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Capítulo Vinte e Três

Eu nunca soube que a dor poderia ser tão ruim ao ponto de te deixar entorpecida. Que a dor poderia ser tão profunda que levava todas suas emoções, apenas sugando tudo para dentro. Era assim que estava me sentindo. Vazia. Sem chão.

Eu não chorei naquela noite.

Nem mesmo quando Reece me levou de volta para sua casa. Nem quando ele me ajudou a trocar ou quando ele me levou para cama. Nem quando ele me abraçou e me segurou até que cai no sono.

O final de semana e os dias seguintes ao telefonema eram um borrão. Jax me deu uma semana de folga do bar e eu nem pretendi lutar contra sua decisão. Minha cabeça não estava em um bom lugar para estar trabalhando com o público. Minha cabeça não estava em qualquer lugar que ela precisava.

Eu não chorei quando eu fui ao instituto na terça pegar todas as pinturas e as coisas pessoais que eu tinha deixado no quarto de Charlie. Três caixas grandes saíram de lá e foram colocadas na parte de trás da caminhonete de Reece. Eu não chorei nem quando eu vi sua cama vazia. Nem quando eu descobri que ele tinha morrido dormindo, devido a um aneurisma. Nem quando eu descobri que ele morreu sozinho.

Haveria uma autopsia e o funeral estava marcado para a quinta. Eu não conseguia acreditar que isso iria acontecer tão cedo, como se seus pais estivessem esperando por isso, como se a cova já estivesse sido cavada há anos e eles estavam apenas esperando que ela fosse preenchida.

Eu não chorei quando Reece me levou ao meu apartamento ou quando eu coloquei as pinturas que tinha feito para Charlie no canto do meu estúdio. Nem percebi que meu apartamento já estava com o sistema se segurança, em todas as janelas e portas. Na verdade, eu reparei, só que eu simplesmente não ligava.

Era quinta feira de manhã e eu estava colocando minhas calças de tecido pretas que agora estavam largas demais, e eu percebi que Reece não tinha ido

trabalhar essa semana toda. Penteando meu cabelo em um rabo de cavalo baixo, eu forcei meus olhos para ver meu reflexo. A mecha roxa tinha desbotado, mal ficando percebível. O que estavam visíveis eram as sombras escuras em baixo dos meus olhos.

Colocando meus óculos, eu sai do banheiro de Reece. Ele estava na cozinha, ajeitando sua gravata preta. Recentemente barbeado e com seus ombros parecendo mais largos por causa do terno, ele estava lindo. Realmente lindo. Acho que mesmo me sentindo incrivelmente vazia, minhas partes femininas ainda estavam funcionando.

Ele olhou para cima, sua cabeça inclinada para o lado enquanto me estudava. Nós realmente não havíamos conversado muito desde sábado. Não foi pela falta de tentativas da parte dele. Obviamente, ele tinha estado aqui o tempo todo comigo sem nem mesmo me pedir. O mesmo durante o funeral. Eu não pedi nenhuma vez para ele ir, mas ele estava pronto antes de mim, e eu ama... eu apreciava que ele tivesse feito isso.

Parei na ponta do balcão da cozinha. “Você tirou uns dias de folga do trabalho.” Reece concordou vagarosamente enquanto ajeitava as abotoaduras no seu terno. “Yeah. Eu não queria que você ficasse sozinha.” A queimação em meu peito estava de volta. “Você não precisava fazer isso.” “Eu tinha a opção. Além do mais, todo mundo entendeu.” Ele deu a volta no balcão, parando na frente dele. Seus olhos procuraram os meus imediatamente. “Eu vou ter de voltar aos meus turnos semana que vem.” Eu engoli – engoli forte. “Obrigada. Você foi... foi tão bom sobre tudo.” Reece colocou suas mãos em minha bochecha. “Babe, isso é só o que alguém faz nessa situação.” Seu dedão acariciava a maça do meu rosto, um gesto que eu ansiava. “Eu estou aqui por você.” Afastei meu olhar e fechei meus olhos enquanto ele me puxava contra seu peito, me abraçando. Eu estava rígida por um momento. Nem tinha certeza do porque, mas então eu me agarrei a ele, meus dedos cravaram em rua roupa tentando conseguir um pedaço dele – segurar um pedaço dele.

“Não é justo,” eu murmurei contra seu peito.

