Filipinas

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Ano LXII | Outubro 2016 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

FILIPINAS

Retrato de um país com 80 milhões de católicos destaque

atualidade

Acordo entre governo e guerrilha põe fim a 52 anos de conflito

Trocam festivais de verão por missões na Tanzânia e Moçambique

Colômbia prepara “saída Voluntários apoiam do inferno” crianças africanas

MÃOS À OBRA

Aulas depois da escola em território budista

Missionários lançam projeto para educar famílias pobres na Mongólia


MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Um abraço entre a fé e a vida

Como Maria São presença consoladora Em seu nome

Colocam as suas vidas e os seus recursos ao serviço dos mais frágeis

COLABORE COM OS MISSIONÁRIOS

Apoiando projetos de solidariedade contribuindo para a formação de futuros missionários oferecendo uma assinatura da FÁTIMA MISSIONÁRIA a um amigo visitando o Consolata Museu em Fátima e hospedando-se nas nossas instalaçõs em Fátima

CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA – Tel. 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA – Tel. 218 512 356 | lisboa@consolata.pt


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 09 Ano LXII OUTUBRO I 2016 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

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ESTATUTO EDITORIAL http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

“FILIPINAS: UM ‘CARRASCO’ À FRENTE DO PAÍS

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial Eugénio Butti Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 22.700 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, João Nascimento, Leonídio P. Ferreira, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa e Contracapa Lusa Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00 € Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

04 | EDITORIAL Como gota de água limpa

12 | A MISSÃO HOJE Missões ganham um novo ‘guerreiro’

05 | PONTO DE VISTA Urge recuperar a cultura missionária

13 | FÁTIMA INFORMA Consolata Museu 25 anos de cultura e missão

06 | HORIZONTES Tamanho de menino, coração de herói 07 | DESTAQUE Colômbia prepara “a saída do inferno” 08 | MUNDO MISSIONÁRIO • Guiné: “Sonho americano” vira pesadelo para guineenses • Turquia: Uma em cada 200 crianças de todo o mundo é refugiada • Paquistão: Nações Unidas pedem revogação da lei da blasfémia • Nepal: Governo segura medalha de bronze em matrimónio precoce • Colômbia: Libertadas as crianças recrutadas pelas FARC 10 | A MISSÃO HOJE Ano Missionário em Braga 11 | PERFIL SOLIDÁRIO O homem das causas sociais

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

14 | ATUALIDADE Quem parte nunca regressa igual 16 | DOSSIER • Filipinas: Um ‘Carrasco’ à frente do país • Bastião do catolicismo • De Magalhães a Duterte 22 | MÃOS À OBRA Ajudar a educar em território budista 23 | IMAGENS DE MISERICÓRDIA 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Uma vida despojada de bens 26 | TEMPO JOVEM Todos temos talento 28 | SEMENTES DO REINO “Aumenta em nós a fé” 30 | VIDA COM VIDA Sonhando com a seara no trabalho da horta 31 | LEITORES ATENTOS 32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

Como gota de água limpa “Eu [MADRE TERESA] nunca pensei em poder mudar o mundo! Procurei unicamente ser uma gota de água limpa, na qual pudesse brilhar o amor de Deus”

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Fátima Missionária

“Não esquecerei nunca o dia em que, caminhando pelas ruas de Londres, vi um homem sentado, que parecia tremendamente só. Dirigi-me a ele, peguei na sua mão e apertei-a muito forte. Foi então que ele exclamou: «há tanto tempo que não sentia o calor de uma mão humana». O seu rosto iluminou-se e eu percebi que uma ação assim tão pequena pode dar tanta alegria”. É Madre Teresa de Calcutá a recordar esta experiência como marco sagrado da sua vida. Quantos destes seus gestos foram gotas de água limpa que encheram o oceano do nosso mundo. Gestos de misericórdia mais do que nunca necessários. Com a canonização de Madre Teresa, efetivada no próprio dia de aniversário da sua partida desta terra, a quatro de setembro, o Papa Francisco quis dar um sinal ao mundo: o que faz mudar esta nossa sociedade são os gestos concretos de misericórdia. “A misericórdia foi para ela o ‘sal’, que dava sabor a todas as suas obras”. Porquê então tanta resistência, por exemplo, do mundo europeu ou americano, a abrir fronteiras ao fluxo de migrantes que fogem das guerras, da fome e de toda a espécie de violência? A santa de Calcutá é um ícone do Jubileu quase a terminar. É um estímulo a um maior compromisso no exercício das obras de misericórdia sejam elas corporais ou espirituais. É significativo que na sua mensagem para o 90º Dia Mundial das Missões, a 23 deste mês de outubro, o Papa convide “a olhar a missão ad gentes

como uma grande, imensa obra de misericórdia quer espiritual quer material”, e peça aos cristãos que, como discípulos missionários, ponham “cada um a render os seus talentos, a sua criatividade, a sua sabedoria e experiência para levar a mensagem da ternura e compaixão de Deus à família humana inteira”. Empresa sobre-humana, mas necessária. Na sua mensagem explicita a presença feminina no mundo missionário: “Sinal eloquente do amor materno de Deus é uma considerável e crescente presença feminina no mundo missionário, ao lado da presença masculina”. As 5.160 Missionárias da Caridade, discípulas da Madre Teresa, são um sinal daquilo que já se faz e ainda mais se pode fazer. “Onde quer que haja uma mão estendida pedindo ajuda para levantar-se, ali deve estar a nossa presença e a presença da Igreja, que apoia e dá esperança”, disse Francisco na homilia da canonização, entregando esta figura emblemática de mulher e de consagrada a todo o mundo do voluntariado. “Nas periferias das cidades e nas periferias existenciais ela permanece nos nossos dias como um testemunho eloquente da proximidade de Deus junto dos mais pobres entre os pobres”. Dizia ela com toda a humildade: “Eu nunca pensei em poder mudar o mundo! Procurei unicamente ser uma gota de água limpa, na qual pudesse brilhar o amor de Deus”. Darci Vilarinho


PONTO DE VISTA

MANUEL LINDA . PRESIDENTE DA COMISSÃO EPISCOPAL PARA A MISSÃO E NOVA EVANGELIZAÇÃO .

URGE RECUPERAR A CULTURA MISSIONÁRIA SÓ RECUPERAREMOS A MISSIONAÇÃO CRIANDO UMA CULTURA MISSIONÁRIA. VAMOS A ELA? Conheci uma velhinha que apresentava a curiosidade de não se referir aos meses do ano pelo nome com que habitualmente os designamos, mas sim pela dimensão mais espiritual que neles se celebra: Mês das Almas, Mês do Natal, Mês de São José, Mês de Maria, Mês do Coração de Jesus, etc. Ao chegar a outubro, como que precisou da minha confirmação: “Antigamente era o Mês do Rosário. Mas acho que o rosário, agora, passou para o Mês de Maria, não é? Acho que agora é o Mês das Missões. E acho bem porque as missões são muito importantes. Não é?”. No “sentido da fé” desta velhinha, profundamente crente, as missões colocavam-se entre as identidades cristãs, tão fortes e tão evidentes, que constituíam, ou deviam constituir, algo comummente aceite. Por isso, podiam identificar o tempo com a mesma incontestável facilidade com que os nossos calendários o designam por outubro, novembro, etc. Esta senhora percebia bem que o “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” não é um opcional, mas um imperativo ligado à própria constituição da Igreja e sua razão de ser. Sabia que existe uma tarefa recebida, uma “missão”, que tem de ser realizada

ao longo de todas as épocas da história. E que a esta realização ou concretização chamamos “missões”. Mas sabia mais: que não só a missão, mas também as missões, dizem respeito a todos os batizados, são obrigatórios para cada filho da Igreja. E hoje, ainda será evidente esta implicação missionária da fé? Há franjas em que o é e de forma muito clara. Pense-se no enorme movimento do voluntariado missionário. Mas temo que, para a maioria dos cristãos, as missões já digam pouco e a missão não implique nada. Porquê? Porque as nossas dioceses e paróquias, cheias de preocupações e carências, varreram o tema para debaixo do tapete. E, com não menor responsabilidade, os missionários deixaram de o divulgar. Hoje não os vemos às portas das escolas, seminários e paróquias com as carrinhas cheias de agendas e almanaques e uma máquina de projetar filmes em que apareciam sempre os indefetíveis leões. Mas que faziam parte do nosso imaginário e identificavam “as missões”. Só recuperaremos a missionação criando uma cultura missionária. Vamos a ela?

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horizontes

TAMANHO DE MENINO, CORAÇÃO DE HERÓI Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

A mãe de João levou-o a ele e à avó Leonor, de 84 anos, para a casa da avó Sara: os fogos que salpicavam o país tinham também atingido a terra de João, mas a casa da avó Sara era segura. Os pais de João foram trabalhar descansados. O sol escaldava e o vento fazia remoinhos velozes e imprevisíveis. Protegido, João escutava as notícias desejando ser grande para ajudar tantas pessoas aflitas! A solidariedade era uma prática de família e João estava sempre pronto para contribuir para a felicidade de alguém. Diz quem o conhece que ele já nasceu com esse dom especial para distribuir e cuidar. Entre as notícias e os comentários das avós, o telefone tocou. Era a mãe: – João, sai de casa com as avós, rápido: dizem que o fogo vai nessa direção. O pai já vos vai buscar. João correu ao quintal e logo foi submerso no calor abrasador e no fumo negro a invadir tudo à volta, tendo por detrás uma cor avermelhada do fogo num bailado infernal. Com o medo a percorrer-lhe o corpo de menino, mas com uma coragem de gigante, João entrou em casa determinado, pronto para salvar as avós – e a gata: – Vamos embora, avó! O fogo está a chegar! Temos de sair já! Rápido! João colocou a gata na caixa, deu o braço à avó Leonor e fugiram em direção à estrada tão rápido quanto as pernas permitiam. Uma faúlha voou até aos cabelos brancos da avó Leonor, assustada, iniciando uma labareda que a avó Sara conseguiu apagar. – Não podemos esperar aqui pelo papá. Vamos continuar a andar. Podem? As avós responderam com passo acelerado, mesmo a avó Leonor, apoiada na sua bengala e no braço da avó Sara. O telemóvel tocou. – Onde estás, papá? Parado no trânsito? Não te preocupes, já estamos na estrada.

