12 minute read
Capítulo Um
Apenas dez minutos se passaram desde que eu tinha me jogado em uma poltrona almofadada no interior da sala de espera ensolarada, até que vi um tênis branco insinuar-se na linha da minha visão. Estava ocupada encarando os pisos de madeira e pensando que o ramo de cuidados particular devia pagar bem, pois precisava de muito dinheiro para ter este tipo de madeira escura de aparência cara.
Então, novamente, os pais de Charlie Clark não pouparam nenhuma despesa nos cuidados a longo prazo para seu único filho. Arrumaram as melhores instalações da Filadélfia. A quantidade de dinheiro que eles gastaram no ano tinha que ser astronômico - definitivamente mais do que eu fiz como bartender no Mona’s e os bicos de web design.
Imaginei que pensavam que fazendo isso, compensava o fato que visitavam seu filho apenas uma vez no ano, por vinte minutos. Havia no mundo pessoas melhores e mais compreensivas que eu, porque a queimação familiar de irritação que sentia toda vez que pensava sobre seus pais, era difícil de ignorar, enquanto arrastei meu olhar para o sorriso de boas vindas estampado no rosto da enfermeira. Eu pisquei uma vez e depois duas, não reconhecendo o cabelo cor de cobre ou os olhos mais jovens cor de avelã.
Esta senhora era nova.
Ela olhou para o topo da minha cabeça e seu olhar permaneceu em meu cabelo por um momento mais que o normal, mas o sorriso não vacilou. Não era como se meu cabelo estivesse uma loucura. Eu tinha mudado as mechas vermelhas para roxas há poucos dias, mas parecia uma bagunça quente. Eu tinha todo o comprimento longo, torcido em minha cabeça. Fechei o bar na noite passada, o que significava que não tinha ido pra casa até depois das três da manhã, e levantar-me, escovar os dentes, e lavar meu rosto antes de vir pra cidade, era um inferno de uma proeza.
"Roxanne Ark?", Ela disse quando parou na minha frente, apertando as mãos
juntas.
Meu cérebro gritou ao som do meu nome completo. Meus pais eram bizarros. Havia uma boa chance de que eles estavam drogados no último ou algo assim. Eu fui nomeada por causa da música "Roxanne", e meus irmãos eram Gordon e Thomas, que eram a composição do verdadeiro nome do Sting1 .
"Sim", eu disse, estendendo a mão para a sacola que trouxe comigo.
Seu sorriso se manteve firme no lugar quando ela apontou para as portas duplas fechadas. "A enfermeira Venter está fora hoje, mas ela explicou que você vem todas as tardes de sexta ao meio-dia, por isso temos Charlie pronto."
"Ah, não, ela está bem?" Uma preocupação surgindo em torno de mim. Enfermeira Venter tinha se tornado uma amiga nos últimos seis anos que o visitei. Tanto é que eu sabia que seu filho mais novo finalmente se casaria em outubro, e seu filho do meio tinha acabado de dar-lhe seu primeiro neto no mês passado, em julho.
"Ela adoeceu com um resfriado de fim de verão", explicou ela. "Ela realmente queria vir hoje, mas todos nós achamos que seria melhor se ela tomasse o fim de semana para se recuperar." A nova enfermeira se afastou para eu passar. "Ela me disse que você gosta de ler para Charlie?"
Concordei e apertei o meu domínio sobre minha bolsa.
Parando nas portas, ela pegou seu crachá e o passou ao longo de um sensor na parede. Houve um estalo e então ela empurrou a porta aberta. "Ele teve um bom par de dias. Não tão grande como nós gostaríamos” , ela continuou enquanto nós entramos na sala ampla, bem iluminada. As paredes brancas e nuas. Nenhuma personalidade. Nada. "Mas ele estava no início desta manhã.” Meus chinelos verde néon batiam no piso de cerâmica, mas os sneakers da enfermeira não faziam nenhum barulho. Nós passamos pelo hall que eu sabia que levava ao quarto anexo. Charlie nunca gostou de sair de lá, o que era tão estranho, porque antes... antes de ele estar ferido, ele tinha sido tão social, borboleteando por aí.
