13 de Maio

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ANO LXI | MAIO 2015 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

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13 DE MAIO

SANTUÁRIOS UNIDOS PELA DEVOÇÃO A MARIA

IRENE STEFANI: “NÃO É UMA MULHER, É UM ANJO” Pág. 10 O CONFLITO ENTRE SAUDITAS Pág. 18 E IRANIANOS “A VOCAÇÃO SEMPRE FOI Pág. 23 UM MISTÉRIO”


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial

“QUE O MEU SANGUE SEJA SEMENTE DE LIBERDADE” Vem no Evangelho que quem trabalha para o Reino de Deus encontrará oposição e até a morte. Vivido a sério, o Evangelho arrasta sempre consigo incompreensões e opressões. A história da humanidade está repleta de exemplos de vidas entregues a favor dos pobres e rejeitados. São vidas de profetas e mártires do Reino de Deus. As estatísticas anuais do Vaticano falam-nos de um número incontável de pessoas que deram a vida ao serviço da missão da Igreja. “Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem, por minha causa, todo o género de calúnias contra vós”, declarou o Mestre. A maioria dos mártires do nosso tempo não o é pela defesa de uma verdade católica, mas por causa da fidelidade a uma missão que lhes foi confiada. Há quem lhes chame “mártires sociais”. Dão a vida pela sua postura a favor da justiça e da paz. No dia 23 deste mês, a Igreja reconhecerá publicamente a santidade de um destes mártires, o bispo de São Salvador, Óscar Romero. Foi martirizado pela maneira como defendeu os direitos dos mais pobres e oprimidos do seu país. Enraizado no Evangelho e na dignidade da pessoa, através dos seus sermões, transmitidos via rádio para todo o país, usava palavras duras contra a violência e as injustiças de que o seu povo era vítima. Denunciou claramente a violência imposta pelos donos do poder (políticos, militares, fazendeiros ricos e até a polícia nacional), e a violência dos revolucionários militantes que diziam estar a agir em nome da justiça.

“A Igreja não nos abandonará; ela continuará a viajar connosco mas com a voz do Evangelho, que é a da transcendência de Cristo. Ela continuará a exigir que cada uma das pessoas envolvidas na luta pela libertação ponha a sua confiança em Jesus Cristo, o maior libertador de todos, e nunca O perca de vista”. Tendo recebido inúmeras ameaças de morte, foi martirizado a 24 de maio de 1980, enquanto presidia à celebração da Eucaristia. Ficaram famosas as suas palavras proféticas numa entrevista a um jornal mexicano, duas semanas antes da sua morte: “Fui frequentemente ameaçado de morte. Como cristão, não acredito na morte sem ressurreição: se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho. Digo isso sem nenhuma ostentação, com a maior humildade. Como pastor, sou obrigado, por mandato divino, a dar a vida por aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, até por aqueles que me assassinarem. O martírio é uma graça de Deus, que não me sinto na situação de merecer, mas se Deus aceitar o sacrifício da minha vida, que o meu sangue seja semente de liberdade. Pode escrever: se chegarem a matar-me, desde já perdoo e abençoo aquele que o fizer”. DARCI VILARINHO

“Devemos assegurar o processo de libertação do nosso país”, dizia Romero em 1980, alguns meses antes de ser assassinado. Maio 2015

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº5 Ano LXI – MAIO 2015 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 24.300 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa Ana Paula Contracapa Lusa Ilustração Hugo Lami, H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

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18 15 PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O CONFLITO ENTRE SAUDITAS E IRANIANOS 03 EDITORIAL “Que o meu sangue seja semente de liberdade” 05 PONTO DE VISTA O jornalismo e a democracia 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Vocação de mãe 08 MUNDO MISSIONÁRIO

Religiosos e políticos do Paquistão juntos pela paz Riqueza do Congo explode em pobreza amarga Brasil abre processo de beatificação de Hélder Câmara Cardeal da Nigéria exige uma mudança na política Fome mata crianças em Angola apesar do petróleo e diamantes 10 A MISSÃO HOJE “Não é uma mulher, é um anjo” 11 PERFIL SOLIDÁRIO Madre Teresa do Bangladesh 12 A MISSÃO HOJE Uma experiência que vale por mil palavras 13 DESTAQUE “Estamos perante uma perversão da religião” 14 ATUALIDADE Unidos pela devoção a Maria 22 MÃOS À OBRA Dar esperança aos doentes com Sida 23 TESTEMUNHO DE CONSAGRADO “Ser consagrada é ser uma resposta de amor” 24 GENTE NOVA EM MISSÃO Os três pastorinhos 26 TEMPO JOVEM Nascer de novo 28 SEMENTES DO REINO Ide pelo mundo inteiro 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Pajem da Mãe Consolata 32 O QUE SE ESCREVE 33 MEGAFONE 34 FÁTIMA INFORMA Santuário com nova imagem em outubro


ponto de vista

O JORNALISMO E A DEMOCRACIA Como jornalista, custa-me ver o declínio ético da comunicação social nas últimas décadas, em Portugal e no mundo. A emergência da internet, com as redes sociais e os blogues, trouxe muita coisa texto FRANCISCO SARSFIELD CABRAL* positiva, mas representou uma ameaça para os “media”, sobretudo para a imprensa escrita. Os jornais em papel perdem leitores e, por isso mesmo, veem diminuir as suas receitas publicitárias. Daí uma generalizada contração de custos, isto é, menos meios humanos e materiais. Mesmo assim, ninguém sabe se daqui a dez ou vinte anos ainda haverá imprensa em papel. Com menos meios e mais concorrência, os “media” têm hoje poucas possibilidades para investigarem seriamente as notícias. Sendo que a multiplicação de canais noticiosos na televisão e na rádio, bem como os sites na net, com notícias quase em permanência, dificulta qualquer investigação cuidadosa: não há tempo para isso… Esta situação leva frequentemente a uma ausência de escrúpulos na atração de telespectadores, ouvintes e leitores. Ou seja, proporciona um jornalismo sensacionalista, baseado na emoção e no escândalo. Mas não se julgue ser este um fenómeno inteiramente novo: desde há um século, pelo menos, que os chamados jornais de referência na Grã-Bretanha vendem cerca de um décimo do que vendem os jornais sensacionalistas (os chamados tabloides), os quais lançam mão de procedimentos muitas vezes condenáveis para obterem notícias ou pseudo-notícias. Recorde-se o escândalo do News of the World, um jornal britânico que teve de fechar, estando hoje na cadeia alguns dos seus dirigentes.

Dito isto, importa reconhecer que a comunicação social desempenha um papel essencial em democracia. Por isso as ditaduras não permitem a liberdade de expressão. No tempo do anterior regime em Portugal a censura prévia impedia a publicação de qualquer notícia ou comentário incómodo para o regime. Ainda há muitas ditaduras no mundo, infelizmente. E existem regimes autoritários que, sem o radicalismo totalitário do nazismo ou do comunismo, limitam gravemente o jornalismo livre. É o caso, por exemplo, da Rússia. A comunicação social e em particular a televisão está aí quase totalmente ao serviço do poder político, ou seja, de Putin. Por isso a informação que os russos têm do conflito no Leste da Ucrânia é escandalosamente falsa. Na Turquia, que parece caminhar no sentido de um Estado islâmico, há um grande número de jornalistas presos. E certos assuntos são ali tabu – como o genocídio dos cristãos arménios em 1915, de que falou o Papa Francisco, com grande irritação do governo turco. A fracassada “Primavera Árabe” deu lugar a regimes militares semi-ditatoriais, como é o do Egito, onde a liberdade de imprensa é limitada. Poderia ainda falar-se da Venezuela ou da China, países que não têm um jornalismo independente e livre. E, sem este, não há democracia autêntica. *Jornalista

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leitores atentos

RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2015. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Vontade de ajudar Venho regularizar a minha

assinatura da vossa revista que tão prontamente chega à minha casa. O resto é para os vossos projetos. É pouco para a vontade imensa que tenho de vos ajudar, mas dado que me encontro em situação de viuvez, desde dezembro de 2013, e numa situação económica não muito boa, limito-me a enviar-vos o mínimo, na esperança de que brevemente as asas da minha vontade consigam voar, fazendo chegar até vós aquilo que puder enviar. Peço as vossas orações para que o meu marido possa atingir a plenitude da luz. Maria Eugénia

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TIRE AS SUAS DÚVIDAS Porque é que se batizam as crianças? Não seria melhor esperar pela idade adulta para que fossem elas a pedir o batismo? Miguel Durão, Lisboa

Embora se trate de uma velha questão, não deixa de ser oportuna. De facto, especialmente na Igreja primitiva, os candidatos ao batismo (os catecúmenos) eram adultos e passavam por diversas fases de preparação. Eram instruídos na doutrina da fé e gradualmente inseridos nas celebrações litúrgicas, até poderem finalmente participar na Eucaristia. Isso é possível, também nos dias de hoje. Mas a Igreja, desde tempos antigos, conserva o batismo das crianças. Existe uma razão de fundo: antes de nos termos decidido por Deus, já Deus se tinha decidido por nós. O batismo é portanto uma graça, um imerecido dom de Deus, que nos acolhe incondicionalmente. Os pais crentes, que desejam o melhor para o seu filho, desejam para ele também a graça do

Orgulho-me de ler Venho pagar a minha assinatura

da nossa FÁTIMA MISSIONÁRIA que tanto me orgulho de ler. E de a levar depois, sempre que possível, para a Igreja a fim de que outros possam ter o mesmo interesse nesta rica leitura. Bem hajam. José Rodrigues

Conteúdo relevante Nunca será demais felicitar todos aqueles que tão bem elaboram a revista FÁTIMA MISSIONÁRIA, cujo conteúdo é relevante para termos algum conhecimento do que se passa pelo mundo, mas sobretudo, e é o que mais aprecio,

batismo. Assim como não se pode negar o amor a uma criança, com a justificação de que ela própria, mais tarde, se decidirá ou não pelo amor. Assim como cada pessoa nasce com a capacidade para falar, embora tenha de aprender a língua, também cada pessoa nasce com a capacidade para crer, embora tenha de conhecer a fé. O batismo não é um enfeite, é a porta dos outros sacramentos e é um dom enorme para a criança, que tem de o ratificar ou confirmar mais tarde, para que seja fecundo. Com o crisma, o adolescente, jovem ou adulto, receberá o “selo” do Espírito Santo. Pelo batismo, a sua vida pessoal mergulha na corrente do amor de Deus. Crescendo, sem este mergulho divino, sem a graça deste sacramento, a pessoa facilmente se afogará no mar tormentoso deste mundo.

para conhecer melhor o trabalho desenvolvido pelos Missionários da Consolata, a favor dos mais desfavorecidos. O cheque que envio é para renovar a assinatura e para a compra de tijolos do projeto da Costa do Marfim.

