FALL WITH ME JENNIFER L. ARMENTROUT
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Para os leitores. Espero que vocĂŞs gostem!
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Onze meses atrás a estranha bartender, e usuária de camisetas estranhas, Roxy e o policial Reece Anders tiveram uma noite de amor. Bem, meio que. Ela esteve apaixonada por ele desde os seus quinze anos e ele deseja que essa noite entre eles nunca tivesse acontecido. Ela jurou afastar ele, mas o passado e o futuro colidem, forçando ela a confiar no único homem que quebrou seu coração não uma, mas duas vezes. Seu melhor amigo desde o nascimento está em uma instituição para cuidados desde que foi vítima de um crime de ódio anos atrás e a pessoa que o colocou lá saiu da prisão e está a espera para acertar as contas com ele e com Roxy. Ela não tem certeza se pode perdoar e quando começa a receber mensagens assustadoras e está do lado receptivo de certa violência, ela sabe a quem culpar. O homem que já destruiu uma vida. Mas Reece não está convencido. As ameaças são pessoais demais e mesmo que Roxy não acredite nele, ele não está disposto a deixar ninguém a machucar. Incluindo a si mesmo. Ele já estragou tudo quando se trata de Roxy e ele não vai deixar a história se repetir.
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Capítulo Um
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Capítulo Dois
13
Capítulo Três
21
Capítulo Quatro
33
Capítulo Cinco
50
Capítulo Seis
61
Capítulo Sete
71
Capítulo Oito
80
Capítulo Nove
91
Capítulo Dez
100
Capítulo Onze
115
Capítulo Doze
133
Capítulo Treze
144
Capítulo Quatorze
155
Capítulo Quinze
167
Capítulo Dezesseis
178
Capítulo Dezessete
191
Capítulo Dezoito
212
Capítulo Dezenove
225
Capítulo Vinte
239
Capítulo Vinte e Um
253
Capítulo Vinte e Dois
265
Capítulo Vinte e Três
279
Capítulo Vinte e Quatro
296
Capítulo Vinte e Cinco
312
Capítulo Vinte e Seis
321
Capítulo Vinte e Sete
335
Cena Bônus
344
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Capítulo Um Apenas dez minutos se passaram desde que eu tinha me jogado em uma poltrona almofadada no interior da sala de espera ensolarada, até que vi um tênis branco insinuar-se na linha da minha visão. Estava ocupada encarando os pisos de madeira e pensando que o ramo de cuidados particular devia pagar bem, pois precisava de muito dinheiro para ter este tipo de madeira escura de aparência cara. Então, novamente, os pais de Charlie Clark não pouparam nenhuma despesa nos cuidados a longo prazo para seu único filho. Arrumaram as melhores instalações da Filadélfia. A quantidade de dinheiro que eles gastaram no ano tinha que ser astronômico - definitivamente mais do que eu fiz como bartender no Mona’s e os bicos de web design. Imaginei que pensavam que fazendo isso, compensava o fato que visitavam seu filho apenas uma vez no ano, por vinte minutos. Havia no mundo pessoas melhores e mais compreensivas que eu, porque a queimação familiar de irritação que sentia toda vez que pensava sobre seus pais, era difícil de ignorar, enquanto arrastei meu olhar para o sorriso de boas vindas estampado no rosto da enfermeira. Eu pisquei uma vez e depois duas, não reconhecendo o cabelo cor de cobre ou os olhos mais jovens cor de avelã. Esta senhora era nova. Ela olhou para o topo da minha cabeça e seu olhar permaneceu em meu cabelo por um momento mais que o normal, mas o sorriso não vacilou. Não era como se meu cabelo estivesse uma loucura. Eu tinha mudado as mechas vermelhas para roxas há poucos dias, mas parecia uma bagunça quente. Eu tinha todo o comprimento longo, torcido em minha cabeça. Fechei o bar na noite passada, o que significava que não tinha ido pra casa até depois das três da manhã, e levantar-me, escovar os dentes, e lavar meu rosto antes de vir pra cidade, era um inferno de uma proeza. "Roxanne Ark?", Ela disse quando parou na minha frente, apertando as mãos juntas.
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Meu cérebro gritou ao som do meu nome completo. Meus pais eram bizarros. Havia uma boa chance de que eles estavam drogados no último ou algo assim. Eu fui nomeada por causa da música "Roxanne", e meus irmãos eram Gordon e Thomas, que eram a composição do verdadeiro nome do Sting1. "Sim", eu disse, estendendo a mão para a sacola que trouxe comigo. Seu sorriso se manteve firme no lugar quando ela apontou para as portas duplas fechadas. "A enfermeira Venter está fora hoje, mas ela explicou que você vem todas as tardes de sexta ao meio-dia, por isso temos Charlie pronto." "Ah, não, ela está bem?" Uma preocupação surgindo em torno de mim. Enfermeira Venter tinha se tornado uma amiga nos últimos seis anos que o visitei. Tanto é que eu sabia que seu filho mais novo finalmente se casaria em outubro, e seu filho do meio tinha acabado de dar-lhe seu primeiro neto no mês passado, em julho. "Ela adoeceu com um resfriado de fim de verão", explicou ela. "Ela realmente queria vir hoje, mas todos nós achamos que seria melhor se ela tomasse o fim de semana para se recuperar." A nova enfermeira se afastou para eu passar. "Ela me disse que você gosta de ler para Charlie?" Concordei e apertei o meu domínio sobre minha bolsa. Parando nas portas, ela pegou seu crachá e o passou ao longo de um sensor na parede. Houve um estalo e então ela empurrou a porta aberta. "Ele teve um bom par de dias. Não tão grande como nós gostaríamos”, ela continuou enquanto nós entramos na sala ampla, bem iluminada. As paredes brancas e nuas. Nenhuma personalidade. Nada. "Mas ele estava no início desta manhã.” Meus chinelos verde néon batiam no piso de cerâmica, mas os sneakers da enfermeira não faziam nenhum barulho. Nós passamos pelo hall que eu sabia que levava ao quarto anexo. Charlie nunca gostou de sair de lá, o que era tão estranho, porque antes... antes de ele estar ferido, ele tinha sido tão social, borboleteando por aí.
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Gordon Matthew Thomas Sumner, (Wallsend, 2 de outubro de 1951), mais conhecido pelo seu nome artístico, Sting, é um músico, cantor e ator inglês. Antes de sua carreira solo foi o principal compositor, cantor e baixista da banda de rock The Police.
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Ele tinha sido um monte de coisas. O quarto de Charlie era no outro corredor, uma ala feita especialmente para ter vista para a paisagem verde e a piscina terapêutica que Charlie nunca apreciou. Ele nunca foi um bom nadador antes, mas cada vez que eu via aquela maldita piscina lá fora, eu queria bater em alguma coisa. Não sei do que se tratava, talvez fosse porque o resto de nós tinha esse privilégio - a capacidade de nadar por nossa conta - ou talvez fosse o fato de que a água sempre parecia tão sem limites para mim, mas o futuro de Charlie foi severamente limitado. A enfermeira parou do lado de fora da porta fechada. "Quando você estiver pronta para sair, você sabe o que fazer.” Eu sabia. Quando eu sair, tenho que parar no posto de enfermagem fazer o check-out. Imagino que eles querem ter certeza que eu não estava tentando sequestrar Charlie ou algo do tipo. Com um aceno pouco feliz, a enfermeira se vira e caminha de volta pelo corredor. Olhando para a porta por um momento, eu puxo uma respiração profunda e exalo lentamente. Eu sempre tinha que fazer isso antes de ver Charlie. Era a única maneira de desfazer essa bola de emoção com toda decepção, raiva e tristeza de mim, antes que eu entrasse em seu quarto. Eu jamais quis que Charlie visse isso. Às vezes eu falhava, mas eu sempre tentava. Só depois, quando achei que poderia sorrir, sem me sentir afetada, abri a porta; e como toda sexta-feira pelos últimos seis anos, ver Charlie, era como levar um soco na garganta. Ele estava sentado em uma cadeira na frente da grande janela de vidro, que ia do chão ao teto. Era uma daquelas papasan chair2 com uma almofada azul vibrante. Ele tinha isso desde os dezesseis anos, ganhou em seu aniversário, apenas alguns meses antes de tudo mudar para ele.
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Charlie não olhou para cima quando entrei no quarto e fechei a porta atrás de mim. Ele nunca o faz. O quarto não era tão ruim, bastante espaçoso, com uma cama de casal ordenadamente feita por uma das enfermeiras, uma escrivaninha que eu sabia que ele nunca usou, e uma TV que nunca, nos seis anos, vi ligada. Sentado naquela cadeira, olhando pela janela, ele parece tão magro, até mesmo seco. Enfermeira Venter disse-me que tinham dificuldade em dar-lhe de comer três refeições por dia, e quando tentaram mudar para cinco menores refeições, não resolveu muita coisa. Um ano atrás, ficou tão ruim, que tiveram que colocar um tubo de alimentação; eu ainda podia sentir o medo, porque pensei que iria perdê-lo. Seu cabelo loiro tinha sido lavado esta manhã, mas não estava estilizado e era muito mais curto do que como costumava usá-lo. Charlie gostava do corte artisticamente bagunçado e era simplesmente um arraso nele. Hoje, ele estava usando uma camisa branca com uma calça de moletom cinza, nem mesmo a do tipo legal. Não, estas tinham faixas elásticas no tornozelo, e Deus, ele teria tido um ataque se soubesse que estaria usando-os agora - justamente por isso, porque Charlie... bem, ele tinha tanto estilo e bom gosto. Caminhando em direção à outra papasan chair com uma almofada azul, que eu tinha comprado em harmonização à sua, há três anos, limpei minha garganta. "Ei, Charlie." Ele não olhou. Não havia nenhuma decepção. Quero dizer, estava lá, aquela sensação de "isso não é justo", mas não havia uma nova onda de desânimo que precisasse prender a respiração, porque isto foi como o de sempre. Sentando-me, coloquei a bolsa ao lado de minhas pernas. De perto, ele parecia mais velho do que seus vinte e dois anos. Seu rosto magro, pele pálida, e profundas sombras sob olhos verdes que anteriormente eram tão vivos. Eu puxei outra respiração profunda. "Está ridiculamente quente lá fora hoje, então não tire sarro dos meus shorts curtinhos." Naquela época, ele teria feito eu me
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trocar antes mesmo de me atrever a sair em público. “A previsão do tempo está dizendo que a temperatura irá bater recordes neste fim de semana." Charlie piscou lentamente. "É suposto tempestades muito ruins, também." Eu apertei minhas mãos juntas, orando para que ele olhasse para mim. Algumas visitas ele não fazia isso. Ele não tinha feito pelas três últimas, e isso me aterrorizava, porque da última vez que ele levou muito tempo sem me reconhecer, teve uma convulsão horrível. Essas duas coisas provavelmente não tinha nada em comum, mas ainda assim, causava um desconforto no meu estômago. Especialmente desde que a enfermeira Venter tinha explicado que convulsões eram bastante comuns em pacientes que tinham sofrido esse tipo de trauma cerebral. "Você se lembra do quanto gosto de tempestades, certo?" Sem resposta. "Bem, a menos que ela gere tornados,” disse. "Mas nós estamos basicamente em Philly, por isso duvido que haja muitos deles passeando por aqui.” Outro piscar lento que peguei de seu perfil. "Oh! Amanhã à noite no Mona’s, estamos fechando o bar para o público:" Eu divagava, sem saber se já tinha dito a ele sobre os planos, não que isso importava. "É uma coisa de festa privada." Fiz uma pausa, longa o suficiente para tomar uma respiração. Charlie ainda olhava pela janela. "Você gostaria do Mona’s, eu acho. É uma espécie de inútil, mas de uma maneira estranha, bom. Mas já lhe disse isso antes. Eu não sei, quem dera...” Acrescento, franzindo os lábios. Quando seus ombros subiram em um suspiro profundo e pesado. "Desejo um monte de coisas", terminei em um sussurro. Ele começou a balançar no que parecia ser um movimento inconsciente. Era um ritmo suave, como se estivesse no oceano, lentamente empurrando para trás e para frente.
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Por um momento, lutei contra o impulso de gritar e botar para fora toda a frustração de dentro de mim. Charlie costumava falar a mil por hora. Os professores em nossa escola primária tinham o apelidado de Boca Poderosa, e ele riu - oh Deus, ele tinha a melhor risada, tão contagiante e real. Mas ele não ria há anos. Apertando meus olhos fechados contra a onda de lágrimas quentes, só queria jogar-me no chão e me debater. Nada disso era justo. Charlie deveria estar andando por aí. Ele deveria estar se formando na faculdade agora e conhecido um cara quente que iria amá-lo, e ir a encontros duplos comigo e qualquer cara que eu arrastasse junto. Deveria poder fazer o que ele tinha jurado que faria e publicado seu primeiro romance. Nós seriamos como antes. Os melhores amigos, inseparáveis. Ele me visitaria no bar, e quando fosse necessário, me diria para me recompor. Charlie deveria estar vivo, porque isso -o que quer que isso seja- não era viver. Em vez disso, uma porra de noite, uma vertente de algumas palavras estúpidas e uma maldita pedra, tinham destruído tudo. Eu abri meus olhos, esperando que ele estivesse olhando para mim, mas não estava, e tudo que eu podia fazer era me recompor. Descendo, peguei uma folha dobrada de Aquarela da minha bolsa. "Eu fiz isso pra você." Minha voz estava rouca, mas continuei. "Lembra quando tínhamos quinze anos, e meus pais nos levaram a Gettysburg? Você amou a Caverna do Diabo, então isso é o que é." Desdobrando a pintura, segurei para ele poder ver. Isto me tomou algumas horas ao longo da semana para pintar a areia e rochas, com vista para os prados verdejantes, para obter a cor certa dos pedregulhos e as pedras entre eles. O sombreamento tinha sido a parte mais difícil, uma vez que estava em aquarela, mas gosto de pensar que ficou muito legal. Levantei-me e caminhei com a pintura para a parede do outro lado de sua cama. Peguei uma tachinha da mesa, e pendurei ao lado das outras pinturas. Havia uma para cada semana que fui visitá-lo. Trezentas e doze pinturas. Meu olhar viajou sobre as paredes. Os meus favoritos eram os retratos que tinha feito dele, pinturas de Charlie e eu juntos quando éramos mais jovens. Eu 10
estava ficando sem espaço. Logo, teria que começar com o teto. Todas as pinturas eram do... passado. Nada do presente ou futuro. Apenas uma parede de memórias. Fiz meu caminho de volta para a cadeira e tirei o livro que estava lendo para ele. Era Lua Nova, e nós chegamos até ir ver o primeiro filme juntos. Quase chegamos a ver o segundo. Quando abri na última página que tinha parado, eu estava convencida de que Charlie teria sido do time de Jacob. Ele nunca gostou de vampiros emos. Embora esta fosse à quarta vez que li o livro para ele, ele parecia gostar. Pelo menos, é isso que eu disse a mim mesma. Nem uma única vez durante a hora que passei com ele, ele olhou para mim, e quando me arrumei para ir, meu coração estava tão pesado quanto aquela pedra que tinha mudado tudo. Inclinei-me para ele. "Olhe para mim, Charlie." Esperei uma pulsação com minha garganta obstruída. "Por Favor." E tudo o que ele fez foi piscar enquanto se balançava lentamente. Vai e volta. Isso era tudo, enquanto eu esperava um total de cinco minutos por uma resposta, qualquer resposta, mas não tive nenhuma. Meus olhos estavam umedecidos enquanto pressionei um beijo contra sua bochecha fria e depois me endireitei. "Vejo você na próxima sexta-feira, ok?" Eu fingi que ele disse que tudo bem em troca. Era a única maneira que eu poderia sair daquele quarto e fechar a porta atrás de mim. Saí e quando fiz meu caminho para fora, no calor escaldante, peguei em minha bolsa meus óculos de sol e o coloquei. O calor fez maravilhas para minha pele gelada, mas não aqueceu minhas entranhas. Era sempre assim depois que visitava Charlie, e demoraria até que o meu turno no Mona’s começasse para que fosse capaz de sacudir a frieza pra fora. Enquanto caminhava em direção à parte de trás do estacionamento onde meu carro estava, praguejei. Eu podia ver o calor flutuando do asfalto, e imediatamente perguntei que cor precisaria misturar para capturar o efeito sobre tela. Então avistei meu fiel Volkswagen Jetta, e todos os pensamentos de aquarelas desapareceram. Meu estômago caiu pesadamente e quase tropecei em
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meus pés. Havia uma agradável, e praticamente nova caminhonete estacionada ao lado do meu carro. Eu conhecia aquela caminhonete preta. Eu a conduzi uma vez. Oh Deus. Meus pés recusaram a mover-se, e fiquei ali paralisada completamente. A minha desgraça estava aqui, que curiosamente era a mesma pessoa que tinha um papel de protagonista ressurgindo em todas as minhas fantasias, até mesmo as mais sórdidas - especialmente elas. Reece Anders estava aqui, e eu não sabia se lhe daria um soco ou o beijaria.
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Capítulo Dois A porta do motorista se abre e meu coração — meu maldito, traidor, filho da puta de coração — disparou, quando uma perna longa em jeans desbotado apareceu, usando um chinelo de couro. Por que eu tinha que ter uma coisa por caras que eram corajosos o suficiente para usarem chinelos, porque, oh querida, eu realmente os acho totalmente sexy emparelhados com jeans desbotados. Outra perna apareceu, e a porta bloqueou seu tronco por um segundo — apenas um segundo. A porta se fechou, e tenho a visão de uma camisa do Metallica desgastada que fazia muito pouco para esconder um peitoral bem-definido e um abdômen totalmente gostoso. A camisa era praticamente uma segunda pele em seu estômago, apegandose a cada ondulação. Estava fazendo o mesmo para o bíceps, essencialmente provocando-me. Era isso. A camisa estava sendo uma puta-total e rancorosa comigo. Arrastando meu olhar pelos ombros largos — o tipo de ombros que poderia suportar o peso do mundo — chego em seu rosto. Ele usava óculos escuros pretos sensuais, que ficavam perfeitos nele. Deus, Reece era gostoso mesmo em roupas casuais; minha calcinha pega fogo quando ele usa seu uniforme de policial, e quando ele está nu, ele poderia... te fazer gozar apenas de olhá-lo. E eu tinha o visto nu. Bem, mais ou menos. Ok, vi seus bens, e eles eram bons- o tipo muito bom. Reece era classicamente bonito, o tipo de cara com a estrutura óssea que fazia com que meus dedos coçassem para esboçar — maçãs do rosto angulares, lábios carnudos e um queixo forte e reto que poderia cortar cheesecakes o dia todo. E ele era um policial, para “servir e proteger”, e havia algo fodidamente quente sobre isso.
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Infelizmente, eu também o odiava, absolutamente detestava. Ah, bem, a maior parte do tempo. Às vezes. Praticamente sempre que eu contemplava sua perfeição e começava a cobiçá-lo. Sim, isso era quando eu o odiava. Minhas partes femininas estavam sentindo essa vibe agora, ou seja, neste momento, eu não gostava dele. Então, apertei minha mão na sacola que carregava, bati a mão no meu quadril como se tivesse incorporado Katie, uma... bem, estranha amiga minha, quando ela está prestes a entrar em uma discussão verbal. "O que você está fazendo aqui?", Perguntei, e então prontamente meu corpo estremeceu e esquentou a temperatura de cem graus, porque eu não tinha falado com Reece em mais de 11 meses. Bem, não contando a palavra foda-se, porque eu provavelmente disse para ele cerca de quatrocentas vezes nos últimos 11 meses, mas que seja. Suas sobrancelhas escuras subiram acima da armação dos óculos de sol. Um momento se passou e então ele riu, como se o que eu disse fosse a coisa mais divertida do mundo. "E quanto a você, na verdade, dizer oi para mim em primeiro lugar?" Palavrões teriam voado da minha boca como pássaros que migram para sul no inverno, se ele não tivesse me pego desprevenida. Eu tinha feito uma pergunta totalmente válida. Pelo que eu sabia, Reece nunca, nos seis anos que visito Charlie, tinha vindo a estas instalações, mas um pouquinho de culpa pegou e minha mãe me educou melhor do que isto. Então, forcei um "Oi". Ele franziu os lábios bem formados e não disse nada. Meus olhos se estreitaram atrás de meus óculos de sol. "Olá... Oficial Anders?” Passou um momento, então ele inclinou a cabeça para o lado. "Eu não estou de plantão, Roxy.” Oh Deus, a maneira como ele disse meu nome. Roxy. Enrolando a língua em torno do R. Eu não sei como, mas me fez toda mole em áreas que não precisavam estar sentimentais agora.
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Mas quando ele não disse mais nada, estava a ponto de dar um soco em minhas partes de menina, porque ele estava seriamente me afetando com isso. "Olá..." Eu arrastei a palavra. "Reece." Aqueles lábios curvados para cima nos cantos, com um sorriso que dizia que estava orgulhoso e ele deveria estar. Me fazendo dizer o seu nome neste ponto, era um grande feito de sua parte, e se tivesse um cookie para recompensa-lo, eu teria enfiado goela a baixo dele. "Isso foi tão difícil?", Perguntou. "Sim. Foi difícil,” disse a ele. "Está manchando ainda mais a minha alma." Uma risada irrompeu dele, o que surpreendeu o inferno fora de mim. "Sua alma é toda arco-íris e puppy dog tails3, querida” Eu bufei. "A minha alma é profunda e escura, e cheio de infinitas coisas insignificantes.” "Coisas insignificantes?", Ele repetiu com outra profunda risada enquanto estendia a mão e esfregava os dedos pelo cabelo castanho escuro. Era curto dos lados, mas um pouco mais longo que a maioria dos policiais usavam. "Bem, pra dizer a verdade, ela nem sempre foi assim." O sorriso fácil, totalmente encantador, abrandou de sua boca e seus lábios formaram uma linha plana. "Sim, nem sempre foi assim." A próxima respiração engatou na minha garganta. Reece e eu... nós nos conhecemos por um longo tempo. Quando eu tinha sido uma caloura na escola, ele era um júnior, e mesmo naquela época ele era tudo que uma garota poderia querer, e eu era perdidamente apaixonada por ele. Tipo, eu desenhava corações com seu nome no centro, os meus primeiros e relaxados rabiscos em meu caderno, foram de quando ele tinha olhado para mim ou dado um de seus preciosos sorrisos. Eu era muito nova e não frequentava a mesma turma que ele, mas ele sempre foi gentil comigo.
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Literalmente seria rabo de filhotes de cachorros, mas no caso é mais para algo fofo.
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Provavelmente tinha a ver com o fato de que ele e seu irmão mais velho, juntamente com seus pais, tinham se mudado para a casa ao lado da minha quando criança. De qualquer forma, ele sempre foi bom para mim e para Charlie, e quando ele se alistou no Exercito aos dezoito anos, eu estava com o coração partido, totalmente devastada, porque tinha me convencido de que iria me casar com ele e ter os seus bebês. Durante o tempo que ele ficou fora, foi muito difícil, e eu nunca me esquecerei do dia que mamãe me chamou para dizer que ele foi ferido em combate. Meu coração parou e levou muito tempo para que a bola sufocante de medo se desmanchasse, mesmo depois de sabermos que ele estava ok. Quando ele finalmente chegou em casa, eu era velha o suficiente para não ser considerada ‘chave de cadeia’ e nós realmente nos tornamos amigos. Próximos, como bons amigos. Eu tinha estado lá para ele durante os piores momentos de sua vida. Essas terríveis noites, ele se embriagava em um estado de estupor ou tornava-se tão malhumorado, que ele era como um leão enjaulado pronto para morder a mão fora de qualquer um que se aproximasse dele, qualquer um exceto eu. Mas, então, uma noite regada a muito uísque, tinha arruinado tudo. Eu passei anos apaixonada por ele, sempre acreditando que ele era inalcançável, e não importava o que havia acontecido entre nós naquela noite, ele ainda assim nunca será meu. Frustrada de onde os meus pensamentos tinham ido, resisti à vontade de batê-lo com minha bolsa. "Porque no mundo estamos falando sobre a minha alma?" Um ombro largo subiu. "Você que trouxe o assunto." Eu abri minha boca para argumentar, mas ele estava certo, eu que tinha e era no mínimo esquisito. Uma fina camada de suor havia irrompido na minha testa. "Porque você está aqui?” Dois passos e suas longas pernas encurtaram a distância entre nós. Meus dedos dos pés se enrolaram contra minhas sandálias e me forcei a não girar e me afastar dele. Reece era alto, chegando em torno de 1,91 m, e eu era um membro
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não oficial da Lollipop Guild4. Seu tamanho era um pouquinho intimidante como também sexy. "Queria falar com você sobre Henry Williams." E em uma fração de segundo, esqueci tudo sobre a história bagunçada que Reece e eu compartilhamos e estado atual da minha alma, enquanto olhava para ele. "O Quê?" "Ele está fora da cadeia, Roxy." O suor se transformou em granizo na minha pele. "Eu... Eu sei que ele está. Ele esteve fora por um par de meses. Estive nas audiências de liberdade condicional e foi negado. Eu-” "Eu sei", ele disse em voz baixa, intensamente, e meu estômago caiu para o chão. "Você não foi na sua última audiência de condicional, quando ele foi solto." Essa foi uma declaração, mais do que uma pergunta, mas ainda balancei minha cabeça. Eu tinha ido antes disso, mas não era capaz de tolerar a visão de Henry Williams. E as declarações de como ele estava indo bem, e havia uma boa chance que na próxima audiência ele seria aceito e eis que ele foi. Dizia-se que Henry encontrou Deus ou algo parecido enquanto estava na prisão. Bom para ele. Mas isso não muda o que ele tinha feito. Reece tirou os óculos escuros e olhos azuis surpreendentes encontraram os meus. "Eu fui à audiência.” Surpresa, eu dei um passo para trás. Minha boca se abriu, mas não saíram palavras. Eu não sabia e nunca passou pela minha cabeça que ele faria isso ou até mesmo por que faria. Seu olhar permaneceu trancado ao meu. "Durante a audiência, ele pediu que" "Não", eu disse, quase gritando. "Eu sei o que ele queria. Eu ouvi o que ele queria fazer, se saísse, e não. Cem vezes. Não. E o tribunal não pode dar esse tipo de permissão de qualquer maneira.”
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Lollipop Guild, era um grupo de anões que acolheram Doroty, no filme ‘O Mágico de OZ’.
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A expressão de Reece se suavizou e algo próximo à piedade preenchendo aqueles olhos. "Eu sei, mas querida, você também sabe que não tem nada que possa dizer sobre isto." Houve uma pausa. "Ele quer fazer as pazes, Roxy.” Minha mão livre apertou em um punho enquanto um repúdio subia como um enxame de abelhas dentro de mim. "Ele não pode reparar o que ele fez." "Eu concordo." Levei um momento enquanto olhava para ele para perceber realmente o que ele estava falando, e foi como se o chão se movesse debaixo dos meus pés. "Não", eu sussurrei, meu estômago torcendo em nós. "Por favor, diga-me que os pais de Charlie não deram-lhe permissão. Por Favor." Um músculo apertou ao longo da curva de sua mandíbula forte. "Eu gostaria de poder dizer isso, mas não posso. Eles fizeram, apenas esta manhã. Eu ouvi sobre isso através de seu oficial de condicional”. Emoção crua derramou em meu peito, e me virei para o lado, não querendo que ele visse isso. Eu não podia acreditar. Meu cérebro se recusou a processar isso. Os pais de Charlie tinham dado isso a ele... a permissão para esse bastardo visitá-lo. Foi incrivelmente insensível e grosseiro, era apenas tão errado. Charlie estava como estava agora por causa desse idiota homofóbico. Os nós no meu estômago se apertaram ainda mais, e havia uma boa chance que eu vomitasse. A mão de Reece veio por cima do meu ombro, me fazendo saltar, mas não o fez removê-la... havia algo reconfortante sobre isso. Uma pequena parte de mim estava grata pela pressão e lembrou-me de como costumava ser entre nós. "Eu pensei que seria melhor para você ouvi-lo primeiro de mim, e não ser surpreendida por isso". Apertei meus olhos fechados e minhas palavras foram rouca. "Obrigado." Ele manteve sua mão e mais um momento estendeu entre nós. "Isso não é tudo. Ele quer falar com você.” Meu corpo estremeceu fora de seu alcance por sua própria vontade. Encareio novamente.
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"Não. Eu não quero vê-lo." Em um segundo, aquela noite voltou com força total, e recuei, saltando para o lado do meu carro. As coisas começaram levemente. Brincando. Provocando. Então, tudo aconteceu tão rapidamente, tão mal. "De jeito nenhum." "Você não precisa." Ele se moveu em minha direção, mas baixou sua mão para o seu lado. "Mas você precisava saber. Vou dizer ao seu oficial que ele precisa ficar longe de você. Ou então.” Não deixei de registrar a ameaça no "ou então" à sua voz profunda. Meu coração batia forte no meu peito, e de repente eu precisava ficar longe dali, sozinha, para processar isto tudo. Aproximando-me pelo lado do passageiro do meu carro, eu trouxe minha bolsa até meu peito como uma espécie de escudo. "Eu... Eu tem que ir.” "Roxy", ele gritou. Eu corri em torno da frente do meu carro, mas de alguma forma, como um ninja ou algo assim, Reece estava na minha frente. Seus óculos de sol ainda estavam fora e ele estava focado em mim com seus olhos cor de azul claro e nítido. Ambas as mãos pousaram sobre os meus ombros, e era como se tivesse enfiado meus dedos em uma tomada elétrica. Apesar da notícia que ele tinha acabado de me dar, eu sentia o peso de suas mãos em cada célula, e não sei se ele sentiu isso também, mas seus dedos curvaram, me segurando. "O que aconteceu com Charlie", ele disse, em voz baixa. "Não foi culpa sua, Roxy." Meu estômago caiu e me livrei de suas mãos, e ele não me parou desta vez, enquanto corri dando a volta por ele, abrindo a porta do carro, me atirando atrás do volante. Meu peito subia e descia pesadamente enquanto olhava para ele através do para-brisa. Reece ficou na frente do meu carro por alguns segundos, e por um momento, pensei que ele ia subir no carro comigo, mas, em seguida, ele balançou a cabeça enquanto deslizava seus óculos de sol. Eu o vi virar e fazer seu caminho para sua caminhonete, e só então eu falei.
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"Puta merda", eu cuspi no volante enquanto agarrava-o com as mãos trêmulas. Eu não sabia o que era pior. Se era Charlie não me reconhecendo novamente. Ou Henry Williams tendo permissão para visitar Charlie. Ou o fato de que eu não tinha certeza se Reece estava certo. Se o que aconteceu com Charlie realmente não foi culpa minha.
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Capítulo Três Havia parte de mim que desejava poder beber enquanto trabalhava como bartender, porque depois do tipo de dia que eu tive, eu poderia ficar bem bêbada essa noite. Apesar de tudo, eu tinha certeza que o dono do Mona’s não ficaria feliz comigo desmaiando atrás do bar, próximo a pilha de bandejas. Jackson James, mais conhecido como Jax e que realmente tinha um nome de soava com alguém que poderia estar na capa de Tiger Beat5, tinha revivido o Mona’s com nada além do que trabalho duro e determinação. O bar foi um buraco antes de ele chegar, rumores diziam que não era nada além de um lugar de drogados, mas não mais. Ele colocou seus braços em volta da cintura de sua namorada, Calla. Sua resposta foi imediata e extremamente natural. Ela se inclinou para ele enquanto estava de pé, não muito longe das mesas de sinuca, sorrindo para as outras pessoas. Inferno, haviam casais em todos os lugares. Era como se fosse a noite dos casais no Mona’s e alguém esqueceu de me avisar. Cameron Hamilton e sua noiva, Avery Morgansten estavam sentados em uma das mesas, uma cerveja na frente dele e um copo de refrigerante na frente dela, sendo fofos como sempre. Avery tinha aquele cabelo vermelho incrível e sardas, alguém que parecia ter saído de um comercial da Neutrogena6, e Cam era lindo naquele jeito tradicional americano. Era com Jase Winstead e a irmã mais nova de Cam, Teresa, que Jax e Calla estavam conversando. Aqueles dois eram simplesmente impactantes juntos, como o Brad Pitt e a Angelina Jolie do Mona’s. E, então, havia Brit e Ollie, dois loiraços, ele explicando para um dos caras segurando um taco de sinuca que haviam cinquenta e duas sextas-feiras em 2015... ou algo igualmente bizarro quanto isso. A última vez que falei com Ollie, ele me contou sobre seu novo negocio, onde ele estava vendendo coleiras... para tartarugas. Wow.
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Revista de fofoca voltada ao público adolescente Marca de cosméticos
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Ajustando os óculos que eu, provavelmente, deveria estar usando o tempo todo, eu deixei meu olhar voltar para Calla e Jax e eu senti meus lábios se espalharem em um grande sorriso enquanto eu pegava uma garrafa de Jack7. Ser testemunha de duas pessoas que realmente mereciam ser amadas, estar apaixonadas, era provavelmente a coisa mais incrível de se ver. Fez meu pequeno coraçãozinho derreter quando ela levantou seu queixo e Jax colocou um beijo em seus lábios. Essa noite era toda sobre eles – bem, sobre ela. Ela iria embora na segunda, voltando para Shepherd e Jax tinha fechado o bar essa noite para uma pequena festa de despedida – a festa privada que eu tinha contado a Charlie. Colocando Jack com Coca para Melvin, que era mais velho que não sei quem e praticamente tinha seu próprio banco no bar, eu sorri enquanto ele piscou e pegou seu copo. “Isso ali é amor,” ele disse sobre o rock antigo que estava tocando, acenando na direção de Calla e Jax. “O tipo que dura.” Na verdade, era o tipo de amor que me dava vontade de vomitar sobre o bar. Até mesmo Dennis, que trabalhava com Reece e seu irmão, estava aqui com sua esposa. Eles estavam todos aconchegados juntos. Mas Melvin estava certo e isso me deixava um pouco triste, porque eu estaria indo para cama sozinha, totalmente sozinha essa noite. Que seja. “Yeah, é.” Colocando a garrafa de volta na prateleira, eu me apoiei contra o balcão do bar. “Você vai querer asa de frango ou outra coisa?” “Nah, vou me manter no importante essa noite.” Ele levantou o copo enquanto eu levantava minha sobrancelha. “Bom para esses dois,” ele disse depois de tomar um gole. “Aquela menina, você sabe, ela não teve a vida fácil. Jax vai... yeah, ele vai tomar conta dela.” Eu tinha certeza que Calla não precisava de Jax tomando conta dela, que ela poderia fazer qualquer coisa sozinha, mas eu entendi o que ele estava dizendo do seu jeito antiquado. Só com uma olhada nela para saber que coisas ruins – muito ruins – tinham acontecido. Ela tinha uma cicatriz em sua bochecha esquerda, uma 7
Jack Daniels. Marca de Whisky
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que ela não tentava esconder muito mais, e ela me disse o que um incêndio tinha feito com o resto do seu corpo. Isso tinha acontecido quando ela era mais nova, e no fim ela tinha perdido sua família toda. Seus irmãos tinham morrido, e sua mãe foi para um caminho sem volta, seu pai acabou desistindo, sem poder lidar com tudo. Então, como eu disse, era incrível ver alguém que realmente merecia encontrar o amor. Melvin virou sua bochecha grisalha para mim enquanto eu arrumava meus óculos. “Então, e você, Roxy-girl?” Olhando para o bar meio vazio, eu franzi o cenho. “O que você quis dizer sobre mim?” Ele me deu um grande sorriso. “Quando você vai estar ai fora nos braços de um homem?” Eu bufei. Não pude me controlar. “Não no futuro recente.” “Famosas últimas palavras,” ele respondeu, levando seu copo aos seus lábios. Balançando minha cabeça, eu ri. “Ah, não. Não famosas. Apenas verdadeiras.” Ele franziu suas sobrancelhas enquanto saia do banco. “Eu vi você indo naquele restaurante italiano com um menino semana passada. Qual era seu nome?” “Eu gosto de pensar que eu não saio com meninos,” eu provoquei. “Então eu não sei quem você está falando.” Melvin terminou sua bebida de um jeito que deve ter feito seu fígado gemer. “Você sai muito mocinha.” Dando de ombros, eu não podia argumentar isso. Eu realmente saia muito e, na verdade, alguns dos rapazes realmente agiam como meninos, pensando que um jantar barato no Oliver Garden significava que eles iriam ganhar alguma ação depois.
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Quero dizer, geez8, deveria haver uma regra em algum lugar que dizia que o menu deveria ter bifes e lagostas antes de se chegar à segunda base. “Yeah, bem, e aquele que parecia ter a parte de trás das orelhas molhadas? O ruivo.” Ele disse. “Yeah, ele tinha cabelo vermelho e uma barbicha na cara.” Barbicha? Oh geez, eu mordi meu lábio para me impedir de rir, porque eu sabia quem ele estava pensando e o pobre menino realmente não conseguia cultivar uma barba. “Você está falando de Dean?” “Que seja,” ele disse sem dar importância. “Eu não gostei dele.” “Você não o conhece!” Eu desapoiei do bar, sorrindo enquanto ele revirava os olhos. “Dean é um bom rapaz e é mais velho que eu.” Melvin gemeu. “Você precisa estar com um homem de verdade.” “Está se voluntariando?” eu retruquei. Isso fez ele rir profundamente. “Se eu fosse mais novo, menina, eu te daria um bom tempo.” “Que seja,” eu ri, cruzando meus braços sobre a escrita na minha camiseta, que dizia HUFFLEPUFF DOES IT BETTER9. “Você quer outra bebida? Talvez cerveja porque é bem obvio que você não precisa mais de destilados.” Ele riu para mim mas rapidamente ficou com o rosto sério. “Você vai ter alguém para te acompanhar para seu carro quando você sair?” Eu pensei que essa era uma pergunta estranha. “Um dos caras sempre me acompanha até meu carro.” “Bom. Você precisa ser cuidadosa,” ele continuou. “Eu tenho certeza que ouviu sobre a menina de Prússia, certo? Ela tinha por volta da sua idade, morava sozinha e trabalhava até tarde. Algum cara a seguiu para casa e mexeu com ela, muito.”
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Tipo de um vixe, ou algo do tipo. Referência a Harry Potter. Traduzindo seria: “LUFA-LUFA É A MELHOR.”
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“Eu acho que me lembro de ter ouvido algo sobre isso no noticiário, mas eu pensei que era algum cara que ela conhecia. Um ex-namorado ou algo do tipo.” Ele balançou sua cabeça enquanto pegava a garrafa de cerveja que ofereci. “Pelo que ouvi, eles o inocentaram. Eles acham que foi um desconhecido. Prússia não é longe daqui e você se lembra da menina que desapareceu há um mês. Acho que seu nome era Shelly Winters. Ela morava em Abington Township? Eles ainda não a encontraram.” Ele apontou a garrafa para mim e eu vagamente me lembrava de vê-la nas fotos de pessoas desaparecidas no Facebook. Se minha memória estava correta, ela era bonita com olhos azuis e cabelos castanhos. “Apenas tenha cuidado, Roxy.” Me inclinando contra o bar, eu franzi o cenho enquanto Melvin saia. Agora esse foi um desfecho estranho para nossa conversa. “Quer fazer uma aposta?” Eu me virei e olhei beeem para cima, para Nick Dormas. Ele levava o alto, negro e grande a outro nível, e as meninas que vinham aqui apreciavam. Ele tinha uma aura de ‘vou partir seu coração’ e ainda assim as meninas viviam em cima dele. Eu estava surpresa que ele estava falando porque ele raramente falava com qualquer um que não fosse Jax e eu não tinha ideia de como ele conseguia tantas meninas sendo tão quieto quanto eu. Nick era o tipo de homem para um dia e nunca mais. Uma vez ouvi Jax falando para ele que não poderia banir as meninas que ele tinha dormido do bar simplesmente porque Nick não as queria ver novamente. “No que?” Pegando a garrafa de tequila, ele apontou na direção de Jax. “Ele vai acabar indo para Shepherd antes dessa semana acabar.” Um sorriso se formou em meus lábios enquanto eu me afastava, dando acesso a ele na prateleira de copos. “Yeah, eu não vou fazer esse tipo de aposta a não ser que eu possa dizer que sim, ele vai estar lá.” Nick riu suavemente, o que era outro som estranho porque era algo que ele raramente fazia. Eu não sabia qual era seu problema, ele podia ser temperamental e ele seria um péssimo namorado, mas eu gostava dele. “Hey,” eu disse. “Adivinhe?” Ele levantou uma sobrancelha.
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“Banana.” Um lado de seus lábios se curvaram. “Essa palavra é um código para alguma coisa?” “Nope. Apenas senti que precisava dizer isso.” Eu peguei uma toalha e limpei o álcool derramado. “Mas essa não seria uma palavra de segurança estranha durante um jogo de BDSM? Imagina a menina gritando banana no meio do sexo? Isso seria bem estranho.” Nick me encarou. “Eu li esse livro uma vez que a menina gritava gato logo antes que eles estavam prestes a ter um pouco de bow-chicka-bow-wow.” Eu disse a ele. “Foi altamente hilário.” “Okay,” ele murmurou antes de se afastar. Jax estava parado no bar, com as sobrancelhas arregaladas. “Mas que porra vocês estavam conversando?” Eu sorri para ele e para Calla. “Palavras de segurança usadas durante BDSM.” Calla arregalou os olhos. “Um, tudo bem, eu não estava esperando por isso.” Uma risada escapou de mim e nesse momento eu me senti bem mais leve do que tinha me sentido o dia todo. “Vocês dois querem algo para beber?” Eu olhei para Calla e sorri como o Coringa chapado em Met10. “Que tal tequila?” Ela se afastou e eu quase esperei que ela voasse para cima de mim. “Obvio que não. Eu não quero nada daquele suco do diabo.” Jax riu enquanto colocava um braço em seu ombro e a puxava contra ele, quase super protetor. E isso virou mais um momento awww para mim. “Eu não sei. É meio fofo quando você se aninha a uma garrafa.” Ele disse. Suas bochechas ficaram vermelhas enquanto ela colocava uma mão em seu estômago. “Eu acho que vou apenas ficar longe disso.”
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Metanfetamina
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Eu terminei pegando uma Bud Light para ele e um suco de limão para ela. “Gostei da camiseta,” Calla comentou enquanto ela levava o copo aos seus lábios rosados. “Eu vou sentir sua falta e das suas camisetas.” “Também vou sentir sua falta!” Eu gritei e, se pudesse realmente subir em cima do balcão, eu teria me jogado nela. “Mas você vai voltar, certo? Nós temos sua guarda conjunta.” Ela riu. “Eu volto antes do que você imagina. Você nem vai sentir minha falta.” Mas eu iria sentir falta dela, totalmente. “E eu vou vir junto quando ela voltar.” Tess apareceu ao seu lado, arrumando seus longos cabelos escuros. “Eu gosto daqui.” Calla olhou para onde Jase estava falando com Cam. “Eu espero que você não esteja planejando deixar ele para trás porque eu não acho que isso vai dar certo.” “Eu nunca faria coisa do tipo.” Tess olhou para mim. “Ele é um ótimo colírio para se ter por perto.” Meu olhar foi para o gatinho de olhos cinza conhecido como Jase. “Verdade.” “Okay, eu acho que é hora deu ir embora.” Jax abaixou seu braço enquanto dava um beijo na bochecha de Calla. “Apesar de que Jase é um sonho. Eu daria para ele.” Ele disse isso alto o suficiente para que Jase nos olhasse com um olhar confuso que de alguma forma ele conseguia transformar em um olhar sexy e eu cai na risada como uma hiena. Tess balançou sua cabeça enquanto se apoiava em Calla. “Sério, nós realmente gostamos daqui. Assim como Cam e Avery. Um ótimo lugar para descansar.” “E vocês sempre podem vir nos visitar.” Calla disse para mim.
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Eu concordei enfaticamente enquanto a porta se abria. Apenas as pessoas próximas a Calla e Jax iriam vir hoje, e eu esperava que fosse Katie, desde que ela ainda não tinha aparecido, mas não foi quem vi. Reece entrou, usando uma variação da roupa de mais cedo e meu coração estupido deu um pequeno pulo. Era sexta a noite e sendo um oficial, ele não deveria estar trabalhando? Merda. Ele nem mesmo olhou para onde os caras estavam, uma multidão em volta das mesas. Sua atenção foi diretamente para o bar. Nossos olhares se encontraram e minhas partes femininas ficaram animadas. Merda dupla. Como toda vez que eu o via, ele tirava meu fôlego. Talvez fosse o jeito que ele andava – oh, inferno, ele estava vindo diretamente para o bar! Eu me virei, meu olhar encontrando Nick. “Eu vou dar uma olhada no estoque.” “Qualquer dia desses você vai me falar porque você faz isso,” Calla murmurou e eu não ouvi o que mais ela disse, porque eu estava levando o meu pequeno traseiro para longe do bar. Talvez fosse algo sacana de se fazer, porque ele realmente tinha sido atencioso essa manhã vindo me encontrar. Foi algo que eu pensei durante toda à tarde. Bem, isso e sobre Henry Williams querendo acertar as coisas. Perdão – como se isso fosse possível. Deus, eu queria rir enquanto eu passava pelo corredor e entrava na sala do estoque. Fechando a porta atrás de mim, eu me apoiei contra ela e exalei, arrumando uma mecha roxa e castanha que tinha caído em meu rosto. Eu não queria pensar sobre Henry agora e por pior que isso soasse, eu não queria pensar sobre Charlie também. Meu humor estava bom e eu ainda tinha várias horas de trabalho antes que meu turno terminasse e eu pudesse dormir. Então minha mente divagou para Reece, e eu ainda não tinha ideia do porque ele tinha feito àquela visita especial para me contar sobre Henry. Com certeza tínhamos sidos bons amigos em um ponto, mas por onze meses, não havia nada fácil 28
entre nós. Ele tinha ultrapassado isso e eu não tinha certeza do que pensar, o que isso significava. Provavelmente era nada – mas não podia ser nada porque Reece... bem, ele realmente tinha tirado um pedaço do meu coração há onze meses. E ele nem sabia disso. Eu esperei uns bons cinco minutos, decidida que Reece já deveria ter pedido sua bebida para Nick. Me virando para porta, eu coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e a abri. “Porra!” Eu gritei, cambaleando para trás, de volta ao estoque. Reece estava ali, suas mãos contra o batente da porta, seu queixo baixo e seu maxilar tenso. Ele não parecia feliz. “Você já terminou de se esconder?” “Eu... eu não estava me escondendo. N-nem um pouco.” Calor corria para minhas bochechas. “Eu estava olhando o estoque.” “Uh-huh.” “Eu estava!” Ele levantou uma sobrancelha. “Que seja. Eu preciso voltar, então se pudesse tirar...” “Não.” Minha boca caiu aberta. “Não?” Ele se endireitou mas em vez de se afastar, ele andou para frente, segurando a porta em seu caminho. Seu bíceps direito flexionou enquanto ele batia a porta, fechada. “Você e eu precisamos conversar.” Oh Deus. “Cara, não tem nada que precisamos falar.” Reece continuou andando na minha direção e eu estava indo para trás antes que soubesse o que estava fazendo. Eu esbarrei em uma prateleira. As garrafas cambalearam atrás de mim e ele estava logo na minha frente, tão perto que quando inalei eu pude sentir o cheiro fresco e amadeirado de seu perfume. Duas mãos terminaram na prateleira em cada lado dos meus ombros e com isso ele conseguiu se inclinar ainda mais para perto. Seu hálito quente dançava sobre 29
minha bochecha. Um pequeno tremor passou pela minha coluna. Whoa. Partes femininas em posição, travadas e pontas para decolar. Eu iria bater em mim mesma mais tarde. “Eu deixei passar isso entre nós por tempo demais,” ele disse e seu olhar atraia o meu que estava assustado. O azul... merda, era um tom de cobalto – um azul que era difícil de misturar e reproduzir com aquarela. Minha língua parecia pesada. Ele não tinha estado assim tão perto desde aquela noite com todo o whisky. “Nada está acontecendo entre nós.” “Mentira, Roxy. Você tem me evitado há meses.” “Nuh-uh,” eu disse, e yeah, isso soou idiota mas sua boca estava logo ali e eu lembrava claramente como era a sensação dela contra a minha. Uma combinação incrível, firme e suave, e também me lembrava do quão forte ele era. Ele tinha me levantado do chão e... E eu realmente precisava parar de pensar nisso agora. “Onze meses,” ele disse, sua voz mais profunda. “Onze meses, duas semanas e três dias. Exatamente o tempo que você tem me evitado.” Puta merda, ele tinha mesmo jogado isso na minha cara? Porque ele estava totalmente certo. Isso era exatamente quanto tempo eu tinha ficado longe dele, sem saber o que fazer. Eu tinha mandado ele ir se ferrar. “Nós vamos falar sobre a última vez que nós tivemos uma conversa decente.” Oh não, nós não iriamos falar sobre isso. Ele abaixou sua cabeça e sua voz estava logo na minha orelha. Quando ele falou, meus dedos apertaram na beira da prateleira em que eu estava apoiada. “Yeah, babe, nós vamos falar sobre a noite que você me levou para casa.” Eu engoli forte, nervosa. “Você... você quer dizer a noite que você estava bêbado pra caralho e eu tive que te levar para casa?” Reece levantou sua cabeça e seus olhos penetraram os meus. Nós não falamos por um longo momento e eu fui levada de volta há onze meses, duas semanas
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e três dias atrás. Ele estava no bar e nós estávamos flertando como sempre fazíamos toda vez que nos víamos, desde que ele voltou do exterior. Mas quando ele voltou foi como esses anos que ele esteve fora tivessem sido apagados. Visões de casamento e bebês tinham passado pela minha cabeça apesar do fato que eu tinha me obrigado a não levar a sério as flertadas amigáveis. Mas eu amava a ideia de estar apaixonada e isso tinha sido idiotice. Aquela noite, ele tinha me pedido para levá-lo para casa e eu pensei que ele iria finalmente avançar, mas eu não tinha pensado na toda a coisa. Eu tinha uma queda por esse cara desde sempre e tinha sido possessiva com sua atenção, então eu fiz isso. Quando chegamos na sua casa, eu o segui para dentro e... eu tinha sido a pessoa a realmente avançar. Juntando toda a coragem que eu tinha, eu o tinha beijado, logo dentro do seu apartamento, no momento que ele fechou a porta. As coisas seguiram bem rapidamente. Roupas voaram, partes do corpo estavam definitivamente se tocando e eu... “Eu daria tudo para me lembrar daquela noite,” Reece continuou, olhando diretamente para mim, e sua voz ficou mais rica. “Qualquer coisa para me lembrar da sensação de estar dentro de você.” Várias coisas aconteceram comigo ao mesmo tempo. Os músculos da minha barriga se contraíram e, no mesmo momento, desapontamento cresceu como uma montanha, levando a raiva para fora de mim. Eu fechei meus olhos enquanto mordia meu lábio. Reece acreditou por onze meses, duas semanas e três dias que tínhamos transado – sexo animal e selvagem contra a parede, mas ele estava tão bêbado para lembrar. Muito passado para lembrar de qualquer coisa além do momento que ficamos nus no corredor. Eu só não tinha percebido que ele estava tão bêbado assim, o que era idiota porque eu era bartender e eu sabia quando as pessoas estavam bêbadas e precisavam que alguém as parassem. Inferno, ele tinha me pedido para levá-lo para casa, pelo amor de Deus, mas eu estava tão... tão presa nele. Tão esperançosa e além de apaixonada, porque era mais que isso. Eu tinha realmente me apaixonado por ele quando eu tinha quinze anos e isso não mudou nos anos seguintes.
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Eu tinha ficado aquela noite com ele e ele tinha acordado na manhã seguinte, com ressaca e tão culpado, arrependido e a segundos de comer seu próprio braço para se livrar de mim, que meu coração quebrou. E nas semanas seguintes daquela noite, quando ele me evitou como se eu estivesse infestada com uma praga, meu coração tinha despedaçado. A parte triste era que Reece tinha entendido tudo errado. Nós nem tínhamos chegado ao ponto onde a ‘parte A’ encaixa na ‘parte B’. Nós não tínhamos transado. Ele mal chegou ao quarto antes de desmaiar e eu tinha ficado com ele porque eu estava preocupada e eu pensei... não importa o que pensei, porque nós não tínhamos transado.
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Capítulo Quatro O que era pior que Reece pensando que tínhamos transado e se arrependendo do que nunca aconteceu? E de verdade, o que podia ser mais errado que isso? Reece Anders, apensar das mentiras de todos os tipos. Mentiras brancas. Pequenas mentiras. Mentiras necessárias. Mentiras para perdoar. Todas as mentiras. A minha era uma mentira branca desde que eu nunca disse que tínhamos dormido juntos. Eu só nunca disse que não fizemos. Mesmo que ele me conhecesse desde os quinze anos, ele tinha estado lá depois de tudo que aconteceu com Charlie e, na primeira noite que ele voltou, depois de estar a quatro anos na Marinha, ele tinha aparecido na casa dos meus pais. Desde esse dia, minha mãe jurava que ele estava procurando por mim, mas nossas famílias tinham se aproximado, então eu duvidava que esse era o caso. Eu tinha me mudado aos dezoito anos e não estava lá, mas quando meus pais me ligaram e imploraram que eu fosse para casa, eu estava esperando que algo horrível tivesse acontecido, porque minha mãe pareceu com alguém que estava há segundos de um ataque cardíaco. Eu não tinha ideia de que Reece estava em casa e ele me deu... oh wow, o melhor abraço de todos. E apesar da amizade que construímos desde que ele virou um oficial, ele nunca tinha ficado tão bravo. Seu ódio absoluto por mentiras tinha começado antes mesmo de conhecê-lo e era culpa do seu pai. Eu não sabia os detalhes, mas eu imaginava que envolvia traição, porque ele tinha se mudado com sua mãe e seu padrasto enquanto seu pai era um mulherengo. Então, yeah, mentir para Reece era como jogar a merda do ano no ventilador. Reece me encarou, esperando por uma resposta, e eu não tinha nenhuma. Tantas vezes durante esses onze meses eu quis gritar a verdade em sua cara. Que não tínhamos transado, mas a dor que ele criou na manhã seguinte era demais, depois ainda me ignorando por semanas, somada ao fato que ele tinha ficado tão bêbado para pensar que tinha transado comigo. Essa dor era profunda.
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Eu estava com vergonha – aterrorizada, na verdade – e se Charlie estivesse ciente da situação, ele provavelmente teria batido na minha cabeça. Porque eu deveria saber melhor, mas eu não sabia e tinha pagado por isso com ferro e fogo. Dias se passaram enquanto eu estava na influência de um coma induzido por sorvete. Semanas que eu pensei que cairia no choro sempre que seu nome era mencionado. Por meses eu não pude olhar para Reece sem meu rosto virar uma bola vermelha. E toda essa dor ainda estava aqui. Juntando a dor e a humilhação, eu as segurei perto enquanto inalava profundamente. “Como eu disse, Reece, não há nada para se falar sobre isso. Eu mal me lembro daquela noite também.” Mentira! Tudo mentira! Eu forcei a dar de ombros. “Nada para se contar.” Ele levantou uma sobrancelha. “Eu não acredito em você.” “Você acha realmente que sua performance na cama é tão espetacular que eu lembraria de estar com você bêbado?” eu retruquei. “Não.” Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso e eu não podia acreditar que ele ainda estava parado ali. “O que estou dizendo é que você obviamente lembra muito mais se você esteve me evitando durante esse tempo todo.” Inferno, ele tinha um bom argumento. “Na verdade, é mais como eu-prefironão-lembrar-de-nada.” No momento que essas palavras saíram da minha boca, eu queria pegar elas de volta, porque elas era malvadas. Apesar de ter evitado ele a todo custo e ter sido bem mal criada com ele, não era algo que eu gostava. Seus lábios ficaram retos enquanto ele inclinava sua cabeça para o lado. A luz florescente brilhava além da curva da sua bochecha. Um momento se passou e eu esperava que ele fosse retrucar. Eu merecia isso depois do que tinha dito, mas não foi isso que recebi. “Eu desejo poder dizer que sei que isso foi bom para você e babe, eu podia ter feito tudo muito bom para você,” ele disse, sua voz ficando mais baixa de novo e aquela bola na minha barriga virou ainda mais rápida. Memorias me invadiram, me fazendo perder a respiração. Mesmo chapado, ele tinha o seu jeito de fazer aquilo se destacar. Do tipo que eu nunca iria me esquecer daquela noite. Meus lábios se afastaram enquanto um pequeno calor 34
invadia minhas veias. Seu olhar se moveu para minha boca e meu peito levantou bruscamente. Seu olhar ficou tempo suficiente para que uma ideia vívida explodisse em meu cérebro, como a rainha de todas as ideias, porque obviamente quando eu tinha uma ideia louca na minha cabeça, ela terminava sendo epicamente ruim. Mas esse conhecimento não fez nada para me impedir de se segurar. Eu pensei que Reece queria me beijar enquanto seu olhar sombrio focava na minha boca. E quando eu respirei a seguir, eu não tinha certeza se eu o impediria. O que isso dizia sobre mim exatamente? Eu era faminta pela dor. Ele limpou sua garganta enquanto seu olhar voltava para o meu. “Mas sabendo o quão chapado eu estava, eu não tenho certeza de nada disso. Eu não...” “Eu preciso voltar lá para fora.” Não havia como continuar essa conversa. Eu precisava sair dali antes que uma mistura de desejo e necessidade de fazê-lo se sentir melhor me invadisse. Eu comecei a passar por baixo de seu braço mas ele se moveu. Tão alto e forte quanto ele era, não tinha como eu conseguir passar por ele. “Santo Deus, pare de fugir de mim.” Minhas mãos se fecharam ao meu lado. “Eu não estou fugindo.” Seus olhos encontraram os meus, mais uma vez, e eu estava presa enquanto ele cuidadosamente colocava seu dedo contra o centro dos meus óculos e os empurrava para cima do meu nariz. Meu coração pulou em resposta a esse gesto que ele costumava fazer o tempo todo. “Eu preciso levar eles para concertar”, eu diria, e ele sempre respondia com “Nah, eu gosto de ser seu ajustador de óculos oficial.” Deus, eu lembrava que isso fazia meu coração saltar. “Eu fiz... eu fiz alguma coisa errada para você Roxy?” Eu enrijeci como se aço estivesse caído nas minhas costas. “O que?” Tudo sobre a postura de Reece mudou. Ele ainda estava perto, suas mãos ainda estavam na prateleira em cada lado meu, mas sua arrogância que parecia sair de cada poro seu tinha ido embora. Cada parte dele estava alerta e tensa. “Eu te machuquei de algum modo?”
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Minha boca caiu aberta. Ele tinha me machucado? Sim. Ele tinha ferido meu coração, quebrado ele em pedaços, mas não acho que isso foi o que ele quis dizer. “Não, Deus, não. Como você pode pensar isso?". Seus olhos fecharam um pouco enquanto ele exalava bruscamente. “Eu não sei o que pensar.” Oh Deus, meu peito inteiro apertou. Eu precisava contar a verdade a ele, porque não importava o quão mal meus sentimentos e orgulho estivessem feridos, eu não podia deixar ele pesando algo desse tipo sobre si mesmo. As palavras se formaram na ponta da minha língua. “Nunca deveria ter acontecido,” ele continuou. “Você e eu... não desse jeito.” As palavras se perderam na minha língua, saindo como uma rajada. Eu sabia o quão ruim era estar desapontada assim, porque ele disse que não deveria ter acontecido quando, na verdade, não tinha mesmo, mas era o significado por trás disso tudo. Um conjunto diferente de palavras saíram da minha boca. “Você realmente se arrepende, não?” Minha voz soou rouca demais. “Eu sei que não devo ser a primeira mulher que você ficou bêbado demais...” “Que eu não lembrasse de nada?” ele interveio. “Yeah, você é a única menina que eu fiz isso.” Eu não sabia se devia estar aliviada por isso ou realmente insultada. Balançando minha cabeça, eu fui invadida por uma mistura de emoções. “Você... você deseja que nunca tivesse acontecido, certo?” “Yeah, desejo.” A honestidade crua veio como um tiro direto no meu peito. “Porque eu esta...” A porta do estoque abriu de repente. “Cara, eu tenho um péssimo timing quando se trata disso,” Nick disse, “Desculpe... yeah, interromper. Eu só precisava pegar algumas... coisas.” Minha saída veio na forma alta e negra, e eu não iria olhar os dentes do cavalo dado. Eu usei a distração em meu benefício. Reece tinha abaixado seu braço enquanto se virava para Nick, que estava pegando guardanapos com o logo do Mona’s
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impresso neles. Eu corri para longe de Reece e passei pela porta aberta. Eu não olhei para Nick e o sangue que fazia minhas orelhas pulsarem impediu que eu ouvisse o que estavam falando. Aquela queimação estranha na minha garganta devia ter algo a ver com uma alergia. Provavelmente ao mofo que tinha em algum lugar no prédio, isso foi o que eu me disse enquanto voltava para atrás do bar e me forçava a sorrir quando eu vi as meninas sentadas ali. “Vocês precisam e bebidas?” Eu perguntei animada, pegando quase que automaticamente uma garrafa. “Estamos bem,” O olhar de Calla passou para meu ombro, e eu não precisava olhar para saber que Reece tinha saído do estoque. Eu o vi nos próximos segundos, cruzando o chão do bar. Ele se sentou em uma cadeira vazia ao lado de Cam, seu rosto estoico. “Você está bem?” ela pergunto, sua voz baixa e sincera. Meu sorriso iria fazer minhas bochechas explodirem. “Claro.” Dúvida passou pelo seu rosto enquanto eu me virava e empurrava meus óculos no lugar. Eu disse a mim mesma para me recompor. Essa era a sua noite – sua e de Jax. Eu não precisava que ela se preocupasse comigo. Esfregando minhas mãos sobre meu rosto, eu provavelmente acabei tirando o que havia sobrado da minha maquiagem. Oh, bem, isso não importava nessa altura do campeonato. Eu ajustei meus óculos e me virei. Calla, Tess e Avery estavam me encarando. Eu inalei profundamente e cocei minha garganta, pegando a barra da minha camiseta e a esticando. “Então vocês querem saber por que a Lufa-lufa é a melhor?” Avery sorriu enquanto se inclinava para frente. “Nós queremos mesmo saber?” Eu concordei animada. “Oh, sim – sim vocês querem.” Tess deu um pulinho, muito mais animada para ouvir meus motivos de ser escolhida para a Lufa-lufa, e eu acho que me apaixonei por ela naquele momento,
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mas não consegui enganar Calla. Ela mordeu seu lábio inferior enquanto me olhava encher o copo de refrigerante de Avery. E eu não pude me impedir de olhar para onde todos os caras estavam. Cam e Jax, que aparentemente estavam na beira de um bromance11 épico, estavam entretidos em uma conversa com Jase, mas no momento que meu olhar passou pela mesa, eu me esqueci do que estava fazendo com a forma de gelo. Puta merda, eu nem me lembrava de ter pegado isso. Por que eu o estava segurando? Os olhos de Reece encontraram os meus e ar escapou dos meus pulmões. A intensidade que seu olhar viajou toda a distancia entre nós. Isso me atingiu – por que ele tinha escolhido essa noite para finalmente cruzar a distância entre nós. Não que isso importava, mas eu estava curiosa. Eu não precisava ter a habilidade de Katie – ela estava convencida de que quando caiu do poste de pole dance enquanto, um, dançava e tinha batido sua cabeça, ela tinha desenvolvido poderes psíquicos – para saber no que ele estava pensando e o poder concentrado em seu olhar significava. Eu posso ter conseguido escapar dele na sala do estoque, mas ele não tinha terminado seu assunto comigo.
Olhos azuis vibrantes, da cor do céu minutos antes que a noite roubasse todas as cores, espiavam por uma camada grossa de cílios castanho escuro cercados por uma pele dourada. Aqueles olhos estavam fora do lugar em um rosto que ainda tinha um pouco do charme de menino, mas a linha dura de seu maxilar, teimosa e dominante, e aqueles bem desenhados lábios gritavam masculinidade. Uma beleza que era tão forte quanto majestosa. Meu olhar se moveu para a tela e, então, para o pincel que estava em minha mão, à ponta das cerdas manchadas de azul. Puta merda numa cesta. E não o tipo barato de cesta, aquelas grandes tipo as que minha mãe colecionava. Eu tinha feito de novo.
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Um tipo de amizade coloria entre melhores amigos do sexo masculino.
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Resistindo a urgência de jogar o pincel direto na pintura, eu imaginava se a ponta seria afiada o suficiente para me fazer uma lobotomia, porque sério, essa era a única resposta plausível para eu ter pintado o rosto de Reece. De novo. Do tipo, mais de uma vez. Eu não era só patética, mas também era meio perturbada, agora que pensei sobre isso. Quero dizer, eu duvidava que ele apreciaria saber que eu estava pintando um esboço do seu rosto. Eu surtaria se soubesse que um cara estava secretamente pintando meu rosto, em tinha várias versões dele escondidas em meu armário. A não ser que fosse Theo James ou Zac Efron. Eles poderiam pintar meu rosto à vontade e um pouco mais. Reece provavelmente não gostaria de saber que eu acordei essa manhã com seus olhos gravados nos meus pensamentos porque eu tinha sonhado com ele de novo. Também, algo que tinha feito mais de uma vez. Talvez ele não se importasse, uma voz maldosa sussurrou. Depois de tudo, na noite passada na sala do estoque, ele estava todo em cima do meu espaço pessoal. Ele totalmente tinha ajustado meus óculos para mim. Houve um momento quando eu pensei que ele poderia me beijar. Ele, também, tinha me dito que a noite em que ele pensava que havíamos transado nunca deveria acontecer de novo. Então, aquela pequena voz maldosa era uma puta mentirosa que gostava de agitar a merda. Arrumando meus óculos no meu nariz, eu suspirei e soltei o pincel ao lado nos pequenos potes de aquarela que estavam no topo da cômoda, que parecia como tivesse levado um banho de uma cartela de cores primárias. Eu realmente precisava parar de pintar o seu rosto. Por que eu não conseguia ser uma artista normal e pintar montanhas e vasos de flores ou algo assim estupido e abstrato? Oh não, eu tinha que ser o tipo de artista que tinhas tendências à perseguição.
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Saindo do banquinho, eu limpei minhas mãos nos meus shorts jeans e cuidadosamente tirei a tela aquarelada livre da moldura. Algumas pessoas gostavam de pintar em papel reciclado mas eu sempre preferi a textura e a aparência da tela, e tudo que você tinha que fazer era endurecer a tela para que a aquarela funcionasse. O que eu precisava fazer era enrola-la e jogar fora para que ninguém no mundo a encontrasse, mas cada vez que eu colocava uma imagem na tela, não importando o quão vergonhosa fosse, eu não podia me desfazer dela. Pintar, assim como desenhar, bem... isso se tornou parte de mim. “Eu sou uma idiota,” eu balbuciei enquanto levava a pintura praticamente seca para o varal que ia de um canto ao outro do quarto que eu tinha transformado em estúdio. Eu pendurei o retrato com pregadores e voltei para o quarto, fechando a porta atrás de mim e me prometendo que se alguém um dia entrasse naquele quarto e visse aquela pintura – ou qualquer uma das outras – eu iria me enrolar em uma bola do meio da interestadual. O barulho suave vindo da TV na sala atiçou meu ouvido enquanto eu andava pelo pequeno corredor. Desde pequena, eu não gostava de silêncio, e isso só piorou depois do que aconteceu com Charlie. Uma TV ou o rádio sempre tinham que estar ligados. À noite, eu sempre tinha um ventilador ligado, não por causa do calor, mas pelo barulho. Dois passos me levariam para o quarto e mais um para o único banheiro. Meu apartamento era pequeno mas era bom. Térreo, assoalho de madeira, um espaço aberto que combinava a cozinha com a sala e uma porta que levava da cozinha para um deck e uma pequena área verde, assim como a entrada da frente. Não era exatamente em um condomínio de apartamentos. Apenas uma grande casa no estilo vitoriano no meio de Plymouth Meeting, uma cidade há alguns quilômetros de Philly. A casa havia sido remodelada no começo dos anos 2000 e convertida em quatro apartamentos de dois quartos. Charlie teria chamado isso de retro e ele teria amado.
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Um casal de senhores, Sr. e Sra. Silver, moravam no outro apartamento térreo e algum cara que eu raramente via tinha se mudado para o apartamento acima do meu há alguns meses atrás, e James, um cara que trabalhava na seguradora local, vivia no último apartamento com sua namorada Miriam. Meu celular tocou, chamando minha atenção para onde eu o tinha deixado no braço do sofá assim que cheguei em casa do bar. Eu vi que era uma mensagem de texto. Eu me contorci e quase me escondi atrás do sofá quando vi que era de Dean e tudo que dizia era: “Adoraria de ver de novo.” Caramba, de repente eu me sentia com nojo. Eu nem queria mais tocar meu celular. Semana passada, quando eu trouxe Dean para cá – o cara do Olive Garden que tinha uma barbicha de acordo com Melvin – as coisas não tinham saído como eu esperava. A noite tinha terminado com alguns beijos. Beijos em um lugar bom, do lado de fora do pequeno deck, com as estrelas acima de nós, mas nada além. Provavelmente tinha a ver com Sr. Silver saindo para o deck que compartilhávamos com o apartamento ao lado. O velho parecia que iria bater no pobre coitado. Mas mesmo se ele não tivesse interrompido, nada mais iria acontecer entre Dean e eu. Ele era um bom rapaz, talvez um pouco falante demais, mas quando eu pensava nele, eu não sentia nada. Talvez tivesse a ver com o fato de... Deus, eu precisava terminar esse pensamento? Esse beijo que eu compartilhei com Dean era triste porque não era nada como o jeito que Reece havia me beijado – merda! Eu realmente terminei esse pensamento. Isso era engraçado, eu não queria realmente sentir algo em primeiro lugar, então de uma forma Dean era uma aposta segura. Ele era uma pessoa legal de se sair e não havia chance no mundo que meu coração estaria envolvido, mas isso não era justo para ele.
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Eu suspirei enquanto passava pelo sofá, deixando meu celular no mesmo lugar. Dean era legal mas não haveria um segundo encontro. Eu tinha que achar minhas bolas femininas e dizer isso a ele, mas eu precisava cochilar antes disso. Talvez uma bacia de batatinhas e... Meu estômago revirou assim que parei na sala de jantar, olhando para a cozinha. Movimentos do lado de fora da pequena janela chamaram minha atenção. Foi rápido – uma sombra cinza ou marrom escura, mas foi embora tão rápido para eu conseguir ver direito, mesmo com meus óculos. Quando eu cheguei à janela, eu me apoiei na pia de metal e me estiquei na ponta dos pés. Olhando pela janela, a única coisa que vi foi uma cesta de flores rosa que eu comprei no mercado semana passada, colocava na mesa de ferro que já tinha visto melhores dias, suas pétalas balançando pela brisa. Eu pensei que ouvi uma porta se fechando mas eu desapoiei e balancei a cabeça. Agora eu estava vendo coisas. Virando-me, eu me apoiei contra a pia e inalei profundamente enquanto movia meu pescoço de um lado para o outro. Ter fechado o Mona’s na noite passava significava que eu cheguei em casa depois das três da manhã e eu tinha acordado cedo demais. Acordado, com uma sensação estranho no estômago... aquele vazio horrível que tinha realmente uma causa real. Apenas ali, me deixando inquieta e irritada. Isso tinha ficado até que eu peguei o pincel mas sabia que isso iria voltar. Sempre voltava. Afastando-me da pia, eu peguei uma banana da triste fruteira que estava cheia com pedaços de chocolate logo que uma batida soou na minha porta. Uma olhada no relógio perto da geladeira me disse quem era. Todo sábado, desde que eu me mudei quando tinha dezoito anos, há quatro anos, minha mãe, às vezes minha família toda, apareciam ao meio dia. Assim como toda a sexta eu visitava Charlie. Graças a Deus eu tinha fechado a porta do estúdio porque a última coisa que precisava era que alguém da minha família – minha mãe, pai ou um dos meus dois irmãos, visse as pinturas de Reece. Eles sabiam quem ele era. 42
Todos sabiam quem ele era. Destrancando a porta, eu a abri para ter uma onda de calor batendo em mim e um galão de um liquido marrom empurrado na direção do meu rosto. Eu cambaleei para trás. “Mas que...?” “Eu fiz chá doce,” minha mãe anunciou, colocando o container de plástico ainda quente em meus braços. “Imaginei que o estoque teria terminado.” Eu poderia fazer qualquer drink conhecido pelo homem no bar, mas eu não conseguia fazer chá doce nem se salvasse minha vida. Por alguma razão, eu não conseguia dosar certo a quantidade de sachês de chá com o açúcar, e isso me impressionava. “Obrigada.” Eu segurei o container contra meu peito enquanto minha mãe entrava na casa como um tornado de 1,60cm com cabelo castanho curto. “Só você hoje?” Ela fechou a porta com um giro e ajustou seus óculos vermelhos. Não só minha falta de altura vinha da minha mãe, mas minha péssima visão também. Yay, genética! “Seu pai foi jogar golfe com seu irmão.” Eu imaginava que “seu irmão” seria meu irmão mais velho, Gordon, porque o meu irmão mais novo, Thomas, está passando por uma fase gótica e não chegaria nem a 5 metros perto de um circuito de golfe. “Ele vai acabar tendo um ataque cardíaco por causa desse calor, sabia? É absolutamente ridículo que ele está lá fora. A mesma coisa com o Gordon.” Ela continuou, indo para o segundo sofá que eu comprei quando mudei para esse apartamento há quatro anos. Ela se sentou. “Ele precisa ser mais responsável – seu irmão, desde que meu neto está a caminho.” Eu não fazia ideia de como jogar golfe em Agosto tinha algo a ver com sua esposa estar grávida de três meses, mas eu deixei isso de lado e levei a jarra para a geladeira. “Quer algo para beber?” “Eu bebi tanto café que estou surpresa que não vim boiando até aqui.”
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Enruguei meu nariz enquanto abri a porta. Dando um passo para trás, eu encarei a geladeira, meus dedos apertando a alça da jarra. “Mas que...?” eu murmurei. “O que você está fazendo querida?” Perturbada, eu olhei fixamente para a geladeira. Na prateleira de cima, perto do pacote de refrigerante, estava o controle remoto da TV. Eu nunca na minha vida, nem acidentalmente, coloquei o controle ou qualquer coisa não consumível na geladeira. Eu não conhecia alguém de verdade que tinha feito isso, mas aqui estava eu, encarando a prateleira como uma tarântula prestes a atacar. Eu olhei para a janela em cima da pia, meu estômago revirando enquanto eu pensava na sombra que eu tinha visto do lado de fora mais cedo. Era nada de mais, e eu provavelmente estava mais cansada do que pensei, mas ainda assim era estranho – muito estranho. Balancei minha cabeça enquanto pegava o controle remoto da geladeira que eu estava começando a achar que era a mesma de Ghostbusters II12 e guardei o chá. Se virando no sofá, minha mãe deu uns tapinhas na almofada ao seu lado. “Sente-se aqui comigo, Roxanne. Nós não conversamos há um tempo.” “Nós conversamos no telefone ontem,” eu a lembrei enquanto fechava a porta da geladeira e trazia o controle de volta para onde ele precisava ficar, na mesa de centro, como um bom controle remoto. Seus olhos castanhos, assim como os meus, reviraram. “Isso foi a muito tempo, querida. Agora traga sua bunda para cá.” Eu levei a minha bunda para lá e no momento que me sentei, ela moveu sua mão magra e gentilmente cutucou o rabo de cabalo bagunçado que eu estava usando. “O que aconteceu com as mechas vermelhas?” Dando de ombros, eu levantei minha mão e peguei o elástico do meu cabelo. Ele era longo, alcançando meus inexistentes seios. Além das mechas roxas, meu
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Os Caça-Fantasmas 2
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cabelo era de um castanho escuro. Eu mudava tanto ele que estava surpresa dele não ter caído da minha cabeça ainda. “Eu enjoei delas. Você gostou do roxo?” Ela concordou enquanto estreitava seus olhos atrás dos óculos. “Sim, muito você. Combina com as manchas de tinta na sua camiseta.” Olhando para minha camiseta velha do Twilight13, eu vi que havia algumas manchas roxas na frente dela, pelo rosto do Edward. “Rá.” “Então...” minha mãe prolongou a palavra de um jeito que fez soar meus sinos de alerta. “Você sabe que a oferta ainda está de pé. Certo?” Minha coluna enrijeceu enquanto eu encontrava seu olhar carinhoso. A oferta. Ugh. Essa oferta era uma praga que eu, às vezes – okay, praticamente sempre – queria aceitar. A oferta era voltar para casa, aos meus vinte e dois anos, largar a faculdade de design gráfico, o trabalho no bar e os freelances que eu fazia de vez em quando e devotar 100% do meu tempo para minha paixão real. Pintar. Eu era muito sortuda por ter pais que estavam dispostos a apoiar uma pobre artista, mas eu não podia fazer isso. Eu precisava da minha independência. Era o motivo deu ter me mudado e o porquê estava me levando milhões de anos para terminar minhas aulas na faculdade comunitária. “Obrigada,” eu disse, fechando sua mão na minha. “Eu estou sendo sincera. Obrigada, mas você sabe...” Ela suspirou enquanto soltava sua mão e a colocava na minha bochecha. Se inclinando, ela beijou a minha testa. “Eu sei, mas eu só precisava ter certeza que você não tinha esquecido.” Se afastando, ela inclinou sua cabeça para o lado enquanto passava seu dedão logo abaixo dos meus óculos. “Você parece tão cansada, desgastada.” “Geez, mãe. Obrigada.” Ela me deu um olhar direto. “Que horas você saiu do Mona’s?”
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Crepúsculo
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“Três da manhã.” Eu suspirei enquanto me inclinava contra a almofada, deixando ela me engolir. “Eu acordei cedo.” “Não conseguia dormir?” Seu tom estava cheio de simpatia. Minha mãe me conhecia. Eu concordei. Houve uma pausa enquanto ela colocava uma perna sobre seu joelho. “Você viu Charlie ontem?” Eu concordei novamente. “Claro que viu,” ela disse com a voz baixa. “Como está meu menino?” Ouvir ela se referir a Charlie desse jeito fez a ferida de vê-lo ainda mais difícil. Meus pais... Deus, eles eram uma figura paterna maior para Charlie do que seus próprios foram. Suspirando, eu contei a ela sobre minha visita a Charlie e como ele não tinha me reconhecido novamente. Preocupação encheu seus olhos escuros, porque ela também se lembrava do que aconteceu antes. Quando terminei, ela tirou seus óculos e se moveu, nervosa. “Eu soube sobre Reece.” Meus olhos arregalaram até que um pensamento veio em minha cabeça. Ela soube sobre Reece? Sobre nossa noite que não foi realmente uma noite? Minha mãe e eu compartilhávamos muito, mas eu defini a linha. “Eu achei legal da parte dele ir te encontrar ontem e contar sobre Henry,” ela continuou e eu fiquei aliviada. Obrigada, Deus. Ela não estava se referindo ao shenanigans14. “Como você soube sobre isso?” Ela sorriu. “Sua mãe me contou ontem à noite.” Sua expressão ficou misteriosa. “Eu acho que ele saiu da sua rotina para fazer isso. Saiu do seu caminho, Roxy. Hmm, não acha isso interessante?” “Oh, mãe.” Eu revirei meus olhos. Claro que ela sabia que eu tinha uma grande queda por ele desde o momento que ele se mudou para a casa ao lado. Eu
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Pegação. Deixei o original porque é bem engraçado ;)
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tinha certeza que ela e a mãe de Reece tinham planejado me juntar com Reece no Thanksgiving 15do ano passado, porque elas estavam dando dicas sobre nós estarmos tristemente solteiros ao ponto que o irmão de Reece quase se engasgou com o purê de batatas de tanto rir. “Ele é um bom menino, Roxy.” Minha mãe continuou, soando como um comercial sobre Reece. “Ele lutou pelo seu país, voltou para casa e conseguiu um emprego onde precisa colocar sua vida em risco. E o que aconteceu ano passado, com aquele menino. Ele teve que fazer uma coisa difícil...” “Mãe,” eu gemi. Eu consegui mudar a conversa sobre Reece para o primeiro neto. Quando chegou a hora de me arrumar para meu turno no Mona’s, eu ganhei um abraço caloroso e apertado da minha mãe. Enquanto ela se afastava, ela olhou diretamente nos meus olhos. “Nós não falamos muito sobre Henry e o que ele quer, mas eu queria que você soubesse que seu pai e eu te apoiamos no que quer que você decida.” Lágrimas se formaram e eu pisquei para afastá-las. Aw cara, eu amava meus pais. Eles eram bons demais para mim. “Eu não quero falar com ele. Eu nem quero ver seu rosto.” Seu sorriso era triste enquanto ela concordava e eu sabia no que ela estava realmente pensando. Eles queriam que eu largasse essa grande bagagem de ódio que estava em meus ombros. “Se é isso que você quer, então estamos com você.” “É,” eu confirmei. Ela acariciou minha bochecha e saiu da casa do mesmo jeito que havia entrado e, enquanto eu fechava a porta atrás dela, eu percebi que não ia ter tempo para um cochilo. O que era uma coisa boa porque eu provavelmente terminaria sonhando sobre Reece de novo e essa era a última coisa que eu precisava agora. Exatamente nesse segundo, eu desenvolvi uma lista de prioridades.
