Livro ocapinelore 20x27

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SÉRIE DE VOLTA PRA CASA VOLUME I


Enquanto o universo, lá fora, segue espalhando o brilho das estrelas pelo cosmo, a névoa galáctica dá o tom brilhante aos planetas...

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A extensão da natureza espalha aqui no nosso planeta, por todos os continentes e oceanos, sua exuberante perfeição. Com o olhar mais atento podemos ver a convivência entre os mais belos animais e as mais vastas paisagens. Um equilíbrio de seres vivos buscando sua sobrevivência, criando maneiras de se adaptar às imperfeições do destino. Observando de perto esse imenso quebra-cabeça criado pelos continentes, percebemos belíssimos animais em seus habitats, suas rotinas e sua maneira especial de alimentarse, esconder-se ou até desaparecer. Voar, nadar, correr, planar, boiar, mergulhar... caçar... alimentar... enfim , sobreviver.

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- Olha Ocapi, minha querida, você não está fazendo isso direito, tem que levantar essa cabeça, assim você só come os galhos, meu bem! - Não me diga, prima, eu já te expliquei que rola aqui um problema genético, eu não herdei da vovó esse seu pescoção. Tenho que me contentar com as folhas menores, as que estão aqui embaixo. Sou eu e as formigas numa disputa feroz pela comida... Hahahahaha! - Melhor aí embaixo com as formigas do que aqui em cima... Acho que estou vendo a relva se mexer e... virar pra esquerda? Corre, prima, é um leão! - AHHH! Para você, até fugir é fácil! Minhas pernas curtas só me atrasam! ARRFFF! Com a força das patas traseiras dando um coice, Ocapi conseguiu derrubar o leão antes de virar almoço. Subindo rapidamente num morro rochoso, chegou ao topo e pôde ver seu caçador felino desmaiado.

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Ocapi pensou na corrida que fazia diariamente para fugir desse e de outros predadores que também precisavam sobreviver naquela savana. Muitos animais carnívoros a viam de longe por causa de sua pele e listras e alguns animais a confundiam com a zebra. - Como seria se eu não chamasse tanto a atenção? Se ninguém me visse? Se meu pelo fosse mais discreto? Quanto tempo eu sobreviveria? - Ocapi se deitou e descansou a cabeça. O barulho de algo metálico e o estrondo de árvores caindo fizeram com que Ocapi acordasse assustada, mas era tarde demais. As árvores rolavam pelo penhasco próximo de onde estava, e ela saltou em cima de um monte de troncos que rolavam até um grande barco que estava ancorado no mar. As toras de madeira iam se encaixando dentro da embarcação e Ocapi viu homens amarrando os troncos. Decidiu ficar abaixada no meio da madeira para não ser descoberta. Sem saber para onde estava sendo levada, Ocapi, muito assustada, se deitou e esperou até que amanhecesse.

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Horas depois, com a luz do Sol clareando a costa... - Humm! Parece o cheiro de folhas verdes, mas não as que comemos, tem algo estranho, acho que estou com o pelo arrepiado. O que está acontecendo comigo? Meus ossos estão tremendo. Opa! O barco parou próximo ao que parecia ser um rio, Ocapi aproveitou para deslizar por entre os troncos e sair dali antes que fosse pega. Andou por um terreno de grama bem verde, que lhe cobria as pernas. Ela não resistiu e deu uma abocanhada naquelas folhas. - Hummm! Isso está uma delícia! Como é macio e refrescante. Que sabor! Nhac! Nhac! Nhac! Avistou um tipo de cabana muito alta, mas feita de uma madeira vermelha. Ela entrou assim mesmo e farejou algo muito diferente... E os animais então, tão estranhos. Ocapi não reconhecia aquele cheiro estranho de leite azedo e mato queimado!

