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Capítulo Quinze

Eu sempre suspeitei que Reece não ficaria animado quando descobrisse a verdade, mas eu ainda me contraí.

Reece se levantou, andando para longe da mesa. Eu não tinha ideia de onde ele estava indo, mas ele parou no meio da cozinha e me olhou. Uma longa pausa se arrastou entre nós. “Você tem ideia do quanto eu estive enlouquecendo porque eu não conseguia me lembrar daquela noite? Lembrar de como foi sentir você – estar dentro de você e dormir e acordar com você? Que depois do péssimo ano que eu tive, eu completei ele não lembrando de ter dormido com a única menina que eu me importo. Você entende o quanto isso fodeu com minha cabeça?” Minha respiração ficou presa no nó da minha garganta.

“Eu nem consigo saber quantas vezes eu tentei lembrar e só Deus sabe o quão mal eu senti por não lembrar nada da nossa primeira vez. Por ter pensado que eu poderia ter te machucado de alguma forma,” ele disse, esfregando sua mão esquerda em seu peito, sobre seu coração. “E esse tempo todo, nada tinha acontecido entre nós? Você está brincando comigo?” “Não,” eu sussurrei, piscando para afastar as lágrimas. “Eu deveria ter te contado...” “Claro que sim, você deveria ter contado. Você teve onze meses para me contar, Roxy. Isso é um longo tempo.” Eu levantei. “Reece...” “Em vez disso você ficou mentindo para mim esse tempo todo?” Suas sobrancelhas levantaram e por um momento eu vi tudo que nunca quis ver escrito em seu tosto. Dor. Mágoa. Descrença. Tudo isso misturado em quão tenso seu maxilar estava. “Espere. Não efetivamente mentindo. Apenas me deixando acreditar na mentira.”

Eu dei a volta na mesa. “Me desculpe. Eu sei que isso parece bobeira, mas eu estou arrependida. É que primeiro você não estava falando comigo, depois tanto tempo já tinha se passado e...” “E você não sabia como sair dessa mentira? Soa familiar,” ele cuspiu e eu sabia que ele estava falando do seu pai. “Por Deus, Roxy, eu nunca pensei...” Ele não terminou sua frase, mas nem precisava. Ele nunca pensou que eu voluntariamente mentiria para ele e eu tinha feito isso. Dor cortava meu peito. Eu queria me esconder debaixo da mesa, mas me forcei a ficar de pé ali e receber isso como uma adulta.

Reece abriu sua boca, mas o som abafado do seu celular tocando o interrompeu. Se virando, ele foi para onde tinha deixado sua mala na noite anterior. Ele pegou seu celular de um bolso lateral.

Seus olhos estavam em mim enquanto ele atendia a ligação. “O que foi Colt?” Era o seu irmão do outro lado da linha e eu não tinha certeza se era algo pessoal ou ligado a força policial.

“Merda. Sério?” Reece levantou sua mão livre e passou por seu cabelo. Ele abaixou essa mão. “Isso não é bom;” Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, então eu me virei e peguei seu prato vazio. Abrindo a lava louças, eu quase deixei o prato cair.

Uma calcinha minha estava no espaço para os talheres, enfiada no quadrado estreito. Minha mão tremia enquanto eu estava encarando ela. Ela era – oh Deus –ela era o frio dental de renda preta que eu desejava ter usado ontem à noite.

Como nesse mundo ela terminou na lava-louça?

Eu não abria a lava-louças desde domingo, se eu me lembrava bem. Ontem, eu não tinha usado nenhuma louça e tinha deixado o copo que usei na pia.

Atormentada, eu coloquei o prato dentro, mas não peguei a calcinha. Eu nem mesmo queria tocar nela. Gasparzinho estava me assombrando e ele era um pervertido. Se eu tinha colocado elas lá e não me lembrava, eu precisava de um raio x da minha cabeça. Talvez eu precisasse falar com Katie sobre a sessão espirita.

“Yeah.” A voz de Reece me assustou. “Eu posso fazer isso. Falo com você depois.” Fechando a lava-louças, eu deixei minha calcinha dentro. A última coisa que eu queria era pegá-la. Eu já tinha explicação demais para dar além de ter que explicar isso. Virando-me, eu vi Reece pegando uma camiseta da mala e colocando. Ele não estava olhando para mim enquanto abotoava sua calça.

“Está tudo bem com seu irmão?” eu perguntei.

