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Capítulo Vinte e Um
No caminho de volta para meu apartamento, eu estava em um estado de total descrença. Nós tínhamos estado lá apenas umas horas atrás. Como alguém poderia invadir logo no começo da noite? Bem, não demorava muito para fazer isso, mas ainda assim. Eu só não conseguia acreditar nisso, especialmente depois do que tinha acabado de acontecer.
Meu pai e meu irmão seguiam a gente e quando chegamos, havia uma viatura da polícia na porta dos apartamentos vitorianos. Assim como um Mustang familiar –vermelho cereja.
“Roxy!” Reece gritou enquanto reduzia para estacionar.
Mas eu já tinha aberto a porta da caminhonete e saído dela, seu palavrão assombrando meus passos enquanto eu entrava no jardim dos apartamentos. Eu vi Kip de relance, parado na varanda, junto com a noiva de James, mas eu estava focada em uma pessoa.
Henry Williams estava de pé, nos degraus, falando com um policial. Ele se virou enquanto eu me aproximada, seus olhos arregalando. “Roxy...” “Foi você! Não foi? Você esteve no meu apartamento enquanto eu dormia e você voltou agora e o invadiu?” Minhas mãos estavam fechadas em punhos. De repente tudo fazia muito mais sentido para mim. O que estava acontecendo não tinha nada a ver com as outras meninas. Nada estranho começou a acontecer até que Henry saiu da cadeira. “Como você estava entrando no meu apartamento?” Ele balançou sua cabeça enquanto se afastava, olhando entre o policial e eu. “Eu juro. Eu não tive nada a ver com isso. Eu não arrombei seu apartamento. Eu nem mesmo seu o que você...” “Você é um bastardo doente!” Eu gritei. “O que tem errado com você Por
que...”
“Whoa.” Um braço estava em volta da minha cintura e a próxima coisa que soube, eu estava olhando para rua enquanto meu pai e meu irmão passavam por nós.
Reece falou na minha orelha. “Você precisa se acalmar, Roxy. Nós não sabemos se ele...”
“Quem mais seria?” Eu gritei, querendo atingir ele com meu cotovelo de novo. Eu não poderia lidar com Reece defendendo ele. Para mim, isso era tão obvio. Eu me virei para que estivesse encarando Henry de novo. “Por que mais você estaria aqui?”
“Eu vim falar com você, mas quando bati na sua porta, ela abriu e eu vi o interior do apartamento. Eu liguei para polícia.” “Oh, isso não é verdade,” eu retruquei.
“Roxy,” Reece alertou gentilmente.
“Ele que nos chamou,” o policial confirmou. “E ele alega que não entrou. Nós falamos com o senhor que está na varanda. Ele não ouviu nada suspeito, mas ele tinha saído por algumas horas.” Foi ai que percebi que meu pai e meu irmão tinham entrado no meu apartamento e estavam voltando. Meu pai veio para o degraus, suas bochechas vermelhas de raiva. “Eu não quero ela vendo isso.” Agora, claro que eu tinha de ver. “Me deixe ir.” Quando Reece não soltou, eu senti como se estivesse a segundos da minha cabeça girar do melhor estilo O Exorcista. “Me solte, Reece. Sério.” “Me escute, querida. Deixe que Reece e eu cuidamos disso,” Meu pai argumentou com suas mãos em seu quadril. “Gordon vai te levar de volta para nossa casa ou a do Reece, mas eu realmente não quero que você veja lá dentro. Não agora.”
“O que eu quero é ser colocada no chão e ver o que aconteceu dentro do meu apartamento,” eu disse, mal me controlando. “Eu não tenho mais quinze anos. Eu sou uma maldita adulta. Sério.” Meu pai olhou para longe, passando seus dedos pelo seu cabelo. Então ele se virou para meu irmão, que parecia tão furioso como eu estava me sentindo e disse algo com a voz baixa demais para que eu pudesse ouvir.
“Você não vai bater em ninguém, vai?” Reece perguntou. “Se eu te soltar?” Henry olhou para o chão enquanto eu bufava. “Só se você não me soltar.” “Se comporte,” ele pediu antes de começar a soltar.
Eu me soltei, dando a volta no meu pai e desviando da mão do meu irmão enquanto eu subia os degraus.
“Você pode querer esperar,” Kip sugeriu de onde ele estava na frente da porta dos Silver’s. Ele andou na minha direção, mas parou quando Reece subiu correndo os degraus.
Eu entrei no meu apartamento e parei bruscamente. Meus olhos deveriam estar brincando comigo. Não tinha como esse ser meu apartamento. Não tinha como ele estar cheio de policiais tirando fotos e procurando por digitais.
