláudio da Silva, bem como as aberturas de características diferentes, podem ser indicativos de que os prédios tenham sido mesmo construídos em uma etapa mais recente. O Conjunto da IRFM em Iguape retrata a arquitetura de fábricas do século XX, que destacam a forma industrial inglesa, sendo uma releitura dessas fábricas. É composto por quatro edificações que contam com acessos entre si, com vãos com aberturas para portas. O conjunto foi construído em alvenaria em tijolos de barro aparentes e janelas altas e de pouca largura, que tinham a

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função de iluminar o ambiente sem permitir a visão de quem passava pelo lado de fora, na rua. No complexo de construções destaca-se ao longe, uma monumental chaminé de tijolos maciços que pode ser avistada de diversos pontos da cidade. A edificação principal voltada para a Rua Euclides Roque Bastos está em avançado estado de ruínas, não possui mais o telhado, e na parte interna paredes, janelas e portas também não existem mais. São três pavimentos, com frontões na fachada e na parede dos fundos, todos idênticos e emoldurados por cimalhas e por um ornamento retangular. Todos os vãos das portas e janelas são em arcos abatidos de tijolos. No pavimento térreo, a fachada apresenta vãos com abertura para uma porta e para uma janela e, na parede lateral são seis vãos com aberturas para quatro janelas e duas portas, que possibilitam o acesso ao pátio interno. Na outra lateral, os seis vãos dão espaço a janelas e, nos fundos, a abertura é apenas para uma porta que faz a ligação com uma pequena edificação térrea anexa à principal. A edificação menor apresenta o telhado em duas águas cobertas com telhas de barro, e uma bela janela em arco abatido, onde um ornamento em tijolos desperta a atenção. O segundo e o terceiro pavimentos possuem na fachada e na parede dos fundos vãos para duas janelas, e nas laterais, esses espaços foram preenchidos por seis janelas de cada lado. Uma outra edificação térrea atrás do anexo da principal, onde provavelmente funcionava a parte administrativa, se destaca do conjunto por estar em melhores condições. Nela o telhado em duas águas com telhas de barro tem acabamento em cimalhas e, na parede dos fundos podem ser encontrados dois vãos com aberturas retangulares, sendo uma na horizontal e outra na vertical. A fachada dessa edificação está direcionada para o pátio interno, e onde os vãos foram


preenchidos por uma porta em arco e seis janelas retas, as paredes estão rebocadas e pintadas na cor vermelha, e as janelas e a porta possuem ornamentos na cor branca. Em frente às edificações dos galpões que estão voltados para Rua Euclides Roque Bastos existem apenas ruínas de paredes em alvenaria em tijolos de barro maciços e uma casa de moradia construída recentemente na esquina da Rua São Miguel, que não integram o histórico conjunto de edificações da IRFM. Os dois extensos galpões geminados têm frontões duplos iguais na fachada e nos fundos, de planta retangular e com linhas retilíneas. Esses galpões se estendem em um longo paredão ocupando toda a lateral do lote virado para a Rua São Miguel até a Rua Cláudio da Silva, onde é possível observar as colunas salientes em tijolos de barro e os frontões com vãos preenchidos por dois óculos, por cimalhas e por um ornamento com tijolos de barro postados lado a lado, com pontas à vista que os emolduram e os embelezam. Na esquina com a Rua Cláudio da Silva, um bonito cunhal e uma coluna se destacam do conjunto da construção.

Esse paredão possui vinte colunas construídas com tijolos em barro que dividem as paredes em módulos. Na parte superior de cada módulo existem dois vãos preenchidos por óculos para passagem de ar e luz, e acima deles está um lindo ornamento com as pontas dos tijolos de barro colocados lado a lado. O acesso aos galpões pela Rua São Miguel é possível graças a dois vãos com abertura para portas. Esses galpões estão em estado avançado de degradação, as paredes internas quase em ruínas e os telhados em duas águas são cobertos por poucas telhas de barro, que ainda resistem por cima da estrutura. Na edificação que tem as paredes dos fundos voltadas para a Rua Cláudio da Silva restou um paredão com reboco bastante deteriorado, um pé direito elevado, belas cimalhas e um frontão na divisa do lote. Acompanhando o padrão construtivo, esta edificação possuía telhado em duas águas e os altos vãos, que ainda podem ser apreciados da rua, eram preenchidos por 11 janelas com vergas retas e um bonito ornamento saliente acima delas.

COMO CONHECER

A Fabrica Única integra o roteiro turístico pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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CHAMINÉ

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SOBRADO DA PIRÁ

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Avenida Jânio Quadros Em meados do século XIX, um grande sobrado ganhou forma na propriedade do comendador Luiz Álvares da Silva, situado no sopé do Morro da Espia às margens do Mar Pequeno. Naquele tempo, a cidade de Iguape começava a se expandir e ganhar outros espaços além do atual Centro Histórico. O imóvel, hoje em ruínas, está situado na esquina do Largo Comendador Luiz Álvares da Silva -que recebeu esse nome em homenagem ao seu primeiro proprietário - com a Avenida Jânio Quadros. Até por volta de 1850, o lugar era conhecido como Pátio do Ipiranga e, depois, por Largo do Riachuelo. Um pequeno córrego, que foi canalizado, percorria a chácara, seguindo da Fonte do Senhor em direção ao Mar Pequeno. Naquela época existia sobre esse riacho uma ponte que fazia a ligação da cidade com a Baixada do Ipiranga, que era uma grande várzea alagadiça onde era possível, até mesmo, atracar as canoas nos quintais das casas. Hoje parte dessa região está aterrada. E era nesse local que o comendador residia com a sua numerosa família, antes de se mudar para outro imóvel de sua propriedade, conhecido por Sobrado do Comendador (atual Paço Municipal), na então Rua Direita. Luiz Álvarez da Silva foi um dos homens mais ricos da Província de São Paulo, graças à rizicultura e ao escoamento de sua produção, facilitada pelos vapores que adentravam pelo Mar Pequeno chegando ao Porto Grande. Anotações encontradas por historiadores em seu diário pessoal relatam que o comendador tinha o hábito de admirar o vai e vem das embarcações, e de observar, do andar superior de seu sobrado, tudo que

se passava por ali. Após sua morte, em 1883, seus herdeiros venderam o imóvel ao agricultor e político Antonio Martins de Castro, que em 1912, negociou a propriedade com o coronel Jeremias Júnior, que nele instalou o Engenho Central União. Mais tarde, o edifício foi arrendado pelo capitão João Hyppolito Gatto, que investiu no Engenho Brasil. Com a morte de Jeremias Júnior, em 1929, sua esposa Francisca Martins Muniz recebeu a sua parte do prédio seis anos mais tarde. Em 1943, seu filho Pérsio Martins Muniz o adquiriu em espólio e, no mesmo ano, o vendeu para Manoel de Souza Varella, cuja família, que vive na cidade de Santos, tornou-se herdeira do imóvel após seu falecimento, em 1954. No final dos anos de 1930, o prédio foi transformado em uma indústria que beneficiava pescado, em especial manjuba, que foi denominada Indústria de Pesca Pirá. Desde então, o sobrado é conhecido por esse nome. Na década de 1950, Manoel Varella - que tinha negócios em diversos ramos de comércio - deixou a empresa nas mãos de familiares que, por desavenças e questões administrativas, não conseguiram dar continuidade ao trabalho. A indústria funcionou regularmente até a década de 1960. Em 2021, a prefeitura desapropriou o imóvel e busca recursos para o seu restauro.

Conceitos e detalhes da arquitetura Às margens do Mar Pequeno, o magnífico sobrado erguido por um dos homens mais abastados da Era do Arroz, perdeu seu telha-

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do e toda sua estrutura interna, tendo restado somente as grossas paredes em pedra e cal que contornam as quase ruínas de um passado que deixou apenas memórias. O terreno original tinha 87 metros de frente por 42,80 metros de fundo. Hoje devido a várias intervenções feitas no prédio no decorrer de muitos anos e com uso de materiais diversos e de seu estado avançado de abandono buscamos a descrição através de fotos antigas que são também bastante raras. O Sobrado da Pira é composto por duas edificações, sendo as duas com dois pavimentos. A edificação principal fica na esquina do Largo Comendador Luiz Álvares da Silva com a Avenida Jânio Quadros e possuía telhado e quatro águas com telhas de argila (conforme fotos antigas), já a outra edificação tem sua fachada na Avenida Jânio Quadros, em destaque, o formato triangular que indica que seu telhado era em duas água. O telhado do Sobrado já caiu a muitos anos e por isso é impossível descrevê-lo com clareza. As paredes internas também já não existem mais e o que se observa em muitas delas além da sua grande espessura é seu modo construtivo em pedra e cal, pois muito do reboco já caiu e elas aparecem muitas vezes ao lado de intervenções aparentes em tijolo e outros materiais mais atuais, nas janelas e portas as vergas e ombreiras também em muitas partes não tem mais o reboco e deixam aparentes seu modo construtivo com tijolos maciços de argila. Apenas um vão rasgado até o piso já com as vergas muito desgastadas e deixando tijolos aparentes mostram uma passagem para edificação construída ao lado, o que pode demonstrar que faziam parte de um único conjunto. O Sobrado foi construído acima do nível da rua, pois a sua frente passavam as águas do Mar pequeno que anos depois foi aterrado e sobre alicerces de pedras que também estão bastante desgastados e aparentes junto a calçada. A fachada do pavimento térreo da

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Avenida Jânio Quadros possui vãos preenchidos por 8 janelas e uma porta, as mesmas possuem molduras de vergas retas, ombreiras e a soleira da porta é em pedra trabalhada em cantaria. A impressão que se tem é que uma das janelas deste pavimento foi fechada com alvenaria, pois existe uma falha no alinhamento dos vãos dos dois pavimentos. Os fechamentos das portas e janelas não podem ser descritos, pois não existe nenhuma evidência de como eram. O segundo pavimento desta fachada é preenchido por 8 vãos de janelas também com vergas retas e ombreiras. No pavimento térreo da fachada do Largo Comendador Luiz Álvares da Silva os 8 vãos são preenchidos por 7 janelas e uma porta com molduras idênticas às da outra fachada. No segundo pavimento os vãos são preenchidos por 8 janelas com vergas retas e ombreiras. Nesta fachada nota-se um pequeno balanço em pedra trabalhada em cantaria entre os dois pavimentos. Os fundos do sobrado, a parte do pavimento térreo, está muito modificada e os vãos já não podem ser descritos, mas no segundo pavimento ainda pode se observar os 8 vãos que são preenchidos por aberturas de 7 janelas e uma porta. Os cunhais e colunas são em alvenaria e no topo de todas as paredes do sobrado existe muita vegetação devido a muita umidade acumulada o que pode danificar ainda mais as paredes.

Soleira em pedra trabalhada em cantaria


COMO CONHECER

O Sobrado da Pirá integra o roteiro turistico pelo Centro Histórico de Iguape : Museu a Céu Aberto. Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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ORNAMENTOS E DETALHES

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PALACETE EURICO MOUTINHO

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Praça da Basílica São poucas as referências existentes sobre este imóvel. É muito provável que sua construção original seja datada do século XIX e sua fachada tenha seguido os padrões de edifícios deste período. Os dados obtidos em documentos que citam o prédio apontam para o ano de 1914, quando o Santuário do Senhor Bom Jesus vendeu o sobrado para o capitão Eurico Moutinho que, por sua vez, o reformou por completo, alterando o estilo do imóvel, que passou a ter características do Art Nouveau, em alta na época. Dessa forma, o sobrado ficou conhecido por Palacete, levando o nome de seu proprietário. A família de Eurico Moutinho era da aristocracia, tinha ligação com a monarquia e muita influência em negócios ligados à navegação de cabotagem, comandando uma frota que percorria a costa brasileira entre o Rio de Janeiro e o Rio Grande Sul movimentando o comércio e a economia daquele período. Eurico Moutinho chegou a Iguape controlando barcos que ancoravam no Porto Grande e que levavam parte do arroz produzido nas fazendas locais. Por um tempo, o empresário viveu nesse palacete, até a atividade econômica em Iguape ter sido afetada, em parte pelo assoreamento do porto — consequência direta da abertura do Valo Grande —, e pela centralização do comércio marítimo em Santos, cidade para onde se mudou, passando a morar em outro palacete de sua família. O empresário e sua esposa Adélia não tiveram filhos. Após o falecimento de sua irmã, adotou seu sobrinho e afilhado Alcindo Trigo, que passou a exercer todos os direitos de filho legítimo, mantendo apenas o nome

de seu pai biológico. Alcindo Trigo foi casado com Maria Antonia Moraes Trigo, com quem teve dois filhos. Mesmo vivendo em Santos, Eurico Moutinho fazia questão de visitar Iguape durante as festividades em louvor ao Bom Jesus. Por alguns anos, alugou o palacete para um Juiz de Direito, que permaneceu por um tempo a serviço na Comarca. Quando o imóvel ficou novamente vazio, pediu a Manoel Moraes Netto que para lá se mudasse com sua família, o que ocorreu no final de 1955. Eurico Moutinho era amigo de Isachar de Moraes, sogro de seu filho Alcindo e pai de Manoel, que era responsável por cuidar dos negócios do empresário e de seu filho na cidade, que incluíam algumas casas alugadas e um bom número de cabeças de gado. Por quase trinta anos, Manoel viveu no palacete com sua esposa Maria Tomázia Silva Moraes e seus três filhos, e cuidou das preciosidades que compunham o acervo da propriedade, como os móveis personalizados “Eurico Moutinho”. Com a morte de Manoel Moraes, em 1982, sua família devolveu o palacete para Alcindo Trigo, já viúvo, e seus dois filhos. Muitos dos objetos de valor monetário e artístico que estavam no imóvel foram também entregues a eles, e parte da mobília foi vendida a parentes da família Moraes. O palacete ficou fechado por anos, ainda com móveis e objetos de decoração em seu interior, e na década de 1990, após o falecimento de Alcindo Trigo, seus filhos o venderam para o Grupo Lima. O palacete está sendo utilizado para fins comerciais, abrigando o Restaurante Porão, no mesmo espaço que deu nome ao

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estabelecimento, e a parte dos fundos foi ampliada para atender ao público, e conta com um grande salão, cozinha e banheiros. O piso superior do imóvel é usado como escritório de advocacia do atual proprietário.