José Dias


horizontes

VOCAÇÃO DE MÃE texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI Gina passara a vida a cuidar de alguém: desde os 16 anos cuidou do pai e dos irmãos após o falecimento da mãe; depois cuidou do marido, cuidou dos filhos, e nunca mais deixou de cuidar do filho mais velho. Gina era conhecida pelo seu passo apressado entre a casa, o trabalho, as escolas dos filhos e as atividades em que os integrara. Ao falar deste tempo, as recordações sucedem-se-lhe em felicidade realizada. Nem sabe como não se cansava, mas olhando deste lado dos seus 78 anos, ainda recorda as tabelas de organização de tarefas diárias para que tudo se cumprisse pontualmente. Ser mãe era a sua vocação. Mas hoje, a sua mágoa é muita. É uma mágoa acumulada desde o dia em que foi diagnosticada ao seu filho mais velho, na altura com 18 anos, uma doença mental. A partir de então, a sua vida passou a ser um corre-corre sofrido, tentando satisfazer cada filho, mas sabendo que teria de ter uma atenção acrescida e sempre presente ao Zé. Aquele rapazinho inteligente, educado e muito amado, tornou-se ofensivo e exigente, perdido em si mesmo, sem conseguir importar-se com as dores ou as alegrias de quem estava ao seu lado. Mas a mãe Gina estava sempre lá, apaziguando os seus conflitos e resolvendo as suas exigências Era um “jogo” interminável de preocupação e esperança de dias diferentes. Mas esses dias não chegavam, nunca! Contudo, mãe Gina continuava amando, cuidando e esperando. A violência do Zé contra ela impunha-lhe um estado de medo submisso e solitário. Mas ela continuava lá. Quem mais poderia cuidar dele? Os outros filhos queriam protegê-la e tirá-la de casa, libertá-la da vida com o Zé. Mas, olhando-os

seguros e fortes, mãe Gina supõe que não precisam de si. Contudo, estava tão enganada. E viu o seu engano nos olhinhos chorosos do seu Andrézinho: – Vóvó, se não vens à minha festa também não quero fazer anos! Só então Gina percebeu que a sua vida não poderia continuar a ser comandada pela doença do Zé. Cuidar do filho não era ficar doente com ele. Nem sequer era estar ausente da história dos outros filhos, dos netos e de todos quantos amava, até da vida... – por ordem do Zé – ou seria por decisão de si mesma!? Numa força de transformação que o amor faz acontecer, Gina questiona-se no seu jeito de viver. Nem foi muito difícil: bastou-lhe deixar-se acolher no colo generoso dos seus filhos, dos netos e de toda a família. O tempo da anulação a que se impusera

precisava ser posto no “passado”. Gina, agora de passo lento mas com o coração a bater em galope, ao jeito de quem tem muita história a construir, senta-se à mesa da biblioteca do Centro de Convívio que passou a frequentar e inicia-se na escrita de um conto: o seu conto, procurando nos registos da sua memória um entendimento do seu percurso, decidida a aceitá-lo e remendá-lo. Com este novo desafio, Gina reencontrou a sua vocação de mãe. Agora não só é mãe do Zé: Faz questão de ser a mãe do Zé, do André, do Ivo e da Isabel. E avó! Agora do Andrézinho e da Inês, e depois, sabe-se lá?! O que sabe é que enquanto estiver, estará com todos, realizando o melhor que sabe a sua vocação de Gina-mãe-avó.

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

RELIGIOSOS E POLÍTICOS DO PAQUISTÃO JUNTOS PELA PAZ

Uma jornada especial de oração pela paz e contra o terrorismo foi organizada recentemente no Paquistão. A iniciativa juntou líderes religiosos, políticos e sociais,

assim como intelectuais do país. A manifestação foi promovida pelo Conselho para o Diálogo Inter-religioso de Lahore, cidade com sete milhões de habitantes

da província paquistanesa de Punjab, junto da fronteira com a Índia. “Quisemos rezar para pedir a Deus que pare a crescente onda de terrorismo, que tem causado mortes, tensões políticas, ódio sectário e preconceitos religiosos no Paquistão”, explicou o sacerdote Francis Nadeem, fundador do movimento. Na ocasião, os líderes pediram ao governo que “tome as medidas necessárias para proteger a vida dos cidadãos”. Ao mesmo tempo, reafirmaram o seu empenho em “promover a paz e a harmonia inter-religiosa através do diálogo”. Os participantes exprimiram as suas condolências às famílias de todas as vítimas dos atos terroristas dos últimos meses em diversas cidades do país, como Karachi, Lahore e Rawalpindi. “É necessário continuar a difundir palavras e mensagens de paz no Paquistão”, afirmou Francis Nadeem, sublinhando que é necessária “harmonia inter-religiosa em todos os cantos do país”.

Riqueza do Congo explode em pobreza amarga Vulcões em plena atividade, guerras, falta de estruturas, educação escolar para poucos, são os ingredientes que anulam as potencialidades de um país rico, a República Democrática do Congo, mergulhando-o numa pobreza extrema. Além das paisagens naturais exóticas, o Congo é bafejado pela presença abundante de minerais, como o ouro, diamantes, ferro, coltan e gás naturais. Só as jazidas de petróleo constituiriam importantes recursos para investir no país. Mas o proliferar de grupos armados e os interesses económicos de países estrangeiros deitam tudo a perder. A violência de grupos rebeldes espalham por todo o lado 8

destruição, destroçando famílias, violentando mulheres e raptando crianças para as integrar em grupos criminosos. A assistência sanitária está presente apenas nas cidades mais importantes. A pobreza é extrema e muito difusa. Junta-se a presença ativa de vulcões que agrava

ainda mais a situação. Um dos mais ativos do mundo, o Nyiragongo, ao longo dos tempos tem causado danos enormes e mortos, submergindo povoações inteiras.


Cardeal da Nigéria exige uma mudança na política

Brasil abre processo de beatificação de Hélder Câmara A diocese de Olinda abre a 3 de maio a fase diocesana do processo para a beatificação e canonização do seu sexto arcebispo, Hélder Câmara, famoso pela sua inabalável defesa dos pobres. Combateu incessantemente o drama da miséria das favelas, o que lhe valeu o nome de “Bispo das favelas”. Fundou o chamado Banco da Providência de São Sebastião, que prestava assistência a pobres e marginalizados. Quando resignou do governo da diocese por ter atingido o limite de idade, continuou a viver numa habitação popular para onde se tinha transferido no início do seu mandato episcopal. Aí residiu até à morte, em 27 de agosto de 1999. O atual arcebispo de Olinda e Recife, Antonio Fernando Saburido, recorda que a 25 de fevereiro de 2015 o organismo romano para as causas dos Santos autorizou a abertura oficial do processo de Hélder Câmara, atualmente designado servo de Deus. Hélder Câmara nasceu numa família numerosa e muito modesta em Fortaleza, Brasil, a 7 de fevereiro de 1909. Foi ordenado sacerdote a 15 de agosto de 1931, no Rio de Janeiro, de cuja diocese foi nomeado bispo auxiliar a 3 de março de 1952.

“É necessária uma mudança política da Nigéria”, afirmou John Onaiyekan, arcebispo cardeal de Abuja, a capital federal do país. “Quem quer que vença as eleições deve operar uma mudança”, reclamou o cardeal, antes das eleições ocorridas a 20 de março último. “A população está descontente com o que está a acontecer; o povo tem fome e está a sofrer”. E acrescenta: “Este ano está repleto de pessimismo, ansiedade e medo. É como se o povo já não acreditasse mais nesta nação. O povo foge, mas as pessoas como nós não podem fugir. Devemos substituir o pessimismo com o otimismo”. Recordando o sofrimento das populações do norte, atingidas pela violência do Boko Haram, o cardeal mostrou-se confiante que esta seita islâmica venha a ser derrotada.

Fome mata crianças em Angola apesar do petróleo e diamantes País de exasperantes contradições, em Angola faltam os medicamentos, a água potável, serviços higiénicos e outros bens essenciais à vida. As fontes de água são riachos inquinados, muitas vezes distantes das aldeias. Daí que se observem pelas estradas do segundo maior produtor de petróleo do continente africano crianças esqueléticas, reduzidas a pele e osso, e desnutridas. Angola é o país do mundo onde se regista a maior taxa de mortalidade de crianças com menos de cinco anos.

Mártires dos nossos dias Nos meus anos de seminarista – por volta de 1960 – recordo que ao pensar nos mártires da igreja primitiva desejei o martírio também eu, embora sabendo – assim se dizia – que a graça do martírio tinha sido concedida só a alguns santos do passado como João de Brito, martirizado em 1693, mas era-nos negada a nós cristãos do século XX. Estava muito enganado porque afinal também hoje há milhares de cristãos a serem “perseguidos, exilados, decapitados e crucificados”, como afirmou o Papa Francisco, na sexta feira santa. No dia anterior, 150 jovens estudantes tinham sido massacrados em Garissa no Quénia só pelo facto de serem cristãos. Um outro grande exemplo de martírio nos nossos dias é-nos dado pelo bispo Óscar Romero, assassinado em São Salvador em 1980, enquanto celebrava a santa Missa, e que daqui a dias vai ser beatificado. Jesus na Cruz mostrou-nos o caminho do perdão, e esse será sempre o nosso caminho, mas não podemos ficar indiferentes perante as injustiças cometidas contra tantos nossos irmãos na fé. Peçamos a intercessão dos mártires dos nossos dias e com o Papa rezemos e trabalhemos em favor das vítimas do ódio à fé.

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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a missão hoje

Irene Stefani, missionária da Consolata, dedicou parte da sua vida a ajudar os mais necessitados

“NÃO É UMA MULHER, É UM ANJO”

texto DARCI VILARINHO foto DR

Moçambique, 1989. Em plena guerra civil, reuniram-se na missão de Nipepe, Niassa, 50 famílias de catequistas para um curso de formação. Como testemunho de vida, os orientadores expuseram a figura da irmã Irene, falecida no Quénia bastantes anos antes. Entre 10 e 13 de janeiro, a missão foi

A irmã Irene gastou toda a sua vida, de apenas 39 anos, ao serviço da missão em África A “Nyaatha”, a mãe de misericórdia, como ternamente a chamavam, vai ter uma multidão de pessoas a celebrar a heroicidade da sua vida, no próximo dia 23 de maio, em Nyeri, no Quénia 10

atacada por guerrilheiros da Renamo. Cerca de 260 pessoas tiveram que se trancar na Igreja. Com o passar das horas, a fome e a sede atormentavam as pessoas, sobretudo as crianças. Que fazer? Invocam a intercessão da irmã Irene, e recorrem aos cerca de seis litros de água da pia batismal. E, sem haver “uma explicação natural e plausível”, a água deu para, durante três dias, refrescar e matar a sede a todos, e até para lavar uma criança recém-nascida. “Foi a mãe Irene que fez o milagre, ela ouviu-nos e ajudou-nos, fomos salvos pela sua intercessão”, afirmaram as testemunhas. O fenómeno da multiplicação da água serviu para confirmação da santidade desta irmã, que vai ser beatificada no dia 23 de maio, em Nyeri, no Quénia. A irmã Irene Stefani gastou toda a sua vida, de apenas 39 anos, ao serviço da missão em África. Se aos 13 anos revelou aos pais o desejo de ser missionária, aos 15, tendo falecido a mãe, foi forçada a deixar os estudos para ajudar os cinco irmãos. Só quando o pai voltou a casar é que pôde seguir o seu projeto. Aos 20 anos, em 1911, entra no Instituto das Missionárias da Consolata que José Allamano tinha acabado de fundar, em Turim, na Itália. Com 23 anos, em plena 1ª Guerra Mundial, parte para as missões do Quénia. Três anos de formação foram suficientes para entender que


perfil solidário

ser missionária significava debruçar-se, como o bom samaritano, sobre as adversidades dos mais pobres. Com heroica abnegação, prestou serviço em vários hospitais militares. Alistada na Cruz Vermelha, é enviada, em 1917, para o acampamento hospitalar de Kilwa, na Tanzânia, onde os doentes eram pessimamente assistidos. Sem alimentos nem remédios, rigidamente fechados à mercê dos guardas, e não tendo nada para oferecer aos doentes, oferece-se a si mesma, assistindo com amor os mais graves e mais descuidados. A água era racionada, o calor excedia os 45 graus, e os doentes morriam à sede. Caminhando ao sol abrasador, de tigela na mão, ia suplicar ao armazenista um pouco mais do precioso líquido. A sua atitude humilde desarmava os guardas mais carrancudos, que lhe enchiam a vasilha e se comoviam perante os seus agradecimentos. Os seus gestos tocavam os corações dos doentes e dos enfermeiros. Sem impor nada a ninguém, o ambiente transformou-se. O próprio médico, impressionado, perguntava a si mesmo se essa mulher não era uma louca ou uma criatura do outro mundo. Talvez fosse um anjo revestido de carne humana! Opinião que coincidia com a de outro médico protestante, que dizia: “Aquela não é uma mulher. É a caridade personificada”. Terminada a guerra, voltou para o Quénia, para a missão de Gikondi, onde passou o resto da vida no ensino, na catequese, no serviço aos doentes e moribundos, às mulheres grávidas e aos jovens. Passa as noites, qual secretária dos pobres, a escrever cartas, em nome dos pais analfabetos, aos filhos que estão na cidade a trabalhar. Nestes anos, administra mais de mil batismos, geralmente a moribundos que vela até a morte. Em 1930, feliz por poder oferecer a vida pelas missões, chega ao fim da carreira. Firme e dedicada, junto dos doentes com peste, Irene morre vítima desta doença, em 31 de outubro. A “Nyaatha”, a mãe de misericórdia, como ternamente a chamavam, vai ter uma multidão de pessoas a celebrar a heroicidade da sua vida, no próximo dia 23 de maio, em Nyeri, no Quénia.

MADRE TERESA DO BANGLADESH Já conquistou prémios nacionais e internacionais, foi eleita Mulher do Ano pela revista Emirates Woman, e mantém a mesma forma de ser: humilde, ativa e muito solidária. Maria do Céu Conceição, 36 anos, natural de Vila Franca de Xira, a residir atualmente no Dubai, deixou a sua vida para segundo plano e dedicou-se de corpo e alma a ajudar crianças pobres e as suas famílias, nos bairros de lata de Daca, no Bangladesh. Para isso, criou a Fundação Maria Cristina (em homenagem à sua mãe adotiva) e tem-se desdobrado em atividades para angariar fundos que financiem os vários projetos sociais da instituição sem fins lucrativos. Fruto da sua persistência, centenas de crianças têm sido alimentadas, vacinadas e ido à escola, enquanto os pais frequentam cursos de formação profissional que lhes facilitem a entrada no mercado de trabalho. “A educação é a chave para a saída da pobreza”, considera a hospedeira da Emirates Airlines, que no Bangladesh já é comparada por muitos com a Madre Teresa de Calcutá.

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a missão hoje

Jovens de vários pontos do país participaram no Convívio Missionário Juvenil, em Fátima

UMA EXPERIÊNCIA QUE VALE POR MIL PALAVRAS

Por preconceito ou preguiça, muitos jovens nem se dão ao trabalho de participar nos convívios ou retiros promovidos pelos religiosos. Mas quando arriscam, regressam a casa mais preenchidos e verdadeiramente agradecidos pela experiência única de partilha e de fé texto FRANCISCO PEDRO foto DR Carlos Filipe, 25 anos, já tinha participado em retiros e campos de trabalho, promovidos pelos Missionários da Consolata, mas nunca numa Páscoa Jovem. Este ano, experimentou juntar-se ao grupo na paróquia de São Pedro de Ovar, em Aveiro, e saiu de lá com o espírito renovado. Não só pela forma intensa como foi vivida a época pascal, mas sobretudo pela partilha de experiências e o que isso significou para o ajudar “a crescer na fé”. O entusiasmo de Carlos, residente no Bairro do Zambujal, Amadora, não é muito diferente do da maioria dos jovens que já participaram nas atividades pascoalinas e que estiveram reunidos em Fátima, em meados de abril, no Convívio Missionário Juvenil. “Para quem pensava, como eu, que a adesão a este tipo de 12

encontros estava a esmorecer, foi uma agradável surpresa”, afirmou Célia Costa, 22 anos, estudante universitária. Tal como Carlos Filipe, a jovem, natural de Milheirós, na Maia, reconhece que ainda “existe uma imagem pré-concebida” da Igreja Católica, que a juventude costuma designar como “antiquada e com cheiro a mofo”. O próprio coordenador da Pastoral Juvenil do Instituto Missionário da Consolata (IMC), padre Albino Brás, admite a

“Os jovens pedem que não desistamos deles, que continuemos atrás dos seus problemas, dúvidas e anseios. Vale a pena insistir, porque eles depois agradecem”, conclui Albino Brás

dificuldade em “atrair, seduzir ou pescar” os mais novos para este tipo de encontros e descobrir novas formas de expressão “para apresentar Jesus de uma forma que lhes seja mais agradável”. Mas o facto, bem expresso no convívio em Fátima, é que quem experimenta, não só gosta, como se despede dos monitores pedindo que da próxima vez os encontros se prolonguem por mais tempo. “É como um vendedor que para vender bem tem que acreditar no seu produto. Quando temos fé e acreditamos, tudo nos corre melhor. Mas se nunca experimentamos, como podemos dizer que não gostamos?”, interroga Carlos Filipe. Palavras como estas são um estímulo para quem se esforça por dinamizar a Pastoral Juvenil e derrubar as barreiras do hedonismo, da indiferença e da descrença. “Os jovens pedem que não desistamos deles, que continuemos atrás dos seus problemas, dúvidas e anseios. Vale a pena insistir, porque eles depois agradecem”, conclui Albino Brás.


destaque

“ESTAMOS PERANTE UMA PERVERSÃO DA RELIGIÃO”

O mundo cristão preparava-se para celebrar mais uma Páscoa quando um grupo de extremistas entrou na Universidade de Garissa, no Quénia, e desatou a matar jovens estudantes. De forma bárbara e discriminatória. Apesar da violência do ataque, a reação internacional roçou quase a indiferença texto FRANCISCO PEDRO/DOMINGOS PINTO foto LUSA do Quénia na missão da União “Viemos aqui para matar e morrer”. Estas palavras, proferidas Africana na Somália que tenta combater o grupo islamita. Assim, aos gritos pelos operacionais do separaram os estudantes segundo a Al-Shabab, um braço armado da Al-Qaeda na Somália, ficarão para religião, pouparam os muçulmanos e mataram os cristãos sem piedade. sempre gravadas na memória de “Tive de passar por cima de sangue Gitonga Ng’ang’a. O jovem, de e dos cadáveres dos meus melhores 22 anos, conseguiu escapar ao massacre que vitimou 148 pessoas, amigos e de outros bons amigos. Foi amargo. Ainda agora é duro no dia 2 de abril, na Universidade recordar”, testemunhou Ng’ang’a. de Garissa, no Quénia. Mas não esquece os momentos de terror “Foi um atentado contra cristãos. que passou, escondido debaixo de Os terroristas distinguiram uma cama, ao ouvir os amigos a claramente os cristãos dos gritar, outros a chorar, antes de muçulmanos, mas não significa serem abatidos, impiedosamente, que esteja em causa um conflito com um tiro na nuca. entre cristãos e muçulmanos, porque as autoridades do Quénia Os atacantes levavam um propósito: vingar-se da participação repudiaram vivamente” o ataque,

reagiu o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, Pedro Vaz Patto, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA. Abdool Vakil, presidente da Comunidade Islâmica em Portugal, é da mesma opinião: “Estamos perante uma perversão da religião, e há interferências políticas. Isto não é religioso. Se é uma questão política, então é uma má política. O ser humano deve reger-se pela ética, pela moral, pela fraternidade para com os outros, e foi isso que Deus nos ensinou”. A verdade é que, apesar da dimensão do massacre, a comunidade internacional reagiu de forma muito diferente daquela que se viu no atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo, em França. “Houve uma diferença de critérios, talvez por ser mais distante, por serem países africanos que habitualmente não estão nas preocupações dos ocidentais, mas não podemos aceitar que seja assim”, sublinhou Pedro Vaz Patto.

Povo queniano presta homenagem às vítimas do massacre na Universidade de Garissa

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atualidade

CELEBRAÇÕES Padroeira do Brasil entronizada no Santuário de Fátima

Raymundo Damasceno, cardeal arcebispo de Aparecida, preside às celebrações do 13 de maio

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Unidos pela história e pela língua, portugueses e brasileiros comungam também da mesma fé, criticados até, mas a persistência e os testemunhos deixados sobretudo da mesma devoção por Lúcia de Jesus, a mais velha dos pela Nossa Senhora. videntes, acabam por transformar Esta ligação não o local das aparições num dos passou despercebida templos de culto mariano mais aos responsáveis dos visitados do mundo: o Santuário dois santuários, que Os santuários marianos de Fátima de Fátima. Acresce a isto que decidiram celebrar em e Aparecida (Brasil) comemoram embora as duas imagens sejam conjunto os dois jubileus. distintas, ambas representam a o jubileu em 2017, mas já figura de Maria, a mesma que a Em Fátima o centenário começaram a estreitar laços, Igreja Católica acolhe como a “mãe” das aparições, em com a entronização das imagens de toda a humanidade. Ora, como Aparecida o tricentenário que motivam a deslocação de será fácil depreender, também da descoberta da imagem milhões de fiéis aos dois recintos para escrever a palavra mãe são de Nossa Senhora da necessárias apenas três letras. religiosos. A Virgem de Fátima Conceição foi exaltada o ano passado, em Coincidências à parte, há uma território brasileiro. Em maio, será certeza incontornável. Unidos pela a vez de entronizar a padroeira história e pela língua, portugueses do Brasil na Cova da Iria, perante e brasileiros comungam também da mesma fé, da mesma devoção o testemunho de milhares de pela Nossa Senhora. Esta ligação peregrinos

UNIDOS PELA DEVOÇÃO A MARIA

texto FRANCISCO PEDRO fotos LUSA E SANTUÁRIO DE FÁTIMA Os números podem nem ter muito significado, mas não deixam de revelar uma curiosa coincidência. Em 1717, três pescadores encontram no rio Paraíba, no Brasil, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Primeiro foi recolhido o corpo, depois a cabeça. A partir daí, as redes, antes sempre vazias, começaram a sair da água com tanto peixe que os três homens tiveram que regressar mais cedo ao porto, com receio que o peso da pescaria afundasse as canoas. Estava dado o primeiro passo para uma devoção que atrai hoje mais de 12 milhões de peregrinos por ano, ao Santuário de Aparecida. Trezentos anos depois, em 1917, três pequenos pastores são confrontados com a aparição de Nossa Senhora de Fátima, na Cova da Iria. Os relatos iniciais das três crianças são desvalorizados,

não passou despercebida aos responsáveis dos dois santuários, que decidiram celebrar em conjunto os dois jubileus. Em Fátima o centenário das aparições, em Aparecida o tricentenário da descoberta da imagem de Nossa Senhora da Conceição.

Peregrinos missionários

Embora o ponto alto das comemorações esteja reservado para 2017, o estreitamento de laços entre os dois locais de culto mariano já começou. Em maio do ano passado, António Marto, bispo de Leiria-Fátima, e Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, assistiram à entronização da imagem de Nossa Senhora de Fátima, no Santuário de Aparecida. A celebração foi presenciada por milhares de peregrinos, que não perderam tempo em dirigir-se ao nicho onde ficou exposta a escultura, para satisfazerem um dos rituais mais apreciados nos fenómenos de religiosidade popular: o toque.

Este ano, na peregrinação internacional aniversária de maio, será a vez da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida ser entronizada no Santuário de Fátima. Raymundo Damasceno, cardeal arcebispo de Aparecida, foi convidado a presidir às celebrações. “Ter uma réplica da imagem da Mãe Aparecida oficialmente entronizada no Santuário de Nossa Senhora de Fátima é uma graça inesperada. Sentimo-nos felizes e fortalecidos com ela presente em nossas vidas. E auguramos que essa sua entronização em Fátima redunde em ‘aparecimento’, em irrompimento seu no coração e na vida de tantos outros irmãos e irmãs”, manifestou o purpurado, em declarações ao Centro de Comunicação Social do santuário. Para Raymundo Damasceno, a história e mensagem de Fátima, não só são bem conhecidas do povo brasileiro, como se cruzam Maio 2015

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com os fundamentos da devoção a Nossa Senhora Aparecida. “É a Virgem que, como a de Aparecida, convoca seus filhos e filhas para a oração. Ambas com mãos em prece, mas, integrada com a penitência. Assim, parece-nos dizer que nos acolhe junto de si, mas almeja algo bem mais profundo: que ir até ela, signifique encontrar ou reencontrar Deus ou reforçar esses laços vitais com Ele. Acolhe-nos, mas tendo seu coração centrado em Deus pela prece, é a Ele que de fato nos quer conduzir. E que convertidos a Ele, ao Seu coração de Pai, regressemos, renovados, para junto dos irmãos a fim de com eles edificar o mundo da fraternidade, da justiça, da paz, à luz do Evangelho”. Neste sentido, o cardeal espera que a união entre os dois santuários reforce e propague “aos quatro ventos” a dimensão universal das propostas desta “mãe única”, que anseia “ser mãe e irmã da humanidade, discípula modelo no seguimento do Salvador”. Aos peregrinos, pede, por isso, que se façam “verdadeiros missionários” e sejam “portadores dessa experiência” para os irmãos das suas comunidades de origem.

De Fátima para o Brasil

A grande devoção do povo brasileiro a Nossa Senhora de Fátima pode aferir-se pelo número de escolas, igrejas, paróquias, institutos de vida consagrada e até empresas, cujo nome foi consagrado à Virgem da Cova da Iria. Dos 1.593 registos efetuados pelos serviços do Santuário de Fátima, 376 dizem respeito a paróquias, 350 a atividades económicas, 271 a institutos de vida consagrada, 133 a estabelecimentos de ensino e 67 a unidades de saúde, desde clínicas a hospitais. Entre estes e outros imóveis ‘batizados’ com o nome da Nossa Senhora de Fátima, destaque para a réplica da Capelinha das 16

Milhares de peregrinos são esperados em Fátima para a primeira grande peregrinação do ano

Aparições, inaugurada a 28 de maio de 2011, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o então arcebispo (agora cardeal) Orani João Tempesta, salientou a importância de Fátima para a paz no mundo. “Fátima é uma visita de Maria, nossa Mãe, é uma mensagem de afeto, uma mensagem para todos, em todas as épocas”, disse o purpurado.

NÚMEROS QUE IMPRESSIONAM O Santuário de Aparecida é considerado o maior templo mariano do mundo e acolhe uma média de 12 milhões de peregrinos por ano. Estende-se por uma área superior a 1,3 milhões de metros quadrados e fica no eixo entre duas das mais importantes cidades do Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro. A Basílica de Aparecida, onde está guardada a imagem da padroeira, tem capacidade para acolher 30 mil devotos, em torno do altar central. Já o recinto exterior está habilitado para receber 300 mil peregrinos numa só celebração.


Administrado desde 1894 pelos Missionários Redentoristas, o santuário brasileiro conta com mais de 1.700 colaboradores e já foi visitado por três Papas: João Paulo II, Bento XVI e Francisco. O dia mais significativo é o 12 de outubro, data em que se assinala o Dia de Nossa Senhora Aparecida, a grande manifestação de fé do povo brasileiro. Em Portugal, o Santuário de Fátima recebe a visita anual de cerca de cinco milhões de pessoas. As celebrações que reúnem mais peregrinos na Cova da Iria costumam ser as de 12 e 13 de maio, com participações que chegam a atingir os 300 mil crentes. Seguem-se as peregrinações internacionais

aniversárias de agosto e outubro, que normalmente levam a Fátima muitos milhares de devotos. O recinto da oração também já foi pisado por três Papas: Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI, com a particularidade do Pontífice polaco ter visitado o local das aparições de Nossa Senhora por três vezes. As grandes celebrações ocorrem ao ar livre, mas do complexo do santuário faz parte agora a Basílica da Santíssima Trindade, que tem capacidade para 9.000 lugares sentados.

Em Portugal, o Santuário de Fátima recebe a visita anual de cerca de cinco milhões de pessoas. As celebrações que reúnem mais peregrinos na Cova da Iria costumam ser as de 12 e 13 de maio, com participações que chegam a atingir os 300 mil crentes. Seguem-se as peregrinações internacionais aniversárias de agosto e outubro, que normalmente levam a Fátima muitos milhares de devotos

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dossier

MÉDIO ORIENTE Divisão milenar entre sunitas e xiitas

15 PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O CONFLITO ENTRE SAUDITAS E IRANIANOS Seja no Iraque, Síria, Líbano, Bahrein ou agora no Iémen, a disputa entre a Arábia Saudita e o Irão pelo controlo do Médio Oriente não é apenas geopolítica. Também está relacionada com a milenar divisão no Islão entre sunitas e xiitas texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA 1) Porque está a Arábia Saudita a enviar aviões para bombardear os rebeldes houthis do Iémen? A resposta politicamente correta é que os sauditas foram em socorro do presidente Abd Rabbuh Mandour Hadi, que na sequência da Primavera Árabe aproveitou a saída do ditador Ali Saleh, no 18

poder há três décadas, para se fazer eleger em 2012. E é verdade que Hadi estava a ser vítima de uma aliança entre os rebeldes houthis e tropas fiéis a Ali Saleh, ao ponto de ter fugido de Sanah, a capital, e procurado abrigo em Adén, de onde foi levado para a Arábia Saudita pois o avanço inimigo era imparável. Mas a

verdadeira razão da intervenção saudita é impedir que os houthis, aliados do Irão, controlem um país estratégico no flanco sul do reino. 2) Que teme a Arábia Saudita do Irão? Sauditas e iranianos são rivais geopolíticos, que tentam, cada um, dominar o Médio Oriente.


isso como forma de legitimar as aspirações a chefiar os 1.500 milhões de muçulmanos espalhados pelo mundo. Mas os ayatollahs que mandam no Irão desde a Revolução Islâmica de 1979 também se sentem líderes do Islão. Além disso, os sauditas são muçulmanos sunitas e os iranianos xiitas e há uma velha história de rivalidade entre estes dois ramos do Islão. 4) Quão velha é essa rivalidade? Tem séculos? Não só tem séculos, como ultrapassa os mil anos. Vem dos primeiros tempos do Islão, quando ainda se discutia quem deveria suceder ao profeta Maomé. E a batalha de Kerbala, em 680, é decisiva para se perceber o que opõe hoje sunitas e xiitas, sauditas e iranianos. 5) O que se passou em Kerbala, há mais de 1.300 anos?

Neste momento, os aliados do Irão estão a ser bem sucedidos em vários países: o Hezbollah é superinfluente no Líbano, o exército de Bashar al-Assad resiste na Síria e no Iraque os partidos próximos do Irão controlam o governo. Se os houthis, apoiados pelo Irão também, dominassem todo o

Iémen, os sauditas teriam razão para se sentirem cercados e ameaçados. 3) Quais as razões da rivalidade entre os líderes de Riade e de Teerão? A família real saudita é guardiã das duas cidades mais sagradas do Islão, Meca e Medina, e usam

Em Kerbala, cidade hoje situada no Iraque, não longe do rio Eufrates, enfrentaram-se as tropas dos Omíadas e os partidários de Hussein, filho de Ali, o quarto califa, e neto de Maomé por via da sua filha Fátima. Os Omíadas, que tinham capital em Damasco, na Síria, tinham aproveitado a morte de Ali, primo do profeta além de genro, para criarem uma dinastia de califas e assim acabarem com a tradição que dava a liderança dos muçulmanos aos companheiros de Maomé. Mas uma parte dos muçulmanos continuava a acreditar que a família do profeta deveria ter protagonismo e assim Hussein foi combater para reivindicar direitos. O embate teve lugar a 10 de outubro de 680, ou 10 de Muharram Maio 2015

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de 61 segundo o calendário islâmico, e Hussein foi martirizado, assim como vários outros elementos masculinos da família. Nesse dia concretizou-se a separação entre sunitas, hoje 90 por cento dos muçulmanos, e xiitas, apenas 10 por cento. 6) Mas se são ultraminoritários os xiitas, como pode o Irão ser um rival dos sauditas? Com 80 milhões de habitantes, quase todos xiitas, o Irão é poderoso no quadro do Médio Oriente. Além disso, conta como vizinho um Iraque também de maioria xiita. É preciso também ter em conta que os xiitas são já a maior comunidade no dividido Líbano e que na Síria, mesmo minoritários, há décadas que controlam o poder graças a um ramo esotérico, os alauitas. 7) Quer então dizer que os houthis também são xiitas e que se controlarem o Iémen podem ser um grande trunfo para o Irão? Exatamente. Os houthis são xiitas, tal como um terço dos iemenitas. E podem com o seu sucesso contaminar os xiitas que vivem na província saudita vizinha da fronteira. 8) Há xiitas na Arábia Saudita? Sim, uns cinco por cento da população do reino. E são numerosos nas regiões petrolíferas, o que sempre preocupou os sauditas caso houvesse algum tipo de revolta separatista. 9) Sunismo e xiismo são muito diferentes? Pode-se fazer a mesma pergunta em relação ao catolicismo e a ortodoxia ou em relação ao catolicismo e o protestantismo. E a resposta tem de ser que partilham o essencial, que no caso do Islão são os chamados cinco pilares: crença que só há um Deus 20

e Maomé é o seu profeta, cinco orações diárias, respeito do jejum no mês do Ramadão, peregrinação uma vez na vida a Meca e praticar a caridade. Mas o xiismo é mais aberto na interpretação do Alcorão. O xiismo tem também um clero hierarquizado, com os ayatollas no topo. 10) Foi agora divulgado um estudo que dá os muçulmanos a ultrapassarem os cristãos em número de crentes daqui a meio século. Isso alterará a proporção entre sunitas e xiitas? Pouco. Os cristãos, que hoje serão talvez 2.500 milhões, vão ser ultrapassados porque têm menos filhos que os muçulmanos, não por haver conversões em massa. E a explosão demográfica afeta tanto países de maioria sunita como xiita. 11) No ataque aos houthis, a Arábia Saudita conta com o apoio de dez países muçulmanos, entre os quais o Egito e a Jordânia. São todos de maioria sunita? Sim, com uma exceção, o Bahrein, cuja população é de maioria xiita mas tem um rei sunita. Aliás, quando houve os protestos da Primavera Árabe em 2011, que levaram à queda de Ben Ali na Tunísia, Hosni Mubarak no Egito e Muammar Kadhafi na Líbia, também a posição do monarca bahreini ficou frágil. Mas logo a Arábia Saudita enviou tropas para a ilha para travar aquilo que considerou uma manipulação feita pelos iranianos. 12) Quem é mais forte, Arábia Saudita ou Irão? Com 30 milhões perante os 80 milhões de habitantes do Irão, a Arábia Saudita parece frágil, mas tem a seu favor as receitas do petróleo, que lhe permitiram no ano passado ser o maior importador mundial de armamento. Conta ainda com a velha aliança com os Estados

Os cristãos vão ser ultrapassados pelos muçulmanos por terem mais baixa natalidade

Unidos da América (EUA). Já o Irão, muito afetado por sanções internacionais, espera agora que o acordo sobre o seu projeto nuclear permita sair do isolamento e recuperar a economia. Sobre a relação de forças, é preciso também ter em conta o peso dos aliados regionais de cada um, com os dos sauditas a serem mais numerosos e os dos iranianos mais eficazes.


13) É possível ver nesta rivalidade também uma luta entre árabes e persas? De certo modo sim, pois o Irão orgulha-se de ser o herdeiro do império persa que há 2.500 anos enfrentava os gregos e criou uma magnífica civilização. E se cedeu à islamização, nunca adotou o árabe em lugar do farsi e no século XVI a dinastia Safávida terá mesmo imposto o xiismo como religião do Estado para marcar essa diferença. Por seu lado, os sauditas reivindicam-se os sucessores das tribos beduínas que estiveram entre os primeiros companheiros de Maomé quando, no século VII, nasceu o Islão. No fundo, os mais autênticos dos árabes. 14) De que forma a emergência do Estado Islâmico afeta esta disputa entre sauditas e iranianos?

Os cristãos, que hoje serão talvez 2.500 milhões, vão ser ultrapassados porque têm menos filhos que os muçulmanos, não por haver conversões em massa. E a explosão demográfica afeta tanto países de maioria sunita como xiita

interessado em apoiar a ação dos EUA e estes aceitaram. Sem dúvida, essa cooperação também ajudou ao diálogo sobre o nuclear iraniano, agora com os americanos dispostos a aceitar um projeto civil desde que haja inspeções internacionais que previnam os ayatollahs de mudarem de ideia e produzirem a bomba. Estes últimos desenvolvimentos desagradam à Arábia Saudita, pois não só dão protagonismo internacional ao Irão, como o libertam do peso das sanções económicas. 15) Sabe-se que os cristãos são ameaçados nesse Médio Oriente onde nasceu o seu credo e onde há ainda comunidades que falam o aramaico, a língua de Jesus. Neste duelo sunitas-xiitas como se posicionam?

Como o jihadismo é feito por extremistas sunitas, e tanto De uma maneira que ainda está por cristãos como xiitas são os alvos, perceber na totalidade. De início, a nota-se uma aliança de interesses. Isso é evidente no Líbano e Arábia Saudita, tal como as outras também na Síria, onde as minorias monarquias do Golfo Pérsico, apoiam o regime pois este sempre financiaram todos os grupos que as protegeu. Que resultado terá esta na Síria se revoltavam contra a aliança entre cristãos do Médio ditadura de al-Assad. Entre esses Oriente e xiitas para os crentes em grupos extremistas sunitas, em guerra contra um poder controlado Jesus é difícil de prever. Para já trata-se de sobrevivência. pelos alaouitas, estavam filiais da Al-Qaeda, como a Frente Al-Nusra, e também organizações menos *jornalista do Diário de Notícias conhecidas, como um tal Estado Islâmico no Iraque e Levante, que viria a encurtar o nome ao mesmo tempo que alargava as suas ambições a todo o Médio Oriente. Quando as atrocidades do Estado Islâmico se tornaram conhecidas, os EUA formaram uma coligação internacional para o atacar e a Arábia Saudita apressou-se a juntar, até porque começou a perceber que os jihadistas mais cedo ou mais tarde se iriam voltar contra os antigos financiadores e a própria dinastia dos Saud poderia ser posta em causa. Ao mesmo tempo, com os xiitas entre os principais alvos do Estado Islâmico na Síria e no Iraque, o Irão mostrou-se Maio 2015

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mãos à obra

DAR ESPERANÇA AOS DOENTES COM SIDA Criada ao abrigo de um programa da Cáritas da Suazilândia, a Casa da Esperança já deu apoio a mais de 6.000 pessoas, proporcionando-lhes terapias de prevenção e mais dignidade na fase terminal texto FRANCISCO PEDRO foto DR O país é um dos mais pequenos do continente africano, mas tem a taxa de contaminação com o vírus da Sida mais alta do mundo. Na Suazilândia, um terço da população adulta é portadora da doença e os serviços de saúde pública não conseguem dar uma resposta eficaz, sobretudo aos pacientes em fase terminal. Com base nesta realidade, o bispo de Manzini, José Luís Ponce de Leon, uniu-se à Cáritas e criou a Casa da Esperança, onde as pessoas infetadas pelo HIV/Sida e pela

tuberculose podem encontrar um ambiente quase doméstico, que lhes proporciona não só o tratamento de prevenção e controlo da doença, mas sobretudo um clima de paz e dignidade, para quem já só precisa de cuidados paliativos.

ainda ações de formação em cuidados paliativos para cerca de 240 pessoas, entre pacientes e familiares, para que possam integrar as equipas de apoio aos doentes. Esta etapa deverá ficar concluída em julho deste ano.

Fundada em 2001, a unidade já prestou apoio a 6.600 pessoas, muitas delas sem capacidades económicas para suportar os custos da diária, que rondam os 20 euros. Agora, o projeto entra numa segunda etapa, que prevê a remodelação de grande parte das 25 casas de acolhimento que integram o complexo, a modernização do equipamento e o reforço da formação dos profissionais de saúde.

“Antes do advento dos medicamentos antirretrovirais, a Casa da Esperança foi uma resposta às circunstâncias terríveis em que muitas pessoas com HIV/Sida e tuberculose se encontravam na fase final das suas vidas. Neste momento, ainda é um lugar de paz e dignidade para pacientes terminais, mas a maioria das pessoas, graças à terapia, é capaz de voltar às suas comunidades e ao seu trabalho”, esclarece o bispo de Manzini e missionário da Consolata.

