Fatima missionaria dezembro 2013

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ANO LIX | DEZEMBRO 2013 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

MALÁRIA

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ATÉ OS TELEMÓVEIS AJUDAM NO COMBATE À DOENÇA

VISÃO IMPRESSIONISTA SOBRE TIMOR Pág. 13 PROJETO SOCIAL APOIA Pág. 14 IMIGRANTES ALDEIA UNE GERAÇÕES Pág. 34 EM FÁTIMA


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

www.fatimamissionaria.pt | www.consolata.pt Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | tel: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Dª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 AGUAS SANTAS MAI | tel: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | tel: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | tel: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 AGUALVA-CACÉM | Telefone 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt


editorial

UMA IGREJA DE ROSTO AMAZÓNICO Da Amazónia muito se tem dito. Sobre o seu inestimável património ambiental, verdadeiro pulmão da humanidade, e sobre as políticas de invasão, devastação e exploração de territórios índios. O “desmatamento” contínuo e crescente das florestas amazónicas assusta pelos prejuízos incomensuráveis e pela ameaça ao equilíbrio ecológico do planeta. Hoje são os grandes projetos das hidroelétricas que assustam. Tira-se proveito do grande potencial energético, mas não se olha aos prejuízos causados nessa imensa biodiversidade pela destruição da vida e da história de muitos povos tradicionais. A Igreja esteve presente desde o início na história da Amazónia. Aliás, foi muitas vezes a única presença no meio desses povos. Nem sempre terá tomado as melhores decisões, mas foi uma luz para o desenvolvimento sociocultural e humano da região. Nos últimos anos, sobretudo, a Igreja foi voz vigorosa na defesa dos direitos inalienáveis dos povos originários, por vezes à custa do sangue dos missionários. No contexto dos 400 anos de evangelização dessa região, realizou-se nos últimos dias de outubro, em Manaus, Brasil, o 1º Encontro da Igreja Católica na Amazónia Legal: uma espécie de estados gerais da Igreja que cumpre a sua missão numa área que inclui sete estados brasileiros e representa 60 por cento do território nacional. Foi um encontro “amplo, profundo e histórico”, segundo o cardeal Cláudio Hummes, em resposta ao apelo do Papa Francisco, lançado no encontro com o episcopado, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude.

Foi aí que o Papa salientou a importância dessa enorme periferia, agradeceu tudo o que até hoje se fez na Amazónia, e apresentou-a como teste decisivo e banco de prova para a Igreja e a sociedade brasileiras: “A Igreja está na Amazónia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente na Amazónia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos, e lá continua”. E convidou os bispos a refletirem sobre o “respeito e salvaguarda de toda a criação que Deus confiou ao homem”, e sobre o modo de incentivar a obra da Igreja: “Servem formadores qualificados, especialmente professores de teologia, para consolidar os resultados alcançados no campo da formação de um clero autóctone, inclusive para se ter sacerdotes adaptados às condições locais e consolidar o ‘rosto amazónico’ da Igreja”. Os bispos comprometeram-se a zelar para que essa enorme porção da Igreja viva e cresça “com características próprias, enraizadas na sabedoria tradicional e na religiosidade popular que durante séculos alimentou e continua a manter viva a espiritualidade dos povos da floresta e das águas, e agora, do mundo urbano”, para que a Amazónia seja uma Igreja mais autóctone, despojada, simples e missionária. Um Santo Natal e um 2014 muito feliz para os leitores da FÁTIMA MISSIONÁRIA. DARCI VILARINHO

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº11 Ano LIX – DEZEMBRO 2013 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 25.700 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colabora­ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diaman­tino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pa­­che­co – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção e Arquivo Capa Lusa Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ri­car­do Neto Design e com­po­sição Happybrands e Ana Pau­la Ribeiro Ad­mi­nis­tração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

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16 ATÉ O TELEMÓVEL AJUDA NA LUTA CONTRA A MALÁRIA 03 EDITORIAL Uma Igreja de rosto amazónico 05 PONTO DE VISTA Mais Natal do que crise 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Dar tudo! 08 MUNDO MISSIONÁRIO Em menos de um ano duplica no Peru o número

de meninos na rua Bispos do Iraque acusam embaixadas de favorecer fuga de católicos Quénia e Somália decidem repatriar um milhão de somalis durante três anos No Burundi apontam-se meios para evitar tragédias de Lampedusa 10 A MISSÃO HOJE O milagre do encontro 11 PALAVRA DE COLABORADOR Sempre disponível 12 A MISSÃO HOJE “Uma viagem que jamais podemos esquecer” 13 DESTAQUE Timor em registo não jornalístico 14 ATUALIDADE Ensino gratuito de línguas ajuda a reintegrar imigrantes 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Preparem-se para a festa 24 TEMPO JOVEM Aprender a confiar 26 SEMENTES DO REINO José cumpriu a vontade de Deus

28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA De paixão em paixão 32 OUTROS SABERES “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce” 33 NOTAS MISSIONÁRIAS A única riqueza é a esperança 34 FÁTIMA INFORMA Espaço de solidariedade e partilha


ponto de vista

MAIS NATAL DO QUE CRISE texto EUGÉNIO FONSECA*

Custa-me aceitar que se trace uma relação “causa-efeito” entre a vivência do Natal e a situação de crise em que o país está mergulhado. Sabemos, por experiência própria, que a situação financeira da maioria das famílias portuguesas é de grande vulnerabilidade. Nos dias que hoje vivemos qualquer português tem, no seu seio familiar ou na sua roda de amigos, alguém a viver a experiência do desemprego. O recrudescimento deste flagelo social tem contribuído para o empobrecimento da sociedade portuguesa. É certo que as mesas de milhares de lares lusos estarão neste Natal menos recheadas, devido ao baixo poder de compra. É certo que os brinquedos tão desejados pelas crianças e tão decisivos para a alegria natalícia, poderão não estar em muitas chaminés na manhã do 25 de dezembro. Tudo isto torna a vivência do Natal menos intensa? Menos verdadeira? Quando falamos do Natal, enquanto celebração cristã, não podemos condicionar as razões do nosso júbilo e de, no mais profundo do ser, nos sentirmos em festa pela grande aventura que Deus quis viver ao assumir a nossa condição humana, para nos aproximar mais do divino. Este é o desafio que nos coloca a crise e as medidas de austeridade: viver o Natal em plenitude deixando de lado a sua dimensão hedonista e comercial.

“homens de boa vontade”, querem acreditar, querem ter e viver com os olhos no futuro. Ora, para nós cristãos, o Natal é a grande festa da esperança e da paz. Na Cáritas, iniciamos a Operação “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”, uma iniciativa que enaltece os valores da justiça e da solidariedade como meios indispensáveis para se alcançar a paz. O Natal desafia-nos a viver a nossa vida voltados para o outro. Sendo e estando “presentes” na vida dos outros, na vida da comunidade, na vida do bairro. Desafia-nos a ser e a construir o verdadeiro “bem comum”. Isto constrói-se a partir de dentro, a partir de quem somos, da nossa identidade. Não são, no meu entendimento, a crise financeira e as medidas de austeridade que podem abalar, irremediavelmente, a construção deste património coletivo que é a humanidade – a família humana. Acredito, sim, que temos as condições para, em família e em comunidade, vivermos o Natal naquilo que ele tem de mais essencial e verdadeiro. Temos condições de viver e ser sinais de esperança e de fé para este mundo que Deus amou tanto que lhe enviou o Seu próprio Filho (Cfr Jo 3, 16). * Presidente da Cáritas Portuguesa

Arriscaria a dizer que a vivência do Natal pode ajudar-nos a lançar um olhar diferente sobre estes tempos tão, duramente, exigentes. Isto porque, de algum modo, se sente também como os portugueses estão determinados a sobreviver à crise, a acreditar. Cristãos e não cristãos, Dezembro 2013

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leitores atentos

RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o nú­­me­ro ou nome do assinante. Na folha on­de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos es­ti­mados assinantes renovem a assinatura para 2014. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os do­­na­tivos para as missões são de­dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto Como estamos no mês das missões, nada mais adequado para pagar a assinatura da FÁTIMA MISSIONÁRIA do ano de 2014. Ela não é só nossa, é de toda a gente, dada a excelente leitura atualizada que nos proporciona. Todos sabemos que se vive num mar de dificuldades. Tenho 83 anos e a minha reforma é muito baixa, uma miséria, mas mesmo assim aqui vai um vale de correio. Para se tornar menos 6

MÃE PREVIDENTE

Gosto muito da revista. É muito bonita e traz sempre coisas interessantes que nos ajudam a viver. Que o Senhor vos ajude para poderdes continuar a divulgar a palavra do Senhor. Recordo com saudade o senhor padre Carreira com quem me correspondia. Tenho 90 anos. Não sei quanto tempo vou ainda viver neste mundo, mas aqui vai o dinheiro suficiente para a renovação da assinatura para os próximos cinco anos. Gostava que o meu filho ficasse a seguir os meus passos, que ficasse no meu lugar, mas não o posso obrigar. Ele diz que um dia vai aí ter convosco ou escreve. Que o Senhor vos ajude a todos. Olímpia

TANTO HEROÍSMO E AMOR

Tive muita pena pela partida do senhor padre Carreira que conhecia há bastantes anos, dos saudosos tempos em que ia para a Consolata passar uns dias de férias no mês de julho. Agradeço imenso a revista FÁTIMA MISSIONÁRIA, que nos revela o belo trabalho que fazem os nossos missionários e abre os nossos corações às necessidades de tantos irmãos nossos dispersos pelo mundo fora. Tanto heroísmo, tanto amor e exemplos tão maravilhosos

pesada, ponho dois euros por mês de parte, de modo que chegando a outubro, tenho a quantia suficiente… Só tem valor o que se dá e nos faz falta. António Lereno – Porto