A Era dos Palacetes Os palacetes paulistanos eram mansões imponentes e suntuosas construídas no fim do século XIX e começo do século XX. Seu surgimento está diretamente relacionado às mudanças sociais, urbanísticas e tecnológicas ocorridas no Brasil e, mais especificamente, em São Paulo, e foi um marco na troca de materiais como a taipa e a pedra para outros, vistos como mais modernos na época, como tijolos e granitos. Esses imóveis se diferenciavam não só por seu estilo de edificação, baseado nos costumes e padrões de consumo europeus, mas também por sua localização, em bairros melhor estruturados da cidade e, ainda, por abrigarem famílias de maior poder aquisitivo. Os palacetes passaram a deter características peculiares, com uma mistura de estilos, como o francês e o inglês, logo adaptados para atender às necessidades das famílias brasileiras. Tinham telhados recortados, eram cheios de ornamentos e peças de decoração, e incluíam pés-direitos altos. No térreo, ficavam os cômodos relacionados à convivência, sociabilidade e serviços, e o pavimento superior era reservado para espaços íntimos e de repouso. O porão funcionava como área de depósito, adega ou até cozinha e era bastante utilizado para eliminar a umidade no pavimento superior. Logo na entrada, os chamados vestíbulos funcionavam como um saguão de transição para os outros cômodos do palacete, onde os visitantes deixavam seus casacos e chapéus pendurados em cabides e mancebos. O piso costumava ser de madeira e as paredes, na maior parte das vezes, eram revestidas de 232

tinta, lambris de madeira ou papéis de parede. Dessa “porta de entrada” era possível acessar todos os demais ambientes sociais da casa, como a sala de visitas, a sala de jantar, o gabinete - este que era espaço dedicado apenas para os homens, local para estudo, leituras e reuniões de negócios. As salas de convivência eram bem cuidadas e decoradas, tinham móveis franceses, ingleses e peças de arte vindas do exterior. Ficavam no centro do andar térreo, numa região privilegiada e nobre da casa. Nesse espaço, os ambientes eram desmembrados em salas de visitas, salas de música, salas de jogos, salas de estudos, biblioteca e sala das senhoras. As salas de visitas eram, em sua maioria, decoradas por papéis de parede com estampas florais, pinturas a óleo e muitos espelhos. No teto, era comum encontrar sancas e lustres e todo espaço era preenchido por móveis, tapetes e peças de decoração em bronze, prata, porcelana e cristal. Muitas dessas salas tinham um piano como símbolo de status que indicava a cultura musical da família. Com uma mobília mais simples, sem ornamentos e com menos objetos decorativos, as salas de jantar eram mais amplas que os outros cômodos e ficava localizada próxima à cozinha, instalada no porão ou nos fundos do pavimento térreo, perto do quintal. As cozinhas deveriam seguir as regras sanitárias da época, com ambiente arejado e um pé-direito alto, de no mínimo de 2,5 metros. A copa funcionava como um apoio para a cozinha. No centro do cômodo, era comum encontrar uma grande mesa de madeira, onde eram preparados os alimentos. As paredes também seguiam o mesmo padrão de altura do restante da casa, mas eram revestidas com azulejos até a metade. Os pisos costumavam ser de cerâmica, assoalho ou ladrilhos hidráulicos. No andar superior ficavam os quartos


e os banheiros, ambos ambientes de acesso exclusivo dos proprietários da casa. Os quartos quase não dispunham de móveis, para evitar o acúmulo de poeira e as janelas garantiam a entrada de luz e de ventilação. O piso era de assoalho de madeira na maior parte das construções, e as paredes pintadas à tinta ou ornamentadas com papel decorativo. Nos banheiros, os pisos e as paredes eram revestidos por ladrilhos hidráulicos, muitas vezes com padrões florais e geométricos, e se ficassem próximos ao quarto eram sinônimo de conforto e de modernidade, uma vez que em outros tipos de construção, os banheiros estavam localizados do lado de fora.

Conceitos e detalhes da arquitetura Há grandes indícios de que este edifício possuía, originalmente, cinco portas na fachada principal em estilo colonial português. Após a reforma transformá-lo em Palacete, com características do estilo arquitetônico Art Nouveau, seu interior recebeu decoração com objetos importados, como cristaleiras, e as paredes foram recobertas por tecidos franceses e por ricas pinturas que se misturavam às cortinas de veludo das janelas frontais. Alguns registros indicam que o palacete tinha uma biblioteca com títulos valiosos, uma sala de música, e que parte das pinturas que embelezavam as paredes eram do artista Ernesto Thomazini, o mesmo que decorou o teto da nave principal da Basílica. O palacete construído no limite do lote, em ambos os lados, ostenta em sua fachada vários ornamentos e peças de decoração trabalhados em argamassa. As fachadas são compostas no sentido vertical, por embasamento através de porão alto habitável, por um pavimento com pés-direitos altos e por arremate feito pelas platibandas. No sentido horizontal são divididas em três módulos arrematados por belos frontões. Suas pare-

des são na cor salmão, e o branco destaca as molduras e os ornamentos, enquanto o cinza colore as porta-janelas, janelas e todo o gradil. Os telhados são formados por telhas de argila do tipo capa e canal, sendo o módulo principal em uma água e os outros dois módulos laterais em três águas. Um portão em ferro, que imita os desenhos do gradil presente nos vãos do porão, se abre para uma escadaria de lanço único, com degraus em mármore que se estendem ao portal de entrada do palacete, que possui um alpendre com guarda-corpo em ferro, piso em mármore iguais ao dos degraus, e vãos preenchidos por três altas portas. Uma das portas de acesso ao salão principal se destaca entre duas janelas que possuem características idênticas: são estreitas, altas, e em duas folhas com caixilhos envidraçados. As paredes laterais são base para outras duas portas que levam aos salões com vista para a Praça da Basílica. Estas também são idênticas, com bandeira fixa em caixilhos envidraçados, e duas folhas em madeira preenchidas na parte superior por caixilhos com vidros e um gradil de proteção, sendo a parte inferior em madeira almofadada. Situado acima do alpendre, em todo seu entorno, está uma platibanda estreita com o coroamento feito em argamassa por cimalha, e por um pequeno e bonito frontão preenchido por elementos em argila e ornado por rococós e flores em argamassa. Há, também, uma pequena coluna ao centro, adornada por uma grande flor em relevo pintada na cor verde. Ainda neste frontão é possível observar que havia um pináculo em cima da coluna, que está quebrado na sua base. A fachada dos dois salões são iguais e se destacam por sua beleza. Os vãos são preenchidos por uma porta-janela no centro e duas janelas de cada lado. As porta-janelas possuem bandeiras fixas, com caixilhos preenchidos por vidros coloridos em azul, verde e vermelho. A parte externa dessas

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porta-janelas possuem duas folhas em madeira, sendo uma das partes em caixilhos envidraçados com os pinázios superiores e inferiores, ambos na cor azul e, no restante, com vidro incolor e, outra parte das porta-janelas têm almofadas em madeira; ambas são encimadas por vergas em arco pleno e ombreiras até a altura das sacadas em balanço, entalada com guarda-corpo em ferro. Essas porta-janelas são adornadas com diversos elementos decorativos em argamassa. As janelas dos salões são altas e estreitas, com bandeiras fixas preenchidas por caixilhos com vidros nas cores vermelho e verde, onde o verde fica ao centro em um pinázio menor; as duas folhas externas têm caixilhos envidraçados e pinázios com vidros na cor azul, tanto na parte superior como na inferior, e o restante dos pinázios com vidros incolores, como os das porta-janelas. As janelas possuem molduras com vergas retas, ombreiras e peitoris. Um grande elemento decorativo em argamassa se destaca, centralizado logo abaixo do peitoril da janela, e um outro, em formato de uma grande flor, pode ser observado acima das vergas. O fechamento interno das porta-janelas e das janelas é em duas folhas de escuro em madeira pintadas na cor cinza. No alto das vergas são encontradas cornijas que acompanham as linhas retas das janelas e as curvas das porta-janelas, e percorrem toda extensão das paredes dos dois salões. A platibanda acompanha também as linhas retas e curvas, assim como as cimalhas. Encimando, um lindo frontão semicircular preenchido por elementos em argila com figuras geométricas, ganha evidência pela pintura em branco, e é emoldurado por um arco com um elemento em alto-relevo nas extremidades da fachada. Acima do arco, belos elementos decorativos em argamassa são realçados e, ao centro, em relevo, está uma pequena coluna com ornato logo abaixo do arco. No alto, a figura do rosto de um anjo barroco pintada na cor salmão ressalta a beleza

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da fachada, e no topo da coluna, é possível observar um pináculo que se encontra quebrado na base. Nas duas laterais das paredes dos salões, desde o frontão até as vergas retas das janelas, uma coluna em relevo com elementos decorativos em argamassa pode ser observada. No topo, uma palma pintada na cor verde se sobressai, e na base, revela-se a figura de um leão, dentre outras imagens. Um friso horizontal na cor branca, bem abaixo da sacada, emoldura e divide o pavimento superior e o porão habitável. Neste palacete, o porão possui seis vãos que são alinhados aos do pavimento superior, sendo em dois formatos, mas todos em arco na parte superior e na parte inferior, sendo diferenciados apenas pela largura. Ao centro, abaixo das sacadas, um vão com rasgo maior se destaca em ambos os lados. Ele está emoldurado por duas representações de colunas em alto-relevo que sustentam a sacada em balanço. Outros quatro vãos, com aberturas iguais e menores, se repetem nas paredes do porão. São em madeira, com caixilhos envidraçados, vedados com grades de ferro decoradas e, na parte interna, as madeiras de escuro garantem o seu fechamento.


Ornamento da fachada

COMO CONHECER

O Palacete Eurico Moutinho integra os roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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PORÃO HABITÁVEL

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ORNAMENTOS

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SANTUÁRIO DO SENHOR BOM JESUS DE IGUAPE

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Praça da Basílica O Santuário do Senhor Bom Jesus foi construído entre os séculos XVIII e XIX, com mão de obra de escravos e de poucos brancos voluntários da comunidade, ligados à Irmandade do Bom Jesus. Foram inúmeras as pessoas que empregaram sua força para transportar e elevar as pedras que constituem as paredes e as torres desse grandioso edifício. As pedras de granito eram retiradas, principalmente, do Morro do Espia e do Morro dos Engenhos, no entorno da cidade, e chegavam ao núcleo urbano pelo Porto Grande, trazidas em barcos que ali aportavam. Não há registro que comprove o ano exato do início dessa obra, porém, é muito provável que a construção da Igreja tenha começado em 1787. Durante o tempo em que as largas paredes foram sendo levantadas, ocorreram paralisações, algumas vezes por falta de recursos financeiros, outras por ausência de profissionais especializados nesse tipo de construção. Não havia um especialista em cantaria, por exemplo, e apenas em 1822, há indícios da chegada de um mestre-canteiro na cidade, e que todo o trabalho de cantaria na igreja fora realizado pelo mestre-canteiro José dos Reis, vindo do Rio de Janeiro, e por Agostinho Moreira Martins. O ano de 1856, marca finalmente a inauguração deste templo, ainda inacabado. Uma das torres, a do lado do mar, dedicada ao Bom Jesus, só foi concluída vinte anos mais tarde, em 1876 e, a outra, do lado da terra, dedicada à Nossa Senhora das Neves, foi inaugurada alguns anos depois. Na ocasião, as imagens dos santos, inclusive aqueles de devoção dos negros (Nossa Senhora do Rosário e São Benedito) foram transferidos da Matriz de Nossa Senhora das Neves para

a nova igreja. Após essa mudança, a imagem do Bom Jesus, encontrada na Praia do Una, em 1647, passou a ocupar o altar-mor da igreja recém-inaugurada. Além dessas importantes imagens sacras, na igreja podem ser também encontrados o acervo do Museu de Arte Sacra, com diversos objetos e imagens de santos, e a Sala dos Milagres, onde estão as oferendas e objetos deixados pelos fiéis em gratidão às graças alcançadas, além de algumas das relíquias usadas nos ritos da igreja. Em 1956, ano em que se celebrou o centenário da inauguração da igreja do Bom Jesus, o templo foi elevado à categoria de Basílica. Durante o século XX e início do século XXI, a Basílica passou por outras pequenas reformas, como a do telhado, da parte elétrica e a pintura de toda a parte interna do templo. Essas reformas contaram com o apoio da comunidade, através de arrecadações de recursos em eventos e em outras ações realizadas.