Ele colocou um beijo no topo da minha cabeça. “Não, não é.” Com meu peito doendo, eu me afastei dele e inalei profundamente, algo que pareceu não ajudar a aliviar a pressão que sentia em minha volta. “Estou pronta,” eu disse a ele.

Essa era uma mentira.

E eu acho que ele sabia disso.

O funeral foi realizado em uma casa funerária situada no meio de um cemitério do tamanho de uma cidade pequena. Com suas ruas largas e carvalhos grandes e altos, lindos carvalhos que ainda tinham todas suas folhas, era realmente um lugar calmo. Pacífico. Lindo de um jeito mórbido.

Minha mãe e meu pai já estavam lá, esperando do lado de fora junto a Gordon e Thomas. Megan estava ao lado de seu marido, sua mão apoiada em sua barriga enorme. Todos eles, mesmo Gordon, me abraçaram, e eu desejava que eles não tivessem feito isso. Eu desejava que eles tivessem me cumprimentado como cumprimentaram Reece, com um aperto de mão ou um aceno. Eu poderia lidar com isso.

“Querida,” minha mãe murmurou, beijando minha testa. Lágrimas se formaram em seus olhos. “Realmente não tem nada que eu possa falar para fazer isso ficar mais fácil.” “Eu sei,” eu sussurrei, me afastando e olhando para o céu. Pensei que era um dia lindo para um funeral. Eu olhei para meu pai, que parecia tão incomodado quanto Gordon em uma calça social e camisa.

Meu pai me encontrou encarando e eu vi a tristeza profunda em seu olhar calmo. Charlie foi como um terceiro filho para ele, para ambos meus pais. Eu sabia que isso estava machucando eles também.

“Ande comigo, baby,” ele disse e eu fui para o lado do meu pai. Ele colocou um braço sobre meus ombros enquanto me guiava pelas portas duplas.

Reece estava perto de mim enquanto eu tentava não respirar profundo demais. Eu odiava o cheiro de casas funerárias. A mistura de floral com algo a mais que eu realmente não queria pensar sobre.

Eu fiquei surpresa quando reconheci suas pessoas sentadas do lado dos convidados. Jax e Calla estavam aqui. “Hey,” eu disse com a voz baixa enquanto saia do lado do meu pai. “Pessoal, eu...” Calla se aproximou de mim, sorrindo com tristeza. “O resto da gangue não conseguiu vir, mas eu pude faltar na aula hoje.” “Vocês não precisavam vir,” Eu disse a eles.

“Nós sabemos,” Jax respondeu. Ele colocou uma mão sobre meu ombro e o apertou.

Eu estava literalmente sem palavras. Nunca imaginei como era sentir isso antes. Agora eu entendia. Eles não conheciam Charlie, nunca tiveram o prazer de conhecer ele, mas eles estavam aqui, por mim.

Todos nós entramos no grande cômodo onde o serviço estava sendo realizado e eu me sentei entre meu pai e Reece, olhando reto, para frente. O caixão estava fechado e os pais de Charlie estavam sentados na frente, suas costas eretas o tempo todo. Parte de mim sabia que eu deveria tentar falar com eles, mas estava acontecendo tantas coisas dentro de mim. Eu nunca fui próxima a eles, nunca me senti confortável com sua casa estéril e sem graça. Eu lembrava de como eles tratavam Charlie, como se ele fosse algo que eles se envergonhavam.

Isso também não era justo porque Charlie sabia como eles se sentiam.

Quando o serviço finalmente acabou, lágrimas escorriam pelo rosto da minha mãe e os olhos do meu pai estavam brilhando. Eu não conseguia chorar. Meus olhos estavam quebrados. Isso me frustrou enquanto me levantada do banco desconfortável. A queimação estava lá, no meu peito e na minha garganta, e tinha estado lá desde a ligação, mas era como se algo tivesse quebrado dentro de mim.

A mão de Reece terminou na parte mais baixa das minhas costas, se movendo em um circulo confortável enquanto esperávamos nossa vez para ir para o centro do altar. A urgência de me virar e o abraçar era difícil de ignorar.

No nosso caminho para a saída, eu pensei que vi um vislumbre de Henry saindo por umas das portas laterais. A pressão aumentou dentro de mim enquanto encarava onde eu pensava que ele estava. Não tinha certeza de como me sentia sobre Henry vindo para o funeral de Charlie. Algumas semanas atrás eu estaria bufando de raiva, mas agora? Eu quase queria rir – aquela risada histérica. Eu queria me sentar no meio da casa funerária e rir.