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Feriado de Ação de Graças.
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Primeiro: eu precisava tomar banho. Pequenos passos. Segundo: eu precisava parar de sonhar sobre ele. Mais fácil dito do que feito, mas que seja. Isso era algo prioritário na lista. Terceiro: eu, também, precisava parar de pintar seu estúpido – porém sexyrosto. E finalmente, quarto: eu precisava encarar Reece na próxima vez que eu o visse e contar a verdade sobre aquela noite. Eu podia fazer isso, pelo menos. Largar essa bagagem de ódio. Eu precisava, porque eu não conseguia parar de pensar sobre o que ele tinha me perguntado. Eu te machuquei? Pressionando meus lábios juntos, eu tentei ignorar a ponta de culpa que se formava na minha barriga enquanto eu andava pelo corredor. Reece tinha lidado com culpa suficiente. Ele não precisava me adicionar a isso. Uma vez dentro do meu quarto, eu me despi, deixando minhas roupas onde elas haviam caído enquanto meus pensamentos giravam em torno de como contar essas novidades. Eu suspeitava que ele não iria ficar feliz comigo. Mas se eu soubesse que ele pensava algo assim durante esse tempo todo, eu teria esclarecido as coisas mais cedo. Sério. Eu estar machucada com isso não chegava nem perto dele pensar que ele tinha feito algo realmente ruim. Mordendo meu lábio inferior, eu cruzei o quarto, indo para o armário. As portas estavam abertas, um ar gelado que percorreu a pele nua do meu estômago, criando uma onda de calafrios pela minha pele. Uma coisa ruim sobre esse apartamento era a temperatura, mesmo no verão. Sr. Silver uma vez contou que haviam passagem secretas na casa desde o primeiro dia, caminhos sobre as escadarias e portas escondidas nas paredes. Pensando nisso, a escadaria que costumava levar ao segundo andar ficava no meu quarto. Me virando, como uma idiota, eu fechei rapidamente as portas do armário. Totalmente sem sentido considerando que eu estava completamente nua, mas eu fiz mesmo assim. 48
Enquanto me arrumava para o trabalho, eu voltei a pensar na sessão de confissões que eu teria de ter com Reece. Lá no fundo eu sabia que não iria terminar bem e eu não deveria me importar sobre isso, mas eu me importava. E eu sabia que ele não só iria se arrepender da noite que nunca deveria realmente ter acontecido, mas uma vez que ele percebesse que eu tinha mentido, ele iria terminar me odiando.
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Capítulo Cinco O Mona’s estava lotado no sábado à noite. Com Jax em Shepherd University na West Virginia com Calla, nós estávamos com uma pessoa a menos no bar. Clyde ainda estava de licença, sob ordens médicas, depois do ataque cardíaco que ele teve mês passado. Sherwood, nosso cozinheiro de meio período, estava correndo como um louco. Nós estávamos tão ocupados que eu mal vi Nick passar seu número em um guardanapo para uma menina que estava em jeans rasgados. “Another one bites the dust16,” eu cantei enquanto passava por ele para pegar duas cervejas. Seus olhos se estreitaram para mim. Eu ri enquanto me virei, colocando as garrafas sobre o bar. Os dois caras que estavam esperando pareciam normais vestidos em jeans escuros e camisas xadrez, mas eu sabia que eles não andavam em círculos amigáveis. Eu já tinha visto ambos com Mack, que trabalhava para o cara em Philly chamado Isaiah, que todos na cidade sabiam que deveriam ficar longe. Trabalhava no passado, porque durante o verão, Mack tinha terminado com uma bala na cabeça em uma estrada abandonada. Pelo que soube, era ele que estava importunando Calla, a ameaçando pelo que sua mãe tinha feito, e Isaiah não tinha ficado feliz com a atenção da policia sendo jogada em seu caminho. Então dei um grande sorriso para os dois. “Por conta da casa.” O mais velho com o cabelo preto piscou. “Obrigado, querida.” Eu imaginei que era uma boa ideia ter dois trogloditas em seu bolso. Nunca se sabe quando alguém precisaria dar um mergulho no cimento. Rá. Eu imaginava que Reece estava trabalhando, então conseguir fazer o quarto item teria de esperar. Eu estaria mentindo, mentindo lindamente se dissesse que não estava aliviada, porque eu estava postergando o momento da verdade. E eu tinha 16
Música do Queen. Significa que mais uma pessoa caiu na cilada.
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o numero do seu celular, então eu poderia mandar uma mensagem e pedir para se encontrar comigo. Ou, eu poderia mandar uma mensagem contando a verdade. Mas isso seria tão bobo que eu teria que dar a mim mesma um mergulho no cimento. Uma coisa boa era que eu não estava me prendendo a isso, desde que eu ia de um cliente para o próximo, acumulando as gorjetas. Era depois da meia noite quando eu olho para cima depois de fazer um ótimo Sex on the Beach e vi Dean parado em um canto do bar. Oh, merda. O momento que eu olhei para cima, ele me viu. Duh. Eu estava ali em pé e ele estava olhando diretamente para mim. Brevemente, eu considerei me jogar atrás do balcão. “Hey,” ele disse, encontrando o que deveria ser o único banco desocupado no balcão do bar. “Noite cheia.” Eu podia sentir o calor se acumulando em meu rosto. Eu não tinha respondido sua mensagem mais cedo. Depois que minha mãe saiu, eu tinha esquecido sobre ela. “Yeah, está sendo um dia bem... corrido.” Enquanto eu colocava o suco de abacaxi no lugar, eu tremi. Um dia tão ocupado assim que eu não tinha tido tempo de mandar uma mensagem de volta para ele? Besteira. Quando eu o olhei, eu mantive meu sorriso em seu lugar. “O que posso pegar para você?” Ele piscou vagarosamente. Seus olhos eram azuis, mas não tão vibrantes quanto os de Reece – merda! Eu não iria pensar sobre a cor dos seus olhos. “Um, uma Bud seria ótimo.” Acenando rapidamente, eu corri para pegar sua cerveja. No caminho de volta, Nick tinha levantando sua sobrancelha para mim mas eu não disse nada. Eu coloquei um guardanapo no balcão e coloquei a cerveja sobre ele. “Conta ou vai pagando?” Novamente, ele piscou e se inclinou para trás para pegar sua carteira. “Pagar.” Ele passou uma nota de dez. “Guarde o troco.”
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“Obrigada,” eu murmurei, querendo deixar o dinheiro no bar, mas havia o aluguel e um novo kit de aquarelas que eu queria, então... inalando profundamente, eu olhei para ele enquanto cobria o dinheiro com minha mão. “Olhe, Dean, eu tive um ótimo...” “Hey! Roxy-moxy, minha menina!” Meus ossos quase saíram da minha pele ao som da voz de Katie. Eu me virei, surpresa que ela tinha conseguido se infiltrar. Novamente, o bar estava lotado, e suas roupas não eram tão chamativas hoje. Meio que. Katie trabalhava do outro lado da rua, no clube dos cavalheiros. Em outras palavras, ela era uma dançarina exótica e amava cada minuto disso. Normalmente ela estaria usando algo que a maioria nunca consideraria usar em público, Hoje à noite, suas longas pernas estavam dentro de uma legging rosa chiclete de couro e seu top era praticamente uma bola de discoteca. Dean a olhou como se ela fossem um alienígena que tinha acabado de entrar no bar. “Yo,” eu me recuperei rapidamente e, pelo hábito, peguei uma garrafa de Jose17 e um copo de dose. “Como esta o trabalho hoje?” Abrindo seu caminho a cotoveladas, entre Dean e uma mulher mais velha, ela entrou no pequeno espaço. “Tão chato que eu quase dormi enquanto deslizava pelo poste.” “Isso teria terminado mal.” Eu coloquei uma dose para ela. “Então, você está de folga no domingo, certo?” Dean interrompeu, colocando seu braços ao seu lado como se estivesse com medo de tocar Katie e pegar algo dela. Eu não gostei disso. Katie se intrometeu enquanto passava seus dedos, sua unha azul claro, em volta do copo de dose. “Ela está livre, mas ela não vai passar nenhum tempo com você a não ser que seu sobrenome seja Winchester.” Ela levantou uma sobrancelha
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Jose Cuervo, tequila.
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enquanto o observava e minha boca caiu, aberta. “E você, obviamente, não é Dean Winchester18.” “Desculpe-me?” ele retrucou, suas bochechas queimando, vermelhas. “O que?” ela deu de ombros. “Querido, estou apenas dizendo de um jeito amigável que você não tem chances com ela.” “Katie,” eu alertei. Dean se virou para mim. “Estranho,” Katie murmurou. Ela juntou seus lábios, como se fosse beijar o ar, e virou a dose de tequila de uma vez. “Lembre-se do que te disse.” Ela bateu com o copo do balcão e a mulher ao seu lado a observou sair com as sobrancelhas arregaladas. Katie bateu com um dedo ao lado da sua cabeça. “Você já conheceu o cara com quem vai passar o resto da sua vida.” Oh, Deus. Eu lembrava muito bem dela me dizendo que eu já tinha conhecido o amor da minha vida, usando seus poderes psíquicos que dizia ter adquirido quando caiu de um poste cheio de óleo enquanto dançava. Esse tipo de coisa só acontecia com as pessoas que eu conhecia. Eu realmente duvidava – ou, pelo menos, esperava – que eu não tinha conhecido o amor da minha vida ainda, mas essa não foi a única coisa que ela me disse. Outra coisa tinha se tornado verdade. E isso tinha a ver com Reece. Katie fez um careta para as costas de Dean. “E não é ele. De qualquer maneira, Roxy-moxy, ainda está tudo certo para os waffles no almoço de amanhã?” Quando eu concordei, ela balançou seus dedos. “Toodles19.”
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Referência a série Supernatural. Tipo ‘tchauzinho’
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Meio que embasbacada, eu a observei fazer seu caminho para fora do bar. Eu conhecia Katie há um bom tempo, mas ela ainda conseguia me tirar da minha zona de conforto. “Tem algo muito errado com aquela menina,” Dean disse, sua voz afiada com irritação. “Eu não sei como lidar com ela.” Meu olhar voltou para ele. “Não tem nada de errado com ela, nem um pouco.” Seus olhos brilharam, surpresos. “Me desculpe, mas estou bem ocupada agora.” Ele fez aquela coisa de piscar de novo. “Tudo bem. Nos falamos mais tarde.” Eu abri minha boca para dizer que isso não iria acontecer, mas ele se virou e disparou na multidão. Balançando minha cabeça, eu me movi para o outro lado do bar. Eu não precisei dizer uma palavra para Nick, porque ele trocou de lado comigo e eu me joguei em atender aos pedidos. Algum tempo depois, eu olhei para cima e fiz um contato estranho com Dean. Depois disso, eu não o vi mais. O resto na noite voou. Nós fizemos a última chamada e limpamos o bar antes de pegar nossas gorjetas e fechar o caixa. Normalmente quando Nick e eu fazíamos isso juntos, nós fazíamos com nada além da música nos fazendo companhia. Eu costumava encontrar a música mais irritante possível para tocar, mas eu realmente não estava no espirito essa noite. E, aparentemente, Nick estava com vontade de conversar. “Quem era aquele cara que estava aqui falando com você?” Eu fechei a caixa registradora e anotei o total na planilha que Jax tinha criado. Um dia, Mona’s iria crescer para que pudéssemos ter um sistema de vendas. Uma menina poderia sonhar. Eu suspirei enquanto o encarei, me apoiando contra o bar que ele estava limpando. “Era penas um cara que sai uma vez.” “E vai ser apenas um encontro?” Eu dei de ombros. “Yeah. Não estou interessada.” Jogando o pano sobre seu ombro, ele andou até mim. “Ele vai ser um problema?”
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Ambos os meninos – Nick e Jax – poderiam ser um pouco super protetores demais, assim como Clyde. “Não, não vai ser um problema. Eu acho que ele recebeu a mensagem essa noite.” Eu virei minha cabeça na sua direção. “Além do mais, eu não sou sua irmã mais nova e você não precisa espantar todos os meninos.” “Eu não tenho uma irmã mais nova.” “Que seja.” “Mas eu tenho um irmão mais novo.” Ele colocou suas mãos em cada lado meu e abaixou seu queijo. Tão perto quanto estávamos, eu podia ver que seus olhos eram mais verdes que castanhos. E puta merda, nós estávamos tão perto quanto My Little Ponies. “E Roxy, eu não usaria a palavra irmã quando penso em você.” “Oh?” Meus óculos deslizaram no meu nariz. “Eu, totalmente, dormiria com você,” ele anunciou. Assim. Bam. Na minha cara. Meus olhos arregalaram enquanto um choque me percorria. Nunca, nem em um milhão de anos, eu tinha pensado que Nick tinha interesse em mim. “Um...” Seus lábios se curvaram em um meio sorriso. “Mas aí eu não poderia mais trabalhar aqui, então isso não vai acontecer. Eu, provavelmente, abriria uma exceção para você, mas esse não é o motivo principal pelo qual eu não iria...” Ele moveu uma mão e tocou a ponta do meu nariz. “Ir até o fim com você.” Eu o encarei por um momento, lisonjeada e... yeah, embasbacada. “Obrigada, eu acho.” Ele piscou e se afastou do bar. Pegando o pano de seu ombro, ele pegou o spray de limpeza e espirrou no balcão. Levou um momento para que meu cérebro voltasse a funcionar de novo. Arrumei meus óculos. “Bem, eu... eu dormiria com você, também, mas isso seria apenas muito estranho.” Nick riu. “Então... você realmente apenas dorme com meninas que nunca mais vai ver?” Curiosidade podia matar um gato, mas ela era minha melhor amiga. 55
“Eu não entro em relacionamentos.” “Ver alguém mais de uma vez não é um relacionamento,” eu questionei com o que eu pensava ser uma lógica válida. “Quero dizer, eu posso entender dormir com alguém mais de uma vez, mas ver?” Ele olhou sobre seu ombro para mim. “É só o jeito que eu sou.” “Okay,” eu murmurei, balançando minha cabeça. “Você é apenas um conquistador?” Uma bufada foi minha única resposta. Nós terminamos logo depois do que eu estava considerando ser uma noite bem estranha para o Mona’s. Eu estava com as chaves, então quando Nick abriu a porta, eu não estava prestando atenção no que estava do lado de fora. Eu estava ocupada com o cadeado e a primeira coisa que pensei quando ouvi sua risada foi que tinha de ser algo a ver comigo. Foi quando eu soltei o pesado chaveiro na minha bolsa e me virei que eu vi sobre o que ele estava rindo. “Mas...?” Eu me cortei enquanto meu coração acelerava. Havia um sedan, uma viatura, estacionado ao lado do meu carro e havia um maldito policial sexy do lado do passageiro, pernas longas, cruzada sobre um joelho e braços cruzados sobre um peito delicioso. Reece estava esperando. Eu não estava pensando mais sobre minha lista de prioridades enquanto eu o encarava sobre a luz fraca do estacionamento. A névoa noturna se fixou sobre mim enquanto ele descruzava suas pernas e se levantava. Meu olhar o percorreu. Eu estava apenas pensando sobre o quão bem o poliéster das suas calças se movia contra suas coxas. Deus, ele andou com o tipo de graça letal que deveria ser ilegal. Nick se inclinou e sussurrou no meu ouvido. “E aqui está o principal motivo pelo qual eu não dormiria com você.” Eu tropecei nos meus pés.
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“Hey, cara.” Nick deu um tapinha no ombro de Reece enquanto passava por ele. “Tenha uma boa noite. Te vejo na quarta, Roxy.” “Bye-bye,” Eu não tirei meus olhos de Reece. O que ele estava fazendo aqui, as duas e meia da manhã? Não era a primeira vez que eu tinha saído tarde do bar e tinha encontrado Reece esperando. Antes da “noite que não deve ser repetida”, ele costumava fazer isso de vez em quando, quando ele estava trabalhando no turno da noite e estava na sua pausa para comer. Mas isso era algo que eu não esperava que ele fizesse novamente. O som da moto do Nick ecoou pelo estacionamento, que antes estava silencioso. Eu precisava dizer algo, porque nós estávamos parados aqui, a alguns passos de distância, encarando um ao outro. “Oi.” Bem, isso foi espetacular. Um lado dos seus lábios se curvou para cima enquanto abaixava seu olhar. “Mas...?” Ele riu, e meu estômago se revirou como se houvesse um ninho de abelhas saindo para voar dentro dele. “O que está escrito na sua camiseta?” Eu olhei para baixo, tentando conter o sorriso que estava se formando em meus lábios. “Ela diz. ‘Ladies’ Man20’. O que tem errado com isso?” Cílios longos e grossos levantaram e ele riu novamente, uma risada gostosa e leve que me envolveu. “Você é... você é uma coisa, Roxy.” Mudando meu peso de um pé para o outro, eu mordi meu lábio. “Eu não tenho certeza se essa é uma coisa boa ou o tipo ‘devo correr na direção oposta’.” Ele deu um passo, se aproximando, seus braços soltos ao seu lado – seu braço direito sobre o coldre da sua arma. A estrela em seu peito parecia mais brilhante, se possível, e estava no nível dos meus olhos. “É... yeah, é uma coisa boa.” Minha respiração falhou quando uma brisa jogou uma mecha do meu cabelo pelo meu rosto. O que estava acontecendo aqui? Eu olhei ao redor, para o
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Algo como ‘mulher dos homens’
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estacionamento vazio, para a linha de carros que começava a diminuir no clube de strip do outro lado da rua. “Você... está no intervalo?” “Yeah, eu trabalho até as sete da manhã,” ele respondeu e, então, se moveu tão rápido que eu não registrei o que ele estava fazendo até que a ponta dos seus dedos tocaram minha bochecha. Ele pegou a mecha rebelde e, enquanto eu literalmente perdia o fôlego, ele colocou ela atrás da minha orelha. Seu toque, ele ficou no ponto sensível atrás da minha orelha, iniciando um pequeno tremor. Meu pulso estava em um nível cardíaco. “O que... o que você está fazendo aqui, Reece?” Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. “Você sabe, eu realmente não sabia no início. Eu estava dirigindo por ai, sabendo que eu precisava fazer minha pausa e eu me encontrei parando no estacionamento. E eu pensei sobre como costumávamos fazer isso.” Meu interior derreteu, porque era bobagem, mas eu estava impressionada que ele realmente se lembrava de fazer isso. Aqui estava eu pensando que eu era a única pessoa que me agarrava a essas memórias. Eu olhei para cima, para ele, me sentindo tonta, e isso não tinha nada a ver com o calor ou sua altura. “E?” “Está cansada?” Essa não era a resposta para a minha pergunta, mas eu balancei minha cabeça. “Nope.” Seus olhos, de um profundo azul, pareciam pretos na luz fraca, fixos nos meus. “Bem, eu andei pensando. Pensamentos loucos.” Minha sobrancelha ergueu. “Pensamentos loucos?” Ele concordou e seu sorriso aumentou um pouco. “Pensamentos insanamente loucos, como se não poderíamos recomeçar?” “Recomeçar?” Eu estava me tornando um filhote que repetia tudo que ele dizia. “Yeah, você e eu.” Eu tinha entendido essa parte. 58
“E eu acho que é um ótimo plano,” ele continuou, de alguma forma ainda mais perto, o que deixava ele tão perto quanto Nick esteve mais cedo, mas eu não tinha sentido nada mais cedo. Agora, havia uma confusão de sensações invadindo meu sistema, pulsando pelos meus nervos. “Eu espero que você aceite.” “Que plano?” Ele se aproximou de novo, dessa vez para arrumar meus óculos. “Vamos esquecer aquela noite. Eu sei que não podemos fingir que nunca aconteceu, mas você disse que eu... eu não fiz nada de ruim com você e eu sei que você não mentiria sobre isso,” ele continuou, e meu coração caiu. Mentir? Eu? Nunca. “Mas podemos superar isso, certo?” “Por quê?” A pergunta saiu de mim e uma de suas sobrancelhas levantou. “Não, quero dizer. Por que agora?” Um momento passou. “Nós somos amigos, e eu vou ser sincero e direto com você, babe. Eu sinto falta disso. Eu sinto sua falta. E eu estou cansado de sentir falta sua. Então esse é o motivo.” Meu coração fez uma acrobacia. Ele sentia a minha falta? Ele estava cansado de sentir minha falta? Oh meu Deus. Agora meu cérebro estava espasmando. Eu não tinha ideia de como responder a isso. Eu, literalmente, tinha passado onze meses brava com ele e me escondendo dele e agora eu estava simplesmente sem palavras. Ele se arrependia daquela noite que meio que não aconteceu, desejava que não tivesse acontecido, mas ele estava aqui, querendo recomeçar. E esperança – oh cara, havia uma faísca de esperança em meu peito, nascendo. Era como ter quinze anos novamente, quando ele sorriu pela primeira vez para mim do outro lado do pátio. Ou quando ele costumava me acompanhar para a escola. Era como o abraço que ele me deu quando voltou. Era como a noite que eu dei carona para ele. E era a mesma esperança que eu pensei que havia sumido nesse período de onze meses, mas ela, obviamente, ainda estava ali, passando pela autopreservação, confusão e culpa.
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“Esses são motivos suficientes para você?” Havia um tom brincalhão em sua pergunta, um que me fez querer sorrir, mas eu me contive. Eu precisava contar a ele o que realmente aconteceu naquela noite. Eu sabia que precisava, mas ele queria recomeçar, e como eu poderia recomeçar indo diretamente para o passado – para a noite que ele queria superar? Reece levantou sua mão mais uma vez e agora seus dedos encontraram os meus. Ele os entrelaçou juntos. Meu coração tinha parado com as acrobacias e tinha se movido para mortais de costa. Talvez umas piruetas. Ele gentilmente deu uma cutucada no meu braço. “O que você me diz, Roxy? Você quer almoçar, jantar, tomar café da manhã – o que quer que você queira chamar isso às três da manhã – comigo?” Como eu podia dizer qualquer coisa diferente de sim?
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Capítulo Seis Estar sentada em uma lanchonete vinte e quatro horas na rua do Mona’s era familiar... ainda assim estranho. Era como ter caído na vida de outra pessoa e eu estava intimamente familiarizada. A lanchonete estava praticamente morta com a exceção da mesa de caras da faculdade que estavam tentando não parecer tão bêbados enquanto estavam a apenas alguns metros de um policial. Café foi servido para Reece e chá para mim com rapidez. Nós decidimos pelo café da manhã. As coisas ainda estavam meio estranhas no começo. Eu sentada na sua frente, de perna de índio, uma luz sobre nós, minhas mãos congeladas em meu colo. Eu não sabia o que dizer ou fazer e mantive meu foco na conversa baixa que soava pelo rádio no seu ombro de poucos em poucos minutos. Reece quebrou o silêncio. “Então, eu vi que Thomas adicionou outro piercing ao seu arsenal.” Movendo uma mão para o copo gelado, eu concordei. “Yeah, ele fez um piercing na sobrancelha semana passada. Cada vez que eu o vejo, eu quero pegar uma corrente e ligar o piercing sobre seus olhos com o do seu nariz até o que ele tem no lábio.” Ele riu um pouco. “Eu tenho certeza que ele iria topar. Seu pai está chamando ele de ‘Rosto de Metal’.” Eu balancei minha cabeça. “Thomas vai fazer dezoito em alguns meses e ele convenceu nossos pais que ele vai fazer uma tatuagem no rosto. Algo como um zíper na parte de trás da sua cabeça, começando no topo do seu pescoço e terminando entre suas sobrancelhas?” Seus olhos arregalaram. “Ele não está falando sério, está?” Eu ri. “Eu acho que não. Ele teria que cortar seus lindos cachos e não acho que ele vá fazer isso. Acredito que ele esteja apenas brincando. Bem, pelo...” Eu parei quando um audível thunk viajou pela lanchonete.
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Se inclinando sobre o estofado vermelho, Reece jogou seu braço sobre a parte de trás do banco enquanto olhava para a mesa dos estudantes. Alguém tinha derramado sua bebida e, aparentemente, era algo insanamente engraçado para a mesa inteira, porque eles soavam como hienas. Meu olhar viajou para Reece. Ele tinha um ótimo perfil. Era seu maxilar, eu decidi, que realmente fazia seu rosto único. Capturar a linha dura seria tão fácil com um pincel ou com carvão. Ah, eu poderia totalmente fazer seu retrato em carvão! Espere. Eu tenho certeza que inclui a coisa toda de ‘parar de pintar seu rosto’ na minha lista de prioridades. Eu realmente era péssima em seguir uma lista de prioridades. O olhar de Reece voltou ao meu e eu senti minhas bochechas esquentando. Porque eu estava realmente encarando ele, e ele totalmente me pegou. O sorriso que apareceu em seus lábios era de um charme infantil. Uma bola se formou em meu peito. “Você ainda está cursando design gráfico, certo?” Huh? Levou um momento para entender que ele estava falando sobre a faculdade. “Oh, yeah. Eu estou tendo umas aulas online. Apenas duas esse semestre.” Eu dei de ombros. “Essas aulas são caras.” “Quanto tempo mais você tem pela frente?” “Mais alguns anos.” Eu tomei um gole do chá. Ah, açúcar. “Desde que eu apenas faço duas aulas por semestre, parece que eu estou indo pelo caminho mais difícil, mas quando eu terminar, eu vou...” “Então, o que?” Eu abri minha boca, mas franzi a sobrancelha. “Sabe, boa pergunta. Eu realmente não tenho ideia. Acho que preciso descobrir isso.” Reece riu novamente enquanto abaixava seu braço e colocava seus cotovelos sobre a mesa. “Você tem vinte e dois anos, Roxy. Você não precisa se preocupar com nada nesse ponto.” Minha expressão ficou branca. “Você faz parecer que eu ainda uso fraldas. Você só tem vinte e cinco.” Talvez ele tivesse razão, mas havia aquela pequena sensação de pânico no meio do meu peito. Uma vez que me formasse na faculdade, eu ainda iria continuar 62
trabalhando no Mona’s? Deixar o Web Design de lado? Ou eu iria tentar um ‘trabalho real’ como as outras pessoas, especialmente pessoas enxeridas gostavam de recomendar? “Eu gosto de trabalhar no Mona’s,” eu anunciei. “Por que não gostaria? Jax é um ótimo cara para se trabalhar.” Ele disse, inclinando levemente sua cabeça para o lado. “E você lida bem com as pessoas.” Eu sorri. “Eu faço boas gorjetas.” Seu olhar caiu para minha boca e levantou vagarosamente. “Eu aposto que faz.” Um tremor prazeroso passou pelo meu sistema pelo leve, quase imperceptível, elogio. Eu estava tão desesperada assim para que, se eu tivesse um rabo, eu estaria abanando-o? Ou era só porque isso veio de Reece? Seus cílios abaixaram, cobrindo seus olhos azul cobalto por um momento. Quando ele olhou para cima novamente, seus olhos praticamente queimaram com intensidade. O yeah, era porque isso veio de Reece. Quem eu estava enganando? Eu afastei esses pensamentos da cabeça enquanto eu pegava o papel que veio embrulhando o canudo e começava a corta-lo em pequenos pedaços. “Mas o quão ruim vai ser ter um diploma de design gráfico e ainda trabalhar no Mona’s?” “Quão ruim é você parar de fazer algo que gosta para fazer algo que não gosta?” ele retrucou. Meus lábios formaram o perfeito O. Bem, quando alguém resumia desse jeito, realmente fazia sentido. “Olhe, você se lembra de como meu padrasto surtou quando ele percebeu que tanto eu quanto meu irmão não tínhamos planos de fazer faculdade?” Eu concordei. Colton, seu irmão, e Reece nunca tiveram vontade de ter um diploma de uma faculdade, algo que seu padrasto, Richard, não ficou muito feliz, considerando que ele era todo sobre a educação e era formado em direito. “E não houve um dia que eu me arrependesse de nunca ter pisado em uma. Eu estou feliz de ter me juntado a Marinha e voltar para cá.” Ele disse, dando de 63
ombros. “Eu estou satisfeito em ser um policial, mesmo que hajam momentos quando...” Uma sombra cruzou seu rosto e eu segurei minha respiração, pensando que ele estava prestes a falar sobre o que aconteceu – o tiroteio que tinha tirado sua vida dos eixos por um momento. “Mesmo quando é difícil pra cacete, eu não me arrependo da minha decisão.” Por alguma razão, eu estava desapontada que ele não mencionou a situação ‘difícil’. Mesmo que Reece nunca tivesse deixado eu me aproximar dele enquanto ele estava lidando com a merda, ele nunca falou sobre isso e eu podia imaginar que ele ainda não falava. “Nem todos precisam fazer as mesmas coisa para serem felizes.” Ele continuou. “Levou a Richard um pouco de tempo para superar, mas ele entendeu. E ele está bem com isso, porque ele sabe que eu e Colton estamos felizes.” Ele pausou. “E eu sei que seus pais não se importariam se você continuasse trabalhando no Mona’s ou em qualquer lugar. Eles só querem que você seja feliz.” “Eu sei,” e isso era totalmente honesto. Reece alcançou sobre a mesa e passou seus longos dedos em volta do meu pulso. Vagarosamente, ele puxou minha mão da pilha de papel que eu estava criando. “Você sabe, você não tem que viver a vida de Charlie por ele.” Meu queijo atingiu a mesa. “Só porque ele não foi para faculdade, não significa que você tem que fazer isso por ele.” Virando minha mão para cima, ele passou seu dedão sobre a parte interior do meu pulso. “Charlie nunca iria querer isso para você.” Haviam tantos dias onde eu imaginava o que eu estava fazendo ou o porquê estava fazendo isso, e Reece tinha chegado direto ao ponto ali, depois de nós não termos trocado nenhuma palavra civil por quase um ano. Eu estava absolutamente chocada, porque havia uma parte de mim que não queria reconhecer por que eu fazia algumas coisas. Ou por que eu não fazia outras coisas.
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Ele passou seu dedão novamente, chamando minha atenção. A ponta do seu dedo tinha calos, me dizendo que ele usava muito suas mãos. O contraste da aspereza com o movimento suave e suas palavras me deixaram inquieta em meu lugar. Antes que eu pudesse pensar em uma resposta apropriada para a situação, nossa comida chegou e ele soltou meu pulso. Mas quando ele fez isso, seus dedos deixaram a minha pele bem devagar, percorrendo o comprimento dos meus dedos. Sem consegui me controlar, eu tremi. O tópico da conversa mudou para um bem mais leve. “Então quanto tempo você acha que Jax vai ficar aqui antes de levar sua bunda para Shepherd?” ele perguntou, pegando sua torrada e mergulhando no creme. Eu ri enquanto pegava um pedaço do bacon de peru. “Nick estava imaginando a mesma coisa. Jax deveria voltar no meio da próxima semana, mas eu duvido que ele passe uma semana inteira antes de correr para ver ela.” “Eu duvido também.” Seu sorriso era enorme. “Cara, ele caiu profundamente por ela.” “Eles são bons juntos.” “Verdade,” ele concordou. “Jax merece isso.” Quando estávamos quase terminando de comer, já eram quase quatro e Reece precisava voltar para o trabalho. Ele cuidou da conta, ignorando meus protestos com um sorriso pretencioso que me fez sentir como se tivesse dezesseis novamente. Ele me acompanhou para meu carro, estacionado ao lado da viatura. “Eu vou te seguir até em casa,” ele disse, abrindo a porta do carro para mim. Eu pisquei. “Você... Reece, você não precisa fazer isso.” “Eu estou de volta as chamadas. Se receber uma, eu posso atender. E isso conta como patrulhar, então não é nada demais.” Enquanto ele colocava suas mãos em meus ombros e olhava diretamente em meus olhos. “Está tarde. Você mora sozinha. Eu vou te seguir até sua casa e ter certeza que você está segura. Ou isso ou eu posso te seguir como um total perseguidor.”
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Minhas sobrancelhas arregalaram. Aquele maldito sorriso estava de volta enquanto ele abaixava seu queixo. “Não deixe eu me tornar um perseguidor.” Uma risada escapou de mim. “Okay. Me siga.” Eu comecei a entrar no carro e olhei para cima, para ele. “Perseguidor.” Sua risada em resposta me fez sorrir e me fez querer bater minha cabeça no volante no curto caminho até o apartamento. O que eu estava fazendo? Por que eu estava toda feliz e animada? Só porque tínhamos recomeçado não queria dizer nada além de amigos. E isso estava ótimo, eu acho que era ótimo também ser... feliz sobre isso e deixar a raiva para trás e toda a bagunça que envolvia aquela noite. Eu podia deixar ele na friend-zone. Assim que ele parasse de sorrir para mim daquele jeito, ou me tocar. Friend zone significava uma politica sem toques. Quando eu estacionei na garagem, a viatura estava logo atrás de mim e eu não estava exatamente surpresa que, quando eu sai do carro, ele já estava do lado de fora, esperando por mim. “Me acompanhando até a porta?” Eu perguntei, colocando minha bolsa sobre meu ombro. “Claro,” Ele fechou a porta do carro para mim. “Depois de tudo, estou sempre disposto a proteger e a servir.” Eu levantei uma sobrancelha. O odor das rosas da Sra. Silver se encarregou de preencher o ar enquanto Reece colocava sua mão na parte de baixo das minhas costas, me guiando para a velha entrada na frente da varanda. O peso da sua mãe parecia perfurar diretamente minha camiseta. Toda a coisa de ficar sem tocar passou direto para fora da porta. As luzes estavam apagadas nos Silver e no apartamento de James e Miriam, mas uma pequena luz amarela radiava do apartamento acima do meu. Eu realmente precisava me apresentar. Eu adicionei isso à lista de prioridades que não parava de crescer. Parando
na
minha
porta
da
frente,
eu
peguei
minhas
chaves,
desesperadamente desejando que eu não tivesse percebido como sua mão ainda 66
estava nas minhas costas ou que estávamos tão perto, seu braço direito quase passando em meu quadril. Eu olhei para ele e inalei profundamente. De todas as coisas que passavam pela minha cabeça, eu não conseguia formar uma frase coerente. “Viu, você chegou a salvo a sua porta,” ele disse, seu tom leve. Minha pele parecia quente demais contra o ar. “Obrigada.” “Eu sou bom em alguma coisa.” “Você é bom em muitas coisas.” Por algum motivo aquelas palavras pularam da minha boca e elas soaram bem mais pervertidas do que antes que eu as falasse. Na escuridão, eu mal conseguia ver sua expressão, mas ele se moveu para que estivéssemos frente a frente. Fazer isso fez sua mão se mover das minhas costas para meu quadril. “Ah, Roxy, eu gostaria de poder dizer que eu acredito que você sabe exatamente no que sou bom, mas eu não posso.” Ack21! Okay. As palavras realmente soaram pervertidas, porque ele estava falando sobre aquela noite, e nós não deveríamos repassar ela. Mas nós estávamos presos no meio de uma bagunça. E minha língua ficou completamente fora de controle. “Você foi bom,” eu disse, lembrando de como ele me beijou. Bêbado ou não, o homem sabia beijar. “Quero dizer, muito bom.” Esses malditos lábios curvados para cima, deixando minhas partes femininas excitada de todos os tipos e desejando que ele movesse sua mão alguns centímetros para a esquerda e para baixo. “Agora, Roxy, não foi nada que fizesse você escrever para casa?” Eu tinha dito isso. E eu também percebi que estávamos falando sobre duas coisas totalmente diferentes. Beijar versus sexo. Eu realmente precisava contar a ele o que aconteceu. “Reece, eu...” “Tem algo que eu preciso ser direto.” Ele disse, me cortando. Ele abaixou sua cabeça assim quando voltou a falar, seu hálito dançou sobre minha bochecha. “Eu disse a você que eu senti sua falta e que eu estava farto de sentir sua falta.”
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Ack = Eca
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Meu cérebro esvaziou. “Yeah, yeah você disse.” “Mas essa não é a única coisa,” ele explicou enquanto meu coração começava a palpitar. “Obviamente tem algo entre nós. Bêbado ou não, aquela noite não teria acontecido se não houvesse.” “Espere. Você disse que se arrependia daquela noite. Que você...” “Yeah, eu desejo que aquela noite não tivesse acontecido, Roxy. Mas só porque eu quero lembrar da primeira vez que eu estive dentro de você. Eu quero lembrar de cada segundo de ter investido contra você, centímetro a centímetro, e gravar isso na memória, babe. É por isso que eu me arrependo e planejo retificar essa situação.” Oh, puta merda, o que ele tinha acabado de dizer tinha acendido um fogo em mim. Tão quente que eu nem estava me focando no fato que ele nunca tinha estado em mim. Nenhum cara, nem mesmo Reece, havia falado comigo desse jeito. Eu gostei disso. Assim como minhas partes femininas. Katie uma vez me disse que esse cara poderia deixá-la excitada apenas falando com ela e eu realmente tinha duvidado. Agora eu acreditava. Totalmente. Definitivamente, não era mais uma lenda urbana. Era possível – espere um segundo. Ele planejava retificar a situação? “Você sabe qual foi a coisa mais difícil de ver nesses últimos onze meses?” “Não,” eu sussurrei. Sua voz era rouca, um rugido baixo. “Ver você com caras que nem mereciam um minuto do seu tempo – pessoas que me faziam perguntar o mau gosto que você tem por caras.” Eu comecei a defender meu gosto em homens, mas fechei minha boca. Yeah, os últimos caras que eu tinha saído eram meio que ruins. Menos Dean. Ele era apenas... blah. Entediante. “Você sai com esses babacas enquanto dá as costas e foge de mim.”
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“Você vale meu tempo?” eu perguntei, sem conseguir me impedir. A curva de seus lábios estava cheia de arrogância, de um jeito irritantemente sexy. “Babe, você não tem ideia de como eu valho seu tempo.” A mão no meu quadril apertou. “Eu não quero ser apenas amigo seu, Roxy. Inferno, não, mas se isso é tudo que você quer, então eu vou lidar com isso. Eu apenas preciso esclarecer tudo aqui. Para que nós fiquemos na mesma página. Você sabe o que eu quero.” Seu rádio parou de transmitir apenas estática, um atendente falando sobre um acidente de trânsito em uma rua não muito longe daqui. Mantendo seus olhos em mim, ele moveu sua mão e apertou um botão que eu não conseguia ver em seu rádio. “Essa é a unidade três-zero-um,” ele disse. “Estou a caminho.” Quando Reece moveu sua mão, ele disse para mim, “Apenas pense sobre isso,” Então ele abaixou sua cabeça, passando seus lábios em minha bochecha, até minha testa. Ele colocou um beijo carinhoso ali. “Agora leve seu lindo traseiro para dentro.” Estupefata, eu apenas fiz isso. A única coisa que me parou quando eu me virei para abrir a porta foi que ele já estava a meio caminho da viatura. “Reece!” Ele olhou sobre seu ombro. “Roxy?” Minhas bochechas esquentaram. “Tome cuidado.” Eu não conseguia ver seu sorriso, mas eu ouvi ele na sua voz. “Sempre, babe.” Então ele tinha ido embora. Aquela ansiedade prazerosa estava de volta, mais forte do que conseguia me lembrar. Era como ter uma ilha de açúcar na minha língua. Eu flutuei enquanto fechava minha porta, segundos de abrir meus braços, como a mulher de Sound of Music22 e girar ao redor quando eu ouvi uma batida, vinda do corredor. Houve um pequeno barulho vindo da cozinha, o som de engrenagens – como uma maquina girando.
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A Noviça Rebelde
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Reece e seu discurso de ‘eu não quero ser apenas amigo’ esquecido, eu rapidamente liguei a luz. Tudo parecia normal, mas aquele som... Colocando minha bolsa no sofá, eu vagarosamente fiz meu caminho pela pequena sala de jantar, ligando as luzes enquanto ia andando. Meu estômago se revirou enquanto eu chegava na cozinha, rapidamente procurando o interruptor. Luz fluiu pela cozinha enquanto eu via a origem do barulho, rapidamente encontrando. “Mas que porra?” eu murmurei. Diretamente a minha frente, a lava-louças estava ligada, trabalhando. Nada estranho sobre isso... exceto que eu não tinha ligado ela antes de sair para o trabalho. E mesmo que tivesse, não teria como ela ter ficado ligada por tanto tempo. Pequenos cabelos arrepiaram na parte de trás do meu pescoço enquanto eu a encarava. Com isso preso na garganta, eu fui em direção a ela, esperando que ela fosse saltar, viva, e começar a cantar como as louças de Beauty and the Beast23. Engolindo forte, eu deslizei meus dedos pelo puxador e a abri, interrompendo o ciclo. Vapor invadiu o ar e eu puxei minha mão para trás. A porta rangeu e caiu aberta. Haviam apenas duas coisas na lava-louças. Uma caneca que eu tinha bebido chá mais cedo e o prato que eu usei para comer um bagel24. Nada mais. Deixando a porta aberta, eu me afastei enquanto balançava a cabeça, sem entender. Eu tinha acidentalmente ligado o timer? Soava plausível mas inferno, eu honestamente não me lembrava de tê-lo ligado. Um calafrio passou pelo meu pescoço enquanto eu cruzava meus braços sobre meu peito. Olhando ao redor, eu procurei cada coisa na cozinha. Então, mais que assustada, sai de lá, deixando todas as luzes ligadas e não parei até que cheguei no meu quarto, fechei a porta e a tranquei atrás de mim.
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A Bela e a Fera Tipo de pão
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Capítulo Sete “Você ainda acredita em fantasmas?” Eu perguntei a Charlie. Ele estava encarando a janela, sem responder, mas eu era audaciosa 25– assim como a menina no filme que todos estavam comentando. Não conseguia lembrar o nome dela, mas Theo James26 estava nele, então ponto. “Eu lembro de quando brincamos com o tabuleiro de Ouija,” continuei, me sentando na cadeira do outro lado dele, com as minhas pernas em baixo de mim. “Mas nós tínhamos uns treze anos e um ano antes disso juramos termos visto o chupacabra, mas que seja, eu acho que meu apartamento está assombrado.” Charlie piscou. Eu inalei profundamente. “O controle remoto foi parar na geladeira no último Sábado e quando eu cheguei em casa do meu turno, a lava-louças estava ligada. Então, depois do meu turno na Quinta, eu cheguei em casa e a TV... do meu quarto estava ligada. Eu não deixei ela ligada quando sai. Então ou tem um fantasma na minha casa ou alguém que eu não saiba está vivendo lá ou estou ficando louca. E eu sei, ficar louca parece bem inacreditável.” Minha risada nervosa ecoou pelo quarto silencioso, me assombrando. Na verdade, qualquer coisa que estivesse acontecendo no meu apartamento estava me assustando. Eu contei sobre isso a minha mãe quando falei com ela essa manhã no caminho da minha visita a Charlie, e ela está convencida de que é um fantasma. Apesar de nunca ter visto um, eu acreditava neles. Quero dizer, muitas pessoas – saudáveis, normais e completamente sanas – no mundo tinham certeza de já ter visto um e muitos desses casos foram provados não serem reais. Mas nada tinha acontecido antes no meu apartamento. Por que agora estariam acontecendo essas coisas? Ou será que já tinha acontecido algo antes e só nunca percebi? Deus, era muito estranho pensar que minha casa estava assombrada.
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Referência a Divergente Ator que interpreta Quatro na Saga Divergente
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Eu precisava comprar sal na próxima vez que fosse ao mercado, como um balde inteiro de sal. É isso o que parece funcionar para os rapazes de Supernatural. Eu suspirei enquanto pegava a pintura que tinha trazido comigo e mostrava para Charlie. Eu tinha feito outra paisagem, dessa vez era Rehoboth Beach, onde nossos pais nos levavam durante o verão. A areia brilhava na tela, como se milhares de diamantes tivessem sido espirrados sobre ela. O oceano tinha sido divertido de pintar, mas não era exatamente perfeito. Porque nenhum oceano era tão profundo quanto os olhos de Reece. Eu precisava de ajuda. Charlie não reconheceu a pintura então eu a levei para a parede, ao lado da de Devil’s Den. Então eu me virei, passando minha mão sobre meu rosto. Sem meus óculos, eu me sentia estranha. Nua. Mmm. Nua. Isso me fez pensar em Reece. Eu realmente precisava de ajuda. Abaixando minhas mãos, eu contive a vontade de bater minha cabeça contra a parede. Alguns momentos se passaram enquanto eu encarava Charlie, desejando que ele se virasse e olhasse para mim, mesmo que só por alguns segundos. Mas ele não fez. “Reece quer esquecer aquela noite,” eu anunciei para o quarto silencioso. Claro, Charlie sabia tudo o que tinha acontecido. “Ele explicou toda a parte de ter se arrependido, o que” – eu ri – “teria resolvido vários problemas se ele só tivesse, você sabe, dito isso antes. Explicado melhor. E ele não quer ser só amigos. Ele deixou isso bem claro. Ele disse... ele disse que valia o meu tempo.” Eu imaginei Charlie concordando com isso. Voltando para a cadeira, eu me sentei. “Ele não disse que queria ser meu namorado ou que queria me levar para sair. Nossa conversa não chegou assim tão longe, mas ele veio ao Mona’s na Quarta a noite e nós conversamos, do mesmo jeito como fazíamos antes. Ele flertou comigo.” Eu puxei meus joelhos contra meu peito e apoiei meu queixo nele. Fechando meus olhos, eu soltei outro suspiro. “Eu não disse a ele o que realmente aconteceu. Você sabe como ele odeia mentiras e qualquer coisa do tipo, e de verdade, quando foi a melhor hora para contar? Hey, eu
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sei que você acha que conseguiu, mas não. Tanto tempo já se passou que é difícil voltar a esse ponto.” Charlie não disse nada mas eu sabia que se ele pudesse falar, ele teria entendido onde eu estava indo. Onze meses de falta de comunicação não era fácil para qualquer um consertar, mas mesmo entendendo isso, ele iria dizer – se pudesse – que eu precisava confessar. A conversa, de apenas um lado, continuou por mais um tempo e, então, eu peguei New Moon e passei o resto do tempo lendo para ele. Quando chegou a hora de ir, eu coloquei o livro velho de volta na minha bolsa e me levantei. Charlie era a única pessoa fora da minha família que eu realmente amava e depois de tudo que aconteceu com ele... bem, a ideia de amar tanto alguém como eu amava Charlie e ter de passar pelo mesmo tipo de sofrimento me assustava. Inferno. Se eu fosse ser honesta comigo mesma, isso era provavelmente o motivo de ter um péssimo gosto para os caras com quem saia. Nenhum deles eram material para um relacionamento. Nenhum deles era perigoso para meu coração, a não ser Reece, e ele sempre esteve perto. Mesmo que ele quisesse levar as coisas mais adiante comigo, uma vez que ele descobrisse que eu menti, isso seria o fim de tudo. Então, de um jeito, ele era uma escolha segura. Alguém que eu poderia desejar e sonhar, mas sempre saberia que era algo fora do meu alcance antes de me apaixonar. Eu não conseguia olhar para Charlie enquanto me levantava, silenciosamente ao seu lado. As sombras eram mais profundas em seus olhos e bochechas. Em uma semana, ele parecia mais fraco e magro. Os cabelos perto da sua testa estavam mais finos. Culpa se acumulava em meu estômago e eu não conseguia evitar em pensar que ele não estaria nessa posição se eu não... se eu tivesse mantido minha boca fechada naquela noite. Simplesmente ter ignorado Henry Williams e seus amigos. Se eu não tivesse ficado incomodada pelas suas acusações. Eu não peguei aquela pedra nem fui eu que a joguei, mas de um jeito, eu tive participação nisso. E Charlie tinha pagado o preço.
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Algo terrível e horrível floresceu. Eu não queria nem mesmo terminar isso, mas era algo que já tinha começado a passar por mim. Eu bati uma mão na minha boca, engolindo os sons. Teria sido melhor se ele não tivesse sobrevivido? Oh Deus, eu não podia acreditar que estava pensando nisso. Era tão errado. Eu era uma pessoa terrível. Mas uma voz sussurrava no fundo da minha cabeça mesmo que eu estivesse pedindo para ela se calar. Isso era uma forma de se viver? Essa era a pergunta do milhão e eu estava aqui, pensando no que Reece disse para mim sobre viver minha vida por Charlie. Se eu quisesse realmente refletir sobre isso, sendo realmente honesta comigo mesma, eu sabia que tinha tomado algumas decisões simplesmente porque Charlie não poderia. E talvez... talvez porque eu... Eu não conseguia terminar essa linha de pensamento também. Desamparo crescia no meu estômago. A enfermeira Venter tinha explicado quando cheguei que eles ainda estavam com dificuldade de fazer Charlie se alimentar durante o dia. Ela tinha me dado um prato de purê de batata, algo que ele costumava comer, mas mesmo eu tendo passado boa parte da minha visita tentando fazer ele comer, não adiantou nada. Se isso continuasse, eles teriam em entubar, provavelmente antes do fim da próxima semana, e ele não gostava disso. Última vez, ele tinha conseguido tirar e terminou tendo que ser imobilizado. Não havia nada que eu podia fazer para ajuda-lo, mas eu tinha que tentar. Eu peguei o prato e a colher de plástico, pegando um pouco da massa branca. Logo que a colher chegou perto do seu rosto, ele se virou. Eu não entendia. Ele não conseguia me reconhecer, mas ele tinha virado seu rosto da comida. Dez minutos disso se passaram antes que eu colocasse o prato de volta na pequena mesa perto da cadeira. Passando entre sua cadeira e a mesa, eu me ajoelhei na sua frente. “Eu preciso que você faça algo por mim, Charlie.” Nossos olhares se conectaram, e foi como receber um soco no estômago, porque mesmo que ele estivesse olhando para
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mim, ele não estava me vendo. Emoção fluía pela minha garganta. “Eu preciso que você coma, okay? Quando eles trouxerem seu jantar hoje à noite, eu preciso que você coma.” Nem um pingo de emoção passou por sua expressão. “Se não, eles vão ter de te entubar. Lembra o quanto você odiou isso da primeira vez?” Eu tentei de novo, colocando uma mão em sua bochecha. Ele tremeu, mas nada mais. “Então Charlie, por favor, coma.” Eu beijei sua testa enquanto me levantava. “Eu volto na sexta querido.” A enfermeira Venter estava esperando por mim do lado de fora. Seu cabelo escuro, levemente rajado de cinza, estava puxado em um coque. Eu imaginava que ela estivesse esperando para saber se houve alguma mudança no comportamento de Charlie. “Ele está do mesmo jeito que esteve no último mês,” eu disse a ela enquanto chegava no corredor. “Eu não consegui fazer ele comer o purê de batatas. Eu não entendo. Ele não responde a mim, mas ele definitivamente responde quando uma colher chega perto dele.” “Roxy...” “Ele costumava amar aqueles pirulitos de iogurte,” Eu sugeri enquanto nos aproximávamos das portas duplas que levavam a sala de espera. “Talvez eu possa trazer alguns antes de ir trabalhar amanhã? Eu tenho tempo.” “Querida,” ela disse, pegando meu braço. “Eu tenho certeza que Charlie amava muitas coisas, mas ele... bem, ele não é mais o mesmo Charlie.” “Charlie...” eu a encarei por um momento e, então, soltei meu braço. “Eu sei que ele não é mais o mesmo, mas ele... ele ainda é Charlie.” As linhas em volta dos seus olhos demonstravam simpatia. “Querida, eu sei, mas essa não é a única coisa que precisamos conversar. Tem...” O que quer que ela fosse falar era algo que eu não queria ouvir naquele momento. Provavelmente tinha a ver com a intubação e eu não conseguia pensar
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sobre isso porque eu sabia como Charlie iria reagir. Eu também sabia que seus pais não iriam ver isso e até mesmo me perguntava se eles se importavam. Desviando meu olhar, eu abri as portas. Meu mundo inteiro parou. Sentado no mesmo sofá que eu estive esperando várias horas atrás estava Henry Williams. A alça da minha bolsa escapou dos meus dedos e ela caiu no chão com um grande estalo. Eu estava congelada no meu lugar. “Roxy,” sussurrou a enfermeira Venter. “Eu estava tentando te falar que ele estava aqui.” Henry se levantou. Ele tinha crescido desde a última vez que eu tinha visto ele. Antes era tinha uma altura média, por volta de 1,60m. Agora, ele tinha mais de 1,80m. A prisão não tinha sido boa para ele, não que me importasse com isso. Seu cabelo castanho escuro estava cortado próximo da sua cabeça e sua pele estava mais pálida do que me lembrava. Então, novamente, eu não acho que você passa muito tempo no sol quando está preso. Haviam bolsas abaixo de seus olhos, fazendo ele parecer mais velho do que era, ele devia ter vinte e três ou vinte e quatro anos. E ele estava maior. Parecia um cliché total, mas ele deve ter passado um tempo malhando porque seus ombros esticavam o tecido da camiseta branca que ele usava de um jeito totalmente diferente de quando ele era mais novo. Meus músculos travaram enquanto eu encarava Henry. Ele passou suas mãos na lateral do seu shorts cáqui. “Roxanne,” ele disse e minha pele arrepiou como se um exército de baratas estivessem andando por mim. Uma parte de mim queria fugir da sala de espera, correr direto para as portas e ficar o mais longe possível de Henry mas eu não podia. Henry não estava aqui por mim. Ele queria ver Charlie e, como uma mamãe urso, eu não iria deixar isso acontecer. Meus músculos destravaram e eu me movi para que estivesse no meio das portas duplas. “Você não é bem vindo aqui.”
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Henry não parecia surpreso. “Eu não imaginava que seria.” “Então por que está aqui?” Eu ordenei, minhas mãos fechadas em punhos. “Esse é o último lugar que você deveria estar.” Ele olhou para onde a enfermeira Venter estava. Por sorte não havia mais ninguém no Lobby, mas isso logo iria mudar. “Eu sei. Eu não quero começar nada...” “Você nem deveria ter saído da prisão. Você esteve lá por quanto tempo? Cinco anos no máximo e agora você saiu, podendo andar e aproveitar o que quiser, mas e Charlie que perdeu tudo?” Eu balancei minha cabeça, respirando pesado. Puta injustiça. “Você não vai ver ele.” “Roxy,” Enfermeira Venter disse baixo. “Eu sei que você percebeu que...” Eu me virei para ela. “Então você concorda com isso? Está do lado dele?” Traição era um acido no fundo da minha garganta. Eu sabia que isso era desnecessário. Ela estava apenas fazendo seu trabalho, mas minha frustração e desespero estavam a segundos de me tornar irracional. Eu não me importava com seu trabalho. Tudo que eu me importava era sobre o quão injusto isso era para Charlie. Suas sobrancelhas demonstravam simpatia. “Não é um problema de estar de um lado. Os pais de Charlie – seus guardiões – deram permissão. E, a não ser que Charlie diga que não quer vê-lo, por pior que isso soe, ele está permitido.” Minha boca caiu aberta. “Charlie não fala uma sentença a mais de seis anos! E como ele, de repente, vai expressar sua desaprovação com algo?” Eu me virei, olhando para Henry. “Você sabia disso? Que Charlie não fala há anos?” Ele desviou o olhar, um músculo pulsando em seu maxilar. Eu dei um passo para frente. “Oh, isso é difícil de ouvir? Por que foi algo que você fez para ele?” “Roxanne.” Enfermeira Venter pegou meu braço com seus dedos frios. “Eu acho que seria melhor se você fosse embora.” Soltando meu braço, eu estava a segundo de explodir em insultos e palavrões, mas meu olhar furioso encontrou o seu. Ela não estava apenas olhando
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para mim, ela estava implorando com seu olhar para deixar isso para lá – para ir embora daqui porque não havia nada que ela pudesse fazer. Não havia nada que eu pudesse fazer. Eu tomei vários fôlegos que não me levaram a lugar nenhum. Tudo que eu pude fazer foi concordar em sua direção antes de pegar minha bolsa. Era como andar pela areia movediça. Cada célula no meu corpo dizia para eu não sair do prédio, mas eu sai. Usando toda força de vontade para me conter, eu consegui levar minha bunda para fora do prédio, abaixo do céu e cheguei na metade do caminho para meu carro no estacionamento. “Roxanne.” Meu olhos arregalaram. Oh puta merda. Embasbacada, eu me virei vagarosamente. Henry estava logo atrás de mim. “Eu sei que você está triste...” “Você é tão bom observador.” Ele ignorou isso. “E você tem todo o direito de estar.” Encarando ele, eu sabia que iria acabar fazendo algo estúpido se eu não me tirasse dali tanto quanto eu sabia que aquelas nuvens negras iriam derramar. “Me deixe em paz,” eu disse, agarrando minha bolsa mais forte enquanto me virava. Eu aumentei o passo, dando volta em uma van. Um raio iluminou as nuvens negras sobre minha cabeça e o trovão ressoou, tão alto que percorreu meu peito. Outro clarão brilhou como uma bola de discoteca e eu me foquei em contar os segundos entre a luz e o trovão. Então eu vi meu carro. Melhor ainda, eu vi o que estava do lado do meu carro. Era um Mustang velho – direto dos anos 70, cor cereja. A placa também era familiar. Estava escrito BBRB e eu sabia o que isso significava.
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Bad Boys Are Better27. Puta merda era o carro de Henry – o mesmo que ele tinha no colegial e que ele e seu pai haviam restaurado. O mesmo carro que ele e seus amigos usavam para pegar meninas, como algo saído direto de um filme ruim. Henry saiu da prisão logo depois de destruir a vida do meu melhor amigo e seu maldito carro – seu orgulho e felicidade – estava esperando por ele. “Por favor, me dê apenas alguns segundos. É tudo que estou pedindo.” Henry segurou meu braço. E eu me descontrolei. Fúria explodiu dentro de mim como uma faísca em uma poça de gasolina. Meu cérebro disparou e o senso comum pulou do alto de um prédio. Eu não estava pensando mais, apenas sentindo raiva, tanta que parecia que ela saia do meu corpo. Eu enfiei a mão na minha bolsa e peguei a primeira coisa substancial que meus dedos encontraram e atirei, usando meu braço como uma lançadora perfeita para a MLB. A pesada cópia de capa dura de New Moon voou pelo ar como uma pedra – parecida com a pedra que destruiu nossas vidas – e foi direto para o para brisas do Mustang de Henry. O vidro quebrou. Assim como nossas vidas tinham quebrado naquela noite no lago.
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Meninos Maus São Melhores.
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Capítulo Oito Eu tive um dejà vu. Mais ou menos. Sentada em meu carro, eu olhava para a chuva batendo no para brisas – totalmente intacto – enquanto Dennis terminava com Henry. Bem, não era o recém casado Dennis que sempre vinha para o bar. Agora, ele era Policial Dennis Hanner. No meio de centenas de pessoas que trabalhavam para esse pais, tinha de ser alguém que me conhecia. Claro. Porque era assim que a vida funcionava. Ugh. Eu não sabia se Henry chamaria a policia por eu ter quebrado seu para brisas porque ele nem teve a chance. Como eu tinha um timing impecável, um casal de idosos que iam visitar alguém tinham saído do carro no exato segundo que New Moon quebrou a barreira do som e o para brisas. Não só eles tinham chamado a polícia como também estacionaram seu carro na frente do meu, como se eu fosse fugir, até que o Policial Hanner apareceu. Aparentemente, eu tinha acertado o para brisas no lugar certo, ou pensando bem, no lugar errado. Como a maior parte do vidro era reforçado, eu devo ter acertado a única área fraca. Ou, talvez eu fosse realmente uma mutante que poderia transformar livros em armas de destruição de vidros. Então começou a chover, tudo enquanto Dennis – não, Policial Hanner – me olhava como alguém que queria me pegar pelo calcanhar e jogar algum senso comum em mim. Eu estava encharcada, assim como ele, mesmo que ele estivesse usando uma capa de chuva. Ambos, Henry e o Policial Hanner viraram para olhar para mim. Fechando meus olhos, eu descansei minha testa contra o volante. Eu era... uma idiota – impulsiva, irresponsável idiota. No que eu estava pensando? Eu não podia acreditar que tinha feito isso. Com certeza, eu era pavio curto. Tinha herdado
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isso da minha mãe, também, mas eu nunca cometi um ato de vandalismo. A vergonha me atingiu forte, fazendo minha pele coçar. Como eu estaria fazendo algo diferente do que Henry tinha feito? Quero dizer, eu não tinha machucado alguém, mas eu tinha perdido a calma e reagi violentamente e de um jeito idiota. Desconfortável com essa comparação, eu senti um tremor balançar meus ombros. A porta do passageiro abriu, de repente, me fazendo pular contra o banco. Atenta, eu observei Dennis se sentar ao meu lado. Meu olhar voltou para frente do carro. Henry tinha ido embora. Assim como o Mustang. Relutante, eu olhei de volta para Dennis. Ele tirou o capuz da capa amarela. “No que você estava pensando, Roxy?” Eu abri minha boca. “Não responda essa pergunta,” ele disparou, passando sua mão pelo seu maxilar. “Eu já sei. Você não estava pensando em nada.” Eu fechei minha boca. “Eu não posso acreditar em você. Você, de todas as pessoas deveria saber melhor do que fazer o que fez.” Voltando meu olhar para o volante, eu pressionei meus lábios juntos enquanto concordava. Eu sabia. “Você tem tanta sorte,” ele disse. “Henry não vai prestar queixa.” Meu olhar voltou correndo na sua direção. “O que?” Ele balançou sua cabeça enquanto virava para olhar para a janela. “Ele decidiu não prestar queixa. O que é ótimo, porque eu realmente não quero ter de explicar a Reece porque eu te prendi.” Oh, Deus. Reece. “Ou ter de lidar com seus pais, que eu tenho certeza estariam super orgulhosos do que você fez.” Ele adicionou, sendo irônico. Mas inferno, eu merecia.
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“Apesar disso, você vai levar essa sua bunda e pagar pelo conserto disso ASAP28. Entendeu?” “Sim,” eu respondi imediatamente. “Assim que eu souber quanto custa. Eu vou pagar.” Um momento se passou. “Henry vai pegar um orçamento e me enviar. Eu acho que esse é o melhor por agora.” Concordo cem por cento. “Dennis, me... me desculpe. Eu não estava pensando. Eu estava tão brava que ele estava aqui, e ele segurou meu braço...” “Ele disse que segurou seu braço antes de você atirar o livro,” ele interrompeu. “Por sinal, eu acho que essa foi a primeira vez que eu vi um livro quebrar um para brisas, então obrigado por isso. Mas ele não fez soar como se fosse um movimento agressivo. E você não mencionou isso quando eu cheguei. Tem algo que eu não saiba?” “Não foi um movimento agressivo. Ele queria conversar. Eu não.” “E você tem esse direito, Roxy. Você não precisa conversar com ele,” ele concordou. “Mas você não pode causar danos a sua propriedade.” “Eu sei,” eu sussurrei. Dennis me atirou um olhar de lado. “Eu não estava por perto quando essa coisa toda aconteceu com Charlie. Inferno, eu nem morava nesse estado, mas eu ouvi os detalhes. Eu sei o que aconteceu e se fosse minha decisão, o bastardo ainda estaria preso. Mas não é minha decisão.” No banco molhado, ele se virou para mim. “E eu entendo que é uma merda gigante que ele esteja solto e que ele tenha vindo aqui, mas menina, você precisa se acalmar. Você não pode fazer merdas assim. Não ajuda ninguém, especialmente você.” Eu o encarei. “Você me entendeu?” ele perguntou.
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As Soon As Possible = O Mais Rápido Possível
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“Yeah, eu entendi.”
Não preciso dizer que eu me atrasei para meu turno, o que era uma merda, porque isso significava também que eu não iria terminar o layout de um blog antes de sair. Essa seria um longa noite porque eu teria que terminá-lo quando chegasse. Surpreendentemente, Jax não sabia sobre meu poderoso braço, mas quando eu contei a ele o que tinha feito, ele me pegou pela gola da minha camiseta WALKERS NEED LOVE TOO29 e me arrastou para o corredor. Eu sabia que teria o segundo discurso sobre isso essa noite. “No que você estava pensando, menina?” ele disse. “Eu não estava pensando em nada,” eu respondi a ele. “Esse é o problema. Eu só fiquei tão puta que parei de pensar.” Ele me encarou, suas sobrancelhas erguidas. “Isso não é motivo suficiente.” Eu quase pulei de frustração. “Eu sei que não é. Acredite em mim. Eu sei bem. Eu vou pagar pelos danos.” “Roxy...” Abaixando meu queixo, eu cruzei meus braços sobre meu peito. O dia todo eu me senti como merda pelo que tinha feito. Eu não era do tipo de sentir pena de mim mesma ou me sentir assim. Oh não, era o tipo de ‘eu sou idiota e estou mal’. Eu não tinha me sentido assim desde quando eu tive de evitar o dono do apartamento quando estava atrasada com o aluguel. Novamente, eu me encontrei desejando poder beber durante o expediente. “Bem, tem mais uma coisa.” Ele segurou meu queixo e eu olhei para cima. “Você, obviamente, tem um bom braço.” Eu revirei meus olhos enquanto uma risada seca saia pelos meus lábios. “Isso é o que acontece quando você cresce com dois irmãos.”
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Zumbis também precisam de amor
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“Verdade. Você já contou para seus pais?” “Não. Vou deixar isso para amanhã.” “Boa sorte com isso.” “Obrigada.” Eu gemi. Balançando minha cabeça, ele apontou para a porta fechada do escritório. “Por sinal, tem uma coisa lá para você.” “Tem?” Seus lábios se curvaram. “Yeah, e depois do dia que você teve, vai ser uma boa surpresa. Vai lá ver, depois você volta para o bar.” “Sim senhor!” eu dei a ele uma continência, que ele prontamente ignorou. Desde que eu tinha chegado tarde, eu tinha ido direto para o bar, deixando minha bolsa ali mesmo, então eu não tinha pisado no escritório. Eu abri a porta e congelei. “Mas que...”? eu murmurei. Não tinha como Jax estar falando sobre as flores que estavam na mesa. Eu olhei ao redor do quarto. Nada mais parecia fora do normal. O sofá estava lá. O armário de documentos. A bacia, possivelmente com Beer Nuts30 Meus olhos viajaram para as flores. As rosas eram bonitas – mais de uma dúzia, vermelho brilhante e tinham acabado de florescer. O leve perfume passou por mim enquanto eu andava em direção a mesa. Um envelope quadrado saltava entre os Baby Breaths31 e as folhagens. Meu nome estava claramente escrito nele. Bem profundamente na minha barriga, havia muita coisa se remexendo – de um jeito feliz. Eu cuidadosamente o puxei e abri. Próxima vez vai ser melhor.
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Um tipo de amendoim. Uma flor bem pequenininha.
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Minhas sobrancelhas arregalaram. Uh, o que? Eu virei o cartão. Sem nome. Eu virei de volta e li novamente a mensagem. Um pequeno sorriso se formou no canto dos meus lábios. Tinha de ser de Reece. A mensagem era meio estranha, mas tinha de ser ele. Eu segurei o cartão enquanto mordia meu lábio. Reece normalmente estava de folga às sexta feiras, ou pelo menos era isso que eu achava. Era difícil acompanhar seus horários. Ele esteve no bar na Quarta e nós tínhamos conversado, mas ele não tinha mencionado essa coisa de querer ser mais que amigos e eu também não, porque eu não sabia o que fazer com isso. Bem, eu tinha várias ideias do que eu poderia fazer. Muitas delas envolviam ficar nua fazer algumas posições de yoga com nossos corpos e coisas do tipo, mas por mais clichê que soasse, eu não sabia lidar com o querer algo/alguém por tanto tempo e finalmente ter isso. Talvez eu pudesse mandar uma mensagem para ele sobre as rosas. Sorrindo como uma idiota completa, eu coloquei o cartão no bolso de trás do meu jeans e voltei para o bar. Havia uma multidão esperando para ser servido e a pobre Pearl estava correndo de um lado para o outro mais rápido que suas pernas deixavam. Horas se passaram antes que eu percebesse ou tivesse a chance de pegar meu celular e finalmente a multidão estava diminuindo um pouco. Eu usei o tempo para amarrar meu cabelo em um rabo de cavalo e pegar uma Coca. Quando a porta se abriu mais uma vez, o cheiro da chuva de verão chegou em meu nariz e eu olhei. Meu coração caiu no meu peito. Reece entrou, com seu cabelo castanho grudado em sua testa, as pontas enrolando. Pequenas gotas de chuva escorriam por seu rosto até sua camiseta. Enquanto ele passava sua mão na sua cabeça, penteando aquelas mechas para trás, ele me lembrou de Poseidon surgindo no meio do oceano. Puta merda.
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Ele olhou para cima e nossos olhares se encontraram. Fixos. Enquanto ele cruzava o salão, ele deu a volta e veio atrás do bar, em minha direção, sem olhar para outro lugar o tempo inteiro. “Okay.” Nick deu um passo para trás antes que fosse expulso. Meus pulmões contraíram enquanto Reece pegava minha mão e se virava, andando por trás do bar, me puxando com ele. “Bom te ver também, Reece.” Jax trocou um olhar com Reece e apontou na direção de Nick. “Não se importe com a gente. Tire uma folga. Nós cuidamos disso aqui.” Normalmente eu não teria protestado, especialmente desde que metade do que Jax disse estava cheio de sarcasmo, mas as borboletas no meu estômago estavam de volta a todo vapor. Era como estar naquele programa de terror que eu assistia quando criança – The Wiggles32. Alguém – seria Melvin? – nos seguiu com o olhar enquanto Reece me levava ao corredor, e minhas bochechas coraram. “Okay, He-man, eu posso andar por mim mesma.” Ele me atirou um olhar sobre seu ombro enquanto abria a porta do escritório. “Tenho certeza que pode.” Então me puxou para dentro. Meu olhar foi direto para as rosas – as rosas! - mas antes que eu pudesse dizer uma palavra, ele fechou a porta e minhas costas estava apoiada nela, suas mãos coladas na porta em cada lado da minha cabeça e seu rosto estava logo na frente do meu. Exatamente ali, perto suficiente para um beijo. Wow. “Então, eu estava na casa do meu pai em New Jersey durante a maior parte do dia e, você sabe, ele vive perto de Pine Barrens, então o serviço é uma merda.”
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Banda australiana dedicada ao público infantil
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Eu concordei mesmo que eu não estivesse processando o que ele estava dizendo por que estava ocupada demais encarando sua boca. Aqueles lábios, o de baixo mais cheio, me deixando totalmente distraída. “Eu saio da sua garagem e recebo todas essas mensagens do Dennis,” ele continuou e eu finalmente entendi sobre o que ele estava falando. “Eu realmente pensei que ele estava brincando comigo no começo.” Eu tremi. “Ele... um, não estava.” Ele me atirou um olhar sem emoção. “Isso eu descobri.” Sua mão deslizou pela porta, parando bem próxima de tocar meu ombro. “O que ele fez para você?” “O que?” eu pisquei. “O que aquele bastardo fez para você ter jogado um livro em seu para brisas?” Oh. Oh. Meu coração estava dançando com meu estômago agora. “Ele realmente não fez nada. Eu perdi a calma. Ele queria falar comigo, e eu não queria.” “Você não precisa falar com ele.” “Foi isso o que Dennis disse, mas eu não deveria ter depredado seu carro.” Um musculo pulsou em seu maxilar. “Isso é verdade.” Ele balançou sua cabeça. “Merda, Roxy, não posso dizer que estou surpreso.” Minhas sobrancelhas arregalaram. “Não está?” Ele riu baixo. “Babe, você sempre teve todo esse mau temperamento em você.” Ah, isso era meio verdade. “Isso é uma coisa boa ou ruim?” Reece inclinou sua cabeça para o lado. “Uma coisa sexy, mas vandalismo e destruição de propriedades privadas não ficam bem em você, querida.” “Não. Não combina com minha manicure.” Eu levantei minha mão, exibindo minhas unhas azuis. Ele riu novamente e se acalmou, simples assim. Seu rosto de policial estava de volta e, yeah... o borbulhar no meu estômago me disse que eu achava sua 87
expressão de policial intimidadora. “Você teve sorte. Ele poderia ter dado queixa e essa conversa estaria indo em uma direção totalmente diferente.” Meu próprio meio sorriso saiu do meu rosto. “Eu sei. É... era sobre Charlie e ele...” sem consegui terminar, eu me forcei a dar de ombros. “O que você vai fazer comigo?” Seus lábios se afastaram enquanto seu peito levantava, com uma respiração profunda, então seu olhar caiu para minha boca e sua expressão ficou tensa. Ele parecia. ele parecia bravo. “Eu tenho várias ideias.” Calor me invadiu na forma de uma leve queimação. Seus cílios grossos levantaram e eu estava perdida na profundidade dos seus olhos azuis. Meus dedos doíam para que eu pudesse tocá-lo, assim como naquela noite há tanto tempo – enterrar meus dedos em seu cabelo molhado, passar minha mão sobre seu peito e estômago. Eu mordi meu lábio enquanto ele movia sua mão esquerda e pegava uma mecha do meu cabelo que tinha saído do meu rabo de cavalo. Ele a colocou no lugar e uma onda de apreensão e tremores percorreram minha coluna. Em um movimento inconsciente e por puro instinto, meu quadril se afastou da porta, se movendo para perto do seu. Isso não passou despercebido por Reece e eu imaginava o que ele iria fazer se eu o tocasse agora. Arrastaria minha mão por seu peito, por baixo da sua camiseta? Tocando sua pele sua? Deus, só de pensar nisso quase me fez gemer. Um meio sorriso se formou em seus lábios e seus olhos ficaram mais profundos. “No que você está pensando, Roxy?” Pensamentos sujos, que eu nunca compartilharia, então eu disse a primeira coisa que me veio na cabeça. “Obrigada pelas rosas.” Ele levantou uma sobrancelha enquanto um pouco do calor saia do seu olhar. “Eu não te mandei rosas.” “Oh. Oh.” O momento estava oficialmente terminado. “Você não mandou?” Se afastando da porta, ele deixou cair seus braços ao seu lado. “Não.” Seus lábios ficaram tensos enquanto ele se virava, olhando para as rosas na mesa. “Essas flores?”
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“Yeah, essas flores. Eu pensei que eram suas.” Eu me afastei da porta. “Tem certeza que você não as mandou?” O olhar em seu rosto basicamente disse que eu estava fazendo uma pergunta idiota. “Bem, isso é estranho.” Eu mudei meu peso de um pé para o outro. “O cartão não tinha nome então eu, honestamente, não sei de quem elas podem ser.” Ele se aproximou das flores, passando um dedo por uma das pétalas. “O que o cartão dizia?” “Um, algo sobre ser melhor da próxima vez.” Olhando sobre seu ombro para mim, ele sorriu. “Eu entendo porque você deve ter achado que era meu, mas não.” Eu imaginava se ele acharia estranho se eu pegasse as flores e as jogasse pela janela do escritório. Okay. Sem jogar mais nada. “Eu deveria ficar preocupado?” Ele me encarou. “Huh?” O seu sorriso era de um charme quase infantil. “Eu tenho um competidor?” Me levou mais um momento para entender o que ele quis dizer e uma risada escapou de mim enquanto eu olhava para as flores. “Yeah, acho que sim.” As flores tinham de ser de Dean e isso significava que, mesmo que eu não tivesse respondido suas quatro mensagens, ele ainda não tinha entendido. “Eu vou ter que fazer algo sobre isso,” Reece disse, se apoiando contra a mesa. Ele cruzou seus braços, chamando minha atenção para a forma de seus bíceps. “O que me faz lembrar. De volta no que vou ter que fazer com você.” Seus olhos azuis brilhavam. Minha mente pulou. “Eu não dirigi para cá,” ele disse. “Não?”
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“Nope. Eu fui primeiro em casa. Por isso que não cheguei mais cedo. Precisava me trocar, porque eu ajudei meu pai a limpar sua garagem. Então pedi a Colton para me dar uma carona.” Ele explicou enquanto inclinava sua cabeça para o lado. Seu olhar caiu e eu senti ele nos meus pés, subindo. “Eu vou para sua casa hoje.”
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Capítulo Nove Meu coração tinha parado desde o momento que Reece anunciou que iria para casa comigo. Uma energia nervosa percorria meu sistema enquanto eu terminava meu turno com... com Reece sentado no bar. Bebendo água. Não levou muito tempo para Jax e Nick perceberem que Reece estava mais esperando do que realmente aproveitando o bar. “Me sinto como se tivesse perdido algo importante,” Jax comentou enquanto ele olhava na minha direção e de volta para Reece. “Como, realmente perdido algo.” Reece riu. “Você perdeu tudo.” Passando por nós, Nick bufou. Jax levantou sua sobrancelha enquanto ria. “Bem, já era hora.” Minha boca caiu aberta. Mas que porcaria foi essa? Reece concordou enquanto pegava seu copo, olhando para mim sobre ele. Havia aquele olhar de novo, brincalhão e infantil. “Palavras mais verdadeiras nunca foram ditas.” Mais uma vez na vida, eu estava totalmente embasbacada, o que parecia funcionar para todos, porque entre atender aos pedidos, Jax e Reece conversavam. Eu fui de cliente em cliente, excitava, nervosa e esperançosa e mais um milhão de coisas. Ele estava indo para casa comigo. E eu estava bem com isso. Eu também estava assustada sobre o que isso significava. Enquanto eu misturava as bebidas como uma bartender ninja, eu tentei me lembrar se tinha depilado minhas pernas naquela manhã. Ou se eu tinha tido tempo de dar uma arrumada em outras áreas. Essas eram minhas maiores preocupações porque deveria
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ser por isso que ele estava indo para minha casa, certo? E não para tricotar um cobertor as três da manhã. Passando um cocktail para uma menina que já tinha visto no bar algumas vezes, eu dei uma espiada em Reece. Sua cabeça estava inclinada e suas mãos estavam em seu celular. Meu coração palpitava tanto que estava ficando difícil de engolir. Eu estava esperançosa para dormir com ele. Quero dizer, eu queria fazer isso antes e isso era o tipo de coisa que as pessoas da nossa idade faziam, e eu tinha seguido em frente da nossa última noite juntos. Só de pensar sobre estar com ele fazia partes do meu corpo se contraírem e minha respiração acelerar. Eu queria Reece desde a primeira vez que eu o vi, quando tinha quinze anos. Exceto que essa seria minha primeira vez com ele, e seria a segunda vez dele comigo, e havia algo muito errado nisso. Além do mais, eu iria me satisfazer de dormir com Reece e nada mais? Eu... eu não tinha certeza. E isso era assustador. Não porque ele poderia não querer algo mais, mas porque ele poderia e eu não sabia se conseguia lidar com isso. Eu me foquei em fazer as bebidas para combater a ansiedade que se formava em minha barriga. Haviam muitas coisas passando na minha cabeça e se eu não esclarecesse isso, seria uma bagunça para arrumar depois. Quando me aproximei de Reece e Jax novamente, o bendito me parou. “Eu quero que você ouça isso também.” Confusa, eu apoiei meus cotovelos no balcão enquanto eu parava ao lado de Jax. “Okay?” Seus brilhantes olhos azuis focaram em mim. Quando Reece falou, sua voz estava baixa apenas para nós conseguirmos ouvir. “Eu estava contando a Jax sobre a chamada que veio de Huntington Valley. Eu sei que você não assiste aos noticiários, então provavelmente não soube sobre isso.” “Hey, eu assisto aos noticiários,” eu me defendi, mas seu olhar ficou sem emoção, então suspirei. “Okay, eu posso não ouvi-los sempre.” Jax balançou sua cabeça. “Eu não sabia também. Estive ocupado e não prestei atenção as noticias, mas Reece me disse que outra menina foi atacada.”
