Fatima missionaria novembro 2013

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ANO LIX | NOVEMBRO 2013 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

MALALA YOUSAFZAI

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“UM ALUNO, UM PROFESSOR, UM LIVRO E UMA CANETA PODEM MUDAR O MUNDO”

ESPEROU 31 ANOS PARA CASAR PELA IGREJA Pág. 10 “DEVEMOS IR ONDE Pág. 14 NINGUÉM VAI” PISTAS PARA PERCEBER Pág. 18 A ALEMANHA



editorial

CIVILIZAÇÃO EM PERIGO “Vivemos numa civilização que se baseia no crescimento económico e, por isso, na energia e no consumo (…). Somos sete mil milhões de pessoas que têm fome, que consomem todos os dias. Essa energia, esse conforto, permite-nos consumir muito mais do que aquilo de que verdadeiramente precisamos. Hoje, vivemos numa espécie de superabundância, pelo menos nos países ricos, dois ou três mil milhões de pessoas. E não sei se seremos capazes de parar”. São palavras de Yann Arthus-Bertrand, autor do livro “A Terra Vista do Céu” e criador de uma recente exposição, Planet Ocean, patente no Oceanário de Lisboa, até 6 de janeiro. Para este ilustre ecologista e fotógrafo “não é a Terra que está em perigo, é a nossa maneira de viver, a nossa civilização”. Não é um problema simplesmente ecológico, é um problema humano, ético e social. A nossa sociedade tem-se mostrado incapaz de um uso racional e sustentável dos seus recursos. Há programas muito bonitos e compromissos formais de organizações mundiais e nacionais, mas não passam do papel, e a pobreza aumenta e impõe a todos nós fortes interrogações. Para onde nos levará um desenvolvimento descontrolado? Que aconteceria ao nosso planeta se houvesse no mundo uma industrialização de parâmetros semelhantes aos da Europa ou da América? E a situação da China não nos diz nada? Criámos uma civilização que é filha do mercado e da concorrência. É a globalização que nos governa em vez de sermos nós a governá-la.

e cuidar não se refere somente à relação entre nós e o ambiente, entre o homem e a criação, diz respeito também às relações humanas”. E mostrou como o magistério da Igreja tem falado de “ecologia humana, estritamente ligada à ecologia ambiental”. “Estamos a viver um tempo de crises, – afirma convicto – vemos isso no ambiente, mas, sobretudo, no homem. A pessoa humana está em perigo: eis a urgência da ecologia humana! E o perigo é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é somente uma questão de economia, mas de ética e de antropologia... Dominam as dinâmicas de uma economia e de uma finança carentes de ética”. O citado Yann Arthus-Bertrand é da mesma opinião quando afirma que precisamos de uma revolução. “Não será uma revolução científica, porque não vamos trocar de repente os 800 milhões de barris de petróleo que consumimos todos os dias por uns painéis solares mais sofisticados, e nós somos incapazes de reduzir o consumo”, nem uma revolução económica, mas uma revolução espiritual, no sentido ético ou moral. DARCI VILARINHO

O Papa Francisco tem alertado para o problema. Citando o livro do Génesis, afirmou que o “cultivar Novembro 2013

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº10 Ano LIX – NOVEMBRO 2013 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 25.800 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colabora­ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diaman­tino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pa­­che­co – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção e Arquivo Capa Lusa Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ri­car­do Neto Design e com­po­sição Happybrands e Ana Pau­la Ribeiro Ad­mi­nis­tração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

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A SUA ASSINATURA 4

18 15 PISTAS PARA PERCEBER A LOCOMOTIVA DA EUROPA 03 EDITORIAL Civilização em perigo 05 PONTO DE VISTA A desconfiança dos credores 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Uma aula diferente 08 MUNDO MISSIONÁRIO Igreja Dominicana com a campanha de alfabetização

Após atentados terroristas no Paquistão minorias religiosas exigem proteção Países do Norte de África tornaram-se países de imigração “Corrupção é roubo aos pobres”, afirmam bispos da África do Sul 10 A MISSÃO HOJE Cristão isolado concretiza sonho de uma vida 11 PALAVRA DE COLABORADOR Gostariam de fazer mais 12 A MISSÃO HOJE Concluída maloca financiada pelos portugueses 13 DESTAQUE Malala: um símbolo na luta pela educação 14 ATUALIDADE “Devemos ir onde ninguém vai” 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Saudáveis no corpo e na alma 24 TEMPO JOVEM O inesperado 26 SEMENTES DO REINO “Hoje devo ficar em tua casa” 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Dialogava com Deus por escrito 32 OUTROS SABERES “Não deixes para amanhã” 33 NOTAS MISSIONÁRIAS À procura de um caminho em comum 34 FÁTIMA INFORMA “Amor que purifica e salva”


ponto de vista

A DESCONFIANÇA DOS CREDORES Muitos portugueses esperavam algum alívio da austeridade em 2014. Mas não haverá alívio. A brutal carga de impostos do Orçamento para 2013 mantém-se texto FRANCISCO SARSFIELD CABRAL* no próximo ano. Só que agora vai ser-lhe somada uma série de cortes na despesa pública, sobretudo nos salários da função pública e nas pensões. Porquê? Porque o governo não fez a reforma do Estado, implicando cortes racionais na despesa já no Orçamento para 2012. Agora tem que cortar violentamente onde pode, pois os nossos credores estão desconfiados. Essa desconfiança revela-se nos juros a que a dívida pública portuguesa é transacionada no mercado secundário (dívida já emitida). No primeiro semestre do corrente ano esses juros até estavam a descer, mas voltaram para níveis incomportáveis com a crise da coligação em julho – quando se demitiu o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, e o líder do CDS, Paulo Portas (que depois voltou atrás). A desconfiança foi reforçada principalmente por dois outros fatores. O PS alheou-se do memorando de entendimento com a troika (aliás negociado por um governo socialista) e critica severamente a austeridade. Por outro lado, o Tribunal Constitucional já chumbou seis vezes medidas orçamentais do governo e pode voltar a fazê-lo. Não admira que os credores, efetivos ou potenciais, se interroguem sobre a capacidade de Portugal vir a pagar o que deve.

acedeu à pretensão portuguesa de subir o défice em 2014 de quatro para 4,5 por cento. O nosso défice já antes havia sido flexibilizado; uma nova flexibilização poderia ser mal vista nos mercados. Numa palavra: na situação em que nos encontramos mandam os credores. É triste, mas devíamos ter pensado nisso quando nos endividámos loucamente, para financiar, a crédito, um nível de vida insustentável, pois a economia portuguesa quase não cresce desde o início do século. É certo que as famílias já alteraram o seu perfil de gastos – até poupam mais agora (receando o futuro), apesar de o seu rendimento ter baixado. O Estado é que tarda a pôr em ordem as suas contas. Mas o Estado não é um fantasma: há inúmeras pessoas, empresas, grupos de pressão, etc., que, de uma maneira ou de outra, vivem “à mesa do Orçamento”. Daí, creio eu, a incapacidade do governo para levar para a frente a reforma do Estado. Há quem defenda o não pagamento da dívida, o que quase de certeza implicaria sair do euro. Na minha opinião, nessa altura teríamos uma austeridade bem pior do que a atual. Por isso há que aguentar. Vislumbra-se uma luzinha no fundo do túnel: a economia dá alguns sinais de poder recuperar em 2014 – o que facilitaria a própria redução do défice orçamental. *Jornalista

Daí a intransigência da troika na última avaliação, em setembro, do programa de ajustamento: não Novembro 2013

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leitores atentos

RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o nú­­me­ro ou nome do assinante. Na folha on­de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos es­ti­mados assinantes renovem a assinatura para 2013. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os do­­na­tivos para as missões são de­dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

É INEXPLICÁVEL

Tal como os meus filhos, há muitos jovens desempregados e os pais fazem das tripas coração para os ajudar. Mas tenho fé que as coisas mudem para melhor. Vou acreditar que um dia os meus filhos consigam fazer a sua vida normal sem precisar das migalhas dos pais. Nós sofremos, mas eles sofrem muito mais, sentem-se sem rumo nesta sociedade. Peço muito a paz, principalmente familiar, que é fundamental para o dia a dia. Só Deus nos pode valer, porque a Ele nada é impossível. O tempo de Deus não é igual ao nosso... Sobre a vossa revista, que dizer? Dá-me paz e tranquilidade. É extraordinário e inexplicável... Desejo as maiores felicidades a todos os que trabalham nessa revista, porque satisfazem os corações dos seus leitores. Maria da Glória

COM AMOR E CARINHO

Com amor e carinho venho renovar a assinatura da nossa revista que aprecio e leio logo que chega à minha casa. Bem hajam pelo trabalho que realizam junto de quem vive mergulhado no sofrimento das guerras e até se esconde para rezar. Maria José

Diálogo aberto Venho agradecer o postal com as palavras generosas que me dirigiu e os votos que, através de Nossa Senhora, formulou para mim. Rezo todos os dias a Nossa Senhora da Consolata por todos. Venho também agradecer, sensibilizada, o livro sobre a vida e obra do beato José Allamano. Pela revista FÁTIMA MISSIONÁRIA fui sabendo alguma coisa sobre o fundador. 6

Mas agora, lendo o livro, ficarei mais consciente do amor que ele tinha pelo continente africano. Maria Antonieta – Lisboa

Obrigado, pela sua oração e empenho missionário. A sua mensagem dá-me a oportunidade para lembrar aos leitores que este ano pastoral, desde o dia 7 de outubro de 2013 até à mesma data de 2014, será um ano inteiro dedicado à figura do beato José Allamano, por determinação da Direção Geral do

MIGALHINHAS

É com muita fé que eu peço a Deus que vos dê muita saúde, forças e coragem para continuarem a vossa missão. Temos muita necessidade de quem nos ensine a conhecer melhor o Evangelho e a vossa revista ajuda-nos a compreender melhor muitas coisas. Por isso, muito obrigada. Mando uma migalhinha para quem entenderem que mais precisa. Tenho pena de não poder mandar mais, mas a minha reforma é pequenina. Com boa vontade, divide-se um pouquinho. Um abraço para toda a equipa. Maria da Piedade

