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Capítulo Vinte e Cinco

Terror me invadiu ao som da sua voz, o choque de perceber que eu não estava sozinha me deixando um pouco tonta nesse momento. As fotos na parede ficaram borradas enquanto me virava.

Ele estava na porta do quarto, seu cabelo loiro bagunçado, como se ele tivesse passado sua mão nele várias vezes. Aqueles olhos escuros afiados pareciam não perder nada, seus braços pendendo na lateral, mas suas mãos abriam e fechavam, tentando segurar o ar de novo e de novo.

Kip. Era Kip.

Era ele que estava invadindo minha casa e, obviamente, tinha ido além disso. As fotos das outras mulheres...

Kip inclinou sua cabeça para o lado como se ele pudesse ouvir o que estava pensando. “Você não deveria ter visto isso. Você não iria entender.” Medo tinha subido pela minha garganta e minha voz rachou. “O que tem para entender?” Ele levantou um ombro enquanto olhava para o armário. “Provavelmente deveria ter me certificado que você não conseguiria encontrar o caminho aqui para cima, mas eu honestamente não achei que você iria achar.” Ele deu um passo para frente e para o lado, se colocando entre a porta e o armário. Meus músculos estavam travados. “Quero dizer, você não descobriu nesse tempo todo. Imaginei que não era inteligente o suficiente.” Qualquer outro dia eu me sentiria insultada por não ser ‘inteligente suficiente’, porém hoje eu honestamente não me importava com o que ele achava do meu nível intelectual. Eu tinha de sair dali. Meu olhar foi para a porta. Eu já estive no apartamento de James e Mirian antes, então eu sabia o layout era como o deles, sabia que esse quarto dava num corredor que ia direto para a porta.

“Eu sei no que está pensando,” ele disse gentilmente.

Eu olhei para ele. “Que você é esquisito?”

Seus olhos se estreitaram. “E você é uma puta.” Ele cuspiu as palavras. Indo para trás, eu o encarei enquanto um músculo pulsava em seu maxilar. “Você é como o resto delas – assim como Shelly.” “Shelly?” eu sussurrei.

“Quando se tratava dela, eu fui deixado na friendzone63 por anos, mas eu a amava. Eu amava ela, Roxy.” Seus olhos escuros brilharam. “Mas ela abria suas pernas para qualquer cara que encontrasse. Eu não era suficiente para ela, eu acho.” Ele soltou uma risada curta e seca. “Bem, eu mostrei a ela quão bom eu era.” Quando eu entendi quem Shelly era – a menina que sumiu no começo do verão – meu joelhos ficaram fracos. Eu duvidava que mostrar a ela o quão bom ele era tinha qualquer coisa a ver com algo que eu queria fazer parte.

Eu pensei sobre as outras mulheres – aquelas nas fotos nas paredes. “Você... você as machucou por causa de Shelly?” Seus lábios se curvaram em um sorriso gozador. “Eu não acho que as machuquei.” Esse cara era insano, totalmente e completamente insano. Eu abri minha boca, mas ouvi o que parecia ser uma saída. O toque distante do meu celular. Eu tinha deixado ele no meu armário. Eu não tinha ideia de quem poderia estar ligando, mas eu rezava que fosse Reece porque eu tinha de pensar que ele iria querer saber como eu estava e se eu não atendesse. Ele sabia a senha do sistema de segurança e tinha uma chave.

Kip não reconheceu o toque do meu celular. Ele estava me estudando como se eu fosse um inseto em um microscópio. “Eu te mandei flores.” Eu pisquei. “O que?” “Eu te mandei flores,” ele repetiu, dando outro passo comedido para frente. “Eu as mandei depois que ouvi você falando com sua mãe,” ele continuou, mandando um raio de repulsa por mim. “Eu te disse que as coisas ficariam melhores.”

63 Termo que indica que mesmo que seu amigo saiba que você é apaixonado por ele, ele ainda te considera somente um amigo.

O cara tinha sérios problemas.