Reece levantou sua cabeça enquanto arrumava a camiseta. Seu lindo rosto estava branco, vazio de emoções enquanto seus olhos azuis encontravam os meus. “Yeah. Está tudo bem.” O nó na minha garganta expandiu. Eu abri minha boa, mas ele se virou. “Olhe, eu preciso ir,” ele disse, indo em direção ao corredor.

Por um momento eu estava completamente enraizada ao chão. Ele estava indo? Nós não tínhamos terminado de conversar. Entrando em ação, eu corri atrás de Reece, encontrando ele no meu quarto, sentado na beira da cama, colocando suas meias e botas.

Tudo que eu consegui ver foi a bagunça que estavam as cobertas. As marcas nos dois travesseiros. A camisa que ele estava usando ontem, a que ele usou para me limpar, estava em uma bola no chão.

Meu coração estava batendo tão rápido que eu tinha medo que ele fosse explodir como um balão assim que chegasse a seu limite. “Você realmente precisa ir? Agora?” “Sim.” Amarrando suas botas, ele se levantou, e ele era uns bons centímetros mais alto que eu. “Eu preciso soltar o cachorro de Colt.” Eu silenciosamente repeti suas palavras, porque eu não conseguia acreditar que era por isso que ele precisava ir. Quero dizer, eu não gostaria que o cachorro fizesse suas necessidades em locais inapropriados, mas precisávamos terminar nossa discussão. “Ele... ele não pode esperar um pouco?” “É ela,” ele respondeu, se inclinando e pegando a camisa usada. “Seu nome é Lacey e não, não pode esperar.”

Meu peito contraiu enquanto ele se endireitava novamente e passava por mim. A parte de trás dos meus olhos queimava enquanto ele saia do quarto e eu ficava... eu fui deixada encarando a cama. Nossa manhã juntos pareceu anos atrás.

Virando-me, eu o segui até a sala. Ele já tinha sua mala em mãos e tinha colocado um boné preto. Estava puxado bem para baixo, escondendo seus olhos.

“Reece, eu...” as palavras escaparam de mim enquanto ele abria a porta da frente. “Estamos bem?” Os músculos por baixo de sua camiseta branca se moveram como se ele estivesse lutando contra um torcicolo e ele me olhou. A linha de seu maxilar estava tão rígida quanto uma faca. “Yeah,” ele respondeu naquele mesmo tom sem graça. “Estamos bem.” Eu não acreditei nele, nem por um segundo. Aquela bola estava de volta na minha boca agora e eu pisquei várias vezes. Eu não consegui falar, porque se falasse, a bola iria sair.

Reece olhou para o lado, seu maxilar ainda tenso. “Eu te ligo, Roxy.” Ele saiu pela porta e parou. Naquele pequeno segundo, eu me enchi de esperança como um fósforo jogado em uma piscina de gasolina. “Tenha certeza de trancar a porta.” E, então, ele tinha ido embora.

Eu exalei enquanto segurava a maçaneta da porta e o observava chegar na calçada, desaparecendo da minha vista. Entorpecida, eu fechei a porta. Eu a tranquei. E fui para trás. Minhas bochechas estavam úmidas. Minhas mãos tremiam. Eu coloquei meus óculos no topo da minha cabeça e pressionei minhas palmas contra meus olhos.

Oh Deus, isso tinha ido tão mal quanto poderia. Indo para o sofá, eu me joguei nele enquanto abaixava minhas mãos. “Oh Deus,” eu sussurrei.

Eu sabia que ele ficaria bravo e eu tinha ficado preocupada que ele me odiaria por ter mentido. Depois de tudo, saber isso foi o que tornou tão difícil de contar a ele uma vez que começamos a nos falar novamente, mas ontem à noite – e essa manhã – eu não achava que ele iria fugir. Eu entedia que ele estava chateado, mas eu... eu não sabia o que pensar.

Lágrimas escorriam por minha bochecha enquanto eu tentava respirar, mas ficou engasgado em um soluço. Isso não era bom e era culpa minha. Isso era culpa minha.

“Pare de chorar,” eu disse a mim mesma. Parecia que havia vinte quilos a mais no meu peito e eu repeti o que ele disse quando saiu. “Ele disse que estávamos bem. Ele disse que iria me ligar.” E Reece não mentia.

Não como eu.

Eu não tive notícias de Reece pelo resto da terça-feira.

Eu não pintei – nem mesmo pisei dentro do meu estúdio. Tudo que fiz foi ficar deitada no meu sofá como uma pilha de merda, encarando meu celular, desejando que ele tocasse ou que chegasse uma mensagem.

Reece não me ligou ou mandou mensagem na quarta-feira.

