Bangladesh

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ANO LVII – N.º 4 ABRIL 2011 ASSINATURA ANUAL | Nacional 7,00 € l Estrangeiro 9,50 €

Bangladesh ataque ao banqueiro dos pobres

Reconquistar a liberdade Tragédia no bairro Deep Sea em Nairobi Missão é desafio em comunhão e em espírito Uma causa Maior


Nossa Senhora da Consolata Consolata é cheia de graça, por Deus agraciada para levar ao mundo a consolação de Jesus Consolados são os evangelizados, porque amados de Deus Consolar é levar a toda a parte a consolação de Deus salvador Como Maria tornamo-nos solidários com todos. Solidariedade é o outro nome da consolação Como Ela somos presença consoladora em situações de aflição Por seu amor colocamos a nossa vida ao serviço do homem todo e de todos os homens Allamano deu-nos Maria por mãe e modelo. Por isso chamamo-nos Missionários da Consolata

Apoie a formação de jovens missionários Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250€ e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: 8 fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; 8 participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; 8beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

Rua Francisco Marto, 52 – Ap. 5 – 2496-908 FÁTIMA | T. 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.a Maria Faria, 138 – Ap. 2009 – 4429-909 Águas Santas MAI | T. 229 732 047 | aguas-santas@consolata.pt Quinta do Castelo – 2735-206 CACÉM | T. 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 – 1800-048 LISBOA | T. 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Rua da Marginal, 138 – 4700-713 PALMEIRA BRG | T. 253 691 307 | braga@consolata.pt


Hoje

como

ontem É imperioso não esquecer que, na Tunísia e no Egipto, uma juventude moderna e numerosa, sedenta de justiça foi capaz de abater a ditadura. Os jovens não deixarão de ser exigentes e de estar vigilantes

Considerada uma das mais famosas do século XX, a encíclica de João XXIII, «Pacem in terris» – Paz na terra – foi publicada há 48 anos, a 11 de Abril de 1963. Então as encíclicas eram usadas pelo Papa como instrumentos para comunicar com os fiéis da Igreja católica no exercício do seu magistério. Pela primeira vez, a «Pacem in terris» dirigiu-se também “a todos os homens de boa vontade”. Ligados à doutrina social da Igreja, os princípios nela afirmados foram retomados e defendidos pelo Concílio Vaticano II, que decorreu de 1961 a 1965. O documento papal apontava as condições fundamentais para uma paz autêntica: terá de ser edificada a partir de uma ordem construída sobre a verdade, assente na justiça, alimentada e integrada pela caridade, e vivida na liberdade. Publicada dois meses antes da morte do Papa, dois anos depois da construção do muro de Berlim e alguns meses depois da «crise dos mísseis» em Cuba, a encíclica aparece no clima da «guerra fria». É um período histórico de tensões e conflitos entre os Estados Unidos da América e a União Soviética, que vai desde o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, até à queda da União Soviética, em 1991. Nesta conjuntura, João XXIII defendeu que, “em vez do critério de equilíbrio em armamentos, que hoje mantém a paz, se abrace o princípio segundo o qual a verdadeira paz entre os povos não se baseia em tal equilíbrio, mas sim e exclusivamente na confiança mútua”, lê-se no número 113 do documento papal.

Na realidade, o mundo ao qual João XXIII se dirigia, encontrava-se numa situação de profunda desordem, após duas guerras mundiais, mais outras locais, com a implantação de devastadores sistemas totalitários, com o acumular-se de imensos sofrimentos humanos e o começo da maior perseguição contra a Igreja, até então, conhecida na história. Muitos pensavam que a humanidade estivesse condenada a viver nas condições precárias da «guerra fria», sujeita constantemente ao pesadelo de possíveis agressões ou desastres nucleares que pudessem desencadear, de um dia para o outro, a pior guerra de toda a história humana, que poria em risco o próprio futuro da humanidade. Passado quase meio século, as semelhanças entre o mundo de então e o de hoje são bastante significativas, apesar dos inegáveis progressos. Os “fundamentos da paz” continuam por implantar. As armas persistem em fazer valer a sua voz e ainda se acredita na sua força, em vez de se optar pelo poder do diálogo.

No actual conflito da Líbia, chegámos a pensar que o medo acabaria por vencer o coronel Kadhafi, mas prevaleceu a sua irresponsabilidade e o Conselho de Segurança das Nações Unidas abriu as portas a uma intervenção militar para defender a vida dos civis líbios. A acção das armas é sempre um espectáculo horrível. É a derrota da palavra, da razão e do próprio homem. Muammar Kadhafi é o principal responsável, mas não o único. Pela demora de resposta às barbaridades cometidas, julgou-se impune e bombardeou o seu povo, massacrando cidadãos indefesos. É legítimo perguntar se a intervenção dos aliados vise, de facto, restabelecer a democracia ou pretenda colocar os recursos do gás e do petróleo nas mãos de interlocutores em quem se possa confiar. Os povos estão cansados de tirania, corrupção, ambiguidades e injustiça. É imperioso não esquecer que, na Tunísia e no Egipto, uma juventude moderna e numerosa, sedenta de justiça foi capaz de abater a ditadura. Os jovens não deixarão de ser exigentes e de estar vigilantes. EA ABRIL 2011

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FÁTIMA MISSIONÁRIA


Bangladesh: rosto pintado com as cores nacionais. As mulheres garantem a sobrevivência familiar

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 4 Ano LVII – Abril 2011

Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

803 EDITORIAL 805 PONTO DE VISTA Cuidado com o nuclear 806 LEITORES ATENTOS 808 MUNDO MISSIONÁRIO Paquistão Assassinato do ministro das minorias

Iémen Agitação e protestos Afeganistão Luta contra a poliomielite Guiné Banco de crédito para camponeses Somália Crise em números Sudão Ainda na incerteza Egipto Contra a intolerância 811 Aventuras Pipo e a Coreia 812 Apóstolos Modernos Aprender aos 71 anos

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FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Pro­vin­cial Norberto Ribeiro Louro Redac­ção Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 28.300 exemplares Director Elísio Assunção Redacção Elísio Assun­ção, Manuel Carreira Conselho de Re­dac­ção António Marujo, Elísio Assunção, Manuel Carreira Colabora­ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos e Magda, Carlos Camponez, Cristina Santos, Darci Vila­ri­nho, Leonídio Ferreira, Luís Mau­rício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; ­Diaman­tino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira – Quénia, Álvaro Pa­­che­co – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção e Arquivo Capa Lusa Contra-capa Ana Paula Ilustração H. Mourato, Mário José Teixeira e Ri­car­do Neto Com­po­sição e Design Ana Pau­la Ribeiro Ad­mi­nis­tração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques

Assinatura Anual

Cerco ao banqueiro

dos pobres 07 Horizontes

Reconquistar a liberdade Tragédia no bairro Deep Sea em Nairobi

10 A MISSÃO HOJE

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“Faço tudo pelas missões”

Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ (inclui o IVA à taxa legal)

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euros 2011 Porque continua à espera? pode actualizá-la para

Não perca tempo! FÁTIMA MISSIONÁRIA

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ABRIL 2011

13 DESTAQUE A hora de Kadhafi

“Missão é desafio a realizar em comunhão e em espírito”

8 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Respeito ou indiferença? 8 24 TEMPO JOVEM Uma causa Maior 8 26 SEMENTES DO REINO Amou-os até ao fim 8 28 O QUE SE ESCREVE 8 30 O QUE SE DIZ 8 31 VIDA COM VIDA Farei tudo o que Deus quiser 8 32 OUTROS SABERES Boas falas, bons amigos 8 33 A MISSÃO É SIMPÁTICA Coroas pelos caminhos do Alentejo 8 34 FÁTIMA INFORMA 80ª Peregrinação


texto Francisco Sarsfield Cabral

Cuidado com o nuclear Depois da II Guerra Mundial – e das bombas atómicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki – geraram-se grandes esperanças no nuclear para fins pacíficos, nomeadamente produção de electricidade. Recordo que, além da CEE (Comunidade Económica Europeia) e da CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), entre os antepassados da União Europeia contava-se a Comunidade Europeia de Energia Atómica (Euratom), cujo símbolo ainda se encontra bem à vista em Bruxelas.

De facto, vários países, como a França, os Estados Unidos, o Japão e até a nossa vizinha Espanha, construíram centrais nucleares. Mas o entusiasmo pela energia nuclear arrefeceu com o desastre de 1979 em Three Mile Island, nos Estados Unidos, que levou à evacuação de 140 mil pessoas por causa da radioactividade. O desastre de Chernobyl (Ucrânia) em 1986, que matou e ainda mata muita gente, agravou os receios face ao nuclear e quase suspendeu a construção de novas centrais.

Nos últimos anos regressaram as vozes em defesa do recurso à energia nuclear, incluindo em Portugal. Num mundo dependente do petróleo e do gás natural, como fontes

A energia nuclear ainda não dá garantias de segurança. Não deve ser posta de lado dogmaticamente, decerto, mas apenas se deverá avançar quando existirem tais garantias, se é que elas um dia existirão

expressão de um comissário europeu) acontecido no Japão. Os japoneses tomam precauções quanto aos sismos, na construção sobretudo; mas quatro das suas 17 centrais nucleares situam-se em zonas de alto risco sísmico. Foi aí que aconteceram agora as terríveis fugas de radioactividade, desmentindo a alegada segurança das modernas centrais.

energéticas, o nuclear oferece algumas vantagens: ao contrário do “crude”, não está concentrado em zonas de alto risco político, como o Médio Oriente, e por isso o seu preço não sofre altas dramáticas; e não emite CO2. A tecnologia das centrais nucleares progrediu, levando alguns a assegurar que o risco de fugas radioactivas se teria tornado muito pequeno. Permanecia, sim, a incapacidade de dar destino seguro aos resíduos radioactivos das centrais.

É uma atitude razoável.

O regresso do nuclear foi agora travado com o “apocalipse” (na

O desastre já levou ao encerramento das centrais nucleares mais antigas, um pouco por todo o mundo, e ao reforço das medidas de segurança nas que se mantêm a funcionar. E levou também a suspender a construção de novas centrais. A energia nuclear ainda não dá garantias de segurança. Não deve ser posta de lado dogmaticamente, decerto, mas apenas se deverá avançar quando existirem tais garantias, se é que elas, um dia, existirão. E será preciso desconfiar de quem tem interesses pessoais ou empresariais na energia nuclear. É que eles já nos garantiram que o nuclear era seguro – e depois viu-se. Até quando começou a crise nas centrais japonesas apareceu quem desvalorizasse a gravidade do caso. Cuidado, pois… ABRIL 2011

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FÁTIMA MISSIONÁRIA


Renove a assinatura Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2011. Só as assinaturas actualizadas poderão usufruir do pequeno apoio do estado ao porte dos correios. Na folha on­de vai escrita a sua direcção, do lado esquerdo, poderá verificar o ano pago e o seu número de assinante. O pagamento da assinatura poderá ser feito através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05 Importante Refira sempre o número ou nome do assinante. Os do­­na­tivos para as missões são de­dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 29 mil assinantes. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Operários são poucos

Amigos Missionários da Consolata, Desejo-vos a todos muita saúde e muitas felicidades na vossa vida de missão, que nem sempre será fácil. Pois é preciso ter esse dom no coração e coragem para vencer as dificuldades. Mas é um trabalho pelo qual tenho muito carinho, pois sei que a messe é grande e os operários são poucos. Seriam precisos quantos mais, para se vencerem todas as dificuldades? Mando um cheque, para ser retirado o pagamento da minha revista e o resto que fica, seja para ajudar onde for mais preciso. Maria

Gracinhas de Allamano Para que eu possa agradecer as graças que me foram concedidas pelo Beato José Allamano e por Nossa Senhora da Consolata envio-lhe 60,00€ para aquilo que possa ser mais necessário. Muito obrigado, um abraço. Eduardo

Trabalho árduo

Envio o pagamento da «nossa» revista FÁTIMA MISSIO­NÁRIA que tantas notícias nos traz, graças ao esforço dos nossos

missionários. É de louvar o trabalho árduo que eles têm. O que vai a mais é para onde for mais preciso; é pouco, mas até que a nossa vida não esteja estabilizada, não pode ser mais. Que Deus nos ajude com a sua bênção. José

Saber ler

Saber ler é uma riqueza Que se pode alcançar; Sem isso qualquer cidadão Não se pode empregar. Neste mundo tão moderno De aspirações no coração É caminhar às escuras Se não brilhar a instrução. Maria Anjos

NR Damos-lhe os parabéns por esta sua veia poética, onde mostra o seu empenho para combater o analfabetismo que ainda reina entre nós.

