Moçambique

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ANO LXI | JUNHO 2015 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

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MOÇAMBIQUE

MEGA-PROJETO AGRÍCOLA PODE DEIXAR MILHARES DE CAMPONESES SEM TERRA

DO HAITI AO NEPAL: OS ERROS A NÃO REPETIR Pág. 13 TENSÃO ENTRE COREIAS VISTA Pág. 18 PELO SOLDADO LIM “A VOCAÇÃO CONSAGRADA DEVE SER FECUNDA” Pág. 23


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

www.fatimamissionaria.pt | www.consolata.pt Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | tel: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Dª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 AGUAS SANTAS MAI | tel: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | tel: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | tel: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 AGUALVA-CACÉM | Telefone 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt


editorial

ALIMENTAR O PLANETA Abriu recentemente em Milão, na Itália, a Expo Mundial 2015, um evento global, onde países, organizações internacionais, sociedade civil e visitantes discutem o tema “Alimentar o Planeta. Energia para a Vida”. Portugal é um dos poucos países da União Europeia que vai estar ausente, pelos vistos, por razões de custos elevados. Uma ausência incompreensível, quando se pensa que o tema da Expo 2015 está relacionado com um dos sectores que mais tem crescido nas exportações portuguesas dos últimos anos, o agroalimentar. Mas não se trata só de expor para vender melhor. A Expo não pode ser vista só na sua vertente economicista, mas como contributo para o debate de uma questão que é crucial para o futuro da humanidade. O aumento populacional, a escassez de água e recursos da terra exigem uma séria e profunda reflexão sobre as estratégias para garantir uma alimentação saudável e suficiente para todos. Por isso, a Expo 2015 poderá ser um laboratório de pesquisa de soluções concretas para melhorar a vida das pessoas, sempre no respeito pelo planeta que nos foi confiado. Há milhares de anos que a Terra vem nutrindo a humanidade, mas os seus recursos são limitados: só com opções políticas conscientes, estilos de vida corretos e recurso a tecnologia avançada serão possíveis outras soluções.

ativa e as vítimas da fome são aos milhões. Contrastam com esta situação países industrializados que lançam para o lixo milhões de toneladas de alimentos. Um crime que brada aos céus. É por isso que o Papa na sua mensagem inaugural enviada à Expo 2015, fazendo-se porta-voz de tantas bocas famintas, alertou mais uma vez para que se globalize a solidariedade e não se desperdice esta oportunidade: “Desejava que, a partir de hoje, cada pessoa que visitasse a Expo de Milão, passando pelos diversos pavilhões, pudesse perceber a presença de rostos, que estão ocultos, mas que na realidade, deveriam ser os protagonistas do evento: rostos de homens e mulheres que passam fome, que adoecem e até morrem por causa de uma alimentação escassa e nociva”. E perante o “paradoxo da abundância” em tantos países, aliado à cultura do desperdício, Francisco expressa o seu desejo de que esta exposição mundial possa ser uma ocasião propícia para mudar de mentalidade, e pede ao mundo que não abuse deste “Jardim que Deus nos confiou para que todos possam comer dos seus frutos”. Vislumbram-se os temas da ecologia, criação, meio-ambiente e solidariedade, que certamente vão estar presentes na encíclica papal, prometida para este mês de junho. DARCI VILARINHO

Se os “Objetivos do Milénio” da ONU tinham 2015 como data limite para a redução significativa da percentagem de quem sofre a fome, a dura realidade é que ainda hoje no mundo uma em cada oito pessoas não tem alimento suficiente para ter uma vida sã e Junho 2015

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº6 Ano LXI – JUNHO 2015 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 24.300 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa e Contracapa Lusa Ilustração Hugo Lami, H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

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CONTRA O INVASOR NORTE-COREANO, O SOLDADO LIM RESISTIRÁ. ATÉ A GOLPES DE TAEKWONDO 03 EDITORIAL Alimentar o Planeta 05 PONTO DE VISTA Todos podemos cair na rede 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Encontro de estrada 08 MUNDO MISSIONÁRIO

Polícia da Tailândia descobre campo de escravos Do Gana apelo aos jovens: “Ficai em África” Bispos americanos denunciam “indústria desumana” Sudão do Sul abandonado em busca de paz No Paquistão muçulmanos e cristãos unidos Crianças indianas sofrem de doenças pulmonares 10 A MISSÃO HOJE Um mundo com mais sede 11 PERFIL SOLIDÁRIO Vontade de ajudar 12 A MISSÃO HOJE Sim à missão 13 DESTAQUE Do Haiti ao Nepal: os erros a não repetir 14 ATUALIDADE Ativistas contestam mega-projeto agrícola 22 MÃOS À OBRA Projeto de biogás ilumina casa de crianças 23 TESTEMUNHO DE CONSAGRADO “A vocação consagrada deve ser fecunda” 24 GENTE NOVA EM MISSÃO Competição 26 TEMPO JOVEM Fazer bem 28 SEMENTES DO REINO Assim é o Reino 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA O canto de uma vida 32 O QUE SE ESCREVE 33 MEGAFONE 34 FÁTIMA INFORMA Crianças oferecem rosas a Maria

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ponto de vista

TODOS PODEMOS CAIR NA REDE texto JÚLIA BARROSO*

Perante as frequentes e trágicas notícias que nos chegam deste pequeno Mar Mediterrâneo, tão atraente pelas suas águas cálidas, pelo seu azul transparente, pela sua localização estratégica servindo de ponte entre povos de vários continentes, dói a alma vê-lo a ser hoje cemitério de tantos seres humanos. O que se está passando? Como se explica? Porquê as guerras, a fome, a escravatura, o engano, a ameaça, a perseguição que conduz a este constante êxodo? A esta saída em busca da felicidade que tantas vezes se pensa encontrar em lugares errados, em paraísos que se vendem, mas na realidade não existem? Nesta chamada ‘aldeia global’, onde todos somos vizinhos, próximos, presentes no aqui e agora através das tecnologias, das redes, dos meios de comunicação, não é uma vergonha, não é caricato, não é indigno aquilo que estamos testemunhando? O que se passa? Onde estamos, para onde queremos ir? Quem nos está a conduzir? Para onde nos estão a levar?

à Europa naquelas condições, não sabem o que os espera. Enganados, aliciados ou forçados, eles alimentam a ambição de uns quantos e ajudam à subsistência de tantos outros que também caíram nesta rede criminosa. Numa sociedade que não tem em conta o bem comum, a lei que reina é a lei do salve-se quem puder e como puder. Todos somos chamados a uma atenção redobrada na nossa comunidade a jovens, homens ou mulheres, adolescentes ou crianças a quem deixamos de ver, que saem em busca de uma vida melhor e não mais sabemos do seu paradeiro… todos podemos cair na rede. Precisamos de criar comunidades ativas contra o tráfico de pessoas, contra as suas causas, tornando-nos profetas que anunciam a boa notícia e denunciam as injustiças. *Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas (AVITP)

Não é incrível que hoje os próprios governos estejam prisioneiros dos mercados financeiros? Onde está a sã utopia da igualdade, da fraternidade, da liberdade? Como se permite que mais de 80 por cento da população viva na pobreza e menos de 20 por cento possua a riqueza da terra que é de todos e para todos? O que implica denunciar um capitalismo selvagem que não olha aos meios para atingir os fins do lucro e mais lucro? O tráfico de pessoas para fins de exploração laboral, sexual ou extração de órgãos é um terrível desrespeito pela pessoa humana. Todos os que embarcam rumo Junho 2015

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leitores atentos

RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2015. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Um presente Queridos amigos da FÁTIMA

MISSIONÁRIA, no seguimento da minha experiência de voluntariado na Costa do Marfim, fui convidada a dar o meu testemunho no dia diocesano da juventude da Região Beira-Mar, num encontro intitulado “(Trans)forma-te em comunhão”, que se realizou no Tojeiro-Arazede. Após o testemunho, uma das jovens da equipa organizadora, tocada pela minha partilha, veio ter comigo para saber como ajudar as crianças do local onde estive. Dei-lhe o NIB indicado na revista e mostrei-lha. Gostou dela e quer ser assinante. Peço-vos pois que sejam breves a fazer-lhe chegar este presente que é a “nossa” revista. Filipa Raquel

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TIRE AS SUAS DÚVIDAS Vi durante o mês de maio tanta gente a caminhar para Fátima a pé. Que sentido tem isso tudo? Não seria melhor ocuparem o tempo a trabalhar e a cuidar dos outros? Manuel Frexes – Tomar

Obrigado pela sua observação. Respondo dizendo que “o caminhar juntos para os santuários e o participar em outras manifestações da piedade popular, levando também os filhos ou convidando a outras pessoas, é em si mesmo um gesto evangelizador”. Quem o diz é o Papa Francisco que sabe respeitar esta forma de “piedade popular” e vê nela uma força missionária. “Não coartemos nem pretendamos controlar esta força missionária”, acrescenta ele. Por isso, respeitemos. Nem só de pão vive o homem. Quem faz peregrinações “reza” com os pés e experimenta com todos os sentidos que a sua vida é um grande caminho para Deus. Só Deus conhece o que se passa no

Dar valor à missão Estimados irmãos missionários,

mando a renovação das assinaturas que me estão atribuídas, menos uma que desistiu. Fico sempre muito triste quando há uma desistência e não consigo arranjar uma nova assinante que a substitua. O nosso Deus ficaria muito feliz se todos os católicos tivessem mais amor pelas missões. Não sabem dar valor a esse trabalho de evangelização, que é por vezes tão difícil, um serviço em que os missionários gastam as suas vidas. Maria Ascensão

Tudo pela revista Continuem com o vosso tão

querido e lindo trabalho de missão,

coração das pessoas. Jerusalém, Roma, Santiago de Compostela e tantos santuários marianos foram desde a Idade Média metas de peregrinação. Não se trata só de cumprir promessas. O peregrinar pode ser um sinal de penitência ou uma procura de libertação e de paz que tantos dizem encontrar neste exercício humano e cristão. Todos os que fazem essa dura experiência só dizem maravilhas e declaram que ela enriquece muito as suas vidas. “A Igreja avança na sua peregrinação até ao termo das coisas, entre a perseguição do mundo e a consolação de Deus”, recorda-nos Santo Agostinho.