Eu não entrei nem uma vez no estúdio e o único motivo que eu tirei minha bunda do sofá era porque eu precisava ir trabalhar. Eu poderia ter folgado se não fosse pelo para brisas que eu tinha quebrado. Outra péssima decisão que fiz que eu literalmente e figurativamente estava pagando.

Trabalhar quarta-feira no Mona’s foi um saco.

Uma dor constante se movia entre minha testa, meus olhos e de volta para minha testa. Meus olhos estavam inchados e eu disse a mim mesma que era alergia. Eu disse a Jax que era por causa disso que eu parecia mal quando ele me perguntou por que eu parecia ruim. Mas era mentira. Quando eu acordei na quarta-feira de manhã, eu ainda conseguia sentir o cheio de Reece nos meus lençóis e eu... eu chorei como quando eu descobri que Reece estava namorando Alicia Mabers, uma tenista loira e perfeita que tinha acabado de se mudar para cidade. Só que eu tive Charlie para comprar chocolate e me fazer ver filmes ruins de terror para me fazer sentir como se o mundo não tivesse acabado.

Eu continuei dizendo a mim mesma que as lágrimas eram mais pela perda da amizade do que pelo isso poderia ter se tornado. Eu nunca me deixei realmente considerar um futuro com Reece, então as lágrimas não poderiam ser por isso.

Elas não poderiam ser.

No meio da noite, Brock, a besta, Mitchell apareceu sem seu usual aglomerado de meninas ou caras musculosos. Brock era meio que famoso nessas redondezas. Ele era um lutador no UFC que treinava nos arredores de Philly. Eu não tinha ideia de como ele e Jax se conheciam, mas Jax parecia conhecer todo mundo.

Mais alto que Jax e com um corpo de quem passava horas em uma academia diariamente, Brock era quente. Ele tinha cabelo preto, escuro e uma pele que parecia argila cozida. Brock tinha um visual diferente que seria intimidador para as pessoas que não o conheciam, mas ele sempre tinha ficado na sua e tinha sido gentil quando estive por perto.

Ele se sentou no bar, me dando uma piscadinha enquanto Jax ia em sua direção. Imediatamente, foi um bromance entre os rapazes. Eu não estava prestando muita atenção neles, mas desde que na noite de quarta apenas os regulares vinham ao bar e a música estava desligada, eu não consegui evitar ouvir a conversa. No começo, parecia nada grande. Apenas umas informações sobre uma luta e algo sobre um patrocínio que fez Jax parecer que estava tento um orgasmo, mas o assunto mudou.

“Cara, o dia de hoje tem sido doentio,” Brock disse, pegando a garrafa e tomando um gole “Uma das meninas que trabalha no escritório do clube onde eu treino não foi trabalhar ontem. Simmons, o técnico, disse que ela não avisou e não apareceu, mas...” ele balançou sua cabeça, seus olhos castanhos escuro brilhando com raiva. “Algum doente a pegou.” Eu parei, apertando o pano que eu estava usando para limpar as garrafas de bebida que estavam à mostra. Jax inclinou sua cabeça para o lado. “O que aconteceu?” “Algum imbecil invadiu seu apartamento. Fez um estrago com ela pelo que ouvi.” Sua mão vazia se fechou em punho. “Cara, eu nem consigo entender como um homem pode machucar uma mulher. Eu não entendo isso.”

“Jesus.” Jax balançou sua cabeça. “Esse foi o que? O terceiro incidente em um mês?” “Tem aquela menina que desapareceu no começo do verão.” Eu andei para onde eles estavam, colocando o pano sobre o balcão. “Eu acho que seu nome era Shelly ou algo parecido.” Brock concordou. “Eu não sou policial. Nem um psicólogo, mas parece que temos um psicopata por aqui.” Eu cruzei meus braços contra o calafrio que subiu pela minha coluna. Meus pensamentos vagaram para as coisas estranhas acontecendo na minha casa e eu enrijeci. Parecia loucura pensar que isso tinha algo a ver com as pobres meninas. Além do mais, não fazia sentido. Como alguém poderia entrar na minha casa e fazer isso sem eu saber? Mas ainda assim, eu tinha de perguntar. “Você sabe se as meninas foram perseguidas ou coisa do tipo? Se receberam mensagens?” “Não ouvi nada,” Jax respondeu, inclinando seu corpo na minha direção. Ele levantou uma sobrancelha. “Mas aposto que Reece sabe.” Oh! Como um chute no estômago, aquelas palavras me reviraram por dentro. Eu não sabia como responder a isso. Última coisa que sabia do Reece era de uns dias atrás, que as coisas estavam bem entre Reece e eu. Agora, eu não tinha tanta certeza.