A imagem e a romaria de fé Em outubro de 1647, dois índios que serviam ao morador Francisco de Mesquita, dono de algumas terras na região da Jureia, seguiam em direção à Vila de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém para buscar mercadorias que ele havia encomendado. Ao longo do caminho, ao passarem pela Praia do Una, perceberam que na linha entre o mar e a areia, onde as ondas se quebravam, havia algo se movimentando junto às águas. Os nativos se aproximaram e constataram ser a imagem de um santo, semelhante àqueles que já haviam visto nas igrejas locais. Assim, levantaram a imagem e a levaram para 239


um lugar seguro, um pouco mais afastado da praia, onde a deixaram, em pé, sobre o solo, enterrando suas extremidades na areia. A imagem ficara com sua face voltada para o nascente, na direção da Vila de Itanhaém, para onde seguiram. Um pouco mais a frente, bem perto ao local onde acharam o santo, havia uma caixa comprida de madeira, que provavelmente estivera protegendo a imagem quando esta caiu ao mar. Dentro da caixa encontraram cera do reino e uma botija de azeite doce. Juntaram os objetos próximos ao santo e seguiram viagem, no cumprimento da tarefa que lhes fora atribuída pelo patrão. Em Itanhaém, antes de retornar com as mercadorias, os índios contaram o acontecido a diversas pessoas. Na volta, ao passarem pela Praia do Una, no exato local onde haviam deixado a imagem do santo, observaram que ela estava com sua face voltada para o lado oposto, na direção da Vila de Iguape. Olharam ao redor e não identificaram nenhum vestígio de pegadas humanas ou de animais que a pudessem ter tocado. A notícia sobre o achado do santo se espalhou por toda Vila de Iguape e pela Vila de Itanhaém. Um dos moradores conhecido por Jorge Serrano, que vivia nas proximidades do Morro da Jureia, decidiu ir ao lugar para verificar se a história era mesmo verdadeira. Reuniu sua esposa Ana de Góes, seu filho também chamado Jorge Serrano e sua cunhada Cecília de Góes, e seguiram em direção à Praia do Una, onde encontraram a imagem conforme a descrição dos índios. A família segurou o santo e o colocou em uma rede de pesca, trilhando o caminho em direção a Vila de Iguape. Quando chegaram ao Morro da Jureia pararam para descansar e foram surpreendidos por um grupo que representava a Vila de Itanhaém, e que comunicou à família que a imagem deveria ir para aquele lugar, pois lá era a sede da Capitania. Seguraram a rede de

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pesca e quando tentaram conduzir a imagem de volta, ela ficou exageradamente pesada, o que impossibilitou que a carregassem até Itanhaém. Em seguida, a família de Jorge Serrano pegou a rede que sustentava a imagem do santo, e ela reassumiu seu peso original. Dessa forma, foi encaminhada até a Vila de Iguape, onde foi entronizada na Igreja Matriz, dedicada à padroeira Nossa Senhora das Neves, no dia 2 de novembro de 1647. Muitas são as hipóteses sobre a origem da imagem do Bom Jesus. Alguns documentos com informações registradas pela oralidade, indicam que a imagem possa ter sido esculpida em uma oficina da cidade do Porto, em Portugal, e encomendada por um rico senhor de engenho de Pernambuco, e que durante a viagem pela costa brasileira, a embarcação pode ter sido abordada por piratas holandeses e, por isso, a tripulação dessa nau jogou a imagem ao mar para que não fosse destruída. A imagem original do Senhor Bom Jesus de Iguape saiu de seu altar em procissão pelas ruas ao redor da Basílica em apenas seis ocasiões especiais, nos anos de: 1856, 1906, 1926, 1933, 1947 e 1956. A devoção ao santo atravessa gerações. Por quase quatro séculos, a festa em louvor ao Bom Jesus é realizada anualmente no período entre os dias 28 de julho e 6 de agosto, quando a cidade recebe milhares de romeiros originários de diversos lugares, em especial do interior do estado de São Paulo e da Região Sul do país.

Conceitos e detalhes da arquitetura O esplendoroso templo católico foi construído em terreno elevado, anexo a duas praças, tendo a Praça da Basílica à sua frente e, nos fundos, a Praça da Liberdade. Altas calçadas contornam o amplo adro, e escadarias em pedra trabalhadas em cantaria são encontradas na fachada principal e nas laterais e per-


mitem o acesso ao interior do Santuário do Bom Jesus de Iguape. Em frente às escadarias existem pilastras, também esculpidas em pedra trabalhada em cantaria, que estão instaladas em pares, sendo um par em cada lateral e outro no centro da escadaria da fachada principal. A igreja foi construída em alvenaria de pedra, argamassa e óleo de baleia, como a maior parte das casas e sobrados encontrados ao seu redor, erguidos no mesmo período ou em décadas anteriores. A fachada principal do Santuário está dividida em três tramos verticais: o central e dois outros onde estão as torres sineiras. Os tramos laterais foram construídos com recuo ao tramo central e todos estão divididos por robustas colunas e cunhais em pedra. As molduras dos vãos da fachada são em pedra trabalhadas em cantaria, as paredes foram ornadas com grandes retângulos em alto-relevo em todos os tramos e estão recobertas por ladrilhos brancos, assim como as cimalhas. O frontispício da fachada principal possui uma vigorosa cimalha e o coroamento é feito por um frontão. Na realidade existem dois frontões, sendo que o mais novo se encontra aparente para os passantes e, o outro, que é o original, está escondido atrás do atual. O frontão original é ondulado e se iniciava logo acima da cimalha, com um óculo central e encimado por uma cruz. O frontão atual, que tem mais de cem anos, apresenta acima da cimalha uma platibanda com balaústres dividida ao meio por um pequeno tramo, com um relógio redondo ao centro, emoldurado por vergas em arco pleno. No topo, um frontão triangular com belas cimalhas e com elementos decorativos dentilhados no tímpano e abaixo da base do frontão. E também no alto, um acrotério encimado por uma cruz de metal. O telhado da nave principal é dividido em duas águas e as naves laterais em uma

água, todos com telhas de argila. As portas e janelas externas estão pintadas na cor verde e os gradis na cor cinza. Na fachada principal, a portada se destaca pela sua beleza nas molduras e ornamentos acima da sobreverga, também em pedra trabalhada em cantaria. A porta é em duas folhas de escuro e almofadadas. O pavimento superior possui aberturas de três vãos rasgados até as soleiras que estão preenchidos pelas três portas-janelas do coro. As portas-janelas são em duas folhas, sendo a parte superior com moldura de madeira e no centro caixilhos com vidros, que na parte interna possuem um fechamento de escuro em madeira, e na inferior são almofadadas. À frente, está uma varanda entalada com gradil em ferro e peitoril em madeira. A porta-janela central se destaca por possuir um ornamento em relevo centralizado na sobreverga e por ter no gradil em ferro com as siglas “SBJ”. Nas outras sacadas, a imagem de um cálice é destaque no centro dos gradis laterais. As duas torres têm proporções parecidas, mas foram construídas em épocas diferentes por arquitetos distintos. Estão divididas em quatro tramos horizontais com as mesmas características . No primeiro tramo se destacam os ornamentos retangulares; no segundo, um vão preenchido por óculo redondo envidraçado encimado por uma cimalha; no terceiro está o campanário que tem as aberturas das sineiras em arco e, no quarto tramo, está a linda torre com abertura de quatro vãos preenchidos por janelas envidraçadas com vergas em arco gótico, ombreiras e peitoris e uma varanda corrida em balanço com gradil de ferro e com pináculos nos quatro cantos. Cobrindo as torres, há cúpulas recurvadas, quadripartidas, emolduradas por ladrilhos azuis, onde descansa uma cruz em metal em cada uma delas. No pavimento térreo do Santuário, as fachadas laterais têm as mesmas características da fachada principal, com cunhais, barrados, soleiras, escadas em frente às portas e

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molduras dos vãos em pedra trabalhadas em cantaria. Todas as janelas e portas receberam a cor verde, com a moldura dos caixilhos pintadas na cor branca, o que proporciona um grande destaque diante da grandiosidade do templo. As fachadas laterais foram edificadas entre a coluna das torres sineiras, que também são em pedra trabalhada em cantaria, e as colunas voltadas para a Praça da Liberdade, que tem seu acabamento em argamassa. No pavimento térreo, oito vãos são preenchidos por duas portas e seis janelas. As janelas se abrem para dentro das naves e são em duas folhas, sendo a parte superior com moldura de madeira e, no centro, têm caixilhos com vidros, que na parte interna possuem um fechamento em madeira, e a parte inferior das folhas das janelas são almofadadas. As portas próximas às torres sineiras neste pavimento se abrem para dentro e são em duas folhas de escuro almofadadas. As que estão próximas à fachada da Praça da Liberdade têm as mesmas características das janelas. Todas as duas fachadas laterais possuem um óculo redondo envidraçado no final da parede próximo à praça. Um friso marca a divisão entre os dois pavimentos e percorre toda a parede entre o topo das colunas. Nas fachadas laterais do pavimento superior, oito vãos são rasgados até as soleiras, alinhados aos do térreo, e são preenchidos por portas-janelas em duas folhas, sendo a parte superior com moldura de madeira e, no centro, caixilhos com vidros, que na parte interna possuem um fechamento de escuro em madeira e a parte inferior são almofadadas. À frente, uma varanda com balanço em pedra trabalhada em cantaria e sacada entalada com gradil em ferro e peitoril em madeira. As molduras dos vãos são em argamassa e possuem vergas abatidas, sobrevergas, ombreiras e soleiras em pedra trabalhada em cantaria. Como nas fachadas do térreo, acima das sobrevergas, um friso percorre toda

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a parede, e o acabamento do telhado é feito por beirais ondulados em argamassa. Nos fundos da igreja, na fachada voltada para a Praça da Liberdade há uma edificação mais recente, anexa ao pavimento térreo, onde foi instalado o velário. Nas duas extremidades desse pavimento os vãos são preenchidos por portas, em folha única de escuro em madeira, e possuem molduras em vergas, sobrevergas, ombreiras e soleiras em pedra trabalhada em cantaria. Essas portas possibilitam o acesso à escadaria para a visitação a imagem do Bom Jesus de Iguape. No pavimento superior desta fachada há um vão em destaque preenchido por um grande vitrô de ferro, envidraçado, retangular, do tipo basculante, que possui molduras de verga em arco abatido, sobreverga, ombreira e peitoril. Este vitrô fica atrás da imagem do Bom Jesus. Nas duas laterais são encontrados dois vãos preenchidos por dois pequenos vitrôs retangulares, que possuem as mesmas molduras do vitrô maior. Alinhados abaixo, no pavimento térreo, estão dois vãos com as mesmas características dos do pavimento superior. Entre esses vãos, bem ao centro, está um preenchido por um óculo redondo envidraçado. Nesta fachada, o acabamento do telhado também é garantido por beirais ondulados em argamassa. Na parte interna do Santuário há um pequeno átrio, com paredes construídas em madeira até a altura do coro, ornamentadas por cimalhas, seis colunas em estilo dórico e outros elementos decorativos que estão pintados na cor bege, com as molduras e detalhes em dourado. As aberturas dos vãos destas paredes estão entre duas colunas e são preenchidas por três portas, sendo que a principal possui maior dimensão e se abre para a nave central e, as outras duas para as entradas laterais da nave. Todas as portas possuem bandeira fixa em arco pleno com caixilhos envidraçados. A porta central é em duas folhas em madeira, e na parte su-


perior possui seis caixilhos envidraçados e a outra metade é almofadada. Essa porta se abre para os bancos em madeira enfileirados em duas colunas com um corredor central e dois laterais. Nas portas que se abrem para as laterais, logo abaixo da bandeira fixa, há uma moldura em madeira com dois caixilhos envidraçados que estão fixados nas ombreiras. O piso é em ladrilho hidráulico. Na parede da lateral direita do átrio se destaca um nicho com gradil em madeira torneada com as imagens de Nossa Senhora Aparecida, ao centro e, nas laterais, as figuras de Santa Terezinha e Santo Antônio. Do outro lado, na lateral esquerda do átrio, outro nicho abriga a imagem de Jesus Ressuscitado, ao centro, e nas laterais, a imagem de dois padres e a inscrição “Preciosa é a vida dada pela missão”, pintada acima da imagem de Jesus Ressuscitado. No início dos corredores, que ficam paralelos ao corredor central, existem dois vãos em arco que dão acesso às naves laterais e são preenchidos por portas de folha única em madeira. O coro situado acima do átrio possui um parapeito em gradil de ferro, com adornos abaixo e nas laterais em estruturas de madeira. Na parede do coro, acima das portas-janelas, está um lindo afresco em arco que preenche toda a parede com a representação de uma cena de Jesus crucificado. Nos corredores laterais da nave principal, em toda a sua extensão, três nichos com tampo de vidro, de cada lado, são preenchidos por imagens de santos ricamente adornados por colunas nas laterais, frontispício com frontão triangular e um avanço à frente onde são decoradas por castiçais e arranjos com flores. No sentido da entrada da nave para o altar-mor. do lado direito, estão as imagens de São Francisco de Paula, Senhor dos Passos e Nossa Senhora da Assunção e, do lado esquerdo, as imagens de Nossa Senhora do Carmo, Sagrado Coração de Jesus e São José. Ainda nas paredes laterais, são observados

pequenos quadros com moldura em madeira, com adornos em dourado e imagens em alto-relevo que estão intercalados nas duas laterais e retratam os passos da Via Sacra. Acima deles, no segundo pavimento, os três vãos de cada lado são preenchidos com portas-janelas, com molduras em madeira, duas folhas de escuro em madeira, sendo as molduras e as portas pintadas na cor bege. Possuem varanda entalada com a bacia em ferro pintada na cor cinza. Entre as portas-janelas se destacam luminárias de parede fixadas sobre uma pintura. Acima delas um largo e bonito friso e uma cimalha. No espaço entre a cimalha e a abóbada destacam-se quatro vãos de cada lado que são preenchidos por vitrôs de ferro envidraçados. Lindos afrescos ornamentam o teto de todo Santuário e perpetuam um trabalho do artista Ernesto Thomazini com a colaboração de seu irmão, João Thomazini. Os artistas foram contratados pelo bispado de Santos, e podem ter executado essas pinturas em dois momentos distintos, em 1924 e 1926. A divisão para o altar-mor é possível por duas colunas ornamentadas com pinturas e um lindo arco que possui um belo elemento decorativo na parte central. Nas laterais próximas ao altar-mor, dois vãos com abertura superior em arcos dão acesso às naves laterais. Um degrau leva a um guarda-corpo em mármore com um exuberante portão em duas folhas de chapa na cor dourada com a figura de pelicano eucarístico em alto-relevo, no centro, e um barrado na parte superior e inferior com elementos decorativos com galhos, folhas e flores, que se abrem para a escadaria com degraus em mármore. No centro do altar há uma mesa de madeira destinada às funções religiosas, e cadeiras nas laterais e atrás da mesa, além de dois púlpitos, um do lado direito da mesa, e um na frente, na lateral esquerda. Alinhadas à mesa, no final das paredes laterais estão dois vãos preenchidos por duas portas com