“Babe, você está bem?” Reece perguntou.

louca. Eu concordei, percebendo que provavelmente estava com uma expressão

Ele pegou minha mão na sua e a apertou gentilmente. “Nós podemos levar mais alguns minutos se você quiser.” Deus, ele era... tão bom pra mim.

“Estou bem,” eu disse, e acho que todos em um quilômetro de distância sabiam que isso não era verdade, mas Reece segurou minha mão forte enquanto saiamos da casa funerária.

A caminhada até o tumulo estava quieta como qualquer um poderia esperar. Nosso grupo ficou atrás e, quando eu vi o caixão chegar, eu desvirei o olhar, parando para olhar o tumulo.

Eu inalei profundamente e tudo que percebi foi o cheiro profundo de terra. Isso estava realmente acontecendo. Era isso. Sem mais visitas as sextas feiras. Sem mais esperança que Charlie fosse melhorar, que ele iria olhar para mim e dizer meu nome.

Que ele fosse me falar que tudo isso não era culpa minha.

Oh Deus. Um leve tremor percorreu meu corpo, começando da ponta dos meus pés, apertados por causa do sapato de salto preto, até a ponta dos meus dedos da mão.

Reece soltou minha mão e colocou um braço sobre meus ombros. Ele abaixou sua cabeça, colocando um beijo contra minha testa e meu coração se apertou ainda mais, até o ponto que eu imaginei se teria um ataque cardíaco.

Em vez que assistir o funeral de Charlie, eu me vi no de Reece. Pode parecer loucura, mas por causa de seu trabalho, era plausível. Um dia eu poderia estar exatamente aqui, dizendo adeus para ele.

Eu não conseguia respirar.

A dor me cortou. Eu não conseguia mais fazer isso. Eu me virei para Reece, dizendo exatamente isso.

“Okay. Eu vou te tirar daqui,” ele disse e eu sabia que ele não tinha entendido. Ele não poderia entender. Ele se virou para meu pai, falando baixo demais para que eu pudesse ouvir. Meu pai concordou e, sem dizer uma palavra, Reece me levou para longe do tumulo.

Eu estava andando rápido, minhas mãos em punhos até chegar na sua caminhonete. Quando estávamos ambos do lado de dentro, eu encarei a janela enquanto Reece dirigia e, uma vez que estávamos de volta em seu apartamento, eu não estava me sentindo vazia. Eu estava me sentindo selvagem, como um animal que caiu em uma armadilha.

Eu sabia o que precisava fazer.

Estar com Reece poderia facilmente terminar comigo estando totalmente destruída ao ponto além do conserto. Por um doce tempo, eu me convenci que eu poderia lidar com isso. Que eu poderia me deixar cair por ele e que isso valeria a pena. Estar ali no tumulo de Charlie foi como acordar.

Eu tinha de ser forte para ir embora.

Passando por Reece, eu fui direto para seu quarto, onde minha mala e minha bolsa estavam ao lado da sua cômoda. Eu tirei meus óculos, colocando ele no topo da cômoda e puxei meu cabelo em um coque rápido.

“Roxy?” Sem me virar, eu tirei meus saltos. “Sim?” “Você não está bem.” Eu abri minha boca e uma risada seca saiu. “Estou bem,” Eu peguei meus sapatos, colocando eles no fundo da mala.

“Babe, você acabou de fugir do enterro do seu melhor amigo.” Ele argumentou gentilmente. “Você não está bem.” Com minhas mãos tremendo, eu peguei a pilha de jeans que eu sabia que deve ter sido obra de Reece. Eu a coloquei na mala.

“O que você está fazendo?” sua voz soou mais próxima.

Eu balancei minha cabeça enquanto me abaixava, abrindo o botão da minha calça. Eu a deixei cair no chão e a coloquei na mala. A blusa foi a próxima, me deixando apenas com minha calcinha e um top preto.

“Roxy,” sua voz estava mais estridente. “Olhe para mim.” Contra minha vontade, eu me virei de vagar. Reece tinha tirado seu paletó e a grava. Sua camisa estava aberta, sua pele dourada aparecendo. Eu voltei meu olhar para seus lindos olhos azuis. “Estou olhando para você.” Seu maxilar estava tendo. “O que você acha que está fazendo?” “Estou arrumando minha mala.” Minha voz estava rouca enquanto eu fui em direção a ela. “Parece bem obvio, né?” “Yeah, é obvio, mas eu não entendi o porquê você esta fazendo isso.” Me virando, eu fui até a pilha das minhas camisetas e as peguei, colocando a pilha na mala. “Meu apartamento tem o sistema de segurança. Eu não preciso mais incomodar você.” “Você pode ficar aqui o quanto quiser e você sabe muito bem disso, Roxy.” “Eu sei, mas eu tenho certeza que você precisa de espaço.” Encontrando minhas calças de yoga debaixo da minha bolsa, eu comecei a pegá-la, mas Reece segurou meu braço, me virando. Eu perdi a respiração.