Caro senhor António, olho para a sua assinatura e vejo que é dos primeiríssimos tempos da revista: o nº 104. Ainda me recordo quando ela nasceu. Hoje os assinantes são bastantes mais, mas não os suficientes para pagar todas as despesas, que têm aumentado

que põem diante dos nossos olhos que nos enchem de esperança e confiança! O reino de Deus avança e cresce… Maria Emília

PUBLICAÇÃO EXEMPLAR

Tenho a dizer que a FÁTIMA MISSIONÁRIA é uma publicação exemplar, quer pela apresentação gráfica (é frequente em publicações e exposições o mau uso do contraste de cores) quer pela seleção de textos e colaboradores, com uma ou outra exceção. Parabéns! Tarcílio

UM GRANDE SANTO

À nossa FÁTIMA MISSIONÁRIA: venho antes de mais agradecer o lindo postal e o grande conteúdo da revista. São notícias muito boas para ajudar a construir um mundo mais justo. Recordo com saudade o senhor padre Carreira. Agradeço o cartão e o livro sobre a vida e a obra do beato Allamano, que foi um homem com letra grande e um grande santo. Gostei de o ler. O meu muito obrigado a todos os que trabalham na revista, não esquecendo o senhor padre Aventino Oliveira. Sofia

significativamente. Felizmente há pessoas como o senhor que não têm falhado, mas há outras situações de atrasos no pagamento da assinatura que nos inquietam. Deus queira que os tempos melhorem para todos a fim de que possam cumprir os seus compromissos também com a nossa revista. O pouco de muitos faz muito. Votos de mais saúde para si e para a sua esposa. Bem haja pela sua generosidade. DV


horizontes

DAR TUDO! texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI – Senhor doutor, a dor já passou, sinto-me bem. Já posso ter alta. Uma dor causada por pedra no rim obrigou Isalina a passar a noite no serviço de urgência. Logo pela manhã, com a dor anestesiada pela medicação, estava com urgência de

o único sustentáculo financeiro da família, só tinha tempo para o trabalho e apoio à família. Carolina, a mana de David, três anos mais velha, cresceu mais rapidamente do que a maioria das crianças. O tempo dos pais para ela ficou reduzido, mas os gestos amorosos nunca faltaram. Carolina envolveu-se desde cedo nos cuidados ao “bebé” tornados num dos importantes e divertidos momentos de reunião familiar. Aprendeu a confiar em si,

[Carolina] Aprendeu a confiar em si, acreditando na valorização dos pais pelos seus esforços e conquistas. Mas, era com as reações eufóricas de David às suas brincadeiras e palhaçadas que Carolina se sentia “especial” e dotada de capacidades que fazia questão de desenvolver. Tornou-se forte, segura, decidida e motivada para alcançar os sonhos sem desistência regressar a casa a tempo de ajudar o marido nos cuidados ao filho David, de 20 anos, com paralisia cerebral. Desde há 20 anos que Isalina e Luís sabem o que é reajustar os seus sonhos e necessidades, dando prioridade às necessidades dos filhos. Na verdade tudo mudou com o nascimento de David: Isalina abandonou a profissão de cabeleireira com que se sentia realizada e Luís, passando a ser

acreditando na valorização dos pais pelos seus esforços e conquistas. Mas, era com as reações eufóricas de David às suas brincadeiras e palhaçadas que Carolina se sentia “especial” e dotada de capacidades que fazia questão de desenvolver. Tornou-se forte, segura, decidida e motivada para alcançar os sonhos sem desistência.

faziam, dava àquela casa um ar de festa e riso fácil, como uma canção de agradecimento. Unida, a família percebeu a diferença de David como uma bênção que os tornava mais coesos, mais comunicativos, alegres, e permitia-lhes um estilo de vida onde a família sentia prazer em estar junta e em interação com o exterior. Carolina cresceu. Foi admitida na Universidade que desejava. É a primeira separação da família, mas Carolina não vê nisso qualquer obstáculo. Deixa David a preencher o dia a dia dos pais. É o jeito especial de David cuidar deles! Chegará a vez de Luís e Isalina reolharem para os seus projetos abandonados? Conhecendo ambos, dir-se-ia que eles não sentem esses sonhos como tendo sido abandonados. Simplesmente perderam validade – e não deixaram mágoas, talvez porque ambos decidiram livremente trocá-los por outros bem mais consistentes: escolheram aquilo que o amor lhes sugeria. O riso encantado de David é bênção, mas é também reflexo de uma família que ao “dar tudo”, encontra-se. E nesse encontro, recebe “tudo de que precisa”!

A vida da família girava à volta de David. Ele, com os gritinhos de alegria efusiva com tudo o que lhe Dezembro 2013

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA E IRIN

EM MENOS DE UM ANO BISPOS DO IRAQUE ACUSAM DUPLICA NO PERU O NÚMERO EMBAIXADAS DE FAVORECER DE MENINOS NA RUA FUGA DE CATÓLICOS A Polícia Nacional do Peru confirmou que o número de crianças sujeitas ao trabalho infantil e que moram na rua passou de 1766 casos para 3329 em menos de um ano. Os menores vivem completamente abandonados, correndo o risco de serem apanhados por grupos marginais e criminosos. A estes números há ainda a acrescentar 96 crianças acusadas de delitos penais que foram inseridas em programas de reabilitação para a sua inserção na sociedade peruana. Foram ainda descobertos quatro casos de crianças equatorianas vítimas de tráfico de menores, que foram reenviadas para o seu país de origem. A Polícia lançou um apelo para que as diferentes instituições desenvolvam programas de prevenção.

A “migração organizada”, como é definida a facilitação da fuga de cristãos do Iraque, tem sido repetidamente denunciada pelos bispos católicos iraquianos. Reunidos em conselho extraordinário no início de novembro, os prelados acusaram mais uma vez as representações estrangeiras em Bagdade de favorecer a concessão de vistos aos cristãos iraquianos. O patriarca dos Caldeus, Raphael I Sako, propôs uma consulta às demais Igrejas e comunidades cristãs do Iraque para responder com medidas concretas e comuns a este fenómeno que põe em risco a sobrevivência de comunidades de batizados em diversas zonas do Médio Oriente.

Dar a volta ao Vaticano

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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Nos últimos meses tive um problema de circulação numa perna – felizmente já resolvido – e deixei de poder fazer longas caminhadas, uma das quais consistia em contornar as muralhas do Vaticano. Veio-me então à mente o comentário jocoso de um amigo que meses antes dizia que não se pode “dar a volta ao Vaticano” mas pode-se dar uma volta ao Vaticano. Esta afirmação fundava-se na ideia de que tanto o Papa como os membros dos serviços centrais da Igreja dificilmente aceitavam qualquer mudança, ou seja, não se lhes dava a volta. Para o Papa Francisco isso deixou de ser verdade porque ele, sem grandes alaridos, está a dar a volta não


QUÉNIA E SOMÁLIA DECIDEM NO BURUNDI APONTAM-SE REPATRIAR UM MILHÃO DE MEIOS PARA EVITAR SOMALIS DURANTE TRÊS ANOS TRAGÉDIAS DE LAMPEDUSA As autoridades do Quénia e da Somália comprometem-se, ao longo de três anos, a repatriar um milhão de somalis que se refugiaram em solo queniano. Mais de 600 mil estão registados e, em grande parte, encontram-se no campo de Dadaab, junto à fronteira; ao passo que meio milhão não estão referenciados. O vice-presidente queniano, William Ruto, que assinou o acordo, recordou que, sobretudo estes, constituem o maior problema para o Quénia. “Não é tradição de um país africano queixar-se dos seus hóspedes, especialmente daqueles que estão em fuga ameaçados pelo perigo”, lembrou o vice-presidente. No entanto, “o grande número dos não registados, assim como o peso total dos refugiados, criaram desafios sem precedentes à segurança do Quénia”.

Representantes das Comissões de Justiça e Paz de África afirmam que é necessário “curar os males” que padece o continente africano para “evitar tragédias como a de Lampedusa”. Recorde-se que ultimamente morreram afogados nas águas daquela ilha centenas de refugiados que demandavam as costas da Europa. O combate à pobreza e à miséria passam pelo bom governo e a correta utilização das enormes potencialidades económicas de África. Reunidos em Bujumbura, Burundi, os delegados denunciaram os fatores que contribuem para empobrecer as populações africanas: tráfico de seres humanos, insegurança crescente em várias regiões do continente, extremismo religioso, corrupção, apropriação ilegal dos recursos naturais e tantas outras chagas, causa de tragédias sem conta.

só ao Vaticano mas a toda a Igreja. No dia 9 de novembro, recordando Jesus que expulsa os vendilhões do templo, dizia ele que toda a Igreja precisa de ser purificada, e é ele o primeiro a dar o exemplo com gestos como o abraço dado a um doente desfigurado ou a hospedagem oferecida a uma menina gravemente enferma. É com gestos destes que também nós podemos dar testemunho da nossa fé, e o Natal é a nossa oportunidade para manifestarmos a solidariedade cristã. Aqui fica o desafio.

