25 anos de Peregrinação

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ANO LXI | MARÇO 2015 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

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25 ANOS DE PEREGRINAÇÃO

FAMÍLIA DA CONSOLATA REUNIDA NUM ABRAÇO DE FÉ

MAIS DIFERENÇAS ENTRE RICOS E POBRES Pág. 13 PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE O BOKO HARAM Pág. 18 “SEM ORAÇÃO NÃO ME Pág. 23 ENTENDO”


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial

CURAR A INDIFERENÇA “Quando estamos bem e comodamente instalados, facilmente nos esquecemos dos outros, não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença”. É uma “atitude egoísta” que na opinião do Papa Francisco “atingiu uma tal dimensão mundial que podemos falar de uma globalização da indiferença”. Porque esta atitude o preocupa, decidiu propô-la como tema de reflexão para a Quaresma deste ano. Lembram-se? Foi em Lampedusa, no sul da Itália, que, na sua primeira viagem apostólica, perante a imane tragédia de vítimas da imigração, Francisco alertou pela primeira vez para esse problema global. “Quem é o responsável do sangue destes irmãos e irmãs? Ninguém. Todos respondemos do mesmo modo: não sou eu, isso não é comigo, outros serão, mas eu não, certamente”. Foi aí que condenou essa “indiferença global”, fruto dum bem-estar que anestesia as pessoas, que as faz assobiar para o lado e as torna insensíveis aos gritos dos irmãos. Repetiu semelhante apelo perante a constatação que a crise síria ainda não foi resolvida e as pessoas correm o risco de se habituarem a ela, esquecendo as vítimas quotidianas e os sofrimentos inimagináveis de milhares de prófugos. Uma indiferença que dói! “Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir”.

parte de um único corpo, há que cuidar dos membros mais frágeis e pequeninos, ultrapassando as fronteiras da Igreja, que deve entrar em relação “com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos”. “Que as nossas paróquias e as nossas comunidades se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!”. Segundo: porque nestes dramas humanitários é grande a força da oração, Francisco avança com a iniciativa “24 horas para o Senhor”, que se celebrará em toda a Igreja nos dias 13 e 14 de março. Terceiro: efetuar gestos concretos de caridade que ajudem os de perto e os de longe através dos inúmeros organismos caritativos da Igreja. Por último, “porque a necessidade do irmão me recorda a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos”, que o sofrimento do próximo constitua um apelo à mudança de atitudes. É com estes meios – conclui Francisco – que poderemos adquirir “um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalização da indiferença”. DARCI VILARINHO

Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência? Como Igreja, como comunidades ou individualmente somos chamados a intervir. Primeiro, porque fazemos Março 2015

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº3 Ano LXI – MARÇO 2015 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 24.600 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa Ana Paula Contracapa Lusa Ilustração Hugo Lami, H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

18 17 PERGUNTAS E RESPOSTAS PARA PERCEBER O TERROR DO BOKO HARAM 03 EDITORIAL Curar a indiferença 05 PONTO DE VISTA A pobreza em Portugal 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES “Um bem” sem tempo 08 MUNDO MISSIONÁRIO

Austrália viola direitos humanos de crianças imigrantes presas Conflitos armados na Somália põem milhares de crianças em risco Guerra causa emergência alimentar a 2,5 milhões no Sudão do Sul Direitos humanos e liberdade religiosa no Vietname em relatório Hong Kong exalta a preciosidade da vida consagrada durante três dias El Salvador em festa a invocar como mártir o seu arcebispo Óscar Romero 10 A MISSÃO HOJE “Só Deus sabe como se difunde Taizé” 11 PERFIL SOLIDÁRIO Sonhos reais 12 A MISSÃO HOJE Meio século de entrega a Moçambique 13 DESTAQUE Ricos pouco solidários 14 ATUALIDADE Um apelo ao despertar da fé 22 MÃOS À OBRA Padaria ajuda a matar a fome a crianças desnutridas 23 TESTEMUNHO DE CONSAGRADO “Sem oração não me entendo” 24 GENTE NOVA EM MISSÃO Pai de coração 26 TEMPO JOVEM A inteligência espiritual 28 SEMENTES DO REINO Jesus veio para salvar 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA A alegria vem de Deus 32 O QUE SE ESCREVE 33 MEGAFONE 34 FÁTIMA INFORMA Milhares de ciclistas esperados em Fátima

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ponto de vista

A POBREZA EM PORTUGAL texto ARNALDO DA FONTE *

Quando se diz que Portugal é um país pobre, pensamos, quase por instinto, na falta de recursos proporcionados pela terra que pisamos. Não temos petróleo, o ouro é escasso, metais preciosos são inexistentes ou raros, não temos barcos de pesca capazes de formar uma armada pesqueira e a agricultura não gera meios de subsistência suficientes para abastecer com segurança o país. A população é pouca e as elites do saber e do conhecimento científico também escasseiam. Tornámo-nos, de há muito, um país que partiu. Foi-se o império, saíram os emigrantes, tudo parecendo reduzir-se a histórias do passado, geralmente cobertas de glórias nem sempre coincidentes com a verdade histórica. Acreditamos que o tempo tudo justifica, para o bem e para o mal, e assim nos quedamos. A sociedade parece esfarelar-se sob o peso de uma descrença contagiosa e incurável. Os chamados indicadores económicos dizem, friamente, com números, que somos pobres. Há milhares de desempregados, pessoas de todas as idades com fome, gente em idade ativa sem trabalho, velhos sem apoios, crianças abandonadas à sorte e às incapacidades das famílias e à quase falência técnica do Estado.

nacionalismos exacerbados e as rivalidades de índole guerreira. E a guerra espreita. Dizem, alegados entendidos, que gastámos mais do que podíamos. Quem gastou? Em quê? Quem tinha obrigação de prestar contas não as prestou. Onde está o dinheiro que a dita União Europeia enviou? Gente com poder e sem freio, desprovida de valores, desfigurou o povo humilde, transformando-o numa massa acrítica a quem apenas é conferido o direito (inútil) de votar. Resume-se a isto a nossa democracia? As soluções estão nas pessoas. São as responsáveis pelas vitórias e pelas derrotas. Exercer, consciente e responsavelmente, a cidadania, não se resumirá só a acusar. Enriquecer a consciência e o sentimento de solidariedade poderá ser um passo determinante para encontrar caminhos de progresso social. Não é virtude ser pobre. O melhor que se pode dizer de um homem é que é sério e honrado, pelas suas consequências sociais. * Advogado

Porquê? Cada um, na intimidade, encontrará, com maior ou menor lucidez, respostas. E soluções? É notório o falhanço das políticas, dos políticos, grassando a corrupção, o desleixo, parecendo sucumbir o país a uma apatia coletiva, levando, tudo e todos, para o abismo. Culpa-se a Europa, entidade que, não sendo abstrata, carece de identidade própria – abundam, crescentemente, os Março 2015

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leitores atentos

RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2015. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

“Aprendo tanto” Tenho 67 anos e apenas há

uma dúzia de anos conheço diretamente as vossas missões, apesar de ser uma pessoa sempre empenhada na minha paróquia. Graças à minha disponibilidade de tempo (sou reformada da indústria têxtil onde trabalhei mais de 40 anos) e vendo a idade da minha vizinha Preciosa que, por não encontrar mais ninguém, me pediu para ser colaboradora, aceitei. Foi em boa hora que vos conheci e assim posso ajudar-vos um pouquinho, o que muito me apraz. Com a nossa revista aprendo tanto do bom que vai por esse mundo fora! Já enviei um 6

TIRE AS SUAS DÚVIDAS Que obrigações tem um católico na Quaresma? Em que consiste o jejum e a abstinência? Entrámos no tempo da Quaresma, que é tempo de penitência e de conversão. A Igreja convida os seus fiéis a fazerem deste tempo como que um retiro espiritual apoiado em três pilares: o jejum, a oração e a esmola que exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus e aos outros. O jejum e a abstinência são obrigatórios na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa. A abstinência é obrigatória, no decurso do ano, em todas as sextas-feiras em que não haja alguma solenidade. O jejum (que obriga os fiéis que tenham feito 18 anos até terem completado os 59) é a forma de penitência que consiste na privação de alimentos. Faz-se normalmente limitando a alimentação diária a uma refeição, podendo tomar-se alimentos ligeiros às horas das outras refeições. A abstinência (que obriga os fiéis a partir dos 14 anos completos) consiste na escolha de uma e-mail ao padre Tobias de Oliveira por gostar muito da sua pequenina crónica. E ele respondeu-me, o que me deixou admirada. Maria de Jesus

Obrigado, Maria de Jesus, e parabéns pela sua publicação do livro “Danças e Andanças do Povo da Erada”.

