Centro Universitário
CATÓLICA SANTA CATARINA
Curso TEOLOGIA
Disciplina INTRODUÇÃO A TEOLOGIA Professor Diac.: ANDRE PHILLIPE PEREIRA
Joinville
04 março 2014
TEOLOGIA, IGREJA E MAGISTÉRIO (I): OS VÁRIOS MAGISTÉRIOS NA IGREJA As relações Teologia e Magistério só podem ser bem colocadas no interior da eclesiologia. Trataremos aqui em primeiro ligar da posição da teologia dentro da Igreja e em seguida da pluralidade de magistério na igreja.
Teologia e Igreja Igreja: "sujeito epistêmico" da teologia A igreja é sempre o sujeito primário e geral de todos os carismas, serviços e missões, inclusive na teologia. O sujeito da fé é também o sujeito da reflexão da fé - a teologia. Toda a igreja é "crente", assim toda ela é igualmente "teologizante". " O conhecimento de Deus é em primeiro lugar em conhecimento da comunidade. (...) A teologia é uma função da Comunidade...A comunidade...é sujeito do conhecimento. (...) Trata-se de elaborar e de sustentar uma teoria eclesial do conhecimento. É a única maneira de escapar ao perigo do subjetivismo." (BOFF, 1998 - pg 425) "O povo santo de Deus participa de múnus profético de Cristo" ( LG 12 e 35 ), assim também a Igreja é toda-ela-teólogica. Por isso pode-se falar numa Ecclesia quaerens intellectum fidei. Agostinho, em sua mística da unidade de Cristo - Igreja, chega a dizer que a inteligência da fé do próprio Cristo, como "Cristo total": Igreja: " sujeito epistêmico" da teologia Na distribuição dos carismas, correspondente à "divisão do trabalho eclesial", existe especializações. "Na igreja, Deus estabeleceu, em primeiro lugar, os apóstolos, em segundo lugar os profetas, em terceiro lugar os doutores" (1Cor 12,28) - é um dom ou graças; - é um serviço ou ministério; - dá-se em favor da Igreja toda. A teologia é uma atividade essencial e primariamente essencial primeiramente eclesial. Ela se faz em nome do povo de Deus e seus benefícios. O teólogo da igreja recebe: - o tema próprio de seu estudo, que é Deus e toda realidade à luz de Deus; - o princípio hermenêutico determinante de sua reflexão - a luz na fé ou da Revelação; - a fonte primeira de seu trabalho, que é a Sagrada Escritura; - as outras fontes de sua reflexão, ou seja, a grande tradição da fé: - a atmosfera ou o lugar onde se elabora seu discurso, que a própria Comunidade de fé; - a certeza da verdade que o teólogo pesquisa e aprofunda. Justificação do laço Teologia-Igreja A vinculação do teólogo à Igreja representa uma condição de possibilidade. Por causa do caráter intrinsecamente eclesial do objeto da teologia. A fé cristã é comunitária, é "popular". E de vez que o objeto decide o método, com a meta decide do caminho, assim também, para "acessar" esse objeto é preciso passar pela igreja. O laço entre teologia e igreja não amarra mas liberta, não fecha mas abre. 1
Teologia não é uma meramente atividade privada. Por esta simples razão: teologia da fé, e fé é fé da Igreja. Assim, a Igreja é o "solo nativo e a pátria permanente da teologia". Teologia é teologia da Igreja. Nela a fé nasce, cresce e se mantém. A necessária vinculação da teologia com o povo de Deus se pode perceber também quando se analisa a finalidade da teologia. O teólogo enquanto membro da Comunidade de fé. É dela que recebeu o mandato específico de exercer o ministério teológico. Ora, esse mandato reveste normalmente