Aluno das missões

Rev.mo Senhor, Venho, por este meio, informar que transferi para a vossa conta a quantia devida ao pagamento da assinatura de FÁTIMA MISSIONÁRIA. Muito apreciamos a vossa informação sobre o trabalho missionário da Igreja e dos seus ambientes, bem como a apreciação

actualizada e humana dos acontecimentos que afectam o mundo. É pena que ela não seja tão procurada como a «Caras» ou a «TVGuia»... Com toda a consideração pelos missionários (também fui aluno das Missões), me subscrevo. Fernando

Voluntariado

Caríssimos Missionários da Consolata, Humildemente, vos comunico que a difícil e essencial obra missionária não é esquecida nas minhas orações diárias a Nossa Senhora. Estou certa, que todas as orações idas da terra são o contacto directo, certeiro e feliz, chegado ao Céu. A promessa de nunca sermos desapontados por Jesus mantém-nos optimistas e continuamente amados por Ele. Agora, permitam-me uma modesta observação a uma frase de uma valente jovem voluntária, que me despertou a atenção ao ler a revista, e cito: “Parece que o trabalho não anda, que não acaba”. Será que é humanamente compreensível e espiritualmente justificada esta afirmação?

DIÁLOGO ABERTO Querida FÁTIMA MISSIONÁRIA, Começo por um pedido de desculpa pela falta de actualização da minha assinatura. Estive fora do país por tempo indeterminado e agora, ao chegar, verifico que me foi enviada a minha querida FÁTIMA MISSIONÁRIA. Lamento a falta de pagamento, mas não lamento tê-la encontrado em minha casa. Devorei-a desde a primeira capa até à última. Agora vivo no Canadá onde leio tudo o que é português e gostaria muito que a FÁTIMA MISSIONÁRIA continuasse a fazer parte da minha leitura lá onde me encontro. Para tal já indiquei o meu novo endereço. Informo que já fiz o pagamento por multibanco do tempo que devia e deixo já mais algum tempo pago. O que restar desse dinheiro é para ajudar os missionários.

NR Há um provérbio português que reza assim: “Quem meus filhos beija minha boca adoça”. Se isto é verdade aplicado às crianças, também o é para nós missionários da Consolata, aplicado à revista. Faz-nos bem e dá-nos coragem, sabermos que a FÁTIMA MISSIONÁRIA é querida e amada por tantos milhares de assinantes e leitores, quer em Portugal quer no estrangeiro. Agora escreve-nos o senhor Júlio Manuel contando-nos as peripécias que lhe aconteceram com a revista, amontoada na caixa do correio, porque ele andava longe de casa. Bem desejava lê-las todas, mas eram tantas!... Agora é que se lembrou de a puxar para o Canadá, onde lhe vai chegar todos os meses fresca e apetitosa. Que lhe faça boa companhia, senhor Júlio, são os nossos votos!

Júlio Manuel

MC

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Reconquistar a liberdade texto TERESA CARVALHO ilustração MIGUEL CARVALHO

– Uau! Dá mesmo resultado! E com energia redobrada, balanceava os braços e batia o pé ao ritmo da música: “Tudo te sorrirá, se tu sorrires / Tudo te cantará se tu cantares / Tudo, tudo, tudo te amará / Se tu servires, se tu amares”. Fátima repetia e repetia, ajeitando as notas da canção que, às vezes, ainda lhe fugiam desafinadas, por serem tão recentes. Mas estava a gostar tanto do efeito que tinha em si, que a agarrou como se de uma bóia de salvação se tratasse. Há canções que mudam vidas? Não sei. Mas Fátima sentia que sim. Há um mês, dizia-se uma pessoa zangada com a vida, com todos, com ela mesma. Experimentava uma vergonha tão grande, desde que o Jorge a deixou, que se fechara no seu mundo secreto, rebuscando na história da sua vida passada razões para ser abandonada a três meses do casamento. Fátima e Jorge tinham tudo para ser um casal feliz! Eram dois jovens amigos desde o ensino secundário, que conseguiram sucesso profissional e que em conjunto tinham já criado todas as condições físicas para viverem autónomos das suas famílias, logo após o casamento. Fátima olhava para trás e via quantas cedências tinha feito para preparar tudo para a sua nova casa. Nunca tinha saído da sua terra, não fazia gastos em festas ou prendas, trabalhava em dois serviços que não lhe deixavam tempo para se encontrar com amigos ou familiares, para descansar ou manter-se no grupo de tea­tro que tanto pra­ zer lhe dava. Mas, esta era a

nova etapa da sua vida e sentia-se feliz com o projecto a dois. Ambos seriam felizes! O choque foi brutal, quando Jorge lhe confessou que vivia uma farsa. Disse-lhe que ela era uma mulher extraordinária, mas ele não se sentia bem ao seu lado. E, sem mais explicações, assumiu que seria melhor não avançar com os preparativos para o casamento. Conhecera uma outra pessoa e, de certeza, Fátima também encontraria alguém que a pudesse amar tanto quanto ela merecia. Foi assim que Jorge saiu de junto de Fátima, rápido para nem dar tempo de ver a reacção dela, passada a anestesia do choque. A partir de então, Fátima não conseguiu mais ir trabalhar. Estava com baixa clínica,

com diagnóstico de depressão. Chorava e escondia-se. Passava os dias prostrada, sem energia para sair da cama, ou até sem vontade de recuperar da tristeza imensa. A tudo isto, juntava-se o medo de ser criticada, de ser mal avaliada, de nunca mais ter alguém do seu lado e viver só. Tinha “pena” de si! Fátima saiu de casa para ir a uma consulta médica. A sua falta de concentração fê-la enganar-se no percurso. Passou em frente da sede dos escuteiros. De dentro, ouvia-se o som das violas e as vozes entusiastas prolongavam-se pelo espaço de vizinhança, ao encontro de Fátima: “Tudo te sorrirá, se tu sorrires...”. A canção bateu-lhe no rosto. Fixou-se dentro dela como se aí houvesse um lugar cons-

truído à sua medida. Não se esquivou: sentiu cada palavra como uma terapia poderosa. Levou a canção consigo e voltou a experimentar a alegria, o sorriso, o canto, a música, a amizade, a solidariedade, o amor. Gradualmente, Fátima percebeu que o seu problema não tinha sido o Jorge abandoná-la. Tinha sido ela a abandonar-se a si mesma e a recusar viver. Quando optou por enclausurar-se nos muros da solidão e da desistência, perdeu a sua vitalidade. Fátima deixou esta canção acontecer na sua vida. Usou-a para re-olhar o sentido da sua história e as prioridades que assumiu. Encontrou outros sentidos. Mudou! Tornou-se mais forte. Estava a apaixonar-se, de novo, pela vida. Reconquistou a liberdade!