Seus lábios estavam finos enquanto ele falava. “Se eu quisesse espaço, eu teria te falado isso. Isso é algo que você sabe muito bem. Então não brinque comigo. Você está indo embora porque...” Eu não queria ouvir ele terminar essa frase e eu não tinha certeza do que aconteceu depois além de que eu perdi a calma. Todo meu controle foi embora como

um curativo sendo puxado. Eu soltei meu braço e coloquei minhas mãos em seu peito, o empurrando.

Pego de surpresa, ele cambaleou uns passos, a parte de trás das suas pernas batendo na cama. Suas sobrancelhas arregaladas. “Você realmente acabou de me empurrar.” Eu não podia dizer pelo seu tom se ele queria rir ou me empurrar de volta, e isso me irritou. Eu não estava mais vazia. Eu estava transbordando – cheia de raiva, desamparada e mais um milhão de emoções. Então eu o empurrei de novo e, dessa vez, ele se sentou. Minha respiração estava pesada enquanto eu o encarava.

“Isso te fez se sentir melhor?” ele perguntou, sua voz forçadamente calma.

“Talvez fez.” Levantando seu queixo, ele erguei seus braços. “Babe, se me bater faz que você se acalme e pense melhor no que está realmente fazendo agora, então vá em frente.” Fiquei embasbacada. “Você quer que eu bata em você?” “Não de verdade.” Eu hesite e fui de novo em direção as minhas calças, mas sua mão disparou e a próxima coisa que soube, ele me tinha em seu colo. “Oh, não, você não vai fazer isso. Você vai me contar porque quer voltar para seu apartamento. O motivo de verdade.” “Eu já falei.” Eu me soltei e fui para frente. Estávamos peito a peito, meus joelhos em cada lado de suas pernas e ele tinha um aperto de ferro em meus pulsos. Meu coração estava acelerado quando nossos olhares se encontraram. “Me solte.” “Esse não é o motivo real.” Meus dedos se fecharam. “O que? Você é médium agora? Você bateu sua cabeça no coldre da arma?” Um lado de seus lábios se curvaram para cima. “Não. Eu apenas não sou cego. Cara, isso não foi como eu imaginei o dia de hoje,” ele disse. “Eu sei que você tem mil coisas na sua cabeça, mas nós precisamos conversar.”

“Não tem nada que precisamos conversar.” Seu aperto afrouxou o suficiente para que eu conseguisse me soltar e me levantar. Ou tentar. O momento que minhas mãos se conectaram com seu ombro, ele xingou e me segurou.

“Isso é uma completa mentira e você sabe disso. Tem uma coisa que eu nunca achei que você fosse e isso é ser covarde. Mas você está agindo como uma agora.” “O que?” Eu me afastei o máximo que pude. Deixar ele estava tomando cada força que eu tinha. Isso não era ser fraca.

“Não faça isso,” ele disse de novo. “Pare de agir como uma covarde.” “Eu não estou sendo covarde! Eu só não quero mais isso com você. Foi divertido, mas é isso. Eu quero ir para casa. Eu quero seguir com minha vida...” “Oh, pelo amor de Deus, você pode mentir melhor que isso. Você me queria desde seus quinze anos e agora que me tem você não está arriscando se machucar por mim? Que porra é essa?” Whoa. Ele tinha me entendido ali. “O-o que você quis dizer com se machucar?” “Você acha que eu não sei?” Ele balançou sua cabeça. “Você tem medo, Roxy. Medo de se machucar – desde o que aconteceu com Charlie. Você não quer sentir esse tipo de dor de novo. Eu entendo isso. Mas você não pode viver a sua vida toda assim. Jogando tudo para o ar – jogando isso pro ar – só porque você acha que vai se machucar. E não é só comigo. É com tudo.” Eu não sabia o que dizer.

