Viagem à Terra Santa do Papa Francisco

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ANO LX | MAIO 2014 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

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VIAGEM À TERRA SANTA

PAPA FRANCISCO RENOVA APELO À PAZ NO MÉDIO ORIENTE

EUROPA DÁ AS MÃOS A PAÍSES AFRICANOS Pág. 13 ECOLOGIA NA VISÃO DOS POVOS INDÍGENAS Pág. 14 IGREJA PROCURA AJUDA Pág. 16 PARA OS PRESOS


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial

DEUS NÃO ESTÁ EM CRISE A realidade é dura e crua. Os últimos números da Igreja Católica no nosso país confirmam a quebra progressiva do número de ordenações sacerdotais em Portugal. Os padres são cada vez menos, são cada vez mais idosos e acumulam cada vez mais paróquias. No resto da Europa, a situação não é melhor. Mas é curioso notar que, de acordo com as estatísticas, o número global de sacerdotes diocesanos no mundo tem aumentado, atingindo agora o número de 277.009. Há uma drástica diminuição na Europa e na América, mas tem-se registado um aumento significativo na África, na Ásia e na Oceania. O mesmo se diga dos sacerdotes pertencentes a institutos religiosos, que são 135.227. Embora haja anualmente cerca de três mil candidatos que abandonam a vida consagrada, o número global de religiosos e religiosas no mundo tem aumentado significativamente, graças também à Missão que abre sempre novas fronteiras.

na terra boa do povo fiel e na experiência do amor fraterno”, diz o Papa Francisco na sua mensagem para este dia. As crises, que a todos os níveis estamos a viver, podem ser geradoras de novas oportunidades. Sublinho o que recentemente afirmou o bispo António Couto: “Nunca haverá falta de padres; pode haver falta de amor, de dedicação, de generosidade, agora falta de padres nunca haverá”. Deus não está em crise. A Igreja há de encontrar a forma de dar a volta por cima. Através de novas formas de vida pastoral, redesenhando os ministérios ordenados, confiando mais tarefas aos leigos ou até incutindo nos padres um novo ardor missionário. Está tudo em aberto. Que haja desânimo em muita gente ou que não se descubra facilmente a chave para resolver o problema, não significa que Deus não encontre caminhos para falar ao coração dos seus filhos. Os seus caminhos não são necessariamente os nossos. E os seus caminhos são sempre de esperança e de confiança. DARCI VILARINHO

Vem isto a propósito do dia mundial de oração pelas vocações de especial consagração que ocorre a 11 de maio, domingo do Bom Pastor. Ninguém se pode alhear deste problema. A capacidade de cultivar as vocações é sinal da vitalidade das nossas comunidades cristãs, seus grupos e famílias. É a Igreja local, sobretudo, que deve tornar-se sensível e atenta à pastoral vocacional, e propor aos jovens e menos jovens este caminho de serviço ao homem do nosso tempo. “A vocação é um fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor aos outros que se faz serviço recíproco, no contexto duma vida eclesial autêntica. Nenhuma vocação nasce por si, nem vive para si. A vocação brota do coração de Deus e germina Maio 2014

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº5 Ano LX – MAIO 2014 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 25.100 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pacheco – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa Lusa Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

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18 O QUARTO PAPA NA TERRA SANTA 03 EDITORIAL Deus não está em crise 05 PONTO DE VISTA Saudades da troika 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES A homenagem do senhor Jaime 08 MUNDO MISSIONÁRIO

Na Colômbia Escolas de Perdão e Reconciliação tiram jovens do crime No Paquistão só um quarto das mães amamenta os seus bebés Apelo africano à União Europeia contra a corrupção Ministros africanos denunciam na Nigéria comércio ilícito 10 A MISSÃO HOJE Encontro europeu cativa jovens portugueses 11 PALAVRA DE COLABORADOR Acredita nos valores humanos 12 A MISSÃO HOJE Jovens vivem Páscoa longe da internet 13 DESTAQUE A viragem da cooperação com África 14 ATUALIDADE “Dalai Lama” da floresta dá lições de ecologia em Portugal 16 ATUALIDADE Um recluso abandonado “sofre a dobrar” 22 GENTE NOVA EM MISSÃO O poder da gentileza 24 TEMPO JOVEM Priorizar as relaçãos humanas 26 SEMENTES DO REINO A missão começa 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Lutar para vencer 32 OUTROS SABERES O saber não ocupa lugar 33 2014 ANO ALLAMANO Os discípulos tornam-se mestres 34 FÁTIMA INFORMA Basílica encerra para obras


ponto de vista

SAUDADES DA TROIKA texto JOÃO CÉSAR DAS NEVES

Conforme previsto, o programa de ajustamento financeiro acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a União Europeia (UE) em maio de 2011 vai ser cumprido e chegar ao fim em meados deste ano. Que podem os portugueses esperar depois da saída da troika? O que a saída significa é que os 78 mil milhões de euros que os parceiros têm vindo a emprestar ao Estado nestes três anos chegam ao fim. A partir de junho as contas públicas regressam ao normal. Como continuam deficitárias, é preciso convencer os mercados a substituírem os países amigos e emprestarem-nos o dinheiro para saldar as contas. Os mercados são, simplesmente, pessoas como nós, que poupam e querem aplicar o seu aforro em empréstimos credíveis. Há três anos foi a suspeita que o governo português não seria capaz de honrar os seus compromissos, e iria cortar nos juros que paga, que fechou os mercados e nos precipitou na crise. Hoje, como então, a questão é de credibilidade.

correções. Em 2010 o défice foi de 10 por cento do produto; no ano passado ficou abaixo dos cinco por cento. Todos vimos os terríveis cortes de despesa e subidas de impostos. Mas cinco por cento é ainda elevado para uma situação sustentável. Nos protocolos europeus o défice orçamental nunca devia subir acima de três por cento. Consequentemente, aquilo que espera os portugueses após a saída da troika é mais austeridade, para continuar a ajustar. Aliás agora com ainda mais urgência, porque acabaram os empréstimos dos parceiros que serviam para nos isolar das consequências dos mercados. É verdade que tivemos medidas duras, impostas pelas condições dos empréstimos e pela vigilância da troika. Mas isso era muito mais benevolente que a impiedade dos credores, que sendo famílias como nós, não se podem dar ao luxo de colocar as suas poupanças em devedores duvidosos. Por isso, se a partir de junho houver qualquer deslize nas contas, ele será punido imediatamente, com um encerramento dos mercados e secagem do crédito. Ainda vamos ter saudades da troika.

Outra maneira de ver o mesmo é olhar para o que aconteceu às Será que os aforradores portugueses famílias e empresas portuguesas nestes três anos. Os portugueses e estrangeiros vão acreditar que o Estado português consegue pagar os também estavam endividados, e juros a que se obrigou? Essa é a grande também deixaram de ter acesso ao crédito. Só que as pessoas e dúvida, e por isso muitos falam em empresas não tiveram ajuda de manter mecanismos de ajuda (o famoso “programa cautelar”), que amigos e por isso houve que mudar de vida, apertar o cinto, encontrar deem garantias aos emprestadores soluções. Além disso, esses mesmos que, se for preciso, Portugal tem cidadãos pagaram os apertos do apoio oficial dos parceiros. Estado, com mais impostos, menos A dificuldade é política, pois os outros países não têm facilidade em salários, mais desemprego. Esse foi o sofrimento dos últimos anos. nos dispensar tal dinheiro. Mas se A partir de junho o Estado ficará nós, a partir de junho, sairmos para numa posição semelhante à nossa, os mercados e regressar a dúvida sendo obrigado a ser credível e generalizada sobre as finanças equilibrado, senão fica sem nada, públicas portuguesas, voltamos como aconteceu a tanta gente. atrás e recomeça tudo de novo. Que garantias há que as coisas corram bem? Foram feitas grandes Maio 2014

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leitores atentos

RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2014. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto Caros missionários, Envio cheque para as atividades da congregação, depois de retirado o valor da renovação da minha assinatura. Gostaria, se fosse possível, que o pequeno Yéo Issa cujo drama foi divulgado na nossa revista de fevereiro fosse beneficiado. Ele ou alguma criança da Costa do Marfim, no caso de já se ter alcançado a quantia necessária para a cirurgia do Yéo. Maria Amélia Costa – Alfragide

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Em prol da humanidade

As Irmãs Clarissas do Mosteiro de Santa Clara de Monte Real enviam uma pequena ajuda para continuarem o vosso precioso trabalho na divulgação da Boa Nova do Reino, através da boa literatura que procuram transmitir aos homens de hoje. Que o Senhor vos recompense pelo esforço que fazem em prol da humanidade. Irmãs Clarissas

Uma grande obra

Cumprimento toda a equipa que faz parte desta grande obra da FÁTIMA MISSIONÁRIA. Para mim é uma obra importante pelo conteúdo que ela apresenta, e pela maneira como está organizada, desde as primeiras às últimas páginas. Que Deus abençoe todos os missionários, em especial os que trabalham na bela revista. Maria Rosa

Dar-se sem reservas

crise em que mergulhámos deixa-nos com o grave problema de os nossos filhos voltarem a precisar de nós, pais e avós. Sou de uma família humilde, mas muito trabalhadora, onde, graças a Deus, houve sempre educação, pão e amor, muito amor. Maria Encarnação

Por graça recebida

Desejo agradecer uma graça recebida por intercessão do beato José Allamano. Gostaria, se possível, que fosse publicada na FÁTIMA MISSIONÁRIA, uma rica revista que se ocupa da missão da Igreja no mundo e está aberta a tudo o que de bom se faz a favor do ser humano. Vejo que está também aberta ao que outras congregações realizam. O exemplo, por pequeno que seja, é o espaço que dá na agenda daquilo que mensalmente é feito em Fátima por outras congregações. Parabéns! Maria de Lurdes

Desejo que este ano seja para todo o mundo de esperança e de solidariedade. Admiro-vos tanto porque, para que isto seja possível, vos dais sem reservas e sem medo aos que mais precisam. Como gostaria também eu de ser assim. E gostaria de contribuir mais, mas a

Obrigado, Amélia Costa, pelo seu precioso contributo. Ainda não se conseguiram atingir totalmente os objetivos desta campanha a favor do Yéo. Por isso são sempre bem vindos todos os apoios em vista da cirurgia que podem eventualmente servir para apoiar outras crianças da Costa do Marfim, em situação precária. A campanha é vasta, mas a nossa esperança é ainda maior. Os pais de Yéo investiram todas as suas economias nos tratamentos da grave lesão do seu filho cujos problemas de mobilidade se têm agravado com o crescimento. Uma jovem médica

e um fotógrafo, tocados pela situação, desencadearam esta corrente solidária que certamente irá beneficiar esta e outras crianças. Assim esperamos. Bem haja!