CRIÁMOS ESTA RUBRICA PARA SI

Se tem dúvidas sobre a missão, a religião ou a Igreja, envie-nos a sua pergunta por correio ou para o endereço electrónico redacao@fatimamissionaria.pt Teremos todo o gosto em responder

expresso na nossa querida revista que tanto gosto de ler, do princípio ao fim. Fico muito chocada e triste com a situação do nosso mundo, alheio a tanta dor e tanta fome, que atinge sobretudo as crianças. Que humanidade a nossa, meu Deus. Peço desculpa, se só agora envio o dinheiro dos assinantes que me foram confiados. Com os meus 83 anos e a minha osteoporose, já não posso andar muito, mas a minha revista nunca a deixo, só quando morrer. O que vai a mais é para os que mais precisam.

Alcina


horizontes

ENCONTRO DE ESTRADA texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI – “Lucas está perdido”; “Aquele rapaz nunca mais se levanta”, “O que ele era e o que é”... muitos eram os comentários sobre Lucas. Carlos encontrou-o na distribuição de sopa aos sem-abrigo. Foi um choque: estava sentado no passeio, aguardando a chegada da carrinha. Falava sozinho, alheio a tudo à sua volta. Era a primeira vez que Carlos via o amigo naquele estado. Podia ajudar a renascer aquele homem que tinha uma capacidade enorme de criar alegria; que fizera programas de rádio para crianças; que fora um respeitado chefe de escutismo e que tinha para quem dele precisasse uma disponibilidade incondicional. Que lhe acontecera para passar de uma vida cheia, para uma vida de destruição? Ninguém conseguia explicar. Mas não era isso que importava. O urgente era ajudá-lo a reencontrar-se. Carlos evitou que Lucas o visse. Só serviria para o envergonhar. No dia seguinte, contactou os amigos do “antigamente” e combinaram um plano de ajuda. Assim, logo pela manhã do sábado, um grupo de cinco amigos foi ao encontro de Lucas, onde costumava dormir: num alpendre de um edifício antigo, numa rua degradada da cidade. Surpreso, Lucas parecia perdido, descoberto na sua vergonha pelos amigos. Tentou esconder-se nos cobertores, mas em vão. Eles estavam determinados: – Hoje vens connosco. Vamos às urgências. Precisas ser internado. Estás muito doente. Não és homem para te deixares destruir pelo álcool. Hoje é dia de acordar! Lucas tentou justificar que não podia fazer isso mas os amigos não lhe permitiam recusas: – Se não aceitares, falamos com o Delegado de Saúde e és internado à força.

Nessa mesma tarde, Lucas dava entrada no serviço de tratamento alcoólico, não por convicção, mas por falta de força para lutar contra aquele muro de amigos. E ao mesmo tempo, era tão bom ter alguém a importar-se consigo e a cuidar de si. Em todos os dias do internamento, a hora da visita era sagrada: algum dos amigos lá estava e levava outros com ele. Entre os mais importantes para Lucas, o irmão e os sobrinhos. Há quanto tempo se afastara...O choque inicial com a sua vergonha transformou-se em prazer de reencontro com quem lhe era querido, e até em orgulho pela sua nova imagem. Passado um mês, parecia o Lucas de antigamente: rindo, contando anedotas, recordando bons momentos do tempo em que se sentia com “tamanho de gente”. Voltou a falar de projetos, de

desafios, a vida voltara a ter cor de esperança. Chegou o dia da alta: dia de festa! Mas todos sabiam que o maior desafio começava agora. Por isso, os amigos e a família mantiveram uma aliança protetora, organizando momentos de convívio e interajuda onde Lucas sobressaía e podia voltar a sentir o prazer de viver. O tempo passou e Lucas já não precisava da ajuda dos amigos para querer apostar na vida. Contudo, o grupo não se desfez – não por causa de Lucas mas por causa deles: ao ajudar Lucas cada um dos amigos redescobriu o sentido da vida em unidade e reencontrou-se com o melhor de si, gerando um renovado prazer de viver, em ligação harmoniosa com os outros. Lucas renasceu, mas eles também.

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

POLÍCIA DA TAILÂNDIA DESCOBRE CAMPO DE ESCRAVOS Situado entre a Tailândia e a Malásia o campo escondia vítimas do tráfico humano. Segundo a polícia tailandesa, o campo era utilizado por uma rede transnacional de contrabando de migrantes da Birmânia e do Bangladesh, que eram vendidos como escravos. O fenómeno desenvolve-se na Tailândia porque as autoridades tailandesas consideram estes migrantes como “clandestinos” e

Do Gana apelo aos jovens: “Ficai em África” Líderes cristãos do Gana manifestam a sua preocupação perante as sucessivas tragédias que estão a ocorrer no Mediterrâneo.

Bispos americanos denunciam “indústria desumana” Os centros de detenção dos imigrantes dos Estados Unidos 8

não como “refugiados”. Por outro lado há funcionários tailandeses diretamente envolvidos no tráfico, de onde recavam lucros chorudos. Pensa-se que o montante do negócio ultrapasse os 220 milhões de euros, além de envolver organizações criminosas que operam no Sudoeste Asiático. Segundo o relatório de 2014 sobre o tráfico de seres humanos, do Departamento de Estado dos Estados Unidos da

“Sentimo-nos tristes com as notícias de tantos migrantes africanos que perecem nos desertos do Norte de África e no Mediterrâneo”. Os líderes lançam um desafio aos governos africanos: “Suplicamos com insistência aos governos africanos para fazerem tudo o que estiver ao seu alcance para criar as necessárias da América tornaram-se uma “indústria desumana”, denunciam os bispos americanos. De 1994 a 2013 passou-se de 85 a 440 mil imigrantes presos anualmente. “Chegou o momento de reformar este sistema desumano que

América, a Tailândia é dos países do mundo onde o fenómeno está numericamente mais espalhado. Homens, mulheres e crianças são obrigados a trabalhar sobretudo no mercado da prostituição, na indústria da pesca e dos têxteis. A comunidade internacional já exigiu que a Tailândia tome medidas mais eficazes para reprimir o tráfico de seres humanos.

condições socioeconómicas e políticas, oportunidades de emprego para a nossa inquieta e desocupada juventude”. Os líderes cristãos encorajam os jovens africanos a permanecer no seu próprio país e a trabalhar duramente para ganhar o pão de cada dia. E acrescentam na mensagem conjunta da Conferência Episcopal e do Conselho Cristão do Gana: “É uma ilusão pensar que a Europa e outros lugares fora de África garantem automaticamente conforto e prazer”. O Gana corre o risco de voltar a ser classificado como um país altamente endividado, apesar das suas receitas petrolíferas.

prende inutilmente as pessoas, particularmente as mais vulneráveis, e que não constituem uma ameaça”, afirmou o bispo auxiliar de Seattle, Eusébio Elizondo, presidente da Comissão Episcopal para as Migrações.


Sudão do Sul abandonado em busca de paz O povo do Sudão do Sul está abandonado a si próprio, enquanto neste jovem país reina a anarquia, lamentam os líderes cristãos numa declaração conjunta. “Domina a cultura da vingança e, quanto mais persiste a guerra, mais esta cultura se afirma”. A guerra civil que devasta o país desde dezembro de 2013 opõe o presidente e o ex-vice-presidente, respetivamente Salva Kiir e Riek Machar. Como consequência cresce o tribalismo, como denuncia a

No Paquistão muçulmanos e cristãos unidos Líderes de ambas as religiões juntaram-se para recriar a harmonia, a segurança e a

Crianças indianas sofrem de doenças pulmonares Cerca de 35 por cento das crianças indianas em idade escolar regista doenças pulmonares. Nova Delhi está na primeira linha da lista, segundo testes realizados recentemente. O teste consiste em medir a quantidade de ar nos

mensagem. “A apropriação de terras e as razias de gado estão a causar graves problemas. As minorias são marginalizadas e as formações mais numerosas dividem-se em grupelhos que nenhum governo consegue controlar”. Ambas as partes procuram uma solução militar: “Como duas crianças que medem forças, continuam a digladiar-se sem ter em conta as consequências”. Os líderes cristãos pedem à comunidade internacional que não suspenda as atividades humanitárias. A sua cessação puniria não o governo ou as fações em guerra, mas o povo do Sudão do Sul.

confiança entre os cristãos de Lahore atingidos pelos recentes atentados contra igrejas cristãs. O encontro reuniu intelectuais, estudiosos, representantes da sociedade civil e habitantes da região. Os participantes discutiram a situação religiosa do Paquistão e todos concordaram que “está em curso uma tentativa de aumentar os conflitos e as incompreensões entre os cidadãos cristãos e muçulmanos”. Os esforços de fóruns e organizações estão a desenvolver a harmonia religiosa no país. “Condenamos firmemente os atos de terrorismo e as mortes de seres humanos no Paquistão e noutros países do Médio Oriente”.

pulmões e calcular o oxigénio absorvido, assim como o anidrido carbónico libertado, individuando eventuais doenças pulmonares. Os resultados provisórios indicam que a função pulmonar está comprometida numa percentagem elevada de crianças.

A maior prova de amor

Não vos falo este mês de Roma, mas vou acenar brevemente ao Santo Sudário de Turim que o Papa Francisco visitará a 21 deste mês. Estive em Turim no dia 10 de maio para um momento de oração junto ao Sagrado Linho com o qual se diz ter sido amortalhado o corpo de Jesus e que conserva ainda hoje os sinais evidentes do contacto com o corpo morto dum homem que foi flagelado e coroado de espinhos, crucificado e trespassado por uma lança. Não entro aqui na polémica sobre a autenticidade ou não do Santo Sudário até porque como qualquer fotografia – o Sudário é de facto uma espécie de negativo fotográfico feita por contacto – o seu valor está não tanto no que é em si mas sim no que significa, e ele significa que são verdadeiras as palavras de Jesus: “não há maior prova de amor do que dar a vida pelos amigos”. Estive alguns minutos diante de tão extraordinária relíquia e a minha única reação foi de ação de graças porque Jesus por nosso amor aceitou padecer, morrer e ser amortalhado, e eu estava olhando para o Santo Sudário que é disso uma poderosa testemunha. Quem o visita sai dali mais forte na fé e no desejo de viver uma vida digna daquele que tanto nos amou.

