13 minute read

Capítulo Nove

Meu coração tinha parado desde o momento que Reece anunciou que iria para casa comigo. Uma energia nervosa percorria meu sistema enquanto eu terminava meu turno com... com Reece sentado no bar.

Bebendo água.

Não levou muito tempo para Jax e Nick perceberem que Reece estava mais esperando do que realmente aproveitando o bar.

“Me sinto como se tivesse perdido algo importante,” Jax comentou enquanto ele olhava na minha direção e de volta para Reece. “Como, realmente perdido algo.” Reece riu. “Você perdeu tudo.” Passando por nós, Nick bufou.

Jax levantou sua sobrancelha enquanto ria. “Bem, já era hora.” Minha boca caiu aberta. Mas que porcaria foi essa?

Reece concordou enquanto pegava seu copo, olhando para mim sobre ele. Havia aquele olhar de novo, brincalhão e infantil. “Palavras mais verdadeiras nunca foram ditas.” Mais uma vez na vida, eu estava totalmente embasbacada, o que parecia funcionar para todos, porque entre atender aos pedidos, Jax e Reece conversavam. Eu fui de cliente em cliente, excitava, nervosa e esperançosa e mais um milhão de coisas.

Ele estava indo para casa comigo.

E eu estava bem com isso.

Eu também estava assustada sobre o que isso significava. Enquanto eu misturava as bebidas como uma bartender ninja, eu tentei me lembrar se tinha depilado minhas pernas naquela manhã. Ou se eu tinha tido tempo de dar uma arrumada em outras áreas. Essas eram minhas maiores preocupações porque deveria

ser por isso que ele estava indo para minha casa, certo? E não para tricotar um cobertor as três da manhã.

Passando um cocktail para uma menina que já tinha visto no bar algumas vezes, eu dei uma espiada em Reece. Sua cabeça estava inclinada e suas mãos estavam em seu celular. Meu coração palpitava tanto que estava ficando difícil de engolir. Eu estava esperançosa para dormir com ele. Quero dizer, eu queria fazer isso antes e isso era o tipo de coisa que as pessoas da nossa idade faziam, e eu tinha seguido em frente da nossa última noite juntos. Só de pensar sobre estar com ele fazia partes do meu corpo se contraírem e minha respiração acelerar. Eu queria Reece desde a primeira vez que eu o vi, quando tinha quinze anos.

Exceto que essa seria minha primeira vez com ele, e seria a segunda vez dele comigo, e havia algo muito errado nisso.

Além do mais, eu iria me satisfazer de dormir com Reece e nada mais? Eu... eu não tinha certeza. E isso era assustador. Não porque ele poderia não querer algo mais, mas porque ele poderia e eu não sabia se conseguia lidar com isso.

Eu me foquei em fazer as bebidas para combater a ansiedade que se formava em minha barriga. Haviam muitas coisas passando na minha cabeça e se eu não esclarecesse isso, seria uma bagunça para arrumar depois.

Quando me aproximei de Reece e Jax novamente, o bendito me parou. “Eu quero que você ouça isso também.” Confusa, eu apoiei meus cotovelos no balcão enquanto eu parava ao lado de Jax. “Okay?” Seus brilhantes olhos azuis focaram em mim. Quando Reece falou, sua voz estava baixa apenas para nós conseguirmos ouvir. “Eu estava contando a Jax sobre a chamada que veio de Huntington Valley. Eu sei que você não assiste aos noticiários, então provavelmente não soube sobre isso.” “Hey, eu assisto aos noticiários,” eu me defendi, mas seu olhar ficou sem emoção, então suspirei. “Okay, eu posso não ouvi-los sempre.” Jax balançou sua cabeça. “Eu não sabia também. Estive ocupado e não prestei atenção as noticias, mas Reece me disse que outra menina foi atacada.”

Eu pressionei minha mão contra meu peito. “Oh, Deus. Ela... ela está bem?” Reece exalou. “Tão bem quanto poderia estar. Ela foi atacada e amarrada. Pelo que ouvi, o mandante ficou por horas antes de simplesmente deixar a vitima. Seu namorado a encontrou e ligou. Ela não conseguiu ver direito o cara, mas eles acham que está conectado com o caso em Prússia.” “Então você não vai pisar fora desse bar sozinha,” Jax começou. “Nem Calla quando ela estiver aqui.” Eu tremi enquanto concordava, Deus, a ideia de ter alguém que pudesse estar ai fora perseguindo meninas era mais que estranha. Era aterrorizante.