BOCADINHO DE MIM MESMO

As minhas saudações e as minhas desculpas por me ter atrasado em pagar a minha FÁTIMA MISSIONÁRIA. Aconteceu porque, agora reformado, passei semanas espaçadas fora da minha residência habitual. Mas sempre que regressava, com uma ansiedade inexplicável recolhia na caixa do correio o que considero um bocadinho de mim mesmo: a FÁTIMA MISSIONÁRIA. Aqui estou a corrigir-me e a enviar-vos um cheque para validar a minha assinatura de 2013 e 2014. Fernando

nosso Instituto. Queremos que as pessoas conheçam ainda mais a sua santidade missionária, o seu zelo apostólico e a sua ânsia de levar a promoção humana e espiritual aos mais necessitados. A todos os nossos amigos e benfeitores se pede uma súplica ardente ao Deus da Missão, para que a Igreja o inscreva quanto antes no cânone dos Santos. DV


horizontes

UMA AULA DIFERENTE texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI Simão sentou-se no banco do Instituto de Emprego à espera da sua vez. Nunca se imaginara nesta situação. Atrás de si, um passado de alunos “diferentes” por quem lutou, enquanto professor, nos currículos alternativos; envolvimento na criação de aulas dinâmicas e ajustadas aos seus interesses; a criação de um serviço de socorro a naúfragos, que não só salvou naúfragos como salvou muitos dos que integrou como “salvadores”; as propostas de trabalho em projetos educativos com jovens socialmente desajustados;… tudo isto estava agora bem para trás! Tão atrás que só nos dias bons conseguia vislumbrar alguma sombra de uma vida que o preenchia.

eu sei lá… até sei levar crianças a atividades. Sei fazer tudo, se me ensinarem. Simão ia falando e mantendo-se atento ao “feed back” dos colegas de sala. Talvez tenha sido o desejo de ver algum efeito da sua atitude, mas a verdade é que ficou com a certeza de que naquela sala todos o escutaram. Por um curto intervalo de tempo, pareceu-lhe ver o reacender da esperança nos rostos agora mais admirados do que cansados. Depois de ser atendido, Simão voltou a entrar na sala onde foi acolhido com sorrisos. De mão energicamente levantada num cumprimento coletivo, afirmou: – Tudo o que eu disse, vou cumprir!

A resposta foi quase irreal, com todos a bater palmas. Simão deixou-se envolver pelo embalo, e juntou-se-lhes. E, reforçando a sua mensagem, clarificou: – Aqui vão também os meus aplausos para cada solução que cada um de nós encontrar. Somos bons! Vamos a isto! Saltitando ao descer os degraus da escadaria de saída do Instituto de Emprego, Simão sentia-se revigorado, decidido, novamente a sentir-se o professor que, hoje melhor do que nunca, dera uma aula brilhante onde ele era o principal aluno.

Simão olha à sua frente. Os restantes utentes aguardam também a sua vez: faces doridas, esperanças minguadas. Volta a olhar para si e aterroriza-se. Percebe que em grande parte do dia, é este o seu estado de espírito. Levanta-se, vai à janela e usa o vidro como espelho. E frente a frente consigo mesmo, promete que esta imagem não será a sua. Ao sentar-se novamente, inicia conversa com o vizinho de cadeira: – Então, estamos aqui mais uma vez?! – É verdade, mas parece que não há nada a fazer. Temos que aceitar a nossa sorte. – Pois eu cá vou fazer alguma coisa: aqui não podem resolver a nossa vida. Vou eu resolver a minha. Olhe, neste tempo em que estive aqui sentado, aprendi uma grande lição: percebi que tenho estado mais parado do que devia. Decidi que vou aprender a aparar sebes ou a limpar matas, sei fazer mudanças, Novembro 2013

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

IGREJA DOMINICANA COM A CAMPANHA DE ALFABETIZAÇÃO

APÓS ATENTADOS TERRORISTAS NO PAQUISTÃO MINORIAS RELIGIOSAS EXIGEM PROTEÇÃO

Governo e Igreja concordaram em colaborar no plano de alfabetização da República Dominicana. Através do seu presidente, o cardeal Nicolás Rodríguez, a conferência episcopal do país comprometeu-se a promover projetos locais de alfabetização em todas as paróquias, orientados por voluntários. Só na província de Santo Domingo foram organizados 1.611 centros de encontro para os primeiros 19 mil inscritos no programa. O Plano Nacional de Alfabetização iniciou em janeiro de 2013, após o governo ter apurado num inquérito que cerca de 851.396 pessoas com mais de 15 anos não sabiam ler nem escrever. O plano prevê o lançamento inicial de 6.054 centros de alfabetização em todo o país para atingir 70 mil analfabetos em seis meses.

“Urge proteger as minorias religiosas”, reclama o Conselho Mundial das Igrejas. É preciso “proteger os cristãos paquistaneses e todas as minorias religiosas contra o terrorismo”, lê-se na carta enviada pelo secretário geral da organização, Olav Tveit, ao primeiro ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, após os atentados cometidos na Igreja de Todos os Santos de Peshawar. Preocupado com a insegurança, o secretário geral exorta o governo paquistanês a tomar as medidas necessárias para garantir a segurança das comunidades religiosas mais vulneráveis, sobretudo as que enfrentam ameaças contínuas à sua vida. O terrorismo é uma chaga que apavora o país inteiro. Nos primeiros oito meses de 2013, no Paquistão, foram mortas 4.286 pessoas e feridas 4.066 em diversos atentados terroristas. “O direito à vida perdeu todo o sentido” no Paquistão, segundo a comissão asiática de Direitos Humanos, com sede em Hong Kong.

O drama dos prófugos

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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A Itália declarou no início de outubro um dia de luto pelas centenas de prófugos que perderam a vida por afogamento junto à ilha de Lampedusa, e o Papa Francisco chamou a essa autêntica hecatombe “uma vergonha!”. As guerras e tumultos que assolam muitos países da África e do Médio Oriente estão a criar esta trágica situação de bocas e corações em busca de pão e paz, mas a Europa não tem encontrado a vontade política e social para ir ao encontro de quem em desespero estende a mão à nossa humanidade e hospitalidade.


PAÍSES DO NORTE DE ÁFRICA TORNARAM-SE PAÍSES DE IMIGRAÇÃO

“CORRUPÇÃO É ROUBO AOS POBRES”, AFIRMAM BISPOS DA ÁFRICA DO SUL

O Papa Francisco exortou os bispos norte-africanos, reunidos em Roma no início de outubro, a “consolidar as relações fraternas com os muçulmanos”. Durante três dias, os prelados partilharam as experiências de vida cristã das suas Igrejas e países. Passando por tristezas e alegrias, os bispos relataram novas esperanças suscitadas pela chegada de novos missionários aos seus territórios. Perante os factos trágicos de Lampedusa, no sul de Itália, os bispos advertem que “é preciso considerar o fenómeno migratório na sua globalidade, nas suas causas, nos seus efeitos e nas suas consequências”. E acrescentam que “os nossos países tornaram-se países de imigração e não apenas países de emigração e trânsito”, congratulando-se com Marrocos pela adoção de uma “política migratória que aponta para a integração dos migrantes, no respeito dos direitos humanos”.

Numa carta pastoral dedicada a esta chaga social, os bispos sul-africanos avisam que a “corrupção é um furto contra os pobres”. E acrescentam: “O dinheiro que vai parar aos bolsos dos corruptos poderia ser gasto para dar uma casa aos sem-teto, em tratamentos médicos para doentes e para suportar outras carências”. A corrupção espalha-se entre funcionários públicos, empresários e até pessoal eclesiástico, que põem de lado “o respeito pelos seus deveres para ganhar dinheiro para si próprios”, acrescenta o documento. Os bispos recordam que “cerca de metade dos sul-africanos admitem ter pago dinheiro para conseguir favores. “Significa que o desafio da erradicação deste mal é dirigido a nós”. E o documento incita: “Se tiverdes experimentado a corrupção, denunciai-a”. É uma necessidade, pois “a corrupção vive no segredo e no encobrimento”. Para combater o fenómeno, os bispos pretendem lançar uma campanha informativa através do departamento de “Justiça e Paz”.

Alguns dirão que são os próprios prófugos que se metem nos perigos e acabam por não sobreviver, mas nós cristãos sabemos que o bom samaritano não raciocinou assim e acabou por salvar a vida a um estrangeiro. Os desesperados que tentam entrar na Europa são nossos irmãos e irmãs. Vem-me por isso à mente a pergunta de Deus a Caim: “Onde está o teu irmão?” E a resposta deste: “Sou eu porventura o guarda do meu irmão?”. Vale a pena que eu como missionário e os meus leitores nos interroguemos: Onde estão os meus irmãos? E, pelo que de mim depende, onde é que estarão amanhã?