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Fátima Missionária

João andava à frente das avós, sempre olhando para trás para ver se tudo estava bem com elas e também na esperança de ver um lugar vago em algum dos carros que passavam. De repente, ao passarem em frente de uma garagem, saia um carro apenas com o condutor. João colocou-se à frente dele, e apontou para as avós. – Por favor, senhor, leve-as! Entraram todos. O carro arrancou. Estavam a salvo. Para trás, a destruição. Mais à frente, o senhor António parou para acolher mais uma pessoa que tal como eles corria para local seguro. O telefone não parava. João sentia-se seguro ao ouvir o pai e a mãe. O senhor António parou na ponte indicada pela mãe para se encontrarem. Despediram-se com um agradecimento que não tem tamanho. João apertou a mão do senhor António, selando uma aliança poderosa que a solidariedade fez nascer. A mãe, ao longe, era uma visão mágica. Tudo se resolveria. João agarrou-se ao pescoço da mãe, abandonando-se no seu abraço. Ali, ao pé dela, sentiu que era o lugar mais fresco do mundo. Já seguro, segredou-lhe: – Eu tive tanto medo, mãe, mas não podia mostrar porque tinha de salvar as avós! Chegaram a casa. João entrou no seu quarto e aí, seguro, chorou! – Estás com medo, João? – perguntaram-lhe dias depois. – Estou! Ainda estou com muito medo, mas descobri que é preciso ter medo para viver. Eu até descobri que funciono bem com medo... Já não preciso ter medo do medo! Também descobri outra coisa: podemos ajudar mesmo sendo pequenos: com a ajuda do senhor António e com os telefonemas dos meus pais, foi fácil salvar as minhas avós e a gata!


destaque FARC: a paz depois de 52 anos de guerrilha

Colômbia prepara “a saída do inferno” Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

Colombianos vão ser chamados a votar os acordos de paz assinados entre o governo e os guerrilheiros, num referendo agendado para outubro

Joaquin Villalobos, um político salvadorenho, comandante e ex-guerrilheiro do Exército Revolucionário do Povo, dizia que “a paz não permite atingir o paraíso; apenas permite sair do inferno”. A Colômbia prepara-se para perceber o sentido destas palavras, com o cessar-fogo acordado entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), a 29 de agosto, com a assinatura dos acordos de paz, em Cartagena, a 26 de setembro, e, finalmente, com o referendo nacional a realizar em 2 de outubro. Estes passos deverão pôr fim a 52 anos de conflito que opõe o governo às FARC e que deixou atrás 260 mil mortos, 45 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados. Durante 44 meses, as FARC e o Estado colombiano, presidido por Juan Manuel Santos, estabeleceram as bases do acordo de paz, que irá permitir o acantonamento de milhares de guerrilheiros – os números oscilam entre os oito e os 17 mil – e a integração política do movimento rebelde, que nas

próximas duas legislaturas terá, pelo menos, um número mínimo de 10 assentos no Congresso. Por seu lado, as FARC, de ideologia marxista-leninista, tiveram de fazer importantes cedências no que se refere às suas reivindicações em termos de reforma agrária, uma das razões que esteve na base da sua criação em 1964, ao mesmo tempo que se comprometeram a pôr fim à produção de cocaína e às suas ligações com o tráfico de droga, consideradas duas das suas importantes fontes de financiamento.

Fechar e sarar feridas

Apesar do acolhimento internacional, a paz continua a dividir e a motivar vivos receios nalguns setores da sociedade colombiana. O antigo Presidente, Alvaro Uribe, considera que os termos do acordo lançarão a Colômbia no “castro-comunismo”, ao mesmo tempo que defende uma “paz sem impunidade”, numa referência ao processo de integração social dos guerrilheiros das FARC. O Presidente da Colômbia, que criou

a convicção de que a paz no país só poderia ser alcançada por via das negociações quando foi ministro da defesa do governo liderado por Uribe, não deixa de notar, por seu lado, que nenhum movimento armado negociou voluntariamente a paz para acabar os seus dias na prisão. Apesar de ser considerado o princípio do fim do mais longo conflito civil do mundo, o governo colombiano precisa ainda de fechar um outro processo negocial, em curso desde março, com o Exército de Libertação Nacional, o segundo maior grupo guerrilheiro do país. No final, ficará ainda por resolver a resistência de grupos dissidentes protegidos pelo narcotráfico e por três cordilheiras que são uma mistura das montanhas do Afeganistão com as Florestas do Vietname e ligam o país a dois oceanos. Uma geografia que não deixará de tentar os guerrilheiros, caso a pressa de fechar as feridas abertas pela guerra não cuide de primeiro as sarar, como também recordava Joaquin Villalobos, a propósito do processo de paz em El Salvador.

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mundo missionário

por E. assunção

Guiné

“sonho americano” vira pesadelo para guineenses

O número de guineenses que tenta entrar nos Estados Unidos está a aumentar. A abertura do Brasil à África permite obter facilmente um visto de entrada e iniciar uma viagem perigosa através de 11 países para chegar à fronteira entre o México e os Estados Unidos, depois de percorrer 11 mil quilómetros. A travessia da floresta amazónica é extremamente perigosa, devido à presença de grupos armados, às redes de narcotraficantes sem escrúpulos para quem a vida humana pouco ou nada conta, a não ser para satisfazer os seus interesses. “Não tentem a aventura americana”, aconselha um representante de uma associação de ajuda aos refugiados africanos, Abdoulaye Diallo. “É um verdadeiro suicídio; os migrantes são abandonados à própria sorte. Em certos países mata-se por tudo e por nada, os traficantes são sádicos e violentadores. Todas as mulheres são violentadas. Que ninguém na Guiné dê dinheiro ao seu próprio filho para tentar esta aventura”. Segundo o embaixador guineense em Washington, Mamady Condé, há compatriotas seus presos nas cadeias do México e dos Estados Unidos da América por “tráfico de droga, roubo de cartões de crédito, rixas e até por posse ilegal de armas”.

Turquia

Uma em cada 200 crianças de todo o mundo é refugiada

Segundo dados da UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância – há 50 milhões de crianças no mundo deslocadas que foram forçadas a deixar a própria família. Mais de metade fugiu por medo da violência e da guerra. De acordo com o último relatório daquela organização, 70 por cento dos refugiados menores pediram asilo em território europeu para escapar à guerra, designadamente da Síria, Iraque, Afeganistão, e Iémen. A Turquia é o país que recebe mais crianças refugiadas. Em 2015 triplicou o número de menores que pediu asilo. Um migrante em cada três que sai de África não tem ainda 18 anos. Viajam sós, são desfrutados, sujeitos a abusos de toda a ordem e expostos ao tráfico de menores. 08

Fátima Missionária


MUNDO MISSIONÁRIO PAQUISTÃO

NAÇÕES UNIDAS PEDEM REVOGAÇÃO DA LEI DA BLASFÉMIA

A comissão da ONU para a eliminação da discriminação racial pede ao Paquistão que anule a lei da blasfémia. Ao mesmo tempo, lamenta “o número elevado de casos de blasfémia baseados em acusações falsas e sem qualquer averiguação”. Por outro lado, denuncia a pressão sobre os “juízes que julgam casos de blasfémia e sofrem intimidações, ameaças de morte e homicídios”. Para proteger as minorias étnicas e religiosas, a comissão recomenda ainda que seja reforçada a independência da Comissão dos Direitos Humanos do Paquistão.

NEPAL

GOVERNO SEGURA MEDALHA DE BRONZE EM MATRIMÓNIO PRECOCE

O fenómeno do matrimónio infantil provoca danos no crescimento e desenvolvimento das crianças nepalesas. Não obstante seja ilegal no país o matrimónio antes dos 20 anos, desde 1963, mais de 37 por cento das meninas contraem matrimónio com menos de 18 anos e 10 por cento antes dos 15; ao passo que 11 por cento dos rapazes fazem-no antes dos 18. A ocupar um pouco dignificante terceiro lugar entre os países da Ásia em matrimónios precoces, o Nepal adia o combate a um problema que garante a sobrevivência de muitas famílias. De facto as principais causas do fenómeno são a pobreza, a falta de acesso à escolaridade, o trabalho infantil e as pressões sociais.