“Tanta saudade!” Bem hajam por quanto fazem não

só com a vossa presença física, mas também com o que nos trazem do mundo através da nossa FÁTIMA MISSIONÁRIA, fazendo-nos ver as diversas realidades, ajudando-nos a pensar nos outros, a meditar e sentir quanto sofrimento físico e

alimentação simples e pobre. Concretiza-se tradicionalmente na abstenção de carne. É bom manter esta forma de abstinência, particularmente nas sextas-feiras da Quaresma. Mas poderá ser substituída pela privação de outros alimentos e bebidas, sobretudo mais requintados e dispendiosos. Os doentes estão dispensados da sua observância. Não podemos esquecer o espírito deste jejum e abstinência: a primeira conversão é saber que “Deus está no outro, e se quero fazer bem a Deus é ao outro que tenho que fazer bem”. Quer dizer que o jejum que mais agrada a Deus é preocupar-se com a vida do irmão mais pobre. É partilhar o pão com o esfomeado, tratar os doentes, os idosos, os que não podem dar-nos nada em troca. É louvável, por exemplo, pôr de parte o custo de uma refeição de que nos abstemos e dá-lo a alguma obra de assistência ou a um projeto a favor dos mais necessitados.

moral grassa nesta terra que Deus criou para nela vivermos, amar e ser felizes. Em vez disso guerras, egoísmo e prepotência, e quantas vezes invocando o nome de Deus. Nasci em Moçambique, onde vivi 50 anos, na cidade de Pemba, antes Porto Amélia. Uma terra linda de missão. Na minha diocese, a atividade missionária era intensa. Até havia um seminário e a relação entre católicos, muçulmanos e hindus era afetiva e harmoniosa, respeitando-nos na vivência da fé de cada um. Tanta saudade! Maria Amélia


horizontes

“UM BEM” SEM TEMPO texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI Sara era uma mulher grande e uma grande mulher. Tinha uma gargalhada sonante e um colo gigante. Estava habituada a apoiar os aflitos que recorriam à Segurança Social onde trabalhava. Era assistente social. Esta era a vocação que lhe enchia a alma: restituir a alegria e alimentar a esperança. O seu gabinete tinha a porta sempre aberta: lá, podiam entrar todos – e todos entravam: as colegas que queriam uma orientação ou um consolo, ou mesmo quando sentiam necessidade de ter “simplesmente” uma conversa amiga; pessoas que não sabiam a quem recorrer… e que saíam de lá com mais brilho no olhar. Sara tinha tempo para tudo, mas sobretudo, tinha tempo para todos. Hoje Sara acompanha a irmã Amélia ao escritório do advogado. O problema é sério e só um profissional experiente poderá ajudá-las: a casa que Amélia comprara recentemente estava em

situação ilegal e corre o risco de a perder, perdendo também o valor já entregue. O doutor Rui começou por querer perceber quem eram estas novas clientes e por que o escolheram. – Senhor doutor, estamos aqui por uma “coincidência” – explicou Sara. Um dia dei boleia a uma senhora que caminhava com dificuldade devido ao peso dos sacos que transportava. Estava chuva e disse-me que ia a pé para casa por não ter dinheiro para o autocarro. Contou que estava a ser ajudada num assunto de burla por um doutor Rui, muito bom, que estava a tentar restituir-lhe a casa. Agora, neste problema da minha irmã, lembrei-me da conversa com aquela senhora e viemos procurá-lo. No decurso da conversa, o advogado identificou as duas irmãs como sendo filhas do Inácio, o senhor da mercearia onde ele ia tantas vezes em criança, acompanhado pela mãe, comprar a farinha, o arroz, o pão, tudo... Lembra-se que tantas vezes traziam as compras “fiado” até os pais terem possibilidade de pagar. Também se lembra de quanto gostava de ir àquele senhor: ele fazia-lhe uma festinha na cabeça, e, melhor: a mão grande do senhor Inácio deixava no seu bolso de menino “uma mão cheia” de rebuçados, justificando no meio de um sorriso generoso:

– Toma, Rui! És um bom rapazinho, e não te esqueças de distribuir com os teus irmãos! O doutor Rui contava este episódio ainda comovido, reconhecido pela generosidade do senhor Inácio, não só pelos rebuçados mas por ter salvo tantas vezes a sua família de dias de fome. E afirma que essa generosidade fora determinante na possibilidade de ele ter feito o curso de direito e quanto o ensinou a ser o homem que é. A conversa prolongou-se, recordando o Inácio, o senhor generoso e o pai amoroso. Neste reconhecimento e nos laços de afeto que ali se criaram entre o advogado e as duas irmãs, nascia uma nova história: o problema de Amélia seria assumido gratuitamente pelo doutor Rui. Sara olhou o céu. Um líquido quente enchia-lhe os olhos e no encontro com os raios de sol faziam-na ver o arco-íris como se viesse de dentro de si. Viu uma nuvem passar suavemente e disse baixinho uma oração para ser ouvida pelo pai: obrigada, Pai!

Março 2015

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

AUSTRÁLIA VIOLA DIREITOS HUMANOS DE CRIANÇAS IMIGRANTES PRESAS A Comissão Australiana dos Direitos Humanos divulgou recentemente um relatório sobre crianças imigrantes detidas nas cadeias da Austrália. Através do seu diretor, a Missão Católica manifestou uma enorme deceção: “Estamos muito preocupados com as conclusões deste relatório”. São preocupantes “os inevitáveis danos psicológicos que estão a ser causados às crianças

que ainda se encontram detidas”, explicou Martin Teulan. “Estamos firmemente convencidos que a detenção dos imigrantes não é nunca a favor das crianças. Por isso pedimos a sua libertação imediata”. O diretor da Missão Católica explicou que “o relatório mostra como a lei e a política australianas violam o importante princípio dos direitos humanos, segundo o qual

as crianças só podem ser detidas em casos extremos e por um breve período de tempo”. A Coligação Australiana tem em curso uma campanha itinerante pelo país, que só terminará quando todas forem libertadas: “A política carcerária das crianças é intolerável e esta poderá ser uma boa ocasião para o governo tomar a decisão sensata de libertar todas as crianças presas seja no continente como nas ilhas no meio do mar”.

Conflitos armados na Somália põem milhares de crianças em risco

Guerra causa emergência alimentar a 2,5 milhões no Sudão do Sul

Mais de 200 mil crianças somalis, com menos de cinco anos, sofrem de desnutrição aguda, segundo dados das Nações Unidas. Mais de 38 mil correm elevado perigo de vida. Os níveis de desnutrição permanecem elevados e as perspetivas para 2015 são pelo menos preocupantes. A longa e devastadora carestia de 2011 já provocou mais de 250 mil vítimas, metade das quais crianças. Esta dolorosa estatística, fornecida pelas Nações Unidas, resulta não apenas da longa seca que nos últimos três anos devastou o Corno de África,

Dois milhões e meio de sudaneses do Sul estão arrasados pelo medo e pela angústia da guerra. Têm necessidade urgente de comida e do regresso da paz. A única coisa que possuem é fome e doenças, com o receio de ver as suas crianças recrutadas para a guerra. É urgente uma rápida intervenção das Nações Unidas e das organizações humanitárias para socorrer o Sudão do Sul mergulhado nos combates.

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mas também dos conflitos armados na região. Uma grande parte da população vive em perigosas condições de insegurança alimentar.


Direitos humanos e liberdade religiosa no Vietname em relatório

Hong Kong exalta a preciosidade da vida consagrada durante três dias

Um fórum de 24 organizações independentes publicou um relatório que chama a atenção para as violações dos direitos humanos no Vietname em 2014. O documento inclui abusos sobre a liberdade religiosa e assinala que no Vietname há, pelo menos, 105 presos de consciência. Entre os signatários do documento há organizações cristãs, budistas e grupos da sociedade civil para a defesa dos direitos das minorias.

No ano dedicado à vida consagrada, a diocese de Hong Kong promoveu três dias de reflexão e celebração. Mais de 200 religiosos e religiosas participaram na celebração que teve lugar, a 2 de fevereiro, na paróquia de Santo Inácio, para renovar os votos de pobreza, obediência e castidade. Meia centena de jovens quiseram conhecer mais de perto o serviço prestado pela vida consagrada à Igreja e ao mundo.

El Salvador em festa a invocar como mártir o seu arcebispo Óscar Romero

vitória da palavra pregada” do arcebispo mártir, explicou o porta-voz da diocese. Um comunicado da presidência da República de El Salvador informa que será criada “uma equipa que deverá trabalhar com a Igreja Católica para a organização do ato com o qual será beatificado monsenhor Romero previsto para El Salvador”. A pequena cidade de Ciudad Barrios, a 150 quilómetros de capital, acolheu com alegria a notícia do reconhecimento do martírio do seu concidadão Óscar Romero. A frase que mais se ouviu entre o povo dizia: “Disse-o o Papa; agora é verdade!”.

“É uma alegria imensa para a Igreja de El Salvador escutar a notícia do decreto de aprovação do martírio de monsenhor Romero”, escreve a arquidiocese de San Salvador. A 3 de fevereiro, o Papa Francisco autorizou a promulgação do decreto sobre o martírio do Servo de Deus Óscar Arnolfo Romero. Nascido a 15 de agosto de 1917, em Ciudad Barrios, o arcebispo de San Salvador foi assassinado em ódio pela fé em 24 de março de 1980, em San Salvador. “A beatificação de monsenhor Romero é uma vitória da fé, uma

Rezar pelos governantes Residindo em Roma, tenho-me proposto tratar especialmente de assuntos que digam respeito à vida da Igreja e à sua dimensão missionária, mas não me parece despropositada hoje uma palavra sobre a vida política italiana. Cheguei aqui há quase três anos e a cena política era confrangedora: um governo de unidade nacional apoiado por vários partidos mas não representando nenhum deles e um Presidente da República para quem não se conseguia vislumbrar um sucessor. Juntavam-se a tudo isto a crise económica e o desemprego. Embora a atmosfera política ainda hoje seja densa, notam-se no entanto alguns sinais muito encorajadores: temos um novo Presidente da República e um governo relativamente estável; o desemprego está a diminuir e aumenta o poder de compra. Direis talvez que esta situação pouco tem a ver com a vida da Igreja, mas de facto não é assim. Onde a paz social ganha raízes, também o bem estar moral e espiritual vão florescer. Desde os seus inícios a Igreja reza e manda rezar pelos governantes. A isso vos convido eu também para que, como diz um texto de São Paulo: “levemos uma vida serena e tranquila”.

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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a missão hoje

O irmão David faz de cicerone aos grupos de portugueses que visitam a comunidade de Taizé

A solidariedade não se pode resumir a boas ações. Tem de ser evangélica, algo novo, que não cabe dentro de rotinas criadas no passado. Há algo de novo: o que somos capazes de ouvir dos jovens? Têm visões livres de preconceitos criados, de hábitos. Queremos estar à escuta e dar voz aos jovens

“SÓ DEUS SABE COMO SE DIFUNDE TAIZÉ”

para ouvir sem julgar nem impor. Mas, ao mesmo tempo, é preciso saber propor o encontro com Cristo.