DV


horizontes

A HOMENAGEM DO SENHOR JAIME texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI Era a cerimónia de abertura das conferências sobre o alcoolismo. Na mesa de honra, altas personalidades da Saúde, da Educação e um senhor que tinha de escolaridade a 4ª classe, feita há seis décadas, quando tinha 12 anos. Quem o conhecia, não estranhava vê-lo na mesa de honra. Era “o Jaime!”. Após os discursos das várias entidades, é anunciado um momento-surpresa. Ouve-se: – “Senhor Jaime, pedia-lhe que se levantasse”. O homem, com o seu ar doce de “avôzinho”, surpreso e atrapalhado, levantou-se e aguardou. Ao microfone, o organizador do evento continuava: – “É com muita honra que hoje

temos o prazer de o homenagear pelo valioso contributo que, ao longo de 35 anos oferece às pessoas que sofrem de alcoolismo e às suas famílias…” Entre cumprimentos foi-lhe entregue uma estatueta simbólica. Palmas, palmas, palmas, era a manifestação da assembleia entusiasmada, em consonância com o reconhecimento que lhe era feito pela sua vida e pelo trabalho realizado. Foi a vez do homenageado falar. Com expressão serena e sorridente, como é seu jeito habitual, partilhou o seu sentir: – “Meus amigos, aceito com humildade a referência ao trabalho que, com tantos outros amigos, tenho tido o prazer de realizar.

Tudo o que fizemos, foi feito com amor. Não tem sido um trabalho, tem sido um prazer. Como alguns saberão, fui um grande consumidor de álcool. Perdi tudo: família, amigos, trabalho, até a minha identidade. Nesse tempo, era como se não existisse. Mas o amor reabilitou-me. O amor e a fé. Quando sentia que nada valia, fui amado. Cuidaram de mim quando eu próprio me rejeitava. Senti que foi Deus que me acolheu e que me convidou a trabalhar num projeto novo: ir ao encontro de quem sofre com o problema do álcool. A todos os que aceitam o meu trabalho, o meu muito obrigado! Tenho crescido muito com todos. Por causa dos que me aceitam, hoje sou uma pessoa melhor. Quando entro em casa de alguém, o que pretendo levar não é só uma proposta de tratamento. É uma proposta de amor que lhes apresento, onde o tratamento é uma das partes. Uma pessoa que se sente destruída é uma pessoa a precisar de amor e de acreditar que não foi esquecida; que existe alguém que a ama e lhe dá condições para vencer o que a derruba. Eu sou só um mensageiro desse convite. Todos os dias, Maria ajuda-me a dizer ‘sim’ a este projeto. Como poderia eu não me envolver? Muito obrigado a todos pelo vosso carinho!” Com aquele sorriso terno, Jaime inclinou-se num agradecimento quase envergonhado. Regressou à mesa mas não pôde sentar-se porque a assembleia, de pé, aclamava agradecida a este homem humilde e grandioso que falava do amor, da fé, do valor de quem está caído, da esperança que o encontro faz renascer e da realização sentida quando nos atrevemos a dizer “sim” a um projeto onde Deus e Maria nos tomam como parceiros.

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

NA COLÔMBIA ESCOLAS DE PERDÃO E RECONCILIAÇÃO TIRAM JOVENS DO CRIME

NO PAQUISTÃO SÓ UM QUARTO DAS MÃES AMAMENTA OS SEUS BEBÉS

São jovens da cidade colombiana de Medellin que correm o risco de entrar em grupos armados ilegais ou de serem apanhados pela guerra entre “bandos armados”. Cerca de uma centena entraram no movimento chamado “Escolas de Perdão e Reconciliação” (ESPERE). Aí apostam na elaboração do próprio “projeto de vida sem violência”, procurando “superar os eventos dolorosos e traumáticos que fazem parte da sua experiência”. Fundadas pelo missionário da Consolata Leonel Narvaez, as ESPERE integram a estratégia “Paz para Todos”, proposta pelo arcebispo de Medellin, Antonio Restrepo. A Igreja pretende gerar à volta das paróquias um movimento a favor do respeito pela vida e, ao mesmo tempo, conseguir alcançar a paz para o país. Na diocese de Medellin, cerca de 20 mil jovens correm o risco de cair na criminalidade.

Desnutrição, pobreza e ignorância destroem a saúde e impedem as mulheres de amamentar os seus filhos. A grave seca que atingiu o país levou a que o número de mães nesta situação aumentasse ainda mais. Uma vez grávida, o seu estado de desnutrição é tal que as crianças nascem com peso reduzido e as mães não conseguem dar-lhes uma dieta adequada. Infelizmente nas zonas rurais mais pobres a população está desnutrida e mal alimentada. Muitas mulheres encontram-se anémicas e debilitadas, não tendo condições para amamentar. Quando o fazem, correm o risco de agravar as suas condições de saúde e as da própria criança. A maioria das mulheres do Paquistão só come depois de dar de comer aos membros da família, não obstante sejam elas a trabalhar nos campos, enquanto os homens estão sentados a fumar o narghilè, o cachimbo de água.

Dois Papas nos altares

Escrevo estas linhas pouco antes de 27 de abril, data da canonização dos Papas João XXIII e João Paulo II, acontecimento este que vai encher Roma de entusiasmo e de visitantes. Mais de três milhões de peregrinos são aqui esperados nesse dia. Não me detenho porém em estatísticas e nas exterioridades já bem conhecidas pelo leitor através da comunicação social.

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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Venho só partilhar convosco a minha alegria por poder estar presente em vosso nome nesta celebração e recordar-vos quão grande foi a graça que Jesus concedeu à sua Igreja com a vida e ação destes santos


APELO AFRICANO À UNIÃO EUROPEIA CONTRA A CORRUPÇÃO

MINISTROS AFRICANOS DENUNCIAM NA NIGÉRIA COMÉRCIO ILÍCITO

De uma recente reunião dos bispos africanos, saiu um apelo para que a União Europeia (UE) “adote políticas coerentes com o desenvolvimento de África e os líderes africanos considerem prioritária a erradicação da pobreza”. Recordando que a África é rica em recursos naturais, os bispos afirmam que um dos piores males que aflige o continente é a corrupção; “Um cancro que atinge todos os países” e mina todos os setores da economia e da administração pública. Os bispos pedem à UE que apoie o bom governo em África, adotando políticas coerentes, tais como exigir maior transparência às empresas europeias que operam em África, acabar com os paraísos fiscais e encorajar os africanos à honestidade nas transações económicas.

Droga, armas, contrabando, tráfego de seres humanos geram fluxos financeiros ilícitos colossais em toda a África. A isto soma-se a corrupção de dirigentes e a fuga aos impostos. A economia ilícita atinge mais de 50 mil milhões de dólares. Da reunião dos ministros africanos da Economia e Finanças, em Abuja, Nigéria, saiu um relatório onde se pode ler: “Os fluxos financeiros ilícitos têm consequências sérias para o desenvolvimento da África, sendo a mais importante a perda de recursos que poderiam ser utilizados para financiar os serviços públicos, infraestruturas, instrução e saúde”. A luta eficaz para reduzir os fluxos financeiros ilícitos provenientes de África “exige um empenho político e uma liderança forte tanto em África como no resto do mundo”, refere o documento. Como acusaram recentemente os bispos da África do Sul, “a corrupção é um furto aos pobres”.

pontífices. Eleito para a cátedra de São Pedro aos 77 anos de idade, João XXIII foi por muitos recebido como um Papa de transição, mas nos curtos cinco anos do seu pontificado convocou e guiou o Concílio Ecuménico Vaticano II e deu novo impulso à Igreja do século XX. Por outro lado, João Paulo II, o Papa polaco, apressou o fim da hegemonia comunista no leste europeu e introduziu a Igreja no terceiro milénio. Honramos agora nos altares a santidade destes dois homens de Deus que continuam a ser luz para os nossos caminhos. A sua intercessão nos conceda paz e bênçãos.

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a missão hoje

ENCONTRO EUROPEU CATIVA JOVENS PORTUGUESES A possibilidade de “poder tocar” os lugares onde viveu o beato José Allamano, um “jovem que não teve medo de sonhar”, e a oportunidade de “saborear” o “entusiasmo que representa Taizé” estão a despertar o interesse dos portugueses para o Encontro Europeu de Jovens texto JULIANA BATISTA foto DR No próximo verão, Turim (Itália) e Taizé (França) vão ser palco do Encontro Europeu de Jovens, organizado pelos Missionários da Consolata, entre 19 e 27 de agosto. A poucos meses da partida, duas das participantes, Cláudia Duarte, recém-licenciada em Química, e Marta Santos, cardiopneumologista, ambas com 22 anos, estão entusiasmadas com a possibilidade de conhecer novas pessoas e culturas. Neste encontro, os cerca de 60 jovens portugueses vão encontrar-se com espanhóis, polacos e italianos. Juntos vão realizar uma caminhada de Turim a Castel Nuovo Dom Bosco, visitar o Santuário da Consolata e conhecer o trabalho realizado pelas comunidades vizinhas. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA,

Cláudia Duarte disse estar “muito curiosa para conhecer Turim”. A jovem vai estar em Itália pela primeira vez e admite que a visita ao Santuário da Consolata é o que mais a atrai. Por sua vez, Marta Santos vê a sua participação nesta atividade como uma ocasião para conhecer as “origens” do Instituto Missionário da Consolata, “partilhar e

O Encontro Europeu de Jovens decorre no âmbito do Allamano Way (Caminho do Allamano), uma iniciativa dos Missionários e Missionárias da Consolata para assinalar o Ano Allamaniano

Cláudia Duarte (esq.) e Marta Santos estão ansiosas por participar no encontro em Itália