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- Mas que cheiro é esse? Urrrgggghh! Por que esse chão tem grama pastosa e escorregadia? Ooooops! - Muuuuu! Isso aí não é grama não, olhe onde pisa, está espalhando nosso esterco. O que é você? Por que está falando de cheiro com essa sua catinga suarenta? - Esterco é o mesmo que cocô? Urrrggghh! Sou Ocapi, vim de um lugar chamado Congo, na África, que é muito quente, lá ficar suada é normal, mas aqui, com esse frio! Meus pelos estão fugindo para fora do meu corpo, arrepiados! Que lugar é esse? - Você está em Biloxi, nos Estados Unidos, espécie exótica! Como uma “zebra” tão magrinha veio nadando da África até aqui? – As irmãs Hereford não perderam a chance de provocar a pobre Ocapi. - Olha só, “siamesas estampadas”, não sou zebra, na verdade tenho algumas amigas zebras, mas elas não são muito criativas, usam as mesmas roupas e isso sempre causa confusão. Aposto que conhecem minha prima famosa, a girafa. Hahahahahahahahaha! — A gargalhada foi geral, nem os bezerros aguentaram. Nelore tratou de tirá-la dali e levá-la para comer um pouco e saber mais sobre essa “viagem”.

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- Mas, então você correu um perigo danado, menina! Será que essa sua prima está te procurando? – Comentou Nelore. - Espero que sim, só que de lá ela não pode fazer nada. Vou pensar em alguma coisa que me tire daqui, Nelore, não se preocupe. Ocapi percebeu que estava muito longe. Do jeito como imaginou, ali não havia leões, onças ou hienas para atacá-la enquanto comia, nem a zombaria dos seus parentes por causa do seu pelo. Estava longe de toda aquela confusão, mas estava longe também de sua prima e amigos, de sua casa, então se deu conta da enrascada em que estava. Para alegrá-la, Nelore tratou de explicar como funcionavam as coisas na fazenda. - Bom, primeiro preciso te levar para tomar um banho, vamos ao rio atrás da fazenda, ali ninguém vai te ver... por enquanto. Outra coisa, não ligue para aquelas duas vacas malhadas que te provocaram lá dentro. Sabe como é... “ingleses” sempre acham que estão em primeiro lugar, elas são vacas premiadas por causa daquele porte e a pele robusta.

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- E aquele pedaço de “picanha suculenta”? — perguntou Ocapi, que é vegetariana, mas não é cega, mostrando o touro parado do outro lado da cerca se exibindo. - Aquele, hum! Aquele é Braford, mas não é para o seu bico não, ô “pônei de pijama”! Aquele touro escolhe as fêmeas dele, aqueles bezerros que você viu no celeiro, são todos crias dele. Eita cabra danado de parrudo, sô! — comentou Nelore com os olhos arregalados. - Olha o respeito! Já expliquei, não sou cavalo, não posso ser pônei coisa nenhuma! Já vi que minha pele vai ser um problema por aqui. — Reclamou Ocapi. - Só você? Entra na fila, eu também não sou das vacas a mais charmosa, vê como não tenho nenhuma manchinha?

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- Olha, Nelore, com essa pele alva e brilhante na minha terra não ia faltar bicho grande correndo atrás de você, acho que até um elefante te paquerava. Hahahahahaha! - Você não entende, não tenho essa disposição para viajar até a África e nem tempo, aqui as vacas têm que ter cria para dar leite, ou viram churrasco. O Braford é um touro muito reservado, orgulhoso, nunca reparou em mim desde que eu cheguei nesta fazenda, sou uma das mais velhas vacas daqui, se ele não reparar em mim, estou fora! Ocapi pareceu entender bem o que estava acontecendo ali: ao contrário do que ela queria fazer na selva, escondendo-se por causa das suas listras, ali as peles mais estampadas eram as mais cobiçadas pelos touros. - Pois, amiga, eu tive uma ideia brilhante! Melhor ainda, tive uma ideia fashion! Vamos ali naquele varal. - Você teve uma ideia “faxina” o que? — Nelore correu atrás da amiga sem entender o que ela estava tramando. — Por que está mexendo no varal? Ocapi, o que você vai aprontar? Enquanto Nelore corria atrás da sua nova amiga, os peões levavam o gado para pastar, dando a chance das vacas desfilarem pelo curral do cobiçado touro Braford. Nelore achou aquela ideia uma loucura, mas vestiu um pedaço de cada roupa que achou no varal do jeito que a amiga havia explicado e quando chegou ao pasto... - Muuuuuuuu! Muuuuuuuu!Grruuuncchh! — Bradford não parava de mugir, não sabia fazer outra coisa, aquilo foi demais! Do alto da cerca, ele apressou os galopes e seguiu desviando de todas aquelas vacas molengas. Nem as irmãs Hereford entenderam o que o touro procurava. Ocapi explicou direitinho o que Nelore devia falar assim que Braford se aproximasse.