Começou a frequentar a comunidade ecuménica aos 15 anos e a paixão ficou para sempre. Natural de Portalegre, o irmão David é o responsável pelo acolhimento dos jovens portugueses em Taizé (França). Numa passagem por Portugal, deixou o testemunho de uma comunidade que São João Paulo II classificou como uma fonte: quem por lá passa bebe, mata a sede e continua o caminho

ID Taizé não é um ideal. Trata-se de viver os valores do Evangelho, o espírito das Bem-Aventuranças resumido em três palavras: alegria, simplicidade e misericórdia. São estes os valores que os irmãos tentam viver e partilhar com as pessoas com quem se encontram e acolhem. Só Deus sabe como se difunde Taizé. Começou de forma simples com as pessoas que o irmão Roger acolhia em casa durante a guerra. Tentou ir dando resposta aos grupos que chegavam e partilhando o que se vivia na comunidade. Ainda hoje é assim: não se fabrica nada para os jovens, mas os irmãos partilham o que vivem.

texto e foto TONY NEVES MissãoPress (MP) O irmão Roger fundou a comunidade há 75 anos. Que imagem de marca deixou impressa em Taizé? Irmão David (ID) Deixou em Taizé um grande desejo de acolher cada irmão, peregrino, jovem. Chegou com a ideia de criar uma comunidade fermento de reconciliação numa Europa dividida. O acolhimento não pode ser estático, tem que haver predisposição 10

MP Como se foi difundindo o ideal de Taizé?

MP Como se programam e organizam os grandes momentos na comunidade? ID Tentando partilhar o que vivem e acolhendo as propostas que os jovens fazem. O programa procura adaptar-se à realidade de quem vai a Taizé. A escuta, o acompanhamento no seu próprio caminho, em pontos diferentes de caminhada – uns mais afastados,


perfil solidário

outros mais próximos, uns mais empenhados, outros mais críticos. É fundamental descobrir Cristo uns nos outros. Não temos só para dar, mas muito para receber dos milhares de jovens que nos visitam. MP Como se fez a passagem de testemunho, com o irmão Alois a dar continuidade ao trabalho do prior fundador? ID A morte do irmão Roger foi um grande choque pela forma como aconteceu (foi assassinado em 2005 durante a oração, na Igreja). Mas foi também um momento de comunhão profunda. Nós tornamo-nos mais atentos aos irmãos e criamos mais unidade. Como ele já tinha 90 anos, a sucessão estava preparada. O irmão Roger disse à comunidade, em janeiro de 2006, que seria o irmão Alois a assumir o ministério de prior. Portanto, a passagem estava profeticamente anunciada. MP 2015 é ano duplamente jubilar: 100 anos do nascimento do irmão Roger (10 da sua morte) e 75 anos da fundação da comunidade. Que desafios a lançar aos jovens? ID As propostas são as que lançamos a nós próprios e sentimos necessidade de partilhar. Há dois pilares: vida de oração e solidariedade. A oração traz comunhão com Deus e nunca nos pode isolar dos outros. O irmão Alois propôs que este jubileu ajude a avançar para uma nova solidariedade, fazendo frutificar a nossa experiência de comunidade. A solidariedade não se pode resumir a boas ações. Tem de ser evangélica, algo novo, que não cabe dentro de rotinas criadas no passado. Há algo de novo: o que somos capazes de ouvir dos jovens? Têm visões livres de preconceitos criados, de hábitos. Queremos estar à escuta e dar voz aos jovens. É verdade que com pouco se pode criar um ambiente simples de oração, partilha e solidariedade. Publicação conjunta MISSÃO PRESS

SONHOS REAIS Mariana Carreira, diretora executiva da Fundação Make-A-Wish Portugal (Fundação Realizar Um Desejo) desde o final de 2010, ajuda a levar momentos mágicos a crianças gravemente doentes. A Fundação Make-A-Wish Portugal, a afiliada portuguesa da Make-A-Wish Internacional, tem como missão realizar os desejos de crianças e jovens, com idades entre os três e os 18 anos, que sofrem de doenças que colocam em risco a sua vida, levando-lhes um momento de força, alegria e esperança. Fundada em abril de 2007, esta Instituição Particular de Solidariedade Social, com sede em Lisboa, continua a sua missão graças ao apoio da rede de voluntários espalhados por todo o país. Na Make-A-Wish todos trabalham em prol da realização de desejos, que exigem um enorme trabalho de preparação. Para uma criança doente, ver o seu desejo realizar-se significa que nada é impossível, significa recuperar a esperança e a força para continuar a lutar. “Para a Make-a-Wish, é muito importante transmitir aos mais novos que é possível concretizar desejos e ultrapassar obstáculos,” afirma Mariana Carreira. A Make-A-Wish não coloca restrições às fantasias das crianças, os desejos são determinados única e exclusivamente pela criatividade da criança. Usualmente vão desde ter algo, a ir a algum sítio, a conhecer alguém famoso ou até a ser algo. Até hoje, já realizou aproximadamente 480 desejos e tem 80 por realizar, em Portugal.

Março 2015

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a missão hoje

Artur Marques, missionário da Consolata, está em Moçambique desde 1965

MEIO SÉCULO DE ENTREGA A MOÇAMBIQUE Chegou a fazer mais de 7.000 quilómetros de carro, sozinho. Acolheu portugueses na Igreja da sua paróquia, no tempo quente da guerra civil, e andou no meio do fogo cruzado. Mas simplifica a sua própria história, ao resumir numa frase os 50 anos de missão em Moçambique: “Não fiz milagre nenhum” texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA Artur Marques nasceu há 78 anos na Caranguejeira, uma freguesia do concelho de Leiria que “entregou” muitos dos seus conterrâneos aos desígnios do sacerdócio. Ainda catraio, quarta classe acabada de concluir, deixou-se enternecer pelas palavras sábias e evangélicas de “um padre italiano” que tinha ido à paróquia em busca de candidatos a missionários. Daí até à entrada no Seminário dos Missionários da Consolata, em Fátima, foi um pequeno passo. Em 1956 já estava a caminho de Itália, para concluir os estudos e fazer o noviciado, e oito 12

anos depois era ordenado sacerdote. A verdadeira aventura missionária começou em 1965, com a chegada a Moçambique. Já passou pelas missões de Inhambane, Nampula, Mambone e Maputo, foi pároco, formador e responsável pela Salina de Batanhe, explorada pelo Instituto Missionário da Consolata. “Vivi de tudo um pouco, mas não fiz milagre nenhum. Limitei-me a estar com as pessoas, a trabalhar com elas e a aprender com elas”, recorda o sacerdote à FÁTIMA MISSIONÁRIA. Nos tempos conturbados da guerra,

Artur Marques viu-se, por vezes, cercado pelo fogo. A sua paróquia foi atacada pelos militares e deu abrigo a muitos portugueses, que se refugiaram na Igreja. Chegou a ter que percorrer distâncias superiores a 7.000 quilómetros de carro, sozinho, enfrentando as armadilhas de estradas mal cuidadas e os perigos de um conflito armado cruel. Mas até a isso reage com simplicidade e algum humor: “estive no centro da fogueira e nunca me queimei”. Quanto ao futuro do país, o sacerdote considera haver “um campo aberto” de trabalho, quer a nível pastoral, quer a nível de formação. “É preciso continuar a trabalhar para evitar que o país se divida ao meio, com muçulmanos de um lado e cristãos do outro, e ajudar aquela gente nos estudos, de forma a serem eles a assumir a continuidade da sua nação”, diz o missionário, que este ano completa 50 anos de serviço pastoral em Moçambique.


destaque A desigualdade é mais insuportável quando irresponsável

RICOS POUCO SOLIDÁRIOS

texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA Em fevereiro último, duas notícias puseram particularmente a nu o caráter moral das desigualdades económicas no mundo: por um lado, a revelação de que as diferenças entre ricos e pobres no mundo continuam a aumentar; por outro, a constatação de que alguns entre os mais ricos se recusam a contribuir com a sua parte do imposto, o meio ao dispor dos Estados para diminuírem as desigualdades entre os que mais têm e os que menos podem. A primeira dessas notícias foi revelada pela Oxfam, uma confederação de organizações internacionais que atua em mais de 100 países com projetos para diminuir a pobreza e a injustiça no mundo. Segundo ela, em 2016, mais de metade da riqueza do mundo estará nas mãos de apenas um por cento da população mais rica do planeta. Entre esse um por cento, 80 pessoas possuem

atualmente a riqueza equivalente a 50 por cento de toda a população mais pobre do planeta, ou seja, 3,5 mil milhões de pessoas. As conclusões da Oxfam tiveram por base estudos realizados sobre os anuários acerca do património mundial do banco Crédit Suisse, referentes aos anos 2013 e 2014, assim como a lista das pessoas mais ricas do mundo, da revista internacional Forbes.

Lux Leaks e Swiss leaks

Estes dados foram revelados na mesma semana em que um consórcio de jornalistas de investigação de vários jornais internacionais revelou os mecanismos através dos quais um banco britânico, HSBC, com sucursal na Suíça, organizava um sistema de evasão fiscal de muitos dos seus clientes. O caso, conhecido por Swiss Leaks, revelou que 180,6 mil milhões de euros passaram pelas contas suíças do HSBC, envolvendo 100 mil clientes e 20 mil sociedades offshore, entre novembro de 2006 e março de 2007. Estas revelações verificaram-se meses depois de um outro caso de fuga aos impostos ter sido denunciado, envolvendo as autoridades luxemburguesas

e importantes empresas internacionais. O Lux Leaks revelou a existência de acordos secretos realizados durante vários anos entre o Luxemburgo e mais de 300 grandes multinacionais para lhes permitir fugir ao fisco nos países onde atuam. Ainda que as fugas reveladas pelo Swiss Leaks possam ter prescrito, ou por mais justificações legais que se possam encontrar para o sistema tributário, as questões morais envolvidas são evidentes: numa Europa que enfrenta inúmeras dificuldades económicas e onde se pedem tantos sacrifícios sociais, particularmente penosos para os mais desfavorecidos, há entre os que mais podem quem pretenda fugir ao seu dever de solidariedade e quem deixe a tarefa de pagar a crise aos mais pobres. Com efeito, por mais que consideremos as desigualdades como uma inevitabilidade, ela torna-se insuportável quando baseada na irresponsabilidade e na fraude. Poderá sustentar-se que as regras do mercado não têm uma moral, mas estender-se essa afirmação ao capitalismo é, a longo prazo, questionar a sua legitimidade enquanto modelo de regulação social dos povos.