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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a missão hoje

UM MUNDO COM MAIS SEDE À medida que a economia mundial cresce, o mundo vai ficando com muito mais sede. Num relatório das Nações Unidas publicado por ocasião do Dia Mundial da Água, 22 de março, perspetiva-se que em 2030, se não forem tomadas medidas desde já para reduzir a sua utilização, o mundo terá 40 por cento menos água doce. De acordo com o relatório, o “forte aumento dos rendimentos e melhoria dos padrões de vida de uma classe média em crescimento, levaram a fortes aumentos no uso da água, que podem ser insustentáveis, especialmente onde o seu fornecimento é vulnerável ou escasso”.

texto FRANCISCO FERREIRA*

Em setembro deste ano, a atenção estará focada nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, a serem adotados pelas Os fatores que impulsionam a procura de água incluem Nações Unidas em Nova Iorque, onde o 6º objetivo é assegurar a disponibilidade e a o aumento do consumo de carne, casas maiores, gestão sustentável da água e saneamento mais automóveis e camiões, mais eletrodomésticos consumidores de energia. para todos. Um desafio, que se espera seja também uma oportunidade e onde o nosso O crescimento da população e o aumento da contributo é também essencial urbanização também contribuem para o problema.

A procura de água pode duplicar em relação à taxa de crescimento da população mundial

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perfil solidário

A procura de água tende a crescer o dobro em relação à taxa de crescimento da população, pelo que com o aumento da população mundial para 9,1 mil milhões de pessoas até 2050, gerir os recursos hídricos será particularmente crítico. Mais pessoas a viverem em cidades tenderão a colocar pressão sobre o abastecimento de água, estimando-se que 6,3 mil milhões de pessoas, ou seja, cerca de 69 por cento da população mundial, viverá em áreas urbanas até 2050, contra os atuais 50 por cento. A agricultura, que utiliza cerca de 70 por cento das reservas de água doce do mundo, é o sector mais dramático, dado que é também aquele em que se verifica um uso menos eficiente deste precioso recurso. A ONU estima que perto de 800 milhões de pessoas ainda carecem de água potável, cinco anos depois de se atingir o Objetivo de Desenvolvimento do Milénio de redução para metade da proporção de pessoas sem acesso a água. A meta estipulada foi conquistada e superada em 2010, quando 89 por cento da população mundial conseguiu ter acesso a fontes de água, designadamente água canalizada, furos equipados com bombas e poços devidamente protegidos. O 7º Fórum Mundial da Água que recentemente teve lugar em Seul, na Coreia do Sul, deu destaque à necessidade de nas próximas décadas sermos capazes de construir um futuro seguro, garantindo o acesso à água e saneamento como instrumentos para melhorar o desenvolvimento, ultrapassando também as dificuldades que o transporte de água implica para muitas mulheres e crianças, dando-lhes acesso à educação e facilitando a prevenção de doenças. Num mundo que enfrenta as alterações climáticas, a segurança da água para fornecer alimentos e energia, para gerar um crescimento verde e sustentável e assegurar o funcionamento dos ecossistemas, é uma necessidade vital. Em setembro deste ano, a atenção estará focada nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, a serem adotados pelas Nações Unidas em Nova Iorque, onde o 6º objetivo é assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos. Um desafio, que se espera seja também uma oportunidade e onde o nosso contributo é também essencial. *Quercus Texto conjunto MissãoPress

VONTADE DE AJUDAR É o rosto da Cáritas em Portugal. Natural de Setúbal, casado e pai de dois filhos, Eugénio Fonseca, 57 anos, despertou ainda jovem para a importância de se fazer próximo do outro. Esta capacidade de se envolver não só nas coisas da Igreja, mas também nas do mundo, dando particular atenção aos mais carenciados, aprendeu-a com o então bispo de Setúbal, Manuel Martins. “Compreendi, de uma vez por todas, que a ‘fé sem obras é morta’ e pude testemunhar que o que me era dito não era mera pregação, mas prática vivida”, explicou, num texto quase biográfico, que escreveu para o Mensageiro de Santo António. “Muitas vezes dou comigo a falar com Deus sobre os dramas de quem perdeu o trabalho, vive na rua escravo da droga ou do álcool, está em risco de perder a casa ou não consegue comprar medicamentos. E a louvá-Lo pelo sorriso que brotou dos olhos de quem se libertou das teias da pobreza ou de qualquer dependência”, confessou no mesmo testemunho. Nomeado pela Conferência Episcopal Portuguesa, em 1999, para presidente da Cáritas Portuguesa, cargo que ainda exerce, faz parte também da direção da Confederação Portuguesa de Voluntariado. Em 2007 foi distinguido com a Ordem de Mérito de Grande Oficial, pelo Presidente da República. FP

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a missão hoje

JORNADAS MISSIONÁRIAS NACIONAIS

SIM À MISSÃO

texto ANTÓNIO LOPES* foto ANA PAULA As Jornadas Missionárias 2015 vão realizar-se em Fátima a 19 e 20 de setembro. O tema, “Missão mais além. Missão Ad gentes e Igrejas Particulares”, pretende celebrar os 50 anos do decreto ad gentes do Concílio Vaticano II e os cinco anos da carta pastoral dos bispos portugueses “Como eu vos fiz, fazei vós também. Para um rosto missionário da Igreja em Portugal”. O Papa Francisco, desde que foi eleito como sucessor de Pedro, não parou de incitar a Igreja a “abrir-se”, a chegar a todas as pessoas até nas mais longínquas “periferias existenciais”. O afrouxamento do impulso missionário é um dos pontos críticos para a Igreja Católica nas últimas décadas. Daí surgir inevitavelmente a necessidade e a urgência da evangelização ad gentes. Todos e cada um dos 12

cristãos têm de ser um sim à missão. Mas esse sim, dizia o Papa Bento XVI, na sua última mensagem para o Dia Mundial das Missões (2012), “pertence primeiramente aos bispos. Eles são os responsáveis diretos pela evangelização do mundo, quer como membros do colégio episcopal, quer como pastores das Igrejas particulares”. E citando o Papa João Paulo II na “Redemptoris Missio”, 63, continua: “Eles foram consagrados não apenas para a sua diocese, mas para a salvação de todo o mundo”. Também o Papa Francisco lançou um convite aos bispos, presbíteros, conselhos presbiterais e pastorais, a cada pessoa e a cada grupo responsável na

O Papa Francisco, desde que foi eleito como sucessor de Pedro, não parou de incitar a Igreja a “abrir-se”, a chegar a todas as pessoas até nas mais longínquas “periferias existenciais”

Igreja a darem o devido relevo à dimensão missionária nos programas pastorais e formativos com o propósito de “tornar-se testemunha de Cristo diante das nações”, diante de todos os povos.

Como fazer?

A carta pastoral, “Para um rosto missionário da Igreja em Portugal” no nº 20 e 21, aponta caminhos concretos: “Fazer surgir na Igreja portuguesa Centros Missionários Diocesanos (CMD) e grupos missionários paroquiais que possam fazer com que a missão universal ganhe corpo em todos os âmbitos da pastoral e da vida cristã”. E “aconselha-se vivamente que o CMD seja constituído em todas as dioceses de Portugal em ordem a imprimir uma dinâmica missionária a toda a atividade diocesana”. * Diretor Nacional das Obras Missionárias Pontifícias (OMP)


destaque

DO HAITI AO NEPAL: OS ERROS A NÃO REPETIR

texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA Num momento em que o Nepal foi atingido, pela segunda vez, por um terramoto que abalou as já debilitadas estruturas do país fortemente danificadas semanas antes, um debate internacional está em curso sobre a melhor forma de fazer chegar a ajuda humanitária às populações, evitando erros do passado. Como cenário de fundo está a experiência dramática desenvolvida há cinco anos, no Haiti, onde cerca de 85 mil pessoas ainda residem em acampamentos temporários. Como refere Prospery Raymond, um especialista haitiano em ajuda humanitária, citado pelo jornal inglês The Guardian, as diferenças entre o Haiti e o Nepal são assinaláveis. O terremoto de 2010, no Haiti, matou aproximadamente 220 mil pessoas, causou cerca de 1,5

milhão de desalojados e destruiu ou danificou 300 mil edifícios. Embora o número de mortos no terramoto do Nepal possa atingir, segundo o governo, cerca de 10 mil, a devastação atingiu um maior número de pessoas: oito milhões. No entanto, segundo aquele especialista, existem algumas lições deixadas pela experiência no Haiti e que poderiam ser postas em prática no Nepal. A entrega de fundos para a reconstrução às comunidades locais, a melhoria da articulação entre agências humanitárias estrangeiras e nepalesas, a realização de reuniões de coordenação em língua local, o envolvimento das populações na gestão dos projetos de reconstrução sustentável do país, a valorização do papel das populações nas tarefas

Apesar da urgência da primeira ajuda, as discussões salientam também a importância dos desafios que os nepaleses vão enfrentar depois das atenções dos media e de a “diplomacia humanitária” se voltar para outros assuntos

de ajuda após o terramoto, a aposta nas redes sociais e nas comunidades de nepaleses no estrangeiro, o combate à corrupção são algumas de entre as muitas das recomendações efetuadas.

Diplomacia humanitária

Apesar da urgência da primeira ajuda, as discussões salientam também a importância dos desafios que os nepaleses vão enfrentar depois das atenções dos media e de a “diplomacia humanitária” se voltar para outros assuntos. Os media acorreram em força, mas o foco parece mais centrado na cobertura noticiosa sobre a presença dos nacionais na região, ou na busca das imagens fortes de pessoas resgatadas dos escombros, do que na dimensão do problema e nos esforços para a população se reerguer da tragédia. Nos primeiros dias, alguns países acorreram a anunciar as suas intenções de auxílio, muitas vezes para salvaguardar os seus interesses na região. Por exemplo, a Índia apressou-se a enviar um assinalável contingente para o Nepal, numa decisão que foi vista como uma estratégia para comprometer o vizinho Paquistão. Do mesmo modo, vários países preparam-se para anunciar os montantes da ajuda humanitária ao Nepal, mas a experiência do Haiti demonstra o quanto estas medidas poderão revelar-se ilusórias. De acordo com os números divulgados pela ONU, apenas 53 por cento dos cerca de 4,5 mil milhões de dólares prometidos ao Haiti pela comunidade internacional para projetos de reconstrução a realizar de 2010 a 2012 foram desembolsados. E das verbas disponibilizadas só uma ínfima parte chegou às entidades e às empresas locais.