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folha única de escuro em madeira pintadas de bege, que dão acesso para a sacristia, do lado esquerdo, e para a Capela do Santíssimo Sacramento, do lado direito. O retábulo ocupa toda a parede e nas laterais, em destaque, quatro colunas jônicas que são finalizadas próximas à imagem do Senhor Bom Jesus de Iguape. Têm as bases ornamentadas com elementos decorativos representados por flores e, entre as colunas, também são encontrados grandes elementos decorativos em alto-relevo, todos pintados na cor dourada, assim como nas suas molduras e nas cimalhas. À frente das colunas, em dois pedestais de mármore, estão as esculturas de dois grandes anjos tocando corneta, sendo um de cada lado do altar. A imagem da padroeira Nossa Senhora das Neves está em um nicho com frontispício em arco muito bem adornado e iluminado acima do sacrário, e atrás dela, uma estrutura em formato de escada de grandes medidas, onde ficam arranjos com muitas flores e grandes velas que levam a uma redoma de vidro com uma cúpula dourada e pinázios nas quatro pontas onde está a imagem do Senhor Bom Jesus, e de dois anjos, um de cada lado. Esse grande nicho onde se encontra a imagem do santo em destaque no topo, é adornado por uma renda entalhada em madeira pintada na cor dourada e, também, por uma enorme cortina vermelha que fica, na maior parte do tempo, presa nas laterais. O frontispício do altar-mor possui arcos adornados abaixo e acima do frontão triangular que destaca no topo uma pomba do Divino Espírito Santo, assim como adornos em alto-relevo de galhos com folhas e no topo das colunas centrais dois grandes vasos como elemento decorativo. As paredes laterais do altar-mor receberam seis afrescos sobre azulejos que retratam a vida e morte de Jesus, e estão até a altura de meia parede, sendo que do lado direito existem três cenas pintadas que são: Jesus no Monte das Oliveiras, a crucificação

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de Jesus e a última a Ressurreição de Jesus e, do lado esquerdo estão outras três cenas: Jesus no templo entre os doutores da lei, Batismo de Jesus, e Transfiguração de Jesus. Há, ainda, outros dois quadros pintados na parte superior da parede, bem próximos ao altar-mor, sendo um em cada lateral que também retratam duas cenas da vida de Jesus que são: Parabola dos passaros elirios do campo e Jesus no deserto; quarenta dias de tentação. No segundo pavimento, acima do altar, nas duas laterais, dois vãos são preenchidos por portas-janelas com duas folhas almofadadas pintadas na cor bege que possuem à sua frente uma varanda ondulada com pequeno balanço com gradil em ferro que recebe a cor cinza. Acima, um barrado ornamentado por uma linda pintura que tem o acabamento com cimalhas. A nave da torre sineira voltada para o Mar Pequeno possui um acesso por uma porta a uma escada do tipo caracol em madeira que leva ao coro, à torre e ao “Museu de Arte Sacra” que fica no segundo pavimento desta nave. Na outra extremidade está a sacristia onde um grande crucifixo esculpido em madeira preenche toda a parede que leva à escada de três lanços em direção à redoma onde está a imagem do Bom Jesus de Iguape, de onde é possível observar toda a nave principal. Os banheiros e a sala de som também ficam nesta nave. Na nave da torre sineira voltada para o Centro Histórico, há um acesso a outra escada que leva ao segundo pavimento onde está a “Sala dos Milagres” que é muito visitada durante o ano todo. Na outra extremidade, na lateral do altar-mor, está a linda Capela do Santíssimo Sacramento que possui um belo portal em gradil com símbolos da Eucaristia, bancos em madeira enfileirados destinados à momentos de orações e um guarda-corpo em mármore com um portão em ferro. Um pequeno altar construído em mármore com


um sacrário no meio e, nas laterais, as esculturas de dois anjos, um em cada lado. Atrás há um grande nicho em arco com duas bonitas colunas pintadas na cor bege e adornadas em dourado, sendo uma de cada lado e, estampada na parede do nicho, a pintura de um cálice e uma hóstia consagrada, com a inscrição ”ECCE PANIS ANGELORVM”, logo acima do arco.

Fachada do Santuário do Senhor Bom Jesus de Iguape

COMO CONHECER

O Santuário do Senhor Bom Jesus de Iguape integra três dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto, Sensorial e das Igrejas Históricas. Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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CANTARIA EM PEDRA

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PORTAS, JANELAS, ÓCULOS E OUTROS

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TORRES SINEIRAS

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FRONTÃO

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GRADIS

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ORNAMENTOS E DETALHES EXTERNOS

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BEIRAIS

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DETALHES DA ENTRADA

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ALTAR -MOR

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FOTOS INTERNAS

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AFRESCOS

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SALA DOS MILAGRES

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ESCADAS

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CAPELA DE SÃO MIGUEL

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Rua São Miguel, Cemitério São Miguel As obras da Capela de São Miguel Arcanjo foram iniciadas em 1852, no Cemitério de Iguape, localizado na região central da cidade, ao lado do que restou do conjunto de edifícios das Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo, a poucos metros do Valo Grande. Até meados do século XIX, os sepultamentos de moradores das cidades eram realizados dentro das igrejas ou nos terrenos próximos a ela e, em Iguape não era diferente. Em 1850, uma Lei do governo do estado proibiu essa prática, e os sepultamentos passaram a ser em cemitérios municipais. Por falta de recurso financeiro, a construção dessa Capela levou algum tempo até ser totalmente concluída. Logo após a demolição da antiga Matriz de Nossa Senhora das Neves, em 1858, em consequência de seu estado de ruinas, parte desse material foi utilizado na construção da capela, como o pórtico principal em pedra e a porta em madeira da entrada, que pertenceram àquela igreja. Em 1877, a Câmara Municipal destinou verba para essa obra, ocasião em que o forro recebeu reparo e a sacristia foi construída. Por muitos anos, a capela e o próprio cemitério permaneceram sem nenhum tipo de intervenção relevante, passando apenas por manutenções básicas que não garantiram a preservação do lugar, e nem mesmo a sua segurança. Na década de 1960, a capela recebeu uma pequena reforma. Por volta de 1982, a imagem original de São Miguel Arcanjo foi roubada, e no início da primeira década do século XXI, o sino também desapareceu do cemitério. Esse sino pertenceu à Matriz de Nossa Senhora das Neves e, em dias de sepultamento anunciava, com

curtas e distanciadas badaladas, o cortejo fúnebre assim que o mesmo se aproximava. Não há registros sobre o destino de nenhum desses objetos. Em fevereiro de 2018, a Prefeitura de Iguape iniciou novas obras na Capela São Miguel Arcanjo, com recursos próprios. Durante sete meses, a equipe responsável restaurou o templo e encontrou janelas ocultas atrás do altar, que viraram nicho para imagens e detalhes, como o rodameio (faixa de proteção ao longo das bases das paredes), que estava coberto por tinta, possivelmente um resultado da última reforma realizada há seis décadas A construção original foi preservada, o altar em mármore que remete à década de 1960, foi restaurado, juntamente com as imagens de dentro da capela; toda parte elétrica foi refeita, e os lustres suspensos foram preservados; as grossas paredes de pedra receberam argamassa com cal, e nos fundos, a parte externa acomodou o velário, que foi completamente recuperado. Durante a entrega da Capela de São Miguel Arcanjo à comunidade, no dia 26 de setembro de 2018, o templo restaurado foi consagrado em uma cerimônia solene com a aspersão da água benta, unções do altar e das paredes do edifício, a queima de incenso e, por fim, a celebração de uma missa. Conceitos e detalhes da arquitetura O pórtico de entrada ao cemitério de Iguape se destaca na Rua São Miguel por sua beleza, construído em estilo neoclássico , com duas robustas colunas , um portão com ban-

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deira fixa em madeira com caixilho sem os vidros , com duas folhas gradeadas em ferro com lanças nas pontas que se abrem para o cemitério. Sua moldura é em verga de arco abatido e ombreiras , acima da verga uma bela cimalha e um frontão triangular emoldurado por cornijas que tem no topo uma grande uma cruz em pedra trabalhada em cantaria. No muro encostado às colunas dos dois lados aparecem ornamentos em curvas e contracurvas em argamassa que remetem ao rococó que emolduram e embelezam ainda mais o pórtico. O muro e o pórtico estão pintados na cor branca , e as molduras do frontão, barrado e os ornamentos no muro estão pintados na cor bege. Passando o pórtico aparece no início do calçamento que leva à capela a inscrição 1960. A Capela foi construída em terreno elevado em meio aos túmulos e centralizada ao pórtico de entrada, seu acesso é feito por uma pequena escadaria e um adro. A capela possui apenas com um tramo definido entre os cunhais e colunas em argamassa, nas paredes grandes retângulos em alto relevo com um ornamento nos dois cantos superiores dos retângulos abaixo do friso. A fachada principal possui um único vão que foi preenchido pela histórica porta que foi da primeira Igreja de Nossa Senhora das Neves na vila , que é em duas folhas de madeira almofadada e bandeira fixa com caixilhos envidraçados, a porta recebe verga em arco abatido com um ornamento de chaves em alto relevo no meio, soleira e ombreiras em pedra trabalhada em cantaria. As ombreiras são um destaque à parte, pois são esculpidas desde a base até o topo, sendo dois losangos esculpidos na base e um no topo. Acima das vergas um friso corre a fachada, coroada por um frontão triangular delimitado por cimalhas, com um óculo redondo preenchido por vidros coloridos nas cores:azul, amarelo e vermelho já próximo a cimalha e no topo do frontão um ornamento igual ao da parede abaixo. No

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topo do frontão um cruz em metal.O telhado é em duas águas com telhas de argila. Nas fachadas laterais os vão são preenchidos por uma porta e um vitrô do tipo basculante em madeira envidraçada , sendo a porta com duas folhas almofadadas que possui bandeira fixa retangular com caixilhos envidraçados essas duas portas laterais possuem uma pequena rampa que possibilita a acessibilidade ao interior da capela. As molduras das portas e vitrôs são em vergas em arco abatido e ombreiras que se unem a um barrado em argamassa e cobrem toda base da parede. Nas duas fachadas laterais podem ser vistos barras de ferro próximas ao acabamento do telhado que provavelmente foram utilizadas em alguma época como sustentação do telhado ou do forro, pois barras de ferro são vistas dentro da capela abaixo do forró também. O acabamento do telhado nas laterais é adornado com tribeiras. Anexa a parede dos fundos da igreja que possui duas belas colunas e cunhais como as da fachada principal foi construído um pequeno velario. As paredes externas foram pintadas na cor branca, com um pequeno barrado, colunas , cunhais, cimalhas , friso, molduras da porta e do frontão na cor bege. Todas as portas, bandeiras e vitrôs foram pintados na cor marrom. O piso da igreja é em ladrilho hidráulico, o forro é em madeira, os bancos enfileirados são em madeira e foram pintados na cor preta. O altar mor está elevado ao piso da capela e possui três degraus no centro que levam a um pequeno e bonito altar em mármore que revela a singeleza da capela, com uma bonita imagem de São Miguel Arcanjo em uma pequena base, na parede acima do santo um grande crucifixo de madeira, abaixo de São Miguel Arcanjo está o sacrário e a sua frente em uma base de mármore a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Nas paredes do altar dois grandes nichos nas laterais. As paredes internas da capela receberam a cor branca e


um barrado na cor bege que possui um acabamento com formas geométricas pintado na cor preta. A parede onde está o altar recebeu a cor cor bege ganhando destaque.

Data no ladrilho hidráulico

COMO CONHECER

A Capela de São Miguel Arcanjo integra dois dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e das Igrejas Históricas. Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADA DA CAPELA

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CANTARIA EM PEDRA

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PORTÃO E ORNAMENTOS

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FOTOS INTERNAS

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IGREJA DE SÃO BENEDITO

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Praça Engenheiro Greenhalgh Todo ano, no dia 6 de janeiro, católicos de Iguape acomodam-se nos bancos e nos corredores da pequena Igreja − cuja construção foi iniciada no final do século XIX e concluída no início do século XX − para participar das noites de tríduo, realizado em louvor a São Benedito, antes celebrado no dia 26 de dezembro, logo após o Natal. A imagem trazida pelos portugueses, cultuada por negros e brancos, é a simbologia da caridade e da humildade, virtudes difundidas pelo homem que se tornou santo. Benedito nasceu na Sicília em 1526, era filho de escravos e, desde criança, tinha um olhar caridoso sobre o outro. Aos 21 anos foi convidado por frades franciscanos a fazer parte da comunidade. Em 1589 ficou gravemente doente e faleceu no dia 4 de abril daquele ano. No mês de festa, na Igreja de São Benedito, após o tríduo, a comunidade participa da quermesse, na maior parte das vezes realizada em uma barraca instalada entre a praça e a igreja. No dia do padroeiro, em que também se celebra o Dia de Reis, os devotos caminham em procissão pelas ruas do bairro Canto do Morro, levando a imagem em um andor enfeitado por flores, ao som da Banda Musical Santa Cecília. Esse dia se tornou feriado municipal. Toda essa celebração em louvor a São Benedito é realizada desde quando a igreja do padroeiro começou a ser erguida em frente ao local conhecido por Largo São Francisco, hoje Praça Engenheiro Greenhalgh. Até esse período, a Irmandade de São Benedito convivia em harmonia com a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, quando juntas construíram a igreja, inaugurada em 1841 no Largo do Rosário, para acolher a imagem da santa.