a forma da missio canonica. (CDC. cân. 812) Teologia não é " negocio privado" Sem relação orgânica com a Comunidade de fé é impossível fazer uma boa teologia. Pois a fé, fonte de toda teologia, se vive em igreja e na igreja. É so a partir de dentro que se entende a igreja e seus símbolos. Só pela convivência se conhece bem a "família dos cristãos". A ligação viva com a Comunidade confessante é necessário para o teólogo e para o bom desempenho de sua teologia. Convencido de que a dogmática não é absolutamente "livre", mas "vinculada ao câmbio da igreja, e nela, e só nela, torna-se possível e cheia de sentido". Os "teólogos livres", desligados de qualquer igreja e que oferecem serviços religiosos de modo independente. Essa situação anormal encontra. Teologia confessional mas não confessionalista O teólogo esta também vinculado à sua profissão de fé. Toda teologia é confessional: é protestante, católica, ortodoxa ou seja lá que mais for. A teologia há de permanecer aberta ao diálogo com outras profissões e, portanto, ao aprendizado e à correção. É nesse sentido que a teologia deve ser ecumênica e inter-religioso. O fundamento do diálogo inter confessional é duplo: a humildade de reconhecer o Deus sempre maior e o respeito à liberdade de consciência do outro, ou seja, finalmente, a caridade. 1. O Magistério de Cristo no Espírito Hierarquia de magistério na Igreja A teologia é um carisma articulado com outros "em vista da edificação do Corpo de Cristo"(Ef 4,12) A teologia está relacionada, em particular, com o carisma do Magistério eclesiástico, "intérprete autêntico" da Palavra de Deus (DV 10). A hierarquia das diferentes instâncias de magistério na igreja é a seguinte: - o primeiro magistério é o de Cristo; - o segundo, o magistério do Povo de Deus; - o terceiro, o magistério pastoral e, dentro deste, o papal. Explicitemos cada um deles, começando pelo magistério do Mestre por excelência, Jesus. Cristo, único mestre O magistério originário e fundante de todos é o magistério de Cristo. "Não vos façais chamar de mestre, porque um só é o vosso mestre...; um só é vosso guia, Cristo" (Mt 23,8.10). E Cristo é a "Verdade" (Jo 16,6), a Revelação escatológica de Deus. A grande autoridade doutrinária da igreja é a Palavra de Deus, revelada em Cristo. Só ela é, em sua ordem, infalível e soberana. Antes de ser magistra veritatis a igreja é discipula veritatis. Para ser "igreja predicante", ela se faz primeiro "igreja ouvinte". O grande mestre na igreja é o Espírito Santo. João, tematizando essa idéia em seu evangelho, fala do Paráclito como do "Espírito da Verdade", que leva os discípulos à verdade completa (Jo 14,26; 16,13). Os profetas já tinham previsto o dom de um "coração novo" ao qual Deus pessoalmente ensinava sua verdade, sem necessidade de mediações (cf. Jr 31,33-34; Ez 36,37). 2
2. O Magistério comum de todo Povo de Deus