A experiência vivida no Haiti, há cinco anos, está a ser usada para melhorar a assistência humanitária

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atualidade

MOÇAMBIQUE Plano envolve os governos do Brasil e do Japão

Projeto abrange uma área de 14 milhões de hectares nas províncias do Niassa, Nampula e Zambézia

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ATIVISTAS CONTESTAM MEGA-PROJETO AGRÍCOLA O governo moçambicano quer transformar o corredor de Nacala numa espécie de campo intensivo de produção agrícola, com a ajuda dos governos brasileiro e japonês. Alega que irá reforçar o papel dos pequenos e médios agricultores e promover o desenvolvimento sustentável. Um argumento contestado pelas organizações de camponeses e movimentos da sociedade civil, que temem consequências graves para o país e para a população local texto FRANCISCO PEDRO fotos ANA PAULA

O modelo, inspirado no projeto de desenvolvimento agrário aplicado no cerrado brasileiro, está a ser encarado com grande expectativa pelos grandes empresários do agro negócio, mas com muitas reservas por parte das organizações de camponeses e ativistas moçambicanos. Enquanto o governo acena com a bandeira do desenvolvimento sustentável, a sociedade civil alerta para o perigo da usurpação de terras, degradação da biodiversidade e destruição da agricultura familiar. Para se perceber melhor o que está em causa, nada como recuar até 2009, data em que os governos de Moçambique, Brasil e Japão assinaram um acordo para implementar o chamado Programa de Cooperação Tripartida para o Desenvolvimento Agrícola da Savana Tropical em Moçambique (ProSavana). O projeto desenvolve-se no corredor de Nacala, abrange 14 distritos das províncias de Niassa, Nampula e Zambézia, numa área de cerca de 14 milhões de hectares, e pode afetar a vida de 4,5 milhões de moçambicanos, muitos deles dependentes da agricultura de subsistência. No documento base, que recentemente chegou à fase de Junho 2015

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discussão pública, os objetivos estratégicos estão bem definidos. Com o ProSavana, pretende-se “melhorar as condições de vida da população, através de um desenvolvimento agrícola regional sustentável e inclusivo; melhorar e modernizar a agricultura com vista a um aumento da produtividade e diversificação da produção agrícola; gerar emprego através de investimentos agrícolas e do estabelecimento de cadeias de valor; criar novos modelos de desenvolvimento agrícola, tendo em conta os aspetos ambientais e sócio-económicos, procurando o desenvolvimento agrícola rural e regional orientado para o mercado, com vantagens competitivas”. As potencialidades do projeto já despertaram o interesse dos investidores estrangeiros. No Brasil, por exemplo, Cleber Guarany, coordenador da Fundação Getúlio Vargas Projetos, classifica

A União Nacional de Camponeses (UNAC), que representa mais de 100 mil agricultores, também discorda do projeto, que considera ser o “resultado de uma política que vem do topo para a base, sem ter em consideração as necessidades, sonhos e anseios dos camponeses”. Tendo em conta a forma como foi elaborado o plano, a organização teme que a sua concretização leve ao “surgimento de Comunidades Sem Terra em Moçambique, como resultado dos processos de expropriações de terras e realojamentos, o empobrecimento das comunidades rurais e redução de alternativas de sobrevivência”

O corredor de Nacala é ocupado sobretudo por camponeses, que podem vir a perder as suas terras

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o corredor de Nacala como “a melhor área para desenvolver agricultura no continente, com retornos estimados entre 18 e 23 por cento ao ano”. “São 14 milhões de hectares, com potencial para produzir arroz, soja, milho, algodão, girassol e amendoim, que podem valer-se de uma infraestrutura privilegiada: o porto de Nacala, o maior de águas profundas da costa oriental da África”, sublinha o dirigente, citado por uma revista da especialidade.

Desequilíbrio ecológico

As organizações e movimentos civis, porém, têm outra visão do programa e estão preocupadas com o reverso da medalha, já que quase todas as terras do corredor de Nacala estão ocupadas por camponeses, que tiram partido da fertilidade do solo e da chuva em abundância para produzir alimentos que asseguram a sobrevivência de milhões de famílias. Ou seja,


para Anabela Lemos, diretora da Justiça Ambiental – Amigos da Terra Moçambique, o objetivo do ProSavana é “afastar os agricultores da agricultura itinerante e técnicas tradicionais de gestão de terras para os fazer adotar técnicas de cultivo intensivo à base de sementes comerciais, fatores de produção químicos e títulos de propriedade privada, empurrando-os para um regime de produção por contrato com empresas agrícolas e transformadoras”.

Sem Terra em Moçambique, como resultado dos processos de expropriações de terras e realojamentos, o empobrecimento das comunidades rurais e redução de alternativas de sobrevivência, o aumento da corrupção e de conflitos de interesse, a poluição dos recursos hídricos como resultado do uso excessivo de pesticidas e fertilizantes químicos, e o desequilíbrio ecológico com o abate de extensas áreas florestais para dar lugar aos projetos de agronegócio”.

A União Nacional de Camponeses (UNAC), que representa mais de 100 mil agricultores, também discorda do projeto, que considera ser o “resultado de uma política que vem do topo para a base, sem ter em consideração as necessidades, sonhos e anseios dos camponeses”. Tendo em conta a forma como foi elaborado o plano, a organização teme que a sua concretização leve ao “surgimento de Comunidades

Apelo à resistência

Num comunicado a que a FÁTIMA MISSIONÁRIA teve acesso, os missionários Combonianos de Itália e da Europa vão mais longe nos seus receios e comparam o plano tripartido com a chamada grilagem de terra – um processo ilícito de apropriação de terrenos públicos que se tornou muito popular no Brasil. “O governo de Maputo disse que este projeto servirá para os pequenos agricultores e para alimentar o povo, quando sabe muito bem que vai usar muito pouca mão de obra local, pois vão ser utilizados meios de alta tecnologia, e o produto final será destinado exclusivamente à exportação”, advertem os religiosos. Em completo desacordo, não só com o projeto, mas também com a forma como decorreu o processo de auscultação pública do Plano Diretor, estão também a Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz de Nampula e a Ação Académica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais (ADECRU), que exigem, em conjunto, a suspensão e invalidação imediata da fase de discussão popular do documento. “O programa ProSavana e o conexo processo de auscultação pública do Plano Diretor é uma afronta à conquista histórica dos camponeses e das comunidades locais moçambicanas que lutaram pela libertação da terra e dos homens e

mulheres que resistiram contra a ocupação estrangeira em mais de 500 anos”, afirmam os responsáveis das duas organizações, incitando o povo moçambicano a “resistir implacavelmente” à temida ocupação das terras e possível expulsão das comunidades camponesas, para promoção do “agronegócio brasileiro e japonês”. Para os membros da Comissão Justiça e Paz de Nampula e da ADECRU, o referido Plano Diretor assenta numa metodologia “elementar e fraudulenta”, e “revela que os seus proponentes desconhecem profundamente o contexto, os entraves e prioridades para o desenvolvimento da agricultura em Moçambique”. “O documento assume a produtividade agrícola como o objetivo central, mas ao dimensionar as causas da baixa produtividade, aponta a agricultura de pousio como o principal fator. Ora tal conclusão é falaciosa, manipuladora e baseia-se num suporte científico bastante frágil e tendencioso, pois a agricultura de pousio é o principal fator da conservação da fertilidade dos solos e por via disso do aumento da produtividade, como vários estudos constataram nos ganhos obtidos nas duas últimas décadas nas culturas de milho, feijão e amendoim”. Em síntese, Anabela Lemos antevê consequências desastrosas para a população, caso o projeto ProSavana vá mesmo por diante, tal como está desenhado. “Os camponeses representam 80 por cento da mão de obra em Moçambique e alimentam 90 por cento do país. O que querem fazer é destruir isto tudo para implementar o agronegócio em grandes quantidades e pô-lo nas mãos das companhias multinacionais”, alerta a diretora da Justiça Ambiental.

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dossier

REPORTAGEM Tens達o entre as duas Coreias aos olhos do soldado Lim

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CONTRA O INVASOR NORTE-COREANO, O SOLDADO LIM RESISTIRÁ. ATÉ A GOLPES DE TAEKWONDO A guerra entre as Coreias acabou em 1953, mas um tratado de paz continua por assinar. Na fronteira oficiosa, militares dos dois lados vigiam-se, a poucos metros de distância. Apesar da história e cultura comum, os seus países transformaram-se em casos extremos, com um fechado e empobrecido, a Coreia do Norte, e o outro aberto ao mundo e cada vez mais rico, a Coreia do Sul texto e foto LEONÍDIO PAULO FERREIRA*

Se houver nova invasão norte-coreana, como em junho de 1950, o soldado Lim promete resistir. “Até a soco e pontapé, se for preciso”. Cinturão negro de taekwondo, faz parte da unidade de elite do exército sul-coreano colocada na DMZ, a zona desmilitarizada que desde o fim da guerra em 1953 serve de fronteira oficiosa entre dois países que partilham uma história, uma cultura e uma língua, mas que a ideologia divide. A norte do Paralelo 38 sobrevive um regime comunista, que vai já numa dinastia com três Kim, enquanto a sul brilha a 11.a economia mundial, um país tão admirado pela sua adesão à democracia como pelo sucesso tecnológico da Samsung ou da LG. Parecem estátuas os militares sul-coreanos colocados na linha de demarcação em Panmunjom, local onde se assinou o armistício. Até os óculos de sol servem para ocultar o piscar de olhos e reforçar a sensação de imobilidade. De pernas ligeiramente afastadas e punhos fechados, exibem uma posição de taekwondo, a arte marcial inventada pelos coreanos. Aqui, na chamada fronteira mais perigosa do mundo, não é um desporto, mas sim arma de guerra. Mais uma. É que se em Panmunjom, onde ficam os pavilhões azuis que servem para as raras negociações, só se pode usar pistola, ao longo dessa faixa de quatro quilómetros de largura que constitui a DMZ e que corre ao longo de 250 quilómetros desde o mar do Japão (Oriental, para os coreanos) até ao mar amarelo é incalculável o armamento pesado. Basta lembrar que há mais de um milhão de homens em armas no norte e outros 600 mil no sul. Além das armas nucleares do regime dos Kim.

“Somos a unidade mais bem treinada das Forças Armadas da República da Coreia. Preparados para tudo”, diz, num tom marcial, mas cheio de orgulho, o soldado Lim. Serve de guia a um grupo de jornalistas estrangeiros, que têm de obedecer a regras estritas no que diz respeito a movimentações e fotografias. Apesar deste tipo de visitas ser habitual, e até há a hipótese de turistas virem até à DMZ, não deixa de ser uma fronteira perigosa e a verdade é que no outro lado da linha de demarcação um militar norte-coreano observa tudo o que se está a passar. No passado, houve mesmo incidentes graves em Panmunjom. Em 1976, por causa de uma tentativa de cortar uma árvore que impedia a visão de um posto de observação, um capitão americano foi morto à machadada por soldados norte-coreanos. E em 1984, aquando da visita de uma delegação soviética à parte norte, um homem atravessou a fronteira a correr para pedir asilo político ao sul e foi perseguido. Na troca de tiros, morreram vários militares. Oficialmente, Panmunjom é um campo da ONU, cujas forças entre 1950 e 1953 combateram pela Coreia do Sul. Mas hoje a esmagadora maioria dos militares aqui colocados são sul-coreanos, todos donos de um inglês impecável, no mínimo com 1,77 metros (diz-se que para não fazerem má figura junto dos americanos) e senhores de um cinturão negro de taekwondo, tal como Lim. A servir também de guia está um americano, o capitão Egee. Está Junho 2015

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na Coreia desde novembro e é de Nashville, no Tennessee. “Estamos de certeza a ser vigiados por binóculos a partir dos postos de observação norte-coreanos. Nada de movimentos bruscos”, alerta o capitão Egee. Continuam milhares de americanos em bases na Coreia do Sul para dissuadir nova tentativa de reunificação pela força, hoje improvável dadas as reticências russas e chinesas em apoiar o seu antigo aliado. E se parte da opinião pública sul-coreana preferia ver o país livre de tropas estrangeiras, há quem recorde que foi a América e os seus aliados que travaram o comunismo. Em Busan, no extremo meridional da Coreia do Sul, situa-se o único cemitério da ONU no mundo. Seul, a capital sul-coreana, fica a 50 quilómetros da fronteira e durante a guerra de 1950-1953 foi conquistada duas vezes pelas forças do norte, apoiadas por voluntários chineses. É bizarro o quanto normal é ali a vida, num cenário de arranha-céus, ecrãs gigantes da Samsung e torres de igrejas (a Coreia do Sul é um dos países mais cristãos da Ásia). Como se ninguém acreditasse nas ameaças bélicas de Kim Jong-un, o líder de um país empobrecido ainda que bem armado. “Ali está Kijongdong”, indica o soldado Lim. É a aldeia norte-coreana mais próxima da linha de demarcação, não longe da ponte do não-retorno, que em 1950 serviu para trocar prisioneiros de guerra. Um mastro de 160 metros de altura mostra uma gigantesca bandeira norte-coreana. Na parte sul, há um mastro idêntico, mas de apenas 100 metros. Os governantes de Seul desistiram de competir nesse aspeto com o de Pyongyang. Preferem que a sul do famoso Paralelo 38 haja prosperidade em vez da penúria, e muito provavelmente também fome, que existe a norte. *em Panmunjom, jornalista do DN

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SETE DÉCADAS DE DIVISÃO

1945 Depois de várias décadas

de colonização japonesa, a Coreia é libertada no final da Segunda Guerra Mundial. Com as tropas soviéticas a Norte e as americanas a Sul, é preciso decidir que exército dos Aliados vai aceitar a rendição dos japoneses. À pressa, sob pressão dos superiores hierárquicos, um oficial americano olha para um velho mapa

As duas Coreias

encontrado numa revista ‘National Geographic’ e escolhe o Paralelo 38 como divisória.

1948 Já desfeitas as alianças criadas na Segunda Guerra Mundial, o clima é de confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética, cada qual liderando um bloco geopolítico. Com a Guerra Fria a adivinhar-se, os comunistas liderados por Kim Il-Sung proclamam a República Popular Democrática da Coreia, mais conhecida como Coreia do Norte, enquanto a Sul, sob inspiração

Coreia do Norte

Coreia do Sul

População

24,7 milhões

48,9 milhões

Líder

Kim Jong-un

Park Geun-hye

PIB por habitante

1800 dólares

32400 dólares

Esperança média de vida

69,2 anos

79,3 anos

Forças armadas

1,2 milhões de efetivos

655 mil efetivos


americana, é criada a República da Coreia, vulgo Coreia do Sul.

1950 Incentivadas pela União

Soviética e pela China, as tropas de Kim Il-Sung tentam a reunificação da península coreana através da força. Conquistam Seul e avançam para sul, só sendo travadas em Busan. Na ONU, aproveitando a ausência do embaixador de Moscovo, é votada uma intervenção militar em auxílio da Coreia do Sul. Mais de 90 por cento das tropas envolvidas são americanas, mas dezena e meia de países participam também, caso do Reino Unido, da Nova Zelândia, da Tailândia, da Turquia ou da Etiópia. O desembarque em Busan permite às tropas sob bandeira da ONU reconquistar Seul, tomar Pyongyang e avançar até à fronteira chinesa. É então que centenas de milhares de voluntários chineses entram no conflito.

1953 Em Panmunjom, aldeia

abandonada localizada no Paralelo 38, representantes da

Coreia do Norte e da ONU assinam um armistício, mas não um tratado de paz. É criada uma zona desmilitarizada entre as duas Coreias e a nova fronteira é quase igual à de 1945.

1961 O general Park Chung-hee toma o poder e governará a Coreia do Sul até ser assassinado em 1979. No início, a Coreia do Sul é mais pobre do que a do Norte, onde existe minérios e que alojava a indústria pesada criada pelos colonizadores japoneses, mas as medidas de Park de incentivo aos Chaebol (grupos empresariais gigantes, como a Samsung ou a Hyundai) e de aposta na exportação trouxeram um verdadeiro milagre económico. 1988 A Coreia do Sul organiza

os Jogos Olímpicos e confirma a adesão à democracia.

1994 Morre Kim Il-Sung, sucede-lhe o filho Kim Jing-il. São anos de más colheitas na Coreia do Norte, com a fome a matar milhares.

A economia sofre também com o fim da ajuda soviética.

2000 Antigo preso político, Kim Dae Jung não só se faz eleger presidente sul-coreano como promove uma cimeira com Kim Jong-il. Três anos depois recebe o Nobel da Paz.

2006 Coreia do Norte faz testes nucleares. 2011 Morre Kim Jong-Il, sucede-lhe o filho Kim Jong-un. A Coreia do Norte, apesar das origens comunistas, é cada vez mais uma república dinástica ultranacionalista.

2013 Park Geun-hye, filha do

general Park, é eleita presidente da Coreia do Sul.

2015 Relações entre as duas Coreias

são quase inexistentes. A do Sul vai tornar-se 11.a economia mundial. A do Norte é considerada a nona nação a adquirir o estatuto de potência nuclear.

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mãos à obra

PROJETO DE BIOGÁS ILUMINA CASA DE CRIANÇAS

Aproveitamento de efluentes para transformação de energia permite iluminar as noites de estudo de dezenas de menores, alimentar a bomba de um poço e a cozinha da instituição. Os resíduos finais são aproveitados para fertilizar as plantações texto FRANCISCO PEDRO foto DR Um só projeto, vários objetivos. Criado em 1998, nos arredores de Nairobi, no Quénia, o centro de acolhimento Família ya Ufariji – Casa da Consolação em swahili – assegura alojamento, alimentação, educação e assistência médica a

seis dezenas de crianças órfãs ou abandonadas pelos pais. Muitas, apesar da tenra idade, carregam já um passado traumático de violência, abusos e exposição à pobreza extrema. São por isso convidadas a frequentar cursos de formação profissional, que lhes permitam colaborar na manutenção da casa e, ao mesmo tempo, lhes garantam as competências profissionais exigidas pelo mercado de trabalho. Neste âmbito, e partindo do desafio de “preservar a vida que a terra nos dá”, os Missionários da Consolata desenvolveram um projeto de transformação de resíduos em biogás, que permite à instituição reduzir custos na fatura da energia e serve para sensibilizar os jovens utentes para a importância das energias renováveis e da preservação do meio ambiente. O programa foi iniciado em 2013, custou 8.000 euros e foi financiado na totalidade pelo Instituto Missionário da Consolata (IMC): uma parte pela Missioni Consolata

Onlus e a outra pela Região da América do Norte do IMC. No âmbito deste projeto, foi criada uma estrutura para aproveitamento dos efluentes do centro e dos resíduos produzidos pelas seis vacas e três bezerros existentes na fazenda da instituição. O biogás conseguido através deste processo contribui para reduzir a dependência de fornecedores externos, diminuir os custos de manutenção e obter fertilizantes naturais, ricos em nutrientes. “Como os jovens estiveram envolvidos ativamente no desenvolvimento e implementação do projeto, ficaram a conhecer um pouco mais sobre as diferentes formas de energia renovável e limpa e tornaram-se mais conscientes em relação às questões da preservação do meio ambiente, sustentabilidade e redução da dependência energética”, realçam os responsáveis pelo centro de acolhimento de Kahawa oeste.

A energia renovável serve também para alimentar os equipamentos da cozinha da instituição

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testemunho de consagrado

“A VOCAÇÃO CONSAGRADA DEVE SER FECUNDA” Francisco Sales Diniz, 51 anos, é natural da Ilha Terceira, Açores. Pertence à Ordem dos Frades Menores, mais conhecida por Ordem Franciscana e é diretor da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos e assistente espiritual da Obra Católica Portuguesa de Migrações, a qual dirigiu durante vários anos texto FRANCISCO PEDRO foto DR

FÁTIMA MISSIONÁRIA A sua vocação surgiu de forma espontânea ou foi impulsionada por algum testemunho que o marcou? Francisco Sales Desde muito jovem sempre me senti inquieto com a causa dos pobres. Apesar de em criança ter posto a hipótese de ir para o seminário, a vocação sacerdotal e religiosa só surgiu na idade adulta. Sendo filho de uma família numerosa, aos 11 anos tive de começar a trabalhar numa carpintaria. Fui um jovem como qualquer outro que sonhava casar e ter uma família própria e, por isso, comprei uma casa para esse fim. Após vários namoros, próprios da adolescência e juventude, vivi uma relação de namoro com uma jovem com quem pensava casar. Durante o serviço militar, ao confrontar-me com outros jovens, destruídos pela droga, pelo álcool e outras situações degradantes, comecei a questionar-me sobre o sentido da vida. Isto levou-me a um vazio interior intenso e nada, nem mesmo a minha namorada, conseguia preencher. Um dia, ao olhar para um calendário das Missões Franciscanas senti que era ali o meu caminho. Tomei a decisão de fazer o “corte” com a vida que levava até àquele

momento: trabalho, namorada, casa, família, e lançar-me na aventura de seguir Jesus no caminho de fraternidade universal inspirado por Cristo a Francisco de Assis. FM Tenta também ser ‘semente’ para novas vocações? FS Uma vocação realizada e feliz tem que ser polo de atração para novas vocações. Podemos comparar esta realidade com um casal que vive feliz um fecundo matrimónio e, por isso, gera filhos. Também a vocação consagrada deve ser fecunda e deve gerar vida, ou seja, outras vocações. Eu procuro que a minha vocação seja fecunda, que contribua para o surgimento de outras vocações, não só através da ação pastoral mas, sobretudo, através do testemunho de uma vida realizada e feliz no seguimento de Jesus e na fidelidade ao carisma da Ordem Franciscana a que pertenço.

Em muitas situações são as instituições da Igreja e da sociedade civil que suprem as lacunas no apoio que é devido aos emigrantes e que deveria ser responsabilidade do Estado acolhimento dos imigrantes que continuam a chegar, oriundos de países em piores situações do que o nosso. A principal falha tem sido em relação aos emigrantes portugueses que, em diversos países viram os serviços de apoio consulares serem suprimidos ou reduzidos devido aos cortes orçamentais. Em muitas situações são as instituições da Igreja e da sociedade civil que suprem as lacunas no apoio que é devido aos emigrantes e que deveria ser responsabilidade do Estado.

FM Estando familiarizado com a emigração, Portugal está melhor preparado para lidar com os imigrantes? FS Penso que Portugal está preparado e tem dado boas respostas no que se refere ao Junho 2015

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gente nova em missão

SEM MEDOS Na escola ou em casa, vamos alinhar na equipa de Jesus COMPETIÇÃO

Olá amiguinhos missionários! Já estamos em junho, mês bom de calor, santos populares e sardinhadas. Desta vez queremos falar-vos do tema competição. Da boa e da má competição, daquela que faz bem, na equipa de Jesus, e daquela que faz mal e destrói o ser humano

Diz o dicionário: “Concorrer ou disputar (algo) com outra pessoa; participar numa competição; batalhar por algo ou alguém contra um rival; contender, litigar ou rivalizar. Fazer parte de uma disputa ou de uma partida desportiva”. Não pensem que é sempre mau, não é assim. Competir pode ser bom e está na nossa natureza humana, mas deve servir um propósito, batalhar contra o mal, promover a alegria e o amor, aproximar-nos de Deus, e por isso temos de escolher a equipa certa de que fazer parte.

texto ÂNGELA E RUI ilustração RICARDO NETO

FAZER PARTE DE UMA EQUIPA, QUAL ESCOLHES?

Atualmente a sociedade incita à individualização, a competirmos para sermos os melhores. No emprego, onde os recursos humanos usam técnicas de conflito para aumentar a produtividade; na escola, onde vale tudo para se chegar onde se pretende; no desporto, onde a violência psicológica é arma de incentivo; e na família, onde muitas vezes se quer mostrar que se vive melhor, que se tem mais dinheiro e que os filhos são os melhores. Nada disto poderia estar mais errado quando queremos construir o nosso caminho para Jesus. Nada poderia ser menos missionário. Nada poderia contribuir mais para a depressão, a frustração e a falta de amor. Competir pode ser bom, mas tem de ser na equipa de Jesus. Porquê? Porque o treinador desta equipa ensina-nos a dar o melhor de 24

nós próprios em tudo, mas sem nos esquecermos do outro, e que este esforço pessoal deve ser para servir o outro e o fazer feliz. Por isso, o importante não é ganhar a medalha no final, mas é a alegria do caminho, as horas dedicadas, os sorrisos e as lágrimas, a oração sempre presente para pedirmos mais alento, mas também para

agradecer, o sentirmos que estamos mais próximos do amor que o nosso Pai tem por nós e que o dom que Ele nos ofereceu frutifica.


O MEU MOMENTO DE ORAÇÃO

A RECOMPENSA VÊ-SE EM NÓS, FELIZES E REALIZADOS

Ao trabalharmos os nossos dons individuais em equipa e para a equipa, em família, na escola, na catequese ou no desporto, a recompensa aparece no nosso coração. Só desta maneira conseguimos realização e alegria. Uma prova disto é a quantidade de estrelas do desporto e das

SABIAS QUE

Disse o Papa Francisco na vigília de oração com os jovens no Rio de Janeiro, a 27 de julho de 2013: “Jesus pede-nos que o sigamos por toda a vida, pede que sejamos seus discípulos, que ‘joguemos no seu time’.”

artes que vemos a suicidarem-se, a afogarem-se em drogas, a levar uma vida errante. Não tenham medo, na equipa de Jesus há lugar para todos. Ele nos aconselha assim: “Se alguém te tirar a túnica, dá-lhe também a capa; e se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas” (Mt 5, 40-41).

Amigo Jesus: Às vezes é difícil não ceder às regras desta sociedade Não querer ser o melhor e troçar do outro Aproveitar as suas fraquezas para o ultrapassar Abandonar o colega que fica para trás Perdoa-me Não é assim que Tu nos ensinas Eu quero fazer parte da Tua equipa E Tu és um treinador paciente Com esforço sei que vou conseguir E ser feliz no jogo, mesmo que tenha de voltar à casa de partida E festejar quando o outro consegue ganhar, porque ganhamos todos contigo Sem Ti perdemos todos e isso não pode ser Aumenta a minha fé e sê a minha força nos momentos mais duros Contigo vou conseguir Ámen! Pai-Nosso… Glória…

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tempo jovem

FAZER BEM texto ÁLVARO PACHECO foto LUSA Vivemos num mundo muito conturbado, com tantas situações de dor e injustiças, de corrupção e miséria, de desrespeito pelos direitos básicos de cada ser humano, de tal forma que muitas pessoas dizem já nem ver os noticiários porque,

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precisamente, estes só falam de desgraças. Mas mesmo assim, não deixo de os ver, até porque relatam o que o ser humano vai fazendo neste belo mundo que é o nosso. Certo, as desgraças são imensas e todos os dias se juntam muitas novas às que já conhecemos. Outras só são notícia quando atingem proporções terríveis e preocupantes, como o drama de milhares e milhares de

pobres e refugiados que atravessam diariamente o Mar Mediterrâneo em busca de uma vida digna, escapando da miséria e da morte. Este é só um de muitos exemplos que podemos citar, porque há imensos casos de abusos e formas de opressão que fazem parte do quotidiano de muita gente em muitos países desde sempre: tráfico humano, tráfico de armas e drogas,


Deus semeou em cada ser humano as sementes do amor, da paz, da justiça, do perdão e da solidariedade. Toca a cada um de nós fazê-las crescer e dar fruto. Sim, porque um outro mundo é possível

racismo e ataques desnecessários ao ecossistema, só para mencionar alguns. Outras só são notícia quando se revelam como tragédia verdadeiramente dramática, como os tsunamis ou terramotos (Haiti, Tailândia e mais recentemente Nepal), mas passadas umas semanas caem no esquecimento de todos, exceto na preocupação dos que continuam a sofrer os efeitos dessas mesmas tragédias. Quando são feitas análises e comentários a estes e outros problemas, os especialistas reúnem-se todos à volta de um mesmo objetivo: analisar as causas desses mesmos problemas. E não só: apresentam também soluções para a sua resolução. Infelizmente, a maior parte destes especialistas ou comentadores pouco ou nada podem fazer para solucionar os problemas. Sabemos a quem toca esta tarefa, mas é aqui que surge outro problema: nem todos analisam as coisas da mesma maneira, ou seja, os problemas são vistos, interpretados e sentidos de forma diferente, muitas vezes de forma radicalmente oposta. Esta atitude é mais facilmente detetada quando se trata de problemas ou tragédias causadas por intervenção humana. Na minha opinião, uma das soluções para estes problemas era que cada um fizesse bem o que tem de fazer, sobretudo os que têm poder de decisão, mas também cada um de nós, a todos os níveis, não só profissional. Ou seja, se sou padre, devo fazer os possíveis por ser bom no que faço, tendo em conta uma máxima muito importante que se encontra em muitas culturas e que Jesus mencionou nos seus ensinamentos: “Faz aos outros o que queres que te façam a ti”.

família, de médicos a professores e advogados, de jovens a idosos e assim por diante. Fazer bem o que temos de fazer significa fazê-lo com retidão, com seriedade e empenho, com sentido de justiça e pelo bem comum. A meu ver, 90 por cento do males que há no mundo seriam facilmente evitáveis ou reduzidos se cada um fizesse bem o que deve fazer. Porque o que fazemos tem impato na vida dos outros, seja de forma direta ou indireta. Somos todos membros desta aldeia global, por isso as decisões que hoje são tomadas na China ou Estados Unidos da América têm impacto em cada um de nós, mesmo que indiretamente. Ora, se todos fizermos e dermos o melhor de nós, com responsabilidade e sentido de justiça, haverá menos corrupção, menos abusos e discriminações, menos violações dos direitos humanos, menos dor e sofrimento, menos lágrimas e morte. E Deus semeou em cada ser humano as sementes do amor, da paz, da justiça, do perdão e da solidariedade. Toca a cada um de nós fazê-las crescer e dar fruto. Sim, porque um outro mundo é possível. Como dizia o fundador do Instituto Missionário da Consolata, o beato Allamano, “o bem deve ser bem feito.” E mais ainda: “O bem não faz barulho e o barulho não faz bem.” Ou seja, como Maria devemos colocar-nos ao serviço do outro na humildade, na simplicidade e despojados do orgulho e vaidade que podem distorcer as motivações do bem que fazemos.

Ser bom no que faço significa que assumo a responsabilidade dos meus compromissos para com o meu próximo: isto vale para todos, desde reis a presidentes, desde primeiros-ministros a pais de Junho 2015

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sementes do reino

ASSIM É O REINO texto PATRICK SILVA foto LUSA É tudo uma questão de sementes. Jesus, que bem conhece a realidade agrícola do seu tempo, usa frequentemente imagens simples para explicar as realidades divinas. A realidade do Espírito tem as suas dinâmicas, os seus ritmos, que vale a pena conhecer.

Leio a Palavra Mc 4, 26-34

É interessante ver como Jesus encontra nas coisas simples da vida elementos para ajudar a entender

as realidades do Reino de Deus. As duas parábolas partem de elementos simples e concretos, mas convidam a audiência a reagir, a interrogar-se sobre o que apenas foi dito. Neste trecho do Evangelho encontramos duas pequenas histórias: a semente que cresce sozinha e a pequena semente que crescendo se torna grande. A primeira parábola apresenta as ações do agricultor de semear e ceifar, mas concentra-se no que acontece entre essas duas realidades, que não depende do agricultor, mas faz parte da vitalidade da semente. O ensinamento é que o Reino de Deus não depende de esforços humanos, mas é uma ação divina.

A segunda parábola apresenta o contraste entre a pequenez da semente e a sua realidade quando se torna uma árvore. O ensinamento é que o Reino de Deus pode parecer agora uma realidade pequena e insignificante, mas estará em toda a parte.

Saboreio a Palavra

O Reino de Deus é uma certeza. Pode parecer que está sumido, mas na verdade Deus está agindo na história e a realidade desse Reino irá demostrar toda a sua “força”. Assim, o convite é a confiar, a ser paciente. Deus está em ação. Aos olhos do mundo o Reino parece insignificante, mas com a sua vitalidade tornar-se-á uma realidade que abarca tudo e todos.

Rezo a Palavra

Senhor Jesus, obrigado pela tua Palavra que é uma preciosa ajuda para entender a tua vontade. Faz que o teu Espírito ilumine as nossas ações e nos dê a força de realizar o que a tua Palavra nos ajudou a entender.

Vivo a Palavra

A parábola, porém, oferece uma perspetiva diferente: a semente é plantada pelo agricultor, mas é o Senhor quem a faz nascer e crescer

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A parábola convida à paciência, a abandonar a ansiedade e a fobia de querer ter tudo sob controle, de querer programar e entender tudo, até mesmo a vida espiritual. A vida parece ser hoje toda programada: há um tempo para tudo, até mesmo o tempo de repouso. O risco é de aplicar a mesma regra para as coisas de Deus. A parábola, porém, oferece uma perspetiva diferente: a semente é plantada pelo agricultor, mas é o Senhor quem a faz nascer e crescer. O convite é claro: confiar e abandonar-se nas mãos de Deus, acreditar e deixar que Deus atue e cresça dentro de cada um. Se por agora a realidade de Deus parece ser insignificante, é tudo uma questão de tempo, pois o Reino já está entre nós.


intenção pela evangelização

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO imitação da tua, seja presença de 07 consolação nas variadas situações Festa do Corpo de Deus Ex 24, 3-8; Heb 9, 11-15; Mc 14, 12-26 SACRAMENTO PARA A HUMANIDADE A Eucaristia é Cristo que se oferece continuamente por toda a humanidade. Dele se alimenta a Igreja peregrina no tempo. É Ele que congrega à mesma mesa todos os homens. É Ele que sacia as fomes e sedes que trazemos dentro de nós. É o germe de ressurreição para os nossos corpos. “Quem comer deste Pão viverá eternamente”, na festa de Deus. Alimentados por Ti, tenhamos a coragem de nos oferecer, como Tu, pela salvação da humanidade.

14 11º Domingo Comum

Ez 17, 22-24; 2 Cor 5, 6-10; Mc 4, 26-34 COMO O GRÃO DE MOSTARDA A vida é crescimento e é maturação. De uma minúscula semente nasce uma árvore gigantesca. De biliões de gotas é feito o oceano. A vida é feita de pequenas ações. De um gesto aparentemente “insignificante” pode nascer a revolução de um povo. Do silêncio de um grão de trigo pode germinar uma seara abundante. Dá-nos, Senhor, a graça de apreciarmos os pequenos gestos que podem mudar a sorte do mundo.

20 FESTA DE NOSSA SENHORA

DA CONSOLATA Senhora da Consolata, Mãe e mestra da nossa missão, nós te louvamos e bendizemos neste dia a ti consagrado. Enche o nosso coração com a presença consoladora do teu Filho, Jesus. Invoca sobre nós o Espírito Consolador que plenamente te invadiu e te fez Mãe do Salvador. Faz com que a nossa vida, à

do mundo. Ajuda-nos e consola-nos, ó Virgem nossa Mãe.

21 12º Domingo Comum

Job 38, 8-11; 2 Cor 5, 14-17; Mc 4, 35-41 PASSAR PARA A OUTRA MARGEM A ordem é de passar para a outra margem. Facilmente nos instalamos na mediocridade ou na rotina do já feito e ouvido. O Mestre vai connosco. Estar com Ele e aprender dele é certeza de chegar ao fim da viagem. As tempestades fazem parte do nosso caminho. Cresceremos na medida em que formos provados. Ele não dorme. Simplesmente põe à prova a nossa fé. Acompanha-nos, Senhor, na longa ou curta viagem da nossa vida, e ilumina o nosso caminho com a tua divina luz.

28 13º Domingo Comum

Sab 1, 13-24; 2 Cor 8, 7-15; Mc 5, 21-43 UMA VIDA EM RELAÇÃO Jesus veio dizer-nos que a vida é um dom, fruto do amor de Deus. É um seu projeto, mas é também uma responsabilidade, porque muito depende de nós. Que sentido dou à minha vida? Que relação existe entre a minha vida e a vida dos outros, entre a minha vida e Quem ma confiou? “Aliviai com a vossa abundância a indigência dos mais pobres”, pede-nos, sem rodeios o apóstolo São Paulo. Que a minha “abundância”, Senhor, nunca deixe ninguém na indigência. DV

Que o encontro pessoal com Jesus suscite em muitos jovens o desejo de lhe oferecer a própria existência no sacerdócio ou na vida consagrada

Resposta vocacional Neste ano dedicado à vida

consagrada não podia faltar uma intenção do Papa sobre as vocações sacerdotais e de especial consagração. Todos conhecem a escassez de candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada, que se regista no nosso tempo, sobretudo no nosso Ocidente cansado e secularizado. Os candidatos são numerosos sobretudo na África e na Ásia. Mas há que ser exigentes na seleção para que as vocações sejam amadurecidas e autênticas. Onde nascem estas vocações? Certamente no ambiente de oração e de escuta da Palavra de Deus. Não há vocações verdadeiras sem um encontro pessoal com Cristo. A vocação brota do coração de Deus e germina na terra boa do povo fiel, no contexto de uma vida eclesial autêntica e na experiência do amor fraterno. As famílias e as comunidades cristãs são chamadas a desempenhar um papel decisivo no despertar das vocações na Igreja. Quando se enfrentam os problemas quotidianos da vida com o espírito de fé, quando existe a abertura para os outros, sobretudo os mais pobres, quando se participa na vida da comunidade cristã, então temos um clima adequado para uma resposta generosa da parte dos jovens. DV

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gestos de partilha

EM TAIZÉ no meio da multidão

Por ocasião dos 75 anos da Comunidade Ecuménica e centenário do nascimento do Irmão Roger, fundador da comunidade

14 a 24

agosto 2015

INSCRIÇÕES http://consolatajovem.blogspot.pt (Inscrições até 14 de julho) INFORMAÇÕES Padre Jorge Amaro 910 785 256 | geonauta@gmail.com Padre João Batista 915 724 193 | joaobatistaimc@gmail.com

consolata

um abraço entre a fé e a vida

APOIE OS NOSSOS PROJETOS E AJUDE-NOS A CONCRETIZÁ-LOS CRIANÇAS IRÃ (Guiné-Bissau) Arminda Nogueira 193,00€; Anónimo 13.500,00€; Firmino Oliveira 8,00€; Olinda Marques 5,00€; Lucília Marques 5,00€; Fernanda Carreira 25,00€; Joaquim Duarte 143,00€; Lucília Pereira 10,00€; Manuel Nogueira 50,00€; Albertina Ferreira 13,00€; Ana Figueiredo 43,00€; Margarida Jesus 20,00€; Isilda Cardoso 79,00€; Guida Borges 13,00€; Anónimo 143,00€; Rosalina Marques 20,00€; Susana Frade 50,00€; Virgínia Frota 20,00€; rosa Carvalho 75,00€; Antónia Mateus 60,00€; Maria Cunha 23,00€; José Pereira 100,00€; Carminda Alexandre 8,00€; Fátima Matias 10,00€. Total geral = 17.660,70€. OFERTAS VÁRIAS Conceição Branquinho 43,00€; Manuela Queiroz 93,00€; José Gonçalves 43,00€; Alcina Morais 36,00€; Eduarda Bento 25,00€; Maria Rodrigues 43,00€; Dominicanas do Rosário Perpétuo 26,00€; Jorge Abreu 300,00€; Teresa Ramos 28,00€; Helena Firmino 40,50€; Eugénia Vicente 43,00€; António Cunha 43,00€; Luísa Dias 36,00€; Olívia Monteiro 43,00€; Isilda Reis 43,00€; Manuel Leal 53,00€; Anónimo 263,00€; Alzira Borrêcho 40,00€; Lurdes Barbas 43,00€