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palavra de colaborador No próximo verão, Turim (Itália) e Taizé (França) vão ser palco do Encontro Europeu de Jovens, organizado pelos Missionários da Consolata, entre 19 e 27 de agosto. A poucos meses da partida, duas das participantes, Cláudia Duarte, recém-licenciada em Química, e Marta Santos, cardiopneumologista, ambas com 22 anos estão entusiasmadas com a possibilidade de conhecer novas pessoas e culturas receber o fogo missionário de outros jovens de culturas diferentes”. Além disso, a oportunidade de “conhecer um novo país” e ter uma “experiência de interculturalidade” também cativam a jovem. Segundo João Batista, missionário responsável pela animação juvenil da Consolata em Portugal, o encontro é aberto a “todos” os jovens, que vão “poder tocar e sentir de perto os lugares onde” viveu o beato José Allamano, fundador dos Missionários e das Missionárias da Consolata. “Allamano foi um jovem que não teve medo de sonhar. Apesar de ter tido alguns problemas de saúde, nunca desistiu. Mesmo sem poder ir à missão, ele viveu-a intensamente no coração e na vida”, recordou o sacerdote. A Comunidade de Taizé, em França, é outro dos locais que os jovens irão visitar, para saborearem “de perto o carisma e o entusiasmo” que se vive naquele espaço. “Taizé é um centro de convergência e de espiritualidade, que através da oração tem presente os valores da inculturação e do ecumenismo. Os jovens saem de lá contagiados pela maneira de rezar e de partilhar a vida”, explicou João Batista. O Encontro Europeu de Jovens decorre no âmbito do Allamano Way (Caminho do Allamano), uma iniciativa dos Missionários e Missionárias da Consolata para assinalar o Ano Allamaniano, iniciado a 7 de outubro de 2013 e que se concluirá em outubro deste ano.

ACREDITA NOS VALORES HUMANOS

texto DARCI VILARINHO

“Procuro responder positivamente aos apelos que me são feitos da parte da Igreja ou da sociedade civil”, é assim que este nosso colaborador, Virgílio Gordo, se apresenta. Natural do Ulmeiro, Santa Catarina da Serra, Leiria, casado e pai de dois filhos, este homem cheio de iniciativas, que também já emigrou, está neste momento, como tanta gente, à procura de trabalho, sobretudo no ramo da sua especialidade, a geotecnia ou controle de qualidade dos solos, na construção civil. Acredita nos valores da justiça social, da solidariedade e do trabalho, que adquiriu ao longo da vida. Tem orgulho em se apresentar como antigo seminarista da Consolata e é também nessa condição que colabora na cobrança das assinaturas da FÁTIMA MISSIONÁRIA. Desde jovem esteve ligado ao associativismo. Nunca se fechando em si próprio, mas “sempre em contacto com a juventude, na catequese, no treino de futebol e depois como presidente da associação dos bombeiros”, responde deste modo às necessidades de quem precisa de apoio. E é inegável a cooperação que presta à nossa revista.

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a missão hoje

JOVENS VIVEM PÁSCOA LONGE DA INTERNET Durante quatro dias, mais de duas dezenas de jovens viveram “profundamente o sentido da Páscoa”. Deixaram de lado os aparelhos eletrónicos para dar prioridade ao aperfeiçoamento das relações humanas texto e foto JULIANA BATISTA Vinte e três jovens, entre os 13 e os 22 anos, participaram na Páscoa Jovem Missionária, em Tornada, Caldas da Rainha. A iniciativa, dos Missionários da Consolata, é desenvolvida anualmente para que os jovens possam viver “profundamente o sentido da Páscoa”, explicou João Batista, responsável pela animação juvenil da Consolata em Portugal. De 17 a 20 de abril, os participantes, oriundos de Lisboa, Figueira da Foz e Caldas da Rainha, partilharam o mesmo espaço, receios e esperanças. Reduziram o acesso às redes sociais, à televisão e ao telemóvel e criaram amizades que acreditam manter para vida.

O afastamento dos equipamentos eletrónicos agradou a todos. Raquel Martins, de 21 anos, é exemplo disso. “Achei ótimo viver assim. Serviu para tirar o stress e viver para os outros. Somos muito dependentes dos objetos e, desta forma, tivemos de lidar mais com as pessoas”, disse a estudante de Psicologia, que escolheu o curso a pensar na “ajuda aos outros”. Natural de Braga, mas a estudar em Lisboa, Raquel Martins faz parte dos Jovens Missionários da Consolata e “gostava de ir em missão um dia”, um desejo que também é partilhado por Pedro Cabral, de 17 anos. “Gostava de ir em missão para conhecer a perspetiva de quem não tem nada e precisa de nós. Gostava

Jovens abdicaram dos telemóveis e da internet durante tríduo pascal em Caldas da Rainha

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de conhecer o outro lado e de ajudar os outros”, afirmou o estudante. Do programa fizeram parte momentos de oração, reflexão e partilha. Uma via-sacra de sete quilómetros uniu as comunidades locais e o jogo do amigo secreto suscitou o interesse e curiosidade dos mais novos. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, Pedro Jordão, de 18 anos, falou sobre as amizades que construiu. “Conheci estas pessoas nesta ocasião, mas parecia que já as conhecia há anos. Temos os mesmos ideais”, contou. João Batista acredita que os jovens saem “mesmo modificados” desta experiência e, por isso, defende que é fundamental “continuar a apostar neste tipo de projetos”. O sacerdote considera que é necessário pensar em formas de “trabalhar” com a juventude e entender quais são os seus “desejos e anseios”. Além disso, acrescentou, é ainda importante “não ter medo de sonhar, de trabalhar e de estar” com os mais novos.


destaque

IV CIMEIRA EU-ÁFRICA

A VIRAGEM DA COOPERAÇÃO COM ÁFRICA texto CARLOS CAMPONEZ foto ANA PAULA

A IV Cimeira União Europeia-África, realizada nos passados dias 2 e 3 de abril, em Bruxelas, valeu sobretudo por representar um marco na viragem das relações entre os países dos dois continentes. Depois da euforia surgida da cimeira de Lisboa, em 2007, muita coisa mudou nas relações entre a Europa e a África e, decorridos sete anos, Bruxelas terá de correr se não quiser ver o seu papel na cooperação com o continente africano relegado para segundo plano. A Europa continua a ser um dos principais contribuintes para a cooperação em África, em áreas como a formação, a saúde, a energia, o combate aos efeitos das alterações climáticas e no domínio dos direitos humanos e da democratização.

Novas realidades

Porém, nos últimos anos, alguns dados mudaram significativamente. Apesar de África continuar a ser vista como o continente das desgraças, muitas coisas têm mudado por detrás das páginas dos jornais, que raramente refletem as transformações lentas do continente. Ao contrário do que aconteceu na Europa, nos últimos anos, África registou um crescimento médio do seu Produto Interno Bruto (PIB) em 5,2 por cento ao ano, entre 2000 e 2011.

Apesar de África continuar a ser vista como o continente das desgraças, muitas coisas têm mudado por detrás das páginas dos jornais, que raramente refletem as transformações lentas do continente Sem esquecermos as desigualdades existentes entre países, segundo dados de 2012, das dez economias mundiais em maior crescimento no mundo, oito eram africanas. Calcula-se que, em 2040 o continente venha a ser o que terá maior mão de obra disponível. E ainda que a Europa continue a ser um espaço de emigração, hoje o fluxo migratório faz-se cada vez mais nos dois sentidos. A crise económica europeia dos últimos anos fez com que muitos europeus procurassem aquele continente.

Novos atores

Para além disso, a Europa confronta-se cada vez mais com outros países interessados em estabelecer relações com África: China, Índia, Coreia do Sul, Turquia, Japão, Brasil, Rússia, Taiwan e Estados Unidos da América. Mas a natureza da cooperação está a alterar-se. O pressuposto de que a cooperação se deve realizar tendo por base valores políticos, sociais e económicos está a dar lugar – para o melhor e

para o pior – a projetos centrados essencialmente em interesses comuns, onde as vantagens económicas entre as partes envolvidas assumem uma maior preponderância relativamente às antigas ligações que uniam os povos dos dois continentes. Este aspeto está já patente na empresarialização crescente das relações de cooperação, envolvendo cada vez mais interesses privados, em detrimento de organizações de desenvolvimento mais ou menos desinteressadas. Aquilo que tradicionalmente se denomina por “cooperação europeia” está também a ficar cada vez mais espartilhada pelos interesses dos 28 países que a compõem, a exemplo do que parece acontecer com o próprio projeto comum da União Europeia. A Alemanha, a exemplo do que acontece com o seu posicionamento na Europa, quer também assumir um papel preponderante nas relações com África, uma posição que era ocupada em especial pela França. Num passado recente, a Europa tem defendido o desenvolvimento de parcerias em situação de igualdade com África. Por razões que, algumas das quais, escaparão à vontade de Bruxelas, esse momento está a chegar.

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atualidade

“DALAI LAMA” DA FLORESTA DÁ LIÇÕES DE ECOLOGIA EM PORTUGAL

O líder do povo indígena yanomami já foi convidado a discursar na sede das Nações Unidas

Davi Kopenawa, o líder indígena brasileiro mais respeitado a nível internacional, vai estar em território nacional, entre 13 e 17 de maio, para falar de ecologia e espiritualidade. Tem conferências marcadas para Lisboa, Vila Real, Braga, Porto e Fátima. A FÁTIMA MISSIONÁRIA antecipa algumas das suas reflexões, baseadas na história das suas origens: o povo yanomami

respeito pela terra. Nós, yanomami, sabemos cuidar dela. Somos diferentes.

texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA

DK Antes era muito bom, não tínhamos problemas, vivíamos bem. Mas nos últimos anos temos sentido dificuldades. Há muitos invasores e os políticos falam muito sobre a terra, mas para a destruir. O homem branco continua a mexer com o meu povo, deixando-nos tristes e preocupados. A situação está cada vez pior. É assim que nos sentimos.