Depois do magistério de Cristo, temos o magistério da Comunidade eclesial como um todo, incluindo Pastores e simples Fiéis. Todos na Igreja participam do ofício de Cristo doutor e profeta. Ensina o Vaticano II: "Cristo...continuamente exerce seus múnus profético...não só através da hierarquia... mas também através dos Leigos" (LG 35,1). (BOFF, 1998 - pg 432) Pela sua vida em geral, mais especificamente: - pela confissão de fé; - pelo culto; - pelo testemunho de caridade; O povo de Deus como um todo que é "mestre da fé", na medida em que proclama no mundo todo as "maravilhas de Deus" (cf EN 13). Na igreja de Deus todos são "mestres", porque todos são "alunos" do Espírito. Daí que esse discipulado-magistério comum deve ser vivido na igreja em que regime de reciprocidade: "Com toda sabedoria, instruí-vos uns aos outros" (Cl 3,16). Importância concreta da " verdade da fé" Magistério tem a ver com a custódia e o anúncio da verdade salutar. A preocupação pela verdade da fé, assim como a luta contra a heresia, entendida como a perversão da verdade, se encontram claramente testemunhada em todo novo testamento. - Jesus fala dos "falsos profetas" (Mt 7,15-20; Mc 13,21-23); - Paulo, em seu "testamento", chama atenção dos " anciãos" para se precaverem contra os " discursos perversos" (At 20,30); - João denuncia a falsa doutrina dos " anticristos" (1Jo 2,18-29; 4,1-6); - a 2Pd dedica todo um capítulo (o 2º) ao perigo dos falsos doutores; - a carta de Judas igualmente insiste em que a Comunidade deve se guardar dos falsos doutores (3-16); - o Apocalipse insiste em que a Comunidade deve se cuidar da sedução das falsas doutrinas (2,14-15,2); O que importa finalmente é a virtude, não se pode negar também que a verdade condiciona a virtude: o bem precisa ser verdadeiro. O "zelo pela verdade" pode decair para formas perversas de intolerância, fanatismo e violência, de que a história da igreja dá fartos testemunhos. " Custódia do depósito" : tarefa da igreja toda A defesa da fé não cabe só aos Pastores, mas à universitas dos fiéis. Quando se trata de fé, que é universal, que é comum a todos, que interessa não somente ao clero, mas também aos leigos e a todos os cristãos. Mas é claro, os pastores têm nesse campo uma responsabilidade particular, especialmente o magistério pontifical, que tem dado nisso eloqüentes demonstrações na história. Sentido do " sensus fidelium" A base do magistério comum é o chamado "senso da fé". Por ele o povo de Deus se deixa instruir pelo Espírito Santo e se torno um Povo-discípulo de Deus (theodídaktos: 1Ts 4,9). A igreja em conjunto é "indefectível" (LG 12) e "infalível" (LG 25). Mediante o "senso sobrenatural da fé, "apresenta um consenso universal sobre questões de fé e costume", e isso "desde os bispos até os últimos fiéis leigos" (LG 12). O "sentido da fé" ou esse "senso dos fiéis", ou seja lá que expressão se use: percepção, intuição, convicção, instinto, faro, sentimento, inclinação (G. Perrone), conaturalidade (S. Tomás)? 3
O sensus fidei constitui um conhecimento da ordem do irreflexo, acategorial ou antepredicativo, que faculta ao Povo de Deus um juízo correto sobre as coisas de fé. É um saber sobrenatural, um conhecimento pneumático ou espiritual, no sentido de que procede do Espírito. A tradição teológica atribui ao Espírito nada menos que três dons "intelectuais" dentre os sete conhecidos: a inteligência, a ciência e a sabedoria (sem ainda incluir o dom do conselho). Frutos do sensus fidelium são distintos "documentos da Tradição", não só escrito: Patrística, Concílios e Liturgia; mas também os documentos não-escritos: afrescos, mosaicos, vitrais, ícones, esculturas, templos, etc. Todos eles testemunham a "fé comum do Povo de Deus". Indicações das tradições bíblicas e teológica No novo testamento referência consistentes sobre o sensus fidei. - da " inteligência espiritual" (Cl 1,9); - do " senso (noús) de Cristo" ( 1Cor 2,16); - dos " olhos do coração" (Ef 1,18); - e sobretudo do " conhecimento" (gnóosis). João valoriza o conhecimento pela "unção" pneumática. Igualmente Paulo fala da sabedoria da fé comunicada pelo Espírito. "São mais santos os ouvidos do povo do que o coração dos sacerdotes"