A TV havia sido derrubada no chão, a tela rachada em pedaços grandes. A mesinha de centro e a de canto, ambas pintadas por mim, pareciam que tinham sofrido a raiva do Hulk, recebendo tantas pancadas até que suas pernas se quebrassem. Tanto o sofá quanto a poltrona estavam virados ao contrário. De onde eu estava, eu podia ver que as coisas da cozinha estavam inteiras, mas também haviam recebido pancadas.
Meu coração palpitava enquanto raiva me percorria. Com minhas mãos fechadas, eu fui para o corredor. O quarto estava uma bagunça. O edredom e o lençol jogados e empilhados no chão. Todas meus vidros de perfume e cremes estavam quebrados.
Me virando, eu quase esbarrei em Reece. Ele tentou me alcançar, mas eu desviei dele e fui para meu estúdio.
Meu coração quebrou.
“Oh meu Deus,” eu sussurrei, pressionando a palma da minha mão contra meu peito enquanto encarava o quarto.
Graças a Deus Reece tinha pegado meu cavalete e moldura mais cedo, junto com minhas tintas, porque todo o resto que havia no quarto estava totalmente destruído. Todas as outras pinturas que eu tinha feito, mesmo aquelas de Reece que
eu tinha escondido no armário, estavam rasgadas em pedaços irreconhecíveis. Era como se raiva tivesse explodido no quarto.
Eu tremi. “Minha... todas minhas coisas.” “Me desculpe.” Reece apareceu atrás de mim, colocando um braço sobre meu peito e me puxando contra sua frente. Seu outro braço veio, me segurando contra ele. “Eu queria que houvesse algo que eu pudesse falar para fazer isso melhor para você.” Parte de mim queria se soltar e sair chutando as coisas. “Eu não entendo.” Seu abraço apertou por um momento, ele apenas me segurou e isso... isso me ajudou mais do que achei que poderia, mas eu pensei sobre quem estava esperando do lado de fora. “Tem de ser culpa de Henry.” Raiva voltou, afastando o horror e a dormência de ver minhas coisas destruídas. Eu me virei em seus braços, encontrando seu olhar. “Tem de ser ele. Quem mais?” Ele umedeceu seu lábio inferior. “Roxy...” “Você vai mesmo defender ele? De verdade? Quero dizer, nada disso aconteceu até que ele convenientemente apareceu. Então ele está aqui, inocentemente batendo na minha porta até descobrir que ela estava aberta? Quero dizer, vamos lá.” Reece abaixou seus braços. “Eu realmente não acho que seja ele.” Balançando minha cabeça, eu dei um passo para o lado. “É obvio!” “Por que ele iria invadir seu apartamento e logo depois chamar a polícia?” ele argumentou com uma voz estável e paciente.
“Por que ele é um sociopata?” Ele inclinou sua cabeça para o lado. “Babe, o cara fez umas péssimas decisões quando era adolescente e ele pagou por elas – ele ainda está pagando por elas – e eu não gosto dele aparecendo aqui sem avisar, mas isso não faz dele um sociopata.” Minha boca caiu aberta. “Você está mesmo defendendo ele?”
“Não. Ele é um imbecil. Só não é um sociopata.” Descrença me invadiu.
“Ele não está defendendo o que ele fez há seis anos, querida.” Meu pai apareceu na porta. “Ele apenas está apontando que não faz sentido Henry ter feito isso e, então, ter chamado a polícia.” Eu joguei minhas mãos para cima. “E fez sentido quando ele jogou aquela pedra e quase matou Charlie?” “Babe, isso não tem nada a ver com Charlie.” Eu estava prestes a cuspir fogo. “Como você sabe? Talvez ele...” “Eu falei com ele,” Reece continuou, efetivamente conseguindo me calar ao fazer isso. Eu o encarei. “Eu tive longas conversas com ele.” “O que?” eu sussurrei.
Reece olhou para meu pai e, então, seu olhar terminou em mim. Ele se aproximou. Ele era corajoso porque eu tinha certeza que minha expressão dizia que eu iria machucá-lo. “Depois da primeira vez que ele tentou te contatar, eu falei com ele para ter certeza que ele não iria te causar problemas.” “Bom rapaz.” Meu pai deu um tapinha em seu ombro e eu atirei um olhar a ele. De verdade? “O que?” ele respondeu. “Reece estava cuidando de você.” Eu cruzei meus braços.