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a missão hoje

O MILAGRE DO ENCONTRO A autenticidade faz superar tudo aquilo que separa as pessoas de diferentes culturas. E permite alcançar verdadeiros encontros sem máscaras, papéis a desempenhar ou nacionalidades texto EUGÉNIO BOATELLA foto ÁLVARO PACHECO A parábola do bom samaritano é uma bela imagem de missão: conseguir ser irmão de quem antes não se era, porque estava distante e até era diferente de ti. Hoje, com o coração nas mãos, posso afirmar que valeu a pena o esforço de me tornar irmão dos coreanos. E se tivesse que deixar agora este país custar-me-ia tantas lágrimas quantos são os irmãos e irmãs que aqui conquistei. Há 13 anos, a Coreia era para mim um país desconhecido, muito distante, não só no espaço, mas também na cultura, e por conseguinte, também no afeto. Recordo ainda as primeiras impressões daquele

três de agosto de 2000, quando cheguei movido pela esperança de realizar o meu sonho de missão na Ásia. Sentia que a simples curiosidade por algo tão novo e diverso não seria suficiente para entrar no coração desta nova realidade. Seria preciso muito tempo, e um grande esforço, não só para aprender a língua, mas principalmente para poder um dia abrir a porta dos corações destas pessoas e com elas criar vínculos profundos de amizade e fraternidade. Foi longo e difícil o percurso que fiz em direção a eles; mas ao mesmo tempo também eles fizeram o mesmo percurso em direção a mim. Foram eles que tornaram tudo mais fácil e me deram a força para ultrapassar todas as barreiras que nos separavam: as professoras que me ensinaram o coreano com uma paciência infinita; a senhora que corrigia as minhas

Tempo e ouvidos atentos foi o que, com alegria, ofereci aos meus irmãos coreanos. Este é um dom muito apreciado, dado que na Coreia todos andam super ocupados e não têm tempo para nada nem para ninguém. Em troca, eles deram-me a sua confiança, partilhando as suas preocupações, alegrias e dores

Os jovens coreanos anseiam por alguém que os escute e os guie para Deus

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palavra de colaborador primeiras homilias quase incompreensíveis; os fiéis que suportavam com extrema delicadeza o coreano indecifrável que me saía quando celebrava a missa; os jovens, sedentos de proximidade humana e de se sentirem livres com alguém que os guiasse para Deus. Tempo e ouvidos atentos foi o que, com alegria, ofereci aos meus irmãos coreanos. Este é um dom muito apreciado, dado que na Coreia todos andam super ocupados e não têm tempo para nada nem para ninguém. Em troca, eles deram-me a sua confiança, partilhando as suas preocupações, alegrias e dores. Procurei sempre ser eu mesmo, porque estou convencido de que a autenticidade faz superar tudo aquilo que nos separa: cultura, idade, profissão. E foi assim que se realizou o milagre do encontro verdadeiro, onde não entram máscaras, papéis a desempenhar, nacionalidades. Um encontro de irmãos, de coração aberto. Para mim, esta foi a coisa mais preciosa destes anos: milhares de conversas de coração aberto, que permitiram uma imersão na intimidade e aí, juntos, conseguimos entrever Deus que é mais íntimo a nós do que nós próprios.

SEMPRE DISPONÍVEL texto DARCI VILARINHO Folgosa da Maia é um exemplo excelente de colaboração missionária. Depois da Almerinda, do Ismael e de Fátima Antunes a quem nos referimos no mês passado, recebeu-nos em sua casa a Lília Flor. “Já conheço este senhor padre”, foi a sua saudação. Apesar de muito atarefada na preparação da festa de anos da sobrinha, acolheu-nos com o ar sorridente de quem faz as coisas por gosto. Casada e mãe de dois filhos, sabe dar algum do seu tempo às missões. “Venho agradecer a vossa colaboração”, digo eu. “Faz-se o que se pode, mas gostava de fazer muito mais”. E conta como contacta com os assinantes, e difunde os calendários, ora a pé, ora de carro. “Não tem havido desistências, felizmente. Tenho duas pessoas que faleceram, mas os familiares continuam a receber a revista”. Reconhece que o preço da assinatura é acessível, e por isso, as pessoas de boamente contribuem para a causa justa das Missões da Consolata. A FÁTIMA MISSIONÁRIA agradece este generoso serviço.

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a missão hoje

“UMA VIAGEM QUE JAMAIS PODEMOS ESQUECER” Casal de Braga premiado com uma deslocação a Roma pelos Missionários da Consolata viveu momentos únicos na capital italiana. Ver de perto o Papa Francisco foi o que mais os emocionou texto JOÃO P. MONTEIRO/FRANCISCO PEDRO foto DR Maria da Conceição Sousa, 58 anos, e José Venâncio Vieira, de 60, viveram uma semana de emoções fortes, ao visitarem Roma, a convite dos Missionários da Consolata. O casal venceu o sorteio promovido durante a peregrinação anual da Família da Consolata e, como prémio, teve direito a passar seis dias na capital italiana, com passagem pelos locais mais emblemáticos do Vaticano. Maria e José, da paróquia de Palmeira, Braga, que apenas tinham saído de Portugal uma vez, estrearam-se nas sensações de andar de avião, mas foi a participação numa das audiências do Papa Francisco, na Praça de São Pedro, que mais os marcou. “Foi

uma viagem que jamais podemos esquecer”, confessa Maria da Conceição, ainda emocionada por ter tido a oportunidade “de ver bem de perto este homem de Deus”. José é servente de pedreiro e tirou férias para poder viajar. Maria trabalhava num lar de idosos, mas atualmente está em casa, onde cuida de um irmão de 61 anos, com deficiência. No regresso de Itália, faltavam-lhe palavras para tanta gratidão. “Termos participado numa Eucaristia presidida pelo Papa, subido à cúpula da Basílica de São Pedro e conhecido um pouco da cidade de Roma tornou esta viagem maravilhosa. O nosso muito obrigado aos Missionários da Consolata”, disse Maria da Conceição.

Maria da Conceição e José Vieira foram a Roma a convite dos Missionários da Consolata

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Para os missionários que acompanharam o casal, na penúltima semana de outubro, esta experiência foi sobretudo “um momento de lazer e de vivência de fé”, que permitiu aos dois portugueses “beberem nas fontes do cristianismo aquela água pura e cristalina”. Uma ‘água’ que “mata a sede e nos relança nas atividades pastorais da Igreja, vivendo com mais intensidade os compromissos assumidos no dia do batismo”. Maria da Conceição e José Vieira estão casados há 35 anos. Uma união que Maria define como “feliz”, por estar assente “no amor, na paz, na alegria e na felicidade”. Quando souberam que o casal tinha ganho a viagem a Roma, os familiares apressaram-se a dar-lhes os parabéns, por considerarem ser “um prémio justo e merecido, para quem nunca tinha gozado nada na vida”.


destaque

TIMOR EM REGISTO NÃO JORNALÍSTICO texto e foto CARLOS CAMPONEZ Escrevo num registo que o jornalismo não me permite. Mas também não mo permite a consciência que herdei do jornalismo. Dar forma jornalística a uma viagem a Timor onde permaneci poucos dias, tantos quantos os da viagem de ida e de regresso, não é um bom serviço nem ao jornalismo nem aos leitores que ele procura servir; nem tão-pouco aos timorenses, de quem falo. Permitam-me, pois, a liberdade de escrever de uma forma impressionista sobre quatro dias de intensos contactos numa visita inesperada a Timor, a propósito de um convite no âmbito do Congresso Nacional de Jornalistas, que decorreu nos dias 25, 26 e 27 de outubro, na cidade de Díli.

Lugares comuns

Fui para Timor já com ele no coração, mesmo antes de o conhecer, e trouxe-o intacto, sem as ilusões que nunca levei. Timor, que nunca conhecera, foi para mim uma terra por cumprir, de uma descolonização que ficara por fazer, de um país ocupado sob o beneplácito de uma guerra fria que sacrificou os direitos humanos ao poder estratégico, de um povo perseguido, de resistentes que acreditaram até ao fim quando a diplomacia vacilava.

No Museu da Resistência Timorense, recordei a voz do jornalista Adelino Gomes por quem me chegaram muitas notícias dramáticas daquelas paragens. Recordei lugares que a rádio, durante os dias do período pós-referendo, em 1999, me gravou na memória: Díli, naturalmente, Liquiçá, Maubara, Ataúro, cemitério de Santa Cruz… Não pude ficar indiferente a um jornalista e professor da Universidade de Griffith que recordava a morte de jornalistas australianos (na realidade, australianos, britânicos e neozelandeses), durante uma operação das forças especiais indonésias, em Balibó, em 1975.

Lugares de esperança

Porém, Timor não é um país voltado para o passado. Assisti a um país em construção. Estradas novas que se sucedem a vias salpicadas por pedaços de alcatrão e que tornam o país mais longínquo, nos seus 14 874 quilómetros quadrados. A pobreza grassa por entre as ruas da capital e pode assustar o visitante mais incauto. O progresso aqui faz-se de pequenas coisas: a melhoria num arruamento, os semáforos na via principal, a criação de um pequeno

empreendimento turístico. A nossa crise económica vista de Timor transforma-se num luxo. As carências sociais e de infraestruturas são evidentes. A tarefa parece hercúlea naquele que é considerado um dos países mais pobres do mundo. Mesmo que suportado pelas receitas do petróleo – que no ano passado se elevaram a 3,6 mil milhões de dólares, reforçando o fundo petrolífero que, em junho deste ano, se elevava a 13 mil milhões de dólares –, estima-se que só em 2030 o país venha a atingir o estatuto de país de desenvolvimento médio. Também por aqui se sente o cheiro a petróleo que atrai os sonhadores de riquezas fáceis, “cooperações” excessivamente egoístas e corruptelas. Porém, não foi isso que trouxe, no meio de tantas paisagens lindas, de Timor: foi antes a esperança que ainda persiste na política e nas formas de participação pública; na crença de que um futuro ainda é possível. Talvez seja ingenuidade minha, ou dos timorenses, mas penso que temos algo a aprender com isso.