(BOFF, 1998 - pg 437) Ilustração histórica: a fé nicena defendida pelo povo O Cardeal J.H. Newman chegou a esta conclusão surpreendente: "O dogma de Nicéia se manteve durante a maior parte do século IV não através da firmeza invencível da Santa Sé, dos Concílios e dos Bispos, mas através do 'consensus fidelium'". (BOFF, 1998 - pg 438) Newmann, bem britanicamente, estabelece duas listas paralelas de fatos históricos: uma mostrando como "o conjunto dos bispos falhou na confissão da fé"; e outra mostrando a fidelidade dos leigos e sua eficácia na defesa da divindade de Cristo, dispostos a pagar por isso com perseguições e até a martírio. O grande teólogo reconhece que nunca faltaram bispos- poucos, na verdade - que estiveram ao lado do povo na defesa do fé nicena. Newman tirou dessa história toda uma "lição moral": "É que não são sábiose poderosos, mas os obscuros, os ignorantes e fracos que constituem a força real da Igreja". (BOFF, 1998 - pg 438) Critérios para estabelecer o " sensus fidei" Evidentemente não é qualquer Comunidade Cristã que testemunha de forma garantida o sentido da fé cristã. A situação cultural que vive hoje o Cristianismo de massas e o quanto cedeu à atual mentalidade liberal e materialista. Com efeito, os fiéis participantes são uma minoria. Podemos indicar três critérios de verificação do "senso dos fiéis": 1. É a universidade dos fiéis em geral que "sente" corretamente a verdade divina, e não apenas uma ou outra comunidade cristã ou igreja local. 2. Trata-se do "senso da fé" das Comunidades vivas. Referimo-nos aqui realmente aos "fieis" e aos fieis participantes, e não simplesmente os batizados e menos ainda o povo em geral, no sentido da sociedade civil. 3. Por fim, é preciso um certo tempo para que o "consenso dos fiéis" se forme e "atine" como uma verdade revelada. 4
Modos de expressão do "senso da fé" Por que vias se dá, no concreto, no exercício do "senso dos fiéis"? Por dois caminhos: 1. Informalmente, através da vivência ordinária da fé. O "senso dos fiéis" se exprime mais por um reconhecimento (experiencial) difuso do que por um reconhecimento (conceitual) da verdade religiosa. Concretamente, quando os fiéis sentem como "escandalosa" ou "chocante" uma posição doutrinária; quando surda ou abertamente a ela resistem; quando tal reação provem das Comunidades vivas, recolhe a unanimidade moral e se mantém por um tempo razoável; então é sinal de que a posição doutrinária em questão se põe fora da verdade de Deus. Além da liturgia e da vida cotidiana, o "senso dos fiéis" se manifesta também através da "opinião pública" que se forma no seio da Comunidade eclesial e que, por ser sui generis, necessita de um discernimento correspondente. " Ela (a igreja) é um corpo vivo e faltaria qualquer coisa à sua vida se a opinião pública lhe faltasse (naturalmente nas matérias deixadas à livre discussão) - falta cuja condenação viria a recair sobre os Pastores e sobre os fiéis".