“Eu te digo uma coisa. Quem quer que seja esse cara, ele é um homem morto.” Os lábios de Brock se curvaram em um sorriso. “A menina que trabalhava no nosso escritório. Ela é prima de Isaiah.” “Puta merda,” Jax murmurou.

Exatamente meus sentimentos. Isaiah era meio que famoso pelos motivos errados nessa região. Para os de fora, ele parecia como um cara de negócios legitimo, mas para os locais, incluindo a polícia, sabiam que ele era bem mais que isso. Ele administrava Philadelphia e todas as cidades ao redor. Simplificando, ele não era um homem para se brincar e ele era esperto sobre seus negócios ilegais, porque a força policial nunca conseguiu levantar provas contra ele.

Era de Isaiah que a mãe de Calla tinha roubado drogas que valiam milhões de dólares. E o quão inatingível Isaiah era, a mãe de Calla nem estava morando mais por aqui. O único jeito de ela continuar viva foi desaparecer.

Mas Isaiah tinha um código de ética. Um dos seus meninos – Mack – tinha ido atrás de Calla desde que ele deveria ter cuidado da sua mãe. Isaiah não tinha gostado disso já que Calla era inocente nisso. Ninguém pode provar, mas quando o corpo de Mack foi encontrado em uma estrada com um tiro na cabeça, todos sabiam que isso foi coisa do Isaiah.

Mesmo que seus meninos passassem tempo aqui, eu só tinha visto Isaiah algumas vezes. De vez em nunca ele vinha ao Mona’s e ele sempre deixava gorjetas generosas.

“Yep. Então não só a polícia está procurando por esse imbecil, mas os meninos de Isaiah estão também, então é melhor esse cara rezar para a polícia o encontrar primeiro ou o interior de um porta malas vai ser a última coisa que ele vai ver.” Brock se inclinou para trás, cruzando seus braços massivos sobre seu peito. Um ombro levantou. “Então, novamente, eu espero que Isaiah o encontre antes.”

coisa. Isso pode me fazer uma má pessoa, mas eu meio que esperava a mesma

Brock ficou até o final do turno e os meninos me acompanharam até meu carro. Ainda não havia sinal de Reece, nem uma mensagem ou ligação perdida. A dor que eu estive carregando comigo durante as últimas vinte e quatro horas era esmagadora.

Antes de tudo ir a merda na manhã de terça, ele tinha me dito que queria almoçar e quando ele saiu, ele disse que estávamos bem e que ele iria ligar. Uma pequena parte de mim estava se segurando nisso até a tarde de quinta.

Reece iria ligar. Nós iríamos almoçar. Ele não era um imbecil. Nunca tinha sido, então eu sabia que ele não iria me dar o cano assim.

A rua do lado de fora do apartamento estava calma e o ar estava até fresco quando estacionei e andei até a varanda. Eu quase conseguia sentir o outono, e ele não estava longe. Depois desse longo e quente verão, eu não conseguia esperar pelas aboboras especiais da minha mãe.

Abrindo a porta, eu entrei no meu apartamento escuro e fechei a porta atrás de mim. Eu não sei porque, mas assim que fechei o trinco, um calafrio percorreu toda a minha pele. Dedos gelados trilharam minha coluna e eu congelei, encarando a escuridão do lugar.

Eu fui cercada pela sensação de não estar sozinha. Os pelos do meu corpo estavam arrepiados. Meu peito subia e descia rapidamente enquanto eu estava ali parada. Talvez eu devesse ter dito algo para os meninos sobre as coisas estranhas que estavam acontecendo no meu apartamento. Se eu tivesse, eles teriam vindo para casa comigo, mas parecia idiotice mencionar, estranho demais para explicar.

Agora, parecia que eu ia ter um ataque cardíaco.

Sem ver nada, eu estiquei minhas mãos na frente, passando pelo abajur antes de encontrar o interruptor. Eu acendi a luz e um leve brilho iluminou a sala, mas as sombras pareciam estar mais escuras nos outros lugares.

Pegando minha bolsa, eu passei minha mão em volta do meu celular e o peguei. Indo silenciosamente um pouco para frente, coloquei minha bolsa na poltrona. Agarrada ao celular, eu fui para a cozinha, acendendo as luzes.

Nada fora do lugar.

Enquanto eu abri a lava-louças, meio esperando encontrar um par de sutiã e calcinhas enfiados ali, eu perdi a respiração quando ouvi um barulho.