FÁTIMA MISSIONÁRIA Que mensagem pretende deixar aos portugueses através da visão do mundo a partir do olhar do povo yanomami? Davi Kopenawa O que tenho a dizer é muito importante, não só para os índios ou para os portugueses, mas para todos. A espiritualidade é das montanhas, das serras, da floresta; aí vivem espíritos que o meu povo conhece há muito tempo e que chama para cuidar da saúde. É 14

assim que eu entendo e o que posso explicar. O espírito ajuda a curar, a espantar maldades. Ajuda a curar uma pessoa e também o mundo, quando está querendo deitar lágrimas. Quando chove muito, nós, pajés [curandeiros], chamamos o espírito da montanha, para que ele possa acalmar o mundo. Isso acontece quando o mundo está revoltado com a ameaça e a destruição. O que nós conhecemos é muito importante para que as pessoas possam entender e ter

FM Como está a situação das comunidades que habitam na floresta?

FM Os povos indígenas do Brasil continuam a enfrentar muitos problemas? DK A situação dos povos indígenas continua muito difícil e não se sabe


como se vai resolver. A sociedade e as cidades estão a crescer. E nós, yanomami, sentimos muita dificuldade, principalmente na saúde. Os outros povos têm o mesmo problema, e muitos não têm a sua terra demarcada. A Presidente Dilma não está melhorando a nossa terra, ela não quer demarcar a terra dos nossos parentes, e os deputados e senadores também não. Falo a verdade, acho que a Presidente não está respeitando. Quer explorar a riqueza da terra, tirar madeira para negociar com outros países. Está querendo espalhar barragens e colocar hidroelétricas para iluminar as grandes cidades e colocar ar condicionado. Faz isso para que o povo goste dela, mas o que o povo quer ela não está apoiando. FM Reclamam então mais apoio do governo?

A situação dos povos indígenas continua muito difícil e não se sabe como se vai resolver. A sociedade e as cidades estão a crescer. E nós, yanomami, sentimos muita dificuldade, principalmente na saúde

Perfil Davi Kopenawa Yanomami tem

perto de 60 anos (estimativa). Vive na região da Serra do Demini, onde nasceu, no estado de Roraima (Brasil), perto da fronteira com a Venezuela. Viu morrerem pai, avós, tios e praticamente toda a família de doenças contraídas após o

DK O governo tem o dever de cuidar de nós e de defender a terra. Tem o dever de cuidar do povo da floresta e do povo da cidade, dos rios, da selva, do peixe, da caça e da saúde, mas não está querendo isso. Só quer multiplicar e manipular-nos. O homem que tem dinheiro não está feliz e sempre fica preocupado. Continua maltratando e não nos deixa contentes, como antigamente. Não respeita o povo indígena, nem a Constituição Federal nem a Convenção da Organização

contacto com não indígenas. Foi o principal responsável pela demarcação da terra yanomami, que ocupa uma área maior do que Portugal e foi oficializada por Fernando Collor de Melo, em 1992. Já discursou nas Nações Unidas e em vários fóruns internacionais. Em 1988, recebeu o prémio Global 500 Award da ONU e no ano

Internacional do Trabalho sobre os direitos dos povos indígenas e tribais [OIT 169], assinada em 1989. FM Em finais do ano passado, lançou o livro ‘A Queda do Céu’, o primeiro a ser escrito por um índio yanomami. Qual tem sido a reação dos leitores? DK Estou sentindo que as pessoas têm curiosidade, estão lendo meu próprio conhecimento e minha própria palavra, a do povo yanomami. Essa história é muito antiga, mas o homem branco nunca a escutou. Esse livro que foi lançado na cidade está ensinando como o homem da floresta cuida do meio ambiente, de todo o universo do nosso planeta. Isso é muito importante para o homem, para a mulher, moça, estudante e criança: ler e pensar, para fazer respeitar nossa natureza e nosso povo indígena. Quis mostrar como sou, dar a conhecer o nosso mundo – como surgiu a terra, o conhecimento, a sabedoria. Agora saiu no papel para que o homem branco que nunca escutou possa ler um pensamento diferente.

seguinte foi distinguido com o Right Livelihood Award, considerado o prémio Nobel alternativo. O seu empenho na luta pela defesa do meio ambiente e dos povos indígenas valeu-lhe a alcunha de “Dalai Lama” da floresta.

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atualidade

UM RECLUSO ABANDONADO “SOFRE A DOBRAR” Pastoral Penitenciária organiza o primeiro congresso ibérico, em Fátima, para “despertar consciências”. O grande objetivo do encontro é sensibilizar a sociedade para a necessidade de contribuir para a dignidade da pessoa em reclusão texto FRANCISCO PEDRO foto LUSA Os muros altos que normalmente envolvem as prisões têm uma função primordial: impedir as tentativas de fuga. Mas por arrasto, tornam-se também numa espécie de fronteira entre o mundo prisional e a comunidade civil. A sociedade alimenta com facilidade a sede de vingança contra quem comete crimes e deseja, com frequência, que um condenado se mantenha em reclusão o maior número de dias possível, de preferência em condições severas e penalizadoras. Felizmente,

para quem passa pela privação temporária da liberdade, nem todos pensam e agem assim. Sob a batuta da Pastoral Penitenciária, um organismo criado pela Igreja Católica, há centenas de pessoas que disponibilizam parte do seu tempo para levar algum conforto aos reclusos e apoiar os assistentes religiosos, que antes eram conhecidos por capelães prisionais. O caminho desenvolvido até agora tem-se traduzido numa procura cada vez maior de apoio espiritual

O sacerdote [João Gonçalves] implora ainda à sociedade em geral que não corte o vínculo com os parentes em reclusão, sobretudo os mais idosos, porque se a prisão já é um castigo para quem é condenado, o facto do recluso se sentir abandonado faz com que “sofra a dobrar”

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dentro das cadeias, mas há ainda um longo caminho a percorrer. Para evitar desvios ou atalhos desnecessários, nada melhor do que aprender com os melhores. É neste contexto que surge a realização do 1º Congresso Ibérico da Pastoral Penitenciária, que irá juntar em Fátima, entre 1 e 4 de maio, vários especialistas de Portugal, Espanha, Andorra e Gibraltar. Objetivamente, pretende-se dar a conhecer o modelo de teologia pastoral penitenciária praticado em Espanha, considerado um dos mais evoluídos do mundo. Mas a par da troca de informações entre peritos, há também uma enorme vontade de “despertar consciências na sociedade para reduzir as causas e as consequências da prisão de pessoas, prevenir a criminalidade e ajudar no campo da reinserção social”, explica o padre João Gonçalves, coordenador nacional da Pastoral Penitenciária. Segundo o sacerdote, “de um modo geral, a sociedade mantém


um natural afastamento das cadeias, e adota uma atitude muito vingativa em relação à pessoa que comete crimes”. Ou seja, deseja frequentemente que um condenado passe “muito tempo na prisão, e da pior forma”. A visão de quem trabalha na Pastoral Penitenciária é precisamente a oposta: “Procuramos criar condições que tornem a vida dos reclusos mais humana e que a sociedade em geral esteja atenta às pessoas que saem das cadeias e as acolham”, adianta João Gonçalves. O problema está em atingir o grau de mobilização necessário para responder a um número cada vez maior de reclusos, desfazer “as confusões ainda por esclarecer” em torno da lei que regulamenta a assistência religiosa nos estabelecimentos prisionais (publicada em 2009) e operacionalizar as novas normas em matéria de voluntariado em ambiente prisional. Enquanto se procura a conjugação de esforços

Estatísticas Os estabelecimentos prisionais portugueses atingiram a taxa máxima de lotação dos últimos 15 anos, data a partir da qual existem dados estatísticos disponibilizados pela então Direção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP). A 1 de abril deste ano, havia 14.425 reclusos, sendo 829 do sexo feminino. Do total de presos, 18 por cento eram de nacionalidade estrangeira, 11.767 estavam condenados e os restantes encontravam-se em prisão preventiva ou a aguardar o trânsito em julgado das sentenças.

“para ajudar o preso a recompor-se interiormente e prepará-lo para o regresso à vida em sociedade”, o coordenador nacional da Pastoral Penitenciária recorre mais uma vez ao exemplo de Espanha para apontar caminhos. “Além de terem um sistema de voluntariado muito bem organizado, os espanhóis têm um departamento da Pastoral Penitenciária em praticamente todas as dioceses, e até em algumas paróquias. Depois, fomentam muito o estudo da teologia pastoral penitenciária nas universidades”, com vista ao aperfeiçoamento do sistema nos campos da reclusão, da prevenção e da reinserção, refere o sacerdote. Por fim, e partindo do tema proposto para o congresso – ‘Dignificar a pessoa presa’ –, João Gonçalves lança um apelo às comunidades cristãs, pedindo que “saibam quem da comunidade está na prisão”, que “acompanhem os detidos e as respetivas famílias, e apoiem os familiares das vítimas”. O sacerdote implora ainda à sociedade em geral que não corte o vínculo com os parentes em reclusão, sobretudo os mais idosos, porque se a prisão já é um castigo para quem é condenado, o facto do recluso se sentir abandonado faz com que “sofra a dobrar”.

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dossier

MÉDIO ORIENTE Espera-se que Francisco insista na sua mensagem de tolerância

A Basílica da Natividade foi construída no local onde os cristãos acreditam que nasceu Jesus Cristo

O QUARTO PAPA NA TERRA SANTA Francisco visita em finais de maio a Jordânia, Israel e os Territórios Palestinianos. É a sua segunda viagem fora de Itália desde que sucedeu, em 2013, a Bento XVI. Falará de paz para todos no Médio Oriente, defenderá as minorias cristãs ameaçadas e dialogará com o chefe máximo da igreja ortodoxa, o patriarca Bartolomeu I. Também cheia de significado é a sua ida a essa Terra Santa tão ligada a São Francisco de Assis, a quem o argentino Jorge Mario Bergoglio foi buscar o nome quando o conclave o elegeu para líder dos 1.200 milhões de católicos texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA Num Médio Oriente em que ninguém se costuma entender, destaca-se o convite a Francisco para visitar a Terra Santa em maio, feito tanto por Shimon Peres, Presidente de Israel, como por 18

Mahmud Abbas, o seu homólogo palestiniano. O primeiro é judeu, o segundo muçulmano, mas entre os povos que lideram há cristãos de várias confissões, muitas delas obedientes ao Papa.