1 Gordon Matthew Thomas Sumner, (Wallsend, 2 de outubro de 1951), mais conhecido pelo seu nome artístico, Sting, é um músico, cantor e ator inglês. Antes de sua carreira solo foi o principal compositor, cantor e baixista da banda de rock The Police.
O quarto de Charlie era no outro corredor, uma ala feita especialmente para ter vista para a paisagem verde e a piscina terapêutica que Charlie nunca apreciou. Ele nunca foi um bom nadador antes, mas cada vez que eu via aquela maldita piscina lá fora, eu queria bater em alguma coisa. Não sei do que se tratava, talvez fosse porque o resto de nós tinha esse privilégio - a capacidade de nadar por nossa conta - ou talvez fosse o fato de que a água sempre parecia tão sem limites para mim, mas o futuro de Charlie foi severamente limitado.
A enfermeira parou do lado de fora da porta fechada. "Quando você estiver pronta para sair, você sabe o que fazer.” Eu sabia. Quando eu sair, tenho que parar no posto de enfermagem fazer o check-out. Imagino que eles querem ter certeza que eu não estava tentando sequestrar Charlie ou algo do tipo. Com um aceno pouco feliz, a enfermeira se vira e caminha de volta pelo corredor.
Olhando para a porta por um momento, eu puxo uma respiração profunda e exalo lentamente. Eu sempre tinha que fazer isso antes de ver Charlie. Era a única maneira de desfazer essa bola de emoção com toda decepção, raiva e tristeza de mim, antes que eu entrasse em seu quarto. Eu jamais quis que Charlie visse isso.
Às vezes eu falhava, mas eu sempre tentava.
Só depois, quando achei que poderia sorrir, sem me sentir afetada, abri a porta; e como toda sexta-feira pelos últimos seis anos, ver Charlie, era como levar um soco na garganta.
Ele estava sentado em uma cadeira na frente da grande janela de vidro, que ia do chão ao teto. Era uma daquelas papasan chair2 com uma almofada azul vibrante. Ele tinha isso desde os dezesseis anos, ganhou em seu aniversário, apenas alguns meses antes de tudo mudar para ele.
2
Charlie não olhou para cima quando entrei no quarto e fechei a porta atrás de mim. Ele nunca o faz.
O quarto não era tão ruim, bastante espaçoso, com uma cama de casal ordenadamente feita por uma das enfermeiras, uma escrivaninha que eu sabia que ele nunca usou, e uma TV que nunca, nos seis anos, vi ligada.
Sentado naquela cadeira, olhando pela janela, ele parece tão magro, até mesmo seco. Enfermeira Venter disse-me que tinham dificuldade em dar-lhe de comer três refeições por dia, e quando tentaram mudar para cinco menores refeições, não resolveu muita coisa. Um ano atrás, ficou tão ruim, que tiveram que colocar um tubo de alimentação; eu ainda podia sentir o medo, porque pensei que iria perdê-lo.
Seu cabelo loiro tinha sido lavado esta manhã, mas não estava estilizado e era muito mais curto do que como costumava usá-lo. Charlie gostava do corte artisticamente bagunçado e era simplesmente um arraso nele. Hoje, ele estava usando uma camisa branca com uma calça de moletom cinza, nem mesmo a do tipo legal. Não, estas tinham faixas elásticas no tornozelo, e Deus, ele teria tido um ataque se soubesse que estaria usando-os agora - justamente por isso, porque Charlie... bem, ele tinha tanto estilo e bom gosto.
Caminhando em direção à outra papasan chair com uma almofada azul, que eu tinha comprado em harmonização à sua, há três anos, limpei minha garganta. "Ei, Charlie."
