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Capítulo Vinte e Quatro

“Minha cabeça dói.” Os dedos de Reece se moveram pelo meu cabelo, massageando o couro cabeludo. “O ibuprofeno já já faz efeito.” Eu me sentia com uma febre ambulante. Minha testa pulsava, assim como o espaço inútil entre meus olhos. Havia uma boa chance que eu tinha chorado até derreter meu cérebro. Uma vez que tinha começado a chorar, foi como se algo tivesse quebrado dentro de mim. Eu não fazia ideia do tempo que fiquei no banheiro, Reece sentado comigo em seus braços, encharcando sua camisa. Eu estava apenas vagamente consciente quando ele me pegou e carregou para sua cama. Ele tinha me segurado por horas, apenas me deixando para pegar um pouco de água e ibuprofeno. Ele tinha tirado sua camisa e se trocado para uma calça de nylon antes de voltar para cama. Eu ainda estava de top e calcinha, e não havia nada sexy sobre isso agora.

Eu estava jogada sobre seu peito como uma daquelas marionetes. Minha bochecha estava sobre seu coração e suas pernas embalava minha coxa enquanto ele mantinha seus dedos se movendo contra meu couro cabeludo. A noite tinha caído a horas e, enquanto nenhum de nós havia comido desde aquela manhã, eu acho que nós estávamos exaustos demais para sair da cama e pegar algo para comer.

“Me desculpe por ter chorado em cima de você,” eu disse.

“É para isso que estou aqui. Eu sou seu lenço de papel pessoal. Entre outras coisas, coisas mais divertidas, mas eu sou multipropósito.” Eu sorri enquanto encarava o nada. “Eu gosto dessas coisas mais divertidas.” “Eu sei.” Colocando meus dedos sobre seu estômago definido, eu inalei e me surpreendi por sentir ele equilibrado e sem doer. Levaria muito tempo para realmente aceitar meu papel no destino de Charlie. Talvez eu nunca fosse me absolver completamente da culpa, mas eu queria tentar. Eu realmente, honestamente, queria tentar pela primeira vez.

“Posso te dizer uma coisa?” Reece perguntou.

“Você pode me dizer qualquer coisa.” “Eu vou me segurar a isso para o futuro,” ele disse secamente. “Eu não gosto de dizer adeus.” Franzi o cenho. “Eu... eu lembro de você dizer isso.” “Eu disse. Eu disse que nunca iríamos dizer adeus. Que iríamos nos beijar no lugar. Inferno, podemos dizer qualquer coisa um para o outro menos adeus.” “Por que?” eu sussurrei, mas eu achava que tinha uma boa ideia do motivo.

Houve uma pausa. “É permanente demais, especialmente na minha linha de trabalho, a última coisa que eu quero que você ouça de mim é um adeus. E isso, com certeza, não vai ser a última coisa que vou dizer a você.” Eu tremi enquanto pensava sobre um dia ter de encarar uma ligação ou uma batida na porta da... eu afastei esses pensamentos da cabeça. Isso não era se arriscar. Eu não podia, não iria me permitir pensar sobre a possibilidade dele não vir para casa um dia.

“Tem algo que eu quero que você saiba, Roxy. Eu sou um filho da puta teimoso. Você sabe disso. Eu não vou desaparecer sem uma puta de uma luta. Eu posso te prometer isso.” Meus olhos queimaram e eu pensei que havia uma boa chance de começar a chorar novamente.

Com minha cabeça meio limpa, uma grande parte de mim estava reconhecendo quão... quão fraco era manter alguém longe só porque você poderia perder ela um dia. O quão bobo isso era. Mas ainda havia aquele pequeno pedaço de mim que realmente queria retrair e não correr riscos. Eu só não poderia ceder a esse medo.

“Você acha que eu sou louca?” eu perguntei com a voz baixa.

Ele riu e eu gostei de como o som ecoou sob minha bochecha. “Babe, eu sempre pensei que você é meio louca. É isso que amo sobre você.”