Nesse templo também havia um altar para São Benedito e os fiéis participavam dos cultos religiosos ali celebrados, até que houve um desentendimento entre seus dirigentes, e os devotos do santo decidiram construir a sua própria igreja. Apesar de recursos escassos, essa Irmandade iniciou a construção de seu templo, provavelmente em 1881, ano em que o bispo autorizou o padre de Iguape a benzer a pedra fundamental dessa edificação. Em princípio, a igreja seria erguida no bairro Porto do Ribeira, porém os responsáveis na época por essa Irmandade decidiram pelo local onde está atualmente. Não há registro sobre o período exato em que essa obra ocorreu. Todo o processo dependia de doação e, em 1882, a Câmara Municipal solicitou que fossem cedidas à irmandade de São Benedito as pedras extraídas do jardim do Largo da Matriz, e que o município também disponibilizasse uma ajuda financeira. Com o trabalho em andamento, e não finalizado por completo, a igreja foi benzida em 1º de agosto de 1890, e três dias depois, a imagem do santo seria finalmente entronizada no altar do novo templo, trasladada em grande procissão pelas ruas da cidade, do Largo do Rosário até a Igreja de São Benedito. Somente em outubro de 1893, as doações dos fiéis e de integrantes da comunidade garantiram o início da construção da torre do lado norte, a primeira a ser erguida, o que levou alguns anos. Por volta de 1928, as obras da torre do lado sul foram iniciadas, e a sua conclusão também levou um tempo considerável. Em 2014, o templo foi mais uma vez reformado e, nessa ocasião, a imagem de São 311


Benedito foi acolhida na Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Conforme comentam alguns fiéis, a Igreja de São Benedito, em Iguape, foi uma das primeiras a receber do Vaticano o pedaço de um osso do corpo de São Benedito. Essa relíquia era guardada no sacrário e, há muitos anos atrás, foi roubada da igreja, juntamente com a imagem original do Santo Antonio.

A Praça e o Chafariz A conhecida Praça de São Benedito, cujo nome oficial é Praça Engenheiro Greenhalgh, surgiu como Pátio das Casinhas, em uma área ampla por onde passava o córrego Lavapés. Naquele descampado era possível observar casas simplórias, construídas em taipa e cobertas por palha, cercadas em uma extremidade pela Casa dos Jesuítas, provavelmente construída no século XVII, e em outra, pela imponência do sobrado do Correio Velho, que se destacava por sua estrutura grandiosa. Em maio de 1827, a Câmara Municipal demarcou o local que, por volta de 1876, passou a ser denominado Largo São Francisco. Nesse tempo, as moradias começaram a ser construídas com maior critério urbanístico, dando espaço a terrenos e a casas maiores, com belos jardins. O nome do lugar foi alterado algumas vezes. De Largo São Francisco, passou a ser conhecido por Praça Dr. João Carlos. Na década de 1930, foi nomeada Praça João Pessoa, uma homenagem durante a Revolução e, em 1916, recebeu o nome que mantém até os dias atuais. Por volta de 1866, no ainda Largo São Francisco, a Câmara Municipal iniciou a construção do chafariz público, instalado no centro da praça, que fora inaugurado dez anos mais tarde, em 8 de dezembro de 1876. O chafariz era parte do sistema de abastecimento da cidade que, por muitas décadas

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percorreu o trecho entre uma nascente na Fonte do Senhor, no sopé do Morro da Espia, até chegar ao chafariz, e assim, a população da região central garantir água fresca. Até a década de 1980, ainda havia uma torneira que fornecia água aos moradores e frequentadores da praça. No alto do chafariz está a inscrição “A Câmara Municipal de 1873 a 1876 ao povo Yguapense”, um marco do período de sua instalação, Na primeira metade do século XX, o antigo Largo ainda conservava seu aspecto original mantendo, além do chafariz ao centro, alguns bancos e o chão gramado. A partir da década de 1960, a região passou a ser urbanizada, e a praça ganhou um formato retangular, tendo a Igreja de São Benedito em destaque em uma de suas extremidades.

Conceitos e detalhes da arquitetura A Igreja de São Benedito foi construída no meio da Rua Dom Idílio José Soares, tendo à sua frente a Praça Engenheiro Greenhalgh e, aos fundos, uma pequena e charmosa praça que tem o mesmo nome da rua. O telhado principal tem duas águas, com telhas em argila, e as duas laterais recebem uma cobertura de meia água com telhas semelhantes ao outro telhado. O templo encontra-se elevado ao nível da rua, com uma pequena escadaria à sua frente, e acaba em um bonito adro que acolhe o visitante, e que se estende nas laterais da igreja por uma estreita calçada. A fachada principal é simétrica com duas torres e as paredes estão cobertas por ladrilhos brancos emoldurados por outros ladrilhos na cor azul. As portas e a abertura das sineiras são em arco pleno, e um barrado em pedras percorre toda extensão dessa fachada e das torres. No tramo central, há uma porta almofadada em duas folhas de escuro, com bandeira fixa em arco e caixilharia envidraçada, com a soleira em pedra trabalhada em cantaria. Do lado de fora é possível observar, na


altura do coro, três portas-janelas, rasgadas, com bandeira fixa em caixilharia envidraçada nas cores azul e vermelha. Todas as portas-janelas possuem sacadas entaladas com gradil de ferro e duas folhas preenchidas na metade superior com caixilhos envidraçados nas cores verde, vermelho e azul e, na outra metade, almofadadas. O frontão ondulado com acabamento em telhas de argila está assentado sobre a cimalha que percorre toda a frente e as laterais da fachada principal. Este frontão é interrompido, ao meio, pelo tramo central com um óculo no topo onde há uma imagem de São Benedito e, acima, um frontão em formato triangular com um óculo localizado abaixo, e uma cruz em metal sobre o acrotério. Nas duas robustas torres aparecem os campanários e, abaixo deles, os óculos na fachada principal e na torre lateral voltada para a antiga Casa dos Jesuítas. O coruchéu é em formato piramidal, coberto por ladrilhos com uma cruz em metal idêntica em cada uma das torres. As calçadas das fachadas laterais são mais altas, e as paredes mais baixas sustentam um telhado independente do principal. A fachada voltada para a Casa dos Jesuítas possui os vãos preenchidos por quatro vitrôs com molduras, com vergas em arco pleno, sobrevergas, ombreiras e peitoris. Esses vitrôs têm caixilhos envidraçados, pinázios na parte superior dos vitrôs que receberam vidros na cor azul, e o fechamento interno é feito por duas folhas de escuro em madeira. Os vitrôs estão entre duas portas que possuem bandeiras fixas envidraçadas. A porta principal desta lateral tem seu fechamento em duas folhas de escuro em madeira e as molduras são semelhantes às dos vitrôs; as vergas e as sobrevergas acompanham a mesma altura das janelas. A porta localizada no final desta lateral é em duas folhas de escuro em madeira, mas apenas com vergas, sem as sobrevergas que embelezam as outras esquadrias. Percorrendo toda parede, um

friso se destaca acima das sobrevergas, e os barrados da lateral são em argamassa. Ainda neste lado da fachada, a parede da nave principal ganha destaque com dois óculos preenchidos por caixilhos envidraçados, sendo que um deles se encontra sem os caixilhos e sem os vidros; ornamentos com frisos em argamassa em relevo, e também com eiras e beiras dão acabamento ao telhado. A outra fachada lateral tem as mesmas características daquela voltada para a Casa dos Jesuítas. Os vãos são preenchidos por uma porta e quatro vitrôs, com molduras semelhantes. Apenas a última janela, no final desta lateral, não possui sobrevergas como nos outros três vitrôs e na porta. Nos fundos da igreja, a fachada voltada para a Praça Dom Idílio José Soares tem os vãos centrais preenchidos por quatro vitrôs, sendo dois no alto da parede e dois abaixo, alinhados aos de cima. Todos os vitrôs são em estilo colonial em madeira com caixilhos envidraçados, bandeira fixa com vidros na cor azul e, no centro, vitrô com um basculante para ventilação. Os vitrôs localizados abaixo possuem o fechamento interno feito por duas folhas de escuro em madeira e, em suas laterais os vãos são preenchidos por um pequeno vitrô em madeira, com os caixilhos envidraçados do lado esquerdo e outros dois do lado direito. Dentro do templo, o piso é em ladrilho hidráulico e o forro em madeira recebe a cor bege. No átrio, há uma linda porta com molduras em arco pintados sobre a madeira, e bandeira fixa com caixilhos preenchidos por vidros nas cores verde, marrom e azul. Essa porta possui duas folhas, sendo três quartos na parte superior, preenchidos por caixilhos com vidros coloridos nas mesmas cores da bandeira e, na parte inferior, está em madeira almofadada. Nas duas laterais encontram-se, em nichos emoldurados por madeira, as imagens de Santa Terezinha, do lado direito, e São Benedito, do lado esquerdo.

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A parte inferior das paredes laterais internas da nave principal possui revestimentos cerâmicos e, a parte superior foi pintada na cor branca. No coro há um parapeito em semicírculo com balaústres em branco, emoldurados em dourado. Os bancos enfileirados são em madeira e as paredes internas − na altura dos quatro vãos preenchidos por óculos nas paredes externas − recebem uma sacada com balanço em semicírculo que hoje está com balaústres, mas que possuía gradil em ferro, iguais aos das portas-janelas do coro, antes de uma das reformas executadas na igreja. No altar-mor, as escadas e a mureta são em mármore, com o portão de acesso em ferro, sendo o piso em ladrilho hidráulico como o das naves. O retábulo em madeira executado atrás do altar com a imagem de São Benedito, recebeu uma pintura geométrica, colorida em branco e prata. Ainda no altar estão as imagens de Nossa Senhora Aparecida, que fica acima do Sacrário e abaixo da de São Benedito, e na lateral esquerda São José e na lateral a direita Nossa Senhora das Candeias; esculturas de anjos estão dispos-

tas dos dois lados da imagem de São Benedito. Os ornamentos, molduras e elementos decorativos que embelezam o retábulo estão em dourado, assim como os do frontão triangular que faz o coroamento. Nas laterais do altar, em frente às portas que dão acesso à sacristia, está o Sagrado Coração de Jesus, do lado direito, e a imagem de São João Batista, do lado esquerdo. As escadas que dão acesso às sineiras são em madeira. Na nave da lateral direita está a capela do Santíssimo Sacramento que possui um fechamento com guarda-corpo em madeira, cortinas vermelhas e um altar com o sacrário, com anjos e com uma cruz estampada na parede. Nesta nave é possível acessar as sineiras da torre. Do outro lado, na nave esquerda, estão a sacristia, uma sala e banheiros, assim como uma pequena porta para o nicho de São Benedito, no altar-mor. A outra extremidade dessa nave leva ao coro e às sineiras. As paredes internas de ambas as torres não receberam reboco, e demonstram o modo construtivo, em pedra e cal, utilizado em toda a igreja.