Reece continuou. “O que? Você vai embora hoje, vai voltar a namorar perdedores que não valem o ar que respiram porque lá no fundo você não liga para eles? Seu coração não está nisso, então você está segura? Mas comigo, é diferente.” “Você não entende,” eu sussurrei, impressionada.

“Eu não entendo?” Ele parecia que queria me sacudir. “Babe, eu sei como é ter esse medo. Eu assisti meus amigos morrerem no exterior. Eu vim para casa e cada dia que vou trabalhar pode ser meu último. Eu penso no meu irmão, sabendo que enfrenta a mesma coisa que eu. Eu tenho medo de perder você.”

Eu engasguei. “Eu?” “Sim, você. Você, Roxy. Você tem um maldito perseguidor. Eu estou assustado pra caralho por você.” Agora ele realmente parecia que queria me esganar. Um pouco. “E vai além disso. Você pode se envolver em um acidente de trânsito. Eu sei como você dirige.” “Rá,” eu murmurei.

“Qualquer coisa pode acontecer a você a qualquer momento, mas você não me vê fugindo do que temos – o que podemos ter. Você tem que lidar com o que aconteceu com Charlie. Isso não significa que você precisa lidar com isso sozinha.” “O que você sabe sobre ter de lidar com isso?” eu retruquei.

Ele me perfurou com um olhar.

“Você mal fala sobre o tiroteio! Você tem pesadelos por causa disso!” Eu gritei, minha garganta queimando. “Não é como se você soubesse como lidar também, Sr. Malditamente Perfeito.” “Eu não estou dizendo que sei como lidar com isso. Merda, Roxy. Eu e você sabemos muito bem que eu passei pelo inferno para lidar com isso e ainda passo!” ele gritou de volta e por um segundo, eu pensei que ele pudesse me jogar do outro lado do quarto. Eu acho que eu merecia isso. “Eu bebi até o estupor por não saber como lidar com o fato que eu atirei e matei um menino de dezoito anos.” Eu estremeci. “Reece, eu...” “Não. Você vai me ouvir. Por quase um ano, eu lidei pelo que tive que fazer bebendo em vez que falar com alguém – qualquer um sobre isso. Mesmo se não fosse por Jax, eu teria engolido a merda de uma bala porque, deixe-me te dizer algo, eu tive que escolher entre a vida e a morte por vezes suficientes naquele maldito deserto que eu sei que escolher isso é uma merda. E eu ainda escolhi ser um policial sabendo do fato que teria de lidar com isso de novo. Não deixa isso nem um pouco mais fácil quando preciso escolher.” Era isso que ele não tinha falado para mim naquela noite na sacada, o quão ruim era a culpa e a raiva que ele sentia. Oh meu Deus, eu não queria ouvir o quão

ruim isso soava. Eu não queria nem mesmo pensar nele tendo eu enfrentar esse tipo de dor. Isso me devastou.

“Mas Jax me fez falar sobre isso. Ele me fez ir ao maldito conselheiro que o departamento pediu que eu levasse a sério. E você está certa. Eu ainda não sei lidar bem com isso, mas pelo menos estou tentando. Eu não estou te afastando. Eu estou tentando lidar. Mas você nem mesmo tentou uma vez, não em seis anos.” Sem poder ficar e ouvir isso, eu tentei me soltar de novo, mas ele não estava me deixando ir a lugar algum.

“Você está indo para a faculdade, pegando um diploma que você não quer porque você em medo de admitir e aceitar que você gosta de trabalhar no Mona’s. Não porque você não tem capacidade, mas porque isso te da tempo de fazer aquilo que você ama – que é pintar. Mas você nem mesmo se arrisca. Você continua, apenas para ficar segura. Sem encarar os riscos.” “Cale a boca,” Eu estava fervendo, desejando que nunca tivesse falado para ele o quanto eu odiava as aulas. Era uma boa coisa que ele ainda estivesse segurando meus pulsos, porque eu provavelmente teria batido nele.

“Yeah, a verdade é uma merda né?” Seu olhos brilhavam. “O que você não entende é como o que aconteceu com Charlie te deixou com tanto medo de tudo, mas você sabe o que sei?” Seus olhos brilharam azuis como fogo. “Eu te amo, Roxy. A morte de Charlie não vai mudar isso. Isso aqui não vai mudar isso. E eu sei que você se sente da mesma forma.” Ele – ele o que?

Ele – ele disse que eu sentia o que?

Yep, era hora deu sair dali. Usando toda minha força, eu tentei me afastar dele, o que me levou a lugar nenhum.