Ouvir ele dizer isso agora, enquanto minha cabeça já estava meio arrumada, me fez perder o fôlego. “Você pode falar isso de novo?” Ele deslizou sua mão para meu maxilar e levantou minha cabeça. Nossos olhos se encontraram e meu peito levantou com uma respiração profunda. “Eu vi elas,” ele disse.

Eu franzi o cenho. “Viu o que?” Ele inalou profundamente enquanto me olhava. “As pinturas.” Por um momento eu não entendi o que ele estava querendo dizer. Nem quando ele traçou a curva da minha bochecha com seu dedão, nem quando um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. Então eu entendi.

“As pinturas?” eu engoli e comecei a me sentar, mas ele não me deixou ir muito longe. “As pinturas no meu apartamento?” Quando ele concordou, eu senti meu rosto esquentar como se estivesse em baixo do sol. “Aquelas que eram...?” “De mim?” ele terminou.

Eu apertei meus olhos fechados. “Oh meu Deus. Sério?” “Sim.” Mortificada, eu não sabia o que dizer. “Elas estavam no meu armário. Por que você estava olhando dentro do meu armário?” “Procurando um perseguidor psicótico,” ele respondeu.

Meus olhos arregalaram. “Isso... isso foi há duas semanas! Você as viu naquela época e não disse nada.” Reece se sentou, me trazendo junto com ele. De algum modo meu corpo terminou entre suas pernas e nós estávamos cara a cara. “Eu não disse nada porque imaginei que você iria reagir desse jeito.” “Claro que eu iria reagir desse jeito! É vergonhoso. Você provavelmente pensa que eu sou uma estranha. Uma perseguidora – uma perseguidora estranha que pinta você quando não está por perto.” “Eu não te acho uma perseguidora, babe.” Sua voz estava seca.

Eu esfreguei meu rosto. “Não posso acreditar que você as viu.” Ele riu e meus olhos se estreitaram para ele. “Honestamente? Eu realmente não sabia com certeza como você se sentia até vê-las.” Arregalei minhas sobrancelhas. “Eu pensei que você sempre soube.” Reece deu uma piscadinha. “Eu tinha minhas suspeitas que você se apaixonou por mim da primeira vez que me viu.” “Oh bom menino Jesus na manjedoura,” eu murmurei.

“Mas eu não acho que tinha cem por cento de certeza até ver aquelas pinturas, especialmente aquela minha na cozinha. Você pintou depois... depois que eu sai.” Suas sobrancelhas abaixaram enquanto ele balançava a cabeça. “Não tem nada que ficar com vergonha. Eu acho que é uma graça.” Eu ainda achava que era meio estranho.

“Mas você sabe o que é importante? A primeira coisa que eu pensei quando vi elas era no quão talentosa você é. Era como estar olhando no espelho.” Isso foi meio longe demais para me fazer me sentir melhor sobre isso.

“Eu queria que você se focasse nisso, babe. Você tem algo real.” Me apoiando contra ele, eu exalei suavemente. Minha mente estava doendo depois de tudo. Eu não tinha certeza que estava pronta para analisar de perto toda essa coisa da faculdade. “Ter um diploma não iria doer.” “Você está certa.” Ele passou sua mão sobre meu braço. “É inteligente. Assim como fazer o que você ama, sem importar o que seja.” Eu sorri enquanto pensava sobre isso. “Eu realmente amo trabalhar no Mona’s.” “E, como disse antes, não tem nada de errado nisso.” Reece estava certo. Jax estava mais feliz que um macaco com banana sendo dono e trabalhando no Mona’s. Assim como Nick. Bem, eu imaginava que Nick estava feliz. Eu nunca realmente perguntei isso a ele e ele nunca tinha compartilhado essa informação.