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Eu pressionei minha mão contra meu peito. “Oh, Deus. Ela... ela está bem?” Reece exalou. “Tão bem quanto poderia estar. Ela foi atacada e amarrada. Pelo que ouvi, o mandante ficou por horas antes de simplesmente deixar a vitima. Seu namorado a encontrou e ligou. Ela não conseguiu ver direito o cara, mas eles acham que está conectado com o caso em Prússia.” “Então você não vai pisar fora desse bar sozinha,” Jax começou. “Nem Calla quando ela estiver aqui.” Eu tremi enquanto concordava, Deus, a ideia de ter alguém que pudesse estar ai fora perseguindo meninas era mais que estranha. Era aterrorizante. “Inferno, eu acho que vou levar Calla para o treinamento de tiro. Conseguir uma licença para ela.” Reece tomou um gole. “Não é uma má ideia.” Seu olhar voltou para mim. “Eu acho que você deveria considerar isso.” “Eu? Com uma arma?” Eu ri do absurdo que isso soava. “Eu terminaria atirando em mim mesma por acidente, ou em algum pobre coitado. Armas e eu não se misturam.” Ele se aproximou, pegando minha mão. Me puxou para frente, para que meu quadril estivesse pressionado contra o balcão. Seus olhos encontraram os meus novamente e eu simplesmente esqueci que Jax estava logo ao meu lado. “Eu quero que você fique segura,” ele disse e seu dedão passou pela parte de dentro da minha mão mandando arrepios para minha barriga. "E eu quero que você, pelo menos, pense na ideia de se proteger. Okay?” Reece me segurou até que eu concordei e fui correndo para o outro lado do bar em um estupor. Um pouco depois da meia note, um cara em seus vinte e poucos se aproximou do bar. Seu sorriso era um pouco grande mais, seu passo um pouco cambaleante, e ele se sentou ao lado de Reece. Imediatamente, eu sabia que esse cara não iria receber outra bebida. Eu não tinha problema em negar isso as pessoas quando precisasse. “Hey, baby, você é tão... fofa,” o cara disse, piscando vagarosamente enquanto acenava. “Yeah, seus óculos. Quente. Como uma safada...”
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Eu levantei uma sobrancelha e esperei. “Yeah, uma menina safada,” ele terminou com uma risada. “Eu aposto que é, também.” Trabalhando em um bar me fez ouvir várias cantadas ruins, que eu respondia com um educado desinteresse, mas era nojento. Minha boca abriu para entregar um bom discurso quando Reece se virou em sua cadeira e encarou o cara. Sua expressão de policial estava de volta. Apesar disso, o maxilar rígido e seus olhos azuis brilhantes não estavam dirigidos a mim. “Peça desculpas,” ele demandou. O cara bêbado cambaleou para esquerda, depois para direita antes de se endireitar. “O que?” “Peça desculpas para ela,” Reece ordenou novamente. “Você está falando sério?” o cara respondeu, seu rosto confuso. Reece se afastou um pouco, erguendo suas sobrancelhas. “Eu pareço estar brincando? Você não conhece ela e disse algo assim, seu idiota. Peça desculpa.” Absolutamente chocada, eu observei o cara virar para mim e dizer um “Me desculpe.” “Agora saia daqui,” Reece incluiu. O cara saiu logo. Eu me virei para Reece, com os olhos arregalados. “Eu podia lidar com isso.” “Eu sei.” Ele pegou seu copo de água de novo e sorriu para mim, uma expressão de pura inocência. “Mas eu não sou o tipo de cara que fica sentado aqui quando um imbecil está sendo mal educado. E isso foi.” “Totalmente mal educado,” Nick comentou enquanto passava por mim. “Foi,” eu disse sobre a música alta. Meus olhos encontraram os de Reece. Parte de mim queria dizer a ele que eu não precisava de ajuda, porque eu era uma
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mulher, ‘hear me roar33’ e ‘girl power34’, mas ele me defendeu... e isso era importante. Era muito importante quando caras faziam isso com outros que estavam saindo da linha. “Obrigada” eu disse, sorrindo um pouco. Ele colocou o copo no balcão e, antes que eu soubesse o que estava fazendo, ele colocou ambas as mãos no balcão e se levantou. Se esticando, bem na frente de todos no bar e na frente de Deus, ele se inclinou e por um segundo eu pensei que ele iria me beijar, me fazendo derreter em uma poça de geleca. Ele estava indo fazer isso. Ansiedade cresceu em mim. Eu estava a segundos de colocar minhas mãos em suas bochechas enquanto seu olhar estava focado em minha boca. Eu estava realmente derretida nessa poça. Reece não me beijou. Ele inclinou sua cabeça para o lado, no último momento, colocando seus lábios perto da minha orelha. Quando ele falou, ele me mandou um calafrio por toda a minha coluna. “Mais duas horas, babe, e você vai ser minha.”
No caminho para minha casa, Reece tinha mantido a conversa leve e fluindo. Se mantendo no assunto sobre a previsão do tempo para o final de semana funcionou para me acalmar o suficiente para não sair da rua e bater em uma caixa de correio. Reece, ao contrário, estava cem por cento relaxado. Cada vez que eu espiava ele, ele era a imagem de uma arrogância preguiçosa. Joelhos dobrados e bem afastados, um braço apoiado em sua perna e o outro contra a janela. Seu perfil era aberto, maxilar relaxado e sua cabeça apoiada no banco. Havia um sorriso pequeno, praticamente presunçoso, fixado em seus lábios. Meu coração estava correndo quando eu estacionei na frente do meu prédio. Enquanto virava a chave, desligando o motor, ele se inclinou, colocando seus dedos
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Expressão usada para quando alguém se impõe. Pode ser uma referência ao lema dos Lannisters de Game of Thrones. 34 Expressão que simboliza o poder feminino.
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sobre os meus. Surpresa, eu olhei para ele, minha respiração presa na minha garganta. Seus olhos estavam da mesma cor do céu a meia noite, visto do interior escuro do meu carro. “Eu vou te fazer uma pergunta e você vai ser honesta comigo, okay?” “Okay,” eu sussurrei. Ele se inclinou, mantendo sua mão na minha. “Se você não está confortável comigo entrando ou ficando, eu posso chamar um táxi. Só me diga quando você quiser que eu vá embora e eu vou.” Sem estar surpresa que ele estava me dando uma rota de fuga no caso que eu amarelasse com isso tudo, eu concordei. “Okay.” O canto de seus lábios levantou ainda mais. “Mas eu tenho a impressão que você vai me pedir para ficar.” Eu me afastei, estreitando meus olhos. “Bastardo arrogante.” “Bastardo confiante, na verdade.” Rindo da minha expressão, ele deslizou sua mão da minha e saiu. Balançando minha cabeça, eu o segui. Seus longos passos fizeram ele chegar na porta antes de mim, e ele abriu a porta de tela. Sorrindo para ele, eu destranquei a outra. “Tão cavalheiro,” eu disse. “Depois de você,” ele respondeu. Eu entrei na casa silenciosa, soltando um pequeno grito quando ele deu um tapinha na minha bunda enquanto passava por mim. Sua risada em resposta mandou uma onda de calafrios pela minha pele. “Não consegui me segurar,” ele disse enquanto ligava a luz da sala. “Tive que balancear meu lado bom com meu lado ruim.” “Wow.” Eu coloquei minha bolsa na poltrona. “Você mantém uma tabela ou coisa do tipo?” Seu olhar encontrou o meu. “Apenas com você.”
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Essas três palavras foram como uma dose de tequila. Elas correram por mim fazendo minha cabeça flutuar até o gesso decorativo perto do teto. Eu umedeci meus lábios, totalmente deliciada quando seu olhar foi para minha boca. “Você está flertando comigo, Policial Anders?” O sorriso de Reece aumento enquanto inclinava sua cabeça para o lado. “O que você acha?” “Eu acho que você está.” Eu me movi para longe do abajur, indo em direção a cozinha. Graças, a lava louça não estava possuída ou coisa do tipo. “Você quer beber algo?” “Tem chá?” Eu sorri. “Tenho.” Ele me seguiu para a cozinha, se apoiando contra o balcão enquanto eu pegava um copo. Enquanto espiava pela janela da cozinha, eu tive um momento de pânico. Será que a cozinha estava bagunçada e suja? Depois de uma pequena olhada para os balcões, eu só vi um pouco de migalha de torrada e meus pinceis que estavam secando em uma folha de papel toalha – graças a Deus. Normalmente teriam alguns pratos e copos e, talvez, uma tigela com sobra de cereal. “Aqui está.” Eu ofereci a ele um copo de chá. “Obrigado.” Seus dedos passaram sobre os meus enquanto ele pegava o copo e fiquei surpresa por ter ficado com pouco envergonhada com isso. “Se importa se eu usar o banheiro?” Eu estava encarando a grossa tira dos seus chinelos. “Fique a vontade.” Eu dei um passo para trás, olhando para cima enquanto pegava o copo de chá e pressionava contra meu peito. Eu inalei profundamente quando meus olhos encontraram os seus. Ele tinha um olhar – quente e faminto – que dizia que ele queria pegar essas três palavras que eu disse e usá-las de um jeito bem diferente. Naquele momento, eu meio que queria bater em mim mesma. Eu já tinha visto aquele olhar antes, muitas vezes nos últimos onze meses, sempre que ele estava no bar. Nós tínhamos presumido muita coisa sobre a noite que compartilhamos, mas
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eu me senti uma idiota muito maior enquanto estava na sua frente. Não tinha como se enganar pelo jeito que ele olhava para mim. “Eu vou... eu vou me trocar rapidinho.” Eu disse, passando por ele. “Você sabe onde o banheiro é.” Ele disse algo mas haviam coisas demais passando na minha cabeça que eu não prestei atenção. Eu deixei meu chá no fim da mesa que tinha pintado de azul marinho no último outono e corri para meu quarto, parando apenas para ter certeza que a porta do estúdio estava trancada. Mesmo que os retratos que eu tinha feito de Reece não estivessem pendurados ali, eu não queria ele espiando pelo quarto porque eles não seriam difíceis de encontrar. Fechando a porta silenciosamente atrás de mim, eu me virei e encarei a cama queen size que eu tinha economizado e finalmente comprado a uns dois anos atrás. Agora, eu precisaria economizar para pagar pelo para brisas de Henry. Ugh. Eu não queria pensar em quão cansada e... e de saco cheio Charlie parecia hoje. Eu não queria pensar sobre Henry e como eu tinha perdido o controle. Eu não queria pensar nas coisas duras, a menos que essas coisas duras fossem parte da anatomia de Reece. Eu bati minha mão sobre minha boca, mas uma risada escapou mesmo assim. Reece estava mesmo ali fora, esperando por mim. Ele estava aqui. Fechando meus olhos, eu fiz uma pequena dancinha enquanto fechava minhas mãos em punhos, apertando meus dentes juntos para prevenir um gritinho de escapar. Isso durou uns bons vinte segundos, então eu voltei a mim e andei para frente. O que eu queria fazer era tomar banho, mas isso pareceria excessivo e levaria muito mais tempo. Me despindo, eu passei hidratante até que ficasse hidratada e brilhante como um bebê foca e vesti uma calça limpa de yoga e uma daquelas camisetas com bojo embutido. Eu passei uma escova pelo meu cabelo, deixando ele solto, e abri a porta do armário para me ver no espelho que havia do lado de dentro. Me estudando um pouco, eu achei que eu parecia confortável. Okay. Meu cabelo estava na altura dos
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meus seios e por ter deixado ele torcido quando estava molhado, ele tinha ficado ondulado. A roupa era simples, mas caia bem. Não como se eu estivesse tentando demais ou esperasse mais. Isso era bom, eu acho. O que estava prestes a acontecer poderia terminar de vários jeitos diferentes e me fez imaginar se meus pais tiveram que se preocupar com esses vários estágios quando se conheceram. Hoje a noite, Reece e eu poderíamos dormir juntos e isso poderia ser apenas por uma noite. Ou isso poderia virara algo casual – algo que só acontecia às três ou as quatro da manhã. Mas isso também poderia progredir ao estágio de amigos-com-benefícios ou o ‘eu acho que estamos namorando, porque nós estamos saindo e fazendo coisas juntos que nem sempre envolvem sexo, mas nada foi decidido’. Daqui, nós poderíamos terminar namorando ou seguindo caminhos separados. Nós poderíamos terminar nos casando e tendo bebês ou poderíamos nos afastar. Eu duvidava que seria o amigos-com-benefícios, porque Reece conhecia minha família e eu a sua, então isso poderia ficar estranho. Haviam tantos jeitos diferentes para isso terminar e eu estava começando a ficar estressada. Eu não iria pensar muito mais sobre isso. Mostrando a língua para meu reflexo, eu dei um passo para trás e fechei a porta do armário. Tirando meus óculos, eu coloquei no criado mudo e sai do quarto, deixando a porta encostada apenas no caso de termos de voltar correndo para lá. Eu corei, porque eu dormiria com ele no sofá, chão, cozinha, balcão – onde fosse. Uma cama não era necessária. Eu estaria disposta a qualquer coisa que acontecesse essa noite.
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Capítulo Dez Reece estava sentado no sofá, suas longas pernas esticadas na sua frente, com os pés em cima da mesa de centro. A TV estava ligada, com o volume baixo. Por um momento tudo que pude fazer foi encará-lo enquanto meu estômago caia louco e perigosamente, porque eu poderia... eu poderia me acostumar a ver ele assim sentado no meu sofá, esperando por mim depois do trabalho. Eu esperando por ele. Preferivelmente nu. “Um.” Ele olhou para cima, suas sobrancelhas levantadas. “Tem alguma coisa que você quer me dizer?” Eu enrijeci. “O que?” Um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. “O assento do banheiro estava levantado.” “O que?” Eu repeti. “Quando eu fui no seu banheiro, o assento estava levantado. Eu estava me perguntando se havia alguma coisa que você não estava me contando. Como se você estivesse tentando um método novo ou coisa do tipo,” ele provocou. Mas que porra? A única vez que eu acidentalmente deixava o assento do banheiro levantado era quando eu limpava. Minha mente correu para uma explicação plausível em como o assento poderia ter se levantado sozinho. Poltergeist. Era oficial. O apartamento vitoriano foi construído em cima de um cemitério indígena. Nós estávamos ferrados. Será que eu poderia chamar os Ghost Hunters35? Ou as pessoas do The Dead Files36? “Senta comigo?” ele perguntou, esticando seu braço nas costas do sofá. Reece tinha deixado para lá a coisa do assento do banheiro facilmente, e eu quase soltei minha teoria sobre o Mistério de Plymouth Meeting, mas decidi não 35 36
Programa de TV sobre pessoas que procuram fantasmas em locais possivelmente assombrados Série de TV sobre uma médium que ajuda a polícia a resolver crimes
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parecer uma lunática por agora. Eu preferia falar sobre isso com minha mãe ou Katie. Ele provavelmente não acreditaria em mim e acharia que eu estaria sendo a Estranha Roxy. Indo até ele, eu me sentei com o que poderia ser considerada uma distância apropriada. Quando eu puxei minhas pernas para cima e as cruzei, havia pelo menos uns 10 centímetros. Além do mais, se eu me inclinasse para trás, estaria em seu braço. Por que eu estava pensando sobre isso? “O que você está assistindo?” eu perguntei, brincando com a barra da minha calça. Ele deu de ombros. “Parece um comercial sobre música dos anos 80. Acho que vou comprar.” Eu bufei. “Eu nem tenho um CD player.” Ele me olhou pelo canto. “Você não tem um DVD player também.” Quando eu estive em seu apartamento, vi que ele tinha uma coleção impressionante de DVDs. Não que eu pude olhar eles, mas ele deveria ter todos os filmes que saíram nos últimos vinte anos. “Por que eu teria um quando tenho On Demand?” Balançando a cabeça, ele pegou seu copo. “Você não tem uma coleção de DVD e sua mãe ainda faz chá para você. O que estou fazendo aqui?” “Que seja!” Eu dei um tapa em sua coxa – sua extremamente dura coxa. Wow. Meus dedos formigavam quando puxei minha mão de volta. “Como você sabe que não fui eu que fiz o chá?” “Tem gosto do chá da sua mãe,” ele respondeu, seus olhos azuis brilhando. “Além do mais, pelo que me lembro, seu chá tem gosto de lubrificante de motor.” Uma risada escapou de mim. “Não tem não.” Ele levantou uma sobrancelha. “Okay. Certo. A proporção de açúcar para o chá sempre me confunde.”
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Reece riu. “Você sabe, eu estava falando sério sobre aprender a atirar mais cedo. É a coisa inteligente a se fazer.” “Eu não sei. Armas... eu não tenho problema com elas, mas elas me assustam.” Eu admiti. “Ter o poder de terminar com uma vida em suas mãos. Tudo que você precisa fazer é puxar o gatilho.” Eu balancei minha cabeça. “Isso é... isso é só poder demais.” “Babe, você sabe muito bem que uma pedra nas mãos erradas pode mudar uma vida, até mesmo acabar com ela. Uma arma não é diferente.” Inquieta, eu tinha de admitir que ele estava certo. Armas também eram parte da sua vida mas não eram parte da minha. Durante minha infância, meu pai teve rifles de caça, mas eu raramente os via. Ele os mantinha trancados e nunca me passou pela cabeça pegar em um. “Você só precisa ser responsável,” ele continuou. “Apenas pense nisso. Por mim?” “Eu vou pensar nisso.” Sorrindo, eu olhei para a TV. Algum cara de moicano estava balançando um CD. “Então, o que você estava fazendo na casa do seu pai?” Reece tomou um longo gole e, enquanto abaixava o copo, o gelo tremeu. Um momento se passou e eu queria bater em mim mesma. Reece... yeah, ele nunca foi fã de falar sobre seu pai. Eu fiquei assustada quando ele olhou para mim e respondeu a pergunta antes que eu conseguisse mudar de assunto. “Divórcio número três.” Eu o encarei. “O quê? Quando isso aconteceu?” Era o tipo de pergunta estúpida, porque eu não fui uma boa amiga para ele nos últimos onze meses. “Então, eu não sei. Tudo estava bem no começo do verão. Ele e Elaine estavam indo passar as férias na Flórida.” Ele encostou sua cabeça contra a almofada, olhando para o teto. Ele soltou um risinho. “Então, meu pai não sabe ser claro com nada. Então ele dizer para mim ou para Colton que as coisas estão ruins quer dizer que são péssimas. O cara nada mais é do que um mentiroso.” Eu suspirei. “Ele traiu ela?”
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“Yep.” Um segundo se passou e senti sua mão em meu cabelo, fazendo minha respiração acelerar. Seu toque era leve, como se ele estivesse apenas percorrendo seus dedos por ele, mas meu corpo ficou hipersensível. “Com uma mulher mais nova que ele conheceu em uma viagem de negócio. Disse que foi coisa de uma noite e que Elaine estava exagerando.” “Exagerar uma traição? Como alguém consegue exagerar isso?” “Você conhece meu pai. O cara não sabe o que é errado,” ele disse, balançando sua cabeça. “Enquanto eu estava lá, ele deixou seu celular no capô do carro. E ele tocou. O nome de uma mulher apareceu na tela. Nunca ouvi sobre ela antes. Eu aposto minhas economias que era a ‘mulher de uma noite’. Eu não estou surpreso que seu casamento terminou assim. Quando minha mãe entendeu e largou a bunda dele, ele já tinha estado com cinco mulheres. E não do tipo ‘wham, bam, thank ya ma’am’ 37também. Cinco relacionamentos.” “Isso é triste,” eu murmurei, abaixando meu queixo. Franklin – seu pai – era um traidor compulsivo. Pelo menos, foi isso que ouvi minha mãe dizer uma vez. “Me desculpe. Eu sei que você é mais velho agora, assim como Colton, e talvez isso não machuque tanto quanto antes, quando você era mais novo, mas ainda é uma merda.” Em vez de negar, ele sorriu gentilmente. “Yeah, é uma merda.” Seus dedos tinham deixado meu cabelo mas seu braço ainda estava ali, quente e me provocando para me reclinar. “Eu não fiquei próximo de Elaine, mas ela parecia uma ótima mulher. Ela não merecia nisso. Ninguém merece.” Inalando profundamente, eu me encostei. Seu braço estava logo atrás do meu pescoço. Nem um segundo se passou antes que sua mão encontrasse o caminho do meu pescoço. “Você... você acha que ele vai se casar novamente?” “Provavelmente.” Ele pegou seu copo e tomou outro gole. Eu tinha esquecido completamente sobre o meu. “Eu acho que a pior coisa não está no fato que ele enfia seu pau em qualquer coisa que ande, mas ele sempre mente sobre isso, mesmo quando é pego. Eu não entendo isso. Nunca vou entender. De jeito nenhum” Ele disse, falando enquanto sorria, mesmo que o sorriso não chegasse ao canto de seus
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Algo como oi – sexo – tchau, uma brincadeira com encontros casuais
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lindos olhos que eu tinha tanta dificuldade em reproduzir. “Então, o que você esteve pintando ultimamente?” Puta merda, ele era telepático? Sangue correu para minhas bochechas enquanto eu procurava em minha cabeça algo para falar que não incluísse seu rosto. “Um, bem, eu tenho feito várias paisagens. Praias. Montanhas. Esse tipo de coisa.” Boa resposta Roxy! Seu olhar percorreu meu rosto, como um carinho físico. “Você ainda está pintando para Charlie?” Claro que ele se lembrava disso. Concordando, eu não estava surpresa quando uma tristeza familiar me invadiu enquanto eu pensava em todas aquelas pinturas em sua parede. A mão em meu ombro apertou. “Então quando você vai pintar algo para mim?” “Quando você virar o meu garoto da piscina,” eu retruquei. Ele me encarou. “Você não tem uma piscina.” “Eu sei. Então vai ser quando eu tiver uma piscina e você virar meu garoto oficial.” Eu sorri. “Você acha que estou brincando.” Jogando sua cabeça para trás, ele riu profundamente enquanto usava sua mão que estava em meu ombro para me puxar mais para perto. Um segundo depois eu estava apoiada nele, e no outro eu estava de costas, minha cabeça descansando em seu colo e tudo que eu conseguia fazer era encarar ele, porque essa foi uma jogada suave. “Você aprendeu isso enquanto treinava para ser policial?” eu perguntei, sem fôlego. “Yeah, eles ensinam esse tipo de coisas na academia.” Seus longos e grossos cílios abaixaram enquanto ele colocava uma mão na curva do meu quadril, do lado mais longe dele. “Mal pude esperar para usar em você.”
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Eu sorri para ele enquanto meu coração começava a pular em meu peito. A mão que estava no meu quadril parecia ser algo feito inconscientemente por ele. “Eu me sinto honrada.” “Você deveria mesmo.” Usando sua outra mão, ele cuidadosamente tirou uma mecha do cabelo do meu rosto. Algo que parecia fazer sempre meu coração disparar. Eu sabia naquele momento que me satisfazer com apenas uma transa seria difícil. Antes que eu pudesse absorver isso, ele falou. “Posso fazer uma pergunta?” “Claro.” Eu desejava que ele perguntasse se poderia me deixar. Isso teria um ressoante sim em resposta. A mão em meu quadril se moveu e seu dedão passou pela barra da minha blusa, me fazendo tremer. “No que você estava pensando quando jogou aquele livro Roxy?” Whoa. Mudança total de assunto que eu não estava preparada. Aqui estava eu pensando nele me beijando. Eu abri minha boca, mas me levou alguns segundos para responder. “Eu realmente... realmente não estava pensando.” Ele pegou uma mecha do meu cabelo e enrolou em seu dedo. “Babe, eu não acho que exista um momento onde você não está pensando.” Eu desviei meu olhar enquanto mordia meu lábio. Pensando bem no momento em que Henry pegou meu braço, havia muito na minha cabeça. Tanto que parecia que não tinha nada. Meu peito apertou. Reece soltou meu cabelo e passou seu dedo pelo meu lábio inferior, extraindo um suspiro de mim... e uma resposta. “Eu o odeio,” eu disse, sentindo as palavras vazarem de mim como sangue. “Eu realmente o odeio, Reece. Nunca odiei ninguém antes, mas quando eu o vi, eu queria... eu queria machucar ele assim como ele fez com Charlie. Foi nisso que estava pensando quando joguei aquele livro.” As linhas em seu rosto suavizaram. “Roxy...” “Eu sei que é errado.” Eu fechei meus olhos, exalando suavemente. “Eu sei que o que fiz não foi muito diferente do que Henry.”
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“Não,” ele argumentou e quando eu abri meus olhos, ele estava me encarando diretamente. “O que você fez foi jogar um livro em um para brisas, não nele. Henry pegou uma pedra e jogou na parte de trás da cabeça de Charlie quando vocês estavam indo embora.” Eu tremi. “Você nunca teve intenção de machucar Henry.” Ele continuou enquanto passava seu dedão pela barra da minha blusa. “E se Henry realmente não quisesse causar o dano que fez em Charlie, ele ainda fez a decisão consciente de jogar a pedra nele. Não no chão ou no carro próximo. Ele jogou em outro ser humano. Você nunca faria isso.” Um ar gelado fez seu caminho do meu peito para meu estômago. A coisa era, eu não tinha certeza disso. Quando eu tinha provado a raiva, a vermelha e amarga raiva, eu sabia que era capaz de fazer algo hediondo. Todos eram capaz disso, o pouco de moral em mim tinha impedido isso, mas será que iria me impedir sempre? Se eu visse Henry novamente, havia uma boa chance que eu perderia a calma novamente e, de verdade, como isso me fazia melhor que ele? “Pensamento
profundo,”
eu
murmurei,
desviando
de
onde
meus
pensamentos estavam indo. Seus lábios se curvaram no canto enquanto seu dedão acariciava a pele que agora estava exposta. Seu toque era como um choque. “Yeah, profundo demais para às quatro da manhã.” O tom de Reece era leve mas tudo em mim estava pesado. Era como se uma porta tivesse sido aberta na minha cabeça. Memorias dolorosas sobre aquela noite com Charlie e Henry foram soltas. Elas se acumularam dentro de mim como uma torre prestes a cair. Elas começavam com o que eu tinha feito, a pedra verbal que eu tinha jogado e que tinha começado tudo. E aqui estava eu, deitada no colo do homem que... bem, que eu vinha mentindo por onze meses. O homem que odiava mentiras acima de tudo. Isso não estava certo. Me levantando, eu comecei a me virar de lado para que pudesse fingir ir ao banheiro, me dar tempo para limpar minha cabeça, mas não consegui. 106
Reece curvou sua mão atrás do meu pescoço e a mão no meu quadril subiu para minha barriga, parando logo abaixo dos meus seios. Meus olhos se arregalaram enquanto ele me segurava ali, meu ombro pressionado contra seu peito. “Não,” ele disse, sua voz rouca. Aquela única palavra foi como um raio. Algumas vezes eu me esquecia o quão bem ele me conhecia. Mesmo que não tivéssemos nos falado por quase um ano, ele ainda sabia quando eu estava sobrecarregada, reconhecia que meu humor podia mudar assim como uma moeda girando pelo ar. Nossos olhares se encontraram enquanto eu colocava minha mão em seu ombro. Eu comecei a me afastar, mas ele abaixou sua cabeça. Eu estava olhando para cima enquanto seus lábios passavam pelo meu. Foi um carinho leve. Ele fez esse caminho uma e outra vez. Eu não conseguia respirar enquanto sentia o calor de sua boca aumentando a pressão mais gentil enquanto ele me segurava no lugar. Havia quase um jeito duvidoso sobre como seus lábios passavam sobre os meus, como se fosse pela primeira vez. E não era, mas aquela noite no seu apartamento, ele não tinha me beijado assim – não desse jeito carinhoso que fazia uma bola de emoção se formar na minha garganta. Esse beijo... era como se eu fosse querida. Meus dedos seguraram seu ombro, apertando o fino tecido de algodão de sua camiseta enquanto meu coração acelerava. Quando eu pensei sobre ele me beijando, eu não achei que seria assim. Nenhum cara tinha me beijado assim como se eu fosse preciosa. “Reece,” eu sussurrei contra sua boca. Algo em ter ouvido seu nome despertou algo nele. A mão que estava na parte de trás do meu pescoço apertou, assim como aquela na minha cintura e o beijo... oh wow, o beijo ficou mais profundo. Não havia traços de bebida em sua língua, apenas açúcar, chá e cem por cento masculinidade. Ele mordeu meu lábio inferior, tirando um leve gemido que ecoou direto de dentro de mim, então ele afastou meus lábios, me provando. O beijo foi como um incêndio, acendendo um desejo profundo. Eu não precisava mais limpar meus pensamentos. Minha cabeça estava cheia com apenas um destino. Reece.
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Me sentando, eu me movi até que consegui colocar um joelho de cada lado das suas pernas. Ele me observou com os olhos sombrios. “Eu gosto da onde isso está indo,” ele disse, segurando meu quadril. “Eu realmente gosto, mas eu quero...” Tendo terminado com os pensamentos profundos e as boas intenções, eu segurei suas bochechas e fui direto ao ponto. Eu o beijei – tão profundamente e tão quente quanto ele tinha me beijado. Um gemido profundo ecoou do seu peito e eu senti isso quando ele apertou meu quadril ainda mais, mandando uma onda de arrepios por mim. Sua boca se abriu imediatamente, e eu inclinei minha cabeça, provando ele. Meus dedos fizeram seu caminho para a lateral do seu cabelo até chegar na parte mais comprida. Ele fez outro som que disparou uma onda de desejo por mim. Sua mão deslizou nas minhas costas, seguindo a linha da minha coluna antes de se entrelaçar com meu cabelo por um momento. Não houve um minuto que paramos de nos devorar com longos e molhados beijos, nem com os pequenos que faziam meu coração flutuar. Reece deslizava suas mãos para cima e para baixo, sobre minhas costas, até apalpar minha bunda, a apartando enquanto eu buscava por ar. O beijo ficou mais faminto enquanto ele me guiava para baixo em seu colo. Outra onda de luxuria passou por mim ao sentir ele, esticando em baixo de seu jeans. Dos poucos momentos que passamos juntos antes, eu sabia que ele era longo e grosso, mas eu tinha esquecido o quão bom era sentir ele. Eu mexi meu quadril, me pressionando contra ele e fui imediatamente recompensada com uma onda de prazer. Descansando minha testa contra a dele, eu gemi enquanto me segurava em seu cabelo. “Deus, você vai me deixar louco.” Sua voz era grossa, crua. Ele puxou meu quadril mais ainda, atingindo meu ponto pelas minhas calças de yoga. “Eu não acho que você vai ficar feliz enquanto não deixar.” Ofegante, eu deixei minhas mãos deslizarem pela lateral do seu pescoço, pelo seu ombro. “Eu quero você louco por mim,” eu admiti, mordendo meu lábio enquanto ele trazia nossos quadris juntos novamente.
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“Baby, eu já sou louco por você.” Ele pegou meus lábios em outro beijo fumegante antes de se afastar e trilhar beijos pelo meu maxilar. “Eu acho que você sabe disso.” Jogando minha cabeça para trás, eu me segurei firme. “Nuh-uh.” Ele moveu aqueles beijos para baixo da minha garganta, parando logo onde era possível sentir minha pulsação. Ele atiçou o ponto com um beijo suave. “Cada vez que eu te vi durante esse último ano, eu queria você aqui. Logo aqui.” Para demostrar o que ele disse, ele moveu seu quadril, pressionando o volume em seu jeans contra meu centro. “E cada vez que você se afastava de mim, eu queria te perseguir.” Eu tremi enquanto ele trazia sua boca para minha clavícula. Ele levou suas mãos mais para cima, passando elas pela minha barriga, indo ainda mais para cima, sobre meus seios. Minhas costas arquearam quando uma sensação deliciosa passou por mim. “Você não tem ideia de quantas vezes eu pensei em jogar você sobre meu ombro e te levar de volta para a sala do estoque.” Seu dedão passou sobre a ponta dos meus seios, e eles já estavam duros e doloridos. “Eu acho que eu deveria ter feito apenas isso. Então poderíamos ter evitado toda essa merda entre nós.” Minha cabeça estava nas nuvens, perdida no prazer que ele estava extraindo de mim. “Parece como...” eu suspirei quando sua língua tocou minha pele. “Parece que teria... sido um bom plano.” Ele levantou sua cabeça enquanto trazia suas mãos para meus ombros, deslizando seus dedos em baixo das finas alças. Seus olhos encontraram os meus. “Posso?” Deus, ele poderia estar pedindo qualquer coisa nesse momento e eu daria a ele. Eu concordei, sem conseguir falar. Um lado da sua boca se curvou e, novamente, havia aquela explosão de emoções enquanto ele sorria para mim, todo inocente e sensual, e eu sabia que tinha me apaixonado por ele há muitos anos. Não tinha como mudar isso, mesmo que ele não estivesse apaixonado por mim, e nunca ficasse, não mudava o fato que ele já estava sobre minha pele. 109
Com seu olhar caloroso no meu, ele deslizou as alças da minha blusa até meu cotovelo. Eu não hesitei. Abaixando meus braços, eu as puxei mais para baixo para que o tecido estivesse descansando em minha cintura. Reece me beijou docemente e se afastou. Seus cílios abaixaram e eu sabia que ele estava me olhando, fazendo um pouco da névoa sair dos meus pensamentos. Será que ele se lembrada de como eu era, no meio de todo álcool que ele tinha consumido aquela noite? Eu estava me sentindo vulnerável naquele momento. Eu mal enchia uma taça tamanho B e isso sendo otimista. Mas ele tremeu enquanto colocava suas mãos em meus seios nus, quase me reverenciando. Eu olhei para baixo, sem conseguir respirar, enquanto ele me segurava, sua pele um tom mais escuro contra a minha pálida e rosada. “Você é linda,” ele disse com a voz rouca, seu olhar focado no seu dedão sobre meu pico rígido. Eu tremi quando seus lábios voltaram a ter aquele seu sorriso. “Você gostou disso?” “Yeah,” eu sussurrei e concordei, apenas no caso dele não ter recebido a mensagem. “Eu não me lembro do que você gosta,” ele disse, pegando minha ponta entre seus dedos ágeis. “Eu não lembro o que te deixa louca.” Ele apertou gentilmente e eu gemi. Seus cílios levantaram, cheios de fome. “Você é sensível.” Eu era. Sempre fui sensível ali, Katie, a stripper extraordinária, uma vez me disse que eu tinha sorte porque a maioria das mulheres que ela conhecia não eram muito a favor de preliminares com seus seios. Sem conseguir desviar meu olhar, eu o observei me tocar. Havia algo extremamente erótico nisso. Eu nunca tinha feito isso. Novamente, a maioria dos caras não tinham demorado muito e, quando ele deslizou suas mãos para meu quadril, eu pensei que ele fosse seguir em frente. Eu estava errada. Ele me levantou para que eu estivesse sobre ele, me apoiando com minhas mãos no encosto do sofá, ele colocou sua boca sobre a ponta dos meus seios.
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“Oh meu Deus,” eu gemi enquanto ele sugava meu mamilo com sua boca. “Reece, oh Deus...” Uma mão estava contra meu ombro, puxando meu cabelo. Uma série de arrepios fortes e sensuais irradiaram pela minha cabeça enquanto ele me saboreava. Eu estava presa, mas não havia outro lugar que eu quisesse estar enquanto ele se movia de um seio para o outro. Meus dedos cravaram na almofada enquanto ele sugava profundamente, fazendo meus músculos se contrariarem, até que eu não conseguisse aguentar mais. Eu tentei me afastar. “Não,” ele rugiu. “Eu ainda não terminei com você.” Eu estava ofegante enquanto ele pegava minha ponta entre seus dentes. A pequena mordida mandou lava pelo meu sangue. Eu tremi contra ele, meu corpo quente. “Eu não... eu preciso de você. Por favor.” Ele me soltou e eu fiquei louca. Segurando em seus ombros, eu me pressionei de volta contra ele, encontrando sua boca. Suas mãos estavam de volta no meu quadril enquanto eu me movia contra ele. O tecido fino de sua camiseta provocava meus seios e a fricção entre minhas pernas contra sua ereção foi demais. Eu não conseguia me lembrar a última vez que eu tive um orgasmo assim, ainda com a maioria das minhas roupas vestidas – sem um cara colocar a mão em mim, mas eu podia sentir isso crescendo dentro de mim enquanto eu o montava, ele investindo seu quadril contra mim, copiando o que estava fazendo com sua língua. A liberação me percorreu, explodindo no meu centro e passando por cada parte do meu corpo. Sua boca abafou meu gemido, mas ele sabia o que tinha acontecido, porque um som puramente masculino escapou dele. Quando a última onda de prazer passou por minhas veias, eu estava corada e tremendo. “Olhe para você,” ele disse perto da minha orelha, sua voz rouca. “Nada mais quente, Roxy. Você parece que está segurando um incêndio.” Me levou um tempo para voltar e entender que ele tinha realmente me feito gozar e, quando eu me afastei um pouco, eu dei um pequeno beijo no canto dos seus lábios. “O que você quer que eu faça?”
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Seus olhos eram como um fogo azul. “Baby, ver você gozar fez minha noite.” Eu tremi, pensando que ele estava sendo perfeito, mas eu olhei para baixo e não havia como esconder a elevação em sua calça. Com minhas mãos ainda trêmulas enquanto eu me afastava mais, eu alcancei entre nós, meio que esperando que ele me parasse. Ele não parou. Um sorriso presunçoso apareceu em meus lábios enquanto eu passava meus dedos sobre seu cumprimento, me fazendo contrair quando seu quadril se moveu em resposta. Eu olhei para ele, minha respiração profunda. “Você não gozou.” Ele balançou sua cabeça, seu maxilar tenso. Meu
coração
estava
acelerado
enquanto
eu
abria
seu
botão
e
cuidadosamente abaixava o zíper. O material se afastou relevando uma boxer preta. Sem dizer uma palavra, ele se levantou, comigo junto, do sofá, como um pedido silencioso. Eu não desperdicei tempo em abaixar seu jeans e sua boxer. Eu encarei enquanto ele saia, solto, grosso e pesado. Sendo honesta, essa parte do corpo de um homem não era a coisa mais atrativa do mundo, mas Reece... oh yeah, ele era tão delicioso quanto o resto dele. E falando sobre o resto dele. Enquanto ele se sentava, eu peguei a barra de sua camiseta e ele levantou seus braços, me deixando tira-la e joga-la em algum canto que eu esperava que ele nunca encontrasse, e eu pude olhar bem no que diferenciava um homem de um menino que trabalhava seu corpo para mantê-lo em forma. Sua pele dourada era lisa e dura sobre suas elevações e, um pouco mais para baixo, sobre um abdômen definido. Uma linha de pelos escuros corriam do seu umbigo até onde ele estava esperando. Eu levei meu olhar de volta para cima. Havia uma cicatriz do lado esquerdo do seu umbigo, a pele elevada e em um círculo irregular. Havia outra logo acima dessa. E, eu sabia que se tirasse sua calça, haveria uma terceira. Eu perdi a respiração quando eu pensei sobre o quão perto eu estive – quão perto nós estivemos – de perdê-lo. Me inclinando, eu o beijei, desejando que eu 112
pudesse sumir com os onze meses de idiotice, porque tempo... era curto e nunca certo. “O que você quer que eu faça?” eu perguntei novamente. Seus olhos procuraram os meus. “Tem muitas coisas que eu quero que você faça, Roxy.” “Escolha uma.” Ou duas, ou três. Eu faria todas. Reece colocou sua mão em volta do seu pênis. Puta merda, parecia que eu ia precisar de um ventilador enquanto ele apertava ainda mais. Meus lábios se afastaram enquanto ele levava sua mão da cabeça a base e, de volta para cima. “Isso é o que eu quero que você faça.” Meu sangue estava pulsando no meu ouvido e eu mal me ouvi dizer, “Você... é quente pra cacete, Reece.” Ele gemeu enquanto sua mão fazia o mesmo movimento novamente e suas costas arqueavam, e eu não consegui me segurar. Eu gemi. Seu olhar voltou diretamente para o meu, um fogo diferente queimando na profundidade. “Eu acho que sei o que você quer.” “O que?” Reece colocou sua outra mão na base do meu pescoço enquanto ele movimentava a primeira novamente. Um brilho apareceu em sua ponta. “Você quer me assistir.” Cada parte do meu corpo queimou. Não por vergonha, mas porque era verdade. “Eu nunca assisti um cara...” “Isso é tudo que eu preciso ouvir,” ele disse, movendo sua mão. Minha respiração ficou presa em meu peito enquanto eu o assistia, seu movimento ficando mais forte. Eu não podia acreditar que eu estava fazendo isso – não conseguia acreditar no quão excitante isso era – ou que eu ainda estava em seu colo, minha blusa esquecida em volta da minha cintura e minha pele corada. Eu comecei a olhar para cima. “Não. Me assista,” ele ordenou e eu tremi ao som da sua voz exigente. 113
E eu o assisti enquanto sua mão bombeava e seu quadril se movia ainda mais. Eu tive que colocar minhas mãos em seu ombro para me segurar, e eu não desviei o olhar, não até que sua mão em volta do meu pescoço me puxou para frente. Reece me beijou enquanto encontrava sua liberação. Não – ele não apenas me beijou, ele me devorou enquanto se bombeava com a outra mão. “Merda,” ele soltou a palavra enquanto seu outro braço me envolvia, me puxando ainda mais perto do seu peito nu, me segurando. Eu enterrei minha cabeça no espaço entre seu pescoço e ombro, respirando o cheiro de sua loção pós barba enquanto eu sentia seu coração desacelerar. Nenhum de nós falou por um longo momento e, então, ele riu, o som me fazendo sorrir. “Merda, Roxy.” Ele disse, limpando sua garganta. “Você vai me fazer querer manter você.” Meu coração estava correndo na direção oposta enquanto minha cabeça tentava trazer sentido ao que ele disse. Eu já estava começando a aplicar uma quantidade louca de significado no que ele tinha dito. Será que ele não estava planejando fazer isso? Era apenas por diversão? Mas ele disse que ele queria ser mais que amigos. Isso importava? Não, não importava, porque eu não iria mentir para mim mesma. Eu queria que ele me mantivesse.
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Capítulo Onze Eu não pretendia apagar, mas em algum lugar entre ver Hilary remodelar uma fazenda velha e David mostrando algumas escolhas de casa no HGTV, eu tinha caído no sono com minhas costas apoiadas na frente de Reece. Eu nunca tinha caído no sono com um cara no sofá antes. Parecia algo simples que eu imaginava que milhares de pessoas faziam, mas era algo totalmente novo para mim. No começo, eu não tinha certeza o que me fez acordar. Eu pisquei, abrindo meus olhos, confusa. Havia um comercial passando na TV, vendo a nova máquina de Bowflex38. Eu encarei isso por um momento, a segundos de voltar a dormir, quando eu senti Reece se mover atrás de mim. Meu coração pulou devido o movimento inesperado. Seu braço estava relaxado em baixo de mim, mas quando olhei sobre meu ombro, eu podia ver o resto do seu corpo tenso. Ele estava de lado mas seu rosto estava virado para o teto. Seu maxilar estava cerrado e suas sobrancelhas franzidas. A cada poucos segundos, aqueles cílios grossos se mexiam. Seus lábios se moveram, suas palavras silenciosas, mas seu peito se elevou, de repente, e sua respiração ficou falha. ”Reece?” eu sussurrei, mas ele não me ouviu. Seu peito levantou novamente, sua respiração mais rápida. Eu me virei para o outro lado, de frente para ele enquanto eu pressionava minha mão em seu peito. “Reece.” Ele se mexeu, seu olhar fixo no teto e, por um momento, ele parecia distante, como se ainda não soubesse onde estava. Segundos se passaram até que ele virasse sua cabeça na minha direção. Sua expressão relaxou. “Hey,” ele murmurou. “Está tudo bem?” eu perguntei. Ele engoliu. “Yeah.”
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Maquina para fazer vários exercícios em casa.
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Eu não acreditei nele. “Tem certeza?” Reece me abraçou enquanto me puxava contra ele. “Yeah, querida, está tudo bem.” Enquanto ele passava seus dedos em meu cabelo e subia até minha bochecha, ele suspirou profundamente. “Está tudo bem agora.”
“Você teve algo esse final de semana.” Eu quase engasguei com meu refrigerante enquanto olhava para cima. Katie se sentou no banco na minha frente, uma bandana xadrez rosa enrolada em volta da sua cabeça. Seu suéter azul deixava um ombro a mostra e parecia que tinha tido uma luta e perdido. E ela não estava sozinha. Calla se sentou ao lado de Katie. Ela tinha vindo para a cidade ontem de manhã e havia trabalhado no bar de noite. Sorrindo, ela amarrou seu cabelo loiro em um rabo de cavalo. Pelo que me lembrava, quando a conheci ela costumava usar seu cabelo sempre solto para esconder sua cicatriz. Agora ela não fazia mais isso. Ignorando o comentário astuto de Katie, eu falei para Calla. “Estou surpresa que Jax deixou você sair da casa dele para tomar café da manhã.” “Ele sabe muito bem que não pode ficar entre mim, comida e meus amigos.” Abrindo o cardápio, ela levantou uma sobrancelha para mim. “Então, Katie está certa? Você fez?” Katie sorriu. “Eu sempre estou certa.” Eu revirei meus olhos enquanto me encostava. Reece tinha voltado a dormir depois do que eu imaginei ser um pesadelo e eu o tinha levado para casa ontem de manhã. Antes de ele sair do meu carro, ele tinha se inclinado e me beijado. Só de pensar sobre aquele beijo caloroso fazia eu querer me abanar, e isso me fazia pensar no que eu assisti ele fazer. Deus, eu precisava de um banho frio. Ele tinha trabalhado no turno da noite e eu imaginava que estava provavelmente dormindo agora. Ele tinha me mandando uma mensagem antes deu
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sair, uma mensagem rápida dizendo para eu avisar quando chegasse em casa, e eu o fiz. O pedido era... fofo, como se ele estivesse pensando em mim, e isso me fez sentir toda menininha. “A ponta da sua orelha está queimando,” Calla apontou, seus olhos estreitando. “Vamos lá, confesse.” A garçonete me salvou por uns minutos enquanto anotava nossos pedidos. Katie pediu metade da lanchonete, escolhendo todas as versões de bacon e linguiça que eles tinham. “Eu preciso da minha proteína,” ela disse enquanto Calla e eu a encarávamos. “Dançar e subir em um poste é um puta exercício. Vocês deveriam tentar.” Eu ri. “Não, obrigada.” Katie revirou seus olhos verde claros. “Vocês não são legais.” Ela se virou para Calla. “Quando Teresa vai vir? Ela queria aprender a rebolar até o chão.” “Eu acho que ela e Jase vão vir alguns finais de semana comigo.” Calla sorriu enquanto a garçonete voltava com dois cafés e o refil do meu refrigerante. Então ela me perfurou com seu olhar. “Você e Reece se pegaram?” “O que?” No mesmo instante, Katie respondeu, “Sim.” Eu atirei um olhar matador a ela. “Como você sabe se a gente se pegou? Você estava escondida na minha casa?” “Eu sei muitas coisas,” ela respondeu. “Eu sei muitas coisas. E você acabou de presumir que eu estaria escondida na sua casa, o que significa que um pouco de pele foi exposta lá.” Calla colocou seus cotovelos na mesa. “E Jax me disse que Reece veio na sua folga e esperou até você sair. E você o levou para casa.” “Jax fofoca como uma menina de treze anos,” eu retruquei, mas eu não estava chateada com a linha de perguntas. Eu estava aliviada que ambas puderam sair para tomar café da manhã hoje porque eu realmente, realmente, precisava falar com elas.
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Um momento se passou até que eu me inclinei para frente, sem conseguir ficar quieta sobre isso mais. “Okay. Nós meio que nos pegamos sexta à noite. Nós não transamos mas...” eu me cortei, relembrando aquelas primeiras horas da manhã. Eu podia vê-lo, sua mão em volta de seu... “Ok, vocês definitivamente fizeram algo do lado legal e pervertido baseado na sua expressão agora, como se estivesse em êxtase.” Katie disse. Calla aplaudiu enquanto pulava em seu assento. “De verdade? Okay, menina. Eu estou feliz por você porque Katie está certa, você parece que acabou de sair de um coma induzido por sexo.” “Algo que você sabe muito sobre,” eu disse com a voz baixa. Ela coçou seu nariz com seu dedo do meio. “Mas você nem estava falando com ele há umas semanas atrás. Toda vez que ele entrava ou até mesmo olhava na sua direção, você fugia. Eu sempre soube que algo aconteceu entre vocês dois, mas eu estou confusa com o que está acontecendo aqui;” Eu dei um sorriso bobo. “Bem, é uma longa história.” “Como eu pedi metade de um porco, nós temos tempo.” Katie respondeu. “E vocês vão achar que eu só uma péssima pessoa.” “Duvido,” Calla me assegurou. Eu não tinha muita certeza sobre isso, mas eu não tinha contado a ninguém além de Charlie sobre o que aconteceu entre Reece e eu, incluindo o grande equivoco. Eu inalei profundamente e contei tudo a elas sobre a noite com Reece, pausando apenas quando a nossa comida chegou. “Então, yeah, isso... e aqui que estou no meio de tudo,” eu terminei enquanto cortava meu xarope acompanhando de um waffles em pequenos pedaços. Calla me encarou, um pedaço de bacon extra crocante entre seus dedos. Até Katie estava sem palavras, o que era algo a se contar, já que se eu consegui assustá-la até o mundo do silêncio. Eu me encostei novamente no banco, me sentindo acanhada e triste. “Eu sou uma péssima pessoa, não?”
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“Não,” Calla disse imediatamente. “Você não é uma pessoa má.” “Espere,” Katie gesticulou com uma mão. De algum modo, uma grossa linguiça estava entre seus dedos. “Então, me deixe ter certeza que eu entendi isso certo. Você basicamente esteve apaixonada por Reece desde os seus quinze anos.” “Eu não diria apaixonada,” eu murmurei, mas meu coração pulou. “Que seja. Eu sei que você esteve apaixonada por ele,” ela insistiu e eu não protestei, porque eu imaginei que terminaria em uma discussão sobre seus superpoderes. “De qualquer modo, você esteve apaixonada por ele mas ele sempre te tratou como a vizinha chata.” Eu estreitei meus olhos para ela. “Eu não diria que ele me tratava como a vizinha chata.” Ela me ignorou. “Ele finalmente começa a te tratar como a menina gostosa que você é, vem ao bar uma noite, fica bêbado, mas porque você estava loucamente, profundamente e irrevogavelmente apaixonada por ele e porque você é uma menina, você não repara que ele está bêbado.” Meus olhos se estreitaram ainda mais. “Vocês vão para sua casa, porque ele pediu uma carona para sua bunda bêbada, e as coisas ficam quentes e pesadas. Você vê a sua linguiça.” Ela balançou a linguiça que estava segurando e Calla quase engasgou enquanto tomava seu café. “Vocês se pegam até chegar em seu quarto, onde ele desmaia. Estou certa até aqui?” “Yeah.” Eu cruzei meus braços. “Meio que.” Katie concordou discretamente, e eu não tinha ideia por que ela estava sendo discreta. “Primeiro, é uma besteira ele ter ficado assim tão bêbado, então ele perde um ponto positivo.” “Ponto positivo?” Calla virou para ela com os olhos arregalados. “Nós ainda estamos dando e retirando pontos positivos?” Eu bufei.
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“No meu mundo, estamos,” ela respondeu, e mordeu um pedaço da linguiça, mastigando profundamente por um momento. “Então ele desmaia, você fica com ele, e quando ele acorda, acha que vocês transaram e fica todo arrependido?” Concordando, eu coloquei um pedaço do meu waffles na boca. “E você pensou que ele tinha se arrependido de ter dormido com você,” Calla incluiu. “Mas na verdade ele se arrependia de estar bêbado demais e ter transado com você?” “Yep.” Katie balançou sua cabeça enquanto pegava o sal e colocava em sua linguiça meio comida. “Mas vocês não transaram.” “Não. E eu comecei a dizer isso na primeira vez que ele presumiu errado, mas ele estava tão arrependido que eu pensei que ele estava falando sobre o sexo em si.” “E isso te machucou,” Calla disse gentilmente. “Isso é entendível. Eu provavelmente teria pensado a mesma coisa.” “Mas você teve a oportunidade de explicar tudo ali,” Katie apontou. “Não brinca,” eu respondi. “Mas eu não fiz. Estava com tanta vergonha e... yeah, estava com meus sentimentos feridos, então eu sai da sua casa totalmente irritada e eu ainda me dói por não ter explicado tudo.” Katie terminou sua linguiça e se moveu para os pequenos pedaços. “E Reece tem essa coisa com mentiras? Isso não é bom.” Eu a olhei sem expressão. Ela se inclinou para frente, limpando o ar com uma mão. “Olhe, eu entendo totalmente porque você não disse nada. É como contar uma pequena mentira e depois outra para encobrir essa. Então vai tudo acumulando. Eu entendo isso. Já se passou muito tempo e agora como você poderia explicar o que realmente aconteceu? Hey, Reece, você quer brincar com meus peitos? Oh, e por sinal, nós nunca transamos.”
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Calla quase engasgou novamente. “Isso... isso parece uma conversa bem estranha.” Eu suspirei enquanto afastava meu prato. “Eu me sinto péssima. Eu queria ter tido coragem à mais tempo e ter dado chance a ele para explicar o modo que ele reagiu, e desejo que só tivesse contado a verdade.” “Ele não é completamente inocente em tudo isso,” Katie argumentou. “Lembre-se, ele estava tão bêbado ao ponto de ter presumido a parte do sexo. Eu já bebi muito em meus dias. Muito. Do tipo, tanto que eu tenho certeza que me tornei especialista, mas eu nunca estive tão bêbada ao ponto de não saber quando transei.” Calla concordou enquanto ela cutucava seus ovos mexidos. “Verdade.” Nem eu tinha ficado tão bêbada assim, mas isso era fora do foco principal. Dando um gole no meu refrigerante, meus ombros afundaram enquanto eles acomodavam o peso da situação. Eu arrumei meus óculos enquanto suspirava. “Eu... eu realmente gosto dele pessoal. De verdade.” “Duh.” Katie revirou seus olhos. “Você está apaixonada por ele.” Eu ignorei esse comentário porque amor... amor era uma palavra de quatro letras assustadora. "Ele é um bom homem, realmente bom. E você se lembra do último relacionamento meio sério que eu tive?” Eu perguntei a Katie. Ela enrugou seu nariz. “Antes de Dean, o ruivo?” “Oh meu Deus,” Calla murmurou, abafando sua risada com a parte de trás da sua mão; Eu balancei minha cabeça enquanto tomava outro gole. “Sim. Lembra do Donnie, o...” “O cara realmente legal que te levou pro jogo do Eagles e que vocês se pegaram no estacionamento só para no final o cara ser casado?” Katie respondeu, feliz. Pressionei meus lábios juntos. “Não, esse foi o Ryan, o imbecil e obrigada por me lembrar dele. Ele também tinha um filho que nunca me contou. Eu estava
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falando sobre Donnie, o artista faminto que roubou as joias que minha avó tinha me deixado.” Calla piscou várias vezes. “Wow. Um cara casado e um ladrão?” “Eu normalmente não atraio as melhores pessoas.” Eu dei de ombros, o que me fez pensar em Henry e isso me deixou arrepiada. A coisa era, eu sabia que eu namorava homens assim por esse motivo. Eles eram seguros. “Mas Reece não é como eles, e parte de mim...” eu exalei. “Eu passei vários anos desejando ele.” E provavelmente passei esses anos sentindo algo mais do que isso também. Sentada aqui, eu balancei minha cabeça. O que eu estava fazendo? Eu só precisava contar a verdade a ele. Deixar isso entre nós morrer antes que eu me queimasse ainda mais, mas eu não podia... eu não podia deixar de tentar com ele. Não depois de todos esses anos desejando ele. Deus, eu soava como alguém que tinha dupla personalidade. Ir atrás dele. Não ir atrás dele. Dizer a verdade. Não dizer nada. Eu estava me deixando confusa. “Você precisa contar a verdade a ele,” Calla aconselhou. “O mais rápido possível. Mas eu não me preocuparia muito com isso.” Eu levantei uma sobrancelha para ela. “De verdade,” ela insistiu. “Não é como se você tivesse mentido sobre algo grande.” “Eu acho que não contar a ele que vocês não transaram é algo grande.” “Não de verdade,” Calla sorriu para mim. “Acredite em mim, tem mentiras piores ai fora. Não é como se você tivesse mentido sobre estar saindo com alguém enquanto estava com ele ou coisa do tipo. Ele vai entender. Certo, Katie?” Ela me observou, seus lábios curvados para baixo. Calla deu uma cotovelada enquanto franzia o cenho. “Certo, Katie?” Meu interior congelou enquanto eu vi os olhos de Katie ficarem sombrios. “Eu não sei Roxy. Contar a verdade antes de ele entrar nas suas calças mesmo. Se você não acha, eu acho que você foi longe demais.”
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Elas tinham razão e eu concordei. Era a mesma sensação de quando eu percebi que tinha que contar a Reece o que realmente aconteceu. Calla limpou sua garganta. “Vai ficar tudo bem.” “Ela tem razão,” Katie concordou, garfando seu último pedaço. “Além do mais, você quebrou o para brisas de Henry Williams e ele ainda te deu um orgasmo. Você provavelmente vai ganhar um ainda melhor com isso.” Batendo minha palma da mão contra minha testa, eu gemi. “Oh, Deus. Quem não sabe sobre isso?” “Ninguém querida.” Katie mordeu sua linguiça. “Absolutamente ninguém.”
Calla e eu assistimos Katie sair voando do estacionamento com seu Mini Cooper, quase batendo em uma mini van que tinha o adesivo de ‘Bebê a Bordo’ colado, mas quando a van estacionou, um casal de senhores desceram. “Você não está pensando em fazer mesmo uma sessão espírita, né?” Calla perguntou. Eu ri alto. Eu contei a elas sobre as coisas estranhas que estavam acontecendo no meu apartamento. Por sorte, nenhuma das suas achou que eu estava louca ou que era estranho eu pensar que meu apartamento estava assombrado. Claro, Katie teve várias ideias de como resolver esses eventos estranhos, e uma delas era chamar alguém na cidade que aparentemente podia se comunicar com espíritos e poderia organizar a sessão espírita. “Ah, você sabe, eu não acho que isso seja uma ótima ideia,” eu disse, sorrindo. “Se realmente tem um fantasma zanzando, ele não tentou me assustar. De um jeito, ele tem sido estranhamente colaborativo.” Calla bufou. “Eu aposto que mais pessoas gostariam de ter um fantasma assim.” “E toda essa ideia de sessão espirita ou permitir que um médium entre na casa é só – eu não sei, se é isso o que realmente é, eu não quero saber o que tem lá.
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Com tanto que eu não acorde no meio da noite e o encontre me encarando, eu acho que estou bem.” “Oh meu Deus,” Ela tremeu. “Isso é muito estranho.” Houve uma pausa. “Mas e se não for um fantasma?” “O que mais poderia ser? Sério? A não ser que tenham pessoas morando em baixo da minha escada como naqueles filmes estranho dos anos oitenta, ou é um fantasma ou eu estou ficando louca.” “Você não é louca.” Ela piscou rapidamente. “Mas talvez você deva pedir a Reece dar uma olhada na sua casa. Ou Jax?” Yeah, eu conseguia imaginar os dois nunca mais me deixando viver em paz se eu contasse que eu pensava ter um fantasma em casa. “Então, você vai ficar quanto tempo?” Eu perguntei, mudando de assunto enquanto me encostava contra meu carro, tirava meus óculos e usava a barra da minha camiseta para limpá-los. “Minha aula de amanhã de manhã foi cancelada, então eu vou voltar nessa hora.” Calla olhou para o céu. O cheiro de chuva estava impregnado no ar. “O que provavelmente vai ser algo bom desde que eles estão falando que vai chover muito hoje.” Eu coloquei meus óculos, sorrindo quando eu não vi nenhuma mancha. “Você e Jax tem algo especial planejado para essa noite?” “Eu acho que vamos apenas ficar em sua casa.” Ela enrolou uma mecha de seu cabelo loiro em seu dedo e deu de ombros. “E você e Reece?” “Eu não acho que temos nada planejado. É estranho. Eu não sei se estamos saindo ou se apenas... nos pegando. Ele me mandou uma mensagem ontem à noite, pedindo para eu avisar quando chegasse em casa e eu avisei.” Eu cruzei meus braços, fazendo bico. “Então realmente não sei.” “Você pode apenas mandar uma mensagem para ele, convidá-lo se ele não estiver trabalhando. Manter isso casual.” Ela ofereceu e, então, riu. “Honestamente, eu sou a última pessoa que deveria estar te aconselhando com isso.”
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“Não.” Eu me aproximei e apertei seu braço. “Você sabe o que está fazendo. Você conseguiu um cara como Jax, então...?” Suas bochechas ficaram coradas enquanto ela apoiava seu quadril na porta do passageiro. “Você sabe muito bem que eu não tinha ideia nenhuma do que estava fazendo quando se tratava dele.” Eu sorri. Calla tinha sido bem inocente. “Verdade.” “Mas você sabe, eu acho que é sempre assim quando você gosta mesmo de alguém. Foi o mesmo com Teresa e Jase. Gostar de alguém nos deixa estupida. Então essa é minha conclusão.” “Parece correta.” “Oh!” ela exclamou. “Eu esqueci de te perguntar ontem. Quem te mandou as rosas? Elas são lindas.” Me sentindo incomodada pelas rosas já que eu presumia serem de Dean, eu as tinha deixado no escritório. Agora aquela sala cheirava como uma floricultura. Há. “Você sabe, eu não tenho ideia, isso se não forem de Dean.” Ela levantou uma sobrancelha. “Você acha que ele as mandou?” Eu dei de ombros. “Acho que sim.” “O que dizia?” “Algo que a próxima vez vai ser melhor,” eu disse, franzindo o cenho. “Estranho, huh?” Ela concordou enquanto se afastava do carro. “Talvez as flores sejam para outra pessoa se não forem de Dean.” “Eu não sei. Tinha meu nome. Talvez seja apenas um erro.” Calla sorriu enquanto se aproximava e me abraçava. “Eu tenho que ir mas eu te ligo mais tarde, okay?” Eu dei tchau e entrei no carro. No meu caminho para casa, eu fiquei surpresa quando Dennis ligou. Como era domingo, eu não estava esperando saber dele, mas policiais não trabalhavam de segunda a sexta como o resto das pessoas normais. Ele
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me deixou saber que Henry tinha um orçamento estimado do para-brisas e que iria custar uns duzentos e tantos dólares para arrumar. Eu gemi, pensando em quanto eu tinha nas minhas economias, o que não era muito. Mas isso era o fardo que eu criei, então eu tinha que seguir o ritmo e pegar mais trabalhos de web design para levantar o dinheiro. Quando cheguei em casa, eu estava no meio caminho da calçada quando o céu caiu e a chuva me atingiu, me ensopando em segundos. Dando um gritinho, eu corri para minha varanda. Minhas sandálias molhadas bateram no piso de madeira e eu escorreguei. Meus braços girando como um moinho, minha bolsa bateu na varanda e eu perdi meu equilíbrio. Eu ia cair. Antes de cair no chão, a porta da entrava voou aberta e um borrão passou pela varanda. Braços fortes me pegaram pela cintura e me ergueram. O impacto repentino contra algo duro e seco tirou meus óculos do meu rosto e um gemido de mim. Por um momento, a única coisa que estava se movendo era meu coração. “Você está bem?” perguntou uma voz grossa e masculina. Levantando minha cabeça, tudo que consegui ver através do meu cabelo era um homem com cabelo louro. Definitivamente não era James, que tinha cabelo preto e curto. “Eu estou bem. Obrigada por... um, me pegar.” Me sentindo como uma idiota, eu tirei meu cabelo do rosto e consegui olhar direito o rapaz. Seu rosto era vagamente familiar – bochechas um pouco redondas com um nariz levemente torto, obviamente quebrado há anos atrás. Seus olhos eram castanhos escuros. Olhos inteligentes. E ele ainda estava me segurando pela cintura. Geez. Dando um passo para trás, eu ri, nervosa, enquanto ele soltava seus braços. “Desculpa por isso. Eu normalmente não quase me mato quando ando pela varanda.”
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Um pequeno sorriso apareceu. “Bom saber. Espere,” ele disse enquanto eu dava um passo para o lado e pegava minha bolsa. Eu congelei enquanto ele se abaixava e pegava meus óculos. “Você quase pisou neles.” Geez duplo. “Obrigada novamente.” Eu o peguei e sorri enquanto ele me entregava minha bolsa. Colocando meu cabelo atrás da orelha, eu forcei meus olhos em sua direção. “Eu acho que não nos conhecemos ainda.” O pequeno sorriso aumentou, mostrando um pouco de seus dentes brancos. “Eu sou Kip Corbin. Moro no andar de cima. Me mudei há uns meses atrás.” “Oh!” Eu exclamei. “Por isso que você me pareceu familiar.” “Sério?” Seu tom estava cheio de surpresa. Eu concordei. “Yeah, eu devo ter te visto indo ou voltando ou algo do tipo. De qualquer modo, estou feliz por finalmente conhecê-lo.” “Mesmo aqui.” Ele olhou em direção a rua. A chuva estava caindo tão forte que eu mal conseguia ver meu carro estacionado perto da esquina. “Bem, eu tenho que ir.” Ele pegou um molho de chaves de seu bolso enquanto passava por mim. “Foi bom te conhecer.” Eu me virei para minha porta enquanto balançava meus dedos em sua direção. “Mesmo aqui.” Ele hesitou no topo das escadas. “Tenha cuidado, Roxy.” Destrancando a porta, eu a abri enquanto atirava um sorriso sobre meu ombro. “Você também. Não se deixe levar pela chuva.” Ele já estava correndo pela calçada enquanto eu entrava, fechando a porta atrás de mim. Colocando minha bolsa na poltrona, eu parei no meio da sala e franzi o cenho. Espere. Ele sabia meu nome. Eu não acho que disse qual era meu nome. Um nó de inquietação se formou em minha barriga. Como ele...? Okay. Eu estava sendo estúpida. James ou Mirian podem ter contado meu nome a ele. Também poderia ter sido um dos Silvers.
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Eu precisava parar de ser uma idiota. Olhando para minha bolsa, eu também precisava parar de ser um bebê e mandar uma mensagem ao Reece. Mas primeiro, eu precisava de chá. Depois de colocar um pouco em um copo, eu liguei a TV e sintonizei no HGTV. Maratona do Property Brothers39! Pegando meu celular da minha bolsa, eu a levei comigo para o estúdio. Antes de chegar ao corredor, o celular tocou enquanto eu o segurava. Eu olhei e xinguei quando eu vi que era Dean. Parte de mim queria apertar o botão para ignorar, mas eu me forcei a atender. “Alô?” Minha voz soou tão sem graça quanto uma folha de papel. Passou um momento. “Roxy?” Eu revirei meus olhos. Quem mais poderia ser? Ele me ligou e eu atendi. Logo que esses pensamentos passaram eu me senti mal. Dean não tinha feito nada de errado. “Yeah, sou eu. Eu estava me preparando para...” Eu olhei ao redor, tentando elaborar uma desculpa. “Para... tomar banho.” Eu me contorci. Jesus. Deus. Eu era uma idiota. Dean riu na minha orelha. “Bem, obrigada por plantar essas imagens na minha cabeça,” ele riu e eu me encolhi. “Eu não quero te atrapalhar. Apenas queria saber se está livre hoje a noite?” “Dean,” eu suspirei, querendo bater minha cabeça contra a parede. Em vez disso, eu levantei meus óculos até o topo da minha cabeça. “Na verdade, eu tenho planos para hoje...” “E amanhã?” Eu me encostei contra a parede, fechando meus olhos. “Dean, me desculpe, mas eu realmente não estou interessada em um segundo...”
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Programa de TV sobre irmãos gêmeos que ajudam pessoas a comprar e reformar imóveis.
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“Eu sei que não tivemos um ótimo primeiro encontro, mas eu acho que combinamos,” ele insistiu e na minha mente eu conseguia imaginá-lo piscando enquanto falava. “E eu acho que se sairmos novamente...” “Eu estou saindo com outra pessoa,” eu o cortei, e isso não era mentira. Não de verdade. Consegui ouvir ele inalando pelo telefone. “O que? Desde quando?” “Me desculpe. Você é um ótimo rapaz. Não é nada pessoal...” “Mas que porra Roxy?” Meus olhos arregalaram enquanto eu desapoiava da parede, enrijecendo. Eu nunca tinha ouvindo ele xingar antes. Não que eu fosse contra, mas ouvir ele falar isso era surpreendente. “Você está saindo com outra pessoa?” ele continuou. “Você não acha que poderia ter me contado isso desde o início? Eu não teria perdido o meu tempo com uma puta.” “Whoa. Yeah, isso não está certo. Vá se foder.” Eu disse e apertei o botão para terminar a chamada. Minha pele formigava como se milhares de formigas estivessem subindo por mim. Eu estava com tanta raiva, minha cabeça girando. Me levou vários minutos para me acalmar e entrar no estúdio. O cheiro como se fosse de plástico das tintas aquareláveis e das cerdas dos pinceis atingiram meu nariz assim que abri a porta. Eu inalei profundamente, deixando o cheiro que poderia irritar algumas pessoas me acalmar, afastando os pensamentos de Dean. Algumas das minhas pinturas favoritas estavam penduradas na parede, acima de uns recortes de revistas – palavras e frases que eu tinha juntado ao longo dos anos e que eu pensava que combinava com as pinturas. Colocando o chá e o meu celular em uma pequena mesa perto da porta, eu fui em direção ao cavalete enquanto pegava o elástico de cabelo. Meus passos diminuíram e eu parei na frente dele enquanto amarrava meu cabelo molhado em um rabo. Espere um pouco.
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Abaixando minhas mãos, eu passei meus dedos pelo cavalete. Quando eu tirei a pintura que eu tinha completado na sexta para levar para o Charlie. Eu não tinha trocado a tela e não tinha tido tempo no sábado para fazer nada. Pensando nisso novamente, eu nem tinha pisado no meu estúdio ontem. Mas uma tela em branco estava presa na moldura, apoiada no cavalete. Inclinando minha cabeça para o lado, eu refiz minhas últimas quarenta e oito horas. Era possível que eu tivesse feito isso quando eu terminei a última pintura? Era possível. Eu fazia várias coisas que eu não percebia que estava fazendo, apenas por hábito, mas eu tinha certeza que não tinha removido ela. Eu pensei sobre o controle remoto na geladeira, a lava-louças, o assento do banheiro e assim vai... Eu realmente precisava dos Ghostbusters. Então, novamente, esse fantasma estava sendo útil – estranho, porém útil. Me afastando da tela, eu tremi quando um calafrio percorreu minha coluna. Meu olhar caiu para meu celular. Me forçando a andar até ele, eu o peguei e apertei o ícone de mensagem. Só de segurar o celular e ver a última mensagem de Reece já tinha feito meu coração disparar. Mandar uma mensagem para um cara não era nada demais. Mandar uma mensagem para um cara que tinha visto meus seios e tinha me feito gozar não deveria ser difícil. Mandar mensagem para um cara que eu realmente gostava era assustador. Eu mandei um oi rápido antes de amarelar e colocar o celular de volta na mesa como se fosse uma cobra e aí eu me senti como uma idiota porque, provavelmente, ele ainda estava dormindo. Fugindo do meu celular, eu peguei meu banquinho quando ouvi o celular tocar. Meu estômago caiu. “Oh Deus,” eu sussurrei e me virei. A tela estava acesa com uma mensagem. “Eu estou sendo uma idiota.”
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Eu andei de volta até o celular. Como esperado, havia uma mensagem de Reece. Sete palavras – apenas sete palavras – e meus lábios se abriram em um sorriso bobo. “Hey, babe, estava apenas pensando em vc.” Apertando o celular, eu inalei várias vezes. Eu estava pensando em vc tb. Minhas bochechas coraram, porque minha resposta soava tão clichê enquanto a sua era toda carinhosa. A resposta foi quase instantânea. “Claro que vc estava.” Eu ri pela sua confiança e senti meu estômago afundar novamente porque eu sabia o que tinha que fazer. Eu precisava falar com ele antes que isso fosse longe demais. Antes que pudesse responder, outra mensagem apareceu. “Eu realmente estava pensando sobre vc. Adivinhe o que estava fazendo enquanto pensava em vc?” Meus olhos arregalaram enquanto eu respondia “Oh Deus.” Houve uma pausa. “É estranho demais admitir isso?” Não. E eu balancei minha cabeça enquanto escrevia. “Não.” “Bom”, foi a resposta rápida. Seguido por “Bom saber que você não me acha um pervertido.” “Nah, ainda acho q vc é pervertido.” “Um pervertido gostoso pelo menos?” Eu ri alto com isso.
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“Definitivamente um gostoso.” Eu esperei um segundo e mandei. “Acho que minha casa está assombrada.” “O que?” A ponta das minhas orelhas queimaram e eu desejava, de um modo, não ter mandado isso. “Não importa. Estou sendo estúpida. Você está livre hoje à noite?” Houve uma pausa antes da sua resposta, o que fez meu estômago revirar. “Tenho que trabalhar hoje, mas sou todo seu amanhã se você me quiser.” “Isso é uma piada?” Eu digitei de volta. Com aquele sorriso bobo novamente, eu me permiti ficar empolgada enquanto adicionava. “Amanhã está ótimo.” Nós trocamos mais algumas mensagem, decidindo nos encontrar no meu apartamento por volta das sete da noite. Ele iria trazer comida e, talvez, eu devesse comprar um vinho porque eu provavelmente iria precisar de coragem induzida por álcool e, caso algo desse errado, eu teria algo para afogar minhas lágrimas.
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Capítulo Doze “Você sabe, eu esperaria um dos seus irmãos fazendo algo assim porque, porra, as vezes aqueles meninos tem merda no lugar de cérebro.” Sentada na beira da poltrona, eu estremeci quando meu pai passou na frente do meu sofá. Não era assim que eu esperava minha manhã de segunda começar, mas eu não estava surpresa. De algum modo, meus pais não tinham ouvido sobre mim, o livro do mal e o para brisas de Henry. Hoje foi o dia de reconciliar e eu tinha ligado e contado a minha mãe o que tinha feito. Trinta minutos depois, meu pai apareceu. Gavin Ark não era um homem alto, mas ele era robusto e tinha o corpo de um linebacker defensor40.Era possível ver apenas um pouco de cinza no cabelo sobre sua testa e isso me fazia perguntar se ele estava experimentando a tintura Just for Men. “Especialmente aquele seu irmão mais novo.” Ele estava acumulando tudo. “As vezes acho que Thomas não tem dois neurônios que possam funcionar juntos. Você sabe o que ele fez ontem?” Ele parou no canto do sofá, colocando suas mãos em seu quadril. “Ele foi pegar alguma coisa da geladeira do porão e deixou a porta aberta como se quisesse congelar a casa toda.” Minha sobrancelha levantou. “E, então, eu ouço que você jogou um livro em um para-brisas?” Levantando uma mão, ele passou seus dedos pelo seu cabelo castanho. “Eu nem mesmo sei como você consegue atravessar um para-brisas com um livro.” “Aparentemente você precisa atingir o ponto certo,” eu murmurei. Seus olhos se estreitaram e eu fiquei quieta. “Nós te criamos para ser mais inteligente que isso. E sua mãe me contou que você disse que Henry não te provocou.”
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Posição no futebol americano
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“Isso é verdade,” eu admiti, envergonhada. Ele suspirou enquanto andava até onde eu estava sentada. “Querida, eu sei que você não é fã do Henry. Ninguém nessa cidade é, mas você não pode sair por ai vandalizando sua propriedade e eu sei que você sabe isso.” Eu concordei. Colocando sua pesada mão em meu ombro, ele o apertou gentilmente. “Você precisa de dinheiro para pagar pelo para-brisas?" Minha boca abriu, mas emoção fechou minha garganta. Lágrimas queimaram no fundo dos meus olhos. Meus pais ficaram irritados ao descobrir que eu tinha feito algo estupido, mas mais do que tudo, eles ficaram desapontados. Meu pai tinha razão. Eles tinham me criado para ser melhor do que isso, e ainda assim, meu pai ainda estava disposto a entrar e me ajudar. Como eles tinham estado quando eu comecei a morar sozinha e depois de um mês meu carro quebrou. Como eles tinham feito quando eu tinha entregado os papeis da ajuda financeira tarde no meu segundo ano e cobriram pelo primeiro semestre de aulas até que a ajuda fosse liberada. Como eles tinham feito sempre durante toda a minha vida. Cara, ah cara, eu amava meus pais. Eu sabia a sorte que tinha. Nem todos podiam ter pais tão incríveis, mas eu tinha. Realmente tinha. Engolindo a bola presa na minha garganta, eu sorri para ele. “Obrigada mas eu tenho o dinheiro.” Ele me perfurou com um olhar preocupado. “Quanto isso vai abalar suas economias?” “Não muito,” eu menti. Na verdade seria um abalo enorme mas... mas eu não era mais a menininha deles que precisava ser resgatada. Além do mais, eles tinham trabalhado duro pelo dinheiro e eu gostaria de ver meu pai poder se aposentar em algum momento nesse século. Eu arrumei meus óculos, já que ele tinha começado a deslizar pelo meu nariz. “Eu vou ficar bem.” Meu pai me encarou por mais um momento e se afastou, cruzando seus braços. Algo sobre a tensão em seu maxilar me deixou preocupada. 134
“Então, o que é isso que ouvi sobre você e Reece?” “O que?” eu gritei, pulando da poltrona. Ele estreitou seus olhos. “Eu soube que vocês vem passando algum tempo juntos.” Eu estava boquiaberta. Reece e eu tínhamos passado uma noite juntos, e eu não iria pensar nessa noite na presença do meu pai. Ew. “Quem te contou que Reece e eu saímos?” “Eu encontrei Melvin na loja de ferramentas ontem de manhã. Ele me disse que viu Reece esperar você sair do trabalho há umas noites atrás.” Cruzando meus braços, eu revirei meus olhos. “Melvin está louco.” “Então não é verdade?” O que era esse tom de desapontamento que eu estava ouvindo na voz do meu pai? Claro que era. Eu tinha certeza que meu pai gostaria de adotar Reece e Colton. “Agora, eu não quero nenhum detalhe e, talvez, ele estivesse apenas sendo um bom menino e tendo certeza que você chegasse em casa a salvo, pelo que aconteceu com as meninas na cidade em...” ele interrompeu, esperando. “Talvez Melvin precisasse parar de fofocar.” Eu prendi uma mecha solta enquanto olhava pela janela da frente. Tinha finalmente parado de chover essa manhã, mas estava longe de ser um dia claro. “Reece e eu...” como eu explico o que Reece e eu éramos quando eu não tinha ideia? “Estamos saindo,” eu terminei. Suas sobrancelhas franziram. “Somos amigos,” eu continuei, sentindo minhas bochechas esquentarem. “Nós vamos jantar hoje a noite.” Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto. “É mesmo?” “Yeah,” eu mudei meu apoio de um pé para o outro. Ele concordou vagarosamente. “Você sabe, ele é um bom menino. Sempre pensei que vocês iriam terminar juntos.” “Não diga a mãe.” 135
Seu sorriso aumentou e seu olhar ficou sombrio. “Pai! Não se atreva a contar a mamãe. Ela vai interpretar mal, começar a planejar nosso casamento e ela vai ligar para a mãe de Reece!” “Elas provavelmente iriam começar a tricotar sapatinhos para seus netos inexistentes,” ele concordou, rindo. “Oh Deus,” eu gemi, enrugando meu nariz. “Isso não é engraçado.” “Eu não vou falar nada,” ele respondeu, mas eu sabia que ele estava mentindo. Logo que ele saísse daqui, ele iria ligar para minha mãe. “Eu tenho que voltar para o escritório. Venha me dar um abraço.” Depois de me apertar, ele saiu, parando na varanda. “Tranque a porta, Roxy.” Concordando, eu fiz exatamente isso quando fechei a porta. Mesmo que aquelas duas meninas e a desaparecida – Shelly Winters – não morassem por aqui, eu não era estúpida. E, enquanto voltava para meu estúdio, eu pensei na sugestão de Reece de conseguir uma arma. “Não,” eu disse em voz alta com uma risada. “Eu realmente terminaria atirando em alguém por acidente.” Além do mais, o incidente com o livro mostrava que eu não tinha um bom autocontrole quando minhas emoções falavam mais alto. Com certeza, jogar um livro e puxar um gatilho eram coisas diferentes, mas ainda me incomodava, a ideia de ter esse tipo de poder em minhas mãos. Enquanto eu cutucava os pinceis, meus pensamentos voltaram para essa noite. Eu estava ansiosa, mas aquele zumbido de felicidade me deixava inquieta. Eu iria contar a verdade sobre o que aconteceu entre nós e, conhecendo como Reece odiava mentiras, era um grande risco. Eu poderia perdê-lo antes... antes de realmente tê-lo. Mas havia essa parte de mim que considerava seriamente continuar com a mentira mesmo que eu duvidasse que Reece soubesse a diferença. Fazer isso era errado e covardia, e eu tinha minhas bolas.
