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António Nabo Martins Brexit e confusão
Brexit e confusão
Independentemente de haver, ou não, um acordo da UE com o Reino Unido, as empresas britânicas enfrentarão uma burocracia que ameaça provocar o caos na fronteira com a Europa. Depois que o país deixar a UE, as empresas terão de atuar no meio de uma infinidade de novas regulamentações e procedimentos, que aumentarão os custos. Estando fora do mercado único, as empresas terão de preencher muitos documentos, estar familiarizadas com vários sistemas informáticos, sujeitar-se a verificações aleatórias ao passar a fronteira. Os funcionários aduaneiros ainda não foram suficientemente formados, não se sabe quais informações serão exigidas, bem como as novas regras aplicadas. O caos é previsto por muitos e até o governo britânico disse que pode haver em Kent 7000 camiões presos, a fila atingir os 100 km, e se as empresas não se prepararem - será uma confusão. Para manter as trocas comerciais após o Brexit, o governo inglês publicou um novo Modelo Operacional de Fronteira (Border Operating Model) com 271 páginas, que abrange o comércio de todos os bens transacionáveis e inclui operações e documentos individuais em detalhe. De acordo com os funcionários da alfândega britânica, o custo do trabalho com esta documentação pode ser superior ao valor de pequenos envios. O preenchimento de uma declaração de exportação típica pode exigir mais de 50 anexos com informações sobre o meio de transporte, códigos de mercadorias e seu valor. O setor de logística estima um adicional de 215 milhões de declarações aduaneiras a serem necessárias por ano após o Brexit. Isso aumentará os custos e o tempo. Em 2019, a Grã-Bretanha importou da UE bens no valor de £ 253 bilhões e exportou bens no valor de £ 138 bilhões, sem incluir petróleo e ouro.
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Danuta Kondek Consultora, Formadora, Sócia Gerente da Funktor, Consultoria, Lda. danuta.kondek@gmail.com
Quando as interrupções ocorrerem no início de 2021 e durarem por mais tempo, as empresas do Reino Unido podem ser forçadas a abandonar a complexa cadeia de fornecimento industrial em toda a Europa. A incerteza da previsão dos prazos de entregas e complicações aduaneiras podem incentivar as empresas europeias a procurar novos fornecedores. A Associação de Transporte Rodoviário de Empresas Navais Britânicas avisa também que muitos motoristas europeus simplesmente deixarão de ir a Inglaterra se enfrentarem filas de vários dias. O inquérito feito em setembro entre os transitários britânicos mostra também que 64% das empresas não tem pessoal suficiente para as necessidades alfandegárias adicionais. Uma pesquisa semelhante feita em outubro identificou que 46% dos gestores de cadeias de logística estão menos preparados para o Brexit do que há um ano, devido à pandemia. O setor da logística do Reino Unido está muito fragmentado, com uma grande variedade de transitários, despachantes, pequenos transportadores que trabalham com pequenos importadores e exportadores, e corre perigo em face desta enorme mudança. Enquanto gigantes como DPD, DHL e UPS oferecem uma gama completa de serviços, a maioria dos motoristas independentes não tem experiência nos processos de desalfandegamento e terá de confiar nos seus clientes ou despachantes. É de referir que são os motoristas que terão de pagar diretamente a multa de £ 300 por não terem os documentos adequados das mercadorias quando chegarem à fronteira. O maior risco do Brexit é o de não se saber quem é responsável pelo quê nas várias partes da cadeia de abastecimento. Sabendo que qualquer atraso na fronteira é uma perda para todos, alguns transportadores contratam despachantes e registam o transporte de mercadorias separadamente em vários países da UE para o encurtar, o que implica contatos com várias entidades e origina esperas de meses. O tempo passa, as tensões aumentam, empresas e governo ingleses acusam-se mutuamente de falta de preparação. O governo anunciou em sua defesa que gastou £ 84 milhões em formação de novos funcionários alfandegários, reduziu as exigências de documentos nas importações, designou 10 centros de desalfandegamentos possíveis e desenvolveu um manual para os transitários. Se os camiões não passarem a fronteira, isso será imediatamente sentido na região de Kent, com os portos de Dover e Folkestone, por onde passam cerca de 10.000 veículos por dia. Em Sevington/ Ashford está a ser construído, numa área de 93 hectares, o Inland Border Facility para 1.700 camiões, cuja utilização o governo prevê para cinco anos. Kent, que sempre foi conhecido como o Jardim da Inglaterra, está a transformar-se rapidamente num parque de estacionamento de camiões. https://inlandborderfacilities.uk/?page_id=61