Entre [um por cento da população mais rica do planeta], 80 pessoas possuem atualmente a riqueza equivalente a 50 por cento de toda a população mais pobre do planeta, ou seja, 3,5 mil milhões de pessoas

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atualidade

PEREGRINAÇÃO ANUAL Família da Consolata renova compromisso missionário

UM APELO AO DESPERTAR DA FÉ Unidas em torno do pedido feito pelo Papa Francisco – “Despertem o mundo” – milhares de pessoas da Família Missionária da Consolata reuniram-se em Fátima para um dia de oração em comunhão com o beato José Allamano. As celebrações, que este ano comemoraram as bodas de prata, serviram de incentivo à renovação do carisma e de convite a um novo “abraço entre a fé e a vida” texto FRANCISCO PEDRO fotos ANA PAULA e DR

Os jovens leigos de Águas Santas criaram uma peça de teatro sobre o despertar do mundo

Milhares de peregrinos dividiram-se em grupos para participar na via-sacra aos Valinhos

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Orero Kennedy Owuor, missionário da Consolata queniano

A cultura do encontro e do abraço foi uma constante entre os participantes na peregrinação

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Artur Teixeira, presidente da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal

Cidália Santos e Maria Mendes Jordão participaram em todas as peregrinações da Consolata

As crianças deram a conhecer as dificuldades da Casa Bambaran, no final da Eucaristia

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Lusitano Raínho aproveita as peregrinações para fazer catequese junto dos seus conterrâneos

Vestido com a túnica branca usada pelos acólitos, Lusitano Raínho, 60 anos, era a imagem de um cristão feliz, motivado e dinâmico. Diácono permanente há 14 anos, na paróquia de Montemor-o-Velho, distrito de Coimbra, preparava-se para participar na Eucaristia da 25ª Peregrinação Anual da Família Missionária da Consolata, em Fátima. Este ano, também ele comemorou as bodas de prata de uma celebração iniciada em 1991, em honra do beato José Allamano, fundador do Instituto Missionário da Consolata (IMC). Em 25 anos, nunca falhou. E o entusiasmo mantinha-se inalterável, como se


fosse a primeira vez. “Aproveito sempre para dar catequese ao grupo que trago comigo, convidando as pessoas a deixarem a religiosidade tradicional de lado, a não fazerem o sacrifício pelo sacrifício, mas a viverem a sua fé de forma ativa, colocando-se ao serviço das outras comunidades e dos carenciados, como fazem os missionários”, contou à FÁTIMA MISSIONÁRIA. Este convite a despertar para a fé, a combater a indiferença e a seguir o exemplo de Cristo para tornar o mundo mais justo, solidário e fraterno, foi, de resto, o aspeto mais sublinhado nesta peregrinação.

Quer através das palavras que o Superior Provincial do IMC em Portugal, padre António Fernandes, dirigiu aos milhares de peregrinos, quer através da mensagem deixada na Eucaristia pelo presidente da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), Artur Teixeira, que presidiu à celebração. “Inspirados pela enorme paixão que o vosso fundador demonstrou pela Igreja e pela missão, oferecei-vos, hoje, para seguir Jesus Cristo e O anunciar a todas as pessoas. Ancorai a vossa vida na Palavra de Deus, nessa fonte inesgotável de sabedoria, de sentido, de mistério e de amor. Porque a Palavra de Deus ilumina, guia, fortalece, aquece, inspira, compromete e eleva-vos à vida de Deus e vos faz descer igualmente à realidade de cada pessoa, família e comunidade”, exortou o sacerdote. Cidália Santos, 70 anos, natural de Barcarena, Oeiras, não só concorda com esta interpelação, como tenta pô-la em prática no seu dia a dia, pelo “amor” que tem aos Missionários da Consolata. “Fazem um trabalho maravilhoso e só tenho pena que não existam mais

em Portugal, porque nos fazem muita falta”, disse a peregrina, uma das muitas que, tal como Lusitano Raínho e Maria Mendes Jordão (da Figueira da Foz), tem participado em todas as peregrinações anuais. Presença habitual também nas celebrações, as crianças e jovens, voltaram, mais uma vez, a dar um colorido diferente à peregrinação. Primeiro, os jovens leigos missionários de Águas Santas (Maia) com a animação musical e uma dramatização, depois as crianças, com a representação na Eucaristia das dificuldades porque passa a Casa Bambaran, uma instituição da Guiné-Bissau que acolhe menores abandonados pelos pais e que os Missionários da Consolata decidiram ajudar este ano com uma campanha de angariação de fundos.

Peregrinos responderam ao apelo e participaram em grande número nas bodas de prata da celebração

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dossier

17 PERGUNTAS E RESPOSTAS PARA PERCEBER O TERROR DO BOKO HARAM

NIGÉRIA Eleições adiadas por causa da violência extremista

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Há seis anos que a Nigéria sofre a violência do grupo islamita que sequestra escolas, põe bombas em mercados e expulsa os militares dos quartéis no nordeste do país. Quando há um ano mais de 200 raparigas foram raptadas, o mundo indignou-se, mas pouco mudou. Agora que o Boko Haram já ataca países vizinhos, finalmente há uma resposta militar a sério. E a Nigéria até adiou seis semanas as eleições presidenciais para pôr todas as suas tropas a combater o grupo jihadista liderado por Abubakar Shekau, o homem que sonha com um califado no Sahel texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA


1) A Nigéria adiou as eleições de 14 de fevereiro para finais de março para que todos os militares se envolvessem numa operação para acabar de vez com o Boko Haram. Quais são as hipóteses de sucesso do exército nigeriano de fazer em seis semanas o que não foi capaz em seis anos, desde que o grupo terrorista de inspiração islamita começou a usar a violência? Não é provável que o Boko Haram seja destruído de um momento para o outro. Mas será a primeira vez que as forças armadas nigerianas, as quintas mais poderosas de África, se comprometem em desferir um golpe fatal ao grupo e isso talvez signifique que haja

uma estratégia bem delineada e o comando seja entregue aos oficiais mais competentes. Veremos se desta vontade de fazer resulta algo de concreto. De salientar que contra o Boko Haram estão também a mobilizar-se os exércitos do Chade, dos Camarões e do Níger e isso traz novidades ao combate a um grupo terrorista que desde 2009 controla partes do nordeste da Nigéria e ataca por vezes países vizinhos. 2) Esta mobilização dos militares do Chade, dos Camarões e do Níger significa que o Boko Haram deixou de ser um problema exclusivo da Nigéria? Sim, mas na realidade o Boko Haram sempre teve objetivos mais vastos que a Nigéria. O grupo não reconhece os Estados nascidos da descolonização e muito menos as fronteiras traçadas a régua e esquadro deixadas pelos europeus. O seu objetivo declarado é proclamar um califado numa zona do Sahel que corresponderia grosso modo a um antigo império islâmico regional que os europeus só conseguiram derrotar no final do século XIX e que se estendia do nordeste nigeriano ao Níger, ao Chade e ainda ao norte camaronês. Quanto à mobilização recente dos vizinhos da Nigéria, deve-se à multiplicação dos ataques na zona de fronteira, o que, de repente, assustou os vários governos e levou a uma resposta conjunta. 3) Como está a ser encarado na Nigéria este adiamento das eleições? A oposição discorda e suspeita mesmo que se trata de uma forma de o Presidente Goodluck Jonathan ganhar tempo, se possível com alguns sucessos militares para exibir. Mas oficialmente a decisão de adiar a ida às urnas foi da comissão eleitoral, um órgão independente, que considerou que a ofensiva contra o Boko Haram deixava as forças armadas sem soldados para assegurar a tranquilidade da votação. E se as seis semanas de adiamento foram uma forma de dar tempo

aos militares e mesmo assim não atrasar em demasia o processo eleitoral, agora a dúvida é se tudo irá estar a postos para 28 de março, a nova data das presidenciais e legislativas. Será um ponto de honra para Jonathan. 4) Funciona bem a democracia na Nigéria? Desde 1999, com a morte do ditador Sani Abacha e o regresso à democracia, a Nigéria tem feito sempre eleições, tem havido alternância e a imprensa é plural, o que significa que os governantes são expostos nas suas fraquezas. Existe também uma sociedade civil cada vez mais ativa, como se viu no ano passado quando milhares de pessoas vieram para as ruas exigir ao Presidente que fizesse algo contra o Boko Haram, que tinha acabado de sequestrar mais de 200 raparigas de uma escola. Foi então que nasceu o Bring Back Our Girls, “Tragam de volta as nossas meninas”, que correu mundo, com figuras como a primeira-dama americana, Michelle Obama, a empunharem o cartaz com o alerta contra o grupo extremista. 5) Fala-se, porém, de corrupção generalizada? O mal da corrupção afeta vários países africanos e explica muitas vezes a ineficácia da administração pública. A Nigéria não é exceção e por isso a campanha eleitoral estava a ser marcada pelas promessas de Mohammadu Buhari, o candidato da oposição, de tornar mais transparente a gestão do país. Buhari, que foi há 30 anos Chefe de Estado durante um curto período e já sofreu várias derrotas eleitorais, tem fama de honesto. 6) Jonathan é cristão, Buhari é muçulmano. Há alguma diferença na forma como o Boko Haram olha para estes dois candidatos presidenciais? Nenhuma. O líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, chama ambos de infiéis. E na verdade, tanto Março 2015

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No sul, onde a colonização britânica foi mais intensa, predominam os cristãos, cerca de 40 por cento dos 170 milhões de nigerianos. No norte, conquistado pelos europeus bem mais tarde, os muçulmanos são maioritários, e em termos gerais representam metade da população do país. Há ainda 10 por cento de animistas, seguidores das religiões tradicionais africanas

promessa de uma sociedade mais justa se a lei islâmica for adotada. Yusuf usa meios pacíficos, mas em 2009 os seus apoiantes entram em conflito com os militares. Capturado, Yusuf morre nas mãos da polícia. É então que Shekau assume a chefia do grupo e adota a estratégia violenta. 11) Que se sabe de Shekau?