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Só precisava encontrá-las. Eu passei o resto da tarde trabalhando na pintura de Jackson Square em New Orleans. Eu nunca tinha estado lá, mas eu era obcecada com o lugar desde que eu tinha lido um romance paranormal que na maior parte se passava ali. Eu tinha feito Charlie ler os livros também e, quando éramos mais novos, NOLA
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em nossa lista de coisas a fazer antes de morrer. Um dia desses, eu
prometi a mim mesma que iria lá, não só por mim mas por Charlie. Então eu poderia contar sobre isso a ele. Eu tinha imprimido várias imagens da praça e tinha decidido por uma onde as três torres da linda igreja apareciam atrás da estatua de Andrew Jackson 42em seu cavalo. Essa provavelmente seria uma das pinturas mais difíceis que eu tinha decidido fazer, visto o nível de detalhes e as camadas que isso precisava. As horas passaram enquanto eu trabalhava no anel de flores brancas que estavam colocavas na frente da estátua de bronze de Jackson. Meu pulso doida devido aos milhares de pequenas pinceladas para assegurar que as pétalas tinham definição, mas a dor valia a pena pelo resultado até agora. Porém, eu ainda não tinha certeza se poderia terminar apenas com aquarelas. Eram quase cinco quando meu celular tocou, me assustando. Saindo da névoa que sempre ficava enquanto pintava, eu levantei do banco e limpei minhas mãos em meu shorts jeans velho. Um sorriso bobo apareceu quando eu vi que era Reece ligando. “Hey,” eu atendi enquanto pegava um dos pinceis. “Hey, babe, eu tenho más notícias,” ele disse. Havia um barulho de roupas como se ele estivesse jogando uma camiseta sobre sua cabeça. “Eu vou me atrasar hoje. Acabei de ser convocado para uma situação com refém.” Eu congelei, meu estômago caindo. “Refém?”
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Outro jeito de chamar New Orleans Sétimo presidente norte americano.
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“Yeah, provavelmente não é nada além de um bêbado que precisa ser acalmado, mas eles estão chamando a SWAT.” Eu pisquei rapidamente enquanto colocava o pincel para baixo. “Você está no time da SWAT?” “Estive pelos últimos três meses,” ele explicou e eu apertei meus olhos fechados. Eu teria sabido disso se estivéssemos conversando. “Babe, realmente me desculpe por ter...” “Não. Você não precisa se preocupar.” E eu fui sincera. “Apenas espero que esteja tudo bem e que... fique seguro.” “Babe,” ele disse novamente e o jeito que ele disse fez meu coração ovacionar. “Estou sempre seguro. Você não tem que se preocupar comigo.” “Eu sei...” eu sussurrei, engolindo forte. “Eu tenho que correr, mas se você topar, eu posso passar logo depois, ou quando puder. Eu quero ver você, com ou sem comida chinesa.” Eu sorri enquanto cruzava o cômodo, abrindo a cortina. Tudo que eu conseguia era um grande carvalho. Pelo menos, eu pensava que era um carvalho. “Eu quero ver você também. Venha, quando der.” “Eu posso chegar realmente tarde,” ele avisou. “Pode nem ser até amanhã de manhã.” “Não importa. Apenas me mande uma mensagem no caso de estar dormindo.” Eu disse. “Apenas venha quando puder.” “Irei. Vejo você depois.” Perdi a respiração enquanto segurava o telefone. “Por favor, tome cuidado Reece.” Houve uma pausa e então. “Vou tomar. Vejo você logo.” “Tchau.” Me virando da janela, eu coloquei o telefone na mesa enquanto eu encarava a pintura. Com certeza eu estava desapontada que eu poderia não ter a chance de
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vê-lo, mas o que eu estava sentindo não tinha nada a ver com isso. Nem poderia se comparar, na verdade. Reece tinha me falado para não me preocupar e ele honestamente soava como se não fosse nada grande, mas era uma situação com reféns. Como isso poderia ser fácil? Eu não tinha ideia que ele estava no time da SWAT. Não que ser um policial não fosse perigoso o suficiente sozinho, mas colocar a SWAT? Deus, eu realmente não tinha pensado no quão perigoso isso era para ele. Com meu estômago embrulhado, eu cruzei meus braços em volta da minha cintura. Era como ser jogada de volta para quando Reece estava ativo em combate e lidando com a constante consciência que alo terrível poderia acontecer. Era por isso que eu não poderia me apaixonar por ele. Sexo era okay. Namorar era ótimo. Mas realmente me apaixonar por ele, me deixar ficar tão íntima com ele? Inferno, não. Eu poderia perder ele como eu... como eu estava perdendo Charlie. Como eu já tinha perdido Charlie. E esse era um tipo de amor diferente, e veja o quão dolorido isso era por si só. Eu voltei a pintar e sempre que meus pensamentos divagavam, eu retomava o foco. Eram quase sete quando eu tomei um rápido banho caso Reece não se atrasasse e, quando as nove chegou, eu fiz para mim um sanduiche de atum e comi enquanto encarava a pintura. Contra meu melhor julgamento, por volta das onze, eu olhei na internet as noticias locais. Havia uma chamada sobre uma imagem de luzes vermelhas e azuis do lado de fora de uma área arborizada. Meu estômago se contraiu enquanto eu passava pelo texto. Não havia muito ali para saber sobre o que Reece estava lidando a não ser quer era sobre um homem mantendo sua esposa e – acredito eu – duas pequenas crianças em casa contra a vontade deles.
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“Oh, Deus,” eu sussurrei, sem conseguir imaginar o que aquela mulher e as crianças deviam estar passando e como alguém poderia colocar sua própria família em algo assim. Inquieta e sem conseguir assistir TV, eu terminei me trocando para uma das camisetas gigantes que eu tinha pegado emprestada do meu irmão mais velho. Ela batia logo abaixo das minhas coxas, comprida o suficiente para se passar por um vestido. Estava coberta em tinta seca, perfeita para se trabalhar. Eu tirei meu cabelo do meu rosto e o prendi, voltando logo a trabalhar na pintura. Horas se passaram, uma nevoa misturando junto cores enquanto eu tentava capturar o tom certo de bronze da estátua e começava a esboçar o cavalo e Andrew Jackson. Desenhando levemente com um lápis sobre a tela era o único jeito que eu consegui fazer isso, mas uma vez que a tinta estava sobre ele, eu não acho que as pessoas iriam notar que tinha sido esboçado antes. As vezes parecia que eu tinha trapaceado ao fazer isso, porque haviam artistas que conseguiam pintar tudo a mão livre. Eu? Eu não era um deles. Eu provavelmente deveria ter passado tempo trabalhando o projeto de web design, mas eu prometi a mim mesma que iria fazer Terça a tarde. Eu tinha algumas linhas antes da data final para esse e pintar... bem, era o que eu precisava agora. A tinta estava seca em meus dedos doloridos quando meu telefone tocou, me alertando para uma mensagem. Eu disparei do banco como se algo tivesse mordido minha bunda e peguei o celular. Era uma mensagem de Reece. Uma palavra. “Acordada?” Eu respondi mais rápido que uma pistola no velho oeste, mandando um “Sim.” Depois de um momento, ele respondeu com um curto “estarei logo aí.” Meu coração estava acelerado enquanto eu olhava para onde era exibido o relógio no celular. Puta merda, eram quase três da manhã. Correndo para a sala, eu coloquei meu celular na mesa de centro e estava prestes a correr para meu quarto e me trocar quando eu vi as luzes pela janela da frente. Eu corri e abri a cortina. As luzes estavam logo na frente do meu carro. Elas pararam. Um segundo depois, elas desligaram. Lá no fundo, eu sabia que tinha de ser Reece e que ele deve ter me mandando a mensagem no caminho para cá. 140
Como um animal louco parado na frente de um carro, eu não consegui me mover enquanto eu observei uma sombra alta caminhar pela calçada. Quando uma leve batida na minha porta soou, eu posso ter gritado. Um pouco. Me virando, eu coloquei meus óculos na mesa de centro e fui para porta enquanto me alongava. Eu não conseguia ver nada pelo olho mágico, mas sabendo que deveria ser Reece, eu abri a porta. Puta cara quente... Era Reece e ele estava vestido como algo que saiu das minhas fantasias. Uma camisa preta estava justa em seus ombros largos, bíceps definidos e peito. Não tinha como esconder o quão fina sua cintura ela. A camisa estava enfiada por dentro de calças de combate pretas e ele usava botas que eram totalmente foda. Okay. Eu estava totalmente a favor desse uniforme da SWAT. Eu levei meu olhar para cima enquanto dava um passo para trás, deixando ele entrar. Ele andou para frente, uma grande mala em sua mão direita. Suas juntas estavam brancas. Tão focava em observá-lo, eu nem percebi que ele estava me olhando daquele mesmo jeito intenso e faminto que eu devia estar olhando para ele. Foi nesse momento que eu percebi que eu estava usando apenas uma camiseta. Eu nem precisava no espelho para saber que eu parecia uma bagunça. Reece fechou a porta atrás de si, trancando-a sem tirar os olhos de mim, o que eu pensei que requisitava certo talento. Eu inalei profundamente. “Está... está tudo bem?” Havia algo no jeito que ele me encarava enquanto colocava a mala da poltrona. Era algo cru, totalmente puro e um pouco... instável. Como se houvesse algo incomodando. Ele balançou sua cabeça. “Não.” Eu não sabia o que dizer enquanto o encarava. Um calafrio passou por meus ombros. Ele levantou seu peito, inalando profundamente. “O cara – a situação com os reféns. Não teve como convencê-lo.”
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Eu segurei minha respiração. “Quando ele começou a atirar pela janela, nós fomos ordenados a entrar.” Enquanto ele falava, seus olhos azuis escureceram para a mesma cor que ficava o céu durante uma tempestade. “Era tarde demais. Ele tinha atirado na sua esposa e nele mesmo. E não foi um calibre pequeno. As crianças viram. Um deles era novo demais para entender, mas o menino... yeah, ele viu o que aconteceu. Ele vai sempre saber.” Lágrimas se formaram em meus olhos enquanto minha boca caia aberta. “Oh meu Deus, Reece, me desculpe. Eu nem sei o que dizer.” Eu nunca conseguiria imaginar que essa noite terminaria assim para ele. Eu sabia que era sério. Claro, eu sabia que poderia ter terminado mal, mas era difícil imaginar que ele tinha acordado essa manhã, feito planos, então ter sido chamado, sem ter ideia que ele estava prestes a ver alguém terminar com a própria vida e com a de outra. O mesmo com a pobre mulher e seus filhos. Mas então, de um jeito, eu acho que eu sabia. Quando eu acordei naquela manhã quando eu tinha dezesseis, nunca tinha passado na minha cabeça que eu iria perder meu melhor amigo naquela noite. Uma pessoa nunca sabia quando sua vida iria ser alterada. Não haviam avisos. No mais, isso sempre acontecia quando estava tudo bom e calmo. “O que posso fazer?” eu perguntei, piscando para afastar as lágrimas – lágrimas pela mulher e sua família que eu nunca conheci, lágrimas para o fato de Reece ter estado a metros de toda a situação, especialmente dada sua história. Eu queria perguntar se ele estava bem, ter certeza que ele estava, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele estava se movendo. Reece não disse nada enquanto fechava a distância entre nós. Tensão no ar, deixando ele mais pesado. Ele segurou minhas bochechas, o toque tão incrivelmente gentil. Ele abaixou sua boca na minha e não havia nada de gentil no jeito que ele me beijou. Sem uma sedução vagarosa. Ele pulou direto para um beijo que me devastou, me esquentando como se eu tivesse passado o dia todo sobre o sol do verão. “Você,” ele disse, levantando sua cabeça. “Eu quero você. Muito. E eu preciso disso – preciso de você agora.” Seus dedos estavam espalhados em minha
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bochecha. “Mas se você quiser ir devagar, eu posso fazer isso. Eu vou fazer isso. Apenas me diga agora, Roxy, porque eu estou me sentindo como um condutor e quando eu deixar você nua, não vai haver mais brincadeiras. Eu vou estar em você.” Suas palavras mandaram um raio direto para meu interior. Eu tremia enquanto meus olhos encontravam os seus. “Não... não diminua.”
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Capítulo Treze Por mais louco que isso soava, eu sabia o que Reece precisava fazer. Quando tudo aconteceu com Charlie, havia tanta coisa presa junto com a frustação que nasceu de não poder ajudar e a única coisa que me fazia escapar era pintar. As vezes isso não era suficiente e eu enchia a banheira, entrava debaixo da água e gritava. A frustração tinha crescido a níveis horríveis, uma vez que Charlie começou a divagar para nada mais do que a sombra de uma pessoa viva. Reece tinha sentido isso essa noite. Havia vida em um momento e, um segundo depois, ela tinha sumido. Como um trem saindo dos trilhos. Ele não tinha conseguido fazer nada para impedir. Ele usava a mesma frustração, o mesmo desamparo que eu senti com Charlie, e eu entendi a necessidade... quase algo intuitivo de se lembrar de que você está vivo. Reece me beijou novamente e se eu achava que já estava com meus sentidos aguçados antes, eu estava errada. Esse beijo me deixou brava e necessidade em um nível quase doloroso. Sua mão deslizou em meu cabelo, desfazendo o coque. Meu cabelo caiu enquanto ele passava os dedos pelo meu couro cabeludo. Ele inclinou sua cabeça, aprofundando o beijo. Enquanto ele guiava suas mãos para baixo, sobre meus braços até minha cintura, eu ofeguei contra sua boca. Um som profundo reverberou dele enquanto me levantava. Minhas pernas envolveram sua cintura, como elas estavam querendo a muito tempo. Sussurrando seu nome, eu passei meus braços em volta do seu pescoço. “Eu preciso te levar para cama,” ele disse enquanto começou a andar. “Ou eu vou te tomar aqui, nesse chão.” Eu tremi, provavelmente mais excitada pela possibilidade do que deveria. Eu beijei o canto de seus lábio e, novamente, seu maxilar enquanto ele nos levava para meu quarto. Meus dedos passaram do seu cabelo até os músculos no topo das suas costas. Havia tanto poder nele.
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Parando tempo suficiente para apenas ligar a luz do quarto, ele me abaixou para que eu estivesse de joelhos na cama. Calor fluía por cada celular enquanto ele dava um passo para trás e tirava sua camisa de dentro das calças de combate. Eu estava quase ofegante enquanto ele levantava ela sobre sua cabeça e a deixava cair no chão. Deus, ele era lindo, cada parte dele, desde o jeito que seus músculos se contraiam em seu estômago até o jeito que seus bíceps flexionavam enquanto ele desfazia seu cinto. Então eu disse a ele enquanto me sentava em cima do meu calcanhar. “Você é lindo.” Um meio sorriso apareceu. “Lindo?” “Sim. Você é lindo.” Largando seu cinto, ele segurou minhas bochechas enquanto guiava minha cabeça para trás. Quando ele me beijou dessa vez era mais suave e doce, como uma mistura dos dois. Ele me abalou tanto quanto o beijo duro e forte. Reece se ergueu mais uma vez e continuou com seu show de strip particular, o que eu desejava ter uma nota de cem dólares para usar. Eu estaria balançando ela como se fosse louca. Sorrindo, ele desfez o botão e abriu o zíper. Ele parou tempo suficiente para desamarrar suas botas e tirá-las e as meias, então voltou para sua calça e boxer. Ele era... wow, eu mal conseguia absorvê-lo. “De pé.” Ele balançou seus dedos. Eu fiquei de joelhos novamente. Seus olhos encontraram os meus enquanto ele alcançava a barra da camiseta e a tirava. A única coisa que restou em mim foi meu boy-shorts43. Se eu tivesse sido esperta, eu definitivamente teria pegado algo mais sexy. Como o fio dental de renda preto que eu tinha. Mas oh não, eu estava usando boy-shorts listrado. Mas pareceu não importar quando eu percebi.
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Tipo de calcinha com a lateral bem larga, imitando um micro shorts
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Seu olhar quente passou por mim. “Agora isso... isso sim é beleza, Roxy.” Ele ergueu sua mão, passando seu dedão sobre o bico do meu seio. “Não eu. Você. Você toda.” Minhas costas arquearam enquanto eu alcançava ele, onde ele estava inchado e duro, mas ele pegou meus pulsos, balançando sua cabeça. “Eu quero tocar cada parte sua com minhas mãos e minha boca.” Ele soltou meus pulsos e correu sua mão sobre meu seio, demorando mais na ponta. “Especialmente esses. E eu quero te provar.” Coração acelerado, eu umedeci meus lábios enquanto ele, gentilmente, me empurrava para trás, me deixando de costas. “Especialmente, eu quero te provar aqui.” Reece abaixou suas mãos, arrastando ela sobre meu estômago. Entre minhas pernas, ele me envolveu com uma mão e minhas costas saíram da cama. “Sim. Aqui. Eu realmente quero te provar aqui.” Ele sabia o que ele estava fazendo enquanto esfregava o tecido de algodão. “Mas eu não consigo esperar.” “Não espere,” eu levantei meu quadril. Seus olhos brilharam com calor enquanto ele puxava minha calcinha. E aqui estávamos nós, os dois sem roupa. Nós já estivemos nesse ponto antes, mas não chegamos tão longe. Meu estômago afundou. Eu precisava contar a ele sobre aquela noite, mas como eu poderia fazer isso agora, depois do que ele teve de lidar essa noite? Depois de ele ter dito que precisava de mim agora? Certo ou errado, não tinha como eu não estar aqui para ele. Reece colocou um joelho na cama e veio por cima de mim de um jeito que me lembrou uma pantera perseguindo sua presa. Seus braços flexionaram enquanto ele trazia sua boca para minha. Eu levantei minha mão para tocar seu rosto mais hesitei. “Me toque,” ele ordenou gentilmente. “Eu gosto quando você me toca.” “Meus dedos estão cobertos com tinta,” eu disse entre os beijos. “Me desculpe.”
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Ele pegou minha mão, entrelaçando seus dedos pelos meus enquanto capturava minha boca em outro beijo profundo. “Não peça desculpas. Isso é você. É sexy pra cacete.” Eu não tinha ideia de como meu coração continuou batendo depois que ele trouxe minha mão para sua boca e deu um beijo no centro da minha palma. Deus, ele me ganhou nesse momento, realmente me ganhou. Levando sua boca para minha mais uma vez, sua língua mergulhou contra a minha. Calor flamejante passou por mim enquanto ele colocava sua mão em baixo do meu braço e me levantava, me colocando para que eu estivesse no meio da cama. Sem nem uma vez quebrar o contato de nossas bocas. Sua força era inacreditável, eletrizante na verdade. Seu corpo estava sobre o meu e eu conseguia sentir seu comprimento tudo pressionando contra meu quadril. Seus beijos estavam mais profundos, mais urgentes e quando ele levantou sua cabeça, ele mordeu meu lábio. Sua voz era grossa e cheia de necessidade quando ele falou. “Você tem uma camisinha?” “Sim,” eu concordei enquanto passava minha mão sobre seu ombro até seus bíceps. Sua pele era fantástica, suave como cetim cobrindo aço. Eu imaginei que era assim que a estátua de bronze de Andrew Jackson pareceria. Absolutamente perfeita. “Deve ter algumas na primeira gaveta da cômoda.” O momento que isso saiu da minha boca eu me preocupei no que ele iria pensar desde que eu tinha um estoque de camisinhas. “Eu posso pegar...” “Não. Eu pego.” Ele beijou a ponta do meu nariz e, então, minha testa, a doçura do ato quase agindo para aliviar a tensão em meu pescoço. Ele não se importava. Nem mesmo parou para perguntar o porquê. O cara era perfeito. Realmente perfeito. Como ele tinha colocado uma mão do lado da minha cabeça para se levantar, seus músculos fizeram várias coisas incríveis. Ele se esticou sobre mim para o lado e eu estava fascinada pelo jeito que os músculos na sua lateral se moviam. Eu mal ouvi a gaveta abrindo devido ao barulho do meu coração. Nunca tinha ficado tão excitada.
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“Graças a Deus você está preparada.” Sua voz rouca mandou uma onda de tremores por mim enquanto ele olhava a gaveta. “Porque eu não estou... oh puta merda.” Minhas sobrancelhas franzira, “Você está tão excitado assim por causa de uma camisinha?” “Não. Claro que não.” Ele se esticou ainda mais, levantando sua mão. Meu olhar caiu para o que ele estava segurando. “Eu estou excitado por causa disso.” “Puta merda,” eu murmurei. Em sua mão estava meu grande companheiro e sempre confiável vibrador. Como eu fui esquecer que meu vibrador estava na mesma gaveta? Com meu rosto queimando, eu encarei o que vinha sendo meu namorado a algum tempo. E era um dos bons. Um coelho. E era rosa – rosa vibrante. “Eu preciso de uma ponte para pular. Agora. Nesse momento.” Um lado de seus lábios se curvou. “Não. Eu amo isso. Eu amo a ideia de você usando isso.” Aquele sorriso era puramente malvado. “E você vai usar isso.” Meus olhos arregalaram enquanto partes do meu corpo começaram a ficar todas animadas. “Agora?” eu gritei. “Você gostaria disso, huh?” Ele abaixou sua cabeça, me beijando rapidamente. “Não hoje à noite. Eu preciso estar dentro de você, mas você vai usar isso com certeza. Isso eu prometo.” “Eu gosto dessa promessa,” eu admiti, corando até a raiz do meu cabelo. Nenhum cara que eu tinha saído tinha demonstrado interesse em usar brinquedos durante o sexo. Eu nem sabia se algum cara estaria disposto a isso. Ele riu profundamente. “Aposto que você gosta.” Reece devolveu o vibrador para onde tinha encontrado e rolou para seu lado, camisinha em sua mão. Ele pausou depois de abrir o pacote, seus olhos azuis procurando os meus. “Você pensa em mim quando usa aquilo?” A verdade saiu de mim enquanto eu me levantava, me apoiando nos meus cotovelos. “Sim.” “Porra,” ele gemeu.
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Assisti ele desenrolar a camisinha com uma rapidez que era impressionante. Então ele colocou sua mão em meu maxilar, guiando minha cabeça para trás. Quando ele me beijou dessa vez, era mais devagar, mais quente e sensual, enquanto me levava a ficar de costas novamente. Parte minha esperava que ele subisse em mim e fosse direto ao ponto. Eu não iria reclamar se ele não fizesse também, mas não foi isso o que ele fez. Reece trilhou minha garganta com a ponta de seus dedos, até o pico dos meus seios, e seus lábios seguiram seus dedos. Ele fez um caminho de beijos flamejantes que fez minhas unhas cravarem em seu ombro. Quando ele alcançou meu seio, ele demorou, chupando e mordiscando, lambendo para despertar um mix de prazer e um pouco de dor. E ele se moveu para outro seio, sua mão viajando pelo meu estômago e entre minhas pernas. Eu as afastei, dando acesso ao que ele queria. Meus seios estavam pesados e doloridos enquanto ele colocava um dedo em mim, me fazendo gemer. “Oh yeah, você está pronta.” Reece se levantou novamente, abaixando seu queixo para que ele pudesse olhar para o comprimento dos nossos corpos. Meu sangue virou lava enquanto eu assistia o que ele estava fazendo. A combinação do toque e de vê-lo quase me levou para fora de mim. Eu não conseguia pensar enquanto ele me provocava com seus toques. “Deus, eu amo te sentir.” Ele deslizou outro dedo dentro e meu quadril se moveu em resposta, meus dedos do pé curvando. “Eu aposto que você poderia gozar apenas assim.” Eu segurei seu pulso, não para pará-lo, mas para me segurar. A sensação de seus tendões se movendo contra a minha palma me deixou louca. Ele estava tão certo. Eu podia sentir a tensão se acumulando na parte de baixo do meu estômago. Eu não sei o que tinha nele que deixava tão simples atiçar meu corpo. Era como se ele tivesse um mapa secreto que falava cada passo necessário. Eu nunca tinha sido assim antes. Muitas vezes eu nem tinha ficado excitada, mesmo quando tudo já tinha acabado. Meu olhar voltou para ele e por um segundo eu não consegui respirar. Ele ainda estava fixo, olhando o que estava fazendo, e yeah, só isso já era quente, mas eu sabia que ele não tinha visto o momento onde eu acho que meu coração deve ter 149
explodido. Eu queria ele em um nível físico. Merda, eu queria ele por todo tempo que conseguia me lembrar. Eu era fisicamente atraída por ele, mas era mais que isso. Era muito mais forte que isso, e o que Katie tinha disso sobre como eu me sentia sobre ele pode não ter sido longe da verdade. Pressão se formava em meu peito enquanto eu o encarava. Eu estaria mentindo se eu dissesse que isso não ia além da luxúria. Eu estaria mentindo se dissesse que a história entre nós não importava. Eu estaria – para mim, pelo menos. Reece poderia quebrar meu coração. Então ele fez uma coisa com seu dedão que me tirou de dentro dos meus pensamentos. Minhas costas arquearam e meu quadril levantou, empurrando contra sua mão. Ele riu enquanto afastava sua mão de mim. “Eu preciso estar dentro de você.” Ele rolou para cima de mim, a ponta dos meus seios sensível enquanto elas passavam contra seu peito duro. Cada parte de mim estava sensível. Cada passada dos seus dedos pelo meu corpo todo era ampliada. Eu passei minha perna em volta do seu quadril e o senti entre minhas pernas. Isso iria finalmente acontecer. Parte de mim não conseguia acreditar e parte de mim esperava que ele fosse cair no sono. Me olhando com aqueles olhos tão azuis que não pareciam reais, ele colocou sua mão em meu quadril, Eu tremi enquanto nosso olhar continuava junto e passava um braço em volta do seu pescoço. Sem quebrar o contato visual, seu quadril investiu para frente e um pequeno gemido escapou de mim. Houve uma pequena mordida, uma sensação de pressão que não era dolorosa, mas me dizia que não importava o quão bom meu vibrador era, não era nada comparado a Reece. “Merda.” Reece movia seu quadril enquanto eu prendia meus calcanhares, me deliciando em um gemido que percorreu seu corpo todo. Ele ficou imóvel por um momento, nossos peitos subindo e descendo rapidamente. Ele estava profundo e eu conseguia senti-lo a cada respiração.
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Então, ainda com seu olhar fixo no meu, ele vagarosamente puxou quase tudo e voltou a deslizar para dentro, chegando a um ritmo. Eu apertei seu braço enquanto ele mudava o apoio. Ele colocou uma mão em meu seio, seu dedão fazendo círculos sobre a parte sensível. Eu estava perdida em seus olhos, perdida no jeito que seu corpo me fazia sentir. Seu corpo tremia devido a espera. “Você não tem ideia do quanto eu quero apenas te foder,” ele disse, balançando um pouco sua cabeça. O que era o que ele já tinha avisado que queria fazer, mas ele estava se segurando. Eu me estiquei, beijando-o. Seus lábios afastaram e minha língua passou contra a sua. “Está tudo bem,” eu sussurrei, meus lábios passando pelos seus enquanto eu falava. Sua testa estava contra a minha enquanto ele movia seu quadril vagarosamente. “Roxy...” “Foda-me,” eu disse a ele gentilmente. Essas duas palavras queimaram em meu corpo de jeitos diferentes. Reece gemeu enquanto afastava e investia novamente seu quadril. Sua boca encontrou a minha e qualquer que fosse o controle que ele tinha totalmente parou. Ele se moveu furiosamente, um ritmo quase impossível de se acompanhar. Ele pegou minha mão. Como tinha feito antes quando a levou aos seus lábios e entrelaçou seus dedos nos meus. Ele pressionou nossa mão junta contra o colchão enquanto enterrava seu quadril contra o meu. Um prazer cru me percorreu. Eu joguei minha cabeça para trás, apertando sua mão enquanto a tensão apertava mais e mais. Sem conseguir acreditar, ele aumentou seu ritmo e a cabeceira começou a bater contra a parede. Isso e o som dos nossos corpos me levaram a loucura. Eu gozei com um gemido afiado que ecoou pelo quarto, meu corpo tremendo contra o dele. A liberação expulsou o ar dos meus pulmões. O prazer veio em ondas, me jogando até que eu pensei estar flutuando até o teto ou que meus ossos tinham virado geléia.
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Por um momento eu sabia que eu poderia capturar isso... esse sentimento em uma tela. Seria um céu azul com sombras violetas e azuis escuras – azuis que combinavam com seus olhos. Seria o céu momentos depois de uma tempestade. Reece deixou cair sua cabeça no espaço entre meu pescoço e meu ombro enquanto ele soltava minha mão. Colocando um braço em baixo das minhas costas, ele levantou meu quadril da cama. Ele se moveu contra mim furiosamente. Quando ele pressionou tão profundamente quanto podia, sua respiração estava contra minha orelha. Ele gemeu meu nome enquanto seu corpo espasmava, seu abraço apertando até que não houvesse espaço entre nós, e eu me segurei, passando meus dedos pelas pontas do seu cabelo. Eu o segurei enquanto a tempestade passava, enquanto meu coração desacelerava. Vários minutos se passaram antes que Reece rolasse para o lado. Seu braço ainda estava em volta de mim. Ele ainda estava em mim. “Desculpa,” ele murmurou. “Eu estava, provavelmente, te amassando.” Minha bochecha estava apoiada contra seu peito. “Eu não ligo.” Sua outra mão encontrou seu caminho pela bagunça do meu cabelo até a parte de trás da minha cabeça. “Eu não te machuquei, né?” “Não. Totalmente o oposto,” eu murmurei. “Isso foi...” “Fodidamente perfeito?” Minha risada soou abafada. “Sim, foi fodidamente perfeito.” Ele guiou minha cabeça para trás e abri meus olhos. Ele estava sorrindo para mim de um jeito que fez meu interior revirar em deliciosos pequenos nós. Abaixando sua cabeça, ele me beijou gentilmente. “Deixe-me cuidar disso, okay?” Eu mordi meu lábio enquanto ele saia. Ele colocou suas pernas para o lado e se levantou, me dando uma visão perfeita das suas costas masculinas. Ele desapareceu no hall e eu fiquei esparramada na cama. Uma brisa gelada passou pelas minhas pernas, provavelmente vinda do armário, mas eu estava exausta demais para puxar as cobertas ou fechar a porta.
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Fechando meus olhos, eu soltei um suspiro. Meus músculos estavam absolutamente inúteis e parte do meu corpo estava um pouco dolorida, mas isso não ajudou a me distrair da incrível sensação que passava por mim. “Linda,” Reece murmurou, voltando para cama. Colocando suas mãos em cada lado meu, ele aninhou do lado do meu pescoço onde não estava coberto com meu cabelo. “Tem algum jeito de te convencer a dormir assim todas as noites?” Outra pequena risada saiu de mim enquanto eu abria um olho. “Talvez.” “Se eu pedir com carinho?” “Por aí.” Ele puxou a coberta de baixo do meu corpo mole e a cama afundou com seu peso. Uma grande parte de mim estava esperando que ele fizesse uma saída rápida. Eu achava que era porque eu não tinha certeza do que estávamos fazendo, ou o que ele achava que estávamos fazendo, então fiquei surpresa quando ele nos cobriu e me moveu para que minhas costas ficassem pressionadas contra seu peito. Isso era... isso era bom, e eu pensei que tinha que significar mais do que apenas uma transa ou um jeito para liberar sua frustração. Sonolenta, eu olhei sobre meu ombro para ele. Ele tinha apagado as luzes quando voltou mas eu ainda conseguia ver a forma de suas bochechas. “Você está bem?” Ele não respondeu logo, e quando falou, ele provou que tinha entendido o que falei. “Muito melhor. Desculpe por vir na sua casa assim. É só que... ver vidas terminarem sem motivo e não poder fazer nada para ajudar, não fica mais fácil.” “Você não precisa se desculpar.” Eu me virei para que estivesse de frente para ele. Seus olhos estavam abertos e havia um pequeno sorriso em seu rosto. “Eu estou feliz que eu. eu pude estar aqui para você.” “Eu também.” “Eu sei que é difícil.” Antes que eu pudesse pensar no que estava fazendo, eu dei um beijo rápido em seus lábios. “Eu desejo que tivesse sido diferente.”
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O braço que estava em volta da minha cintura apertou mais. “Eu também.” Ele beijou minha testa. Um momento se passou e meus olhos fecharam novamente. “Vamos fazer um acordo? Se você me emprestar uns ovos de manhã, eu vou fazer um puta omelete que vai te fazer querer que eu faça todas as manhãs.” Eu sorri enquanto me aconchegava mais perto. “Fechado.”
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Capítulo Quatorze Eu acordei antes de Reece Ainda era cedo e apenas uma linha de sol estava aparecendo através das cortinas do quarto. Nós estávamos emaranhados juntos, nossos braços e pernas formando um pretzel44. De algum modo, eu estava de lado, minhas costas contra seu peito. Quando eu ousei espiar ele sobre meu ombro, eu provavelmente terminei encarando ele por tempo demais, mas era difícil vê-lo assim tão relaxado. Sem nenhum traço de sua expressão de policial ou coisa do tipo, mas não tinha como negar que ele era um homem – um homem que tinha lutado no exterior pelo nosso país e que tinha voltado para casa e que colocava sua vida em risco todo dia que ia para o trabalho. Se fosse ser honesta comigo mesma, ele era provavelmente o primeiro homem com quem estive. Não que os outros fossem meninos, mas nenhum deles tinha o mesmo tipo de responsabilidade. O pior que eles tinham enfrentado era um atraso em seu voo ou a internet caindo enquanto estavam jogando Call of Duty45. Mas era mais do que o que ele fazia para viver. Sim, ele era corajoso e forte, mas ele também era bom e honesto. Ele era leal. Ele era incrivelmente esperto e ele sabia como usar meu corpo como se tivesse sido construído especialmente para ele. Revivendo a noite passada na minha cabeça, eu senti minhas bochechas esquentarem enquanto eu me lembrava do que pedi para ele fazer para mim, mas substituindo o fazer por foder, coisa que nunca tinha dito para um cara antes. Tudo que eu lembrava era ter caído no sono olhando para ele, falando sobre omeletes e acordos, e agora eu estava pensando sobre o quão... quão bom nossa primeira vez foi.
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Jogo FPS (First Person Shooting = Tiro em primeira pessoa)
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Nossa primeira vez. Eu passei a ponta de meus dedos por sua mão imóvel, traçando seus músculos e ossos. Eu estive fantasiando em transar com Reece por um bom tempo. Anos, na verdade. Mesmo depois que nos aproximamos de fazer ano passado, e mesmo depois do que fizemos naquela noite no sofá, nada se aproximou do ato real que foi com ele, o que tinha sido incrível. Nossa primeira vez. Foi nisso que estava pensando quando acordei. Com o jeito que tudo estava na última noite, eu tinha decidido atrasar a conversa que precisava ter com ele. Eu não tinha arrependimentos sobre isso. Foi a escolha certa, mas iria me deixar louca se eu não pudesse esclarecer o... Reece se moveu atrás de mim sem aviso. Seus dedos se fecharam nos meus enquanto trazia sua perna entre minhas coxas, as abrindo. Em um segundo, seu quadril estava pressionado contra minha bunda e seu rosto estava enterrado em meu pescoço. Eu podia sentir ele, quente e duro, deslizando entre minhas pernas, parando onde eu desejava mais. “Dia, babe,” ele murmurou, cafungando meu pescoço enquanto soltava minha mão e segurava meu quadril, me puxando contra sua ereção. Mordendo meu lábio, eu gemi. “Bom dia.” Seu dente pegou meu lóbulo e eu perdi o ar. Ele riu enquanto movia seu quadril, pressionando exatamente contra meu núcleo. Meu corpo doía por si só e ele soltou minha orelha, fazendo seu caminho pela minha garganta. Wow, ele era atiçado de manhã. “Eu estou tendo um dilema,” ele disse, sua voz rouca com sono e excitação. Assim como eu, porque eu estava dividida entre parar ele e ter a conversa necessária, ou ver onde isso iria dar. “Eu realmente quero um omelete,” ele continuou, mordiscando meu ombro enquanto movia aquele seu quadril mágico. “Eu acho que sonhei com esse omelete.” “Mesmo?” Eu engasguei.
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“Yeah, babe.” Ele moveu a mão que estava na minha cintura para cima e, para baixo de mim, segurando um seio. Ele apertou gentilmente. “Mas também quero te foder.” Oh meu Deus. Eu estava tão molhada que era ridículo, e não ajudou quando ele pegou meu mamilo entre seus dedos. Okay, eu realmente precisava focar no que era importante. “Reece, eu...” um gemido me cortou quando ele se esfregou em mim, atingindo aquele ponto. “Oh Deus...” “Eu sei que você quer o omelete, e deixe-me te dizer, eu faço um ótimo omelete.” Seu joelho afastou mais minhas pernas e eu me apoiei em um braço. “Você vai ter um orgasmo em sua boca quando provar meu omelete.” Havia uma boa chance que eu fosse ter um orgasmo agora. Movendo meu cabelo sobre um ombro, ele deu um beijo na base do meu pescoço. “Mas como eu posso abandonar isso?” Seus dedos fizeram algo pecaminoso com meu seio e meu quadril se moveu para trás, e isso aconteceu. Eu não sei. Chame isso influência divina, mas a sua ponta deslizou para dentro. “Merda,” ele gemeu, se segurando imóvel. “Foda-se o omelete.” E em uma batida do meu coração, ele estava dentro de mim, enterrado até o final. “Reece,” eu gemi e meu corpo foi uma confusão de sensações agudas e afiadas. Nessa posição, eu conseguia sentir muito mais seu tamanho e espessura. “Eu amo como você diz meu nome.” Ele segurou meu seio enquanto começava a se mover, seu quadril se movendo vagarosamente e atingindo cada nervo que meu corpo foi abençoado com. “Faça de novo,” ele ordenou, sua voz suave como veludo. Eu fiz novamente. Prazer passou pela minha pele enquanto eu movia meu quadril contra o seu. Passando sua mão para meu estômago, ele investiu, selando meu corpo com o seu enquanto se movia, me posicionando de joelhos. A sensação dele por trás de mim era intensa, incrível e maravilhosa. 157
Eu movi meu quadril contra o seu, tremendo ao ouvir o som de sua aprovação. Seu aperto intensificou e ele voltou a se mover, seu ritmo mais rápido e forte. Minha mão deslizou pela cama, chegando nas hastes da minha cabeceira. Eu me segurei nelas enquanto ele investia contra mim. Minha cabeça estava girando. Eu não conseguia entender onde seu corpo terminava e eu meu começava. Estávamos ambos nos movendo freneticamente até que seu braço deslizou do meu seio e me levantou. Minha mão parou na parede atrás da minha cama e seu quadril acelerou. Reece estava totalmente no controle enquanto sua mão segurava meu queixo, guiando minha cabeça para trás e para o lado. Seu dedão passou pelo meu lábio e eu o peguei, sugando profundamente. Ele gritou algo que poderia ter estourado os ouvidos de marinheiros e trouxe minha boca até a sua. O beijo – o jeito que sua língua passava pela minha – não era nem perto de como ele se movia dentro de mim, mas não foi nada menos devastador e lindo. “Eu quero sentir você gozar,” ele disse, sua voz rouca no meu ouvido. “Faça isso para mim, Roxy.” Nunca, na minha vida um cara tinha falado assim comigo durante o sexo, e eu descobri nesse momento que isso fazia algo comigo. Fazia muito, porque quando ele pressionou sua boca no ponto logo abaixo do meu ouvido, a liberação passou por mim, me percorrendo e seu gemido pesado na minha orelha foi o primeiro aviso enquanto seu quadril se movia freneticamente um segundo antes dele puxar. Algo quente e molhado atingiu minhas costas. Pequenos choques me percorreram enquanto sua mão deslizava para meu estômago. Nenhum de nós se moveu por um momento e, então, ele cuidadosamente passou meu cabelo sobre meu ombro, pegando as mechas que caiam em meu rosto, Eu abaixei minha cabeça no travesseiro, deixando que ele me guiasse devagar de volta para cama, com a barriga para baixo. Minha cabeça estava girando quando o ouvi dizer. “Não se mova.” Uns segundos depois eu senti ele passando algo suave pelas minhas costas e bunda. Isso fez um miado sair de mim, porque eu tinha certeza que cada parte do meu corpo estava super sensível agora.
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A cama tremeu enquanto ele se sentava ao meu lado, e foi um grande esforço para que eu virasse minha cabeça na sua direção; Um braço estava jogado sobre seus olhos e meu olhar parou naquele bíceps por um momento. Ele estava sorrindo. Eu sorri. “Roxy,” ele disse, abaixando seu braço. Ele olhou para mim, seus cílios escuros tão incrivelmente grossos. Eu percebi que eu nunca representei eles direito quando os pintei. “Você está tomando pílula?” Enquanto a névoa sumia da minha cabeça, eu fiquei rígida enquanto sua pergunta era absorvida pelos meus pensamentos. Eu estava tomando pílula? Sim. Eu estava. Eu tomava. Quando eu lembrava. O último ano foi calmo e eu sempre usava camisinha, entãaao às vezes eu esquecia de tomar. Quando foi a última vez que eu esqueci? Duas semanas atrás? Foi mais de um comprimido? Oh querido bebe Jesus, meu coração parou de bater. “Eu não estava pensando,” ele levou sua outra mão para minhas costas. “Eu nunca fiz isso antes. Juro por Deus. Eu nunca esqueci de usar camisinha.” “Nem eu. Eu estou tomando pílula,” eu disse, baixo. “Mas eu... eu acho que perdi uns dias há umas semanas atrás.” Reece não correu da cama como se sua bunda estivesse pegando fogo. Ele me estudou por um momento então se inclinou e levantou para que estivesse sobre mim. Ele beijou minha bochecha. “Eu tirei. Vamos ficar bem. E se isso não funcionar...” Ele beijou o canto dos meu lábio. “Ainda vamos ficar bem.” Oh Deus. Oh, foda-me! Lágrimas subiam pela minha garganta. Eu não seu porque. Eu era tão idiota. Talvez fosse porque ele não estava surtando pela mínima chance que algum tipo de inseminação tivesse acontecido. Ou, talvez, porque ele era tão – ugh – tão tudo. Eu tinha transado de novo com ele – sem proteção – e eu tinha deixado meus hormônios ter o melhor de mim, e ainda assim eu não tinha contado a ele a verdade sobre aquela noite. 159
Ele me beijou novamente e, por brincadeira, deu um tapa na minha bunda enquanto se levantava. “Vamos lá. Um omelete orgástico nos espera.” Eu o encarei ainda na mesma posição, de barriga para baixo. Um sorriso infantil apareceu em seu rosto enquanto ele saia da cama. Ele se inclinou, pegando suas calças do chão. Colocando-as, ele piscou para mim. “Se importa se eu usar sua escova de dentes?” Nessa altura do campeonato, importava se eu ligasse? “Não.” “Melhor sua bunda estar fora dessa cama quando eu acabar.” Ele piscou e virou, saindo do quarto. Descalço. Sem camisa. Sua calça nem estava abotoada! Eu fiquei deitada ali por um momento, sem saber se eu deveria surtar mais. O fato que eu era uma puta por ainda não ter contado a ele a verdade ou que eu posso ter acabado de ter me engravidado? Okay. A parte de engravidar era bem improvável e eu precisava devotar minha energia para algo mais relevante – toda a parte de ser uma puta. Quando eu ouvi a água parar, vindo do banheiro, e a porta abriu, fui eu que pulei da cama como se minha bunda estivesse pegando fogo. Eu peguei um shorts de algodão e uma camiseta quando ele apareceu na porta. Eu ainda estava nua e ele totalmente percebeu. Entrando no quarto, ele passou seus braços em volta da minha cintura e me levantou e me beijou. Ele tinha gosto de menta e outro masculino, e eu quase deixei minhas roupas caírem. “Você está se movendo devagar essa manhã.” Se curvando, ele me jogou sobre seu ombro. “Vou ter que intervir.” Eu soltei um gritinho que era mais como uma risada. “Oh meu Deus, o que você está fazendo?” “Levando sua linda bunda” – sua mão foi parar na minha bunda, me fazendo tremer – “yeah, essa linda bunda para o banheiro.”
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Ele se virou enquanto eu segurava minhas roupas como o fio da minha vida e levou minha linda bunda para o banheiro, me colocando de pé. Suas mãos ficaram mais tempo, no meu quadril e nos meus seios. Ele fez um som profundo, vindo de sua garganta enquanto abaixava sua testa para a minha. “Agora eu estou pensando em te levar para aquele chuveiro e...” “Vá,” eu ri, empurrando seu peito. “Por mais que eu gostei da ideia de estarmos molhados e mais, nós nunca vamos comer esse omelete.” Ou conversar. “Hmm.” Sua mão foi para minha bunda. Me puxando contra ele, ele me apertou e por mais louco que fosse, meu corpo começou a revirar de novo. O homem era sexo em carne e osso! Ele passou seus lábios pela pele logo abaixo da minha sobrancelha. “Estou pensando em mandar o omelete se foder novamente.” Oh cara. A ideia era tentadora. Tudo sobre ele era tentador, mas eu consegui fazer ele sair do banheiro. Enquanto eu me limpava, escovava meus dentes e lavava meu rosto, eu prometi a mim mesma que não iria deixar mais nada ficar no caminho da minha conversa com ele. Inalando profundamente, eu vi meu reflexo no espelho enquanto prendia meu cabelo em um rabo de cavalo. Onde estavam meus óculos? Boa pergunta. Minhas bochechas estavam coradas, meus olhos arregalados e meus lábios tinham inchado como alguém que foi beijada por horas. Eu arrumei a escova de tente de bolinha azul e fiz uma expressão séria para mim mesma no espelho. Eu parecia estúpida. Tudo iria ficar bem. Reece... bem, ele não ia ficar feliz, mas ele ficaria bem. Quero dizer, inferno, ele não tinha surtado pelo sexo sem proteção e ele basicamente disse que se tínhamos acabado de criar um mini Reece ou uma mini Roxy, nós ficaríamos bem. Então ele tinha de ficar bem com isso. Eu estava apenas exagerando. Como Charlie teria dito, eu estava sendo a rainha do drama. Hora de me recompor.
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Suspirando, eu me virei e sai do banheiro. Avistando meus óculos na mesa de centro, eu os peguei e os coloquei. Reece estava na minha cozinha e ele já tinha encontrado a frigideira, o que não era difícil já que eu não tinha muitos armários. Os ovos já estavam no balcão. Ele me olhou sobre seu ombro enquanto pegava pimentas frescas e um frasco de queijo ralado da geladeira. Vê-lo em minha cozinha, sem camisa e descalço com toda aquela pele dourada a mostra era algo que eu poderia realmente me acostumar. Eu queria pintar ele – assim. Com suas costas viradas para mim, os músculos definidos e forte. “Eu estava pensando,” ele disse, colocando aqueles itens no balcão. Ele pegou o leite em seguida. “Eu preciso trabalhar hoje e você também. De quarta a sábado, certo?” Indo para cozinha, eu concordei. Ele quebrou alguns ovos em uma tigela que tinha pegado do armário. “Isso deixa ir ao cinema ou sair para jantar difícil.” Ele pausou, olhando de volta para mim. “Por sinal, eu realmente quero te foder quando você está usando esses óculos.” Calor espalhou pelas minhas bochechas. “Você é tão pervertido.” Um lado de seus lábios se curvou para cima. “Babe, você não tem ideias das coisas que eu quero e planejo fazer com você. Ideias que se estendem por anos.” Eu o encarei. “Anos?” “Anos,” ele insistiu. “De qualquer modo, de volta para o jantar e o cinema. Eu estava pensando que poderíamos almoçar e ir no cinema outro dia desde que vai ser difícil conciliar os dois em nossos horários.” Tudo que eu conseguia fazer era encará-lo enquanto ele achava os temperos e fazia os omeletes. Ele estava fazendo planos para nós – vários dias planejados. Aquele maldito inchaço no meu peito estava de volta.
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“Ou é isso ou é esperar até que nós estejamos de folga na próxima segunda,” ele disse, levantando seus braços sobre sua cabeça e se alongando enquanto o omelete cozinhava. Por Deus, aquela visão – todos os músculos esticando, as suas calças indecentemente baixas – era puro pecado. “Mas eu realmente não quero esperar até a próxima segunda. Você quer?” “Não,” eu sussurrei. Com os omeletes terminados, ele tirou a frigideira do fogo e eu finalmente me movi. Eu peguei dois pratos e copos do armário. “Então o que você acha de quinta-feira?” Ele perguntou, colocando um omelete perfeitamente dobrado em um prato. “Eu sei que sexta é mais difícil para você por causa da visita a Charlie. Então podemos almoçar.” Eu pisquei para afastar as lágrimas que apareceram de repente. Merda, ele era... tão carinhoso. Correndo para a geladeira, eu peguei o chá. “Quinta parece ótimo.” “Você está bem?” ele perguntou. Quando me virei, ele estava colocando os pratos na mesa, mas seus olhos estavam nos meus. Limpando minha garganta, eu concordei enquanto andava para o pote sobre a mesa e pegava os talheres. Sua expressão demonstrava dúvida. “Estou bem,” eu disse enquanto me sentava. Ele demorou para se sentar do outro lado. “É só que...” “O que?” ele perguntou, me observando de perto. “É só que... eu gosto de você há tanto tempo, Reece. Muito tempo.” O sorriso estava de volta. Ele pegou um garfo e o ofereceu para mim. “Babe, eu sei disso.” Eu o encarei sem emoção. “Você sabia?” Eu cortei um pedaço do omelete e coloquei na minha boca. “Oh Deus,” eu gemi. “Isso é bom.”
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“Te disse. Mas yeah, eu passei boa parte desse tempo ignorando que você gostava de mim porque havia uma grande chance do seu pai me castrando se eu fizesse alguma coisa antes de sermos velhos o suficiente para comprar álcool. E, quando esse tempo chegou, bem... merdas estavam acontecendo...” Reece franziu enquanto sua expressão ficava tensa. “Espere. Merda. Acabei de pensar em algo. Nós usamos camisinha naquela noite?” Meu estômago caiu, até meus dedos do pé. Se eu não estivesse sentada provavelmente eu teria caído. Oh merda. Merda. Merda. Merda. Eu tinha merda no lugar de cérebro enquanto encarava ele. Sangue foi drenado do meu rosto enquanto eu apertava o garfo. O gosto do omelete ainda na minha boca. “Merda,” ele disse, pegando um pedaço. “Nós não usamos camisinha, né? Acho que isso são águas passadas agora.” Inalando profundamente, eu endireitei meus ombros. Era a hora da verdade. Eu só esperava não estragar tudo agora. Eu coloquei meu garfo na mesa. “Tem algo que eu preciso te contar.” Talvez esse não era o melhor jeito de se começar essa conversa. Um pedaço fofo de ovo caiu do seu garfo enquanto ele se apoiava contra as costas da cadeira. Sua sobrancelha levantou. “Tem?” Seu tom estava nivelado, mas isso me fez tremer mesmo assim. “Sobre o que Roxy?” “Aquela noite.” Eu engoli e o pequeno pedaço do omelete que eu tinha comido fez meu estômago embrulhar. “Quando eu te dei carona para sua casa.” Ele me encarou por um momento e voltou a terminar seu omelete. Afastando seu prato, ele descansou seus braços nus sobre a mesa. “O que tem aquela noite?” Meu coração palpitava como se eu tivesse corrido várias vezes pelo meu corredor. “Eu honestamente nem sei como dizer isso a não ser que eu desejo... eu desejo ter falado com você antes, quando eu percebi que você não estava arrependido de ter dormido comigo. Que era mais sobre ter estado bêbado. Eu só estava com tanta vergonha e brava...”
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“Yeah, eu sei que você estava brava. Isso não é novidade.” Ele interrompeu. “E como eu disse, eu desejo ter podido esclarecer isso enquanto estava tendo a pior ressaca conhecida pela humanidade.” Eu também, mas esse não era o ponto. Como Charlie sempre dizia, eu era o tipo de agir primeiro sem fazer perguntas. Essa bagunça era a maior parte culpa minha. “Aquela noite quando voltamos para seu apartamento, as coisas ficaram... bem, quentes bem rápido.” “Eu imaginei isso,” ele comentou, seco. Abaixando meu olhar, eu tomei um grande fôlego. “Quando chegamos no seu quarto – o que era um ótimo quarto por sinal. Eu amei sua cama. É enorme. Bonita colcha também.” “Roxy.” Seus lábios se curvaram. Eu abaixei minhas mãos em meu colo, fechando elas em punhos. “Nós não transamos, Reece.” Pronto. Eu disse. Como tirar um band-aid. Suas sobrancelhas estavam franzidas enquanto ele inclinava sua cabeça para o lado. “O que?” ele riu. “Você... você desmaiou antes que algo pudesse acontecer. Nós não transamos.” Dizer isso em voz alta deixava mais fácil de continuar. Eu encontrei seu olhar descrente. “Nós começamos, mas você desmaiou, e eu fiquei com você para ter certeza que você estava bem. Eu não tinha percebido que você estava tão bêbado assim.” Reece me encarava. “E quando você acordou na manhã seguinte, você... você pensou que havíamos transado,” eu expliquei rapidamente. “Você tinha olhado para mim e dito que a noite anterior não deveria ter acontecido e eu não estava pensando sobre o fato que não fizemos nada.” Voltando a apoiar contra as costas da cadeira, ele tirou suas mãos da mesa e, depois, voltou a colocá-las lá. Silêncio.
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Eu estava agitada. “A manhã apenas escapou de mim. Você sabe o porque, e eu sai e... eu só... toda a situação ficou fora do nosso controle – do meu. Você estava me evitando. E eu disse a mim mesma que eu precisava contar a você assim que voltássemos a nos falar, mas...” Uma bola se formou no fundo da minha garganta. “Me desculpe. Eu deveria ter te contado naquela manhã. Eu deveria ter tirado minha cabeça da minha bunda e ter te contado. Eu ia te contar ontem a noite, mas não pareceu certo. Mas essa... essa foi nossa primeira vez, Reece. Não houve nenhuma outra antes disso.” Reece balançou sua cabeça devagar enquanto ria novamente, mas a risada – foi curta e cheia de incredulidade. “Eu... eu só preciso ter certeza que entendi direito.” A inquietação se espalhou como uma erva daninha enquanto ele balançava sua cabeça mais uma vez, fechando rapidamente seus olhos. “Durante o último ano, você esteve irritada comigo porque você pensou que eu tinha me arrependido de ter transado com você quando na verdade nós nem transamos?” Eu abri minha boca, mas o que eu poderia dizer sobre isso? “Então, você me ignorou. Você me xingou.” Ele riu abruptamente de novo. “Você me xingou sobre o que você pensou que eu entendo de um ato que nunca aconteceu?” Eu apertei meus olhos fechados por um momento. “Eu estava brava porque eu pensei que você tinha se arrependido te ter transado comigo.” “Mas nós não transamos.” Eu balancei minha cabeça. Um músculo pulsou em seu maxilar. “Você está brincando comigo?”
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Capítulo Quinze Eu sempre suspeitei que Reece não ficaria animado quando descobrisse a verdade, mas eu ainda me contraí. Reece se levantou, andando para longe da mesa. Eu não tinha ideia de onde ele estava indo, mas ele parou no meio da cozinha e me olhou. Uma longa pausa se arrastou entre nós. “Você tem ideia do quanto eu estive enlouquecendo porque eu não conseguia me lembrar daquela noite? Lembrar de como foi sentir você – estar dentro de você e dormir e acordar com você? Que depois do péssimo ano que eu tive, eu completei ele não lembrando de ter dormido com a única menina que eu me importo. Você entende o quanto isso fodeu com minha cabeça?” Minha respiração ficou presa no nó da minha garganta. “Eu nem consigo saber quantas vezes eu tentei lembrar e só Deus sabe o quão mal eu senti por não lembrar nada da nossa primeira vez. Por ter pensado que eu poderia ter te machucado de alguma forma,” ele disse, esfregando sua mão esquerda em seu peito, sobre seu coração. “E esse tempo todo, nada tinha acontecido entre nós? Você está brincando comigo?” “Não,” eu sussurrei, piscando para afastar as lágrimas. “Eu deveria ter te contado...” “Claro que sim, você deveria ter contado. Você teve onze meses para me contar, Roxy. Isso é um longo tempo.” Eu levantei. “Reece...” “Em vez disso você ficou mentindo para mim esse tempo todo?” Suas sobrancelhas levantaram e por um momento eu vi tudo que nunca quis ver escrito em seu tosto. Dor. Mágoa. Descrença. Tudo isso misturado em quão tenso seu maxilar estava. “Espere. Não efetivamente mentindo. Apenas me deixando acreditar na mentira.”
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Eu dei a volta na mesa. “Me desculpe. Eu sei que isso parece bobeira, mas eu estou arrependida. É que primeiro você não estava falando comigo, depois tanto tempo já tinha se passado e...” “E você não sabia como sair dessa mentira? Soa familiar,” ele cuspiu e eu sabia que ele estava falando do seu pai. “Por Deus, Roxy, eu nunca pensei...” Ele não terminou sua frase, mas nem precisava. Ele nunca pensou que eu voluntariamente mentiria para ele e eu tinha feito isso. Dor cortava meu peito. Eu queria me esconder debaixo da mesa, mas me forcei a ficar de pé ali e receber isso como uma adulta. Reece abriu sua boca, mas o som abafado do seu celular tocando o interrompeu. Se virando, ele foi para onde tinha deixado sua mala na noite anterior. Ele pegou seu celular de um bolso lateral. Seus olhos estavam em mim enquanto ele atendia a ligação. “O que foi Colt?” Era o seu irmão do outro lado da linha e eu não tinha certeza se era algo pessoal ou ligado a força policial. “Merda. Sério?” Reece levantou sua mão livre e passou por seu cabelo. Ele abaixou essa mão. “Isso não é bom;” Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, então eu me virei e peguei seu prato vazio. Abrindo a lava louças, eu quase deixei o prato cair. Uma calcinha minha estava no espaço para os talheres, enfiada no quadrado estreito. Minha mão tremia enquanto eu estava encarando ela. Ela era – oh Deus – ela era o frio dental de renda preta que eu desejava ter usado ontem à noite. Como nesse mundo ela terminou na lava-louça? Eu não abria a lava-louças desde domingo, se eu me lembrava bem. Ontem, eu não tinha usado nenhuma louça e tinha deixado o copo que usei na pia. Atormentada, eu coloquei o prato dentro, mas não peguei a calcinha. Eu nem mesmo queria tocar nela. Gasparzinho estava me assombrando e ele era um pervertido. Se eu tinha colocado elas lá e não me lembrava, eu precisava de um raio x da minha cabeça. Talvez eu precisasse falar com Katie sobre a sessão espirita.
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“Yeah.” A voz de Reece me assustou. “Eu posso fazer isso. Falo com você depois.” Fechando a lava-louças, eu deixei minha calcinha dentro. A última coisa que eu queria era pegá-la. Eu já tinha explicação demais para dar além de ter que explicar isso. Virando-me, eu vi Reece pegando uma camiseta da mala e colocando. Ele não estava olhando para mim enquanto abotoava sua calça. “Está tudo bem com seu irmão?” eu perguntei. Reece levantou sua cabeça enquanto arrumava a camiseta. Seu lindo rosto estava branco, vazio de emoções enquanto seus olhos azuis encontravam os meus. “Yeah. Está tudo bem.” O nó na minha garganta expandiu. Eu abri minha boa, mas ele se virou. “Olhe, eu preciso ir,” ele disse, indo em direção ao corredor. Por um momento eu estava completamente enraizada ao chão. Ele estava indo? Nós não tínhamos terminado de conversar. Entrando em ação, eu corri atrás de Reece, encontrando ele no meu quarto, sentado na beira da cama, colocando suas meias e botas. Tudo que eu consegui ver foi a bagunça que estavam as cobertas. As marcas nos dois travesseiros. A camisa que ele estava usando ontem, a que ele usou para me limpar, estava em uma bola no chão. Meu coração estava batendo tão rápido que eu tinha medo que ele fosse explodir como um balão assim que chegasse a seu limite. “Você realmente precisa ir? Agora?” “Sim.” Amarrando suas botas, ele se levantou, e ele era uns bons centímetros mais alto que eu. “Eu preciso soltar o cachorro de Colt.” Eu silenciosamente repeti suas palavras, porque eu não conseguia acreditar que era por isso que ele precisava ir. Quero dizer, eu não gostaria que o cachorro fizesse suas necessidades em locais inapropriados, mas precisávamos terminar nossa discussão. “Ele... ele não pode esperar um pouco?” “É ela,” ele respondeu, se inclinando e pegando a camisa usada. “Seu nome é Lacey e não, não pode esperar.” 169
Meu peito contraiu enquanto ele se endireitava novamente e passava por mim. A parte de trás dos meus olhos queimava enquanto ele saia do quarto e eu ficava... eu fui deixada encarando a cama. Nossa manhã juntos pareceu anos atrás. Virando-me, eu o segui até a sala. Ele já tinha sua mala em mãos e tinha colocado um boné preto. Estava puxado bem para baixo, escondendo seus olhos. “Reece, eu...” as palavras escaparam de mim enquanto ele abria a porta da frente. “Estamos bem?” Os músculos por baixo de sua camiseta branca se moveram como se ele estivesse lutando contra um torcicolo e ele me olhou. A linha de seu maxilar estava tão rígida quanto uma faca. “Yeah,” ele respondeu naquele mesmo tom sem graça. “Estamos bem.” Eu não acreditei nele, nem por um segundo. Aquela bola estava de volta na minha boca agora e eu pisquei várias vezes. Eu não consegui falar, porque se falasse, a bola iria sair. Reece olhou para o lado, seu maxilar ainda tenso. “Eu te ligo, Roxy.” Ele saiu pela porta e parou. Naquele pequeno segundo, eu me enchi de esperança como um fósforo jogado em uma piscina de gasolina. “Tenha certeza de trancar a porta.” E, então, ele tinha ido embora. Eu exalei enquanto segurava a maçaneta da porta e o observava chegar na calçada, desaparecendo da minha vista. Entorpecida, eu fechei a porta. Eu a tranquei. E fui para trás. Minhas bochechas estavam úmidas. Minhas mãos tremiam. Eu coloquei meus óculos no topo da minha cabeça e pressionei minhas palmas contra meus olhos. Oh Deus, isso tinha ido tão mal quanto poderia. Indo para o sofá, eu me joguei nele enquanto abaixava minhas mãos. “Oh Deus,” eu sussurrei. Eu sabia que ele ficaria bravo e eu tinha ficado preocupada que ele me odiaria por ter mentido. Depois de tudo, saber isso foi o que tornou tão difícil de contar a ele uma vez que começamos a nos falar novamente, mas ontem à noite – e essa manhã – eu não achava que ele iria fugir. Eu entedia que ele estava chateado, mas eu... eu não sabia o que pensar.
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Lágrimas escorriam por minha bochecha enquanto eu tentava respirar, mas ficou engasgado em um soluço. Isso não era bom e era culpa minha. Isso era culpa minha. “Pare de chorar,” eu disse a mim mesma. Parecia que havia vinte quilos a mais no meu peito e eu repeti o que ele disse quando saiu. “Ele disse que estávamos bem. Ele disse que iria me ligar.” E Reece não mentia. Não como eu.
Eu não tive notícias de Reece pelo resto da terça-feira. Eu não pintei – nem mesmo pisei dentro do meu estúdio. Tudo que fiz foi ficar deitada no meu sofá como uma pilha de merda, encarando meu celular, desejando que ele tocasse ou que chegasse uma mensagem. Reece não me ligou ou mandou mensagem na quarta-feira. Eu não entrei nem uma vez no estúdio e o único motivo que eu tirei minha bunda do sofá era porque eu precisava ir trabalhar. Eu poderia ter folgado se não fosse pelo para brisas que eu tinha quebrado. Outra péssima decisão que fiz que eu literalmente e figurativamente estava pagando. Trabalhar quarta-feira no Mona’s foi um saco. Uma dor constante se movia entre minha testa, meus olhos e de volta para minha testa. Meus olhos estavam inchados e eu disse a mim mesma que era alergia. Eu disse a Jax que era por causa disso que eu parecia mal quando ele me perguntou por que eu parecia ruim. Mas era mentira. Quando eu acordei na quarta-feira de manhã, eu ainda conseguia sentir o cheio de Reece nos meus lençóis e eu... eu chorei como quando eu descobri que Reece estava namorando Alicia Mabers, uma tenista loira e perfeita que tinha acabado de se mudar para cidade. Só que eu tive Charlie para comprar chocolate e me fazer ver filmes ruins de terror para me fazer sentir como se o mundo não tivesse acabado.
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Eu continuei dizendo a mim mesma que as lágrimas eram mais pela perda da amizade do que pelo isso poderia ter se tornado. Eu nunca me deixei realmente considerar um futuro com Reece, então as lágrimas não poderiam ser por isso. Elas não poderiam ser. No meio da noite, Brock, a besta, Mitchell apareceu sem seu usual aglomerado de meninas ou caras musculosos. Brock era meio que famoso nessas redondezas. Ele era um lutador no UFC que treinava nos arredores de Philly. Eu não tinha ideia de como ele e Jax se conheciam, mas Jax parecia conhecer todo mundo. Mais alto que Jax e com um corpo de quem passava horas em uma academia diariamente, Brock era quente. Ele tinha cabelo preto, escuro e uma pele que parecia argila cozida. Brock tinha um visual diferente que seria intimidador para as pessoas que não o conheciam, mas ele sempre tinha ficado na sua e tinha sido gentil quando estive por perto. Ele se sentou no bar, me dando uma piscadinha enquanto Jax ia em sua direção. Imediatamente, foi um bromance entre os rapazes. Eu não estava prestando muita atenção neles, mas desde que na noite de quarta apenas os regulares vinham ao bar e a música estava desligada, eu não consegui evitar ouvir a conversa. No começo, parecia nada grande. Apenas umas informações sobre uma luta e algo sobre um patrocínio que fez Jax parecer que estava tento um orgasmo, mas o assunto mudou. “Cara, o dia de hoje tem sido doentio,” Brock disse, pegando a garrafa e tomando um gole “Uma das meninas que trabalha no escritório do clube onde eu treino não foi trabalhar ontem. Simmons, o técnico, disse que ela não avisou e não apareceu, mas...” ele balançou sua cabeça, seus olhos castanhos escuro brilhando com raiva. “Algum doente a pegou.” Eu parei, apertando o pano que eu estava usando para limpar as garrafas de bebida que estavam à mostra. Jax inclinou sua cabeça para o lado. “O que aconteceu?” “Algum imbecil invadiu seu apartamento. Fez um estrago com ela pelo que ouvi.” Sua mão vazia se fechou em punho. “Cara, eu nem consigo entender como um homem pode machucar uma mulher. Eu não entendo isso.”
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“Jesus.” Jax balançou sua cabeça. “Esse foi o que? O terceiro incidente em um mês?” “Tem aquela menina que desapareceu no começo do verão.” Eu andei para onde eles estavam, colocando o pano sobre o balcão. “Eu acho que seu nome era Shelly ou algo parecido.” Brock concordou. “Eu não sou policial. Nem um psicólogo, mas parece que temos um psicopata por aqui.” Eu cruzei meus braços contra o calafrio que subiu pela minha coluna. Meus pensamentos vagaram para as coisas estranhas acontecendo na minha casa e eu enrijeci. Parecia loucura pensar que isso tinha algo a ver com as pobres meninas. Além do mais, não fazia sentido. Como alguém poderia entrar na minha casa e fazer isso sem eu saber? Mas ainda assim, eu tinha de perguntar. “Você sabe se as meninas foram perseguidas ou coisa do tipo? Se receberam mensagens?” “Não ouvi nada,” Jax respondeu, inclinando seu corpo na minha direção. Ele levantou uma sobrancelha. “Mas aposto que Reece sabe.” Oh! Como um chute no estômago, aquelas palavras me reviraram por dentro. Eu não sabia como responder a isso. Última coisa que sabia do Reece era de uns dias atrás, que as coisas estavam bem entre Reece e eu. Agora, eu não tinha tanta certeza. “Eu te digo uma coisa. Quem quer que seja esse cara, ele é um homem morto.” Os lábios de Brock se curvaram em um sorriso. “A menina que trabalhava no nosso escritório. Ela é prima de Isaiah.” “Puta merda,” Jax murmurou. Exatamente meus sentimentos. Isaiah era meio que famoso pelos motivos errados nessa região. Para os de fora, ele parecia como um cara de negócios legitimo, mas para os locais, incluindo a polícia, sabiam que ele era bem mais que isso. Ele administrava Philadelphia e todas as cidades ao redor. Simplificando, ele não era um homem para se brincar e ele era esperto sobre seus negócios ilegais, porque a força policial nunca conseguiu levantar provas contra ele.
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Era de Isaiah que a mãe de Calla tinha roubado drogas que valiam milhões de dólares. E o quão inatingível Isaiah era, a mãe de Calla nem estava morando mais por aqui. O único jeito de ela continuar viva foi desaparecer. Mas Isaiah tinha um código de ética. Um dos seus meninos – Mack – tinha ido atrás de Calla desde que ele deveria ter cuidado da sua mãe. Isaiah não tinha gostado disso já que Calla era inocente nisso. Ninguém pode provar, mas quando o corpo de Mack foi encontrado em uma estrada com um tiro na cabeça, todos sabiam que isso foi coisa do Isaiah. Mesmo que seus meninos passassem tempo aqui, eu só tinha visto Isaiah algumas vezes. De vez em nunca ele vinha ao Mona’s e ele sempre deixava gorjetas generosas. “Yep. Então não só a polícia está procurando por esse imbecil, mas os meninos de Isaiah estão também, então é melhor esse cara rezar para a polícia o encontrar primeiro ou o interior de um porta malas vai ser a última coisa que ele vai ver.” Brock se inclinou para trás, cruzando seus braços massivos sobre seu peito. Um ombro levantou. “Então, novamente, eu espero que Isaiah o encontre antes.” Isso pode me fazer uma má pessoa, mas eu meio que esperava a mesma coisa. Brock ficou até o final do turno e os meninos me acompanharam até meu carro. Ainda não havia sinal de Reece, nem uma mensagem ou ligação perdida. A dor que eu estive carregando comigo durante as últimas vinte e quatro horas era esmagadora. Antes de tudo ir a merda na manhã de terça, ele tinha me dito que queria almoçar e quando ele saiu, ele disse que estávamos bem e que ele iria ligar. Uma pequena parte de mim estava se segurando nisso até a tarde de quinta. Reece iria ligar. Nós iríamos almoçar. Ele não era um imbecil. Nunca tinha sido, então eu sabia que ele não iria me dar o cano assim. A rua do lado de fora do apartamento estava calma e o ar estava até fresco quando estacionei e andei até a varanda. Eu quase conseguia sentir o outono, e ele não estava longe. Depois desse longo e quente verão, eu não conseguia esperar pelas aboboras especiais da minha mãe. 174
Abrindo a porta, eu entrei no meu apartamento escuro e fechei a porta atrás de mim. Eu não sei porque, mas assim que fechei o trinco, um calafrio percorreu toda a minha pele. Dedos gelados trilharam minha coluna e eu congelei, encarando a escuridão do lugar. Eu fui cercada pela sensação de não estar sozinha. Os pelos do meu corpo estavam arrepiados. Meu peito subia e descia rapidamente enquanto eu estava ali parada. Talvez eu devesse ter dito algo para os meninos sobre as coisas estranhas que estavam acontecendo no meu apartamento. Se eu tivesse, eles teriam vindo para casa comigo, mas parecia idiotice mencionar, estranho demais para explicar. Agora, parecia que eu ia ter um ataque cardíaco. Sem ver nada, eu estiquei minhas mãos na frente, passando pelo abajur antes de encontrar o interruptor. Eu acendi a luz e um leve brilho iluminou a sala, mas as sombras pareciam estar mais escuras nos outros lugares. Pegando minha bolsa, eu passei minha mão em volta do meu celular e o peguei. Indo silenciosamente um pouco para frente, coloquei minha bolsa na poltrona. Agarrada ao celular, eu fui para a cozinha, acendendo as luzes. Nada fora do lugar. Enquanto eu abri a lava-louças, meio esperando encontrar um par de sutiã e calcinhas enfiados ali, eu perdi a respiração quando ouvi um barulho. Algo – algo estava atrás da minha casa, onde meus quartos ficavam. Um som de uma porta se fechando devagar? Eu não tinha certeza. Eu me virei, meu coração acelerado. Medo pinicava minha pele. Eu tinha ouvido uma porta se fechar? Ou foi apenas minha imaginação? Nessa altura, eu não conseguia ter certeza, mas eu peguei um facão de açougueiro do cepo. Inalando profundamente, eu fiz meu caminho pelo apartamento. Nada parecia diferente, nenhuma porta aberta quando não deveria estar ou vice-versa, e com todas as luzes acesas, mesmo as do banheiro, eu me joguei na cama, suspirando. Eu realmente precisava ir para a igreja local e pedir um exorcismo.
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Olhando para a faca assustadora que eu ainda estava segurando, eu a coloquei do meu lado na cama e olhei para meu celular. Eu podia mandar uma mensagem a Reece. Dizer a ele que eu achava que tinha ouvido algo no meu apartamento. Ele poderia vir, e isso não seria mentira, mas... Mas isso não seria certo. Aquilo... era como atingir um novo nível de desespero e eu não estava nesse ponto. Ainda. Eu não consegui dormir muito. Assustada pelo que tinha sentido quando entrei no meu apartamento e tudo mais que estava acontecendo, eu acordei a cada hora até que o sol nasceu e eu finalmente desisti. No amanhecer, eu me encontrei no meu estúdio. Deixando de lado a pintura da Jackson Square, eu encarei a tela branca e peguei meu pincel. Não havia nenhum motivo por trás do que estava fazendo. Minha mão tinha consciência própria. Eu estava no piloto automático. Horas se passaram e minhas costas e meu pescoço doíam por estar tanto tempo sentada na mesma posição. Esfregando a parte de baixo das minhas costas, eu me inclinei de volta no banquinho. Virei minha cabeça para o lado e murmurei. “Oh porra.” O fundo da pintura era o azul claro das paredes da minha cozinha e o branco brilhante dos armários. Nada de mais aí, mas era o que havia no centro da pintura que me fez desejar por uma lobotomia. O tom de pele tinha sido difícil de reproduzir, misturando marrons, rosas e amarelos até que eu chegasse perto do tom dourado. Os ombros tinham sido fáceis de desenhar na tela, mas as sombras e os contornos dos músculos foram os mais difíceis. Meu pulso não gostou de todo o trabalho duro que tinha levado conseguir fazer a curva exata da sua coluna e os músculos em cada lado. As calças pretas foram as mais fáceis. Eu tinha pintado Reece do jeito que eu tinha visto ele na minha cozinha na terça de manhã. Apertando meus olhos fechados, isso não fez nada para aliviar a queimação neles ou parar as lágrimas de se formarem. Frustração crescia em mim. Eu sabia sem
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olhar para meu celular que era mais de dez da manhã. Esse conhecimento fez meu peito doer e meu estômago parecia estranho, como se eu tivesse comido demais. Eu não podia esperar mais. Eu tinha esperado dois dias. Colocando o pincel na mesa, eu me levantei e fui até meu celular. Sem pensar muito sobre isso, sem me estressar sobre isso mais, eu mandei uma rápida mensagem a Reece. Sinto sua falta. Deus, isso era estranhamente verdade. Quase um ano sem falar com ele e eu tinha sentido falta dele esse tempo todo, mas tinha sido camuflada pela raiva e amargura. Com tudo isso longe, tudo que sobrou foi o quanto eu sentia falta dele. Eu apaguei isso e digitei Ainda está tudo certo para hoje? Então eu também apaguei correndo e finalmente me decidi com um Hey. Levando o celular para o quarto, eu tomei um banho rápido e sequei meu cabelo. Eu até o enrolei, deixando ele ondulado e coloquei maquiagem para que eu estivesse pronta em caso... Então eu andei pela minha cozinha e sala, estranha demais para conseguir me sentar e a cada minuto que se passava, a frustação e pânico aumentavam em mim. Meio dia se transformou em uma da tarde e, então, em duas e quando eu tinha apenas meia hora para me arrumar para meu turno no Mona’s e ainda não haviam ligações ou mensagens, aquele pequeno raio de esperança que eu estava segurando perto do meu coração se extinguiu. Reece tinha mentindo para mim. Pela primeira vez desde que eu o conheci, ele tinha mentido para mim. Porque eu sabia naquele momento que ele não iria me ligar. Tudo entre nós não estava bem.