“Inferno, eu acho que vou levar Calla para o treinamento de tiro. Conseguir uma licença para ela.” Reece tomou um gole. “Não é uma má ideia.” Seu olhar voltou para mim. “Eu acho que você deveria considerar isso.” “Eu? Com uma arma?” Eu ri do absurdo que isso soava. “Eu terminaria atirando em mim mesma por acidente, ou em algum pobre coitado. Armas e eu não se misturam.” Ele se aproximou, pegando minha mão. Me puxou para frente, para que meu quadril estivesse pressionado contra o balcão. Seus olhos encontraram os meus novamente e eu simplesmente esqueci que Jax estava logo ao meu lado. “Eu quero que você fique segura,” ele disse e seu dedão passou pela parte de dentro da minha mão mandando arrepios para minha barriga. "E eu quero que você, pelo menos, pense na ideia de se proteger. Okay?” Reece me segurou até que eu concordei e fui correndo para o outro lado do bar em um estupor. Um pouco depois da meia note, um cara em seus vinte e poucos se aproximou do bar. Seu sorriso era um pouco grande mais, seu passo um pouco cambaleante, e ele se sentou ao lado de Reece. Imediatamente, eu sabia que esse cara não iria receber outra bebida. Eu não tinha problema em negar isso as pessoas quando precisasse.

“Hey, baby, você é tão... fofa,” o cara disse, piscando vagarosamente enquanto acenava. “Yeah, seus óculos. Quente. Como uma safada...”

Eu levantei uma sobrancelha e esperei.

“Yeah, uma menina safada,” ele terminou com uma risada. “Eu aposto que é, também.” Trabalhando em um bar me fez ouvir várias cantadas ruins, que eu respondia com um educado desinteresse, mas era nojento. Minha boca abriu para entregar um bom discurso quando Reece se virou em sua cadeira e encarou o cara. Sua expressão de policial estava de volta. Apesar disso, o maxilar rígido e seus olhos azuis brilhantes não estavam dirigidos a mim.

“Peça desculpas,” ele demandou.

O cara bêbado cambaleou para esquerda, depois para direita antes de se endireitar. “O que?” “Peça desculpas para ela,” Reece ordenou novamente.

“Você está falando sério?” o cara respondeu, seu rosto confuso.

Reece se afastou um pouco, erguendo suas sobrancelhas. “Eu pareço estar brincando? Você não conhece ela e disse algo assim, seu idiota. Peça desculpa.” Absolutamente chocada, eu observei o cara virar para mim e dizer um “Me desculpe.” “Agora saia daqui,” Reece incluiu.

O cara saiu logo.

Eu me virei para Reece, com os olhos arregalados. “Eu podia lidar com isso.” “Eu sei.” Ele pegou seu copo de água de novo e sorriu para mim, uma expressão de pura inocência. “Mas eu não sou o tipo de cara que fica sentado aqui quando um imbecil está sendo mal educado. E isso foi.” “Totalmente mal educado,” Nick comentou enquanto passava por mim.

“Foi,” eu disse sobre a música alta. Meus olhos encontraram os de Reece. Parte de mim queria dizer a ele que eu não precisava de ajuda, porque eu era uma

mulher, ‘hear me roar33’ e ‘girl power34’, mas ele me defendeu... e isso era importante. Era muito importante quando caras faziam isso com outros que estavam saindo da linha.

“Obrigada” eu disse, sorrindo um pouco.

Ele colocou o copo no balcão e, antes que eu soubesse o que estava fazendo, ele colocou ambas as mãos no balcão e se levantou. Se esticando, bem na frente de todos no bar e na frente de Deus, ele se inclinou e por um segundo eu pensei que ele iria me beijar, me fazendo derreter em uma poça de geleca. Ele estava indo fazer isso. Ansiedade cresceu em mim. Eu estava a segundos de colocar minhas mãos em suas bochechas enquanto seu olhar estava focado em minha boca. Eu estava realmente derretida nessa poça.

Reece não me beijou. Ele inclinou sua cabeça para o lado, no último momento, colocando seus lábios perto da minha orelha. Quando ele falou, ele me mandou um calafrio por toda a minha coluna. “Mais duas horas, babe, e você vai ser minha.”