Jonathan como Buhari dizem-se determinados a acabar com o grupo islamita.

9) Estes últimos, os kanuri, são vistos como a base de apoio do Boko Haram. É mesmo assim?

7) Como é a relação entre cristãos e muçulmanos na Nigéria?

Tanto Shekau como os principais líderes do Boko Haram são kanuris, uma etnia com sete milhões de pessoas. E os seus combatentes também, até porque nas zonas que controlam, no estado de Borno, instituíram uma espécie de recrutamento obrigatório. Ao mesmo tempo, os êxitos militares do grupo atraem voluntários. E com a promessa de regresso aos tempos do Império Kanen-Bornu, somada à denúncia de esquecimento por parte do governo de Abuja, o Boko Haram consegue atrair combatentes.

No mínimo, atribulada. No sul, onde a colonização britânica foi mais intensa, predominam os cristãos, cerca de 40 por cento dos 170 milhões de nigerianos. No norte, conquistado pelos europeus bem mais tarde, os muçulmanos são maioritários, e em termos gerais representam metade da população do país. Há ainda 10 por cento de animistas, seguidores das religiões tradicionais africanas. Desde a independência, alcançada em 1960, os sucessivos governos têm feito tudo para garantir uma certa harmonia entre as duas grandes componentes do país. E a própria estrutura federal funciona nesse sentido, pois há uma grande margem de autogoverno dos 36 estados. Prova dessa descentralização é 12 estados nigerianos terem aderido à sharia, a lei islâmica. 8) Tão importante como a coexistência religiosa é também a entre etnias. É verdade que a Nigéria tem mais de 250 tribos?

10) Shekau não é o fundador do grupo. Quem foi? Mohammed Yusuf, um líder religioso do estado de Borno, começa em 2002 a defender a instauração da sharia. A sua mensagem passa pela denúncia da corrupção e pela

No ano passado, após uma revisão das estatísticas, o país até ultrapassou a África do Sul para se tornar a maior economia do continente. Sim, e esse é um cálculo por baixo. Com um PIB acima dos 500 A maior etnia são os hauças e fulanis com 29 por cento, depois os mil milhões de dólares, a yorubas com 21 por cento, seguidos Nigéria é hoje a 26.a economia dos igbos com 18 por cento. mundial e até tem o homem Destaque ainda para os ijawa, mais rico de África com 10 por cento e os kanuri, com quatro por cento. 20

Que tem entre 35 e 45 anos e que é kanuri. Fala, além do kanuri, haúça, árabe e algum inglês. Foi já dado como morto por várias vezes. Os Estados Unidos da América (EUA), que o consideram terrorista, oferecem sete milhões de dólares pela sua captura. Tem um estilo desafiador e no início do ano, enquanto queimava uma bandeira nigeriana, dizia que o mais populoso país de África estava morto. 12) O que quer dizer Boko Haram? O verdadeiro nome do grupo é Jama’atu ahlis sunna lidda’awati wal-jihad, que traduzido do árabe significa “pessoas comprometidas com a propagação dos ensinamentos do profeta e da guerra santa”. Mas é como Boko Haram que estes jihadistas se tornaram famosos, uma expressão em língua haúça que quer dizer “a educação ocidental é pecado”. Percebe-se assim a fúria contra as escolas, como aquela em Chibok, no estado de Borno, de onde em abril de 2014 foram levadas mais de 200 raparigas, muitas delas vendidas como escravas ou forçadas a casar-se com rebeldes. 13) Que outros atos violentos tem cometido o Boko Haram? É uma longa lista. Já mataram vacinadores contra a poliomielite, o que faz da Nigéria um dos três países do mundo onde a doença não está erradicada. São especialistas em sequestros em massa. Fazem atentados suicidas mesmo em Abuja, a capital, e em Lagos, a


a vigiar o Boko Haram e os EUA estavam a treinar tropas nigerianas até há dois meses antes de uma rutura por causa da recusa de Washington em vender certas armas ao seu aliado na África Ocidental. 16) Existe tradição separatista na Nigéria que possa servir de exemplo ao estado de Borno, cuja capital é Maiduguri, onde nasceu há 13 anos o Boko Haram? Sim, mas sempre derrotada. A tentativa de secessão mais célebre foi a dos igbos na década de 1960, que deu origem à Guerra do Biafra. Mas a unidade nigeriana triunfou. Nos tempos mais recentes, houve grupos rebeldes separatistas na zona do delta do Níger, mas uma mais justa redistribuição das receitas do petróleo silenciou a maior parte das suas reivindicações. 17) A Nigéria tem riqueza que chegue para desenvolver o norte e tirar argumentos ao Boko Haram? Na Nigéria existem mais de 250 tribos. As mais representadas são as etnias hauças e fulanis

longínqua capital económica que fica no sul do país. Já usaram crianças nos atentados.

15) Além dos países vizinhos, há promessas de ajuda internacional para acabar com o Boko Haram?

14) Como se fornece de armas o Boko Haram?

Quando aconteceu o rapto em Chibok houve muitas promessas de apoio externo, tanto de uso de forças especiais, como de informação por satélite sobre os esconderijos do Boko Haram. Mas pouco aconteceu, que se saiba. Agora, o Presidente Jonathan fez um quase desesperado pedido de auxílio aos EUA através de uma entrevista a um jornal. Dizia que se os aviões da América atacam os jihadistas do Estado Islâmico na Síria e no Iraque, porque não também o Boko Haram. Na realidade, há drones americanos

De início, combatiam com machetes e paus, mas hoje os rebeldes contam com armamento capturado em quartéis no nordeste abandonados pelos militares nigerianos, que muitas vezes no passado evitaram combater os jihadistas. O grupo tem também verbas, obtidas graças ao negócio dos sequestros e às extorsões nas zonas que controla, para comprar armas que surgiram no mercado negro na zona do Sahel depois da guerra civil líbia.

Em teoria sim. No ano passado, após uma revisão das estatísticas, o país até ultrapassou a África do Sul para se tornar a maior economia do continente. Com um PIB acima dos 500 mil milhões de dólares, a Nigéria é hoje a 26.a economia mundial e até tem o homem mais rico de África. Mas com a quebra do preço do petróleo, os cofres governamentais vão estar mais vazios, pois os 2,5 milhões de barris de crude diários são a grande fonte de receitas. *jornalista do DN

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mãos à obra

PADARIA AJUDA A MATAR A FOME A CRIANÇAS DESNUTRIDAS

um número que, apesar de ser preocupante, está longe de traduzir a dura realidade, pois as mães têm vergonha de recorrer ao centro nutricional e muitos menores continuam a crescer sem acesso a uma dieta equilibrada. Há quem sobreviva apenas com uma refeição diária de arroz – a carne é quase um exclusivo das grandes festas – ou com o pão da manhã, fabricado com farinha de mandioca e de milho, temperado com óleo de palma. Às mesas das famílias mais pobres raramente chega a fruta e a que é adquirida nos mercados, com exceção da pouca que é embalada, está exposta a todos os tipos de contaminação.

A construção de uma padaria nos arredores de Kinshasa, na República Democrática do Congo, serviu para atenuar a desnutrição crónica a milhares de menores e para ajudar algumas famílias a Para inverter esta situação, sobretudo nos bairros de melhorarem o seu rendimento texto FRANCISCO PEDRO foto DR Num país onde o salário mensal de um professor primário não ultrapassa os 88 euros, onde a maioria da população vive apenas com o rendimento de uma pessoa, onde a taxa de desemprego é elevada e as famílias são, por norma, numerosas, sobram os casos de desnutrição infantil e de fome crónica. Ao Dispensário Mater Dei, instalado pelos Missionários da Consolata nos arredores de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (RDC), chegam todos os dias 20 a 30 crianças desnutridas,

“A cidade de Kinshasa tem dez milhões de habitantes e a produção e fornecimento de pão não é suficiente, especialmente para os bairros mais distantes do centro. É por isso que a mini-padaria irá contribuir para melhorar a alimentação até agora insuficiente das nossas comunidades”, explicam os missionários envolvidos no projeto 22

Kimbondo, Sans Fil, Telecom e Mbenseke, onde vivem perto de 28 mil pessoas, os missionários desenvolveram um projeto para construção de uma pequena padaria, com capacidade para produzir diariamente 3.000 pães,

com qualidade nutritiva e respeito pelas regras de higiene. Dado que o clima local não é favorável ao cultivo de trigo, o cereal é importado, permitindo assim aos cinco trabalhadores contratados a produção de pão com mais calorias e a preço controlado. Os pães são depois vendidos nos bairros por três dezenas de mulheres, recrutadas nas comunidades paroquiais. Cada uma tem direito a 100 unidades e beneficia de uma percentagem nas vendas, que as vai ajudar a compor o magro orçamento familiar. “A cidade de Kinshasa tem dez milhões de habitantes e a produção e fornecimento de pão não é suficiente, especialmente para os bairros mais distantes do centro. É por isso que a mini-padaria irá contribuir para melhorar a alimentação até agora insuficiente das nossas comunidades”, explicam os missionários envolvidos no projeto.