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a missão hoje

Fernando Máquina esperou três décadas para cumprir o sonho de casar pela Igreja

CRISTÃO ISOLADO CONCRETIZA SONHO DE UMA VIDA A província de Tete, na região central de Moçambique, assistiu este verão a um casamento muito especial. Uma união que resulta de um grande testemunho de amor e de uma enorme devoção cristã texto SANDRO FAEDI foto DR Fernando Máquina, 68 anos, esperou pelo dia do casamento religioso durante décadas. Tinha acolhido Beatriz Meque como esposa, em 1972, mas ela não era cristã, e ele nunca a obrigou a professar a religião católica. Porém, no seu coração, sempre permaneceu 10

um sonho: “Um dia celebraremos o sacramento do matrimónio, como Deus manda, como ensina a Igreja, como vi fazer na missão!» A guerra pela independência, seguida pela guerra civil e o afastamento dos missionários das missões, criaram grande confusão, naquela época. Deixou de haver tempo para os sonhos. Logo que a paz voltou a brilhar sobre a província de Tete, na região central de Moçambique, Fernando procurou um talhão para cultivar. Encontrou um terreno com pedras e mais pedras, água salgada, apenas um furo ao fundo do vale, mas ali estabeleceu a sua casa. Começou a criar cabritos e perguntava, com frequência, se havia por perto alguma capela católica para rezar aos domingos. Nas poucas casas espalhadas pela montanha, ninguém sabia de capelas, de Igreja ou de orações. Decidiu então ir à cidade, à procura de alguém que “soubesse de Deus”. E encontrou a comunidade São Carlos Lwanga de Kanongola, onde passou a deslocar-se a pé, todos os domingos, para participar na Eucaristia. Incomodado por ninguém falar de Jesus na sua aldeia, tentou convencer alguém na comunidade cristã a


palavra de colaborador

A celebração e os cânticos bem preparados fizeram com que até os pagãos sentissem a presença de Jesus na humildade da capela de paus. Seguiu-se a boda, com muito arroz, batata, farinha e cabrito. Nos olhos de Beatriz e Fernando lia-se a satisfação por este dia ter chegado, por o sonho se ter concretizado

disponibilizar-se para ensinar a doutrina aos seus vizinhos. Sem sucesso. A distância era grande – mais de hora e meia de caminhada – e os recursos humanos eram poucos. Seria ele capaz de assumir essa responsabilidade? Mesmo sem grande formação, decidiu aceitar. Começou a reunir os interessados, perto da sua casa, debaixo de uma árvore, e a falar de Jesus Cristo e do Evangelho. Beatriz, 58 anos, foi uma das que se sentou a ouvir. Mais tarde, surpreendeu-o com um pedido: queria ser cristã. Fernando ficou preenchido de felicidade. Agora já podia aproximar-se do padre e pedir o grande serviço: o batismo para a Beatriz e o casamento para os dois. E assim foi. No passado dia 20 de julho, saíram os dois de casa, em direção ao altar. Ela com vestido branco e ele com casaco, gravata, e sapatos de ponta. Em silêncio, viveram toda a liturgia profundamente comovidos. A celebração e os cânticos bem preparados fizeram com que até os pagãos sentissem a presença de Jesus na humildade da capela de paus. Seguiu-se a boda, com muito arroz, batata, farinha e cabrito. Nos olhos de Beatriz e Fernando lia-se a satisfação por este dia ter chegado, por o sonho se ter concretizado.

GOSTARIAM DE FAZER MAIS texto DARCI VILARINHO Folgosa da Maia é uma terra missionária. Abundam os assinantes desta nossa revista e são vários os colaboradores. Almerinda Leal e o seu marido Ismael são os mais antigos. Há 45 anos que estão ligados aos missionários da Consolata, desde o tempo em que o seu filho, já falecido, mas que então estava no seminário de Águas Santas, difundia calendários da Consolata e fazia assinantes para a FÁTIMA MISSIONÁRIA. Almerinda herdou do filho este precioso serviço. “Cheguei a distribuir mais de 300 calendários”, diz ela com um certo brio. Os assinantes eram muitos e por isso teve que encontrar outros colaboradores. Foi assim que surgiu Lília Flor e Ana Dores de quem mais tarde iremos falar. Ismael, seu marido, organiza também os autocarros para a peregrinação do beato José Allamano a Fátima no mês de fevereiro. Mas não está sozinho neste trabalho. Tem a ajuda valiosa de Fátima Antunes, mais jovem, que se presta sempre para apoiar esta causa missionária, apesar de estar muito envolvida nos grupos e atividades paroquiais, para além do seu trabalho profissional e familiar.

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a missão hoje

CONCLUÍDA MALOCA FINANCIADA PELOS PORTUGUESES Espaço vai servir como centro pastoral para encontros e catequese, residência de missionários e como templo para as celebrações religiosas texto VIVIANA NUNES/RUI SOUSA foto DR Um ano e meio depois de se ter lançado o projeto “Uma Maloca para todos”, é com muito orgulho e

alegria que partilhamos os frutos dessa semente. Lembramos que o programa tinha como propósito a criação de um espaço comunitário multifuncional, em Soplin Vargas, no Peru.

aproveitando-se o terreno oferecido à Igreja Católica para construir uma casa para os missionários, com capacidade para acolher os religiosos em trânsito e, claro, uma igreja mais digna.

Sabendo que os recursos económicos nunca seriam suficientes, o edifício foi pensado para responder a três necessidades fundamentais: residência de missionários, centro pastoral para encontros e catequese e um espaço onde celebrar a Eucaristia. Graças à generosidade de tantos portugueses, esta missão criou raízes entre o povo de Soplin e a obra nasceu. É sem dúvida um espaço muito humilde mas que na sua simplicidade conseguirá fazer algo grande – ser presença de Deus no meio do povo. A ideia é que, mais tarde, o espaço sirva apenas como centro pastoral,

Mas, como acontece nas missões, as grandes obras não nascem sem trabalho e dedicação. Ao longo de mais de duas décadas, foram muitos os missionários e missionárias da Consolata que dedicaram as suas vidas ao acompanhamento das comunidades indígenas da região. As visitas pelo rio, durante dias, a celebração da Eucaristia nos lugares mais perdidos da selva, a presença no seio das famílias e da comunidade e a união à luta pelos direitos fundamentais deste povo, foram a semente dos frutos que agora se celebram. A grande festa de inauguração da primeira ‘casa’ dos missionários no Peru aconteceu em finais de setembro. Estiveram presentes pessoas de diferentes partes do Peru e da Colômbia, entre eles o administrador do Vicariato Apostólico São José de Amazonas, Miguel Laspra. Porque Deus tem os seus planos, não foi possível assistirmos à cerimónia. A vida dos missionários é assim, tem o chegar e o partir. Regressámos ao nosso país com a certeza que a nova equipa, juntamente com o povo de Soplin, irá realizar grandes obras e edificar a comunidade católica. Agradecemos a todos os que nos ajudaram a realizar este sonho. Numa parede do novo edifício, aliás, foi afixado um cartaz onde se destaca a contribuição dos missionários da Consolata e dos benfeitores de Portugal. Esta é a solidariedade que nos deve caraterizar sempre, irmãos que se ajudam entre si, independentemente da distância que os separa.

O novo centro pastoral vai assegurar a presença de Deus no meio do povo de Soplin Vargas

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destaque

MALALA: UM SÍMBOLO NA LUTA PELA EDUCAÇÃO A adolescente paquistanesa ficou conhecida mundialmente após ter sido baleada pelos talibãs

Aos 11 anos, dava entrevistas na televisão paquistanesa sobre a importância da educação para as meninas. Aos 16, foi baleada pelos talibãs. Recuperou e apresentou-se ao mundo ainda mais determinada. Sabe que tem a cabeça a prémio, mas nem isso a faz desistir de lutar texto FRANCISCO PEDRO foto LUSA A declaração, desconcertante, foi proferida perante as câmaras de televisão de um dos programas mais vistos nos Estados Unidos da América. Sem vergonhas ou constrangimentos, apesar dos seus 16 anos, Malala Yousafzai, a adolescente paquistanesa que se tornou num símbolo da luta pelo direito à educação das meninas do seu país, explicou que, se voltasse a cruzar-se com um talibã, olharia para ele nos olhos e afirmaria que a educação é um direito de todos. Depois, diria para ele fazer o que quisesse. Matá-la ou deixá-la viver. A determinação da jovem tem conquistado o mundo. Esteve na lista de favoritos ao Prémio Nobel da Paz este ano, não foi a escolhida (ela própria dizia que era muito nova para receber semelhante distinção), mas a Europa decidiu contemplá-la o mês passado com o Prémio Sakharov, um galardão

que reconhece o empenho na luta pelos Direitos Humanos atribuído pelo Parlamento Europeu. E o governo canadiano já lhe concedeu a cidadania honorária, título atribuído até agora apenas a seis personalidades, como Nelson Mandela, Dalai Lama, ou Aung San Suu Kyi. “O exemplo de Malala relembra-nos do dever e da responsabilidade

Numa das mais marcantes [intervenções], na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, deixou um apelo: “Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo” de garantir o direito à educação das crianças. Este é o melhor investimento no futuro”, afirmou o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz,

recordando que “cerca de 250 milhões de raparigas no mundo não podem ir livremente à escola”. A história da jovem paquistanesa saltou para as primeiras páginas da imprensa internacional o ano passado, após ter sido baleada na cabeça pelos talibãs, quando se encontrava num autocarro escolar no vale de Swat, no Paquistão, por ter ousado falar em nome da defesa do direito das mulheres à educação. Quando recuperou a consciência no hospital, primeiro, agradeceu a Deus, depois, decidiu que tinha uma missão. Refugiada em Londres, Inglaterra, tem-se desdobrado em intervenções públicas. Numa das mais marcantes, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, deixou um apelo: “Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. A educação é a única solução”, afirmou Malala, envergando um xaile que pertenceu a Benazir Bhutto, a primeira-ministra paquistanesa assassinada em 2007.

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atualidade

“DEVEMOS IR ONDE NINGUÉM VAI” De visita a Portugal, o Superior Geral do Instituto Missionário da Consolata (IMC), Stefano Camerlengo, explicou as mudanças na estratégia pastoral da instituição e traçou o perfil do missionário ideal: alguém que sabe escutar e está disponível para acompanhar os mais necessitados texto FRANCISCO PEDRO fotos ANA PAULA

Stefano Camerlengo quer missionários que saibam transmitir a espiritualidade com testemunho

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FÁTIMA MISSIONÁRIA Tem apelado a uma nova forma de trabalho missionário: o ‘inter gentes’, como complemento do ‘ad gentes’. Esse é o caminho do futuro? Stefano Camerlengo Até hoje definimo-nos sempre como missionários ‘ad gentes’, mas ultimamente houve uma mudança. Porquê? Porque o ‘ad gentes’ implica que alguém tem uma verdade e a leva aos outros. E o ‘inter gentes’ pressupõe que neste novo mundo, nesta nova sociedade se dê o encontro de verdades diversas, ou melhor dizendo, de culturas diversas, na procura conjunta da verdade. Isto parece-me fundamental. E nós não estamos habituados, porque nos sentimos mestres, quando seria preciso que nos tornássemos discípulos, alunos de uma verdade que é maior do que nós e que só podemos encontrar na procura feita em conjunto, tendo sempre presente, como cristãos, que o Evangelho de Jesus Cristo é o nosso ponto de referência. A Europa está a passar por uma situação complicada e as famílias enfrentam cada vez mais dificuldades. Os missionários estão preparados para acompanhar esta realidade? Certamente que essa é a grande dificuldade. Objetivamente,

estamos a aprender a ser novamente missionários aqui, porque antes, o missionário europeu era o que partia para fora. Ser missionário na Europa é difícil, porque mudou a sociedade, mudou o mundo. E nós estamos a preparar-nos para isso. De que forma? Antes de mais com os jovens missionários. Estamos a ensiná-los a viver no velho continente, a aprender as dinâmicas europeias, procurando envolvê-los no apoio concreto aos pobres, aos marginalizados. Enquanto isso, o Instituto Missionário da Consolata (IMC) procura desenvolver uma nova linha estratégica, que passa pela questão da continentalidade. Em que fase está o projeto? A continentalidade neste momento é sobretudo um espírito que se quer transmitir à missão. Significa contextualizar o próprio empenho missionário no continente em que cada um se encontra. Antes, dava-se muita importância à universalidade. Hoje, vemos que para ser universal é preciso ter as raízes em algum lugar. Por isso, a continentalidade significa trabalhar num país concreto, com o espírito do continente, olhando para aquilo que se vive nesse continente. Certamente que isso vai

Perfil Stefano Camerlengo nasceu a 11 de junho de 1956, em Morrovalle, província de Macerata, Itália. Estudou filosofia em Turim e teologia na Universidade Gregoriana de Roma. Foi ordenado sacerdote em 1984. Trabalhou vários anos na República Democrática do Congo, onde foi vice-superior e superior provincial. Em 2005 foi escolhido para vice-superior geral do IMC, cargo que desempenhou até ser eleito Superior Geral, em 2011.

levar-nos a uma mudança radical da organização do Instituto. Como espera concretizar essas mudanças num Instituto envelhecido, onde a maioria dos jovens missionários é oriunda de países africanos, portanto, com uma cultura e mentalidade diferentes? Esse é o grande desafio que nos espera para o futuro. Mas antes, é preciso que alguém tenha as ideias claras, que se saiba para onde estamos a caminhar. Senão, estamos perdidos. Depois será preciso criar a mentalidade do acolhimento daquilo que é

Trabalhar com os leigos, valer-se dos leigos, viver com os leigos é a estrada do futuro. Ninguém duvida disso. O que é preciso, antes de mais, é criar uma nova mentalidade novidade. Há que ter a paciência de dialogar com todos, para depois chegar a uma decisão. E decidir, mesmo que nem todos estejam de acordo. Porque se ficamos só na ideia e não fazemos nada de concreto, não vamos lá. Depois de mais uma visita a Portugal, que imagem leva da Província portuguesa do IMC? A Província de Portugal, antes de mais, parece-me muito viva, apesar de ser daquelas que têm os membros mais idosos do Instituto. Há vontade de trabalhar. E estão a valorizar muito as pessoas idosas. Isso é uma riqueza porque têm uma bagagem enorme de conhecimentos, de sabedoria, de experiências. Por outro lado, é uma Província desta Europa difícil. Fazem-se muitas atividades, mas que tocam só um pequeno grupo da Novembro 2013

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atualidade

população. Teremos de encontrar estratégias para tocar mais pessoas. O esforço é muito para obter um pequeno resultado. A Província portuguesa tem apostado muito no trabalho dos leigos. Que importância podem ter no futuro do Instituto e no da Igreja em geral? Trabalhar com os leigos, valer-se dos leigos, viver com os leigos é a estrada do futuro. Ninguém duvida disso. O que é preciso, antes de mais, é criar uma nova mentalidade. Nós, religiosos,

missões na África e na América Latina. Agora já não é possível, pela crise económica. O terceiro grande desafio interno é a organização do Instituto. Uma organização renovada para um mundo novo. Externamente vejo, antes de mais, que quanto à Europa é necessário saber em que consiste anunciar Jesus Cristo. É um grande desafio. Não basta falar. Hoje é preciso fazer mais. Depois temos o grande desafio asiático. Estamos no princípio da nossa missão na Ásia e precisamos dela para continuarmos

Temos uma geografia vocacional que mudou. Da Europa deslocou-se para a África. Deveríamos ter um pouco mais de latino-americanos para equilibrar a nossa realidade geográfica vocacional temos a mentalidade de que tudo deve passar por nós, que nós é que somos bons. É preciso mudar esta mentalidade e não é fácil. A segunda coisa é procurar trabalhar com os leigos e deixar-lhes a sua quota-parte de responsabilidade, sobretudo no seu profissionalismo. Creio que o futuro pede um trabalho conjunto. Não há outra solução. Mas é preciso criar nos missionários essa mentalidade de trabalhar com os leigos e aproveitar ao máximo as suas capacidades profissionais. Quais são, neste momento, as principais frentes de ‘batalha’ do Instituto a nível interno e externo? A nível interno, o primeiro ponto é o tema vocacional. Temos uma geografia vocacional que mudou. Da Europa deslocou-se para a África. Deveríamos ter um pouco mais de latino-americanos para equilibrar a nossa realidade geográfica vocacional. O segundo grande desafio é financeiro. A Europa manteve sempre as 16

a ser missionários. E temos também a África, com as situações de guerra ou de conflitos, como na Costa do Marfim, Congo e Etiópia, ou no

Em Portugal desde 1943 O Instituto Missionário da Consolata (IMC) foi fundado em 29 de janeiro de 1901, em Turim, Itália, pelo beato José Allamano. Neste momento, tem perto de 1.000 missionários, distribuídos por 26 países. A Portugal chegou em 1943. Desde então, tem dado prioridade ao trabalho pastoral, de animação missionária e vocacional e à formação de seminaristas.

Quénia com o problema tribal que é muito forte. Na América Latina, o Equador e a Colômbia são lugares verdadeiramente difíceis, e há a Amazónia [Brasil] onde o trabalho com os indígenas tem suscitado polémicas por causa do problema político. O Instituto tem sido chamado a auxiliar as dioceses onde há falta de sacerdotes. Isso colide com a verdadeira vocação de um missionário? Em Portugal, Espanha e Itália pedem-nos efetivamente para substituir (na pastoral local) a falta de vocações diocesanas. Mas isso não deveria ser o nosso trabalho. Nós devemos ir onde ninguém vai. Não somos chamados para trabalhar nas paróquias, mas nas margens da sociedade, onde ninguém vai. Uso muitas vezes este exemplo: numa procissão, o padre diocesano deve estar na condução da procissão, mas o missionário deve estar com as pessoas nas margens, ao lado. Esteve no Congo e passou por muitas privações. Que memórias guarda desse tempo? Fui para a República Democrática do Congo como diácono e lá fui ordenado sacerdote, no meio da floresta. Tinha então 25 anos. Passei lá 18 anos, durante o período da guerra. Primeiro trabalhei na floresta junto dos pigmeus, depois quando fui ordenado sacerdote fui trabalhar para a capital. Aí passei o tempo da guerra, que já fez cinco milhões de mortos, uma guerra que ainda persiste. Foi um período muito duro para a população e para nós. Vimos muitos mortos. Mas foi sobretudo uma presença significativa: o missionário estava presente no meio das pessoas nos momentos mais difíceis e partilhava com elas as privações dos pobres.


Ramón Lázaro, missionário da Consolata de visita a uma comunidade, na Costa do Marfim

Agora, como Superior Geral, deve passar por alguns momentos de inquietação. Como os consegue ultrapassar? O que causa mais sofrimento é por vezes sentir-me só. Mas tenho duas coisas muito minhas. Primeiro, como carácter, procuro não me levar exageradamente a sério. Procuro rir, ter um certo bom humor perante aquilo que acontece. Isto ajuda a não dramatizar, a não ver problemas por toda a parte. Em segundo lugar procuro cultivar a relação, a amizade, também com pessoas fora do Instituto, fora do mundo habitual de trabalho. É um modo para viver uma vida normal. Sempre que posso, vou ter com os meus irmãos, com amigos de aldeia com quem cresci. Isso ajuda-me muito. Depois, naturalmente, é importante também a espiritualidade: a oração, o contacto

O missionário para os dias de hoje deve ser alguém que saiba escutar. Alguém que vai onde ninguém quer ir. Deve ser essa a nossa característica: estar nas situações onde mais ninguém quer estar, no meio de pessoas abandonadas e em dificuldade

com a Palavra de Deus. Gosto do Evangelho que me dá a sabedoria para saber viver. Qual é para si o modelo de missionário ideal? Fundamentalmente é o missionário que sabe escutar as pessoas. Vivemos num mundo onde todos falam e encontrar alguém que escuta é a coisa mais bela. Por isso o missionário para os dias de hoje deve ser alguém que saiba escutar. Alguém que vai onde ninguém quer ir. Deve ser essa a nossa característica: estar nas situações

onde mais ninguém quer estar, no meio de pessoas abandonadas e em dificuldade. Finalmente, que seja um homem de Deus, que saiba transmitir espiritualidade porque hoje as pessoas procuram quem saiba falar de Deus, com a palavra e sobretudo com o testemunho da vida.

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dossier

ALEMANHA Espírito empresarial e rigor orçamental

15 PISTAS PARA PERCEBER A LOCOMOTIVA DA EUROPA A vitória de Angela Merkel foi esmagadora, mas as eleições alemãs de 22 de setembro deixaram a chanceler sem o seu aliado liberal. Seguem-se negociações para nova coligação, com os democratas-cristãos a procurarem pontos de entendimento com os sociais-democratas e até os verdes. O resto dos europeus sabe que do terceiro governo de Merkel depende muito do seu futuro, sobretudo no caso dos países sob assistência financeira, como é o caso de Portugal

texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA 18

1. Porque chamam à Alemanha a locomotiva da União Europeia? Quarta potência económica mundial, a Alemanha é também o país da União Europeia com maior Produto Interno Bruto (PIB). No ano passado foi de 2,6 biliões de euros, cerca de 15 vezes o de Portugal. É o maior contribuinte para as finanças da União Europeia e gosta de ver o dinheiro bem aplicado. 2. É pela força da sua economia que os alemães têm uma palavra decisiva na União Europeia?


Sim, mas não só. Com 82 milhões de habitantes, a Alemanha é de longe o país mais populoso dos 28 Estados-membros e isso confere-lhe maior peso nas decisões essenciais. 3. A personalidade de Angela Merkel também reforça esse estatuto de liderança da Alemanha? Reeleita para um terceiro mandato como chanceler, Merkel confirmou a sua popularidade interna e destaca-se cada vez mais entre os líderes das grandes

nações europeias, todos os outros a serem mais inexperientes. 4. Existe alguma explicação óbvia para o dinamismo económico alemão, que permite taxas de desemprego de 6 por cento e crescimento mesmo numa Europa mergulhada numa profunda crise? O espírito empresarial germânico é célebre. Por exemplo, foram os alemães Carl Benz e Gottlieb Daimler que em 1885 inventaram o automóvel. E são inúmeras hoje as marcas alemãs de grande

prestígio mundial, como a Bayer na farmacêutica, a Bosch nos eletrodomésticos ou a Volkswagen nos automóveis. Aliás, esta última é a nona maior empresa mundial, numa lista elaborada pela revista americana ‘Fortune’ onde das 500 grandes 29 são alemãs. 5. O sistema educativo também contribui para esse sucesso económico? Claramente, pois desde cedo na escola é valorizado o saber-fazer além do conhecimento mais Novembro 2013

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teórico. Existem 370 universidades na Alemanha, 200 delas de ciências aplicadas. 6. Existem provas dessa dianteira científica em várias áreas? O número de prémios Nobel é um bom indicador. Os alemães já ganharam mais de cem. 7. A história alemã está também cheia de personalidades geniais, certo? Inúmeras. Cientistas como o arqueólogo Heinrich Schliemann, que identificou as ruínas de Troia. Artistas como Holbein, Cranach e Durer. Filósofos como Kant, Hegel e Nietzsche. Goethe na Literatura. Músicos como Bach, Wagner e Brahms, já sem contar com os austríacos. 8. Os austríacos porquê? Na verdade, a Alemanha só se unificou em 1871. Antes sempre houve uma diversidade enorme de principados e cidades-Estado de língua alemã, tudo sob a liderança de um imperador eleito que durante séculos pertenceu sempre à dinastia dos Habsburgos, senhores da Áustria. Como o processo de unificação no século XIX foi liderado pelos Hohenzollern, monarcas da Prússia, a Áustria ficou de fora por a corte de Viena ser uma rival da de Berlim. Só brevemente, sob o regime nazi (Hitler era austríaco), a Alemanha e a Áustria estiveram unificadas. 9. Quando surgiram os alemães na história europeia? A palavra alemães em português vem de ‘alemanos’, um dos muitos povos germânicos. A mais antiga dessas tribos bárbaras, os cimbri, combateu um exército romano no século II a.C. Designados como germânicos, os povos que viviam nos vales do Reno e do Elba partilhavam afinidades, mas nunca tiveram unidade política. O historiador romano Tácito elogiou-os pela monogamia, igualdade dos 20

Tirando a minoria muçulmana, de origem turca, e uma pequena comunidade judaica, os alemães estão repartidos quase ao meio entre católicos e luteranos

esposos, fortes laços familiares e respeito pelas mulheres. 10. E o que era o Sacro Império Romano Germânico? Foram os germânicos que fizeram cair Roma em 476. Mas admiravam tanto o império que o tentaram imitar. Depois de Carlos Magno, coroado em 800, houve entre 932 e 1806 uma sucessão de imperadores alemães que se consideravam herdeiros dos césares mas que reinavam sobre territórios muito divididos.

11. Unificada em 1871, a Alemanha perdeu território nas duas guerras mundiais e em 1945 até foi dividida em duas. Como se deu a reunificação em 1990? Ocupada, após a derrota de Adolfo Hitler, a Alemanha viu em 1949 nascerem duas entidades políticas. Nos territórios a Ocidente, sob controlo americano, britânico e francês, surgiu a RFA; a Leste, zona de influência soviética, nasceu a RDA. Berlim, encravada na RDA, estava dividida ao meio, com um muro a impedir a fuga para o


Ocidente, livre e próspero. A queda do Muro de Berlim, em 1989, levou à reunificação meses depois, com a RDA a ser integrada na RFA. 12. O partido que mais tempo tem governado a Alemanha é a CDU de Merkel, um partido democrata-cristão. Qual é a força do cristianismo? Tirando a minoria muçulmana, de origem turca, e uma pequena comunidade judaica, os alemães estão repartidos quase ao meio entre católicos e luteranos. Os primeiros dominam a sul e a oeste, os segundos a norte e leste. A linha de separação vem dos tempos de Martinho Lutero, o monge agostiniano que no século XVI se revoltou contra o Papa. Curiosamente, já houve oito papas alemães, o mais recente Bento XVI. A CDU congrega católicos e protestantes. 13. Porque são os alemães tão adeptos do rigor nas contas públicas na Europa? O rigor é parte da maneira de ser dos alemães, e até pode ser ligado a um certo espírito austero dos luteranos, como Merkel. Mas há também a memória da crise económica dos anos 1920 e 1930, com desemprego galopante e uma inflação que fazia das notas de marco papel sem valor. Orgulhosos da sua recuperação no pós-Segunda Guerra Mundial, tiram proveito de estarem na União Europeia mas exigem que os seus parceiros deem também provas de rigor orçamental. 14. Merkel é pela destruição do Estado Social? Não, mas quer adequá-lo às capacidades de sociedades cada vez mais envelhecidas e com escassa população ativa. E o caminho para se chegar a esse ajustamento está a ser demasiado rápido em países como Portugal, acentuando a crise económica e social. Mas como a chanceler é uma mulher pragmática,

pode vir a corrigir um pouco a sua visão. Até porque é a herdeira de Otto von Bismarck, o chanceler conservador que no final do século XIX criou na Alemanha os primeiros subsídios de doença e as primeiras reformas para os trabalhadores.

Primeira Guerra Mundial. Houve cruzados alemães a ajudarem Afonso Henriques na conquista de Lisboa em 1147. E o autor do hino português, Alfredo Keil, até era filho de alemães. *jornalista do DN

15. Portugal tem uma boa relação histórica com a Alemanha? Sim, apesar de ter sido inimigo na

De Hermann a Merkel

9 Hermann, também

conhecido como Arminius, derrota três legiões de Augusto na floresta de Teutoberg e impõe o Reno como limite ao Império Romano.

476 Queda de Roma, incapaz de resistir aos povos germânicos, os chamados bárbaros. 800 Carlos Magno é coroado imperador. Usa o latim na administração, mas a sua língua materna é o alemão. 843 Os netos de Carlos Magno dividem o império em três partes. A Francia Oriental, entregue a Luís o Germânico, corresponde em grande medida à atual Alemanha. 962 Otão I, coroado pelo Papa, torna-se o primeiro imperador do Sacro Império Romano Germânico. 1517 Reforma de Lutero.

1806 Sacro Império Romano

Germânico extinto após a derrota dos príncipes alemães frente a Napoleão.

1871 Unificação da Alemanha sob domínio dos Hohenzollern, reis da Prússia. Guilherme I torna-se o imperador. A Áustria dos Habsburgos fica de fora do novo país.

1918 Derrota da Alemanha na

Primeira Guerra Mundial e fim da monarquia.

1945 Derrota da Alemanha nazi. 1949 Criação da RFA (nos

territórios ocupados pelos aliados) e da RDA (no leste, sob ocupação soviética). Berlim, encravada na RDA, é também dividida ao meio.

1957 RFA é um dos países

fundadores da CEE, antepassada da União Europeia.

1989 Queda do Muro de Berlim. 1990 Reunificação da Alemanha, com a metade comunista a ser absorvida.

2005 Angela Merkel, criada na RDA, torna-se chanceler.

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gente nova em missão

DESAFIO Vamos combater o desperdício alimentar

SAUDÁVEIS NO CORPO E NA ALMA Olá amiguinhos missionários! Já se começa a sentir o friozinho do outono e neste mês o cheirinho das castanhas assadas… que delícia! E por falar em comida, sabiam que no dia 8 de novembro se celebra o Dia Europeu da Alimentação e da Cozinha Saudáveis? E por essa razão, vamos falar de como este tema é tão importante nas nossas vidas. texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO

O DIA EUROPEU DA ALIMENTAÇÃO E DA COZINHA SAUDÁVEIS A data foi lançada pela Comissão Europeia e pretende encorajar uma alimentação saudável nas crianças, a fim de travar o atual crescimento da obesidade infantil na Europa. O Dia Europeu da Alimentação e da Cozinha Saudáveis insere-se no âmbito de uma campanha mais vasta da Comissão para combater a obesidade, incentivando os cidadãos da UE a optarem por um regime alimentar equilibrado e a fazerem mais exercício físico. É na infância que se formam muitos dos nossos padrões de estilo de vida. Na União Europeia, metade da

OS EXCESSOS E O DESPERDÍCIO VERSUS A FOME Na Europa, uma quantidade cada vez maior de alimentos saudáveis e em condições comestíveis, de acordo com algumas estimativas, até 50 por cento, é perdida ao longo de todos os elos da cadeia agroalimentar tornando-se desperdícios. Dados das Nações Unidas indicam que 1,3 mil milhões de toneladas de comida são desperdiçadas por ano em todo o mundo, o que 22

representa cerca de um terço das refeições produzidas no planeta. Outros dados da ONU revelam que cerca de 300 milhões de toneladas de comida são deitadas para o lixo ainda em condições de serem consumidas. Segundo os dados alarmantes divulgados pela FAO (Food and Agriculture Organization), existem atualmente 925 milhões de pessoas no mundo em risco de

população adulta e um quarto das crianças em idade escolar têm excesso de peso. Os jovens com excesso de peso tendem a conservá-lo na idade adulta e têm mais probabilidades de vir a ser obesos.

subnutrição e estes dados afastam cada vez mais a realização dos Objetivos do Milénio que preveem reduzir para metade a pobreza e a fome até 2015. Por isso este dia também serve para lembrar que muitos desperdiçam o suficiente para que muitíssimos possam sobreviver.


VANTAGEM DE COMER COMIDA SAUDÁVEL E NÃO DESPERDIÇAR

SABIAS QUE O Banco Alimentar da República Checa recolhe e redistribui todos os anos cerca de 120 a 180 toneladas de comida impedindo que esta acabe no lixo. Acreditem que muito mais pode ser feito um pouco por todo o mundo. O “Feast for a thousand” e a “Save Food” fazem um programa intitulado “Think Big” (Pensa em Grande), que é apoiado pelo Banco Alimentar e por vários retalhistas alimentares de todo o mundo. Também em Portugal existe o movimento “Zero Desperdício” em que os estabelecimentos e os seus clientes podem participar sem gastar um cêntimo. Informem-se mais e façam na catequese uma exposição sobre este tema para que os vossos amigos saibam também e todos juntos possam fazer a diferença.

Neste contexto de crise económica, muitas famílias viram-se obrigadas a poupar no supermercado. Se calhar também as vossas o fazem. Pois bem, vocês sabem que as bolachas de chocolate, os hambúrgueres, os refrigerantes e as guloseimas só fazem mal? Dieta saudável, com mais água, mais legumes e menos comida de plástico, só vos traz vantagens. Para além disto, “ter mais olhos que barriga” faz com que muitos alimentos acabem no caixote do lixo; por isso, só devem pôr no prato aquilo que vão comer, e aproveitar os restos. Muitas receitas

deliciosas podem ser feitas com a comida que sobra do dia anterior. Perguntem às vossas avós. No tempo delas, nada comestível ia para o caixote do lixo. Ajudem os vossos pais nesta tarefa, todos saem a ganhar. Um bom missionário sabe racionalizar a comida, manter-se saudável e mais elegante!

O meu momento de oração Amigo Jesus Sinto-me muito mal quando faço birra por uma guloseima

E tantos meninos no mundo morrem por falta de alimento O meu sonho era que ninguém tivesse fome E todos nós soubéssemos não desperdiçar e valorizar o que temos Ajuda-me Jesus a ser melhor A partir de hoje vou mudar, vou pensar sempre nisto antes de comer E espero tornar-me mais missionário Contigo sempre no meu pequeno coração Abençoa-nos Pai Nosso

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tempo jovem

O INESPERADO Olhando um pouco para os últimos acontecimentos da minha história, fixei o coração naquelas situações da vida que chegam sem prévio aviso ou que pelo menos nunca tínhamos pensado que nos podiam acontecer texto LUÍS MAURÍCIO foto LUSA

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Pensar o inesperado inclui tanto as grandes e belas surpresas que podem mudar o rumo de toda uma vida como aquelas situações que geralmente costumamos chamar desgraças, pois são acontecimentos que não têm graça nenhuma. A alegria, a admiração, o júbilo ou o desagrado, o enfado, o pranto e

toda a sequência de sentimentos e emoções perante o inesperado têm um facto em comum: aquilo que não esperávamos acaba por revelar a nossa verdade a partir da nossa reação imediata. Por outras palavras: o inesperado faz-nos reagir tal como somos. Perante a mistura imediata de admiração e desconcerto, a nossa condição humana desafia-nos a fazer a integração entre aquilo que somos e aquilo que estávamos à espera. Atenção! Integrar não é adotar. Adotar é muitas vezes aceitar o inesperado sem se questionar e por vezes com

e novas. Para aquilo que conhecemos já temos atalhos traçados, anticorpos bem munidos, receitas ao nosso gosto e paladar, mas para o inesperado somos obrigados a abrir novos caminhos, passo a passo. Alguém disse uma vez que a vida é uma caixa de surpresas, e a história demonstrou que algumas surpresas podem mudar o curso da vida humana e do planeta de maneira incontornável. Estou convencido que a capacidade de assumir e integrar o inesperado dá-nos a chave para um autêntico caminho de crescimento e maturidade pessoal e comunitária.

Em cada novo dia somos chamados a percorrer o caminho que escolhemos, mas é evidente também que a vida surpreende-nos muitas vezes com propostas desconhecidas e novas. Para aquilo que conhecemos já temos atalhos traçados, anticorpos bem munidos, receitas ao nosso gosto e paladar, mas para o inesperado somos obrigados a abrir novos caminhos, passo a passo resignação. Integrar exige que se analise e avalie o inesperado a partir de diferentes perspetivas e com a maior objetividade possível. Como é que acolho uma surpresa? Como é que integro uma boa notícia, uma vitória não merecida? O que faço perante uma visita inesperada que vem romper os meus planos? Como é que me comporto perante o falhanço da pessoa de quem gosto tanto? Qual é a atitude perante a doença ou a morte repentina de um ente querido? Pessoalmente, creio que o inesperado desafia e constrói, ajuda-nos a crescer e a desenvolver novas possibilidades que jamais tínhamos imaginado. É obvio que em cada novo dia somos chamados a percorrer o caminho que escolhemos, mas é evidente também que a vida surpreende-nos muitas vezes com propostas desconhecidas

Para isso torna-se imprescindível treinar mais e melhor a arte da reflexão e assumir com liberdade, tranquilidade e sem medo a arte da improvisação. Eis algumas dicas para aceitar o inesperado negativo: Acolhe o inesperado sem desesperar Analisa o inesperado com objetividade Pergunta-te o que podes fazer para resolver uma situação Sê flexível à mudança Distancia-te do problema para ver melhor Lembra-te que já saíste de outras situações difíceis.

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sementes do reino

“HOJE DEVO FICAR EM TUA CASA” texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA Novembro começa com a solenidade de Todos os Santos, um convite a refletir sobre a santidade. Uma palavra que tem ficado esquecida e que assusta os cristãos. Os documentos do Concílio Vaticano II recordam que todos somos chamados à santidade. Muitos, porém, pensam que isso é só para “gente grande”. O Papa Bento XVI dedicou várias audiências a este tema e respondeu mesmo à pergunta: o que significa ser santo? Concluindo: Não é realizar coisas extraordinárias, mas viver intimamente unido a Cristo.

Leio a Palavra

Lc 19, 1-10 Jesus está de passagem por Jericó, uma próspera cidade, última etapa antes da subida final para Jerusalém. É aí que se dá o encontro entre Jesus e Zaqueu, chefe de publicanos, isto

Ser santo é sentir-se acolhido e amado por Deus e responder a este amor na vida concreta de cada dia é, um colaborador dos romanos opressores. Zaqueu desejava ver Jesus: um desejo sincero e forte, ao ponto de procurar uma árvore para ultrapassar a sua baixa estatura. Jesus passa e para precisamente onde Zaqueu se encontrava, convida-o a descer, quer entrar na sua casa. O espanto apodera-se dos que se julgam “santos”: vai hospedar-se em casa de um pecador! Zaqueu colhe a 26

ocasião e converte-se, mudando radicalmente de vida. Deste encontro nasce a salvação: “Hoje entrou a salvação nesta casa”.

seu próprio nome: qual seria a sua reação se soubesse que Jesus estava a passar na sua terra? Como receberia Jesus na sua casa?

Saboreio a Palavra

Vivo a Palavra

Para refletir sobre a santidade, nada melhor que partir deste encontro entre Jesus e Zaqueu. Um homem “pequeno” que se tornou grande. Zaqueu pensava que seria ignorado por Jesus, que para mesmo debaixo daquela árvore para a qual tinha subido, convida-o a descer depressa, pois quer ficar na sua casa. Zaqueu não tem tempo para pensar, desce rapidamente, não precisa de mais palavras nem escuta os que estão a murmurar contra ele, apenas deseja ficar com Jesus e, portanto, muda de vida: começa por doar metade dos seus bens e declara que, caso tenha enganado alguém, lhe dará quatro vezes mais. Jesus ofereceu-lhe a salvação e Zaqueu aproveitou a oportunidade.

Rezo a Palavra

Leia o texto proposto, mas agora troque o nome de Zaqueu pelo

A santidade nasce desta união profunda com Jesus. Os santos foram e são pessoas que descobrem este amor de Jesus e que desejam responder-lhe da melhor maneira que lhes é possível. Antes de mais fazem a experiência, como Zaqueu, de que o Senhor não olha para os seus limites, mas oferece-lhes o abraço da salvação. Assim, ser santo é sentir-se acolhido e amado por Deus e responder a este amor na vida concreta de cada dia.


intenção missionária

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO NOVEMBRO

01 Festa de Todos os Santos

Ap 7, 2-4.9-14; 1 Jo 3, 1-3; Mt 5, 1-12 É A NOSSA FESTA Da bondade espalhada pelo mundo e canonizada pelo Deus que vê no segredo dos corações. De tantos heróis desconhecidos: os pobres, os mansos e puros de coração. Dos que distribuíram a misericórdia, procuraram a justiça e construíram a paz. Dos que, perseguidos e injuriados por causa do Evangelho, espalharam pelo mundo sementes de amor e de paz. Senhor nosso Deus, admirável em todos os Santos, pedimos-te a graça de chegarmos também nós à plenitude do teu amor.

03 31º Domingo Comum

Sab 11, 22-12,2; 2 Tes 1, 11-22; Luc 19, 1-10 UM ENCONTRO ESTUPENDO É o dia do encontro de Jesus com Zaqueu. Jesus não pede, dá sem medida. Jesus não acusa, olha-nos com o seu olhar interior e muda a nossa vida, para que, como Zaqueu, distribuamos pelos outros aquilo que sempre lhes pertenceu. Deus não nos ama porque somos bons, mas amando-nos torna-nos bons. Que eu não me contente de ser feliz sozinho, mas, convertido, arraste também os outros.

10 32º Domingo Comum

2 Mac 7, 1-2.9-14; 2 Tes 2, 15-3, 5; Luc 20, 27-38 FAMÍLIA CORAJOSA Admiramos a coragem dos sete irmãos Macabeus, que afrontaram a morte para não mancharem a própria fé. Admiramos os milhares de mártires que ao longo da história professaram a fé no Deus dos vivos. Como tantos missionários que não recusaram oferecer as suas vidas

em sacrifício. Recordá-los neste mês é estímulo de fidelidade e garantia de santidade. Pai da vida e autor da ressurreição, faz com que a Palavra do teu Filho, semeada nos nossos corações, seja para nós penhor seguro de vida eterna.

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33º Domingo Comum Mal 3, 19-20; 2 Tes 3, 7-12; Luc 21, 5-19 EU VENCI O MUNDO “Eu vos darei palavras e sabedoria”. Se eu for dócil ao Espírito Santo, será Ele a guiar os meus caminhos. Lutas, perseguições, contrariedades, são dores de parto donde vai nascer a humanidade nova. O mundo vai-se purificando pelo fogo do Espírito, que conduz a nossa história. O nosso Deus é o Deus da esperança. “Não tenhais medo, eu venci o mundo”. Livra-nos de todo o mal, Senhor, e dá ao mundo a paz em nossos dias, para que sejamos livres de toda a perturbação.

24 Festa de Cristo Rei do Universo

2 Sam 5, 1-3; Col 1, 12-20; Luc 23, 35-43 EIS O NOSSO REI Cristo é Rei do Universo. O seu Reino afirma-se onde a paz e a justiça se abraçam e onde o amor faz lei. Somos um Reino de irmãos, consagrados no batismo para a missão de servir e dar a vida. Ele será nosso Rei, se o colocarmos na nossa vida e formos sacramento da sua ação no mundo. Faz-nos, Senhor, anunciadores do teu Reino: Reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz.

Para que as Igrejas da América Latina enviem missionários a outras Igrejas

América missionária partilha tua fé Nenhuma Igreja local ou continental pode dizer: primeiro devo bastar-me a mim própria, e só depois é que me devo preocupar com os outros. Se assim fosse, os apóstolos que Jesus enviou pelo mundo, ainda estariam em Jerusalém e nós não teríamos recebido a graça do Evangelho. É enorme a potencialidade missionária da América Latina. Nas assembleias gerais do episcopado latino-americano dos últimos anos, foi constante o olhar missionário para a realidade de outros continentes. Para o crescimento desta sensibilização missionária muito contribuíram os congressos missionários (Comla), promovidos desde 1977 pelas Obras Missionárias Pontifícias com a colaboração das Conferências Episcopais do continente. Com o lema “América missionária, partilha tua fé”, a cidade de Maracaibo, na Venezuela, vai acolher, de 26 de novembro a 1 de dezembro, o 4º Congresso Missionário Americano e 9º Congresso Missionário Latino Americano (CAM 4 – Comla 9). Esperam-se cerca de 4.000 participantes de todo continente. O Brasil participará com uma grande delegação de forças missionárias. A América Latina é de facto o continente da esperança missionária. DV

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o que se escreve CONCIDADÃOS DOS SANTOS E MEMBROS DA FAMÍLIA DE DEUS

QUANDO A IGREJA DESCEU À TERRA Testemunhos de memória e futuro nos 50 anos do Concílio Vaticano II

“Este livro resulta de um encontro muito fecundo entre os padres Ramón Cazallas e António Rego. Li-o com muito gosto e proveito espiritual e intelectual. Não há em ‘Quando a Igreja Desceu à Terra’ qualquer revivalismo, mas uma atitude partilhada orientada para o futuro. Há muito por fazer ainda. O que o Concílio Vaticano II nos propôs tem ainda de ser completado e aprofundado”, diz no prefácio Guilherme d’Oliveira Martins. O jornalista António Marujo conversa com os padres António Rego e Ramón Cazallas, “que viveram o Concílio Vaticano II cheios de entusiasmo e esperança na transformação da Igreja”. Um livro a não perder. Autor – António Marujo entrevista António Rego Ramón Cazallas 80 páginas | preço: 10,00€ Editores: Consolata / Lucerna

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SANTA HILDEGARDA DE BINGEN

Há cada vez mais na Igreja um interesse especial pela santidade dos seus membros em resposta ao “sede santos como Eu sou santo” da Sagrada Escritura e dos apelos à santidade feitos por Jesus e por São Paulo. Este livro, bastante volumoso, mas muito relevante, é um verdadeiro “estudo histórico-teológico sobre a santidade da Igreja”. Nada mais útil para este mês que começa com a Festa de Todos os Santos. Autor: Miguel de Salis Amaral 459 páginas | preço: 21,00 € Paulus Editora

É um livro simples e objetivo que apresenta a vida e os principais ensinamentos de Santa Hildegarda, declarada doutora da Igreja pelo Papa Bento XVI em outubro de 2012. É a quarta mulher a receber este título em toda a história da Igreja. O cardeal Ângelo Amato, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, assina este livro, apresentando esta monja beneditina (1098-1179) no período central da Idade Média, como autêntica mestra de teologia e profunda estudiosa das ciências naturais e da música. Autor: Ângelo Amato 80 páginas | preço: 6,90 € Paulus Editora

A MENSAGEM DE FÁTIMA

A VIDA DE ANA CATARINA EMMERICH

A misericórdia de Deus: o triunfo do amor nos dramas da história

O acontecimento-Fátima impõe-se hoje como um desafio e uma exigência para a reflexão teológica. Este precioso livro é, do ponto de vista teológico, a mais profunda e mais bela abordagem da mensagem de Fátima. Aqui “o amor de Deus manifesta-se como misericórdia para superar, a partir de dentro, os dramas da história humana. Os Pastorinhos são as testemunhas desses desígnios de misericórdia que lhes são anunciados”. Livro indispensável para quem quiser com seriedade abordar os acontecimentos que mudaram a história. Autor: Eloy Bueno de la Fuente 272 páginas | preço: 10,00€ Edição: Santuário de Fátima

É um livro curioso que apresenta a história singular de Ana Catarina Emmerich (1774-1824), uma freira Agostiniana, mística, visionária e arrebatada, que foi beatificada em 3 de outubro de 2004 pelo Papa João Paulo II. Teólogos acreditam que, durante a vida, Ana Emmerich recebeu mais visões divinas do que qualquer outro santo. Recebeu também os estigmas que ocultava de todos. Uma vida que surpreende e levanta interrogações. Autor: Ana Catarina Emmerich 350 páginas | preço: 16,50 € Paulus Editora


o que se diz A MORTE ENSINA A VIVER

Enfrentar saudavelmente o luto

O livro contempla a morte e o luto dos que sofrem a perda de um ente querido a partir de diversas perspetivas: a antropologia, a psicologia, a ética, a pastoral da saúde e a liturgia como disciplinas que têm algo a dizer sobre um assunto que a sociedade tenta iludir. A morte coloca-nos diante do mistério da vida, impõe-nos uma reflexão oportuna e ensina-nos a viver. Autor: José Carlos Bermejo (Ed.) 255 páginas | preço: 13,90 € Paulus Editora

YOUCAT AGENDA 2014

Aqui está uma agenda juvenil bem organizada e sintonizada com a série de publicações Youcat. É importante para acompanhar o Ano Litúrgico que tem um ritmo diferente do ano civil. Serve para entender melhor as festas da Igreja e estimular a participação nas suas celebrações. Autor: Norbert Fink (Org.) 159 páginas | preço: 5,90 € Editores: Paulus e DNPJ

Igreja “católica”, porquê? “A Igreja é, também, ‘católica’ porque não tem fronteiras

geográficas nem culturais, porque quer levar o anúncio da Boa Nova que lhe foi confiado por Cristo a ‘todo o mundo habitado’, porque ensina todas as verdades ‘que os homens devem conhecer’, sem medo nem negociação; porque fala das coisas da terra e das coisas do céu a cultos e incultos”. Isidro Lamelas | Missões Franciscanas | outubro de 2013

A hora dos leigos “Continuo a não ter muitas dúvidas de que o olhar mais cuidado

da Igreja para com os leigos se deve mais à crescente e dramática escassez de vocações (e envelhecimento do clero) do que ao reconhecimento inequívoco do sacerdócio comum (e vocação ‘admirável’, como diz o Concílio) que lhes advém pelo facto de serem batizados”. Jorge Cotovio | Correio de Coimbra | 10 de outubro de 2013

A experiência de Fátima “As aparições de Fátima, na experiência do encontro da Mãe do

Céu com a Humanidade, contêm tudo o que a terra precisa de ouvir do céu. A Senhora mais brilhante que o sol não assusta nem amedronta, antes gera paz, confiança e capacidade de renovação no amor”. Emanuel Silva | Voz da Fátima | 13 de outubro de 2013

Diz o esmoler do Papa “Enche-me de alegria saber que agora quando abraço um desses

nossos irmãos mais necessitados lhe transmito todo o calor, o amor e a solidariedade do Papa. E ele, o Papa Francisco, com frequência me pede o balanço. Quer saber. O Papa quer que eu tenha contacto direto com eles, que os encontre nas suas realidades existenciais, nos refeitórios, nas casas de acolhimento, nos lares ou nos hospitais”. Konrad Krajewski | Notícias de Beja | 10 de outubro de 2013

Reavivar o dom de Deus “Família, reaviva o dom de Deus que está em ti, reacende a chama, o fervor e o calor do teu amor conjugal e familiar; não deixes extinguir, não deixes apagar nem esmorecer essa chama que sustenta o teu amor em cada dia; deixa-te entusiasmar pelo dom de Deus”. António Marto | Presente | 10 de outubro de 2013

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gestos de partilha

COSTA DO MARFIM Anónimo (Fiães) 100,00€; Maria Filipe 3,00€; Augusta Marques 50,00€; Donzília Manata 10,00€; Elias Oliveira 50,00€; Anónimo 30,00€; Fátima Cardoso 10,00€; Maria Carmo e Bernardino Martins 200,00€; Natascha Fernandes 125,00€; Anónimo 10,00€. Total geral = 7.653,65€. BOLSA DE ESTUDO Anónimo (Fiães) 250,00€; Augusta Marques 250,00€; Manuel Inácio 250,00€. OFERTAS VÁRIAS Jorge Salvador 86,00€; Anónimo 110,00€; Carolina Castelo 33,00€; Manuela Fernandes 38,00€; Ernesto Monteiro 100,00€; Estela Barroso 50,00€; Áurea Simplício 39,00€; Fernando Anjos 29,00€; Joaquim Vitorino 26,00€; Raquel Fonseca 36,00€; Arnaldo Fonte 50,00€; Gilberto Laurêncio 100,00€; Maria Barata 33,00€; Alzira Borrêcho 40,00€; Luís Matias 30,00€; Celeste Portela 65,00€; Nuno Belo 43,00€; Otília Cardoso 36,00€; José Ferreira 103,00€; Abílio Rego (Paroisse Portugaise de Paris) 1.500,00€; Julieta Pereira 100,00€; Emília e Maria Anjos Ramos 70,00€; João Monteiro 60,00€; Marcelina Santos 86,00€; Helena Medeiros 43,00€; Céu Gomes 100,00€; Anunciação Magalhães 36,00€; Marcelina Carneiro 46,00€; Filomena Querido 46,00€; Agostinho Gameiro 40,00€; Ana Albergaria 36,00€; Alberto Monteiro 26,00€; Elisa Quaresma 36,00€, Joaquim Duarte 36,00€.

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida PADRE JOÃO RADAELLI

DIALOGAVA COM DEUS POR ESCRITO texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração H. MOURATO Se quiséssemos apresentar um resumo do que deve ser o missionário da Consolata, muito nos ajudaria olharmos para a vida deste homem duma muito vasta cultura que foi o padre Radaelli: “Trabalhar para a evangelização dos povos, para a glória de Deus e com a santidade pessoal (‘primeiro santos, depois missionários’, como repetia o nosso fundador), como membros da mesma família da Consolata; praticando os conselhos evangélicos na comunhão fraterna, tendo Maria como modelo e guia; sentindo sempre a missão maternal da Virgem Maria”; ‘numa fidelidade inflexível ao Instituto’… Foi isso a vida do padre Radaelli – de mistura com o seu próprio temperamento um tanto abrupto por vezes. João Radaelli nasceu em 1913, em Ronco Briantino, na Itália. Depois da ordenação sacerdotal obteve a láurea em missiologia, foi secretário do Superior Geral, professor de teologia na Universidade Católica de Washington e professor de teologia e missiologia no Pontifício Colégio Josephinum em Columbus, Ohio, Estados Unidos da América. Foi superior do primeiro grupo de seminaristas consolatinos em Washington, na América do Norte. Nos últimos tempos da vida, foi capelão de dois hospitais, onde sempre mostrou um grande carinho e amor para com os doentes.

inatacável. Recordo que durante a meditação diária, que fazíamos juntos na nossa capela, de manhã cedo, o padre Radaelli escrevia sempre num caderno o seu diálogo com Deus: isso ajudava-o a possuir uma mais profunda intimidade com o Senhor. Em resumo: um sacerdote, um religioso, um missionário, um amante da Virgem Consolata de louvar.

Sabia mostrar uma pitada de nervosismo quando nós seminaristas ‘esquecíamos’ as normas da vida diária. Mas na sua vida com Deus, era um paradigma

Por vezes, uma névoa de tristeza aflorava à sua face: era a ânsia de subir “mais alto” na escala do ser nova criatura em Cristo; era a dificuldade em dar 100 por cento

o amor ao divino que enchia o seu íntimo; era a tristeza de não ser capaz de partilhar totalmente a espiritualidade que vivia. Mas voltava sempre ao sorriso que testemunhava a sua grande confiança no Senhor e na Virgem. Um bom e fiel servo que agora vive em plenitude a alegria do seu Senhor e da sua Senhora, a Mãe Consolata.

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outros saberes

“Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um chama-se ontem e o outro chama-se manhã; portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver” Dalai Lama

esta vida para viver. E cada dia é um ensaio para aquela que há de vir.

“O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido” (Clarice Lispector)

Sendo assim, não fique a pensar demasiado no futuro, que a Deus pertence.

“Viva intensamente o presente para não ter que enfrentar os fantasmas do passado” (Tiny Willy)

“NÃO DEIXES PARA AMANHÔ texto NORBERTO LOURO foto ANA PAULA A vida é feita de pequenos momentos que é preciso saber aproveitar com sabedoria. Viramo-nos facilmente para o passado, como se ele pudesse voltar. Sonhamos com o futuro como se o pudéssemos adivinhar, e não somos capazes de viver o presente, que é a única coisa que temos certa. De facto, lá diz o ditado que “o passado é história, o futuro um mistério 32

e o presente uma dádiva”. É por isso que “lamentar aquilo que não temos é desperdiçar aquilo que já possuímos”. Razão tinha Charles Chaplin ao dizer que “a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, canta, chora, dança, ri e vive intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”. Efetivamente, só temos

“Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um chama-se ontem e o outro chama-se manhã; portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver” (Dalai Lama)

E é o mesmo Dalai Lama que sabiamente diz que “os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. Por pensarem ansiosamente no futuro esquecem o presente, e assim acabam por não viver nem no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido”. E é bem verdade.


notas missionárias

À PROCURA DE UM CAMINHO EM COMUM Todos nos damos conta que na vida muitas vezes há caminhos ora paralelos ora divergentes ora separados para nunca mais se encontrarem. Todos gostaríamos de avançar em paralelo uns com os outros, mas nem sempre é possível texto CARLOS DOMINGOS ilustração HUGO LAMI Também na missão constatamos com pena esta realidade, sobretudo quando nos deparamos com a multiplicidade de igrejas e confissões religiosas. Há uns anos atrás, em

Osizweni, na África do Sul, os responsáveis da Igreja Católica e Anglicana resolveram fazer uma experiência no sentido de congregar as duas igrejas num momento

significativo: fazer pelo menos parcialmente a procissão de Ramos, com que se abre a Semana Santa. Se bem o pensaram, melhor o fizeram e ainda fazem neste momento. Escolhem cada ano um lugar diferente do imenso bairro para aí iniciarem solenemente a procissão. Depois, com toda a pompa e dignidade, percorrem em comum uma boa parte do trajeto e a um certo momento dividem-se, indo cada um para o seu lado, em direção à sua própria igreja. Esta união temporária no caminho em comum ainda não é tudo, mas é já qualquer coisa, mesmo que cada um depois siga o próprio caminho. Também nós, durante algum tempo, caminhamos juntos nesta grande peregrinação que é a vida. Para sublinhar o que nos une e esquecer o que nos separa, ou então para reconhecer que há muitas maneiras de estar na vida e de afirmar publicamente ou praticar no culto aquilo que acreditamos na fé. Em Osizweni, a procissão impressiona a todos nas estradas por onde passa, por causa de uma tão grande multidão a agregar duas igrejas, quando o habitual é que cada um construa e pratique na sua capelinha. Todos têm a ganhar se partilharem as suas estruturas e apontarem um caminho a seguir em comum. Cada um conta as experiências vividas, as dificuldades, os tropeções, as bolhas nos pés. Mas, antes de se separarem, partilham também um sonho em comum, o de continuarem a viagem e chegar a bom porto. É este reconhecer que há outros em caminho que experimentam as mesmas dificuldades e têm os mesmos sonhos que nos permite alentar forças para o resto da viagem.

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“Salmos do Advento”

fátima informa

Encontro sobre “Salmos do Advento” integrado no ciclo “Rezar a fé com os salmos” é a proposta que o Centro Bíblico dos Capuchinhos, em Fátima, faz ao longo deste ano pastoral. A 23 de novembro, a ação bíblica é dedicada à preparação para o Natal. A atividade decorre das 10h00 às 17h.00 As inscrições podem ser efetuadas através do 249530210, 249530215 ou sndb@difusora biblica.com.

“Reacreditar na vida”

A 10ª Sessão de estudos de espiritualidade inaciana decorre de 29 de novembro a 1 de dezembro de 2013, subordinada ao tema “Entre medos e confiança: Reacreditar na vida”. São três dias em que a vertente do reacreditar, nos diferentes setores da vida, estará presente. Mais informações em www.seei2013.com/programa.html

Novembro em agenda

O tema pastoral do Santuário de Fátima para o próximo ano faz um apelo à oração

NOVO TEMA PASTORAL

“AMOR QUE PURIFICA E SALVA” texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA “Ó Jesus, é por vosso amor!” Esta é a frase que inspira as celebrações deste ano pastoral no Santuário de Fátima. O acontecimento de referência é a aparição de julho de Nossa Senhora aos três 34

pastorinhos, sendo o amor a atitude crente que norteia a pastoral do Santuário. O elemento catequético baseia-se no princípio “O amor que purifica e salva”. O tema escolhido para 2013/2014 – “Envolvidos no amor de Deus pelo mundo” – será apresentado a 30 de novembro, a partir das 15h30, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, pelo padre jesuíta José Frazão Correia. Na terceira aparição, Nossa Senhora mostra a visão do inferno aos pastorinhos e exorta à devoção ao seu Imaculado Coração, para a obtenção da paz na Rússia. Pede

4/6 Ação de formação “Missão PPR – Plano Positivo na Reforma”, Museu de Arte Sacra e Etnologia 6/8 Ação de formação “Missão Bodas”, para casais, Museu de Arte Sacra e Etnologia 13 Missa da dedicação da Basílica da Santíssima Trindade

aos videntes que “continuem a rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário para obter a paz do mundo e o fim da guerra”. A Virgem Maria apelou ainda que rezassem no final de cada mistério: “Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno, levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem”. Mas foi também nesta aparição que os videntes viram aquilo que seria a terceira parte do segredo de Fátima: “O atentado ao Papa”.


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

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MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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DANÇA COMIGO O céu é uma dança de alegria, uma festa esplêndida sem fim, é um baile de amor em frenesim, é perene e perfeita sinfonia. O céu é movimento de bailia, é riso e música, prazer, festim, é paraíso para ti e céu em mim, desde o primeiro ao derradeiro dia. Se para o céu tu queres ir, então tens de aprender a dança mais sagrada, que lá se dança em plena revoada. Vem para o céu dançar comigo irmão, e baila com os anjos e com os santos, e com teus instrumentos e teus cantos. Adelino Pereira Chamei por Vós, Senhor


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