“Você acha que consegue comer alguma coisa?” ele perguntou, e quando eu concordei, ele deu um tapinha na minha bunda. “Vamos lá, vamos pegar um pouco de queijo e bolachas.” Eu sai da cama e estava no corredor quando Reece me pegou pela cintura e me girou. Ele me puxou contra seu peito enquanto segurava minha bochecha com minha de suas mãos, inclinando minha cabeça para trás.

“Eu te amo Roxy,” ele abaixou sua cabeça, me beijando gentilmente e, de repente, eu entendi a emoção por trás daquele beijo doce e carinhoso. Era aquela palavra de quatro letras. Amor. “Você queria me ouvir dizer isso de novo. Eu vou dizer tantas vezes que você vai se cansar de ouvir isso.” Sorrindo contra seus lábios, eu coloquei minhas mãos em seu peito, inalando profundamente, sentindo o cheiro do seu perfume. “Não acho que um dia vou me cansar de ouvir isso.”

Os próximos dias passaram como um borrão por um motivo diferente. Eu não estava entorpecida mais, o que significava que quando acordei na sexta de manhã, eu tive mais uma crise de choro porque eu percebi que não iria ver Charlie nessa sexta como eu vinha fazendo pelos últimos seis anos. Era difícil e, honestamente, eu não sabia o que teria feito se Reece não estivesse comigo. Não só ele me deixou chorar, mas quando finalmente parei, ele não tinha me tratado como se algo estivesse errado comigo ou como se ele estivesse cansado das crises emocionais.

Reece simplesmente pediu comida chinesa e nós almoçamos tarde, passando o dia todo no sofá, assistindo filmes ruins de zumbi. Sábado foi igual e, quando eu tinha tido outra crise emocional, porque eu estava tão frustrada comigo mesma por como eu havia tentado afastar Reece e como Charlie teria e batido se estivesse aqui e tivesse ficado sabendo disso, e como eu não estava sendo forte suficiente... para apenas deixar tudo isso para lá.

Era domingo e eu estava sentada na cama enquanto ele – em toda sua gloria sem camisa e com a calça do pijama – estava afivelando inúmeras coisas em seu uniforme que eu contei a ele o que estava planejando fazer amanhã.

“Eu vou ao meu apartamento amanhã.” Sua cabeça estava abaixada enquanto ele prendia seu distintivo na sua camisa, mas seus dedos congelaram enquanto ele levantava seu queixo, ambas as sobrancelhas arregaladas. “Por quê?” Eu fui para o pé da cama e olhei para baixo, para onde ele estava sentado no chão. “Eu quero – não, eu preciso – passar pelas coisas que eu trouxe do... do quarto de Charlie. Eu apenas as deixei na sala.” Ele terminou de prender seu distintivo. “Você não pode apenas esperar até que eu possa ir com você?” Eu sorri um pouco. “Eu aprecio você querer estar lá, mas eu acho... eu preciso fazer isso sozinha.” Em outras palavras, eu sabia que iria ter outra crise de novo, especialmente ao ver todas aquelas pinturas e pequenas coisas que levava comigo sempre que visitava Charlie. Depois de todo esse tempo chorando em Reece, eu realmente achava que ele não precisava ver isso de novo. Eu precisava deixar isso tudo para trás e era algo que eu precisava tentar fazer sozinha. “Meu apartamento agora é seguro.” “Ele deve ser seguro agora.” Colocando sua camisa para o lado, ele começou a brincar com as fivelas em seu cinto. Deixar seu uniforme pronto era um processo complicado, pelo que estava aprendendo. “Você sabe que eu quero que você fique comigo até que encontremos esse cara.” “Eu sei.” Eu cruzei minhas pernas. “Mas com o sistema de segurança eu estou praticamente segura. Se não, qual foi o motivo de ter instalado ele? Além do mais, e se não encontrarem o cara?” “Você pode ficar aqui para sempre,” ele respondeu.

