Migrações

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Ano LXI | Novembro 2015 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

Migrações A VOZ DOS INOCENTES A MISSÃO HOJE

DESTAQUE

FÁTIMA INFORMA

Testemunho dramático de um sacerdote sequestrado no Iraque

Alcançado consenso para amnistia e criação de um tribunal especial

Escultura de Nossa Senhora apresenta danos causados pelo uso litúrgico

Padre usa algemas para Governo e FARC chegam Santuário cria plano rezar em cativeiro para preservar imagem a acordo na Colômbia


MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Um abraço entre a fé e a vida

Como Maria São presença consoladora Em seu nome

Colocam as suas vidas e os seus recursos ao serviço dos mais frágeis

COLABORE COM OS MISSIONÁRIOS

Apoiando projetos de solidariedade contribuindo para a formação de futuros missionários oferecendo uma assinatura da FÁTIMA MISSIONÁRIA a um amigo visitando o Consolata Museu em Fátima e hospedando-se nas nossas instalaçõs em Fátima

CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA – Tel. 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA – Tel. 218 512 356 | lisboa@consolata.pt


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 10 Ano LXI – NOVEMBRO 2015 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

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“ MIGRAÇÕES A VOZ DOS INOCENTES

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 23.800 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Patrick Silva, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa Lusa Contracapa Ana Paula Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00 € Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

04 | EDITORIAL Evangelizar é promover

11 | PERFIL SOLIDÁRIO O padre dos reclusos

05 | PONTO DE VISTA Alterações climáticas: um teste moral à nossa humanidade

12 | A MISSÃO HOJE Centro do Guiúa forma catequistas há mais de quatro décadas

06 | HORIZONTES No seu lugar 07 | DESTAQUE A paz chegou ao ponto de não retorno? 08 | MUNDO MISSIONÁRIO • Famílias em África vítimas de guerras e ideologias contrárias • Filipinas: Por ouro menores explorados • Paquistão: Continua a perseguição aos cristãos • Palestina: Peres contra violência • Zimbabwe: Emergência alimentar • Iraque: Freiras vivem com refugiados 10 | A MISSÃO HOJE Padre usa algemas para rezar em cativeiro

13 | FÁTIMA INFORMA Criado plano especial para conservar imagem 14 | DOSSIER • Síria sinónimo de guerra, terrorismo e refugiados • “O meu coração chora pelos refugiados” 22 | MÃOS À OBRA Combater a guerra com música, dança e artesanato 23 | TESTEMUNHO DE CONSAGRADO “A vocação missionária veio pelos 20 anos” 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Deus é o Criador e a terra é de todos 26 | TEMPO JOVEM Cidadão do mundo 28 | SEMENTES DO REINO

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

Santos transparentes

30 | VIDA COM VIDA “Padre hermano” 31 | LEITORES ATENTOS 32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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EDITORIAL

EVANGELIZAR É PROMOVER O Papa Francisco, conhecedor das linhas missionárias da Igreja, afirmou na Evangelii Gaudium: “A partir do coração do Evangelho, reconhecemos a conexão íntima que existe entre evangelização e promoção humana, que se deve necessariamente exprimir e desenvolver em toda a ação evangelizadora. A aceitação do primeiro anúncio, que convida a deixar-se amar por Deus e a amá-lo com o amor que Ele mesmo nos comunica, provoca na vida da pessoa e nas suas ações uma primeira e fundamental reação: desejar, procurar e ter a peito o bem dos outros”. Efetivamente, o pedido explícito de Jesus aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” envolve a Igreja na cooperação para resolver as causas estruturais da pobreza e responder às necessidades muito concretas das pessoas. Os leitores da nossa revista já certamente se aperceberam desta realidade, através dos abundantes testemunhos de intervenção dos nossos missionários no campo do desenvolvimento integral do ser humano, no intuito de tornar as pessoas mais felizes, trabalhando pela paz e pela justiça, e garantindo-lhes um futuro mais risonho. Toda a promoção humana que for inspirada no Evangelho será sempre geradora de valores que dignificam o homem e por isso mesmo promotora de desenvolvimento. É por isso que a Igreja, apesar de não ser uma agência humanitária ou uma ONG, tem como missão envolver-se nas situações mais difíceis, com uma cultura de 04

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proximidade e de diálogo com todos. Quer isto dizer que a religião não pode ser relegada para a intimidade das pessoas, sem qualquer influência na vida social. Ninguém pode esquecer os exemplos paradigmáticos de um Francisco de Assis ou de uma Madre Teresa de Calcutá e de tantos missionários neste campo de proximidade e de atenção a situações de periferia. “Uma fé autêntica – que nunca é cómoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela”, adverte ainda Francisco na Evangelii Gaudium. É esta a tarefa da missionação: a vivência da fé traduzida numa preocupação constante pela construção de um mundo cada vez mais humano, na convicção de que o Evangelho é força libertadora e promotora de desenvolvimento. É este, aliás, o contributo específico da Igreja missionária para a humanização do mundo. Um contributo que leva a felicidade às pessoas e faz com que o evangelizador seja um homem feliz. “Um missionário plenamente devotado ao seu trabalho experimenta o prazer de ser um manancial que transborda e refresca os outros”, recorda-nos Francisco, cuja vida não testemunha outra coisa. DARCI VILARINHO

“UMA FÉ AUTÊNTICA QUE NUNCA É CÓMODA NEM INDIVIDUALISTA COMPORTA SEMPRE UM PROFUNDO DESEJO DE MUDAR O MUNDO, TRANSMITIR VALORES, DEIXAR A TERRA UM POUCO MELHOR DEPOIS DA NOSSA PASSAGEM POR ELA”


PONTO DE VISTA

VIRIATO SOROMENHO MARQUES . PROFESSOR CATEDRÁTICO .

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: UM TESTE MORAL À NOSSA HUMANIDADE A Conferência de Paris (dezembro de 2015) poderá ter um papel decisivo na coordenação de ações mundiais para combater a grande ameaça ontológica representada pelas alterações climáticas. A encíclica do Papa Francisco, Laudato Si, contém todas as mensagens que os líderes políticos e empresariais não podem deixar de escutar. As alterações climáticas antropogénicas (causadas pela ação humana) dão-nos razões imperativas para acelerarmos a saída de uma economia e de um estilo de civilização patologicamente dependentes dos combustíveis fósseis. De acordo com o melhor consenso científico possível, se deixarmos aumentar a concentração de gases com efeito de estufa para além de 450 ppmv de dióxido de carbono equivalente, correremos o risco de sofrer um aumento médio global da temperatura superior a 2ºC, que inviabilizará muitas das medidas de adaptação que estão a ser tomadas. A necessidade e urgência dessa mudança prende-se com a sua extraordinária velocidade temporal. Enquanto as glaciações, por exemplo, abrangem períodos de aproximadamente 100.000 anos, o atual aquecimento global é e será ainda mais visível em escassas dezenas de anos. Se o carbono e o metano contidos no permafrost (solo permanentemente gelado) siberiano forem libertados pelo aumento da temperatura, isso significará uma

intensificação extraordinária da concentração de gases de estufa. O comportamento da criosfera terá aqui um papel decisivo. Se a temperatura média se elevar 3ºC, ou mais, correremos o risco de despertar um mecanismo de não retorno que poderá levar, ao longo dos próximos séculos, ao colapso completo das grandes massas de gelo permanente que se encontram sobre a Gronelândia e a Antárctida. Nesse caso, a elevação do mar assumiria proporções diluvianas de mais de 60 metros. Por tudo isso, necessitamos de um acordo global em Paris, que envolva todas as nações, incluindo a China e os Estados Unidos da América, que em conjunto são responsáveis por 44 por cento das emissões globais de gases de estufa. Trata-se de um imperativo de justiça e uma condição para a paz. Num planeta devastado por fenómenos extremos e por milhões de refugiados fugindo das linhas costeiras será demasiado tarde para corrigir o mal que a nossa indiferença coletiva está a deixar crescer sem resposta.

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HORIZONTES

NO SEU LUGAR Texto | TERESA CARVALHO Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Sílvia estava num recanto do auditório onde a sua cadeira de rodas não interrompia a passagem. O conferencista explicava que uma comunidade, para ser saudável, terá de aceitar a diferença de cada pessoa. Não por generosidade, mas porque cada pessoa é diferente. É essa diferença que cria riqueza. Se quiser deixar alguém de fora, quem sai? E quem tem autoridade para o decidir? Sílvia pensava: “Se houver muita gente a sentir assim, haverá menos excluídos”. Hoje Sílvia não é excluída, mas durante muitos anos experimentou ser tão diferente que pensava não ter lugar no mundo dos “normais”: desde os seis anos habituou-se a ficar na escola quando os colegas iam a visitas de estudo; a ficar num cantinho do recreio para não atrapalhar com a cadeira de rodas, a não fazer ginástica, a não ser convidada para ir a festas dos colegas. Com tanto “não”, Sílvia acreditou que era “diferente”. E que era “menos”! Tão “menos” que sentia vergonha e culpa por precisar da ajuda de outros. Nunca seria “normal”, pensava com dó de si. Um dia, um professor diferente foi à sua escola. Entrou na sala e perguntou: – Quais destes meninos e meninas quer experimentar uma aula de dança?

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Todos levantaram o braço em pronta algazarra. Todos não! Sílvia não levantou o braço. Limitou-se a olhar os colegas e a pensar na sorte que tinham. Já nem ligava: estava habituada. Com a euforia dos colegas nem viu o professor a aproximar-se. Sobressaltou-se com uma voz ao seu lado: – E tu, minha querida, não queres dançar? Sílvia olhou-o e pensou que aquele senhor não era nada esperto. Era simpático mas não percebia nada de dança. Delicadamente, explicou: – Quando se tem uma cadeira de rodas não se pode dançar! Mas aquele senhor continuou: – Na minha turma de dança, os meninos que têm cadeira de rodas podem dançar! Tu gostarias? Aos oito anitos, Sílvia não se atrevia a contrariar um professor. Disse logo que “sim”, mas sabendo que seria só a fingir. Mesmo assim, soube-lhe tão bem ele não a ter deixado de fora. E não foi só a fingir. Aquele professor fundou um grupo de dança “diferente”. Para ele bastava ser pessoa e querer dançar. Tinha invisuais, com surdez, com deficiência motora, crianças, jovens, adultos. Tinha “pessoas”.

– Que baralhada. Isto nunca vai ser nada de jeito – pensava Sílvia desacreditada de si e de muitos outros colegas do grupo. Hoje Sílvia diz orgulhosamente que pertence ao reconhecido grupo “Dançando com a Diferença”, convidado em numerosos eventos nacionais e internacionais. Talvez por isso, hoje Sílvia foi a primeira a levantar o dedo para colocar uma questão: – Professor, obrigada pela sua comunicação. Coloco-lhe uma questão: “Como o professor disse, não basta a sociedade querer incluir alguém «diferente». Essa pessoa terá, ela própria, de encontrar o papel que é seu por direito. Por isso, a sociedade só terá de permitir que cada um ocupe o seu lugar”. As palmas da assembleia soltaram-se, destacando Sílvia que, da sua cadeira de rodas, sabe que tem direito a ser ela própria. Já não sente a vergonha e a culpa de quando era menina: agora ocupa o seu lugar de pessoa insubstituível – porque “alguém” não a deixou de fora e ela quis ser parte do todo a que todos pertencemos.