“Dizendo isso, eu não estou esquecendo o que ele fez com Charlie. Henry não esqueceu disso também. Esse cara está carregando muita culpa,” Reece disse e o tom de sua voz era de quem tinha muita experiência com isso. “E ele não está procurando por perdão. Ele está tentando acertar tudo. São duas coisas diferentes, babe, e invadir seu apartamento, brincar com você assim, não é seu propósito.” Por um longo momento eu não tinha ideia de como responder. Presa entre fúria e o choque, eu não sabia como lidar com o sentimento de ter sido traída que me percorria. Tudo de uma vez, eu estava apenas... de saco cheio de tudo. Exausta até os ossos, meus ombros abaixaram.
Eu me virei, olhando o estrago. “Eu preciso limpar isso.” Um momento se passou e Reece tocou meu ombro. “Nós vamos falar sobre isso depois.” “Que seja,” eu murmurei, me afastando e pegando um pedaço de uma tela. Segurando ela perto, eu inalei, instavelmente. O azul era da mesma cor dos olhos de Reece, e eu podia diferenciar as linhas pretas que irradiavam das pupilas. Eu não sabia o que pensar quando notei que alguém tinha descoberto meu estoque estranho de pinturas de Reece.
Apesar de tudo, o que fosse que eu estivesse sentindo se comparava com o quão violador e assustador era saber que alguém tinha estado aqui de novo e tinha feito isso – feito ato tão violento e fora de controle.
Nós limpamos o máximo que pudemos, e amanhã eu teria de ligar para a companhia de seguro. Por sorte, eu tinha seguro de inquilino, então isso cobriria o que foi danificado e o que seria trocado.
Muitas das pinturas e das coisas de segunda mão não seriam, apesar de tudo, e eu sabia que poderia ter sido pior. Nada tinha sido roubado e no fim, meu apartamento estava apenas uma bagunça.
Thomas ofereceu voltar amanhã aqui comigo para terminar, algo que Reece anunciou – ele não pediu – que iria vir também. Eu não protestei porque a última coisa que queria era ficar sozinha.
Henry já tinha ido embora quando eu pisei do lado de fora de novo e foi uma boa coisa. Enquanto eu me acalmava e conseguia ver um pouco da lógica de Reece, eu ainda estava irritada pelo fato dele ter tido coragem de vir até minha casa e não estava totalmente convencida que não tinha sido culpa de Henry. Para mim, fazia mais sentido do que qualquer cara aleatório me perseguindo.
Estava tarde quando voltamos para o apartamento de Reece, e eu tinha ficado brincando com a ideia de ficar na casa dos meus mais, mas se fosse ser honesta comigo mesma – qual seria a diversão disso? – eu queria ficar com Reece.
“Quer algo para beber?” Reece perguntou, colocando as chaves no balcão da cozinha. Elas tintilaram como campainhas de vento caindo no chão.
“Claro.” “Chá? Refrigerante? Cerveja?” “Cerveja. Eu poderia aproveitar uma cerveja.” Um lado de seus lábios se curvou para cima enquanto ele pegava suas Corona 54da geladeira e as abria, antes de me entregar uma. “Desculpa, sem limão.” “Obrigada. Eu realmente não gosto de limão nas minhas bebidas de qualquer modo.” Tomando um gole, eu me virei. Mesmo que fosse quase meia noite, eu não estava pronta para dormir. Exalando alto, eu andei até a sacada. “Se importa?” Ele levantou sua sobrancelha. “Babe, se sinta em casa.” “Eu sempre achei isso uma coisa estranha de se dizer. Por que você gostaria que as pessoas fizessem da sua casa a casa delas?” eu puxei a cortina e destranquei a porta. “Se as pessoas fizessem isso, elas estariam correndo pelo lugar sem roupa.” “Se for você, eu não iria me importar.” Ele sorriu sobre o gargalo da garrafa. “Na verdade, eu iria preferir.” “Pervertido,” eu murmurei e sai para o ar gelado da noite.
Sentando em uma cadeira, eu puxei minhas pernas para cima. Uns minutos se passaram antes de Reece se juntar a mim. Ele estava descalço enquanto colocava suas pernas sobre a grade. Eu não sei porque, mas eu achei a combinação do jeans com seus pés descalços sexy.
Também havia a chance de estar achando muitas coisas sexys.
Nós sentamos em silêncio por alguns momentos e eu estava presa na similaridade entre o que estava acontecendo e o que meus pais faziam quase todas as noites quando eles achavam que seus filhos estavam na cama.
54 Marca de cerveja
Eles escapavam para a parte de fora para beber uma cerveja e passar algum tempo junto.
Eu olhei para minha garrafa e brinquei com seu rótulo. Meu coração acelerou um pouco porque isso – isso parecia tão real e isso... wow, isso me assustava.