Com a ajuda da Conferência Episcopal Italiana (62 mil euros) e da comunidade local (9.000 euros), será possível restaurar as zonas de internamento, adquirir mobiliário, construir um armazém de apoio, criar um serviço de fisioterapia e assegurar o fornecimento de alimentação e tratamento diário a seis pacientes com dificuldades financeiras. Estão agendadas

A Suazilândia tem 1,1 milhões de habitantes, fica encravada entre Moçambique e a África do Sul e tem uma economia baseada na agropecuária, na exportação de cana-de-açúcar e na exploração das reservas de carvão mineral.

José Luís Ponce de Leon, bispo de Manzini, é um dos impulsionadores do projeto

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testemunho de consagrado

Margarida Ribeirinha, é Mestre de Noviças, das Irmãs de Santa Doroteia

tinha que fazer a experiência e arrisquei “ir e ver”. Já lá vão 25 anos de entrega apaixonada por Jesus. FM O papel da mulher na Igreja Católica precisa de ser mais valorizado?

“SER CONSAGRADA É SER UMA RESPOSTA DE AMOR”

Margarida Ribeirinha, 53 anos, é natural de Valongo, distrito do Porto. Entrou para as Irmãs de Santa Doroteia aos 28 anos e hoje, além de coordenadora da comunidade de terceira idade do Linhó, é Mestre de Noviças e responsável pela Pastoral Juvenil Vocacional da Província texto FRANCISCO PEDRO foto DR FÁTIMA MISSIONÁRIA Ser religiosa nos dias de hoje é um ato de coragem? Margarida Ribeirinha Ser religiosa nos dias de hoje, tal como nos de ontem, mais que um ato de coragem é um ato de amor. Ser consagrada é ser uma resposta de

amor ao amor de Deus por mim, revelado em Jesus, e que supera todos os “amores humanos” da minha vida. Este seguimento pressupõe capacidade de opção, de entrega, de gozo, de sofrimento, de alegria, de comunhão, de viver e ser com outros (viver em comunidade). FM Quando e como decidiu que queria seguir a vida religiosa? MR Desde criança sempre fui comprometida com a Igreja. Sempre pensei que a minha vocação fosse o que a sociedade pensa ser o mais comum – o casamento. Mas, quando comecei a pensar em assumir o casamento deixei de me sentir serena… senti-me inquieta. Não era o casamento a minha vocação. Aos 27 anos, uma irmã Doroteia em conversa, simples e apaixonada, falou-me de Santa Paula Frassinetti como apóstola da juventude, do carisma da congregação e dei comigo a admirar aquela “mulher” que pensava Deus, a Igreja, a juventude com uma paixão que me deixava perplexa. Desde aquele encontro, nada estava como antes. Senti que tinha que ir ver. Certezas: não tinha… mas

MR O papel da mulher na Igreja Católica tem vindo a ser valorizado de uma forma lenta, mas a dar passos. O acesso à teologia por parte das mulheres veio trazer “novidade” à reflexão sobre Deus, à interpretação das Escrituras e à vida da Igreja. No entanto, nos círculos mais comuns da vivência da fé, as Igrejas locais, a mulher ainda se situa no patamar do “fazer”. As mulheres devem ser chamadas à reflexão teológica e eclesiológica, à interpretação das Escrituras, a dar o seu contributo na reflexão pastoral. FM Nota diferenças entre as vocações de hoje e as de outros tempos? MR A vocação, o chamamento à vida religiosa, sempre foi um “mistério”. Deus chama, por isso as “vocações” são de sempre e de cada tempo. De sempre porque a primazia é de Deus, que chama para enviar a uma missão… de cada tempo porque cada pessoa é do tempo em que vive, da cultura e da realidade em que cresce. As vocações de todos os tempos devem responder à questão: que faria Jesus no nosso tempo? Que faria Jesus, se estivesse no meu lugar? Que faria Jesus? O consagrado deverá assumir ser essa resposta com humildade e amor.

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gente nova em missão

DESAFIO Responde ao questionário e fica a saber mais sobre os videntes

Olá amiguinhos! Maio é o mês mariano; no entanto, não iremos falar diretamente sobre Nossa Senhora. Vamos conhecer um pouco mais aquelas três crianças que se colocaram ao serviço do Senhor através de Maria: Francisco, Jacinta e Lúcia, conhecidos como os Pastorinhos de Fátima. Eles foram crianças iguais às outras. Gostavam de brincar, de correr no campo, de cantar, de dançar. Mas também ajudavam os pais nos afazeres de casa e iam com o rebanho para o campo. E aí também rezavam. Desde cedo, que Francisco, Jacinta e Lúcia aprenderam a amar Jesus. Por isso todos os dias, por volta do meio-dia, rezavam o terço texto CLÁUDIA FEIJÃO ilustrações RICARDO NETO

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OS TRÊS PASTORINHOS


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Como se chama o lugar onde aconteceu a quarta aparição de Nossa Senhora?

11 Qual a data em que o Francisco foi para o céu? 12 Jacinta também adoeceu e Nossa Senhora veio buscá-la para ir para o céu. Em que data aconteceu?

1 Qual o nome dos Pastorinhos? 13 Lúcia viveu muitos mais anos, mas também partiu para junto dos 2Francisco? Onde e quando nasceu o primos e de Nossa Senhora. Qual foi a data da sua partida? 3 Quando nasceu a Jacinta? 14 Qual o Papa que beatificou Francisco e Jacinta? 4 Quando nasceu a Lúcia? 5Francisco, Qual o parentesco entre 15 Em que dia ocorreu a Jacinta e Lúcia? beatificação de Francisco e de 6 Qual é o nome do local onde Jacinta? ocorreu a primeira aparição do Anjo da Paz? 16 Quando se celebra a Festa dos beatos Francisco e Jacinta? 7pediu Como é a oração que o Anjo lhes que repetissem três vezes? 17 Qual é o tema do quinto 8 Quando e onde aconteceu ano (2014-2015) da celebração a primeira aparição de Nossa Senhora?

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O que lhes pediu a Senhora “mais brilhante que o sol”?

do Centenário das Aparições de Fátima?

MOMENTO DE ORAÇÃO

Pastorinhos de Fátima, quero aprender convosco a ter um coração humilde, puro e atento ao Senhor. Quero aprender convosco a amar todas as pessoas. Quero aprender convosco a ser generoso e fazer boas ações. Quero convosco rezar por todos os que não creem, não adoram, não esperam e não amam Jesus. Ave-Maria...

Respostas 1. Francisco, Jacinta e Lúcia; 2. Aljustrel e 11 de junho de 1908; 3. 11 de março de 1910; 4. 22 de março de 1907; 5. Francisco e Jacinta eram irmãos e primos de Lúcia; 6. Loca do Cabeço; 7. Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam; 8. 13 de maio de 1917 na Cova da Iria; 9. Que ali fossem durante mais cinco meses seguidos no dia 13 à mesma hora, e que rezassem o terço todos os dias para que o mundo alcançasse a paz; 10. Valinhos; 11. 4 de abril de 1919; 12. 20 de fevereiro de 1920; 13. 13 de fevereiro de 2005; 14. Papa João Paulo II; 15. 13 de maio de 2000; 16. 20 de fevereiro; 17. “Santificados em Cristo”.

Conheces bem os três Pastorinhos? Que tal um jogo para, de forma divertida, conheceres um pouco mais ou relembrar o que já sabes sobre eles? Sozinho ou com os coleguinhas da escola e da catequese, procura ler a história de Francisco, de Jacinta e de Lúcia. Depois, o desafio começa em 3, 2, 1!

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tempo jovem

O mundo precisa de juventude positiva e construtivamente inquieta, disposta à partilha e à mudança que promove a dignidade humana a todos os níveis, não só económico; o mundo precisa de jovens dispostos a pôr mãos à obra e a dar forma e sentido aos seus sonhos e projetos

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NASCER DE NOVO

texto ÁLVARO PACHECO foto ANA PAULA Falar de missão na primeira pessoa é sempre um prazer: após 17 anos de Coreia do Sul, posso também fazê-lo aqui com vocês. Regressar à pátria depois de tantos anos tem sido um desafio interessante, porque na verdade toca-me aprender de novo a “ser português” para poder desenvolver a minha nova missão. Neste processo de reaprendizagem, há elementos que facilmente identifico como sendo comuns a todos os povos e culturas, nomeadamente a procura da felicidade e da valorização da identidade pessoal. Andamos todos à procura da felicidade, a qual tem, obviamente, traços culturais. Foi precisamente este aspeto, entre outros, que constituiu para mim um desafio e uma experiência muito preciosa. Desde miúdo que me sentia fascinado por outros povos e culturas e, como tal, entre os meus sonhos de infância estavam o ser guia turístico e fotógrafo ‘free-lancer’, para além de jogador de futebol. Tudo para poder conhecer o mundo. Até que um dia dois missionários da Consolata (um sacerdote e uma irmã) visitaram a minha escola e falaram da vocação missionária: a ideia ficou impressa no coração e aceitei o desafio de visitar a comunidade de Águas Santas, na Maia, a qual eu já conhecia pelo facto da minha mãe ser benfeitora do Instituto Missionário da Consolata há muitos anos. Entrei no seminário e assim teve início esta aventura que já me levou à Ásia. Viver e trabalhar na Coreia do Sul foi um autêntico “nascer de novo”, porque pude não só conhecer uma cultura muito diferente, como reavaliar

a forma de entender e viver a minha relação com Deus e com os outros. Senti-me sempre como uma criança que aos poucos aprende a ser membro da sua família e nação. Num mundo onde cada vez mais os livros e enciclopédias veem aumentar o pó em cima deles, porque muitas vezes o conhecimento se procura teclando num computador a palavra “Google”, ou onde muitas relações se estabelecem sem conhecimento pessoal, o estar com pessoas à volta de uma mesa ou de um altar e ouvir as suas histórias, partilhando também as minhas, histórias marcadas pela cultura e pela fé, é uma experiência profundamente marcante. Parte da minha alma é agora coreana e foi nesta partilha que descobri Deus de outra perspetiva, este Deus que me ama e me desafia à partilha onde quer que eu esteja e com quem quer que eu esteja. Viver a vida, para mim, só tem sentido quando me alimento Dele e do próximo, partilhando com eles o que sou e o que tenho.

humana a todos os níveis, não só económico; o mundo precisa de jovens dispostos a pôr mãos à obra e a dar forma e sentido aos seus sonhos e projetos. Da nossa parte, estes sonhos e projetos devem estar profundamente enraizados no Evangelho. Poder realizá-los é uma graça imensa; poder ajudar outros a realizar os seus é uma missão que devemos abraçar, dando continuidade à missão de Jesus. E uma forma de ser discípulo é precisamente esta da vocação missionária. É verdade que não é fácil, mas sabemos que na vida as coisas que mais satisfação nos dão são as que custam alcançar. São elas também que nos ajudam a formar o nosso carácter, a crescer a todos os níveis e a ser construtores de um futuro que acontece hoje mesmo.

O mundo precisa de juventude positiva e construtivamente inquieta, disposta à partilha e à mudança que promove a dignidade

E uma forma de ser discípulo é precisamente esta da vocação missionária. É verdade que não é fácil, mas sabemos que na vida as coisas que mais satisfação nos dão são as que custam alcançar. São elas também que nos ajudam a formar o nosso carácter, a crescer a todos os níveis e a ser construtores de um futuro que acontece hoje mesmo Maio 2015

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sementes do reino

IDE PELO MUNDO INTEIRO

texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA receberão cinco sinais: expulsarão A Solenidade da Ascensão marca os demónios (isto é, combaterão um fim e um início. Trata-se do as forças do mal que impedem final da caminhada histórica de a alegria), falarão novas línguas Jesus com os seus discípulos, (iniciarão a comunicar na “língua” mas é também o início da missão do amor e do perdão), apanharão daqueles que agora são enviados serpentes com as mãos, ainda que a todo o mundo para serem as bebam venenos não lhes fará mal testemunhas vivas do Mestre. (são muitas as coisas que podem envenenar a convivência, mas Leio a Palavra quem vive na presença de Deus não Mc 16, 15-20 se deixa envenenar) e, por último, O texto antecedente apresenta imporão as mãos aos doentes e Jesus que admoesta os discípulos os curarão (quem vive com Deus pela sua incredulidade. A morte acolhe os irmãos em todas as suas de Jesus deixara-os “perdidos”, necessidades). A fé exige que se incapazes de acreditar no acredite em Jesus e na sua palavra, testemunho dos próprios colegas. aceitando-o sem condições. Eis então que Jesus aparece aos 12 e envia-os em missão. Três são os momentos presentes Rezo a Palavra neste trecho: a aparição de Jesus O envio dos 12 é também o envio aos discípulos, a “partida” de dos discípulos, os de ontem e os de Jesus para o céu e a “partida” dos hoje. Reze por todos os enviados, por discípulos para a missão. todos os que estão em missão. Peça ao Pai que os acompanhe, ilumine e proteja na sua missão, e que nunca Saboreio a Palavra lhes falte a coragem de anunciar. De imediato, Jesus entrega a missão de anunciar a Boa Nova a todas as criaturas. Duas são Vivo a Palavra as condições para garantir a É ao mundo inteiro que os salvação: acreditar e ser batizado. discípulos são enviados, sem Aqueles que aceitarem o desafio qualquer tipo de barreiras ou 28

limites. Toda a humanidade é abraçada por esta missão. Todos os que recebem este anúncio são chamados a fazer uma opção. Acolher a Boa Nova da salvação, ou então optar por ficar de fora. Após quase 2.000 anos deste “mandato”, cresce no mundo o número daqueles que nunca ouviram falar de Jesus, apesar das facilidades de hoje. É sinal de que os discípulos de hoje continuam a ter muito trabalho a fazer. Será que eu estou a fazer a minha parte?

Reze por todos os enviados, por todos os que estão em missão. Peça ao Pai que os acompanhe, ilumine e proteja na sua missão, e que nunca lhes falte a coragem de anunciar


intenção pela evangelização

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO 03 24 5º Domingo da Páscoa Festa de Pentecostes Act 9, 26-31; 1 Jo 3, 18-24; Jo 15, 1-8 “SEM MIM NADA PODEIS FAZER” “Eu sou a videira, vós os ramos”. Circula em nós a seiva divina que nos faz viver de Cristo e para Cristo. Somos todos irmãos. Todos diferentes, mas todos com o mesmo sangue nas veias. Às vezes crescemos tortos e caminhamos à deriva, por nossa conta. Mas Ele corta, limpa e enfeita para que cresçamos e vivamos à sua imagem. Que a tua graça, Senhor, circule sempre em nossas vidas, para darmos frutos de santidade e de paz.

Act 2, 1-11; Gal 5, 16-25; Jo 15 26-27. 16,12-15 O ESPÍRITO RENOVADOR O Espírito Santo é o presente pascal de Cristo dado ao mundo e à Igreja. Cristão é aquele que é animado e movido pelo Espírito Santo. Ele vive e age em cada um de nós. É o Espírito da missão. É Ele que dilata o coração da Igreja. É Ele a fonte de comunhão. É fogo abrasador que incendeia corações. É presença amiga e brisa consoladora. Infunde em nós, Senhor, o Teu Espírito renovador, para que o nosso coração se abra a todos os povos da terra.

Act 10, 25-48; 1Jo 4, 7-10; Jo 15, 9-17 “AMAI-VOS COMO EU VOS AMEI” Só acredito na religião que for construída sobre o amor. Foi essa a religião que Cristo nos deixou. Que nos liga para sempre a Ele e nos liga entre nós. Que fez com que Ele desse a vida por nós e faz com que nós demos a vida pelos nossos irmãos. Amar é dar a vida. Nunca sou tão importante como quando me perco pelos outros. Ensina-me, Senhor, a tua arte divina de dar a vida a cada momento na gratuidade do amor.

Festa da Santíssima Trindade Deut 4, 32-40; Rm 8, 14-17; Mt 28, 16-20 HABITADOS POR DEUS Que extraordinária revelação: Deus é Trindade. Deus é comunhão. “Sede perfeitos na unidade”, pede-nos Jesus. Quer dizer: vivei à imagem da Trindade. É esse o grande sonho de Deus: construir a Igreja à imagem da Trindade. Quem diz Igreja diz família: um tecido de relações humanas e sobrenaturais no respeito pela diversidade de cada um. Quem quer que tu sejas, és trono do Altíssimo, és morada da Trindade. Iluminado pelo Espírito, és criatura de Deus.

10 6º Domingo da Páscoa

17 Ascensão do Senhor

Act 1, 1-11; Ef 4, 1-13; Mc 16, 15-20 “IDE E ENSINAI” Também nós somos enviados por Cristo com a missão especialíssima de testemunhar a sua ressurreição. “Ide e ensinai tudo quanto vos ensinei”. Proclamai com a palavra e com a vida que Deus é amor e outra coisa não quer senão que o amor se difunda. Hoje é dia da comunicação social. Comunicar o quê? As coisas dos homens e de Deus. Dá-nos, Senhor, a consciência de que somos teus enviados para implantar no mundo o teu reino de amor e de paz.

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DV

A intercessão de Maria ajude os cristãos que vivem em contextos secularizados a tornar-se disponíveis para anunciar Jesus

Anúncio em contextos secularizados

Vivemos numa época de profunda secularização. Perdeu-se a capacidade de ouvir e compreender as palavras do Evangelho, como uma necessidade. Enraizada sobretudo no mundo ocidental, apresenta-se, nas nossas culturas, através da imagem positiva de libertação e de possibilidade de imaginar a vida humana desligada de Deus. Desenvolve-se uma mentalidade na qual Deus foi posto de parte, total ou parcialmente, da existência e da consciência humana. Omitem-se os valores do Evangelho e os elementos fundamentais da fé. Cai-se no vazio do coração e numa mentalidade hedonista e consumista, que conduz à superficialidade estéril e ao cansaço. É importante neste campo a intercessão de Maria, a Mãe de todos. Ela tem a vocação de acolher os distantes. Porque está livre da representação oficial da Igreja (estruturas e hierarquias), Maria não tem a função de dizer quem está fora ou quem está dentro da Igreja e mais facilmente pode entrar em contacto com todos. Pode tornar presente Jesus no mundo através do amor recíproco em qualquer ambiente, lugar, estrutura social ou atividade humana. DV

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gestos de partilha

APOIE OS NOSSOS PROJETOS E AJUDE-NOS A CONCRETIZÁ-LOS CRIANÇAS IRÃ Madalena Magalhães 100,00€; Eduardo Caramelo 20,00€; Irene Pereira 20,00€; Madalena Araújo 40,00€; Raul Cabecinhas 25,00€; Eva Costa 25,00€; Deolinda Figueiredo 46,00; Madalena Guerra 20,00€; João Cação 19,20€; Abílio Matias 50,00€; Adelina Antunes 100,00€; Zélia Alarico 20,00€; Donzília Cardoso 50,00€; Lurdes Neves 15,00€; Maria Silva 50,00€; João Pedro 20,00€; David Duque 100,00€; César Alfaiate 20,00€. Total geral = 3.044,70€. OFERTAS VÁRIAS Anónimo 80,00€; Arminda Rodrigues 36,00€; Joaquim Nunes 93,00€; Fernando Lima 33,00€; José Santos 43,00€; Anónimo 30,00€; Rui Faria 41,00€; Adelina Azóia 43,00€; Helena Ferreira 29,00€; Ana Sousa 71,00€; João Ascensão 43,00€; Teresa Silva 43,00€; Generosa Beja 118,00€; Maria Luz Albuquerque 40,50€; Manuel Gaspar 26,00€; José Graça 93,00€; Isaura Borges 36,00€; Ana Ventura 43,00€; Quitéria Paiva 75,00€; Conceição Morais 113,00€; Amélia Gomes 75,00€; Céu Gomes 76,00€; Armandina Silva 26,00€; Anónimo 43,00€; Adelaide Carvalho 36,00€; Sucena Bento 31,00€; Maria Gomes 143,00€; Lucília Marques 33,00€; Lourdes Soares 143,00€; Joaquina Trigo 73,00€

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

Quatro anos depois era chamado ao serviço militar, e em abril de 1918 enviado para a guerra.