DESTAQUE NEGOCIAÇÕES ENTRE O GOVERNO COLOMBIANO E AS FARC

CONFLITO DURA HÁ MAIS DE 50 ANOS E É RESPONSÁVEL PELA MORTE DE 220 MIL PESSOAS E SEIS MILHÕES DE DESALOJADOS

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A PAZ CHEGOU AO PONTO DE NÃO RETORNO? Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

O governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) alcançaram o Judicial, considerado um dos pontos decisivos e mais difíceis das negociações de paz, que há três anos estão a decorrer sob a égide de Cuba e da Noruega. O acordo, firmado entre o Presidente colombiano Juan Manuel Santos e o líder das FARC, Rodrigo Londoño, também conhecido por Tiomochenko, prevê a criação de um tribunal especial e a declaração de uma amnistia “o mais ampla possível” para delitos políticos, que exclui os crimes graves de guerra contra a humanidade e o genocídio. Dentro de 60 dias, as FARC deverão entregar as armas e Juan Manuel Santos estimou que dentro de seis meses o acordo de paz será assinado. Em causa estão as negociações com o movimento guerrilheiro mais antigo da América Latina e um conflito que dura há mais de 50 anos, responsável pela morte de 220 mil pessoas e seis milhões de desalojados, vinte mil raptos e diversas regiões submetidas a um regime de terror, pelas diferentes partes beligerantes.

Os Estados Unidos da América, um dos países que apoiou o governo colombiano no combate armado das FARC e do narcotráfico, consideraram que o acordo sobre as questões de justiça “representa um progresso histórico que porá fim a 50 anos de conflito armado”.

Uma guerra sem vitórias

O destaque dado a esse acordo justifica-se pelo facto de ele ser considerado um dos pontos mais sensíveis do conflito. Em causa estão as negociações sobre um sistema judicial transitório que permita integrar os cerca de sete mil guerrilheiros das FARC, embora se considere que ele possa ser extensível a cerca de 15 mil pessoas, envolvidas quer de um lado quer de outro do conflito. Líderes políticos e mesmo organizações de direitos humanos consideram que estamos perante um acordo que sacrifica a justiça para com milhares de vítimas de graves violações de direitos humanos, enquanto alguns analistas consideram que ele continuará a ser também a grande questão quando chegar a altura de passar pelo

crivo do Tribunal Constitucional, pelo parlamento, ou mesmo de um eventual referendo nacional. Porém, outras três questões estiveram na mesa das negociações: a participação política de guerrilheiros desmobilizados, a luta contra o narcotráfico e a política agrária, esta uma das razões que estiveram na origem da guerrilha. As múltiplas tentativas do governo em aniquilar militarmente a guerrilha, mesmo com o apoio militar norte-americano, revelaram-se, até agora, infrutíferas e, por vezes, terminaram em humilhantes derrotas. Por seu lado, as FARC, que se definem como um movimento de defesa das populações camponesas e rurais, não impediram o crescimento do poder dos latifundiários e o conflito tem contribuído para colocar em segundo plano a reivindicação de reformas sociais e de maior justiça social. Por isso, como comentou o Papa Francisco, estas negociações – as quintas desde o início do conflito – não podem falhar.

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MUNDO MISSIONÁRIO

POR E. ASSUNÇÃO

FAMÍLIAS EM ÁFRICA VÍTIMAS DE GUERRAS E IDEOLOGIAS CONTRÁRIAS Os bispos africanos que participaram no Sínodo sobre a família afirmam que a pobreza, as guerras, a crise ecológica e as ideologias contrárias aos valores familiares são uma ameaça que pesa sobre a família africana. “Conhecemos numerosos casos de famílias feridas, separadas e divorciadas”. E acrescentam: “Este fenómeno é agravado pelos problemas económicos e políticos, quer ligados às nossas próprias responsabilidades, quer ligados aos efeitos nefastos de um sistema económico mundial de enriquecimento de uns e de empobrecimentos de outros”. Imensas famílias encontram-se abandonadas a uma precária situação económica generalizada e a uma desigualdade muito grave: “Uma maioria de pessoas e de famílias vive numa pobreza extrema, ao passo que uma minoria desfruta as riquezas e os bens que deveriam servir ao bem-estar de todos”. Por outro lado a avidez de grupos económicos, sob o pretexto de reduzir a pobreza e de trabalhar para o desenvolvimento das populações pobres, leva à usurpação das terras com um impacto negativo sobre as famílias. “Destroem florestas, inquinam o ambiente e provocam uma desertificação nunca vista”, provocando “não só uma hecatombe sem precedentes, mas também uma catástrofe ecológica”.

FILIPINAS

PAQUISTÃO

Milhares de crianças, muitas delas com apenas nove anos, mergulhadas na água ou em poços precários a mais de 25 metros de profundidade são forçadas a trabalhar em condições desumanas. Os menores são obrigados a trabalhar à procura de ouro em minas, sujeitos a afogar-se ou a contrair doenças. Imersos na água ou em minas malfeitas correm o risco de ferir-se com pedras e traves. Manejam o mercúrio, um metal altamente tóxico, com consequências perigosas para o seu débil organismo. As Filipinas são o 20º maior produtor mundial de ouro.

em Sargodha, no Punjab. É acusado de blasfémia porque estava em sua casa a rezar por uma pessoa. Um agente da polícia disfarçado foi a casa do jovem para pedir orações. Este colocou a espada do polícia, onde estavam gravadas umas palavras do Alcorão, debaixo da mesa. Por este gesto o jovem foi acusado de ultrajar intencionalmente o livro sagrado dos muçulmanos e agora até a sua família está a ser perseguida. Casos como estes sucedem-se permanentemente no Paquistão. “A lei da blasfémia está a desenvolver um clima de intolerância, gerando a violação de uma vasta gama de direitos humanos, incluindo os direitos de liberdade de expressão e de religião”, explica o advogado de Naveed John.

POR OURO MENORES CONTINUA A PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS Novas detenções, prisão e violência continuam a ferir os cristãos paquistaneses. EXPLORADOS Uma das últimas vítimas é um jovem cristão de 24 anos, Naveed John, preso

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Fátima Missionária


MUNDO MISSIONÁRIO PALESTINA

PERES CONTRA VIOLÊNCIA

ZIMBABWE

EMERGÊNCIA ALIMENTAR

Mais uma vez o Zimbabwe não tem capacidade de alimentar a sua população. Mais de 1,5 milhões de pessoas, correspondente a 16 por cento da população, necessitam de ajuda urgente. Nas regiões meridionais do país não houve colheitas devido à falta de chuvas, provocando a fome entre os zimbabueanos. A instabilidade alimentar está também ligada a uma reforma agrária mal sucedida que em 2000 obrigou 2.900 proprietários brancos a deixar as suas terras. A expropriação provocou o aumento do desemprego, conduzindo ao colapso da economia.

IRAQUE

FREIRAS VIVEM COM REFUGIADOS

Líderes de diversas religiões e tradições religiosas encontraram-se com o ex-Presidente israelita Shimon Peres para dialogar sobre a escalada de violência que voltou a derramar sangue na Terra Santa. O estadista israelita reafirmou a necessidade de, em união de esforços, criarem uma barreira contra o terrorismo e a violência em nome de Deus, segundo referiu o patriarcado latino de Jerusalém. É urgente proclamar em voz alta “que não existe um Deus que aprove o homicídio”. Shimon Peres acrescentou que Israel não tinha nenhuma intenção de encorajar as tensões na região. Por sua vez, George Ayoub, sacerdote do patriarcado, sublinhou que “a ocupação constitui um problema” e que o único caminho para quebrar a espiral infinita de violência é pôr fim à ocupação e avançar para a criação do Estado palestiniano, em base às fronteiras reconhecidas pela ONU em 1967.

Duas irmãzinhas dos Pobres de Charles de Foucauld, Afnan e Alice, decidiram viver num acampamento em Ankawa, na periferia de Erbil. Aí experimentam a situação precária de milhares de cristãos que fugiram da Planície de Nínive fustigados pelos jihadistas do Estado Islâmico. As duas religiosas partilham as condições de vida e as dificuldades de milhares de famílias obrigadas a deixar as suas próprias casas e a viver em tendas, não se sabe por quanto tempo, para fugir à violência. A sua preocupação é sobretudo acompanhar as crianças e os jovens, ajudando-os a escapar à sensação de vazio, procurando evitar os fenómenos de degradação humana e social.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

CORAÇÕES AO ALTO É difícil falar de Roma em fins de outubro de 2015, sem fazer menção ao Sínodo dos bispos sobre a família que aqui terminou nestes dias. Muitos esperavam que o Sínodo se concentrasse nalguns casos – o divorciado, o homossexual, comunhão sim ou não… – casos esses que merecem toda a atenção e respeito, mas de facto foi de família, pai, mãe e filhos, que especialmente se falou. Os resultados não serão imediatamente visíveis, mas está dado um passo importante para que a família cristã possa espelhar sempre melhor o amor recíproco e fecundo de Cristo e da Igreja donde brota a grande família dos batizados. Ao testemunhar estes acontecimentos veio-me à mente um paralelo entre Roma em outubro de 2015 e Fátima em outubro de 1917. De Fátima existem fotografias da multidão de olhos fixos no céu: era o milagre do sol. O que aconteceu em Roma convida a erguer a mente e o coração para a luz que vem do alto: é o milagre da família unida. Quando aos domingos a Praça de São Pedro se enche e os peregrinos fixam os olhos no Papa que da janela os saúda, parece-me rever, a quase um século de distância, a cena milagrosa de outubro de 1917. Deus nunca abandona o seu povo.

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A MISSÃO HOJE

PADRE USA ALGEMAS PARA REZAR EM CATIVEIRO O MUNDO VIVE HOJE A MAIOR CRISE DE REFUGIADOS DESDE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. MILHARES DE PESSOAS ESTÃO EM FUGA DE PAÍSES EM GUERRA. MUITOS SÃO CRISTÃOS. FORAM ESCORRAÇADOS DAS SUAS CASAS E DAS SUAS VIDAS E PRECISAM DE AJUDA TEXTO | PAULO AIDO* FOTO | AIS

Foram nove dias em cativeiro. O padre Douglas Bazi estava numa das avenidas principais da capital iraquiana, Bagdade, quando um carro que vinha em grande velocidade parou junto de si. Começou aí a tortura. Queimaram-no com pontas de cigarro, partiram-lhe dentes e o nariz. Algemaram-no. Foram nove dias de tortura, sem comer nem beber água. Foram mais de 200 horas de suplício, num país onde o rapto de pessoas vale milhões e atinge particularmente os cristãos.

sobreviver. “Foi o mais belo rosário que já rezei em toda a minha vida”. As algemas, colocadas para lhe prender os movimentos, libertaram-lhe o espírito. “Tinham exatamente dez argolas.” Os raptores podiam bater-lhe, queimar-lhe o corpo, privá-lo de comida e de água. Fizeram-lhe isso tudo e nunca repararam, nem podiam reparar, que os dedos do padre Douglas iam acariciando as argolas das algemas, numa oração ininterrupta. Batiam-lhe no corpo mas não podiam prender-lhe a alma.

