Jóias de Família n.25

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NR 25 NOVEMBRO / NOVEMBER 2011

Director / Editor in Chief Paulo Torres Director Executivo / Executive Editor Rui Rocha ruirocha@torres.pt Colaboradores / Contribuitors Fernando Correia de Oliveira Henrique Correia Braga Miguel Seabra Rodrigo Moita Deus Rui Galopim de Carvalho Susana Lucena Tradução / Translation Janette Ramsay

CORREIO DO LEITOR 8 MAIL FROM READERS ROLEX 10 CEMTURY BY TORRES 13 BOUTIQUE ROLEX 16 BREGUET 18 IMPERIALE, CHOPARD 21 CHOPARD 23 SUSANA LUCENA 28 JOALHEIROS DESCONHECIDOS UNKNOWN JEWELLERS

HENRIQUE BRAGA 61 A MAÇÃ QUE MUDOU O MUNDO THE APPLE THAT CHANGED THE WORLD CHARMING BY TISENTO 64 ALCINO 66 PORSCHE DESIGN 68

TROLLBEADS 73

CHAUMET 33

DKNY 80

JAEGER-LECOULTRE 35

EMPORIO ARMANI 81

H.STERN 37

FORTIS 82

FRANCK MULLER 39

RUI GALOPIM 84 O VALOR DOS DIAMANTES THE VALUE OF DIAMONDS

FERNANDO C. OLIVEIRA 43 PARA ALÉM DE RELOJOEIROS BEYOND WATCHMAKERS

SATURNO 88

TAG-HEUER 45

ETERNIS 96

HERDADE DE VALE SABROSO 47

MILLE MIGLIA CHOPARD 97

TF EST. 1968 50

PESTANA KRUGER LODGE 100 ESSÊNCIA E AVENTURA NA ÁFRICA DO SUL ESSENCE AND ADVENTURE IN SOUTH AFRICA

RODRIGO MOTA DEUS 54 SOBRE A IMPORTÂNCIA DA PATINA ABOUT THE IMPORTANCE OF PATINA MIMÍ 57 F.P.JOURNE 59

Impressão / Printing OCYAN Tiragem / Print Run 10.000 exemplares

Capa / Cover Boutique Rolex, C. Colombo

RAYMOND WEIL 75

A. LANGE & SÖHNE 31

AUDEMARS PIGUET 52

Fotografia / Photography Tânia Nabais Banco de imagem das marcas / Brand’s Image bank

Nov 2011

MONTBLANC 71

MIGUEL SEABRA 77 ROLEX EXPLORER OS CLÁSSICOS SÃO ETERNOS THE CLASSICS ARE ETERNAL

TOPÁZIO 41

Design Joana Areal e Inês Veiga thisislove.pt

WATCH WEAR BY TORRES PIMENTA 90

TORRES Rua Áurea 253/255, 1100-062 Lisboa T 213 472 753 . sede-sac@torres.pt PIMENTA Rua Augusta 253/257, 1100-062 Lisboa T 213 424 564 . geral@pimenta.pt TORRES ROMA Av. de Roma 16 B/C, 1000-265 Lisboa (Reabre brevemente / Reopens soon) TORRES COLOMBO C. Colombo, Av. Lusíada Loja 0.130/132, 1500-391 Lisboa T 217 167 000 . colombo@torres.pt BOUTIQUE ROLEX C. Colombo, Av. Lusíada Loja 0.133, 1500-391 Lisboa T 210 079 290 . rolex.colombo@torres.pt TORRES CASCAIS Rua Frederico Arouca 414, 2750-355 Cascais T 214 830 977 . cascais@torres.pt

CALEIDOSCÓPIO 102 KALEIDOSCOPE TORRES PRIVATE 104

6 TORRES

TORRES CASCAISHOPPING Cascaishopping Loja 0.8/9, Estr. N 9 2645-543 Alcabideche T 214 603 008 . cascaishopping@torres.pt WWW.TORRES.PT geral@torres.pt

