Capítulo Vinte e Três Eu nunca soube que a dor poderia ser tão ruim ao ponto de te deixar entorpecida. Que a dor poderia ser tão profunda que levava todas suas emoções, apenas sugando tudo para dentro. Era assim que estava me sentindo. Vazia. Sem chão. Eu não chorei naquela noite. Nem mesmo quando Reece me levou de volta para sua casa. Nem quando ele me ajudou a trocar ou quando ele me levou para cama. Nem quando ele me abraçou e me segurou até que cai no sono. O final de semana e os dias seguintes ao telefonema eram um borrão. Jax me deu uma semana de folga do bar e eu nem pretendi lutar contra sua decisão. Minha cabeça não estava em um bom lugar para estar trabalhando com o público. Minha cabeça não estava em qualquer lugar que ela precisava. Eu não chorei quando eu fui ao instituto na terça pegar todas as pinturas e as coisas pessoais que eu tinha deixado no quarto de Charlie. Três caixas grandes saíram de lá e foram colocadas na parte de trás da caminhonete de Reece. Eu não chorei nem quando eu vi sua cama vazia. Nem quando eu descobri que ele tinha morrido dormindo, devido a um aneurisma. Nem quando eu descobri que ele morreu sozinho. Haveria uma autopsia e o funeral estava marcado para a quinta. Eu não conseguia acreditar que isso iria acontecer tão cedo, como se seus pais estivessem esperando por isso, como se a cova já estivesse sido cavada há anos e eles estavam apenas esperando que ela fosse preenchida. Eu não chorei quando Reece me levou ao meu apartamento ou quando eu coloquei as pinturas que tinha feito para Charlie no canto do meu estúdio. Nem percebi que meu apartamento já estava com o sistema se segurança, em todas as janelas e portas. Na verdade, eu reparei, só que eu simplesmente não ligava. Era quinta feira de manhã e eu estava colocando minhas calças de tecido pretas que agora estavam largas demais, e eu percebi que Reece não tinha ido 279