Rezar com as algemas

Exemplo missionário

Os algozes julgavam que assim, algemado, o sacerdote não conseguiria fugir. O que nunca imaginariam é que ele iria usar essas algemas para rezar. Foi nas avé-marias, rezadas em silêncio, que foi buscar coragem para

O padre Douglas tem 47 anos e vive agora em Ankawa. Forçado a fugir, como milhares de iraquianos, por causa da guerra, é agora um refugiado entre refugiados. O seu trabalho é a melhor legenda da missão da Igreja nos

“ESTA É UMA IGREJA DE SANGUE”, COSTUMA DIZER, PADRE DOUGLAS BAZI ACRESCENTANDO, QUE NO IRAQUE, “SE ALGUÉM FIZER UM BURACO PARA PROCURAR PETRÓLEO, VAI DESCOBRIR SANGUE DE CRISTÃOS. PORÉM, O PETRÓLEO É MAIS CARO DO QUE O SANGUE DOS MÁRTIRES” D B, 47 ,    . D           I

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Fátima Missionária


PERFIL SOLIDÁRIO

dias de hoje: tenta ajudar o povo cristão a sobreviver aos dias de provação. “Esta é uma Igreja de sangue”, costuma dizer, acrescentando, que no Iraque, “se alguém fizer um buraco para procurar petróleo, vai descobrir sangue de cristãos. Porém, o petróleo é mais caro do que o sangue dos mártires”. O sacerdote ajuda mais de uma centena de famílias cristãs. Através dos donativos dos benfeitores e amigos da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) vai tentando refazer vidas, dando esperança a quem perdeu tudo. Ele é também um exemplo do trabalho missionário nestes países martirizados. Onde a Igreja chora, onde os cristãos são perseguidos, há alguém que ampara, que conforta, que auxilia.

Mãos estendidas

Quando o padre Werenfried van Straaten fundou a AIS nos escombros da Segunda Guerra Mundial, a Europa estava destroçada e pelas ruas carregadas de ruínas vagueavam milhares de pessoas de mãos vazias. Pessoas perdidas que precisavam de ajuda. Hoje, vemos outra vez milhares de refugiados que procuram na Europa uma vida com dignidade, pessoas que estão a fugir da guerra, de cidades em ruínas. Pessoas assustadas que foram obrigadas a deixar tudo o que tinham e agora precisam de ajuda. Todos os dias surgem imagens de homens, mulheres e crianças que fogem da morte, como uma mancha de sangue que não para de crescer. Vêm do Iraque, Síria, Líbia, Afeganistão, Nigéria… São pessoas como nós. Estão perdidas. Estão de mãos estendidas. Pedem-nos ajuda. Não podemos fingir que não as vemos. “Se têm algum poder e vontade para salvar o meu povo, por favor, façam alguma coisa. Salvem-nos!”, implora o padre Douglas. * Fundação Ajuda à Igreja que Sofre Texto conjunto MISSÃOPRESS

O PADRE DOS RECLUSOS Texto | FP

Incansável na defesa dos direitos e da dignidade das pessoas detidas, o padre João Gonçalves, de 70 anos, luta há mais de quatro décadas pelo aperfeiçoamento da reinserção social dos reclusos. Como capelão do Estabelecimento Prisional de Aveiro e coordenador nacional da Pastoral Penitenciária, preocupa-se mais com a recuperação da pessoa em reclusão, do que com o crime que cometeu. Nos últimos anos, tem assistido ao aumento progressivo do número de presos nas cadeias portuguesas, com a consequente degradação do ambiente prisional, fruto da crescente agressividade entre detidos. Mas mantém a convicção de que é sempre possível a reinserção, mesmo que isso tenha que envolver mais meios e mais pessoas. E continua a sonhar com um país sem prisões, à semelhança do que se vai experimentando nos países nórdicos. “Temos de estar mais atentos e olhar para as cadeias onde estão pessoas que sofrem, que muitas vezes foram vítimas do seu próprio crime, pelo ambiente e pelo trabalho que não tiveram, por uma sociedade que nem sempre os acolheu, nem compreendeu as suas carências ou dificuldades”, afirma o sacerdote.

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A MISSÃO HOJE

MoçaMbique

CENTRO DO GUIÚA FORMA CATEQUISTAS HÁ MAIS DE QUATRO DÉCADAS Texto | SANDRO FAEDI Foto | DR

O Centro de Promoção Humana do Guiúa foi criado em 1972, por iniciativa de Ernesto Gonçalves Costa, na altura bispo de Inhambane, Moçambique, com o objetivo de formar leigos para a liderança social e pastoral nas comunidades do interior. Nesse ano, abriu-se um curso para 30 catequistas e suas famílias. E a cada dois anos foi iniciado um novo curso. Até 1987, data em que o centro foi encerrado após o ataque de um grupo de guerrilheiros, que resultou na morte do catequista Peres Manuel. Várias famílias foram raptadas, mas acabaram por ser libertadas meses depois. Em 1992, o bispo Alberto Setele reabriu o espaço, mas logo na primeira noite, entre 21 a 22 de março, ocorreu um novo ataque. Os combatentes entraram nas casas dos catequistas recém chegados e levaram-nos à força para um local a três quilómetros de distância. Depois de interrogados, foram maltratados, e por fim esfaqueados. Foram mortas 23 pessoas, que são hoje consideradas mártires do Guiúa, cujos túmulos são alvo de veneração

e admiração por toda a diocese. Passados 12 anos, 17 famílias voltaram a abrir novamente as portas do centro catequético. Uma data memorável, que marcou o começo duma nova etapa pastoral para a diocese de Inhambane. Este ano, iniciou-se o décimo curso de formação de catequistas, após o martírio em 1992, que é frequentado por 14 famílias. Os formandos, oriundos de várias zonas do país, sentam-se nas salas de aula para aprender teologia, pastoral, catequese, história, política, leis e informática, de forma a ficarem preparados para animar as comunidades cristãs e liderar as aldeias onde habitam. Os seus filhos, aproveitam para estudar no jardim de infância, na Escola Primária Completa ou na Secundária, recém aberta. Para a Igreja moçambicana, considerada ministerial desde 1977, a formação de leigos comprometidos e responsáveis é de extrema importância, pois existem centenas de comunidades no interior, onde os padres e missionários só conseguem ir duas a três vezes por ano, para a celebração da Eucaristia ou dos sacramentos. A liderança, a catequese e a liturgia dominical estão a cargo destes catequistas que conseguem manter as comunidades vivas, ativas e participativas, o que demonstra a importância deste projeto para a Igreja missionária.

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Fátima Missionária


FÁTIMA INFORMA

CRIADO PLANO ESPECIAL PARA CONSERVAR IMAGEM ESTUDO FEITO À IMAGEM ORIGINAL DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA DETETOU “PEQUENOS DANOS” PROVOCADOS PELO USO EM CONTEXTO LITÚRGICO E PELA EXPOSIÇÃO ÀS CONDIÇÕES AMBIENTAIS Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | SANTUÁRIO DE FÁTIMA

As equipas envolvidas no exame técnico à imagem de Nossa Senhora de Fátima, instalada na Capelinha das Aparições, estão a preparar um plano especial de conservação, para restaurar os “pequenos danos” detetados em laboratório e travar os processos de degradação da escultura, oferecida ao santuário, em 1920, por um grupo de devotos. Segundo o reitor do templo mariano, padre Carlos Cabecinhas, genericamente a imagem “encontra-se em bom estado de conservação”, mas apresenta algumas “fissuras e desgastes” no revestimento polícromo, que importa agora reparar e fazer com que não evoluam. Independentemente do que vier a ser proposto pelos técnicos, o sacerdote assegura que a escultura da Virgem Maria não deixará de integrar as procissões no recinto do santuário. O estudo, cujas conclusões foram tornadas públicas na peregrinação internacional de outubro, foi iniciado em 2013 e esteve a cargo do Museu do Santuário de Fátima e do Laboratório de Conservação e Restauro do Instituto Politécnico de Tomar. Nos testes laboratoriais foi ainda possível verificar que a imagem “é ricamente decorada com ouro de 22 quilates e com incrustações de diamantes e outras gemas”. Esculpida em cedro do Brasil, por José Ferreira Thedim, a escultura mede 1,10 metros, foi entronizada na Capelinha das Aparições a 13 de junho de 1920 e coroada pelo Legado Pontifício Cardeal Masela, em 13 de maio de 1946. T      N S  F     

Aprender a coordenar equipas

O Consolata Museu | Arte Sacra e Etnologia vai realizar nas suas instalações o curso livre “Coordenação de Equipas” todas as terças e quintas-feiras do mês de novembro. A formação irá decorrer das 20h00 às 22h00 e será ministrada por Arminda Bandeira, pós-graduada em Gestão de Recursos Humanos.

Como dar catequese

A primeira sessão do “Curso de Iniciação de Catequistas” irá decorrer nos dias 7 e 8 de novembro no Centro Catequético. Os participantes vão receber formação catequética, psicopedagógica, doutrinal e aprender a preparar e realizar uma catequese.

AGENDA

NOVEMBRO

DIA 14

Retiro no Seminário da Consolata - "Tive fome e deste-me de comer"

Multidões motivam debate

Os Bombeiros Voluntários de Fátima e o Santuário de Fátima vão promover um seminário sobre “Gestão de multidões nos grandes eventos”. O congresso irá decorrer dia 14 de novembro, a partir das 09h00, no Centro Pastoral Paulo VI.

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MIGRAÇÕES A VOZ DOS INOCENTES

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DOSSIER

SÍRIA SINÓNIMO DE GUERRA, TERRORISMO E REFUGIADOS CONFLITO DURA HÁ QUATRO ANOS E SE COMEÇOU POR SER UMA REVOLTA CONTRA UM DITADOR, AGORA É UMA GUERRA DE TODOS CONTRA TODOS, COM O ESTADO ISLÂMICO A DESTACAR SE PELA SELVAJARIA E MINORIAS RELIGIOSAS, COMO OS CRISTÃOS, EM RISCO DE DESAPARECER. A COMPLICAR TUDO, ALÉM DO PAÍS FAZER PARTE DO TABULEIRO DE XADREZ ONDE AS POTÊNCIAS REGIONAIS MEXEM OS PEÕES, TAMBÉM OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA E A RÚSSIA ESTÃO ENVOLVIDOS. À EUROPA CONTINUAM A CHEGAR MILHARES DE REFUGIADOS SÍRIOS TEXTO | LEONÍDIO PAULO FERREIRA* Fotos | LUSA