Eu atirei a ele um olhar em branco. “Reece, eu... eu não acho que poderia. Quero dizer, nós acabamos de começar a namorar e a maioria das pessoas...” “Eu não dou a mínima para o que a maioria das pessoas fazem. Eu te amo. Você me ama, mesmo que eu ainda não tenha ouvido essas palavras ainda.” Ele esticou seu cinto no chão enquanto eu levantava uma sobrancelha. “Então se é para nós morarmos juntos agora, vamos morar juntos. Que seja.”

Meus lábios se curvaram. “Eu gostaria de ver você explicando isso assim, com toda essa graça, pros meus pais.” Reece se levantou bruscamente. “O que você acha que seus pais pensam que você está fazendo enquanto está ficando comigo agora?” “Eles acham que nós estamos jogando baralho e costurando cobertores.” Ele riu enquanto colocava suas mãos em cada lado meu e se inclinava sobre a cama. “Eles sabem que estamos fodendo sempre que temos chance.” “Ew.” Eu enruguei meu nariz. “Eles acham que estamos fazendo coisas puras e bondosas.” “Seus pais?” Ele bufou. “Eles provavelmente esperam que a gente dê a eles um neto até o próximo verão.” “Não, não pode...” eu gemi. “Você provavelmente está certo.” Sorrindo, ele beijou a ponta do meu nariz e se afastou para que pudesse olhar diretamente em seus olhos. “Você está planejando ir durante o dia?” Quando eu concordei, ele suspirou. “Por favor me diga que se você notar qualquer coisa suspeita, você vai tirar sua bunda de lá e vai me ligar. Eu estarei trabalhando, mas eu largo tudo.” Eu sorri e fui para frente, beijando a ponta do seu nariz. “Eu vou ficar bem. Eu só preciso...” “Você precisa da sua privacidade. Eu entendo isso. Realmente entendo.” E isso... isso era tão Reece. Yeah, ele poderia ser mandão e exigente, dentro e fora do quarto, mas ele era atencioso e compassivo. Ele tinha boa vontade, mas o lado gentil dele cravou profundamente em mim. Eu amava cada parte de Reece, não importando o quão chato ele pudesse ser às vezes.

Eu pensei no que ele disse sobre como ele tinha lidado com o tiroteio – como ele ainda estava lidando. Meu peito doeu. “Você está bem?” “Ótimo.” Ele respondeu.

“Isso eu sei, mas não foi isso que quis dizer.” Eu inalei profundamente. “Tudo relacionado ao tiroteio? Eu sabia que tinha sido ruim, mas eu nunca soube o quão ruim, e eu... eu só queria ter certeza que você sempre pode falar comigo. Okay?” Um pequeno sorriso apareceu. “Eu sei.” “Não se esqueça disso,” eu exigi.

Aquele sorriso aumentou. “Não vou.” Colocando minhas mãos em seus bíceps, eu cobri a pequena distância entre nós e beijei seus lábios já separados. O jeito que ele inalou por entre seus dentes ativou o desejo dentro de mim. Beijando ele de novo, eu me afastei apenas o suficiente para que estivéssemos cara a cara de novo.

Eu inalei profundamente. “Eu te amo Reece.” Seus olhos ficaram mais profundos, mais azuis, enquanto ele me encarava. Por um momento, ele não disse nada, não se moveu e eu não tinha certeza se ele estava respirando. Então ele entrou em ação, pegando meu quadril. Ele me levantou e me colocou de costas enquanto ficava sobre mim, seu corpo bloqueando o mundo todo.

“Eu já sabia disso, babe, mas nada é tão bom quanto ouvir você dizendo.” Eu comecei a dizer novamente, mas sua boca reivindicou a minha com um beijo fervente que me abalou. Não tinha nenhum pingo de raiva em como procuramos um ao outro, e realmente procuramos um ao outro. Também não foi algo lento e sensual. Nós estávamos agitados, mas dessa vez era porque não havia mais nada entre nós, sem palavras para serem ditas, sem paredes e, o mais importante, sem medo nos segurando.