Precisando me distrair, eu perguntei. “Você realmente acha que Henry não teve nada a ver com o que aconteceu?” “Yeah, eu acho.” Ugh.
“Eu sei que você não gosta do fato deu ter falado com ele. Eu era como se estivéssemos bebendo. Eu queria me certificar que você estava segura,” ele explicou. “E como eu disse, querer acertar as coisas não exclui o que ele fez, mas sentir remorso pelas suas ações melhor do quer não ter nada?” Eu franzi o cenho enquanto pensava sobre isso. “Yeah, acho que sim.” “Acha que sim?” “Quero dizer, como você pode saber realmente que uma pessoa sente remorso? Ou culpa? Ou se isso não é apenas porque foram pegas?” “Você sabe, eu vi muita coisa ruim quando eu estava no deserto,” Reece disse, me impressionando com o comentário repentino. “Eu vi o que acontece quando alguém é atingindo por um IED55 . Eu vi corpos de caras que eu considerava amigos atingidos por balas, alguns perderam braços ou pernas – suas vidas. Eu vi pessoas que, quando estava tudo feito, não tinham muito que devolver para suas famílias. Você meio que se acostuma a isso – a raiva cada vez que um grupo perde alguém. Não torna isso mais fácil, mas você está no meio da guerra. Eu acho que isso ajuda a amenizar a merda que está acontecendo, o que você tem que fazer para ter certeza que todos sobrevivam.” Ele pausou, tomando um longo gole. “Quando eu sai da academia e comecei a trabalhar aqui, eu pensei que poderia fazer o mesmo. Internalizar toda a merda, as batidas de trânsito e de casas, todas no mesmo lugar, toda sexta, os acidentes de
55 Improvised Explosive Device – Artefato Explosivo Improvisado
carro, as overdoses sem sentido, violência idiota em cima de idiotice. Guardar essas merdas onde isso pertencia. Eu estava fazendo isso. Então eu pensei que ter de atirar em alguém não seria diferente de como foi estar na guerra ou apenas estar fazendo meu trabalho. Eu estava errado.” Eu abaixei a garrafa para meu colo, chocada e quieta. Ele estava falando sobre o tiroteio. Reece nunca falava sobre o tiroteio. Eu não ousei respirar alto demais por medo dele parar.
“Foi uma chamada normal. Uma briga do lado de fora do Spades Bar and Grill. Eu cheguei lá na mesma hora que o outro policial. A briga era no estacionamento, e nos levou um tempo para conseguir passar pela multidão.” Ele balançou sua cabeça devagar. “A criança – seu nome era Drew Walker. Apenas dezoito anos. Ele estava batendo muito em outro cara mais velho. Você sabe, ele tinha um maxilar quebrado, nariz estilhaçado e um olho roxo. Crânio rachado. Foi isso o que a criança fez com ele.” Reece afastou sua garrafa de si, olhando para o rotulo, concentrado. “Ele estava sobre efeito de meth56 e mais algum tipo de droga. Nós gritamos para ele parar e quando ele parou... cara, ele estava coberto de sangue. Como alguém que acabou de sair de um filme de terror. O menino tinha uma arma. Ele estava com a arma o tempo todo. Era com isso que ele estava batendo no cara. Não com seus punhos. Com o cabo da Glock57.” “Oh meu Deus,” eu sussurrei. Recapitulando os detalhes que a impressa reportou sobre o tiroteio, essa parte ou foi desprezada ou omitida.
Eu abri minha boca, mas eu não tinha o que dizer.
“Eu tive que ficar cara a cara com a mãe do garoto. Ela me bateu. Não uma vez.” Ele riu, mas não havia humor. “Duas. Ela apenas não entendia. Ele quase matou o cara em que estava batendo e ele estava sobre efeito de uma combinação louca de drogas. Eu não a culpo, apesar de tudo, por me odiar. E ela ainda odeia. Ele era seu filho. Eu entendo isso, mas cara, não era como estar no exterior. Você não vê os familiares lá. Você não está encarando ele nos olhos.”
56 Metanfetamina 57 Modelo de arma
Meu peito doía por ele – doía por toda essa situação. Eu entendi os ‘e se’ que envolviam o acidente. E se o menino não estivesse drogado? E se ele não tivesse entrado na briga? E se fosse a bala de outro policial? Eu tinha me feito essas mesmas perguntas milhões de vezes. E se eu não tivesse arrastado Charlie para o jogo de futebol para que eu pudesse ver Reece? E se nós tivéssemos decidido ficar durante o jogo todo? E se eu simplesmente tivesse continuado em vez que discutir com Henry?