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FERNANDO C. OLIVEIRA

marido na concepção de relógios. Além disso, foi astrónoma importante, fazendo em 1759 os cálculos para determinar a data exacta para o reaparecimento do cometa Halley. 3 Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais (1732 – 1799), filho de um relojoeiro protestante na França predominantemente católica, foi relojoeiro e músico da corte antes de começar a escrever peças de teatro, sendo também o editor de Voltaire. Dietrich Nikolaus Winkel (1780 – 1826), relojoeiro de Amsterdão, foi o inventor do metrónomo. 4 Louis-François-Clément Bréguet (1804 – 1883), neto do famoso Abraham-Louis Bréguet. Relojoeiro, inventor, desenvolveu a bobina de indução e um tipo de telégrafo, foi membro da Academia de Ciências de França. 5 Jean Eugene Robert-Houdin (1805 – 1871), Filho de Prosper Robert, um dos melhores relojoeiros de Blois, França, foi também relojoeiro, até descobrir as Artes Mágicas. Dedicou os últrimos 11 anos da sua vida a esta última actividade, sendo considerado como o pai da magia moderna. O escapista Ehrich Weiss mudou o nome para Harry Houdini em honra de Houdin. 6 Heinrich Göbel, depois Henry Goebel (1818 – 1893), nascido na Alemanha, foi relojoeiro e inventor, tendo emigrado para os Estados Unidos. Desenvolveu a lâmpada incandescente um quarto de século antes da patente de Edison. 7 John Thomson (1837 – 1921), relojoeiro, nascido na Escócia, partiu para Singapura, onde o irmão mais velho, também relojoeiro, produzia cronómetros de marinha e outros instrumentos científicos. Thomson foi o primeiro fotógrafo a documentar a China, viajando por todo o país, então desconhecido do resto do mundo em termos de imagens. 8 Henri Lioret (1848 – 1938), relojoeiro francês famoso, filho de relojoeiro, estabeleceu-se em Paris, teve clientes como o Czar da Rússia. Desenvolveu o cilindro cónico de gravação de som. 9 Ottmar Mergenthaler (1854 – 1899), alemão, relojoeiro, inventou o linotipo, uma máquina capaz de fazer o trabalho de seis compositores. Considerado como o segundo Gutemberg. 10 Henry Ford (1863 -1947), Norte-americano, começou muito jovem a fazer reparações em relógios de todo o tipo, muitas vezes de graça, apenas pelo prazer de manusear mecanismos. Foi relojoeiro em part-time e deverá ter sido o seu contacto com a relojoaria que lhe deu as duas ideias fundamentais com que revolucionou a indústria automóvel: a produção em cadeia e a utilização de peças estandardizadas. 11 Louis Chevrolet (1878 – 1941), nascido em La Chaux-de-Fonds, Suiça, filho de relojoeiro, aprendeu o ofício e emigrou para Detroit, Estados Unidos, onde fundou uma empresa de construção de automóveis. Foi tão importante para a indústria que a General Motors deu, em sua memória, o nome Chevrolet a uma das suas marcas. 12 Matthias Hohner (1883 – 1902), relojoeiro alemão, fundou em 1857 a mais famosa fábrica de harmónicas. Inventou diversos tipos deste instrumento, foi considerado o Stradivarius da harmónica. 13 Charles Edouard Jeanneret, Le Corbusier (1887 – 1965), filho de relojoeiro, nascido em La-Chaux-de-Fonds, berço da relojoaria suíça, estudou na escola de relojoaria local, especializou-se no fabrico de caixas para relógios. Tudo, claro, antes de se tornar num dos mais importantes arquitectos de sempre. Por último, 14 Dan Spitz (1963, New York), filho de um advogado e de uma professora, membro fundador dos Anthrax, uma banda de heavy metal. Em 1995, confrontado com uma desilusão enorme face à vida artística, foi para a Suíça, ingressou no WOSTEP, a famosa escola de relojoaria, sendo o melhor aluno do seu curso. Voltou aos Estados Unidos, onde montou uma oficina de reparação de relógios e está a trabalhar para, um dia, ter a sua própria marca.

her husband on the design of watches. In addition to this, she was also an important astronomer, who calculated the exact date for the reappearance of Halley’s Comet. 3 Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais (1732 – 1799), son of a protestant jeweller, in a predominantly catholic France, he was a watchmaker and court musician before he started writing plays as well as working as Voltaire’s editor. Dietrich Nikolaus Winkel (1780 – 1826), a watchmaker from Amsterdam, he invented the metronome. 4 Louis-François-Clément Bréguet (1804 – 1883), grandson of the famous Abraham-Louis Bréguet. Watchmaker, inventor, he developed the induction coil and a type of telegraph and was a member of the French Academy of Sciences. 5 Jean Eugene Robert-Houdin (1805 – 1871), son of Prosper Robert, one of the best watchmakers from Blois, France, he was also a watchmaker until he discovered Magical Arts. He dedicated the final 11 years of his life to this activity and is today considered the father of modern magic. The escapologist Ehrich Weiss changed his name to Harry Houdini in honour of Houdin. 6 Heinrich Göbel, later Henry Goebel (1818 – 1893), born in Germany, he was a watchmaker and inventor who immigrated to the United States. He developed the light bulb, a quarter of a century before Edison’s patent. 7 John Thomson (1837 – 1921), a watchmaker, born in Scotland, he moved to Singapore where his older brother, also a watchmaker, produced navy stopwatches and other scientific instruments. Thomson was the first photographer to document China, travelling all over the country, up until then the rest of the world had not seen images of this country. 8 Henri Lioret (1848 – 1938), a famous French watchmaker and also son of a watchmaker. He settled in Paris and had clients such as the Tsar of Russia. He developed the conical cylinder sound recorder. 9 Ottmar Mergenthaler (1854 – 1899), German watchmaker, he invented the linotype, a machine capable of doing the work of six composers. Considered the second Gutenberg. 10 Henry Ford (1863 – 1947), North American, he started repairing all types of watches when he was young, often free of charge, just for the pleasure of handling mechanisms. He was a part-time watchmaker and it must have been his contact with this world that gave him the basic ideas with which he later revolutionized the automobile industry: creating line production and the use of standardized parts. 11 Louis Chevrolet (1878 – 1941), born in La Chaux-de-Fonds, Switzerland, son of a watchmaker, he learnt the craft and immigrated to Detroit in the United States where he founded an automobile manufacturing company. He was so important to the industry that General Motors named one of their brands after him. 12 Matthias Hohner (1883 – 1902), a German watchmaker, in 1857 he founded the most famous harmonica factory. He invented various types of this instrument and was considered the Stradivarius of the harmonica. 13 Charles Edouard Jeanneret, Le Corbusier (1887 – 1965), son of a watchmaker, born in La-Chaux-de-Fonds, the birthplace of Swiss watch making, he studied at the local watch making school, and specialised in watch cases. All of this, of course, before he became one of the most important architects of all times. Finally, 14 Dan Spitz (1963, New York), son of a lawyer and a teacher, founding member of Anthrax, a heavy metal band. In 1995, confronted by huge disillusion regarding his artistic life, he went to Switzerland, studied at WOSTEP, the famous watch making school and was the best student on his course. He returned to United States where he set up a watch repair shop and is working so that one day he can have his own brand.

44 TORRES












RODRIGO MOITA DEUS

PEDRO, O GRANDE, TERÁ CHEGADO DAS SUAS VIAGENS PELO OCIDENTE E PERGUNTADO AO SEU ARQUITECTO: “ESTÁ A VER PARIS? E VERSALHES?” – “SIM”, RESPONDEU O ARQUITECTO “MUITO BEM. ENTÃO FAÇA UMA COISA IGUAL MAS EM GRANDE” PETER THE GREAT, RETURNED FROM HIS JOURNEYS IN THE WEST AND ASKED HIS ARCHITECT: “DO YOU KNOW PARIS AND VERSAILLES? – “YES” REPLIED THE ARCHITECT “GREAT. SO DO THE SAME BUT BIGGER”.