Nossas roupas saíram em um segundo e nossas mãos estavam em todos os lugares. Reece estava em todos os lugares, e o que ele sentia por mim, o que era algo que eu não poderia duvidar, estava em cada passada da sua mão e caricia em meu lábio. Ele adorou o que tínhamos juntos, como se minutos se perdiam a cada beijo e carinho. Eu sabia que merecia ter isso com ele.

Eu sabia que ele merecia isso.

Reece fez seu caminho pelo meu corpo, sua cabeça entre minhas coxas, sua boca em mim, sua língua em mim. Deus, ele sabia o que fazer. Com cada lambida, ele me puxava mais para si. Quando sua boca se moveu para a bola de nervos e ele deslizou um dedo dentro, encontrando aquele ponto sensível, a sensação foi demais e eu gozei, minha cabeça jogada para trás e meus dedos agarrados a mechas curtas de seu cabelo. Aqueles pequenos beijos e as doces mordidas diminuíram enquanto minhas pernas caiam para o lado, sem força. Eu estava mal consciente dele se movendo para a cômoda, mas o barulho do alumínio fez meus olhos se abrirem. Com um olhar pesado, eu o observei desenrolar a camisinha até que estivesse sobre mim, sua mão em meu maxilar enquanto ele se guiava dentro de mim com uma rápida investida. Sua boca silenciou meu gemido e eu consegui sentir meu gosto nele, uma combinação extremamente erótica. Eu envolvi sua cintura com minhas pernas, ajudando nas suas investidas poderosas e profundas.

Ele levantou sua cabeça, seus lábios brilhosos e bochechas coradas. Antes que pudesse dizer uma palavra, eu disse a ele, de novo. “Eu te amo,” e eu disse isso de novo e de novo até qualquer tipo de controle e ritmo que ele tinha estivesse perdido, até que joguei meus braços para trás e coloquei a palma da minha mão contra a cabeceira, me prendendo enquanto ele investia contra mim, atingindo cada nervo e mandando prazer para cada parte de mim. Eu me desfiz de novo, quebrando em milhares de pedacinhos felizes, mas dessa vez ele estava comigo, com sua cabeça jogada para trás e meu nome em um gemido sexy vindo direto dele.

Ele desabou quando tinha terminado, sua respiração errática. “Eu não consigo me mover,” ele murmurou, seu rosto enterrado no meu pescoço.

“Tudo bem.” “Eu vou te esmagar.” “Isso também está bem.” Reece riu. “Eu não gosto de uma Roxy reta e esmagada.” Eu sorri. “Eu já sou bem reta naturalmente.” “Você é perfeita.” Ele saiu de cima de mim, se deitando de costas. “Porra, babe...”

Abrindo meus olhos, eu virei minha cabeça na sua direção. Um braço estava sobre seus olhos e a outra mão na minha coxa, como se ele não pudesse suportar a ideia de ficar sem me tocar. Talvez fosse apenas eu tento fantasias induzidas por um orgasmo, mas que seja.

“Você sabe,” eu disse, suspirando e me movendo, colocando minha mão sobre a dele. Eu fiquei feliz quando ele imediatamente virou sua palma para cima e entrelaçou seus dedos com os meus. “Eu gostaria de pintar você.” “Comigo sabendo?” ele provocou.

“Com você nu,” eu corrigi.

Ele moveu seu braço e virou sua cabeça para mim. Aqueles lábios estavam curvados. “Eu topo, com certeza.”

Eu sai para ir ao meu apartamento uma hora depois que Reece tinha ido trabalhar. Era estranho estacionar na frente do meu apartamento e entrar nele. Não porque eu tinha que pressionar um botão no meu chaveiro para que o alarme fosse desativado e apertar de novo uma vez que estivesse dentro, ou porque eu estava surtando por estar de volta aqui depois da invasão.

Eu nem estava pensando sobre o Sr. Perseguidor Amigável do Bairro.