Primeiro foram os vídeos com decapitações de estrangeiros feitas pelo Estado Islâmico, depois as imagens de crianças que se afogaram quando as famílias tentavam chegar à Europa, agora são os receios que os aviões russos choquem com os americanos, ambos envolvidos no bombardeamento dos jihadistas embora com objetivos diferentes. Parece que é preciso o envolvimento dos ocidentais para que a guerra civil na Síria não caia no esquecimento, apesar de nestes quatro anos de rebelião contra o regime de Bashar al-Assad terem morrido mais de 250 mil pessoas, haver 12 milhões de deslocados (um terço dos quais refugiados no estrangeiro) e a luta pela democracia contra um ditador ter-se transformado num conflito sectário que envolve as potências regionais, como o Irão xiita e a Arábia Saudita sunita, mas também

os Estados Unidos da América (EUA) e a Rússia, a França, antiga potência colonial, ou até a Austrália, um dos membros da coligação contra o Estado Islâmico formada em 2014 e liderada pelos EUA. Ao contrário de outros líderes árabes derrubados pela Primavera Árabe, como o tunisino Ben Ali (fugido para o exílio), o egípcio Hosni Mubarak (preso) e o líbio Muammar Kadhafi (morto), o sírio Assad resistiu ao assalto inicial dos rebeldes, garantiu o apoio das minorias religiosas, recebeu ajuda de poderosos aliados e beneficiou da crescente má imagem de uma oposição cada vez mais controlada por extremistas religiosos, seja o Estado Islâmico sejam grupos ligados à Al-Qaeda. Apesar de controlar apenas parcelas do território, sobretudo parte de Damasco e a zona litoral onde a

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minoria alauita é dominante, Assad mostra capacidade de resistência e hoje até os EUA admitem que a sua partida não tem de ser imediata desde que isso permita pacificar a Síria e acabar com o Estado Islâmico. Para a Europa, encontrar uma solução para a Síria tornou-se urgente depois da vaga de refugiados que este ano atravessou o Mediterrâneo. Foram quase um milhão de pessoas, a esmagadora maioria sírios, que, vindas da Turquia, cruzaram o Egeu, chegaram às ilhas gregas, daí foram levadas para o continente, onde se lançaram numa marcha (a pé, de autocarro e de comboio) via Balcãs até à União Europeia, vista como o Eldorado, sobretudo a Alemanha. Com a Grécia em crise económica a ter de lidar com a chegada maciça de refugiados, colocou-se de imediato a questão da solidariedade europeia,

COM A GRÉCIA EM CRISE ECONÓMICA A TER DE LIDAR COM A CHEGADA MACIÇA DE REFUGIADOS, COLOCOU SE DE IMEDIATO A QUESTÃO DA SOLIDARIEDADE EUROPEIA, NÃO SÓ EM TERMOS DE AJUDA FINANCEIRA COMO DE DISPONIBILIDADE PARA RECEBER GENTE

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não só em termos de ajuda financeira como de disponibilidade para receber gente. A Alemanha surpreendeu pela abertura, com a chanceler Angela Merkel a dizer que não faltavam razões para o país acolher os sírios, fosse a solidariedade fosse até a crise demográfica que faz com que a principal potência económica europeia tenha escassez de pessoas. Mas países como a Hungria ou a Eslováquia tiveram reações egoístas, a primeira erguendo um muro fronteiriço para travar os refugiados, a segunda dizendo-se disposta a acolher apenas cristãos, apesar de a grande maioria dos sírios serem muçulmanos. Portugal, apesar de distante do conflito, mostrou-se disposto a acolher refugiados. Um dos medos mostrados pela opinião pública europeia (e explorados por forças políticas xenófobas) é a entrada de jihadistas na Europa escondidos entre as vagas de refugiados. É uma

hipótese, mesmo que minoritária. Afinal, porque se arriscariam os terroristas a morrer afogados numa travessia clandestina do Mediterrâneo se é mais fácil falsificar documentos e viajar de avião ou radicalizar alguém já a viver na Europa? Mas o próprio Estado Islâmico tem-se mostrado desiludido com a fuga de centenas de milhares de sírios para a Europa, pois isso significa que mesmo para as populações sunitas o seu projeto de califado na Síria e no Iraque não é atraente. E blogues ligados aos jihadistas lançaram mesmo apelos contra essa emigração, dizendo que estariam a condenar os filhos a crescerem em sociedades cristãs consideradas inimigas do Islão. Além dos alauitas, grupo xiita a que pertence o próprio Assad, outras minorias, como os cristãos, têm permanecido ao lado do regime, vendo o ditador como a proteção possível contra os fundamentalistas.


Mas tal como no Iraque pós-Saddam Hussein assiste-se a um êxodo de cristãos sírios, que antes da guerra eram quase um milhão numa população de 23 milhões. Tirando o Egito onde são numerosos e o Líbano onde são uma percentagem elevada da população, os cristãos do Oriente estão ameaçados de desaparecer, pois a fúria dos extremistas escolhe-os como alvos. No Iraque e na Síria, têm sido as milícias curdas que têm vindo em socorro dos cristãos e outras minorias, como os yazidis, a quem o Estado Islâmico só dá a escolher entre conversão ou morte, na pior das hipóteses escravatura, incluíndo sexual, como aconteceu a mulheres yazidis, uma comunidade sincrética com um culto que junta islamismo, cristianismo e zoroastrismo. *jornalista do DN

PELUCHES E MEDOS Acabados de sair do comboio, os refugiados, na maioria sírios, não escondiam a surpresa de serem recebidos na estação de comboios de Munique por aplausos, voluntários a distribuir comida, roupas ou peluches para as crianças. Nesta crise dos refugiados que está a atingir a Europa, a Alemanha tem-se destacado pela abertura e solidariedade para com aquelas pessoas dispostas a arriscar a vida para fugir da guerra e procurar uma nova vida com a família. Mas com um milhão previsto chegar a solo alemão até final do ano, a situação começa a preocupar as autoridades, que reforçaram os controlos nas fronteiras. E está a gerar divisões no próprio governo, com a CSU, a irmã bávara da CSU de Angela Merkel a criticar a chanceler e ameaçar levar o executivo a tribunal se não

conseguir limitar o fluxo de entradas. Uma divisão interna que apenas espelha uma divisão maior dentro da União Europeia (UE), onde os países de Leste, como Eslováquia, República Checa, Hungria e Polónia se têm oposto a abrir as portas aos refugiados. A Hungria do primeiro-ministro Viktor Orban tem sido quem mais expressou o descontentamento com a chegada de migrantes. De tal forma que não só proibiu a passagem pelo seu território, como construiu uma vedação de arame farpado na fronteira para impedir a entrada dos refugiados Até agora, os 28 Estados membros da UE aceitaram receber 120 mil dos refugiados que já se encontram na Grécia e Itália, as portas de entrada onde todos os dias continuam a chegar sírios, iraquianos, mas também afegãos, sudaneses ou eritreus em barquinhos sem condições, muitos deles, mulheres e crianças. O primeiro grupo de 19 pessoas já foi entretanto transferido da Itália para a Suécia. Distribuídos de acordo com critérios que têm em conta o PIB, a taxa de desemprego ou a tradição de acolhimento de cada país, os refugiados serão depois integrados pelas autoridades de cada Estado. Portugal deverá receber quase 4.600. Apesar do maior perigo no mar devido às piores condições atmosféricas, nas primeiras semanas de outubro continuaram a chegar às ilhas gregas 7.000 pessoas por dia. Uma situação que obriga a uma resposta coordenada da Europa. “As promessas não chegam. É preciso agir”, afirmou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

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A GRANDE DÚVIDA DE MOMENTO, PARA OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, É COMO EVITAR QUE A INTERVENÇÃO RUSSA, EM APOIO DE ASSAD MAS TAMBÉM CONTRA O ESTADO ISLÂMICO, SE TRANSFORME EM MAIS UM PROBLEMA NA REGIÃO

A POSIÇÃO DAS POTÊ ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Os americanos apoiam desde o início a rebelião contra o regime sírio e além de armarem vários grupos chamados moderados treinaram mesmo um grupo de combatentes. Mas sempre defenderam uma solução política para o conflito iniciado em 2011 e nos últimos meses o secretário de Estado John Kerry admitiu mesmo que a saída do poder de Bashar al-Assad, o contestado líder sírio, não é uma prioridade, deixando entender que a diplomacia americana o vê neste momento como um mal menor comparado com o Estado Islâmico. Aliás, foi a emergência desse grupo jihadista que obrigou os EUA a um envolvimento mais direto na guerra civil síria, com bombardeamentos desde 2014 contra as posições do Estado Islâmico. No ano anterior, por causa de acusações de uso de armas químicas pelo regime, o Presidente Barack Obama esteve prestes a ordenar uma intervenção militar americana na Síria, mas a entrega para destruição do arsenal de Assad acabou por satisfazer os EUA. A grande dúvida de momento, para os norte-americanos, é como evitar que a intervenção russa, em apoio de Assad mas também contra o Estado Islâmico, se transforme em mais um problema na região.

RÚSSIA

A Síria dos Assad (Bashar e antes o pai, Hafez) sempre foi um aliado seguro do Kremlin no Médio Oriente desde os tempos da União Soviética. E a Rússia conta com bases navais no país, pelo que a ameaça de derrube do regime foi desde o início vista como inaceitável. Tem sido, aliás, graças à ameaça de veto do representante russo no Conselho de Segurança que a ONU não avançou com nenhuma resolução para atacar o ditador sírio. Desta proteção diplomática e do fornecimento de armas, que durava há quatro anos, a Rússia passou nas últimas semanas aos bombardeamentos aéreos de posições terroristas, o que significa não só o Estado Islâmico como outros grupos que combatem o exército governamental. Perante as acusações de que se limitou a vir em socorro de Assad, o Presidente Vladimir Putin tem insistido que a prioridade dos aviões russos são os jihadistas, de todas as obediências. A ação russa, que deveria ter uma coordenação mínima com a dos EUA, já trouxe tensão com a NATO, depois de um caça ter entrado no espaço aéreo da Turquia, país membro da aliança militar. Há quem veja também o envolvimento russo como parte de uma estratégia global de reafirmação como superpotência.

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ÊNCIAS ARÁBIA SAUDITA

Guardiões dos lugares santos do Islão (Meca e Medina), os sauditas encarnam o sunismo conservador e veem como inimigos tanto o expansionismo xiita como as ditaduras laicas árabes, razão mais do que suficiente para apoiarem de corpo e alma a rebelião contra Assad. E desde o primeiro momento, a Arábia Saudita envolveu-se no apoio militar e financeiro aos grupos que pegaram em armas contra o regime de Damasco, numa competição pouco criteriosa com o Qatar, outra monarquia do Golfo Pérsico desejosa de ganhar influência a reboque da Primavera Árabe. Mas de repente a família real – os Saud – percebeu que entre os jihadistas, populares numa parte da população saudita, havia quem desafiasse a legimitidade da dinastia e isso obrigou-a a repensar a estratégia. Com o Estado Islâmico a atacar também alvos na Arábia Saudita, o país não teve outra alternativa que não fosse integrar a coligação internacional criada pelos EUA, mas isso não significou desistir do derrube de Assad. Preocupada já com o novo clima de diálogo entre os EUA e o Irão, seu inimigo regional, os sauditas assistem agora com frustração ao apoio renovado russo a Assad, não sendo de descartar um reforço da sua ajuda aos grupos que combatem o regime de Damasco.