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atualidade

VOLUNTARIADO Jovens criam projeto social de sucesso em Leiria

Fátima Elhenshiri, da Líbia, e o marido, guineense, ensinam árabe a uma turma de 10 alunos

ENSINO GRATUITO DE LÍNGUAS AJUDA A REINTEGRAR IMIGRANTES O Dia Internacional do Voluntariado é assinalado todos os anos a 5 de dezembro. A FÁTIMA MISSIONÁRIA foi conhecer um projeto de sucesso nesta área, que nasceu a partir do sonho de um grupo de jovens de Leiria e já conquistou o reconhecimento nacional e internacional texto FRANCISCO PEDRO foto PAULO CUNHA / SLIDESHOW Encaixado na parte antiga da cidade, numa zona pouco movimentada, o Centro Cívico de Leiria ganha vida todas as noites, com a entrada e saída de portugueses e estrangeiros, de várias idades, interesses e profissões. Apesar da diversidade social e cultural, todos estão unidos 14

por um objetivo comum. Ensinar e aprender um idioma, de forma descontraída e sem custos. Os alunos ficam com noções básicas da língua e da cultura do respetivo país. Os professores estrangeiros, todos voluntários, aperfeiçoam o português e criam

relações de amizade que os ajudam a ultrapassar as barreiras sociais. O mesmo acontece com os imigrantes que frequentam o projeto Speak Social, promovido pela Associação Fazer Avançar (AFA). “Com o atrativo das línguas, conseguimos quebrar barreiras sociais e promover amizades entre formadores e formandos, contribuindo dessa forma para a verdadeira integração social”, explica Eduardo Amorim, coordenador do projeto. O programa de ensino gratuito de línguas, com funções sociais, nasceu em fevereiro de 2012, depois de uma experiência piloto, que contemplava apenas a dimensão de intercâmbio cultural e linguístico. Até agora, já passaram pelo Speak Social perto de 800 formandos. No semestre em curso estão inscritos 140 alunos, com idades entre os 18 e os 83 anos,


Português e Russo. As aulas decorrem uma vez por semana, em horário pós-laboral, e têm duração de uma hora, com exceção das de português que têm 90 minutos.

para aprender 10 idiomas: Alemão, Árabe, Espanhol, Francês, Inglês, Italiano, Mandarim, Polaco,

Um milhão de voluntários Um inquérito realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) concluiu que um milhão de portugueses, com idades a partir dos 15 anos, realizou trabalho voluntário em 2012, dedicando, em média, 29 horas por mês a esta atividade. De acordo com os dados recolhidos, estima-se que 11,5 por cento da população tenha participado em, pelo menos, uma atividade formal ou informal de voluntariado, o que

“Uma amiga inscreveu-me por brincadeira no árabe, experimentei e gostei. Como não atingi os objetivos pretendidos no primeiro semestre, decidi inscrever-me novamente, porque a cultura muçulmana me fascina. As aulas são muito dinâmicas, baseiam-se num modelo de grande abertura e, além do idioma, aprendem-se muitos hábitos culturais”, conta Sara Castelão, 31 anos, assistente social e residente em Leiria. “É bom saber que podemos ensinar qualquer coisa, compreender as diferenças culturais e cumprir o nosso dever como cidadãos, dando algo de nós aos outros”, sublinha, por sua vez, a mexicana Lizete Garcia, 31 anos, a viver há 10 anos

representou 368,2 milhões de horas de trabalho voluntário. No trabalho voluntário formal, surgem mais os jovens, desempregados e com maiores níveis de escolaridade. Nas atividades informais, concentram-se pessoas com mais idade, com maiores níveis de escolaridade, desempregados e divorciados. A percentagem de mulheres a fazer voluntariado é, por norma, superior à dos homens.

em Portugal e a experimentar pela primeira vez o ensino do espanhol. Tal como esta latino americana, seis dezenas de pessoas, de várias nacionalidades, responderam ao desafio da AFA, disponibilizando parte do seu tempo para ajudar a desenvolver os quatro projetos base da associação juvenil, que foi fundada há cinco anos por um grupo de amigos interessado em promover a “motivação e capacidade dos jovens” como fatores diferenciadores para uma mudança real da sociedade, segundo Raul Testa, diretor do departamento de comunicação e marketing. Além do Speak Social e do Speak Pro (que oferece um nível de ensino mais avançado e serve para tornar o projeto autossustentável), a AFA tem ainda o Happiness Club, que promove ações de rua e outras atividades destinadas a provocar sorrisos e boa disposição nos cidadãos; o programa Faz-te à Vida, uma mini-incubadora de apoio às ideias e projetos dos jovens; e o Eu Desportivo, que divulga as modalidades desportivas menos conhecidas junto dos mais novos e tem como objetivo final assegurar que nenhuma criança de Leiria deixe de praticar o desporto com que sempre sonhou por causa de dificuldades financeiras, culturais ou sociais.

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dossier

SAĂšDE Paludismo continua a matar mais de 600 mil pessoas por ano

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ATÉ O TELEMÓVEL AJUDA NA LUTA CONTRA A MALÁRIA São mais de uma centena os países onde a malária ainda é endémica. E por ano morrem umas 660 mil pessoas com a doença, sobretudo crianças. Enquanto não chega a primeira vacina, prometida para 2015, todos os meios são úteis para reduzir a mortalidade: redes mosquiteiras, desinfestação das casas, medicamentos antipalúdicos. Em África, continente mais afetado, as modernas tecnologias também dão uma ajuda. E nesse campo o telemóvel está de parabéns texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA Uma aldeia da Nigéria igual a tantas outras em África: nenhuma farmácia no raio de centenas de quilómetros, medicamentos à venda na rua entre garrafas de lixívia e frascos de champô. Como conta a repórter Chloé Hecketsweiler, do jornal francês ‘Le Monde’, um terço dos remédios são de contrafação, que ou não curam nada ou até matam. Agora, graças a uma empresa informática americana, a Sproxil, e à iniciativa do governo nigeriano, basta enviar um sms com o código da embalagem de comprimidos antipalúdicos para receber em alguns segundos a certeza de que se trata de um medicamento legal. Os grandes laboratórios mundiais apoiam o método, que já foi utilizado por seis milhões de pessoas no mais populoso dos países africanos (e também o mais afetado pela malária, com um quarto dos casos). Quantas vidas terão sido salvas é uma incógnita. Milhares?

Recorrer ao telemóvel é do mais natural em África, por muito que possa surpreender. O continente nunca chegou a ter boas redes fixas e telefone mas, graças aos satélites, as comunicações móveis são um sucesso e servem para quase tudo, até para transferir dinheiro de emigrantes para as suas famílias que ficaram na aldeia natal. Para 1100 milhões de africanos, calcula-se que existam hoje 800 milhões de telemóveis e ‘smartphones’. Não por acaso, o avultado prémio de boa governação de África, para líderes que deixaram o poder de bom grado, foi criado pelo sudanês Mo Ibrahim, que se tornou milionário graças à sua empresa de telecomunicações. O telemóvel está a ser usado também em África para apurar os casos de malária em cada região de forma a governos, como o da Tanzânia, gerirem os ‘stocks’ de Dezembro 2013

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Uma rede mosquiteira, que custa menos de quatro euros, pode salvar muitas vidas

medicamentos de forma eficaz. No Senegal, nos Camarões e no Chade, um outro programa inovador consiste em enviar um sms noturno a alertar para se dormir sob uma rede mosquiteira, em especial a crianças. Transmitida por um parasita e propagada por mosquitos, a malária tem vindo a conhecer um recuo importante de há um século para cá. Hoje os países afetados são os de África, com raras exceções, os da América Latina (tirando Chile e Uruguai), e quase todos os asiáticos. Na Europa só a Turquia e alguns 18

países do Cáucaso continuam infetados. Portugal, por seu lado, identificou os últimos casos em meados do século XX, apesar de muitas pessoas (incluindo militares que estiveram na guerra do ultramar) que vieram das ex-colónias africanas sofrerem durante anos crises de paludismo por causa de infeções lá contraídas. Paludismo e malária são dois nomes para a mesma doença, a que se pode somar um terceiro em desuso: sezões ou sezonismo. Nos últimos anos o surgimento de novos medicamentos fez da

Redes mosquiteiras oferecidas têm sido um sucesso. O seu custo de mercado, na ordem dos quatro euros, é demasiado para muitas famílias africanas e por isso as ONGs dão um enorme contributo para salvar vidas


riqueza potencial de África desde a descolonização nos anos 1960 e 1970 tinha sido perdido por causa do paludismo que mata, enfraquece e desmotiva muitas populações no continente, sobretudo a sul do Sara. Na época, a diretora-geral da OMS, a norueguesa Gro Harlem Brundtland, não se cansava de repetir que “o paludismo impede uma melhoria do nível de vida das gerações futuras”. Redes mosquiteiras oferecidas têm sido um sucesso. O seu custo de mercado, na ordem dos quatro euros, é demasiado para muitas famílias africanas e por isso as ONGs dão um enorme contributo para salvar vidas. Também o preço dos antipalúdicos tem vindo a baixar e há o bom exemplo dos suíços da Novartis, que venderam 600 milhões de embalagens de ‘Coartem’ a preço de custo (um euro no caso dos adultos, 50 cêntimos na versão pediátrica). Outros laboratórios, como os indianos da Cipla e os chineses da Guilin, estão também a apoiar o combate à malária, abdicando nesta matéria dos fabulosos lucros que a indústria farmacêutica costuma obter. forma mais comum de malária uma doença facilmente curável, o que torna ainda mais absurda a demora em erradicar. Há uma questão de dinheiro a ter em conta, apesar de, desde 2000, as verbas envolvidas terem passado de 35 milhões de dólares para os atuais 2,5 mil milhões. Desde a ONU até fundações privadas, como a de Bill Gates, o pai da Microsoft, passando por diversos governos, hoje são muitas as entidades comprometidas com o combate à doença. As consciências terão sido despertadas por um relatório, há 13 anos, da OMS a afirmar que um quarto da

Falta, porém, ainda mais dinheiro. Dos governos, mas também dos beneméritos em geral. E o telemóvel volta a destacar-se. Uma ONG americana, a Malaria No More, tem uma aplicação para ‘smartphone’ que permite a quem doar dinheiro para a luta contra o paludismo seguir em tempo real o milagre que os seus dólares ou euros estão a fazer numa qualquer aldeia africana.