Não. Eram as caixas próximas ao meu sofá. Era a pilha de pinturas que eu sabia que estavam ali. Era o lembrete que Charlie realmente não estava amis aqui.

Colocando minhas chaves na mesa, eu fui em direção as caixas, sentindo o fundo da minha garganta queimar. Grande parte de mim queria virar e correr de volta para o apartamento do Reece, me esconder debaixo das cobertas, mas eu precisava lidar com isso.

Mas isso não estava funcionando – isso não era seguir adiante.

Parando minhas mãos na lateral da minha camiseta, que tinha o escrito I’M A SPECIAL SNOWFLAKE61 ,eu peguei a primeira pintura como se eu estivesse pegando de uma caixa cheia de cobras venenosas.

Claro que era a pintura que eu tinha feito comigo e Charlie sentados juntos em um banco, nossas costas visíveis e as árvores cheias de folhas douradas e vermelhas.

Meu rosto começou a se desfazer e minha mão a tremer, segurando a tela. O que aconteceu não era justo, mas tinha acontecido e eu não podia fazer nada para mudar isso.

Lágrimas ainda caiam enquanto eu puxava a caixa pro sofá e me sentava. Cada pintura catalogava ou um momento com Charlie ou onde eu estava mentalmente enquanto pintava. Era estranho, ver todas as lindas paisagens e memorias minhas com Charlie e perceber que mesmo que eu tivesse segurado muitas coisas ruins, ainda haviam raios de sol ali. Como o jeito que eu via Charlie. Depois do incidente, eu não o via sobre uma luz diferente. Ele ainda era a pessoa mais bonita por dentro e fora que eu conhecia.

Era difícil passar por aquelas pinturas, ainda pior quando eu as coloquei no meu estúdio e fui para a próxima caixa, pegando as nossas fotos que estavam emolduradas.

Eu não queria deixar Charlie ir. Eu não precisava deixar. Eu só tinha que chegar a um lugar onde pensar nele me deixasse feliz.

Mas eu precisava... Deus, eu precisava começar a superar essa bola de ódio, tristeza e frustração que vivia dentro de mim há tanto tempo. Em vez de aprender com o que aconteceu com Charlie e viver minha vida ao máximo, eu tinha nutrido todos esses sentimentos ruins. Era como uma plantação apodrecida que estragava tudo que entrava em contado, uma infecção que eu tinha que cortar.

Colocando a foto emoldurada na mesa perto de onde o cavalete normalmente ficava, eu olhei para a porta aberta do corredor. Antes que eu soubesse o que estava

61 Eu sou um floco de neve especial.

fazendo, eu peguei meu celular e andei até meu quarto, parando na porta fechada do armário.

Eu pensei no que Reece tinha dito esses dias sobre o quão difícil era abandonar todas essas coisas relacionadas ao tiroteio. Eu sabia, pelo que ele havia me dito naquela noite do funeral, que ele ainda estava lutando em realmente superar isso, mas ele estava tentando.

Eu sabia o que precisava fazer para realmente começar todo o processo de superação, e isso seria uma das coisas mais difíceis que eu teria de fazer.

Abrindo a porta do closet, eu me ajoelhei, colocando o celular ao meu lado, e comecei a procurar pelas roupas que eu tinha o habito de simplesmente jogar no chão em vez de dobra-las como Reece fazia. Eu sorri quando eu peguei um par de jeans e o joguei para o lado, pensando que se Reece e eu chegarmos ao passo de morarmos juntos permanentemente, eu teria meu próprio dobrador de roupas.

Nada superava isso.

Me levou alguns minutos para encontrar o jeans que eu estava procurando. Eu tive de colocar todas as camisetas penduradas para o lado para limpar o caminho para a parte de trás do armário para encontrar aquele que eu havia usado na noite em que Henry tinha vindo ao Mona’s. Pegando ele do chão, eu imaginei como no mundo ele tinha ido parar bem no fundo do armário.