Ele não olhou.
Não havia nenhuma decepção. Quero dizer, estava lá, aquela sensação de "isso não é justo", mas não havia uma nova onda de desânimo que precisasse prender a respiração, porque isto foi como o de sempre.
Sentando-me, coloquei a bolsa ao lado de minhas pernas. De perto, ele parecia mais velho do que seus vinte e dois anos. Seu rosto magro, pele pálida, e profundas sombras sob olhos verdes que anteriormente eram tão vivos.
Eu puxei outra respiração profunda. "Está ridiculamente quente lá fora hoje, então não tire sarro dos meus shorts curtinhos." Naquela época, ele teria feito eu me
trocar antes mesmo de me atrever a sair em público. “A previsão do tempo está dizendo que a temperatura irá bater recordes neste fim de semana."
Charlie piscou lentamente.
"É suposto tempestades muito ruins, também." Eu apertei minhas mãos juntas, orando para que ele olhasse para mim. Algumas visitas ele não fazia isso. Ele não tinha feito pelas três últimas, e isso me aterrorizava, porque da última vez que ele levou muito tempo sem me reconhecer, teve uma convulsão horrível. Essas duas coisas provavelmente não tinha nada em comum, mas ainda assim, causava um desconforto no meu estômago. Especialmente desde que a enfermeira Venter tinha explicado que convulsões eram bastante comuns em pacientes que tinham sofrido esse tipo de trauma cerebral. "Você se lembra do quanto gosto de tempestades, certo?"
Sem resposta.
"Bem, a menos que ela gere tornados,” disse. "Mas nós estamos basicamente em Philly, por isso duvido que haja muitos deles passeando por aqui.” Outro piscar lento que peguei de seu perfil.
"Oh! Amanhã à noite no Mona’s, estamos fechando o bar para o público:" Eu divagava, sem saber se já tinha dito a ele sobre os planos, não que isso importava. "É uma coisa de festa privada." Fiz uma pausa, longa o suficiente para tomar uma respiração.
Charlie ainda olhava pela janela.
"Você gostaria do Mona’s, eu acho. É uma espécie de inútil, mas de uma maneira estranha, bom. Mas já lhe disse isso antes. Eu não sei, quem dera... ” Acrescento, franzindo os lábios. Quando seus ombros subiram em um suspiro profundo e pesado. "Desejo um monte de coisas", terminei em um sussurro.
Ele começou a balançar no que parecia ser um movimento inconsciente.
Era um ritmo suave, como se estivesse no oceano, lentamente empurrando para trás e para frente.
Por um momento, lutei contra o impulso de gritar e botar para fora toda a frustração de dentro de mim. Charlie costumava falar a mil por hora. Os professores em nossa escola primária tinham o apelidado de Boca Poderosa, e ele riu - oh Deus, ele tinha a melhor risada, tão contagiante e real.
Mas ele não ria há anos.
Apertando meus olhos fechados contra a onda de lágrimas quentes, só queria jogar-me no chão e me debater. Nada disso era justo. Charlie deveria estar andando por aí. Ele deveria estar se formando na faculdade agora e conhecido um cara quente que iria amá-lo, e ir a encontros duplos comigo e qualquer cara que eu arrastasse junto. Deveria poder fazer o que ele tinha jurado que faria e publicado seu primeiro romance. Nós seriamos como antes. Os melhores amigos, inseparáveis. Ele me visitaria no bar, e quando fosse necessário, me diria para me recompor.
viver. Charlie deveria estar vivo, porque isso -o que quer que isso seja- não era
Em vez disso, uma porra de noite, uma vertente de algumas palavras estúpidas e uma maldita pedra, tinham destruído tudo.