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Capítulo Dezesseis Fazer a cama e deitar nela era provavelmente a pior coisa do mundo. Eu odiava esse ditado com uma força de mil sois, mas era verdade. Quando você está triste ou desapontava por algo que não tem controle nenhum, é mais fácil deixar isso para lá, mas quando tem algo a ver com você, é muito mais difícil de lidar. E essa bagunça com Reece era culpa minha. Claro, precisavam de dois para dançar tango, mas tinha precisado de apenas um para ficar louco, mas fui eu que tinha escondido a verdade sobre a noite a um ano atrás. Eu tinha traído sua confiança. Para qualquer um poderia não ser muito, mas foi para Reece. Honestidade era tudo para ele. Katie apareceu no meu turno na quinta a noite antes deu sair para minha pausa. Com uma olhada em mim e ela sabia o que tinha acontecido. Ou talvez fosse seu super poder de stripper. Pegando uma cesta de fritas da cozinha, nós nos escondemos no escritório. Ela se acomodou na mesa de Jax, o que me fez sorrir apesar do quão ruim estava me sentindo. Seu vestido, se alguém pudesse chamar aquilo de vestido, não sóbria sua bunda quando ela se sentava. “Me conte tudo,” ela ordenou, segurando o cesto de babatas fritas. Eu me sentei ao seu lado e contei o que aconteceu. Confiando em Katie, eu contei todos os detalhes. Bem, eu não entrei muito fundo em como eu estava segurando a cabeceira na terça de manhã. Essa parte era desnecessária. Quando terminei, Katie já tinha comido metade das fritas. “Honey buns46, o negócio é o seguinte. Tem vários poderiam e deveriam que já passou. Você não pode mudar o passado e, sejamos honestas, você não afogou um gato.” Eu fiz uma careta. “Pare de se remoer. Você sabe onde errou. Você pediu desculpas e foi sincera.” Passando o cesto, ela saiu da mesa e ficou de pé ao meu lado, suas mãos 46
Queridinha
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em sei quadril. “Se ele não puder superar isso, então ele não vale seu tempo. E eu quero dizer do jeito menos cliché possível.” Coloquei a última batata na boca e coloquei o cesto de lado. “Eu sei, mas eu gosto dele...” “Você o ama ,” ela corrigiu, se jogando no sofá de couro contra a parede. Revirando meus olhos, eu balancei minha mão, mesmo que meu coração dissesse outra coisa. “Eu não iria assim tão longe.” “Então por que você está chorando desde terça se você não o ama?” Eu estreitei meus olhos para ela. “Porque eu gosto muito dele. Eu gosto dele por muito tempo. E nós éramos amigos e agora isso foi arruinado. E eu não estou chorando desde terça.” Eu bufei quando ela pareceu duvidar. “Não o tempo todo.” Ela levantou uma das suas sobrancelhas loiras. “Okay. Primeiro você precisa parar de mentir para si mesma. Apenas admita que você esteve apaixonada por ele por muito tempo. Não tem nada de errado nisso.” Quando eu abri minha boca, ela levantou sua mão. “Segundo, foda-se ele. Não literalmente, a não ser que isso venha a calhar, mas como disse, se ele não superar isso, é culpa dele, não sua.” Concordando, eu coloquei meu cabelo atrás da minha orelha enquanto saia de cima da mesa. Eu entendi o que ela estava dizendo. “Calla e Teresa vão vir final de semana que vem. Nós quatro precisamos sair e ficar doidas.” Ela anunciou, levantando do sofá como uma deusa que tinha acabado de ser subornada. “Precisamos ficar bobas de tanto beber, falar sobre o quão estúpidos os homens são e acordar desejando nunca mais ver uma garrafa de bebida.” “Okay.” Eu balbuciei. “Tão bêbada quanto na noite anterior antes de Calla nos deixar.” Ela continuou e eu me contorci, sabendo onde ela estava indo. “Lembra? Você tinha certeza que aqueles organizadores de plástico do armário poderiam aguentar seu peso.” “Eles aguentaram meu peso,” eu disse em dúvida.
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Ela jogou sua cabeça para trás e riu histericamente. “Yeah, por trinta segundos. Você entrou naquele negócio com suas pernas tocando seu peito.” “Você fechou o zíper!” “E aquele negócio quebrou e eu pensei que você tinha quebrado sua bunda.” Eu pensei que tinha quebrado minha bunda. Assim como Calla e Teresa, o que me lembrava em quão agradecida eu estava por não ter quebrado nada, porque nenhuma dessas meninas conseguiram parar de rir para saber se eu estava viva, pelo menos. Maldita tequila. Katie andou para frente e me abraçou, me apertando tanto que eu pensei que fosse explodir. “Vai ficar tudo bem. Ele vai superar.” Eu a abracei de volta. “Você acha isso ou são seus super poderes falando?” Ela riu enquanto se afastava. “Chame isso de intuição feminina.” Eu levantei uma sobrancelha. “Mesmo?” “Yep.” Katie caminhou exageradamente. “Eu tenho que ir como se algo estivesse quente, e sim, é quente.” Dando um tapa em sua própria bunda, ela riu. “Paz, homie homes47.” Um sorriso se formou em meus lábios. Katie era... ela era diferente e ela era incrível. Ajeitando meus óculos, eu disse a mim mesma para não fazer isso, mas antes que eu deixasse a sala, eu peguei minha bolsa e meu celular de dentro dela. O pequeno sorriso sumiu dos meus lábios. Havia uma mensagem perdida mas era de Dean, e ver ela realmente me abalou. Além do fato que da última vez que nós nos falamos, eu tinha desligado na sua cara, a mensagem era exatamente igual a que eu tinha mandado mais cedo a Reece e não tinha recebido resposta. Hey. Eu exalei enquanto tristeza crescia. Puta merda, eu era a versão feminina de Dean agora, mandando mensagem para alguém que não estava interessado. Será 47
Mais um apelido que Katie deu. Mais um que pode ser algo como ‘querida’.
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que ele tinha pensado tanto sobre essa mensagem como eu fiz? Ele provavelmente tinha escrito três versões diferentes antes de se decidir por um cumprimento. Ver isso realmente foi como levar um chute no peito. Meu coração doía. Colocando o meu celular no bolso do meu jeans, eu engoli as lágrimas que estavam ameaçando me transformar em um bebê gordo e raivoso. Eu precisava me recompor. Eu tinha criado essa confusão. Reece tinha tomado sua decisão. Ao contrário do que Katie acreditava, eu não estava apaixonada por ele. Eu não tinha caído assim tão longe por ele. Eu não tinha me apaixonado por ninguém tanto assim e nunca iria.
Na tarde de sexta-feira eu não estava pensando sobre Reece. Um problema diferente tinha aparecido, bem mais sério do que a catástrofe do meu relacionamento. A enfermeira Venter estava em pé ao meu lado, ao pé da cama de Charlie, seu rosto cheios de simpatia que realmente não chegava a seus olhos. “Se você precisar de alguma coisa sabe onde me encontrar.” Com medo de falar, tudo que consegui fazer foi concordar. Ela saiu do quarto, quietamente fechando a porta atrás de si e eu ainda estava ali, de pé. Era como se alguém tivesse apertando o botão de pausar a vida. Charlie tinha voltado à alimentação por tubos. Eu queria fechar meus olhos, mas qual era o ponto? Isso não mudava o que estava vendo. Não mudava nada. Quando os abri, Charlie ainda estava na mesma posição. Sua vida, de alguma forma, rebobinada. A coberta lilás estava puxada até o peito de Charlie, escondendo tudo dos seus ombros para baixo, mas eu sabia que suas mãos estavam presas sob o lençol, amarradas a cama. Eu odiava isso, absolutamente repugnava que ele estivesse amarrado. Parecia totalmente inumano e cruel mesmo que houvesse um motivo válido para isso.
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No momento que o tubo de alimentação estivesse preso, ele começaria a puxar. Eles faziam isso para seu próprio bem, mas ainda doía de ver. Eu me forcei a sentar na cadeira ao lado de sua cama, colocando minha bolsa ao meu lado. Alcançando sua mão sobre as cobertas, coloquei as minhas sobre ela. “Charlie,” eu sussurrei. “O que vamos fazer?” Os olhos de Charlie estavam abertos e eu desejava que eles não estivessem porque havia algo de errado com eles. Eles estavam vazios, totalmente sem vida. Eu poderia pensar que ele era um manequim se não fosse pela piscada ou tremor ocasional que percorria seu braço. Medo me consumia enquanto eu encarava ele. Oh Deus, ele não parecia bem. Eu não conseguia me lembrar dele parecendo assim tão frágil antes. Minutos se passaram e o único som era os pássaros cantando do lado de fora da janela e o burburinho de conversas vindo dos outros quartos. Havia essa bola gelada no meio do meu peito enquanto eu estava ali sentada. Isso... isso me lembrava do meu avô, que tinha estado doente em um hospício antes de morrer. Eu era pequena mas lembro da minha mãe sentada ao lado de sua cama exatamente assim, segurando a mão do meu avô e sussurrando para ele enquanto dormia tão profundamente que eu não me lembrava do seu peito se movendo. Isso parecia à mesma coisa e eu não consegui afastar esse sentimento de que não estávamos sozinhos nesse quarto. Havia aquela terceira entidade e ela era a morte. Ficando o mais perto que poderia da cama, eu fechei meus olhos e descansei minha cabeça no travesseiro ao lado da sua. “Eu sinto tanto sua falta,” eu sussurrei. “Eu sei que você sabe disso.” Lágrimas caíram pelo canto dos meus olhos enquanto eu apertava mais forte o lençol com sua mão. Quem diria que eu ainda poderia chorar tão facilmente depois dessa semana que tive? Talvez eu estivesse me tornando uma bagunça emocional. Nesse momento, eu não me importava. A agitação que sentia sobre Reece era nada comparado a como eu me sentia agora. Eu queria me enrolar na cama com ele, mas eu estava com medo disso atrapalhar seu tubo de alimentação.
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Eu sabia que precisava agir como se nada estivesse errado. Eu precisava pegar a pintura que trouxe para ele – uma que eu tinha feito a semanas atrás, e eu precisava ler para ele. Isso era o costume nas minhas visitas. Eu gostava de pensar que nós precisávamos disso. Mas enquanto eu ficava ali deitada tudo que eu conseguia pensar era no passar dos minutos que tinham mudado tudo para Charlie, para mim. Não importava quantos anos tinham se passado, ainda parecia ontem.
Era sexta-feira a noite, algumas semanas depois do início das aulas e o único motivo que eu estava no jogo de futebol era porque Colton estava jogando, o que significava que Reece estava nas arquibancadas, assistindo seu irmão mais velho jogar. Charlie e eu passamos pela quinta ou sexta vez em frente da arquibancada que Reece estava sentado com seus amigos. “Cara, eu acho que isso se qualifica como perseguição, apenas para você saber.” Eu bati com meu quadril nele. “Está tudo bem em meio que perseguir.” Ele me olhou pela lateral. “Quando perseguir é algo bom?” “Quando envolve Reece Anders,” eu brinquei, rindo quando Charlie revirou seus olhos. “Ah que seja, você também acha ele gostoso.” “Não posso negar isso.” Ele olhou sobre seu ombro para onde Reece estava sentado e rapidamente olhou para frente. “Ele está olhando para cá.” “O que?” eu tremi enquanto cambaleava. Eu arregalei meus olhos para ele. “Você está mentindo.” Charlie sorriu para mim. “Não, não estou. Olhe você mesma, mas tente não parecer tão obvia.” “Como não vou ser obvia?” eu murmurei, mas eu dei outro passo e fiz uma tentativa de olhar sobre meu ombro casualmente. Meu olhar encontrou imediatamente o de Reece, como se fosse um míssil teleguiado.
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Reece estava olhando para nós – para mim. E ele estava sorrindo. Ele tinha o melhor sorriso. Grande. Amigável. Sem vergonha. Meu coração acelerou em meu peito quando comecei a sorrir de volta. “Oh,” Charlie disse. “Culpa minha.” No começo eu não entendi sobre o que Charlie estava falando então um som alto rodeou minha cabeça. Uma das lideres de torcida tinha gritado o nome de Reece. Levantando na ponta de seus tênis brancos, ela mandou um beijo para ele. Meu estômago caiu até chegar aos meus pés. Eu olhei para Charlie. Ele se contraiu. Reece não estava olhando para mim. Ele não estava sorrindo para mim. Que vergonha. Suspirando, eu voltei a andar. “Você está pronto para ir?” “Ei estive pronto para ir desde que chegamos aqui,” ele retrucou. “Mas você tinha que tirar essa perseguição do seu corpo. E olha o que aconteceu? Nada bom acontece quando se persegue alguém, Roxy.” “Eu te odeio.” Ele riu enquanto passava seu braço sobre meus ombros, me puxando contra sua lateral. “Vamos lá. Vamos voltar para minha casa. Meus pais ainda estão na casa do lado e eu achei a chave pro armário de bebidas de novo.” Eu mudei minha ideia rapidamente. “Eu te amo.” Charlie bufou. Me forçando a esquecer Reece, nós saímos pelo portão do campo de futebol. Ele ainda tinha seu braço sobre meus ombros. “Eu odeio vir a essas coisas,” ele disse. “Cada vez nós temos que estacionar no campo. Nós vamos ficar cobertos de carrapatos.” Eu sorri para o céu estrelado enquanto andávamos pela grama alta. “Você provavelmente tem doze preso as suas pernas nesse exato momento.” “Cara, isso é errado.” Ele abaixou seu braço e me empurrou.
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Cambaleando para o lado, eu ri, sabendo que ele me faria depilar sua perna quando chegássemos na casa dos seus pais mais tarde. “Eu quero assistir Never Been Kissed
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a noite.”
Mesmo no escuro e sem olhar para ele, eu sabia que ele tinha revirado seus olhos. “Esse filme é tão velho que precisa se aposentar.” “Nunca!” Eu gritei enquanto pulava sobre uma pedra que alguém quase tinha estacionado em cima. “Aquele cara é gostoso.” “Aquele cara é velho na vida real,” ele retrucou. Eu me virei para ele. “Não estrague isso.” Colocando suas mãos no bolsos de suas calças, ele balançou sua cabeça. “Eu conseguia ver o carro de Charlie parado ao lado de uma Van que não estava lá quando chegamos.” “Hey,” chamou uma voz. “Onde vocês estão indo?” Eu me virei, olhando para trás de nós e engoli um gemido quando vi Henry Williams. Ele não estava sozinho. Dois de seus amigos em cada lado seu. Os três estavam um ano acima de nós. Os três eram completos idiotas. Especialmente Henry. Ele era um idiota especial. O tipo que era bonito e realmente sabia disso, porquanto passava o rodo. “Apenas continue andando,” Charlie disse com a voz baixa. Eu não ouvi. Encarando os meninos, eu coloquei minhas mãos no meu quadril. “Nenhum lugar que vocês foram convidados.” Charlie murmurou alguma coisa enquanto parava, se virando. Eu acho que ele disse algo sobre eu estar com problema, mas essa não seria nem a primeira nem a última vez que ouviria isso. Um dos amigos de Henry riu e o som percorreu meus nervos. Era agudo, mas como a voz da cheerleader, mas sua risada me lembrou de um carro atropelando um gato.
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Nunca Fui Beijada – Filme com a Drew Barrimore sobre uma jornalista que volta para o colegial para pesquisar sobre a vida dos adolescentes.
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Henry estava absolutamente imperturbável pela minha resposta. Ele andou até onde eu e Charlie estávamos, estufando seu peito como um pavão. “Você está gostosa hoje, Roxy.” Eu levantei uma sobrancelha para ele. Charlie suspirou. “Eu estou gostosa toda noite.” Eu cruzei meus braços sobre meu peito. Ele piscou enquanto seu olhar me percorria, deixando para trás uma sensação de como se formigas estivessem andando pela minha pele. Era uma pena que ele era um imbecil porque ele não era feio de se olhar. “Isso é verdade.” Ele olhou para Charlie e minha coluna congelou. “Então o que vão fazer essa noite?” “Nós temos...” “Eu não estava falando com você.” Henry o cortou e foi como se eu realmente tivesse uma puta interna que ele tinha acabado de acionar. “Por que você não larga esse bicha e sai com...” “Licença?” eu vi vermelho. “Mas que porra você acabou de chamar ele?” Charlie pegou meu braço. “Vamos embora. Você sabe que não tem porque discutir com um idiota.” Não tinha como eu ir embora.
Enquanto eu parava de reviver os eventos daquela noite, eu me sentei e passei minhas palmas contra minhas bochechas. Culpa cobria minha pele como uma camada de suor. Abaixando minhas mãos, eu olhei para Charlie. Sua cabeça estava levemente virada, como se ele estivesse olhando para mim, mas seu olhar estava focado sobre meu ombro, para a janela. Vamos embora, ele tinha dito. Se eu apenas tivesse ouvido.
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Sexta a noite estava mais movimentada que o normal com apenas eu e Nick cuidando do bar já que Jax tinha tirado o final de semana de folga para visitar Calla em Shepherdstown. Apesar do fato de parecer uma bagunça com meu cabelo preso em um coque e usando uma blusa velha que era uns dois tamanhos maiores, eu estava agradecida pelo fato da noite estar voando. A falta de sono tinha me atingido e meu humor estava em algum lugar entre a ‘terra do foda-se’ e a ‘cidade do foda-se’. Enquanto a noite passava, meu humor se transformou na ‘cidade onde tudo é uma merda’. Normalmente Reece passava as noites de sexta no Mona’s. Talvez não a noite toda, mas ele costumava aparecer as dez. Seus colegas usuais estavam aqui, na mesa deles, mas não havia sinal de Reece e eu sabia que era por minha causa. Dean apareceu perto das onze e eu estava escondida do outro lado do bar para não ter de lidar com ele. Nick estava bloqueando ele e eu não sei o que foi dito para ele ir embora por volta da meia noite, mas eu realmente não me importada. Yeah, tudo agora estava uma merda. Manter um sorriso plantado em meu rosto era mais difícil do que deveria enquanto eu misturava os drinks e conversava com eles no bar. Focar no meu trabalho era a única coisa que me fez aguentar meu turno. Isso e saber que havia um grande pacote de nachos em casa que eu iria me acabar quando saísse. Eu iria passar queijo suíço, devorar os bastardos e ir para cidade. Sherwood, nosso chefe de cozinha temporário, tinha acabado de voltar de sua folga quando me virei para ajudar o próximo cliente que conseguiu se espremer no bar. Minha boca caiu aberta e bom Deus, o que estava acontecendo com essa noite? Henry Williams estava na minha frente e ele parecia um pouco melhor do que da última vez que eu tinha visto ele. Como se ele tivesse tomado um pouco de sol. Bom para ele. “Eu só quero conversar,” ele disse, sua voz praticamente abafada pela música alta.
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Eu segurei a garrafa de Jack tão forte que eu estava surpresa que ela não explodiu. “Eu não posso acreditar que você está aqui.” Eu disse embasbacada. “Eu estive visitando Charlie.” Ele se inclinou e meu coração desceu pelo meu corpo. “Eu sei que ele está bem mal e...” “Não fale sobre ele. Nem mesmo diga seu nome.” Eu comecei a preparar para atirar a garrafa assim como tinha feito com o livro, mas mesmo que minha mão estivesse coçando para machucar ele, eu não o fiz. De alguma forma eu aprendi com o que aconteceu da última vez. Uma menina balançou sua mão, chamando minha atenção. Atirando um olhar odioso a Henry, eu peguei seu pedido. Claro que ele ainda estava ali quando terminei o cocktail. “Por favor, Roxy,” ele disse. “Eu realmente quero...” “Você sabe o quanto me importo sobre o que você quer?” eu abri meus braços. “Esse tanto.” Nick estava do nada aqui, suas mãos plantadas no tipo do bar. “Eu realmente acho que você precisa ir embora.” “Desculpe-me.” Henry levantou suas mãos olhando entre nós. “Eu não quero saudar problemas. Só queria falar com ela. Só isso.” Raiva cresceu dentro de mim tão rápido que quando abri minha boca parecia que eu estava cuspindo fogo. “Eu não quero ver sua cara muito menos quero falar com você.” “Você ouviu a dama,” Nick disse, levantando seu braço e apontando para a porta. “Saia.” Henry parecia que iria discutir, mas balançou sua cabeça. Ele puxou um quadrado pequeno branco do seu bolso e colocou no balcão. Ele me olhou diretamente. “Me ligue. Por favor.” Eu olhei para o cartão de visitas com um tipo de um carro nele e de volta para ele. Ele já tinha se virado, fazendo seu caminho pela multidão. Antes que eu
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pudesse me conter, eu ri. E era o tipo de soava louca, meio como o som de uma hiena antes de matar algo. Nick foi pegar o cartão, mas por algum motivo desconhecido, eu o peguei antes. Ele levantou uma sobrancelha, mas eu balancei minha cabeça enquanto colocava o cartão no bolso. Ele abaixou sua cabeça para que pudesse falar perto do meu ouvido. “Por que?” “Eu não sei,” admiti, me afastando e olhando para ele. “Eu não sei.” O resto do turno foi calmo. Em vez de Reece, que eu secretamente estava esperando que fosse passar pela porta, tudo que consegui foi Dean, Henry Williams, duas meninas que tinham vomitado no chão e um cara que ofereceu para me pagar uma bebida e me dar uma carona. Quando cheguei em casa, eu estava tão cansada para me preocupar com as coisas estranhas que estavam acontecendo no meu apartamento. Colocando meu celular no criado mudo, eu tirei minha roupa e abri meu sutiã, deixando a calcinha e a blusa que poderia se passar por um vestido. Então eu fui para cama, puxando minhas cobertas até meu queixo. O dia de hoje... foi uma merda. Ontem foi uma merda. Amanhã tinha de ser melhor. Era isso que eu dizia a mim mesma enquanto estava ali, deitada, totalmente exausta. Amanhã tinha de ser melhor. E de verdade? Quando tudo aconteceu com Charlie, tinha sido pior que isso – o desamparo, a raiva e a depressão. Tudo isso tinha sido uma lâmina afiada. Eu tinha superado. Eu superaria qualquer merda que estivesse acontecendo agora por que, que outra opção eu tinha? Me enrolar e desistir? Essa não era a minha natureza. Eu não percebi que cai no sono, mas eu devo ter dormido porque acordei no susto. Sem piscar para espantar o sono dos meus olhos. Eu estava completamente alerta enquanto encarava a janela do outro lado da minha cama. Eu sonhei. Eu não lembrava exatamente do sonho, mas alguém estava chamando meu nome. 189
Esticando minhas pernas e meus braços, eu olhei para o criado mudo. Não eram nem cinco da manhã e eu tinha dormido uma hora, uma hora e meia no máximo. Fracasso. Eu estava prestes a me virar para o lado quando percebi que a luz do meu celular estava ligada, como se uma mensagem ou ligação tivesse sido recebida e eu não tinha voltado a dormir ainda. Me levantando, eu peguei o celular e com o coração na boca, eu apertei o botão. Havia apenas uma pessoa que poderia ter mandado uma mensagem ou ligado a essa hora. Reece. Esperança cresceu em mim como um canhão. Yeah, mensagem ou ligação quase as cinco da manhã não era a melhor coisa, mas era algo e era melhor que nada. A tela veio à vida e eu deslizei a pequena barra, desbloqueando, e primeiro eu não sabia o que estava vendo. Eu não tinha entendido, não conseguia entender. Não era uma mensagem ou uma ligação perdida. Minha mão começou a tremer. Desbloqueando o celular tinha me levado ao último programa usado, o que deveria ter sido nada – apenas a tela inicial. Exceto que não foi a tela inicial. Abriu a galeria de fotos – minhas fotos. E havia uma foto na tela. Um grito explodiu de mim e subiu para minha garganta, mas quando eu abri minha boca, não houve som. Horror tinha bloqueado. Havia uma foto no meu celular, uma que eu nunca poderia ter tirado, porque era de mim. Uma foto minha dormindo.
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Capítulo Dezessete Medo e incredulidade me mantinham imóvel enquanto eu olhava para a minha foto dormindo. De alguma forma, percebi que esta imagem era de hoje à noite, porque eu podia ver as tiras azuis escuras e rosa que formavam as alças da minha blusa. Meu Deus. O medo crescia dentro de mim como se estivesse me encharcando com água gelada. Com meu pulso acelerado e o único ar que eu consegui retirar de dentro de meus pulmões, saindo em respirações superficiais, lancei-me para fora da cama. Meus pés descalços escorregaram no piso de madeira. Cheguei à porta do quarto, atirando-a aberta, e corri pelo curto e estreito corredor. Eu estava na porta da frente quando percebi que quem tirou essa foto - porque tinha que ser uma pessoa desde que duvidava que um fantasma podia fazer isso - poderia estar lá fora. Meu Deus. A pessoa ainda poderia estar lá dentro. Entrei em pânico, não sabia o que fazer. Nunca na minha vida eu tinha estado em uma situação como esta. Eu me afastei da porta e, em seguida, virou-me, correndo para o banheiro. Uma vez lá dentro, tranquei a porta e me afastei até que bati no vaso sanitário. Eu me sentei na tampa, lutando para respirar devido a pressão do esmagamento pelo medo. Comecei a chamar a primeira pessoa que me veio à mente. Reece. Meu dedo estava certo sobre seu contato quando parei. Qual era o ponto em chamá-lo? Ele não responderia. À beira das lágrimas, comecei a chamar Jax mas lembrei que ele estava fora da cidade. Parte de mim não estava pensando direito. Eu precisava chamar a polícia. Alguém tinha estado em meu apartamento enquanto dormia. Eles ainda poderiam estar. Mas as minhas células cerebrais não conseguiam se comunicar umas com as outras.
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Liguei para o Nick. Ele atendeu no segundo toque. "Roxy?" "Eu acordei você?" Pergunta estúpida, mas é o que saiu da minha boca. "Não. Eu não tinha ido dormir ainda. Você está bem? " Olhando fixamente para a porta do banheiro, puxei minhas pernas até meu peito. Um zumbido pegou nos meus ouvidos, como se estivesse sentada ao lado de uma colmeia de abelhas. "Eu... Eu acho que tem alguém aqui no meu apartamento". "O que?" Sua voz veio afiada como um chicote. Respirei estremecendo e sussurrei: "Eu acordei e havia uma foto minha no meu telefone -uma foto minha dormindo." "Puta merda". "Eu não tirei essa foto." Respirei profundamente, mas ficou preso. " Tem várias coisas estranhas acontecendo por aqui. Minha máquina de lavar louça ligada enquanto eu não estava em casa. O controle remoto na geladeira. O assento do vaso sanitário levantado e outras coisas. Eu pensei que o meu apartamento estivesse assombrado, mas isso, eu sei que foi alguém, bem vivo e respirando, que fez isso. " "Jesus, Roxy, e a polícia está a caminho?", Perguntou ele. "Não. Eu ainda não os chamei". Houve um nano segundo de silêncio. "Você ligou para o Reece?" "Não." Endireitei, colocando os meus dedos dos pés no piso frio. "Eu não posso chamá-lo.” “Ele- " "Você está ficando louca, garota? Você precisa chamar a polícia agora. Aguarde. " Parecia que ele estava se movendo. A porta se fechou. "Onde está você?" "Estou no meu banheiro." Eu estava de pé, empurrando meu cabelo para trás do meu rosto. "Eu apenas não estava pensando. Eu acordei, vi a foto e entrei em pânico."
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"Estou indo até a sua casa agora e estou chamando Reece. Ele está de folga às Sextas, certo? Ele vai resp- " "Não o chame. Por favor, não o chame." Eu apertei meus olhos fechados. "Ele não... não estamos realmente nos falando agora e não quero que ele... somente não o chame." A verdade era que eu sabia o quão louco isso era, e quão bizarro era acordar e encontrar uma foto minha no telefone. Alguém poderia facilmente acreditar que eu tinha feito isso para chamar a atenção, e como as coisas estavam com Reece agora, eu não quero que ele pense isso. "Você está aí?" "Sim. Eu estou indo pra sua casa, mas preciso que você desligue o telefone e ligue para a polícia. Você precisa fazer isso agora ", disse ele, sua voz calma, quando ouvi um rugido de motor sendo ligado. "E você precisa ficar nesse banheiro até que eu chegue ou a polícia. Você entende? " Eu me senti uma estúpida por não chamar a polícia imediatamente. "Ok. Vou chamá-los agora. Sinto muito-" "Não se desculpe, Roxy. Chame a polícia. Eu estarei lá." Fiz o que deveria ter feito imediatamente. Liguei para a polícia. A despachante não riu histericamente no meu ouvido quando disse a ela que tinha acordado e encontrado uma foto minha dormindo no meu celular. Ela pegou minhas informações, e ficou ao telefone comigo até que Nick buzinou deixando-me saber que ele estava lá fora. Eu não tinha ideia de como ele chegou a minha casa tão rápido. O número de leis que ele tinha ter quebrado me surpreendeu. Abrir a porta do banheiro foi a coisa mais assustadora que já tive que fazer. Meu corpo inteiro tremia quando agarrei a maçaneta. Quando abri, esperava ver um serial killer com uma máscara de palhaço esperando por mim, mas a sala estava vazia. Corri para a porta uma segunda vez.
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Nick entrou, vestido como se tivesse saído mais cedo no bar. Ele mal olhou para mim quando pegou minha mão livre na sua e começou a acender as luzes por todo o apartamento. "Você estava no seu quarto?" "Sim. Eu estava na cama. " Minha voz falhou enquanto o seguia com as pernas trêmulas. Ele me guiou em direção ao sofá. "Fique aqui." Alcançando atrás de mim, ele puxou a colcha fora do sofá, e colocou sobre minhas pernas nuas. Foi quando percebi que estava andando em minha calcinha e top. "Eu estou indo verificar o seu quarto rapidamente, okay? " Entorpecida, enfiei o cobertor em torno de minhas pernas enquanto segurava o meu telefone. Os próximos segundos foram surreais. No momento em que ele saiu da sala, não queria estar sozinha. Levantando-me, envolvi o cobertor em torno de mim e o encontrei apenas saindo do meu quarto extra e se dirigindo para o principal. Nick me enviou um olhar quando ele verificou a janela. "Eu não quero ficar sozinha", eu admiti com voz rouca. Eu não queria estar em qualquer lugar da casa sozinha. Ele assentiu com a cabeça e em seguida, atravessou a sala, abrindo a porta do armário. Eu poderia ouvi-lo arrastando os cabides. Então ele se virou para mim. "Você teria algum moletom que poderia vestir? Eu acho que a polícia está lá fora." Corando, corri para a cômoda e peguei um shorts de algodão. Nick começou a sair da sala. "Você pode ficar? Por Favor?" Passando a mão pelo cabelo escuro, ele se virou, me dando privacidade. "Jesus, Roxy, eu não acho que já vi você tão assustada." Deixei cair o cobertor e puxei o shorts com as mãos trêmulas. Então peguei o cobertor, mais uma vez, segurando-o ao meu peito. Não disse nada, enquanto voltamos para a sala de estar. Eu podia ver o azul e o vermelho das luzes piscando do lado de fora. O oficial que Nick deixou entrar era em torno da idade de Reece, e eu vagamente o reconheci. Ele veio ao bar um par de vezes com os caras. Eu pensei que
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ele poderia ser comprometido ou algo assim. Sem meus óculos, não podia ler o seu nome. Felizmente ele se apresentou, poupando-me de descobrir isso. Policial Hank Myers. Ah sim. Hankie Hank. Lembrei-me dele. Esse era o apelido que a Katie deu para ele, e ele não era comprometido. Pensando bem, eu acho que ele tinha certo tesão por Katie, porque tinha certeza que ele a deixaria usá-lo como um pole várias vezes no Mona. Nada disso era importante. "Eu verifiquei o apartamento", disse Nick. "A janela do quarto adicional estava aberta. " Engoli seco. "O quê?" "Eu acho que foi assim que alguém entrou em sua casa. O estranho, porém, é que eu não achei a tela. " "Eu não ... Eu não tenho uma tela nessa janela no momento. " Eu assisti Hank sair da sala. "Ela estava quebrada há alguns meses e o proprietário estava vindo para repará-la." Minha respiração engatou. "A pessoa ... veio através da janela? Oh, Deus." Hank fez uma busca rápida que durou alguns minutos, antes de retornar para a sala de estar. "O que está acontecendo, Roxy?" Sentando-me no sofá envolta no cobertor, eu disse a Hankie Hank sobre a foto. Seu rosto era inexpressivo quando me fez o seu pedido. "Posso ver seu telefone?" Eu entreguei-o, e quando olhei para as minhas mãos, o telefone tinha deixado marcas finas em minhas palmas. "Você tem que ir nas fotos." Nick se sentou no braço do sofá. Ele ficou em silêncio, mas apreciei sua presença e por não estava lidando sozinha com isso. Uma dor perfurou meu peito, quando pensei que apenas alguns dias atrás, eu teria chamado Reece. Inferno, mesmo durante os 11 meses que não fomos legais um com o outro, eu provavelmente não hesitaria em chamá-lo e acredito, sem dúvida alguma, que ele estaria aqui.
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Com o uniforme azul escuro esticado sobre os ombros, Hank olhava para o meu telefone, suas sobrancelhas loiras levantadas. Ele olhou para mim. "E isso estava no telefone quando você acordou? " Quando eu balancei a cabeça, ele olhou para a foto novamente. "Não havia nenhuma maneira que isso aconteceu antes de hoje à noite?" Eu balancei minha cabeça. "Não. E quando acordei, minha tela ainda estava iluminada. Isto tinha apenas acabado de acontecer. " "Existe alguém que poderia ter feito isso como uma piada? Alguém que tenha acesso ao seu apartamento? " "Só a minha família tem as chaves para o meu apartamento e não fariam isso. Além disso, a janela estava aberta no meu outro quarto. Obviamente, se alguém tinha as chaves, por que fariam isso? " "As pessoas fazem coisas estúpidas o tempo todo, Roxy. Merda que não faz sentido ", Hank explicou. Nick se inclinou para frente. "Diga ao Hank o que você me contou sobre o que também estava acontecendo." Quando os olhos castanhos de Hank trancaram em mim, de repente senti que devia ter cuidado com o que eu estava dizendo. Era como se ele estivesse olhando para mim com desconfiança, mas a dúvida nublou seu olhar. Eu comecei a contarlhe, mas uma batida na porta me fez saltar. "Esperando alguém?", Perguntou Hank. Nick levantou-se, mas quando balancei a cabeça, o policial fez sinal para ele ficar para trás. Fiquei surpresa quando Nick obedeceu, e ainda mais chocada quando mudou para sentar-se ao meu lado. "Você está bem?", Ele perguntou em voz baixa. Eu balancei a cabeça. "Sim. Obrigado." Meu olhar desviou para onde Hank estava. De onde eu estava sentada, podia ver quem era, quando a porta se abrisse.
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Era James e, qual era o nome do outro -Kip. Meus vizinhos do andar de cima. "Nós vimos as luzes da polícia", disse James enquanto se esforçava para ver mais além de Hank. "Nós queríamos ter certeza de que Roxy estava bem. " O fato deles se levantaram nesta hora da manhã para ver como eu estava, me fez querer abraçá-los. "Está tudo bem", Hank aconselhou. "Mas preciso que vocês retornem para suas residências. Se precisar de alguma coisa, sabemos onde encontrá-los. " James não se moveu. "Ok, tudo certo Roxy?" "Sim. Eu estou bem. " Eu levantei minha voz para certificar-me que os dois rapazes podiam me ouvir, e odiava o jeito que minha voz tremia. Eu odiava ter medo assim. "Tudo está bem". Hank conseguiu afastá-los para fora da porta, mas ele não chegou a fechá-la como esperava. Em vez disso, deu um passo para o lado e disse: "Eu recebi o telefonema, amigo. " Meu coração quase pulou para fora do meu peito, quando outro policial entrou a passos largos em meu apartamento. Só que não era apenas qualquer oficial. Era Reece. Talvez eu estava tendo alucinações, e tudo isto era um pesadelo. Reece andou pelo meu apartamento como se morasse aqui. Sem mesmo responder a Hank, ele deu a Nick um olhar superficial, enquanto entrou na sala. "O que diabos está acontecendo?" Incapaz de formar uma resposta, eu apenas olhei para ele. Hank suspirou quando fechou a porta da frente. "Tivemos um chamado-" "Eu ouvi o chamado", Reece cortou. Seus olhos eram o mais escuro tom de azul que já vi. "Eu não podia acreditar quando ouvi o endereço de uma possível invasão, porque tudo que conseguia pensar era se ele realmente fosse seu endereço,
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você apenas não chamaria a polícia." Ele bateu a mão forte em seu peito, acima do distintivo. "Você me chamaria." Meu queixo caiu. Ok. Eu estava seriamente tendo alucinações. "Pensei que você tinha as sextas-feiras de folga?" Nick comentou secamente. "Eu estou cobrindo alguém hoje à noite." Aqueles olhos azuis-escuros cortaram para ele. "Que diabos você está fazendo aqui?" Nick se inclinou para trás, jogando um braço sobre o encosto do sofá. "Ela chamou a mim. " Reece estreitou seu olhar sobre o referido braço atrás de mim. "Ela o chamou?" Hank limpou a garganta. "A janela estava aberta no quarto extra, e ela diz que teve uma foto tirada dela enquanto estava dormindo. " A maneira como ele disse, com um toque de sarcasmo, me tirou dos eixos. "Isso é o que aconteceu." Reece inclinou a cabeça para o lado enquanto enrijecia os ombros largos. "O quê?" "Alguém tirou uma foto dela com seu telefone enquanto ela estava dormindo," Nick repetiu, e tornou-se óbvio que Reece não tinha ouvido essa parte do chamado. Reece tinha ouvido o meu endereço e correu aqui? Eu nem sequer sei o que pensar disso. Ele estendeu a mão para Hank. "Deixe-me vê-lo." O telefone foi entregue, e em seguida, Reece amaldiçoou em voz baixa. "A janela do quarto estava aberta? " Hank acenou com a cabeça. "Se ela estava trancada, eu não tenho nenhuma ideia de como ele conseguiu abri-la. O vidro não foi quebrado." Ele olhou para mim. "Eu estou supondo que você normalmente bloqueia suas janelas. Se não, você pode querer começar a fazer isso. "
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"Eu tranco minhas janelas." Meus dedos se apertaram na borda do cobertor. "Eu sempre tranco minhas janelas. " Todos na sala trocaram olhares duvidosos, que entendi dada a situação atual. "Espere", eu disse, sentando mais pra frente para que meus pés tocassem o chão. "O que você está fazendo aqui, Reece?" Um músculo estalou em sua mandíbula. "Eu não posso mesmo acreditar que você está perguntando isso. Bem, quer saber, eu não estou tão surpreso." "Desculpe-me?", Eu disse. Seus olhos brilharam quando ele olhou para mim. "Você vai a sério me perguntar por que estou aqui? " Levantei do sofá, deixando cair o cobertor e fui de igual para igual com ele, o que significava que eu estava no nível dos olhos com o seu peito, mas o que fosse. "Sim, eu vou fazer essa pergunta e se você não está surpreso com essa pergunta, então, você é um idiota!" "Um idiota?" Sua mão grande enrolada no meu telefone levantou, e ele apontou para o meu quarto. "Você deixou sua janela do quarto desbloqueada sabendo que há alguém nessa cidade- " "Eu não deixei minha janela desbloqueada! Assim como não o chamei para vir aqui!" Ele baixou o queixo, seus olhos nunca deixando os meus. "Nós vamos falar sobre isso mais tarde, Roxy. " Toda emoção dentro de mim ferveu e se derramou. "Isso é loucura", Eu disse, minhas mãos apertando em punhos. "Você tem me ignorado por dias. E você, você mentiu para mim ". Reece recuou, encolhendo-se. Sem se importar com o fato de que tínhamos uma audiência, eu não parei e sabia que deveria parar. Isto não era da conta de ninguém e minha voz estava rachando nas palavras, mas como ele ousa ficar aqui e agir como se tivesse o direito de estar aqui. "Você mentiu também, Reece. Você me disse que tudo ficaria bem e
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que você me chamaria. Sim, bem, me chame de idiota, mas a última vez que verifiquei, você não fez isso e as coisas não estão bem. 'Oh, vamos fazer o almoço’ Blah! Você nem mesmo enviou um texto de volta pra mim, seu bastardo." "Oh, uau, isso está indo em uma direção que não esperava", murmurou Nick. "Não te enviei um texto de volta?" Os olhos de Reece se arregalaram. "Eu mandei uma mensagem de volta na Quinta-feira. Eu lhe disse no texto: " Ele se interrompeu. "Eu mandei uma mensagem para você." Atordoada com a mentira deslavada que ele ia contar, eu ri duramente. "Não, você não mandou." Hank olhou entre nós dois incomodado, mudando o seu peso de um pé para o outro. "Uh, gente, eu acho que nós precisamos recuar um pouco aqui." "Besteira, Roxy," Reece estalou. "Eu enviei um texto pra você de volta." Eu cruzei os braços. "Então seu texto apenas magicamente desapareceu. Tanto faz. Você não tem outro chamado para atender? Eu acho que Hank tem este aqui sendo resolvido. Certo, Hank? " Hank levantou as mãos como se ele estivesse dizendo que ele não queria participar deste processo. Muita ajuda. "Eu não posso acreditar nisso." Reece enfiou a mão no bolso de trás e pegou seu telefone. Depois de tocar a tela, ele virou seu telefone pra mim. "Olhe para isso", disse ele, e quando comecei a olhar para longe, ele se aproximou. "Olhe para o meu telefone, Roxy." Soprando uma respiração áspera, eu relutantemente fiz o que ele pediu bem, ordenou. Dei ao seu telefone um olhar rápido e abri minha boca, pronta para disparar alguma coisa espertinha, quando bati minha boca fechada. O que ... ? Peguei o telefone de sua mão, segurando-o perto do meu rosto para que pudesse distinguir as palavras e a data. ‘Ei, vamos reagendar o almoço para o domingo. Podemos conversar depois.’
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O texto estava marcado com hora e data. Ele mostrou que foi entregue; provavelmente não mais de 10 minutos depois que enviei o texto, enquanto estava no chuveiro. Olhei para o texto, meio que esperando que ele desaparecesse como uma invenção da minha imaginação. "Eu juro", sussurrei, olhando para ele. "Eu nunca vi esse texto. Eu sei que ele diz que foi entregue, mas eu nunca vi isso." Reece segurou o meu olhar por um longo momento. "Eu pensei que você estava chateada porque eu estava remarcando." Ele gentilmente retirou o seu telefone da minha mão. "E é por isso que você não me mandou um texto de volta. E só pra você saber, eu estava pensando em aparecer aqui no domingo, com texto ou sem texto." "Alguém poderia ter excluído o texto antes que você o visse?" Nick sugeriu. O ar frio percorreu minha espinha e arrepiou os cabelos minúsculos da minha nuca. Isto... isto era louco e assustador. "Quem iria invadir a casa apenas para apagar um texto?", Perguntou Hank, cruzando os braços. "Isso pra não falar, estar na casa no momento certo para apagar um texto e só excluir um, o de Reece? Eu não estou tentando ser um idiota, mas a probabilidade disso acontecer é mínima." Eu sei que soa louco, mas era o que devia ter acontecido. Eu não vi esse texto. Se tivesse, eu teria respondido e o texto teria salvado alguma dor de cabeça. Nem todas, mas algumas. Embora, agora, eu não poderia envolver minha cabeça em torno do fato de que ele tinha me mandou uma mensagem e ele tinha planejado me ver. Nada disso parecia ser importante neste momento. Tensão rastejava sobre o rosto marcante de Reece quando ele olhou para o meu celular. Seus dedos estavam brancos de seu aperto forte. "Isso não é a única coisa estranha", disse Nick, arrastando o enervante olhar fixo de Reece. "Diga a ele o que você me contou." Sentei-me na borda do sofá, além de instável. "Algumas semanas atrás eu cheguei em casa do trabalho e a máquina de lavar louça estava funcionando. Eu não a tinha programado, e, honestamente, eu nem sei mesmo como fazer isso. "
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Hank arqueou uma sobrancelha. "Continue falando", disse Reece calmamente. Não foi fácil, porque eu sabia como insano tudo isso soava. "Uma manhã, eu acordei e encontrei o controle remoto na geladeira. Pensei que talvez tivesse feito isso sem me lembrar, mas nunca fiz nada parecido com isso antes. Em seguida, houve a coisa do assento do vaso sanitário..." Enquanto eu falava, Reece estava com seu rosto em branco e a mão enrolada em um punho. "Eu não tinha feito isso. Eu tenho certeza disso. Então houve este outro momento, quando uma nova tela tinha sido pendurada no meu cavalete. Pequenas coisas assim, coisas que eu não podia ter certeza se tinha feito ou não. Eu realmente pensei que o meu apartamento estava assombrado. Eu disse isso à minha mãe e Katie." Uma curta risada me escapou. "Eu sei que soa estúpido, mas depois... " Eu nunca tinha visto Reece imóvel como ele estava, em pé na minha frente, com o seu rosto tão duro, como se tivesse sido esculpido em mármore. "Então o que?" As pontas das minhas orelhas queimavam. Esta era a última coisa que queria mencionar na frente de Hank e Nick. "A coisa realmente assustadora, tipo tão assustadora quanto tirar uma foto minha enquanto dormia, aconteceu um par de dias atrás. Terça de manhã, " eu acrescentei, e o olhar de Reece estava afiado enquanto seu peito subia. "Eu estava colocando os pratos na máquina de lavar louça." "Lembro-me disso," ele disse. Ok. Bem, imaginei que não estávamos escondendo nada neste momento. "Um par ...” Engoli em seco quando o calor viajou por todo meu rosto. "Um par de minhas calcinhas estavam colocadas no cubículo de utensílios. E não, eu não fiz isso." "Jesus", murmurou Nick enquanto ele esfregava a mão pelo cabelo. Ele olhou de volta para a cozinha, seu lábio curvando como se ele estivesse enojado com a máquina de lavar louça. Hank não disse nada. Ele só olhou para mim com o que tinha que ser uma expressão de "Que porra é essa".
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Mas foi Reece que segurou a minha atenção. Ele estava imóvel como uma estátua enquanto continuava a olhar para mim. "Por que você não me disse nada? " Sua voz era quase um sussurro. Meus ombros de repente caíram e uma onda de exaustão se abateu sobre mim. "Nós estávamos falando... outras coisas naquele momento, e eu não..." Eu parei, balançando a cabeça. Eu sabia o momento exato em que ele percebeu o significado disso. Sangue tingiu o oco de suas bochechas. Essa onda de raiva era realmente um pouco assustador, e se eu não o conhecesse, a fundo, acharia que isso era dirigido a mim, e teria ficado um pouquinho assustada com ele. Uma miríade de emoções cruas cintilou em seu rosto. "Eu estava aqui e..." Ele não terminou essa linha de pensamento. Ele se virou para o outro policial. "Eu ficarei com esta chamada, Hank." "Mas" "Eu fico com esta chamada", reiterou, a voz dura o suficiente para enviar um arrepio através da minha pele. Hank olhou para ele um momento e depois revirou os olhos. "Tanto faz." Apertou um botão em seu rádio no ombro, e disse: "Aqui é 10-08. Unidade 3-O-1 está lidando com a possível invasão. " Houve uma resposta cheia de estática que eu mal ouvi, e, em seguida, Hank se foi. Nick permaneceu de pé junto à cadeira. Ele levantou a mão, esfregando o queixo. "Você está bem?" Eu não tinha certeza se queria que Nick saísse, porque isso significava que seria apenas eu e Reece, mas sabia que Nick estava tão exausto quanto eu. Eu balancei a cabeça. "Obrigado por ter vindo. Devo-lhe uma." Reece lançou seu olhar para a janela, sua mandíbula friccionando. "Você não me deve nada." Nick olhou para Reece, com olhos estreitados. "Tem certeza que está bem aqui agora?"
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"Sim", eu murmurei, meus pensamentos em mil lugares diferentes. Nick parou na porta. O sorriso no rosto advertiu problemas. "A propósito, amei os laços em sua calcinha. " Oh, pelo amor de Deus. A mandíbula de Reece se apertou tão forte que pensei que iria se romper, enquanto observava Nick sair porta a fora. Então, éramos apenas nós agora. Ele estava de costas para mim por alguns segundos e, em seguida, virou-se. Caminhando até o sofá, se sentou na beirada da mesa de café, em frente a mim. "Estamos bem?" Sim. Não. Talvez? Eu não fazia ideia. Estava sendo demais pra mim. Assustada não era mesmo a palavra certa de como eu me sentia. Alguém esteve aqui na minha casa- repetidamente. Eu senti... Eu me senti violada, como se todas as minhas paredes tivessem sido retiradas da minha casa, e me senti estúpida por sequer pensar que todos os estranhos acontecimentos fosse algo sobrenatural. Então, novamente, por que sequer pensaria que alguém estava invadindo a casa só para mexer com as coisas dentro dela? Estremeci quando a realidade realmente se abateu sobre mim. Alguém tinha estado em meu apartamento. Alguém esteve aqui muitas vezes, até mesmo enquanto eu estava aqui. O medo residual atingiu mais uma vez. Como no inferno me sentiria segura nesta casa novamente? Estava irritada, porque tiraram isso de mim, e não havia nada que pudesse fazer. "Eu não sei o que sentir," eu disse finalmente, recostando-me contra a almofada. Ele apoiou os braços sobre os joelhos dobrados enquanto soltava um suspiro cansado. Meu olhar desviou-se, colidindo e retendo com o dele. Em um segundo, os escudos caíram, e chupei uma respiração instável. Ele parecia em conflito - rasgado. Como se estivesse experimentando a mesma faixa selvagem de emoções que eu estava.
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"Por que você não me disse que essas coisas estavam acontecendo?", Perguntou. Abaixei meu queixo, dando de ombros. "Eu honestamente pensei que o meu lugar estava assombrado. Quer dizer, por que eu acharia que alguém estava invadindo para apenas mover objetos ao redor e fazer coisas estranhas como essa? E algumas das coisas, eu poderia ter feito sem perceber ou esquecido, como o máquina de lavar louça, coisinhas assim. " "Será que você colocaria suas próprias calcinhas na máquina de lavar?" "Não." Eu fiz uma careta. "Então você sabia que não poderia ser você, baby." Ele se endireitou, olhando ao redor da casa. "Quando foi a última vez que você usou a maquina de lavar louças antes de encontrá-las lá?" Eu sabia o que ele estava pensando. "Eu não verifiquei a máquina de lavar louça na segunda-feira. " "Mas você estava em casa durante todo o dia, certo?" Balançando a cabeça, puxei minhas pernas para cima e passei meus braços em volta dos meus joelhos. Ele não precisa dizer isso em voz alta. Eu sabia o que ele estava pensando. Hoje à noite não era a primeira vez que a pessoa tinha entrado em meu apartamento enquanto eu dormia. Era a única explicação plausível. Fechando os olhos, descansei minha testa contra os joelhos. Minha voz soou incrivelmente indefesa quando falei. "Por que alguém faria isso?" "Para mexer com a sua cabeça, Roxy. Esses tipos de coisas, o que estava sendo feito por aqui, mesmo que pequenas, eram o suficiente para que ele te enlouquecesse e fizesse você se questionar, e o mais importante, foi que você se questionou. O que significava que você não contou a ninguém. Você guardou para si mesma." Houve uma pausa. "Porra, Roxy, eu gostaria de saber. Não havia nenhuma razão para você lidar com isso sozinha ". "Você acredita em mim?", Perguntei. Minha voz sendo abafada por minhas pernas. 205
"Por que diabos eu não iria acreditar em você?" Eu dei de ombros desequilibrada. "Hank estava me dando um olhar WTF49. Eu não o culpo. Tudo soa muito suspeito." "Foda-se o Hank. Ele é um idiota. E quando eu tiver minhas mãos em quem está brincando com você, estou seriamente indo matá-lo. Mas isso é algo que vamos falar mais tarde." Minha cabeça disparou e fiquei boquiaberta. Sua reação me chocou, considerando todas as coisas. Reece se levantou. "Eu não quero que você fique aqui." A ideia de ficar aqui, especialmente agora, era algo que também não queria. "Eu também vou precisar levar o telefone para ver se podemos obter impressões digitais -que não sejam as minhas, suas, ou Hank. Nick não tocou nisso, certo? " Eu balancei minha cabeça. Hoje à noite tinha sido um borrão. "Eu acho que não." "Você tem um telefone extra que você possa mudar o serviço enquanto isso?" "Sim. Eu tenho um mais antigo." "Bom. Por que você não vai arrumar algumas coisas?", disse ele, dando um passo em torno do sofá. "Vou levá-la para minha casa. Eu ainda tenho um par de horas até meu turno acabar, mas pelo menos você vai ser capaz de dormir um pouco." Eu novamente pensei que estava tendo alucinações. Quando não me mexi, Reece continuou. "Isso funciona perfeitamente. Eu preciso que você fale com Colton. Ele pode vir ao meu lugar. Ele está investigando o que está acontecendo por aqui. É por isso que tive que ir passear com seu cachorro terça-feira de manhã."
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Olhar WTF (what the fuck) = Que porra é essa?
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Ocorreu-me, então, a conversa entre Brock e Jax. "A garota que trabalha no local de treinamento de Brock? " Reece estreitou os olhos em mim. "Você ouviu?" "Sim, Brock estava no bar. Ele disse..." Eu tremi. "Ele disse que ela parecia realmente estranha. Ela era... ? " Eu não conseguia nem mesmo repetir. A cara de policial apareceu. Toda emoção se foi. "Eu não posso entrar em detalhes. Não porque não acredito que você possa manter sigilo, mas é por respeito a Vic. Mas temos certeza que todos os ataques recentes estão ligados. A violência tem sido cada vez maior. " "Por quê?", Eu sussurrei. Seu olhar segurou o meu. "Tem sido, fisicamente, pior do que você pode imaginar." Um tremor de repulsa rolou através de mim. "Oh meu Deus, essas pobres garotas. Eu..." Meus olhos se arregalaram. "Você não acha que isso tem alguma coisa a ver com o que aconteceu com eles?" Ele se ajoelhou, colocando a mão no meu joelho. "Eu não sei, mas nada, eu juro, nada como isso vai acontecer com você. Agora, vamos lá, vamos seguir. " Observei-o levantar e girar. "Espera. Eu não posso ir para sua casa. " Diante de mim, ele inclinou a cabeça para o lado. "Por que não?" "Por que não? Hum, acho que você praticamente deixou claro que você... que menti e você não pode lidar com isso. Então eu não posso ficar com você." Não havia outra maneira de dizer isso. "Eu posso ficar com meus pais." Seu rosto suavizou por um momento. "Você e eu ainda precisamos conversar. Só que agora não é o momento certo para isso. Você está vindo para casa comigo." Meus olhos se estreitaram. "Eu realmente não acho que você tem o direito de ser tão mandão." "Você realmente quer acordar seus pais? Você vê que horas são, quer assustálos assim? "
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Eu fiquei boquiaberta. "Caramba, você está certo, mas isso é baixo." "Não é baixo. É apenas a verdade", ele respondeu. "Vamos lá, vamos pegar as suas coisas e te tirar daqui. " Honestamente, eu poderia sentar e discutir com ele. Eu poderia ir para a casa da Katie ou esperar até que fosse uma hora mais decente, mas podia ver a determinação gravada em seu rosto. Esta não era uma batalha que ganharia com facilidade e, francamente, eu estava exausta e não queria ficar lá por mais tempo do que precisava. Levantando-me, voltei para o meu quarto com ele no reboque. Enquanto eu pegava algumas roupas, ele verificou o outro quarto. Estar em meu quarto me deu arrepios, e não sabia se seria sempre assim. Exalei lentamente, lutando contra a vontade de chorar. Reece saiu do meu segundo quarto, com o rosto um tom ou dois mais pálido. Eu acalmei, minha mão pairando sobre a alça na minha mala. "Você encontrou algo?" Reece piscou e balançou a cabeça. "Não. Você está acabando? " Deslizando um grosso e longo suéter que chegava aos meus joelhos, peguei minha bolsa e calcei meus pés com minhas sapatilhas. Não confiando em mim para falar, eu assenti. Reece ficou em silêncio enquanto me levava para fora da casa e trancava. Enquanto desci o alpendre, ambos os apartamentos do andar superior tinham as luzes acesas, e eu prometi que assaria para eles biscoitos ou algo assim. Eu me sentei no banco do passageiro de um carro de polícia -que, surpreendentemente, cheirava agradável, como maçãs frescas- e, em qualquer outro momento, eu teria estado animada com todos os botões e o barulho potente, mas apenas olhei pela janela, para a escuridão enquanto o amanhecer penetrava no horizonte. "Você está bem aí?", Perguntou Reece.
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Olhando para ele, fiquei tentada com a vontade de estender a mão e passar meus dedos ao longo de sua mandíbula. Para tocá-lo. Para que ele me tocasse. "Sim. Eu sou OK." Ele enviou-me um olhar de esguio meio divertido meio preocupado. "Está tudo bem não estar bem em uma situação como esta." Eu abaixei meu olhar para as minhas mãos, mantendo a boca fechada. Nós não falamos novamente enquanto dirigíamos para o seu lugar. Ele morava em um apartamento um pouco grande, no terceiro andar, perto de Jax. Ele me deixou entrar, e o aroma fresco de roupa limpa cumprimentou-me quando entrei. Reece deslizou em torno de mim, acendendo as luzes. Pisquei contra o brilho, perguntando como exatamente a minha noite tinha terminado comigo ficando na casa do Reece. Ele tinha um grande hall de entrada, que levava a uma grande cozinha e sala de jantar. A sala estava toda arrumada com a exceção de um cesto de roupa sobre a mesa de café. Reece franziu a testa quando a viu. Andando até a cesta, ele a pegou. "Você sabe onde a cama é, e se bem me lembro, você achou que era muito confortável, então sinta-se em casa." Surpresa vibrou através de mim com a falta de rancor em seu tom quando ele mencionou aquela noite. Eu não tinha me movido muito agora, apenas coloquei minha bolsa perto do sofá, pelo tempo que ele reapareceu na sala de estar. Distraída, eu o observei furtar um saco de batatas fritas que estava no final da mesa e jogá-lo na lixeira da cozinha. "Eu tenho que voltar para a repartição, levar o seu telefone para Evidência verificar se nós conseguimos obter as impressões", disse ele, passando a mão pelo cabelo. O movimento fez com que seus bíceps forçasse contra a bainha de seu uniforme. "Eu tenho um telefone fixo em várias salas. O número da repartição está na geladeira. Chame este ou meu celular se você precisar. Devo estar de volta um pouco depois das oito, mais ou menos." Eu balancei a cabeça.
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Ele parou na minha frente, e inspirei uma respiração profunda. Puxando os lados de meu suéter apertado, levantei meu queixo. Seus olhos procuraram os meus. "Eu realmente não estou bem com o que aconteceu", eu admiti em voz baixa. "Nada disso." De alguma forma, eu acho que ele sabia que não estava falando sobre o que aconteceu em meu apartamento. Por um momento, achei que ele não ia dizer nada. Que ele acabaria virando e saindo de seu apartamento. Mas, em seguida, virou-se pra mim e, lentamente,-oh tão lentamenteenvolveu seu braço ao redor dos meus ombros e puxou-me para perto. Hesitei por um segundo e então pressionei minha bochecha contra seu peito. A borda fria de seu distintivo estava afiada contra minha bochecha, mas eu não me importei. O calor de seu corpo, do seu abraço, valeu a pena. Sua outra mão segurou a parte de trás do meu pescoço e ele baixou o queixo para cima da minha cabeça. Ele soltou uma respiração profunda que podia sentir, e fechei os olhos. "Eu sei", ele respondeu com uma voz áspera. "Eu sei, Roxy." Reece me segurou por alguns segundos mais e, em seguida, deu um passo atrás. A mão no meu pescoço escorregou para a minha bochecha. Seus olhos encontraram os meus. "Tente descansar. Eu estarei de volta assim que puder. " Eu não me movi até que ouvi a porta fechar e trancar e ainda durante vários minutos. Reece disse para ficar em sua cama, mas não havia nenhuma maneira que pudesse dormir lá. Não com a forma como as coisas foram deixadas entre nós. Sim ele estava me ajudando agora, mas ele era um bom rapaz. Isso é o que bons rapazes fazem. Movendo duas das almofadas para um lado de seu sofá bege, arrastei a colcha das costas do sofá e, em seguida, deitei. As almofadas me sugaram imediatamente, e quando fechei meus olhos, sabia que não iria levar muito tempo para dormir. Tão louco quanto parecia, me senti segura aqui e não lutei contra o sono que se abateu em mim. Escorreguei em um sono sem sonhos por não sei quanto tempo. Minutos? Horas, talvez? Mas era o tipo de sono profundo que, quando acordei dele, não conseguia descobrir o que estava ao meu redor.
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Eu estava na casa de Reece. Certo. Lembrei-me que caí no sono, quase que imediatamente, em seu sofá muito confortável. Ele tinha muito bom gosto para móveis. Eu comecei a me esticar, mas parei quando percebi que o sofá estava estranhamente duro... e quente. Confusa, mudei a minha mão direita e deslizei sobre algo tão suave como seda esticada sobre mármore, algo também muito quente e rígido. E ondulado. Meus dedos afundaram. Isso era um umbigo? Meus olhos se abriram. Puta merda, eu não estava assim quando adormeci. O que estava apalpando e grudado à minhas costas não era o sofá. Era Reece, dormindo, e sem camisa. Eu estava enrolada contra ele, e estava em sua cama.
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Capítulo Dezoito Se isso era um sonho, eu não queria mais acordar. Por várias razões, mas principalmente pelo fato de não existir nada igual a se acordar com esse cara. Eu só tinha passado por isso duas vezes antes e não foi nem perto do suficiente. Parte de mim estava tão chocada que eu estive dormindo tão profundamente que ele conseguiu me mover sem meu conhecimento. Eu tentei imaginar o que ele tinha feito quando chegou em casa. Obviamente, ele tinha se trocado antes e eu conseguia dizer que ele estava usando calças de pijama porque eu conseguia sentir o tecido suave contra minhas pernas nuas. Ele deve ter me pegado no colo e me carregado para seu quarto. Eu não sei se ele tinha me colocado assim tão perto de si ou se eu tinha me movido e me acomodado. De qualquer modo, não havia espaço entre nós e sua mão estava no meu quadril. Meu coração doía enquanto eu estava deitada ali, ouvindo sua respiração, e eu percebi o quanto eu queria isso. Não com qualquer um, mas com ele. Apesar da bagunça que era nosso passado e tudo que precisava ser dito, ele... ele ainda se importava comigo. Isso dizia sobre o quão gentil ele era. Decente e generoso até a sua essência, e haviam poucos homens assim. E Reece era realmente um homem lindo. Sua expressão estava relaxada enquanto dormia, mostrando uma abertura nele que raramente existia quando ele estava acordado. Havia uma aura de poder concentrado, mesmo quando ele dormia. Eu não achava que era por ele ser policial. Era algo natural dele, como uma segunda pele. Seus lábios cheios e bem definidos se separaram e eu resisti a vontade de passar meu dedão sobre seu lábio inferior. Era até mais difícil negar a necessidade de beijá-lo, porque eu realmente queria sentir aqueles lábios contra os meus de novo.
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Sua pele era quente e suave sobre meu toque e eu sabia que precisava tirar minha bunda de sua cama antes que eu fizesse algo realmente inapropriado, como deslizar minha mão sobre o elástico da calça do seu pijama. Cuidadosamente, eu me afastei dele e levantei da cama. Encontrando meu suéter na beira, eu o coloquei e me abracei, sentindo falta imediatamente do calor do seu corpo. Sem querer acordar ele desde que ainda era cedo, e ele não poderia estar dormindo a muito tempo, eu sai do quarto, fechando cuidadosamente a porta atrás de mim. Seu apartamento estava silencioso enquanto eu andava de volta para sala. Lembrando que ele tinha uma sacada, eu abri as portas francesas e sai. Eu inalei o ar da manhã e olhei ao redor. A sacada dava para uma área com piso de madeira que era relativamente privada. Reece fazia jardinagem. Ou alguém fazia. Vasos de flores estavam pendurados em uma treliça de ferro, cheios de flores rosa e roxas. Haviam duas jardineiras verdes e uma samambaia em um canto com sombra. Duas cadeiras de vime viradas uma para a outra. Eu me sentei em uma, jogando minhas pernas sobre a outra. Eu não podia acreditar no quão frio estava. Quando eu realmente pensava sobre o quão rápido as estações mudavam, isso sempre me assustava. Minha mente divagou enquanto eu ficava ali, sentada. Eu não conseguia me lembrar de ter pegado meus óculos antes quando sai do meu apartamento. Realmente não importava desde que eu não estava com meu carro. Eu teria de voltar para meu apartamento para pegá-lo antes de ir trabalhar hoje mais tarde. De volta ao meu apartamento. Eu tremi e não tinha nada a ver com a temperatura. Eu quase não conseguia acreditar – eu estava sendo seguida. Porra, seguida. Eu. Eu balancei minha cabeça. Isso estava acontecendo. Eu não podia mais brincar sobre ser Gasparzinho, o fantasma pervertido, ou que eu estive com problema de memória, era alguém que estava entrando em meu apartamento enquanto eu estava lá. Deletando mensagens
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enquanto eu tomava banho. Tirando fotos minhas. Dentro de tudo, essas duas eram as mais estranhas. Ainda pior era o fato que eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Eu nem conseguia imaginar o que era, ou o que poderia ser. Havia ainda Dean, e por mais que ele fosse persistente, ele não me parecia um psicopata. A não ser que seja alguém estranho – o homem responsável pelo que estava acontecendo com as meninas – que estivesse fazendo isso, e isso era ainda mais assustador. Ele poderia estar indo ao bar cada noite, pelo que eu sabia. Eu poderia estar falando com ele, sorrindo para ele. Oh meu Deus, isso era horrível até de se imaginar. Me fez querer não pisar mais fora do meu apartamento, exceto que meu apartamento não era mais seguro. Geez, eu apertei meus olhos fechados. O que eu iria fazer? Eu odiava a ideia de mudar minha vida toda por causa de um estranho que era virtualmente um fantasma para mim. Então, novamente, o fantasma do passado tinha mudado minha vida toda. Eu fazia ou não fazia coisas por causa do que aconteceu com Charlie. Perceber isso era algo cru que eu não estava acordada o suficiente para pensar. Um pensamento estava fixo na minha cabeça. Talvez fosse alguém que eu conhecesse. Não Dean. Não algum cara que eu sai. Talvez fosse alguém que tinha acabado de voltar para minha vida – uma adição desnecessária. Henry Williams. Essa ideia fazia muito sentido, mas quando nós estávamos no colegial, ele era meio estranho. Um cara bonito, mas muito estranho. Talvez ele não estava satisfeito em ter fodido com a vida de Charlie. Talvez ele quisesse me deixar louca. Honestamente, isso soava insano – tão insano quanto invadir meu apartamento e tirar uma foto minha. Eu abri meus olhos a tempo de ver um coelho marrom correr pelo jardim logo a frente, até as arvores. Bem, eu acho que era um coelho. Foi mais como um borrão marrom. Poderia até ser um gambá. Sorrindo, eu não conseguia acreditar que estava no apartamento de Reece. Eu não me permitia entender isso bem. Colocando meu cabelo para trás, eu exalei, cansada. Mesmo em silêncio, cercada por coelhos saltitantes e lindas flores, era 214
difícil entender o que eu sentia por Reece. Meus sentimentos por ele estavam presos em uma teia entre o passado e o presente. Luxuria que foi cultivada durante anos e... Eu nem conseguia pensar. Eu podia admitir que me importava muito com ele – e venho me importando a muito tempo – mas amar era assustador. Eu aprendi isso com Charlie. Eu amava aquele menino mais que tudo e vê-lo machucado tinha matado uma parte de mim quando eu tinha dezesseis e ainda estava me matando. Eu não podia me apaixonar por Reece, não profundamente. Não quando ir para o trabalho todo dia poderia significar que ele se machucasse ou coisa pior. Eu estremeci, mas era a verdade. Deus, esses pensamentos eram absurdos por que... A porta francesa abriu e Reece entrou na sacada, seus olhos azuis sonolentos encontrando os meus. Meu estômago revirou enquanto eu absorvia ele. Deus, ele era fofo de manhã. Cabelo todo bagunçado e uma sombra ao longo do seu maxilar de uma barba por fazer. Ele era material para um calendário. “Hey.” Ele disse e um lado de seus lábios se curvaram em um meio sorriso. Meus próprios lábios responderam. Estava claro que ele ainda estava meio dormindo. “Hey, você. Eu não te acordei, né?” “Acho que não.” Levantando um braço, ele passou seus dedos pelo seu cabelo. Meus olhos ficaram presos em seus bíceps e nos músculos ao longo do seu peito. Eu me ajeitei na cadeira, surpresa que eu tinha ficado excitada só de ver um cara alongando seu pescoço. Ele se moveu para sentar ao meu lado. “Quero dizer, eu acordei e você tinha ido embora.” Ele se encostou na cadeira, afastando suas coxas enquanto se inclinava na minha direção. “Eu fiquei preocupado quando não te vi lá. Você está bem?” Meus lábios se afastaram enquanto suas palavras passavam por mim. “Yeah, eu só acordei e não quis te acordar também. Você não poderia estar dormindo por muito tempo.” Seus ombros largos levantaram de um jeito preguiçoso. “Eu realmente não durmo muito. Apenas algumas horas aqui e ali, especialmente quando estou trabalhando.” 215
Eu pensei na noite que dormimos no sofá onde pareceu que ele foi acordado por um pesadelo. “Você tem de estar cansado.” Olhando para mim com seus olhos sombrios, ele deu de ombros de novo. “É a mesma coisa com você. Você trabalha em horários loucos como eu. Você administra. Eu administro.” “Verdade,” eu murmurei olhando para o jardim. “Eu gostei daqui – da sacada. Quero dizer.” Corada, eu mentalmente me dei um chute. “É bem privado e calmo.” “Eu gosto também. Tento vir pelo menos uma vez ao dia, para beber meu café.” De canto de olho, eu o vi levantar seus braços sobre sua cabeça e se alongar. Eu tive de olhar. Eu era humana, e por Deus, fiquei tão feliz de ter olhado. Suas costas se curvaram enquanto os ossos estalavam. O homem era pecado puro. “É um bom lugar para pensar,” ele terminou, abaixando seus braços. Meus olhos percorreram seu peito e o estômago definido, até a fina linha de pelos escuros que desapareciam sobre o elástico de sua calça. “Eu consigo... um, entender porque.” Houve uma pausa. “Eu falei com Colton essa manhã. Ele vai vir para cá logo. Eu vou estar aqui enquanto ele fala com você.” Um tremor passou pela base do meu pescoço e eu puxei meu suéter mais para perto, concordando. “Ele sabe o que aconteceu?” “Sim.” Eu vi um pássaro passar voando, perto da sacada. “Ele acha que está relacionado as outras coisas?” “Eu não sei. Acho que ele quer falar com você antes de formar uma opinião.” Ele suspirou suavemente. “Sério, Roxy, você está bem?” Essa não era uma pergunta fácil de responder. Tanto estava acontecendo e se passando entre nós, e eu não estava pronta para tudo que precisávamos conversar. “Charlie está com um tubo de alimentação,” eu finalmente disse, levando meu olhar
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para o céu azul. A cor era tão parecia com os olhos de Reece. “Ele odiou isso antes, então eles tiveram de prender ele e é difícil vê-lo daquele jeito.” “Me desculpe por isso.” Simpatia genuína irradiou da sua voz. Eu concordei. “A última vez que ele se recusou a comer, ele terminou tendo uma convulsão.” “Eu lembro disso,” ele disse com a voz baixa. Surpresa, eu olhei para ele. “Você lembra?” Ele concordou. “Yeah, eu me lembro de você falando sobre isso e eu sei o quão perto você esteve de perder ele.” Dor cresceu em meu peito enquanto me encostava na cadeira. “Eu estou com medo.” “Por Charlie?” “Yeah,” eu sussurrei, e mordi meu lábio quando ele se inclinou na minha direção e colocou sua mão em meu braço. Parecia que meu coração tinha dobrado de tamanho. “Eu tenho medo de que vou perder ele. Realmente tenho.” Ele apertou meu braço gentilmente. “Queria que houvesse algo que eu pudesse dizer.” “Eu sei.” Eu engoli o nó na minha garganta. Seu olhar segurou o meu por um momento enquanto movia sua mão. Eu queria subir em seu colo e me enrolar nele como um polvo, mas eu sabia que essa provavelmente não seria a melhor ideia. “Eu quero perguntar algo a você de novo e eu espero que você responda diferente dessa vez.” Oh Deus, eu não tinha certeza se estava preparada para isso. “Okay?” “Por que você não me contou sobre o que estava acontecendo no seu apartamento, Roxy?” No começo, eu não sabia como responder isso. “Eu não sei. Eu acho que eu não queria que ninguém pensasse que eu estava louca por acreditar em fantasmas ou inventando isso, procurando por atenção. Quero dizer, quantas mulheres vem a
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delegacia com medo de estarem sendo seguidas e isso, no final, são ignoradas? Esse é o tipo de merda misógina que acontece.” Reece balançou a cabeça. “Não quando sou eu a atender.” “Você é diferente,” eu apontei, descruzando minhas pernas. O cimento estava gelado contra meus pés descalços. “Então por que você não disse nada?” Eu mordi meu lábio inferior enquanto segurava nos braços da cadeira. “Eu realmente não sabia o que estava acontecendo quando eu encontrei minha... minhas coisas na lava-louças. Eu apenas não achei certo mencionar isso quando...” Sem conseguir ficar sentada, me levantei e fui para a grande. “Quero dizer, você sabe o que estava acontecendo.” Seu olhar segurou o meu por um momento antes dele desviar. Esfregando a base da palma da sua mão sobre seu coração, ele franziu. “Quando eu percebi hoje de manhã que eu estava lá quando você encontrou isso e que eu não tinha ideia eu quis bater em mim mesmo.” Minhas sobrancelhas depararam para cima. O músculo em seu maxilar pulsou. “Estou falando sério. O que estava acontecendo com você é algo assustador. Encontrar sua calcinha na lava-louça? Sem saber como isso aconteceu, se perguntando se seu apartamento faz parte do Ghost Adventures ou se você precisa de um check-up na cabeça deve ter te deixado maluca. E você passou por tudo isso sozinha – sozinha quando eu estava ali.” Ele se sentou na beira da cadeira e se inclinou para frente. “Eu repugno a ideia de você ter passado por isso.” Eu inalei profundamente mas o ar ficou preso. “Você está bravo... e você tem toda a razão para estar.” “Eu estava.” Ele olhou para mim entre seus cílios grossos. “Mas eu deveria ter estado lá para você. Você deveria ter conseguido me parar para me mostrar o que aconteceu. Não é culpa sua. Eu coloquei você nessa posição e me desculpe por isso.” Minha boca abriu mas eu não sabia o que dizer. 218
“Está na hora de ter aquela conversa,” ele disse, sua voz não deixando espaço para argumentos. “E realmente precisamos ser honestos um com o outro. Ambos. Sem enrolação.” Eu me inclinei contra a grade me sentindo fraca, mas eu não corri nem tentei me esconder disso. Eu não era uma covarde. Pelo menos, eu tentava não seu uma. “Você está certo,” eu disse, mas desejava que ele colocasse uma maldita camiseta, porque seu corpo era uma distração. “Você sabe por que eu estava chateado. Você sabe por que estou chateado.” “Você odeia mentiras acima de tudo. Eu sei é por causa do seu pai,” eu disse e continuei antes que conseguisse parar. “Saber disso deixou ainda mais difícil esclarecer as coisas sobre aquela noite. Não que eu estou inventando uma desculpa, mas só para você entender da onde vim.” “Mentiras não são o que eu odeio acima de tudo, Roxy. Eu odeio predadores que perseguem mulheres e pessoas que eu me importo. Isso está bem acima. Assim como assassinatos e estupros,” ele continuou e eu acho que entendi seu ponto. “Mas yeah, eu estava irritado. Eu ainda estou meio irritado.” Eu me encolhi por dentro. Lá vem... “É por isso que eu fui embora. Eu desejo que não tivesse ido. Preciso ser honesto com você, provavelmente foi uma boa coisa eu ter ido porque a última coisa que eu queria era dizer algo que eu fosse me arrepender e depois não poderia voltar atrás, mas se soubesse o que você estava passando, eu teria ficado ali. Que eu tivesse ficado e que talvez você tivesse contado sobre o que estava acontecendo.” Ele esfregou a parte de trás do seu pescoço com uma de suas mãos. “Vamos pegar essa merda e deixar ela de lado por um tempo, por que vamos lidar com isso quando Colton chegar aqui.” “Tudo bem,” eu respondi, enrijecendo. Ele abaixou sua cabeça e seu peito subiu com uma respiração profunda. “Eu precisava de espaço. Eu precisava limpar minha cabeça da raiva que eu estava sentindo. Eu aprendi, mais de uma vez, que segurar uma conversa importante quando você está irritado não é a melhor coisa a se fazer. Normalmente bagunça as coisas e a última coisa que eu queria é ir por esse caminho com você.” 219
Mas isso já não estava bagunçado? Os olhos de Reece eram de um azul tão profundo e hipnotizador quando encontraram os meus. “Eu não estava pronto para falar com você na quinta, mas eu sabia aonde isso iria.” Meu peito subiu e desceu rapidamente enquanto eu me abraçava. “Eu pensei sobre isso. Eu entendo porque você estava chateada e eu sei porque eu estava chateado. Nós dois estragamos isso, de um jeito ou de outro.” “Nós fizemos,” eu sussurrei, querendo chorar. Eu comecei a me virar, mas sua mão foi rápida e pegou a minha. Eu o encarei com os olhos arregalados. “Eu acho que fizemos isso errado,” ele disse, entrelaçando seus dedos nos meus. Eu não tinha ideia de onde isso estava indo, mas ele estava segurando minha mão, então eu iria ir com ele para algum lugar onde eu não quisesse me jogar dessa sacada. “Fizemos?” Reece concordou. “Sem enrolação, certo? Eu tenho algo para te dizer.” “Sem enrolação.” Eu repeti. Um lado de seus lábios se curvaram para cima. “A primeira vez que eu reparei em você – realmente reparei em você – foi quando você fez dezesseis e você estava no quintal com Charlie. Eu não tinha ideia que vocês dois estavam tentando fazer um tobogã e honestamente não me importei porque você estava usando o menor biquíni que eu já tinha visto.” “Eu não lembro desse tobogã,” eu murmurei. Ele me puxou, um passo mais para perto. “Eu lembro. Era junho. Eram por volta de duas da tarde e eu estava te assistindo pela janela da cozinha. Eu fiquei falando para mim mesmo que você era nova demais para eu estar pensando o que estava pensando.” Eu fiquei interessada, então não podia deixar isso passar. “Que coisas você estava pensando?”