COLÔMBIA

LIBERTADAS AS CRIANÇAS RECRUTADAS PELAS FARC

Depois de 52 anos de guerra civil, a Colômbia referenda os acordos de paz entre o governo e as FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. O documento, denominado “Acordo Final para o Fim do Conflito e a Construção de uma Paz Estável e Duradoira”, foi assinado perante um numeroso grupo de delegações diplomáticas, entre as quais o representante do Papa Francisco, o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin. Na ocasião, o missionário da Consolata Luis Augusto Castro, presidente dos bispos colombianos, confirmou o dever dos colombianos a exercer o “direito inalienável” de “fazer uma escolha livre a pensar no bem de todos”. O arcebispo de Tunga falava, a 10 de setembro, por ocasião da libertação das crianças prisioneiras das FARC: “Acolhemos com alegria o regresso das crianças. Mas damo-nos conta que não poderá tratar-se de uma mera reintegração. Devemos encarar a problemática de fundo”. E acrescenta: “O menor que reentra tem direito a um resgate, focado numa educação especial que se destaque no respeito pela vida dos outros”.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

UM SEMINÁRIO COM 400 ANOS Ao terminar agora o meu serviço como secretário-geral recebi a proposta de ajudar no acompanhamento espiritual dos seminaristas – especialmente africanos e asiáticos – que no Colégio Urbano de Roma, criado pelo Papa Urbano VIII em 1627, se preparam para o sacerdócio. Ainda não tinham passado 100 anos desde quando o Concílio de Trento decretara a criação dos seminários e já a Igreja se interrogava sobre o modo de formar para o sacerdócio não só jovens europeus mas também jovens naturais dos campos de missão, e foi assim que à sombra do Vaticano nasceu este oásis de futuros evangelizadores que ainda hoje produz abundantes frutos. Ao entrar pela primeira vez no Colégio Urbano encontrei à porta um jovem que me saudou em português; era o Dionísio, natural de Timor Leste, um dos 160 alunos desta instituição. Não sei se hoje em dia seja tão necessário como outrora formar sacerdotes longe do seu país de origem, mas como caloiro que sou não vou adiantar opiniões ousadas. Sei que esta é para mim uma oportunidade de ser missionário à distância e sinto-me honrado pelo desafio. Conto também com as vossas orações.

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a missão hoje

Ano Missionário em Braga Texto | Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz de braga Foto | DR

No itinerário de um Plano Pastoral delineado para cinco anos, e centrado no intuito de redescobrir a identidade cristã, a arquidiocese de Braga dedicou o Ano Pastoral de 2015-2016 à dinâmica do anúncio da fé. Foi para nós um Ano Missionário. Partimos de Cristo e do anúncio do Reino de Deus para que os cristãos tomassem consciência que a fé deve ser anunciada por todos e em todos os ambientes. O objetivo pretendido resume-se nesta

frase: “A alegria de ser discípulo missionário”. A graça batismal não deveria ser dom enterrado mas oferta pelo testemunho e pela palavra. “O batismo não é um título que recebemos, mas um chamamento para o serviço ativo na vida da Igreja, dentro e fora de portas”. Esta responsabilidade foi incrementada pela adesão ao convite do Papa Francisco – em ordem a saborear

É fundamental uma dinamização missionária! É imperioso aterrar na realidade e chegar aos atos concretos

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Fátima Missionária


perfil solidário

a Misericórdia de Deus – para se testemunhar a dinâmica da misericórdia em todas as situações e circunstâncias. Importava tocar os males da sociedade e crescer na alegria de prolongar o serviço de Cristo. Era importante alargar horizontes e reconhecer a necessidade de chegar a outras latitudes, onde as necessidades materiais e espirituais são mais tangíveis. Assim, foi constituído o Centro Missionário da Arquidiocese de Braga (CMAB), que se assumiu como dinamizador desta consciência missionária. Já não seria tarefa para um ano ou alguns meses mas uma tarefa ou estado de inquietação permanente. Se muitas foram as atividades realizadas, o caminho continua aberto e vai-se aprendendo para que o futuro missionário permaneça na alma das comunidades. É fundamental uma dinamização missionária! É imperioso aterrar na realidade e chegar aos atos concretos. Foi por isso que a arquidiocese assinou um protocolo de cooperação missionária com a diocese de Pemba, em Moçambique. Várias hipóteses de intercâmbio eclesial, através de pessoas e meios, foram enumeradas mas as exigências de uma verdadeira geminação continuam presentes e desafiarão o futuro. Neste momento foi assumida uma paróquia (Ocua) para onde já partiu um sacerdote e dois voluntários: um engenheiro e uma enfermeira. Para além de todos os trabalhos de uma missão, encontra-se em curso a reconstrução de uma escola e de um espaço para a catequese. Também a casa onde os missionários estão a residir já se encontra em recuperação. Trata-se de um pequeno sinal que poderá ser semente para muitas outras iniciativas. Resumindo, este Ano Missionário serviu para recuperar a urgência de uma vida em perspetiva missionária, nos cristãos e nas comunidades. O caminho é longo! Tudo começa por pequenos passos. Os resultados ninguém os pode enumerar. Pessoalmente acredito que a proposta de viver durante este ano “Assim como Eu fiz, fazei vós também” (Jo 13, 15) continuará a ser assumida como critério identificativo do cristão que, sendo discípulo, é necessariamente missionário.

O homem das causas sociais Texto | FP

Rui Marques, 53 anos, estudou medicina, ciências da comunicação e sociologia, mas tem sido na defesa das causas sociais que se tem destacado. No seu longo currículo de ativista tem intervenções em questões como a autodeterminação de Timor-Leste (com a mobilização do navio Lusitânia-Expresso que foi impedido de entrar em águas timorenses pelas tropas indonésias), a integração de pessoas sem-abrigo ou, mais recentemente, com a dinamização da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), que reúne mais de 300 organizações da sociedade civil. Em termos profissionais, foi Alto Comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural e coordenador nacional do Programa Escolhas e foi um dos fundadores dos projetos Fórum Estudante e Fórum Multimédia. Atualmente é também presidente do Instituto Padre António Vieira. “A causa principal que me move é a luta por um mundo melhor. É fundamental termos uma qualidade que é a coragem cívica de não nos deixarmos manipular, de sermos fiéis aos nossos valores, de sermos justos e não ter qualquer hesitação em sermos nós próprios”, afirma Rui Marques, que neste momento se dedica ao estudo dos problemas sociais complexos e de modelos de governação integrada.

Texto conjunto Missão Press

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a missão hoje

Missões ganham um novo ‘guerreiro’ Ainda envolvidos no espírito da festa que foi a ordenação do padre Geoffrey Omondi, os crentes apinharam-se no interior da enorme Igreja da Sagrada Família, em Koru, no Quénia, no passado dia 21 de agosto, para A Missa Nova do missionário da Consolata, que havia sido ordenado um dia antes pelo arcebispo Zaccheus Okoth, em conjunto com mais quatro novos sacerdotes e um diácono Texto e fotos | ANA SANTOS E ESTELA SANTOS

O que mais entusiasmou a assembleia foi a referência à impossibilidade óbvia de alguém não simpatizar com o missionário – “Se tu não te dás com o padre Geoffrey, o problema nunca será do padre Geoffrey, mas sim teu!”

Não houve espaço nem tempo para cansaço e fatiga das solicitações exigidas pela ordenação sacerdotal, pois, às 10h00, os cânticos faziam-se ouvir e o cortejo anunciava já um ambiente de festividade. Não aparentando sinais de nervosismo, o padre Geoffrey presidiu à Eucaristia. A sua primeira Eucaristia. E fê-lo de forma firme, serena e segura. Uma vez mais, todo um alinhamento de rituais e transmissão de testemunhos conduziu a celebração até ao seu desfecho final. A assistir, um mar de gente que queria estar presente para ver, acolher e homenagear este novo seguidor de Cristo. Foi ali que o neo-sacerdote aprendeu, recebeu o sacramento do batismo e encontrou a sua vocação. Foi com esta gente que cresceu, foram estes que o viram partir, e que agora o receberam com o maior fervor, naquela que nunca deixará de ser a sua primeira casa. Dois momentos a destacar: por um lado, a homilia marcada por grandes elogios ao novo sacerdote. O que mais entusiasmou a assembleia foi a referência à impossibilidade óbvia de alguém não simpatizar com o missionário – “Se tu não te dás com

Geoffrey Omondi, missionário da Consolata, foi ordenado sacerdote na sua terra natal, no quénia

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Fátima Missionária

o padre Geoffrey, o problema nunca será do padre Geoffrey, mas sim teu!” – fundamentando, assim, a importância da humildade, talvez a maior qualidade que reconhece no amigo e fundamental a qualquer ser humano. Por outro lado, o momento das ofertas, em que grupos, famílias ou entidades individuais se dirigiram ao altar, ao ritmo da música, de um extraordinário grupo coral, e de danças tradicionais, saudavam e presenteavam o novo ‘guerreiro’, agora ornamentado com fitas coloridas ao pescoço, um elmo e uma lança tribal. O trono, símbolo do poder do novo «rei», e a imagem de Nossa Senhora de Fátima, a mãe protetora, constaram da enorme lista de presentes. Como não podia deixar de ser, a festa, embora restrita à família e amigos mais chegados, estendeu-se pela noite dentro, brindando à vida futura deste novo presbítero. Ordenado na sua terra natal, testemunhámos a honra de estar em contacto com os seus, desfrutando e revivendo tradições, costumes, hábitos; saboreando a gastronomia e participando naturalmente nas festividades próprias do Quénia, em mais um momento marcante da vida do missionário, que vai exercer o ministério em Portugal.


FÁTIMA INFORMA

Consolata Museu 25 anos de cultura e missão Apesar de jovem, o Consolata Museu tem cativado milhares de visitantes e criado hábitos de cultura em crianças, que se mantêm até à idade adulta Texto | JULIANA BATISTA Foto | ANA PAULA

Vinte e cinco anos de cultura e missão junto dos que visitam Fátima e dos que vivem na região. O Consolata Museu | Arte Sacra e Etnologia está em festa. As comemorações deste espaço dos Missionários da Consolata têm ocorrido nos últimos meses, mas há mais dia 13 de outubro: entradas gratuitas e uma sessão solene.

visitar museus e tem acompanhado o trabalho dos Missionários da Consolata. Este é um exemplo que mostra que o museu tem cumprido a missão de criar, a partir da infância, hábitos de visita e de cultura”, exemplificou, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA.

Ao longo destes anos, a ‘vida’ do museu tem marcado a vida de muitos. As comemorações levaram já ao espaço museológico uma jovem que em criança participou na iniciativa ‘Tardes de poesia natalícia’. Gonçalo Cardoso, diretor do museu, recorda com felicidade as memórias da atual enfermeira. “Ela recorda-se perfeitamente desse momento. Foi marcante. E ainda hoje gosta de poesia, de

O trabalho também tem sido distinguido. O Consolata Museu é certificado pelo Herity International e credenciado pela Rede Portuguesa de Museus. Foi premiado pela Associação Portuguesa de Museologia como “Melhor Serviço de Extensão Cultural” e “Melhor Edição Turística” com o seu roteiro/catálogo. É reconhecido pela Câmara de Ourém pelo trabalho em prol da arte e da cultura do concelho.

Música francesa

O organista titular do Santuário de Fátima, João Santos, apresenta 100 anos de música francesa durante um concerto que terá lugar na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, dia 9 de outubro, entre as 15h30 e as 16h30.

Cardeal preside à peregrinação O cardeal italiano Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, vai presidir às celebrações da Peregrinação Internacional

Aniversária ao Santuário de Fátima, nos dias 12 e 13 de outubro.

Alunos mostram trabalho

Os estudantes de escolas católicas vão mostrar diversas expressões artísticas no palco do Centro Pastoral de Paulo VI, dia 21 de outubro, a partir das 14h00. Com o nome “Pela arte até Maria”, a iniciativa insere-se no programa da Peregrinação Nacional a Fátima das Escolas Católicas.

Agenda

OUTUBRO

DIA 8 Peregrinação do Corpo Nacional de Escutas (CNE) DIAS 28 a 30 Encontro dos Bispos Europeus das Igrejas Orientais Católicas

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Voluntariado Para viverem e terem um contaCto mais profundo com as comunidades que os acolheram, cada um dos voluntários tinha que sair da sua zona de conforto e aproximar-se do povo, sem criar distâncias em relação à cultura

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ATUALIDADE

Quem parte nunca regressa igual

Dois grupos de voluntários da Consolata viajaram este verão para África, para ali viverem umas férias diferentes: de trabalho e de comunhão com outros povos e culturas. Um foi para Moçambique e outro para a Tanzânia. Nenhum dos jovens tinha pisado solo africano, mas todos estavam prontos para o grande desafio que os esperava. Levavam na bagagem uma grande vontade de aprender e partilhar

Texto | BERNARD OBIERO Fotos | Cristina Sequeira e Thomas Mushi

Estes 15 voluntários portugueses dispensaram os festivais de música e outras atrações habituais nesta época do ano, fizeram renúncias e organizaram várias atividades para angariar fundos que lhes permitissem realizar o sonho de descobrir diferentes realidades, para depois as partilharem com outros. Todos partiram com o desejo de ir ao encontro do próximo, e fazer alguma coisa pelas crianças de Inhambane, em Moçambique, e Mkindu, na Tanzânia. Antes de partir, tiveram quase um ano de formação sobre a cultura africana, para poderem ultrapassar algumas dificuldades da missão. Com esta preparação, desenvolvida com muito trabalho em grupo, viajaram conscientes das diferenças culturais e estruturais que iriam encontrar à chegada e de como tentar resolvê-las. Há quem pense que África é uma realidade única e homogénea. Há ainda quem imagine que por lá se falam línguas estranhas e difíceis, ou quem conceba apenas que é a terra da música, do sol e calor, das florestas e dos animais, onde se realizam ‘safaris’ turísticos. Sim, pode ser tudo isso, mas há muito mais. Só para darmos um exemplo, na Tanzânia há mais de 120 tribos, e cada tribo tem uma cultura, costumes e tradições

próprias. Existem muitas diferenças culturais: a forma como se veste um ‘maasai’ é completamente diferente de como se veste um ‘sukuma’; o dialeto de um ‘mchaga’ é distinto do dialeto de um ‘mhehe’. E esta grande diversidade cultural e linguística não falta também em Moçambique, como em qualquer outro país africano. Existem muitas etnias e muitas culturas, uma multiplicidade que só se descobre passando mais tempo no continente africano.

‘Mzungu, mzungu mzunguuu’ (um branco, um branco, um branco). Em território moçambicano, o cenário não era diferente, com os menores a seguirem os voluntários para todo o lado, para poderem tocá-los, brincar e cantar com eles. Ou seja, as crianças acabariam por ser um dos principais focos da atenção, pela sua simplicidade, confiança, alegria e abertura para receberem o que lhes era oferecido, sempre de coração aberto.

Para viverem e terem um contacto mais profundo com as comunidades que os acolheram, cada um dos voluntários tinha que sair da sua zona de conforto e aproximar-se do povo, sem criar distâncias em relação à cultura. Visitaram as famílias, comeram e beberam, cantaram e dançaram músicas africanas. A partilha levava a que os africanos os olhassem como sendo parte da sua família, e assim a amizade acontecia e fortalecia-se, e com ela muitos mais convites iam surgindo, alguns deles com contornos culturais surpreendentes.

No final, o sentimento nos dois grupos de voluntários era comum: “Quem parte nunca regressa igual”. Os jovens confessaram que regressam a casa com um olhar novo sobre o mundo e sobre a vida. Relataram ainda que, para eles, foi bom conhecer uma realidade diferente da europeia, pois o contacto e a compreensão da diversidade os ajuda a alargar horizontes e a desenvolver a personalidade. “Fomos muito bem acolhidos pelas comunidades. Foi fantástico entrar na cultura africana e ser um deles… e cumprimentar toda a gente como se fosse nas nossas aldeias. Um mês na vida destas pessoas não muda nada! Mas na minha muda tudo”, resumiu Liliana Oliveira, uma dos voluntárias que fez experiência em Moçambique.

Ao passearem pelas ruas das aldeias, os jovens eram quase que ‘engolidos’ pelas crianças tanzanianas, que os brindavam com um cumprimento sonoro e animado:

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Fรกtima Missionรกria


DOSSIER

Um ‘Carrasco’ à frente do País Rodrigo Duterte lidera o mais populoso país católico da Ásia e uma nação tradicional aliada dos Estados Unidos da AMÉRICA, mas isso não o impediu de no ano passado insultar o Papa e agora de fazer o mesmo a Obama. Foi eleito presidente em maio graças à fama como mayor de Davao, cidade do sul das Filipinas onde promoveu uma caça aos criminosos Texto | Leonídio Paulo Ferreira* Fotos | LUSA

Desde que tomou posse em junho como Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte tem-se multiplicado em frases polémicas. A mais recente arrisca-se a ter consequências geopolíticas, pois ao referir-se a Barack Obama como “filho de uma prostituta”, o governante filipino viu de imediato ser cancelado pelo Presidente dos Estados Unidos um encontro bilateral à margem da Cimeira de Asean que decorreu no início de setembro em Vientiane, capital do Laos. E se Duterte foi visto mesmo assim depois a trocar umas palavras de circunstância com Obama antes do jantar de despedida, continua em aberto o futuro das relações entre as Filipinas e os Estados Unidos da América (EUA) numa altura em que a China se quer impor nos mares a sul da sua costa, mesmo que a comunidade internacional discorde das reivindicações de Pequim. Antes de Obama já o Papa Francisco tinha tido direito a ser insultado da

mesma forma, por causa do aumento de trânsito durante a visita que fez em 2015 àquele que é o mais populoso país católico da Ásia. Na época, Duterte era ainda o presidente da câmara de Davao, uma cidade de dois milhões de habitantes na ilha de Mindanao, no sul do país. Ora foi como autarca de Davao desde 1988 (com uma interrupção quando foi deputado em Manila e a filha Sara o substituiu) que Duterte construiu a fama de duro que lhe valeu este ano a eleição presidencial. Durante a campanha prometeu combater a corrupção e ser implacável com os criminosos, “matando 100 mil” se preciso, com destaque para os traficantes de droga. Toda a gente nas Filipinas sabia como Duterte, que se classifica de socialista, tornara Davao uma das cidades mais seguras do país: as milícias que de início tinham sido criadas para combater as guerrilhas comunista e separatista muçulmana viraram-se contra as

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mafias locais e através de execuções ilegais conseguiram ter um impacto na violência crónica. Conhecido graças a uma reportagem em 2002 da revista americana ‘Time’ como ‘The Punisher’’, o “Carrasco”, Duterte assume ser duro com o crime mas rejeita as acusações de execuções extra-judiciais, mesmo que diga também não ter pena de traficantes mortos. Em tempos disse mesmo na TV que mataria um filho que se deixasse prender pela droga. Oriundo de uma família com tradições políticas (o pai foi governador provincial), o líder filipino começou

Com previsões de que a economia filipina poderá crescer este ano entre seis por cento e oito por cento, Duterte tem condições para ultrapassar bem as polémicas internacionais e até as críticas dos bispos filipinos

Rodrigo Duterte ganhou fama entre a população pelo combate implacável à criminalidade e à corrupção, enquanto autarca

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Fátima Missionária

a sua ascensão aos 31 anos em 1986, data da queda da ditadura de Ferdinando Marcos. Depois de dois anos como vice-mayor, fez-se eleger para a presidência de Davao com base num programa onde se misturava socialismo e reformismo. Formado em Direito, tinha sido procurador e por isso a ênfase no combate ao crime foi vista com naturalidade. Satisfeitos com a redução drástica da corrupção e do banditismo, os eleitores de Davao foram-no reelegendo, ao mesmo tempo que perdoavam as tiradas polémicas, muitas vezes ofensivas, em certos casos até repugnantes, como quando elogiou a beleza de uma missionária australiana violada e morta por presos


Casado já por duas vezes, e com quatro filhos, Duterte também fala abertamente de amantes, isto apesar de se afirmar um católico respeitoso e de para se divorciar da primeira mulher ter pedido ao Vaticano o cancelamento do matrimónio. Por outro lado, defende os direitos dos homossexuais, mas já falou várias vezes de leis a limitar o consumo de álcool e até de criar um recolher obrigatório para os jovens.

revoltosos. Nem a Igreja Católica, muito influente no país, escapa aos ataques e se Duterte pediu desculpa a Francisco e recebeu perdão do Papa isso não o impediu de já este ano levantar suspeitas sobre o respeito de muitos bispos pelo voto de celibato. A verdade é que o estilo do autarca garantiu-lhe 39 por cento do voto nas presidenciais de maio, tendo sido o mais votado em Manila, a capital situada no norte, e também em todos os círculos eleitorais de Mindanao. O segundo mais votado não foi além dos 23 por cento. Segundo a Constituição filipina de 1987, cada Presidente só faz um mandato de seis anos e por isso Duterte assim que assumiu funções pôs mãos à obra. Estará em curso uma operação de combate à criminalidade, cujos excessos foram alvo da crítica de Obama, a qual irritou Duterte, a ponto deste ofender o Presidente americano. Também a ONU se atreveu a criticar o líder filipino e logo recebeu em troca ameaças de o país sair da organização e ajudar a fundar uma alternativa, com a China e os países africanos.

Para já, as Filipinas ganharam um presidente [RODRIGO Duterte] que meio mundo já conhece. Resta saber se ganharam um bom Presidente

Com previsões de que a economia filipina poderá crescer este ano entre seis por cento e oito por cento, Duterte tem condições para ultrapassar bem as polémicas internacionais e até as críticas dos bispos filipinos. Mas a sua tentação por cortejar a China, potencial aliado económico, em detrimento dos EUA, velho aliado mas muito contestado na retórica nacionalista de Duterte, pode revelar-se complicada, tão cheia de contradições está. Para já, as Filipinas ganharam um Presidente que meio mundo já conhece. Resta saber se ganharam um bom Presidente. *jornalista do DN

O PAÍS DAS SETE MIL ILHAS Esperança média Homens mulheres de vida

Área 300 000 quilómetros quadrados Capital Manila

línguas oficiais Tagalog e inglês

POPULAÇÃO 103 milhões de habitantes

73 anos

66 anos

Religião Católicos

80%

protestantes

10%

muçulmanos e outros

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Com mais de cem milhões de habitantes, 80 por cento dos quais católicos, as Filipinas representam o terceiro maior contingente demográfico obediente ao Papa

BASTIÃO DO CATOLICISMO Há muitas formas de comprovar a força do catolicismo nas Filipinas, meio milénio depois da chegada dos primeiros europeus. Quem preferir olhar para o fervor religioso destacará as sangrentas crucificações a cada Páscoa, nunca faltando os voluntários que pedem para ser pregados na cruz como Cristo. Quem preferir sublinhar a influência da Igreja sobre o poder político recordará como o cardeal Jaime Sin foi em 1986 decisivo na mobilização popular para afastar Ferdinando Marcos. Com mais de cem milhões de habitantes, 80 por cento dos quais católicos, as Filipinas representam o terceiro maior contingente demográfico obediente ao Papa, só atrás do Brasil e do México. Os espanhóis são os responsáveis por este catolicismo bem enraizado e mesmo mais de um século depois do primeiro colonizador ter sido expulso os apelidos das famílias soam como se fossem castelhanos ou andaluses e muitas tradições continuam a ter um 20

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toque ibérico com mistura asiática. Comparativamente, o domínio americano que se seguiu, e que durou meio século, foi menos influente em termos religiosos. Só 10 por cento dos filipinos seguem o protestantismo. O que os EUA conseguiram foi colocar o inglês como segunda língua, tornando o espanhol uma relíquia do passado.

acontece na Índia, onde os católicos são apenas três por cento ou quatro por cento mas correspondem a 40 milhões de pessoas. O catolicismo indiano chegou por via dos portugueses, com os britânicos a terem escasso sucesso na implantação do anglicanismo. Mas muito antes da chegada por mar dos europeus já existia cristianismo ortodoxo na Índia.

A cristianização do país continua mais forte no norte do que no sul, onde os espanhóis enfrentaram a resistência dos chamados Moros, muçulmanos locais. Os descendentes dos Moros serão hoje um décimo dos filipinos e com razões de queixa históricas em relação ao poder central.

Resta o caso único coreano. Nunca colonizada por europeus, a Coreia descobriu o catolicismo no século XVIII através dos diplomatas que enviava à corte chinesa e que se encontravam com os jesuítas. Pouco a pouco foram havendo conversões e também os primeiros mártires, pois os monarcas não queriam o confucionismo oficial posto em causa. A força da fé foi mais forte do que a dos perseguidores e o catolicismo e outras correntes do cristianismo atraem hoje um terço dos sul-coreanos. Na Coreia do Norte, oficialmente ateia, não se sabe o peso das religiões.

Na Ásia existem ainda três outros países com significativas populações cristãs: Timor-Leste, Coreia do Sul e Índia. No caso de Timor, ex-colónia portuguesa, a percentagem de católicos aproxima-se dos 100 por cento mas em números absolutos são pouco mais de um milhão. O contrário


DE MAGALHÃES A DUTERTE 1521 Navegador

português Fernão de Magalhães é morto na ilha de Cebu quando fazia a viagem de circum-navegação ao serviço da coroa espanhola.

1542 Espanhóis

reclamam as ilhas em nome de Carlos V. O batismo de Filipinas é uma homenagem ao filho e herdeiro do imperador, o futuro Filipe II de Espanha e I de Portugal. Inicia-se um fortíssimo processo de catolicização, que só falha nas ilhas do sul, habitadas por muçulmanos.

1898 Nacionalistas

filipinos proclamam a independência em relação à Espanha. Mas os EUA, envolvidos tanto no Pacífico como nas Caraíbas na Guerra Hispano-Americana, assumem o controlo do arquipélago depois de destruírem a armada espanhola na baía de Manila.

1899 Liderados por Emílio

Aguinaldo, Presidente da auto-proclamada Primeira República Filipina, os nacionalistas combatem a ocupação americana.

1902 Fim oficial

da guerra, apesar da resistência filipina prosseguir no sul mais uma década.

1935 EUAprometem independência às Filipinas no espaço de uma década.

1941 Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão conquista as Filipinas. 1944 Tropas americanas expulsam os japoneses das ilhas. 1946 Filipinas tornam-se independentes.

1947 Acordo para

instalação de bases americanas. Durante a Guerra Fria, as Filipinas serão um sólido aliado dos EUA no sudeste asiático, apesar de haver guerrilhas comunistas.

1965 Ferdinando Marcos torna-se Presidente. 1969 Revolta separatista muçulmana na ilha de Mindanao.

1973 Um ano depois de

impor a lei marcial, Marcos aprova nova Constituição que lhe dá poderes absolutos.

1980 Marcos autoriza tratamento médico nos EUA ao líder da oposição, Beningno Aquino, condenado à morte. 1981 Pressionado pelos

EUA, Marcos levanta a lei marcial.

1983 Aquino regressa a

que disputou com Corazon Aquino, viúva do chefe da oposição. Revolta popular contra fraude eleitoral e pressão americana fazem militares abandonar Marcos, que se exila nos EUA. Corazon Aquino Presidente. Novo governo acusa casal Marcos de ter desviado milhares de milhões de dólares. Imelda, a ex-primeira-dama, fica célebre pela gigantesca coleção de sapatos, símbolo de opulência num país cheio de pobres. Cardeal Jaime Sin desempenha papel-chave na democratização, prova da influência da Igreja Católica no mais populoso país cristão da Ásia.

1989 Americanos

ajudam Aquino a resistir a tentativa de golpe militar.

1992 Fidel Ramos sucede a Aquino como Presidente. Terminada a Guerra Fria um ano antes com a desagregação da União Soviética, os EUA fecham a sua última base nas Filipinas, Subic Bay.

1996 Acordo de paz com a Frente de Libertação Nacional Moro, mas uma fação dos separatistas muçulmanos insiste na rebelião.

Manila mas é morto a tiro à saída do avião. Suspeitas de envolvimento dos militares no assassínio.

1998 Joseph Estrada,

1986 Marcos declara-se

corrupção, cede lugar a Gloria Arroyo.

vencedor das presidenciais

estrela do cinema filipino, eleito Presidente.

2001 Estrada deposto por

2002 Americanos ajudam filipinos a combater grupo Abu Sayaf, ligado à Al-Qaeda.

2004 Tentativa de acordo de paz com uma guerrilha comunista falha. Arroyo eleita Presidente.

2005 Acordo de paz

com Frente Islâmica de Libertação Moro. Morre o Cardeal Sin.

2008 Fracasso de projeto

de autonomia no sul para muçulmanos devido a oposição das populações cristãs. Confrontos em Mindanao fazem 30 mortos.

2010 Captura do líder

do Abu Sayaf. Benigno ‘NoyNoy’ Aquino eleito Presidente. É filho de Benigno Aquino e de Corazon Aquino.

2012 Fim da guerra com os separatistas muçulmanos. 2014 Supremo Tribunal

aprova uma lei de controlo da natalidade, que prevê a distribuição gratuita nos centros de saúde de contracetivos. Igreja Católica filipina fez forte campanha contra aprovação da lei. População das Filipinas ultrapassa a fasquia dos 100 milhões.

2016 Filipinas celebra

decisão de tribunal internacional contra reivindicações marítimas da China. Eleição de Rodrigo Duterte para Presidente.

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mãos à obra

Ajudar a educar em território budista Projeto desenvolvido pelos Missionários da Consolata apoia famílias desfavorecidas na região central da Mongólia, com atividades de ocupação de tempos livres para as crianças e ações de formação para as mães Texto | Francisco Pedro Foto | DR

É mais um caso de sucesso, não só no campo da solidariedade, mas também na área da cooperação entre entidades católicas, budistas e organismos públicos. Fruto das boas

A Mongólia foi o segundo país asiático escolhido pelos seguidores do beato José Allamano, para prosseguirem o trabalho de evangelização

relações criadas ao longo dos anos na região de Uvurkhangai, na parte central da Mongólia, os Missionários da Consolata têm conseguido congregar esforços e tornar menos penosa a vida de muitas famílias que fogem do campo e procuram melhores condições, nos arredores da cidade de Arvaiheer. Sem capacidade económica para se instalarem nas zonas mais centrais, estes agregados familiares têm-se concentrado num bairro periférico, onde funciona a missão, e contado com a ajuda preciosa dos missionários. O projeto mais recente, iniciado no passado mês de junho, beneficia mais de uma centena de moradores: 40 crianças do ensino básico, 26 do pré-escolar, 30 mulheres e vários pacientes do hospital local.

Aos menores são proporcionadas atividades em horário pós-escolar, com acesso a instrumentos musicais, equipamento de ginástica e a material didático. As mulheres têm ações de formação na área do artesanato e aos utentes hospitalares são dadas orientações de suporte nutricional e esclarecimentos em termos de cuidados básicos de higiene e saúde. Com um custo total previsto de 12 mil euros, este plano de apoio à população de Arvaiheer contou com o financiamento de uma organização estrangeira, que disponibilizou 2.000 euros, e com as doações de privados, que permitiram a compra de material escolar, instrumentos musicais, brinquedos e material de apoio à formação na área da saúde, no valor de 10 mil euros. Os Missionários da Consolata chegaram a esta região em 2006, um local onde a Igreja Católica nunca tinha estado presente e que obrigava a uma longa viagem de 11 horas de carro, a partir da capital, por estradas de terra batida. Os religiosos começaram por aprender a difícil língua mongol, após o que iniciaram o contacto com a população, disponibilizando-se para fazer trabalho voluntário. A Mongólia foi o segundo país asiático escolhido pelos seguidores do beato José Allamano, para prosseguirem o trabalho de evangelização.

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IMAGENS DE MISERICÓRDIA

Foto | ARQUIVO

Obra de misericórdia é também preparar os catecúmenos para receber o dom de uma vida nova. Nas missões, como na Igreja primitiva, o batismo era dado em idade adulta. Os candidatos passavam um tempo de preparação, o catecumenato, no qual eram instruídos na doutrina da fé e gradualmente inseridos nas celebrações litúrgicas, até terem finalmente a permissão de participar na Eucaristia

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# gente nova em missão SANTIDADE

Uma vida despojada de bens Olá amiguinhos missionários, a escola está a correr bem? Esperamos que neste ano letivo que se inicia aprendam muitas coisas novas e importantes e brinquem muito! No mês passado foi canonizada em Roma uma pessoa muito importante, de que certamente vocês já ouviram falar, a Madre Teresa de Calcutá. Sabem o que quer dizer? Que agora ela é considerada santa, estatuto que apenas pode ser concedido pelo Papa. Vamos falar sobre ela?

Texto | ÂNGELA E RUI Foto | DAVID OLIVEIRA

O chamamento para servir

Aos 18 anos entrou para a Casa das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto, na Irlanda, mas pouco tempo depois partiu para a Índia, onde se impressionava com tudo o que via pelas ruas, os bairros pobres da cidade, cheios de crianças, mulheres, homens e idosos cercados pela miséria, pela fome e por várias doenças, sendo a lepra a que mais sobressaía. Um dia, numa viagem de comboio, deparou-se com um pobre na rua que lhe disse: “Tenho sede!”. Foi nesse preciso dia, conhecido como o “Dia da Inspiração”, que decidiu criar a Congregação das Missionárias da Caridade.

As Missionárias da Caridade

Levando uma vida despojada de bens materiais, ao serviço e sempre com muita oração, a missão das Irmãs da Caridade tem sido sempre a de cuidar dos mais pobres, doentes e excluídos. São conhecidas por usar um sari de algodão branco com um bordado azul. Pelas ruas mais sujas de Calcutá e percorrendo-as vezes sem conta, a Santa Madre Teresa recebeu o apelido da “Santa das Sarjetas”. As Irmãs da Caridade têm casas por todo o mundo, incluindo Portugal, em Lisboa, Setúbal e Faro e fazem um trabalho admirável.

O caminho para a santidade

Em 1979 recebeu o Prémio Nobel da Paz. Faleceu em 1997 e em 2003 foi beatificada pelo Papa João Paulo II. Após vários relatos de milagres, ocorridos por sua intercessão, foi agora canonizada pelo Papa Francisco, no dia quatro de setembro de 2016.

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Sabias que

Santa Madre Teresa nasceu na Albânia e o seu nome era Gonxhe Agnes Bojaxhiu. Ao fazer a sua profissão, escolheu como seu nome religioso Teresa, em homenagem a Teresa de Lisieux (Santa Teresinha do Menino Jesus)

MOMENTO DE ORAÇÃO Amigo Jesus: Tu estás presente no coração de todos os homens Alguns preferem aprisionar-Te Mas outros há que Te deixam viver e em sua boca, em suas ações Mostrar-Te, mostrar a Tua infinita misericórdia Ser canal da Tua luz e ter amor em tudo o que fazem Que em mim se possa ver um pouquinho de Ti Porque Te tenho em meu coração e confio Santa Madre Teresa de Calcutá rogai por nós! Pai Nosso… Ave Maria…

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tempo jovem

TODOS TEMOS TALENTO Texto | ÁLVARO PACHECO Foto | LUSA

Um dos programas que de vez em quando vejo para relaxar, seja na televisão ou no Youtube, chama-se “Got Talent”, produzido em muitos países e com altos níveis de audiências. Confesso que fico perplexo e maravilhado com a capacidade e criatividade do ser humano, sobretudo em programas deste género, bem como em documentários sobre outros povos e culturas. Como seria bom que o talento e criatividade humana fossem usados só para o bem comum, até porque esta capacidade é uma forma de colaboração no projeto criador e salvífico de Deus. Há outros programas que nos mostram um outro elemento que revela o melhor do ser humano: a capacidade de ‘endurance’ e força física que, associadas à força mental, ajudam uma pessoa a superar obstáculos ou dificuldades com garra e determinação. Um exemplo claro e notável desta dimensão do ser humano são os Jogos Paralímpicos. É sem dúvida notável e inspirador ver o quão forte é e pode ser o ser humano. Porém, não é destes talentos que queria falar, mas sim de um outro que está intimamente ligado à essência e natureza de Deus: o amor. Mais ainda, o amor pelo próximo. Deus é amor e a perspetiva que o Evangelho nos inspira tem a ver com o objetivo final da nossa existência: a felicidade enraizada no amor. Sendo nós criados por Deus, todos temos este talento de forma inata e natural que, porém, precisa de ser cuidado, educado e “trabalhado” como um diamante em bruto. De facto, amar é uma arte, um talento que se vai desenvolvendo com o passar dos anos, uma arte alicerçada em pessoas e experiências que nos falam de Deus e são de Deus. Amar é certamente o verbo mais bonito no mundo, mas também o mais difícil, sobretudo ao estilo de Jesus. Todos falam de amor, cantam-no e representam-no de mil e uma formas, mas o verdadeiro amor passa pela cruz, pela negação de si próprio, por colocar o “próximo”

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no centro das nossas prioridades e objetivos, lado a lado connosco. E isto não é fácil, sobretudo num mundo que cada vez é menos mundo e cada vez mais aldeia, onde outros valores para além dos cristãos emergem e estes mesmo se vão perdendo com o passar dos tempos. Anos atrás, os bispos europeus falavam de uma “nova evangelização” que, no meu entender, mais do que ser nova deveria ser renovadora e recriadora, sobretudo no que toca à linguagem e à sua atualização. E o verbo que mais deve sobressair nesta linguagem é precisamente “amar” segundo o estilo inovador, próximo, criativo, surpreendente e familiar de Jesus. A nossa sociedade precisa de gente capaz de partilhar este talento com atos concretos de proximidade, atenção e delicadeza, amizade, consolação; de respeito e tolerância, que assentem no princípio fundamental de que todos somos irmãos e irmãs, porque criados pelo mesmo amor. O nosso investimento maior deve ser não só em nós, nos nossos projetos pessoais, mas também no próximo e na sua felicidade. É só através do próximo que me completo, me realizo e alcanço a minha felicidade. Infelizmente, a tendência para a intolerância, para a discriminação, para o erguer de muros que mais do que físicos são psicológicos, está a transformar a nossa sociedade, a qual é cada vez mais ‘inter-gentes’, ou seja, “uma salada de culturas e mentalidades” que com o passar do tempo tem de ser melhor preparada e condimentada, para que todos se sintam aceites e valorizados e, ao mesmo tempo, saibam aceitar e valorizar os outros. Claro, falar é muito fácil, mas o sonho de um mundo mais parecido com o reino de Deus não poder ser ignorado ou posto de lado. Somos e devemos ser cada vez mais construtores deste mundo, começando por aqueles e aquelas que nos são ou estão mais próximo, partilhando com eles e elas o nosso maior e mais precioso talento: o do amor que temos em nós e que é capaz de mudar o mundo. Sentes-te com vontade de partilhar o teu talento mais precioso? Com quem e de que forma?


