Português – 11º ano – Turma A 2ª Ficha – 1º Período (29 de novembro de 2011)
Grupo I A Lê, com atenção, o texto que se segue. Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra, que se não deixa salgar, que se lhe há de fazer? Este ponto não resolveu Cristo Senhor nosso no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução do nosso grande português Santo António, que hoje celebramos, e a mais galharda e gloriosa resolução que nenhum santo tomou. Pregava Santo António em Itália na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo a se levantar contra ele, e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés, a que se não pegou nada da terra, não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência, ou a covardia humana; mas o zelo da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes. Oh, maravilhas do Altíssimo! Oh, poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam. Se a Igreja quer que preguemos de Santo António sobre o Evangelho, dê-nos outro. Vos estis sal terrae. É muito bom o texto para os outros santos doutores; mas para Santo António vemlhe muito curto. Os outros santos doutores da Igreja foram sal da terra. Santo António foi sal da terra e foi sal do mar. Este é o assunto que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido no pensamento que nas festas dos santos é melhor pregar como eles, que pregar deles. Quanto mais que o são da minha doutrina, qualquer que ele seja, tem tido nesta terra uma fortuna tão parecida à de Santo António em Arimino, que é força segui-la em tudo. Muitas vezes vos tenho pregado nesta igreja, e noutras, de manhã e de tarde, de dia e de noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira, e a que mais necessária e importante é a esta terra, para emenda e reforma dos vícios que a corrompem. O fruto que tenho colhido desta doutrina, e se a terra tem tomado o sal, ou se tem tomado dele, vós o sabeis e eu por vós o sinto. Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar e, já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer. Domina maris: “Senhora do mar”; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não falte com a costumada graça. Ave Maria.
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“Sermão de Santo António”, Padre António Vieira, in Sermão de Santo António e outros textos, Oficina do Livro, agosto de 2008
ANO LECTIVO 2011-2012
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Responde com clareza e correção às seguintes perguntas. 1. Insere o excerto na obra a que pertence, atendendo à sua estrutura interna. 2. Expõe as razões da referência a Santo António neste passo do Sermão. 2.1. Apresenta três traços caracterizadores da figura referenciada, recorrendo à fundamentação textual. 3. Identifica, justificando, no segmento textual apresentado, as razões da pregação deste sermão do Padre António Vieira. 4. Procede ao levantamento de dois recursos expressivos, comentando a sua expressividade.
B Comenta a afirmação a seguir apresentada, num texto de 80 a 130 palavras, baseando-te nos conhecimentos adquiridos sobre Padre António Vieira e a sua produção literária. O Padre António Vieira começou a desenvolver importante atividade missionária junto dos índios brasileiros. E isso faz dele um homem notável. “É o lutador pela liberdade dos índios, nações, culturas e povos com identidade própria, num tempo em que a regra era precisamente a da escravatura, domínio e subjugação”, aponta Marcelo Rebelo de Sousa. http://www.rtp.pt Observações relativas ao item B 1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2011/). 2. Um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até cinco pontos) do texto produzido.