A DOENÇA EM NÚMEROS 104 países com malária endémica 3,3 mil milhões de pessoas em risco de infeção 219 milhões de casos por ano 660 mil mortes anuais 90 por cento das mortes acontecem em África 1,8 mil milhões de euros de fundos anuais para o combate 3,5 euros é o custo de uma rede mosquiteira 1antipalúdico euro é o preço de custo de dose de 50 cêntimos de euros é o preço de custo de dose infantil de antipalúdico

300 milhões de redes mosquiteiras distribuídas em África entre 2008 e 2010

12 mil milhões de dólares é a perda no PIB africano causada pela malária

1,1 milhões de vidas salvas na última década com os novos tratamentos

*jornalista do DN

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Recordando que até hoje só uma doença foi declarada erradicada pela OMS – a varíola – Gates sublinha a necessidade de nunca baixar os braços até ao resultado desejado: “erradicações são especiais. O zero é um número mágico

ao jornal britânico: “vejamos a vacina para a malária, esta coisa estranha sobre a qual estou a pensar. Hum! O que será mais importante, a conectividade ou a vacina para a malária? Se há quem pense que a conectividade é a grande coisa, está bem. Eu não”.

O patrão da Microsoft tem dedicado grande parte dos seu tempo às ações humanitárias

O EXEMPLO BILL GATES

E a erradicação da malária, assim como de outras doenças como a poliomielite, é prioritária para a Fundação Bill e Melinda Gates.

É o segundo homem mais rico do mundo, segundo a revista ‘Forbes’, e deverá estar prestes, com a sua fortuna de 70 mil milhões de dólares, a recuperar a liderança. Mas desde 1997 dedica boa parte da sua energia à fundação que ostenta o seu nome e o da mulher, Melinda. Nos últimos cinco anos até delegou a gestão da Microsoft, um gigante da informática, para se dedicar em exclusivo à filantropia.

Em novembro a vocação humanitária de Gates veio de novo ao de cima numa entrevista ao ‘Financial Times’, quando questionado sobre se pôr toda a gente a aceder à internet era uma prioridade. “Uma prioridade? Só se for uma piada”, respondeu, numa crítica implícita ao grande defensor da ideia, Mark Zuckerberg, o criador do Facebook e outro magnata americano. E acrescentou

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Uma linha de pensamento que aos 58 anos é cada vez mais coerente, mas que vem do passado. Basta lembrar uma polémica em 2005 com Thomas Friedman, colunista do ‘New York Times’, que escreveu um livro sobre o computador e a internet como agentes de uma globalização imparável, olhando para o que acontecia na China e na Índia. “Muito bem, visitem os centros da Infosys em Bangalore, mas por amor de Deus vão três quilómetros mais adiante e olhem para a pessoa que vive sem casa-de-banho, sem água corrente (...); os computadores não estão, na hierarquia das

Os grandes financiadores d FUNDAÇÃO BILL E MELINDA GATES Criada pelo magnata da Microsoft, com o seu nome e o da mulher, a fundação disponibiliza dois mil milhões de dólares num prazo de dez anos. FUNDO MUNDIAL Criado em 2002 pelo então secretário-geral


necessidades humanas, nos cinco primeiros lugares”, reafirmou ao jornal financeiro britânico este americano que, tal como muitos seus compatriotas, considera um dever devolver à humanidade parte do que ganhou com o seu sucesso. Neste momento, os dinheiros da sua fundação ajudam a que a poliomielite esteja por erradicar apenas na Nigéria, no Paquistão e no Afeganistão, e apoiam o combate global à malária, outra doença que afeta sobretudo as crianças e que impede o desenvolvimento de uma centena de países. Recordando que até hoje só uma doença foi declarada erradicada pela OMS – a varíola – Gates sublinha a necessidade de nunca baixar os braços até ao resultado desejado: “Erradicações são especiais. O zero é um número mágico. Ou se atinge o zero e ficamos contentes por consegui-lo; ou chegamos perto, desistimos e volta para o que era antes, e nesse caso desperdiçámos toda a credibilidade, energia e dinheiro que podia ter sido usado para outros fins”. Vale para a poliomielite, mas também, por muito difícil que seja, para a malária. Sigamos o exemplo de Gates.

Farmacêutica britânica aguarda autorização para comercializar uma vacina contra a malária

VACINA PROMETIDA PARA 2015 A farmacêutica britânica GlaxoSmith-Kline (GSK) anunciou já que irá pedir autorização à agência europeia do medicamento para comercializar uma vacina contra a malária. E a Organização Mundial da Saúde (OMS) já confirmou o seu apoio. Significa isto que em 2015 deverá estar disponível um meio importante para combater uma das doenças mais mortíferas. O problema é que a própria equipa de investigadores médicos, na qual pontifica o espanhol Pedro Alonso,

s do combate à malária da ONU Kofi Annan, investiu 740 milhões de dólares em 2012. INICIATIVA PRESIDENCIAL PARA A MALÁRIA Nascida em 2005 da mente de George W. Bush, então Presidente dos Estados Unidos, gastou no ano passado 603 milhões de dólares.

DFID Principal financiador europeu, a agência britânica para o desenvolvimento (Department for International Development) aplicou o equivalente a 388 milhões de dólares em 2012.

admite que os seus “resultados não são espectaculares”, como notou o jornal ‘El País’, pois a capacidade de proteção para as crianças de entre cinco e 17 meses é de apenas 50 por cento. E nos recém-nascidos perde a eficácia. Ora a regra para as vacinas infantis é uma eficácia na ordem dos 90 por cento. Contudo a GSK argumenta que a sua vacina será sempre uma ferramenta a mais no combate a uma doença parasitária, pois somar-se-á às redes mosquiteiras com insecticida e aos medicamentos antipalúdicos. Outras equipas de cientistas mundo fora tentam também desenvolver uma vacina, se possível mais eficaz, como é o caso dos investigadores do Instituto de Medicina Molecular, da Faculdade de Medicina de Lisboa. A apoiá-los está a Fundação Bill e Melinda Gates, que, segundo uma notícia do ‘Expresso’, já investiu 72 mil euros no projeto. Também apoiadas pelo magnata da Microsoft estão outras equipas portuguesas, do Instituto Gulbenkian de Ciência e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, mas as suas pesquisas estão ainda numa fase muito inicial quando comparadas com as da GSK.

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gente nova em missão

NATAL Vamos abrir o nosso coração e viver o nascimento do Menino

PREPAREM-SE PARA A FESTA

libertá-lo das coisas más (maldade, mentira, desobediência) e enchê-lo de coisas boas (amor, amizade, solidariedade), relembrando o nascimento do Deus Menino: era noite escura e uma estrela brilhou em sinal da chegada do Salvador.

Olá amiguinhos! Chegámos a dezembro. Começa o inverno e o tempo cinzento contrasta com as ruas cheias de luzes e cheiros típicos desta época. Mas é tempo de festa. Celebramos o nascimento de Jesus, a chegada de Deus ao nosso mundo! É o Natal: época de alegria, Quem marca presença? fraternidade, humildade, simplicidade, esperança, paz e amor Preparada a festa, importa pensar texto CLÁUDIA FEIJÃO ilustrações RICARDO NETO O nascimento de Jesus é um grande acontecimento para a humanidade, pelo que devemos celebrá-lo como uma festa única. Uma festa que se faz num lugar muito especial: o nosso coração. Mais do que os convívios e as 22

prendas, importa acolher Jesus no nosso coração. Para tal, iniciamos a sua preparação durante as quatro semanas antes do dia da festa. É o período do advento. E como fazer essa preparação? Basta abrir o nosso coração e

quem estará presente. A família é presença obrigatória: Deus Pai está sempre presente, tal como a Virgem Maria, serva humilde do Senhor, e São José, homem justo que interpelado por Deus acompanhou sempre a Mãe de Jesus. E os amigos? Vêm todos, incluindo os pastores e os Reis Magos! Embora estes não cheguem no início, são


Oração Obrigado Senhor pelo presente que nos deste: o Teu Filho Jesus. Que O saibamos acolher no nosso coração para podermos fazer os outros felizes como Jesus nos faz felizes! E sejamos sempre humildes, simples e generosos, amando e servindo a todos como irmãos. Glória...

presença confirmada na Festa de Jesus. Apesar das diferenças raciais, económicas e culturais, todos se unem nesta festa, pois são os verdadeiros amigos de Jesus: os que estão atentos à promessa de Deus e aguardam confiantes, com coração humilde, a vinda do Salvador.

Porquê numa manjedoura?

O tema da festa é, como não podia deixar de ser, “Humildade, Simplicidade e Amor - O caminho para a Salvação”. Jesus nasceu numa gruta e o seu berço foi uma manjedoura. Há maior prova de humildade e simplicidade? Não! Também nós devemos ter um coração humilde e simples, cheio de

amor para dar aos outros de forma a iluminar a vida daqueles que andam na escuridão e ainda não encontraram a Luz que é Jesus. A animação estará por conta do Coro de Anjos, ao qual juntaremos as nossas vozes para entoar alguns dos eternos hits de louvor como “Glória in excelsis Deo” ou “Hoje na Terra”.

Que prendas vamos dar?

Por fim as oferendas! Os Reis Magos já fizeram saber que oferecerão ouro, incenso e mirra. Os pastores juntam-se a todos os convidados trazendo amor, alegria, fraternidade, solidariedade, generosidade, esperança e confiança. Jesus vai ficar muito

feliz por receber estas oferendas dos seus amigos. Até porque serão o banquete da nossa celebração que depois de misturadas em quantidade suficiente (muito nunca é demais) confortarão o nosso coração. Pois bem, amiguinhos, mãos à obra. Preparem as vossas prendas. Não pensem só em receber. Também é preciso dar, porque Jesus está a chegar.