No caminho para minha casa, Reece tinha mantido a conversa leve e fluindo. Se mantendo no assunto sobre a previsão do tempo para o final de semana funcionou para me acalmar o suficiente para não sair da rua e bater em uma caixa de correio. Reece, ao contrário, estava cem por cento relaxado.

Cada vez que eu espiava ele, ele era a imagem de uma arrogância preguiçosa. Joelhos dobrados e bem afastados, um braço apoiado em sua perna e o outro contra a janela. Seu perfil era aberto, maxilar relaxado e sua cabeça apoiada no banco. Havia um sorriso pequeno, praticamente presunçoso, fixado em seus lábios.

Meu coração estava correndo quando eu estacionei na frente do meu prédio. Enquanto virava a chave, desligando o motor, ele se inclinou, colocando seus dedos

33 Expressão usada para quando alguém se impõe. Pode ser uma referência ao lema dos Lannisters de Game of Thrones. 34 Expressão que simboliza o poder feminino.

sobre os meus. Surpresa, eu olhei para ele, minha respiração presa na minha garganta.

Seus olhos estavam da mesma cor do céu a meia noite, visto do interior escuro do meu carro. “Eu vou te fazer uma pergunta e você vai ser honesta comigo, okay?”

“Okay,” eu sussurrei.

Ele se inclinou, mantendo sua mão na minha. “Se você não está confortável comigo entrando ou ficando, eu posso chamar um táxi. Só me diga quando você quiser que eu vá embora e eu vou.” Sem estar surpresa que ele estava me dando uma rota de fuga no caso que eu amarelasse com isso tudo, eu concordei. “Okay.” O canto de seus lábios levantou ainda mais. “Mas eu tenho a impressão que você vai me pedir para ficar.” Eu me afastei, estreitando meus olhos. “Bastardo arrogante.” “Bastardo confiante, na verdade.” Rindo da minha expressão, ele deslizou sua mão da minha e saiu.

Balançando minha cabeça, eu o segui. Seus longos passos fizeram ele chegar na porta antes de mim, e ele abriu a porta de tela. Sorrindo para ele, eu destranquei a outra. “Tão cavalheiro,” eu disse.

“Depois de você,” ele respondeu.

Eu entrei na casa silenciosa, soltando um pequeno grito quando ele deu um tapinha na minha bunda enquanto passava por mim. Sua risada em resposta mandou uma onda de calafrios pela minha pele.

“Não consegui me segurar,” ele disse enquanto ligava a luz da sala. “Tive que balancear meu lado bom com meu lado ruim.” “Wow.” Eu coloquei minha bolsa na poltrona. “Você mantém uma tabela ou coisa do tipo?” Seu olhar encontrou o meu. “Apenas com você.”

Essas três palavras foram como uma dose de tequila. Elas correram por mim fazendo minha cabeça flutuar até o gesso decorativo perto do teto. Eu umedeci meus lábios, totalmente deliciada quando seu olhar foi para minha boca. “Você está flertando comigo, Policial Anders?” O sorriso de Reece aumento enquanto inclinava sua cabeça para o lado. “O que você acha?” “Eu acho que você está.” Eu me movi para longe do abajur, indo em direção a cozinha. Graças, a lava louça não estava possuída ou coisa do tipo. “Você quer beber algo?” “Tem chá?” Eu sorri. “Tenho.” Ele me seguiu para a cozinha, se apoiando contra o balcão enquanto eu pegava um copo. Enquanto espiava pela janela da cozinha, eu tive um momento de pânico. Será que a cozinha estava bagunçada e suja? Depois de uma pequena olhada para os balcões, eu só vi um pouco de migalha de torrada e meus pinceis que estavam secando em uma folha de papel toalha – graças a Deus. Normalmente teriam alguns pratos e copos e, talvez, uma tigela com sobra de cereal.

“Aqui está.” Eu ofereci a ele um copo de chá.

“Obrigado.” Seus dedos passaram sobre os meus enquanto ele pegava o copo e fiquei surpresa por ter ficado com pouco envergonhada com isso. “Se importa se eu usar o banheiro?” Eu estava encarando a grossa tira dos seus chinelos. “Fique a vontade.” Eu dei um passo para trás, olhando para cima enquanto pegava o copo de chá e pressionava contra meu peito. Eu inalei profundamente quando meus olhos encontraram os seus. Ele tinha um olhar – quente e faminto – que dizia que ele queria pegar essas três palavras que eu disse e usá-las de um jeito bem diferente.