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FÁTIMA MISSIONÁRIA


Iémen Agitação e protestos

O governo do Iémen pressionado pelos protestos da população, inspirados nas revoltas do Egipto e da Tunísia. Os manifestantes iemenitas organizam manifestações diárias, exigindo a demissão imediata do presidente Ali Abdullah Saleh, há 32 anos no poder, que prometera abandonar o cargo em 2013.

Paquistão Assassinato do ministro das minorias Activistas paquistaneses da sociedade civil, numa vigília à luz de velas em protesto contra o assassinato de Shahbaz Bhatti, ministro para os assuntos das minorias, em Islamabad, Paquistão, a 2 de Março de 2011, por extremistas islâmicos que abriram fogo contra o seu veículo. O ministro recebera várias ameaças de morte pela sua posição contra a lei da blasfémia, do Paquistão. Considerado um mártir, Shahbaz Bhatti tinha confidenciado ao cardeal Jean-Louis, no aeroporto de Lahore: “Sei que vou morrer assassinado, mas dou a minha vida por Cristo para o diálogo inter-religioso”. Bento XVI recordou o sacrifício da vida “do ministro paquistanês” e manifestou a esperança de que a sua morte desperte “nas consciências, a coragem e o compromisso de proteger a FÁTIMA MISSIONÁRIA

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liberdade religiosa de todos os homens e, com isso, promover a sua igual dignidade”. A sociedade civil lançou uma campanha de assinaturas e enviou uma carta aberta aos políticos paquistaneses. Intitulada: “Silêncio significa mais sangue”, a iniciativa pretende afirmar que a cidadania não autoriza a deixar impunes os assassinos do ministro Shahbaz Bhatti, e exige o respeito pelos direitos das minorias. A urgência de promover a harmonia inter-religiosa na sociedade paquistanesa é afirmada pela rede “Cidadãos pela Democracia”, um amplo movimento que reúne associações de diferentes inspirações, como organizações de direitos humanos, grupos muçulmanos e a comissão Justiça e Paz dos bispos paquistaneses.

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Afeganistão Luta contra a poliomielite

Centenas de milhares de crianças afegãs, com idade inferior a cinco anos, são vacinadas contra a pólio, no âmbito do esforço que o governo está a desenvolver para erradicar o vírus. O programa nacional de imunizações para crianças do Afeganistão decorreu em Março, em Cabul, durante três dias.

Guiné Banco de crédito para camponeses

Inaugurado em Março, o primeiro banco de crédito para camponeses vai promover a luta contra a pobreza, sobretudo das mulheres guineenses. Designado como Caixa de Crédito e Poupança Agrícola, está a ser instalado em todas as regiões da Guiné-Bissau. Farim, no norte do país, a escassos 35 quilómetros do Senegal, foi a primeira zona a receber a instituição e conta apoiar 30 mil mulheres. Um primeiro grupo já recebeu um crédito de cerca de três mil euros, que terá de reembolsar em três meses de actividade.


Tobias Oliveira, NAIROBI, Quénia

Irmãos Missionários

Somália Crise em várias frentes

Uma grave crise devido à falta de água, ligada ao fenómeno meteorológico La Niña, abateu-se sobre a Somália depois da ausência da época das chuvas. Uma em cada três pessoas precisa de ajuda humanitária para poder sobreviver, enquanto o país está sujeito a um continuado conflito armado, que não há maneira de terminar. O preço dos cereais e da água é altíssimo em numerosas regiões do país.

Sudão Ainda na incerteza

A menos de quatro meses da divisão efectiva do Sudão em dois estados soberanos, um milhão e meio de cidadãos de origem sul-sudanesa, que residem no norte, e um pequeno grupo de cidadãos do norte, que vivem no sul, não têm estatuto definido. A questão da cidadania está por resolver. As negociações entre o norte e o sul do Sudão estão suspensas. Cerca de 250 mil sudistas já deixaram o norte nos últimos meses. Pensa-se que um número considerável deverá permanecer no norte depois da criação da República do Sul Sudão, que ocorrerá a 9 de Julho próximo.

Egipto Contra a intolerância

Jovem junta, simbolicamente, uma cópia do Corão e uma cruz, durante uma manifestação de milhares de egípcios. Reunidos na praça Tahrir, Cairo, repudiam o sectarismo, na sequência de confrontos entre muçulmanos e cristãos, que causaram a morte de 13 pessoas.

Tive a alegria, a 12 de Março último, de estar presente na profissão perpétua do irmão Clarence Lukungu, missionário da Consolata queniano, de 30 anos. Com este compromisso, ele prometeu consagrar a Deus toda a sua vida como missionário, sem no entanto abraçar o sacerdócio. Aos cristãos, parece estranho que um homem com estudos universitários queira consagrar a sua vida à missão, pelos votos religiosos, como leigo e não como padre. Já nos tempos da Igreja primitiva, os apóstolos se queixavam da necessidade de dedicarem muito do seu tempo a actividades que não eram específicas do seu ministério. Foi assim que nasceu a ordem dos diáconos para se dedicarem ao acolhimento e à ajuda aos necessitados. É um facto que os sacerdotes missionários são poucos e que muitas das actividades, a que esses poucos se dedicam, não têm muito a ver com o mandato sacerdotal que receberam. Não é preciso ser padre para construir escolas ou para tratar dos doentes ou, até mesmo, para instruir crianças e adultos. Ao fundar o Instituto Missionário da Consolata, o beato José Allamano insistiu, desde o início, na necessidade de ter padres e irmãos. Foi aos irmãos que se deveu a construção das primeiras igrejas, escolas e dispensários, deixando aos padres a obra específica da evangelização e da administração dos sacramentos. Foi uma colaboração santa e fecunda, cujos frutos perduram ainda hoje. Aqui, no Quénia, um em cada dez missionários da Consolata é irmão consagrado. Embora sejam poucos, a sua presença e fidelidade são sinal de que o Senhor nunca abandona o seu povo. ABRIL 2011