SEMINARISTA CONSTÂNCIO LEINARDI

PAJEM DA MÃE CONSOLATA texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração HUGO LAMI de pessoas. Recordemos que foi Em 1918 a Europa e o mundo dessa mesma gripe que faleceram encontravam-se numa das guerras mais mortais de todos os tempos, a os dois videntes de Fátima, o Francisco e a Jacinta. 1ª Guerra Mundial, que fez uns 40 milhões de vítimas e nove milhões O jovem italiano Constâncio de soldados mortos. Mas em 1918 surgiu outro flagelo horrendo a que Leinardi, nascido em 1900 no Piemonte, Itália, seguiu o sonho de foram dados vários nomes: Gripe Espanhola, ou simplesmente Gripe, ir evangelizar o mundo e entrou para o seminário das Missões da Peste ou Pneumónica. Calcula-se Consolata em novembro de 1913. que tenha matado uns 40 milhões

De temperamento humilde, simples e piedoso, afeiçoadíssimo ao Instituto, devotíssimo do fundador, o padre José Allamano, sentindo-se perdido fora da sua casa de santificação que era a Consolata, Constâncio sentiu um abalo profundo. Mas reagiu de maneira justa: vida militar e guerra seriam para ele um meio para desenvolver as virtudes que mais apto o tornariam para o seu futuro trabalho nas missões. De repente, não foram as balas nem os canhões a destruirem o seu sonho, mas a Gripe Espanhola. Em 19 de setembro de 1918, este delicado pajem de Cristo e da Virgem, confortado com os sacramentos que preparam a alma para as núpcias eternas do Cordeiro, partia para a missão de glória a Deus na pátria do céu. Contava depois o capelão sacerdote que o acompanhou na curta doença que o Constâncio “falava várias vezes com êxtase e fervor das missões com que sonhava”. Ao fundador escrevia o pequeno ‘missionário’: “O meu coração anseia tanto entrar de novo para a casa materna do Instituto! Graças a Deus, mantenho-me fiel à minha vocação missionária”. De coração triste, escrevia Allamano aos membros do Instituto: “Dos lábios deste vosso jovem irmão na vocação missionária aprendei a corresponder sempre com toda a fidelidade a tão alta chamada”. E lá na festa do céu, embevecido ao contemplar aquela de quem Deus se ‘enamorou’ para Mãe do seu Filho, o pequeno Constâncio continua provavelmente a sonhar com as missões na terra.

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o que se escreve DIRETÓRIO HOMILÉTICO Manual essencial para todo o clero e seminaristas

FELIZ DE TI, QUE ACREDITASTE Etapas do caminho de fé de Maria

Maria de Nazaré é uma mulher feliz. Feliz, porque acreditou. Neste livro de um professor especializado no Novo Testamento, que leciona em Madrid e em Roma, a Mãe de Jesus é apresentada como uma caminhante na Fé. A par de uma análise científica dos textos bíblicos, propõe-se aqui uma leitura espiritual das passagens onde Maria é exemplo. Há no texto um convite sério à reflexão pessoal, à oração, à meditação. Não é propriamente um tratado de mariologia, mas é um estímulo a crescer na própria fé, tendo Maria, a bem-aventurada, como modelo. Um bom livro para nos acompanhar durante todo o mês de maio. Autor: Juan José Bartolomé 206 páginas | preço: 14,00 € Edições Salesianas

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Na sequência dos últimos documentos da Santa Sé, na Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, o Papa Francisco dedica um grande espaço ao tema da homilia. É parte importante e integrante da celebração litúrgica. Este diretório, apresentado pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, é uma ajuda útil aos celebrantes e anunciadores da Palavra de Deus no exercício do seu ministério pastoral. Autor: Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos 166 páginas | preço: 7,50 € Paulus Editora

ABRAMO-NOS À LUZ DO SENHOR Os Sacramentos Os Dons do Espírito Santo A Igreja A voz do Pastor

Aqui se condensam num único volume as catequeses do segundo ano de pontificado do Papa Francisco sobre os Sacramentos, os Dons do Espírito Santo e a Igreja. São reflexões muito oportunas e muito concretas sobre os sacramentos da iniciação cristã com interpelações diretas aos fiéis presentes na praça de São Pedro e aos fiéis do mundo inteiro. Autor: Papa Francisco 176 páginas | preço: 10,90 € Paulus Editora

DOM BOSCO Uma vida sem tempo

Dom Bosco continua a fascinar, 200 anos após o seu nascimento (1815). A aventura, aqui narrada, é de um padre italiano, com origens humildes que inicia a sua missão numa Turim neo-industrializada. Desenvolve-se nos andaimes dos pedreiros, nos bairros pobres, nos pátios das casas, nas prisões, em casas senhoriais e nos escritórios dos políticos. Para quê? Para evangelizar os jovens, fosse qual fosse a sua condição e origem. Um livro e um carisma sempre atual. Autor: Domenico Agasso, Renzo Agasso, Domenico Agasso Jr. 334 páginas | preço: 12,50 € Edições Salesianas

SÓ O AMOR GERA VIDA Pessoa, família, sociedade

“O amor, muito antes de ser uma questão filosófica ou mesmo teológica, é vida. Muito antes de pensar sobre o amor e sobre a sua natureza, cada um de nós faz a experiência do amor. O amor dos pais é aquele conforto primeiro que torna a vida uma aventura constante e bela”, diz o autor na introdução a este precioso livro, onde se reconhece que a fonte do amor e da felicidade é a relação com Deus. Livro útil e oportuno. Autor: Duarte da Cunha 398 páginas | preço: 18,00 € Paulus Editora


megafone por Albino Brás

Todos sabemos que vamos morrer. É a única certeza que temos. Não tenho medo da morte, tenho medo do sofrimento. É na vida que se encontram todas as maldades do mundo. A morte é o descanso

Neste momento, sendo a Igreja Católica das poucas que pede perdão por atos no passado, vê reinar demasiado silêncio à sua volta quando se torna na mais perseguida religião do mundo

Henrique Monteiro Expresso, 6 de abril de 2015

Quando algo é moralmente correto há que defendê-lo sem se preocupar com consequências políticas ou pessoais que vamos pagar

Gunter Grass escritor alemão, Nobel da Literatura

Muita gente ‘pequena, em lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, pode mudar o mundo

Eduardo Galeano jornalista e escritor uruguaio

Manoel de Oliveira cineasta português

É preciso fazer tudo em união com ‘Maria, tomá-La com exemplo e fazer

as coisas como ela própria as faria, se estivesse no nosso lugar

Podemos até viajar pelo mundo todo para encontrar a beleza, mas se não a levarmos connosco, nunca a encontraremos

Ralph Waldo Emerson escritor, filósofo e poeta americano

Beato José Allamano fundador dos Missionários e das Missionárias da Consolata

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fátima informa

Novo altar do recinto será mais sóbrio, ficará mais baixo e mais próximo dos peregrinos

SANTUÁRIO COM NOVA IMAGEM EM OUTUBRO

Está a erguer-se no Santuário de Fátima um novo presbitério, que dará uma nova imagem ao recinto texto JULIANA BATISTA foto DR O Santuário de Fátima é, por estes dias e ao longo dos próximos meses, um local de obras. Além dos peregrinos, circulam pelo recinto da Cova da Iria camiões e

Escultura barroca

Em cada uma das terças-feiras do mês de maio, entre as 18h30 e as 20h00, há sessões formativas sobre escultura barroca portuguesa no Consolata Museu. A formação será ministrada por Sandra Costa Saldanha, diretora do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja.

Jovens em peregrinação

O Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ) vai realizar mais uma Peregrinação Nacional de Jovens a Fátima. A jornada, conhecida como “Fátima Jovem”, 34

trabalhadores da construção civil. O ambiente de silêncio, que outrora dominava o espaço, deu agora lugar ao ruído. O motivo destas alterações está relacionado com a construção do novo presbitério. “Temos clara consciência do enorme incómodo que este tipo de intervenção trará aos peregrinos, não só por causa dos condicionalismos no uso dos espaços, mas também pelo inevitável ruído que uma obra deste género provoca e que compromete o ambiente de oração e silêncio, tão característico de Fátima. Porém, esta é uma obra necessária”, disse Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário.

está agendada para os dias 2 e 3 de maio e terá como tema “Felizes, como Maria, a cheia de graça”.

Manuais de Religião e Moral

O Fórum Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) 2015 vai realizar-se em Fátima, de 8 a 10 de maio, sob o tema “Unidos a Deus, ouvimos um clamor – A alegria da missão na Escola”. O encontro nacional será marcado pelo lançamento dos manuais escolares da disciplina.

Durante a fase das obras “o santuário não pretende cancelar nenhuma das peregrinações e atividades”, assegurou o sacerdote. Em outubro, os trabalhos deverão estar concluídos e o Santuário terá uma nova imagem: o presbitério vai encontrar-se mais baixo em relação ao anterior, mais sóbrio, mais próximo dos peregrinos e com melhores condições para os concelebrantes. O projeto é da autoria do arquiteto Alexandros Tombazis (o mesmo que projetou a Basílica da Santíssima Trindade).

Maio em agenda 23 Retiro no Seminário da Consolata: “Consolar na vida quotidiana” 26 Peregrinação dos Feirantes 31 Peregrinação dos Pescadores


Abrace

esta vida

Acredita que ainda se eliminam crianças na Guiné-Bissau em nome das crenças no sobrenatural, em pleno século XXI? Basta que tenham alguma deficiência, sejam gémeas, ou apenas feias demais para o gosto dos pais, e têm a sentença lida à nascença. A Casa Bambaran, em Bissau, foi criada para acolher estas crianças, rotuladas de Irã ou crianças feiticeiras. E precisa da nossa ajuda.

Dê colo a esta ideia Alimentar uma criança na Casa Bambaran custa 4,60€ por dia O custo médio diário de cada utente (alimentação, educação, saúde, vestuário) é de 19,20€ Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Projeto “Crianças Irã” Rua Francisco Marto, 52 | 2496-448 FÁTIMA NIB 0033.0000.45365333548.05

um abraço entre a fé e a vida


A GRANDE MARAVILHA Quando Deus fez as flores e o arco-íris, quis, dessa pincelada de beleza, fazer também o coração da Mãe. E tirou às nascentes e às cascatas, às fontes e aos rios, uma só gota da sua transparente limpidez e foi desse salpico de infinito que os olhos da Mãe fez. A voz foi com a música dos bosques, o murmúrio das ondas e da aragem. Depois, das Suas Mãos fez as da Mãe, de força e de leveza as cumulou. E a Mãe tornou-se a grande maravilha que o Amor de Deus por nosso amor criou. Fernanda Seno, Trilho de pó


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