Nunca conheci ninguém que tivesse visitado S. Petersburgo que não tivesse utilizado adjectivos como “extraordinário”, “deslumbrante” ou “majestoso”. Exageros de gente menos viajada. Achava eu. Bom de ver que sou um céptico. E bom de ver que já tive a sorte de ver outras coisas “extraordinárias”, “deslumbrantes” e “majestosas”. Praga é extraordinária. Paris é deslumbrante e Viena é majestosa. Irritam-me cópias. E na minha cabeça S. Petersburgo era uma cópia. Russa. Como os relógios. Sendo que o Neva não é o Sena. O Hermitage não é o Louvre. E Peterhoff não é certamente Versalhes. Preconceitos, sim. Muitos. E com tantos preconceitos começava a justificar-se a viagem. Desculpei-me com os tesouros arquitectónicos soviéticos da cidade e fui tirar a limpo tudo o que ouvi. E para perceber a Rússia basta fazer o caminho do aeroporto para o centro da cidade. A Rússia é um país grande. Muito grande. O maior país do mundo. Ocupa mais de um décimo da área do planeta. A Rússia não é um país. É um continente. Onde tudo é feito à sua escala. As avenidas são auto-estradas. De seis ou oito faixas. De quilómetros e quilómetros e quilómetros e quilómetros. Onde os passeios, mesmo no centro da cidade, são suficientes para uma família de três ou quatro pessoas andarem de mãos dadas. Onde os quarteirões levam dez ou quinze minutos para serem percorridos a pé. Onde as praças envergonham o nosso terreiro do paço. A cidade em que mandarmos o miúdo comprar leite à mercearia da esquina, corremos o risco da criança só voltar ao final da tarde. S. Petersburgo é uma cidade encomendada aos melhores arquitectos do mundo e conquistada aos pântanos para impressionar o mundo com a grandeza de um país que é imenso. Pensada para deslumbrar. Pensada para impressionar. Pensada para que as pessoas se sintam insignificantes. Pequeninas. Adornos. Onde até o colossal edifício do almirantado foi construído antes do país ter marinha de guerra. Até imagino como terá sido imaginada. Pedro, o grande, terá chegado das suas viagens pelo ocidente e perguntado ao seu arquitecto: — Está a ver Paris? E Versalhes? — Sim – respondeu o arquitecto — Muito bem. Então faça uma coisa igual mas em grande. Ali vive o barroco, mais barroco e mais barroco. Em S. Petersburgo até a arquitectura estalinista é estalinismo barroco. E é preciso ver e sentir toda aquela grandeza para compreender o resto. Foram precisas seis horas de avião para encontrar um povo geneticamente mais arrogante que os franceses. A arrogância dos russos está em tudo. Na forma como respondem nas ruas. Na forma como falam connosco. Na forma como não falam. Nas grandes coisas. Sobretudo nas pequenas coisas. Dificilmente encontramos uma excursão onde se fala em inglês. Dificilmente encontramos um funcionário de museu ou de bilheteira de teatro que fale inglês. As excursões são em russo. As indicações em russo. A comida para os russos. Os bailados para os russos. O turismo na Rússia é para os russos. A Rússia é um continente e os russos bastam-se a si próprios. São auto-suficientes. E em pleno Hermitage, as salas nobres do palácio de verão dos czares, estão reservadas para a pintura flamenga e italiana. As dezenas de Picassos,

I have never met anyone who has visited St. Petersburg that didn’t describe it using adjectives like “extraordinary”, “incredible” or “majestic”. Exaggerations by people who haven’t travelled much, was what I thought. Please note that I’m a sceptic. Please note that I’ve been lucky enough to have seen other “extraordinary”, “incredible” and “majestic” things. Prague is “extraordinary”, Paris is “incredible” and Vienna is “majestic”. Copies irritate me and in my mind St. Petersburg was a copy. A Russian copy. Like the watches. In that the Neva is not the Seine. The Hermitage is not the Louvre and Peterhof is certainly not Versailles. Prejudices, yes. Many of them. So many prejudices started to justify the trip. I made amends with the Soviet architectural treasures of the city and went to find out for myself what I had already heard. To really understand Russia the journey from the airport to the city centre is enough. Russia is a big country. Very big. The biggest country in the world. It occupies more than one tenth of the planet. Russia isn’t a country. It’s a continent. Where everything is done in its scale. The avenues are motorways, with six to eight lanes. Kilometres and kilometres and kilometres and kilometres long. Where pavements, even in the city centre, are wide enough for a family of three or four to walk hand in hand along. Where blocks take ten or fifteen minutes to walk down. Where the squares make our Terreiro do Paço look small. A city where, when your send your child out to the corner shops, you risk he or she only returning in the late afternoon. St. Petersburg is a city designed by the world’s best architects and conquered from the swamps to impress the world with the greatness of an immense country. Designed to amaze. Designed to impress. Adornments. Where even the massive Admiralty building was built before the country had a navy. I even imagine how they imagined it. Peter the Great, returned from his journeys in the west and asked his architect: “Do you know Paris and Versailles? “Yes” replied the architect “Great. So do the same but bigger”. There lives the Baroque, more Baroque and more Baroque. In St. Petersburg, even Stalinist architecture is Stalinist Baroque. One needs to see and feel all that greatness to understand the rest. It took six hours by plane to get to meet people who are genetically more arrogant than the French. The Russian arrogance is everywhere. The way they respond on the streets. The way they speak to us. The way they don’t speak to us. In the big things. Mainly in the small things. It’s difficult to find an excursion where English is spoken. It’s difficult to find a museum or a ticket office employee who speaks English. Excursions are in Russian. Directions are in Russian. Food is for Russians. The ballets are for the Russians. Tourism in Russia is for the Russians. Russia is a continent and the Russians only need themselves. They are self-sufficient. In the Hermitage, the noble salons of the summer palace of the Tsars are reserved for the Flamenco and Italian paintings. The dozens of Picassos, Monets, Renoirs, Matisses and others, that are less than 200 years old, are kept in smaller rooms. At times mounted on plywood. Everything that is less than two hundred years old is lesser art.

TORRES 55





















































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