O pão é vendido nas ruas pelas mulheres, que assim conseguem aumentar o rendimento familiar


testemunho de consagrado A oração é o espaço em que cultivo a minha relação pessoal com Jesus. É o tempo em que Lhe entrego tudo o que trago no meu coração e Lhe peço que caminhe comigo e viva comigo a minha vida, as minhas preocupações, as minhas tarefas

Ângela Coelho é postuladora da causa da canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto

“SEM ORAÇÃO NÃO ME ENTENDO” Ângela Coelho tem 43 anos, é superiora da comunidade de Fátima da congregação da Aliança de Santa Maria, postuladora da causa da canonização dos beatos Jacinta e Francisco Marto, vice-postuladora do processo de beatificação da Irmã Lúcia e médica. Ainda jovem, deixou-se contagiar pela radicalidade da vivência do Evangelho texto FRANCISCO PEDRO foto SANTUÁRIO DE FÁTIMA FÁTIMA MISSIONÁRIA É uma apaixonada pela vida e obra da Irmã Lúcia. O que mais a impressionou na vida da vidente? Ângela Coelho A longa vida da Irmã Lúcia foi toda ela dedicada à difusão dos apelos de Nossa Senhora, em Fátima. Admiro a fidelidade desta mulher à missão que lhe foi confiada, a sua docilidade a Deus e a dedicação persistente no meio das muitas dificuldades, procurando configurar-se com Jesus e com o seu mistério pascal. Tendo contemplado o rosto da “Senhora mais brilhante do que o sol”, Lúcia

não perdeu nunca uma visão muito perspicaz do mundo que a rodeava e o sentido muito prático da vida. FM Entre os seus muitos afazeres, qual o papel que ocupa a oração na sua vida? AC A oração é o espaço em que cultivo a minha relação pessoal com Jesus. É o tempo em que Lhe entrego tudo o que trago no meu coração e Lhe peço que caminhe comigo e viva comigo a minha vida, as minhas preocupações, as minhas tarefas. É o ponto de partida e de chegada da minha vida toda e de todos os meus afazeres. Nesse

sentido, a oração é prioritária, como alimento da minha vida de fé, mas também como fonte unificadora e plenificadora das diferentes dimensões da minha consagração a Deus. Sem oração não me entendo, nem entendo a vida consagrada. FM Lembra-se do momento em que decidiu ser consagrada? Que convicção a levou a seguir este caminho? AC Recordo perfeitamente o momento em que senti que o Senhor Jesus me chamava para Lhe pertencer totalmente através de uma consagração religiosa. Tinha, então, 13 anos. Obviamente, as motivações que me levariam, mais tarde, a deixar tudo para seguir Jesus, na Aliança de Santa Maria, foram sendo aprofundadas e até purificadas. O que mais me atraiu inicialmente foi o entusiasmo e a alegria das irmãs da Aliança que conhecia. A sua felicidade era contagiante e eu queria ser tão feliz como elas. Queria comungar do seu estilo de vida. Posteriormente, deixei-me entusiasmar pela radicalidade na vivência do Evangelho, um entusiasmo que devagarinho se foi tornando em paixão absoluta por Jesus. Para o meu discernimento foi também importante a dedicação desta comunidade religiosa à Mensagem de Fátima e à tarefa evangelizadora através do Coração Imaculado de Maria.

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gente nova em missão

PRIMAVEIRA Vamos comemorar o Dia de São José

PAI DE CORAÇÃO Olá amiguinhos! Preparados para a chegada da primavera? Já repararam que os dias estão mais claros? E mais quentinhos? E que as flores desabrocham e os passarinhos preparam os belos concertos que alegrarão os nossos dias? Mas antes da mudança de estação, há um dia que é especial. É o Dia de São José, esposo da Virgem Maria, mãe de Jesus texto CLÁUDIA FEIJÃO ilustrações RICARDO NETO 24

HOMEM SIMPLES E BOM

São José era um homem simples, bom, humilde e justo. Noivo de Maria, confiava nela. Vindo a saber que ela estava grávida, pensou abandoná-la sem que ninguém soubesse para evitar que Maria sofresse alguma punição. Narra o Evangelho de São Mateus: «José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente. Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: “José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados”. Despertando do

sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa». (Mt 1, 19-21.24). É desta forma que também José dá o seu “sim” a Deus e aceita a grandiosa missão que Ele lhe reservou: proteger, cuidar e amar Jesus e Maria. Com o seu “sim”, ele aceita ser o pai de coração de Jesus, que é o Filho de Deus. Abdicou de todos os seus planos e foi fiel à vontade de Deus. São José viveu para Jesus e para Maria. Com eles formou uma família. Deu o nome a Jesus e, como qualquer pai, assumiu a responsabilidade de garantir, através do seu trabalho, o sustento de uma casa; de ensinar, como acontecia naquele tempo, o


seu ofício a Jesus; e de proteger a sua família. São exemplo disso a fuga para o Egito: «O anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar”. E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito» (Mt 2, 13-14). Ou quando vão a Jerusalém por altura da Páscoa e Jesus, sem que Maria e José se apercebessem, fica no Templo; enquanto José e Maria ficam preocupados (Lc. 2, 41-48). São José é, por isso, exemplo de pai presente e compreensivo, e de esposo fiel e dedicado.

DIA DO PAI

O Dia de São José celebra-se no dia 19 de março. É esse o Dia do Pai. Porque São José personifica o ideal de pai, nesse dia são homenageados todos os pais. Ser pai é uma grande responsabilidade, mas também uma alegria. Assim, como forma de agradecimento pelo que ele faz por ti, redige uma mensagem bem bonita para o teu pai (biológico ou de coração). E porque não (se possível) combinar irem juntos assistir à Eucaristia nesse dia? Seria uma bela forma de homenagear o teu pai e São José!

MOMENTO DE ORAÇÃO

Obrigado Senhor pela minha família e pela graça de vivermos unidos a Ti. Peço-te, por intercessão de São José, que dês força a todos os pais para que se mantenham fiéis ao seu “sim” e continuem a proteger, cuidar e amar as suas famílias, independentemente das dificuldades que surjam no caminho. Pai-Nosso... Glória...

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tempo jovem

A INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL texto LUÍS MAURÍCIO foto LUSA No ano passado, enquanto participava num curso sobre Inteligência Emocional, na Universidade Católica, alguém me perguntou: “Padre, qual a

sua opinião sobre as teorias da Inteligência Espiritual?” Confesso que apesar de ter lido bastante sobre o tema e sobre as Inteligências Múltiplas, foram as

magníficas exposições feitas pelos conferencistas que me serviram para responder sem muito refletir à pergunta que me foi feita. Partilho convosco algumas intuições que me surgiram nos corredores da faculdade e em conversas de café. Compreender os pilares e a ciência sobre os quais se apoiam as reflexões feitas sobre a Inteligência

DEDICAS MAIS TEMPO A CONTEMPLAR AS COISAS CRIADAS POR DEUS, OU PELOS HOMENS?

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Emocional é um bom ponto de partida para quem pretende ousar falar sobre Inteligência Espiritual. Acredito que ambas as inteligências estão interligadas, porque uma boa espiritualidade exige que se desenvolva uma sensibilidade “intrapessoal e interpessoal”: por exemplo, cultivar a empatia (Inteligência Emocional) aumenta

a consciência de vida interior (Inteligência Espiritual). A Inteligência Emocional poderia ser definida, em poucas palavras, como a capacidade que tem uma pessoa de controlar, conhecer, selecionar e trabalhar com eficácia as suas próprias emoções e as emoções dos outros, gerando relações interpessoais sãs. Do meu ponto de vista, se a Inteligência Emocional é a habilidade ou capacidade de gerir as emoções para garantir o sucesso no crescimento humano, a Inteligência Espiritual é aquela que nos permite compreender o mundo, os outros e a nós mesmos, numa perspetiva “mais profunda e plena de sentido”. Estou convencido que é a Inteligência Espiritual que nos ajuda a transcender o sofrimento e a ver mais para além do mundo material e do próprio mundo das emoções. Uma pessoa dotada de Inteligência Espiritual terá a capacidade de viver para servir, de agir eticamente em todas as situações, com compaixão, com boa vontade, com honestidade e generosidade. Eis os valores essenciais e primordiais da nossa natureza humana e não os anti-valores gerados nestes últimos tempos pelo niilismo que conduz à perda do sentido da vida e pelo hedonismo que convida a viver só do prazer pelo prazer.

Características da Inteligência Espiritual Elevada autoconsciência Amas a Deus e ao próximo como a ti mesmo? Capacidade para transcender a dor Confias em Jesus só quando estás cansado e oprimido? Capacidade de perseverar apesar das dificuldades Acreditas que Jesus caminha contigo até ao fim dos tempos? Renúncia a causar dor e vingança Já perdoaste 70 vezes sete? Capacidade de trabalhar contra o convencional Já foste insultado ou maltratado por causa de Jesus? Capacidade de inspirar-se nas coisas simples Dedicas mais tempo a contemplar as coisas criadas por Deus, ou pelos homens?

Um bom cristão é alguém com grande Inteligência Espiritual. Apresento algumas características da Inteligência Espiritual propostas por um grupo de investigação na área da psicologia e do comportamento humano e desafio-te a avaliar a tua Inteligência Espiritual a partir da tua vivência cristã. Coragem!

Março 2015

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sementes do reino

JESUS VEIO PARA SALVAR texto PATRICK SILVA foto LUSA O diálogo de Jesus com Nicodemos é marcado pela incompreensão. Jesus diz a Nicodemos que este precisa de “nascer de novo”, mas ele não entende como pode voltar a entrar no seio da sua mãe! Fica claro que para acolher a lógica de Jesus é necessário um novo modo de pensar. Assim, Jesus anuncia que Deus o enviou ao mundo, não com a intenção de condenar, mas de oferecer a todos a salvação. Uma salvação que acontece para todo aquele que adere a Jesus.