“Roxy, pare.” Ele exigiu.

Frustração aumentou mas também tinha algo mais. Nós estávamos pressionados juntos em todos os lugares que importavam e, apesar do fato que eu estava tentando abandonar ele e que estávamos discutindo, quanto mais tempo eu

estivesse sentada nele, mas eu conseguia sentir ele enrijecendo abaixo de mim, e meu corpo estava cheio de desejo só pelo contato.

E ele tinha dito que me amava.

Eu me movi em seu colo, o que apenas fez com que eu estivesse montando nele. Aquele calor me percorreu, e eu vi o exato momento que ele sentiu a mesma coisa que eu.

Sua feição enrijeceu. “Jesus...” Minha respiração estava ofegante enquanto eu encarava seus lábios inexpressivos. Eu ainda estava tentando me soltar, e provavelmente era uma boa coisa que ele não tinha me deixado ir, porque eu provavelmente iria cair de costas. Eu me movi para frente, esperando que isso fosse desiquilibrar ele, e seu gemido de resposta fez meu corpo pegar fogo.

Eu parei de pensar. Ou, talvez eu estava pensando tanto que eu não conseguia focar em nenhum pensamento em particular, além de que eu precisava disso – eu precisava dele. Apenas mais uma vez. Não custou nada alcançar sua boca, e quando nossos lábios se encontraram, ele se afastou um pouco.

“Roxy...” Eu não queria ouvir nada, especialmente se ele fosse tentar introduzir um pouco de lógica o que estava acontecendo. Pressionando meus lábios contra os seus, eu o beijei mais forte e, quando ele não me beijou de volta, eu mordi seu lábio inferior.

Reece ofegou e eu aproveitei a vantagem, deslizando minha língua para dentro de sua boca, envolvendo ela com a sua enquanto eu movia meu quadril contra ele, mas dessa vez eu não parei. Eu me movia em seu colo, gemendo durante o beijo enquanto o prazer me fazia girar tão forte que parecia que eu podia ver tudo branco atrás dos meus olhos.

Ele soltou meu pulso, abaixando sua mão para meu quadril, e eu passei meus braços em volta do seu pescoço, meus dedos em seu cabeço enquanto eu deslizava o outro pela sua garganta, e mais para baixo, sobre seu peito e seu estômago definido. Meus dedos alcançaram o primeiro botão e eu abri com facilidade.

“Merda,” ele disse, seus olhos cheios de necessidade. “Nós não acertamos tudo...” ele gemeu quando eu o segurei através das suas calças. “Merda, Roxy... você não está jogando limpo.” “Eu não estou jogando.” Meus lábios pareciam inchados enquanto eu trazia minha boca de volta a sua enquanto o esfregava sobre sua calça. Quando ele não me parou, eu rapidamente abaixei o zíper e soltei seu grande e pulsante comprimento das suas boxers.

Reece se inclinou para trás, seu olhar deslizando para onde eu o tinha em minha mão. Sua voz era como fumaça quando ele falou. “Não é disso que você precisa agora.”

“Sim, é.” Eu coloquei minha testa contra a sua. “Isso é o que eu quero

agora.”

“Roxy,” Ele disse meu nome como se ele fosse algo ruim e bom.

Eu percorri seu cumprimento com minha mão, passando meu dedão sobre a cabeça de seu pênis. “Me toque,” eu implorei, supliquei. “Por favor, Reece, me toque.”

Ele fez aquele som que me deixava louca, aquele gemido profundo que era tão cru e masculino que fazia meus dedos do pé e os músculos na minha barriga se contraírem. Então, ele levantou uma de suas mãos. Finalmente. Ele abaixou a alça do meu top e afastou a taça do meu sutiã, libertando meu seios.

Reece me tocou.

Ele fez mais do que apenas me tocar. Sua mão estava possessiva assim como seus beijos. Nós estávamos corados e ofegantes enquanto eu trabalhei ele até o ponto que ele afastou minha mão, arrancando minha calcinha depois disso. Não havia mais espera. De joelhos, eu me abaixei sobre ele, pele contra pele. Eu gemi ao sentir ele, em como ele me esticava, e como eu queimava em volta de seu cumprimento e em cada lugar que ele me tocava e me beijava.