Naquele momento, eu meio que queria bater em mim mesma. Eu já tinha visto aquele olhar antes, muitas vezes nos últimos onze meses, sempre que ele estava no bar. Nós tínhamos presumido muita coisa sobre a noite que compartilhamos, mas

eu me senti uma idiota muito maior enquanto estava na sua frente. Não tinha como se enganar pelo jeito que ele olhava para mim.

“Eu vou... eu vou me trocar rapidinho.” Eu disse, passando por ele. “Você sabe onde o banheiro é.” Ele disse algo mas haviam coisas demais passando na minha cabeça que eu não prestei atenção. Eu deixei meu chá no fim da mesa que tinha pintado de azul marinho no último outono e corri para meu quarto, parando apenas para ter certeza que a porta do estúdio estava trancada. Mesmo que os retratos que eu tinha feito de Reece não estivessem pendurados ali, eu não queria ele espiando pelo quarto porque eles não seriam difíceis de encontrar.

Fechando a porta silenciosamente atrás de mim, eu me virei e encarei a cama queen size que eu tinha economizado e finalmente comprado a uns dois anos atrás. Agora, eu precisaria economizar para pagar pelo para brisas de Henry.

Ugh.

Eu não queria pensar em quão cansada e... e de saco cheio Charlie parecia hoje. Eu não queria pensar sobre Henry e como eu tinha perdido o controle. Eu não queria pensar nas coisas duras, a menos que essas coisas duras fossem parte da anatomia de Reece.

Eu bati minha mão sobre minha boca, mas uma risada escapou mesmo assim.

Reece estava mesmo ali fora, esperando por mim. Ele estava aqui.

Fechando meus olhos, eu fiz uma pequena dancinha enquanto fechava minhas mãos em punhos, apertando meus dentes juntos para prevenir um gritinho de escapar. Isso durou uns bons vinte segundos, então eu voltei a mim e andei para frente. O que eu queria fazer era tomar banho, mas isso pareceria excessivo e levaria muito mais tempo. Me despindo, eu passei hidratante até que ficasse hidratada e brilhante como um bebê foca e vesti uma calça limpa de yoga e uma daquelas camisetas com bojo embutido.

Eu passei uma escova pelo meu cabelo, deixando ele solto, e abri a porta do armário para me ver no espelho que havia do lado de dentro. Me estudando um pouco, eu achei que eu parecia confortável. Okay. Meu cabelo estava na altura dos

meus seios e por ter deixado ele torcido quando estava molhado, ele tinha ficado ondulado. A roupa era simples, mas caia bem. Não como se eu estivesse tentando demais ou esperasse mais. Isso era bom, eu acho.

O que estava prestes a acontecer poderia terminar de vários jeitos diferentes e me fez imaginar se meus pais tiveram que se preocupar com esses vários estágios quando se conheceram. Hoje a noite, Reece e eu poderíamos dormir juntos e isso poderia ser apenas por uma noite. Ou isso poderia virara algo casual – algo que só acontecia às três ou as quatro da manhã. Mas isso também poderia progredir ao estágio de amigos-com-benefícios ou o ‘eu acho que estamos namorando, porque nós estamos saindo e fazendo coisas juntos que nem sempre envolvem sexo, mas nada foi decidido’. Daqui, nós poderíamos terminar namorando ou seguindo caminhos separados. Nós poderíamos terminar nos casando e tendo bebês ou poderíamos nos afastar. Eu duvidava que seria o amigos-com-benefícios, porque Reece conhecia minha família e eu a sua, então isso poderia ficar estranho.

Haviam tantos jeitos diferentes para isso terminar e eu estava começando a ficar estressada.

Eu não iria pensar muito mais sobre isso.

Mostrando a língua para meu reflexo, eu dei um passo para trás e fechei a porta do armário. Tirando meus óculos, eu coloquei no criado mudo e sai do quarto, deixando a porta encostada apenas no caso de termos de voltar correndo para lá.

Eu corei, porque eu dormiria com ele no sofá, chão, cozinha, balcão – onde fosse. Uma cama não era necessária.

Eu estaria disposta a qualquer coisa que acontecesse essa noite.

This article is from: