Novo Papa

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ANO LIX | ABRIL 2013 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

NOVO PAPA

SIMPLESMENTE FRANCISCO

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PARTILHAR A FÉ NA SELVA AMAZÓNICA Pág. 10 ÍNDIA LUTA CONTRA Pág. 16 FARMACÊUTICA DEZ ANOS DE CONFLITO Pág. 18 NO DARFUR


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial

“VOU REALIZAR UMA COISA NOVA” “Francisco, reconstrói a minha Igreja!”. Foi esse, segundo as fontes franciscanas, o pedido que o Crucifixo da igreja de São Damião dirigiu ao jovem Francisco de Assis. Mais do que reparar a igreja de pedras, era a Igreja feita de pessoas que precisava de uma reconstrução. Era inquietante o estado calamitoso em que Igreja do século XIII se encontrava: na fé superficial, no clero pouco diligente, no resfriamento geral, na proliferação de heresias. E o Crucificado pede a Francisco que renove a Sua Igreja com a radicalidade da fé e o entusiasmo do amor a Cristo. O nome escolhido pelo novo Papa é programático. Evidencia os elementos que devem definir o rosto da Igreja e a sua relação com o mundo. Exprime a coragem de ser outro Francisco para os nossos dias, na humildade, na simplicidade de vida, na pobreza e radicalidade evangélicas, mas também na vontade de contribuir para que a Igreja se reconstrua no amor a Jesus Crucificado e na dedicação às causas dos mais pobres. “Ah! Como desejo que a Igreja seja pobre e para os pobres”, disse o Papa aos jornalistas. Adivinha-se uma nova primavera na Igreja. Para aí apontam os seus primeiros gestos de espontaneidade, simplicidade e proximidade. Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja. De que modo? É ele que o diz: no “caminho de fraternidade, de amor e de confiança entre nós. Rezemos uns pelos outros para que no mundo haja esta grande fraternidade”. “Somos convidados a reconhecer que algo não vai bem em nós mesmos, na sociedade ou na Igreja, a mudar, a converter-nos”, alertou o então cardeal, na sua

mensagem da quaresma. A conversão é a base de toda e qualquer reforma. Na Igreja e fora da Igreja. Todos precisamos de renovação. Na junção do carisma inaciano com o carisma franciscano vislumbra-se uma ardente paixão pela missão. É o “ide” de Jesus “sem alforge nem dinheiro” ao encontro de todas as situações humanas, já patentes no próprio lema do Pontífice “Miserando atque eligendo”, na escolha dos pequenos e dos humildes, e no exercício da misericórdia para com todos. Os tempos são difíceis. Chegou a hora da renovação, no seguimento de Cristo, base da nossa fé, e na abertura ao mundo. Para que a Igreja seja um farol na sociedade. Francisco já apontava esse horizonte quando no seu livro “El Jesuita” dizia: «Temos que ver, com grande criatividade, a maneira de estarmos presentes nos ambientes da sociedade, fazendo com que as paróquias e as instituições sejam propostas que impelem na direção destes ambientes. Rever a vida interna da Igreja para caminhar em direção ao povo fiel de Deus. A conversão pastoral chama-nos a passar de uma Igreja “reguladora da fé” a uma Igreja que “transmite e favorece a fé”». É o caminho certo. DARCI VILARINHO

Abril 2013

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 4 Ano LIX – ABRIL 2013 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 26.100 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colabora­ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diaman­tino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pa­­che­co – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção e Arquivo Capa Lusa Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ri­car­do Neto Design e com­po­sição Happybrands e Ana Pau­la Ribeiro Ad­mi­nis­tração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ (inclui o IVA à taxa legal) Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal

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DEZ ANOS DE CONFLITO NO DARFUR

03 EDITORIAL “Vou realizar uma coisa nova” 05 PONTO DE VISTA Papa desconcertante 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Quem abre caminhos? 08 MUNDO MISSIONÁRIO Museu debate carvoaria

portuguesa e marfinense Estudo da Bíblia junta mais de 2.000 fiéis na China Cristãos da Zâmbia contra violência feminina Indígenas do Brasil defendem direito à terra 10 A MISSÃO HOJE “O valor da esperança está muito presente na cultura indígena” 11 PALAVRA DE COLABORADOR Na vinha do Senhor 12 A MISSÃO HOJE “Falta experiência missionária à Igreja” 13 DESTAQUE A hora do chavismo sem Chávez 14 ATUALIDADE Papa Francisco, uma Primavera da Igreja 16 ATUALIDADE Braço de ferro entre a Índia e a Bayer 22 GENTE NOVA EM MISSÃO 22 de abril Dia do Planeta Terra 24 TEMPO JOVEM Atitudes que fazem crescer 26 SEMENTES DO REINO Bom Pastor 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Surpreendia pela sua atitude

de criança sorridente 32 OUTROS SABERES Mãos à obra 33 NOTAS MISSIONÁRIAS Unidos na fé e no martírio 34 FÁTIMA INFORMA Nova praça cria “ambiente de silêncio e de paz” 4


ponto de vista

PAPA DESCONCERTANTE

JOAQUIM FRANCO*

Depois da perplexidade com a resignação de um Papa alemão, o espanto com a eleição de um sul-americano. Um jesuíta que é Papa Francisco a pensar em Assis. Não falta gente à procura de interpretações. Por um lado, a boa imprensa e os elogios, sobretudo entre sectores mais modernistas. Por outro, a incompreensão inicial, as explicações ensaiadas a partir dos padrões mais tradicionalistas, com leituras e releituras paradoxais dos primeiros gestos e das primeiras palavras, escrutinadas ao pormenor. A Igreja está a viver um momento invulgar e imprevisível. Jorge Bergoglio revelou-se ao longo da vida um conservador firme, mas pragmaticamente moderado nos costumes e avançado na prática da doutrina social. Espiritual, à maneira dos jesuítas, o novo Papa revela-se ao mundo com simplicidade e espontaneidade, quebrando protocolos. Dá indícios de uma colegialidade perdida no tempo romano quando insiste em apresentar-se como “bispo de Roma”. O poder do Papa é “o serviço”, lembrou, e o acolhimento da “humanidade inteira”, no cuidado pelo ambiente e pela obra da Criação. Improvisou num discurso para reafirmar que “Cristo é o centro, não o sucessor de Pedro”. Ou para desejar uma Igreja “pobre e para os pobres”, construída sobre a rocha firme da fé, sem a qual não passaria de uma ONG. Alguém comparou os discursos e homilias do Papa argentino a um tango. Com momentos de íntimo silêncio, quando lê, e explosões de um espontâneo calor nas palavras, quando tira os olhos do papel.

“amargura e do pessimismo”. Perante uma assembleia envelhecida de cardeais, abordou a velhice como tempo de sabedoria. Quando quis falar com alguém, pegou no telefone e ligou. Um homem normal, de invulgar perspicácia. Como normais e perspicazes são os caminhos da fé, capazes de abrir um “horizonte de esperança”, quando os homens não complicam. Este não será um homem para fazer uma renovação imponderada. Mas eventualmente capaz de surpreender no diálogo interno, com as muitas reivindicações de abertura à modernidade e os escândalos por resolver, no diálogo ecuménico e na criação de pontes de confiança para os grandes debates políticos e sociais. Ou seja, capaz de retomar a estrada do Concílio Vaticano II. Resistirá ao pragmatismo estrutural da Cúria, em muitos aspectos obsoleta e com vícios do poder? Os primeiros sinais são desconcertantes. E só isso é uma grande mudança para uma Igreja hierárquica cansada e previsível, num tempo que pede criatividade e ousadia, sem perder o azimute da fé e da convicção. * jornalista da SIC

Numa linguagem manifestamente pastoral, da qual não se solta, e simultaneamente popular, realçou a devoção mariana e falou do “demónio” como expressão da Abril 2013

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leitores atentos

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Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o nú­­me­ro ou nome do assinante. Na folha on­de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos es­ti­mados assinantes renovem a assinatura para 2013. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os do­­na­tivos para as missões são de­dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto

Ex.ma Fátima Missionária, Venho pagar a minha assinatura. E dizer que é sempre com muito agrado que recebo a revista. Estou sempre ansiosa que chegue o fim do mês para receber outro número. Enquanto isso, leio e releio até que a outra chegue. Também assino a Acção Missionária e o Jornal do Gaiato. Os números da FÁTIMA MISSIONÁRIA que já tenho lido, 6

PREENCHE AS HORAS DA MINHA VIDA

Queridos missionários. Venho pagar a minha assinatura de 2013. Faço-o com muito gosto, porque é uma revista que preenche as horas da minha vida. Sou uma pessoa que vive sozinha. A vossa revista faz-me companhia, faz-me refletir e traz-me muita paz. Peço as vossas orações para a minha família e para mim, para que me sinta com mais força na minha vida. Gracinda

LUGAR DE ABERTURA AO MUNDO

Caro amigo, Recebi a nossa revista e já a li. Considero-a muito importante. Desde logo, porque não depende de nenhum banco ou multinacional; depois, é um lugar de diálogo e abertura ao mundo, como não se vê em revistas que aparentam sê-lo. Ainda digo que afasta o proselitismo religioso, deixando a cada um o seu espaço para se rever, à sua maneira, sem forçar nota alguma. E há uma preocupação em não ferir ninguém. É bonito. É o que penso. E o que sinto.

ATENTADOS CONTRA OS DIREITOS HUMANOS

Amigos missionários, Venho pagar duas assinaturas… Leio sempre atentamente todos os artigos que publicais e as denúncias de atentados contra os direitos humanos. Eles continuam, infelizmente. Enquanto houver guerras e os homens não se entenderem, há sempre sofrimento e os mais fracos são os que mais sofrem. Bendigo, por isso, os missionários que trabalham sem descanso em prol dos que nada têm. Lisete

VOLTOU A SER ASSINANTE

Senhores missionários, Estou a escrever-vos para vos pedir o favor de pôr na minha lista uma assinante que tinha desistido, mas agora veio pedir-me para voltar a assinar. Ela tem muita fé no beato Allamano. Esteve muito doente e disse-me que tem a certeza que ele a protege muito. Invoca-o muitas vezes e sente que ele está sempre ao seu lado. Maria José

Arnaldo

não os deito fora. Alguns leva-os o meu marido para ler nas horas vagas, os outros levo-os para a nossa capela da Senhora da Conceição. Vejo que não param lá muito tempo, porque a revista é coisa boa e digna de se ler. Benilde Pauseiro Maçarico, Praia de Mira

Isso mesmo, dona Benilde. A FÁTIMA MISSIONÁRIA não é para deitar fora. É para ler, meditar e levar as pessoas a tomar atitudes diferentes. Por isso é de louvar a sua

atitude não só de ir relendo o que já leu, mas também de fazer com que outras pessoas leiam. Nunca é demais insistir com essas pessoas para que assinem a revista. Por sete euros ao ano, podemos contribuir para que tanta coisa boa entre nas nossas famílias. Obrigado, pois, pelo seu gesto e por tudo o que fará ainda pela difusão da imprensa missionária. DV


horizontes

se sentassem à mesa para o jantar. Fez o ar mais teatral que conseguia e pegando num papel enrolado em forma de pergaminho, declarou: – Mãe, Paulo, “miúdos”! Hoje trago-vos uma grande notícia: Todos os aqui presentes são convidados do grande finalista de curso, Nelson de Andrade, num dos momentos solenes da sua vida. Ficam também informados que da lista de convidados fazem ainda parte o pai do festeiro, o senhor Timóteo, e a sua namorada Ana. Por favor, não faltem! Como resposta, um grande silêncio e trocas de olhares confusos. Depois, só a algazarra das crianças.

QUEM ABRE CAMINHOS? TEXTO TERESA CARVALHO ILUSTRAÇÃO HUGO LAMI Nelson conseguiu: o pai e a mãe aceitaram vir à sua festa de final de curso! Radiante, reservou uma das mesas do salão com o nome da família. Sente que nem que fosse apenas por este momento, o curso teria valido o esforço. Sente-se o rapaz mais feliz da turma! Há um mês atrás, o estado do Nelson era bem diferente: quando lhe pediram a lista dos convidados para a festa, percorreu-o uma imensa mágoa, antevendo zangas que não dependiam dele resolver. Claro que convidaria a mãe … E o pai também! Mas, que aconteceria quando se encontrassem? E se o pai trouxesse a Ana, a sua namorada, e a mãe o Paulo? Seria sensato convidá-los também ou pedir-lhes que não viessem?

Decidiu-se por fazer aquilo que considerava ser o mais correto, apesar de parecer “loucura”. “Tenho de tentar!” – dizia Nelson para si mesmo. Não foi a determinação da mãe que os libertou do pesadelo em que viviam? Não foi por insistir nas visitas aos avós e aos tios paternos e maternos, que o silêncio zangado entre as duas famílias foi sendo superado? “Tentar para alcançar” era uma das grandes lições que aprendera nos últimos anos. Embalado na sua determinação, Nelson sonhou a sua festa como o momento de reconquista da comunicação entre o pai e a mãe; mas agora com respeito mútuo pelas decisões de vida que cada um assumira. E, sonhava ainda, que seria o início de uma presença habitual de ambos nos acontecimentos importantes da vida dos filhos. Isso seria “o máximo!” Parecia-lhe que isso lhe bastava para ser feliz!

Nos dias seguintes, Nelson visitou o pai e fez o mesmo discurso. Ele resmungou umas desculpas e deixou a dúvida a pairar. Seria um bom sinal? Desde há um ano que Nelson tentava entender o pai. Deixara de culpá-lo ou de julgá-lo. Sentia que neste último ano ele e o pai se aproximaram mais do que ao longo dos 14 anos que viveram em conjunto. Aos poucos as feridas estavam a ser reparadas… No dia da festa, todos estavam presentes. Três anos de silêncio e afastamento entre Timóteo e Leonor pareciam esquecidos naquela Eucaristia de fim de curso. No meio dos estudantes de capa preta, um finalista agradecia de coração cheio. Agradecia a presença pacífica do pai e da mãe. Agradecia poderem experimentar a felicidade desta sua conquista. Agradecia ter podido abrir o caminho de encontro. Só falta agora percorrê-lo e será bem mais fácil se feito de alianças. Nelson merece-as. Todos precisam! Todos podem!

Decidido a tentar tudo, Nelson chegou a casa e esperou que todos Abril 2013

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

MUSEU DEBATE CARVOARIA ESTUDO DA BÍBLIA JUNTA PORTUGUESA E MARFINENSE Provenientes MAIS DEdas2.000 FIÉIS NA CHINA O Museu de Arte Sacra e Etnologia (MASE), em províncias de Jiang Su, Zhe Jiang, Fátima, promove uma mesa redonda sobre a realidade das carvoeiras da Costa do Marfim e de Portugal, no próximo dia 5 de abril, a partir das 21h30. A iniciativa insere-se no âmbito da exposição de fotografia “Damas de Carvão”, que está patente no museu, ao abrigo do Projeto Solidariedade 2013, dos Missionários da Consolata. São convidados a fotojornalista Ana Paula Ribeiro, autora das fotos, o padre Luís Maurício, que visitou as carvoeiras de San Pedro (Costa do Marfim) e a investigadora Paula Lemos, autora de um estudo sobre a produção de carvão vegetal na aldeia do Pilado, concelho da Marinha Grande. O encontro, de entrada livre, será moderado pelo diretor do MASE, Gonçalo Cardoso.

Fu Jian e Shang Hai, mais de dois mil cristãos participaram num seminário sobre o tema: “A Palavra de Deus consolida o nosso caminho quaresmal”. Fiéis de todas as idades tomaram parte ativa no encontro com testemunhos, reflexões à volta do tema da Palavra de Deus na Igreja, na liturgia, na vida quotidiana e na evangelização. O seminário foi organizado e conduzido por um sacerdote da diocese de Wen Zhou. “Sempre promovemos a leitura da Sagrada Escritura na nossa diocese e na vida pastoral, porque a Palavra de Deus é vital para nós, tal como a Eucaristia”, declarou o sacerdote.

Olhos postos em Roma

TOBIAS OLIVEIRA, missionário da Consolata português

em Roma

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Desde o dia 11 de fevereiro, quando o Papa emérito Bento XVI afirmou que tinha chegado à certeza de que devia renunciar ao ministério petrino, a zona junto à praça de São Pedro em Roma transformou-se num verdadeiro acampamento de jornalistas e fotógrafos. De um momento para o outro o papado passou a estar no centro das atenções dum mundo ávido de notícias. Mas para além destes profissionais da informação apareceu também um sem-número de turistas, crentes e menos crentes, para saudar Bento XVI e aclamar o seu sucessor. Pergunto-me se estas manifestações de interesse pelas mudanças trazidas pela eleição


CRISTÃOS DA ZÂMBIA CONTRA INDÍGENAS DO BRASIL VIOLÊNCIA FEMININA DEFENDEM DIREITO À TERRA As comunidades cristãs da Zâmbia lançaram uma nova “O conflito pela terra está a destruir também a nossa iniciativa para combater a violência contra as mulheres, um fenómeno de amplas dimensões no país. Segundo as estatísticas oficiais, 47 por cento das mulheres da Zâmbia já sofreu alguma forma de violência física ou sexual, após os 15 anos. A Igreja anglicana tem promovido a criação de “grupos de desenvolvimento e de discussão entre mulheres”, para aumentar a consciência sobre os problemas e criar uma fonte de rendimento de modo a garantir alguma independência económica. “Quando as mulheres estão dependentes dos homens não têm acesso à informação sobre os seus direitos, estão privadas de voz nas suas comunidades, são vulneráveis aos maus-tratos e à violência”. O arcebispo da África Central, Albert Chama, reafirmou: “Como cristãos apoiamos as mulheres até conseguirem a igualdade em todos os âmbitos da vida”. dum novo Sumo Pontífice são um sinal de fé ou simplesmente um passatempo. Encontrando-me entre a multidão que saudava Bento XVI no último domingo do seu pontificado recordo com emoção um velhinho que, encostado a uma coluna, ia repetindo a altos brados: “Não vá embora! Fique connosco!” Nas palavras deste senhor, vejo retratada a ânsia deste nosso mundo à deriva: espera-se que o novo Papa, tal como o seu antecessor, seja alguém que está connosco, partilhando as nossas alegrias e tristezas, como fez Cristo entre os Judeus.

cultura”, afirmaram as comunidades indígenas, durante o encontro dos povos índios, que teve lugar no final de fevereiro em Luziânia, no estado de Goiás, sobre a propriedade fundiária. Os 120 representantes das comunidades tradicionais do Brasil discutiram sobre meios para proteger os seus direitos sobre a terra contra a usurpação pelos latifundiários. Durante os trabalhos surgiu a necessidade de unir os diversos movimentos sociais e as organizações que estão na luta pela defesa da terra. Os indígenas presentes denunciaram que o conflito pela terra está a minar a sua cultura e tradições. Os direitos das comunidades tradicionais estão inscritos na Constituição brasileira, mas a sua aplicação necessita de ser melhor definida. Segundo o Movimento Quilombola do Maranhão, há 1.838 territórios demarcados, mas apenas 121 têm já um título de propriedade atribuído às comunidades indígenas.

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a missão hoje

Graça Lameiro, missionária da Consolata, trabalha com os indígenas da Amazónia

“O VALOR DA ESPERANÇA ESTÁ MUITO PRESENTE NA CULTURA INDÍGENA” Há um ditado popular que diz que “os homens não se medem aos palmos”. E neste caso arriscaríamos a dizer que as mulheres também não. Graça Lameiro é ‘baixinha’, mas evidencia uma força interior de gigante. É franzina, mas consegue ‘mover’ montanhas para levar a fé onde poucos se atreveriam a entrar. Tem passado por provações, mas mantém o sorriso feliz de uma vida preenchida pelo sim a Deus e pelo amor ao próximo texto VIVIANA NUNES E RUI SOUSA foto FM O rio tornou-se na sua segunda casa. Aos 46 anos, a religiosa, natural de Pousos, Leiria, afirma com grande alegria que consagrou toda a sua vida à missão e às Missionárias da Consolata. Chegou à Colômbia em 1995, onde esteve até 1998, a fazer o noviciado. Regressou oito anos depois e tem vindo 10

a acompanhar, de alma e coração, as comunidades indígenas instaladas na zona de fronteira com o Peru, na selva amazónica. FÁTIMA MISSIONÁRIA Explique-nos o que é isso da “opção pelos indígenas” dentro da vida missionária? Graça Lameiro Quando as irmãs missionárias da Consolata abriram uma nova missão em Puerto Leguízamo, no sul de Colômbia, tinham como finalidade específica acompanhar as comunidades indígenas. Elas constituem a população mais antiga do continente e essa já seria razão suficiente para serem respeitadas e não atropeladas ou marginalizadas e até ignoradas. Os donos e guardiões da nossa rica e bela Amazónia são hoje pessoas pobres, que lutam por defender os seus direitos, a sua terra e a própria vida. A opção pastoral pelos povos indígenas, na minha opinião, é aprender a caminhar ao seu ritmo, vivendo o Evangelho; é saber acolher a riqueza da sua cultura, sabedoria e espiritualidade e reconhecer neles o rosto de Deus que se revela em


palavra de colaborador Vale a pena ser missionária aqui como em qualquer outra parte do mundo. Hoje, é aqui que vale a pena viver a minha vida como mulher consagrada, pois para aqui fui enviada

cada povo; é celebrar juntos a vida, a terra, a água, a luz e denunciar a opressão, a exploração, a violação de direitos; é viver um diálogo intercultural e de espiritualidades a fim de fortalecer a vida integral de cada comunidade e cada pessoa para que todos tenham vida em abundância. A opção é a de viver a pedagogia de João Batista, que prepara o terreno, mas sabe evaporar-se quando é hora. FM O que aprendeu de mais valioso com a cultura indígena? GL Cada dia aprendo algo novo e de valioso. São muitos os valores que vou descobrindo nos meus irmãos indígenas e na sua cultura, mas a simplicidade é algo muito forte e que admiro. A simplicidade que contemplo no seu viver diário permite relativizar muito a nossa existência, tornando-nos menos complicadas e problemáticas. Também o valor da esperança está muito presente na cultura indígena. O amanhã será sempre melhor que o hoje e não há razões para desesperar. FM Quais as maiores dificuldades desta missão? GL É o aspeto económico. É uma missão que exige uma constante mobilidade, pois é um território totalmente fluvial, e os custos da gasolina são elevados. Infelizmente não podemos acompanhar as comunidades com a frequência que desejávamos por falta de recursos. FM Porque é que vale a pena ser missionária neste lado do mundo? GL Vale a pena ser missionária aqui como em qualquer outra parte do mundo. Hoje, é aqui que vale a pena viver a minha vida como mulher consagrada, pois para aqui fui enviada. Sinto que é um privilégio pelo qual devo agradecer cada dia ao Senhor, o poder partilhar a minha existência e a minha fé com estes irmãos. Aqui é onde me sinto chamada a ser um pequeno tijolo na construção da Igreja que é Corpo de Cristo; aqui é onde meço a minha fé e a minha entrega gratuita ao Senhor, amando e servindo cada pessoa com a qual peregrino.

NA VINHA DO SENHOR texto e foto DARCI VILARINHO Foi precisamente na rua da Vinha do Senhor, em São Martinho do Porto, que eu fui encontrar uma família abençoada. A cabeça do grupo é a Maria Augusta, massagista de profissão e muito empenhada na sua comunidade paroquial. “Tive uns pais fantásticos que me deram muito amor e carinho”, diz ela, com orgulho. Com 85 anos, ainda vai pelas casas visitar regularmente os doentes para lhes deixar uma palavra de consolação e esperança, mas sobretudo para lhes dar a comunhão eucarística. Aos doentes de casa e aos da Fundação Clérigo, uma meritória instituição da vila. O seu coração já se sente fraco, mas “está totalmente preenchido”. Acompanha-a sempre a Maria Helena, também ela ministra da comunhão e uma excelente colaboradora. Temos depois a sobrinha, Maria de Fátima com a sua filha Rute, que completam o quadro familiar. Para além dos trabalhos de casa é o escutismo e a catequese que preenchem os seus dias. Como cereja em cima do bolo está a colaboração com a nossa FÁTIMA MISSIONÁRIA. Há quase trinta anos que a dona Augusta, com muito amor pelas missões, ajudada pelas filhas do coração, faz a cobrança dos 80 assinantes do seu rol e vai deixando aqui e acolá a sua marca missionária. Bem haja, dona Augusta, e bem hajam as excelentes colaboradoras nesta vinha do Senhor!

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a missão hoje

“FALTA EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA À IGREJA” Numa altura que se debate tanto a necessidade de uma nova evangelização, José Martins, missionário da Consolata com anos de experiência na África do Sul, pede mais universalidade à Igreja, maior partilha de bens e formação missionária para os agentes pastorais texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA

José Martins partiu para o Canadá onde vai desenvolver um novo projeto missionário

Há quem lhe chame a “missão do sofá”, mas para o missionário José Martins, esta prática é muito útil e devia ser replicada pelas dioceses para colmatar a “falta de experiência missionária” da Igreja em Portugal. Todos os anos, no verão, centenas de jovens reservam parte das suas férias para passarem um tempo nas missões além fronteiras, em atividades

de vivências de fé, de contacto com “a igreja viva”. E revelam-se ferramentas preciosas para os cristãos, porque os torna mais próximos “da família humana global e universal”. Ora, se são tão marcantes para os leigos, também o seriam para o meio eclesiástico, segundo José Martins. Por isso, o missionário defende que os sacerdotes, antes de serem

Os sacerdotes, antes de serem ordenados, deviam passar por uma experiência missionária de alguns meses comunitárias e religiosas. Vão por pouco tempo mas regressam preenchidos, porque contactam com outras formas de vida, com outras culturas, e não raras as vezes, com outros modos de viver o cristianismo. Mesmo correndo o risco de se ficarem pelo “romantismo religioso”, estas missões oferecem novas experiências do mundo, 12

ordenados, deviam passar por uma experiência missionária de alguns meses. Caso contrário, “como normalmente não têm outra experiência do mundo, apenas vão repetir aquilo que lhes foi dito na escola, ou o que experienciaram na igreja local”, refere o religioso, que deixou recentemente a África do Sul para abraçar um novo desafio pastoral no Canadá. “Poderia

marcar a diferença e seria uma bela prenda” que os bispos davam aos futuros consagrados, acrescenta o missionário, de 62 anos, natural de Proença-a-Nova. José Martins sugere ainda uma mudança de atitude e de doutrina para contrariar “a crescente tendência de se acentuar a questão da autossuficiência e de auto sustentamento”, que se vive dentro da Igreja. “Devia haver um movimento maior de partilha dos bens”, refere o sacerdote, exemplificando com o caso de uma paróquia nos Estados Unidos da América que tem “um orçamento mensal de 100 mil dólares (mais de 76 mil euros)”, quando na África do Sul uma comunidade semelhante não pode contar com essa verba nem para um ano.


destaque

VENEZUELA REGRESSA A ELEIÇÕES

A HORA DO CHAVISMO SEM CHÁVEZ texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA Após a morte do Presidente Hugo Chávez, o governo venezuelano apressou-se a entronizar o mito, como uma forma de preencher o vazio e as incertezas deixadas pelo seu líder carismático. O desaparecimento do ex-Presidente venezuelano, de 58 anos, em resultado de um cancro diagnosticado em 2011, foi preenchido por um conjunto de gestos destinados a assegurar a continuidade do chavismo sem Chávez.

do ex-Presidente venezuelano está presente em tudo o que acontece no país poderá ser a imagem da marca profunda do seu legado.

afeta o país e que está a minar as necessidades de investimento para o desenvolvimento e as reformas sociais em curso.

O peso do mito

Será duvidoso imaginar a mão de Chávez na eleição do novo Papa. Mas, certamente, que ela, ou o que resta da sua memória, será um apoio importante de Nicolás Maduro nas próximas eleições presidenciais. O que será mais difícil de prever é até que ponto o mito que agora emerge após a morte do ex-líder da Venezuela não se transformará numa presença demasiado pesada, se os próximos tempos não correrem de feição aos novos líderes políticos venezuelanos.

O Presidente venezuelano, que liderou o país durante 14 anos, ficará conhecido pelas reformas sociais na área da saúde, no combate à pobreza extrema e ao analfabetismo. Estas políticas estão na base do populismo do Partido Socialista Unido da Venezuela, considerado o maior partido socialista da América Latina, com cerca de 5,7 milhões de membros. As políticas sociais realizaram-se através de uma política autoritária, do reforço do papel do Estado e graças aos recursos do petróleo. Mas a Venezuela continua a enfrentar desafios importantes em resultado da crise económica que

As manifestações da emoção nas ruas, o estado de quase exceção que viveu o país, os discursos políticos, os gestos de expulsão de diplomatas norte-americanos, agitando a ideia da ameaça estrangeira, a tentativa inicial de embalsamar o corpo e a rápida investidura de Nicolás Maduro como Presidente interino visaram criar um clima nacional de unânime consternação em torno do futuro político do país, destinado a manter o elã para a eleição do novo Presidente da Venezuela. A preocupação política com o vazio deixado por Chávez ficou já patente aquando das polémicas cerimónias de posse do então Presidente eleito, realizadas quando este continuava os seus tratamentos em Cuba. As promessas de fidelidade ao ex-Presidente e a ideia sugerida por Nicolás Maduro de que a mão de Chávez terá influenciado a eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio para Papa são a expressão máxima da tentativa de transformar o chavismo numa religião. Na realidade, a ideia de que o espírito

O mito de Hugo Chávez continua a influenciar os destinos da Venezuela

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atualidade

VATICANO Sinais de mudança no início de Pontificado

PAPA FRANCISCO, UMA PRIMAVERA DA IGREJA texto ANTÓNIO MARUJO foto LUSA Foi um mês alucinante. A 11 de Fevereiro, o Papa Bento XVI renunciava ao ministério, dizendo que era preciso outro vigor físico e anímico para conduzir a Igreja. Foi uma decisão única na história do catolicismo, uma decisão que, daqui a muito tempo, se perceberá que terá contribuído para mudar a face e o rumo da Igreja Católica. A 13 de Março, o conclave foi quase ao “fim do mundo” chamar o cardeal Jorge Mario Bergoglio para Papa. Francisco, escolheu ele chamar-se. No nome, está um programa. O próprio Papa explicou. Quando a votação no conclave chegou aos 77 votos, os necessários dois terços para se ser eleito, os cardeais aplaudiram. Claudio Hummes, que estava sentado perto de Bergoglio, abraçou-o e disse-lhe: 14

“Não te esqueças dos pobres.” “Aquela palavra entrou aqui”, disse o Papa, no encontro com os jornalistas, três dias depois da eleição, colocando a mão sobre o coração. “Os pobres, os pobres. Depois, de repente, pensei em São Francisco de Assis, homem da pobreza, homem da paz, homem que ama e protege a criação.” Na mesma ocasião, o Papa exclamou: “Ah, como eu queria uma Igreja pobre e dos pobres!” A ideia seria repetida, de várias maneiras, naqueles primeiros dias. Na missa de início de pontificado, a 19 de Março, o Papa acrescentou mesmo que o seu poder é o do serviço da “humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no

Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão”. Gesto significativo foi também o facto de ele ter recusado as vestes faustosas que lhe estavam destinadas depois da eleição, aparecendo à varanda apenas com a veste branca. É sabido também que, já enquanto arcebispo de Buenos Aires, este mesmo homem tinha um estilo de vida despojado e estava frequentemente com os mais pobres. Ao mesmo tempo, criticava o sistema financeiro internacional que explora os continentes e os povos do sul do mundo. Os primeiros dias foram pródigos em outros gestos e sinais cheios de significados, que permitem intuir o que será este pontificado. Bergoglio


vez de Papa. Trata-se de recolocar a missão do papado na linha do que acontecia nos primeiros séculos do cristianismo, em que Roma presidia às outras igrejas “na caridade”. Na encíclica Ut Unum Sint, João Paulo II disse que era importante debater uma redefinição do papado, Francisco poderá vir a concretizar essa intuição. “Agora, começamos este caminho: bispo e povo”, disse Francisco nas primeiras palavras que dirigiu aos fiéis, pedindo que os crentes o abençoassem antes de ele próprio dar a sua bênção, numa atitude de quem se coloca à escuta da presença de Deus entre o seu povo. O novo Papa trouxe para a praça uma outra intuição de Francisco de Assis: o cuidado de uns para com os outros e o cuidado com a criação. Na homilia de início de pontificado, pediu mesmo “um favor” aos responsáveis políticos, económicos e sociais que sejam “guardiões” ou cuidadores do “desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente”.