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tempo jovem

Transparência, aceitação dos limites, reconhecimento das próprias forças e potencialidades, são algumas das tantas disciplinas a retomar e aprovar para quem quer crescer em verdade

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APRENDER A CONFIAR

algumas armadilhas no nosso comportamento que podem criar dentro de nós atitudes de uma “falsa confiança”. O controle obcecado da vida da pessoa em quem “supostamente” confio é a clara evidência da minha total desconfiança. A verdadeira confiança gera cuidados e seguranças em detrimento da obsessão e do controle.

assumir riscos por medo do fracasso, aumente a auto-crítica e o negativismo e não acredite facilmente no reconhecimento dos outros.

desconfiar do outro tem como fundamento a falta de confiança em si próprio. Há pessoas com fortes tendências a desconfiar, porque se calhar o clima familiar em que cresceram não foi propício, durante a etapa da infância e adolescência, para gerar autoconfiança. Reinscrever-se na escola da confiança é a solução para quem em consciência se sente um desconfiado de tudo e de todos.

Confiar nos outros exige que primeiro aprendamos a confiar em nós próprios. Sem esta condição torna-se difícil construir uma vida equilibrada e autêntica.

Há uns dias fui convidado por um colégio a falar sobre o valor da confiança. Foi um grande desafio, porque, se à primeira vista parece um tema tão simples, ao mesmo tempo obriga a avaliar primeiro a Autoconfiança Muitas vezes a tendência a confiança em nós próprios texto LUÍS MAURÍCIO foto LUSA Estou cada vez mais convencido que a vida é uma escola de confiança e todos nós estamos inscritos nesta exigente instituição. Não é possível trabalhar em equipa, criar relações interpessoais e amar com autenticidade sem nos sentirmos obrigados a confiar em nós próprios e nas pessoas com quem construímos a nossa própria história e a história da humanidade. Confiar nos outros, pôr um “pedaço” da nossa vida nas mãos de alguém, requer muita liberdade e coragem, porque podemos correr o risco de não sermos bem compreendidos nem acolhidos, e isso pode bloquear a aprendizagem da confiança. “Nunca mais vou confiar em alguém” é a típica frase de quem já chumbou na difícil matéria da desilusão. Dar a oportunidade, a nós e aos outros, de “confiar outra vez” é o único caminho do sucesso para quem procura a felicidade. É a minha profunda convicção.

Por outro lado, a pessoa que tem uma equilibrada autoconfiança não tem medo da reprovação dos outros porque confia nas suas habilidades e capacidades e expressa livremente as suas opiniões, inquietações, preferências e desejos.

Transparência, aceitação dos limites, reconhecimento das próprias forças e potencialidades, são algumas das tantas disciplinas a retomar e aprovar para quem quer crescer em verdade. A falta de confiança em si próprio faz com que a pessoa dependa em excesso dos outros, evite

Confiar nos outros exige que primeiro aprendamos a confiar em nós próprios. Sem esta condição torna-se difícil construir uma vida equilibrada e autêntica

Durante o treino e a vivência das nossas relações surgem Dezembro 2013

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sementes do reino

Maria e José são personagens de destaque para quem está a preparar o Natal: a sua disponibilidade para escutar os apelos de Deus torna possível a realização do projeto divino ensinamento. Antes de mais, recorda que Jesus não é fruto humano, mas divino; fica-se a saber que a sua missão será oferecer a salvação à humanidade. E que tudo o que está para acontecer já fazia parte dos planos de Deus. José tem um papel de destaque: deverá dar um nome à criança que nascerá de Maria. Isso significa que o aceita como seu filho. Com este sim de José a história da salvação pode continuar.

Rezo a Palavra

JOSÉ CUMPRIU A VONTADE DE DEUS Estamos a chegar à conclusão de mais um ano civil; mais um ciclo que chega ao fim e abre as portas a algo de novo. Para muitos é tempo de balanço. Na nossa vida de fé, deveríamos também aproveitar a oportunidade para rever o caminho feito ao longo deste ano: crescemos ou diminuímos nas coisas de Deus? Na liturgia já começámos com um novo ano, centrado na figura de São José texto PATRICK SILVA foto DR

Leio a Palavra

Mt 1,18-24 O evangelista São Mateus, ao contrário de São Lucas, coloca como protagonista dos acontecimentos que levam ao nascimento de Jesus a figura de José. Homem simples, de poucas palavras, mas de grande atitude. Mateus é um bom conhecedor das Escrituras e no seu Evangelho faz alusão a várias personagens do Antigo Testamento, como que a mostrar, que este nascimento é uma continuação das promessas da antiga Escritura. Neste texto, em concreto, narra a situação de Maria e José. 26

Perante a notícia da gravidez de Maria, José decide abandoná-la em segredo para evitar consequências da sua suposta infidelidade. Enquanto se prepara para pôr em prática o seu plano, José tem um sonho divino. Tal como na versão de Lucas, o Senhor altera por completo os planos humanos. José descobre a verdade através do sonho divino e responde, fazendo o que o Senhor lhe ordenara.

Saboreio a Palavra

O texto evangélico não pretende ser uma fotografia dos acontecimentos, mas sim dar aos cristãos um

Senhor, obrigado por esta tua palavra que nos ajuda a descobrir a tua vontade. Faz com que o Espírito ilumine as nossas ações e nos dê a força para seguir o que a Tua palavra nos pede.

Vivo a Palavra

José cumpriu a vontade de Deus. Aqui está o grande projeto para cada um de nós: descobrir e atuar a vontade de Deus. Deus escolhe pessoas concretas para realizar os seus planos. José disse sim, fez o que o Senhor lhe ordenara. Será que nós estamos dispostos a fazer o que o Senhor nos manda? Maria e José são personagens de destaque para quem está a preparar o Natal: a sua disponibilidade para escutar os apelos de Deus torna possível a realização do projeto divino. Estaremos nós disponíveis para acolher os projetos de Deus?


intenção missionária

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO DEZEMBRO

01 1º Domingo do Advento

Is 2, 1-5; Rom 13, 11-14; Mt 24, 37-44 DESCE ATÉ NÓS, SENHOR! O Advento é o grande desejo, já realizado, de que Deus desça até nós. Sem Ele não conseguimos acertar no caminho do entendimento entre nós. O mundo precisa do Emanuel, o Deus connosco, que nos abra os olhos e nos ensine a viver. Haja corações abertos às suas orientações. Vem, Senhor, encher de esperança os dias da nossa amargura.

08 Festa da Imaculada Conceição

Gen 3, 9-15.20; Ef 1, 3-6.11-12; Luc 1, 26-38 FLOR DA HUMANIDADE Flor da humanidade e de toda a criação, Maria atraiu o olhar de Deus com a sua humilde beleza. Desde o princípio triunfa nela a harmonia com Deus e com os outros. É o ideal humano de justiça e santidade. Viver à sua imagem é procurar a sua beleza sem mancha, é superar egoísmos e tensões, é abrir o coração aos projetos de Deus. Tinge-nos, ó Mãe, com a beleza de que Deus te revestiu.

15 3º Domingo de Advento

Is 35, 1-10; Tiago 5, 7-10; Mat 11, 2-11 UMA NOVA HUMANIDADE “Os cegos recuperam a vista, os coxos caminham, os leprosos são limpos...”. É a dinâmica missionária de Jesus. Não é só uma obra de misericórdia, é um mundo novo que Jesus quer formar: um mundo onde não haja ninguém que não pertença a alguém. Ajuda-nos, Senhor, a limpar o rosto desfigurado deste mundo.

22 4º Domingo de Advento

Is 7, 10-14; Rom 1, 1-7; Mat 1, 18-24 NÃO FIQUES PARADO Daqui a dias é Natal. Põe-te a caminho e vai até Belém. Não encontrarás um Deus triunfante e glorioso, mas um menino frágil e pequeno. Procura o rosto de Jesus no rosto amedrontado dos oprimidos, na solidão dos infelizes, onde Jesus continua a nascer e a viver em fragilidade. Dá-me os teus olhos, Senhor, para descobrir o teu rosto nas fragilidades do nosso mundo.

25 Natal do Senhor

Is 9, 1-6; Tito 2, 11-14; Luc 2, 1-14 A LUZ DO PRESÉPIO Vamos todos nascer de novo com Ele e inventar situações de paz. “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”. Vive o mistério do Natal, coloca-o no teu coração, para que Ele possa, por teu intermédio, tornar-se o coração do mundo. Que a luz do teu presépio, ó Jesus, inunde os nossos corações.

29 Festa da Sagrada Família

Sir 3, 3-7.14-17; Col 3, 12-21; Mat 2, 13-23 A BELEZA DE UMA FAMÍLIA Que grande dom é ter uma família que te ama, te acolhe e te sustém. Que graça é ter alguém com quem contar e em quem confiar. Ter um espaço onde descobrir o desígnio do amor de Deus sobre cada um de nós e aprender a confiante abertura aos outros. Santa Família de Nazaré, acolhe os anseios das nossas famílias. DV

Para que os cristãos, iluminados pela luz do Verbo Incarnado, preparem a humanidade para o advento do Salvador

A resposta de Deus Veio Cristo em missão para o meio dos homens. Trouxe a resposta de Deus ao desespero do mundo. Veio inaugurar os tempos de paz anunciados por Isaías. “Tende coragem, não temais! Aí está o vosso Deus. Vem para fazer justiça e dar a recompensa. Ele próprio vem salvar-vos”. Nunca como hoje foi preciso gritar estas palavras de consolação e de esperança.