(BOFF, 1998 - pg 441) Através de todas essas manifestação de fé a Verdade de Deus faz caminho, de modo que, nessa linha, vale a expressão: Vox Populin DEI vox Dei! 2. Através dos mecanismos de representação: grupos, movimentos ou assembléias. A esse nível, o sensus fidelium pode ser efetivamente "consultado". O "senso dos fiéis" é na igreja algo de análogo à "opinião pública" na sociedade civil, embora não seja seu correspondente exato. Uma verdade de fé é necessária convicção de uma minoria, pois, como vimos, o "consenso dos fiéis" precisa de tempo para se formar e se manifestar. O "consenso dos fiéis" e a ação do Espírito, que se manifesta por ele, valem não só para a doutrina da fé, mas também para a escolha dos ministérios. Um magistério de tipo " carismático" O magistério comum não exclui naturalmente os Pastores, mas salienta claramente o papel dos simples Fiéis. Dissemos, por exemplo, que os pobres e simples são os confidentes privilegiados do Espírito e por isso são também seus testemunhos especiais. Existem também outras categorias. Esses exercem um "magistério" específico, não oficial, de tipo, por assim dizer, "carismático". São vozes que soam no deserto da indiferença, incompreensão e até da perseguição. Na medida em que superam a prova do tempo, acabam sendo acolhidas. Eis algumas dessas categorias: - os santos, por sua profundidade familiaridade com o Espírito Santo; - os mártires e os reformadores, portadores privilegiados da Palavra; - os monges, os startsi e outros tipos de " espirituais" ; - os miraculados e outras pessoas favorecidas com algum " dom extraordinário" ; - os pequeninos, esses humildes e simples a quem o Pai revelou seus segredos; - os anciãos, pela sabedoria que lhe confere a experiência de vida; - as mulheres, maltratadas até hoje de muitos modos; - os experimentados em determinadas áreas da experiência humana; - os peritos nos vários ramos da ciência e técnica; - os pobres e sofredores, cujo brado Deus ouve (cf Ex 3,7.9 Tg 5,4) e cuja dor é autêntica cátedra. O magistério comum e suas especificações Em virtude do "magistério comum", a saber, o magistério de todos os fiéis, sejam eles pastores, teólogos ou leigos, a igreja aparece como igreja-toda-magisterial. 5
MAGISTÉRIO COMUM Leigos
Teólogos
Pastores
IGREJA Trata ai de três "carismas" de ensino diferenciados, enraizado-se todos na "cháris" (geral) da fé. Maior e mais importante do que o "magistério específico" dessa ou qualquer figura eclesial, seja ela o próprio hierarquia, é o "magistério comum" dos fiéis que se exerce tanto na igreja como na face do mundo. O magistério teológico: é uma especificação clara do magistério de todo Povo de Deus. O magistério pastoral também constitui uma especificação, embora muito particular, do "magistério comum". O magistério laical é uma outra especificação ficação da magistério comum. Ele se põe, portanto, ao lado do "magistério pastoral" e do "magistério teológico". São duas esferas para o exercício do magistério específico: 1. A esfera do mundo, enquanto pelo testemunho vida da fé, os leigos "ensinam" aos homens e mulheres a Verdade salvadora do Evangelho. 2. A esfera da igreja, através dos vários serviços leigos, ligados ao ensino: catequese, animação bíblica, educação sociopolítica, etc. 3. O Magistério Pastoral Temos agora condições de tratar do magistério pastoral, eclesiástico ou ainda hierárquico. Torna-se hoje "o" magistério sem acréscimo, magistério no sentido estrito e técnico do termo. No sécula XVIII o magistério, como ofício da Ecclesia docens, que antes envolvia toda a igreja, acabou se concentrando apenas nos Pastores. Bases neotestamentárias do magostério apostólico Ensinar é uma das funções dos Pastores, junto com a de santificar e a de governar, segundo a trilogia clássica Jesus transmitiu ao Apóstolos a ordem terminante: "Ide..., ensinai" (Mt 28,19) O caráter divino e absoluto do apelo à fé exige que a Palavra seja transmitida sem falsificação. Os apóstolos são apenas "servidores de Cristo e administradores dos ministério de Deus". Toda a Comunidade cristã que tem de se preocupar com a pureza de integridade da fé. Todavia, os Pastores possuem nisso uma obrigação particular. Se na igreja todos são "servidores", nem todo o mundo é "administrador", a saber, aquele que o "que o Senhor constituiu sobre o seu pessoal". Magistério " autêntico" À diferença do magistério dos demais fiéis, o eclesiástico é o sujeito do "ensino autêntico". É "autêntico" não no sentido comum de genuíno ou confiável, pois o ensino dos leigos e dos teólogos também pode ser autêntico, mas no sentido de proferido com autoridade. "Autêntico", portanto, significa, autorizado, oficial. Pastores são irmãos que se dirigem a irmãos e não estranhos que tratam com estranhos. O horizonte maior do exercício do magistério pastoral é a fraternidade eclesial, fundada na comum dignidade batismal. Igreja discente e Igreja docente Observe-se que, mais que serem "mestre da verdade", os Pastores são "servidores da verdade", como enfatizou Paulo VI na Evangelli Nuntuandi: "Da Palavra de Deus nós somos - insistimos - não os árbitros nem os proprietários, mas os depositários, os arautos e servidores" (n. 78) (BOFF, 1998 - pg 447)