COMO CONHECER

A Igreja de São Benedito integra os roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Roteiro Igrejas Históricas. Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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PORTAS, JANELAS, ÓCULOS

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FRONTÃO

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TORRES SINEIRAS

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ORNAMENTOS E DETALHES

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ALTAR- MOR

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FOTOS INTERNAS

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IGREJA DE SÃO JOÃO

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Rod. Pref. Casemiro Teixeira/Rua Cônego Cipião Em janeiro de 1870, moradores do Porto do Ribeira participaram da solenidade de lançamento da pedra fundamental daquela que seria a Capela de São João Batista, uma demanda antiga desse povoado que teve grande importância para Iguape no auge da produção e comercialização do arroz. O terreno para a construção do templo foi doado por um dos moradores e, mesmo assim, a obra demorou a ser finalizada, pois o recurso público era insuficiente. Por volta de 1883, a Câmara de Iguape solicitou apoio junto à Assembleia Legislativa da Província de São Paulo para dar prosseguimento à construção do templo, que foi inaugurado somente em janeiro de 1886, apesar de ainda não estar totalmente concluído. Foi então que a comunidade local passou a frequentar os cultos religiosos realizados na pequena igreja. Na década de 1940, não havia mais tantos barcos e vapores que aportavam no Porto Fluvial, razão pela qual o transporte pelo Rio Ribeira entrou em decadência, culminando no encerramento das atividades portuárias. Também nesse período, a Capela de São João Batista se encontrava em estado precário de conservação e, para segurança dos devotos, foi demolida. Em 1946, uma nova capela foi erguida em tijolos sobre as estruturas anteriores. A construção da capela original era de alicerces de pedra com argamassa de cal, com frente voltada para o Rio Ribeira e para o porto, local que corresponde à parede lateral da atual construção. Era formada por uma escada com duas torres ou largas colunas laterais, conforme mostraram as escavações arqueológicas realizadas pela equipe do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, em 2004, que fez um levantam-

ento do templo e das construções ao redor. A pequena igreja no bairro Porto do Ribeira, representa o único edifício remanescente das atividades do antigo porto, apesar de sua estrutura ser muito diferente daquela construída no século XIX. A festa em louvor a São João Batista é realizada no dia 24 de junho, com a participação da comunidade local em quermesses e em procissão pelas ruas do entorno da capela. Crescimento do povoado durante o Ciclo do Arroz As terras do Porto do Ribeira faziam parte de uma grande sesmaria que pertencia ao bacharel Cosme Fernandes, conforme orientam pesquisadores da história de Iguape, e que após sua morte passou para seus herdeiros e descendentes. Assim, no século XVII, quando a Vila de Iguape estava instalada às margens do Mar Pequeno, havia um povoado reunido em um pequeno aglomerado de casas, na região do Porto do Ribeira que, na época, não tinha uma representatividade significativa para a Vila. Somente no século XIX o local adquiriu importância graças ao desenvolvimento do Ciclo do Arroz. Registros de 1846, em uma ata da Câmara indicavam o lugar como um povoado em plena expansão, onde o poder público começava a investir. A movimentação se tornava intensa e o comércio crescia; muitas casas foram construídas em pouco tempo, e diversos armazéns e engenhos para beneficiar o arroz foram instalados nesse período. O cais do Porto do Ribeira estava em local estratégico e privilegiado, por onde barcos e vapores repletos de sacas de arroz chegavam pelo rio transportando a mercadoria, e por ali circulavam em frenéticos embarques e desembarques. Toda a produção seguia em 335


direção ao Mar Pequeno e de lá navegavam para outros mercados e centros exportadores. Em 1867, apenas uma pequena ponte de madeira facilitava o transporte para o Rossio (hoje Rocio). O Valo Grande possuía poucos metros de largura e, então, governantes e produtores da época decidiram alargar o canal, na esperança de facilitar o acesso até o Porto Grande. Dos tempos áureos de funcionamento do Porto Fluvial pouco restou até os dias atuais. Daquele espaço portuário que marcou a história de Iguape, existem apenas ruínas situadas bem próximas à margem do Rio Ribeira. Essas edificações, provavelmente, são dos antigos armazéns ligados ao porto, e de engenhos que sofreram sucessivas intervenções. Das construções originais, quase nada ficou preservado. Há ruínas do ancoradouro e da escada do antigo porto, da Igreja São João e de colunas de pedra do Engenho Lusitano, estas situadas em meio a uma quadra bastante arborizada. Todo o local onde se encontram essas ruínas está cadastrado no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como sítio arqueológico, dentro da categoria de “Sítio Histórico do Porto da Ribeira”.

O Chafariz O chafariz do Porto do Ribeira existiu ao lado da construção original da Capela de São João Batista, com a frente voltada para o rio. Foi instalado no século XIX pela Câmara Municipal para abastecimento de água do povoado da localidade que, desde meados daquele século, por volta de 1846, cobrava do poder público a instalação desse chafariz. É muito provável que tenha sido concluído e inaugurado em fins da década de 1880. Documentos levantados por historiadores indicam que, em julho de 1883, a população solicitou à Câmara de Iguape que a água do manancial existente em um sítio

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próximo pudesse ser canalizada ou que um ramal do encanamento do chafariz de São Benedito, da base do Morro do Espia, pudesse garantir o abastecimento aos moradores do Porto do Ribeira. No entanto, a resposta das autoridades foi a falta de verba, adiando mais uma vez a obra. No ano de 1881, a Câmara finalmente destinou recurso para o encanamento da água potável. O chafariz foi utilizado durante muitos anos pelos moradores até sua desativação. Em 1986, a Prefeitura Municipal retirou do local o que dele restou.

Conceitos e detalhes da arquitetura A construção da Igreja de São João foi elevada ao nível da rua e uma pequena escadaria garante o acesso ao interior do templo. É uma edificação de reduzidas dimensões formada por três tramos, sendo que o tramo central possui um pequeno avanço nas paredes em relação aos outros. A igreja encontra-se pintada a cal na cor branca e as janelas e portas da fachada principal estão coloridas de marrom. Todos os vãos dessa fachada apresentam vergas em arco pleno em argamassa. A porta central da capela é feita com fechamento em duas folhas de madeira almofadadas, e bandeira fixa com caixilhos envidraçados. As duas janelas, uma de cada lado da entrada principal, possuem as bandeiras iguais às da porta. Duas folhas em caixilhos envidraçados se abrem para o lado de fora e outras duas folhas de madeira de escuro garantem o fechamento interno. O telhado da nave da igreja é dividido em três águas, coberto por telhas de argila. Os tramos laterais recebem acabamento por uma cimalha simples. Posicionada no vão central há uma pequena torre sineira com abertura em arco e, acima, um acabamento ondulado que embeleza e proporciona leveza à essa estrutura. Uma cruz em metal ornamentada com rococós se destaca no alto e, ao


centro, o sino de bronze estampa o Brasão do Império. Esse brasão é um escudo em estilo inglês, em campo verde, com a esfera armilar de ouro transpassada pela Cruz da Ordem de Cristo, encerrado em uma flâmula azul orlada de prata e, as estrelas que simbolizam as divisões administrativas subnacionais. A Coroa Imperial em forro vermelho está acima do brasão e, como suportes, ramos de café e de tabaco, ligados em sua parte inferior pelo Laço da Nação. Nas duas fachadas laterais, sendo uma voltada para a praça e a outra para a rua, as paredes dispõem de vãos com dois vitrôs de ferro basculantes envidraçados, um pequeno e um médio. Na fachada dos fundos da igreja os vãos são preenchidos por duas portas com uma folha de escuro em madeira e um vitrô com vidros coloridos, este que está centralizado entre as portas, no topo da

parede. Nesta fachada o acesso é através de uma pequena escadaria. A igreja é bastante singela, mas bela. Tem as paredes internas pintadas a cal na cor branca, o piso em cimento queimado e o forro em madeira. No átrio, uma parede em arco se abre para a nave do templo, que é preenchida por duas fileiras de bancos em madeira. Outro arco com verga pintada em dourado mostra o altar-mor que está acima do piso da nave; o retábulo é em alvenaria com um barrado na cor cinza. Ainda no altar, está uma pequena mesa para as celebrações e um altar mais simples, onde podem ser vistas as imagens de Nossa Senhora Aparecida e de Santo Antônio. Acima, a imagem do santo padroeiro São João Batista ganha destaque, centralizada em frente ao vitrô que possui vidros coloridos e verga em arco gótico pintada de dourado.

Bandeira fixa e molduras

COMO CONHECER A Igreja de São João integra os roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e das Igrajas Históricas. Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros 337


FACHADAS

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PORTAS E JANELAS

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ORNAMENTOS

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DETALHES

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PLACAS /INDENTIFICAÇÃO DA RUA

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TORRE SINEIRA

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IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

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HISTÓRIA DO IMÓVEL Localização: Rua Papa João XXIII Por volta de 1751, começava a ser erguida a Igreja de Nossa Senhora do Rosário na região conhecida na época por Largo do Rocio. Voltada para o lado oposto ao da Basílica, em direção ao local onde décadas mais tarde foi aberto o canal do Valo Grande, a construção do templo dedicado à devoção de patronos das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e de São Benedito levou anos até ser concluída, pois não havia recurso suficiente, somente aqueles valores recebidos em doações pelos fiéis. Ao longo do tempo, as obras passaram por muitas paralisações e recomeços, que marcaram, especialmente, os anos de 1891, 1921 e 1925. Em 1821, a arrecadação em dinheiro foi suficiente, apenas, para que as paredes externas fossem levantadas. Entre 1833 e 1839, a capela-mor e a sacristia estavam com suas paredes concluídas até a altura do vigamento do teto, graças à verba recebida pela venda de duas casas pertencentes à Irmandade. Nas duas décadas seguintes, mais um imóvel foi vendido, desta vez patrimônio da Irmandade de São Benedito, que também contou com a ajuda financeira de seus fiéis. As obras foram reiniciadas e as paredes da sacristia concluídas. Ainda nessa ocasião, a cobertura do templo recebeu telhas de barro que passaram a proteger os principais espaços internos, o que permitiu condições para que a igreja pudesse abrigar seus padroeiros. Foram trasladadas em procissão, as imagens de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, que até então pertenciam à antiga Matriz de Nossa Senhora das Neves. Apesar de ainda não concluída por completo, a igreja foi inaugurada em março de 1841, e cultos religiosos começaram a ser celebrados no local. O seu entorno ficou conhe-

cido como Largo do Rosário, em homenagem à santa. Em 1858, com a demolição da Matriz de Nossa Senhora das Neves, o frontispício do altar-mor foi doado para a igreja. Passado algum tempo, as duas irmandades, por motivo desconhecido, entraram em desacordo, o que levou os devotos de São Benedito a construir sua própria igreja, que seria iniciada apenas em 1881 e inaugurada nove anos mais tarde, mesmo sem as obras terem sido finalizadas. Quase um século depois, em 1979, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi mais uma vez reformada, e sua estrutura passou a acolher o Museu de Arte Sacra de Iguape, que também teve seu acervo restaurado nesse período. Esse acervo, que é composto de peças religiosas, pratarias e objetos de culto dos séculos XVIII e XIX, está, atualmente, no Santuário do Senhor Bom Jesus. Novas melhorias foram feitas no templo em 2005. Em 1975, a Igreja do Rosário passou pelo processo de tombamento do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT) e, em 2009, pelo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A imagem de Nossa Senhora do Rosário é do período barroco, em torno do século XVII, esculpida em madeira policromada e trazida de Portugal. Todo dia 7 de outubro, a Igreja é decorada para a tradicional festa da padroeira, quando, durante os dias de tríduo, seus devotos podem louvar e agradecer. Na celebração do dia da santa há procissão pelas ruas da cidade, e a comunidade ainda organiza quermesse, em barraca disposta em frente à igreja. 345


Nos dias atuais, o templo acolhe o “Terço dos Homens”, realizado todas às quartas-feiras, além de outras celebrações religiosas.

As Irmandades As irmandades surgiram na Europa durante a Idade Média, e foram difundidas nas colônias portuguesas, tendo como principal característica o caráter leigo no culto católico. Cada irmandade tinha seu próprio estatuto, que definia as normas de funcionamento da associação e os direitos e deveres de seus membros, e se organizavam de forma autônoma em relação ao clero, administrando seus bens, que na maior parte das vezes, consistiam na arrecadação de seus associados e heranças dos congregados. Em Iguape, os negros cativos não eram admitidos na Igreja do Bom Jesus, e impedidos de participar das irmandades dirigidas pela elite social da época. Assim, como em muitos outros lugares Brasil afora, em Iguape, os negros criaram suas próprias irmandades religiosas, dedicadas aos santos de sua devoção e, ao contrário daquela do Bom Jesus, as duas formadas por negros também reuniam alguns brancos. Na cidade, até hoje existem três dessas associações: a Irmandade de Bom Jesus de Iguape, criada em 1842, mas que está presente desde os tempos coloniais; a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, criada pelos escravos no ano de 1724, sendo oficialmente aprovada em 1750; e, a Irmandade de São Benedito, que surgiu alguns anos depois. Entretanto, vale ressaltar que as irmandades não têm hoje a mesma organização e a mesma influência que existiu no passado.

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O Pelourinho e a Forca Durante o período da escravidão no Brasil, os cativos sofriam violência brutal por parte de seus agressores - na maioria das vezes por um algoz também negro -, justificada em forma de castigo por terem cometido alguma infração, e poderiam ser punidos com diferentes tipos de penas. A mais comum era o pelourinho, na época considerado sinal de “justiça”, e a existência desse local em uma vila indicava que ali havia “justiça”. Os negros infratores eram entregues por seus senhores às autoridades que se incumbiam de aplicar a pena. O primeiro pelourinho construído na Vila de Iguape ficava no Largo da Matriz. Era em madeira fincada no chão onde, atado a esse pau, o negro de costas nuas recebia violentas chibatadas. Em 1737, a Câmara Municipal decidiu transferir o pelourinho para a Fonte do Senhor, que passou a ser de pedra e cal com degraus e com uma argola de ferro em sua base. No Largo do Rosário não havia pelourinho, mas uma forca que servia para punir com a morte o escravo que tivesse cometido falta considerada mais grave. Como no pelourinho, na forca a punição também era aplicada por outro negro, na presença da população e de autoridades locais. A Festa de Agosto Ainda com poucas residências, um pequeno comércio e sem os prédios públicos instalados, como a Unidade Mista de Saúde e a Escola Estadual Coronel Jeremias Júnior, o Largo do Rosário foi, durante anos, o espaço escolhido para acomodar dezenas de barracas de comerciantes locais e daqueles que chegavam de outras regiões com variados produtos e novidades. Era ali também que a população se encontrava para desfrutar dos brinquedos e dos demais equipamentos do Parque de Diversão, que movimentavam a cidade e se tor-


naram tradição durante os festejos em louvor ao Bom Jesus, a conhecida Festa de Agosto. Somente no início de 1970, essas barracas e o parque foram transferidos para a Avenida Princesa Isabel, e lá permanecem até hoje durante esse período de festa.