Antes de Belém e de Jerusalém, Francisco visitará Amã, capital da Jordânia, país árabe com uma pequena comunidade cristã. Será assim o quarto Sumo Pontífice dos tempos modernos a pisar a região


onde nasceu São Pedro, depois de Paulo VI (1964), de João Paulo II (2000) e de Bento XVI (2009). E após tantos apelos insistentes à paz no Médio Oriente, feitos a partir de Roma, espera-se que o novo Papa aproveite os banhos de multidão e os contactos com os governantes para insistir na sua mensagem de tolerância. Mas não será apenas de diálogo político que se falará nesta visita agendada para 24 a 26 de maio. Francisco viaja no ano em que se celebra meio século da histórica deslocação de Paulo VI à Terra Santa e o anúncio da viagem foi feito a 5 de janeiro, exatamente 50 anos depois

do encontro em Jerusalém entre o seu antecessor e o então patriarca de Constantinopla, Atenágoras. Tratou-se do primeiro encontro entre os chefes máximos das igrejas católica e ortodoxa depois do Grande Cisma de 1054, ou seja, uma reunião esperada há 910 anos. Desta vez também Francisco se encontrará com o patriarca ecuménico de Constantinopla (a atual Istambul, na Turquia), Bartolomeu I, que lidera uma igreja com 300 milhões de crentes, presente sobretudo nos Balcãs, Rússia e outras ex-repúblicas soviéticas e ainda Médio Oriente, mas também com pequenas bolsas

na América do Norte e na Oceania por via da emigração. Há quem considere que o diálogo ecuménico entre a Santa Sé e o cristianismo ortodoxo poderá a médio prazo levar também a um encontro entre o Papa e Kirill, o patriarca de Moscovo. “Fomos um só e o Papa veio para nos lembrar disso e renovar o espírito de unidade e de amor fraternal”, afirmou o patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twall. A reunião entre Francisco e Bartolomeu I terá lugar no Santo Sepulcro, em Jerusalém, e está previsto que assistam representantes das Igrejas Maio 2014

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anglicana e protestantes, frutos da reforma do século XVI que provocou o corte com Roma. Desde o Concílio Vaticano II, em meados do século passado, o diálogo entre católicos e protestantes, em especial luteranos, tem avançado.

O ETERNO CONFLITO ISRAELO PALESTINIANO

Existe também grande expectativa sobre o modo como Francisco, tão pouco formal, lidará com uma visita rodeada de fortes medidas de segurança. E como será que expressará a sua emotividade tão latino-americana quando estiver em Belém, na Basílica da Natividade, erguida no local onde os cristãos acreditam ter nascido Cristo, ou em Jerusalém, onde Jesus foi crucificado?

Shimon Peres, hoje Presidente de Israel, até ganhou o Nobel da Paz pelo célebre acordo de Oslo que em 1993 permitiu a criação da Autoridade Palestiniana e deixava antever uma solução de dois Estados na Palestina histórica. Na altura ministro dos Negócios Estrangeiros, Peres dividiu o galardão com o seu primeiro-ministro Yitzhak Rabin e com o líder histórico da OLP, Yasser Arafat.

Certo é que, além de apelar à paz, o Papa terá uma palavra de conforto para os cristãos do Médio Oriente, que resistem no Líbano e no Egito (apesar dos ataques a igrejas), mas que do Iraque à Síria (onde um quarto dos cristãos fugiu por causa da guerra) veem a violência sectária ameaçar a sua comunidade, impelindo muitos para a emigração.

Dos três, só Peres está vivo: Rabin foi assassinado por um extremista judeu, Arafat morreu num hospital francês depois de anos cercado na sede do governo palestiniano em Ramallah, de novo convertido em inimigo dos israelitas. E assim se percebe que apesar de prosseguir o diálogo entre os dois lados, as esperanças de paz são muito mais ténues, até porque Israel insiste em criar colonatos judeus na Cisjordânia

No último recenseamento feito pelo Império Otomano, em 1914, os cristãos eram um quarto da população do Médio Oriente, hoje serão cinco por cento, uns 12 milhões de pessoas. “Não nos resignaremos a imaginar um Médio Oriente sem cristãos”, disse o Papa Francisco em novembro do ano passado a um grupo de líderes religiosos da região. Apesar de tudo, Israel e os Territórios Palestinianos, mesmo essa Faixa de Gaza governada pelo Hamas, continuam portos seguros para os cristãos árabes nesta época de fundamentalismo islâmico. * Jornalista do Diário de Notícias

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e os palestinianos são governados na Faixa de Gaza (a outra parcela de território palestiniano) pelo Hamas, que não reconhece Israel. O atual processo negocial em curso, patrocinado pelos Estados Unidos da América, tinha que

Viagens de Francisco fora de Itália (feitas e previstas) Brasil de 22 a 28 de julho de 2013 Francisco, ainda recém-

-eleito Papa, visitou o Brasil para participar nas Jornadas Mundiais da Juventude. Datas e país tinham sido já decididas antes da resignação de Bento XVI e por isso estava previsto que fosse o Sumo Pontífice alemão a fazer a viagem até à América do Sul. Acabou por ser o seu sucessor, com a curiosidade de o primeiro Papa do novo mundo visitar um país do seu continente de origem e logo aquele com mais católicos. Também foi supreendente como

um argentino conseguiu cativar as massas do Brasil, país vizinho e muitas vezes visto como um rival, com a viagem a ter como ponto alto a missa em Copacabana, com três milhões de pessoas a encherem a mítica praia do Rio de Janeiro para ouvirem Francisco.

Jordânia, Israel e Territórios Palestinianos de 24 a 26 de maio de 2014 Foi anunciado

em janeiro o Médio Oriente como destino da segunda viagem papal, com etapas em Amã, capital da Jordânia, Belém, a


Abbas, sem o carisma de Arafat, é uma personagem cuja autoridade só se impõe na Cisjordânia, com Gaza sob controlo dos islamitas.

Mulheres palestinianas choram a morte de mais uma vítima do confronto com os israelitas

ser reafirmado até 29 de abril, mas a recusa israelita de adiar uma libertação de prisioneiros e a insistência palestiniana em obter reconhecimento de várias organizações internacionais estão a ser usadas pelo outro lado para acusar o adversário de falta de boa

vontade. Diga-se também que o primeiro-ministro israelita lidera um governo onde há ministros que se opõem à criação de um Estado palestiniano nos territórios ocupados desde 1967 e só em parte devolvidos aos palestinianos, enquanto o Presidente Mahmud

Resolver o impasse exigiria coragem dos dois lados, muito apoio internacional e sobretudo garantias tanto a israelitas como palestinianos que algumas cedências de parte a parte seriam melhor para todos. Uma troca de território, para permitir a Israel absorver a maior parte dos colonatos onde vive meio milhão de judeus, é uma hipótese. Outro grande desafio é conceder alguma forma de soberania aos palestinianos sobre a parte oriental de Jerusalém, onde estão os lugares santos muçulmanos. Como pano de fundo, Israel quer garantir o seu direito à segurança, enquanto os palestinianos exigem um Estado viável e com condições para trazer prosperidade a um povo oprimido que nas últimas sete décadas tem sido vítima dos jogos das grandes potências e até dos países árabes.

CALENDÁRIO cidade palestiniana onde nasceu Jesus, e Jerusalém, cidade santa para as três grandes religiões monoteístas e ainda hoje foco de tensão entre os israelitas, que a consideram a sua capital, e os árabes. Também Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI visitaram a Terra Santa durante os seus pontificados, mas esta visita de Francisco vai realizar-se num momento em que da Síria ao Iraque, os cristãos do Médio Oriente se sentem cada vez mais ameaçados.

Coreia do Sul de 14 a 18 de agosto de 2014 Será a convite

dos bispos sul-coreanos que Francisco participará em Daejon

no Dia da Juventude Asiática. O Papa que começou já a reforçar o peso dos não-europeus no colégio cardinalício visitará assim um dos países do Extremo Oriente onde o catolicismo é mais popular, só superado em percentagem de crentes por Timor e Filipinas. É uma visita a uma península dividida desde a Segunda Guerra Mundial e sempre à beira de novo conflito.

24 Encontro em Amã com o rei Abdallah da Jordânia e a rainha Rania. Visita a refugiados palestinianos e contacto com deficientes. Missa no Estádio Internacional. 25 Missa na Praça da Manjedoura, em Belém. Almoço no convento franciscano com famílias palestinianas. Encontro com o Presidente palestiniano Mahmud Abbas. Visita a crianças em campos de refugiados. Primeiro encontro em Jerusalém com Bartolomeu I. 26 Segundo encontro em Jerusalém com o patriarca de Constantinopla. Reuniões, separadas, com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Natanyahu, e com o Presidente Shimon Peres. Maio 2014

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gente nova em missão

EDUCAÇÃO Vamos aprender a ser amáveis

O PODER DA GENTILEZA Olá amiguinhos missionários! Estamos em maio, uau! O tempo passa tão depressa e já podemos sonhar com as férias, com o calor, com gelados e sandálias nos pés! Pois este mês vamos falar duma palavra repleta de significado e que nos permite ser mais missionários, tal como o nosso amigo Jesus nos pede: a gentileza texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO No dicionário encontramos este significado para gentileza: “subst. f. 1. amabilidade, delicadeza”. E também estes sinónimos: “afabilidade, amabilidade, atenção, cortesia, delicadeza, educação, graciosidade e obséquio”. Pois é! Como veem, é fácil perceber o significado desta palavra. E pô-la em prática? Será assim tão simples? Ora, quando muitos à nossa volta afirmam que nestas novas gerações não há promoção de valores nem pessoas capazes de gestos de gentileza, nós como cristãos, isto é, com uma fé inabalável na criação humana de Deus, vamos tentar provar que não devemos desanimar. A gentileza pode ser difícil de colocar em prática; é mais fácil resmungarmos com o outro numa fila de supermercado, num transporte público, num espetáculo da escola, preocupando-nos apenas connosco. Contudo, como é fácil para vocês perceberem, esta atitude 22


não vai ao encontro de Jesus e contraria toda a nossa fé cristã.