Eu me sentei e procurei no bolso, meus dedos encontrando facilmente o cartão. Eu o peguei enquanto um ar gelado passava sobre minha mão. Franzindo o cenho, eu olhei para cima, para o armário. Até o dia de hoje eu não conseguia entender porque o armário era tão frio.

Meu olhar passou para o cartão. Balançando minha cabeça, eu não podia acreditar que ele realmente tinha um. Mesmo? Do tipo, ‘Oi. Eu acabei de sair da cadeia. Aqui está meu cartão!’ Mas era um cartão de algum negócio de restauração de carros, um negocio que eu se eu me lembrava corretamente, seu pai era o dono na época do colegial.

Eu não acho que ele realmente quis machucar Charlie.

As palavras de Reece voavam em meus pensamentos e, pela primeira vez em muito tempo, eu pensei sobre sua apelação. Eu pensei sobre seu julgamento e em tudo desde aquela noite até agora. Doía perceber isso, mas nunca, nem uma vez Henry inventou alguma desculpa sobre o que ele fez. Nunca ele não mostrou remorso, nem do tipo que mostra quando você é pego fazendo algo errado. Eu me lembrava dele chorando no julgamento. Não quando o veredito saiu e ele foi sentenciado como culpado, mas quando eu depus e recontei os eventos.

Henry tinha chorado.

E naquela época eu o tinha odiado tanto por isso. Eu não queria ver suas lágrimas, eu não conseguia entender como ele poderia chorar quando ele foi aquele que machucou Charlie. Mas agora eu sabia que era mais que isso. Todo esse tempo eu também tinha me culpado e chorado um oceano. Quando eu pensava sobre Henry, eu sempre pensava sobre meu papel na situação.

Eu apertei meus olhos fechados por um momento e tentei imaginar a reação de Charlie sobre o que eu estava pensando em fazer. Ele ficaria triste? Ou ele iria se virar para mim e dizer finalmente? Eu suspirei. Minha garganta parecia pesada. Meus olhos queimavam quando eu finalmente o reabri.

Então eu disquei o número no cartão;

Meu estômago se revirou até que eu pensei em me encolher sobre todas aquelas roupas enquanto o telefone tocava uma, duas e, cinco vezes antes da secretária eletrônica atender. Eu não deixei recado porque, sério, o que eu iria dizer? Eu nem sabia o que eu iria dizer se ele atendesse. Eu comecei a me levantar quando eu senti aquela brisa gelada de novo, dessa vez mais forte e firme, como se uma rajada de vento estivesse saindo pelo armário.

Tão estranho.

Colocando meu celular no chão, eu fiquei de joelhos, empurrando as roupas penduradas ainda mais para trás enquanto olhava o armário. O ar não poderia estar vindo de fora, porque o armário ficava no lugar onde antes havia uma escada para o andar de cima. Poderia ter vindo da porta principal se abrindo? Me esticando, eu coloquei minha mão contra a parede. A superfície estava gelada, como esperado, mas a parede não pareceu... sólida. Não como o resto do armário. Meio que pareceu

como madeira falsa, o tipo barato de prateleira que iria se desfazer se fosse molhada. Em uma inspeção mais detalhada, eu podia realmente ver uma rachadura, uma separação entre esse tipo de madeira e a parede. Quase do mesmo tamanho da parede, que tinha um metro de largura e algo próximo a um metro e sessenta de altura.

O que provavelmente explicava porque minhas coisas continuavam caindo.

Empurrando essa parte da parede, eu estremeci quando ela se moveu, se abrindo em um espaço aberto atrás da parede como um sussurro.

“Pura merda,” eu murmurei, pensando sobre as passagens secretas que os Silvers mencionaram quando eu me mudei, e que não tinha acreditado. Ou, pelo menos, imaginei que elas estariam fechadas a essa altura.