A nossa sociedade precisa de gente capaz de partilhar este talento [DE AMAR] com atos concretos de proximidade, atenção e delicadeza, amizade, consolação; de respeito e tolerância, que assentem no princípio fundamental de que todos somos irmãos e irmãs, porque criados pelo mesmo amor

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sementes do reino

“Aumenta em nós a fé”

Texto | JOÃO NASCIMENTO Foto | ANA PAULA

Pela fé, Deus torna-nos participantes do seu poder e do seu projeto de salvação. Deu-nos tudo, mas frequentemente somos como cegos que à beira de um poço morrem de sede. Temos olhos e não vemos, ouvidos e não ouvimos. A eficácia da sua palavra não penetra nem transforma os nossos corações. Somos conscientes do seu valor e necessidade, mas pouco nos esforçamos: ou porque nos sentimos impotentes ou porque acabamos por ficar à margem da vida.

Leio a Palavra (Lc 17, 5-10)

A parábola do servo inútil aparece no contexto de uma série de ensinamentos sobre a fé. Jesus disse que o cristão, se necessário, deve estar disposto a perdoar sempre ao seu próximo. Os discípulos sentiram-se incapazes de tal clemência. É por isso que pediram a Jesus para aumentar a sua fé. O Senhor respondeu-lhes que uma fé autêntica, mesmo do tamanho de um grão de mostarda, tem o poder de fazer prodígios. Mas adverte-os, ao mesmo tempo, quanto ao perigo da autossuficiência. Para aqueles que são tentados pelo orgulho ao aceitarem segui-lo, Jesus conta a parábola do servo inútil, que, apesar do seu trabalho, nada pode criar nem salvar. O servo de Cristo não tem mérito para reivindicar o que quer que seja diante de Deus. Pela obediência aos seus mandamentos, ele faz apenas o que está chamado a fazer, o que é melhor para ele.

Saboreio a Palavra

Jesus dá-nos aqui a chave de toda a experiência cristã: a fé. Que não é uma vaga crença diluída numa reflexão intelectual, mas uma adesão ao Cristo reconhecido como Deus e homem. A fé ninguém a pode dar a si mesmo: é um dom que Deus lança e faz crescer no nosso coração. Pedir que Ele aumente a nossa fé é tomar

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A fé [...] é um Dom que Deus lança e faz crescer no nosso coração. Pedir que Ele aumente a nossa fé é tomar consciência da necessidade de ser humildes para acreditar que nos escuta e compreende, mas também para saber receber e agradecer pelo modo como Ele nos surpreende

consciência da necessidade de ser humildes para acreditar que nos escuta e compreende, mas também para saber receber e agradecer pelo modo como Ele nos surpreende.

Rezo a Palavra

Diante deste texto interrogo-me seriamente: acredito que a fé é um dom divino dado a todos e a cada um em particular? Acredito ainda que esse dom só cresce e é valorizado quando é expressado e partilhado?

Vivo a Palavra

Mesmo que nos sintamos já ao serviço de Deus, todos nós somos “servos inúteis”: esta viva consciência, mais do que levar-nos a deixar cair os braços, deve encorajar-nos a agir movidos pela força do espírito que dá valor aos nossos atos e assegura a sua eficácia. “Servos inúteis” sim, mas de um Deus que quer servir-se de nós para anunciar a salvação ao mundo. Somos como fontes que vivem para se transformarem em rio que sacia e fecunda tudo e todos por onde passa.


A palavra faz-se missão

OUTUBRO

02

27º Domingo Comum Hab 1, 2-3; 2, 2-4; 2Tim 1, 6-14; Lc 17, 5-10

A vitalidade da nossa fé

“Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação. Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor…”.

Dá-nos, Senhor, a humildade de coração e o teu Espírito de fortaleza para cooperarmos com todas as nossas forças no crescimento do teu reino.

09

28º Domingo Comum 2Reis 5, 14-17; 2Tim 2, 8-13; Lc 17, 11-19

Dá glória a Deus

“Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro? Segue o teu caminho: a tua fé te salvou”.

Senhor, que neste dia santo cada irmão possa glorificar-te pelo dom da fé e a Igreja inteira seja testemunha da tua salvação.

16

29º Domingo Comum Ex 17, 8-13; 2Tim 3, 14-4, 2; Lc 18, 1-8

Há fé sobre a terra?

“Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?” A resposta está em cada um de nós. Reza neste dia para que no mundo se dilate a fé e para que ela cresça no teu coração.

Ó Deus nosso Pai, faz que a Igreja

cresça no serviço do bem e anuncie a toda a terra a tua palavra de salvação.

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30º Domingo Comum Sir 35, 15-22; 2Tim 4, 6-18; Lc 18, 9-14

Dia Missionário Mundial

“Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé… O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem”.

Que a tua Igreja, Senhor, sobretudo neste mês missionário, acorde para a realidade da missão, proclame o teu Evangelho e se fortaleça na fé e no entusiasmo.

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31º Domingo Comum Sab 11, 22-12,2; 2 Tes 1, 11-22; Luc 19, 1-10

Um encontro estupendo

É o dia do encontro de Jesus com Zaqueu. Jesus não pede, dá sem medida. Jesus não acusa, olha-nos com o seu olhar interior e muda a nossa vida, para que, como Zaqueu, distribuamos pelos outros aquilo que sempre lhes pertenceu. Deus não nos ama porque somos bons, mas amando-nos torna-nos bons.

Que eu não me contente de ser feliz sozinho, mas, convertido, arraste também os outros. DV

intenção pela evangelização OUTUBRO Para que a Jornada Missionária Mundial renove em todas as comunidades cristãs a alegria e a responsabilidade de anunciar o Evangelho

Jornada Missionária Mundial O mês de outubro é todo ele dedicado à Igreja na sua vertente missionária. Distraídos como andamos, precisamos que alguém nos recorde que a Igreja ou é missionária ou então não é cristã. Dizia alguém que cristão que não é missionário é demissionário. Alertar-nos, pois, para esta responsabilidade é nosso dever. Há pessoas que já ficam de consciência tranquila se contribuem com o seu óbolo no peditório que se faz nas igrejas ou nas ruas e supermercados. É alguma coisa, mas não é suficiente. O mais importante é o que nos pede o Papa: renovar nas comunidades cristãs a alegria e a responsabilidade de anunciar o Evangelho. Na sua mensagem deste ano para a Jornada Missionária Mundial o Papa Francisco “convida-nos a olhar a missão ad gentes como uma grande, imensa obra de misericórdia quer espiritual quer material. Todos somos convidados a «sair», como discípulos missionários, pondo cada um a render os seus talentos, a sua criatividade, a sua sabedoria e experiência para levar a mensagem da ternura e compaixão de Deus à família humana inteira”. DV

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LEITORES ATENTOS

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Fátima Missionária

Pergunto: Porque é que se fazem tantos peditórios nas igrejas e até fora delas? É para a Cáritas, as Missões, a Universidade Católica, os Seminários, a Liga contra o Cancro, a construção de Novas Igrejas. Não cheira a pedinchice? António José Livramento – Lisboa

Tem uma certa razão, senhor António. Pode parecer exagerado. Sem falarmos dos bombeiros, dos escuteiros e outras associações locais que não deixam de estender a mão para pedir ajuda. Num país de tanta pobreza e de tantas necessidades, é natural que isso aconteça. Depois, sabendo bem que as paróquias também precisam dos ofertórios das missas para o andamento da vida paroquial, haveria talvez que racionalizar esses pedidos de tipo nacional. Por outro lado, porém, é bem verdade que grão a grão enche a galinha o papo. E normalmente são os mais pobres que mais sensíveis são a estes pedidos de ajuda. O amor que tendes às missões Peço a Deus que multiplique em vós o amor ardente que tendes às missões que é tão bem demonstrado na revista que dirigis e nos chega às mãos. Fala-nos de quanto este mundo necessita de se encontrar com Cristo, o Pai das misericórdias. Que o Espírito Santo seja a vossa e a minha luz, com gratidão e amizade. Maria de Lurdes

Sofro com tudo isto Queira Deus que este ano traga um

Já São Paulo apelava, nas suas cartas, ao contributo de umas para outras comunidades mais pobres, como foi o caso da comunidade cristã de Jerusalém, que estava a passar por grandes dificuldades: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza nem constrangimento, porque Deus ama a quem dá com alegria” (2 Cor 9, 7). Vem isto a propósito também do peditório nacional a favor das missões, no penúltimo domingo de outubro. Em todas as Igrejas e até pelas ruas ou supermercados, vai haver este apelo a contribuirmos para a causa missionária. O que sabemos é que todo o dinheiro recebido irá ser enviado para a Congregação da Evangelização, em Roma, que o distribuirá pelas missões mais necessitadas. São migalhas ou gotas de água, mas, como dizia a Madre Teresa de Calcutá, “por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse essa gota”. DV

pouco mais de amor e consideração pelos pobres e menos ambição aos ricos e poderosos, que no fundo são mais pobres do que aqueles que são obrigados a deixar o seu país com o risco de ficarem pelo caminho, eles e os seus filhos. Sofro com tudo isto, mas acredito que a ambição do homem não é maior que a misericórdia de Deus. Junto vai um vale de correio com o dinheiro das assinaturas, com um pouco mais, graças à generosidade dos nossos assinantes. Maria Natália


gestos de partilha

Apoie os nossos projetos e ajude-nos a concretizá-los Quero ir à escola Os Missionários da Consolata estão a apoiar o projeto destas 700 famílias de Mkindu, na Tanzânia e lançam um apelo: Warda Baththromeo 7 anos

ajudas-me? Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Projeto “Quero ir à escola” Rua Francisco Marto, 52 2496-448 FÁTIMA

Ajudem a construir a escola para crianças de Mkindu tijolo 1,00€ saco de cimento 5,00€ balde de tinta 10,00€ mesa + banco 25,00€ porta 50,00€

NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50 0033 0000 45441863347 05