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- Fala da fazenda, que o pasto é da melhor qualidade, que às vezes você fica muito entediada porque não tem com quem conversar e que, quando é preciso, você é ousada e criativa. Nada de falar da sua idade, que você quer filhotes logo, ou que tem ciúmes das vacas que estão no pasto. Nelore estava tão nervosa! Quanto mais perto ele estava, mais calafrios ela sentia. Braford a alcançou. - Que raça bovina é você? Nunca vi uma vaca tão exuberante. Você veio da França? Sabe como é, dizem que é a terra da moda. Com tantas cores o touro arrebatado não sabia para onde olhar... - Ora Braford, você me conhece, só não sabia que eu podia mudar, pois com o tédio da fazenda esse colorido das roupas cai bem às vezes, você não acha? Não foi preciso muitas explicações, os dois bovinos logo se entenderam, ambos já tinham vivido muitas coisas naquela fazenda. Ocapi seguiu curtindo a “Festa das vacas loucas”. Aproveitou para se sentir parte do rebanho e desfilar pelo pasto junto às outras vacas com suas peles estampadas, ela pôde finalmente se sentir normal, mais comum vendo outros animais tão diferentes como ela.

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De repente uma forte ventania assustou os bezerros, que começaram a correr para dentro do celeiro, os vaqueiros gritavam e faziam gestos alarmados como se quisessem que os animais os compreendessem. Todos os animais pareciam ter entendido que estavam correndo perigo, mas Ocapi não sabia qual até ver bolas de feno voando, pedaços de madeira das árvores que se desprendiam e uma carroça que rodava em marcha ré pelo pasto sem ninguém estar guiando. Olhou ao seu redor e viu sua amiga Nelore e Braford fazendo sinal para que ela olhasse para cima, mas Ocapi não fazia ideia do que era aquilo. Algo como um círculo de vento que crescia do chão e puxava o que estivesse por perto. Com suas pernas pequenas ela não conseguia correr muito rápido, então entrou na carroça que se aproximava dela e prendeu suas patas torcendo para não ser levada, até sentir que estava voando. “Deve ser assim que as renas do Papai Noel se sentem.”, pensou nossa heroína.

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O furacão vinha do centro em direção ao mar, como já havia acontecido antes naquele lugar. Quanto mais perto do mar chegava, mais ele mudava de direção. Assim, alguns objetos, como telhas, troncos, roupas e a carroça, que levava a corajosa Ocapi, foram caindo. Eis que a carroça alcançou um navio cargueiro que levava mantimentos para um país costeiro da África. Nossa heroína estava voltando para casa, mas, olhando as coisas que ainda giravam, percebeu um animal preto e peludo que ficou escondido na cabine de seu navio. Algumas pessoas desceram do navio e seguiram em outra direção num barco levando o animal peludo. O barco seguiu levado pelo furacão, rodopiando em direção ao outro lado da costa africana, onde provavelmente viverá uma nova aventura.

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Este livro é dedicado aos animais que não suportaram as mudanças climáticas, transformações ambientais naturais ou a exploração humana, e por isso estão extintos ou em vias de extinção.

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