Me deixando estabelecer o ritmo, Reece me deu o completo controle enquanto me movia sobre ele, levantando e abaixando devagar no começo e, então, mais rápido enquanto meus músculos se contraiam em volta dele. Enquanto o prazer

aumentava, e girava mais e mais, a liberação começou a me percorrer, então ele se moveu, assumindo o controle. Pegando meu quadril com uma mão e a parte de trás da minha cabeça com a outra, seu quadril começou a investir contra mim, me levando ao delírio. A liberação foi tão poderosa, tão explosiva que foi quase dolorosa, quase demais para mim. Eu não tinha certeza se podia aguentar, mas eu não queria fugir. Não quando eu comecei a sentir ele perdendo o controle, quando ele gemeu meu nome no meu ouvido. Eu sabia que ele estava próximo. Ele segurou meu quadril mais forte e começou a me levantar de si. Eu não queria que ele tirasse. Essa... essa seria nossa última vez, e eu queria sentir ele vivo dentro de mim. Eu confiava nele, e eu não tinha mais pulado nenhuma das minhas pílulas.

Eu me abaixei nele, segurando ele tão forte como ele me segurava, e ele sabia o que eu queria porque eu senti ele começar a tremer.

“Roxy,” ele gemeu meu nome, seu corpo tremendo contra o meu enquanto seus braços me envolviam.

Levou um pouco de tempo para eu me mover depois disso. Eu conseguia sentir seu coração palpitando tão forte quanto o meu, e eu senti cada parte do seu corpo em cada célula do meu. Nós não falamos enquanto eu descansava em seu colo. Nós... nós apenas seguramos um ao outro em silêncio, um silêncio cheio de palavras não ditas. Foi quando nós não estávamos mais unidos que eu sabia que era hora.

“Eu preciso me limpar.” Minha voz soou estranha para mim. Baixa demais. Vazia demais.

Ele afrouxou seus braços e eu me levantei, pegando minha calcinha do chão. Nosso olhos se encontraram por um momento e eu tentei ignorar a pergunta neles enquanto eu ajeitava meu sutiã e meu top. Então eu me virei, correndo para seu banheiro. Eu não demorei porque eu sabia que se atrasasse isso, eu não iria sair. Depois de me limpar, eu vesti minha calcinha.

Eu precisava ir embora, certo? Eu não podia ficar aqui e eu não podia ficar com ele porque eu...

Eu o amava.

Eu estava apaixonada por ele há tanto tempo.

A queimação reacendeu no meio do meu peito. Eu me afastei da porta, lutando para limpar meus pensamentos, mas haviam tantas coisas no meio disso. A parte de trás das minhas pernas bateram na banheira e eu me sentei. Minha calcinha não era proteção suficiente contra a cerâmica fria.

O que eu estava fazendo?

Eu estava fugindo. Eu estava assustada. Nada que ele disse era novidade para mim. Merda, eu sabia muito sobre isso, mas ouvir isso vindo dele tinha quebrado as paredes erguidas a minha volta que eu nem sabia que existiam.

“Roxy?” A voz profunda de Reece me assustou.

Meus olhos estavam colados na porta. Eu tentei respirar mas isso não ajudou em nada. A pressão estava de volta e era demais.

“Você está bem?” ele perguntou.

Meu lábio inferior tremeu enquanto eu fechava minha mão em punhos. Me afastar de Reece não era eu sendo forte. Era eu sendo fraca, eu fazendo o que eu sempre fazia quando era hora de foder com tudo. Mas não era apenas medo puro. Oh não, era mais profundo que isso.

A porta do banheiro abriu e o corpo de Reece a preencheu. Sua camisa estava amassada e ele não tinha abotoado suas calças. Ele olhou para mim, e tudo que eu estava pensando devia estar escrito em meu rosto. Sua expressão se suavizou enquanto ele me encarava.

Emoção subiu para minha garganta. “É... é minha culpa.” Reece entrou no banheiro de vagar, como se ele estivesse com medo de me machucar. “O que é culpa sua, baby?” “O que aconteceu com Charlie.” Minha voz quebrou. Eu estava olhando para

o nada.

Suas sobrancelhas franziram enquanto ele se ajoelhava na minha frente, mantendo suas mãos em suas coxas. “Querida, o que aconteceu com ele não é culpa sua.”