Crianças de Mkindu – Tanzânia Equipas de Nossa Senhora (Sector 4 – Sintra) 744€; Eduarda Bento 50€; Eugénia Talefe 93€; Anónimo 126€; Joaquim Maia 25€; Rosa Ribeiro 10€; Celina Gonçalves 50€; Águeda Ramos 42€; Celeste Portela 25€; Fátima Matias 10€; Júlio Martins 25€; Guilhermina Leal 20€; Engrácia (Benedita) 250€; Fernanda Morgado 93€; Antonieta Santos 50€; Anónimo 100€; José Pereira 200€; Dulce Marques 6€; Alda Rodrigues 18€; Bárbara Silva 15€; Helena Barros 70€; Ofertas anónimas entregues na Consolata de Fátima 608€. Total geral = 18.547,20€. Bolsas de estudo Rita Silva 150€; Encarnação Rodrigues 250€. Crianças Irã – Guiné-Bissau Maria Rosalina Machado e colegas das aulas de Teologia 70€. Ofertas várias Rosa Martins 43€; Fernando Gomes 36€; José Mateus 36€; Maria Pereira 100€; Odete Vargues 43€; Jacinta Lucas 36€; Gracinda Mateus 44€; Manuela Monteiro 126€; Anónimo 100€; Rosa Filipe 76€; Alice Marques 33€; Joaquim Nunes 43€; Rosa Ribeiro 33€; Celeste Duarte 43€; Alice Rosa 272€; Agostinho Gameiro 70€; Sofia Figueiredo 33€; Domingos Dias 93€; Maria Lourenço 36€; Fernanda Costa 60€; Joaquim Rocha 36€; Joaquim Resende 43€; Irene Serrano 43€; Emídio Major 86€; Pedro Bugalho 51€; Eugénia Santos 33€; Celeste Neto 25€; Maria Barata 33€; Carolina Cabral 30€; Alzira Lopes 243€; Anónimo 36€; Fátima Massano 40€; José Santos 65€; António Gomes 61€; Guilhermina Maldonado 36€; António Ribeiro 63€; Anónimo 40€; Maria Gomes 93€; António Maranha 43€; Joaquim Alexandre 43€; Alberta Pereira 43€; Manuela Fernandes 43€; Ernesto Monteiro 100€; Anónimo 30€; Grupo de Ferreira do Zêzere 40€; Susana Martins 36€; Anónimo 43€; Manuel Soares 70€.

CONTACTOS Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 | IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 - 2496-908 Fátima | T: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 Apartado 2009 - 4429-909 Águas Santas Maia | T: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 - 1800-048 Lisboa | T: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo - 2735-206 Cacém | T: 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 - 4700-713 Palmeira Braga | T: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 - 3090-431 Alqueidão | T: 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D - Bairro Zambujal - 2610-192 Amadora | T: 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 Agualva-Cacém | T: 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

Padre Lourenço Navone

Sonhando com a seara no trabalho da horta

Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Lourenço nasceu em Riva di Chieri, a uns 15 quilómetros de Turim, Itália, em 29 de novembro de 1929, e entrou para o Seminário Menor de São Paulo, dos Missionários da Consolata, em outubro de 1923. Segundo o mestre dos noviços, José Nepote, o Lourenço era bom, piedoso, trabalhador e virtuoso. Tinha uma grande devoção ao Santíssimo Sacramento, e escreveu no seu caderno espiritual de apontamentos: “Ao pensar na comunhão de amanhã, enternece-se o meu coração. Antes do jantar, rezei assim: «Fazei, Senhor, que eu possa bem usufruir da vossa grande Ceia Eucarística, à qual vós me convidais diariamente para vos repousardes no meu coração… Meu Deus, ajudai-me, a mim e a todos os cristãos, a conhecer o imenso tesouro que nos deixastes na Eucaristia»”. Em 29 de junho de 1932 foi ordenado sacerdote. O sonho de partir para as missões feneceu quando, de repente, começou o calvário em forma de distúrbios psíquicos profundos. Aconselhado pelos médicos a descanso mental, entregou-se aos trabalhos manuais, especialmente numa das hortas do Instituto, trabalho muito importante para produzir o alimento necessário à comunidade durante a Segunda Guerra Mundial. Acabado o conflito bélico, volta à Casa Mãe de Turim. Parecia ter melhorado muito, mas estava realmente a chegar ao Gólgota da sua vida. Foi internado na Casa de Saúde de Collegno. Invadido por uma broncopneumonia, chegou depressa o fim do seu martírio, sem nunca ver as missões com que tanto sonhara. Tendo recebido com grande devoção o Sagrado Viático e a Unção dos Enfermos, e circundado por superiores e colegas, entregou ao Senhor o seu coração generoso no dia 1º de abril de 1947. Ao ver à porta do céu o sorriso do fundador José Allamano, desfizeram-se em êxtase todos os distúrbios, e por lá anda a sua alma de mãos dadas com a Virgem Mãe Consolata, bem consoladinho por aquela que tanto amara na terra. E isto, por toda a eternidade.

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Fátima Missionária


O QUE SE ESCREVE

Contra a eutanásia Um grande médico, leigo e não crente, explica porque não podemos aceitar a eutanásia

Para o autor, o médico tem não só o dever de não se render à morte, mas também de infundir no seu paciente a esperança, a confiança, a vontade e a força de lutar. Existem doenças incuráveis, mas não existem doenças intratáveis. Insinua-se na mente do autor uma dúvida inquietante e provocatória: E se a eutanásia (e o que gira à sua volta) fosse uma “solução económica”, uma resposta técnica a um problema prático, que se esconde atrás de uma morte digna?

Pier Giorgio Frassati Um jovem segundo o Evangelho

“Pier Giorgio Frassati passou pela vida como um piscar de olhos, mas deixou um rasto indelével para a eternidade. Profundamente envolvido na vida da cidade dos homens, não hesitou em arregaçar as mangas e servir os mais pobres e foi crescendo a caridade com a simplicidade dos grandes. Para os nossos dias, precisamos da inspiração de Frassati, especialmente para os jovens que têm o futuro nas suas mãos. Não passar ao lado da injustiça como se não fosse nada, mas ao invés ser agentes de mudança e profetas de esperança num mundo melhor é o que se espera da nova geração” (Rui Marques, no prefácio). Um modelo também para os nossos dias. Autor: Michele Aramini 64 páginas ilustradas | preço: 7,90 € Paulus Editora

Autor: Lucien Israel 136 páginas | preço: 10,00 € Multinova

O Anjo de Fátima

Faz agora 100 anos que o Anjo de Fátima preparou os três pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta para as Aparições da Virgem Maria. Pouco conhecidas pela maioria dos frequentadores de Fátima, o livrinho tem como objetivo fazer conhecer melhor o conteúdo das três aparições do Anjo de Portugal. Com uma mensagem atual feita de confiança: “Não temais”, de convite a construir a paz: “Sou o Anjo da Paz”, e de motivar a oração: “Rezai comigo…”. Autor: Pe. William Wagner, ORC 56 páginas | preço: 3,00 € Paulus Editora

Vida de Santo António de Lisboa

Diz o jornalista Henrique Raposo no prefácio a esta rica biografia do santo mais popular em Portugal, na Itália e até no mundo inteiro: “Santo António representa uma viagem exterior (Lisboa, Coimbra, França, Itália) e uma peregrinação interior que nós, portugueses, devíamos recuperar. Espero que a reedição deste livro hagiográfico mas honesto seja apenas o início desta redescoberta”. Autor: Aloísio Tomás Gonçalves 168 páginas | preço: 11,90 € Paulus Editora

Fenómenos extraordinários de místicos e santos

Há fenómenos típicos da mística de todos os tempos, aparentemente incríveis, mas aqui tão bem documentados que quase não permitem dúvidas sobre a sua realidade. Os que são apresentados neste livro dão-nos um quadro surpreendente e maravilhoso que evidencia a marca sobrenatural do misterioso diálogo dos místicos com o Senhor. Trata-se de uma leitura envolvente que suscita curiosidade e surpresa, mas que abre novos horizontes sobre este tema. Autor: Paola Giovetti 246 páginas | preço: 13,50 € Paulus Editora

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MEGAFONE

por albino brás

“Aprendi que estigmatizar os que propõem a transformação do mundo é uma das armas mais ferozes dos reaccionários” Paula Moura Pinheiro jornalista

“Eu sou muitas vezes apontado como sendo de esquerda. Porquê tudo isto se o Evangelho existe antes d’O Capital de Marx?“ Eugénio Fonseca presidente da CÁritas Portuguesa

“É mau para a Igreja quando os pastores se tornam príncipes, afastados das pessoas, dos mais pobres”

Papa Francisco

“A palavra ‹impossível› é uma expressão infeliz; nada se pode esperar daqueles que a usam frequentemente” Thomas Carlyle (1795-1881) historiador e ensaísta inglês 34

Fátima Missionária

“A ação é uma oração sem palavras… A boa ação contém em si mesma todas as filosofias, todas as ideologias, todas as religiões” Vicente Ferrer (1920-2009), filantropo espanhol

“O meio e o caminho para encontrar Deus é ser profundamente humano, a cada dia mais humano” José María Castillo teólogo espanhol


TERRA

Peregrinação

SANTA COM OS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

29 outubro / 05 novembro 2016 TibErÍaDEs CAFARNAUM TEL AVIV Tabor CESAREIA HAIFA SÃO JOÃO DE ACRE NazarÉ CANÁ JERUSALÉM Belém Ein KareN Ein Karem

mais informações

917 513 575

boa partida LisPorto comde do e


Pinceladas de outono Tarde pintada Por não sei que pintor. Nunca vi tanta cor Tão colorida! Se é de morte ou de vida, Não é comigo. Eu, simplesmente, digo Que há fantasia Neste dia, Que o mundo me parece Vestido por ciganas adivinhas, E que gosto de o ver, e me apetece Ter folhas, como as vinhas. Miguel Torga, Diário X (1966)

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Fátima Missionária


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