Grupo II Lê atentamente o texto:
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Alguns jornais acusam-nos, gravemente – de sermos hostis e violentos com a realeza e a família real: e dão ligeiramente a entender, que nós estamos comprados pela demagogia para atacar a coroa. Outros jornais acusam-nos severamente – de sermos hostis e violentos com todo o facto e toda a instituição – e sermos pelo contrário benevolamente cortesãos com a realeza e a família real: e dão infamemente a perceber, que nós estamos comprados pela coroa – para vergastar a demagogia. Fundam-se os primeiros em que nós fomos menos amoráveis com sua majestade a rainha, – contando a história patética do mendigo preso. Fundam-se os segundos em que nós fomos vassalamente aduladores com sua majestade el-rei, – dizendo que ele espalhava no lugar da Ajuda seis contos de reis de esmolas. As pessoas imparciais compreendem decerto o nosso embaraço cheio de rubor: Queríamos dizer palavras pungentes à coroa, para eficazmente provar, que não estamos comprados – pelo seu oiro! – Mas então, patentemente se percebia que o que nos inspirava a prosa amarga – eram as bolsas de dinheiro, que nos atirara a pálida demagogia: Queríamos oferecer períodos perfumados à coroa, para convencer que não nos acorrentam o poder dos tesouros demagógicos: – mas então abertamente se via, que se falávamos com um som tão meigo – era sob a influência dissolvente dos cofres da coroa! Lívida colisão! De tal sorte que resolvemos imprimir as duas seguintes cartas, pedindo a rápida justificação da nossa honra: Ao rei de Portugal Senhor. – Alguns malévolos, nossos comuns inimigos, espalham subtilmente que vossa majestade nos sacia de oiro, para que as Farpas tenham para vossa majestade um tom amoroso a untuoso. Rogamos a vossa majestade declare se já deixou cair na nossa mão estendida – o corruptor metal! Vossa majestade, com mal disfarçado despeito o dizemos, nem sequer é assinante das Farpas! (…)
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À Hibra da anarquia. Tendo alguns jornais dado a entender, que nós atacávamos a realeza porque estávamos para isso pagos pela Hidra da anarquia – pedimos ao dito bicho – declare a falsidade desta asserção imunda. Eça de Queirós, Ramalho Ortigão; As Farpas
Seleciona a alínea que completa, de forma correta, cada um dos seguintes itens: 1. A redação de «As Farpas» é acusada por jornais de diferentes orientações políticas de: a) imparcialidade. b) cinismo. c) difamação. d) venalidade. 2. Os jornais das diferentes fações demonstram as suas teses: a) com exemplificação. b) com citações. c) com argumentos de autoridade. d) com argumentos «ad terrorem». 3. O jornal «As Farpas», acusado de ser a favor da realeza e contra a mesma, encontra-se com dificuldade: a) em defender as duas teses. b) em refutar uma tese. c) em contra-argumentar. d) manter a sua posição. 4. Na frase «Queríamos oferecer períodos perfumados à coroa, para convencer que não nos acorrentam o poder dos tesouros demagógicos», o sujeito da enunciação recorre a: a) analogias. b) metáforas. c) personificações. d) paralelismos. 5. A frase nominal e expressiva «Lívida colisão!» visa: a) encadear logicamente os argumentos. b) destacar as contradições dos adversários. c) utilizar uma linguagem precisa. d) explorar as emoções do auditório. 6. A síntese do discurso de «As Farpas» consiste num pedido de reposição da verdade: a) às entidades acusatórias. b) aos cidadãos em geral. c) ao poder político instituído. d) ao poder e ao contrapoder. 7. Este discurso está estruturado de forma: a) indutiva. b) dedutiva. c) antitética. d) falaciosa.
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8. Estabelece a correspondência correta entre a coluna A e a coluna B. Coluna A 1. A expressão «pela demagogia» (l. 2) desempenha a função sintática de 2. « os primeiros» (l. 6) e «os segundos»(l. 8) são marcadores discursivos com função de 3. Na expressão «pálida demagogia» (l. 13), o adjetivo tem valor 4. A expressão «De tal sorte que» (l. 17) exprime a ideia de 5. O ato ilocutório presente em «Rogamos a vossa majestade» (l.21) é
Coluna B a) diretivo. b) de qualidade. c) consequência. d) agente da passiva. e) complemento direto. f) restritivo. g) explicação. h) ordenação.
Grupo III Benefícios / Malefícios do uso da Internet pelas crianças e adolescentes. Elabora um texto argumentativo bem estruturado, usando entre 200 e 300 palavras, onde manifestes uma posição fundamentada quanto ao que pensas sobre o tema acima. Apresenta e desenvolve, pelo menos, dois argumentos que apoiem a posição defendida. Observações 1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2011/). 2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras –, há que atender ao seguinte: • A um texto com extensão inferior a oitenta palavras é atribuída a classificação de zero pontos. • Nos outros casos, um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até cinco pontos) do texto produzido.
Bom Trabalho! A Professora: Adriana São Marcos