Eu estava consumida pela curiosidade. Precisando tanto de uma distração. A parede se moveu o suficiente para que alguém pudesse se esgueirar. Eu passei por ela, entrando no espaço escuro e fedido apenas iluminado pela luz que vinha do meu quarto.

Eu quase conseguia ficar totalmente de pé. Reece mal conseguiria se abaixar para passar. Havia tanto pó no ar que quando olhei para cima, eu não queria respirar muito profundamente. Eu acho que eu realmente estava em baixo das escadas.

Oh meu Deus.

Isso me lembrou totalmente daquele filme antigo – The People Under the Stairs62 . Eu tremi. Estranho. Me movendo devagar para a esquerda, eu percebi que havia um lance de escadas dentro do espaço apertado. Eu cuidadosamente subi os degraus. Eles eram instáveis e estreitos, e eu não conseguia imaginar ninguém usando eles para subir e descer sem conseguir quebrar seu pescoço a não ser que realmente conhecesse o caminho.

62 As Criaturas Atrás das Paredes - Tentando sem sucesso sair de uma casa extremamente fortificada e que pertence a um casal sinistro, que aprisiona no porão os estranhos que aparecem em sua casa, um garoto negro carente que entrou na casa em busca de um tesouro escondido, se vê lançado de repente em um pesadelo real. Ele percebe a verdadeira índole dos moradores assassinos e tenta livrarse dos dispositivos de segurança da casa. Acaba tornando-se amigo de uma menina que sofreu abusos lá e acaba descobrindo os segredos das criaturas ocultas nas profundezas da casa.

No topo da escada havia outra porta escondida como a do meu armário – as mesmas dimensões – e quando eu pressionei o painel, ele abriu sem som nenhum.

Eu estava em outro armário, mas não era um armário normal. Não haviam roupas, sem cabides e não haviam portas. Não tinha nada bloqueando minha visão do quarto. Estupefata, eu segui em frente.

A luz do dia entrava pela grande janela e pequenos fragmentos de poeira vagavam pelo ar. O quarto deveria ser quente, mas minha pele estava gelada até os ossos enquanto eu saia do armário. Meus olhos se apertaram atrás dos meus óculos.

Oh meu Deus.

Meu estômago caiu enquanto meu olhar ia em direção as paredes. Nenhum quadrado da tinta estava exposta. Tinham fotos penduradas em todos os lugares, algumas com fita outras com taxas.

Eu não poderia estar vendo direito.

Fotos de mulheres que eu nunca tinha visto antes estavam nas paredes –saindo de comércios, do lado de fora de casas, e outras coisas do dia a dia, mas algumas – oh meu Deus – eram closes de pulsos e tornozelos amarrados, mas isso...

Meu olhar foi para a parede esquerda até a parte de trás. Eu me virei, colocando minha mão sobre minha boca.

Haviam fotos minhas.

Fotos minhas dentro do meu apartamento – eu dormindo no sofá e na minha cama. Haviam fotos minhas andando pelo meu quarto, usando nada além de uma toalha e, então, fotos onde eu estava usando nada. Fotos minhas pelada, e todos os ângulos conhecidos pelo homem. Haviam tantas dela e, em algumas, eu não estava sozinha.

Haviam fotos de Reece e eu.

Aconchegados juntos no sofá. Ele sentado na minha cama e eu na sua frente, de pé. Fotos nossas nos beijando. E fotos... fotos da gente fazendo amor.

Fui atingida forte pelo horror enquanto encarava aquelas fotos. Eu não conseguia respirar. No fundo da minha mente eu sabia que precisava sair dali. Eu

precisava ligar para a polícia, mas quando eu deu um passo foi como eu estivesse andando em areia movediça.

As taboas de madeira do chão rangeram, o som ecoando pelo cômodo como

trovão.

veias. Pequenos cabeços se atiçaram por todo meu corpo. Gelo percorrendo minhas

“Eu realmente desejava que você não tivesse visto isso.”

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