“Sim, é.” Eu sussurrei, porque dizer isso em voz alta era demais. “Você não entende. Você não estava lá. Eu que provoquei a situação.” Seus olhos arregalaram. “Roxy...” “Ele estava dando em cima de mim. Henry.” “Você não fez nada de errado, Roxy.” Raiva encheu o rosto de Reece, misturado com tristeza. “Você tem permissão de dizer não a um cara, se não estiver interessada, sem se preocupar com a retaliação. Não é culpa sua.” Eu balancei minha cabeça. “Ele sempre dava em cima de mim, e eu conseguia lidar com isso, mas ele insultou Charlie. Ele chamou ele de viado.” Eu comecei a tremer enquanto abraçava a minha cintura. “Eu comecei a gritar para Henry. Então ele chamou Charlie daqueles nomes. Charlie continuou me pedindo para ir embora, mas eu não podia, porque eu sabia o quanto isso o incomodava. Ele odiava esse tipo de coisa, e isso o machucava. Então Henry perguntou se eu era um ‘traveco’ e se era por isso que eu andava com uma ‘bicha’ o tempo todo. Eu perdi. Eu empurrei Henry. Como eu te empurrei.” Eu me inclinei, encarando meus dedos do pé enquanto aquela noite reprisava em detalhes vívidos. “Charlie me pegou e nós estávamos indo embora. Assim como Henry. Então eu... eu me virei e disse... eu mandei ele ir se foder porque era o único jeito que um lixo como ele poderia ter alguma ação.” Reece fechou seus olhos.

“Foi aí que ele pegou aquela pedra e a jogou.” Eu me balançava devagar, minha cabeça junto. “Se eu apenas tivesse mantido minha boca fechada, nós teríamos indo embora e tudo seria diferente. Eu estou assustada. Você está certo sobre isso. Eu estou tão assustada de perder você e sentir esse tipo de dor de novo, mas é mais que isso. Por que eu mereço ter o que eu quero quando Charlie nunca poderá ter? Eu falei demais. Levei a situação ao próximo nível. Eles não prendem pessoas por esse tipo de coisa? Assalto verbal – até assassinato? Por que eu mereço você? Por que eu mereço ter o que eu amo pelo resto da minha vida?” Quando Reece abriu seus olhos, eles não estavam cheios de censura ou julgamento, apenas dor. “Palavras,” ele disse com a voz baixa. “Você jogou palavras. Assim como Henry. E você sabe que palavras podem fazer um bom estrago. Eu não

estou dizendo que não fazem. As vezes elas podem cortar mais profundamente que uma faca, mas você não pegou aquela pedra. Você não a jogou. Henry fez essa escolha. É o que parece que ele mais se arrepende e eu duvido que ele pensou que iria machucar Charlie daquele jeito, mas ele não pode mudar isso. E você não pode mudar o que você disse, mas Roxy...” Ele se sentou se joelhos na minha frente enquanto cuidadosamente segurava meu rosto em suas mãos. “O que aconteceu com Charlie não foi culpa sua. Você não machucou ele. Foi Henry. E eu sei que vai precisar mais do que minhas palavras para você realmente aceitar isso, mas eu vou estar aqui para você todo dia para te lembrar que você merece cada coisa que essa vida tem a te oferecer.” Eu solucei. A parte de trás dos meus olhos queimavam. Seu rosto estava embaçado e minhas bochechas estavam úmidas.

“Lembra de tudo que eu disse no quarto? Eu estou com medo também. E vão haver vezes que eu vou questionar o que eu mereço, mas nós estamos nisso juntos. Então caia comigo,” ele disse, passando o dedão contra minha bochecha. “Deixe-se livre e caia comigo e, baby, eu vou te pegar. Eu vou fazer você passar por isso. Você precisa apenas se arriscar.” Então eu quebrei, totalmente aberta. Eu chorei profundamente, o tipo feio de choro que ninguém ficava bem ao fazer. Aquelas lágrimas vieram e elas eram por tudo que Charlie havia perdido. Elas eram por Reece e tudo que ele teve de fazer. Elas até eram por Henry, porque uma pequena parte de mim tinha acordado naquele momento, tinha aberto seus olhos e percebido que Henry... ele tinha jogado sua vida fora quando jogou aquela pedra, e isso também era uma merda, porque talvez Reece estivesse com razão. Talvez ele nunca quis fazer isso. Eu chorei porque não estava mais entorpecida. Eu estava machucada. Eu estava com medo. Eu tinha começado o processo de perder meu melhor amigo há seis anos e eu nem tinha começado a me livrar de toda aquela dor e ódio e tudo isso eram emoções tóxicas.

Eu nem me lembro de ter deslizado da borda da banheira para os braços de Reece, mas como ele havia prometido, ele estava ali para me segurar enquanto eu me desfazia.

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