TURQUIA

De parceiro de Assad a inimigo declarado foi um passo para o então primeiro-ministro turco (agora Presidente) Recep Erdogan. Apoiante entusiasta da Primavera Árabe como oportunidade para expandir a sua influência regional, o líder turco não perdoou ao Presidente sírio a repressão violenta sobre os opositores de início pacíficos. Mas o envolvimento da Turquia no conflito no país vizinho acabou por trazer problemas inesperados: por um lado, a chegada de dois milhões de refugiados, por outro críticas dos parceiros ocidentais por permitir a passagem de voluntários jihadistas para a Síria, e nos últimos tempos também a ameaça do Estado Islâmico de retaliar em território turco contra a participação do país na campanha de bombardeamentos liderada pelos EUA. Em paralelo, a Turquia, que enfrenta uma rebelião separatista curda no sudeste, assistiu à afirmação militar dos curdos do Iraque e da Síria como os mais válidos resistentes aos avanços do Estado Islâmico. Para piorar tudo, uma tensão súbita com a Rússia por causa da Síria, desaconselhável dada a relação económica entre Ancara e Moscovo.

IRÃO

Oficialmente os alauitas, a minoria religiosa a que pertence Assad, são um ramo do Islão xiita e isso explica como o Irão tudo tem feito para salvar um regime tido como aliado, tal como o do Iraque. Desde armas a combatentes, os aiatolas que mandam em Teerão não poupam esforços para influir na guerra civil síria, mais ainda desde a emergência do Estado Islâmico como principal força da rebelião. O fanatismo dos jihadistas é muito dirigido contra os xiitas, vistos como falsos muçulmanos, e por isso a intervenção também de combatentes do Hezbollah libanês e de milícias iraquianas em apoio de Assad. A sobrevivência do regime sírio é de importância estratégica para o Irão, que trava neste momento uma guerra de influência no Médio Oriente não declarada com a Arábia Saudita, o campeão do Islão sunita, como é bem visível no Iémen. Aliado estratégico da Rússia na região, o Irão conseguiu também usar o estatuto do Estado Islâmico como inimigo comum para se aproximar dos EUA, aliviados pelo acordo sobre o nuclear.

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“O MEU CORAÇÃO CHORA PELOS REFUGIADOS” Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | ANA PAULA

DURANTE ANOS, AJUDOU CENTENAS DE DESLOCADOS NO EGITO. QUANDO MENOS ESPERAVA, FOI APANHADA PELA REVOLUÇÃO QUE ASSOLOU OS PAÍSES ÁRABES E VIU SE OBRIGADA A FUGIR TAMBÉM. CHEGOU A PORTUGAL SEM NADA, MAS NO CORAÇÃO MANTEVE SEMPRE A ESPERANÇA DE UM DIA VOLTAR A TER A VIDA QUE A GUERRA LHE ROUBOU O sorriso contagiante de Fatema Elhenshiri dificilmente deixa adivinhar a luta que trava há quatro anos para se integrar num país que não é o seu, que não fala a mesma língua que aprendeu em casa, que se alimenta de combinações gastronómicas nunca antes digeridas e onde nem a religião dominante é aquela que professa. Chegou a Portugal em 2011, numa madrugada fria de inverno, integrada num grupo de estrangeiros resgatados à pressa do Cairo. Além do marido, da filha de oito anos e da roupa que trazia no corpo, pouco mais conseguiu colocar na bagagem. Teve que recomeçar a vida a partir do zero e hoje, quando se senta no seu modesto apartamento para jantar, na cidade de Leiria, reza para que não surjam nas notícias mais histórias dramáticas de refugiados em fuga à procura de um futuro incerto por terras europeias. “A comida fica atravessada na garganta e já não consigo comer mais. É uma coisa dramática. Não só por estarem a deixar a sua terra, 20

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muitos sem documentos, mas também pelo que sofreram antes de deixar o seu país e pelo que sofrem até encontrarem um local que os acolha. O meu coração chora pelos refugiados”, afirma Fatema. Por momentos, o seu semblante transforma-se. O sorriso desaparece e a tristeza toma conta do rosto acastanhado, emoldurado pelo lenço de cor suave. Afinal, a sua história, confunde-se com a de milhares de migrantes que deambulam por acampamentos improvisados, espreitam uma oportunidade para ultrapassar as fronteiras europeias ou arriscam e vida em frágeis embarcações no mar Mediterrâneo. Fatema Elhenshiri nasceu no Egito há 45 anos. Filha de pai líbio e mãe egípcia, escolheu a nacionalidade líbia, mas foi no Cairo que cresceu, estudou e constituiu família. Licenciou-se em Inglês, dava aulas numa escola e servia de intérprete junto das equipas das Nações Unidas que ajudavam os refugiados do Sudão, Eritreia, Síria, Etiópia, Iraque e Uganda. O marido, David Sani, 46

“NÓS NÃO VIVEMOS SOZINHOS NESTE MUNDO. ORA SE ESTAMOS JUNTOS, É SUPOSTO QUE NOS AJUDEMOS UNS AOS OUTROS. E UMA PESSOA É UM SER HUMANO, SEJA NO EGITO, SEJA EM PORTUGAL. A NOSSA PASSAGEM PELA VIDA É MUITO CURTA PARA QUE SE FAÇAM GUERRAS”


F E, 45 , -     ,      2011,             L

anos, natural da Guiné-Bissau, era também professor, mas de francês. Com emprego, casa montada, laços familiares enraizados e uma filha saudável, o casal tinha tudo para continuar a trilhar os passos da felicidade. Mas a 3 de fevereiro de 2011 tudo mudou. Literalmente de um dia para o outro: “Decidimos partir numa noite. E como somos uma família, viemos os três”. De repente, viu-se “despejada” no aeroporto de Figo Maduro, sem conhecer ninguém e sem saber uma palavra de português. David tinha um irmão a exercer medicina em Portugal, que os ajudou no que pode, mas por muito que se esforçasse, não os conseguiu ajudar no essencial – no processo de legalização, na entrada no mercado de trabalho e na aprendizagem da língua portuguesa. “Foram dois

anos difíceis, até conseguirmos arranjar os papéis”, recorda Fatema. Depois de uma rápida passagem por Lisboa, o casal instalou-se em Leiria. E é ai que, paulatinamente, vai tentando refazer a vida. Ela conseguiu um emprego, como trabalhadora doméstica, ele ganha a vida numa empresa de fornos industriais. A filha, Sara, agora com 13 anos, estuda numa escola da cidade, e dá cartas como velocista num clube com tradição no atletismo. Nas horas vagas, dão aulas de árabe, em regime de voluntariado, ao abrigo do projeto Speak, criado pela Associação Fazer Avançar. Continuam a precisar da ajuda da Cáritas diocesana, da Cruz Vermelha e do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), mas Fatema já ganhou o gosto pela cozinha – aprecia migas, caldo verde e sopa de grão de bico – e até já sonha com a possibilidade de, um dia, vir

a abrir o seu próprio restaurante. Tocada pelo passado recente, sonha até com a criação de uma associação para “ajudar mulheres e crianças” em situação de vulnerabilidade. “Nós não vivemos sozinhos neste mundo. Ora se estamos juntos, é suposto que nos ajudemos uns aos outros. E uma pessoa é um ser humano, seja no Egito, seja em Portugal. A nossa passagem pela vida é muito curta para que se façam guerras”, remata Fatema Elhenshiri.

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MÃOS À OBRA

COMBATER A GUERRA COM MÚSICA, DANÇA E ARTESANATO Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | DR

CURSOS DE FORMAÇÃO AJUDAM A ENRIQUECER OS VALORES E A ESPIRITUALIDADE DA CULTURA INDÍGENA, NO VALE DO CAUCA, NA COLÔMBIA, AFASTANDO OS MAIS JOVENS DOS CONFLITOS ARMADOS OU DOS CAMPOS DE PRODUÇÃO DE DROGA

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Tradicionalmente afastado do diálogo com outras culturas, como acontece com grande parte das comunidades indígenas, o povo Nasa, que se encontra distribuído pela Cordilheira dos Andes, em território colombiano, acabou por não conseguir resistir aos efeitos da “cultura ocidental” e viu-se, de repente, invadido por valores antes desconhecidos, como o materialismo, o individualismo e o consumismo. Apesar dos esforços desenvolvidos pelos líderes comunitários, apoiados de muito perto pelos Missionários da Consolata, esta mudança de paradigma originou alguma confusão social e criou uma sensação de perda, com reflexos profundos nos valores e espiritualidade da cultura indígena. O índice de pobreza aumentou e os jovens, na procura de melhorar a sua situação económica e social, começaram a alistar-se como “milicianos” nos grupos armados revolucionários, como “informadores” do exército governamental ou como produtores e comerciantes de droga. Outros abandonaram as suas comunidades e partiram para as grandes periferias urbanas, à procura de um sonho, que muitas vezes se transformou em pesadelo. 22

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Para minimizar os efeitos destas mutações, as autoridades indígenas de Toribio, em colaboração com a equipa missionária, decidiram apostar mais na formação jovem, criando um projeto para a promoção de cursos de artesanato, música e danças tradicionais. O plano, segundo justificaram no memorando, visava sobretudo equipar ao mais novos “com as ferramentas necessárias para escapar do sofrimento e da perda resultante da exposição a muitos estímulos traumáticos e apoiá-los na procura de alternativas ao conflito armado”, desviando-os da busca “de dinheiro fácil e da fuga para a cidade”. Iniciado em 2012, o projeto “Música e artesanato contra a guerra” contou com o financiamento de 4.950 euros, por parte da Cáritas Italiana, a que se juntaram mais 3.450 euros de contribuição local. Até agora, já foram formados 65 jovens, nas áreas do artesanato indígena, dança nativa e andina, e música tradicional. Ao abrigo desta campanha, foram adquiridos também vários instrumentos musicais e diversos trajes para o grupo de dança.


TESTEMUNHO DE CONSAGRADO

"A VOCAÇÃO MISSIONÁRIA VEIO PELOS 20 ANOS" LOPES MORGADO, 77 ANOS, NATURAL DE AREIAS DE VILAR, BARCELOS, ENTROU PARA O SEMINÁRIO AINDA CRIANÇA, E ENCONTROU A VOCAÇÃO MISSIONÁRIA NAS INÚMERAS HISTÓRIAS QUE OUVIA DOS RELIGIOSOS EM TEMPO DE FÉRIAS. PERTENCE À ORDEM DOS FRADES MENORES CAPUCHINHOS E É ATUALMENTE CHEFE DE REDAÇÃO DA REVISTA BÍBLICA Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | ANA PAULA

O que o despertou para a vocação missionária? O “despertador”, aos 11 anos, foi um meu conterrâneo que já andava nos capuchinhos. Mas, a vocação genérica era ser padre; ser frade ou missionário, não era claro, naquele meio. A vocação missionária veio pelos 20 anos, em Espanha, com os missionários na América Latina, que vinham de férias. Desejava ser “como eles”! Na vida de consagrado já passou por crises de vocação? Como as ultrapassou? Já. E graças a Deus, porque não as vejo como negativas. Prepara-nos para a exigência do passo seguinte. O que mais me fez seguir em frente, foi esse desejo de ser pregador e missionário. E fui-o, embora doutro modo: procurei captar a direção do vento do Espírito e segui-lo, em cada momento, apesar de muitas reticências e até renitências, como Jonas.

Iniciou uma coleção de presépios, que conta com mais de 1.300 exemplares, de 78 países. Essa também é uma boa forma de evangelizar? É, com certeza. Daí chamar-se Coleção “Evangelho da Vida”. Os presépios levam-nos à raiz daquele anúncio que, nas palavras de João Paulo II, devemos a cada pessoa: “Deus ama-te! Cristo veio por ti!” A Encarnação é o ponto alto do amor de Deus à humanidade, culminado na morte de Cristo na cruz. Através das peças de cada país, que nos revelam a inculturação da mensagem dos Evangelhos, é claro que Deus ama a todos e não faz aceção de pessoas. Aqui, essa doutrina entra pelos olhos. O Jardim Bíblico que idealizou e ajudou a concretizar, em Fátima, tem conseguido proporcionar verdadeiros encontros com a palavra de Deus?

OS PRESÉPIOS LEVAM NOS À RAIZ DAQUELE ANÚNCIO QUE, NAS PALAVRAS DE JOÃO PAULO II, DEVEMOS A CADA PESSOA: “DEUS AMA TE! CRISTO VEIO POR TI!”

O objetivo com que foi pensado é sensibilizar as pessoas para ler a palavra de Deus na criação, chegar ao Criador através das criaturas. Podemos percorrer a história da salvação, com os seus acontecimentos e personagens, através das várias árvores da Bíblia relacionadas com eles. O modo depende dos objetivos, expetativas, idades e capacidades das pessoas. Isso faz com que sejam proclamados mais ou menos textos, e se faça mais ou menos partilha e oração. Há grupos que fazem um tempo de catequese e outros que passam um dia de reflexão.

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# GENTE NOVA EM MISSÃO ORAÇÃO PELA PAZ

Deus é o Criador e a terra é de todos

Olá amiguinhos missionários! Já chegámos a novembro, mês de São Martinho e dos magustos onde podemos conviver e comer castanhas deliciosas! Mas será que temos noção do quanto estas pequenas coisas são fantásticas? Será que agradecemos sempre a Deus por cada dia onde podemos dar o melhor de nós, amar e sentir alegria? É que, infelizmente, nem todos nós vivemos em paz e há países onde a guerra, a fome e a falta de respeito pelos seres humanos impede muitos meninos como vocês de viverem felizes. E está ao alcance de todos poder ajudar a dar-lhes a paz, a paz que vem de Jesus e que está nos vossos corações TEXTO | ÂNGELA E RUI ILUSTRAÇÃO | DAVID OLIVEIRA

Ao lermos o Livro do Génesis, aprendemos que Deus é o Criador, que nos deu a terra para que nela possamos viver, segundo a Sua vontade. Simples não é? Bastava apenas amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos, agradecer pelas graças que recebemos e tudo seria muito bom, tal e qual a vontade do Pai. Mas ao longo do Antigo Testamento, vamos percebendo que o homem nem sempre é assim. A ganância, a inveja, a sede de poder que por vezes ensombram o coração humano, arrastam consigo a destruição e como consequência, a infelicidade. “Exclamou o Senhor: ‘Que fizeste? Ouve! O sangue do teu irmão clama da terra até mim’” (Génesis 4, 10).

A guerra: tragédia humana

Seja qual for o motivo pelo qual os povos entram em guerra, esta resulta sempre em morte e destruição. O ambiente que se vive numa guerra é impossível de imaginar para quem nunca a viveu. Mesmo assim, as imagens que vemos na televisão, na internet e nos livros evocam em nós uma tristeza profunda e muitas vezes choramos. E choramos porque imaginamos que poderíamos ser nós e também porque nos sentimos inúteis perante tanto sofrimento.

O que podemos fazer?

Quando sentirmos em momentos negativos que só há mal, confiemos em Deus. Foi Ele que criou o homem e também há no homem a capacidade de amar e de se entregar pelo seu irmão. Certamente que todos já ouviram falar, 24

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em casa ou até na escola, da guerra de dois países chamados Síria e Iraque e dos milhares de refugiados sírios e iraquianos que fogem para não morrer e encontrar paz noutra terra. Estas pessoas perderam as suas casas, os seus familiares e amigos e os seus empregos, mas arriscam tudo na esperança de O Papa Francisco pediu: que nós, aqui na Europa, as acolhamos. Mas há muitos europeus que estão com “Apelo às paróquias, medo de que entre estas pessoas estejam outras que nos querem fazer mal. às comunidades religiosas, Ora bem, na parábola do bom samaritano que Jesus contou no Evangelho de aos mosteiros e santuários São Lucas, o bom samaritano não pensou em quem seria o homem gravemente de toda a Europa que recebam ferido, apenas em salvá-lo. Então de que estamos à espera? Está na hora uma família de refugiados”. de, sem medo, deixarmos que o Evangelho guie as nossas ações. Podemos contribuir com dinheiro (abdicando de coisas que gostamos), com bens, fazendo voluntariado e, claro, sempre com a oração pelos que sofrem, pelos governantes que devem aceitar a entrada destas pessoas nos seus países, pelas pessoas que são contra para que não sejam egoístas nem tenham medo da mudança, e por fim pelas pessoas más que fazem a guerra, para que os seus corações deixem entrar o Espírito Santo e a guerra possa ter fim. Na escola e na catequese tentem com a ajuda das vossas famílias tomar iniciativas, porque: "Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas E T DE ORA ÃO aquele que faz a vontade de meu Pai que está Amigo Jesus: nos céus” (Mateus 7, 21).

SABIAS QUE

MOM N O

Ç

Eu não sei o que é a guerra Mas sei que é triste Onde meninos como eu choram e não podem brincar E estão sempre a sonhar com a paz Eu quero fazer o que me pedes Eu quero ser como o bom samaritano E não ignorar o meu irmão Seja ele católico, muçulmano ou ateu Porque todos nós fomos criados pelo Pai Mais esta terra que é de todos E Tu nos ensinaste tudo o que precisamos saber Para fazermos a vontade do Pai Ámen Pai-Nosso… Glória…

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TEMPO JOVEM

CIDADÃO DO MUNDO TODOS VIVEMOS EXPERIÊNCIAS QUE NOS MARCAM, UMAS MAIS OUTRAS MENOS, MAS TODAS ELAS PERMANECEM NA NOSSA MENTE, ENQUANTO AS MAIS INTENSAS E PROFUNDAS CONSEGUEM MESMO UM LUGAR NO NOSSO CORAÇÃO. PESSOALMENTE, RECORDO MUITAS VIVIDAS EM VÁRIAS LATITUDES DO NOSSO PLANETA POR ONDE PASSEI COMO SEMINARISTA E DEPOIS COMO SACERDOTE

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Fátima Missionária


Texto e Foto | ÁLVARO PACHECO

Atualmente encontro-me em Portugal e, como tal, tive o privilégio de visitar Moçambique no verão passado, como já vos referi na crónica do mês anterior. Dado ter sido de facto uma experiência marcante, seja como ser humano, seja como missionário da Consolata, quero partilhar mais um pouco sobre a mesma, mais precisamente sobre um missionário que conheci pessoalmente e de quem tinha ouvido falar muito, até porque é uma figura destacada no Instituto Missionário da Consolata (IMC). Estou a referir-me ao padre Giuseppe Frizzi, conhecido sobretudo pelo extraordinário trabalho de investigação cultural, linguística e catequética. Falo dos seus estudos sobre a cultura Macua e a língua Xirima que se encontram em vários livros por ele publicados. Para além de todo este “tesouro” cultural, linguístico e etnológico, marcou-me imenso a capacidade organizativa das cerca de 73 comunidades que estão sob a sua orientação e, atualmente, também do padre Carlo Biella, ambos responsáveis pela paróquia de São Lucas, em Maúa. Tive o prazer de participar em dois conselhos pastorais, um deles com responsáveis e representantes de quase todas estas comunidades, a outra ligada à comunidade de Maiaca. Como missionário que trabalhou na Ásia, fiquei a conhecer um pouco mais do IMC do ponto de vista africano, até porque a África foi a primeira razão pela qual quis ser missionário. A Ásia foi um amor que apareceu mais tarde, antes de terminar os estudos teológicos, mas o “bichinho” pela África nunca desapareceu. Bem pelo contrário. espero um dia poder trabalhar lá. Voltando ao padre Frizzi: o que mais me marcou nele foi a grande paixão, respeito, carinho e dedicação que tem por aquele povo e a sua cultura. Creio que é um dos missionários que encarna muito bem o espírito de

Allamano, fundador do IMC, o qual sempre pediu muito respeito, amor e dedicação pelos povos aos quais os seus filhos e filhas eram enviados. Ele é um verdadeiro cidadão do mundo, com alma moçambicana e um coração que palpita fortemente segundo os ritmos dos sons, cheiros e sabores da cultura Macua. A sua atitude perante este povo ensinou-me ainda mais a saber valorizar cada cultura diferente da nossa e a descobrir o nosso Deus que se revela e se recria em cada cultura e tradição humana. Creio que uma das lições mais bonitas que Deus nos dá é o da beleza, valor e significado que podemos encontrar por detrás de cada manifestação cultural, obras da sua criatividade. E o anúncio do Evangelho, ou seja, a partilha que os missionários fazem por esse mundo fora faz parte desta forma de autorrevelação de Deus. Dedicar a vida à missão é uma forma de colaborar nesta contínua criação divina, de descobrir a alma do ser humano na sua diversidade e capacidade de ser reflexo do amor imenso e profundo que Deus tem pelo ser humano de cada cultura e nação. Para os jovens que sentem uma certa inquietação e um desejo de crescer na sua identidade como cidadãos do mundo, a vocação missionária oferece um vasto leque de possibilidades de verem realizadas estas expectativas. Cristo viveu como membro de uma cultura mas foi muito mais além dos limites da mesma, acolhendo a todos, independentemente da sua raça, sexo, cultura ou religião, chegando ao ponto de declarar que “jamais tinha encontrado em Israel alguém com tanta fé” quando recebeu um pedido por parte de um centurião romano (Mateus 8,10-13). E é o amor que nos define como cidadãos do mundo, sendo a vocação missionária uma forma direta e ativa de o viver e partilhar.

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SEMENTES DO REINO

SANTOS TRANSPARENTES Texto | PATRICK SILVA Foto | LUSA

O mês de novembro é convite renovado a caminhar rumo à santidade de vida. Jesus dá uma preciosa dica aos seus discípulos sobre o modo de lá chegar. Tudo começa com o olhar para certas atitudes que à primeira vista são boas, mas que não passam da aparência. O que impede a santidade é isso mesmo, a aparência.

Leio a Palavra

Mc 12, 38-44 Jesus entra triunfalmente em Jerusalém, mas logo de seguida há mudança no tom do Evangelho, com as várias disputas entre Jesus e as autoridades religiosas. Aqui, temos uma dessas controvérsias. São duas partes deste texto: na primeira, Jesus condena o comportamento hipócrita dos escribas, na segunda elogia o exemplo de generosidade e de fé oferecido pela pobre viúva. Jesus condena os escribas pelo seu comportamento religioso, que é falso, porque corresponde unicamente a algo exterior, e por isso mesmo aparente. Ao contrário, uma pobre viúva é elogiada, apesar de ter colocado na caixa das esmolas uma quantia bem pequena, que era tudo quanto possuía.

Saboreio a Palavra

O texto é uma severa advertência aos escribas pelo seu comportamento hipócrita, usado para tirarem apenas vantagens pessoais. Ao contrário, uma viúva é elogiada pela sua oferta. Ainda que tenha sido bem pequena, é uma oferta “enorme”. Qual é a conclusão de Jesus para os seus discípulos? Deus aprecia a pessoa não pela quantia de dinheiro que oferece, não pelos méritos, não pela observância dos rituais, mas pela entrega total de si

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Fátima Missionária

mesma, colocando-se desse modo inteiramente nas mãos de Deus e participando no seu plano de salvação.

Rezo a Palavra

Ó Deus, Pai dos órfãos e das viúvas, refúgio dos estrangeiros e justiça dos oprimidos, sustém a esperança dos pobres que confiam no teu Amor, para que nunca falte a liberdade e o pão que tu dás, e para que todos aprendamos a dar segundo o exemplo do teu Filho Jesus Cristo, que inteiramente se doou a si mesmo.

Vivo a Palavra

É muito grande a tentação de viver uma vida de aparências: aparentar ser alguém que não se é, ou aparentar ter algo que não se tem. Jesus é claro: as aparências não levam a lado nenhum, porque ao fim e ao cabo a pessoa acaba por descobrir-se vazia. Mas o caminho que se propõe é o da verdadeira transparência, onde fé e vida vivem de mãos dadas. A santidade é máxima transparência. A pessoa descobre-se pobre, mas rica; pobre de si mesma e rica de Deus.

JESUS É CLARO: AS APARÊNCIAS NÃO LEVAM A LADO NENHUM, PORQUE AO FIM E AO CABO A PESSOA ACABA POR DESCOBRIR SE VAZIA. MAS O CAMINHO QUE SE PROPÕE É O DA VERDADEIRA TRANSPARÊNCIA, ONDE FÉ E VIDA VIVEM DE MÃOS DADAS


A PALAVRA FAZ SE MISSÃO

NOVEMBRO

01

FESTA DE TODOS OS SANTOS AP 7, 2 14; 1 JO 3, 1 3; MT 5, 1 12

SER FELIZES

Os Santos são pessoas de uma profunda humanidade elevada pelo amor de Deus. Homens e mulheres de todos os tempos que se deixaram transformar pela graça do Senhor, colocando a própria sensibilidade e inteligência ao serviço do Evangelho. Deixaram que Deus operasse nas suas vidas. É esse o nosso caminho.

Ensina-nos, Senhor, o caminho da santidade verdadeira, que nos torne felizes neste e no outro mundo.

08

32º DOMINGO COMUM 1 RE 17, 10 16; HEBR 9, 24 28; MC 12, 38 44

UM DOM TOTAL

A viúva do Evangelho deu da sua indigência em contraposição com os ricos que deram dos seus privilégios com a ostentação da própria glória. O gesto humilde da viúva pobre é um gesto de oração, de fé e de amor. O óbolo é insignificante, mas o dom é total. O nosso Deus não mede os nossos gestos com base em cifrões, mas pelo amor e intensidade com que os vivemos.

Aceita, Senhor, o óbolo de cada uma das minhas ações e transforma-as com o teu amor.

15

33º DOMINGO COMUM DAN 12, 1 3; HEBR 10, 11 18; MC 13, 24 32

A VIVENDA ETERNA

“Eis que estou à porta e bato. Se alguém escuta a minha voz e me abre a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo”. À porta do nosso “último dia” estará o Senhor que nos acolherá

e transformará em glória o tempo que agora vivemos. O fim do mundo a que se refere a Palavra de Deus não é uma catástrofe, mas a instauração da cidade santa que desde já estamos a construir.

Senhor, que eu persevere na escuta da tua Palavra com olhar atento e vigilante sobre a minha vida e a vida dos meus irmãos.

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FESTA DE CRISTO REI DAN 7, 13 14; AP 1, 5 8; JO 18, 33 37

PARA QUE ELE REINE

Neste domingo que encerra o ano litúrgico, a Igreja fala-nos da conclusão da história humana: Jesus triunfa sobre o mal e instaura o seu Reino de amor. A verdadeira realeza está em deixar-se conquistar pelo amor de Deus sem medida até dar a vida pela humanidade. É deste amor feito de misericórdia e de mansidão que o nosso mundo precisa para derrotar o mal que o aflige.

Rei do universo, governa os nossos corações para entendermos que a terra não é dos violentos, mas dos mansos e humildes de coração.

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1º DOMINGO DE ADVENTO JER 33, 14 16; 1TES 3, 12 4, 2; LC 21, 25 36

A HUMANIDADE EM ADVENTO

Não é só a Igreja, é toda a humanidade que vive em Advento: pelos caminhos de esperança, na expectativa de tempos melhores. Sobre os nossos cansaços, buscas, anseios e desilusões fique a certeza: aquele que aguardamos, já anda no meio de nós.

Abre os nossos olhos, Senhor, para que te reconheçamos no mistério da nossa vida.

INTENÇÃO PELA EVANGELIZAÇÃO QUE OS PASTORES DA IGREJA, AMANDO PROFUNDAMENTE A SUA GREI, POSSAM ACOMPANHAR O SEU CAMINHO E MANTER VIVA A SUA ESPERANÇA

SER PASTOR HOJE Ser pastor na Igreja não é profissão, é ministério. Quando Jesus designou o apóstolo Pedro para pastorear o rebanho, não perguntou pelas suas habilidades profissionais, mas pela qualidade do seu amor. Quem ama a Jesus, também amará os que foram resgatados por Jesus e os tratará como Jesus os tratou.

O pastor segundo o coração de Deus não tem pena de si, mas entrega-se e gasta-se em benefício das ovelhas de Cristo, tal como Ele fez dando a vida por elas. Preocupa-se com cada uma individualmente e tudo faz para recuperar as que vivem afastadas do rebanho. O pastor segundo o coração de Deus não se coloca em evidência, não se prega a si mesmo, mas considera-se servidor de todos, por amor de Cristo Jesus. Não age como dominador dos que lhe foram confiados, mas como modelo para todos. É por esta intenção que a Igreja reza neste mês, para que haja pastores que vivam deste modo. DV

DV

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LEITORES ATENTOS

TIRE AS SUAS DÚVIDAS CRIÁMOS ESTA RUBRICA PARA SI

Se tem dúvidas sobre a missão, a religião ou a Igreja, envie-nos a sua pergunta por correio ou para o endereço electrónico redacao@fatimamissionaria.pt Teremos todo o gosto em responder.

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Fátima Missionária

SE A FÉ É UM DOM DE DEUS, PORQUE É QUE NEM TODOS A TÊM? GOSTARIA DE TER UMA FÉ COMO A VOSSA. QUE DEVO FAZER PARA A ENCONTRAR?

tem uma fé pequena num Deus grande”. Acredite nisto: a fé cresce na medida em que confiarmos na sua Palavra e falarmos com Ele na oração.

Albina Oliveira | Paços de Ferreira

DV

Sim, a fé é uma pura dádiva de Deus. Obtemo-la, se intensamente a pedirmos. Temos que desejá-la fortemente e fazer de tudo para a aumentar. Porque é que nem todos a têm? Pergunta bem. Porque a fé não é uma coisa para ter. Não é uma coisa, mas uma relação de vida com alguém. Crer é entrar em relação com Deus, seguindo-o e construindo a nossa vida sobre a rocha da sua Palavra. Deus não obriga ninguém a aceitá-lo. Se não o quisermos connosco, se preferirmos construir a nossa vida sobre a areia das nossas certezas, somos livres. Ele nunca obrigará ninguém a receber o dom do seu Amor. Mas Ele está sempre disponível a entrar em relação com a pessoa que o procura e o ama acima de todas as coisas. Mas há outra coisa: a fé é uma questão de confiança. Sempre que apanhamos o comboio ou o avião, mostramos que temos confiança no condutor ou no piloto ou nos engenheiros que os projetaram. Provavelmente não sabemos muito de eletricidade, mas exercitamos a nossa confiança sempre que acendemos o interruptor. A vida seria impossível sem esta confiança. O cristão é aquele que tem confiança em Deus, que acredita que Ele existe, está presente e é confiável. Perguntaram a uma mulher idosa o segredo da sua fé. Respondeu: “Sou uma mulher que

GRATIDÃO

Maria Martins, natural de Monção, exalta a figura do beato José Allamano, por ter sido incansável nas obras que realizou a favor dos mais pobres. Obras, aliás, que os seus missionários continuam a realizar, “porque nem só de pão vive o homem”. Porque “confia nele e na bondade do Senhor”, aproveita para agradecer a sua intercessão em situações concretas na sua vida e na vida dos seus familiares. “Embora nem tudo esteja resolvido, está tudo a caminho”. Aqui fica registado o seu apreço por esta figura exemplar.

O SEU A SEU DONO Houve alguns leitores que nos alertaram para um erro em que caímos no último número da nossa revista: atribuímos a José Régio o poema "Quando eu nasci" que de facto é de Sebastião da Gama. Pedimos desculpa. É que os dois têm um poema que começa com as mesmas palavras. Aqui fica a correção. O seu a seu dono. E ambos são grandes poetas, não precisam de ser confundidos.


GESTOS DE PARTILHA

APOIE OS NOSSOS PROJETOS E AJUDE NOS A CONCRETIZÁ LOS

Retiros em Fátima 2015

ANO DA MISERICÓRDIA

2016

FÁTIMA MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

novembro “Tive fome e destes-me de comer” 2015 14 Padre Norberto Louro 5/6 dezembro “Era peregrino e acolhestes-me”

Padre Thomas Mushi

janeiro “Tive sede e destes-me de beber” 2016 16 Padre Álvaro Pacheco 20/21 fevereiro “Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” Padre José Tavares Matias

5/6 março “Contemplar o mistério da Misericórdia” Padre Albino Brás

9 abril “Estive na prisão e fostes ter comigo” Padre Elísio Assunção

21 maio Na senda de Maria, Mãe da Misericórdia: “Adoeci e visitastes-me” Padre Darci Vilarinho

21/23 julho Férias com Deus: “Vinde a Mim todos os que andais cansados… e Eu vos aliviarei” Padre Ermanno Savarino

INSCRIÇÕES secretaria@consolata.pt Tel. 915 139 778

CRIANÇAS IRÃ AMC NÚCLEO DO ALGARVE£ Anónimos 390,00€; Comunidade (Esperança - Figueira da Foz) 380,00€; Adolfina Barata 40,00€; Dulce Ribeiro 33,00€; Eduarda Pequito 20,00€; Mário Carvalho 3,00€; Filipina Couteiro 2,00€; Anónimo (Fiães) 125,00€; Celeste Portela 60,00€; Maria Ventura 150,00€; Albina Carneiro 30,00€; Anónimo 43,00€; Anónimo 150,00€; Arnaldo Estanqueiro 6,00€; Elvira Fonseca 20,00€; José Dias 50,00€; Manuel Rodrigues 10,00€; Luísa Dias 65,00€; Anónimo X 30,00€; Olinda Vieira 10,00€; Albertina Carregueiro 20,00€; Ana Seabra 20,00€; Carla Mendes 10,00€; Anónimo 150,00€; Isaura Virgílio 20,00€; Manuel Pereira 10,00€; Fátima Matias 10,00€; Fernanda Santos 10,00€; Madalena Baeta 40,00€; Rosa Pereira 193,00€; Joaquim Domingues 100,00€; Amélia Henriques 72,00€; António Monteiro 35,00€; Júlio Filipe 43,00€; Carlos Lucas 3,00€; José Silva 40,00€; Dom Augusto César 20,00€; Anónimo 2,00€; Adelaide Domingues 10,00€; Joaquim Curado 500,00€; Lídia Laranjeiro 75,00€; Luísa Ferreira 5,00€; Adelaide Domingues 10,00€; Anónimo 100,00€; Adélia Andrade 100,00€; Filomena Vaz 40,00€; Artur Frias 25,00€; António Cândido e Maria Adelaide 30,00€; Adelaide Domingues 10,00€; Anónimo 20,00€; Paula Nins 19,20€; Anónimo 30,00€; Anónimo 30,00€; Anónimo 20,00€; Amélia Lebre 20,00€; Manuela Costa 10,00€; Serafim Branco 40,00€; Saudade Rosa 30,00€; APECEF 100,00€; Amália Tomás 30,00€; Fátima Pereira 20,00€; Fernando Gomes 20,00€; Céu Costa 20,00€; Isabel Martins 50,00€; Rosete Santana 20,00€; Emília Fernandes 50,00€; Joana Barreiros 100,00€; Arlindo Mendes 340,00€. Total geral = 23.382,50€. BOLSAS DE ESTUDO AMC NÚCLEO DO ALGARVE£ Anónimos 500,00€; Alzira Lages 250,00€; José Silva 25,00€; Anónimo 500,00€; Isilda Gomes 250,00€; Noémia Canavarro 10,00€; Carminda Duarte 250,00€.

CONTACTOS Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 | IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 - 2496-908 Fátima | T: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 Apartado 2009 - 4429-909 Águas Santas Maia | T: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 - 1800-048 Lisboa | T: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo - 2735-206 Cacém | T: 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 - 4700-713 Palmeira Braga | T: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 - 3090-431 Alqueidão | T: 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D - Bairro Zambujal - 2610-192 Amadora | T: 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 Agualva-Cacém | T: 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt

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VIDA COM VIDA IRMÃO GUERRINO VOLPATO

“PADRE HERMANO” Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Em 1987 encontrava-me eu em Turim, Itália, na Casa Mãe do Instituto Missionário da Consolata, para um controlo de saúde. Estava um domingo na nossa grande capela pública, de que era orgulhosamente sacristão o irmão Guerrino. Ao fim da Missa fui visitar a capelinha lateral onde se encontra o túmulo do nosso fundador, o beato José Allamano. Chegou a essa capelinha uma senhora de idade com a sua netinha, a quem a avó disse para me dar um beijinho. A menina colocou um beijo na palma da mão, olhou para o túmulo do Allamano, olhou para mim, e depois soprou o beijo para o túmulo do fundador. Do coração das crianças sai o louvor perfeito. Nascido em 1915, Guerrino entrou para o Instituto da Consolata em 1928 e fez a sua Profissão Religiosa em 1935. O seu sonho missionário tornou-se realidade quando em 1948 foi enviado para a Argentina, onde trabalhou com os indígenas pobres e marginalizados da zona do Chaco. Ali, o seu coração “batia missionário”. Estimavam-no tanto os seus índios que lhe chamavam “el padre hermano”, (o padre irmão). De lá escrevia ao vice-superior geral: “Dou graças a Deus e à Santíssima Consolata por me terem feito missionário da Consolata!” Entre os índios, o muito trabalho do irmão Guerrino consistia em prepará-los para os sacramentos, e em ajudas materiais de todo o género. Em 1958 voltou para a Casa Mãe na Itália. Dizia: “Dá-me gosto receber todos os confrades que chegam, e cumprimentar os felizardos que partem para as missões”. No ano 2000 foi vítima de vários enfartes, vindo a partir para o céu em 30 de janeiro de 2001. “Tinha um espírito de oração admirável e um grande amor à liturgia. Sempre disponível, silencioso, paciente e sorridente. Amou loucamente as gentes do Chaco argentino, as savanas, os rios traiçoeiros, o comunicar com gente pobre e abandonada. As suas conversas iam sempre dar ao mesmo: o mistério da salvação, Jesus Redentor e Maria Mãe, que amava com uma simplicidade de criança. Ia a vários hospitais e lares para idosos para levar a consolação que de Cristo e da Mãe Consolata recebera. Ensinava catecismo e cânticos litúrgicos, tudo com um zelo pastoral de filho verdadeiro do beato Allamano. ‘Guerrino’ distribuidor de paz. 32

Fátima Missionária

O SEU SONHO MISSIONÁRIO TORNOU SE REALIDADE QUANDO EM 1948 FOI ENVIADO PARA A ARGENTINA, ONDE TRABALHOU COM OS INDÍGENAS POBRES E MARGINALIZADOS DA ZONA DO CHACO. ALI, O SEU CORAÇÃO “BATIA MISSIONÁRIO”


O QUE SE ESCREVE

A ESPIRITUALIDADE DO CATEQUISTA Alimentar a fé Crescer na fé Partilhar com os outros

DAS PERIFERIAS DO MUNDO AO VATICANO D. João Braz de Aviz em conversa com Michele Zanzucchi Poucos esperavam que ele fosse nomeado responsável pelos Institutos da Vida Consagrada do Vaticano. João Braz de Aviz, cardeal brasileiro, conheceu a pobreza, participou na extraordinária época pós-conciliar da Teologia da Libertação, guiou várias dioceses e chegou a Roma por sugestão do então cardeal Jorge Bergoglio, que o tinha visto em ação no meio do “seu” povo. Em 1981 foi vítima de um tiroteio entre bandidos e seguranças, salvando-se por milagre. Narra-se aqui o percurso, feito vida, de um dos colaboradores mais próximos do Papa Francisco. Convida-se a saborear as páginas deste livro, perpassado de muito amor escondido. Uma história que se torna uma lição. Autor : D. João Braz de Aviz 178 páginas | preço: 10,00 € Editora Cidade Nova

UMA CASA RICA DE MISERICÓRDIA O Evangelho de Lucas em família

Porque aquilo que se é fala mais alto do que aquilo que se diz, aqui está uma ajuda preciosa para acompanhar os catequistas no seu caminho pastoral e espiritual, com pensamentos e discernimentos, questões para reflexão e diálogo, e sugestão de tarefas. É um bom instrumento para o catequista poder viver seriamente aquilo que transmite e ajudar as crianças e adolescentes no seu caminho de fé.

São Lucas é o evangelista do ano litúrgico que vai começar em fins de novembro. Lucas é o evangelista da misericórdia. Vai começar brevemente o Ano da Misericórdia. São razões mais que suficientes para dar atenção a este livro que quer levar a Palavra de Deus, escrita por Lucas, para o seio das famílias. Com propostas diárias muito concretas, inseridas na Palavra do Evangelho, para ler, meditar e viver.

Autor: Janet Schaeffler, OP 144 páginas | preço: 8,90 € Paulus Editora

Autor: Vincenzo Paglia 152 páginas | preço: 9,00 € Paulus Editora

ECOS DA ALMA

101 ATIVIDADES DA BÍBLIA

Cada pessoa é um poema em construção permanente. É Deus quem nos seus desígnios sabiamente o constrói. Os textos deste livro de “poemas” são ecos de uma vida de fé, de um homem simples e grande, porque é grande tudo o que nasce da fé e do coração. Aqui ficam para que possam ecoar no coração do leitor, tal como diz o autor: “Ó homem!... Não fiques lento, / Num talvez sim… talvez não… / Mas escuta, enquanto é tempo, /a voz profunda… no coração!” Autor: José da Encarnação de Faria 144 páginas | preço: 8,00 € Edição do autor

É um álbum para as crianças da catequese. Com ilustrações curiosas e atividades várias para a criança se entreter e assim mais facilmente aprender as narrações bíblicas do Antigo e Novo Testamento. A criança é convidada a ler, pintar, contar, descobrir e adicionar autocolantes. Se ela tiver dificuldades pode recorrer à consulta das soluções. Um bom instrumento para o início das catequeses paroquiais. Autor: Bethan James e Honor Ayres 48 páginas | preço: 6,30 € Paulus Editora

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MEGAFONE

POR ALBINO BRÁS

“NÃO EXISTE MAIS CRUELDADE, MAIS MALDADE, MAIS HORROR, NO NOSSO TEMPO DO QUE HÁ 50 ANOS. O QUE HÁ É UMA MAIS AMPLA EXPOSIÇÃO DO HORROR”

JOSÉ EDUARDO AGUALUSA, ESCRITOR ANGOLANO

“SE QUERES SER FELIZ POR UM INSTANTE, PROCURA A VINGANÇA; SE QUERES SER FELIZ PARA SEMPRE, ABRE TE AO PERDÃO”

HENRI LACORDAIRE 1802 1861 , PADRE, JORNALISTA, DEPUTADO E ACADÉMICO FRANCÊS 34

Fátima Missionária

“SÓ HÁ UM CANAL DE TELEVISÃO, NÃO HÁ INTERNET, NÃO SOMOS LIVRES DE VER, DIZER, USAR OU PENSAR O QUE QUEREMOS. A COREIA DO NORTE É O ÚNICO PAÍS DO MUNDO EM QUE AS PESSOAS SÃO EXECUTADAS POR FAZEREM CHAMADAS NÃO AUTORIZADAS PARA O ESTRANGEIRO”

HYEONSEO LEE, DISSIDENTE E ATIVISTA DA COREIA DO NORTE

“A ALEGRIA DA VIDA ESTÁ EM TER SEMPRE ALGO PARA FAZER, ALGUÉM A QUEM AMAR E ALGUMA COISA QUE ESPERAR”

THOMAS CHALMERS 1780 1847 , POLÍTICO, ECONOMISTA E TEÓLOGO ESCOCÊS

“QUASE TODOS OS HOMENS PODEM SUPORTAR A ADVERSIDADE, MAS SE QUERES REALMENTE CONHECER O CARÁCTER DE UM HOMEM, DÁ LHE PODER”

ABRAHAM LINCOLN 1809 1865 , EX PRESIDENTE DOS EUA


Abrace

esta vida

Acredita que ainda se eliminam crianças na Guiné-Bissau em nome das crenças no sobrenatural, em pleno século XXI? Basta que tenham alguma deficiência, sejam gémeas, ou apenas feias demais para o gosto dos pais, e têm a sentença lida à nascença. A Casa Bambaran, em Bissau, foi criada para acolher estas crianças, rotuladas de Irã ou crianças feiticeiras. E precisa da nossa ajuda.

Dê colo a esta ideia Alimentar uma criança na Casa Bambaran custa 4,60€ por dia O custo médio diário de cada utente (alimentação, educação, saúde, vestuário) é de 19,20€ Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Projeto “Crianças Irã” Rua Francisco Marto, 52 | 2496-448 FÁTIMA NIB 0033.0000.45365333548.05

um abraço entre a fé e a vida


LUTA PELO PRESENTE Não chores pelo que perdeste, luta pelo que tens. Não chores pelo que está morto, luta por aquilo que nasceu em ti. Não chores por quem te abandonou, luta por quem está contigo. Não chores por quem te odeia, luta por quem te quer. Não chores pelo teu passado, luta pelo teu presente. Não chores pelo teu sofrimento, luta pela tua felicidade. Com as coisas que nos vão acontecendo, vamos aprendendo que nada é impossível de solucionar. Apenas... segue em frente. JORGE MARIA BERGOGLIO

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Fátima Missionária


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