Como ser gentil

“Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o amor de Deus é perfeito em nós” (1Jo 4, 12). Nesta carta de São João, podemos encontrar a atitude certa para quando nos deparamos com alguém mal-humorado ou rude, que nos trata mal, e para o qual um gesto de gentileza da nossa parte pode alterar tudo. Se olharmos para essa pessoa e pensarmos que é Jesus, podemos respirar fundo, com delicadeza sorrir e delicadamente dar-lhe prioridade, sem sentirmos isto: “Sou mesmo um derrotado!” Mas antes isto: “Yeah, consigo ser um verdadeiro cristão!”. O amor que Jesus nos ensina é assim. Isto é um exercício que necessita de esforço, de fé e de

oração. Porque também não é menos certo que não faltarão amiguinhos a chamarem-vos covardes. É preciso ser perseverante e resiliente. E com certeza verão todo o vosso esforço a dar frutos!

Sabias que

Como diziam os nossos antepassados, “apanham-se mais moscas com mel do que com fel”? Isto não irá ao encontro de tudo o que falámos anteriormente?

O meu momento de oração Amigo Jesus:

Ajuda-me a ser gentil A ver o teu rosto em todos os meus irmãos Os que me amam e os que não me amam Agradeço-te pelo dom da minha fé Porque sei que o amor tudo salva E a gentileza será aos olhos do outro Um gesto puro daquilo que Tu me ensinas. Ajuda-me a não me sentir humilhado quando sou gentil Mas antes feliz por querer sê-lo. E ajuda-me também a querer rezar pelo outro Para que seus olhos possam ver e seus ouvidos escutar Como é bom ter-Te nas nossas vidas. Pai Nosso…

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tempo jovem

RELACIONAR-SE DE VERDADE NÃO TEM A VER COM NÓS PRÓPRIOS, NÃO SE TRATA DE SATISFAÇÕES PESSOAIS; RELACIONAR-SE TEM A VER COM AS PESSOAS COM QUEM COMUNICAMOS E NOS ENCONTRAMOS E O NOSSO MODO DE VALORIZAR E COMPREENDER CADA PESSOA NA SUA DIVERSIDADE

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PRIORIZAR AS RELAÇÕES HUMANAS texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA

Desde os primórdios da existência humana sobre a face da terra, o homem tem tentado relacionar-se para satisfazer as suas necessidades básicas, e tem-se servido da convivência para atingir os seus sonhos e realizar-se como pessoa. Acho que seria impossível falar de comunidades autênticas e sociedades justas sem antes ter afinado a arte do relacionamento. Relacionar-se exige que se procure o modo de identificar-se com o outro para assim poder criar laços verdadeiros. Relacionar-se é fomentar a “união” com aqueles com quem partilhamos a vida, a partir da capacidade de gerar confiança e amizade. Dizem os grandes especialistas do comportamento humano que a capacidade de comunicar assertivamente, ou seja, de maneira efetiva e eficaz, é um fator decisivo nas relações humanas. Na minha experiência de vida tenho constatado que, nestes últimos tempos do “fast food” e do “instantâneo”, as pessoas e as instituições, movidas pela pressa, começaram a perder a capacidade de aprofundar as relações humanas. Às grandes estratégias de um bom projeto ou de uma excelente ideia, sacrificámos a “paixão pela humanidade”. Estou convencido que sempre haverá mais realização humana se levarmos pessoalmente um prato de comida a quem precisa, em detrimento de ser aquele gestor que organiza e planifica com êxito, desde o escritório, a eficácia de um comedor solidário. O que alimenta, mantém vivo ou transforma alguém não são as proteínas, mas sim o brilho dos olhos do “contacto visual” portador de esperança ou o abraço amigo que faz sentir ao outro que não está sozinho nesta indigente vida. Contudo, não estou a depreciar a necessidade de uma boa gestão e organização em tudo o que fazemos, para fazer o bem e construir caminhos novos de justiça. Mas, a insistência radica no facto que de nada servem organizações e projetos acertados,

orações e celebrações quase perfeitas, ideias e boas intenções, se perdemos a capacidade de nos relacionarmos viva e diretamente, com paixão e misericórdia. Finalmente, relacionar-se de verdade não tem a ver com nós próprios, não se trata de satisfações pessoais; relacionar-se tem a ver com as pessoas com quem comunicamos e nos encontramos e o nosso modo de valorizar e compreender cada pessoa na sua diversidade.

Algumas dicas Escuta com o coração e deixa

de lado os preconceitos. Ajuda as pessoas a obter o que precisam, e verás como elas te vão ajudar a obter o que desejas. Trabalha em equipa. Por mais que trabalhemos muito e tenhamos grandes ideias, só o trabalho em equipa gera sinergia, consenso e enlace. Aceita que uma boa relação humana não depende de um conjunto de regras e normas, mas antes da capacidade que temos de cativar e deixar-nos cativar pelo outro. Aceita que numa boa comunicação é também de grande importância a nossa capacidade de raciocinar (aquilo que sabemos), de gerir as emoções (aquilo que sentimos) e a nossa ação (aquilo que fazemos).

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sementes do reino

A MISSÃO COMEÇA Os acontecimentos da Páscoa deixaram os discípulos em apuros, mas a situação irá recompor-se. Como se de um puzzle se tratasse, os discípulos vão colocar as peças na devida ordem, para, finalmente, entenderem Jesus texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA

Leio a Palavra Jo 20,19-23

O evangelista João, ao contrário de Lucas, narra “o sopro” do Espírito Santo ao anoitecer do mesmo dia de Páscoa. A descrição inicial dá a entender o estado de ânimo dos discípulos: o anoitecer, as portas fechadas, são elementos que demonstram o medo. Os discípulos continuam sem entender, confusos, e até desiludidos. Mas algo de extraordinário acontece. Jesus apresenta-se, coloca-se no meio deles (ponto fundamental) e oferece-lhes o dom da paz.

Mostra-lhes as marcas da sua entrega, marcas que confirmam a veracidade de Jesus, mas também recordam a cruz. Depois “sopra-lhes” o Espírito Santo, verbo que recorda o ato da criação de Deus (Gen 2,7),

A comunidade é o local ideal onde Jesus se manifesta, ainda que nem sempre as comunidades sejam locais perfeitos, mas é aí que Jesus se coloca no meio

dando a entender que estamos perante o nascimento de novas criaturas. Os discípulos não serão mais os mesmos. Acresce agora uma missão, a de “ligar/desligar os pecados.

Saboreio a Palavra

O evangelista João com este episódio mostra como os discípulos descobrem que só tendo Jesus como centro das suas vidas poderão continuar o caminho já iniciado. O dom da paz oferecido por Jesus dá a serenidade que os discípulos necessitavam, pois o medo e a confusão tinha-se apoderado deles. Mas é a vida nova que recebem pelo “sopro” do Espírito Santo, que os transformará por completo. A sua missão será agora serem intermediários do amor do Pai, o qual não enviou o Filho para condenar, mas para oferecer o perdão. Quem acolher esta novidade recebe esta força nova, mas quem não a acolher, permanece no pecado.

Rezo a Palavra

“Soprou neles o Espírito Santo”: este gesto tão simples é o início da vida nova dos discípulos. Peça a Deus o dom deste Espírito, para que possa deixar os seus medos, as suas dúvidas, e comece uma vida nova no amor e na alegria de Deus.

Vivo a Palavra

A certeza de que Jesus está vivo muda radicalmente a vida dos discípulos. Um grupo fechado e receoso passa a ser um grupo de destemidos que levam uma mensagem de amor pelo mundo: Deus ama a todos sem exceção. A comunidade é o local ideal onde Jesus se manifesta, ainda que nem sempre as comunidades sejam locais perfeitos, mas é aí que Jesus se coloca no meio. É esta a pergunta urgente a colocar: será que Jesus é o centro das nossas comunidades?

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intenção pela evangelização

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO MAIO

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3º Domingo da Páscoa Act 2, 14-33; 1Ped 1, 17-21; Lc 24, 13-35 ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS A cena de Emaús é uma obra-prima de catequese litúrgica e missionária. Somos todos discípulos de Emaús. Na Eucaristia de cada domingo é Cristo Jesus que se coloca no meio de nós. É Ele que entra na nossa casa: “Se alguém me abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo” (Ap 3, 20). É Ele quem nos explica a Palavra, sustém a nossa oração, dá-se em comunhão e nos envia a comunicar a alegria da nossa fé. Entra, Senhor, na nossa casa e reparte connosco o teu Pão, para que, instruídos pela tua palavra, sejamos por Ti enviados.

11 4º Domingo da Páscoa

Act 2, 14-41; 1Ped 2, 20-25; Jo 10, 1-10 O TEU PROJETO DE VIDA Como é bom podermos ouvir a voz do Bom Pastor, sermos chamados pelo nosso nome, experimentarmos a sua predileção. Hoje é dia de oração pelas vocações. Vocação é entender que projeto de vida tem Deus para mim, qual o meu lugar no grande mosaico da humanidade e na Igreja. Somos parte essencial de um grande sonho de amor, e é maravilhoso descobri-lo e realizá-lo. Haja pastores no mundo com a dedicação e o coração deste Pastor. Dá-nos, Senhor, pastores e missionários à tua imagem: que dediquem a sua vida ao anúncio do Evangelho e à construção de comunidades apostólicas.

18 5º Domingo da Páscoa

Act 6, 1-7; 1Ped 2, 4-9; Jo 14, 1-12 A NOSSA ETERNA MORADA Na casa do Pai há muitas moradas. Tantas quantas as pessoas deste mundo, chamadas a estar junto de Deus. É aí o nosso lugar, a meta final da nossa vida. O céu é a nossa verdadeira casa que já aqui vamos construindo. Não podemos cruzar os braços. Cada dia é precioso para colocar uma pedrinha nesse grande edifício da nossa vida. E é uma vocação excelente ajudar os outros a construir essa morada. Mostra-nos, Senhor, o teu Caminho, ensina-nos a tua Verdade e sacia-nos com a tua Vida para vivermos de Ti e chegarmos lá onde Tu nos esperas.