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FÁTIMA MISSIONÁRIA


Evangelização

primeiro e melhor serviço A evangelização constitui o primeiro e o melhor serviço da Igreja ao mundo, lembram os nossos bispos na carta pastoral «Para um rosto missionário da Igreja em Portugal» texto JOSÉ ANTUNEs* foto Ana Paula

o primeiro servi-­ ço, porque iden-­ tificador da na-­ tureza e da mis-­ são da Igreja. Como dizia o Papa Paulo VI, ela existe para evangelizar. É o primeiro acto da Igreja nascente. Deste anúncio nas-­ ceram comunidades cristãs em todas as latitudes e épo-­ cas históricas, testemunhas do Evangelho. É o primeiro

serviço da Igreja porque dele decorrem todos os outros. Ou seja, é a fonte e o fundamen-­ to de todas as actividades da Igreja. Hoje, a evangelização continua a ser o primeiro ser-­ viço da Igreja à humanidade. Ao anunciar Jesus Cristo, re-­ vela ao homem o sentido últi-­ mo da sua existência.

A proclamação da Boa Nova a todos os povos e em

todas as culturas é também o melhor serviço que a Igreja presta ao mundo. Ela presta imensos serviços. Basta re-­ cordar o seu empenhamento na área da educação da ju-­ ventude, da assistência so-­ cial aos idosos, dos cuidados de saúde, do apoio aos mais pobres e carenciados, das iniciativas em defesa da vida. Porém, estes serviços não são exclusivos da Igreja. Muitas

outras organizações da socie-­ dade civil e de outras reli­giões também os realizam com qualidade e eficácia. Mas, anunciar o Evangelho é o ser-­ viço que define e identifica a comunidade eclesial.

Evangelizar é o melhor

serviço porque nos conduz ao núcleo central da exis-­ tência cristã: testemunhar que «hoje é possível, belo,

Colaboradora dedicada de FÁTIMA MISSIONÁRIA, Emília Mónico, 77 anos, é uma poetisa popular, apenas, com a “terceira classe”. Acaba de celebrar as bodas de ouro de Matrimónio: “Dou graças a Deus pela família que tenho: um bom marido, quatro filhos, oito netos de sangue e quatro africanos de adopção” texto e foto E. Assunção

“Faço tudo pelas missões”

FÁTIMA MISSIONÁRIA

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– Como é a sua poesia? – É de quem não estudou. – Como? – Tenho só a terceira classe. – Porque não estudou mais? – Os meus pais não me deixa-­ ram! – Porquê? – Éramos 13 irmãos e eu tinha de cuidar deles. – Teve pena? – Chorei e andei muito tempo triste. – Gosta de ler? – Gosto muito. – Quanto tempo lê?

– Todos os dias, ao menos uma meia hora. – Gosta de poesia? – À minha maneira. – Qual a sua primeira poesia? – À minha terra, a Carangue-­ jeira. – Porquê? – Gosto muito da minha ter-­ ra. Fui lá criada. – Qual o seu passatempo? – São vários: escrever, ponto cruz e fazer renda. – Quem desejaria de ter conhecido e não conheceu?


bom e justo viver a existência humana de acordo com o Evangelho». A nossa missão não é condenar o mundo, mas anunciar «que o homem é amado por Deus». É o melhor serviço porque é aquele que define a razão de ser da Igreja. Evangelizar, só os discípulos de Jesus o podem fazer com entusiasmo e paixão.

Evangelizar deve ser

o melhor serviço também na forma e no modo como é feito. A carta pastoral assinala duas condições para que o serviço da evangelização seja o melhor de todos. Em primeiro lugar, todos aqueles que evangelizam devem ser testemunhas credíveis do amor de Deus. Em segundo lugar, o anúncio deve ser feito com entusiasmo e convicção, pois, «se não estivermos entusiasmados pela profundidade e pela beleza da nossa fé, não podemos verdadeiramente transmiti-la nem aos vizinhos nem aos filhos nem – Os meus avós. – Que desejava ser e não foi? – Professora, mas fui camponesa e sou feliz. – A sua maior tristeza, hoje? – As guerras e os refugiados. – Que lamenta? – O mau uso da liberdade. – Que pensa da “geração à rasca”? – Acho que têm razão. Mas de onde virá a solução? – Gostaria de ter 20 anos? – Parece-me que não. – Porquê? – Hoje vive-se melhor, mas mais preocupada. – Quais as preocupações? – Esta geração sem grande futuro. – O melhor da sua vida? – Saber ler. – O maior sofrimento?

às gerações futuras». Ou seja, o anúncio é o melhor serviço quando, para além dos discursos e dos apelos moralizantes, se torna encontro verdadeiro de quem busca um sentido para a sua vida com pessoas crentes, testemunhas de Cristo ressuscitado.

Pipo e a Coreia texto Carreira Júnior ilustração H. mourato

As comunidades cristãs

correm o risco de se fragmentarem em múltiplas actividades, com muitos programas e projectos, esquecendo o horizonte que dá sentido e unifica toda a acção pastoral. Daí a importância da advertência dos nossos bispos, quando escrevem que a evangelização não é mais um sector da pastoral entre muitos outros, mas é o seu «horizonte permanente» e «a alma de toda a programação e de todos os itinerários de formação cristã». * missionário verbita Texto publicado pelas revistas missionárias, associadas na Missãopress

– A morte da minha mãe, de repente, aos 60 anos. – Como é ser colaboradora missionária? – Sinto-me feliz, sou bem recebida. Há quem dê mais para as missões. – O mais bonito da Igreja? – A fé. – O mais feio? – A pedofilia. – Que deseja aos seus netos? – Uma vida estável e boa. – Que admira nos jovens? – É melhor ser velha. – Um conselho aos jovens? – Aos meus netos e filhos, digo-lhes: Sejam bons para vocês e o resto está feito. – Isto é? – Se eles forem bons para eles, serão bons para Deus e serão bons para a sociedade.