“Você nunca as trouxe para casa. Isso me deixou chateado.” Ele deu de ombro de novo e levantou o braço, passando seus dedos por uma foto. “Eu queria que você soubesse que eu estava aqui com você.” Um sorriso real apareceu e isso conseguiu ser mais assustador que todo o resto. “Eu amei você ter pensado que seu apartamento estava mal assombrado. Fofo.” Aqueles olhos escuros terminaram em mim. Eles não tinham fim, totalmente assustadores. Eu ouvi o celular tocando de novo no andar de baixo, meu coração palpitando em meu peito enquanto ele abaixava seu braço. Sua mão abria e fechava. “Eu nunca tive chance de fazer isso com o resto delas. Apenas com Shelly. Eu sabia onde ela mantinha sua chave reserva.” Meus braços estavam tremendo tanto que eu envolvi minha cintura com eles enquanto dava um passo para o lado, ficando mais perto da porta. Eu tinha que manter ele falando. Isso eu sabia.

“Você realmente me irritou quando você o trouxe para casa,” ele disse. “Eu pensei que você fosse diferente. Que você era diferente das outras – artística, engraçada.” “Você bagunçou meu apartamento.” “Claro que fiz. Como eu iria te trazer de volta aqui?” Ele inclinou sua cabeça de novo. “As vezes eu ia te ver no Mona’s. Eu estava lá e você nem sabia. Eu coloquei meus olhos em você e você nem sabia.” Meu estômago estava embrulhado com repulsa e horror. Eu nem conseguia acreditar nisso, não conseguia me permitir realmente pensar sobre isso.

“O que... o que você vai fazer?” “Essa é uma pergunta tão repetitiva,” ele respondeu, o sorriso saindo de seu rosto. “Eu não sei o que vou fazer. Eu não planejei isso. Você não deveria ter vindo aqui. Eu deveria ter ido até você, quando a hora chegasse.” Quando a hora chegasse? Por Deus, eu estava encarando o rosto de alguém realmente desequilibrado. Eu ouvi meu celular tocar de novo e, dessa vez, Kip estreitou seus olhos. Suas mãos se fecharam mais uma vez e eu entrei em ação,

minha sandália deslizando no chão de madeira enquanto eu corri para a porta. Meu estômago estava na minha garganta e tudo que eu me permiti pensar era sobre chegar até a porta – consegui sair.

Eu não fui muito longe.

Pega por trás, eu fui direto pro chão, meus óculos voando, meus joelhos esmagados contra o chão e minhas mãos esparramadas contra as taboas. Estava doendo, mas eu não podia ceder. Eu me movi e me contorci, tentando soltar os braços que estavam cravados na minha cintura.

Kip gemeu enquanto me virava de costas e eu me contorci. Suas bochechas ficaram coradas enquanto ele se movia, colocando seu joelho em meu estômago com força suficiente para esvaziar meus pulmões. Dessa vez ele não foi rápido suficiente. Meu punho aceitou seu maxilar e eu bati nele como meus irmãos haviam me ensinado. Duro e rápido. Dor emanou das minhas juntas, mas eu atirei de novo, gritando tão alto quanto podia.

“Grite o quanto quiser, Roxy.” Ele pegou minha mão e a trouxe para baixo, pregando ela no chão com força. “James e sua menina não estão em casa e você sabe que os Silver não ouvem merda nenhuma.” Isso não me parou de gritar.

Ele me levantou por um braço e me jogou para baixo. Minha cabeça bateu no chão e, por um segundo, flashes brilhantes apareceram no fundo dos meus olhos, embaçando minha visão. Eu estava chocada enquanto a dor passava pela lateral da minha cabeça, pelo meu pescoço.

Medo cresceu dentro de mim, traiçoeiro como fumaça, assim como a raiva, que era muito mais forte. Isso não iria acontecer. Não depois de tudo. Eu não era estúpida. As outras mulheres não tinham conseguido identificar ele e Shelly – aquela pobre menina não parecia como alguém que ainda andava pela Terra. Eu sabia que as chances deu escapar disso eram mínimas. Eu não iria ser arruinada assim. Não tinha como.

Eu iria lutar.

Revirando meu quadril, eu continuei atingindo ele na lateral. Uma vez que seu peso saiu do meu estômago, eu não hesitei. Eu fiquei de joelhos, criando espaço entre nós. “Socorro!” eu gritei até que minha garganta doesse. “Socorro!” Kip pegou meu tornozelo, puxando tão forte que eu gemi quando uma dor aguda subiu pela minha perna. Eu não parei. Apoiada em minhas mãos e nos meus joelhos, eu engatinhei pelo chão, em direção à porta do banheiro.