25 6º Domingo da Páscoa

Act 8, 5-17; 1Pe 3, 15-18; Jo 14, 15-21 VEM, ESPÍRITO CONSOLADOR O Espírito Santo foi-nos prometido por Jesus como nosso advogado, defensor e consolador nas provas da vida. É a força e a audácia na difusão da Palavra de Cristo ressuscitado. É o continuador da sua missão. É a fidelidade de Deus junto dos homens. É a garantia de que as palavras de Jesus não serão esquecidas, porque alguém no-las recorda constantemente para que as vivamos e anunciemos com coragem e criatividade. Dá-nos, Senhor, o teu Espírito e manifesta-te a cada um de nós e ao mundo, que ainda não Te conhece. DV

Para que Maria, Estrela da Evangelização, guie a missão da Igreja no anúncio de Cristo a todos os povos

Maria, guia da missão A Mãe de Jesus foi a primeira

“discípula” do seu Filho. “A maternidade divina levou Maria a uma entrega total. Foi doação generosa, permanente e cheia de lucidez, unida a uma história de amor a Cristo íntima e santa, uma história única que culmina na glória. Maria, levada ao máximo na participação com Cristo, é íntima colaboradora de sua obra e não apenas o fruto admirável da redenção” (Puebla 292-293). O cardeal vietnamita François Van Thuan, que passou 14 anos na prisão, disse que “Maria proferiu um sim total, porque acreditou na Palavra, deixou-se plasmar pela mão de Deus e conduzir por onde quer que Ele a levou: no Egito, em Nazaré, em Caná, no Gólgota, no Cenáculo à espera do Espírito Santo”. De certa forma, Maria gerou a fé dos novos discípulos do Filho. Acompanhou os apóstolos nos passos iniciais da evangelização e continua hoje a ajudar a Igreja nos caminhos da missão. Ela, a “Estrela da Evangelização” faz com que o Evangelho plasme a nossa vida de cada dia e produza em nós frutos de santidade. Ela nos conduz sempre a Jesus, porque O leva sempre nos braços ou no coração. DV

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o que se escreve SOB O TEU MANTO

JOÃO PAULO II E PORTUGAL

É um livro, ricamente ilustrado, para descobrir pormenores das visitas de João Paulo II a Portugal e da sua devoção a Nossa Senhora de Fátima. Nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, “a presente obra merece ser elogiada e agradecida. (…) Porque é fruto de um labor intenso e criterioso. Porque testemunha a probidade do investigador e do docente. Porque representa uma convergência da fé e razão, no tratamento de uma personalidade ímpar nas últimas décadas do século XX e no início do século XXI. Porque desenvolve, com pormenor e inteligência, o relacionamento dessa personalidade com Portugal”. Uma obra que só faz bem a quem a ler. Autor: José Carvalho 192 páginas ilustradas preço: 24,95 € Lucerna – Principia Editora

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REZAR NA PÁSCOA – ANO A

“Fátima tornou-se, neste final de século e de milénio, um grande sinal do amor misericordioso de Deus em favor da humanidade. Faz parte da mensagem de Fátima a consagração ao Coração Imaculado de Maria e a comunhão reparadora dos primeiros sábados”, tal como a Virgem pediu à vidente Lúcia. Com a ajuda deste livro, o fiel pode viver de modo conveniente esta devoção mariana durante todos os meses do ano. Autor: Maria Stella Salvador 168 páginas | preço: 10,00 € Paulus Editora

O tempo litúrgico que vai do dia de Páscoa a Pentecostes vale a pena ser aproveitado para abrir de par em par as janelas da nossa existência e sentir a luz e frescura que a Palavra de Deus traz à nossa vida. Este livrinho tem uma sugestão para um momento diário de oração. Após a citação bíblica da liturgia do dia tem uma meditação e aplicação à vida. A imagem ajuda a contemplar e interiorizar. Autor: Rui Alberto 104 páginas | preço: 1,50 € Edições Salesianas

HISTÓRIAS TRADICIONAIS PORTUGUESAS A Bela Moura A Velha Caixa

O BOM PAPA Criação de um santo e recriação da Igreja

Alice Vieira é uma das mais importantes escritoras portuguesas, com grande projeção nacional e internacional. “Quem vê caras não vê corações” e até uma Velha Caixa pode conter o segredo para uma vida plena de desejos realizados. E o amor? Que o amor verdadeiro nunca se esquece, já todos sabem. Mas conseguirá ele ultrapassar inimizades e feitiços? O que vale é que, como em todas as histórias de final feliz, é a amizade que vence todas as desventuras. Autor: Alice Vieira Ilustrações: João Fazenda 40 páginas | preço: 9,90 € Editorial Caminho

Trata-se da história de João XXIII e do Concílio Vaticano II. “Para aqueles que o admiraram durante a sua vida pelos ensinamentos sobre a paz e pelo compromisso que assumiu de abrir a Igreja milenar ao mundo moderno – para deixar entrar o ar e a luz e permitir que a mensagem profunda do Evangelho resplandecesse – ele era uma personalidade única que irradiava uma aura de humildade, humor e santidade”. Foi canonizado em 27 de abril do ano corrente. Autor: Greg Tobin 254 páginas | preço: 15,95 € Lucerna – Principia Editora


o que se diz NOSSA SENHORA DESATADORA DE NÓS História de uma devoção mariana A devoção a Nossa Senhora Desatadora de Nós nasceu na Alemanha no século XVII, mas conheceu uma mais ampla difusão sobretudo na América Latina por obra do então padre Jorge Mário Bergoglio, hoje Papa Francisco. A oração dirige-se a Maria para que ajude a “desatar” os “nós” da vida, e particularmente para superar a ação separadora do espírito maligno, e a adquirir a serenidade no casamento. Autor: Miguel Cuartero Samperi 54 páginas | preço: 4,90 € Paulus Editora

JOÃO PAULO II, HOMEM DE ORAÇÃO A vida espiritual de um santo

A oração, como tão bem sublinham as autoras deste livro, é absolutamente indissociável do resto da vida do Papa polaco. Por isso é tão relevante a investigação que fizeram da sua vida espiritual que ajuda a compreender melhor o papel fundamental que a oração teve neste Papa que acaba de ser canonizado pela Igreja. No livro tem particular realce a sua devoção mariana, reforçada pelo atentado de que foi vítima em 1982, que o aproximou ainda mais de Fátima. Autores: Clare Anderson e Joanna Bogle 151 páginas | preço: 9,95 € Lucerna – Principia Editora

Em defesa do ambiente “Anunciar o Evangelho é propor um modo novo de ver o homem

e o seu mundo. Homem Novo, em Cristo renascido, o cristão percebe-se como um todo, no respeito por todos e por tudo o que lhe dá vida. A natureza é, pois, o seu mundo, que deve ser também evangelizado, respeitado, promovido. Na história da evangelização cristã (que não apenas católica) ressalta evidente o esforço dos missionários em defesa do ambiente nas várias vertentes”. Coordenação Boa Nova | Boa Nova | abril de 2014

Um desafio de responsabilidade “O atual momento difícil representa certamente um grande

desafio para o país, para os políticos, mas talvez sobretudo um grande desafio para cada um de nós, para cada cidadão. Um desafio de responsabilidade. De respeitar a liberdade conquistada há 40 anos, a liberdade para sermos protagonistas, e não apenas sujeitos submissos, da construção da sociedade em que vivemos”. Nelson Mateus | Cidade Nova | abril de 2014

A verdadeira liberdade “A verdadeira liberdade é o homem, cada homem que, no seu

íntimo, solta as amarras de si mesmo e parte ao encontro do outro. Não por aquilo que pode ganhar para si, mas por tudo o que partilha. A verdadeira liberdade é o homem que se dá, que esquece os seus benefícios porque se vê a si próprio como um benefício para os outros”. Paulo Vaz | Ação Missionária | abril de 2014

O papel da mulher “A mulher tem vindo a somar papéis, responsabilidades e

importância na economia social, ao mesmo tempo que se mantém a sua maior beneficiária, na medida em que ainda não conseguiu partilhar, de forma equilibrada e efetiva, o papel de cuidar da família. Que em 2014, Ano Europeu da Conciliação entre o Trabalho e a Vida Familiar, se propiciem reflexões profícuas (…) para fortalecer a família, o pilar do progresso da nossa sociedade”. Mariana Ribeiro Ferreira | Voz das Misericórdias | março de 2014

Uma política amiga da família “Peço aos governantes uma política amiga da família, através de

medidas sociais, fiscais e legislativas que promovam e apoiem o bem-estar das nossas famílias em todas as dimensões, na casa, na saúde, na educação e no crescimento da natalidade, para que os jovens não tenham medo de constituir família”. Dom António Marto | Presente | 10 de abril de 2014

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gestos de partilha

Costa do Marfim AMC (Núcleo do Algarve) Anónimos 274,00€; Anónimo 18,00€; Dulcelina Vieira 5,00€; Fernanda Duarte 3,00€. Total geral = 15.084,65€. Bolsa de estudo José Silva 20,00€. Padre António Fernandes AMC (Núcleo do Algarve) Anónimos 780,00€. Criança Yéo Issa (Costa do Marfim) Lurdes Anjos 8,00€; Amélia Costa 63,00€; Anónimo (Canadá) 60,00€. Ofertas várias Céu Gomes 40,00€; Eugénia Talefe 43,00€; Luís Marques 29,00€; Rui Faria 39,00€; Aurora Manso 43,00€; Maria José Dionísio 78,00€; Hermínia Rosado 33,00€; Armando Pedro 28,00€; António Matos 43,00€; Joaquina Trigo 100,00€; Adelina Azoia 43,00€; Cremilde Diogo 33,00€; Tadeu Ferreira 37,00€; Lúcia Simões 36,00€; Adelina Neves 106,00€; Conceição Morais 100,00€; Jorge Campos 43,00€; Florinda Carreira 43,00€; Rosa Costa 39,00€; Fernando Zagalo 93,00€; Pedro Moutinho 28,00€; Anónimo 43,00€; Maria Quitéria Paiva 80,00€; Oferta do grupo dos amigos das missões da Consolata 200,00€; Manuel Barros 100,00€; Manuela Sottomayor 90,00€; Padre Weber Pereira 500,00€; Elisabete Carreira 50,00€; Luísa Salvador 50,00€; José Almeida 43,00€; Maria Mechernane 50,50€; Céu Gomes 46,00€; José Bernardes 100,00€; Isaura Rocha 50,00€; Rosa Valinhos 163,00€; Sílvia Lopes 43,00€; Manuel Silva 43,00€; Maria Teixeira 93,00€; Manuel Farinha 68,00€; Isilda Gomes 150,00€.