É sempre atual a sua mensagem. Viver em advento é deixar que Cristo, homem novo, ilumine a nossa humanidade. Com a Igreja que se põe em marcha, toda a humanidade vive em advento, em caminhos de esperança e libertação. Sobre os nossos cansaços, buscas, anseios e desilusões fica a certeza: Ele vem salvar-nos. Ou melhor: Aquele que aguardamos, já anda no meio de nós. Viver com Ele, Verbo Incarnado no meio de nós, é sentir-se iluminado e evangelizado. Testemunhá-lo no dia a dia é abrir caminho para que Ele volte e toque outros corações. Ser cristão é isto: abrir-lhe a porta, escutar a sua voz e acolher o programa de vida que Ele traz, e descobrir à nossa volta outras áreas que Ele, por nosso intermédio, possa evangelizar. DV

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o que se escreve FILOSOFIAS 79 reflexões

UM OLHAR LUMINOSO Beata Chiara Badano

Chiara era uma rapariga normal, mas extraordinária na sua vivência diária. Pertencia ao Movimento dos Focolares e descobriu em Deus o ideal de vida: cheia de graça, difundiu-a à sua volta. Preferiu os pequeninos, os humildes e os pobres. Quando aos 16 anos lhe diagnosticaram um tumor ósseo, aceitou a doença como um dom: “Se assim o queres, Jesus, também eu quero”. Morreu aos 19 anos, irradiando serenidade e paz e confortando quem dela se aproximava. Cognominada “Clara Luz”, a Igreja reconheceu a sua santidade beatificando-a a 25 de setembro de 2010. Autor: Mariagrazia Magrini 190 páginas | preço: 11,00€ Paulinas Editora

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OS DOMINGOS DO ADVENTO ANO A

Não se trata de comentários sobre o saber alheio, mas de “um pensamento inédito e muito pessoal, um olhar atento e perspicaz sobre o mundo, sobretudo sobre a realidade do ser humano, por alguém que, sem pretensiosismos nem barroquismos académicos, não ilude as grandes questões da cultura e da vida”. Que bom seria que muitos universitários, tantos deles com sede e ânsias de infinito, se debruçassem sobre estas crónicas. Autor: José Luís Nunes Martins 248 páginas | preço: 19,00€ Paulus Editora

Para o mês de dezembro, que é mês de Advento em preparação ao Natal, propomos este livro para uma maior descoberta da liturgia. A originalidade que se pretende dar nestes materiais é uma estreita relação interna de toda a celebração a partir dos textos bíblicos. Quem manda são as leituras que se proclamam cada domingo. A partir daí propõem-se várias formulações com a ajuda de orações, monições e gestos celebrativos. Autor: Álvaro Ginel 136 páginas | preço: 7,60€ Edições Salesianas

ESCOLINHA DE INGLÊS 1 Primeiras palavras em inglês na pré-escola com atividades

SANTA TERESA DO MENINO JESUS E A FORÇA DOS SEUS PEQUENOS CAMINHOS

Teresa de Lisieux: 24 anos de existência Escolinha de Inglês terrena, nove dos é uma proposta de quais escondida abordagem/iniciação num mosteiro. O à língua inglesa perfume da sua vida para crianças em chegou aos quatro idade pré-escolar. cantos do mundo. Com o apoio do adulto/educador, as “A missão era, para Santa Teresa, diversas atividades são propostas e a estrela que devia guiar todos explicadas com bonitas ilustrações os caminhos da fé. Mesmo num e é feita a leitura e a aprendizagem convento contemplativo, em que a das palavras em inglês. A criança oração tudo envolvia, tudo oferecia e terá prazer em repetir e em distinguia como expressão suprema memorizar os termos nessa nova do amor a Deus”, diz acertadamente língua. a autora deste livro, prefaciado pelo Autor: Maria Cancela novo patriarca de Lisboa, Manuel 32 páginas a cores ilustradas por Clemente. É um livro de muito fácil Ricardo Neto leitura, que cativa e envolve. Preço: 5,00€ Autor: Teresa Ferrer Passos Edições Papa-Letras 136 páginas | preço 7,50€ Edições Carmelo


o que se diz DEUS É AMOR

É um texto que pertence ao género literário que se pode chamar “literatura do coração”. São “meditações que se escreveram para almas que estão a meio caminho (depois da primeira conversão e antes de chegarem a uma perfeição avançada), a fim de as encorajar a seguir pela estreita via espiritual, com a firme convicção de que Jesus as chama à perfeição e que Ele lhes concede toda a graça necessária, se permanecerem fiéis até ao fim”. Autor: Maria Stella Salvador 232 páginas | preço: 11,70€ Paulus Editora

AS MINHAS CANÇÕES PORTUGUESAS E INGLESAS

Aqui está uma proposta aliciante para crianças, independentemente do facto de saberem ou não a língua inglesa: um livro para cantar em família, na escola e com os amigos, apoiado com atividades muito divertidas. Todas as canções têm atividades para pintar, descobrir, relacionar. Incluem-se as pautas musicais para facilitar as cantorias. Autor: Barbara Bell e Clara Abreu Elliott 40 páginas a cores | preço: 6,50€ Edições Papa-Letras

Todos corresponsáveis “A Igreja nascente sentiu também carência de ministros. O que

fez? Os apóstolos reuniram-se e, à luz da fé, procuraram solução para o problema. Qual foi? Centrar os apóstolos na sua missão própria e instituir um novo ministério para fazer face às novas necessidades. (…) Está em mudança a Igreja, no sentido de cada vez mais todos os fiéis se tornarem sujeitos ativos e corresponsáveis na sua vida e missão. Será talvez caso para dizer que ‘há males que vêm por bem’ como diz o povo”. Jorge Guarda | Presente | 7 de novembro de 2013

Formar boas chefias “Com certeza que o escutismo católico é um desses movimentos

juvenis, já com provas dadas, que pode marcar a diferença na construção de uma sociedade mais fraterna, participativa na construção do bem comum, mais amiga do ambiente e da família e com simpatia entre a juventude. Mas, para que se mantenha fiel aos seus princípios, precisamos de formar boas chefias”. António Vitalino | Notícias de Beja | 31 de outubro de 2013

Para a reconciliação em Moçambique “Apelamos ao povo para que não se deixe manipular por ninguém

(partidos inclusive) e induzir a fazer o mal, seja de que tipo for e seja para que fim, sobretudo para praticar qualquer tipo de violência ou atrocidade. Apelamos aos sacerdotes: sejam solícitos em ajudar os fiéis e pessoas de boa vontade a viver a política na justiça, verdade e respeito recíproco, e sejam verdadeiros ministros que promovem a paz e a reconciliação entre o povo”. Francisco Lerma | Caminhos | Edição 9 de 2013

Você aceita isso? “Viver juntos é mesmo o nosso maior problema. Nem a nós próprios nos suportamos, muitas vezes! Isto para não falar de nossos pais, nossos professores, aquele que não se veste como eu, não fala como eu e nem mora no mesmo lugar que eu… Eis o problema que aflige a humanidade: a convivência entre diferentes profissões de fé, povos, nações, vizinhos, familiares. E o espantoso é que só há um modo de resolvermos este problema: é estando junto aos demais que aprendemos a viver, a conviver, sendo corpo de Cristo”. Domingos Francisco Forte | Missões | novembro 2013

Abençoada periferia “No Quénia eu vi essa mudança: em vez de ‘é preciso ajudar os

pobres’ dizíamos: ‘nós, os pobres, ajudemo-nos uns aos outros e, juntos, ajudemos os que são mais pobres do que nós’. Da esmola piedosa que deixa na soberba quem dá e na humilhação quem recebe, passa-se à solidariedade que custa e faz crescer quem dá e quem recebe”. Fernando Domingues | Além-Mar | novembro 2013

Dezembro 2013

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gestos de partilha

COSTA DO MARFIM Comunidade da Loureira – Fátima (Dia das Missões) 217,00€; Mulheres Missionárias da Consolata – Mem Martins 700,00€; AMC (Núcleo do Algarve) Anónimo 16,00€; Anónimo X 30,00€; Conceição Silva 20,00€; José Francisco 60,00€; Donzília Manata 20,00€; Fátima Matias 10,00€; Conceição Gameiro 5,00€; Anónimo 50,00€; Deonilde Silva 10,00€; Maria José Moreira 25,00€; Lurdes Correia 5,00€; Eunice Santos 20,00€; Francelina Rosa 40,00€; Mariana Fernandes 20,00€; Manuel Rodrigues 10,00€; Adélia Andrade 100,00€; Joaquim Barroca 50,00€; Mário Vilarinho e Aurora Farinha 10,00€; Anónimo 10,00€; Anónimo 30,00€; Anónimo 10,00€; Anónimo 250,00€; Anónimo 10,00€; Madalena Cruz 50,00€; Anónimo 5,00€; Anónimo 5,00€; Padre Angel Vinagre 500,00€; Anónimo 40,00€; Anónimo 10,00€; Anónimo 5,00€; Anónimo 10,00€; Serafim Branco 40,00€; Anónimo 5,00€; Cristina – Leiria 10,00€; Anónimo 20,00€; Manuel Rodrigues 30,00€. Total geral = 10.111,65€. BOLSA DE ESTUDO Conceição Ferreira 250,00€; Raquel Oliveira 250,00€; Inês Jordão 250,00€; Anónimo 250,00€; Anónimo 250,00€; Céu Domingues 250,00€; Belmira Barros 250,00€; Maria Santos 250,00€; Cândida Mariz 250,00€; Deolinda Gonçalves 250,00€; Nuno Silva 250,00€; Maria Almeida 250,00€; Alice Rosa 300,00€

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

PADRE GIOVANNINO TEBALDI

DE PAIXÃO EM PAIXÃO Éramos dois jovens entusiastas e vivemos juntos três anos de formação sacerdotal e missionária na Itália. Bons amigos, discutíamos questões variadas. Eu pendia mais para a alegria, ele aspirava sempre com nervosismo a algo de mais profundo

Osservatore Romano. A missão impulsionava-o. Percorria a Itália a fazer conferências arrebatadoras. Faltava algo que espicaçava o nó central do seu coração: escrever uma biografia do fundador, o beato José Allamano. Escreveu-a. Nela mostra como a vida de Allamano vogou sempre sobre as ondas da paixão pela santidade e pela missão.

era um candidato à perfeição humana e divina”, e “a missão devia tornar o homem depositário das bem-aventuranças”. Morreu em 10 de outubro de 2004, o mês da Senhora do Rosário, a Virgem da Anunciação, das Dores, da Luz e da Glória, que muito bem ele servira.