Leio a Palavra Jo 3, 14-21

Jesus recorda a Nicodemos que tal como Moisés ofereceu aos israelitas a “cura” das mordeduras das serpentes venenosas olhando para a serpente de bronze “levantada”, assim, também o Filho do homem irá oferecer a salvação quando for “elevado”, numa clara referência à cruz. Deus deseja a salvação de todos. Para tal envia-lhes o seu Filho com a sua proposta de salvação.

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Para responder a essa proposta é necessário “acreditar” no Filho, isto é, “aderir” a Jesus, seguir os passos do Mestre. Uma pessoa “condena-se” quando, perante a proposta amorosa de salvação, recusa aceitá-la, vivendo e realizando as obras das “trevas”, ou seja, escolhe o caminho do egoísmo, da injustiça e do orgulho.

Saboreio a Palavra

Neste simples diálogo entre Jesus e Nicodemos é apresentado o grande amor de Deus pela humanidade. Um Deus que não está interessado em condenar, mas ao contrário quer salvar, quer oferecer a vida. Perante a oferta que Deus faz, a pessoa deve escolher. Aceitando e aderindo a Jesus, isto é, escolhendo

A condenação não vem de Deus, mas é uma escolha da pessoa. Deus oferece a vida, mas a pessoa é livre de procurar uma outra “vida”, ainda que essa opção não lhe ofereça a verdadeira vida que só Deus pode oferecer. Qual a vida que desejo para mim?

a verdadeira vida definitiva, ou continuar na ilusão da sua autossuficiência, rejeitando a oferta. A salvação ou a condenação não são uma conquista ou um castigo, mas o resultado das escolhas de cada pessoa.

Rezo a Palavra

Rezo com o salmo 35, reconhecendo os meus limites e fragilidades, mas também a certeza de nunca ser abandonado por Deus.

Vivo a Palavra

Um jardim torna-se deserto para a pessoa que se afasta de Deus. Nesse deserto da sua liberdade sem limites, a pessoa experimenta de novo as mordeduras das serpentes venenosas. Deus, porém, não abandona os seus filhos, mesmo que estes se afastem, Deus segue-os e está sempre pronto a acolhê-los. A cada “mordidela” Deus oferece o seu “remédio”. A condenação não vem de Deus, mas é uma escolha da pessoa. Deus oferece a vida, mas a pessoa é livre de procurar uma outra “vida”, ainda que essa opção não lhe ofereça a verdadeira vida que só Deus pode oferecer. Qual a vida que desejo para mim?


intenção pela evangelização

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO 01 22 2º Domingo da Quaresma 5º Domingo da Quaresma

Seja cada vez mais reconhecida a contribuição própria da mulher para a vida da Igreja

COM JESUS SOBRE O MONTE

das mulheres na Igreja ao longo da história, mas neste campo há ainda muito por esclarecer. “As reivindicações dos legítimos direitos das mulheres, a partir da firme convicção de que homens e mulheres têm a mesma dignidade, colocam à Igreja questões profundas que a desafiam e não se podem iludir superficialmente”, reconheceu o Papa Francisco na sua primeira exortação apostólica.

Gen 22, 1-2.9-18; Rom 8, 31-34; Mc 9, 2-10 Nesta Quaresma, sobe com Jesus ao monte Tabor da tua vida. Redescobre a tua fé em Deus. Procura espaços de silêncio para rezares e para reencontrares a paz. Ajoelha-te, fala com Deus, intercede pelo mundo para que Ele transfigure todos os corações. Alimenta, Senhor, a nossa fé com a Palavra do teu Filho e purifica o nosso olhar.

08 3º Domingo da Quaresma

Ex 20, 1-17; 1 Cor 1, 22-25; Jo 2, 13-25

PURIFICAR O CORAÇÃO

Não albergues no teu coração aquilo que se opõe à casa de Deus. Faz dele um templo de oração gratuita e contemplativa. Não confundas oração com interesses mesquinhos, porque Deus sabe do que precisas. Não mistures oração com desejos mundanos, lucros materiais, honrarias ou privilégios. Dá-me, Senhor, um coração puro; renova e dá firmeza ao meu espírito.

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4º Domingo da Quaresma 2 Cro 36, 14-23; Ef 2, 4-10; Jo 3, 14-21

AMOR GRATUITO

Entra com toda a tua vida no amor gratuito e misericordioso de Deus. Olha para a cruz daquele que te remiu e põe ordem na tua vida. Não digas que tens fé só porque participas no culto ou tentas viver honestamente. Deixa-te guiar pela sua Palavra e as boas obras virão em consequência. Deus de tal modo me amou que me entregou o seu Filho muito amado.

Jer 31, 31-34; Heb 5, 7-9; Jo 12, 20-33

SE O GRÃO DE TRIGO NÃO MORRER...

“Quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”. Íman sagrado e caminho necessário é a Cruz do Redentor. Não há fruto sem a morte da semente. O egoísmo é estéril. Semente que quisesse conservar-se ficaria só e não comunicaria vida. Vida que não se dá acaba por morrer. Que eu saiba, Senhor, perder a minha vida para a reencontrar na tua.

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Is 50, 4-7; Fil 2, 6-11; Mc 14, 1-15, 47

A CAMINHO DO CALVÁRIO

Vamos todos atrás do Senhor a caminho do Calvário, cantando e sofrendo nos passos de cada dia. Com toda a Igreja, perseguida e crucificada. Somos todos cireneus uns dos outros. Os outros são a minha paixão que comungo todos os dias. Caminho atrás de Jesus para que Ele me ensine o valor da Sua e da minha cruz. Eu acredito, Senhor, que a minha cruz adquire valor se for unida à tua Cruz redentora. DV

A mulher na Igreja É indiscutível a contribuição

“Se a Igreja perde as mulheres, na sua dimensão global e real, ela corre o risco da esterilidade”, disse o Papa noutra ocasião. São tantos os dons intelectuais, espirituais e pastorais que a mulher pode oferecer à Igreja, como mãe, esposa, filha, irmã, trabalhadora ou consagrada. Se na edificação da estrutura familiar o primeiro pilar é o da mãe, porque não há de ter um lugar mais significativo na edificação da Igreja? Falta na Igreja uma presença mais incisiva da mulher, sobretudo nos lugares em que as decisões importantes são tomadas, sabendo que a questão de fundo continua a ser a exclusão das mulheres do exercício da autoridade. Mas, se Maria é mais importante que os apóstolos, como reconheceram os últimos papas, ser cristão será mais importante que a função que a pessoa desempenha na comunidade. O serviço é mais importante que o poder. DV

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gestos de partilha

Abrace

esta vida

Acredita que ainda se eliminam crianças na Guiné-Bissau em nome das crenças no sobrenatural, em pleno século XXI? Basta que tenham alguma deficiência, sejam gémeas, ou apenas feias demais para o gosto dos pais, e têm a sentença lida à nascença. A Casa Bambaran, em Bissau, foi criada para acolher estas crianças, rotuladas de Irã ou crianças feiticeiras. E precisa da nossa ajuda.

Dê colo a esta ideia

Alimentar uma criança na Casa Bambaran custa 4,60€ por dia. O custo médio diário de cada utente (alimentação, educação, saúde, vestuário) é de 19,20€ Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Projeto “Crianças Irã” Rua Francisco Marto, 52 | 2496-448 FÁTIMA NIB 0033.0000.45365333548.05

um abraço entre a fé e a vida

APOIE OS NOSSOS PROJETOS E AJUDE-NOS A CONCRETIZÁ-LOS CRIANÇAS IRÃ (GUINÉ-BISSAU) António Ponce 20,00€; Anónimo 200,00€; Conceição Fernandes 20,00€; Natália Vasconcelos 15,00€; Anónimo 50,00€; Júlia Rodrigues 5,00€; Anónimo 50,00€; Joaquim Oliveira 43,00€; Maria Domingues e marido 10,00€; Lurdes Pinheiro 8,00€; Conceição Inácio 5,00€; Laurinda Gameiro 3,00€; Isabel Vieira 13,00€; Maria Rosário Silva 10,00€; Graça Lourenço 20,00€; Conceição Almeida 20,00€; José Soares 100,00€; Delfina Pires 10,00€; Maria Anjos Cotrim 20,00€; António Tavares 15,00€; Purificação Ferreira 36,00€; António Fernandes 50,00€; Amélia Martins 23,00€; Cesaltina Cardoso 3,00€; Donzília Cardoso 23,00€; Benvinda Santos 13,00€; Alice Sobreira 50,00€; Paulo Fonseca 5,00€. Total geral = 840,00€ COSTA DO MARFIM José Dias 50,00€; Padre Luciano Cristino 9,00€; Fátima Matias 10,00€; Natividade Castanheira 10,00€; Sofia Vicente 43,00€; Silvério Grou 18,00€. BOLSA DE ESTUDO Amélia Rodrigues 210,00€; Noémia Navarro 10,00€. TÂNIA E MAURA (GUINÉ-BISSAU) Júlia Silva 10,00€; Sónia Pinto 50,00€.