“Houve muita raiva.” Ele olhou para mim e suspirou. “Muita. Como, porque fui eu que atendi o chamado? Por que foi minha bala? Eu tinha feito à decisão certa? Não tinha nada diferente que pudesse ser feito?” “Você fez o que deveria,” eu disse a ele, acreditando em cada palavra.
Um pequeno sorriso apareceu. “Sempre que tem um policial envolvido em um tiroteio, sempre tem uma investigação. Eu fui liberado pelo que fiz, mas isso não o torna mais fácil, saber que você tomou a vida de um garoto que nem era velho o suficiente para comprar essa cerveja que estou bebendo.” Ele levantou a garrafa e disse. “Porque fazer a coisa certa nem sempre é... bem, a coisa mais fácil de se conviver. Viver com esse tipo de raiva e culpa é uma combinação amarga.” Cara, e eu não sabia disso. Eu tomei um gole da minha cerveja. Eu sabia que havia pouco que eu pudesse falar que fosse fazer uma grande diferença, mas eu disse o que achava ser verdade. “Você não é uma má pessoa, Reece. O que você teve de fazer foi difícil e ele era uma criança, mas...” “Mas isso acontece, babe. Foi algo que eu tive de lidar – ainda estou lidando, então eu sei quando vejo isso.” Eu fiquei tensa.
“Eu vi quando falei com Henry. E eu vejo em você, mas Roxy, você não tem domínio sobre isso. Você entende?” Eu concordei principalmente porque era difícil de explicar porque eu sentia tanta culpa sobre Charlie. “Estou feliz que você falou comigo sobre o que aconteceu,” eu disse depois de uns momentos. “Eu sei que não é algo fácil de se dizer.”
“Não é. Então você sabe que essa porta tem dois sentidos, certo?”
“Eu sei que tem coisas sobre você que não são fáceis de se falar, mas você precisa tentar e, quando você quiser, eu vou estar aqui.” Ele tirou seus pés da grade e levantou. “Quer outra cerveja?” Piscando, eu olhei para a minha que estava quase vazia. “Claro.” Enquanto ele se movia para voltar para dentro, ele parou ao meu lado e colocou seus dedos sobre meu queixo. Inclinando minha cabeça para trás, ele se abaixou e me beijou como se tivesse todo o tempo do mundo. Devagar, no começo, apenas sua boca acariciando a minha e, então, profundamente, partindo meus lábios com sua língua. Não era apenas um beijo. Não quando sua língua dançava sobre a minha ou como ele me provava. Reece transformou o beijo em uma forma de arte e, se eu tivesse que atrelar uma cor a isso, para representar em uma tela, seriam vários tons de vermelho e roxo.
Eu ainda estava embasbacada pelo beijo de Reece quando ele voltou com outra cerveja. Nós terminamos conversando até altas horas da manhã, às vezes sobre coisas sem importância, e depois da terceira cerveja, a conversa ficou mais séria. Eu posso ter admitido em ter trancado meu irmão mais novo em um baú uma vez. Então admiti que odiava as aulas de design da faculdade. “Os caras são um pé no saco.” Eu disse a ele. “Como se você precisasse de um pênis para saber programar ou trabalhar com design quando, na verdade, qualquer pessoa com treze anos e um computador pode fazer um website decente.” Reece franziu o cenho para mim. “Então por que você faz? Essa é uma pergunta séria.” Eu dei de ombros. “Eu preciso de um diploma.” “Você deveria fazer o que quiser.” “É o que eu quero.” Ele bufou. “Que seja.” Eu mostrei a língua e ele riu, o que me fez sorrir porque eu realmente gostava do som da sua risada. Enquanto eu o observava terminar sua cerveja, eu pensei sobre o que ele havia compartilhado comigo essa noite. Fez sentido porque ele foi capaz
de encarar Henry tão objetivamente. Não significava que eu concordava, mas eu entendia da onde isso veio.
“Como você finalmente superou a raiva, Reece?” eu perguntei.
Ele levantou um ombro. “Você realmente supera isso? Completamente? A raiva e a culpa? Nah, eu acho que isso é um corte profundo demais que deixa uma cicatriz que realmente não cura. Você só aprende a lidar antes de chegar ao fundo do poço.” “E você... você já chegou no fundo do poço?” Um bom momento se passou antes que eu percebesse que ele não iria responder a pergunta. Talvez ele não soubesse a resposta. Reece olhou para longe, seu maxilar tensionado enquanto ele encarava as arvores, olhando para o nada. Silêncio desceu sobre nós e eu sabia lá no fundo que havia algo que ele não estava falando. Algo que ele não queria que eu soubesse.