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“Coisas que adolescentes do sexo masculino pensam quando veem uma menina linda com uma roupa de banho que mau cobre sua bunda,” ele respondeu. “Eu não acho que me movi daquela janela até que não estivesse aguentando mais, e eu não acho que você quer saber o que eu fiz quando sai da janela.” Meus lábios se afastaram. “O que você fez?” Ele levantou uma sobrancelha. “Vou te dar duas dicas. Banho. Minha mão.” “Oh.” Minha pele formigava enquanto sensações afiadas passavam por mim. “Yeah,” ele murmurou, e me puxou mais um passo para perto. Minha perna estava pressionada contra seu joelho. “Então foi quando você tinha dezessete e você fez para mim um cartão de aniversário. Eu não sei por que, mas quando você sorriu para mim e me entregou aquele cartão, você entrou no meu radar e nunca saiu.” Eu me lembrava desse cartão. Eu tinha passado dias nele, desenhando a Estátua da Liberdade, porque eu sabia que ele gostava da Marinha e de coisas Americanas. E eu me senti tão idiota por dar isso a ele, mas ele tinha sorrido para mim e tinha me dado um daqueles abraços estranhos com um braço. Eu pensava que ele me via como uma criança boba. “Quando eu voltei do exterior e vi você...” Ele balançou sua cabeça. “Aquele abraço que você me deu. Nunca tinha sido abraçado assim antes. Eu não entendo porque você foi a primeira pessoa que eu realmente quis ver quando cheguei. Eu não entendi por um bom tempo porque eu ia para aquele buraco que era o Mona’s. E quando finalmente juntei os dois, e entendi que eu queria você, foi quando aconteceu a merda toda com o tiroteio.” Eu engoli forte. Eu sabia que o Reece tinha ficado muito abalado pelo tiroteio no escritório e que ele tinha começado a beber muito naquele tempo, mas antes que eu pudesse abrir minha boca, ele continuou. “Minha cabeça não estava em um bom lugar para eu agir. O motivo de frequentar o Mona’s se tornou mais sobre ficar bêbado do que ver você e, então... yeah, aquela noite aconteceu entre nós.” Ele inclinou sua cabeça para o lado. “Foi por isso que eu me arrependi. Por que eu estava bêbado e minha cabeça estava em um lugar ruim. Eu não queria isso em volta de ninguém, especialmente de você.” “Reece,” eu sussurrei. 221
Seus olhos procuraram os meus intensamente. “Quando eu entendi o que estava sentindo por você, você não estava falando e sempre, a merda fica fora de controle.” Meu coração estava palpitando enquanto eu olhava para ele. “O que você está dizendo, Reece?” Aquele sorriso convencido apareceu de novo enquanto ele movia seu braço. Ele me segurou e me guiou para seu colo, meu quadril entre suas coxas fortes. Ainda segurando minha mão, ele passou seu outro braço pela minha cintura enquanto se encostava na cadeira. Sem ter opção, eu fui com ele e terminei esticada contra seu peito, minha mão livre terminando em seu ombro. Meu corpo imediatamente aqueceu por estar tão perto dele. Nós estávamos cara-a-cara. “E tudo por causa disso – tudo por causa disso e nós fizemos isso errado. Não que eu me arrependo de estar com você. Merda. De jeito nenhum. Olhando para trás, eu tenho cem por cento de certeza que fiquei feliz que aquela foi nossa primeira vez.” O braço em volta da minha cintura se moveu e sua mão se moveu sobre meu quadril, para a barra do meu shorts até minha perna nua. Uma onda de arrepios viajaram pela minha pele. “Mas eu deveria ter feito mais para você. O jantar. O cinema. Tudo isso. Você merece isso. Eu acho que depois desse tempo todo, nós merecemos isso.” “Merecemos?” Minha voz quebrou. Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. “Yeah, merecemos.” Seus olhos viajaram pelo meu rosto, terminando na minha boca. “Que tal começarmos de novo? Você quer isso?” Eu ainda não tinha ideia do que falar. Ele levantou uma sobrancelha. “O jeito que você está acariciando meu pescoço me diz que você quer, mas babe, eu quero ouvir isso sair da sua linda boca.” Minha mão? Eu olhei para ela. Inferno. Eu estava acariciando seu pescoço. “Eu não esperava isso,” eu admiti. “Eu pensei que você diria para sermos amigos... ou algo do tipo.” “Roxy, eu já te disse que eu estava procurando mais que isso.”
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“Mas...” Ele inclinou seu queixo para frente, colocando sua testa contra a minha. “Eu estava irritado, mas isso não mudou.” Um momento se passou. “Mas isso mudou para você?” Parte de mim desejava que tivesse mudado, porque era com Reece e era perigoso para meu coração e para o senso comum. Eu podia realmente me apaixonar por ele, mas eu... eu queria ele e – eu não iria terminar essa linha de pensamento. “Eu gostaria disso.” “Imaginei.” Meu coração se revirou. “Você é tão convencido.” “Apenas realista,” ele provocou, pegando uma mecha roxa do meu cabelo e enrolando ela em seus dedos. Eu inalei profundamente e seu hálito dançou sobre meus lábios. Minha mente estava literalmente chocada. Assim como meu coração, mas de um jeito ao mesmo tempo bom e preocupante. Isso era a última coisa que eu esperava. Eu, de repente, queria meu presente e meu futuro com ele. “Espere,” Eu disse, me afastando. “Se vamos recomeçar, isso significa sem sexo até o terceiro encontro ou coisa do tipo?” “Sério?” Eu estreitei meus olhos para ele. “É uma pergunta válida.” “Vamos lá, babe.” Sua mão deslizou pela minha perna e parou na minha bunda e tudo em mim se liquefez. “Eu acho que você sabe a resposta disso.” “Eu acho que entendi, mas talvez eu precise...” Fui silenciada por sua boca. Beijando suavemente, ele fez meus sentidos girarem. Apenas um beijo e meus seios já pareciam mais pesados e eu senti um forte espasmo entre minhas cochas. Bem, a mão na minha bunda provavelmente também tinha algo a ver com isso, especialmente quando um dedo encontrou o centro da costura do meu shorts. Ele traçou a costura, mandando um tremor por mim.
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“Eu aposto que você consegue imaginar agora, certo?” Ele disse com a voz rouca. Eu passei minha língua pelo meu lábio inferior. Eu queria enrolar minhas pernas em volta de seu quadril, pressionar onde eu realmente queria que ele estivesse até ele gemer. “Você tem certeza disso ser o certo?” eu perguntei. A mão na costura do meu shorts deslizou para baixo do meu suéter e da blusa, chegando a pele nua nas minhas costas. “Por que isso não seria uma boa ideia?” Eu me afastei, colocando minhas mãos em suas bochechas. Eu gostava de como a barba pinicava minha palma. Não havia nenhum bom motivo que eu pudesse imaginar. “Eu não vou me apaixonar por você.” O sorriso de Reece se tornou completo, abraçando meu coração. “Com certeza não vai.”
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Capítulo Dezenove Colton apareceu logo depois que tomei um banho e sequei o cabelo. Vestida com jeans e uma camiseta que dizia THIS GIRL NEESA A NAP50, eu fui para a sala. Parecia apropriado enquanto eu me jogava no sofá confortável e observava Colton, que estava assistindo seu irmão se sentar ao meu lado. Do tipo, beeeeem perto de mim. A perna de Reece estava tocando a minha e seu braço estava jogado das costas do sofá, Se estivéssemos mais perto, estaríamos grudados pelo quadril. O olhar sagaz de Colton não perdeu nada enquanto ele se sentava em uma cadeira do lado oposto do sofá, perto das portas francesas. “O que está acontecendo irmãozinho?” “O que parece?” Reece respondeu. Para dizer a verdade, eu não tinha ideia de como responder sobre o que estava acontecendo entre nós. Mesmo que tivéssemos esclarecido tudo e estivéssemos ‘recomeçando’ ou algo do tipo, eu não tinha certeza se estávamos no estágio onde estávamos dispostos anunciar o que estávamos fazendo. “Parece que minha mão está prestes a se familiarizar com a parte de trás da sua cabeça,” Colton respondeu. Reece riu profundamente e eu não consegui reprimir o calafrio que me percorreu em resposta a sua risada profunda. “Ele está te tratando bem?” Colton direcionou essa pergunta para mim. Eu olhei ao redor, como se algo fosse aparecer de trás do sofá e responder por mim. “Yeah?” “É bom que ele esteja.” Sua voz era baixa enquanto ele atirava um olhar a Reece, que respondeu piscando. “Ou eu vou ter certeza que seu pai e um dos seus irmãos deem um chute na bunda dele.”
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Essa menina precisa de um cochilo
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Meus lábios se curvaram enquanto eu tentava imaginar meu irmão mais novo lutando com algo que não envolvesse um controle de Xbox. Colton pegou um pequeno caderno de dentro de seu paletó. Ele o abriu e, assim como seu irmão, a expressão de policial apareceu. Hora de falar sério. “Eu preciso que você me diga tudo que aconteceu, sem pular nenhum detalhe, okay? Mesmo as coisas pequenas podem vir a ser enormes.” Eu juntei minhas mãos, inalei profundamente e eu disse tudo a ele, começando com o controle remoto na geladeira e terminando com a foto em meu celular. Durante isso, Colton anotou tudo e Reece permaneceu quieto ao meu lado e, quando eu cheguei na parte da calcinha na lava-louças, ele moveu sua mão das costas do sofá para meu ombro, onde seus dedos acariciou eles, aliviando a musculatura tensa. “Mais alguma coisa?” Colton perguntou, a caneta sobre o caderno. Eu não conseguia deixar de sentir como se estivesse me esquecendo de algo. Eu procurei em meu cérebro mas não consegui lembrar do que estava atiçando essa sensação. “Não,” eu disse finalmente. “Alguém está te causando problemas?” ele perguntou. Eu quase disse não. “Eu sai com esse cara. Seu nome é Dean Zook. Quero dizer, eu não acho que ele é um psicopata, mas ele é meio persistente.” Eu dei uma espiada em Reece quando ele enrijeceu. “E tem Henry Williams. Ele veio ao bar na sexta a noite, mas Nick o afugentou.” Colton anotou esses nomes. “Eu tenho os dados de Henry. Você tem os de Dean no seu celular?” Eu concordei. “Se não for eles, você acha que está relacionado com o que vem acontecendo?” Ele olhou para Reece antes de responder. “Exatamente agora não tem como ter certeza. Eu preciso fazer uma entrevista com as vitimas, mas até onde sei, elas não reportaram nada desse tipo.” “Eu não tenho certeza se devo ficar aliviada ou não.” Eu admiti.
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“Não importa o que for, você está segura.” Reece deslizou sua mão pelo meu cabelo, colocando seus dedos na base do meu pescoço. Meu olhar encontrou o seu. “Eu vou me certificar disso.” “Mesmo se não tiver nada a ver com o estuprador em série, o que está acontecendo não pode ser tratado levianamente.” Colton colocou seu caderno de volta em seu paletó enquanto eu inalava. Ele tinha dito isso. Um estuprador estava aqui, escolhendo mulheres. Meu estômago se revirou. “Alguém está obviamente te perseguindo, Roxy. Ele vem fazendo isso a um tempo, e tirar aquela foto...” “Significa que o imbecil por trás disso está evoluindo,” Reece removeu sua mão e se inclinou para frente. Seus olhos eram como icebergs. “Antes ele fazia coisas para não te alertar sobre a sua presença. Agora ele está alertando.” “Concordo,” Colton disse. Seus olhos eram muito como os de seu irmão quando encontraram os meus. “Isso é sério, Roxy.” “Eu sei. Não é como se eu não achasse isso. Acredite em mim.” Reece levantou uma sobrancelha. “Então você não vai ter problema com o fato de não poder ficar em seu apartamento. Não até que encontremos que está por trás disso.” Eu abri minha boca. “O único jeito daquele apartamento ser seguro para você é se colocarmos pregos nas suas janelas, o que seria burrice.” Reece explicou. “E se houvesse um incêndio, você estaria ferrada se estivesse presa em um dos quartos.” “E um sistema de segurança?” eu perguntei, olhando entre os irmãos. “Eles não são tão caros quanto antes.” “Você está certa nisso, se for sobre as mensalidades, mas a instalação e todos os sensores nas janelas e nas portas é onde eles te pegam,” Colton alertou. Frustrada, eu me virei para Reece, meus olhos arregalados. “Eu não posso ficar longe da minha casa. Eu não posso lidar com isso.”
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Seu maxilar estava cerrado. “Você vai ter de lidar com isso, babe. Eu quero que você esteja segura. Eu não vou discutir sobre isso. É temporário. Nós conhecemos um cara que provavelmente pode fazer um desconto na instalação.” Colton concordou. “Ele é um policial na periferia de Philadelphia. Eu sei que ele vai fazer. Ele nos deve, mas isso vai levar uma semana ou duas. Ele vai trabalhar e eu sei que ele vai ficar com seu filho final de semana que vem.” Não se podia escolher a esmola. “Okay. Eu acho que posso ficar com Katie ou meus pais até lá.” Reece inclinou sua cabeça para o lado. “Babe, você pode ficar comigo. Nope, eu posso ver sua cabeça trabalhando e sua boca prestes a começar...” Meus olhos estreitaram. “... você vai estar segura aqui. Sem duvidas disso e eu tenho certeza que você prefere ficar aqui do que com seus pais ou com Katie, porque ambos vivem bem mais longe do Mona’s.” ele sorriu para mim. “Além do mais, eu sou melhor companhia.” “Discordável,” Colton murmurou. Isso passou despercebido. “E eu vou ser mais divertido,” Reece adicionou. Minhas bochechas ficaram rosadas enquanto eu mordia meu lábio, olhando para longe. Eu entendi direitinho o que ele quis dizer. Yeah, ele seria muito mais divertido, mas... “Você pode nos dar um minuto?” Reece disse pro seu irmão. “Claro.” Colton suspirou enquanto se levantava. “Eu tenho que ir de qualquer modo. Assim que soubermos de qualquer coisa sobre seu celular ou descobrimos outra coisa, vocês dois vão ser os primeiros a saber.” Ele foi para a porta, parando e olhando para mim. “Você deveria ficar com meu irmão. Eu não estou dizendo que ele é uma boa companhia. Ele deixa toalhas molhadas no chão, mas eu vou dormir melhor sabendo que você está com ele.” Enquanto Colton saia, eu olhei para Reece. “Você deixa toalhas molhadas no chão?”
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Ele realmente parecia ofendido “Talvez. Às vezes.” Eu levantei uma sobrancelha. “Okay. Depois de cada banho, mas por você eu vou pegar as toalhas,” ele ofereceu. “Eu não sei. Toalhas molhadas são nojentas.” Ele riu, mas o humor tinha ido embora quando seus olhos encontraram os meus. “Eu sei que parece como um grande avanço, você ficar comigo, mas é só temporário, babe.” Eu entendia isso, mas ficar com ele fazia parecer como seu eu tivesse deslizado em... bem, em várias coisas. Eu estava prestes a começar tudo de novo com ele. Eu estava disposta a amizade e o sexo. Eu estava ainda mais pronta para sair com ele, mas eu queria manter as câmaras do meu coração longe disso, porque eu sabia... Eu sabia que eu poderia perdê-lo e isso me assustava. Mas ele estava certo. Ficar com meus pais seria um incomodo e ficar com Katie provavelmente seria uma loucura. Do tipo divertida, mas também do tipo que você terminaria a noite com uma viagem a delegacia. Deus, eu era estúpida, mas eu me encontrei concordando apesar de tudo.
Eu consegui me segurar e não contar aos meus pais o que estava acontecendo, o que eram boas noticias. Eu sabia que eles enlouqueceriam, mas eu também tinha um longo turno na minha frente e muita coisa estava acontecendo na minha cabeça. Desde que eu tinha de ir ao Bar e Reece precisava trabalhar, nós realmente não tínhamos tempo para essa conversa, então isso significava que eu sabia exatamente como passaria meu domingo. Com meu carro ainda no meu apartamento, Reece me deu carona até o trabalho com o seu. E isso era diferente.
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Sem contar meus irmãos, eu nunca recebi uma carona de um cara para o trabalho antes. Sair do carro também tinha sido uma experiência nova para mim. Eu acenei para Reece e o agradeci. Isso não foi o suficiente. “Whoa.” Ele pegou meu braço antes que eu pudesse sair da caminhonete. “Onde você acha que está indo?” “Um? Trabalhar?” “Não assim.” Confusa, eu abri minha boca para pedir mais detalhes, mas ele me puxou. “Nós não dizemos até mais para o outro,” ele falou. “Nós beijamos.” E foi isso que fizemos. Ele inclinou sua cabeça, alinhando sua boca com a minha. Uma batida do meu coração cheia de antecipação se passou e ele passou seus lábios contra os meus. Docemente e rapidamente. Eu pensei que seria isso, mas estava enganada. Então ele realmente me beijou, quente e cru. O beijo ferveu meu sangue e queimou minha pele. Ele me beijou como se nunca fosse fazer isso novamente, e esse beijo me deixou perdida em Reece, em seu gosto e em seu calor. Eu cambaleei para fora da caminhonete e andei para o Mona’s em uma névoa. Horas mais tarde e meus lábios ainda formigavam por causa daquele beijo fumegante. Trabalhar essa noite era muito diferente do que nos dias anteriores. Conversar com os clientes foi mais fácil, meu sorriso mais sincero e isso significou gorjetas maiores. O que era ótimo, desde que parecia que eu estaria adicionando outra conta mensal ao meu balanço. Era uma merda mas era necessário. Durante uma calmaria entre os clientes, Nick me puxou para atrás do bar, de frente para as garrafas em exposição. “Hey, eu queria ter certeza que você não vai ficar na sua casa hoje a noite.” “Não vou,” Eu o assegurei. 230
Sua expressão era impossível de se ler. “Reece?” “Como você adivinhou?” Ele me atirou um olhar sem graça. Entendi totalmente isso. “Eu sou psíquico. Em vez de cair de um poste de pole dance, eu bati minha cabeça com uma garrafa de bebida.” Rindo, eu bati em seu braço. “Cale a boca.” Seus lábios se curvaram. “Sério. Eu estou feliz em saber que você não vai ficar lá.” Ele olhou para os clientes sentados no bar. “Você está bem?” De verdade, eu não estava me permitindo pensar no fato que eu tinha um perseguidor legítimo. Se eu me deixasse focar nisso, eu ficaria louca. Eu acabaria terminando isolada em um canto. “Yeah,” eu disse a ele. “Estou tão bem quanto possível.” Ele me estudou por um momento. “Se precisar de qualquer coisa, me avise certo?” “Okay.” Minha afeição por Nick só aumentou e eu não pensei antes de agir. Eu fui para frente, passei mais braços em volta da sua cintura. Ele enrijeceu como se alguém tivesse jogado cimento pela sua coluna, mas eu apertei forte, ignorando o abraço estranho. “Obrigada por ontem à noite. Obrigada por... obrigada por se importar.” Seus braços vieram em volta de mim de um jeito estranho e ele deu uns tapinhas nas minhas costas. “Uh, não foi nada demais.” “É claro que foi.” Eu disse a ele e me afastei. Olhando para ele, eu sorri. “Você é um ótimo cara mesmo que tenha um gosto questionável para encontros.” Ele sorriu, antes de se transformar no cara que cuidava do bar. “Mantenha esse conhecimento para você mesma.” O resto da noite voou e quando chegou a hora de Reece chegar para me buscar, havia esse nervosismo que parecia como um ninho de borboletas explodindo em meu estômago.
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Reece estava estacionando enquanto Nick e eu estávamos terminando de trancar. Eu acenei para Nick, o que fez ele responder com uma mexida de sua cabeça, de um jeito estranho e masculino. Eu não conseguia entender os homens às vezes. Por que eles não poderiam apenas dizer oi um para o outro como pessoas normais? Subindo na viatura, eu fui recebida com uma sacola do Subway. “Rosbife para você, peru para mim,” ele explicou, colocando a primeira marcha. “Imaginei que você estaria com fome.” “Obrigada.” Eu segurei a sacola perto de mim. “Isso é muita consideração.” Eu recebi aquela mexida de cabeça masculina como resposta. Olhando para fora da janela, eu vi o bar se afastar no meio da noite. Um pensamento me ocorreu. “Não vai ficar mal se você me pegar na viatura?” Eu não sabia as regras, mas eu imaginei que fosse uma pergunta válida. Ele deu de ombros. “Estou em horário de almoço, então não é como se eu estivesse saindo do meu caminho, e eu estou na cidade, então que seja.” “Mas você pode ter problemas?” Eu perguntei de novo, preocupada. “Não terei,” Ele me garantiu, sorrindo. “Como foi o trabalho?” “Passou rápido. Eu acho que Clyde volta semana que vem, então tenho certeza que Sherwood vai ficar feliz em tê-lo de volta.” “Isso é bom. Ninguém faz as asinhas de frango com tempero Old Bay como Clyde.” Era diferente falar sobre meu dia com alguém – com Reece. Era tudo muito intimo. E também parecia... real. Eu gostava dessa conversa fácil enquanto voltávamos para sua casa e comemos nosso lanche. “Eu nunca fui isso,” eu disse em voz alta enquanto desenrolava o papel. Reece, que estava sentado na cadeira oposta a minha, se inclinou para trás; Seu uniforme azul escuro esticado sobre seus ombros. “Feito o que? Comer um sanduiche as três da manhã?”
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“Há. Isso eu fiz mais do que consigo lembrar.” Me levantando, eu juntei nosso lixo e fui para a cozinha. “Isso. Eu realmente nunca falei com um cara sobre como foi o trabalho.” Eu estava feliz pela luz baixa porque eu conseguia sentir minhas bochechas queimando. “Quero dizer, os caras que eu sai – nós conversávamos, mas não era assim.” “Era superficial?” ele perguntou. Eu olhei sobre meu ombro, meu olhar deslizando sobre sua bochecha angular e suave e, então, meu olhar foi para a arma, um constante lembrete do quão perigosa sua vida era. Eu voltei a olhar para seu rosto. “Yeah, essa é a palavra certa para descrever isso.” Me virando, eu mordi meu lábio. Isso era a verdade. As coisas eram superficiais com os caras que eu sai. Eu procurei pela lixeira e coloquei nosso lixo. Quando me endireitei, eu engoli forte em surpresa. Reece estava atrás de mim. Eu nem tinha ouvido ele se mover. “Bom Deus, você pode se teleportar ou coisa do tipo?” Me cercando do jeito mais convidativo possível, ele colocou cada mão sua no balcão ao meu lado. O calor contra minhas costas mandou um aviso por mim. Ele riu profundamente. “Você viu que os cientistas conseguiram teleportar um átomo com sucesso?” Com a boca seca, eu balancei minha cabeça. “Nope.” “Yep.” Ele moveu uma de suas mãos do balcão e afastou meu cabelo de um dos lados, expondo meu pescoço. “Antes que você saiba, vamos aparecer em todos os lugares.” Minha pele esquentou enquanto eu sentia seu hálito em um dos lados do meu pescoço, mandando meu pulso nas alturas. “Se você pudesse escolher entre se teleportar e voar, o que escolheria?” “Que pergunta estranha.” Ele riu novamente e eu sorri. “Eu me teleportaria.” “Mesmo?” Eu tremi quando senti seu dedo acariciando a lateral do meu pescoço. “Porque você poderia terminar com um braço saindo da sua cabeça. Então
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é como escolher entre uma certeza de noventa e nove por cento de chances de morrer de um jeito horrível contra uma chance de um por cento de morrer.” “Eu odeio voar.” Ele moveu seu dedo pelo comprimento do meu maxilar. “Eu faço quando preciso, mas só isso.” Meu olhos se fecharam. “Eu amo voar.” “Você não é humana,” ele murmurou, colocando um beijo contra meu pulso. “Eu ainda tenho tempo sobrando do meu horário de almoço.” Ele pegou o lóbulo da minha orelha entre seus dentes. Eu estava ofegante quando um choque passou por mim. “E eu quero sobremesa.” Por mais clichê que isso soou, ainda era incrivelmente sexy. “É tudo que eu estive pensando.” Ele deslizou sua mão pela minha garganta, até meus seios. Meu mamilo imediatamente enrijeceu em resposta enquanto ele passava seus dedos sobre o pico. “É uma puta distração o quanto eu quero você.” Um tremor quente me atingiu. “Desculpa?” Ele sugou minha pele. “Oh, você deveria se sentir culpada. Eu estive tão duro quanto uma pedra a noite toda.” “Isso deve ter causado algum acidente de carro.” “Olhe só para você,” Ele pegou meu mamilo entre seu dedão e o dedo indicador e, mesmo através da roupa, senti uma pontada de prazer até meu núcleo. “Eu quero você Roxy.” “Você me tem,” eu disse as palavras, ofegante, antes que pudesse pensar melhor sobre elas, porque elas soaram como uma promessa, como uma chave que destrancou algo dentro de Reece. Dando um passo para trás, ele pegou a barra da minha camiseta e a levantou. O ar gelado passou pela minha pele enquanto eu olhava sobre meu ombro para ele. Seu rosto estava sombrio, mas suas feições eram intensas. Outro tremor passou por mim quando ele foi para o botão do meu jeans. Eu chutei minhas sandálias enquanto ele tirava meu jeans.
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Ele parou, beijando o lugar entre minha clavícula e, então, passou sua mão contra a lateral das minhas pernas enquanto se levantava, parando apenas o suficiente para beijar a base da minha coluna. “Reece,” eu sussurrei. “Sim?” Aquelas mãos subiram para minha cintura. “O que você está tramando?” A ponta de seus dedos brincava com a tira da minha calcinha enquanto ele inclinava seu quadril contra mim. Eu conseguia sentir sua ereção contra minhas costas. “O que parece?” ele não me deu muita chance para responder por que ele deslizou uma mão contra minha barriga, por baixo da linha da minha calcinha. Ele me envolveu. “Caso você precise de uma dica, você disse que era minha. Eu estou contando com isso.” Oh Deus, ele estava totalmente contando com isso. Ele deslizou um dedo dentro de mim, onde eu literalmente pulsava por ele, percorrendo minha umidade. Meu quadril se moveu enquanto ele acariciava o ponto que eu achava que apenas meu vibrador conhecia. Seu dedão circulou a bola de nervos com uma habilidade incrível. Eu me movia contra sua mão, sem conseguir evitar, meu corpo assumindo o controle total. Ele moveu seu quadril contra mim enquanto continuava a me trabalhar com seus dedos. “Eu poderia gozar apenas de ter você montando minha mão.” Meu corpo queimou com as suas palavras. Havia algo verdadeiramente incrível nisso, cru e novo para mim. E eu estava tão perto de explodir, tanto que quando ele tirou sua mão, eu choraminguei. Então eu ouvi o som pesado de seu cinto com os equipamentos caindo no chão, o pequeno som de um zíper. Meu coração estava acelerado. “Se apresse,” eu implorei para ele. Ele beijou meu ombro enquanto seu braço circulava minha cintura. “Se eu me apressar ainda mais, isso vai acabar antes de estar dentro de você.” Eu fui tirar minha calcinha, mas ele me impediu. “Fique com elas,” ele ordenou. “E coloque suas mãos contra o balcão. Mantenha elas lá.” 235
Surpresa e totalmente excitada, eu coloquei minhas mãos sobre o balcão, reprimindo um gemido. Eu meio que – okay, eu totalmente – gostava quando ele ficava todo mandão assim. Usando seu pé, ele afastou minhas pernas enquanto trilhava meu pescoço com beijos. Então ele me levantou na ponta dos meus pés, empurrando minha frente contra o balcão. “Fique aqui,” ele disse. Eu tremi quando ouvi o barulho do alumínio rasgando. Houve uma pausa e, então, ele passou suas mãos sobre minha bunda, acariciando minha pele. Eu gemi quando ele afastou o fino material para o lado. “Eu desejo que você pudesse se ver agora. Tão linda, Roxy.” Eu fechei meus olhos, deixando suas palavras me varrerem. Nesse momento, eu nunca acreditei tanto em suas palavras como estava fazendo. “Oh Deus,” eu ofeguei, sentindo ele entre minhas pernas. Seu braço circulava minha cintura de novo e ele me levantou até que meus dedos do pé mal estivessem tocando o chão. Havia algo extremamente sensual sobre fazer sexo ainda meio vestida. Eu me sentia mais exposta do que se estivesse nua. Esse pensamento sumiu rapidamente quanto ele moveu seu quadril contra mim, deslizando apenas uns centímetros. Então ele investiu seu quadril para frente, entrando em mim rápido e profundamente, indo tão longe quanto eu poderia levá-lo. Ele pulsou, extraindo um grito de prazer de mim. “Inferno, você é tão apertada,” ele disse, nos selando juntos. “Desse jeito não está te machucando, certo?” “Não. De jeito nenhum.” Eu movi meu quadril apenas para caso se ele não tivesse entendido e, quando ele gemeu, eu fiz de novo. “Por favor Reece. Eu preciso disso.” “Não.” Ele afastou seu quadril, até que apenas sua cabeça permanecesse dentro. “Não é disso que você precisa.” “Sim, é. De verdade.”
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Ele moveu seu poderoso quadril, atingindo aquele ponto. “Você precisa de mim. Não só do meu pau. De mim.” Eu queria gritar em negação, mas as palavras morreram na minha língua como cinzas. Ele me puxou contra si, forçando meu peso contra seus braços. Sua mão se enterrou em meu cabelo, torcendo ele até que minha cabeça virasse para o lado. O beijo foi quente e agressivo, o suficiente para me deixar na beira e ele sabia disso. Esticada e, por causa da diferença de altura, eu não conseguia me mover. Nem quando ele começou a investir rápido e profundamente, colocando um ritmo que me levou ao limite. A mão em meu cabelo soltou e ele a moveu para entre minhas coxas. “É isso,” ele instigou, fazendo algo realmente incrível com seus dedos bem no centro entre minhas coxas. “Goze para mim.” Suas investidas profundas, suas palavras e o que ele estava fazendo com sua mão me fizeram voar sobre a borda. Gemendo, eu levei minhas mãos até seu cabelo. A liberação me percorreu, um tumulto de ondas uma depois da outra. Era como se cada nervo tivesse pegando fogo de uma vez. Meu corpo tremia com a força e a beleza disso. “Deus, eu consigo sentir você gozando,” ele disse entre respirações. “É tão perfeito. Você é perfeita.” Eu estava mole enquanto ele me guiava para baixo, para que eu estivesse sobre o balcão mais uma vez. Meus dedos deslizaram sobre o granito enquanto eu apoiava meu peso em meus braços. Eu olhei sobre meu ombro para ele. Através da bagunça que meu cabelo estava, eu vi seu rosto concentrado, seu maxilar cerrado. Reece era lindo. “Eu não consigo segurar mais,” ele disse com a voz rouca. Um tremor passou pela minha coluna. “Não segure.” Ele agarrou minha cintura e não se segurou. Meu quadril batia contra o balcão e ele estava selvagem enquanto investia contra mim. Meus músculos se contraíram e antes que eu percebesse, aqueles pequenos tremores explodiram e outra liberação que cortou profundamente por mim. 237
Reece curvou seu corpo contra o meu, seu quadril investindo mais uma vez e, então, ele deu um grito rouco. Eu apoiei minha bochecha contra o balcão frio, meus olhos fechados enquanto eu ofegava. O movimento de seu quadril diminuiu enquanto seus lábios descansavam contra o canto dos meus. “Essa foi a melhor sobremesa que eu já tive,” ele sussurrou. “Eu acho que isso vai ser obrigatório depois de cada refeição.” “Mmm,” eu murmurei. Isso era tudo que fui capaz. “Apesar de que não sei se essa é uma boa ideia.” Ele beijou minha bochecha. “Você pode não conseguir andar se mantermos esse ritmo.” Verdade. Reece se retirou de mim e jogou a camisinha fora. Eu não me movi enquanto ele se arrumava e fechava suas calças. Eu era apenas uma poça de felicidade pós coito enquanto ele me virava e me puxava contra seu peito. Ele me beijou suavemente e foi um beijo lindo e carinhoso. Afastando meu cabelo para longe do meu rosto, ele moveu esse doce beijo para minha sobrancelha. “Você devia descansar. Na minha cama e não no maldito sofá. Nós temos um grande dia amanhã.” “Temos?” Eu olhei para ele. “Yeah.” Suas feições suavizaram e isso atingiu meu coração, me fazendo pensar em coisas loucas por uma eternidade. “Amanhã falaremos com seus pais.”
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Capítulo Vinte Por alguma razão, eu realmente não tinha pensado sobre o fato de que Reece estaria comigo quando fosse falar com os meus pais. Eu não sei porque, mas acho que foi porque nunca realmente fui para casa dos meus pais para discutir qualquer coisa com um cara marcando junto. Bem, eu tinha trazido para casa um cara uma vez, mas tinha sido honestamente por acidente. Eu tinha dezenove anos, e tinha acabado de sair de casa antes de um encontro quando percebi que tinha deixado minha carteira e ID na mesa da cozinha. Após o encontro com o cara, tivemos que voltar e recuperá-los. Minha família inteira parecia estar presente, e o pobre cara nunca mais me chamou pra sair depois disso. De alguma forma, eu duvidava que Reece teria o tratamento das 1001 perguntas, embora. Conhecendo meus pais, eles estenderiam o tapete vermelho para ele. Paramos no meu apartamento antes. Reece insistiu para entrar primeiro, e esperei em pé na porta enquanto ele revistava as coisas. Retornando onde eu estava, ele disse: "Tudo parece certo para mim. Você precisar de ajuda com alguma coisa? " "Não. Obrigada." Deixei Reece vagando ao redor da sala de estar, e fiz o meu caminho de volta para meu quarto. Eu não poderia suprimir o frio que serpenteava pela minha espinha quando olhei ao redor, e meu olhar parou na cama bagunçada, os lençóis jogados para o lado durante a minha saída abrupta, permaneciam do jeito que tinha deixado. Eu comecei o processo surpreendentemente doloroso de embalar roupas suficientes e itens de banho para passar uma semana ou assim. Limpei uma lágrima estúpida que tinha escapado livre. Este deveria ser um lugar de conforto e segurança para mim, não de medo e paranoia.
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Quando saí do banheiro, Reece estava sentado na beira da cama. Ele deu uma olhada para mim e levantou-se sem problemas. "Está tudo bem?" "Claro." Minha voz maldita rachou. Dúvida cruzou seu rosto impressionante. Ele não disse nada enquanto empurrei minha nécessaire em uma mala que eu tinha carregado com roupas. Forçando um sorriso, fechei o zíper da mala. "Isso deve ser tudo." Ele inclinou a cabeça para o lado. "Lembra-se do que eu disse?" "Você me diz um monte de coisas. Eu nem sempre presto atenção " Eu provoquei. Uma sobrancelha levantou-se. "Está tudo bem em não se sentir bem sobre nada disso." "Você é um psiquiatra. Tem certeza que está na profissão certa? " "Não dê uma de espertinha. Eu posso girá-la sobre o meu joelho." Seus olhos escureceram para um azul cobalto. "Na verdade, isso soa como uma ideia fantástica." Yeah, acho que sim. Eu me perguntei se ele ainda me pediria para ficar assim? Isso me fez quente. Ele gemeu quando deu um passo para frente, curvando a mão ao redor da minha mandíbula. "Eu posso ler o seu rosto como um livro aberto." Sua voz caiu um tom mais baixo, estava rouca. "Você gostaria disso." Fechei os olhos, influenciada pelo profundo timbre de sua voz. "Talvez" "Não há talvez. Você gostaria. Assim como você gostou na cozinha." "Que horas são?" Perguntei. "Porque acho que temos tempo para testar essa teoria, antes de ir para a casa dos meus pais." Reece inclinou a cabeça para trás e riu. "Baby, as únicas vezes que estive dentro de você foram muito rápido. A próxima vez que eu despi-la quero tomar meu tempo com você." Oh, isso bateu direto nas minhas partes femininas. Ele abaixou, beijando-me rapidamente, antes de pegar minha mala. 240
Suspirando, eu me dirigi para fora do quarto e peguei meu laptop na sala de estar. Eu não me permiti olhar para trás quando deixei meu apartamento. "Você sabe se Colton falou com o cara do sistema de segurança sobre o meu lugar? " perguntei, fechando a porta atrás de nós. "O quê? Você já está enjoada de mim? " Eu sorri para o tom leve. "Sim." "Meu coração. Você o quebrou.” Na varanda, esperando por mim, ele seguiu para onde a caminhonete estava estacionada. "Eu não sei, mas eu vou checar com ele hoje e ver sobre o seu telefone. Mas suas economias dariam, certo?" "Sim." Reece abriu a porta da caminhonete para mim, e levou minhas malas, empilhando-as ordenadamente no espaço atrás dos bancos. Quando se afastou, endireitou os meus óculos e, em seguida, abaixou, pressionando os lábios contra a minha bochecha. Uma grande parte de mim queria rir como uma garotinha, porque não havia algo tão bonito sobre ser beijada na bochecha, mas eu consegui segurá-la, enquanto ele se afastava e andava em torno da frente de sua caminhonete. Virando-me, olhei na parte de trás e, em seguida, olhei novamente. No início, não acreditei no que estava vendo. Sondando em volta, congelei. Escondido atrás do assento, cuidadosamente arrumadas, estavam meu cavalete, uma tela em branco, e minhas pinturas, tudo embalado. Não podia me mover enquanto olhava para os itens. Eu sequer tinha ouvido ele entrar e sair da casa, muito menos no quarto adicional, mas ele... Ele arrumou minhas pinturas! Levantando meu olhar, encontrei-o atrás do volante. Ele estava olhando para mim estranhamente, e não eu tinha ideia do que a expressão no meu rosto dizia, mas provavelmente parecia uma louca. "O quê?", Perguntou. "Você pensou nas minhas pinturas", eu sussurrei. Ele olhou para trás e depois para mim. "Sim. Eu percebi que você gosta delas. Eu tenho um quarto de hóspedes para elas."
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Eu pensei sobre o que ele disse ontem à noite, sobre eu precisar dele, e soltei uma respiração superficial. Eu nem sei por que pensei sobre isso, mas precisar dele, significava que eu tinha fortes sentimentos por ele novamente, e que também significava que se eu o perdesse, estaria em um mundo de miséria. E conectando tudo isso junto me senti ficando louca. Mas ele arrumou minhas pinturas! Do lado de fora da caminhonete, tudo que eu podia fazer era olhar para ele como uma idiota até que um lado de seus lábios apontou para cima. "Baby, você vai subir nesta caminhonete ou não?" Segurei a porta, sentindo meu coração expandir no meu peito até que houvesse uma boa chance dele estourar, porque poderia não parecer um grande negócio para Reece, mas era para mim. Ele riu aquela risada suave e profunda. "Roxy?" "Eu estou subindo", disse a ele. Uma sobrancelha arqueou depois de um momento. "A qualquer momento neste ano?" "Eu estou tomando meu tempo." Corei, porque sabia que parecia estúpido. "Não quero distender um músculo ao subir neste monstro. Eu preciso de uma escada para chegar a esta coisa." Reece riu enquanto eu fiz uma careta para ele. Finalmente, parei de dar uma de louca e entrei. Quando eu estava sentando, ele perguntou: "Quem é esse?" Olhei pela janela pra ver Kip cruzando a varanda da frente do Victorian, e a porta balcão fechando-se atrás dele. "Oh, esse é Kip. Eu não me lembro seu sobrenome, mas ele é o cara que se mudou acima." "Huh." Kip olhou para cima, e levantei a minha mão, dando-lhe um aceno, que foi devolvido com um pouco menos de entusiasmo. Ajustando o cinto de segurança para que ele não me sufocasse, olhei para Reece quando ele se afastou do meio-fio. Seu olhar foi para o espelho retrovisor e 242
depois para mim. Ele piscou. Apertei os olhos para ele. Ele riu, e agora os meus lábios tremiam. Algo sobre a maneira como ele sorriu e o som de seu riso era contagiante. Eu inclinei minha cabeça contra a assento. Havia apenas algo sobre isso. Você precisa de mim. As palavras flutuaram através dos meus pensamentos e mesmo que eu quisesse ignorá-las, elas não me ofendiam e não me faziam sentir-me fraca, como uma mulher que precisava de um homem ou qualquer tipo de porcaria como essa. Isto significava algo muito mais profundo do que isso, algo que eu não tinha certeza se estava pronta para me aprofundar. "Obrigado", eu disse. Ele olhou para mim rapidamente. "Pelo o que? Os orgasmos que te dei na última noite?" Eu ri. "Sim, bem, obrigado por isso, mas não era o que eu me referia. É pelas pinturas. Isso foi muito gentil de sua parte." "Esse sou eu, Sr. Atencioso." Balançando a cabeça, fixei meus óculos quando começaram a escorregar. "Você também é o Senhor Arrogante." "Chama-se ser bem resolvido." Eu bufei deselegantemente. "Mantenha-se dizendo isso." No momento em que cheguei a casa dos meus pais eu tinha quase esquecido o porque nós tínhamos ido para lá. Os insultos que jogamos uma ao outro durante o caminho até lá, tinha-me completamente e alegremente distraído, mas quando paramos atrás do Volkswagen Sedan preto do meu irmão mais velho, eu queria engatinhar sob a assento da caminhonete. Claro que não poderia ser apenas meus pais. Oh não, era a Lei de Murphy no seu melhor. Reece sorriu quando olhou para mim. "Quer fazer uma aposta?" "Que, no final desta visita, vou querer me atirar sob um trem? " Eu me desafivelei.
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Com seus olhos enrugando, ele riu. "Não. Que sua mãe me acolherá na família no final da visita ". "Oh Deus", eu gemi, sacudindo a cabeça. "Eu não estou fazendo essa aposta, porque ela totalmente vai. Ela provavelmente vai começar a fazer botinhas para um bebê inexistente". Ele riu novamente, e isso fez todos os tipos de coisas incríveis em mim de novo. A maioria dos caras iria quebrar uma dúzia de leis para ficar longe de um casamento e uma mãe obcecada por bebês. Eu nunca diria isso a ele, no entanto. Suspirando, me forcei para fora da caminhonete e nós nem mesmo andamos metade do caminho antes que a porta da frente se abrisse e minha mãe saísse com os olhos arregalados, quando correram de mim para Reece e de volta pra mim. Engoli uma maldição. Mamãe parou na beira da varanda, batendo palmas. Literalmente. Ela, na verdade, aplaudiu. "Querida", disse ela, sorrindo tão amplamente que pensei que seu rosto pudesse rachar ao meio. "Você está prestes a fazer a sua mama muito orgulhosa? " "Oh meu Deus," eu gemi. Reece riu baixinho quando andou em volta de mim e subia os degraus. Antes que ele pudesse dizer ou fazer algo, mamãe o envolveu em um abraço, que sabia que era do tipo doloroso e atordoante, porque quando mamãe abraçava animadamente, envolvia um monte de apertar e balançar de um lado para o outro. "Mãe," eu disse, suspirando. "Reece, provavelmente, não consegue respirar." "Shush", ela respondeu. "Não é sempre que eu consigo abraçar um jovem, na verdade um homem, que não seja meu filho." "Oh meu Deus," eu murmurei. Reece rindo não está ajudando em nada, mas quando ele finalmente foi capaz de soltar-se, ele olhou por cima do ombro para mim e piscou. Eu atirei-lhe um olhar enquanto subia as escadas, mas ele falou antes de mim. "Tenho a sensação que minha garota está prestes a deixá-la orgulhosa."
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Meu queixo caiu. "A minha garota? Oh! "Mamãe bateu as mãos na frente de seu rosto enquanto ela chamava pelo meu pai. "Melhor notícia que eu já ouvi desde sempre." "Mãe." Eu estava indo para machucá-los. "Não foi por isso que viemos aqui, e- " "Não estrague isso para mim." Ela se virou enquanto eu revirava os olhos. Papai estava na porta da frente, as sobrancelhas levantadas. "Wit, você não vai acreditar nisso! Reece chamou a nossa menina de sua garota! " "Ok," Papai soltou a palavra para fora, em seguida, acenou para Reece. "Já estava na hora, filho." Quando passei por Reece nos degraus, empurrei meu cotovelo em seu estômago, agradável e duro também. Ele resmungou, e isso me deu um pouco de satisfação. Mamãe estava à beira de lágrimas enquanto zumbia ao redor da varanda, quase derrubando os arranjos coloridos de flores roxas e alaranjadas. Ela parou, girando para Reece. "Eu tenho que ligar para a sua mãe. Nós precisamos-" "Oh, pelo amor de Deus." Eu joguei minhas mãos. "Alguém entrou no meu apartamento no meio da noite e tirou uma foto minha enquanto eu estava dormindo e estou provavelmente sendo perseguida. É por isso que eu estou aqui!" Ambos os meus pais me encararam. "Ótima maneira de contar isso para eles", disse Reece secamente sob sua respiração. Papai virou-se para mim, deixando a porta se fechar com um estrondo atrás dele. "O quê?" Eu queria me jogar para baixo na varanda e me debater como uma criança tendo um colapso épico. Reece colocou a mão na parte inferior das minhas costas. "Por que não entramos para podermos conversar? Vamos contar a vocês o que está acontecendo."
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E isso foi o que nós fizemos, exceto que antes de podermos começar a história, Gordon e sua esposa, que estava na cozinha fazendo almôndegas, assumiram que Reece e eu iríamos morar juntos amanhã, casar na próxima semana, e aparecer com um bebê antes mesmo de Megan ter o seu. Megan estava sentada na mesa de carvalho, meu irmão estava perto da ilha. Eu não tinha ideia de como eles estavam trabalhando juntos assim. Gordon tinha a carne. Megan tinha os ovos e pão. Havia uma distância de pelo menos 1,5 metro entre a ilha e a mesa. Tentando descobrir isso fez meu cérebro doer. Meu irmão era atarracado como o meu pai e ele herdou a miopia da nossa mãe. No entanto, seus óculos nunca escorregavam pelo nariz como o meu. Gordon sorriu de uma forma que me disse que estava prestes a dizer algo que iria me envergonhar. "Você sabia que ela tinha uma queda por você desde os quinze anos? " "Querido", disse Megan, sacudindo a cabeça. Reece sorriu. "Oh, eu sei." "Todo mundo sabia," Gordon rebateu. "Eu tenho certeza que ela esboçou uma foto sua na parede do seu quarto, e papai teve que pintar-" "Gordon! Cale a boca! "Eu gritei. Papai entrou na cozinha. "Sim, Gordon, cale a boca. Alguém vem assustando sua irmãzinha”. Gordon levantou as mãos cobertas de hambúrguer da tigela e seu olhar ficou sério em um nano segundo. "O quê?" Eu sentei na mesa, em frente a Megan, imaginando que precisava me sentar para termos esta conversa. Então Reece e eu dissemos a eles tudo. Bem, quase tudo. Eu deixei de fora a coisa sobre as calcinhas na máquina de lavar, porque a sério, eu não preciso compartilhar isso com meus pais, e também não lhes disse nada sobre o sexo selvagem por razões óbvias. Como esperado, a minha mãe se apavorou e depois ficou com raiva, muita raiva. "Como alguém ousou fazer isso com minha filha! " Ela bateu com o punho na mesa, sacudindo as pequenas tigelas de comida, e depois olhou para Gordon. "Vocês ainda tem aquela espingarda? Espere." Ela levantou uma mão, olhando para Reece.
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"Tampe os ouvidos, menino. Porque estou a ponto de sugerir quebrar algumas leis por aqui". Reece fechou a boca. "Mãe," eu protestei fracamente. Isso foi amplamente ignorado. "Você ainda tem aquela espingarda, certo? Você vai ficar a noite na casa dela e se alguém entrar por aquela porta, você-" "Sra. Arks, eu não acho que isso é uma boa ideia. Acredito que Gordon queira ficar em sua casa para quando seu primeiro filho nascer", Reece interveio com sabedoria. "Roxy está segura agora, e isso é o que importa." "O que importa é que você tem que pegar esse filho da puta filho da puta doente." Os braços do meu pai estavam tensos, cruzados sobre o peito, enquanto Reece explicava tudo o que estava sendo feito. Meu celular estava com a polícia para procurarem por impressões. Meu apartamento seria conectado com um sistema de alarme. Gostaria de ficar com Reece até que isso estivesse feito. Levou um tempo para acalmarmos meus pais e irmão. Não os culpava por suas reações. Eles me amavam e estavam preocupados comigo, e não queria que eles tivessem medo, e eu não queria sentir medo de um sem nome, de uma aberração sem rosto. Provavelmente uma hora ou algo assim se passou, e o cheiro de alho e carne enchendo o ar, quando a mamãe nos convidou para jantarmos com eles seu semanal espaguete do domingo. Quando olhei para Reece, ele balançou a cabeça e me senti tão estúpida, uma vibração em minha barriga, como se um ninho de borboletas estavam voando para a saída. Quando me levantei para ajudar a colocar os pratos, percebi que estava faltando alguém. "Onde está Thomas?" Eu perguntei, colocando a pilha de pratos na mesa. Papai pegou uma cerveja da geladeira. "Oh, ele está na casa de um amigo, adorando a Satanás ou seja o que for que está fazendo ". Minhas sobrancelhas lentamente subiram até minha testa enquanto encontrei o olhar de Megan. Sorrindo, ela abaixou o queixo. "Bem, isso parece divertido."
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"Verdade". Reece sorriu de onde estava sentado. "Nada como um pouco de adoração satânica no domingo.” Mamãe deu um tapa no braço de papai quando voltava para a mesa. "Thomas está com a namorada dele. E eles estão estudando. " Gordon bufou. "Agora, veja o que vocês me fizeram fazer." Ela levantou as mãos, vestidas com as luvas de forno. "Esqueci do pão de alho." Quando ela retirou a assadeira, virou-se para mim e o pão mexeu-se precariamente na assadeira. "Oh! Eu quase me esqueci de dizer-lhe, desde que não consegui ir até você ontem, o que aparentemente foi uma coisa boa, porque eu provavelmente estaria agora como em Dog the Bounty Hunter51, colada na bunda de alguém. " Papai suspirou. Eu não podia manter uma cara séria e ri quando me sentei ao lado de Reece. "Eu estou imaginando você com um mullet52 loiro agora." "Eu ficaria muito bonita." Ela pegou o pão em uma cesta. "Eu corri até a senhorita Sponsito. Lembra-se dela? Ela é a curadora de um dos museus na cidade." Ah não. Eu peguei meu copo. "Sim eu lembro." Gordon trouxe uma cuba com o molho de espaguete, enquanto mamãe me dava um olhar de megera. "Você também se lembra que mostrei-lhe um pouco do seu trabalho?" "Como eu poderia esquecer?" Olhei para o meu chá, desejando que tivesse algo bem alcoólico nele. Talvez até mesmo alguns meth53 neste momento. Espera. Meth poderia ser líquida? Eu teria que perguntar para Reece. Mas não agora, porque ele estava me encarando enquanto papai colocava uma enorme pilha de macarrão em seu prato.
Série "Dog the Bounty Hunter" A atração girava em torno de Dog Chapman, que junto de sua esposa, irmão e filhos trabalham como caçadores de recompensas, capturando criminosos fugitivos. 52 O famoso cabelo conhecido popularmente como "Chitãozinho & Xororó" 53 Meth: A metanfetamina vendida como droga nas ruas é também conhecida como meth, cristal, Tina ou ice. Cristal, como o nome diz, são uns cristais brancos ou incolores, como açúcar, que podem ser esmagados para virar pó. 51
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Todos se sentaram, mas minha mãe era como um pit bull. "Ela ainda está muito interessada." "Oh," murmurei, pegando a maior almôndega que eu poderia encontrar. "Você faz as melhores almôndegas", eu disse a Gordon. "Eu já lhe disse isso antes?" Gordon sorriu. "Interessada em quê?", Perguntou Reece. "Em nada" foi minha resposta imediata. Mamãe me lançou um olhar de repreensão. "Mostrei a senhorita Sponsito várias das pinturas de Roxy há um par de meses. Ela está interessada em comissionar as peças. Você sabe", disse ela, olhando para mim. "Ser pago para fazer algo que você ama. Ideia extravagante. Mas Roxy não a procurou sobre isso ainda." Eu fiz uma careta enquanto enrolava meu espaguete e, em seguida, quase gritei quando uma mão pousou na minha coxa. Olhando para Reece, levantei minhas sobrancelhas. Ele estreitou os olhos. "Por que você não fez isso?" Boa pergunta. Nenhuma resposta fácil. Eu dei de ombros. "Eu não tive tempo. Eu sinto como... Eu preciso mostrar-lhe algo novo, algo grande." "É por isso que você deve deixar essas aulas malditas", disse papai, apunhalando seu macarrão. "Pai, eu estou tentando obter uma educação. Não é algo que todos os pais querem para seus filhos?", perguntei. "Todo pai quer que seu filho seja feliz", ele corrigiu. "E você não vai ser feliz com algum grau de design gráfico." Eu dei uma respiração profunda. "Eu estou feliz." Ninguém parecia acreditar em mim, e meu, isso era difícil de engolir. Eu queria gritar que estava feliz... Tanto quanto eu poderia ser agora. Quero dizer, Oláa, eu tinha um cara tirando fotos minha enquanto dormia, e Henry estava solto,
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correndo por aí, como um homem totalmente livre, e Charlie... Charlie não estava comendo novamente. Eu já não estava com fome. Reece me observava de perto, de forma muito atenta. "Tudo o que vi do seu trabalho, é grande." "É verdade." Megan sorriu. "Você fez a pintura para o quarto do bebê. Aquele com o ursinho de pelúcia? Toda vez que entro no quarto, me surpreendo de tão real que parece ". "Obrigado", murmurei desconfortável. Quando olhei para Reece, eu podia ver as engrenagens agitadas em sua cabeça. Eu preferia estar falando sobre o perseguidor e minhas calcinhas na lava-louça. Mas então, porque esta era a minha família, a conversa ficou ainda mais estranha enquanto o jantar acontecia. "Como está seu pai?" Meu pai perguntou a Reece. Eu endureci enquanto o encarava. Meu pai estava alheio. "Ele está indo bem. No seu divórcio número quinhentos ", disse ele despreocupadamente, mas eu sabia que a incapacidade de seu pai em ser fiel e não mentir, era um enorme problema para ele. Não é uma neurose, no entanto. Se fosse, ele não teria superado o fato de que eu tinha mentido. Mas ainda o incomodava, no entanto. "As mesmas coisas antigas, basicamente." Papai limpou a garganta. "Bem, um dia desses, espero que o seu pai encontre a felicidade. Todo mundo merece isso." Eles encontraram? Eu não tinha tanta certeza sobre isso, mas meus pais estavam há segundos de encontrarem uma árvore e abraçá-la. Foi quando eu estava ajudando a mamãe limpar a mesa e Reece tinha desaparecido na sala com o papai, meu irmão, e Megan, que estava completamente encurralada por ela e a expansão de seus sonhos de avó. "Vocês dois estão parando para ver sua mãe antes de voltarem?" Ela perguntou enquanto carregava a máquina de lavar louça.
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Espere. Estávamos? Eu ainda não tinha pensado nisso. Não tinha certeza se poderia fazer uma Segunda Rodada. "Eu não sei." Ela pegou os pratos que entreguei-lhe depois de enxaguá-los. Um momento se passou. "O que está acontecendo entre vocês dois? E não me diga que você não sabe. A última vez que nós conversamos sobre o seu status de relacionamento, ele não estava no script, e agora ele está." Eu abri minha boca. Mamãe continuou. "E eu sei que seu irmão estava lhe dando um tempo difícil." Ela virou-se, me olhando diretamente nos olhos. "Mas, querida, todo mundo sabe que você era apaixonada-" "Nós estamos namorando", eu a cortei antes que pudesse terminar. "OK? Eu acho que é isso o que estamos fazendo. Não é nada sério. OK? Eu não tenho mais quinze anos." Ela arqueou uma sobrancelha. E eu não estava desenhando esboços dele na minha parede. Eu estava pintando o cara real agora. Ugh. Fugindo de mamãe, eu peguei o resto dos talheres e separei as peças em seus lugares. "Querida." Mamãe tocou no meu braço. "Eu estou preocupada com você." Endireitei-me encostando na pia e mantive minha voz baixa. "Por causa de Reece? " Ela sorriu, mas foi como uma pontada no peito, porque ela estava tão triste. "Sim. Porque eu sei que você o amou fortemente por anos, e ele está aqui, com você. Esse menino está aqui, e você está agindo como se não fosse nada? " "Mamãe-" Uma mão surgiu, silenciando-me. "E você ainda não quer tentar esta coisa com o museu? Agora, ainda por cima, há um homem invadindo seu apartamento? Isso não tem nada a ver com as duas primeiras coisas e não tem nada a ver com o que eu vou dizer a você agora. Mas é hora de você ter uma conversa com Jesus. " 251
Ah não. "Só porque Charlie está preso a essa cama não significa que você não pode viver sua vida ao máximo." Eu recuei como se ela tivesse me dado um tapa. "O quê?" "Querida, seu pai e eu sabemos que você está carregando um monte de culpa e que vocês-" "Roxy?" Reece entrou na cozinha, com meu pai e irmão à direita atrás ele. Pelo olhar assassino em todos os três, meu coração imediatamente se afundou. "O que há de errado?", Perguntei. "Precisamos voltar para o seu apartamento", disse ele, e enquanto caminhava em direção a mim, seus olhos nunca deixaram meu rosto. "O seu apartamento foi arrombado."
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Capítulo Vinte e Um No caminho de volta para meu apartamento, eu estava em um estado de total descrença. Nós tínhamos estado lá apenas umas horas atrás. Como alguém poderia invadir logo no começo da noite? Bem, não demorava muito para fazer isso, mas ainda assim. Eu só não conseguia acreditar nisso, especialmente depois do que tinha acabado de acontecer. Meu pai e meu irmão seguiam a gente e quando chegamos, havia uma viatura da polícia na porta dos apartamentos vitorianos. Assim como um Mustang familiar – vermelho cereja. “Roxy!” Reece gritou enquanto reduzia para estacionar. Mas eu já tinha aberto a porta da caminhonete e saído dela, seu palavrão assombrando meus passos enquanto eu entrava no jardim dos apartamentos. Eu vi Kip de relance, parado na varanda, junto com a noiva de James, mas eu estava focada em uma pessoa. Henry Williams estava de pé, nos degraus, falando com um policial. Ele se virou enquanto eu me aproximada, seus olhos arregalando. “Roxy...” “Foi você! Não foi? Você esteve no meu apartamento enquanto eu dormia e você voltou agora e o invadiu?” Minhas mãos estavam fechadas em punhos. De repente tudo fazia muito mais sentido para mim. O que estava acontecendo não tinha nada a ver com as outras meninas. Nada estranho começou a acontecer até que Henry saiu da cadeira. “Como você estava entrando no meu apartamento?” Ele balançou sua cabeça enquanto se afastava, olhando entre o policial e eu. “Eu juro. Eu não tive nada a ver com isso. Eu não arrombei seu apartamento. Eu nem mesmo seu o que você...” “Você é um bastardo doente!” Eu gritei. “O que tem errado com você Por que...” “Whoa.” Um braço estava em volta da minha cintura e a próxima coisa que soube, eu estava olhando para rua enquanto meu pai e meu irmão passavam por nós.
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Reece falou na minha orelha. “Você precisa se acalmar, Roxy. Nós não sabemos se ele...” “Quem mais seria?” Eu gritei, querendo atingir ele com meu cotovelo de novo. Eu não poderia lidar com Reece defendendo ele. Para mim, isso era tão obvio. Eu me virei para que estivesse encarando Henry de novo. “Por que mais você estaria aqui?” “Eu vim falar com você, mas quando bati na sua porta, ela abriu e eu vi o interior do apartamento. Eu liguei para polícia.” “Oh, isso não é verdade,” eu retruquei. “Roxy,” Reece alertou gentilmente. “Ele que nos chamou,” o policial confirmou. “E ele alega que não entrou. Nós falamos com o senhor que está na varanda. Ele não ouviu nada suspeito, mas ele tinha saído por algumas horas.” Foi ai que percebi que meu pai e meu irmão tinham entrado no meu apartamento e estavam voltando. Meu pai veio para o degraus, suas bochechas vermelhas de raiva. “Eu não quero ela vendo isso.” Agora, claro que eu tinha de ver. “Me deixe ir.” Quando Reece não soltou, eu senti como se estivesse a segundos da minha cabeça girar do melhor estilo O Exorcista. “Me solte, Reece. Sério.” “Me escute, querida. Deixe que Reece e eu cuidamos disso,” Meu pai argumentou com suas mãos em seu quadril. “Gordon vai te levar de volta para nossa casa ou a do Reece, mas eu realmente não quero que você veja lá dentro. Não agora.” “O que eu quero é ser colocada no chão e ver o que aconteceu dentro do meu apartamento,” eu disse, mal me controlando. “Eu não tenho mais quinze anos. Eu sou uma maldita adulta. Sério.” Meu pai olhou para longe, passando seus dedos pelo seu cabelo. Então ele se virou para meu irmão, que parecia tão furioso como eu estava me sentindo e disse algo com a voz baixa demais para que eu pudesse ouvir.
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“Você não vai bater em ninguém, vai?” Reece perguntou. “Se eu te soltar?” Henry olhou para o chão enquanto eu bufava. “Só se você não me soltar.” “Se comporte,” ele pediu antes de começar a soltar. Eu me soltei, dando a volta no meu pai e desviando da mão do meu irmão enquanto eu subia os degraus. “Você pode querer esperar,” Kip sugeriu de onde ele estava na frente da porta dos Silver’s. Ele andou na minha direção, mas parou quando Reece subiu correndo os degraus. Eu entrei no meu apartamento e parei bruscamente. Meus olhos deveriam estar brincando comigo. Não tinha como esse ser meu apartamento. Não tinha como ele estar cheio de policiais tirando fotos e procurando por digitais. A TV havia sido derrubada no chão, a tela rachada em pedaços grandes. A mesinha de centro e a de canto, ambas pintadas por mim, pareciam que tinham sofrido a raiva do Hulk, recebendo tantas pancadas até que suas pernas se quebrassem. Tanto o sofá quanto a poltrona estavam virados ao contrário. De onde eu estava, eu podia ver que as coisas da cozinha estavam inteiras, mas também haviam recebido pancadas. Meu coração palpitava enquanto raiva me percorria. Com minhas mãos fechadas, eu fui para o corredor. O quarto estava uma bagunça. O edredom e o lençol jogados e empilhados no chão. Todas meus vidros de perfume e cremes estavam quebrados. Me virando, eu quase esbarrei em Reece. Ele tentou me alcançar, mas eu desviei dele e fui para meu estúdio. Meu coração quebrou. “Oh meu Deus,” eu sussurrei, pressionando a palma da minha mão contra meu peito enquanto encarava o quarto. Graças a Deus Reece tinha pegado meu cavalete e moldura mais cedo, junto com minhas tintas, porque todo o resto que havia no quarto estava totalmente destruído. Todas as outras pinturas que eu tinha feito, mesmo aquelas de Reece que
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eu tinha escondido no armário, estavam rasgadas em pedaços irreconhecíveis. Era como se raiva tivesse explodido no quarto. Eu tremi. “Minha... todas minhas coisas.” “Me desculpe.” Reece apareceu atrás de mim, colocando um braço sobre meu peito e me puxando contra sua frente. Seu outro braço veio, me segurando contra ele. “Eu queria que houvesse algo que eu pudesse falar para fazer isso melhor para você.” Parte de mim queria se soltar e sair chutando as coisas. “Eu não entendo.” Seu abraço apertou por um momento, ele apenas me segurou e isso... isso me ajudou mais do que achei que poderia, mas eu pensei sobre quem estava esperando do lado de fora. “Tem de ser culpa de Henry.” Raiva voltou, afastando o horror e a dormência de ver minhas coisas destruídas. Eu me virei em seus braços, encontrando seu olhar. “Tem de ser ele. Quem mais?” Ele umedeceu seu lábio inferior. “Roxy...” “Você vai mesmo defender ele? De verdade? Quero dizer, nada disso aconteceu até que ele convenientemente apareceu. Então ele está aqui, inocentemente batendo na minha porta até descobrir que ela estava aberta? Quero dizer, vamos lá.” Reece abaixou seus braços. “Eu realmente não acho que seja ele.” Balançando minha cabeça, eu dei um passo para o lado. “É obvio!” “Por que ele iria invadir seu apartamento e logo depois chamar a polícia?” ele argumentou com uma voz estável e paciente. “Por que ele é um sociopata?” Ele inclinou sua cabeça para o lado. “Babe, o cara fez umas péssimas decisões quando era adolescente e ele pagou por elas – ele ainda está pagando por elas – e eu não gosto dele aparecendo aqui sem avisar, mas isso não faz dele um sociopata.” Minha boca caiu aberta. “Você está mesmo defendendo ele?”
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“Não. Ele é um imbecil. Só não é um sociopata.” Descrença me invadiu. “Ele não está defendendo o que ele fez há seis anos, querida.” Meu pai apareceu na porta. “Ele apenas está apontando que não faz sentido Henry ter feito isso e, então, ter chamado a polícia.” Eu joguei minhas mãos para cima. “E fez sentido quando ele jogou aquela pedra e quase matou Charlie?” “Babe, isso não tem nada a ver com Charlie.” Eu estava prestes a cuspir fogo. “Como você sabe? Talvez ele...” “Eu falei com ele,” Reece continuou, efetivamente conseguindo me calar ao fazer isso. Eu o encarei. “Eu tive longas conversas com ele.” “O que?” eu sussurrei. Reece olhou para meu pai e, então, seu olhar terminou em mim. Ele se aproximou. Ele era corajoso porque eu tinha certeza que minha expressão dizia que eu iria machucá-lo. “Depois da primeira vez que ele tentou te contatar, eu falei com ele para ter certeza que ele não iria te causar problemas.” “Bom rapaz.” Meu pai deu um tapinha em seu ombro e eu atirei um olhar a ele. De verdade? “O que?” ele respondeu. “Reece estava cuidando de você.” Eu cruzei meus braços. “Dizendo isso, eu não estou esquecendo o que ele fez com Charlie. Henry não esqueceu disso também. Esse cara está carregando muita culpa,” Reece disse e o tom de sua voz era de quem tinha muita experiência com isso. “E ele não está procurando por perdão. Ele está tentando acertar tudo. São duas coisas diferentes, babe, e invadir seu apartamento, brincar com você assim, não é seu propósito.” Por um longo momento eu não tinha ideia de como responder. Presa entre fúria e o choque, eu não sabia como lidar com o sentimento de ter sido traída que me percorria. Tudo de uma vez, eu estava apenas... de saco cheio de tudo. Exausta até os ossos, meus ombros abaixaram.
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Eu me virei, olhando o estrago. “Eu preciso limpar isso.” Um momento se passou e Reece tocou meu ombro. “Nós vamos falar sobre isso depois.” “Que seja,” eu murmurei, me afastando e pegando um pedaço de uma tela. Segurando ela perto, eu inalei, instavelmente. O azul era da mesma cor dos olhos de Reece, e eu podia diferenciar as linhas pretas que irradiavam das pupilas. Eu não sabia o que pensar quando notei que alguém tinha descoberto meu estoque estranho de pinturas de Reece. Apesar de tudo, o que fosse que eu estivesse sentindo se comparava com o quão violador e assustador era saber que alguém tinha estado aqui de novo e tinha feito isso – feito ato tão violento e fora de controle.
Nós limpamos o máximo que pudemos, e amanhã eu teria de ligar para a companhia de seguro. Por sorte, eu tinha seguro de inquilino, então isso cobriria o que foi danificado e o que seria trocado. Muitas das pinturas e das coisas de segunda mão não seriam, apesar de tudo, e eu sabia que poderia ter sido pior. Nada tinha sido roubado e no fim, meu apartamento estava apenas uma bagunça. Thomas ofereceu voltar amanhã aqui comigo para terminar, algo que Reece anunciou – ele não pediu – que iria vir também. Eu não protestei porque a última coisa que queria era ficar sozinha. Henry já tinha ido embora quando eu pisei do lado de fora de novo e foi uma boa coisa. Enquanto eu me acalmava e conseguia ver um pouco da lógica de Reece, eu ainda estava irritada pelo fato dele ter tido coragem de vir até minha casa e não estava totalmente convencida que não tinha sido culpa de Henry. Para mim, fazia mais sentido do que qualquer cara aleatório me perseguindo. Estava tarde quando voltamos para o apartamento de Reece, e eu tinha ficado brincando com a ideia de ficar na casa dos meus mais, mas se fosse ser honesta comigo mesma – qual seria a diversão disso? – eu queria ficar com Reece.
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“Quer algo para beber?” Reece perguntou, colocando as chaves no balcão da cozinha. Elas tintilaram como campainhas de vento caindo no chão. “Claro.” “Chá? Refrigerante? Cerveja?” “Cerveja. Eu poderia aproveitar uma cerveja.” Um lado de seus lábios se curvou para cima enquanto ele pegava suas Corona 54da
geladeira e as abria, antes de me entregar uma. “Desculpa, sem limão.” “Obrigada. Eu realmente não gosto de limão nas minhas bebidas de qualquer
modo.” Tomando um gole, eu me virei. Mesmo que fosse quase meia noite, eu não estava pronta para dormir. Exalando alto, eu andei até a sacada. “Se importa?” Ele levantou sua sobrancelha. “Babe, se sinta em casa.” “Eu sempre achei isso uma coisa estranha de se dizer. Por que você gostaria que as pessoas fizessem da sua casa a casa delas?” eu puxei a cortina e destranquei a porta. “Se as pessoas fizessem isso, elas estariam correndo pelo lugar sem roupa.” “Se for você, eu não iria me importar.” Ele sorriu sobre o gargalo da garrafa. “Na verdade, eu iria preferir.” “Pervertido,” eu murmurei e sai para o ar gelado da noite. Sentando em uma cadeira, eu puxei minhas pernas para cima. Uns minutos se passaram antes de Reece se juntar a mim. Ele estava descalço enquanto colocava suas pernas sobre a grade. Eu não sei porque, mas eu achei a combinação do jeans com seus pés descalços sexy. Também havia a chance de estar achando muitas coisas sexys. Nós sentamos em silêncio por alguns momentos e eu estava presa na similaridade entre o que estava acontecendo e o que meus pais faziam quase todas as noites quando eles achavam que seus filhos estavam na cama.
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Marca de cerveja
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Eles escapavam para a parte de fora para beber uma cerveja e passar algum tempo junto. Eu olhei para minha garrafa e brinquei com seu rótulo. Meu coração acelerou um pouco porque isso – isso parecia tão real e isso... wow, isso me assustava. Precisando me distrair, eu perguntei. “Você realmente acha que Henry não teve nada a ver com o que aconteceu?” “Yeah, eu acho.” Ugh. “Eu sei que você não gosta do fato deu ter falado com ele. Eu era como se estivéssemos bebendo. Eu queria me certificar que você estava segura,” ele explicou. “E como eu disse, querer acertar as coisas não exclui o que ele fez, mas sentir remorso pelas suas ações melhor do quer não ter nada?” Eu franzi o cenho enquanto pensava sobre isso. “Yeah, acho que sim.” “Acha que sim?” “Quero dizer, como você pode saber realmente que uma pessoa sente remorso? Ou culpa? Ou se isso não é apenas porque foram pegas?” “Você sabe, eu vi muita coisa ruim quando eu estava no deserto,” Reece disse, me impressionando com o comentário repentino. “Eu vi o que acontece quando alguém é atingindo por um IED55. Eu vi corpos de caras que eu considerava amigos atingidos por balas, alguns perderam braços ou pernas – suas vidas. Eu vi pessoas que, quando estava tudo feito, não tinham muito que devolver para suas famílias. Você meio que se acostuma a isso – a raiva cada vez que um grupo perde alguém. Não torna isso mais fácil, mas você está no meio da guerra. Eu acho que isso ajuda a amenizar a merda que está acontecendo, o que você tem que fazer para ter certeza que todos sobrevivam.” Ele pausou, tomando um longo gole. “Quando eu sai da academia e comecei a trabalhar aqui, eu pensei que poderia fazer o mesmo. Internalizar toda a merda, as batidas de trânsito e de casas, todas no mesmo lugar, toda sexta, os acidentes de
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Improvised Explosive Device – Artefato Explosivo Improvisado
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carro, as overdoses sem sentido, violência idiota em cima de idiotice. Guardar essas merdas onde isso pertencia. Eu estava fazendo isso. Então eu pensei que ter de atirar em alguém não seria diferente de como foi estar na guerra ou apenas estar fazendo meu trabalho. Eu estava errado.” Eu abaixei a garrafa para meu colo, chocada e quieta. Ele estava falando sobre o tiroteio. Reece nunca falava sobre o tiroteio. Eu não ousei respirar alto demais por medo dele parar. “Foi uma chamada normal. Uma briga do lado de fora do Spades Bar and Grill. Eu cheguei lá na mesma hora que o outro policial. A briga era no estacionamento, e nos levou um tempo para conseguir passar pela multidão.” Ele balançou sua cabeça devagar. “A criança – seu nome era Drew Walker. Apenas dezoito anos. Ele estava batendo muito em outro cara mais velho. Você sabe, ele tinha um maxilar quebrado, nariz estilhaçado e um olho roxo. Crânio rachado. Foi isso o que a criança fez com ele.” Reece afastou sua garrafa de si, olhando para o rotulo, concentrado. “Ele estava sobre efeito de meth56 e mais algum tipo de droga. Nós gritamos para ele parar e quando ele parou... cara, ele estava coberto de sangue. Como alguém que acabou de sair de um filme de terror. O menino tinha uma arma. Ele estava com a arma o tempo todo. Era com isso que ele estava batendo no cara. Não com seus punhos. Com o cabo da Glock57.” “Oh meu Deus,” eu sussurrei. Recapitulando os detalhes que a impressa reportou sobre o tiroteio, essa parte ou foi desprezada ou omitida. Eu abri minha boca, mas eu não tinha o que dizer. “Eu tive que ficar cara a cara com a mãe do garoto. Ela me bateu. Não uma vez.” Ele riu, mas não havia humor. “Duas. Ela apenas não entendia. Ele quase matou o cara em que estava batendo e ele estava sobre efeito de uma combinação louca de drogas. Eu não a culpo, apesar de tudo, por me odiar. E ela ainda odeia. Ele era seu filho. Eu entendo isso, mas cara, não era como estar no exterior. Você não vê os familiares lá. Você não está encarando ele nos olhos.”
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Metanfetamina Modelo de arma
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Meu peito doía por ele – doía por toda essa situação. Eu entendi os ‘e se’ que envolviam o acidente. E se o menino não estivesse drogado? E se ele não tivesse entrado na briga? E se fosse a bala de outro policial? Eu tinha me feito essas mesmas perguntas milhões de vezes. E se eu não tivesse arrastado Charlie para o jogo de futebol para que eu pudesse ver Reece? E se nós tivéssemos decidido ficar durante o jogo todo? E se eu simplesmente tivesse continuado em vez que discutir com Henry? “Houve muita raiva.” Ele olhou para mim e suspirou. “Muita. Como, porque fui eu que atendi o chamado? Por que foi minha bala? Eu tinha feito à decisão certa? Não tinha nada diferente que pudesse ser feito?” “Você fez o que deveria,” eu disse a ele, acreditando em cada palavra. Um pequeno sorriso apareceu. “Sempre que tem um policial envolvido em um tiroteio, sempre tem uma investigação. Eu fui liberado pelo que fiz, mas isso não o torna mais fácil, saber que você tomou a vida de um garoto que nem era velho o suficiente para comprar essa cerveja que estou bebendo.” Ele levantou a garrafa e disse. “Porque fazer a coisa certa nem sempre é... bem, a coisa mais fácil de se conviver. Viver com esse tipo de raiva e culpa é uma combinação amarga.” Cara, e eu não sabia disso. Eu tomei um gole da minha cerveja. Eu sabia que havia pouco que eu pudesse falar que fosse fazer uma grande diferença, mas eu disse o que achava ser verdade. “Você não é uma má pessoa, Reece. O que você teve de fazer foi difícil e ele era uma criança, mas...” “Mas isso acontece, babe. Foi algo que eu tive de lidar – ainda estou lidando, então eu sei quando vejo isso.” Eu fiquei tensa. “Eu vi quando falei com Henry. E eu vejo em você, mas Roxy, você não tem domínio sobre isso. Você entende?” Eu concordei principalmente porque era difícil de explicar porque eu sentia tanta culpa sobre Charlie. “Estou feliz que você falou comigo sobre o que aconteceu,” eu disse depois de uns momentos. “Eu sei que não é algo fácil de se dizer.” “Não é. Então você sabe que essa porta tem dois sentidos, certo?”
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Eu levantei minhas sobrancelhas. “Eu sei que tem coisas sobre você que não são fáceis de se falar, mas você precisa tentar e, quando você quiser, eu vou estar aqui.” Ele tirou seus pés da grade e levantou. “Quer outra cerveja?” Piscando, eu olhei para a minha que estava quase vazia. “Claro.” Enquanto ele se movia para voltar para dentro, ele parou ao meu lado e colocou seus dedos sobre meu queixo. Inclinando minha cabeça para trás, ele se abaixou e me beijou como se tivesse todo o tempo do mundo. Devagar, no começo, apenas sua boca acariciando a minha e, então, profundamente, partindo meus lábios com sua língua. Não era apenas um beijo. Não quando sua língua dançava sobre a minha ou como ele me provava. Reece transformou o beijo em uma forma de arte e, se eu tivesse que atrelar uma cor a isso, para representar em uma tela, seriam vários tons de vermelho e roxo. Eu ainda estava embasbacada pelo beijo de Reece quando ele voltou com outra cerveja. Nós terminamos conversando até altas horas da manhã, às vezes sobre coisas sem importância, e depois da terceira cerveja, a conversa ficou mais séria. Eu posso ter admitido em ter trancado meu irmão mais novo em um baú uma vez. Então admiti que odiava as aulas de design da faculdade. “Os caras são um pé no saco.” Eu disse a ele. “Como se você precisasse de um pênis para saber programar ou trabalhar com design quando, na verdade, qualquer pessoa com treze anos e um computador pode fazer um website decente.” Reece franziu o cenho para mim. “Então por que você faz? Essa é uma pergunta séria.” Eu dei de ombros. “Eu preciso de um diploma.” “Você deveria fazer o que quiser.” “É o que eu quero.” Ele bufou. “Que seja.” Eu mostrei a língua e ele riu, o que me fez sorrir porque eu realmente gostava do som da sua risada. Enquanto eu o observava terminar sua cerveja, eu pensei sobre o que ele havia compartilhado comigo essa noite. Fez sentido porque ele foi capaz 263
de encarar Henry tão objetivamente. Não significava que eu concordava, mas eu entendia da onde isso veio. “Como você finalmente superou a raiva, Reece?” eu perguntei. Ele levantou um ombro. “Você realmente supera isso? Completamente? A raiva e a culpa? Nah, eu acho que isso é um corte profundo demais que deixa uma cicatriz que realmente não cura. Você só aprende a lidar antes de chegar ao fundo do poço.” “E você... você já chegou no fundo do poço?” Um bom momento se passou antes que eu percebesse que ele não iria responder a pergunta. Talvez ele não soubesse a resposta. Reece olhou para longe, seu maxilar tensionado enquanto ele encarava as arvores, olhando para o nada. Silêncio desceu sobre nós e eu sabia lá no fundo que havia algo que ele não estava falando. Algo que ele não queria que eu soubesse.
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Capítulo Vinte e Dois Tinha se passado uma semana da invasão e eu realmente não estava pensando sobre isso agora porque era um pouco estranho estar indo para um happy hour na casa de Jax, já que agora eu sentia como se fosse a primeira vez que Reece e eu realmente estávamos indo como... algo parecido com um casal. Eu acho que era isso que éramos. Nós conversávamos como se fossemos. Nós transávamos como se fossemos. Ele tinha a chave extra do meu apartamento. Principalmente para se eu estivesse trabalhando quando o cara fosse instalar as câmeras no meu apartamento, ele conseguiria entrar, mas que seja. Nós éramos como um casal, e isso me fazia me sentir idiota por estar achando isso estranho em primeiro lugar. Mas minha cabeça estava em todos os lugares nessa última semana. Eu não estava acostumada em ter um cara ao redor, por mais que fosse com Reece, e eu pensava que estaria perturbada pela falta de espaço, mas não estava. Eu realmente sentia a falta dele quando ele não estava por perto, o que era estranho porque quando ele não estava trabalhando, ele estava comigo. Eu realmente gostava de quando Reece vinha para casa. E ele sempre estava carente quando chegava do trabalho. E se eu contasse o tempo que demorava de quando ele subia na cama até estar dentro de mim, então provavelmente seriam apenas alguns minutos. Se demorasse isso. O que era algo que eu não conseguia entender. Com os outros caras, eu precisava de preliminares, muitas preliminares. Com Reece, apenas a sensação da sua pele se movendo contra a minha era excitante o suficiente para uns pegas debaixo dos lençóis. Eu também descobri que ele não estava brincando quando disse que ele apenas dormia algumas horas aqui e ali. Houveram vezes que ele se levantou antes de mim, mesmo indo dormir depois de mim. Na quinta, eu acordei para descobrir que ele havia saído, encontrando ele sentado na sacada, seu pé sobre a grade e sua expressão longe, focado em algo que ele não estava disposto a compartilhar comigo, mas pelas sombras em seus olhos eu sabia que tinha algo a ver com o tiroteio.