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

PADRE JOÃO POLENTARUTTI

A ALEGRIA VEM DE DEUS

texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração HUGO LAMI

Do meu colega, o padre João, vou dizer algumas coisas sobre a sua vida em geral, e depois vou deixar escorrer a tinta do seu coração. João nasceu em 1931 no nordeste da Itália, entrou para o Instituto da Consolata e foi ordenado sacerdote em 1959. Londres, Quénia, Montreal (Canadá), Bogotá (Colômbia), San Francisco (Argentina, onde trabalhou em colónias de índios) e Itália foram as arenas do seu trabalho missionário. Aos 82 anos foi receber no céu o diploma de Bom Agente da Evangelização de Cristo: para lá partiu no dia 21 de maio de 2013, Domingo do Bom Pastor. Dentro duma casca por vezes um tanto rude morava uma alma de criança adulta. Para a Consolata entrou pelo interessamento sério do seu pároco. Numa carta ao superior geral enviada do Canadá, confessava humilde e jubilosamente a sua alegria de se ter imergido no movimento carismático: “O Senhor tornou-se tangivelmente presente em mim, vivente, saborei-O cá por dentro. A oração é-me agora natural, cheia de frescura. O breviário e a Missa tornaram-se centros vivos do meu dia, como um rio de água viva a escorrer dentro de mim. É verdade, o Senhor fez-me passar pelo crivo da purificação. Tinha-me quase esquecido que só o Senhor pode abençoar e dar fruto ao nosso trabalho. Para onde quiser enviar-me, estou pronto a partir!” Do seu trabalho missionário, depois da passagem pelo crivo purificante, confessava: “O que mais desejo é pôr cada vez menos obstáculos à ação do Senhor em mim, para

que Ele possa usar-me como bem lhe apraz. De todo o coração lhe agradeço ter-me chamado ao seu serviço como sacerdote missionário da Consolata. Coisa nenhuma podia dar um significado tão grande à minha vida, pois estar ao serviço de Deus é a coisa mais entusiasmante que pode haver”. Uma mania agradável. Todos os dias de manhã cedo, era ele que preparava as mesas do refeitório

para o pequeno almoço de todos: pratos, chávenas, talheres, copos… um serviço humilde e alegre que o distinguia. Agora lá no céu participará também na preparação da mesa para a Ceia das Núpcias Eternas do Cordeiro. E vai fazê-lo com aquele sorriso largo de satisfação que lhe emoldurava a face – sob o olhar plenamente satisfeito da Virgem Santa Maria de toda a Consolação. Março 2015

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o que se escreve PENSAMENTOS PARA OFERECER Envelhecimento ativo

FRANCISCO ENTRE OS LOBOS O segredo de uma revolução

Após ter sido eleito Papa em março de 2013, ocupando o lugar deixado vago por Bento XVI, Francisco gizou um “programa de governo” com o propósito de proceder a uma reforma profunda na Igreja Católica, reforma reclamada não só pelos tempos históricos como também por muitas personalidades e populações de países cristãos, na Europa e no mundo. É da ambição deste programa que nos fala “Francisco entre os lobos” e da reforma que o Papa Francisco procura passo a passo introduzir nas estruturas tradicionais da Igreja. É uma narrativa que além de prender o leitor aos episódios e peripécias que o livro evoca, é também uma apologia do humanismo cristão. Para ler com proveito. Autor: Marco Politi 256 páginas | preço: 19,90 € Edições Texto & Grafia

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Estas páginas querem ser uma proposta de vida saudável. São dez temas simples sobre os quais, além da reflexão de introdução, o leitor encontra algumas frases que lhe poderão despertar o gosto pela reflexão. Sonho com este livro nas mãos de um neto oferecendo-o ao seu avô ou avó, ou de um filho aos seus pais. Ou então nas mãos de um jovem que o lê em voz alta, sentado, sem pressas, ao lado de uma pessoa idosa, que não o pode fazer, por várias limitações. Autor: José Carlos Bermejo 128 páginas | preço: 9,90 € Paulus Editora

MANUAL DA CATEQUISTA PERFEITA 10 mandamentos que nem Moisés conhecia

A catequese é uma escola de vida. Se bem explicada, é capaz de levar a escolhas concretas e motivadas, até em jovens e adolescentes. Para um pároco, a catequese é – juntamente com a liturgia – a prioridade inegociável. O autor é pároco de três comunidades, na Itália. Quando era miúdo, tinha terror pela catequese. Mas um dia conheceu uma religiosa enamorada de Jesus e compreendeu que a catequese dura toda a vida. Um livro bem-humorado para animar todos aqueles que se dedicam à catequese. Autor: Diego Goso 112 páginas | preço: 7,90 € Paulus Editora

A ESSÊNCIA DA VIDA CONSAGRADA

Os oito capítulos reunidos nesta obra fazem como que um mapa do ADN da vida consagrada, mostrando os seus elementos essenciais de uma maneira sucinta, mas profunda. Apresenta aquilo que todos os consagrados devem recordar a cada dia, aquilo que os motiva, anima, enche de “alegria, paixão e esperança”. Apresenta também o que o povo de Deus deve reconhecer nos consagrados: um estilo de vida que “é dom feito à Igreja: nasce na Igreja, cresce na Igreja, está totalmente orientado para a Igreja”. Autores Vários 198 páginas | preço: 14,90 € Paulus Editora

HOJE, APENAS HOJE Dez mandamentos da Serenidade O beato José Allamano, fundador dos Missionários da Consolata, dizia que o bem deve ser feito bem. É um lema programático. Para isso, não há melhor caminho que estes dez mandamentos da serenidade do Papa São João XXIII. Eles são uma espécie de variante do caminho da infância espiritual de Santa Teresinha do Menino Jesus. É a espiritualidade da vivência do momento presente como âncora para uma vida fecunda e feliz. Autor: padre Januário dos Santos 52 páginas | preço: 3,00 € Editorial Missões


megafone por Albino Brás

O novo cardeal português (Manuel Clemente) é um homem de cultura, de excelsa capacidade de comunicação, elegante no trato e dialogante na atitude, atento aos sinais dos tempos (...). Como português, sinto-me orgulhoso. Como católico, sinto-me recompensado

António Bagão Félix jornal Público

O mundo exige saber se nós somos mesmo ‘irmãos; se somos membros solidários desta

A força mais ‘poderosa

grande família da Igreja dentro da qual recebemos a vida e que tem por missão amar e servir a humanidade, principalmente a humanidade que sofre

do mundo é a cooperação humana: seja para construir ou para destruir

Stefano Camerlengo Superior Geral dos Missionários da Consolata

Jonathan Haidt psicólogo americano

O amor não consiste em olharmos ‘apaixonadamente um para o outro, mas em olharmos juntos na mesma direçao ’

Antoine de Saint-Exupéry Escritor

Não são as ervas daninhas que sufocam a boa semente, mas sim a negligência do agricultor Confúcio pensador e filósofo chinês

Ninguém pode estar saciado do amor de Deus se não estiver aberto ao amor dos irmãos José Augusto Leitão

missionário do Verbo Divino

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fátima informa

MILHARES DE CICLISTAS ESPERADOS EM FÁTIMA A Peregrinação Nacional e Bênção dos Ciclistas vai reunir em Fátima milhares de pessoas. A organização espera bater o recorde de participações, com mais de 4.500 ciclistas texto JULIANA BATISTA foto SANTUÁRIO DE FÁTIMA Fátima recebe a 13ª Peregrinação Nacional e Bênção dos Ciclistas a 15 de março. A iniciativa é promovida pela União de Ciclismo de Leiria (UCL) e contempla uma Missa e bênção dos ciclistas no Calvário Húngaro. Caberá a Serafim Ferreira e Silva, bispo emérito da diocese de Leiria-Fátima, presidir à cerimónia.

A peregrinação vai reunir milhares de participantes. “Se o tempo estiver razoável, contamos ultrapassar os 4.500 ciclistas, que é o recorde das bênçãos”, realçou Carlos Vieira, presidente da UCL, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA. Segundo o responsável, são esperados

Eucaristia em conferência

será no Estádio Municipal. Os atletas deverão passar na Capelinha das Aparições, onde se realizará uma celebração de invocação da paz no mundo.

Joaquim Ganhão, da diocese de Santarém, vai proferir em Fátima a conferência “Felizes os convidados para a Ceia do Senhor. A Eucaristia como fonte de comunhão”. A intervenção está marcada para 8 de março, às 16h00, no Salão da Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores.

Caminhar pela paz

A 4ª Corrida e Caminhada da Paz em Fátima vai realizar-se no próximo dia 8 de março, pelas 10h30. A cerimónia de abertura 34

Jornada Inter-Escolas

A Jornada Inter-Escolas dos alunos de Educação Moral e Religiosa Católica dos 2.º e 3.º ciclos da diocese de Lisboa, vai levar à Cova da Iria estudantes e docentes, no próximo dia 17 de março.

participantes de todo o país, incluindo “ciclistas espanhóis”. Podem participar “ciclistas, bttistas, cicloturistas e amantes da bicicleta”, destaca Carlos Vieira, também conhecido como o bombeiro-ciclista. Durante a celebração, os peregrinos vão “agradecer à Virgem Maria e pedir a sua proteção nas estradas de Portugal e de todo o mundo”. Entre outras figuras de relevo, a peregrinação contará com a presença de Joaquim Gomes, antigo ciclista e diretor da Volta a Portugal em Bicicleta.

Março em agenda 21 Peregrinação das Missionárias Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus 21/22 Peregrinação do Pessoal das Telecomunicações 22 Peregrinação da diocese Leiria-Fátima


Peregrinação

LISBOA TEL AVIV HAIA TIBERIAS TABOR TIBÉRIAS NAZARÉ QUMRAN JERUSALÉM BELÉM AIN KAREM JERUSALÉM BELÉM LISBOA

29 abril 06 maio 2015 mais informações

917 513 575

um abraço entre a fé e a vida


Pródigo

Venho de longe, tão cansado do pão que não comi!... Venho vazio, gastas as palavras no delírio das esquinas. E Tu a olhar-me, com mãos meninas de acolhimento... Não perguntas aonde nem porquê, como se ontem aqui estivera na comunhão da mesa e sem a dor à espera. Abres-me a porta, dás-me a casa que eu não quis na manhã louca de me não saber feliz. E não sou hóspede, mas filho no calor meigo que partilho ...como se ontem aqui estivera na comunhão da mesa e sem a dor à espera!... João Aguiar Campos, Encontros


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