Algo – algo estava atrás da minha casa, onde meus quartos ficavam. Um som de uma porta se fechando devagar? Eu não tinha certeza.

Eu me virei, meu coração acelerado. Medo pinicava minha pele. Eu tinha ouvido uma porta se fechar? Ou foi apenas minha imaginação? Nessa altura, eu não conseguia ter certeza, mas eu peguei um facão de açougueiro do cepo.

Inalando profundamente, eu fiz meu caminho pelo apartamento. Nada parecia diferente, nenhuma porta aberta quando não deveria estar ou vice-versa, e com todas as luzes acesas, mesmo as do banheiro, eu me joguei na cama, suspirando.

Eu realmente precisava ir para a igreja local e pedir um exorcismo.

Olhando para a faca assustadora que eu ainda estava segurando, eu a coloquei do meu lado na cama e olhei para meu celular. Eu podia mandar uma mensagem a Reece. Dizer a ele que eu achava que tinha ouvido algo no meu apartamento. Ele poderia vir, e isso não seria mentira, mas...

Mas isso não seria certo.

Aquilo... era como atingir um novo nível de desespero e eu não estava nesse ponto. Ainda.

Eu não consegui dormir muito. Assustada pelo que tinha sentido quando entrei no meu apartamento e tudo mais que estava acontecendo, eu acordei a cada hora até que o sol nasceu e eu finalmente desisti.

No amanhecer, eu me encontrei no meu estúdio. Deixando de lado a pintura da Jackson Square, eu encarei a tela branca e peguei meu pincel. Não havia nenhum motivo por trás do que estava fazendo. Minha mão tinha consciência própria. Eu estava no piloto automático. Horas se passaram e minhas costas e meu pescoço doíam por estar tanto tempo sentada na mesma posição.

Esfregando a parte de baixo das minhas costas, eu me inclinei de volta no banquinho. Virei minha cabeça para o lado e murmurei. “Oh porra.” O fundo da pintura era o azul claro das paredes da minha cozinha e o branco brilhante dos armários. Nada de mais aí, mas era o que havia no centro da pintura que me fez desejar por uma lobotomia.

O tom de pele tinha sido difícil de reproduzir, misturando marrons, rosas e amarelos até que eu chegasse perto do tom dourado. Os ombros tinham sido fáceis de desenhar na tela, mas as sombras e os contornos dos músculos foram os mais difíceis. Meu pulso não gostou de todo o trabalho duro que tinha levado conseguir fazer a curva exata da sua coluna e os músculos em cada lado. As calças pretas foram as mais fáceis.

Eu tinha pintado Reece do jeito que eu tinha visto ele na minha cozinha na terça de manhã.

Apertando meus olhos fechados, isso não fez nada para aliviar a queimação neles ou parar as lágrimas de se formarem. Frustração crescia em mim. Eu sabia sem

olhar para meu celular que era mais de dez da manhã. Esse conhecimento fez meu peito doer e meu estômago parecia estranho, como se eu tivesse comido demais.

Eu não podia esperar mais. Eu tinha esperado dois dias.

Colocando o pincel na mesa, eu me levantei e fui até meu celular. Sem pensar muito sobre isso, sem me estressar sobre isso mais, eu mandei uma rápida mensagem a Reece.

Sinto sua falta.

Deus, isso era estranhamente verdade. Quase um ano sem falar com ele e eu tinha sentido falta dele esse tempo todo, mas tinha sido camuflada pela raiva e amargura. Com tudo isso longe, tudo que sobrou foi o quanto eu sentia falta dele.

Eu apaguei isso e digitei Ainda está tudo certo para hoje?

Então eu também apaguei correndo e finalmente me decidi com um Hey.

Levando o celular para o quarto, eu tomei um banho rápido e sequei meu cabelo. Eu até o enrolei, deixando ele ondulado e coloquei maquiagem para que eu estivesse pronta em caso...

Então eu andei pela minha cozinha e sala, estranha demais para conseguir me sentar e a cada minuto que se passava, a frustação e pânico aumentavam em mim.

Meio dia se transformou em uma da tarde e, então, em duas e quando eu tinha apenas meia hora para me arrumar para meu turno no Mona’s e ainda não haviam ligações ou mensagens, aquele pequeno raio de esperança que eu estava segurando perto do meu coração se extinguiu.

Reece tinha mentindo para mim.

Pela primeira vez desde que eu o conheci, ele tinha mentido para mim. Porque eu sabia naquele momento que ele não iria me ligar. Tudo entre nós não estava bem.

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