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Isso ainda o assombrava e eu odiava não ter ideia de como ajudar ele com isso. Ou se ele queria minha ajuda. Nessa manhã, quando eu tentei falar com ele, eu tinha levado um gelo, então eu voltei para o que eu sabia que colocaria um sorriso em seu lindo rosto. Eu tinha ficado de joelhos entre ele e a grade e... e nós, com certeza, quebramos algumas leis de atentado ao pudor. Se meu nervosismo estava aparecendo no caminho até a casa de Jax – o que deveria de estar porque eu estava mais inquieta que um macaco – Reece não demonstrou que tinha percebido. Em vez disso, ele manteve a conversa leve, sem falar sobre Charlie, Henry ou o perseguidor raivoso que pode ou não ser Henry. Tudo que sabíamos era que não era Dean Zook. Colton tinha interrogado ele depois da invasão e, aparentemente, só de um detetive ter aparecido em sua casa tinha feito o cara derreter. Segundo Colton, Dean pode ser persistente, mas ele não tinha nenhuma vibe de perseguidor e ele duvidava que eu fosse ouvir algo sobre Dean de novo. Okay. Eu não iria pensar sobre isso – nada disso. Hoje seria uma noite normal, divertida e todas as coisas boas. Quando chegamos ao estacionamento e Reece desligou o carro, eu senti meu estômago cair e aterrissar no meu pé quando meu olhar encontrou um azul. “Eu já te falei que você está linda hoje?”, ele disse. Meus lábios se afastaram e eu concordei. Ele já tinha dito. Nessa manhã. “Oh, eu vou te dizer de novo. Você está linda.” Sem palavras, tudo que eu consegui fazer foi encará-lo. Ele era tão lindo, mas era seu olhar, sua aceitação sobre mim e todas minhas loucuras que realmente me desfazia. Você está caidinha, uma voz irritante sussurrava e eu queria dar uma surra na cabeça dessa puta, porque outra voz irritante estava apontando que eu provavelmente me apaixonei quando tinha quinze anos. A essa altura, era apenas uma queda lenda. “Você pega a salada de batata?” “Huh?” Eu murmurei, distraída pelas vozes na minha cabeça. 266
Ele apontou para meu pé. “A salada de batata que compramos na loja e que você insistiu em colocar em outro container de plástico para que parecesse que você realmente a fez quando eu tenho certeza que ninguém vai acreditar que você realmente a fez.” “Oh!” Eu me inclinei, pegando o pote. “Eu realmente a fiz.” “Mentirosa.” “Fique quieto,” eu provoquei, indo abrir a porta, mas ela não se moveu. Eu revirei meus olhos. “Você pode destrancar minha porta?” Ele riu e apertou o botão. Eu praticamente cai do negócio e, fiquei impressionada que um segundo depois, Reece estava ao meu lado, pegando o ponte de salada de batata de mim e segurando minha mão na sua. Nós estávamos de mãos dadas. Totalmente como um namorado e sua namorada. Nós estávamos de mãos dadas enquanto atravessávamos o estacionamento, e eu estava dividida entre me socar nas minhas partes baixas ou saltitar como uma colegial. Eu precisava de terapia. A porta da casa de Jax estava destrancada e assim que entramos na casa, quase demos de cara com uma linda ruiva que vinha descendo as escadas. “Hey!” Eu gritei. “Avery!” Então eu franzi o cenho. “Você está bem?” Avery parecia um pouco verde enquanto me dava um sorriso bobo. “Hey.” Ela respondeu com a voz calma. “Desculpa. Eu estou com intoxicação alimentar. Meu estômago está meio ruim, mas eu não sou contagiosa nem nada.” Ela olhou para onde minha mão estava entrelaçada na de Reece e seu sorriso aumentou. “Oi Reece.” Ele acenou. “Você tem certeza que está bem? Precisa que eu vá chamar Cam?”
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A risada de Avery era leve. “Sim, claro. E além do mais, eu duvido que você vai conseguir tirar ele da churrasqueira. Tenho certeza que ele chutou Jax de lá. Ele sempre faz isso em qualquer lugar que vamos. É estranho.” “Provavelmente é uma boa coisa. Cam sabe cozinhar, certo?” Eu perguntei enquanto seguíamos pela cozinha até a porta dos fundos. Seus olhos ficaram sonhadores, algo que era bobo e fofo, e eu imaginei se eu parecia assim quando as pessoas mencionavam Reece. Provavelmente não tão fofa assim, mais como drogada. “Yeah, ele sabe cozinhar.” Reece apertou minha mão. “Eu aposto que os omeletes dele não são tão bons quanto os meus.” Eu bufei. Seus olhos se estreitaram para mim enquanto meus lábios se curvavam. “Espere e veja se eu vou fazer qualquer omelete para você.” O olhar de Avery ficou vagando entre a gente. “Então vocês... um...” “Se juntaram a incrível liga de casais perfeitos da organização secreta dos gostosões perturbados?” Katie apareceu, pulando de dentro de uma parede pelo que sabia. Vestida mais normal hoje – meio que – ela estava usando um jeans rosa choque e uma blusa preta sem alças. “Sim. A resposta seria sim.” Reece levantou suas sobrancelhas. “O que? Eu duvido você tentar negar o titulo,” ela desafiou. “Faça isso. Faça meu dia.” Eu ri, “Eu não ia negar,” Reece respondeu. “Mas obrigada por roubar nosso holofote.” Sem se deixar afetar, Katie andou para trás no que parecia ser um salto de doze centímetros. Ela se virou, batendo palmas. “Reece e Roxy, cujos nomes se ligam de uma forma incrivelmente fofa, estão se pegando!” “Oh meu Deus,” eu sussurrei, meus olhos arregalados.
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“Bem, esse é um jeito de fazer o anuncio.” Reece suspirou. Um bando de cabeças se viraram na nossa direção. Perto da churrasqueira, Jax levantou sua mão e deu para nós... ele deu um joínha? Mesmo? “Estou tão orgulhosa de nossos bebês,” Nick comentou de onde ele estava sentado perto da churrasqueira, esparramado em uma cadeira como se tivesse crescido mais uns centímetros, o capuz do seu moletom sobre sua cabeça e usando óculos escuros. “Eles estão todos crescidos agora. O que iremos fazer?” Calla andou até nós, seu longo cabelo loiro balançando no seu rabo de cavalo. Ela sorriu enquanto pegava a salada de batata. “Eu tenho tantas perguntas,” ela disse para mim. “Mas desde que Katie simplesmente jogou isso no ar, eu vou esperar.” “Obrigada,” eu murmurei, com a voz seca. Ela riu enquanto colocava o pote numa mesa que alguém deve ter desenterrado de um porão ou de uma fraternidade, pela sua aparência. “Você fez isso?” Sua sobrancelha levantou. “Sim,” eu respondi, sem nem mesmo pestanejar. Reece engoliu uma risada que o rendeu um olhar estranho de Calla e eu soltei minha mão, atirando a ele um olhar mortal sobre meu ombro. Seu sorriso ficou ainda maior. “Com certeza não foi você que fez isso,” ela disse, com sua sobrancelha levantada. Eu suspirei. “Não.” Calla riu de novo. “Eu ia dizer que não sabia que você podia descascar batatas.” “Descascar batatas não é difícil,” eu resmunguei. Avery se juntou a Cam que, imediatamente, colocou um braço sobre seu ombro. “Você está se sentindo melhor, moranguinho?” ele perguntou, preocupação evidente do jeito que olhava para ela. Quando ela concordou, ele abaixou sua cabeça e beijou a ponta do seu nariz e, então, olhou para cima. “Os hambúrgueres estão 269
quase prontos. Tem algumas salsichas na grelha também. Queria fazer um pouco de frango, mas Jase não quis esperar tanto.” Jase, o cara extremamente lindo no meio deles, cruzou seus braços. “Especialmente quando você quer dar uma de Betty Crocker 58ou coisa do tipo.” “Não desconte sua raiva em Betty Crocker,” Cam o alertou. Cam meio que me deixava nervosa. Não de um jeito ruim, mas principalmente porque ele era um jogador profissional de futebol – um maldito jogador profissional. Eu sempre me sentia fora do grupo quando estava perto dele. “O cheiro está ótimo.” Reece olhou para Jax. “Colton disse que ia tentar vir, mas não prometeu.” “Entendível,” ele respondeu. Ele apontou para as inúmeras cadeiras vazias no quintal. “Fique a vontade.” Calla gesticulou para o grupo. “Brit e Ollie não conseguiram vir. Ele tem uma grande prova na segunda e Brit está ficando com ele em Morgantown, mas eu acho que vocês conhecem todos aqui com a exceção de...” “Mim.” Um cara com uma linda pele cor de café e brilhantes olhos verdes levantou de uma das cadeiras. Ele era alto, magricela e vagamente me lembrava do Bruno Mars. Ele estava usando uma malha cinza com capuz que eu meio que queria roubar para mim. “Eu sou Jacob. Eu vou para a faculdade de Shepherd. Sou de gêmeos. Alérgico a Game of Thrones, porque eu não consigo acompanhar todas as mortes da série. Se você falar merda de Doctor Who nós não poderemos ser amigos e eu ainda quero um maldito pônei que ninguém me deixa comprar.” “Eu meio que quero uma lhama?” eu disse. Reece olhou para baixo, para mim, seus lábios pressionados de um jeito pensador,
como
se
ele
estivesse
repensando
em
toda
a
coisa
de
namorado/namorada. “Por que você iria querer uma lhama?” Calla soou genuinamente curiosa.
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Marca da General Mills (empresa de produtos alimentícios). Nada mais é do que um nome para aproximar as pessoas dos seus produtos.
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Eu dei de ombros. “Quem não iria querer uma lhama?” “Um...” Avery enrugou seu nariz. “Elas cospem?” Jacob fez shiu
59para
ela e sorriu para mim. “Eu acho que seremos grandes
amigos. Nós podemos levar meu pônei e sua lhama para passear. Oh! Ollie poderia fazer coleiras fashion para eles. Eu quero uma com cristais Swarovski.” Outro cara que eu nunca tinha conhecido gemeu de onde estava. “Isso não vai acontecer.” Então Jacob fez shiu para ele também. “O Sr. Arrasador de Corações, também conhecido como Marcus, é meu namorado. Ele não entende a necessidade de um amigo de quatro patas obscenamente grande.” Eu sorri pelo que deve ter sido a melhor introdução de todos os tempos. Marcus era igualmente atraente, acho que até mais, e bronzeado. “Depois da faculdade,” ele disse, se levantando e oferecendo uma mão para mim e Reece. “Eu não conheço nenhuma dessas pessoas.” “Isso é provavelmente uma coisa boa,” Jacob disse, “Metade deles são insanos.” “Hey!” Teresa gritou da onde estava sentada. “Nós não somos insanos. Somos excêntricos.” “Falando de insanos” – Katie voltou para o grupo, segurando uma garrafa de Corona – “você pensou melhor sobre tentar a sorte no poste de pole dancing?” Jacob engasgou com a cerveja que ele estava bebendo e se virou de lado rapidamente, balançando uma mão na frente do seu rosto. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a cabeça de Jase se virou tão rápido que eu pensei que ela iria sair do lugar. “O que?” ele exigiu. Teresa sorriu enquanto mordia seu lábio. “Nada, querido.” “Não. Sério. Isso não é ‘nada’. Eu nem quero ouvir o nome da minha irmã na mesma frase que pole, mesmo que isso envolva dança.” Cam olhou para Katie,
59
Onomatopeia quando você quer silenciar alguém
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erguendo a espátula, fazendo Jacob desviar de um respingo de gordura. “Sem ofensas.” Ela deu de ombros. “Não levei nenhuma. Apenas os poucos e os orgulhosos podem lidar com isso.” Eu enruguei meu nariz. “Esse não é o lema dos Mariners60?” “Sim,” Reece suspirou. Jase olhou para sua namorada e, então, balançou sua cabeça. Rindo, Teresa levantou de onde estava sentada e foi para seu lado. Se esticando, ela colocou suas mãos em sua bochecha e sussurrou algo em seu ouvido. O que quer que fosse deixou seu franzido de cabeça para baixo. Ela voltou ao seu lugar, suas bochechas coradas. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Reece abaixou sua cabeça e beijou minha bochecha e, então, saiu para onde os meninos estavam em volta da churrasqueira. “Sente-se,” Teresa deu um tapinha na cadeira ao seu lado. “Senta, menina que está namorando o policial gostoso.” Meu coração fez uma pirueta feliz enquanto me sentava ao seu lado. Calla e Avery se juntaram enquanto Katie continuava de pé, cuidando da sua cerveja. “Policiais são quentes,” ela disse, seus olhos estrábicos. “Bem, qualquer cara em um uniforme é quente. Espere. Não qualquer tipo de uniforme, mas você entendeu o que eu quis dizer.” Eu tinha de concordar com ela. “Você ouviu mais alguma coisa sobre o perseguidor?” Avery perguntou com a voz baixa. Calla se inclinou para frente, sua expressão séria. “Seu apartamento foi invadido, certo?”
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Nome dado para a as pessoas que fazem parte da Marinha Americana.
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Eu concordei. “Yeah, semana passada, mas mais nada aconteceu desde então. Eu sei que o amigo do Reece vai vir na segunda ou terça, depois que sair do trabalho, instalar o alarme, então espero que isso ajude.” “Isso é assustador,” Avery disse, balançando sua cabeça. “Yeah, eu sei que isso me faz a Capitã Óbvia, mas Deus, isso é loucura. Eu estou aliviada por você estar ficando com o Reece.” Teresa se contraiu. “Assim como eu. Se eu fosse você, mesmo com um sistema de segurança, eu não iria querer ficar sozinha até que encontrassem esse maluco.” “Você já pensou em só ficar com ele até que descubram quem está fazendo isso?” Calla perguntou, olhando para onde os caras estavam rindo sobre algo que Jacob disse. “Eu duvido que ele seja contra.” Cruzando minhas pernas, eu nem mesmo conseguia esconder o sorriso que surgiu em meus lábios. “Eu também não acho que ele seria contra, mas eu não quero incomodar ele mais do que já estou.” Teresa levantou uma sobrancelha escura. “Eu duvido que você esteja incomodando.” “Verdade, mas...” eu balancei minha cabeça, sem ter certeza de como falar isso. Eu não tive que esperar muito porque Katie fez isso pra mim. Com a voz baixa, ela disse. “Roxy é uma idiota. Sem ofensas,” ela disse a mim e eu olhei para ela. “Ela acha que não está apaixonada. Ou que ela não quer estar, e provavelmente não tem ideia que ele está disposto a encarar isso, então ela está tentando proteger seu coraçãozinho.” Avery colocou uma mecha de seu cabelo cor de morando atrás de sua orelha. “Eu tenho certeza que todas nós já passamos por isso.” “Yep,” Calla comentou enquanto levantava seu copo de chá. “Estive lá, fiz isso e ganhei a camiseta.” Eu levantei uma sobrancelha para elas.
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“Eu sou a única que fui atrás do cara?” Teresa perguntou, sua expressão realmente em dúvida. “Porque eu sabia que eu queria fazer muito amorzinho com Jase desde o dia um.” “Isso é porque você tem bolas femininas,” Katie anunciou. “O resto delas tem apenas ovários.” “Será que eu quero saber o que vocês estão falando?” Jacob perguntou, aparecendo atrás de Avery. Ele se segurou no encosto da sua cadeira e se inclinou sobre ela. Calla riu. “Provavelmente não. Quanto tempo mais vai demorar até podermos comer?” Ele olhou para a churrasqueira. “Mais uns cinco minutos, eu acho? Como vou saber?” Teresa esticou suas pernas em frente de si, suspirando enquanto sorria. “Estou feliz que todos nós conseguimos sair para aproveitar.” “Yeah, essa vai ser, provavelmente, a última vez em um tempo.” Avery disse, dando um tapa em Jacob enquanto ele pegava uma mecha de seu cabelo e jogava em seu rosto. “Por que?” eu perguntei. “Depois desse semestre, eu estou me mudando de volta para cá,” Calla disse, um sorriso triste em seu rosto enquanto ela olhava para mim. “Você vai ficar presa comigo mas eu vou sentir falta de Avery e Teresa.” “Com os horários de Cam, ele tem varias viagens chegando. Eu tento ir com ele quando posso, mas nem sempre consigo.” Avery disse. “Mas nós temos um casamento para planejar, então não esqueça disso.” Ela sorriu para Teresa. “Eu estou confiando isso a você e a Brit, por sinal.” “Tudo bem pra mim. Você vai usar vermelho em vez de branco.” Avery revirou seus olhos. “Yeah, porque isso vai combinar com meu cabelo. Obrigada.” Jacob deu um tapinha carinhoso em sua cabeça, por simpatia. 274
“Finais de semana vão ser complicados para mim e Jase. Com seu novo trabalho no centro de agricultura, ele está trabalhando a semana toda e nossos finais de semana estão praticamente cheios desde que Jack vai ficar conosco durante os finais de semana,” Teresa continuou. “Jack não é seu irmão?” eu perguntei, esperando que nada tivesse acontecido com os pais dele que significasse que eles não poderiam tomar conta dele. “Uh...” Jacob se endireitou. “Eu não acho que Roxy sabe, Tess.” “Merda. Você está certo.” Teresa se ajeitou na cadeira de plástico. “Bem, é meio que complicado e uma história meio longa, mas a versão curta é que Jack não é seu irmão. Ele é o filho de Jase.” Minha boca caiu aberta, eu não consegui evitar. Eu olhei para onde Jase estava segurando um prato enquanto Cam colocava os hambúrgueres nesse. Eu sabia que Jack não era pequeno e que Jase não era muito mais velho que eu, então... “Ele estava namorando uma menina no colegial e ela ficou grávida.” Teresa explicou quando eu me virei de volta. “Em vez de colocar Jack para adoção, seus pais adotaram ele legalmente e o criaram como o irmão de Jase. Ele finalmente contou a verdade há Jack a umas semanas atrás.” “Wow,” eu disse. “Como isso foi?” Teresa sorriu meio triste. “Jack entendeu, mas de um jeito, ele não entendeu tudo. Ele não é velho o suficiente para saber direito o que Jase estava contando a ele, mas ele sempre o viu como seu irmão mais velho desde que nasceu. Vai levar um tempo para que ele se acostume ao fato que ele, na verdade, é seu pai. O bom disso é que os pais de Jase estão ajudando muito e, desde que Jase comprou uma casa, é um bom lugar para Jack quando ele estiver pronto.” Ela deu de ombros. “E hey, é quase como um treino para mim.” Avery atirou um olhar a ela. “Oh por Deus, não deixe que Cam ouça isso.” “Ele precisa superar o fato de que eu faço sexo. Muito sexo,” ela respondeu com a voz seca. “Olhe para Jase. Quem não faria isso?” “Aquele homem nunca sairia da minha cama,” Katie disse. 275
“Nem da minha,” murmurou Jacob. “Inferno, eu pegaria todos eles.” Parte de mim não conseguia acreditar que Jase tinha um filho, mas o cara tinha uma genética ótima então acho que era bom isso estar passando adiante. “E a mãe?” Katie perguntou. Teresa se contraiu. “Ela faleceu anos atrás em um acidente de carro.” “Oh. Wow. Isso é uma merda.” Katie tomou um grande gole da sua cerveja. “Eu acho que está na hora da comida.” Ela foi em direção a churrasqueira. Reece era o cara. Ele puxou uma cadeireira e a colocou ao lado da minha, perguntou o que eu queria e voltou com um prato cheio de comida e cerveja gelada. Eu poderia me acostumar com esse tipo de serviço. E por mais bobo que parecesse, eu poderia me acostumar com essas coisas de casais. Katie foi embora um pouco depois que terminou de comer dizendo que ela tinha um encontro para se arrumar e eu desejei sorte a ela. Houveram varias risadas e insultos voando uma vez que a comida estava pronta e as cadeiras foram colocadas em volta de uma fogueira que manteve o ar gelado de setembro afastado. Quando voltei, depois de ter usado o banheiro e de ter ajudado colocar as coisas na geladeira, Reece me pegou pela cintura e me puxou para seu colo. Eu soltei um leve gritinho. “Nós vamos quebrar a cadeira!” Ele ajeitou meus óculos e colocou seus braços em volta de mim. “Vamos ficar bem.” A luz da fogueira dançava pelo seu rosto. “Quer saber um segredo?” “Claro,” eu sussurrei de volta. Um lado de seus lábios se curvou para cima enquanto ele colocava sua testa contra a minha. “Estou feliz por estarmos aqui. Eu estou adorando isso.” Meu coração expandiu em meu peito e eu admiti. “Eu também.” “Bom.” Ele passou uma mão pelo meu cabelo, afastando ele do meu rosto. “Porque eu consigo ver a gente fazendo isso de novo. E de novo. O que acha?”
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Eu fechei meus olhos, secretamente excitada por ouvir o que ele estava dizendo. “Eu acho que é estranho ver vocês dois serem tão gentis um com o outro,” Jax disse enquanto passava por nós, se juntando a Calla debaixo de um cobertor grosso. Reece levantou sua cabeça. “Eu acho que é meio estranho você estar prestando tanta atenção na gente.” Eu ri enquanto descansava minha bochecha em seu ombro. Não tinha como negar que eu estava feliz naquele momento, e yeah, eu realmente conseguia ver a gente fazendo mais isso. Eu conseguia ver a gente juntos, realmente juntos. E, talvez, eu conseguiria superar – superar o medo de me machucar de novo. Por ele – por isso – será que não valeria a pena? Eu perdi o fôlego quando coloquei minha mão sobre seu coração e ele imediatamente colocou a sua sobre a minha. Eu abri meus olhos e encarei nossas mãos juntas. Katie estava certa. E isso era idiotice, porque eu nem tinha certeza se eu estava lutando contra. O que eu sentia por Reece quando tinha quinze anos era nada comparado com o que eu sentia por ele agora. Naquela época, eu pensava que sabia o que era estar apaixonada por alguém. Talvez eu soubesse, mas agora eu realmente entendia o que estava sentindo. Por que era como se eu estivesse voando e me afogando, tudo misturado, como estar envolvida pelo seu casaco favorito e correr nua por um jato d’água. Eram milhares de emoções conflitantes que se enrolavam em uma bola. Eu amava Reece. Um nó se formou na minha garganta enquanto eu levantava minha cabeça. Eu realmente amava ele. Eu estava apaixonada por ele. Não havia mais como evitar o que eu sentia, sem mais mentiras. Reece olhou para mim, suas sobrancelhas juntas. “Você está bem?”
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Eu abri minha boca para dizer que sim. Não! Para dizer a verdade e eu não me importava com as pessoas a nossa volta, porque eu iria gritar isso – gritar isso na cara de Reece. Mas minha bunda vibrou. “Oh,” Me afastando, eu puxei meu celular do bolso do meu jeans. Meu estômago caiu no momento que eu vi quem estava ligando. “São os pais de Charlie,” eu disse. Reece enrijeceu. Ficando gelada, eu me sentei ereta e atendi o telefone. “Alo?” “Roxanne?” A mãe de Charlie nunca me chamou de Roxy. Nunca na minha vida toda tinha usado meu apelido. E nunca na minha vida toda eu tinha ouvido ela soar tão rouca e abalada como agora. Minhas mãos tremiam enquanto nós se formavam em minha barriga. Eu sai do colo de Reece e me levantei. Eu pulei sobre as pernas de Jax, me dando um espaço enquanto me afastava do fogo. “Sim. Essa é Roxy. O que aconteceu?” Eu nem sei porque perguntei isso. Eu sabia o que ela iria dizer. Lá no fundo eu já sabia e tudo dentro de mim começou a se revirar enquanto aquela bola era puxada. “Me desculpe,” ela disse no telefone. “Não,” eu sussurrei, me virando quando eu vi Reece a apenas uns passos de distância atrás de mim. Sua expressão era de pura preocupação assim como entendimento. Ele andou na minha direção e eu cambaleei para trás. A mãe de Charlie soltou um som quebrado – um som que eu nem sabia que ela era capaz de fazer até aquele momento. “Terminou. Ele... Charlie faleceu essa tarde.”
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Capítulo Vinte e Três Eu nunca soube que a dor poderia ser tão ruim ao ponto de te deixar entorpecida. Que a dor poderia ser tão profunda que levava todas suas emoções, apenas sugando tudo para dentro. Era assim que estava me sentindo. Vazia. Sem chão. Eu não chorei naquela noite. Nem mesmo quando Reece me levou de volta para sua casa. Nem quando ele me ajudou a trocar ou quando ele me levou para cama. Nem quando ele me abraçou e me segurou até que cai no sono. O final de semana e os dias seguintes ao telefonema eram um borrão. Jax me deu uma semana de folga do bar e eu nem pretendi lutar contra sua decisão. Minha cabeça não estava em um bom lugar para estar trabalhando com o público. Minha cabeça não estava em qualquer lugar que ela precisava. Eu não chorei quando eu fui ao instituto na terça pegar todas as pinturas e as coisas pessoais que eu tinha deixado no quarto de Charlie. Três caixas grandes saíram de lá e foram colocadas na parte de trás da caminhonete de Reece. Eu não chorei nem quando eu vi sua cama vazia. Nem quando eu descobri que ele tinha morrido dormindo, devido a um aneurisma. Nem quando eu descobri que ele morreu sozinho. Haveria uma autopsia e o funeral estava marcado para a quinta. Eu não conseguia acreditar que isso iria acontecer tão cedo, como se seus pais estivessem esperando por isso, como se a cova já estivesse sido cavada há anos e eles estavam apenas esperando que ela fosse preenchida. Eu não chorei quando Reece me levou ao meu apartamento ou quando eu coloquei as pinturas que tinha feito para Charlie no canto do meu estúdio. Nem percebi que meu apartamento já estava com o sistema se segurança, em todas as janelas e portas. Na verdade, eu reparei, só que eu simplesmente não ligava. Era quinta feira de manhã e eu estava colocando minhas calças de tecido pretas que agora estavam largas demais, e eu percebi que Reece não tinha ido 279
trabalhar essa semana toda. Penteando meu cabelo em um rabo de cavalo baixo, eu forcei meus olhos para ver meu reflexo. A mecha roxa tinha desbotado, mal ficando percebível. O que estavam visíveis eram as sombras escuras em baixo dos meus olhos. Colocando meus óculos, eu sai do banheiro de Reece. Ele estava na cozinha, ajeitando sua gravata preta. Recentemente barbeado e com seus ombros parecendo mais largos por causa do terno, ele estava lindo. Realmente lindo. Acho que mesmo me sentindo incrivelmente vazia, minhas partes femininas ainda estavam funcionando. Ele olhou para cima, sua cabeça inclinada para o lado enquanto me estudava. Nós realmente não havíamos conversado muito desde sábado. Não foi pela falta de tentativas da parte dele. Obviamente, ele tinha estado aqui o tempo todo comigo sem nem mesmo me pedir. O mesmo durante o funeral. Eu não pedi nenhuma vez para ele ir, mas ele estava pronto antes de mim, e eu ama... eu apreciava que ele tivesse feito isso. Parei na ponta do balcão da cozinha. “Você tirou uns dias de folga do trabalho.” Reece concordou vagarosamente enquanto ajeitava as abotoaduras no seu terno. “Yeah. Eu não queria que você ficasse sozinha.” A queimação em meu peito estava de volta. “Você não precisava fazer isso.” “Eu tinha a opção. Além do mais, todo mundo entendeu.” Ele deu a volta no balcão, parando na frente dele. Seus olhos procuraram os meus imediatamente. “Eu vou ter de voltar aos meus turnos semana que vem.” Eu engoli – engoli forte. “Obrigada. Você foi... foi tão bom sobre tudo.” Reece colocou suas mãos em minha bochecha. “Babe, isso é só o que alguém faz nessa situação.” Seu dedão acariciava a maça do meu rosto, um gesto que eu ansiava. “Eu estou aqui por você.” Afastei meu olhar e fechei meus olhos enquanto ele me puxava contra seu peito, me abraçando. Eu estava rígida por um momento. Nem tinha certeza do porque, mas então eu me agarrei a ele, meus dedos cravaram em rua roupa tentando conseguir um pedaço dele – segurar um pedaço dele.
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“Não é justo,” eu murmurei contra seu peito. Ele colocou um beijo no topo da minha cabeça. “Não, não é.” Com meu peito doendo, eu me afastei dele e inalei profundamente, algo que pareceu não ajudar a aliviar a pressão que sentia em minha volta. “Estou pronta,” eu disse a ele. Essa era uma mentira. E eu acho que ele sabia disso. O funeral foi realizado em uma casa funerária situada no meio de um cemitério do tamanho de uma cidade pequena. Com suas ruas largas e carvalhos grandes e altos, lindos carvalhos que ainda tinham todas suas folhas, era realmente um lugar calmo. Pacífico. Lindo de um jeito mórbido. Minha mãe e meu pai já estavam lá, esperando do lado de fora junto a Gordon e Thomas. Megan estava ao lado de seu marido, sua mão apoiada em sua barriga enorme. Todos eles, mesmo Gordon, me abraçaram, e eu desejava que eles não tivessem feito isso. Eu desejava que eles tivessem me cumprimentado como cumprimentaram Reece, com um aperto de mão ou um aceno. Eu poderia lidar com isso. “Querida,” minha mãe murmurou, beijando minha testa. Lágrimas se formaram em seus olhos. “Realmente não tem nada que eu possa falar para fazer isso ficar mais fácil.” “Eu sei,” eu sussurrei, me afastando e olhando para o céu. Pensei que era um dia lindo para um funeral. Eu olhei para meu pai, que parecia tão incomodado quanto Gordon em uma calça social e camisa. Meu pai me encontrou encarando e eu vi a tristeza profunda em seu olhar calmo. Charlie foi como um terceiro filho para ele, para ambos meus pais. Eu sabia que isso estava machucando eles também. “Ande comigo, baby,” ele disse e eu fui para o lado do meu pai. Ele colocou um braço sobre meus ombros enquanto me guiava pelas portas duplas.
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Reece estava perto de mim enquanto eu tentava não respirar profundo demais. Eu odiava o cheiro de casas funerárias. A mistura de floral com algo a mais que eu realmente não queria pensar sobre. Eu fiquei surpresa quando reconheci suas pessoas sentadas do lado dos convidados. Jax e Calla estavam aqui. “Hey,” eu disse com a voz baixa enquanto saia do lado do meu pai. “Pessoal, eu...” Calla se aproximou de mim, sorrindo com tristeza. “O resto da gangue não conseguiu vir, mas eu pude faltar na aula hoje.” “Vocês não precisavam vir,” Eu disse a eles. “Nós sabemos,” Jax respondeu. Ele colocou uma mão sobre meu ombro e o apertou. Eu estava literalmente sem palavras. Nunca imaginei como era sentir isso antes. Agora eu entendia. Eles não conheciam Charlie, nunca tiveram o prazer de conhecer ele, mas eles estavam aqui, por mim. Todos nós entramos no grande cômodo onde o serviço estava sendo realizado e eu me sentei entre meu pai e Reece, olhando reto, para frente. O caixão estava fechado e os pais de Charlie estavam sentados na frente, suas costas eretas o tempo todo. Parte de mim sabia que eu deveria tentar falar com eles, mas estava acontecendo tantas coisas dentro de mim. Eu nunca fui próxima a eles, nunca me senti confortável com sua casa estéril e sem graça. Eu lembrava de como eles tratavam Charlie, como se ele fosse algo que eles se envergonhavam. Isso também não era justo porque Charlie sabia como eles se sentiam. Quando o serviço finalmente acabou, lágrimas escorriam pelo rosto da minha mãe e os olhos do meu pai estavam brilhando. Eu não conseguia chorar. Meus olhos estavam quebrados. Isso me frustrou enquanto me levantada do banco desconfortável. A queimação estava lá, no meu peito e na minha garganta, e tinha estado lá desde a ligação, mas era como se algo tivesse quebrado dentro de mim. A mão de Reece terminou na parte mais baixa das minhas costas, se movendo em um circulo confortável enquanto esperávamos nossa vez para ir para o centro do altar. A urgência de me virar e o abraçar era difícil de ignorar.
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No nosso caminho para a saída, eu pensei que vi um vislumbre de Henry saindo por umas das portas laterais. A pressão aumentou dentro de mim enquanto encarava onde eu pensava que ele estava. Não tinha certeza de como me sentia sobre Henry vindo para o funeral de Charlie. Algumas semanas atrás eu estaria bufando de raiva, mas agora? Eu quase queria rir – aquela risada histérica. Eu queria me sentar no meio da casa funerária e rir. “Babe, você está bem?” Reece perguntou. Eu concordei, percebendo que provavelmente estava com uma expressão louca. Ele pegou minha mão na sua e a apertou gentilmente. “Nós podemos levar mais alguns minutos se você quiser.” Deus, ele era... tão bom pra mim. “Estou bem,” eu disse, e acho que todos em um quilômetro de distância sabiam que isso não era verdade, mas Reece segurou minha mão forte enquanto saiamos da casa funerária. A caminhada até o tumulo estava quieta como qualquer um poderia esperar. Nosso grupo ficou atrás e, quando eu vi o caixão chegar, eu desvirei o olhar, parando para olhar o tumulo. Eu inalei profundamente e tudo que percebi foi o cheiro profundo de terra. Isso estava realmente acontecendo. Era isso. Sem mais visitas as sextas feiras. Sem mais esperança que Charlie fosse melhorar, que ele iria olhar para mim e dizer meu nome. Que ele fosse me falar que tudo isso não era culpa minha. Oh Deus. Um leve tremor percorreu meu corpo, começando da ponta dos meus pés, apertados por causa do sapato de salto preto, até a ponta dos meus dedos da mão. Reece soltou minha mão e colocou um braço sobre meus ombros. Ele abaixou sua cabeça, colocando um beijo contra minha testa e meu coração se apertou ainda mais, até o ponto que eu imaginei se teria um ataque cardíaco.
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Em vez que assistir o funeral de Charlie, eu me vi no de Reece. Pode parecer loucura, mas por causa de seu trabalho, era plausível. Um dia eu poderia estar exatamente aqui, dizendo adeus para ele. Eu não conseguia respirar. A dor me cortou. Eu não conseguia mais fazer isso. Eu me virei para Reece, dizendo exatamente isso. “Okay. Eu vou te tirar daqui,” ele disse e eu sabia que ele não tinha entendido. Ele não poderia entender. Ele se virou para meu pai, falando baixo demais para que eu pudesse ouvir. Meu pai concordou e, sem dizer uma palavra, Reece me levou para longe do tumulo. Eu estava andando rápido, minhas mãos em punhos até chegar na sua caminhonete. Quando estávamos ambos do lado de dentro, eu encarei a janela enquanto Reece dirigia e, uma vez que estávamos de volta em seu apartamento, eu não estava me sentindo vazia. Eu estava me sentindo selvagem, como um animal que caiu em uma armadilha. Eu sabia o que precisava fazer. Estar com Reece poderia facilmente terminar comigo estando totalmente destruída ao ponto além do conserto. Por um doce tempo, eu me convenci que eu poderia lidar com isso. Que eu poderia me deixar cair por ele e que isso valeria a pena. Estar ali no tumulo de Charlie foi como acordar. Eu tinha de ser forte para ir embora. Passando por Reece, eu fui direto para seu quarto, onde minha mala e minha bolsa estavam ao lado da sua cômoda. Eu tirei meus óculos, colocando ele no topo da cômoda e puxei meu cabelo em um coque rápido. “Roxy?” Sem me virar, eu tirei meus saltos. “Sim?” “Você não está bem.” Eu abri minha boca e uma risada seca saiu. “Estou bem,” Eu peguei meus sapatos, colocando eles no fundo da mala. 284
“Babe, você acabou de fugir do enterro do seu melhor amigo.” Ele argumentou gentilmente. “Você não está bem.” Com minhas mãos tremendo, eu peguei a pilha de jeans que eu sabia que deve ter sido obra de Reece. Eu a coloquei na mala. “O que você está fazendo?” sua voz soou mais próxima. Eu balancei minha cabeça enquanto me abaixava, abrindo o botão da minha calça. Eu a deixei cair no chão e a coloquei na mala. A blusa foi a próxima, me deixando apenas com minha calcinha e um top preto. “Roxy,” sua voz estava mais estridente. “Olhe para mim.” Contra minha vontade, eu me virei de vagar. Reece tinha tirado seu paletó e a grava. Sua camisa estava aberta, sua pele dourada aparecendo. Eu voltei meu olhar para seus lindos olhos azuis. “Estou olhando para você.” Seu maxilar estava tendo. “O que você acha que está fazendo?” “Estou arrumando minha mala.” Minha voz estava rouca enquanto eu fui em direção a ela. “Parece bem obvio, né?” “Yeah, é obvio, mas eu não entendi o porquê você esta fazendo isso.” Me virando, eu fui até a pilha das minhas camisetas e as peguei, colocando a pilha na mala. “Meu apartamento tem o sistema de segurança. Eu não preciso mais incomodar você.” “Você pode ficar aqui o quanto quiser e você sabe muito bem disso, Roxy.” “Eu sei, mas eu tenho certeza que você precisa de espaço.” Encontrando minhas calças de yoga debaixo da minha bolsa, eu comecei a pegá-la, mas Reece segurou meu braço, me virando. Eu perdi a respiração. Seus lábios estavam finos enquanto ele falava. “Se eu quisesse espaço, eu teria te falado isso. Isso é algo que você sabe muito bem. Então não brinque comigo. Você está indo embora porque...” Eu não queria ouvir ele terminar essa frase e eu não tinha certeza do que aconteceu depois além de que eu perdi a calma. Todo meu controle foi embora como
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um curativo sendo puxado. Eu soltei meu braço e coloquei minhas mãos em seu peito, o empurrando. Pego de surpresa, ele cambaleou uns passos, a parte de trás das suas pernas batendo na cama. Suas sobrancelhas arregaladas. “Você realmente acabou de me empurrar.” Eu não podia dizer pelo seu tom se ele queria rir ou me empurrar de volta, e isso me irritou. Eu não estava mais vazia. Eu estava transbordando – cheia de raiva, desamparada e mais um milhão de emoções. Então eu o empurrei de novo e, dessa vez, ele se sentou. Minha respiração estava pesada enquanto eu o encarava. “Isso te fez se sentir melhor?” ele perguntou, sua voz forçadamente calma. “Talvez fez.” Levantando seu queixo, ele erguei seus braços. “Babe, se me bater faz que você se acalme e pense melhor no que está realmente fazendo agora, então vá em frente.” Fiquei embasbacada. “Você quer que eu bata em você?” “Não de verdade.” Eu hesite e fui de novo em direção as minhas calças, mas sua mão disparou e a próxima coisa que soube, ele me tinha em seu colo. “Oh, não, você não vai fazer isso. Você vai me contar porque quer voltar para seu apartamento. O motivo de verdade.” “Eu já falei.” Eu me soltei e fui para frente. Estávamos peito a peito, meus joelhos em cada lado de suas pernas e ele tinha um aperto de ferro em meus pulsos. Meu coração estava acelerado quando nossos olhares se encontraram. “Me solte.” “Esse não é o motivo real.” Meus dedos se fecharam. “O que? Você é médium agora? Você bateu sua cabeça no coldre da arma?” Um lado de seus lábios se curvaram para cima. “Não. Eu apenas não sou cego. Cara, isso não foi como eu imaginei o dia de hoje,” ele disse. “Eu sei que você tem mil coisas na sua cabeça, mas nós precisamos conversar.” 286
“Não tem nada que precisamos conversar.” Seu aperto afrouxou o suficiente para que eu conseguisse me soltar e me levantar. Ou tentar. O momento que minhas mãos se conectaram com seu ombro, ele xingou e me segurou. “Isso é uma completa mentira e você sabe disso. Tem uma coisa que eu nunca achei que você fosse e isso é ser covarde. Mas você está agindo como uma agora.” “O que?” Eu me afastei o máximo que pude. Deixar ele estava tomando cada força que eu tinha. Isso não era ser fraca. “Não faça isso,” ele disse de novo. “Pare de agir como uma covarde.” “Eu não estou sendo covarde! Eu só não quero mais isso com você. Foi divertido, mas é isso. Eu quero ir para casa. Eu quero seguir com minha vida...” “Oh, pelo amor de Deus, você pode mentir melhor que isso. Você me queria desde seus quinze anos e agora que me tem você não está arriscando se machucar por mim? Que porra é essa?” Whoa. Ele tinha me entendido ali. “O-o que você quis dizer com se machucar?” “Você acha que eu não sei?” Ele balançou sua cabeça. “Você tem medo, Roxy. Medo de se machucar – desde o que aconteceu com Charlie. Você não quer sentir esse tipo de dor de novo. Eu entendo isso. Mas você não pode viver a sua vida toda assim. Jogando tudo para o ar – jogando isso pro ar – só porque você acha que vai se machucar. E não é só comigo. É com tudo.” Eu não sabia o que dizer. Reece continuou. “O que? Você vai embora hoje, vai voltar a namorar perdedores que não valem o ar que respiram porque lá no fundo você não liga para eles? Seu coração não está nisso, então você está segura? Mas comigo, é diferente.” “Você não entende,” eu sussurrei, impressionada. “Eu não entendo?” Ele parecia que queria me sacudir. “Babe, eu sei como é ter esse medo. Eu assisti meus amigos morrerem no exterior. Eu vim para casa e cada dia que vou trabalhar pode ser meu último. Eu penso no meu irmão, sabendo que enfrenta a mesma coisa que eu. Eu tenho medo de perder você.”
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Eu engasguei. “Eu?” “Sim, você. Você, Roxy. Você tem um maldito perseguidor. Eu estou assustado pra caralho por você.” Agora ele realmente parecia que queria me esganar. Um pouco. “E vai além disso. Você pode se envolver em um acidente de trânsito. Eu sei como você dirige.” “Rá,” eu murmurei. “Qualquer coisa pode acontecer a você a qualquer momento, mas você não me vê fugindo do que temos – o que podemos ter. Você tem que lidar com o que aconteceu com Charlie. Isso não significa que você precisa lidar com isso sozinha.” “O que você sabe sobre ter de lidar com isso?” eu retruquei. Ele me perfurou com um olhar. “Você mal fala sobre o tiroteio! Você tem pesadelos por causa disso!” Eu gritei, minha garganta queimando. “Não é como se você soubesse como lidar também, Sr. Malditamente Perfeito.” “Eu não estou dizendo que sei como lidar com isso. Merda, Roxy. Eu e você sabemos muito bem que eu passei pelo inferno para lidar com isso e ainda passo!” ele gritou de volta e por um segundo, eu pensei que ele pudesse me jogar do outro lado do quarto. Eu acho que eu merecia isso. “Eu bebi até o estupor por não saber como lidar com o fato que eu atirei e matei um menino de dezoito anos.” Eu estremeci. “Reece, eu...” “Não. Você vai me ouvir. Por quase um ano, eu lidei pelo que tive que fazer bebendo em vez que falar com alguém – qualquer um sobre isso. Mesmo se não fosse por Jax, eu teria engolido a merda de uma bala porque, deixe-me te dizer algo, eu tive que escolher entre a vida e a morte por vezes suficientes naquele maldito deserto que eu sei que escolher isso é uma merda. E eu ainda escolhi ser um policial sabendo do fato que teria de lidar com isso de novo. Não deixa isso nem um pouco mais fácil quando preciso escolher.” Era isso que ele não tinha falado para mim naquela noite na sacada, o quão ruim era a culpa e a raiva que ele sentia. Oh meu Deus, eu não queria ouvir o quão
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ruim isso soava. Eu não queria nem mesmo pensar nele tendo eu enfrentar esse tipo de dor. Isso me devastou. “Mas Jax me fez falar sobre isso. Ele me fez ir ao maldito conselheiro que o departamento pediu que eu levasse a sério. E você está certa. Eu ainda não sei lidar bem com isso, mas pelo menos estou tentando. Eu não estou te afastando. Eu estou tentando lidar. Mas você nem mesmo tentou uma vez, não em seis anos.” Sem poder ficar e ouvir isso, eu tentei me soltar de novo, mas ele não estava me deixando ir a lugar algum. “Você está indo para a faculdade, pegando um diploma que você não quer porque você em medo de admitir e aceitar que você gosta de trabalhar no Mona’s. Não porque você não tem capacidade, mas porque isso te da tempo de fazer aquilo que você ama – que é pintar. Mas você nem mesmo se arrisca. Você continua, apenas para ficar segura. Sem encarar os riscos.” “Cale a boca,” Eu estava fervendo, desejando que nunca tivesse falado para ele o quanto eu odiava as aulas. Era uma boa coisa que ele ainda estivesse segurando meus pulsos, porque eu provavelmente teria batido nele. “Yeah, a verdade é uma merda né?” Seu olhos brilhavam. “O que você não entende é como o que aconteceu com Charlie te deixou com tanto medo de tudo, mas você sabe o que sei?” Seus olhos brilharam azuis como fogo. “Eu te amo, Roxy. A morte de Charlie não vai mudar isso. Isso aqui não vai mudar isso. E eu sei que você se sente da mesma forma.” Ele – ele o que? Ele – ele disse que eu sentia o que? Yep, era hora deu sair dali. Usando toda minha força, eu tentei me afastar dele, o que me levou a lugar nenhum. “Roxy, pare.” Ele exigiu. Frustração aumentou mas também tinha algo mais. Nós estávamos pressionados juntos em todos os lugares que importavam e, apesar do fato que eu estava tentando abandonar ele e que estávamos discutindo, quanto mais tempo eu
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estivesse sentada nele, mas eu conseguia sentir ele enrijecendo abaixo de mim, e meu corpo estava cheio de desejo só pelo contato. E ele tinha dito que me amava. Eu me movi em seu colo, o que apenas fez com que eu estivesse montando nele. Aquele calor me percorreu, e eu vi o exato momento que ele sentiu a mesma coisa que eu. Sua feição enrijeceu. “Jesus...” Minha respiração estava ofegante enquanto eu encarava seus lábios inexpressivos. Eu ainda estava tentando me soltar, e provavelmente era uma boa coisa que ele não tinha me deixado ir, porque eu provavelmente iria cair de costas. Eu me movi para frente, esperando que isso fosse desiquilibrar ele, e seu gemido de resposta fez meu corpo pegar fogo. Eu parei de pensar. Ou, talvez eu estava pensando tanto que eu não conseguia focar em nenhum pensamento em particular, além de que eu precisava disso – eu precisava dele. Apenas mais uma vez. Não custou nada alcançar sua boca, e quando nossos lábios se encontraram, ele se afastou um pouco. “Roxy...” Eu não queria ouvir nada, especialmente se ele fosse tentar introduzir um pouco de lógica o que estava acontecendo. Pressionando meus lábios contra os seus, eu o beijei mais forte e, quando ele não me beijou de volta, eu mordi seu lábio inferior. Reece ofegou e eu aproveitei a vantagem, deslizando minha língua para dentro de sua boca, envolvendo ela com a sua enquanto eu movia meu quadril contra ele, mas dessa vez eu não parei. Eu me movia em seu colo, gemendo durante o beijo enquanto o prazer me fazia girar tão forte que parecia que eu podia ver tudo branco atrás dos meus olhos. Ele soltou meu pulso, abaixando sua mão para meu quadril, e eu passei meus braços em volta do seu pescoço, meus dedos em seu cabeço enquanto eu deslizava o outro pela sua garganta, e mais para baixo, sobre seu peito e seu estômago definido. Meus dedos alcançaram o primeiro botão e eu abri com facilidade.
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“Merda,” ele disse, seus olhos cheios de necessidade. “Nós não acertamos tudo...” ele gemeu quando eu o segurei através das suas calças. “Merda, Roxy... você não está jogando limpo.” “Eu não estou jogando.” Meus lábios pareciam inchados enquanto eu trazia minha boca de volta a sua enquanto o esfregava sobre sua calça. Quando ele não me parou, eu rapidamente abaixei o zíper e soltei seu grande e pulsante comprimento das suas boxers. Reece se inclinou para trás, seu olhar deslizando para onde eu o tinha em minha mão. Sua voz era como fumaça quando ele falou. “Não é disso que você precisa agora.” “Sim, é.” Eu coloquei minha testa contra a sua. “Isso é o que eu quero agora.” “Roxy,” Ele disse meu nome como se ele fosse algo ruim e bom. Eu percorri seu cumprimento com minha mão, passando meu dedão sobre a cabeça de seu pênis. “Me toque,” eu implorei, supliquei. “Por favor, Reece, me toque.” Ele fez aquele som que me deixava louca, aquele gemido profundo que era tão cru e masculino que fazia meus dedos do pé e os músculos na minha barriga se contraírem. Então, ele levantou uma de suas mãos. Finalmente. Ele abaixou a alça do meu top e afastou a taça do meu sutiã, libertando meu seios. Reece me tocou. Ele fez mais do que apenas me tocar. Sua mão estava possessiva assim como seus beijos. Nós estávamos corados e ofegantes enquanto eu trabalhei ele até o ponto que ele afastou minha mão, arrancando minha calcinha depois disso. Não havia mais espera. De joelhos, eu me abaixei sobre ele, pele contra pele. Eu gemi ao sentir ele, em como ele me esticava, e como eu queimava em volta de seu cumprimento e em cada lugar que ele me tocava e me beijava. Me deixando estabelecer o ritmo, Reece me deu o completo controle enquanto me movia sobre ele, levantando e abaixando devagar no começo e, então, mais rápido enquanto meus músculos se contraiam em volta dele. Enquanto o prazer
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aumentava, e girava mais e mais, a liberação começou a me percorrer, então ele se moveu, assumindo o controle. Pegando meu quadril com uma mão e a parte de trás da minha cabeça com a outra, seu quadril começou a investir contra mim, me levando ao delírio. A liberação foi tão poderosa, tão explosiva que foi quase dolorosa, quase demais para mim. Eu não tinha certeza se podia aguentar, mas eu não queria fugir. Não quando eu comecei a sentir ele perdendo o controle, quando ele gemeu meu nome no meu ouvido. Eu sabia que ele estava próximo. Ele segurou meu quadril mais forte e começou a me levantar de si. Eu não queria que ele tirasse. Essa... essa seria nossa última vez, e eu queria sentir ele vivo dentro de mim. Eu confiava nele, e eu não tinha mais pulado nenhuma das minhas pílulas. Eu me abaixei nele, segurando ele tão forte como ele me segurava, e ele sabia o que eu queria porque eu senti ele começar a tremer. “Roxy,” ele gemeu meu nome, seu corpo tremendo contra o meu enquanto seus braços me envolviam. Levou um pouco de tempo para eu me mover depois disso. Eu conseguia sentir seu coração palpitando tão forte quanto o meu, e eu senti cada parte do seu corpo em cada célula do meu. Nós não falamos enquanto eu descansava em seu colo. Nós... nós apenas seguramos um ao outro em silêncio, um silêncio cheio de palavras não ditas. Foi quando nós não estávamos mais unidos que eu sabia que era hora. “Eu preciso me limpar.” Minha voz soou estranha para mim. Baixa demais. Vazia demais. Ele afrouxou seus braços e eu me levantei, pegando minha calcinha do chão. Nosso olhos se encontraram por um momento e eu tentei ignorar a pergunta neles enquanto eu ajeitava meu sutiã e meu top. Então eu me virei, correndo para seu banheiro. Eu não demorei porque eu sabia que se atrasasse isso, eu não iria sair. Depois de me limpar, eu vesti minha calcinha. Eu precisava ir embora, certo? Eu não podia ficar aqui e eu não podia ficar com ele porque eu... Eu o amava. Eu estava apaixonada por ele há tanto tempo.
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A queimação reacendeu no meio do meu peito. Eu me afastei da porta, lutando para limpar meus pensamentos, mas haviam tantas coisas no meio disso. A parte de trás das minhas pernas bateram na banheira e eu me sentei. Minha calcinha não era proteção suficiente contra a cerâmica fria. O que eu estava fazendo? Eu estava fugindo. Eu estava assustada. Nada que ele disse era novidade para mim. Merda, eu sabia muito sobre isso, mas ouvir isso vindo dele tinha quebrado as paredes erguidas a minha volta que eu nem sabia que existiam. “Roxy?” A voz profunda de Reece me assustou. Meus olhos estavam colados na porta. Eu tentei respirar mas isso não ajudou em nada. A pressão estava de volta e era demais. “Você está bem?” ele perguntou. Meu lábio inferior tremeu enquanto eu fechava minha mão em punhos. Me afastar de Reece não era eu sendo forte. Era eu sendo fraca, eu fazendo o que eu sempre fazia quando era hora de foder com tudo. Mas não era apenas medo puro. Oh não, era mais profundo que isso. A porta do banheiro abriu e o corpo de Reece a preencheu. Sua camisa estava amassada e ele não tinha abotoado suas calças. Ele olhou para mim, e tudo que eu estava pensando devia estar escrito em meu rosto. Sua expressão se suavizou enquanto ele me encarava. Emoção subiu para minha garganta. “É... é minha culpa.” Reece entrou no banheiro de vagar, como se ele estivesse com medo de me machucar. “O que é culpa sua, baby?” “O que aconteceu com Charlie.” Minha voz quebrou. Eu estava olhando para o nada. Suas sobrancelhas franziram enquanto ele se ajoelhava na minha frente, mantendo suas mãos em suas coxas. “Querida, o que aconteceu com ele não é culpa sua.”
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“Sim, é.” Eu sussurrei, porque dizer isso em voz alta era demais. “Você não entende. Você não estava lá. Eu que provoquei a situação.” Seus olhos arregalaram. “Roxy...” “Ele estava dando em cima de mim. Henry.” “Você não fez nada de errado, Roxy.” Raiva encheu o rosto de Reece, misturado com tristeza. “Você tem permissão de dizer não a um cara, se não estiver interessada, sem se preocupar com a retaliação. Não é culpa sua.” Eu balancei minha cabeça. “Ele sempre dava em cima de mim, e eu conseguia lidar com isso, mas ele insultou Charlie. Ele chamou ele de viado.” Eu comecei a tremer enquanto abraçava a minha cintura. “Eu comecei a gritar para Henry. Então ele chamou Charlie daqueles nomes. Charlie continuou me pedindo para ir embora, mas eu não podia, porque eu sabia o quanto isso o incomodava. Ele odiava esse tipo de coisa, e isso o machucava. Então Henry perguntou se eu era um ‘traveco’ e se era por isso que eu andava com uma ‘bicha’ o tempo todo. Eu perdi. Eu empurrei Henry. Como eu te empurrei.” Eu me inclinei, encarando meus dedos do pé enquanto aquela noite reprisava em detalhes vívidos. “Charlie me pegou e nós estávamos indo embora. Assim como Henry. Então eu... eu me virei e disse... eu mandei ele ir se foder porque era o único jeito que um lixo como ele poderia ter alguma ação.” Reece fechou seus olhos. “Foi aí que ele pegou aquela pedra e a jogou.” Eu me balançava devagar, minha cabeça junto. “Se eu apenas tivesse mantido minha boca fechada, nós teríamos indo embora e tudo seria diferente. Eu estou assustada. Você está certo sobre isso. Eu estou tão assustada de perder você e sentir esse tipo de dor de novo, mas é mais que isso. Por que eu mereço ter o que eu quero quando Charlie nunca poderá ter? Eu falei demais. Levei a situação ao próximo nível. Eles não prendem pessoas por esse tipo de coisa? Assalto verbal – até assassinato? Por que eu mereço você? Por que eu mereço ter o que eu amo pelo resto da minha vida?” Quando Reece abriu seus olhos, eles não estavam cheios de censura ou julgamento, apenas dor. “Palavras,” ele disse com a voz baixa. “Você jogou palavras. Assim como Henry. E você sabe que palavras podem fazer um bom estrago. Eu não
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estou dizendo que não fazem. As vezes elas podem cortar mais profundamente que uma faca, mas você não pegou aquela pedra. Você não a jogou. Henry fez essa escolha. É o que parece que ele mais se arrepende e eu duvido que ele pensou que iria machucar Charlie daquele jeito, mas ele não pode mudar isso. E você não pode mudar o que você disse, mas Roxy...” Ele se sentou se joelhos na minha frente enquanto cuidadosamente segurava meu rosto em suas mãos. “O que aconteceu com Charlie não foi culpa sua. Você não machucou ele. Foi Henry. E eu sei que vai precisar mais do que minhas palavras para você realmente aceitar isso, mas eu vou estar aqui para você todo dia para te lembrar que você merece cada coisa que essa vida tem a te oferecer.” Eu solucei. A parte de trás dos meus olhos queimavam. Seu rosto estava embaçado e minhas bochechas estavam úmidas. “Lembra de tudo que eu disse no quarto? Eu estou com medo também. E vão haver vezes que eu vou questionar o que eu mereço, mas nós estamos nisso juntos. Então caia comigo,” ele disse, passando o dedão contra minha bochecha. “Deixe-se livre e caia comigo e, baby, eu vou te pegar. Eu vou fazer você passar por isso. Você precisa apenas se arriscar.” Então eu quebrei, totalmente aberta. Eu chorei profundamente, o tipo feio de choro que ninguém ficava bem ao fazer. Aquelas lágrimas vieram e elas eram por tudo que Charlie havia perdido. Elas eram por Reece e tudo que ele teve de fazer. Elas até eram por Henry, porque uma pequena parte de mim tinha acordado naquele momento, tinha aberto seus olhos e percebido que Henry... ele tinha jogado sua vida fora quando jogou aquela pedra, e isso também era uma merda, porque talvez Reece estivesse com razão. Talvez ele nunca quis fazer isso. Eu chorei porque não estava mais entorpecida. Eu estava machucada. Eu estava com medo. Eu tinha começado o processo de perder meu melhor amigo há seis anos e eu nem tinha começado a me livrar de toda aquela dor e ódio e tudo isso eram emoções tóxicas. Eu nem me lembro de ter deslizado da borda da banheira para os braços de Reece, mas como ele havia prometido, ele estava ali para me segurar enquanto eu me desfazia.
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Capítulo Vinte e Quatro “Minha cabeça dói.” Os dedos de Reece se moveram pelo meu cabelo, massageando o couro cabeludo. “O ibuprofeno já já faz efeito.” Eu me sentia com uma febre ambulante. Minha testa pulsava, assim como o espaço inútil entre meus olhos. Havia uma boa chance que eu tinha chorado até derreter meu cérebro. Uma vez que tinha começado a chorar, foi como se algo tivesse quebrado dentro de mim. Eu não fazia ideia do tempo que fiquei no banheiro, Reece sentado comigo em seus braços, encharcando sua camisa. Eu estava apenas vagamente consciente quando ele me pegou e carregou para sua cama. Ele tinha me segurado por horas, apenas me deixando para pegar um pouco de água e ibuprofeno. Ele tinha tirado sua camisa e se trocado para uma calça de nylon antes de voltar para cama. Eu ainda estava de top e calcinha, e não havia nada sexy sobre isso agora. Eu estava jogada sobre seu peito como uma daquelas marionetes. Minha bochecha estava sobre seu coração e suas pernas embalava minha coxa enquanto ele mantinha seus dedos se movendo contra meu couro cabeludo. A noite tinha caído a horas e, enquanto nenhum de nós havia comido desde aquela manhã, eu acho que nós estávamos exaustos demais para sair da cama e pegar algo para comer. “Me desculpe por ter chorado em cima de você,” eu disse. “É para isso que estou aqui. Eu sou seu lenço de papel pessoal. Entre outras coisas, coisas mais divertidas, mas eu sou multipropósito.” Eu sorri enquanto encarava o nada. “Eu gosto dessas coisas mais divertidas.” “Eu sei.” Colocando meus dedos sobre seu estômago definido, eu inalei e me surpreendi por sentir ele equilibrado e sem doer. Levaria muito tempo para realmente aceitar meu papel no destino de Charlie. Talvez eu nunca fosse me absolver completamente da culpa, mas eu queria tentar. Eu realmente, honestamente, queria tentar pela primeira vez.
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“Posso te dizer uma coisa?” Reece perguntou. “Você pode me dizer qualquer coisa.” “Eu vou me segurar a isso para o futuro,” ele disse secamente. “Eu não gosto de dizer adeus.” Franzi o cenho. “Eu... eu lembro de você dizer isso.” “Eu disse. Eu disse que nunca iríamos dizer adeus. Que iríamos nos beijar no lugar. Inferno, podemos dizer qualquer coisa um para o outro menos adeus.” “Por que?” eu sussurrei, mas eu achava que tinha uma boa ideia do motivo. Houve uma pausa. “É permanente demais, especialmente na minha linha de trabalho, a última coisa que eu quero que você ouça de mim é um adeus. E isso, com certeza, não vai ser a última coisa que vou dizer a você.” Eu tremi enquanto pensava sobre um dia ter de encarar uma ligação ou uma batida na porta da... eu afastei esses pensamentos da cabeça. Isso não era se arriscar. Eu não podia, não iria me permitir pensar sobre a possibilidade dele não vir para casa um dia. “Tem algo que eu quero que você saiba, Roxy. Eu sou um filho da puta teimoso. Você sabe disso. Eu não vou desaparecer sem uma puta de uma luta. Eu posso te prometer isso.” Meus olhos queimaram e eu pensei que havia uma boa chance de começar a chorar novamente. Com minha cabeça meio limpa, uma grande parte de mim estava reconhecendo quão... quão fraco era manter alguém longe só porque você poderia perder ela um dia. O quão bobo isso era. Mas ainda havia aquele pequeno pedaço de mim que realmente queria retrair e não correr riscos. Eu só não poderia ceder a esse medo. “Você acha que eu sou louca?” eu perguntei com a voz baixa. Ele riu e eu gostei de como o som ecoou sob minha bochecha. “Babe, eu sempre pensei que você é meio louca. É isso que amo sobre você.”
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Ouvir ele dizer isso agora, enquanto minha cabeça já estava meio arrumada, me fez perder o fôlego. “Você pode falar isso de novo?” Ele deslizou sua mão para meu maxilar e levantou minha cabeça. Nossos olhos se encontraram e meu peito levantou com uma respiração profunda. “Eu vi elas,” ele disse. Eu franzi o cenho. “Viu o que?” Ele inalou profundamente enquanto me olhava. “As pinturas.” Por um momento eu não entendi o que ele estava querendo dizer. Nem quando ele traçou a curva da minha bochecha com seu dedão, nem quando um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. Então eu entendi. “As pinturas?” eu engoli e comecei a me sentar, mas ele não me deixou ir muito longe. “As pinturas no meu apartamento?” Quando ele concordou, eu senti meu rosto esquentar como se estivesse em baixo do sol. “Aquelas que eram...?” “De mim?” ele terminou. Eu apertei meus olhos fechados. “Oh meu Deus. Sério?” “Sim.” Mortificada, eu não sabia o que dizer. “Elas estavam no meu armário. Por que você estava olhando dentro do meu armário?” “Procurando um perseguidor psicótico,” ele respondeu. Meus olhos arregalaram. “Isso... isso foi há duas semanas! Você as viu naquela época e não disse nada.” Reece se sentou, me trazendo junto com ele. De algum modo meu corpo terminou entre suas pernas e nós estávamos cara a cara. “Eu não disse nada porque imaginei que você iria reagir desse jeito.” “Claro que eu iria reagir desse jeito! É vergonhoso. Você provavelmente pensa que eu sou uma estranha. Uma perseguidora – uma perseguidora estranha que pinta você quando não está por perto.” “Eu não te acho uma perseguidora, babe.” Sua voz estava seca.
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Eu esfreguei meu rosto. “Não posso acreditar que você as viu.” Ele riu e meus olhos se estreitaram para ele. “Honestamente? Eu realmente não sabia com certeza como você se sentia até vê-las.” Arregalei minhas sobrancelhas. “Eu pensei que você sempre soube.” Reece deu uma piscadinha. “Eu tinha minhas suspeitas que você se apaixonou por mim da primeira vez que me viu.” “Oh bom menino Jesus na manjedoura,” eu murmurei. “Mas eu não acho que tinha cem por cento de certeza até ver aquelas pinturas, especialmente aquela minha na cozinha. Você pintou depois... depois que eu sai.” Suas sobrancelhas abaixaram enquanto ele balançava a cabeça. “Não tem nada que ficar com vergonha. Eu acho que é uma graça.” Eu ainda achava que era meio estranho. “Mas você sabe o que é importante? A primeira coisa que eu pensei quando vi elas era no quão talentosa você é. Era como estar olhando no espelho.” Isso foi meio longe demais para me fazer me sentir melhor sobre isso. “Eu queria que você se focasse nisso, babe. Você tem algo real.” Me apoiando contra ele, eu exalei suavemente. Minha mente estava doendo depois de tudo. Eu não tinha certeza que estava pronta para analisar de perto toda essa coisa da faculdade. “Ter um diploma não iria doer.” “Você está certa.” Ele passou sua mão sobre meu braço. “É inteligente. Assim como fazer o que você ama, sem importar o que seja.” Eu sorri enquanto pensava sobre isso. “Eu realmente amo trabalhar no Mona’s.” “E, como disse antes, não tem nada de errado nisso.” Reece estava certo. Jax estava mais feliz que um macaco com banana sendo dono e trabalhando no Mona’s. Assim como Nick. Bem, eu imaginava que Nick estava feliz. Eu nunca realmente perguntei isso a ele e ele nunca tinha compartilhado essa informação.
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“Você acha que consegue comer alguma coisa?” ele perguntou, e quando eu concordei, ele deu um tapinha na minha bunda. “Vamos lá, vamos pegar um pouco de queijo e bolachas.” Eu sai da cama e estava no corredor quando Reece me pegou pela cintura e me girou. Ele me puxou contra seu peito enquanto segurava minha bochecha com minha de suas mãos, inclinando minha cabeça para trás. “Eu te amo Roxy,” ele abaixou sua cabeça, me beijando gentilmente e, de repente, eu entendi a emoção por trás daquele beijo doce e carinhoso. Era aquela palavra de quatro letras. Amor. “Você queria me ouvir dizer isso de novo. Eu vou dizer tantas vezes que você vai se cansar de ouvir isso.” Sorrindo contra seus lábios, eu coloquei minhas mãos em seu peito, inalando profundamente, sentindo o cheiro do seu perfume. “Não acho que um dia vou me cansar de ouvir isso.”
Os próximos dias passaram como um borrão por um motivo diferente. Eu não estava entorpecida mais, o que significava que quando acordei na sexta de manhã, eu tive mais uma crise de choro porque eu percebi que não iria ver Charlie nessa sexta como eu vinha fazendo pelos últimos seis anos. Era difícil e, honestamente, eu não sabia o que teria feito se Reece não estivesse comigo. Não só ele me deixou chorar, mas quando finalmente parei, ele não tinha me tratado como se algo estivesse errado comigo ou como se ele estivesse cansado das crises emocionais. Reece simplesmente pediu comida chinesa e nós almoçamos tarde, passando o dia todo no sofá, assistindo filmes ruins de zumbi. Sábado foi igual e, quando eu tinha tido outra crise emocional, porque eu estava tão frustrada comigo mesma por como eu havia tentado afastar Reece e como Charlie teria e batido se estivesse aqui e tivesse ficado sabendo disso, e como eu não estava sendo forte suficiente... para apenas deixar tudo isso para lá. Era domingo e eu estava sentada na cama enquanto ele – em toda sua gloria sem camisa e com a calça do pijama – estava afivelando inúmeras coisas em seu uniforme que eu contei a ele o que estava planejando fazer amanhã.
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“Eu vou ao meu apartamento amanhã.” Sua cabeça estava abaixada enquanto ele prendia seu distintivo na sua camisa, mas seus dedos congelaram enquanto ele levantava seu queixo, ambas as sobrancelhas arregaladas. “Por quê?” Eu fui para o pé da cama e olhei para baixo, para onde ele estava sentado no chão. “Eu quero – não, eu preciso – passar pelas coisas que eu trouxe do... do quarto de Charlie. Eu apenas as deixei na sala.” Ele terminou de prender seu distintivo. “Você não pode apenas esperar até que eu possa ir com você?” Eu sorri um pouco. “Eu aprecio você querer estar lá, mas eu acho... eu preciso fazer isso sozinha.” Em outras palavras, eu sabia que iria ter outra crise de novo, especialmente ao ver todas aquelas pinturas e pequenas coisas que levava comigo sempre que visitava Charlie. Depois de todo esse tempo chorando em Reece, eu realmente achava que ele não precisava ver isso de novo. Eu precisava deixar isso tudo para trás e era algo que eu precisava tentar fazer sozinha. “Meu apartamento agora é seguro.” “Ele deve ser seguro agora.” Colocando sua camisa para o lado, ele começou a brincar com as fivelas em seu cinto. Deixar seu uniforme pronto era um processo complicado, pelo que estava aprendendo. “Você sabe que eu quero que você fique comigo até que encontremos esse cara.” “Eu sei.” Eu cruzei minhas pernas. “Mas com o sistema de segurança eu estou praticamente segura. Se não, qual foi o motivo de ter instalado ele? Além do mais, e se não encontrarem o cara?” “Você pode ficar aqui para sempre,” ele respondeu. Eu atirei a ele um olhar em branco. “Reece, eu... eu não acho que poderia. Quero dizer, nós acabamos de começar a namorar e a maioria das pessoas...” “Eu não dou a mínima para o que a maioria das pessoas fazem. Eu te amo. Você me ama, mesmo que eu ainda não tenha ouvido essas palavras ainda.” Ele esticou seu cinto no chão enquanto eu levantava uma sobrancelha. “Então se é para nós morarmos juntos agora, vamos morar juntos. Que seja.”
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Meus lábios se curvaram. “Eu gostaria de ver você explicando isso assim, com toda essa graça, pros meus pais.” Reece se levantou bruscamente. “O que você acha que seus pais pensam que você está fazendo enquanto está ficando comigo agora?” “Eles acham que nós estamos jogando baralho e costurando cobertores.” Ele riu enquanto colocava suas mãos em cada lado meu e se inclinava sobre a cama. “Eles sabem que estamos fodendo sempre que temos chance.” “Ew.” Eu enruguei meu nariz. “Eles acham que estamos fazendo coisas puras e bondosas.” “Seus pais?” Ele bufou. “Eles provavelmente esperam que a gente dê a eles um neto até o próximo verão.” “Não, não pode...” eu gemi. “Você provavelmente está certo.” Sorrindo, ele beijou a ponta do meu nariz e se afastou para que pudesse olhar diretamente em seus olhos. “Você está planejando ir durante o dia?” Quando eu concordei, ele suspirou. “Por favor me diga que se você notar qualquer coisa suspeita, você vai tirar sua bunda de lá e vai me ligar. Eu estarei trabalhando, mas eu largo tudo.” Eu sorri e fui para frente, beijando a ponta do seu nariz. “Eu vou ficar bem. Eu só preciso...” “Você precisa da sua privacidade. Eu entendo isso. Realmente entendo.” E isso... isso era tão Reece. Yeah, ele poderia ser mandão e exigente, dentro e fora do quarto, mas ele era atencioso e compassivo. Ele tinha boa vontade, mas o lado gentil dele cravou profundamente em mim. Eu amava cada parte de Reece, não importando o quão chato ele pudesse ser às vezes. Eu pensei no que ele disse sobre como ele tinha lidado com o tiroteio – como ele ainda estava lidando. Meu peito doeu. “Você está bem?” “Ótimo.” Ele respondeu.
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“Isso eu sei, mas não foi isso que quis dizer.” Eu inalei profundamente. “Tudo relacionado ao tiroteio? Eu sabia que tinha sido ruim, mas eu nunca soube o quão ruim, e eu... eu só queria ter certeza que você sempre pode falar comigo. Okay?” Um pequeno sorriso apareceu. “Eu sei.” “Não se esqueça disso,” eu exigi. Aquele sorriso aumentou. “Não vou.” Colocando minhas mãos em seus bíceps, eu cobri a pequena distância entre nós e beijei seus lábios já separados. O jeito que ele inalou por entre seus dentes ativou o desejo dentro de mim. Beijando ele de novo, eu me afastei apenas o suficiente para que estivéssemos cara a cara de novo. Eu inalei profundamente. “Eu te amo Reece.” Seus olhos ficaram mais profundos, mais azuis, enquanto ele me encarava. Por um momento, ele não disse nada, não se moveu e eu não tinha certeza se ele estava respirando. Então ele entrou em ação, pegando meu quadril. Ele me levantou e me colocou de costas enquanto ficava sobre mim, seu corpo bloqueando o mundo todo. “Eu já sabia disso, babe, mas nada é tão bom quanto ouvir você dizendo.” Eu comecei a dizer novamente, mas sua boca reivindicou a minha com um beijo fervente que me abalou. Não tinha nenhum pingo de raiva em como procuramos um ao outro, e realmente procuramos um ao outro. Também não foi algo lento e sensual. Nós estávamos agitados, mas dessa vez era porque não havia mais nada entre nós, sem palavras para serem ditas, sem paredes e, o mais importante, sem medo nos segurando. Nossas roupas saíram em um segundo e nossas mãos estavam em todos os lugares. Reece estava em todos os lugares, e o que ele sentia por mim, o que era algo que eu não poderia duvidar, estava em cada passada da sua mão e caricia em meu lábio. Ele adorou o que tínhamos juntos, como se minutos se perdiam a cada beijo e carinho. Eu sabia que merecia ter isso com ele. Eu sabia que ele merecia isso.
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Reece fez seu caminho pelo meu corpo, sua cabeça entre minhas coxas, sua boca em mim, sua língua em mim. Deus, ele sabia o que fazer. Com cada lambida, ele me puxava mais para si. Quando sua boca se moveu para a bola de nervos e ele deslizou um dedo dentro, encontrando aquele ponto sensível, a sensação foi demais e eu gozei, minha cabeça jogada para trás e meus dedos agarrados a mechas curtas de seu cabelo. Aqueles pequenos beijos e as doces mordidas diminuíram enquanto minhas pernas caiam para o lado, sem força. Eu estava mal consciente dele se movendo para a cômoda, mas o barulho do alumínio fez meus olhos se abrirem. Com um olhar pesado, eu o observei desenrolar a camisinha até que estivesse sobre mim, sua mão em meu maxilar enquanto ele se guiava dentro de mim com uma rápida investida. Sua boca silenciou meu gemido e eu consegui sentir meu gosto nele, uma combinação extremamente erótica. Eu envolvi sua cintura com minhas pernas, ajudando nas suas investidas poderosas e profundas. Ele levantou sua cabeça, seus lábios brilhosos e bochechas coradas. Antes que pudesse dizer uma palavra, eu disse a ele, de novo. “Eu te amo,” e eu disse isso de novo e de novo até qualquer tipo de controle e ritmo que ele tinha estivesse perdido, até que joguei meus braços para trás e coloquei a palma da minha mão contra a cabeceira, me prendendo enquanto ele investia contra mim, atingindo cada nervo e mandando prazer para cada parte de mim. Eu me desfiz de novo, quebrando em milhares de pedacinhos felizes, mas dessa vez ele estava comigo, com sua cabeça jogada para trás e meu nome em um gemido sexy vindo direto dele. Ele desabou quando tinha terminado, sua respiração errática. “Eu não consigo me mover,” ele murmurou, seu rosto enterrado no meu pescoço. “Tudo bem.” “Eu vou te esmagar.” “Isso também está bem.” Reece riu. “Eu não gosto de uma Roxy reta e esmagada.” Eu sorri. “Eu já sou bem reta naturalmente.” “Você é perfeita.” Ele saiu de cima de mim, se deitando de costas. “Porra, babe...”
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Abrindo meus olhos, eu virei minha cabeça na sua direção. Um braço estava sobre seus olhos e a outra mão na minha coxa, como se ele não pudesse suportar a ideia de ficar sem me tocar. Talvez fosse apenas eu tento fantasias induzidas por um orgasmo, mas que seja. “Você sabe,” eu disse, suspirando e me movendo, colocando minha mão sobre a dele. Eu fiquei feliz quando ele imediatamente virou sua palma para cima e entrelaçou seus dedos com os meus. “Eu gostaria de pintar você.” “Comigo sabendo?” ele provocou. “Com você nu,” eu corrigi. Ele moveu seu braço e virou sua cabeça para mim. Aqueles lábios estavam curvados. “Eu topo, com certeza.”
Eu sai para ir ao meu apartamento uma hora depois que Reece tinha ido trabalhar. Era estranho estacionar na frente do meu apartamento e entrar nele. Não porque eu tinha que pressionar um botão no meu chaveiro para que o alarme fosse desativado e apertar de novo uma vez que estivesse dentro, ou porque eu estava surtando por estar de volta aqui depois da invasão. Eu nem estava pensando sobre o Sr. Perseguidor Amigável do Bairro. Não. Eram as caixas próximas ao meu sofá. Era a pilha de pinturas que eu sabia que estavam ali. Era o lembrete que Charlie realmente não estava amis aqui. Colocando minhas chaves na mesa, eu fui em direção as caixas, sentindo o fundo da minha garganta queimar. Grande parte de mim queria virar e correr de volta para o apartamento do Reece, me esconder debaixo das cobertas, mas eu precisava lidar com isso. Mas isso não estava funcionando – isso não era seguir adiante.
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Parando minhas mãos na lateral da minha camiseta, que tinha o escrito I’M A SPECIAL SNOWFLAKE61,eu peguei a primeira pintura como se eu estivesse pegando de uma caixa cheia de cobras venenosas. Claro que era a pintura que eu tinha feito comigo e Charlie sentados juntos em um banco, nossas costas visíveis e as árvores cheias de folhas douradas e vermelhas. Meu rosto começou a se desfazer e minha mão a tremer, segurando a tela. O que aconteceu não era justo, mas tinha acontecido e eu não podia fazer nada para mudar isso. Lágrimas ainda caiam enquanto eu puxava a caixa pro sofá e me sentava. Cada pintura catalogava ou um momento com Charlie ou onde eu estava mentalmente enquanto pintava. Era estranho, ver todas as lindas paisagens e memorias minhas com Charlie e perceber que mesmo que eu tivesse segurado muitas coisas ruins, ainda haviam raios de sol ali. Como o jeito que eu via Charlie. Depois do incidente, eu não o via sobre uma luz diferente. Ele ainda era a pessoa mais bonita por dentro e fora que eu conhecia. Era difícil passar por aquelas pinturas, ainda pior quando eu as coloquei no meu estúdio e fui para a próxima caixa, pegando as nossas fotos que estavam emolduradas. Eu não queria deixar Charlie ir. Eu não precisava deixar. Eu só tinha que chegar a um lugar onde pensar nele me deixasse feliz. Mas eu precisava... Deus, eu precisava começar a superar essa bola de ódio, tristeza e frustração que vivia dentro de mim há tanto tempo. Em vez de aprender com o que aconteceu com Charlie e viver minha vida ao máximo, eu tinha nutrido todos esses sentimentos ruins. Era como uma plantação apodrecida que estragava tudo que entrava em contado, uma infecção que eu tinha que cortar. Colocando a foto emoldurada na mesa perto de onde o cavalete normalmente ficava, eu olhei para a porta aberta do corredor. Antes que eu soubesse o que estava
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Eu sou um floco de neve especial.
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fazendo, eu peguei meu celular e andei até meu quarto, parando na porta fechada do armário. Eu pensei no que Reece tinha dito esses dias sobre o quão difícil era abandonar todas essas coisas relacionadas ao tiroteio. Eu sabia, pelo que ele havia me dito naquela noite do funeral, que ele ainda estava lutando em realmente superar isso, mas ele estava tentando. Eu sabia o que precisava fazer para realmente começar todo o processo de superação, e isso seria uma das coisas mais difíceis que eu teria de fazer. Abrindo a porta do closet, eu me ajoelhei, colocando o celular ao meu lado, e comecei a procurar pelas roupas que eu tinha o habito de simplesmente jogar no chão em vez de dobra-las como Reece fazia. Eu sorri quando eu peguei um par de jeans e o joguei para o lado, pensando que se Reece e eu chegarmos ao passo de morarmos juntos permanentemente, eu teria meu próprio dobrador de roupas. Nada superava isso. Me levou alguns minutos para encontrar o jeans que eu estava procurando. Eu tive de colocar todas as camisetas penduradas para o lado para limpar o caminho para a parte de trás do armário para encontrar aquele que eu havia usado na noite em que Henry tinha vindo ao Mona’s. Pegando ele do chão, eu imaginei como no mundo ele tinha ido parar bem no fundo do armário. Eu me sentei e procurei no bolso, meus dedos encontrando facilmente o cartão. Eu o peguei enquanto um ar gelado passava sobre minha mão. Franzindo o cenho, eu olhei para cima, para o armário. Até o dia de hoje eu não conseguia entender porque o armário era tão frio. Meu olhar passou para o cartão. Balançando minha cabeça, eu não podia acreditar que ele realmente tinha um. Mesmo? Do tipo, ‘Oi. Eu acabei de sair da cadeia. Aqui está meu cartão!’ Mas era um cartão de algum negócio de restauração de carros, um negocio que eu se eu me lembrava corretamente, seu pai era o dono na época do colegial. Eu não acho que ele realmente quis machucar Charlie.