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

PADRE ROBERTO VISCARDI

O CANTO DE UMA VIDA

texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração HUGO LAMI Roberto Viscardi nasceu perto de Milão, Itália, em 1 de setembro de 1936. Aos 12 anos entrou para os Missionários da Consolata e foi ordenado sacerdote em 1 de dezembro de 1963. Durante a sua formação no seminário, era-lhe muito fácil fazer amigos e viver em serena convivência. Depois da ordenação, foi enviado para o Quénia, África, onde trabalhou numa paróquia bem desenvolvida da cidade de Nairobi, o que não quadrava muito bem com o seu desejo de viver o trabalho missionário com que sonhara. Escreveu mesmo ao Superior Geral: “Estou a aprender bem pouco do ministério missionário”. Dali foi enviado para Londres, “uma metrópole cinzenta e anónima”, onde sofreu as mesmas dificuldades. Em 1975 vemo-lo nos Estados Unidos da América (EUA) fazendo ministério paroquial em diversas paróquias, trabalho em que se sentia melhor. Ocupou-se depois da administração do Instituto nesse país. A sua vida tinha agora um sentido mais alegre e cheio de realização. Tinha uma bela voz de tenor, e ele e mais dois colegas faziam às vezes um coro que muito alegrava a comunidade. Por vezes, de repente, lá ecoava pelos corredores o som dum trecho de ópera que saía do seu coração vibrante. O padre Viscardi era um verdadeiro “cavalheiro”, respeitador e respeitado. “Tinha qualidades que depressa dissipavam as nuvens: cozinheiro, cantor, narrador, sacerdote”. Recordo que quando ria, era algo que se espalhava pelos corredores além e pelos corações dos confrades. Tornara-se num

homem feliz. “Andava sempre sorridente e otimista, pronto e generoso, humilde e modesto”. Era um prazer estar perto dele. O breviário, a bíblia e o terço, tinha-os sempre à mão. Possuía um coração grande, muito sensível às necessidades dos outros, era compassivo e sabia perdoar. Em 1994, um dia sentiu-se mal. No hospital encontraram-lhe um tumor em grau avançado de evolução. Nos EUA trabalhou ainda na diocese

de São Bernardino, na zona de Los Angeles. A sua situação foi piorando e lá foi fazendo as suas sessões de quimioterapia. E chegou o momento de cantar a última canção da sua vida aos confrades, e amigos. Partiu para a Casa do Pai no dia 4 de outubro de 2003, onde certamente é membro do coro dos cantores oficiais na Ceia do Cordeiro.

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o que se escreve

VIDA E MISSÃO PARTILHADAS Leigos e Religiosos hoje

Os carismas das Ordens ou Congregações são Evangelho vivo. São dom do Espírito à Igreja e, por conseguinte, podem ser vividos de diversas maneiras, segundo a própria vocação religiosa ou laical. Não devem ser sequestrados unicamente por um pequeno grupo. Consagrados e leigos, todos são chamados a beber do mesmo poço e a viver o mesmo carisma, a partir da sua vocação específica. É o que nestas páginas procura mostrar o autor. Num mundo globalizado e numa Igreja que aposta numa espiritualidade de comunhão, todos os batizados, a partir da própria vocação, são chamados a unir as suas forças na construção do Reino. Autor: José Maria Arnaiz 206 páginas | preço: 14,90 € Paulinas Editora

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O ATUAR DIVINO Meditações para a oração e o exame de consciência

AMAR OU MORRER (R)evolução em Palavras de Almofada

N’ELE EU CONFIO Experiências de mortes, experiências de vida

JESUS EUCARISTIA

Durante séculos atribuído a São Tomás de Aquino (1225-1274), este opúsculo é uma meditação muito simples das várias e extraordinárias qualidades atribuídas a Deus que podem ser imitadas com vantagem para o leitor. Não é um livro para ser lido numa assentada, mas para ser meditado pausadamente em toda a sua simplicidade e riqueza. Melhor será usá-lo como suporte para a oração ou exame de consciência. Autor: São Tomás de Aquino (atribuído) 72 páginas | preço: 5,00 € Paulus Editora

É a história de uma família narrada na primeira pessoa com uma reflexão muito apropriada sobre acontecimentos de morte e de vida. Confessa o autor: “Estes foram 14 meses dos mais desafiantes que vivi em 43 anos de vida. Porventura por terem sido aqueles que mais mexiam com a vida e o seu sentido”. O leitor pode rever-se neste livro sobre o sentido da vida, as suas fragilidades, as suas alegrias e as suas atribulações. Tudo iluminado pela fé que perpassa toda a narração. Autor: Pedro Duarte Silva 160 páginas | preço: 9,50 € Paulus Editora

É a vida de dois jovens contada sob a forma de reflexões francas e autênticas. O autor, Eddy Martins, é um jovem ativo na vida cristã da sua comunidade. Através das suas partilhas iniciamos uma viagem conduzida pelo vento. A narrativa tem como protagonistas dois jovens cujas diferenças enriquecem a vida um do outro. São narrativas que inspiraram poemas, que foram musicados e estão disponíveis gratuitamente no youtube. Autor: Eddy Martins 134 páginas | preço: 10,50 € Edições Salesianas

Jesus Eucaristia revelou-se, desde sempre e gradualmente, na vida de Chiara Lubich, como interlocutor divino, presença viva de Deus na Terra e, ao mesmo tempo, como garante e construtor de unidade. Os textos aqui reunidos revelam – através de episódios concretos, páginas de diário e trechos de palestras inéditas – a progressiva compreensão daquela comunhão trinitária, que torna possível “um só corpo e uma só alma”. É livro utilíssimo para este mês de junho, o mês do Corpo de Deus, da Eucaristia. Autor: Chiara Lubich 118 páginas | preço: 6,00 € Editora Cidade Nova


megafone por Albino Brás

O ontem é passado e o amanhã é futuro. O hoje é um presente de Deus e é por isso que se chama presente

Não contes os dias, faz que os dias contem Muhamed Ali

ex-pugilista norte-americano

O que ‘sabemos

Bill Keane Cartonista

é uma gota de água. O que ignoramos é um oceano

Libertei mil escravos. Podia ter libertado outros mil se eles soubessem que eram escravos

Isaac Newton

matemático e físico inglês

Os meios de comunicação social da Igreja precisam do afeto de todos aqueles que acreditam na sua importância

João Aguiar Campos

diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja

Diz aos teus padres que sejam misericordiosos, oferecendo o cuidado, a cura e o perdão de que o mundo tanto precisa

Harriet Tubman

afro-americana natural dos EUA, abolicionista, humanitária, que lutou pela liberdade, contra a escravidão e o racismo

Papa Francisco a António Marto, bispo de Leiria-Fátima 25 Abril 2015

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fátima informa

CRIANÇAS OFERECEM ROSAS A MARIA

mobilizar milhares de pequenos peregrinos, nos dias 9 e 10 de junho. Até ao santuário, os mais novos vão levar rosas de papel, que os próprios pintaram, recortaram, dobraram e colaram nas sessões de catequese. Essa rosa será oferecida a Nossa Senhora de Fátima.

Pequenos peregrinos vão rumar a Fátima para dar a Maria uma rosa de papel que fizeram brotar das suas mãos

Neste ano, quinto do ciclo de preparação do centenário das aparições de Fátima, o tema da peregrinação incide sobre a aparição de Nossa Senhora em agosto, nos Valinhos, na qual esta apelou: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios… porque vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas”. Por isso, a jornada vai realizar-se

Chapéus de todo o mundo

orientar mais uma edição do Curso sobre a Mensagem de Fátima, de 5 a 7 de junho. A formação terá lugar na Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo e irá decorrer com o tema “O triunfo do amor nos dramas da história”. A inscrição é gratuita.

texto JULIANA BATISTA foto ANA PAULA Crianças de todo o país estão a preparar-se para mais uma jornada ao Santuário de Fátima. A Peregrinação das Crianças vai

Até dia 30 de agosto, “Chapéus de todo o mundo” estão expostos no Consolata Museu |Arte Sacra e Etnologia, em Fátima. Os exemplares exibidos são oriundos dos cinco continentes, mostrando assim a variedade de materiais, estética e cores. A mostra resulta de uma parceria entre o Museu da Consolata e o Museu da Chapelaria, do Município de São João da Madeira.

Curso sobre Fátima

Ângela de Fátima Coelho, postuladora da causa de canonização de Francisco e Jacinta Marto, vai 34

“Santificados em Cristo”

Neste ano pastoral, dedicado ao tema “Santificados em Cristo”, o Santuário de Fátima vai realizar mais um Simpósio TeológicoPastoral, de 19 a 21 de junho, no Centro Pastoral de Paulo VI. O objetivo é levar os participantes a refletir sobre os principais eixos do tema do ano pastoral.

sob o lema “Rezai, rezai muito”. “Sublinhamos, assim, o mistério da nossa intercessão junto de Deus, a favor de outros, algo que as crianças poderão perceber a partir da experiência da intercessão da mãe junto do pai: quando querem qualquer coisa do pai, muitas vezes dizem à mãe para pedir ao pai o que elas desejam”, explica a comissão organizadora. Os promotores da peregrinação lembram que essa “atitude de intercessão” foi uma postura “permanente” dos pastorinhos e convidam os mais novos a imitá-los.

Junho em agenda 10 Encontro dos familiares dos missionários e missionárias da Consolata 15-17 Jornadas Pastorais do Episcopado sobre a Vida Consagrada 18 Peregrinação das Forças Armadas e de Segurança


Abrace

esta vida

Acredita que ainda se eliminam crianças na Guiné-Bissau em nome das crenças no sobrenatural, em pleno século XXI? Basta que tenham alguma deficiência, sejam gémeas, ou apenas feias demais para o gosto dos pais, e têm a sentença lida à nascença. A Casa Bambaran, em Bissau, foi criada para acolher estas crianças, rotuladas de Irã ou crianças feiticeiras. E precisa da nossa ajuda.

Dê colo a esta ideia Alimentar uma criança na Casa Bambaran custa 4,60€ por dia O custo médio diário de cada utente (alimentação, educação, saúde, vestuário) é de 19,20€ Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Projeto “Crianças Irã” Rua Francisco Marto, 52 | 2496-448 FÁTIMA NIB 0033.0000.45365333548.05

um abraço entre a fé e a vida


SER CRIANÇA Ser criança Não é somente ter pouca idade É sim esquecer a idade física A nossa verdadeira idade está na mente É o que se sente. Ser criança É perseguir a felicidade Sem se importar com a idade. É esquecer um pouco das responsabilidades Sem contudo ser irresponsável. É viver intensamente o presente Não viver condicionado ao futuro Nem ruminando o passado É amar intensamente E viver essa paixão sem precedentes. É sempre sorrir Sempre estar aberto para o novo Ser criança É nascer de novo em cada dia... Sandra Mamede


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