Conceitos e detalhes da arquitetura A Igreja de Nossa Senhora do Rosário tem à sua frente um adro e uma pequena escadaria, as suas laterais são circundadas por calçadas cimentadas e, aos fundos está a Praça da Independência recoberta pelos galhos de uma frondosa árvore centenária. Construção religiosa de nave única com torre sineira lateral, foi construída com paredes de alvenaria de pedra e cal, e telhas de argila que preenchem a cobertura em duas águas. Na fachada voltada para a Praça há um telhado menor, separado do principal, em uma água, e em uma pequena porção da igreja, também coberto por telhas de argila. As paredes externas estão pintadas a cal na cor branca e as colunas, cunhais, portas, janelas e óculos e todas as molduras recebem a cor azul. A fachada principal tem robustas colunas e cunhais que a dividem em três tramos, que estão ornamentados por um largo barrado e relevo decorativo no formato de retângulos com as pontas arredondadas para dentro, em argamassa. O tramo da nave possui um vão preenchido por uma porta em madeira com duas folhas almofadadas que recebem molduras em vergas em arco abatido, ombreiras e soleira. Adornando a porta, acima da verga, um elemento decorativo em formato triangular em argamassa com uma bela cimalha. Acima, percorrendo este tramo, um friso e uma cimalha. Na fachada principal está o coro com três vãos preenchidos por porta-janelas em duas folhas, sendo que a parte superior tem caixilhos envidraçados, e uma pequena par-

te na base é em madeira almofadada. Todas as porta-janelas possuem varanda entalada com gradil em ferro. As molduras são em vergas com arco abatido, ombreiras e soleiras e, acima das vergas, há um ornamento em formato ondulado e a sobreverga. Um largo friso e uma cornija percorrem toda fachada principal logo acima da sobreverga, que recebe um frontão triangular encimado por um acrotério e uma cruz de ferro. O frontão tem na parte interna uma decoração feita em argamassa com o formato das telhas de argila côncavas. À esquerda ao tramo da nave, apresenta-se uma robusta torre sineira, dividida em quatro partes: a primeira até a altura do friso; a segunda na altura do coro com um vão rasgado preenchido por uma porta-janela que possui as mesmas feições das do coro, porém, sem o gradil da sacada entalada; a terceira recebe, ao centro, um adorno de um elemento decorativo em alto-relevo em formato de flor que possui pétalas que lembram ramos de palma e um miolo bem definido; a quarta parte acolhe as sineiras e possui todas as aberturas emolduradas em arco, acima um friso e uma cimalha percorre todos os lados da torre que tem seu coroamento em formato piramidal com uma moldura pintada na cor azul, acrotério no topo e uma cruz em metal. Um pequeno tramo localizado do lado esquerdo da torre sineira é dividido em duas partes. A primeira não possui vãos e ornamentos e é separada da outra por um friso; na segunda parte, bem ao centro, está um vão preenchido por um óculo redondo envidraçado; o acabamento deste tramo é na altura das vergas das porta-janelas da torre sineira, e é ondulado. A fachada voltada para a Rua XV de Novembro possui dois tramos divididos por colunas. No pavimento térreo, os vãos são preenchidos por duas portas e cinco janelas. As portas são em duas folhas de escuro em 347


madeira e as janelas possuem duas folhas de escuro em madeira no fechamento interno. Janelas do tipo guilhotina, com os caixilhos envidraçados, garantem o fechamento externo. Todas as vergas dos vãos estão em arco abatido e as janelas possuem ombreiras e peitoris, e as portas têm ombreiras e as soleiras são em pedra trabalhada em cantaria. Acima, no segundo pavimento que é separado do primeiro por um friso, os vãos estão alinhados aos do pavimento térreo, sendo que possuem quatro óculos redondos envidraçados com moldura e três porta-janelas com molduras em verga abatida, ombreiras e soleira. O fechamento dessas porta-janelas é feito por duas folhas de escuro em madeira, e todas possuem varanda entalada com gradil em madeira torneada. O acabamento do telhado nesta fachada é ornamentado por eiras e beiras. As paredes receberam pintura a cal na cor branca e o barrado, as molduras, as janelas, as portas e os óculos estão todos pintados na cor azul. Do outro lado, a fachada voltada para a Rua Paulo Moutinho é composta por duas paredes, sendo um paredão que se inicia no cunhal e coluna, e outra que foi construída com um recuo, que não acompanha o alinhamento da fachada. Esse paredão tem três vãos que ficam na parte superior e são preenchidos por óculos redondos envidraçados e emoldurados. A parede menor, localizada nos fundos, também possui três vãos, mas que são preenchidos por uma porta com uma folha com caixilhos envidraçados na parte superior e, na parte inferior, com madeira almofadada emoldurada por vergas abatidas e ombreiras. Ainda na parte superior e centralizadas à parede, estão duas seteiras, uma em cima da outra, porém sem alinhamento entre elas. A parede desta fachada está pintada a cal na cor branca, e os óculos e a porta estão em azul. O acabamento do telhado é feito por um beiral. Aos fundos da igreja, a fachada voltada para a Praça da Independência tem a abertura de quatro vãos. Na parte superior da pare-

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de pode ser observado um vão preenchido por uma pequena seteira centralizada e, na parte inferior, os vãos são preenchidos por duas portas que possuem duas folhas de escuro em madeira. Essas portas, estão uma em cada extremidade da fachada e são acessadas através de dois degraus em cada uma delas, sendo que apenas a que está próxima a Rua XV de Novembro possui soleira em pedra trabalhada em cantaria. A outra porta, próxima à Rua Paulo Moutinho possui, alinhada acima dela, um vão preenchido por uma janela em duas folhas de escuro de madeira. Como nas demais fachadas, esta parede está pintada a cal na cor branca e as portas e a janela estão em azul. O acabamento do telhado é feito por beirais. Na parte interna da igreja, no pequeno átrio, o acesso à nave é feito por uma porta em duas folhas de madeira com caixilhos envidraçados na parte superior e, na inferior, por madeira com grandes desenhos geométricos na cor azul e bandeira fixa envidraçada. Esta porta possui duas colunas também em madeira e está alinhada abaixo do coro que conta com o guarda-corpo em madeira entalhada. O piso é em ladrilho hidráulico, e o forro em madeira pintado na cor azul. Os bancos enfileirados são em madeira, e os acessos laterais ao salão são através de vãos com aberturas em arco. De cada lado do altar-mor são encontradas grandes e bonitas colunas em argamassa, um pequeno parapeito feito em mármore com uma abertura para o acesso ao altar. O teto do altar-mor é em madeira e os afrescos foram feitos pelos irmãos Thomazini, responsáveis também pelas pinturas da nave do Santuário do Bom Jesus de Iguape. Ainda no interior da igreja, o retábulo é em madeira e está pintado na cor azul, e representa a memória e história do frontispício da antiga Matriz de Nossa Senhora das Neves, doado ao templo na ocasião em que aquela igreja foi demolida, no final do século XIX. Quatro colunas dóricas esculpidas em madeira torneiam o retábulo, duas de cada lado,


com lindos acabamentos em cimalhas e ornamentos esculpidos em alto-relevo. Abaixo do frontispício, em um grande nicho, está a imagem de Nossa Senhora do Rosário e, abaixo dela, Santa Paulina e, mais abaixo, o sacrário. Entre as colunas uma de cada lado estão Nossa Senhora das Neves, do lado esquerdo, e Santa Terezinha do Menino Jesus à direita.

No térreo, na lateral onde está localizada a torre sineira há um salão que conta com uma escada de acesso ao coro, os banheiros, à sacristia e mais dois outros salões, além de uma porta aos fundos que leva à fachada voltada para a Praça da Independência.

Ornamento da fachada

COMO CONHECER A Igreja de Nossa Senhora do Rosário integra três dos roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e das Igrejas Históricas. Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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ÓCULOS, PORTAS E JANELAS

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TORRE SINEIRA

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ORNAMENTOS E DETALHES

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GRADIS

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ORNAMENTOS/DETALHES

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CASA DOS JESUÍTAS

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HISTÓRIA DO IMÓVEL

Localização: Rua Dom Idílio José Soares (antiga Rua Lavapés)

Poucos são os registros que detalham a história deste imóvel conhecido por Casa dos Jesuítas. É bastante provável que tenha sido erguido antes mesmo da mudança do povoado de Icapara para as imediações do Mar Pequeno, no atual Centro Histórico. Os levantamentos feitos por importantes historiadores, durante os séculos XIX e XX, indicam que é bem possível que a casa tenha sido construída por padres jesuítas que chegaram à região por volta de 1554. Na época em que a Companhia de Jesus aportou no Brasil, as edificações deveriam seguir um padrão que pudesse atender à perpetuidade, o que significa que essas construções seriam de caráter definitivo erguidas, portanto, utilizando materiais que resistissem ao tempo.Característica que pode ser encontrada nesse imóvel, com suas paredes externas construídas em pedra e cal, com a fachada principal mantida até os dias de hoje em bom estado de conservação. A Casa dos Jesuítas está localizada ao lado da Igreja de São Benedito. É uma construção térrea, acima do nível da rua, possivelmente por estar próxima, na época, ao Córrego Lavapés, que não existe mais no local. O imóvel pode ter sido o primeiro da Vila a ter cobertura de telhas de barro, o que reforça o uso da casa no período em que os jesuítas habitaram a região, pois essa é uma característica do modo construtivo que se assemelha às igrejas edificadas no período da presença desses religiosos em terras brasileiras. A construção inclui um amplo quintal, o que remete à utilização do espaço como área de plantio e de lazer. Além de moradia, o prédio teria

funcionado como capela até o ano de 1637, quando a primeira Igreja de Nossa Senhora das Neves foi concluída no novo núcleo urbano. Outra hipótese defendida pelos pesquisadores é de que a casa foi construída pelo capitão Francisco Álvares Marinho, que fez a doação da área onde se instalou a Vila. Com o seu falecimento, o imóvel ficou sob os cuidados de Francisca das Chagas Alvim e, ao longo dos anos, outros diferentes proprietários viveram no local. Em 1969, Luiz Eduardo Rodrigues Greenhalgh comprou o imóvel que recebeu uma reforma completa. Algumas décadas depois, em 2018, seus filhos venderam a histórica casa a Renato Boppré que refez o telhado e realizou outras obras na parte interna da propriedade.

Os jesuítas no Brasil Em 1549, missionários da Companhia de Jesus aportaram em São Vicente, com a comitiva do governador-geral Tomé de Souza. Traziam juntamente com a bagagem, a missão de cristianizar as populações indígenas e difundir a palavra da Igreja aos portugueses do território que ainda era colônia lusitana. Esses religiosos eram subordinados a um regime de privações, que os preparava para viver em locais distantes e se adaptar às mais adversas condições. Foram os jesuítas dessa ordem religiosa católica romana que, possivelmente, chegaram ao solo iguapense, graças às missões, iniciadas em 1554, e que percorreram o litoral de São Paulo. É possível que nesse mesmo ano tenha sido celebrada a primeira missa na então Vila de Iguape. Não há comprovação, mas os

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Poucos são os registros que detalham a história deste imóvel conhecido por Casa dos Jesuítas. É bastante provável que tenha sido erguido antes mesmo da mudança do povoado de Icapara para as imediações do Mar Pequeno, no atual Centro Histórico. Os levantamentos feitos por importantes historiadores, durante os séculos XIX e XX, indicam que é bem possível que a casa tenha sido construída por padres jesuítas que chegaram à região por volta de 1554. Na época em que a Companhia de Jesus aportou no Brasil, as edificações deveriam seguir um padrão que pudesse atender à perpetuidade, o que significa que essas construções seriam de caráter definitivo erguidas, portanto, utilizando materiais que resistissem ao tempo.Característica que pode ser encontrada nesse imóvel, com suas paredes externas construídas em pedra e cal, com a fachada principal mantida até os dias de hoje em bom estado de conservação. A Casa dos Jesuítas está localizada ao lado da Igreja de São Benedito. É uma construção térrea, acima do nível da rua, possivelmente por estar próxima, na época, ao Córrego Lavapés, que não existe mais no local. O imóvel pode ter sido o primeiro da Vila a ter cobertura de telhas de barro, o que reforça o uso da casa no período em que os jesuítas habitaram a região, pois essa é uma característica do modo construtivo que se assemelha às igrejas edificadas no período da presença desses religiosos em terras brasileiras. A construção inclui um amplo quintal, o que remete à utilização do espaço como área de plantio e de lazer. Além de moradia, o prédio teria funcionado como capela até o ano de 1637, quando a primeira Igreja de Nossa Senhora das Neves foi concluída no novo núcleo urbano. Outra hipótese defendida pelos pesquisadores é de que a casa foi construída pelo capitão Francisco Álvares Marinho, que fez a doação da área onde se instalou a Vila.

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Com o seu falecimento, o imóvel ficou sob os cuidados de Francisca das Chagas Alvim e, ao longo dos anos, outros diferentes proprietários viveram no local. Em 1969, Luiz Eduardo Rodrigues Greenhalgh comprou o imóvel que recebeu uma reforma completa. Algumas décadas depois, em 2018, seus filhos venderam a histórica casa a Renato Boppré que refez o telhado e realizou outras obras na parte interna da propriedade.

Os jesuítas no Brasil Em 1549, missionários da Companhia de Jesus aportaram em São Vicente, com a comitiva do governador-geral Tomé de Souza. Traziam juntamente com a bagagem, a missão de cristianizar as populações indígenas e difundir a palavra da Igreja aos portugueses do território que ainda era colônia lusitana. Esses religiosos eram subordinados a um regime de privações, que os preparava para viver em locais distantes e se adaptar às mais adversas condições. Foram os jesuítas dessa ordem religiosa católica romana que, possivelmente, chegaram ao solo iguapense, graças às missões, iniciadas em 1554, e que percorreram o litoral de São Paulo. É possível que nesse mesmo ano tenha sido celebrada a primeira missa na então Vila de Iguape. Não há comprovação, mas os pesquisadores indicam que os jesuítas Pedro Correia ou Manoel de Paiva, podem ter sido os responsáveis pela cerimônia. Ambos faziam parte da Companhia de Jesus no Brasil, ao lado de Leonardo Nunes, apelidado pelos indígenas de Abarebebê ou Abaré-bebé, termo tupi que significa “Padre Voador”; de João de Souza e de Diogo Jácome, todos do grupo do missionário Manuel de Nóbrega. No final de 1554, os jesuítas Pedro Correia e João de Souza foram mortos a flechadas pelos índios Carijós, na região de Cananeia, então Capitania de São Vicente. Pedro Correia falava fluentemente a língua


tupi e ambos haviam percorrido toda a costa litorânea do sul paulista cumprindo sua missão de catequese. Esse fato, levou a interrupção das missões no litoral e esses jesuítas foram considerados mártires. Somente depois de os padres José de Anchieta e Manuel de Nóbrega estabelecerem a paz com os índios Tamoios de Ubatuba‚ a partir de 1556, as missões jesuíticas puderam prosseguir. Em 1640, os padres jesuítas tiveram suas atividades interrompidas em São Paulo e em toda a Capitania de São Vicente, e, em 1759, foram definitivamente expulsos do Brasil e dos domínios portugueses, por ordem de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, que promoveu importantes reformas políticas e econômicas no império lusitano.

Conceitos e detalhes da arquitetura Ao longo dos séculos, inúmeras obras de reformas foram descaracterizando a Casa dos Jesuítas e apagaram, definitivamente, os vestígios do que o local possa ter sido no passado. Não há registros que demonstrem o interior da casa, o que impossibilita a descrição de sua construção primitiva.

A fachada segue o padrão do modo construtivo da época, e é bastante provável que na construção original houvesse uma porta e duas janelas em madeira, como encontradas nas edificações desse período. Pesquisas na área de arquitetura definem o programa das construções jesuíticas que pode ser dividido em três partes, correspondendo cada uma destas a uma determinada utilização: para o culto, a igreja com o coro e a sacristia; para o trabalho, as aulas e oficinas; para residência dos padres, os “cubículos”, a enfermaria e mais dependências de serviço, além da “cerca”, uma área ampla com horta e pomar, a quinta dos padres. Nesse espaço havia também um lugar destinado ao cemitério, e vários outros pátios cercados por muros. É possível que a Casa dos Jesuítas, em Iguape, também tenha sido construída seguindo esse padrão. Para os estudiosos da arquitetura, a “arte jesuítica” pode ser considerada a mistura de dois movimentos artísticos. Tendo por base o período em que os jesuítas permaneceram na região, a hipótese é de que o estilo dessa construção na cidade possa ser remetido à fase de transição entre o fim do Renascimento e o início do Barroco, no século XVI.

COMO CONHECER A Casa dos Jesuitas integra o roteiro turístico pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto. Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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ORNAMENTOS E DETALHES

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FUNIL DE BAIXO

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HISTÓRIA DA LOCALIDADE Localização: Rua XV de Novembro Assim como a Rua das Neves ficou conhecida por Funil de Cima - devido ao seu formato característico que visava a defesa do núcleo urbano e a proteção do povoado -parte da Rua XV de Novembro recebeu a denominação de Funil de Baixo, por ter suas casas distribuídas ao longo do percurso em construções que seguiram o formato afunilado. Esse trecho em direção ao Largo Comendador Luiz Álvares da Silva (antigo Largo do Ipiranga) preserva o pequeno acesso ao Funil e, na medida que adentra à área central vai se abrindo em semicírculo, culminando no cruzamento entre as Ruas XV de Novembro e Jeremias Júnior. Na esquina dessas ruas está o beco Quatro Cantos, que talvez tenha sido um dos principais lugares destinados à vida boêmia em Iguape, durante o início do século XIX, época em que o Ciclo do Arroz movimentava a economia local e abarrotava o Porto Grande, onde dezenas de vapores ali aportavam. Enquanto os barcos, carregados por inúmeras sacas do cereal, descansavam no cais, marinheiros e oficiais se divertiam nos bares e tabernas. Bem ao lado, na travessa da Rua XV de Novembro, conhecida hoje por Rua Augusto Rollo (antiga Rua Senador Feijó), ficava o Beco do Inferno, possivelmente, uma referência a um bordel que ali poderia ter existido.

O Largo do Ipiranga Até os anos de 1850, o Largo do Ipiranga era também conhecido por Pátio do Ipiranga; depois por Largo do Riachuelo e, hoje é oficialmente denominado Largo Comendador Luiz Álvares da Silva, em homenagem ao importante agricultor do tempo dos arrozais,

que também foi proprietário do Sobrado da Pirá e do Sobrado do Paço Municipal. Toda essa região de descampado era cortada por um pequeno rio de mesmo nome, que seguia da Fonte do Senhor em direção ao Mar Pequeno, onde suas águas se misturavam. Naquele tempo, a região ficava tão alagada que era possível atracar as canoas nos quintais das casas. Um estreito caminho, que iniciava-se no Funil e seguia até o Pátio do Ipiranga, fazia a ligação da cidade com essa região de terreno de várzea onde, sobre o riacho, uma ponte facilitava o acesso dos moradores. No século XX esse rio foi canalizado e parte dessa área recebeu aterro, dando origem ao atual campo de futebol e à praça.

Conceitos e detalhes da arquitetura O Beco dos Quatro Cantos é o ponto de partida que leva ao conjunto arquitetônico do Funil de Baixo. Muitas das casas ali situadas seguem características parecidas, ou até mesmo idênticas, àquelas presentes nas propriedades do Funil de Cima. As moradias acompanham o contorno da Rua XV de Novembro que estende-se até bem próximo ao Largo Comendador Luiz Álvares da Silva. Ao comparar a estrutura das residências com as do Funil de Cima, é possível observar que nesta localização ocorreram maiores alterações quanto às características originais do conjunto e, que algumas casas térreas foram transformadas em sobrados, na tentativa de atender às necessidades das famílias que ali vivem. Na esquina dos Quatro Cantos, as calçadas são em pedra trabalhada em cantaria e, na residência da esquina de baixo com a 377


Rua Jeremias Júnior, os cunhais também em pedra trabalhada em cantaria se destacam possibilitando ao morador e ao visitante a sensação de uma verdadeira viagem ao século XVIII. As edificações estão pintadas em cores diversas e por terem suas paredes construídas em parede-meia também proporcionam um cenário encantador, tornando-se a garantia de lindas fotografias para aqueles que por ali transitam. O formato construtivo das casas, em sua grande maioria, ainda conserva o seu desenvolvimento a partir de um corredor lateral, que dá acesso às salas, aos quartos,

à cozinha e ao quintal. Nas fachadas, os vãos são preenchidos quase sempre por uma porta (frontal, na maior parte das vezes) e uma, duas ou mais janelas. As folhas das portas e janelas são muito variadas de diversas tipologias. As calçadas são elevadas dos dois lados da rua até o trecho próximo aos fundos do Museu Municipal. Um dos destaques do Funil de Baixo é o grandioso paredão construído em pedra e cal, nos fundos do Museu. Como em muitas construções do Centro Histórico de Iguape, esse muro foi descamado em sua totalidade, revelando a base do modo construtivo, levando beleza aos olhos dos observadores.

COMO CONHECER O Funil de Baixo integra os roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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FUNIL DE CIMA

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HISTÓRIA DA LOCALIDADE Localização: Rua das Neves A Rua das Neves é um dos mais antigos e principais acessos ao núcleo urbano de Iguape. É até hoje conhecida pela sua denominação original: a Rua do Funil, ou ainda, Funil de Cima. Em todo território brasileiro, a maior parte das cidades coloniais que surgiram entre os séculos XVI e XIX foram construídas no alto de morros ou em áreas mais elevadas, fato esse que as tornava bastante vulneráveis. Iguape fugiu desse padrão, uma vez que seus primeiros moradores consideraram a defesa como fator principal para escolha do lugar onde seria implantado o núcleo urbano. Assim, o povoado que deu origem à cidade se transferiu, estrategicamente, para um território plano, protegido pelo Morro do Espia e circundado pelas águas do Mar Pequeno- o braço de mar que separa Iguape de Ilha Comprida, uma faixa de areia que também contribuiu para a proteção da Vila contra invasores. Dessa maneira, parte do traçado original do núcleo urbano foi construído nesse formato de funil, que além de garantir maior defesa e segurança, também facilitava o controle de acesso de moradores e viajantes.

O Largo das Neves, o Beco e o Jornal O Largo das Neves está localizado na parte mais larga do Funil de Cima e tem uma posição estratégica no núcleo central urbano. Quem o observa em direção ao leste, consegue se encantar com o suntuoso Sobrado dos Fortes (Câmara Municipal) e com seu vizinho, o Hotel do Comércio, hoje utilizado como moradia, ambos posicionados à esquerda. Mais à frente está o Museu Municipal, no prédio onde funcionou a Casa de Oficina Real de Fundição do Ouro. Mis-

turando-se a esses sobrados estão diferentes casas em estilo colonial português. Ao fundo, se voltando para o oeste, podem ser vistos a Praça da Basílica e o imponente Santuário do Senhor Bom Jesus. O Centro do Largo das Neves é formado por uma pequena praça que proporciona mais encanto à essa área tão charmosa da cidade. Do lado direito, ficam outras casas de moradia e um único sobrado do Esporte Clube Primavera, fundado em 1946, que faz divisa com uma via estreita, hoje denominada Rua Fernando Marques Fragoso, que foi conhecida no passado por Beco do Major e, depois, Beco do Quartel. Por esse beco, localizado em paralelo à Rua Porto Osório, passavam apenas pessoas e animais, tendo sido usado como mais um acesso ao Porto Grande. Também no Largo das Neves, em uma das casas, à esquerda, que se enfileiram em direção ao estreitamento do Funil, está aquela que foi sede da tipografia do semanário “O Iguapense”, o primeiro jornal editado em Iguape, lançado em abril de 1876, graças a uma máquina tipográfica doada por um músico santista, que era também editor do jornal “O Clarin”, distribuído naquela cidade. “O Iguapense” foi publicado até princípios do século XX, tendo sido interrompido por alguns períodos, possivelmente por falta de verba para sua impressão. Durante o tempo em que circulou entre os moradores, o periódico abriu espaço para autores e poetas da região, que expunham suas produções literárias, além de divulgar assuntos de interesse da população e de possibilitar ampla publicidade aos atos públicos da Prefeitura e da Câmara, que poderiam interessar à cidade.

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Um pouco distante do Lago das Neves, um concorrente com tendências jornalísticas antagônicas surgiria apenas três meses depois. Lançado em julho de 1876, o também semanário “Commercio de Iguape” tinha gráfica própria, instalada no número 82 da Rua XV de Novembro, esquina com a Rua Capitão Dias, e encerrou suas atividades pouco mais de duas décadas depois.

Conceitos e detalhes da arquitetura As construções encontradas no Funil de Cima são em pedra retiradas de costões, e em cal, vinda dos sambaquis, materiais construtivos que atestam a história de Iguape, e de uma das primeiras ruas instaladas no centro urbano, que até os dias atuais conserva seu formato. As edificações recebem um colorido diverso, estampado nas fachadas, nas janelas, nas portas, nas molduras e nos barrados. As cores não se repetem, e se destacam justamente por estarem intercaladas. De modo geral, a altura das casas também não segue um mesmo padrão, assim como as molduras dos vãos, que são bastante variados, reunindo diferentes tipologias. Essas características garantem singeleza, encanto e compõem um lindo cenário para fotografias. O conjunto arquitetônico do Funil de Cima surgiu com a fundação da Vila, mas cresceu substancialmente durante o Ciclo do Ouro, o primeiro ciclo econômico de Iguape, e com o Ciclo do Arroz, o mais faustoso, quando os sobrados se tornaram símbolo de riqueza e de poder. Esse contraste entre as edificações do Centro Histórico, através da observação desse surpreendente casario, possibilita a moradores e visitantes o contato direto com a história de Iguape e do Brasil. É um conjunto de obras arquitetônicas rico e harmonioso formado em quase sua totalidade, por casas térreas que são, principalmente, de porta e janela e meia morada

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construídas em parede-meia, situação onde as paredes laterais dos imóveis fazem divisas com o imóvel vizinho. Nessa rua ainda estão cinco sobrados, sendo quatro deles de grande importância histórica para a cidade. As plantas das casas em sua grande maioria ainda conservam o seu desenvolvimento a partir de um corredor lateral, que dá acesso às salas, aos quartos, à cozinha e ao quintal. Os lotes são de pequena testada (variando entre dois metros e meio e oito metros), podendo ser mais ou menos profundos. A singeleza desta arquitetura é conferida pela presença de pé-direito bastante baixo, recoberto por um telhado em duas águas, com terminação em eiras e beiras ou beira-seveira. Nas fachadas, os vãos são preenchidos quase sempre por uma porta frontal e por uma, duas ou mais janelas; em todas elas prevalece a métrica e os espaçamentos entre as aberturas. As diferenças sociais eram percebidas fortemente na arquitetura através da eira e da beira: detalhes presentes nos beirais, e que eram uma forma bem clara de mostrar o poderio das famílias. As folhas das portas e das janelas são de madeira, bem parecidas com as portas do passado, mantendo-se os mesmos padrões. As diferenças ficam por conta das disponibilidades técnicas e das características acessórias atuais. Em muitas das casas construídas a partir do século XVIII, quando o uso do vidro se tornou mais comum, podem ser notadas as folhas de pinázios com vidros.


COMO CONHECER O Funil de Cima integra os roteiros turísticos pelo Centro Histórico de Iguape: Museu a Céu Aberto e Sensorial Contato: www.valevisitariguape.com.br/roteiros

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FACHADAS

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