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As palavras de Reece voavam em meus pensamentos e, pela primeira vez em muito tempo, eu pensei sobre sua apelação. Eu pensei sobre seu julgamento e em tudo desde aquela noite até agora. Doía perceber isso, mas nunca, nem uma vez Henry inventou alguma desculpa sobre o que ele fez. Nunca ele não mostrou remorso, nem do tipo que mostra quando você é pego fazendo algo errado. Eu me lembrava dele chorando no julgamento. Não quando o veredito saiu e ele foi sentenciado como culpado, mas quando eu depus e recontei os eventos. Henry tinha chorado. E naquela época eu o tinha odiado tanto por isso. Eu não queria ver suas lágrimas, eu não conseguia entender como ele poderia chorar quando ele foi aquele que machucou Charlie. Mas agora eu sabia que era mais que isso. Todo esse tempo eu também tinha me culpado e chorado um oceano. Quando eu pensava sobre Henry, eu sempre pensava sobre meu papel na situação. Eu apertei meus olhos fechados por um momento e tentei imaginar a reação de Charlie sobre o que eu estava pensando em fazer. Ele ficaria triste? Ou ele iria se virar para mim e dizer finalmente? Eu suspirei. Minha garganta parecia pesada. Meus olhos queimavam quando eu finalmente o reabri. Então eu disquei o número no cartão; Meu estômago se revirou até que eu pensei em me encolher sobre todas aquelas roupas enquanto o telefone tocava uma, duas e, cinco vezes antes da secretária eletrônica atender. Eu não deixei recado porque, sério, o que eu iria dizer? Eu nem sabia o que eu iria dizer se ele atendesse. Eu comecei a me levantar quando eu senti aquela brisa gelada de novo, dessa vez mais forte e firme, como se uma rajada de vento estivesse saindo pelo armário. Tão estranho. Colocando meu celular no chão, eu fiquei de joelhos, empurrando as roupas penduradas ainda mais para trás enquanto olhava o armário. O ar não poderia estar vindo de fora, porque o armário ficava no lugar onde antes havia uma escada para o andar de cima. Poderia ter vindo da porta principal se abrindo? Me esticando, eu coloquei minha mão contra a parede. A superfície estava gelada, como esperado, mas a parede não pareceu... sólida. Não como o resto do armário. Meio que pareceu
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como madeira falsa, o tipo barato de prateleira que iria se desfazer se fosse molhada. Em uma inspeção mais detalhada, eu podia realmente ver uma rachadura, uma separação entre esse tipo de madeira e a parede. Quase do mesmo tamanho da parede, que tinha um metro de largura e algo próximo a um metro e sessenta de altura. O que provavelmente explicava porque minhas coisas continuavam caindo. Empurrando essa parte da parede, eu estremeci quando ela se moveu, se abrindo em um espaço aberto atrás da parede como um sussurro. “Pura merda,” eu murmurei, pensando sobre as passagens secretas que os Silvers mencionaram quando eu me mudei, e que não tinha acreditado. Ou, pelo menos, imaginei que elas estariam fechadas a essa altura. Eu estava consumida pela curiosidade. Precisando tanto de uma distração. A parede se moveu o suficiente para que alguém pudesse se esgueirar. Eu passei por ela, entrando no espaço escuro e fedido apenas iluminado pela luz que vinha do meu quarto. Eu quase conseguia ficar totalmente de pé. Reece mal conseguiria se abaixar para passar. Havia tanto pó no ar que quando olhei para cima, eu não queria respirar muito profundamente. Eu acho que eu realmente estava em baixo das escadas. Oh meu Deus. Isso me lembrou totalmente daquele filme antigo – The People Under the Stairs62. Eu tremi. Estranho. Me movendo devagar para a esquerda, eu percebi que havia um lance de escadas dentro do espaço apertado. Eu cuidadosamente subi os degraus. Eles eram instáveis e estreitos, e eu não conseguia imaginar ninguém usando eles para subir e descer sem conseguir quebrar seu pescoço a não ser que realmente conhecesse o caminho.
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As Criaturas Atrás das Paredes - Tentando sem sucesso sair de uma casa extremamente fortificada e que pertence a um casal sinistro, que aprisiona no porão os estranhos que aparecem em sua casa, um garoto negro carente que entrou na casa em busca de um tesouro escondido, se vê lançado de repente em um pesadelo real. Ele percebe a verdadeira índole dos moradores assassinos e tenta livrarse dos dispositivos de segurança da casa. Acaba tornando-se amigo de uma menina que sofreu abusos lá e acaba descobrindo os segredos das criaturas ocultas nas profundezas da casa.
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No topo da escada havia outra porta escondida como a do meu armário – as mesmas dimensões – e quando eu pressionei o painel, ele abriu sem som nenhum. Eu estava em outro armário, mas não era um armário normal. Não haviam roupas, sem cabides e não haviam portas. Não tinha nada bloqueando minha visão do quarto. Estupefata, eu segui em frente. A luz do dia entrava pela grande janela e pequenos fragmentos de poeira vagavam pelo ar. O quarto deveria ser quente, mas minha pele estava gelada até os ossos enquanto eu saia do armário. Meus olhos se apertaram atrás dos meus óculos. Oh meu Deus. Meu estômago caiu enquanto meu olhar ia em direção as paredes. Nenhum quadrado da tinta estava exposta. Tinham fotos penduradas em todos os lugares, algumas com fita outras com taxas. Eu não poderia estar vendo direito. Fotos de mulheres que eu nunca tinha visto antes estavam nas paredes – saindo de comércios, do lado de fora de casas, e outras coisas do dia a dia, mas algumas – oh meu Deus – eram closes de pulsos e tornozelos amarrados, mas isso... Meu olhar foi para a parede esquerda até a parte de trás. Eu me virei, colocando minha mão sobre minha boca. Haviam fotos minhas. Fotos minhas dentro do meu apartamento – eu dormindo no sofá e na minha cama. Haviam fotos minhas andando pelo meu quarto, usando nada além de uma toalha e, então, fotos onde eu estava usando nada. Fotos minhas pelada, e todos os ângulos conhecidos pelo homem. Haviam tantas dela e, em algumas, eu não estava sozinha. Haviam fotos de Reece e eu. Aconchegados juntos no sofá. Ele sentado na minha cama e eu na sua frente, de pé. Fotos nossas nos beijando. E fotos... fotos da gente fazendo amor. Fui atingida forte pelo horror enquanto encarava aquelas fotos. Eu não conseguia respirar. No fundo da minha mente eu sabia que precisava sair dali. Eu 310
precisava ligar para a polícia, mas quando eu deu um passo foi como eu estivesse andando em areia movediça. As taboas de madeira do chão rangeram, o som ecoando pelo cômodo como trovão. Pequenos cabeços se atiçaram por todo meu corpo. Gelo percorrendo minhas veias. “Eu realmente desejava que você não tivesse visto isso.”
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Capítulo Vinte e Cinco Terror me invadiu ao som da sua voz, o choque de perceber que eu não estava sozinha me deixando um pouco tonta nesse momento. As fotos na parede ficaram borradas enquanto me virava. Ele estava na porta do quarto, seu cabelo loiro bagunçado, como se ele tivesse passado sua mão nele várias vezes. Aqueles olhos escuros afiados pareciam não perder nada, seus braços pendendo na lateral, mas suas mãos abriam e fechavam, tentando segurar o ar de novo e de novo. Kip. Era Kip. Era ele que estava invadindo minha casa e, obviamente, tinha ido além disso. As fotos das outras mulheres... Kip inclinou sua cabeça para o lado como se ele pudesse ouvir o que estava pensando. “Você não deveria ter visto isso. Você não iria entender.” Medo tinha subido pela minha garganta e minha voz rachou. “O que tem para entender?” Ele levantou um ombro enquanto olhava para o armário. “Provavelmente deveria ter me certificado que você não conseguiria encontrar o caminho aqui para cima, mas eu honestamente não achei que você iria achar.” Ele deu um passo para frente e para o lado, se colocando entre a porta e o armário. Meus músculos estavam travados. “Quero dizer, você não descobriu nesse tempo todo. Imaginei que não era inteligente o suficiente.” Qualquer outro dia eu me sentiria insultada por não ser ‘inteligente suficiente’, porém hoje eu honestamente não me importava com o que ele achava do meu nível intelectual. Eu tinha de sair dali. Meu olhar foi para a porta. Eu já estive no apartamento de James e Mirian antes, então eu sabia o layout era como o deles, sabia que esse quarto dava num corredor que ia direto para a porta. “Eu sei no que está pensando,” ele disse gentilmente. Eu olhei para ele. “Que você é esquisito?”
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Seus olhos se estreitaram. “E você é uma puta.” Ele cuspiu as palavras. Indo para trás, eu o encarei enquanto um músculo pulsava em seu maxilar. “Você é como o resto delas – assim como Shelly.” “Shelly?” eu sussurrei. “Quando se tratava dela, eu fui deixado na friendzone63 por anos, mas eu a amava. Eu amava ela, Roxy.” Seus olhos escuros brilharam. “Mas ela abria suas pernas para qualquer cara que encontrasse. Eu não era suficiente para ela, eu acho.” Ele soltou uma risada curta e seca. “Bem, eu mostrei a ela quão bom eu era.” Quando eu entendi quem Shelly era – a menina que sumiu no começo do verão – meu joelhos ficaram fracos. Eu duvidava que mostrar a ela o quão bom ele era tinha qualquer coisa a ver com algo que eu queria fazer parte. Eu pensei sobre as outras mulheres – aquelas nas fotos nas paredes. “Você... você as machucou por causa de Shelly?” Seus lábios se curvaram em um sorriso gozador. “Eu não acho que as machuquei.” Esse cara era insano, totalmente e completamente insano. Eu abri minha boca, mas ouvi o que parecia ser uma saída. O toque distante do meu celular. Eu tinha deixado ele no meu armário. Eu não tinha ideia de quem poderia estar ligando, mas eu rezava que fosse Reece porque eu tinha de pensar que ele iria querer saber como eu estava e se eu não atendesse. Ele sabia a senha do sistema de segurança e tinha uma chave. Kip não reconheceu o toque do meu celular. Ele estava me estudando como se eu fosse um inseto em um microscópio. “Eu te mandei flores.” Eu pisquei. “O que?” “Eu te mandei flores,” ele repetiu, dando outro passo comedido para frente. “Eu as mandei depois que ouvi você falando com sua mãe,” ele continuou, mandando um raio de repulsa por mim. “Eu te disse que as coisas ficariam melhores.”
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Termo que indica que mesmo que seu amigo saiba que você é apaixonado por ele, ele ainda te considera somente um amigo.
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O cara tinha sérios problemas. “Você nunca as trouxe para casa. Isso me deixou chateado.” Ele deu de ombro de novo e levantou o braço, passando seus dedos por uma foto. “Eu queria que você soubesse que eu estava aqui com você.” Um sorriso real apareceu e isso conseguiu ser mais assustador que todo o resto. “Eu amei você ter pensado que seu apartamento estava mal assombrado. Fofo.” Aqueles olhos escuros terminaram em mim. Eles não tinham fim, totalmente assustadores. Eu ouvi o celular tocando de novo no andar de baixo, meu coração palpitando em meu peito enquanto ele abaixava seu braço. Sua mão abria e fechava. “Eu nunca tive chance de fazer isso com o resto delas. Apenas com Shelly. Eu sabia onde ela mantinha sua chave reserva.” Meus braços estavam tremendo tanto que eu envolvi minha cintura com eles enquanto dava um passo para o lado, ficando mais perto da porta. Eu tinha que manter ele falando. Isso eu sabia. “Você realmente me irritou quando você o trouxe para casa,” ele disse. “Eu pensei que você fosse diferente. Que você era diferente das outras – artística, engraçada.” “Você bagunçou meu apartamento.” “Claro que fiz. Como eu iria te trazer de volta aqui?” Ele inclinou sua cabeça de novo. “As vezes eu ia te ver no Mona’s. Eu estava lá e você nem sabia. Eu coloquei meus olhos em você e você nem sabia.” Meu estômago estava embrulhado com repulsa e horror. Eu nem conseguia acreditar nisso, não conseguia me permitir realmente pensar sobre isso. “O que... o que você vai fazer?” “Essa é uma pergunta tão repetitiva,” ele respondeu, o sorriso saindo de seu rosto. “Eu não sei o que vou fazer. Eu não planejei isso. Você não deveria ter vindo aqui. Eu deveria ter ido até você, quando a hora chegasse.” Quando a hora chegasse? Por Deus, eu estava encarando o rosto de alguém realmente desequilibrado. Eu ouvi meu celular tocar de novo e, dessa vez, Kip estreitou seus olhos. Suas mãos se fecharam mais uma vez e eu entrei em ação, 314
minha sandália deslizando no chão de madeira enquanto eu corri para a porta. Meu estômago estava na minha garganta e tudo que eu me permiti pensar era sobre chegar até a porta – consegui sair. Eu não fui muito longe. Pega por trás, eu fui direto pro chão, meus óculos voando, meus joelhos esmagados contra o chão e minhas mãos esparramadas contra as taboas. Estava doendo, mas eu não podia ceder. Eu me movi e me contorci, tentando soltar os braços que estavam cravados na minha cintura. Kip gemeu enquanto me virava de costas e eu me contorci. Suas bochechas ficaram coradas enquanto ele se movia, colocando seu joelho em meu estômago com força suficiente para esvaziar meus pulmões. Dessa vez ele não foi rápido suficiente. Meu punho aceitou seu maxilar e eu bati nele como meus irmãos haviam me ensinado. Duro e rápido. Dor emanou das minhas juntas, mas eu atirei de novo, gritando tão alto quanto podia. “Grite o quanto quiser, Roxy.” Ele pegou minha mão e a trouxe para baixo, pregando ela no chão com força. “James e sua menina não estão em casa e você sabe que os Silver não ouvem merda nenhuma.” Isso não me parou de gritar. Ele me levantou por um braço e me jogou para baixo. Minha cabeça bateu no chão e, por um segundo, flashes brilhantes apareceram no fundo dos meus olhos, embaçando minha visão. Eu estava chocada enquanto a dor passava pela lateral da minha cabeça, pelo meu pescoço. Medo cresceu dentro de mim, traiçoeiro como fumaça, assim como a raiva, que era muito mais forte. Isso não iria acontecer. Não depois de tudo. Eu não era estúpida. As outras mulheres não tinham conseguido identificar ele e Shelly – aquela pobre menina não parecia como alguém que ainda andava pela Terra. Eu sabia que as chances deu escapar disso eram mínimas. Eu não iria ser arruinada assim. Não tinha como. Eu iria lutar.
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Revirando meu quadril, eu continuei atingindo ele na lateral. Uma vez que seu peso saiu do meu estômago, eu não hesitei. Eu fiquei de joelhos, criando espaço entre nós. “Socorro!” eu gritei até que minha garganta doesse. “Socorro!” Kip pegou meu tornozelo, puxando tão forte que eu gemi quando uma dor aguda subiu pela minha perna. Eu não parei. Apoiada em minhas mãos e nos meus joelhos, eu engatinhei pelo chão, em direção à porta do banheiro. “Eu não sei onde você acha que está indo,” Ele grunhiu enquanto pegava minha perna esquerda e a puxava. Eu cai, meu queixo batendo no chão. As paredes giraram enquanto ele me virava de costas de novo. Dessa vez, seu corpo estava em cima do meu e o peso, forte e possessivo – assustador e repulsivo – me deixou louca. Eu arranhei seu rosto, gritando quando minhas unhas se enterraram em sua bochecha. Linhas rosas apareceram, rapidamente sendo preenchidas por sangue enquanto eu arrastava minha mão para baixo. Ele jogou sua cabeça para trás, uivando enquanto levantava seu braço. Eu nem vi seu punho chegando. Dor explodiu em minha bochecha e em meu olho. Uma sensação afiada me fez perder a respiração enquanto ela se espalhava pela minha boca. Eu senti o gosto de algo metálico. Tonta, me levou um segundo antes de perceber que ele tinha me batido duas vezes. Duas. Um homem nunca tinha me batido durante toda a minha vida. Sem contar meus irmãos que, quando éramos mais novos, costumávamos brincar de bater um no outro. Eu abri meus olhos – ou, olho. Meu esquerdo parecia não querer funcionar direito. Eu o vi levantar seu punho novamente e, enquanto meu coração caia, eu trouxe minha perna para cima o mais forte que consegui. Ele antecipou o movimento, se movendo para que meu joelho só atingisse o interior de sua coxa. Xingando baixo, ele passou sua mão em volta da minha garganta e apertou – apertou tanto que eu não percebi que havia respirado pela última vez até que fosse tarde demais. “Para uma coisa pequena você, com certeza é um inferno...” “Roxy!” Esperança me encheu de vida ao som da voz de Reece vinda do meu apartamento. Ele estava aqui – oh meu Deus, ele estava aqui. Eu não conseguia 316
acreditar. Abri minha boca para gritar de volta mas Kip colocou sua mão na minha boca, abafando meu grito. Seu aperto era brutal. Ele se moveu tão rápido, sua outra mão alcançando a parte de trás da sua calça. Ouve um rápido brilho de algo e, então, um metal estava pressionado contra a base da minha garganta. Ele tinha uma faca. “Diga mais uma palavra e eu vou te dar um tipo diferente de sorriso,” ele sussurrou. “Você me entendeu?” Meu peito se contraiu enquanto eu olhava em seus olhos frios e profundos. Eu realmente não poderia apenas concordar, mas ele pareceu ver o entendimento no meu rosto. “Levanta,” ele comandou. Enquanto Kip me punha de pé, eu ouvi Reece no andar debaixo, gritando meu nome de novo. Ele parecia mais perto, como se estivesse próximo ao meu armário. Meu coração palpitava enquanto Kip mantinha sua faca contra minha garganta, me empurrando em direção a porta do quarto. Reece era esperto. Ele iria ver a porta aberta do lado de dentro do armário, a escadaria e ele iria vir me procurar. Kip deve ter percebido isso também. Kip xingou novamente enquanto ele se virava, me deixando de frente para a porta do armário. Passos pesados soaram pelo apartamento, no mesmo ritmo do meu coração. Nós estávamos quase longe do quarto quando Reece saiu pelo armário, sua arma erguida e apontada direto para onde estávamos. O tempo pareceu ter congelado. Terror e esperança me varreram quando meu olhar encontrou rapidamente o de Reece. Pelo menor momento, eu vi o que ele estava sentindo quando ele me viu. Estava escrito naqueles lindos olhos cor do mar. Pânico. Medo. Raiva que eu sabia que poderia ser mortal, que prometia retaliação. Eu não conseguia imaginar no que ele estava pensando quando ele passou pela porta e viu isso. Eu não tinha ideia de como eu comecei meu dia acordando com a resolução e determinação de realmente recomeçar minha vida e, então, Deus, isso estava acontecendo. Mas eu deveria saber que nada na sua vida poderia ser realmente planejado. Minha vida – nossas vidas – estavam prestes a serem tiradas do trilho novamente.
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Kip tirou sua mão da minha boca e passou seu braço em volta da minha cintura enquanto mantinha sua faca contra minha garganta. Em um segundo, o maxilar de Reece estava cerrado e seus lábios mais finos. Tudo em seu rosto ficou sem emoção. “Me desculpe,” eu sussurrei, minhas palavras saindo um pouco abafadas. Os olhos de Reece eram como lascas de diamante azul. “Babe, nada disso é culpa sua.” Eu sabia isso, mas eu não queria que Reece visse nada disso e eu não queria que ele se machucasse. Essas eram as duas últimas coisas que eu queria. “Você está certo,” Kip retrucou. “Se isso é culpa de alguém, então é sua. Ela estava muito bem antes de você aparecer. Você a transformou em uma puta.” Esse cara era, definitivamente, louco. “Você realmente está me fazendo querer colocar uma bala entre seus olhos,” Reece respondeu, sua voz com um pingo de raiva controlada. “E você realmente quer que eu termine isso?” Um musculo pulsou no maxilar de Reece. “Cara, tudo que eu quero é que realmente pense sobre...” “Não chegue mais perto.” Kip empurrou a faca contra minha pele, me fazendo contrair. Um traço fino e úmido desceu pela minha garganta enquanto ele dava um passo para o lado, me trazendo com ele. “Juro por Deus, eu acabo com ela!” “Eu não vou chegar mais perto.” Reece manteve a arma estável. “Mas eu quero saber o que está pensando. Como você planeja que isso aconteça.” “E isso importa?” Kip deu outro passo e Reece não se moveu em sua direção, mas ele copiou seu movimento até que tínhamos trocado de posição. Nossas costas estavam viradas para o armário agora. “Não tem como sair daqui. Eu não sou idiota. Eu sei o que precisa ser feito.”
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Meu pulso acelerou enquanto os dedos de Kip envolviam o cabo da faca. Minha mente divagou para lugares assustadores, um cuja minha garganta terminava dilacerada e Kip conseguia escapar com tudo apenas fazendo uma coisa. Cometendo suicídio, utilizando um oficial da polícia. Kip sabia o que havia feito. Eu duvidava que ele iria simplesmente abaixar sua faca e se render. Eu vi o olhar de Reece deslizar para a esquerda de nós por apenas uma fração de segundo, mas eu poderia estar imaginando ou vendo coisas, porque minha visão não era das melhores sem meus óculos e com apenas um olho aberto. “Nós podemos conversar sobre isso,” Reece disse, abaixando sua arma. “Você e eu. Nós podemos conversar. Deixe Roxy ir e vai ser apenas eu e você.” Eu consegui sentir Kip balançando sua cabeça atrás de mim e eu inalei, minha respiração falhada. Qualquer movimento que eu fizesse provavelmente terminaria com a faca cortando minha pele, mas eu não conseguia apenas ficar aqui sentada sem fazer nada. Minha cabeça estava girando. O que eu podia fazer que não seria suicídio? Se esses seriam meus últimos minutos na terra, eu desejava que eu pudesse apenas beijar ele mais uma vez, sentir suas mãos em mim. Minha voz estava trêmula quando eu falei. “Reece, eu... eu te amo.” “Babe, você ainda vai me dizer isso muitas vezes, você entendeu?” Reece não olhou para mim, já que ele estava fixado em Kip. “Mas eu e Kip vamos falar sobre isso. Ele vai deixar você ir e nós vamos conversar sobre isso.” “Você acha que eu vou soltar ela? O que tem para ser dito?” Kip respondeu, sua voz rachando. “Isso é...” Ouve um som forte e abafado que disparou em Kip e, depois, em mim. A faca voou, passando sobre minha pele e Kip me soltou. Confusa, eu cambaleei para frente enquanto ele caia no chão atrás de mim. Um segundo depois, eu estava nos braços de Reece e ele estava dizendo algo para mim, puxando meu cabelo para trás e gentilmente pressionando sua mão contra meu pescoço, mas eu me virei para ver o que tinha acontecido porque eu não ouvi
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uma arma sendo disparada. Eu não tinha visto Reece puxando o gatilho. Eu não entendi. Até que eu vi. Henry... Henry Williams estava atrás do corpo.
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Capítulo Vinte e Seis Encarando a janela do outro lado da cama de Reece, eu passei meu dedo pelo meu lábio inferior sem perceber. O inchaço havia diminuído, mas o corte no centro ainda estava cicatrizando e a parte de dentro da minha boca ainda estava sensível, especialmente se eu não fosse cuidadosa ao comer algo irregular. Eu não conseguia evitar de bagunçar isso. Meio como eu tive catapora quando criança e não conseguia parar de me coçar. Meu auto controle não tinha melhorado. Eu não sabia que horas era. Eu estava acordada há um tempo. Era manhã, cedo, eu acho, desde que eu não conseguia distinguir o horário que o relógio em cima da cômoda estava marcando. Em algum momento eu precisava conseguir óculos novos. Naquele tempo eu não soube, ele tinha se quebrado quando ele atingiu o chão daquele... daquele apartamento. Tinham se passado quatro dias desde que eu tinha encontrado a passagem secreta no meu armário. Quatro dias desde que eu entrei naquele quarto que me lembrava algo saído direto dos meus pesadelos. Quatro dias que meu estômago doía e meu rosto estava sensível, um lembrete doloroso do quão perto eu estive de não sair daquele quarto. Quatro dias cheios de auto reflexão. Eu acho que experiências próximas a morte nas mãos de um serial killer fazem isso. Fazem você repensar muitas das suas escolhas e planos. Eu vim a descobri que Henry tinha tentado ligar de volta para mim. Quando eu não atendi, ele ligou para Reece e quando ele descobriu que eu estava no meu apartamento, ele tinha decidido vir, aparentemente não querendo perder a oportunidade de falar comigo, sem ter ideia no que ele iria se meter. Quando Henry ligou para Reece para avisar que eu não tinha atendido, Reece tinha tentado me ligar. Ele sabia que eu iria atender, mesmo com tudo que estava acontecendo. Seus instintos tinham levado ele ao meu apartamento e quando Henry apareceu, encontrando a porta da frente destrancada, ele tinha pego um pé de cabra do seu carro e ido para meu quarto, até que ouviu Reece falando com Kip. O resto era história.
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Engraçado como uma decisão, escolher recomeçar, tinha sido exatamente o que salvou minha visa. Com eu estava percebendo, mais de um jeito além dos óbvios. Kip tinha sido levado para o hospital por causa de um pequeno ferimento na cabeça e quando teve alta, foi levado para a cadeia municipal. Era lá que ele estava agora, e pelo que me falaram, ele não havia confessado ter feito nada, mas o que ele disse para mim e todas aquelas fotos na parede foram provas suficientes para múltiplas acusações de agressão, além que Kip provavelmente seria acusado pelo desaparecimento de Shelly Winters, segundo Colton, mesmo que nenhum corpo tivesse sido encontrado. Também me contaram que havia uma boa chance que o promotor de justiça iria tentar conseguir algum tipo de acordo se Kip os levasse até onde Shelly estava. Há alguns dias atrás isso teria me deixado furiosa. Como alguém ousa dar a ele a chance de receber uma sentença melhor – uma vida na prisão contra uma agulha no braço – quando ele tinha feito coisas horrendas? Ele, obviamente, assassinou e aterrorizou algumas mulheres inocentes – me assustou e violentou cada definição de privacidade – e merecia uma punição definitiva. Mas a família de Shelly merecia um final para essa história e ela merecia ser encontrada, para estar perto dos seus entes queridos. E eu estava cansada de me apoiar em tanto ódio. Pelos últimos seis anos, eu tinha deixado o ódio e a culpa me esculpir, de mais jeitos que eu percebi. Nada contra aqueles que procuravam uma punição, mas para mim, eu só queria seguir em frente. Ansiar por um futuro onde parte de mim não estava amarrada ao ódio por alguém. Eu queria ver Kip pagar pelos seus crimes, mas eu não ficaria no caminho se isso significasse que eles encontrariam a pobre menina. Então, yeah, eu tinha pensado muito em várias coisas nos últimos quatro dias. Faculdade. Pintar. O bar. Reece. Henry. Charlie. Por mais clichê que isso soasse, eu sentia como se finalmente estivesse seguindo adiante e conseguindo minha segunda chance. A cama se moveu e um corpo duro envolveu o meu, um peito quente e nu contra minhas costas, pernas pressionadas contra as costas das minhas. Um braço cuidadosamente colocado em volta da minha cintura. 322
Uma segunda chance vinha com muitas coisas. “Pare de brincar com seu lábio,” Reece demandou, sua voz rouca de sono. Sua mão estava pressionada contra a parte baixa do meu estômago. Meu dedo congelou. “Não estou.” Ele riu, eriçando os cabelos no meu pescoço. “Uh-huh. Você está acordada há muito tempo?” Eu abaixei minha mão para onde a sua estava, colocando ela por cima da dele. Sua mão era tão maior que a minha. “Há algumas horas, eu acho.” Reece não disse nada por um longo momento. “Converse comigo, babe.” Entrelaçando meus dedos com os seus. Eu segurei sua mão. Reece tinha sido ótimo pelos últimos quatro dias. Ficando comigo enquanto eu era examinada no hospital. Falando e acalmando meus pais e meus irmãos. Estar lá para mim quando eu finalmente surtei e tive uma crise na noite depois do ataque. Me distraindo quando eu fechava meus olhos e via aquelas fotos minhas – nossa – porque aquelas fotos tinham sido assustadoras, nada como os retratos que eu havia feito de Reece. Oh, cara, nada era como isso. Ele havia sido minha boia no meio de um oceano raivoso, mas eu sabia que isso não tinha sido fácil para ele. Nada disso tinha sido. Ficando de costas, eu virei minha cabeça e encontrei seu olhar. “Estou bem, honestamente. Estava apenas pensando.” Com minha mão livre, eu a coloquei sobre sua bochecha. Sua barba por fazer pinicou minha palma. “E você?” “Acabei de acordar.” Eu teria revirado meus olhos se meu olho direito ainda não estivesse estranho. Eu tinha um belo de um hematoma. “Não foi isso que quis dizer.” Ele segurou meu olhar por um momento antes de fechar seus olhos. Sob minha palma, seu maxilar ficou tenso e eu fiquei preocupada. Ele realmente não tinha falado sobre si durante esses quatro dias. Foram vinte e quatro horas de transmissão do canal da Roxy. Eu estava prestes a montar nele e o forçar a falar quando ele finalmente o fez. “Eu vi aquele bastardo ontem.”
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Eu não precisava adivinhar sobre quem ele estava falando. “Você foi até a cadeia?” Reece teve que trabalhar desde que ele tinha tirado todas suas folgas quando Charlie morreu. “Eu tive de levar uma pessoa e ele estava na prisão compartilhada.” Seus olhos se abriram e eles brilharam um azul raivoso. “Eu queria entrar naquela cela e chutar sua cabeça. Eu quase fiz isso. Ele estava na frente da cela, me olhando, e eu estava indo na sua direção, prestes a pegar ele através das barras, mas um dos seguranças deve ter visto o que estava para acontecer e se colocou no caminho.” “Tenho de dizer, fico feliz em ouvir isso.” Eu passei meu dedão sobre a curva de sua bochecha. “Seria uma merda se você terminasse preso.” “Yeah, isso seria problemático, mas merda, babe, por um momento, qualquer que fosse a repercussão, isso teria valido a pena.” Seu olhar passou pelo meu rosto. “Porque quando eu vejo você agora, eu me lembro do que aquele imbecil fez a você, o que ele queria fazer.” Minha respiração falhou. “Reece...” “Eu sei que você está tão bem quanto possível. E eu sei que você vai ficar cem por cento porque, Roxy, você é forte. Eu sei disso, mas eu penso sobre o que ele esteve fazendo. O fato que ele estava ali quando nós estávamos juntos.” Raiva carregou suas palavras, deixando uma beira áspera nelas. “Ele estava lá quando você estava sozinha. O doente se aproximou de você. Ele te tocou. Vai levar um tempo para que eu supere o ponto de querer quebrar sua cara.” Eu procurei pelos seus olhos, com medo que fosse encontrar uma sombra de culpa em algum lugar. “Você sabe que não havia nada que pudesse fazer, certo? Ninguém tinha suspeitado que fosse ele ou que era assim que alguém estava entrando no meu apartamento.” “Eu. Estava. Lá. Ele estava perto suficiente e nos assistiu. Todo treinamento que eu tive e eu não tinha ideia que era ele.” Ele rolou de costas, fazendo meus dedos saírem de seu rosto. Ele levantou suas mãos, passando elas sobre seu rosto. “Merda. Eu nem lembro o nome dele.” Meu estômago se revirou enquanto me sentava, e eu ignorei o pequeno incomodo logo abaixo das minhas costelas. Eu fui para ele, pegando seus pulsos. Eu 324
tentei puxar suas mãos para longe de seu rosto, mas ele resistiu. Não me sentindo desencorajada, eu puxei as cobertas dele. “O que está fazendo?” Sua voz soou abafada em baixo de suas mãos. Eu passei uma perna sobre seu quadril e montei nele. Pegando seus pulsos, eu puxei seus braços de novo. Dessa vez ele as afastou. Ele levantou uma sobrancelha para mim enquanto seu olhar abaixava. “Eu já te disse o quanto gosto quando você usa minha camiseta e nada mais?” Eu ignorei isso, porque por mais louco que soasse, eu pensei que seus olhos tinham certo brilho neles enquanto eu o encarava. E isso fez meu coração doer muito porque eu não queria que ele carregasse o peso da responsabilidade pelas ações de outra pessoa. Isso não era justo e doía vê-lo carregar isso. Então eu entendi, e foi como ser atingida por vários macacos voadores – pela bunda dos macacos voadores, na verdade. Essa dor no meu peito deve ser algo familiar para meus pais enquanto assistiam eu me culpar pelo que aconteceu com Charlie. Yeah, o que estava acontecendo com Kip era totalmente diferente, mas de um modo, era a mesma coisa, e deve ter sido assim que Reece se sentiu quando me ouviu dizer sobre como eu me sentia. Que bom jeito de acordar para o mundo. “Nada disso é culpa sua,” eu disse a ele. “Por favor diz que você entende isso, porque eu não consigo lidar com você se culpando quando você não teve nada a ver com nada disso.” Suas sobrancelhas estavam franzidas juntas. “Você se machucou – você está machucada.” “Mas você não me machucou. Você me salvou. Assim como Henry.” Essas últimas palavras eram algo que eu nunca pensei que diria na minha vida. “E você esteve aqui por mim. Você esteve aqui para mim quando Charlie morreu e antes disso. E se eu desse a chance, você estaria aqui para mim por muito mais tempo.” Lágrimas se formaram em meus olhos, fazendo meu direito doer. “Você fez o que precisava fazer Reece.”
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Um momento se passou antes dele exalar bruscamente. Soltando suas mãos das minhas, ele as colocou em minha bochecha, puxando meu rosto em direção ao seu. “Eu vou ser sincero com você, Roxy. Eu não saberia o que fazer se algo acontecesse com você,” ele disse com a voz pesada. “Me mata só de pensar em te perder. E saber o quão perto eu estive de fazer exatamente isso não é algo que consigo esquecer fácil.” “Eu sei,” eu sussurrei, piscando para afastar as lágrimas. Ele exalou de novo. “Mas eu vou tentar porque foi isso que pedi que você fizesse com tudo e eu sei que é isso que você vai fazer.” Meu sorriso era bobo porém grande e, ele levantou sua cabeça do travesseiro, me beijando gentilmente, tomando cuidado com o corte em meu lábio. “Eu te amo,” ele disse contra minha boca, suas palavras mal acima de um sussurro mas cheias de emoção. “Baby, eu te amo.” Eu podia passar o resto da minha vida ouvindo essas palavras de novo e de novo e nunca me cansar de ouvir elas. Não só isso, eu queria sentir elas. Eu queria me envolver em volta de Reece até que não soubesse onde ele terminava e eu começava. Beijando ele suavemente, eu me movi para que pudesse deslizar uma mão pelo seu peito nu. Quando eu cheguei na barra da sua calça, ele puxou sua cabeça para trás, colocando ela contra o travesseiro enquanto me encarava. Suas bochechas se encheram de cor enquanto eu segurava seu olhar e deslizava minha mão sobre o cós da calça. Sem surpresa, ele já estava duro quando eu o envolvi com meus dedos. Um som profundo veio do fundo da garganta de Reece. Seus olhos continuaram grudados ao meu enquanto eu trabalhava minha mão sobre ele. Apenas vê-lo assim me deixou excitada, com uma dor entre minhas coxas. Eu nunca tinha me sentindo assim com outra pessoa e eu sabia que não haveria mais ninguém. Reece era o único para mim. Assim como eu era para ele. Uma mão encontrou seu caminho sobre minha camiseta emprestada, parando no meu quadril. Seus olhos demonstravam preocupação. “Você acha...?”
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“Eu acho que é uma ideia brilhante,” eu o cortei. Seus lábios se curvaram um pouco. “Babe, eu quero você. Eu sempre vou querer você, mas nós não temos que fazer isso agora. Nós temos tempo. Muito tempo.” Seus olhos brilharam enquanto eu abaixava sua calça, o expondo. “E você também tem aqueles brinquedos que eu pretendo pegar qualquer dia desses.” A ideia dele usando um desses brinquedos em mim me deixava totalmente feliz, mas a não ser que ele tivesse um vibrador guardado em algum lugar, essa fantasia teria de ser vivida de um jeito diferente. “Eu quero isso. Muito.” Seus lábios se afastaram. “Roxy...” Eu o envolvi enquanto apertava seu cumprimento duro. “Merda,” ele gemeu, jogando sua cabeça para trás. “Okay. Ideia perfeita. Completamente. Apoio cem por cento qualquer coisa que você queira.” Eu ri, mas o som morreu em um gemido quando sua mão viajou para meus seios. Não demorou muito para que minha calcinha saísse, a camiseta jogava na cama ao nosso lado, e para que estivéssemos juntos. Com suas mãos em meu quadril e as minhas pressionadas contra seu peito, ele me deixou ditar o ritmo e nós levamos nosso tempo. Isso não era sobre foder ou fazer apenas para se aliviar. Não. Isso era sobre mostrar ao outro como nos sentíamos e havia algo renovador nisso, lindo e forte enquanto nos movíamos juntos. Sem pressa. Somente o momento. E quando o prazer finalmente chegou a borda, ele estava ali comigo, nossos corpos tremendo e entrando em combustão juntos. Eu não me movi depois, jogada em cima dele, minha bochecha boa descansando em seu peito enquanto ele brincava com meu cabelo. “O que aconteceu com a mecha que tinha nele?” ele perguntou. “O que?” eu estava me sentindo meio mole demais para pensar na sua pergunta. “A mecha roxa. Ela sumiu.” Eu ri, porque do jeito que ele disse fez soar como se houvesse algum tipo de mágica voodoo por trás disso. “Ela desbotou.”
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“Huh.” Ele continuou brincando com meu cabelo e eu gostava disso. “Você deveria fazer rosa de novo.” “A rosa?” eu franzi o cenho. “Eu não fiz ela há mais de um ano.” “Eu sei, mas eu gostava dela. Era sua cara.” Meu franzido se transformou em um sorriso. Ele se lembrava que eu tive uma mecha rosa por tanto tempo? Deus, eu amava esse homem. De verdade. “Bem, talvez eu faça rosa da próxima vez.” “Bem, talvez você devesse.” Ele provocou. “Mandão,” eu murmurei, ainda sorrindo. Nós ficamos ali deitados por uns minutos, minha mente vagando sobre todas as coisas que eu estive pensando. Eu estava pronta para verbalizar um desses pensamentos. “Estive pensando.” Sua mão caiu para minhas costas. “Devo ficar preocupado?” “Talvez?” eu ri. “É sobre o que eu... o que eu quero fazer no meu futuro.” Por algum motivo bizarro, foi mais fácil dizer isso do que pensei que seria enquanto estivesse deitada sobre um Reece nu. Estranho. “Eu estava pensando em talvez... dar um tempo nas aulas. Quero dizer, eu sei que ter um diploma é a coisa certa, mas não é minha paixão. Não agora. E a faculdade vai sempre estar ali, mas você sabe, se eu aprendi qualquer coisa com o que aconteceu, quem sabe o que o amanhã ou semana que vem vai trazer. Eu não quero... viver minha vida fazendo algo que eu, honestamente, não ligo. Talvez isso vá mudar algum dia.” “Babe, você não precisa me convencer.” Ele continuou movendo sua mão e eu queria arquear minhas costas como um gato faz. “Eu acho que é uma ótima ideia. Isso vai te dar mais tempo para pintar e trabalhar com web design se você ainda quiser fazer isso.” “Eu quero.” Meu estômago caiu a ansiedade. “Eu gosto de fazer eles, e eu posso continuar trabalhando no Mona’s.” eu pausei, levantando minha cabeça para que eu pudesse ver seu rosto. “Você acha que isso faz de mim... eu não sei, uma perdedora por largar a faculdade?”
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Seus olhos se estreitaram. “Primeiro, você não está largando. Você está se afastando por um tempo. Talvez seja para sempre, mas não é como se você não pudesse fazer. Segundo, faculdade nem sempre é a resposta, babe. Escolher não seguir por esse caminho não te faz uma perdedora e eu adoraria ouvir alguém disser isso sobre você.” “Se acalme.” Eu dei uns tapinhas em seu peito, mas secretamente estava totalmente satisfeita. Eu inalei profundamente e, yeah, eu me senti melhor. Mais leve. “Eu quero levar a pintura a sério. Quem sabe? Talvez eu possa seguir aquilo que minha mãe me disse sobre a curadora na cidade. Ela gostou das minhas pinturas. Eu tenho mais. Eu posso dar mais a ela.” “Só se você não der nenhuma das que fez de mim a ela.” Corando, eu descansei minha testa contra seu peito e gemi. “Você é um idiota.” Ele riu enquanto envolvia minha cintura com seus braços. “Especialmente aquelas que você fizer de mim nu. Yeah, eu não me esqueci do seu pedido.” Eu suspirei. “Mas sério, eu acho que é algo incrível,” ele disse. Quando eu levantei minha cabeça, ele sorriu para mim. “Estou orgulhoso de você.” “Mesmo?” Minha voz rachou. Ele balançou sua cabeça. “Sim, mesmo.” Eu abri minha boca mas seu celular tocou. Eu sai de cima dele, ficando de lado enquanto ele se sentava e o pegava. “Yo,” ele atendeu. Pelo jeito como ele atendeu, eu presumi que não era ninguém do trabalho. Ele se virou, olhando para mim. Seu olhar passou pelo comprimento do meu corpo nu e seu rosto disse que ele desejava que não estivesse no telefone, então ele se virou. “Yeah. Okay.” “Está tudo bem?” eu perguntei quando ele desligou.
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“Era Colton.” Reece franziu suas sobrancelhas enquanto colocava o celular de volta no criado mudo. “Ele está lá fora. Eu já volto.” Antes dele tirar suas pernas da cama, ele beijou minha bochecha e minha testa. O ato foi tanto doce quanto gentil, mas realmente me fez querer girar pelo quarto como uma bailarina. Reece fechou a porta atrás de si e eu fiquei deitada ali por um momento, então peguei a camiseta porque conhecendo minha sorte, eu seria pega deitada nua em sua cama. Colocando a camiseta, eu a deixei cair em volta de mim e trabalhei para conseguir tirar os nós do meu cabelo enquanto eu resistia a vontade de ir lá fora e saber o que Colton estava fazendo aqui. Eu não tive de resistir por muito tempo. Menos de cinco minutos depois, Reece voltou, deixando a porta aberta atrás de si. Eu puxei as cobertas para cobrir minhas pernas. “Colton ainda está aqui?” Ele parou a alguns passos de distância da cama. “Não. Ele já foi embora.” “Okay.” Eu inclinei minha cabeça para o lado, observando ele mais atentamente. Algo estava errado nele enquanto ele passava a mão pelo seu peito. “Aconteceu alguma coisa?” Reece concordou. ”Yeah, algo aconteceu.” Agora eu estava começando a ficar ansiosa. Uma bola se formou em minha barriga. “O que?” “Kip morreu.” Eu pisquei uma então duas vezes. “O que?” Ele engoliu forte. “Ele foi encontrado morto na cela essa manhã. Há algumas horas atrás na verdade. Totalmente estranho.” Tudo que eu consegui fazer foi encará-lo. “A coisa é que ele se enforcou com sua camiseta, amarrando ela na barra da cela e deixando seu peso cair. Plausível. Mas não é comum considerando quem faria esse tipo de coisa consigo mesmo, além do mais, ele não estava sozinho. Colton disse que haviam oito caras na cela.”
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Eu ainda não tinha conseguido encontrar minhas palavras. Ele balançou sua cabeça devagar enquanto encarava algo sobre meu ombro. “Aparentemente ele deixou uma carta de suicídio.” “Aparentemente?” Pronto. Eu conseguia falar. Bem, eu conseguia copiar as palavras de Reece. “Ele disse a um dos caras presos com ele onde o corpo da Sally Winters poderia ser encontrado e, então, de acordo com a testemunha, ele foi se enforcar. Ninguém parou ele.” Ele pausou, tão confuso quanto eu. “Tem uma unidade indo para lá agora, desde que o local fica na nossa jurisdição.” Tudo bem, eu estava totalmente surpresa. “Ninguém tentou impedir ele? Eles – oito pessoas – apenas observaram ele se enforcar até morrer, amarrando sua camiseta em seu pescoço e nas barras?” “Yeah,” ele respondeu. “Mas essa é a coisa.” Ele deu um passo mais para perto da cama. “As noticias sobre ele saíram na segunda certo? Quando estávamos no hospital, isso passou no noticiário da noite. A palavra que ele era suspeito de ter machucado as outras meninas e que estava preso espalhou rápido.” “Okay.” “Colton me disse que a um pouco mais de um dia atrás, um cara foi preso por roubar uma loja de bebidas. Situação estranha. O cara entrou, pegou uma garrafa de whisky de uma prateleira, sair e começou a beber. Ficou ali sentado até que a policia apareceu. Ele foi preso e estava na cadeia. Ainda está. Os policiais que o prenderam disseram que ele tinha histórico, mas adivinha com quem mais ele está ligado?” Eu balancei minha cabeça. “Com quem?” “Isaiah.” Meus olhos arregalaram. “Puta merda. Não foi a prima do Isaiah que foi atacada?” Quando Reece concordou, tudo começou a fazer sentido. “Oh meu Deus, vocês acham que esse cara recebeu ordens do Isaiah para ser preso para terminar na mesma cela que Kip e matar ele?”
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“Lembra do Mack? O cara que estava ameaçando Calla sobre o dinheiro que sua mãe devia? Ele terminou com uma bala na cabeça e todos nós sabemos que Isaiah é capaz disso, especialmente quando alguém meche com sua família. Ainda mais conveniente foi o fato da câmera da cela ter desligado durante as primeiras horas da manhã.” Puta... “Então algum policial está envolvido também?” “Nós sabemos há anos que ele tem pessoas na força policial. Deus sabe o quanto ele paga a elas para fazer isso, quem quer que seja que mexeu na câmera. Provavelmente mais que o suficiente para tirar uma vida e arriscar ser pego. O departamento está investigando isso.” “Mas ninguém nunca foi capaz de ligar nada no Isaiah. Nunca. A vida toda.” “Yep.” Eu não sabia o que pensar ou como me sentir depois de descobrir que Kip estava morto. Que ele ou tinha tirado sua vida ou Isaiah tinha mandado alguém fazer isso. De qualquer modo, não haveria uma vida na prisão ou acordos sendo feitos. Se o que o cara daquela cela estava dizendo era verdade, o corpo de Shelly seria encontrado e essa seria a única luz no fim desse túnel. Eu procurei pelas minhas emoções por algo mas era mais o tipo... meh. E isso não me fazia a pior pessoa do mundo? Não era porque eu não me importava. Eu só não queria gastar mais energia naquele monstro. Eu não podia. Reece se sentou na cama, passando seus dedos em seu cabelo. Eu o assisti em silêncio. Enquanto ele abaixava sua mão até seu joelho, ele balançou sua cabeça. “Será que me faz uma péssima pessoa dizer que eu não estou comovido pelo que aconteceu?” Indo para seu lado, eu me sentei para que meus joelhos estivessem pressionados contra sua perna. “Eu acho que não... quero dizer...” Suspirando, eu levantei minha mão. “Você sabe. Eu poderia mentir e dizer que é uma merda alguém ter morrido, mas não tenho certeza se essa é a verdade. E mentir é pecado, né? Quero dizer, estar aliviado que alguém morreu é pecado? Você sabe, eu não sei se é. Nós precisamos descobrir como alguém que é super familiar com a bíblia ou coisa do tipo.”
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Seus lábios se curvaram. “Eu aposto que Melvin saberia.” Ele levantou uma sobrancelha. “Melvin? O velho que normalmente bebe no bar?” Eu concordei. “Yep. Melvin meio que sabe tudo. Na verdade, eu aposto que Katie saberia. Ela é outra que sabe de tudo. É estranho. Oh!” Eu juntei minhas mãos. “Eu nunca te contei o que Katie me disse uma vez sobre você.” Ambas sobrancelhas voaram dessa vez. “Eu devo ficar preocupado?” “Não,” eu ri. “Ela me disse uma vez, há uns dois anos atrás, que eu já tinha conhecido e me apaixonado pela pessoa que eu passaria o resto da minha vida. Eu não acreditei nela, mesmo quando ela disse que essa pessoa era você.” Seus olhos se arregalaram. “Mesmo?” “Mesmo. E eu não quis acreditar nela, mas eu acho que lá no fundo eu sabia que ela estava certa porque eu já te conhecia e já te amava há muito mais tempo que admiti.” Ele me encarou, uma mistura de surpresa e descrença em seu rosto. Eu sorri. “Ela também me contou uma vez que quando estava bebendo Moonshine64, que um parente trouxe para ela do Sul, ela terminou na floresta e falou com fadas a noite toda. E teve essa outra vez quando ela disse a Nick que ele já havia conhecido a menina que ele terminaria, e ele pareceu que queria correr para longe. Então talvez esse seja apenas seu discurso padrão? Espere! Ela também disse...” “De voltar para a parte de você me amando,” ele me encurralou. “Ela disse isso mesmo para você há anos atrás?” “Sim, ela disse.”
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Bebida destilada alcoólica parecida com vodca.
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“Oh, babe.” Ele se inclinou, descansando sua testa contra a minha enquanto colocava uma mão na parte de trás do meu pescoço. Ele me beijou e eu derreti como um cubo de gelo no sol. “Katie realmente tem poderes psíquicos.”
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Capítulo Vinte e Sete Era uma boa coisa que meu estômago havia parado de doer porque eu estava no meu quarto, ou algo perto, abraço e eu tinha certeza que todo o excesso de ar havia sido espremido de mim. Era sexta a noite, quase duas semanas depois da que eu estava me referindo como Segunda de Merda. Eu tinha voltado ao Mona’s na quinta passada mesmo Jax insistindo que eu poderia tirar todo tempo que eu precisasse, mesmo um mês, mas eu precisava voltar a minha vida e eu precisava do dinheiro. Toda a gangue estava aqui, passando tempo no Mona’s antes de voltar no domingo à noite. Eles estavam na casa de Jax, acampados em seu sofá e em seu quarto extra. “Eu acho que você fica mais mal encarada com esse olho roxo,” Katie disse enquanto arrumava seu top azul neon. “Como se eu tivesse ter medo de você chutar minha bunda.” Calla se apoiou no balcão do bar ao meu lado, cruzando seus braços sobre seu top. Seu cabelo loiro estava amarrado em um rabo de cavalo alto. “Ela poderia chutar todas as nossas bundas. As pequenas são sempre as piores.” Meu olho roxo já tinha desbotado para um roxo claro e provavelmente já teria desaparecido agora, mas alguns vasos sanguíneos foram rompidos. Mas estava praticamente invisível. Eu não estava preocupada. “Verdade,” eu disse as meninas. “Tomem cuidado.” Avery riu enquanto enchia um copo com Coca. “Eu derrubei Teresa final de semana passado.” Minhas sobrancelhas atiraram para cima enquanto eu olhava para a menina de cabelo escuro. “Eu acho que preciso dos detalhes disso.” Teresa riu enquanto se ajeitava no banco do bar. “Eu encontrei essas luvas velhas de boxe do Jase e nós tivemos um duelo. Eu estava pegando leve com ela, apesar de tudo, dando uns tapinhas em seu braço.”
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“Que seja.” Avery olhou para onde Cam estava com Jase e Jax. Eles estavam dando uma de fanboys em cima de Brock. “Eu pensei que Cam teria um ataque cardíaco quando começamos.” “Yeah, eu pensei que teríamos de ligar para os bombeiros.” Teresa bufou. “Foi divertido porque tenho certeza que Jase pensou que era como assistir algum tipo de fantasia pervertida se realizando. Duas meninas com luvas de boxe.” Calla riu enquanto servia uma dose. “Pobre Cam. Deve ser uma merda quando uma dessas meninas é sua irmã.” “Você sabe, eu acho que isso seria um grande show no clube. As meninas poderiam estar de biquíni. Ou de topless.” Katie tomou a dose de uma vez, impressionando. Batendo seus lábios e cantarolando feliz, ela colocou o copo de volta no balcão. “Eu vou dar essa dica a Larry. Ele aaaaaaaaama minhas ideias.” Katie disse balançando o quadril. Eu levantei uma sobrancelha e olhei para as outras duas meninas. “O que vocês fizeram?” Avery riu. “De qualquer modo, eu preciso voltar e fazer algum dinhei-roo! Paz – oh, espere!” Ela se virou para onde Nick havia aparecido de trás do bar. Com uma pilha de limões recém cortados em sua mão, suas sobrancelhas levantaram quando ele encontrou o olhar de Katie. “Você!” Ela gritou, andando para frente, seus seios desafiando a gravidade naquele top. Ele colocou os limões no balcão. “Eu?” Eu sorri enquanto Calla se afastava, curiosidade tomando conta de suas feições. “Sim. Você!” Ela apontou para ele com uma unha pintada de um azul que combinava com seu top. “Eu tenho algo para te dizer.” “Oh não,” murmurou Calla enquanto eu mal conseguia conter minha felicidade.
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Katie balançou seu dedo como se ela estivesse prestes a começar a dançar jazz. “Ela está vindo hoje à noite.” Nick levantou uma sobrancelha. “Eu não sei quem é a felizarda, mas eu aposto que sim.” Eu bufei. Sem se deixar abalar, Katie balançou sua mão. “É ela. Aquela que você vai se apaixonar e se apaixonar de verdade. Oh, cara, você tem que conhecer sua adversária. Totalmente.” Se afastando de um Nick em silêncio, ela se virou para nós e riu. “Tarde, minhas cachorras.” Nós assistimos Katie andar pelo bar em suas plataformas gigantes e, então, me virei para Nick, dando tapinhas em seu braço. “Oh, você sabe. Ela sempre acerta essas coisas.” Nick ficou pálido. “Cale a boca.” “Não. Ela acertou quando se tratou de Jax e eu,” Calla confirmou. “É como se ela fosse uma stripper médium do amor, ou coisa do tipo.” Ele parecia horrorizado. “Ambas, calem a boca.” Eu ri me esquivando. “Mal posso esperar por isso.” Nick fez uma careta. A porta do bar se abriu e todas nós nos viramos para ela. Uma risada saiu de mim, alta, quando eu vi quem era. “Oh meu Deus.” Aimee com dois ‘es’ entrou, franzindo o cenho na nossa direção. Seu cabelo loiro dourado estava penteado em lindas ondas e sua barriga extremamente bronzeada estava a mostra. A menina era linda, mas ela também não sabia o que espaço pessoal significava, além dela ter sido uma puta completa com Calla, e eu não estava bem com isso. Mas a ideia de Nick se apaixonando por ela? Eu praticamente morri. Rindo tanto, meu estômago doía quando eu bati uma das mãos sobre o balcão do bar. “Oh meu Deus, é ela!”
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Calla cruzou seus braços quando Aimee começou a ir em direção aos meninos, sorrindo como um gato que comeu um canário quando ela desviou no último minuto. “Isso é doente,” Calla disse para Nick. “Eu não sei se posso ser sua amiga agora.” Nick revirou seus olhos. “Eu posso dizer que o mojo de Katie está quebrado porque nenhuma parte do meu corpo está chegando perto daquilo.” “Que seja,” eu disse alto. “É o amor verdadeiro.” O olhar que ele atirou para mim era sombrio, mas não fez o sorriso sair do meu rosto. Eventualmente Avery e Teresa se juntaram aos caras e quando o movimento acalmou, Calla teve um momento cara a cara comigo. “Você está realmente bem?” ela perguntou. “Quero dizer, eu sei que o que você passou foi uma loucura, e eu passei por alguma coisas loucas também, então sei que pode ser difícil.” Eu concordei enquanto começava a cortar um limão. “Estou bem. Bem, eu acho que estou, se isso faz sentido. Tem alguns momentos onde eu ainda me assusto, não vou mentir. O que Kip fez, eu não sei se um dia vou conseguir engolir sabe? Ele já se foi. E eles encontraram o corpo daquela menina. Isso é o que importa agora. Pelo menos sua família teve algum tipo de conclusão.” “Yeah,” ela respondeu, me olhando mais perto. “E está tudo bem com Charlie?” Cortando outro limão, eu sorri. Era um pouco triste, mas era um sorriso real. “Eu sinto falta dele. Não vê-lo toda sexta, mas eu vou passar por isso e vai ficar mais fácil.” “Fico feliz em ouvir isso. Por sinal, eu amei os óculos novos. A armação rosa fica ótima em você – mas que porra?” Eu olhei para cima, seguindo seu olhar. Uma menina tinha acabado de entrar no bar. Eu nunca a tinha visto antes, mas por Deus, ela era linda. Com um cabelo preto brilhoso e um corpo que eu provavelmente daria um ovário, ou os dois, para ter, ela era alta e parecia com alguém que pertencia na capa de uma revista de moda.
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Foi Teresa que a viu primeiro, e ela deu um passo para trás, obviamente surpresa ao reconhecer a menina. Então ela sorriu enquanto olhava para Cam e Avery – um sorriso que ficou maior. “Steph?” Ela chamou. “Mas que porra você está fazendo aqui?” A menina chamada Steph se recuperou o suficiente para andar até eles, mas não pude ouvir sua resposta devido ao barulho, então olhei para Calla. “Você conhece ela?” “Yeah. Ela frequentava Shepherd. Se formou com Jase. Lembra que eu te disse sobre o que aconteceu com a colega de quarto de Teresa antes dela se mudar do dormitório?” “A menina que foi assassinada?” Calla concordou. “Quando Teresa encontrou seu corpo, ela surtou e foi Steph que cuidou dela e chamou a polícia. No fim ela morava na outra suíte, mas Teresa nunca a viu. Eu não a conheço direito, mas ela é linda.” “Linda como se Angelina Jolie e Megan Fox fossem unidas.” Ela riu. “Verdade. Wow. Okay. Eu preciso ir ver o que ela está fazendo aqui. Você vai ficar bem?” “Yep.” Eu a dispensei. “Vá e me consiga um pouco de fofoca.” As coisas ficaram bem movimentadas e quando Calla voltou para ajudar a atender os pedidos, não houve tempo para descobrir porque a menina que costumava frequentar Shepherd estava fazendo aqui, mas eu não consegui deixar de pensar no que Katie tinha dito a Nick quando eu o vi sorrindo para ela quando ela veio ao bar pegar Coca com Rum. Eu conhecia aquele sorriso. Desde que Calla iria ficar o final de semana todo, ela estava fechando o bar com Jax e Nick, o que significava que eu não precisava ficar. Depois de dizer adeus a todo mundo e de dar um abraço em Jax, ele me tirando no chão, eu coloquei meu cardigã e sai. Uma viatura estava no estacionamento.
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Sorrindo, eu fui em direção a ela enquanto a janela do carro descia, revelando um policial quente pra cacete. “Pausa para o almoço?” eu perguntei. Ele mordeu seu lábio inferior. “Meu tipo favorito de pausa para o almoço.” Calor se formou na minha barriga. Eu sabia exatamente que tipo de almoço ele estava pensando. “Meu também.” Esperando que eu não estivesse quebrando nenhum tipo de regra sobre um policial em uma viatura, eu me inclinei e o beijei. “Me encontra na sua casa?” Um lado de seus lábios se curvaram. “Vejo você lá.” Em algum ponto, eu iria voltar para meu apartamento, antes do que depois. Não porque eu não gostava de ficar com Reece. Eu gostava, especialmente nas noites como essa quando levava apenas alguns minutos para ir do Mona’s até seu apartamento e nós poderíamos começar algum tipo de freak-a-deak65. Eu não tinha contado a Calla, mas a ideia de dormir no meu apartamento me dava arrepio, mas o único jeito que eu poderia superar era fazendo isso. Claro, eu não faria isso sozinha. Reece estaria lá comigo, mas voltar ao meu apartamento era um jeito de ter as coisas voltando ao normal. Quando chegamos no prédio de Reece, não houve tempo para brincadeiras nem para fingir que estávamos lá para realmente comer algo. Ele passou seus braços fortes em volta de mim e me beijou como um homem sedento, e eu estava tonta e sem ar por causa disso. Nós realmente nos jogamos um no outro. Terminamos comigo no sofá, de joelhos e segurando no encosto, e ele atrás de mim, uma mão no meu quadril e a outra entre minhas coxas. Esse era o melhor tipo de horário de almoço. Meus músculos viraram gelatina enquanto eu ficava onde ele havia me deixado, enrolada sobre o encosto do sofá enquanto Reece ajeitava seu uniforme, prendendo seu cinto e, então, pegando minhas roupas. Eu o assisti, minha bochecha descansando em minhas mãos enquanto ele se endireitava e dava um tapa na minha bunda. “Pervertido,” eu murmurei.
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Rala e rola
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Ele piscou. “Você gosta.” “Talvez.” Rindo, ele pegou meu cardigã. “Deixe-me ajudar.” Eu levantei minhas sobrancelhas para ele, mas mesmo assim levantei um braço com um suspiro. Me vestir com o cardigã era desnecessário, mas ele continuou com isso, fechando cada botão. “Eu quero chegar em casa de manhã e te encontrar na minha cama usando só isso.” “Você realmente é um pervertido.” Reece passou seus lábios sobre os meus. “E eu realmente gostaria que eu não tivesse de voltar.” “Eu também.” Eu ajeitei a gola do seu uniforme. “Mas vou estar aqui.” Ele me beijou de novo, passando seus braços em volta da minha cintura e me levantando do sofá. Me colocando de pé, ele me puxou contra si novamente. “Me leva até a porta?” Desde que a porta ficava a uns dez passos de distância, eu conseguia fazer isso. O seguindo, eu me contentei em saber que havia um pote de sorvete no freezer apenas esperando por mim. Eu iria fazer daquele pote minha puta logo que eu fechasse essa porta. Reece se virou, seu olhar passando por mim com uma intensidade que pareceu um carinho. “Ainda está tudo certo para domingo?” Ah, domingo. A fase dois de seguir em frente de... bem, de tudo, começava domingo. Seria um dia difícil, mas eu estava preparada. Ficando na ponta dos pés, eu beijei o canto de seus lábios. “Yeah, está tudo certo.” “Bom,” ele respondeu e foi para a porta. “Reece.” Ele olhou para mim sobre seu ombro e eu disse. “Eu te amo.” Seu rosto se transformou de intenso para estonteante, com um sorriso incrível que fez meu coração dançar. “Eu te amo, babe.”
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Enquanto eu fechava a porta e passava a tranca, eu tinha que admitir que isso era muito melhor do que dizer adeus.
Uma brisa suave passou pela rua enquanto saíamos da caminhonete de Reece, e eu dei a volta até p lado do motorista. Levantando meu queixo, eu apertei meus olhos enquanto olhava para o cemitério, meu olhar passando pelas pedras de mármore. Era um dia ensolarado. O céu estava em um tom perfeito de azul, as nuvens fofas e brancas. Minha mente divagou para as cores da aquarela que teria de misturar para reproduzir esse azul e as nuvens e, bem, nuvens eram fáceis de se pintar. Eu peguei a barra do meu suéter e me ajeitei, colocando a mecha rosa para trás da minha orelha. Reece andou até onde eu estava, com minhas sapatilhas apenas tocando a grama. “Pronta?” Pressionando meus lábios juntos, eu concordei e nós começamos a andar, seguindo o caminho pavimentado. Havia essa bola na minha garganta, uma mistura de nervos e tristeza que ainda ficaria ali por um bom tempo. Eu sabia nesse dia que sempre que eu pensasse sobre Charlie não seriam apenas coisas tristes. Haveria apenas calor e felicidade nas memórias dele que eu sempre poderia cuidar. Nenhum de nós falou enquanto íamos para a pequena colina, vendo pela primeira vez depois do funeral o local de descanso de Charlie. Meus passos ficaram fracos e meu coração palpitava. Seus pais tinham, como esperado, gastado o que podiam no túmulo do seu filho. Era estranho para mim desde que eles mal o tinham visto por seis anos, mas quem era eu para julgar? Talvez esse fosse o jeito deles de dizer o quanto o amavam, o quanto sentiam falta dele. Um anjo branco tinha sido colocado atrás de uma pedra relativamente simples, suas asas abertas e a cabeça baixa. Em seus braços havia uma pequena criança, segura perto dos seios. Eu não sabia o porque, mas ver essa estátua me fez querer me jogar na grama e chorar como nunca chorei antes. Mas nós não éramos os únicos no cemitério. Nem o local de descanso de Charlie estava vazio. Não que eu esperasse que estivesse.
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De pé um pouco para o lado, com suas mãos em seus bolsos da calça e sua cabeça jogada para trás, como se estivesse concentrado na expressão de desamparo do anjo, estava Henry Williams. Eu inalei, minha respiração falhada. Quando eu disse a Reece que a segunda coisa que queria fazer era finalmente falar com Henry, ele tinha me apoiado cem por cento, assim como meus planos sobre a faculdade. E era por isso que estávamos aqui, no cemitério em um domingo a tarde. Henry abaixou sua cabeça e se virou para nós. Um pequeno e incerto sorriso apareceu enquanto ele tirava uma mão de seu bolso e passava sobre seu cabelo loiro, cortado rente a sua cabeça, e que agora estava um pouco maior do que a última vez que eu o tinha visto, que foi no apartamento de Kip. Eu tinha de ser honesta comigo mesma. Eu e Henry nunca seríamos amigos. Eu nem acho que era isso que ele queria, e seria estranho demais, doloroso demais pedir isso para nós. Mas para realmente me perdoar, eu tinha de perdoar Henry primeiro. Por um momento, eu me deixei imaginar Charlie em algum lugar no meio daquele lindo céu, olhando para nós, e eu imaginei ele sorrindo. Eu imaginei ele feliz com isso. Acima de tudo, eu imaginei ele se sentindo orgulhoso de mim – de todos nós. E Deus, isso foi bom. A mão de Reece encontrou a minha e a apertou gentilmente. “Você quer tentar fazer isso?” “Não,” Eu olhei para ele e nosso olhar se encontrou. Cada linha das feições do Reece soletrava amor. Deus, eu era uma menina de tanta sorte e eu estava tão apaixonada por ele que isso poderia me fazer flutuar. Eu apertei sua mão de volta e disse, “Eu não vou tentar. Eu vou fazer isso.”
FIM.
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Cena Bônus “Positivo. Realmente positivo.” Sentada na beira da banheira, eu torci meu cabelo em uma corda acobreada enquanto eu encarava a pia. Nós se formaram no meu estômago. No começo, minha cabeça estava completamente vazia. Eu não estava pensando em nada. Nada. E agora haviam tantos pensamentos passando pela minha mente. Eu não conseguia realmente me focar em um deles. Oh meu Deus. Um timer, em algum lugar no meu apartamento tocou e meu olhar voou para a porta do banheiro. Eu inalei profundamente e o cheiro fresco de cookies de gotas de chocolates não revirou meu estômago. Era praticamente a única coisa que não estava me fazendo correr para o banheiro para vomitar como um vulcão. Deus me ajude, mas o cheio de bacon frito tinha me deixado de joelhos, e eu amava bacon. Eu poderia me casar com bacon, se isso fosse possível. Desculpa, Cam. Mas pela última semana, eu não conseguia suportar o cheiro disso. Na verdade, qualquer tipo de cheiro de carne sendo preparada não caia bem. Eu pensei que podia ser uma virose ou algum tipo estranho de intoxicação alimentar. Cam tinha sido ótimo durante isso tudo, como sempre, porque ele era incrível como sempre. Ele me estocou com ginger ale
66e
bolachas, e ele não se desesperava quando eu
precisava correr para o banheiro. Foi só há dois dias, quando eu estava nesse mesmo banheiro, procurando por um tubo de pasta de dente novo e vi a caixa de absorventes internos que percebi. Percebi com a força de um caminhão carregado de absorventes internos.
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Refrigerante, tipo soda, mas feito de gengibre.
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Eu tinha congelado, apertando o tubo de pasta de dente enquanto encarava a caixa, tentando lembrar quando foi minha última menstruação. Eu sempre fui uma dessas meninas que era surpreendida pelo primeiro dia do ciclo, mas dessa vez foi diferente. Minha mente divagou pelas últimas semanas, último mês, e eu percebi que estava mais de um mês atrasada. Eu estava pelo menos um mês e meio atrasada. As coisas estavam loucas por causa da faculdade e as viagens de Cam junto ao time de futebol e isso simplesmente fugiu da minha cabeça. Provavelmente porque eu comecei a tomar anticonceptivos quando eu e Cam começamos a namorar, mas eu perdia alguns dias e era péssima em tomar elas na mesma hora todo dia. A náusea e a fadiga que eu estava tendo que lidar pelas últimas duas semanas tinha virado algo completamente diferente. Eu tinha ido para cama naquela noite, encarando o teto por horas e pela primeira vez desde que eu e Cam ficamos juntos, eu estava aliviada por ele não estar em casa, porque eu teria contado sobre o momento em que entrei naquele banheiro. Cam tinha voltado para casa essa manhã, de volta de um jogo de Kansas City, e eu já tinha comprado dois testes de gravidez. Eu tinha feito um essa manhã. E o outro essa tarde. Ambos tinham os mesmos resultados. Um sinal positivo rosa em um. E um digital que tinha escrito a palavra GRÁVIDA com as semanas estimadas. Esse era o teste que eu estava encarando agora. 7-8 semanas. Puta que o pariu. Grávida a 7-8 semanas. Parte de mim não conseguia acreditar no fato que eu poderia – okay, aparentemente estava – grávida. Mas toda a coisa das 7-8 semanas me surpreendia. Certo, estar gravida no geral era uma surpresa agora, mas eu realmente estava há um bom tempo.
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Meu olhar foi para a minha mão esquerda e eu mordi meu lábio. O lindo anel de noivado brilhava na luz do banheiro. Nós nem estávamos casados e estávamos procriando. A mãe do Cam iria matar ele. Seu pai provavelmente daria um joinha. Teresa iria implorar para ser a madrinha. E meus pais? Eles ficariam horrivelmente desapontados. Eu revirei meus olhos enquanto me levantava, andando até a pia. Minhas bochechas cheias de sardas estavam coradas enquanto eu me virava de lado e levantava a blusa. Meu estômago parecia o mesmo, talvez um pouco inchado. Eu coloquei minha palma contra meu estômago e meu coração afundou. Oh meu Deus, eu estava grávida. Dois testes confirmaram isso. Eu tinha enjoos matinais, de tarde e a noite. Eu estava definitivamente um mês e meio atrasada no meu ciclo menstrual, o que significava que eu era um tanto idiota por não ter percebido isso antes. Deixando que minha camiseta caísse, eu me virei para o espelho e encarei meu reflexo. O tom rosado tinha sumido e parecia que a maior parte do sangue havia sido drenado das minhas bochechas, fazendo as sardas se destacarem. O bebê teria sardas como eu? Ou covinhas como o Cam? “Oh meu Deus,” eu sussurrei para mim mesma. “Por que eu estou pensando sobre isso?” O medo elevou rapidamente, quase me fazendo perder o ar. Eu estava pronta para criar uma criança? Claro que não. Cam estava? Provavelmente não. Minhas mãos tremiam enquanto eu colocava meu cabelo atrás da orelha. As paredes do banheiro pareciam mais próximas. Eu não poderia me esconder aqui para sempre e eu recusava manter isso em segredo de Cam. Com dois testes, eu sabia a verdade, e eu precisava... Eu precisava saber como ele se sentia sobre isso.
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Cam me amava. Deus. Eu sabia isso no fundo do meu coração. Nós estávamos planejando nos casar e nós tínhamos... tínhamos o tipo de amor eterno, mas bebês eram uma coisa completamente diferente. Uma que mal conversávamos. Nós dois queríamos crianças, mas no futuro. O futuro veio bem antes que nós esperávamos. Inalando profundamente, eu me afastei da pia e abri a porta do banheiro. Eu andei pelo pequeno corredor e entrei na nossa sala. Michelangelo e Raphael estavam em seu terrário, descansando em cantos opostos, seus pescoços esticados. Cara, nós teríamos de cuidar de duas tartarugas e de um bebê? Meu coração começou a palpitar enquanto eu andava até a pequena cozinha e, como toda vez que eu o via, eu perdi a respiração e minhas partes femininas ficaram todas felizes. Cam estava de pé na frente do forno, sussurrando baixo enquanto movia os cookies recém assados da assadeira para um prato. Ele estava usando um boné, virado para trás, e estava sem camisa, mostrando os músculos definidos e aqueles dois pontos sexys na parte de baixo das suas costas, um de cada lado da sua coluna. Seu shorts de nylon estava mais baixo e ele estava descalço. E ele era absolutamente lindo. Cam se virou, sorrindo para mim quando seus olhos azuis encontraram os meus. “Hey, moranguinho, você está se sentindo bem?” Eu concordei enquanto meu olhar ia para a brilhante tatuagem em seu peito, então para baixo, sobre os músculos elevados em seu estômago. Aquele abdômen me deixou grávida. As covinhas ajudaram. E os olhos tão azuis quanto o oceano tiveram algo a ver. “Você assou cookies,” eu disse, apontando o obvio. Os cookies provavelmente ajudaram em tocar a coisa de deixar Avery grávida.
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“Nah, eles são petiscos para as tartarugas.” Cam piscou enquanto pegava o prato e andava na minha direção, colocando um braço sobre meu ombro. Abaixando sua boca para minha, ele me beijou, fazendo meus dedos do pé se enrolarem. “Eles realmente são cookies.” Eu ri. “Isso eu percebi.” Ele me guiou até a sala, para o sofá. Colocando o prato de cookies na mesa de centro, ele se sentou e me puxou para seu colo. Seus braços envolveram minha cintura. “Você tem certeza que está se sentindo melhor? Você parece um pouco mais pálida.” “Estou bem.” Eu achava que isso era verdade porque não havia nada de errado em estar grávida. Certo? Seus lábios se curvaram para baixo e ele me estudou de perto. “Eu não sei. Eu quero que você vá ao médico antes deu voltar. Apenas para ter certeza.” Meu coração estava batendo tão rápido que eu achei que ele fosse afundar. “Na verdade, eu acho que é uma boa ideia.” O olhar de Cam procurou o meu enquanto ele passava sua mão pelo meu quadril. “Nós podemos ligar amanhã cedo.” Eu concordei de novo, exalando suavemente enquanto colocava minha mão em seu braço. “Eu acho que eu sei porque estive doente, Cam.” “Eu não acho que é algum tipo normal de virose, moranguinho. Você está doente há tempo demais para ser isso.” Seu olhar estava cheio de preocupação. “Eu sei. Eu não acho que é isso.” Eu pausei. “Na verdade, eu sei que não é isso.” Sua mão congelou no meu quadril. Meu olhar caiu para sua tatuagem. “Eu.. um, eu estou atrasada.” “Atrasada?” ele sussurrou.
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Eu engoli para afastar a náusea que se formou de repente. “Eu não menstruo a um mês e meio. Eu nem percebi isso até dois dias atrás. Eu só estive ocupada demais e eu...” “Você está grávida?” A pergunta saiu assim, e era assim que Cam era, sem enrolação. “Avery?” “Eu fiz dois testes. Um essa manhã antes de você chegar e outro há um tempinho atrás.” Cam estava quieto. “Ambos deram positivo.” Eu sussurrei, encarando o sol em seu peito. “Positivo como realmente positivo. Não que exista algum outro tipo de positivo, mas estamos, definitivamente...” “Avery.” Seus dedos seguraram meu queixo, levantando meu olhar para o seu. Seus olhos estavam arregalados, o azul meio sombrio. “Você está grávida?” “Sim.” Então eu concordei, porque eu acho que eu precisava da confirmação extra. “O teste que eu fiz agora era do tipo digital. Disse que estava com 7-8 semanas. Não sei se isso é exato.” “Puta...” ele se cortou, balançando sua cabeça. “Eu... você está grávida? Nós estamos grávidos,” ele disse, a última parte mais como uma afirmação. “Eu acho que sim,” eu sussurrei, minha mão apertando seu braço. “Eu tenho bastante certeza. Eu não acho que dois testes estariam errados e com tudo que eu estive sentindo? Eu acho... yeah.” Cam balançou sua cabeça devagar de novo e seus dedos em volta do meu queixo tremeram. Sua boca abriu, mas ele não falou e meu peito se revirou. “Você está...?” Eu não conseguia me forçar a dizer isso, mas eu tinha que. “Você está chateado? Eu sei que essa não é a hora perfeita. Especialmente com a faculdade e você apenas começando a jogar futebol, e nós ainda temos o casamento para planejar e...” “Espere,” ele me cortou, piscando. “Você acabou de me perguntar se estou chateado?” Quando eu concordei, ele inclinou sua cabeça para o lado. “Por que nesse mundo eu estaria chateado?” 349
Eu encarei ele. “Bem, por todos os motivos que eu acabei de listar e tem mais. Eu tenho certeza que os motivos são vastos.” “Eu não dou a mínima para os motivos que eu poderia estar chateado. Sim, não é a melhor hora e vai ser difícil mas...” Sua mão deslizou para meu pescoço, sobre meu cabelo enquanto seu sorriso aumentava, mostrando aquelas covinhas. “Mas, Avery, querida, você vai ter um filho meu e como eu poderia não estar nada além de extasiado sobre isso?” No começo eu achava que não tinha ouvido ele direito, porque como ele poderia ser tão incrível assim, mas absorvi suas palavras e Cam realmente era incrível. “Você... você está feliz?” Usando sua mão que estava no meu pescoço, ele me puxou, juntando nossas testas. “Querida, como eu poderia não estar? Eu te amo. Eu estou apaixonado por você e você... seu corpo está passando por algo incrível nesse momento e eu nem consigo achar as palavras certas. Você está carregando meu filho. Como eu posso não estar feliz?” “Oh meu Deus.” Eu fechei meus olhos e lágrimas se formaram. Os nós no meu estômago se desfizeram . “Você é perfeito.” “Não.” Seus lábios passaram sobre os meus. “Isso é você que é.” Sem palavras, eu balancei minha cabeça. Sua outra mão se moveu e sua palma pressionou meu estômago. “Eu não posso...” Ele limpou sua garganta e, quando abri meus olhos, ele disse. “Nós vamos ter um bebê.” “Sim.” Eu disse. Cam fechou seus olhos e, então, seu braço me envolveu, me puxando contra seu peito, e eu fui. Sua boca encontrou a minha em um beijo suave e carinhoso que era tão poderoso quanto aquele que ele me deu essa manhã, quando ele me viu. Nossas línguas se tocaram, torceram e o beijo continuou pelo que pareceu uma eternidade e demorou até que precisássemos de ar. “Nós vamos ficar bem, okay.” Cam beijou o canto da minha boca. “Nós vamos ficar mais que bem. Nós vamos tirar isso de letra.” 350
Eu ri, sem consegui me conter enquanto colocava minhas mãos contra sua bochecha. “Eu te amo.” Seus lábios se curvaram contra os meus. “Eu sei que ama.” Ele se afastou, seus olhos se arregalando ainda mais. “Oh, cara. Minha mãe vai surtar.” Um grande sorriso apareceu em meus lábios. “Você pode fazer essa ligação.” Cam me atirou um olhar. “É uma boa coisa que eu te amo.” “Uh-huh.” “Olhe para você...” Cam se moveu e, de repente eu estava de costas e ele estava sobre mim, me encurralando com seu corpo e, então, ele começou a provar o quanto ele me amava e o quando ele estava feliz com o que o futuro nos reservava.
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