Dois pontos cardeais da sua vida: “O amor pela sua família religiosa, os Missionários da Consolata, e a sua paixão pela missão do Reino de Deus”. Para ele “todo o ser humano

texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração H. MOURATO Giovannino Tebaldi nasceu em 1932 e foi ordenado sacerdote em 1957. Tinha paixão pela música e copiara à mão mais de duzentos trechos musicais, trabalho de que muito se orgulhava. Um dia, num momento de desânimo, queimou toda aquela preciosidade. Debatíamos também verdades mariológicas: para mim a grande festa de Maria era a Anunciação, ele pendia para Nossa Senhora das Dores. Enviado para o Quénia, ali trabalhou com uma paixão febril pela promoção total do ser humano. Foi docente de religião, e preparou manuais de formação religiosa. Fazia tudo com grande entusiasmo. Ao Superior Geral escreveu um dia: “Reze por mim para que Deus me assista e me dê a força de viver de forma integral a minha vida sacerdotal”. Depois da intensa missão em África, foi chamado para a sua pátria natal, a Itália; foi um capítulo novo da sua vida e cresceu na densidade da sua entrega à promoção da verdade de Cristo. Para a África olhava com “uma torrente de afetos, coragem e preocupações”, a África que ele via como “filha sua e ao mesmo tempo sua mãe”. Escrevia livros e artigos em revistas e jornais, incluindo o Dezembro 2013

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outros saberes

“DEUS QUER, O HOMEM SONHA, A OBRA NASCE” texto NORBERTO LOURO foto LUSA Dois cientistas foram recentemente galardoados com o prémio nobel da física, o prémio mais ambicionado de todos a nível mundial, por terem descoberto uma partícula a que deram o nome de “bosão de Higgs”, o cientista inglês que a tinha previsto. Esta partícula é responsável pela massa das outras partículas e a mais consensual para explicar o mundo da matéria e a forma como ela se organiza ou começou a organizar-se logo após a explosão (big bang) da origem do mundo. A esta partícula começou

“Deus é como a teia de aranha; nunca se esgota”. E aí está o homem a descobrir a imensidade de Deus na imensidade do mundo e das capacidades do homem, como bem diz outro provérbio: “O mundo não se fez num dia”

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comum e abusivamente a dar-se o nome de “partícula de Deus”, nome que tem causado algum escândalo nos crentes por pensarem que os cientistas querem usurpar a Deus o ato da criação. Têm talvez uma certa razão. De facto, numa das primeiras viagens, um astronauta soviético teria comentado que deu muitas voltas à terra, mas por lá não encontrou Deus. E muitos são (também cientistas) os que negam Deus e que a criação é obra sua.

mais não fazem do que ilustrar as grandezas da sabedoria de Deus. Há um provérbio Macua (Moçambique) que com uma comparação tirada dum inseto assim sentencia:

O grande cientista Newton, porém, contrapõe:

“O mundo não se fez num dia”.

“A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido a origem segundo o plano de um ser que tudo sabe e tudo pode. Isso fica sendo a minha última e mais elevada descoberta”.

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”,

É verdade que a ciência tem feito descobertas sensacionais, mas

“Deus é como a teia de aranha; nunca se esgota”.

E aí está o homem a descobrir a imensidade de Deus na imensidade do mundo e das capacidades do homem, como bem diz outro provérbio:

Como bem dizia Fernando Pessoa:


notas missionárias

A ÚNICA RIQUEZA É A ESPERANÇA Estamos no Advento! Todas as comunidades da paróquia de Heka, na Tanzânia, pedem para ser preparadas para o Natal. A conversa que escrevo focaliza a situação e a caminhada texto JOSÉ INVERARDI ilustração HUGO LAMI Uyanzi, foi a última comunidade a nascer – com 104 cristãos. Durante cerca de 20 quilómetros o percurso pode quase gloriar-se de se chamar estrada. Basta fazer gincana para evitar os ramos dos espinheiros que lhe fazem de tapete. A última hora de viagem é um jogo de desvios entre uma árvore e outra para se poder passar onde houver lugar. Atravessamos uns ribeirinhos secos, mas de leito fundo. Pelo que durante a estação das chuvas é impossível chegar a Uyanzi. Olha, lá está a capela! Uns paus e um pouco de palha servem de teto. Nem uma parede sequer. Enquanto as pessoas vão chegando, eu avanço pensativo: deve ser nestes lugares que o Menino gosta de re-nascer. São uma cópia de Belém. Nada de ostentação, nenhum fausto, apenas pobreza. Só a riqueza dos corações que se alegram com a mínima beleza. São espíritos abertos – tal como a capela deles. Aqui não é preciso abrir portas para que Cristo entre. Porque aqui tudo é abertura. Tanto a capela como as almas. Confesso que por altura da homilia me sinto embaraçado para tecer um comentário à palavra de Deus. Aqui e noutros sítios os tempos estão difíceis. Nem um pingo de chuva nem vagas esperanças de que em breve choverá. E no entanto, aqui tudo clama: chuva!

As pessoas, os animais que morrem, a própria terra. Temo não encontrar expressões adequadas à situação concreta. Com perguntas e respostas conseguimos fazer com que o Evangelho já proclamado seja uma palavra de coragem e de vida – para mim e para eles. A pobreza é visível por todo o lado. E no entanto, ninguém se aproxima para pedir nada. Mas uma senhora idosa pede-me o catecismo para o poder ensinar aos seus netos. Não o tinha comigo, mas deixei uma promessa. Os seus olhos acenderam-se… Tomando as minhas mãos entre as suas, calejadas e sujas, esboçou uma breve genuflexão e não parava de me agradecer: Asante,

asante, asante! Obrigado, obrigado, obrigado! São cenas que ficam esculpidas na alma para sempre. Uyanzi! Aqui tudo é esperança, visto que há bem pouco. Abunda a dureza da vida. A das mulheres que nesta altura têm de fazer um trajeto de três horas para irem buscar água. A dos pequenos, que dia a dia têm de caminhar duas horas para chegar à escola. E as muitas crianças são uma esperança. Como o menino que nasceu em Belém, a quem São Paulo chamou “nossa esperança”. A esperança gera o futuro e permite viver. Para muitos, a única riqueza é a esperança!

Dezembro 2013

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fátima informa

ESPAÇO DE SOLIDARIEDADE E PARTILHA Aldeia Intergeracional nasceu para criar pontes entre as diversas gerações, tendo como base as relações e os afetos, afirma o padre Joaquim Ventura, fundador e responsável pela Fundação Arca da Aliança texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA O “Solar das Bem-aventuranças”, lar que acolhe seniores (atualmente com 12 residentes, mas com capacidade para 60) é o primeiro passo do projeto “Aldeia Intergeracional” que quer ser ponte entre as diferentes gerações, em Fátima. Pretende criar uma ligação especial entre os jovens acolhidos pela Fundação Arca da Aliança e seniores que se encontram no lar, estando programados workshops de pintura e de teatro,

jogos, lanches partilhados, entre outras experiências. A partir de 2014, a aproximação da instituição à comunidade vai ser mais visível, com uma vertente de atividades que incluem as escolas da região. “Avançado, longamente refletido e preparado durante mais de uma década”, o projeto inicial, que previa a ligação intergeracional, ainda não está “totalmente realizado”, explica Joaquim Ventura. Para a plena implementação do

Concerto de Natal

decorrerá nos anos de 2014-2015, antes da visita às 20 dioceses portuguesas.

A Liga de Amigos do Museu de Arte Sacra e Etnologia de Fátima promove um concerto natalício a 8 de dezembro, pelas 15h00, no auditório do Centro Missionário Allamano. O espetáculo juntará em palco alunos das escolas de Fátima.

Imagem visita conventos

A imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima visitará os conventos e mosteiros de vida contemplativa em Portugal. Num total de trinta e sete, cada mosteiro ou convento acolherá a imagem durante uma semana. Esta visita 34

Igreja e Turismo

As primeiras Jornadas Nacionais da Pastoral do Turismo, que decorrerão a 10 e 11 de janeiro de 2014, vão juntar operadores na área do turismo e público em geral, na Casa de Nossa Senhora do Carmo, em Fátima, para abordarem o tema “Igreja e Turismo”. A iniciativa é da Obra Nacional da Pastoral do Turismo e inclui uma visita guiada ao Santuário de Fátima.

complexo é necessária a construção das estruturas destinadas a crianças (creche e jardim de infância) e a realização das “desejadas parcerias com as comunidades juvenis de Fátima”. Foi pela mão do padre Joaquim Ventura, antigo diretor do Colégio de São Miguel, que esta aldeia intergeracional foi sonhada e tornada uma realidade pela Fundação da Arca da Aliança cujo lema é “Existir para servir”. A fundação conta com a “Arca Jovem”, constituída por um pequeno grupo, em crescimento, de alunos e ex-alunos do Colégio de São Miguel que colaboram com a instituição.

Dezembro em agenda 07 Retiro do Advento sobre o Evangelho de São Mateus, no Seminário da Consolata 14 Encontro sobre Salmos do Natal, no Centro Bíblico dos Capuchinhos


Informações e reservas 249 539 400 hotelpax@consolata.pt

INSTITUTO MISSIONÁRIO DA CONSOLATA

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A PARTITURA DE DEUS Voltem os anjos a cantar Paz na terra e glória a Deus Em alegria a partilhar Os bens que existem nos Céus. Como anjos anunciadores Nos tornemos da Boa nova E como humildes pastores De coração a toda a prova. Com os anjos solfejemos a partitura da esperança E todos nós renasceremos Com amor e confiança. Troca de prendas se dará Entre nós e o Deus menino E toda a terra crescerá Com mais vida e mais atino. Melovox


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