– Pipo, ando há que tempos para te perguntar como é que vão os teus estudos. Diz lá! – Vão bem. Este trimestre é que tem sido muito longo e dá para a gente se cansar. – Tem-te sobejado algum tempo para leres a FÁTIMA MISSIONÁRIA? – Ah! Para isso arranjo sempre tempo. Começo pelas coisas mais fáceis e depois, vou até ao resto. Às vezes encontro artigos um bocado puxados para mim, mas devagarinho, chego lá. Lendo a revista de Fevereiro fixei-me no artigo da página 10 que fala da Coreia e da ordenação de um diácono português, e vieram-me à cabeça duas dúvidas. Apresentei-as na aula de catequese para eu me esclarecer e também para dar a conhecer aos outros este problema. A primeira dúvida foi esta: Sendo a Coreia um país que fica a vários milhares de quilómetros de distância, porque é preciso irem para lá os missionários portugueses? A catequista respondeu: Jesus disse aos apóstolos: “Ide por todo o mundo e anunciai a Boa Nova a todos os povos”. A segunda dúvida era a respeito do diácono: O que é um diácono? A catequista explicou que era a última etapa antes de ser padre. Daqui a alguns meses, o diácono da Consolata, Marcos, será ordenado padre. Haverá festa! ABRIL 2011

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Aprender aos 71 anos Trinta dos meus 75 anos foram vividos em Moçambique. Dois períodos quase iguais estão separados por 20 anos passados em Portugal e Itália. São, ao todo, 50 anos de vida ao serviço da missão, em muitas tarefas texto MANUEL TAVARES foto Ana Paula

o olhar para trás, constato que bem poucos foram os anos dedicados àquilo que se pensa que um missioná­ rio faz normalmente: pregar, baptizar, construir igrejas. Comecei pelo ensino e formação de jovens e pude ver

alguns deles exercer cargos importantes no Moçambique independente. Bem cedo fui chamado a assumir diversos cargos no Instituto, tanto em Moçambi­ que como na Europa. Passei por activi­ dades ligadas à animação missionária e à formação, até que, finalmente e a meu

Considero que teria sido uma lacuna na minha vida de missionário se não tivesse passado por esta fase tão exigente, mas igualmente muito gratificante

pedido, me encontro mergulhado em ac­ tividades pastorais a tempo quase intei­ ro, desde os 71 anos, que eu tinha então.

Encontro-me em duas grandes paró­

quias da periferia de Maputo, com mais dois colegas. Ao chegar, senti que precisa­ va de aprender a trabalhar numa Igreja que se define como ministerial. São dois os aspectos que a caracterizam: os nú­cleos e os ministérios propriamente ditos. Os núcleos são grupos de 15 a 20 famí­ lias da mesma zona. Reúnem-se uma vez por semana, para rezar, partindo da Pa­ lavra de Deus, e para tratar os assuntos relativos à vida da pequena comunidade. Além de apoiarem a paróquia, os minis­ térios são a sua vida. Eis alguns deles: ministros extraordinários da Eucaristia e da esperança; leigos e família; voca­ ções; justiça e paz; ecumenismo e diálo­ go inter-religioso; caridade e saúde. Este último educa à prevenção das doenças, cuida dos doentes, valorizando a medi­ cina alternativa, mediante a produção de medicamentos extraídos das plantas. Os ministérios são exercidos por grupos de paroquianos voluntários. São umas centenas de pessoas que ajudam a formar e a construir a comunidade paroquial. A nossa missão consiste em acompanhar, formar e estimular todo o movimento.

Sem menosprezar ajudas vindas de

Os ministérios ajudam a formar e a construir a comunidade paroquial FÁTIMA MISSIONÁRIA

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fora, no aspecto social privilegiamos o lema: “Pobre ajuda mais pobre”. Os nú­ cleos e ministérios identificam as carên­ cias e a própria comunidade vai ao encon­ tro delas, segundo as suas possibilidades. Há um ano, abrimos uma escolinha, agora com 70 crianças dos três aos cin­ co anos, para onde foram canalizadas as ofertas recolhidas na celebração do meu jubileu sacerdotal. É tudo isto que nos ocupa no dia-a-dia. É um trabalho aliciante e muito absorvente. Requer disponibilidade para as pessoas, e exi­ ge aprendizagem para quem, como eu, pouco exercera este tipo de actividade. Considero que teria sido uma lacuna na minha vida de missionário se não tivesse passado por esta fase tão exigente, mas igualmente muito gratificante.


Nações Unidas intervêm no conflito líbio

A hora de Kadhafi Estados Unidos, França, Reino Unido e vários países árabes intervieram militarmente na Líbia para impor um espaço de exclusão aérea e o cessar-fogo que pusesse as populações civis sob protecção do conflito que estalou entre as forças leais a Kadhafi e a oposição ao regime texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA

líder líbio tinha razões para criticar os tunisinos quando estes iniciaram o movimento de contestação ao governo de Ben Ali, forçado a partir para o exílio. Ele sabia que os efeitos da contestação chegariam à Líbia: era uma questão de tempo. Mas, como se previa, no seu caso será necessário bem mais do que as manifestações e o descontentamento popular para deixar o poder, num país que governa desde 1969, o que o torna num dos líderes mundiais há mais tempo no poder. Kadhafi decidiu, desde o início, reprimir as manifestações populares com dureza. Deste modo, aquelas que começaram por ser exigências de uma maior liberdade de expressão, democracia e melhores condições de vida, rapidamente se transformaram em apelos à rebelião e à guerra civil, levando ao envolvimento da comunidade internacional.

Pacificação difícil

Mas a intervenção internacional enfrenta, a curto prazo, vários problemas. Com efeito, ao contrário do que aconteceu na Tunísia e no Egipto, as Forças Armadas – com cerca de 80 mil soldados, num país de apenas seis milhões

de habitantes – muito dificilmente dão garantias de se instituí­rem como garantes de um sistema de transição no

Mas aquilo a que assistimos, hoje, com a intervenção militar na Líbia é a tentativa de resolver um problema a que a comunidade internacional, nomeadamente o Ocidente, não conseguiu dar a melhor solução no passado

país, a exemplo do que aconteceu no Egipto e na Tunísia. Para além disso, o poder líbio assenta num complexo sistema tribal, onde não será fácil encontrar um líder capaz de reunir o consenso necessário para gerir os diferentes interesses em presença, numa era pós-Kadhafi, podendo mesmo conduzir à divisão do país. Mas aquilo a que, hoje, assistimos, com a intervenção mi-

litar na Líbia, é a tentativa de resolver um problema, a que a comunidade internacional, nomeadamente o Ocidente, não conseguiu dar a melhor solução no passado. Em causa está a forma como os países ocidentais decidiram tratar Kadhafi, em particular desde o ano 2000, altura em que se verificou o seu progressivo reconhecimento internacional.

A política do cinismo

Esta fase sucedeu-se a um período de duras sanções contra o regime, em particular após as Nações Unidas terem dado como provado o envolvimento do regime na preparação do acto terrorista contra o avião da Pan América, em 1988, em Lockerbie, na Escócia, naquele que ficou conhecido como o maior atentado contra cidadãos americanos, até 11 de Setembro. Em 2000, Kadhafi aceitou pa­ gar a indemnização às famílias das vítimas do atentado de Lockerbie e, um ano mais tarde, renunciou ao programa de armas de destruição em massa. Em 2003, são sus-­ pensas as sanções contra a Lí­bia e, em 2006, Washington retirou aquele país da lista dos estados apoiantes do terrorismo. Era chegado o tempo de as companhias internacionais regressarem a Tripoli com contratos para a exploração de petróleo. Por isso, não é demais sublinhar, os objectivos de protecção das populações que motivam a intervenção militar em favor do povo líbio não apagam o cinismo da política internacional da última década, perante um regime que nada mudou, face à sua natureza ditatorial e psicopata.

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Quénia

Tragédia no bairro Deep Sea em Nairobi Cerca de 5.000 pessoas perderam tudo num incêndio de 1.500 barracas, em Nairobi, capital do Quénia. Os sinistrados refugiaram-se nas instalações da paróquia, que lhes está a prestar a primeira assistência texto E. Assunção foto James Lengarin

uando o incêndio deflagrou, o pároco do bairro de lata, James Lengarin, en­contrava-se no local, de visita às famílias da paróquia e pôde testemunhar a tragédia. “O fogo ateou-se numa

O fogo nos «slums», bairros de lata, é um perigo sempre iminente

barraca, talvez devido a um curto-circuito, e muito rapidamente se propagou a toda a zona. O povo encheu-se de pânico e começou a fugir em todas as direcções, salvando o que podia”, escreve o pároco, missionário da Consolata.

“Demos indicações para as pessoas se juntarem no pátio em frente da escola e do dispensário, improvisando meios para se abrigarem”. Foi imediatamente criada uma equipa paroquial para organizar a ajuda e coordenar as

intervenções. “A Cruz Vermelha socorreu os desalojados, fornecendo-lhes leite e carne, sobretudo para as crianças”. E acrescenta: “A paróquia está a fazer tudo para ajudar as pessoas, mas faltam-nos alimentos, cobertores e roupas

Família da Consolata Norte

“Missão é desafio a realizar em comunhão É uma das conclusões que saiu da mini-assembleia da Família Missionária da Consolata da comunidade de Águas Santas, realizada a 20 de Março texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto E. Assunção

essenta pessoas pertencentes aos diferentes grupos da Consolata e colaboradoras do Instituto Missionário da Consolata participaram nos trabalhos, que incluí­ram a discussão em grupos. O ponto de partida foi um documento de trabalho que lançou pistas e desafios. A mini-assembleia é a reacção dos vários grupos do norte às conclusões da Assembleia, que teve lugar em Fátima, em Novembro de 2010, e que incentivava à realização de um programa de actuação para o futuro. No encontro da comunidade de Águas FÁTIMA MISSIONÁRIA

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Santas, foi ainda reclamada a necessidade de maior comunhão, o que significa mais co-responsabilidade e entreajuda entre grupos. Foi ainda salientada a necessidade de partilhar informação entre os grupos da Consolata, de modo que todos possam participar nas actividades dos outros grupos e das actividades promovidas pelo Centro de Espiritualidade. As conclusões apontam também para a necessidade de formação espiritual e de mais oração, algumas vezes, partilhada entre os grupos. Todos são chamados à missão e ela é

também «inter-gentes», isto é, realiza­ da na comunidade: “Mesmo perto de nós há missões urgentes que temos de abraçar”. Sair da Consolata, ir ao encontro das pessoas, fazer animação missionária nas paróquias e ter maior ligação à diocese é outro dos desafios que se coloca para o futuro. Todos os grupos foram unânimes em considerar que, uma vez por mês, deveriam participar, em conjunto, na Eucaristia. Essa participação irá cimentar as ligações entre os vários elementos e permitir a partilha de experiências.


Moçambique para a primeira intervenção”. Uma grande parte do bairro de lata Deep Sea ficou destruída pelas chamas. Valeu a intervenção dos bombeiros, que impediram que as chamas se propagassem, conseguindo parar o fogo junto ao muro de cinta da paróquia. A escola e as várias actividades paroquiais foram suspensas, temporariamente, para poder alojar os sinistrados. Passados alguns dias, “a situa­ ção permanece muito precária e há perigo de reacender-se o fogo”. Será necessário algum tempo para regressar à normalidade. “É difícil quantificar as necessidades mais urgentes, pois as pessoas ficaram sem nada e devem começar tudo do princípio”, explica o pároco. “Pouco a pouco, começaremos a reconstruir as barracas. Entretanto procuro estar perto desta gente que sofre”. Em tempo de Quaresma, os cristãos da paróquia já começaram a recolher fundos: “Lancei um apelo para ajudar

os desalojados”, informa o pároco. As primeiras ajudas já começaram a chegar, até do estrangeiro. “Só com o apoio de muitos, será possível garantir a esta gente um futuro mais seguro”. A situação piorou com a chegada das chuvas. “Aumentou o perigo de doenças, sobretudo para as pessoas que estão sem casa”, explica o pároco, que confia na solidariedade dos amigos. Fica aqui o apelo à solidariedade, do padre James Lengarin, missionário da Consolata. Nesta Quaresma, pode destinar o fruto das suas pequenas renúncias, para ajudar os nossos irmãos desalojados de Deep Sea, em Nairobi. Se o desejar, deposite o seu donativo no NIB: 0033 0000 45365333548 05 ou envie para: FÁTIMA MISSIONÁRIA Apartado 5 2496-908 FÁTIMA

e em espírito”