“Agora, começamos este caminho: bispo e povo”, disse Francisco nas primeiras palavras que dirigiu aos fiéis, pedindo que os crentes o abençoassem antes de ele próprio dar a sua bênção, numa atitude de quem se coloca à escuta da presença de Deus entre o seu povo

foi eleito também como forma de purificar o sistema de governo da Cúria Romana, que tanto dano tem causado nos últimos tempos à Igreja e à sua imagem pública. O peso da estrutura, as acusações de conflitos e corrupção, e os pedidos de muitos cardeais para que esta situação mude levaram à escolha de alguém que está nos antípodas da burocracia vaticana. De repente, parecia que se abriram janelas,

que entrara ar puro. A própria meteorologia coincidiu com os espíritos: a chuva intensa e fria parou em Roma na altura do fumo branco, o primeiro dia do novo Papa foi um dia de sol primaveril e caloroso.

E fazer tudo isto com bondade e ternura. Fazendo recordar o “não tenhais medo” de João Paulo II, disse o Papa Francisco que a ternura “denota fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor”. E acrescentou: “Não devemos ter medo da bondade, da ternura.” Este é, seguramente, um novo começo. António Marujo escreve de acordo com a antiga ortografia

Esses sinais, desde a primeira vinda à loggia da basílica de São Pedro, incluíram a referência repetida a si mesmo como “bispo de Roma”, em Abril 2013

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atualidade

LEI DAS PATENTES Genérico pode salvar milhares de vidas

BRAÇO DE FERRO ENTRE A ÍNDIA E A BAYER Farmacêutica alemã vende um medicamento contra o cancro que custa uma fortuna para quase todos os indianos menos os magnatas. O governo decidiu autorizar uma empresa nacional a fabricar um genérico que custa 30 vezes menos. Na guerra de interesses entre o valor das patentes e o da saúde pública ganhou este último. Mas a Bayer promete lutar contra a decisão texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* foto LUSA Mukesh Ambani, milionário da petroquímica e de mil e um outros negócios, até pode estar entre os 25 mais ricos do mundo na lista da ‘Forbes’, mas ao lado desse rosto de uma Índia de sucesso vive uma multidão de pobres, ainda boa parte dos 1200 milhões de habitantes. E foi a pensar nessa massa humana que as autoridades indianas decidiram agora quebrar a lei das patentes e permitir que um medicamento contra o cancro da alemã Bayer, vendido a preços altíssimos, passasse a ser fabricado como um genérico pela Natco, uma firma nacional. Convertendo as rúpias em moeda europeia, o Nexavar passa de 4000 euros por um tratamento mensal para 125 euros na versão genérico. Este último valor ainda é caro para muitos indianos, aqueles que ganham umas rúpias por dia a carregar pedras nas obras ou a cavar os campos, mas o anterior era uma fortuna. Aliás, a própria ‘Forbes’ fez questão de alertar para o escandaloso preço, fazendo uma comparação com os Estados Unidos. Assim, e tendo em conta que por ano um tratamento com o Nexavar custa 41 vezes o rendimento médio de um indiano, seria como cobrar 1,6 milhões de dólares a um americano. E transpondo o raciocínio para Portugal, equivale a pagar mais de 16

meio milhão de euros por ano para não se morrer de cancro. Em termos reais, o preço do medicamento da Bayer é mais caro nos Estados Unidos e na Europa que no Terceiro Mundo. Considerado muito eficaz no combate ao cancro do rim e do fígado, o Nexavar é um dos grandes sucessos da Bayer, a quarta maior farmacêutica mundial. E por isso, convém olhar também para o lado da empresa alemã. A sua posição é clara: as investigações médicas são muito dispendiosas e é preciso premiar o esforço dos cientistas. Além disso, como espécie de regra do setor, só uma em cada dez apostas de pesquisa resultam em medicamentos com potencial para serem colocados no mercado. Logo, esses medicamentos bem sucedidos têm de ser caros. A fórmula tem funcionado, com a indústria farmacêutica a oferecer

Três números

4000 euros custa o Nexavar na Índia para um mês de tratamento 41 vezes o rendimento médio de um indiano é o custo anual do Nexavar 125 euros custará por mês o genérico da Natco

grandes avanços à humanidade, enquanto ao mesmo tempo faz negócio no valor de 500 mil milhões de euros anuais, com destaque para a americana Pfizer, a número um mundial. A própria Bayer, fundada no século XIX e hoje baseada em Leverkusen, teve em 2012 lucros na ordem dos 2,4 mil milhões de euros. A favor da Bayer jogam vários medicamentos de sucesso, com o mais famoso a ser a aspirina, comercializada pela empresa há mais de um século. Contudo, se as patentes visam proteger quem investiu em investigação, também existem algumas situações excecionais admitidas pela própria Organização Mundial do Comércio, como a possibilidade de autorizar cópias baratas se um medicamento de marca não chegar ao mercado de dado país ou tiver um preço desproporcionado para a população. É este último argumento que foi decisivo na Índia em relação ao Nexavar, como antes tinha sido invocado pela África do Sul para fabricar antirretrovirais a baixo preço para combater o HIV. Polémicas junto dos governos e lutas em tribunal fazem parte do quotidiano das farmacêuticas. Que o digam a suíça Novartis, também com um medicamento contra o cancro a ser questionado pelas autoridades indianas, ou a britânica Glaxo, forçada no ano passado pela Justiça dos Estados Unidos a pagar 2,3 mil milhões de dólares por marketing abusivo. Outra das acusações sistemáticas contra as gigantes da farmacêutica é o chamado ‘evergreening’, pequenas inovações feitas a um medicamento de sucesso para assim obter o prolongamento da patente. A decisão indiana de autorizar a visão genérica do Nexavar salvará milhares de vidas. E a Organização Mundial


Convertendo as rúpias em moeda europeia, o Nexavar passa de 4000 euros por um tratamento mensal para 125 euros na versão genérico. Este último valor ainda é caro para muitos indianos, aqueles que ganham umas rúpias por dia a carregar pedras nas obras ou a cavar os campos

de Saúde, embora reconhecendo o contributo das farmacêuticas para a erradicação de muitas doenças, costuma tomar partido pelas populações contra o interesse da indústria. Até porque os lucros são imensos, assim como os gastos em marketing e, portanto, muitos preços poderiam ser mais baixos sem pôr em causa o financiamento da investigação. Nos países ricos, onde existem bons sistemas públicos de saúde e os seguros médicos, a questão do preço dos medicamentos é menos polémica. E tendo em conta que 85 por cento do negócio das farmacêuticas continua a ser feito na América, Europa, Japão e Oceânia, são muitas as vozes que defendem que as farmacêuticas podem adaptar de forma radical a sua política de preços aos países mais pobres, como é o caso da Índia. Neste permanente braço de ferro entre a saúde das populações e o interesse das gigantes do medicamento, os países emergentes podem ainda apresentar trunfos com grande possibilidade de serem entendidos na lógica mais empresarial. A revista ‘Economist’ calcula que com tanta população, tantas doenças e tanta nova classe média, a Índia verá o seu consumo de medicamentos passar de nove para 57 mil milhões de euros anuais numa década. Nem a Bayer nem qualquer outra farmacêutica quererá ficar fora, entregando o mercado a empresas nacionais. Por isso, o entendimento entre o Estado e a indústria é o caminho mais óbvio para pacificar a polémica. E não esquecer que as autoridades indianas ordenaram à Natco que pague sete por cento em direitos à Bayer. * jornalista do DN

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dossier

ÁFRICA Catástrofe humanitária sem fim à vista

DEZ ANOS DE CONFLITO NO DARFUR Completaram-se já 10 anos sobre as primeiras notícias de um genocídio, uma terrível limpeza étnica, na vastidão do Darfur, na parte ocidental do Sudão, e a tragédia prossegue, perante a passividade das consciências adormecidas texto JORGE HEITOR foto LUSA Devido a décadas de fome, de seca e de opressão, o povo do Darfur, território que tem fronteiras com a Líbia, o Chade e a República Centro-Africana, continua a sofrer e a precisar da solidariedade mundial. Numa superfície equivalente à da França, habitada por sete milhões de pessoas, a situação piora de dia para dia, mas hoje já não se fala 18

deste drama com a mesma força, com o mesmo interesse, com que se falava há oito ou nove anos. Tendo surgido grupos de milícias que queriam combater pelos direitos de povos sujeitos a secas e a desastres ecológicos, o governo sudanês enviou em 2003 as suas próprias tropas, muito bem armadas, para esmagar os

insurretos, que não aceitavam por mais tempo submeter-se à vontade de Cartum. Os militares do maior país da África e do Médio Oriente, povoado então por mais de 30 milhões de habitantes, foram financiados pelas receitas do petróleo, que era e é a principal fonte de rendimento de um território onde 70 por cento dos cidadãos eram muçulmanos, 10 por cento cristãos e 20 por cento animistas.

Tropas pagas com petróleo

Mais de 70 por cento dos fundos que as autoridades sudanesas estavam a obter há 10 anos da indústria


petrolífera foram canalizados para as suas Forças Armadas, no sentido de tentarem neutralizar os anseios autonomistas tanto do Sudão do Sul como do Darfur, duas zonas profundamente subdesenvolvidas. Grande parte dos campos de petróleo situa-se no sul do Darfur, uma região que sofreu grandes crises de fome em 1973-1974 e em 1984-1985, tendo registado 100 mil mortos. As Nações Unidas pouco têm conseguido fazer pelos muitos milhões de africanos que abandonam os seus territórios devido à fome e à seca, fenómenos que vitimaram mais de 70 por cento

Numa superfície equivalente à da França, habitada por sete milhões de pessoas, a situação piora de dia para dia, mas hoje já não se fala deste drama com a mesma força, com o mesmo interesse, com que se falava há oito ou nove anos

das vacas e das cabras que havia no Darfur. E pouco se têm esforçado por atenuar o problema, uma vez que tanto a China como a Rússia, que beneficiam do petróleo sudanês, têm direito de veto no Conselho de Segurança. Foi portanto neste quadro de subdesenvolvimento, falta de um sistema alimentar adequado, desertificação e grande fluxo de deslocados que 450 mil pessoas terão morrido no Darfur durante esta última década e que dois milhões e meio estão a passar fome.

Crise multifacetada

Ao longo de 2003 e 2004, a imprensa europeia e norte-americana foi Abril 2013

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falando desta crise complexa, mas depois abandonou o tema, enquanto a maior parte dos nómadas do Darfur ia avançando para Sul e se perpetuavam os conflitos entre populações ditas africanas e outras normalmente consideradas árabes. Os confrontos estão muito relacionados com a escassez de terra e de água. O território dos Fur, mas também de outras etnias, constituiu um sultanato independente durante séculos, até que em 1916 forças britânicas e egípcias o integraram

no Sudão, que viria a ser um país demasiado grande para que se conseguisse manter unificado. Esta construção artificial durou pouco mais de 95 anos, como se verificou quando Cartum foi obrigado a reconhecer a independência do Sudão do Sul. Os 493.180 quilómetros quadrados do Darfur são em grande parte áridos e têm picos vulcânicos que chegam a ultrapassar os 3.000 metros de altitude, sendo as principais cidades Al Fashir, Nyala e Geneina. No subsolo existem

O livre movimento de populações entre o Sudão e o Chade, como aliás entre outros países africanos que não têm fronteiras bem delineadas, influencia a política e a segurança de um e outro lado, e ninguém pode evitar que os casos do Sudão, do Sudão do Sul, do Chade e da República Centro-Africana estejam interligados. Isto é uma coisa que deve ser tida em conta, para compreender uma África onde o quotidiano é bastante diferente do europeu

Conferência de doadores

Em abril realiza-se em Doha, no Qatar, uma conferência internacional de doadores na qual a Autoridade Regional do Darfur espera conseguir seis mil milhões de dólares para projetos de recuperação e desenvolvimento do território. Enquanto isto, em fevereiro, a facção do Movimento Justiça e Igualdade, liderada por Mohamed Bashar, anunciou, precisamente a partir de Doha, que estava a terminar negociações com uma delegação governamental sudanesa no sentido de se conseguir a reconciliação.

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Aquela facção, uma das tantas que têm existido neste conflito, assinou, a 24 de janeiro, um acordo de cessar-fogo com Cartum e iniciou conversações sobre o regresso de deslocados e refugiados. Por outro lado, o perito das Nações Unidas em direitos humanos, Mashood Baderin, avisou que os crimes relacionados com o que se tem passado no Darfur estão a ser julgados em tribunais vulgares, sem que os defensores daqueles direitos a eles tenham acesso. Em julho de 2007, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma missão conjunta da União Africana e da

sinais de um vasto lago, que terá secado há milhares de anos, pelo que nunca foi possível que ali se tivesse desenvolvido uma grande e duradoira civilização.

Duas milícias

Nesta última década, surgiram a milícia Libertação do Sudão e o Movimento Justiça e Igualdade, tendo os rebeldes começado a atacar Al Fashir e outras localidades; mas pouco se sabe sobre a quantidade de soldados que o poder central mobilizou para neutralizar o descontentamento geral e o espírito de revolta. Segundo o general Mohamed Zeinelabdin Mohamed Hamad, antigo embaixador sudanês, existem 80 tribos no Darfur, 13 das quais encavalitadas entre o Sudão e o Chade, como é o caso da Zagawa, de grande importância no atual conflito. O livre movimento de populações entre o Sudão e o Chade, como aliás entre outros países africanos que não têm fronteiras bem

ONU destinada a estabilizar o Darfur, enquanto decorressem conversações de paz. Entretanto, o Conselho de Segurança prorrogou até 17 de fevereiro de 2014, o mandato do grupo de peritos que fiscalizam a aplicação de sanções ao Sudão pela forma como se tem comportado no Darfur; e pediu-lhes que continuem a coordenar as suas actividades com as da Operação Híbrida da ONU e da União Africana para o referido território (Unamid). JH


Egito

Perto de dois terços da população do Darfur tenta sobreviver em aldeias remotas, sem qualquer proteção contra as investidas das milícias. As armas enviadas para o interior da África durante o período da Guerra Fria continuam por lá, sem que ninguém as consiga controlar; e por isso as populações vivem aterrorizadas

delineadas, influencia a política e a segurança de um e outro lado, e ninguém pode evitar que os casos do Sudão, do Sudão do Sul, do Chade e da República Centro-Africana estejam interligados. Isto é uma coisa que deve ser tida em conta, para compreender uma África onde o quotidiano é bastante diferente do europeu. A própria ideologia de supremacia árabe divulgada na Líbia pelo coronel Muammar Khadafi também teve os seus reflexos no Darfur, com o governo sudanês a armar as milícias árabes Janjawees. E assim se chegou a um dos mais graves desastres humanitários do século XXI.

Tentativas de sobrevivência

Perto de dois terços da população do Darfur tenta sobreviver em aldeias remotas, sem qualquer proteção contra as investidas das milícias. As armas enviadas para o interior da África durante o período da Guerra Fria continuam por lá, sem que ninguém as consiga controlar; e por isso as populações vivem aterrorizadas. Como geralmente os estrangeiros não visitam a região, apenas algumas organizações não governamentais se atrevem a tentar perceber o que se passa com as populações marginalizadas, para as quais não tem o mínimo sentido a palavra globalização, tão usada

SUDÃO

Chade

lho me Ve ar M

Líbia

Cartum

DARFUR

República Centro Africana

SUDÃO DO SUL

República Democrática do Congo

nas chancelarias ocidentais. Um acordo de paz para o Darfur foi assinado em 2006 entre o governo de Cartum e o Movimento de Libertação do Sudão, de Minni Minnawi, um dos grupos rebeldes; mas o Movimento Justiça e Igualdade rejeitou-o, pelo que o conflito prosseguiu, com aquelas paragens abertas a toda a espécie de criminosos e redes terroristas. E o próprio movimento de Minnawi retirou-se do acordo, em dezembro de 2010.

Uganda

Etiópia

Quénia

Central, Darfur Oriental, Darfur Setentrional, Darfur Meridional e Darfur Ocidental. Aquilo a que normalmente se chama dividir, para melhor reinar. Para que Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade, continue a imperar sobre o povo Fur e outros que com ele partilham uma porção importante do interior da África.

Tem sido admitida a realização de um referendo sobre a autonomia do antigo sultanado, mas nada indica que tão depressa ele possa ocorrer, nem que a médio prazo o desfecho possa ser algo equiparável ao que se verificou com o Sudão do Sul, que em 2011 conseguiu alcançar a sua independência. Por enquanto, o que existem são cinco estados federados: Darfur Abril 2013

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gente nova em missão

DESAFIO Vamos ser missionários ecológicos

22 DE ABRIL DIA DO PLANETA TERRA

Olá a todos os pequenos missionários! Estamos em abril, o mês da primavera e do tempo pascal. Podemos dizer: Aleluia! Aleluia! E é neste mês que se dedica um dia, o 22, para celebrarmos o nosso planeta, o planeta terra. Este dia foi criado em 1970 e é celebrado em quase todo o mundo. Para ser um verdadeiro missionário também é preciso ser-se ecológico, preservando e protegendo aquilo que Deus criou, este planeta que também é conhecido por “Planeta Azul” texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO

O INÍCIO

O Dia da Terra foi criado pelo senador americano Gaylord Nelson, no dia 22 de abril de 1970. O seu

objetivo é consciencializar as pessoas para o crescimento desmedido da poluição ambiental e para a insustentabilidade do planeta

devido à escassez de matérias-primas pelo excesso de consumo do ser humano. A partir dessa data fizeram-se várias reuniões com os representantes de muitos países para pensarem juntos o que fazer para salvar o Planeta.

UM VERDADEIRO MISSIONÁRIO É SEMPRE UM ECOLOGISTA

Nem podia ser doutra forma. Se Deus criou o mundo e todos os seres que nele habitam, só pode esperar de nós um compromisso total com a salvaguarda desta Sua Criação absolutamente espetacular. “Deus disse: «Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca». E assim aconteceu. Deus 22


chamou terra à parte sólida, e mar, ao conjunto das águas. E Deus viu que isto era bom. Deus disse: «Que a terra produza verdura, erva com semente, árvores frutíferas que deem fruto sobre a terra, segundo as suas espécies, e contendo semente». E assim aconteceu. A terra produziu verdura, erva com semente, segundo a sua espécie, e árvores de fruto, segundo as suas espécies, com a respectiva semente. Deus viu que isto era bom.” (Génesis 1,7-13)

O QUE UM PEQUENO MISSIONÁRIO PODE FAZER

Aqui ficam algumas dicas para te tornares um verdadeiro missionário ecologista: Gastar o mínimo de energia possível: apagar sempre as lâmpadas e desligar todos os aparelhos que não estão a ser utilizados; usar lâmpadas

economizadoras: usar painéis solares. Fechar a torneira sempre que não é preciso; não deixar correr a água sem necessidade. O banho deverá ser preferencialmente duche rápido. Não consumir mais do que realmente se necessita, não desperdiçar comida, não comprar apenas por capricho. Reciclar o lixo. Reaproveitar o material para diminuir o lixo de difícil degradação. Levar sacos reutilizáveis para as compras. Plantar árvores e plantas. Tenta sensibilizar a tua família e os teus catequistas a fazerem algo diferente neste dia.

SABIAS QUE

Há vários programas sobre a natureza que passam na televisão. Não vejam só desenhos animados, vão aprender mais sobre o vosso planeta. Fica a dica: os programas da BBCEarth são espetaculares!

O MEU MOMENTO DE ORAÇÃO

Senhor Jesus: Neste mundo tão desequilibrado Onde milhões passam fome e outros desperdiçam comida Onde se polui a terra e as águas sem remorso Não quero ter na minha consciência o peso de contribuir Para a destruição do nosso lar, a criação de Teu Pai Tão bela, perfeita e pensada para a todos poder acolher e alimentar Vou ajudar a salvar este Planeta, que é também a missão a que me convidas E com esta tarefa mais um passo a dar na construção de um mundo melhor Onde não falte o essencial a ninguém e todos vivamos em sintonia com a natureza. Pai-Nosso Abril 2013

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tempo jovem

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ATITUDES QUE FAZEM CRESCER Enquanto caminho, fazendo história neste mundo maravilhoso em que nos toca viver, pergunto-me muitas vezes quais os desafios e quais os sinais que estou chamado a descodificar para poder experimentar a verdadeira realização pessoal. Ninguém me tira da cabeça que as chaves para abrir a porta da felicidade encontram-se subtilmente escondidas dentro do próprio ser texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA Olhando para o mistério da humanidade, – pois considero que cada pessoa é um mistério a descobrir – fico extasiado com a diversidade de comportamentos, sentimentos e emoções que cada pessoa é capaz de transmitir e representar. Apesar de muitas vezes estarmos convencidos de que somos de uma determinada forma, as nossas escolhas, comportamentos e atitudes acabam por desvendar “quem somos na realidade”. No caminho pessoal em direção ao crescimento e à maturidade, um dos grandes desafios está na capacidade de tornar “hábitos” as boas atitudes e comportamentos que vivenciamos cada dia. Os gregos chamavam isto “areté”, que significa virtude, palavra pouco utilizada

nas conversas quotidianas e lamentavelmente relegada só para o ambiente religioso. Procurar fazer o bem, bem feito, sem barulho e sempre, é uma base segura para me tornar virtuoso. A atualização quotidiana desta atitude foi-me impingida desde o início da minha caminhada missionária e é aí que eu encontro três atitudes importantes que, se as deixarmos enraizar dentro de nós, de certeza que hão de converter qualquer ser humano numa pessoa virtuosa.

SERVIÇO

Inclinar-se para “lavar os pés” de outra pessoa, enxugá-los e beijá-los, é o grande ensinamento que nos foi deixado para embarcarmos na virtude da humildade. Aceitar que aquilo que nos faz crescer e sentir alegres é o “espírito de servir o outro” tem sido uma das grandes descobertas que tenho feito na minha vida pessoal. Trabalhar para manter esta disposição interior tem sido uma das grandes aventuras na minha vida de missionário.

RETILÊNCIA

É a capacidade de tirar um ensinamento positivo de uma perda, desilusão ou tragédia. “Restolho” é o nome de umas das músicas mais inspiradas da cantora Mafalda Veiga. A sua afirmação “há que penar para aprender a viver” leva-nos a compreender uma das realidades mais tangíveis da nossa natureza humana. Não existe ser

Descobrir o para quê das coisas que nos acontecem, em detrimento do porquê, faz-nos mergulhar na virtude da sabedoria humano sobre a face da terra que não passe pelo crivo da dor que nos faz penar e sofrer. Mas também é um facto evidente a multidão de gente, neste nosso mundo, que tem aprendido a crescer, tornando-se mais forte e equilibrada graças à experiência “bem sucedida e assumida” da dor. Descobrir o para quê das coisas que nos acontecem, em detrimento do porquê, faz-nos mergulhar na virtude da sabedoria.

CONFIANÇA

Quem tem um caminho traçado e uma missão a cumprir neste mundo não pode ser incrédulo. É preciso acreditar em nós e nos outros para criar laços autênticos nos nossos relacionamentos interpessoais. É urgente e necessário acreditar em alguém “superior, infinito, interior e transcendente”, se queremos que o impossível se torne possível na nossa vida. Praticar a confiança ajuda-nos a desenvolver a virtude da esperança.

Quem tem um caminho traçado e uma missão a cumprir neste mundo não pode ser incrédulo. É preciso acreditar em nós e nos outros para criar laços autênticos nos nossos relacionamentos interpessoais Abril 2013

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sementes do reino Vou procurar ler todos os dias uma passagem bíblica para conhecer mais e melhor a vontade de Deus a fim de encontrar nela o tesouro da minha vida

pastor. O autor louva a Deus que é o seu pastor e o leva às verdes pastagens, onde pode encontrar o verdadeiro alimento e, portanto, nada lhe falta.

VIVO A PALAVRA

BOM PASTOR O cristão tem um pastor especial, que conhece os seus pelo nome, os acolhe, os acompanha e lhes oferece o que tem de melhor para dar: a vida plena. Os seus seguem-no, porque sabem que têm nele um porto seguro texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA

LEIO A PALAVRA

Jo 10, 27-30 A imagem do Bom Pastor não é uma “invenção” do evangelista João. Já o Antigo Testamento, e de modo especial o profeta Ezequiel, a tinha usado. Ezequiel acusara os líderes de Israel de terem sido maus pastores, de não terem levado o rebanho a boas pastagens. O profeta anuncia que Deus irá, por isso, enviar um bom pastor, 26

que conduzirá o rebanho até aos prados verdejantes, oferecendo-lhes o que há de melhor. São João usa esta imagem para mostrar que Jesus é o Bom Pastor prometido pelo Pai.

SABOREIO A PALAVRA

Esta “imagem” é mais difícil de entender na nossa cultura, prevalentemente urbana. Poderia ser atualizada com a figura do presidente, mas hoje os exemplos de maus presidentes, como pessoas preocupadas apenas com os seus interesses, afastam da intenção da mensagem do texto bíblico. Em alternativa, um estudioso sugeriu a figura do “guru”, ou seja, o “bom guru”. O importante é saber que esta figura representa um líder que evoque doação, humildade, serviço, amor gratuito, dedicação desinteressada.

REZO A PALAVRA

Ore com o salmo 23 (22), onde o salmista usa a mesma imagem do

Os cristãos são convidados a escutar a voz do pastor. Num tempo onde ecoam tantas vozes, é necessário ser capaz de discernir a voz do pastor que leva à verdadeira vida. São muitos os que prometem vida fácil, e a tentação de enveredar por um caminho de portas largas e espaçosas tem desviado muita gente. Só um oferece a verdadeira vida. O seu caminho é pela porta estreita, mas leva à vida plena, isto é, à verdadeira vida. Como é que posso saber se estou a seguir Jesus, o “Bom Pastor”? Se me confronto diariamente com a Palavra de Deus, é aí que encontro a sua vontade e verifico se o caminho que estou a seguir é o caminho de Deus ou se ando por outros caminhos. Vou por conseguinte aceitar o convite de ler e meditar cada vez mais esta Palavra, para que faça cada vez mais parte da minha vida quotidiana. Vou procurar ler todos os dias uma passagem bíblica para conhecer mais e melhor a vontade de Deus a fim de encontrar nela o tesouro da minha vida.


intenção missionária

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO 07

2º Domingo da Páscoa At 4, 32-35; 1Jo 5, 1-6; Jo 20, 19-31

“FELIZES OS QUE ACREDITAM” Tomé não acreditou por ter tocado nas chagas de Cristo, mas porque abriu o seu coração e aceitou. Ter fé é ver o “invisível”. A fé assenta no testemunho dos apóstolos que nos falam em nome de Cristo. A fé entra em crise quando falha a comunidade de fé na sua vivência e testemunho. Não há fé sem comunidade, não há fé sem partilha. Que o testemunho da tua comunidade faça crescer a tua fé. Que eu entre, Senhor, com Tomé, nas tuas cicatrizes de ressuscitado para aumentar a minha fé e transmiti-la com alegria.

14 3º Domingo da Páscoa

At 3, 13-19; 1Jo 2, 1-5; Lc 24, 35-48

“ABRIU-LHES A INTELIGÊNCIA”

Precisamos todos da luz do Espírito Santo para rasgar as trevas do nosso entendimento. Precisamos todos de nos encher dos seus dons para saborear as coisas de Deus e para as testemunhar pelo mundo inteiro. Que a Igreja seja sempre e cada vez mais missão. Que o sejam as nossas palavras, os nossos gestos e toda a nossa vida. Abre, Senhor, a nossa mente, à luz da tua Palavra, para que saibamos cumprir o que nos pedes no exercício quotidiano da tua vontade.

21 4º Domingo da Páscoa

At 4, 8-12; 1 Jo 3, 1-2; Jo 10, 11-18

UM PASTOR APAIXONADO

“Conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-me”. Não somos fruto do acaso. Somos conhecidos e amados por Deus. Chama-nos pelo nosso nome para que O sigamos e nos comprometamos com Ele numa

ABRIL relação íntima e pessoal. Tenho ainda outras ovelhas que andam por aí desgarradas... Devo ir ter com elas para que entrem a fazer parte do único rebanho. O coração do nosso Deus é um coração apaixonado pela humanidade que deseja unir numa só família. Ilumina, Senhor, todos os pastores da tua Igreja, para que possam, como Tu, conhecer, amar e guiar o rebanho que em boa hora lhes confiastes.

28 5º Domingo da Páscoa

At 9, 26-31; 1 Jo 3, 18-24; Jo 15, 1-8

“SEM MIM NADA PODEIS FAZER”

“Eu sou a cepa, vós os ramos”. Formamos uma só coisa com Cristo. Circula em nós a seiva divina que nos faz viver dele e para Ele. Somos todos irmãos. Todos diferentes, mas todos com o mesmo sangue nas veias. Às vezes crescemos tortos e caminhamos à deriva, por nossa conta. Mas ele corta, limpa e enfeita para que cresçamos e vivamos à sua imagem. Conscientes de que sem Deus nada podemos realizar, deixemo-nos podar para produzir os frutos que Ele espera de nós. Que a tua graça, Senhor, circule sempre em nossas vidas, para darmos frutos de santidade e de paz. DV

Para que as Igrejas particulares dos territórios de missão sejam sinal e instrumento de esperança e de ressurreição

Sinais de vitalidade

Não há missionário que, regressando à terra que o enviou, não fale da vitalidade e do dinamismo da fé que se vive nas comunidades cristãs de recente evangelização. Fazem-no em confronto com a nossa Europa, cansada também na vivência da própria fé. Se não estamos entusiasmados pela profundidade e pela beleza da nossa fé, dificilmente podemos transmiti-la aos vizinhos ou às gerações futuras. É por isso que a vitalidade dos territórios de missão é um grande sinal de esperança. Precisamos que da África ou da América Latina ou do Oriente nos tragam um rejuvenescimento da fé. Precisamos que venham reevangelizar-nos. Não faltam problemas também nesses territórios: guerras fratricidas, ódios tribais e interesses políticos que dilaceram os povos, mas a fé renasce no meio das dificuldades, na perseguição e no martírio. É também sinal de esperança o zelo missionário que começa a florescer nas Igrejas particulares, que desejam participar efetivamente na missão universal da Igreja, enviando elas também missionários a anunciar o Evangelho por toda a terra, ainda que sofram de falta de clero. Esta comunhão entre Igrejas manifesta a maturidade e o dinamismo da fé nesses territórios. DV

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o que se escreve QUARESMA E PÁSCOA

A nossa Páscoa António Couto, bispo de Lamego, é um apaixonado pelas Sagradas Letras. Se quisermos, podemos fazer com ele uma viagem pelo Ano Litúrgico, sobretudo no tempo da Páscoa. O livro transmite-nos as suas homilias cheias de rigor bíblico e litúrgico, de suma importância para as celebrações da fé e para conhecer melhor o mistério de Jesus. Os textos são envoltos num certo colorido poético que serve de fundo ao inteiro texto. “Páscoa é Páscoa. Simplesmente (…) / Não é paragem, mas passagem, / aragem a ferver e a gravar em ponto cruz / a mensagem que arde no coração dos dois de Emaús. / A Páscoa é Jesus.” Vale a pena ler e meditar. Autor: António Couto 118 páginas | preço: 6,00 € Paulus Editora

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MILAGRES DE DEUS E MISTÉRIOS DO HOMEM À LUZ DA CIÊNCIA

O Papa emérito Bento XVI deixa-nos um relevante património litúrgico, bíblico e catequético. Este livro condensa num único volume as suas catequeses e homilias referentes ao tempo litúrgico do ciclo da Páscoa: Quaresma, Semana Santa, Tempo Pascal. Escrito de uma forma dinâmica e atraente é um ótimo subsídio para melhor vivermos este período central do Ano Litúrgico e da fé cristã. Doutrina segura e suculenta. Autor: Bento XVI 320 páginas | preço: 16,20 € Paulus Editora

Há curiosos que desejam conhecer melhor certos fenómenos que ultrapassam o entendimento humano. Este livro de 512 páginas, ilustrado com dezenas de fotografias, aborda a temática religiosa em geral, mas sobretudo os verdadeiros milagres e outros fenómenos do âmbito da parapsicologia. “É uma mensagem de fé e esperança, fundamentada e esclarecedora, alicerçada no máximo possível de argumentos científicos” e apoiada em muitos documentos e estudos. A sua leitura é agradável e proveitosa. Autor: Custódio Rodrigues 512 páginas | preço 17,50 € Edição do autor

REZAR NA PÁSCOA – ANO C

MEDITAÇÃO SOBRE O CREDO

É um livro que acompanha a liturgia desde o dia de Páscoa até ao Pentecostes. Uma proposta que ajuda a manter viva na comunidade a alegria da Ressurreição. É um livro excelente para a oração individual ou para deixar nas casas na visita pascal, como convite à oração em família. Integralmente a cores, contém uma imagem, citação evangélica do dia, proposta de meditação e oração. Autor: Rui Alberto 103 páginas | preço: 1,50 € Edições Salesianas

Disse Bento XVI: «Ainda hoje temos necessidade que o Credo seja melhor conhecido, compreendido e pregado. Sobretudo é importante que o Credo seja, por assim dizer, “reconhecido”». Aqui está mais um livro para nos ajudar a viver as verdades nele contidas. Neste Ano da Fé nunca é demais insistir sobre este assunto tão relevante. Autor: Maria Stella Salvador 296 páginas | preço: 13,50 € Paulus Editora


o que se diz PARA UMA PASTORAL JUVENIL AO SERVIÇO DA VIDA E DA ESPERANÇA

Sabemos que os jovens são o futuro da Igreja, mas nem sempre lhes é dada a devida atenção. Este livro quer parar para repensar a pastoral juvenil. Foi escrito por um dos maiores especialistas mundiais desta pastoral para ajudar os animadores dos grupos juvenis. Propõe um diálogo com as questões teológicas e educativas dos nossos dias e avança com sugestões práticas para evangelizar os jovens para a vida e a esperança. Autor: Riccardo Tonelli 158 páginas | preço: 6,50 € Edições Salesianas

DAMAS DE CARVÃO

É um livro curioso que retrata em 23 fotografias as carvoeiras da Costa do Marfim. São várias dezenas de mulheres que trabalham diariamente na produção do carvão vegetal. Aproveitam os pedaços de madeira e serradura de uma serração, põem-nos a arder durante uma semana, separam o carvão da cinza e embalam-no em sacos de plástico para vender. O olho fotográfico de Ana Paula Ribeiro captou a crua realidade destas marfinenses, cuja esperança média de vida é de 48 anos. É um livro/álbum que “gera pontes e relações fraternas e solidárias entre povos”. Autores: Ana Paula Ribeiro e Luís Maurício Guevara 44 páginas | preço 2,00 € Consolata Editora

Uma nova estação começou “Que se pode esperar do Papa Francisco? Da sua primeira alocução,

marcada por uma inspiradora simplicidade, ficaram-nos duas palavras e um gesto. A primeira palavra foi “confiança”. Retomando a imagem da Igreja como caminho, o Papa referiu a necessidade de um pacto de “confiança entre nós”. E a Igreja precisa de reganhar confiança. A outra palavra foi “fraternidade”. (…) E o gesto – um maravilhoso gesto – foi o novo Papa inclinar-se para acolher a oração do povo que pedia a bênção de Deus para o seu pastor. Quando o Papa abençoou a Igreja e as mulheres e os homens de boa vontade, sentimos que uma nova estação começou”. José Tolentino Mendonça | Editorial Ecclesia | 15/03/2013

Ultrapassar fronteiras e divisões “A Igreja de Cristo, como recorda o Concílio Vaticano II, tem a vocação

de ser «o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano», cumprindo a sua «natureza e missão universal» e ultrapassando toda a espécie de fronteiras e divisões. Temos a certeza que o nosso Papa Francisco cumprirá os títulos que lhe costumam ser atribuídos de «Sumo Pontífice», construindo pontes de unidade e paz entre as diferentes religiões, culturas e povos, e de «servo dos servos de Deus», servindo a todos e defendendo especialmente os mais pobres e marginalizados”. Da Mensagem do Conselho Permanente da CEP | 13/03/2013

Só a misericórdia liberta “Amar com paixão o mundo pecador… não julgar ninguém, não

condenar ninguém… ser ‘misericórdia’ para com todos para imitar o Coração de Cristo e o Coração do próprio Pai… abrir-me aos outros com ternura e carinho, como faz Jesus… Só o amor liberta… Só a misericórdia liberta… Quanto mais amor maior liberdade…” Dário Pedroso | Correio de Coimbra | 14/03/2013

Requisitos da inovação “O caminho da inovação, na Igreja de hoje e de amanhã, requer

sempre dos responsáveis um compromisso de fé com Jesus Cristo e o seu Evangelho e com as orientações conciliares. Requer, também, capacidade de diálogo e de trabalho em equipa, liberdade interior, conhecimento concreto da realidade e dos dinamismos sociais que a comandam e condicionam, abertura às diversas formas de colaboração, provindas de dentro e de fora da comunidade cristã.” António Marcelino | Notícias de Beja | 14/03/2013

A experiência do caminho “A nossa vida é caracterizada pela dimensão do caminhar: de muitas e variadas formas fazemos essa experiência do caminho – umas vezes a sós, outras acompanhados; em alguns casos com gosto, noutras situações a custo e em sofrimento; umas vezes com ritmo e leveza, outras com sabor a luta; por vezes tendo em vista a meta, noutras titubeando em tropeções; umas vezes descalços e noutros casos usando um calçado mais ou menos consentâneo com o percurso…” António Sílvio Couto | Notícias de Beja | 07/03/2013

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gestos de partilha

Costa do Marfim Maria Formiga – 20,00€; Adélia Frade – 10,00€; Josué Lopes – 13,00€; Anónimo – 150,00€;

Augusta Marques – 33,00€; Anónimo – 13,00€; Anónimo – 20,00€; Teresa Marcelo – 50,00€; Lurdes Curto – 23,00€; Anónimo (Fiães) – 100,00€; João Leão – 50,00€; Elisa Mendes – 15,00€; Fátima Matias – 10,00€; Anónimo – 200,00€; Filomena Lopes – 200,00€; Maria Guerra – 10,00€; Anónimo – 30,00€; Leonilde Monteiro – 6,00€; Fernando Caiado – 20,00€; Albino Ferreira – 30,00€; Guida Borges – 18,00€; Teresa Oliveira – 3,00€; Crianças de Águas Santas – 50,00€. Total geral = 1.635,00€. Maloca para todos Mulheres Missionárias da Consolata (Mem Martins) 600,00€; José Dias – 18,00€. Bolsas de Estudo José Silva – 20,00€. Padre Diamantino Antunes – Moçambique Anónimo (Fiães) – 125,00€. Padre José Salgueiro – Moçambique Lúcia Marinho – 23,00€. Crianças de Mecanhelas – Moçambique Mãe do padre Simão Pedro – 400,00€. Crianças de Faraja – Tanzânia Olinda Araújo – 40,00€. Leprosos Celeste Martins – 23,00€. Ofertas várias Maria Teixeira – 93,00€; Adelino Botas – 33,00€; Joaquina Trigo – 93,00€; Maria Pereira – 53,00€; António Mendes – 43,00€; António Ribeiro – 30,00€; António Cunha – 43,00€; Andresa Ribeiro – 43,00€; Armando Pedro – 28,00€; Odete Biléu – 27,30€; Armindo Coelho – 43,00€; Antonieta Paulo – 43,00€; Helena Ubach – 40,50€; António Silva – 86,00€; Lurdes Maurício – 30,00€; João Costa – 43,00€; João Galvão – 93,00€; Maria António – 33,00€; Isilda Reis – 43,00€; Rosa Matias – 293,00€; António Santos – 27,50€; José Carvalho – 43,00€; José Júnior – 43,00€; Manuel Domingos – 65,00€; Fátima Domingos – 65,00€; Elvira Martins – 53,00€; Alice Fernandes – 93,00€; Conceição Sousa – 50,00€; Matilde Claro – 143,00€; José Bernandes – 240,00€; Fernanda Morgado – 73,00€; Rosa Valinhos – 163,00€; António Guerra – 43,00€; Albano Martins – 26,00€; Manuel Matos – 86,00€; Conceição Pinto – 29,00€; Anónimo – 263,00€; Olívia Monteiro – 43,00€; Maria Sousa – 33,00€; Celeste Joaninho – 40,50€; Maria Cruz – 93,00€; Anónimo – 93,00€; Arminda Vasconcelos – 36,00€; Amélia Gomes – 106,00€; José Amaro – 33,00€; Alfredo António – 43,00€; Maria Cardoso – 193,00€; Manuel Farinha – 193,00€; Maria Magalhães – 150,00€; Rosa Neves – 100,00€; Anónimo – 53,00€; Mário Pereira – 100,00€; Helena Barros – 53,00€, Lurdes Soares – 100,00€; António Pereira – 43,00€; Assinantes que pertencem à lista de Alice Pais – 56,00€

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt 30


vida com vida

SURPREENDIA PELA SUA ATITUDE DE CRIANÇA SORRIDENTE O irmão Artur Medeiros, de origem açoriana, nasceu em 1906 nos Estados Unidos, na cidade de Fall River, Massachussets, onde havia sete paróquias portuguesas. Fall River conheceu tempos gloriosos, quando era uma das capitais da indústria têxtil americana texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração H. MOURATO Em 1952, Artur de Medeiros, depois de encontrar o padre João De Marchi, entrou para os Missionários da Consolata onde foi aconselhado a seguir a vida de irmão leigo. Durante o noviciado, que com muita alegria fez em Fátima, dedicou-se à tradução para inglês de vários escritos do fundador, José Allamano. Conhecendo bem a música – tinha sido organista da sua paróquia na América – dedicou-se ao ensino desta matéria no Seminário, e também ao ensino da língua inglesa. Terminado o noviciado, foi enviado para os Estados Unidos da América. Primeiro para Washington e logo depois para o nosso centro da cidade de Pittsburgh. Em Washington, onde eu estudava teologia na Universidade Católica, vivemos juntos vários meses. Sentia ele um orgulho genuíno por ser o primeiro missionário da Consolata da América do Norte. Gostava de conversar, e tinha um sorriso que lhe vinha lá do fundo do coração. Mostrava uma grande alegria por ser membro dum Instituto missionário que tinha por

Padroeira a Virgem Maria e, ainda por cima, a Virgem da Consolação, a Consolata. Ao Instituto sentia-se ligado por cordas íntimas que geravam por vezes uma comoção exterior. Caraterística eminente: sempre pronto a pedir perdão das pequenas indisposições com algum confrade, e uma fidelidade clara às práticas religiosas. Surpreendia tantas vezes pela sua atitude de criança sorridente. Dois pilares da sua vida: a Eucaristia, com frequentes visitas ao Santíssimo sozinho, e uma ternura de criança pela Virgem Maria. Por detrás dum aspeto por vezes um tanto áspero morava um coração menino. Dizia que tinha muito medo de morrer de desastre de automóvel.

Quando, no dia 4 de setembro de 1962, seguia para uma grande cerimónia no nosso Seminário de Buffalo, o automóvel, conduzido por um confrade, despistou-se ao ultrapassar um camião. A cabeça do irmão Artur recebeu um choque violento, e morreu no hospital para onde o tinham levado. Ao chegarmos nós, por bondade do Senhor, ao paraíso, não nos admiremos se ouvirmos de vez em quando poderosas melodias de órgão: é o irmão Medeiros que canta a alegria da sua vocação como filho da Virgem Consolata.

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outros saberes

MÃOS À OBRA texto NORBERTO LOURO foto ANA PAULA Infelizmente, “o mundo está cheio de pessoas com vontade de trabalhar e outras com vontade de as ver trabalhar”, dizia Robert Frost, e, não obstante a ameaça da fome, Shakespeare observava: “é

estranho que, sem ser forçado, saia alguém em busca de trabalho”. É que a alguns, nem sequer a fome os força a libertarem-se dela através do trabalho. Mesmo se só “quando o trabalho é um prazer, a vida é bela. Se é imposto, a vida é uma escravidão” (Máximo Gorki). “O trabalho é a melhor e a pior das coisas: a melhor, se for livre; a pior se for escravo” (Alain). Alguns destes saberes fixaram-se

“Grandes realizações são possíveis, quando se dá importância aos pequenos começos”

em ditados e provérbios, alguns dos quais vale a pena enunciar: “Nunca falte ao trabalho, pois é por aí que o seu patrão pode ver que não precisa de si” (autor desconhecido). Esta é uma praga de dimensões incalculáveis. Fala-se e escreve-se, no nosso caso, de milhares e milhares de dias de trabalho perdidos devido ao absenteísmo, com consequências desastrosas de falta de produtividade. É um problema de justiça digno de ser sancionado, se injustificado. De facto, lá diz o ditado: “A quem dorme ou preguiça, nunca lhe acode a justiça”. Ou, pelo menos, não devia acudir. É um fenómeno recorrente em praticamente todas as instituições. Narra-se que, certo dia, perguntaram a um Papa quantos funcionários trabalhavam no Vaticano. A resposta foi surpreendente: “Pouco mais ou menos a metade”. E os outros? Todas as culturas atribuem ao trabalho os maiores encómios e louvores: “Do trabalho e da experiência, aprendeu o homem a ciência”. As maiores vitórias: “Com trabalho e perseverança, tudo se alcança”. Garantia duma vida serena: “Quem trabalha na juventude, repousa na velhice”. E a fechar esta sabedoria chinesa: “Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha” (Confúcio). Assim se fizeram Roma e Pavia! “Grandes realizações são possíveis, quando se dá importância aos pequenos começos” (Lao Tzu). “Meça sempre aquilo que foi feito com aquilo que ficou por fazer” (Lao Tzu). É que, de facto, haverá sempre muito que melhorar!

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notas missionárias

UNIDOS NA FÉ E NO MARTÍRIO Namugongo é assim que se chama o lugar onde são venerados os mártires do Uganda. Foi aí que, em 1993, João Paulo II rezou longamente e indicou aos africanos e a toda a Igreja a força deste testemunho: “O seu exemplo recorda-nos o imenso poder da graça de Cristo que transforma a aparente fraqueza em força, a tristeza em alegria e a morte em vida eterna” texto CARLOS DOMINGOS lustração HUGO LAMI Os primeiros “Padres Brancos” – assim chamados pela batina branca que endossavam - tinham chegado ao Uganda em 1879. Inicialmente

bem acolhidos, tiveram todavia que deixar o país em 1882, porque os comerciantes árabes tinham conseguido lançar o rei Mutesa contra eles. O jovem rei Mwanga voltou a chamá-los em 1884, mas a perseguição bem depressa se fez sentir contra a comunidade cristã nascente, sobretudo contra o grupo numeroso de pajens, cujo estilo de vida contrastava com o ambiente viciado da corte do rei Mwanga. O líder da pequena comunidade de 200 cristãos era o mordomo José Mukasa. Pouquíssimos anos de evangelização foram suficientes para que este pequeno grupo se tornasse fermento no meio da massa. Estimado por todos, pagãos e muçulmanos, e até pelo próprio rei, José era o modelo da nova comunidade nascente, pela seriedade de vida, zelo apostólico e caridade provada. Dedicou-se à instrução dos 150 pajens da corte, com quem rezava diariamente. Quando o rei mandou matar alguns Anglicanos, José condenou esta ação. O rei rapidamente esqueceu a sua amizade e condenou-o à

morte. Aos executores que lhe atavam as mãos, dizia: “Um cristão que entrega a sua vida a Deus não tem medo de morrer”. Perdoou ao rei, tentou convertê-lo, mas foi decapitado e depois queimado a 15 de novembro de 1885. Após a morte de José Mukasa, foi Carlos Lwanga que pegou na bandeira. O grupo de pajens uniu-se fortemente a ele. Animava-os, dizendo-lhes: “Vamos em frente com coragem. Quando o rei nos mandar matar, saberemos morrer como nos ensinou o nosso chefe”. Foi singular o caminho feito em conjunto, na catequese, no estímulo mútuo e na oração. Sustentava-os o Espírito de Jesus. Em maio de 1886, o rei tornou-se mais violento depois de um jovem lhe ter dito que recebia instrução religiosa de outro jovem. Adivinhando o que aí vinha, Carlos Lwanga batizou quatro catecúmenos durante a noite, incluindo o pequeno Kizito de 13 anos. Na manhã seguinte o rei separou os cristãos dos outros pajens e intimou-os a renunciar à sua fé. Recusaram e foram condenados à morte. Na marcha para Namugongo, apoiavam-se mutuamente, rezando sobretudo para que os mais fracos não renegassem. Foi a três de junho de 1886 que esses treze católicos e onze protestantes morreram invocando o nome de Jesus e proclamando: “podem queimar os nossos corpos, mas não poderão queimar as nossas almas”.

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fátima informa

NOVA PRAÇA CRIA “AMBIENTE DE SILÊNCIO E DE PAZ” texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA

A partir de meados de abril, se chegar a Fátima de automóvel e estacionar junto ao Centro Pastoral Paulo VI, encontrará uma larga praça pedonal que faz a ligação entre a basílica da Santíssima Trindade e o Centro Pastoral Paulo VI. Com mais de 20 mil metros quadrados de área e rampas de acesso, o novo espaço disponibilizado aos peregrinos será uma passagem, de “circulação tranquila”, e pretende “criar um ambiente de silêncio e de paz”, que antecipa a entrada no

Desafiados

“Desafiados por Deus na liberdade e na confiança” é o tema da última conferência integrada no ciclo “Não tenhais medo”, o tema do ano pastoral no Santuário de Fátima. A palestra, com António Martins, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, decorre dia 14 de abril, às 16h00, na basílica de Nossa Senhora do Rosário.

Concerto de Páscoa

A Orquestra Filarmónica das Beiras e o Coro Amigos da Música de Espinho apresentam o concerto de Páscoa do Santuário de Fátima, a 7 de abril, no Centro pastoral Paulo VI. 34

Peregrinos vão ter área pedonal que será aberta em meados de abril

Santuário de Fátima, explica o ecónomo do Santuário à FÁTIMA MISSIONÁRIA. “A nossa preocupação é mais com os peregrinos, nas suas movimentações pedonais, que com as movimentações de carro”, afirma o padre Cristiano Saraiva. Oito bancos de jardim, numa praça calcetada e iluminada, permitirão aos peregrinos retemperar forças num espaço que pretende “transmitir tranquilidade” e primar pela “sobriedade”, garante o sacerdote. Dois ‘muppies’, um no lado norte e outro no lado sul da basílica

O concerto tem início às 16h.00 e tem entrada livre. Intervirão também Joana Fonseca, soprano, Alexandra Calado, contralto, e Paulo Bernardino, ao órgão.

Devoto de Fátima

O novo Pontífice manifestou a sua devoção por Nossa Senhora de Fátima logo no primeiro Ângelus dominical, a 17 de março. O Papa Francisco referiu-se à passagem da imagem da Virgem peregrina por Buenos Aires em 1992. A imagem voltaria a ser recebida na Argentina em 1998 pelo então cardeal.

da Santíssima Trindade darão indicações sobre a vida do Santuário. A praça não possui, para já, nenhuma designação, nem terá outra inauguração que a simples abertura ao público. A obra é feita na sequência da requalificação da avenida D. José Alves Correia da Silva, com a construção do túnel, e dá por concluída uma obra pensada há 14 anos para retirar o trânsito de perto do Santuário e dar primazia ao peão.

Abril em agenda 20 e 21 Peregrinação da Sociedade São Vicente de Paulo 27 Peregrinação do Movimento Apostólico de Schoenstatt 27 e 28 Retiro de Familiares Missionários da Consolata 28 Peregrinação da Obra de Santa Zita



TER ALMA DE CRIANÇA Ter alma de criança é contemplar A natureza inteira com amor: A borboleta, um ninho, o grande mar, O sol que vai nascer e o sol-pôr! É ver o mal e logo se afastar Sem compreender a causa desse horror. P’lo Bem e Belo, que andam sempre a par, Ter atração com instintivo ardor. Que importa ter andado uma jornada Já longa, pela tormentosa estrada Que leva ao céu, em íngreme subida?! Amar a Deus com toda a plenitude, E conservar na alma a juventude, Sorrindo ao Amor, sorrindo à vida!.. Irmã Maria Rita Valente-Perfeito


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