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

PADRE PEDRO PAULO ALBERTONE

LUTAR PARA VENCER Em 2 de novembro de 1908, o padre José Allamano inaugurou em Turim (Itália) o primeiro seminário menor do Instituto Missionário da Consolata. E o primeiro seminarista foi Pedro Paulo Albertone. Disse-lhe o fundador: “Chamas-te Pedro, e vais ser a primeira pedra deste seminário que a Consolata quer e ama muito. És o primeiro produto duma árvore que muitos frutos dará ao Instituto e às missões” texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração H. MOURATO O estudante Albertone! Inteligência distinta, memória extraordinária, temperamento ardente, grande sensibilidade e, no meio de toda esta beleza, “um espinho que o afligia”: a soberba. Disse-lhe Allamano um dia: “Se continuas assim, nunca serás um pequeno São Paulo como desejas, mas sim um herege! Ai de ti, que tão soberbo és!” E o Pedro começou uma luta sem tréguas contra o seu defeito. Batalhou com todas as armas, pedindo mesmo aos colegas que o avisassem quando fraquejava. Tal era a sua vontade de emenda que por vezes se flagelava, como faria mais tarde nas missões para sucesso do seu apostolado. E saiu vencedor. Pedro nasceu em 3 de janeiro de 1894 e foi ordenado sacerdote em 22 de dezembro de 1917. Em 1920 partiu para as missões do Quénia, e foi um dos missionários que abriram as primeiras missões da Consolata na Tanzânia. Estudava com toda a força a língua Kiswahili aprendendo 50 palavras por dia: depois de 15 dias, fez a sua primeira homilia nessa língua. Primava no ascetismo. Do fundador recebera licença de fazer o voto de “sempre

fazer o que era mais perfeito, voto de pobreza absoluta e, em certas circunstâncias, de se penitenciar corporalmente”. As suas grandes devoções: Jesus Sacramentado e a Santíssima Consolata. “Que felicidade a nossa, dizia, de trabalharmos para o Reino de Deus e a glória da Virgem Consolata”. Amava tanto o apostolado que prometeu a si próprio não passar tempo algum sem fazer nada. Tinha um grande amor ao fundador Allamano, a quem, numa carta, dizia: “Quero ser seu filho querido, amá-lo mais do que todos os meus colegas”. E quando chegou a hora da partida para o Céu, entoou o hino “Que

alegria quando me disseram: ‘Vamos para a Casa do Senhor!’” Depois do bom combate da vida, em 30 de novembro de 1929 partiu ao encontro do Deus que muito amara já na terra. Tinha apenas 35 anos.

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outros saberes

“A sabedoria serve de freio à juventude, de consolo aos velhos, de riqueza aos pobres, de ornamento aos ricos”. Platão, outro filósofo grego, alertando para a arrogância e vaidade que pode acometer os que se julgam sábios, avisava com perspicácia:

“O que faz andar o barco (a vida) não é a vela enfunada (inchada) mas o vento que não se vê”. Galileu Galilei, grande sábio italiano do Renascimento, preocupado em saber que ventos (princípios) nos orientam na vida, afirmava que:

“A maior sabedoria que existe é conhecer-se alguém a si próprio”. Voltando a Jesus, Ele afirma que a maior segurança e sabedoria é:

“Vender tudo o que se tem e comprar a pedra preciosa (que é Ele) escondida no campo… e construir a casa (a vida) sobre a rocha firme (que também é Ele).

O SABER NÃO OCUPA LUGAR

texto NORBERTO LOURO foto LUSA

“Naquela hora, Jesus exultou sob ação do Espírito Santo e disse: Eu te louvo, Pai, Senhor do Céu e da terra, por teres ocultado isto aos sábios e aos inteligentes e por tê-lo revelado aos pequeninos”. Jesus aponta para uma sabedoria autêntica que d’Ele jorra, preenche a vida toda, em todas as situações e idades. Sábios houve, antes d’Ele, 32

que vislumbraram e, depois d’Ele, que viveram e anunciaram essa sabedoria. Diógenes, filósofo grego que, em pleno dia, andava com uma lanterna acesa à procura dum homem autêntico, digno desse nome, afirmava que, levados pela sabedoria, todos a devem procurar e cultivar, pois:


2014 ano Allamano

OS DISCÍPULOS TORNAM-SE MESTRES texto DARCI VILARINHO foto FM Os primeiros missionários, enviados por José Allamano para a África, em 1902, tinham muitos conhecimentos acumulados no breve período de preparação em Turim, Itália, mas não tinham conhecimento direto do mundo missionário nem metodologia própria. Ao Instituto não faltava a marca do espírito do fundador, mas faltava a experiência missionária. É aqui que Allamano se faz discípulo. Colocou-se humildemente na escola de missão onde eles eram os professores. É singular este aspeto na história de uma fundação, onde o Pai é guiado pela criatura à qual ele próprio deu vida. Mas foi o modo melhor de conhecer e participar na vida que os seus missionários viviam nas longínquas missões. Allamano precisava de sentir palpitar o coração dos seus missionários para discernir,

em sintonia com eles, a vontade de Deus para o Instituto ainda incipiente. De que modo? Através de cartas, relatórios trimestrais, mas sobretudo dos “diários” dos seus missionários. Esta ideia de ordenar aos seus missionários que redigissem um “diário”, que lhe devia ser enviado periodicamente e de forma reservada, foi uma ideia genial. Já o primeiro esboço de regulamento prescrevia aos missionários um diário desde o dia da sua partida e durante todo o tempo que passassem nas missões, que contivesse “as notícias sobre o seu estado de saúde, as suas impressões sobre a viagem, as suas fadigas apostólicas, o andamento da missão à qual foi destinado, os costumes locais, as notícias de geografia, etnografia e história natural”. Pelo modo como apoiou e conduziu esta ideia com sugestões práticas, podemos ver nele uma certa experiência jornalística, mas não devemos subestimar a importância científica da iniciativa que permitiu a recolha de abundante material de carácter etnográfico.

O primeiro esboço de regulamento prescrevia aos missionários um diário desde o dia da sua partida e durante todo o tempo que passassem nas missões, que contivesse “as notícias sobre o seu estado de saúde, as suas impressões sobre a viagem, as suas fadigas apostólicas, o andamento da missão à qual foi destinado, os costumes locais, as notícias de geografia, etnografia, história natural”

Mais algumas pinceladas na figura do beato José Allamano (1851-1926), que ao longo deste ano a ele dedicado queremos retratar. Para que seja mais conhecido e amado e a sua vida exemplar seja um estímulo. Mas foi também um instrumento precioso nas mãos de Allamano para poder auscultar o coração dos seus missionários, formar aqueles que em Turim se preparavam para a missão, e apoiar a animação missionária do povo através do boletim “La Consolata”, que estava no seu início, e que transcrevia páginas e páginas dessas fontes preciosas. Os diários vão de 1902 a 1911. Alguns perderam-se ou foram destruídos, mas restam ainda 12 mil páginas, que nutriram o coração de Allamano, o formaram em vista da missão e são ainda hoje uma fonte preciosa para o conhecimento da metodologia pastoral dos missionários da Consolata.


fátima informa Patriarca de Jerusalém preside à peregrinação de maio

O patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal, preside à peregrinação de 12 e 13 de maio, este ano dedicada ao tema “Mãe do amor misericordioso”. Os fiéis são convidados a refletir sobre “Maria, ícone da misericórdia de Deus”, “A Virgem Consoladora”, “Maria, a mulher da compaixão”, “O amor como síntese da vida cristã”.

Casa das Candeias aberta ao público

A Casa das Candeias, núcleo museológico que evoca a vida e a espiritualidade de Francisco e Jacinta Marto, na rua de São Pedro, n.º 9, foi benzida e inaugurada a 4 de abril. Ali, o visitante efetua um percurso que convida à santidade, encontrando relíquias e objetos dos beatos. Algumas peças foram oferecidas por João Paulo II.

Eugénia Lima oferece acordeão

BASÍLICA ENCERRA PARA OBRAS A Basílica de Nossa Senhora do Rosário vai fechar para obras, até finais de 2015, mas os túmulos dos pastorinhos podem continuar a ser visitados

A acordeonista portuguesa Eugénia Lima ofereceu ao Santuário de Fátima aquele que considerava o seu melhor acordeão, que a acompanhou ao longo da carreira. O instrumento foi entregue por familiares ao Santuário, a 25 de março, estando a artista já hospitalizada. Faleceu a 4 de abril, com 88 anos.

texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA A partir de 14 de maio, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima vai entrar em obras. Trata-se de um conjunto de requalificações, com vista ao centenário das Aparições, em 2017. Uma das intervenções mais emblemáticas será junto aos túmulos dos pastorinhos, com a criação de um “itinerário devocional que permita aos peregrinos a oração em condições de maior tranquilidade e recolhimento”, adiantam os responsáveis do Santuário de Fátima. Será também efetuada a limpeza e restauro do interior, aperfeiçoado 34

o sistema de iluminação e de som, reabilitado o órgão de tubos e melhorada a acessibilidade. O projeto prevê ainda intervenções na sacristia e na capela de São José. Enquanto decorrem os trabalhos, até final de 2015, as celebrações serão transferidas para outros locais. As missas oficiais das 07h30, 09h, 12h30, 15h, 16h30 e 18h30 para a capela da Morte de Jesus, no piso inferior da Basílica da Santíssima Trindade. A missa das 11h00, de segunda a sábado, para a Basílica da Santíssima Trindade.

Maio em agenda 3/4 Fátima Jovem – Centro Pastoral Paulo VI 16 Jantar-conferência no Hotel Pax, com líder indígena Davi Kopenawa, ciclo “Missão, Ecologia e Espiritualidade” 17/18 Peregrinação da Família Salesiana 24/25 Peregrinação do Movimento Encontro Matrimonial



MARIA MISSIONÁRIA No meio da Igreja que nascia Recebestes o Espírito dos céus; Viestes missionária à nossa terra, Proclamando as maravilhas de Deus. Junto com os discípulos de Cristo, Oráveis na assembleia dos cristãos E continuais orando pelo mundo, A Deus levantais, ternas, Vossas mãos. Hino do Centenário das Aparições de Fátima


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