“Eu não sei onde você acha que está indo,” Ele grunhiu enquanto pegava minha perna esquerda e a puxava.

Eu cai, meu queixo batendo no chão. As paredes giraram enquanto ele me virava de costas de novo. Dessa vez, seu corpo estava em cima do meu e o peso, forte e possessivo – assustador e repulsivo – me deixou louca. Eu arranhei seu rosto, gritando quando minhas unhas se enterraram em sua bochecha. Linhas rosas apareceram, rapidamente sendo preenchidas por sangue enquanto eu arrastava minha mão para baixo.

Ele jogou sua cabeça para trás, uivando enquanto levantava seu braço. Eu nem vi seu punho chegando. Dor explodiu em minha bochecha e em meu olho. Uma sensação afiada me fez perder a respiração enquanto ela se espalhava pela minha boca. Eu senti o gosto de algo metálico. Tonta, me levou um segundo antes de perceber que ele tinha me batido duas vezes. Duas. Um homem nunca tinha me batido durante toda a minha vida. Sem contar meus irmãos que, quando éramos mais novos, costumávamos brincar de bater um no outro.

Eu abri meus olhos – ou, olho. Meu esquerdo parecia não querer funcionar direito. Eu o vi levantar seu punho novamente e, enquanto meu coração caia, eu trouxe minha perna para cima o mais forte que consegui. Ele antecipou o movimento, se movendo para que meu joelho só atingisse o interior de sua coxa.

Xingando baixo, ele passou sua mão em volta da minha garganta e apertou –apertou tanto que eu não percebi que havia respirado pela última vez até que fosse tarde demais. “Para uma coisa pequena você, com certeza é um inferno...” “Roxy!” Esperança me encheu de vida ao som da voz de Reece vinda do meu apartamento. Ele estava aqui – oh meu Deus, ele estava aqui. Eu não conseguia

acreditar. Abri minha boca para gritar de volta mas Kip colocou sua mão na minha boca, abafando meu grito. Seu aperto era brutal. Ele se moveu tão rápido, sua outra mão alcançando a parte de trás da sua calça. Ouve um rápido brilho de algo e, então, um metal estava pressionado contra a base da minha garganta.

Ele tinha uma faca.

“Diga mais uma palavra e eu vou te dar um tipo diferente de sorriso,” ele sussurrou. “Você me entendeu?” Meu peito se contraiu enquanto eu olhava em seus olhos frios e profundos. Eu realmente não poderia apenas concordar, mas ele pareceu ver o entendimento no meu rosto. “Levanta,” ele comandou.

Enquanto Kip me punha de pé, eu ouvi Reece no andar debaixo, gritando meu nome de novo. Ele parecia mais perto, como se estivesse próximo ao meu armário. Meu coração palpitava enquanto Kip mantinha sua faca contra minha garganta, me empurrando em direção a porta do quarto. Reece era esperto. Ele iria ver a porta aberta do lado de dentro do armário, a escadaria e ele iria vir me procurar. Kip deve ter percebido isso também.

Kip xingou novamente enquanto ele se virava, me deixando de frente para a porta do armário. Passos pesados soaram pelo apartamento, no mesmo ritmo do meu coração. Nós estávamos quase longe do quarto quando Reece saiu pelo armário, sua arma erguida e apontada direto para onde estávamos.

O tempo pareceu ter congelado.

Terror e esperança me varreram quando meu olhar encontrou rapidamente o de Reece. Pelo menor momento, eu vi o que ele estava sentindo quando ele me viu. Estava escrito naqueles lindos olhos cor do mar. Pânico. Medo. Raiva que eu sabia que poderia ser mortal, que prometia retaliação. Eu não conseguia imaginar no que ele estava pensando quando ele passou pela porta e viu isso. Eu não tinha ideia de como eu comecei meu dia acordando com a resolução e determinação de realmente recomeçar minha vida e, então, Deus, isso estava acontecendo.

Mas eu deveria saber que nada na sua vida poderia ser realmente planejado. Minha vida – nossas vidas – estavam prestes a serem tiradas do trilho novamente.

Kip tirou sua mão da minha boca e passou seu braço em volta da minha cintura enquanto mantinha sua faca contra minha garganta.

Em um segundo, o maxilar de Reece estava cerrado e seus lábios mais finos. Tudo em seu rosto ficou sem emoção.

“Me desculpe,” eu sussurrei, minhas palavras saindo um pouco abafadas.

Os olhos de Reece eram como lascas de diamante azul. “Babe, nada disso é culpa sua.” Eu sabia isso, mas eu não queria que Reece visse nada disso e eu não queria que ele se machucasse. Essas eram as duas últimas coisas que eu queria.

“Você está certo,” Kip retrucou. “Se isso é culpa de alguém, então é sua. Ela estava muito bem antes de você aparecer. Você a transformou em uma puta.” Esse cara era, definitivamente, louco.

“Você realmente está me fazendo querer colocar uma bala entre seus olhos,” Reece respondeu, sua voz com um pingo de raiva controlada.

“E você realmente quer que eu termine isso?” Um musculo pulsou no maxilar de Reece. “Cara, tudo que eu quero é que realmente pense sobre...” “Não chegue mais perto.” Kip empurrou a faca contra minha pele, me fazendo contrair. Um traço fino e úmido desceu pela minha garganta enquanto ele dava um passo para o lado, me trazendo com ele. “Juro por Deus, eu acabo com ela!”

“Eu não vou chegar mais perto.” Reece manteve a arma estável. “Mas eu quero saber o que está pensando. Como você planeja que isso aconteça.” “E isso importa?” Kip deu outro passo e Reece não se moveu em sua direção, mas ele copiou seu movimento até que tínhamos trocado de posição. Nossas costas estavam viradas para o armário agora. “Não tem como sair daqui. Eu não sou idiota. Eu sei o que precisa ser feito.”

Meu pulso acelerou enquanto os dedos de Kip envolviam o cabo da faca. Minha mente divagou para lugares assustadores, um cuja minha garganta terminava dilacerada e Kip conseguia escapar com tudo apenas fazendo uma coisa. Cometendo suicídio, utilizando um oficial da polícia. Kip sabia o que havia feito. Eu duvidava que ele iria simplesmente abaixar sua faca e se render.

Eu vi o olhar de Reece deslizar para a esquerda de nós por apenas uma fração de segundo, mas eu poderia estar imaginando ou vendo coisas, porque minha visão não era das melhores sem meus óculos e com apenas um olho aberto.

“Nós podemos conversar sobre isso,” Reece disse, abaixando sua arma. “Você e eu. Nós podemos conversar. Deixe Roxy ir e vai ser apenas eu e você.” Eu consegui sentir Kip balançando sua cabeça atrás de mim e eu inalei, minha respiração falhada. Qualquer movimento que eu fizesse provavelmente terminaria com a faca cortando minha pele, mas eu não conseguia apenas ficar aqui sentada sem fazer nada. Minha cabeça estava girando. O que eu podia fazer que não seria suicídio?

Se esses seriam meus últimos minutos na terra, eu desejava que eu pudesse apenas beijar ele mais uma vez, sentir suas mãos em mim.

Minha voz estava trêmula quando eu falei. “Reece, eu... eu te amo.” “Babe, você ainda vai me dizer isso muitas vezes, você entendeu?” Reece não olhou para mim, já que ele estava fixado em Kip. “Mas eu e Kip vamos falar sobre isso. Ele vai deixar você ir e nós vamos conversar sobre isso.” “Você acha que eu vou soltar ela? O que tem para ser dito?” Kip respondeu, sua voz rachando. “Isso é...” Ouve um som forte e abafado que disparou em Kip e, depois, em mim. A faca voou, passando sobre minha pele e Kip me soltou. Confusa, eu cambaleei para frente enquanto ele caia no chão atrás de mim.

Um segundo depois, eu estava nos braços de Reece e ele estava dizendo algo para mim, puxando meu cabelo para trás e gentilmente pressionando sua mão contra meu pescoço, mas eu me virei para ver o que tinha acontecido porque eu não ouvi

uma arma sendo disparada. Eu não tinha visto Reece puxando o gatilho. Eu não entendi.

Até que eu vi.

Henry... Henry Williams estava atrás do corpo.

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