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A verdadeira relação não é de subordinação, mas de diálogo e comunhão de carismas. Ensinar e aprender são duas funções e não duas frações na igreja. Quando há dicotomia entre elas, a igreja vive uma situação patológica. O estado sadio é de interação dialética entre as duas funções. Os pastores ensinam, mas também aprendem; e o Povo de Deus, por sua parte, aprende, mas também ensina. Tarefas específicas do magistério pastoral As funções do magistério eclesiástico na seguintes: 1. Testemunhar a fé. Trata-se do anúncio público da Verdade que salva. 2. Recomendar prudência nas questões delicadas. - porque a razão teológica corre muitas vezes o perigo de cair na intemperança frente ao Mistério; - para não escandalizar a fé dos fracos; 3. Ser o "juiz da fé". A "função judicial", própria dos Pastores; 4. Ter a coragem da "decisão dogmática" De fato, o vazio de referência doutrinárias e o total relativismo teológico geram uma situação caótica. Equívocos do magistério pastoral O magistério pode se equivocar. Seus erros são principalmente de dois tipos: 1. Erros de oportunidade. É quando os Pastores se precipitam no julgamento de uma doutrina. 2. Erros de doutrina. É quando o magistério trata como verdade o que é mera opinião teológica ou até crença ideológica de uma época. O fato é que o próprio magistério, apesar da impressão de segurança, é extremamente incerto. Quer dizer: ele é hesitante tanto em relação ao conteúdo sobre o qual ele pode se exercer, quanto ao grau de certeza a que pretende vincular seus destinatários. Magistério pastoral e " sensus fidelium" A relação do magistério pastoral com o sensus fidelium se dá em dois níveis: dependência e autonomia: 1. Dependência. O magistério pastoral depende basicamente, mas não exclusivamente, do sensus fidelium. 2. Autonomia. O magistério autêntico tira sua credibilidade específica da força do Espírito. Assim mesmo o Espírito age no magistério autêntico age também no "consenso da fé". Por isso, nunca pode faltar ao magistério autêntico o apoio do Povo de Deus. Magistério dos pastores e magistério dos fiéis Veremos a relação do magistério pastoral com o particular magistério dos fiéis. Tal relação é análogica à do "sacerdócio ministerial" com o "sacerdócio comum" dos batizados. Pode se notar entre os dois ministério certa reciprocidade: o magistério eclesiástico ensina, sim, mas também é ensinado. E é ensinado também pelos simples fiéis, especialmente pelos pobre, com suas instituições, demanda e experiências. Os dois ministérios, respectivamente da cúpula e da base, derivam ambos so mesmo Espírito. Quanto a diferença entre os dois, importa notar que a forma normal do "magistério comum", quando não é sinodal, é puramente carismática, isto é, informal e não-oficial. Pode se representar assim: ESPÍRI Magistério Comun
TO SANTO Magistério Pantoral
IGREJA 7
Magistério de varões? O magistério eclesiástico é, como sabemos, reservado aos varões. Ele é patriarcal, como toda hierarquia: só o varão pode ensinar "com autoridade" no Povo de Deus. As mulheres ensinam nas Comunidades de Base, na Catequese e em outras pastorais, mas nunca "autenticamente" no sentido escrito. As mulheres são ainda na igreja a "maioria silenciosa" e, em parte, também "silenciada". O magistério Pontifício Esse é o magistério papal. Esse constitui uma especificidade ulterior do 3º nível de magistério. Ele vem, portanto, como que em 4º lugar. Hoje na igreja, "magistério"designa antes de tudo e como que naturalmente o magistério pontifício. O magistério pontifício é a expressão concentrada e culminante do magistério pastoral. O papa representa simbolicamente o Episcopado, como este representa todo o Povo de Deus. Se o magistério pastoral conta com a assistência especial do Espírito, isso vale a fortiori do magistério pontifício dentro do corpo episcopal.
ESPÍRITO IGREJA
BISPOS
PAPA
De modo todo particular, o magistério papal é dotado, em circunstâncias bem precisas, do carisma, como enfatizou o Vaticano I (Ds3074), repetido pelo Vaticano II (LG 25). Tal infabilidade, contudo, não está desligada da infabilidade episcopal e nem de toda igreja. Tem vários instrumentos pelos quais o magistério pontifício se comunica: - as Declarações infalíveis; - e as Cartas encíclica. O magistério pontifício tem um poder arbitral último. O que a Santa Sé decidiu esta decidido. Hermenêutica do magistério pastoral Duas ordens de questões relativas às verdades da fé Na apreciação dos atos do magistério, bem como da doutrina da fé, temos que levar em conta duas ordens de questões: 1. a questão do grau de importância de uma verdade; 2. e a questão do grau de certeza dessa verdade. A importância, o que conta é o conteúdo. - As verdades-fim: as relacionadas diretamente ao destino último do ser humano: Trindade, Encarnação, Redenção, Graça, Caridade, Vida Eterna; - E as verdades-meio: as que estão a serviço das primeiras: sacramentos, hierarquia, infalibilidade, direito, etc. A certeza, considera-se uma determinada verdade da fé não mais do ponto do seu conteúdo, mas sim do ponto de vista da autoridade com que é proposto aquele conteúdo. Ao grau de certeza de uma verdade, temos a ver com a complicada questão das "notas teológicas ou da "qualificação teológica" das posições da fé. 1. Verdade da fé: são as testemunhas claramente pela Sagrada Escrituras e as que a igreja declara e de modo infalível. 8
2. Doutrina comum: são as verdades ensinadas de forma autentica na comunidade eclesial. Três níveis de declarações autorizadas: 1) Infalíveis, exigindo "adesão de fé"; 2) Definitivas, exigindo "aceitação firme"; 3) Auxiliares, exigindo "religioso obséquio". Regras de interpretação do magistério pastoral Eis algumas regras: 1. Adotar de entrada uma atividade positiva. Deve-se ir ao magistério não armado com a "presunção de perversidade", mas, ao contrário, com um "preconceito favorável". 2. Identificar o núcleo intencionado. É preciso circunscrever o foco de significação do documento magisterial e a partir daí interpretar tudo o mais. 3. Levar em conta o contexto histórico-cultural geral. Na idéia de contexto estão implicadas coisas como a língua e as concepção culturais do tempo. 4. Situar o ato magisterial na problemática doutrinária do tempo. É obrigado a tomar posição a frente a controvérsias acirradas, assumindo por vezes um estilo condenatório. 5. Evidenciar a intencionalidade "espiritual" e portanto orante. Esse Espírito é, em verdade, o próprio Espírito Santo. 6. Destacar o valor soteriológico e portanto pastoral. É feita para ser vivida pelas pessoas para fazê-las crescer. 7. Situar a doutrina proposta na "hierarquia das verdades". É preciso ver qual é o vínculo que possui tal declaração com as verdades centrais da fé. 8.Ver o grau de autoridade engajada. Preciso também observar o "grau de certeza" que exibe uma doutrina. 9. Interpretar o magistério no sentido da comunhão eclesial. Importa fazer uma leitura que favoreça relações de amor entre os cristãos e não que incite ao ressentimento e à divisão.
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Refer锚ncias
Autor T铆tulo Local Editora Ano
BOFF, Clodovis Teoria do Metodo Teol贸gico Petr贸polis Voses 1998
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