Eu abri meus olhos, esperando que ele estivesse olhando para mim, mas não estava, e tudo que eu podia fazer era me recompor. Descendo, peguei uma folha dobrada de Aquarela da minha bolsa. "Eu fiz isso pra você." Minha voz estava rouca, mas continuei. "Lembra quando tínhamos quinze anos, e meus pais nos levaram a Gettysburg? Você amou a Caverna do Diabo, então isso é o que é."
Desdobrando a pintura, segurei para ele poder ver. Isto me tomou algumas horas ao longo da semana para pintar a areia e rochas, com vista para os prados verdejantes, para obter a cor certa dos pedregulhos e as pedras entre eles. O sombreamento tinha sido a parte mais difícil, uma vez que estava em aquarela, mas gosto de pensar que ficou muito legal.
Levantei-me e caminhei com a pintura para a parede do outro lado de sua cama. Peguei uma tachinha da mesa, e pendurei ao lado das outras pinturas. Havia uma para cada semana que fui visitá-lo. Trezentas e doze pinturas.
Meu olhar viajou sobre as paredes. Os meus favoritos eram os retratos que tinha feito dele, pinturas de Charlie e eu juntos quando éramos mais jovens. Eu
estava ficando sem espaço. Logo, teria que começar com o teto. Todas as pinturas eram do... passado. Nada do presente ou futuro. Apenas uma parede de memórias.
Fiz meu caminho de volta para a cadeira e tirei o livro que estava lendo para ele. Era Lua Nova, e nós chegamos até ir ver o primeiro filme juntos. Quase chegamos a ver o segundo. Quando abri na última página que tinha parado, eu estava convencida de que Charlie teria sido do time de Jacob. Ele nunca gostou de vampiros emos. Embora esta fosse à quarta vez que li o livro para ele, ele parecia gostar.
Pelo menos, é isso que eu disse a mim mesma.
Nem uma única vez durante a hora que passei com ele, ele olhou para mim, e quando me arrumei para ir, meu coração estava tão pesado quanto aquela pedra que tinha mudado tudo. Inclinei-me para ele. "Olhe para mim, Charlie." Esperei uma pulsação com minha garganta obstruída. "Por Favor."
volta. E tudo o que ele fez foi piscar enquanto se balançava lentamente. Vai e
Isso era tudo, enquanto eu esperava um total de cinco minutos por uma resposta, qualquer resposta, mas não tive nenhuma. Meus olhos estavam umedecidos enquanto pressionei um beijo contra sua bochecha fria e depois me endireitei. "Vejo você na próxima sexta-feira, ok?"
Eu fingi que ele disse que tudo bem em troca. Era a única maneira que eu poderia sair daquele quarto e fechar a porta atrás de mim. Saí e quando fiz meu caminho para fora, no calor escaldante, peguei em minha bolsa meus óculos de sol e o coloquei. O calor fez maravilhas para minha pele gelada, mas não aqueceu minhas entranhas. Era sempre assim depois que visitava Charlie, e demoraria até que o meu turno no Mona’s começasse para que fosse capaz de sacudir a frieza pra fora.
Enquanto caminhava em direção à parte de trás do estacionamento onde meu carro estava, praguejei. Eu podia ver o calor flutuando do asfalto, e imediatamente perguntei que cor precisaria misturar para capturar o efeito sobre tela.
Então avistei meu fiel Volkswagen Jetta, e todos os pensamentos de aquarelas desapareceram. Meu estômago caiu pesadamente e quase tropecei em
meus pés. Havia uma agradável, e praticamente nova caminhonete estacionada ao lado do meu carro.
Eu conhecia aquela caminhonete preta.
Eu a conduzi uma vez.
Oh Deus.
Meus pés recusaram a mover-se, e fiquei ali paralisada completamente.
A minha desgraça estava aqui, que curiosamente era a mesma pessoa que tinha um papel de protagonista ressurgindo em todas as minhas fantasias, até mesmo as mais sórdidas - especialmente elas.
Reece Anders estava aqui, e eu não sabia se lhe daria um soco ou o beijaria.