O fascínio da Missão atrai e encanta todas as idades

Herói no reino de Monomotapa Cumprem-se 450 anos sobre a morte do primeiro missionário português de Moçambique e da África Austral, Gonçalo da Silveira texto DIAMANTINO ANTUNES

ascido no seio de uma família nobre, a 23 de Fevereiro de 1521, em Almeirim, o jovem Gonçalo da Silveira cedo se sentiu chamado à vida religiosa. Aos 22 anos, entra na Companhia de Jesus e é jovem padre, que dá expressão ao ardente desejo de ser missionário em terras do Oriente, para onde parte a 30 de Março de 1556. Três anos depois, os Jesuítas decidiram iniciar a evangelização de Moçambique e Gonçalo da Silveira ofereceu-se para esta missão. Chega à Ilha de Moçambique a 4 de Fevereiro de 1560, acompanhado por outro padre e um irmão. Uma semana depois, rumam até à região de Mocumbi, onde, em Tongue, capital do reino de Gamba, foram bem recebidos. O rei converteu-se e foi baptizado, juntamente com os seus filhos. Mas Gonçalo da Silveira queria alcançar o império do Monomotapa, no centro de Moçambique. Movido por grande zelo missionário, o padre Gonçalo parte sozinho. Atinge a região, a 1 de Janeiro de 1561 e também aí foi bem acolhido. Depois de uma breve catequese, o rei fez-se cristão e

foi solenemente baptizado com o nome de Sebastião, em honra do rei de Portugal. A sua conversão ao cristianismo incomodou a facção árabe da corte, que intrigou junto do imperador, acabando por convencê-lo de que a presença de Gonçalo da Silveira era a ponta de lança de uma futura invasão portuguesa. Envenenado, o imperador acaba por autorizar a sua eliminação física. Herói até ao fim, Gonçalo da Silveira, alertado para a conspiração que se urdia contra a sua vida, recusa abandonar a corte. Na fatídica noite de 15 de Março de 1561, um grupo de homens entrou no lugar onde dormia o missionário. Agarraram-no e lançaram-lhe uma corda ao pescoço, sufocando-o. Foi depois lançado ao rio Mosenguese. A sua morte causou espanto e indignação em toda a Europa e em Goa. Em Portugal, o rei dom Sebastião ficou tão consternado, que ordenou uma expedição punitiva contra o Monomotapa. Gonçalo da Silveira é hoje reconhecido pela Igreja como vene­rável e está já aberto, há muito tempo, o processo da sua beatificação.

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BANGLADESH

Cerco ao banqueiro dos pobres FÁTIMA MISSIONÁRIA

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De repente a idade tornou-se um problema para Mohammed Yunus, o homem que, em 2006, recebeu o Prémio Nobel da Paz pelos méritos do seu sistema de microcrédito na redução da pobreza no Bangladesh e não só. Prestes a completar 70 anos, o antigo professor de Economia vê-se agora alvo de uma tentativa de afastamento da liderança do Grammen Bank com base numa lei que impõe os 60 anos como idade limite para exercer tal cargo. Porquê agora? As suspeitas apontam para uma perseguição política por parte do governo, punindo Yunus por ter chegado a pensar na criação de um partido político texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA ABRIL 2011

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gladesh querem-no fora do Grameen Bank, o “Banco da Aldeia” que ajudou a fundar e que trouxe conforto a milhões de pessoas no país através do microcrédito, além de transmitir uma imagem positiva de uma nação asiática só falada nos noticiários globais, quando as chuvas das monções deixavam boa parte da sua população a viver com os pés tapados pela água.

Yunus não se dá por vencido.

or onde quer que passe, estendem-se as passadeiras vermelhas. Os poderosos deste mundo, a começar pelo casal Clinton, proclamam a sua admiração sem limites pelo homem que teve uma ideia genial para tirar milhões de pobres do ciclo da miséria. Mas nem toda a solidariedade do ex-presidente dos Estados Unidos ou da sua mulher, a actual chefe da diplomacia americana, podem ser suficientes para ajudar ­Mohammed Yunus a vencer a sua mais re­cente batalha. As autoridades do Ban-

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Assim que soube, a 2 de Março, que o Banco Central do Bangladesh o tinha destituído do seu cargo de director-geral do Grameen Bank, o vencedor do Nobel da Paz recorreu da decisão para o Supremo Tribunal. Não será sem luta que o antigo professor de Economia desistirá do projecto que há mais de três décadas o apaixona. E ainda por cima porque sente que está a ser vítima de uma vingança política. Afinal, o argumento para o destituir é que, quase com 70 anos, ultrapassa a idade limite de 60 anos que a lei bengali impõe para chefiar um banco. O bizarro é só agora o estatuto excepcional de Yunus e do Grameen Bank ter sido posto em causa. Com oito milhões de clientes, o banco

é vital para o Bangladesh e, além disso, fonte de prestígio internacional para um país com poucos trunfos. Daí a sua situa­ ção de excepção, aliás durante muito

Os créditos minúsculos do Grameen Bank têm ajudado milhões de pessoas e constituem uma das frentes de batalha contra a pobreza num país assolado pela miséria


tempo não questionada por quem quer que fosse, tal a popularidade de Yunus.

Em 2007, quando os militares

tentavam dar ordem ao país e mantinham presas duas ex-primeiras-ministras por suspeitas de corrupção, Yunus fez esforços para criar um partido político, baptizado desafiadoramente de Poder do Povo. A ideia acabou por não avançar, mas foi suficiente para despertar a ira de Hasina Wajed, entretanto regressada à chefia do governo em Daca. A carismática filha do fundador do Bangladesh, ela própria figura incontornável da política há mais de duas décadas, terá visto o gesto de Yunus como uma traição pessoal e uma ameaça ao seu poder. E ainda por cima existia já forte ressentimento dos políticos por Yunus reconhecer pouco, nos fóruns internacionais, que o sucesso do seu Grameen Bank se devia bastante aos fortes apoios do governo.

Yunus tem poderosos aliados

e até existe um grupo de “Amigos do Grameen”, onde se destaca Mary Robinson, ex-presidente irlandesa e exalta comissária das Nações Unidas para os Refugiados. Mas prossiga ou não à frente do banco, o actual processo está já a afectar a credibilidade de todo o sistema de microcrédito e isso é dramático para um país como o Bangladesh, onde metade dos 160 milhões de habitantes vive com o equivalente a menos de um euro por dia. Os créditos minúsculos do Grameen Bank têm ajudado milhões de pessoas e constituem uma das frentes de batalha contra a pobreza num país assolado pela miséria. Só que têm surgido várias críticas de abusos por parte da instituição, assim como denúncias pessoais contra Yunus, suspeito de, graças a tanto contacto com os líderes mundiais, se comportar como alguém que se sente acima da lei. Perante o Supremo Tribunal, o Nobel defenderá o cargo e também o nome. *jornalista do DN Bangladesh: uma mulher prepara arroz, no seu quintal, na aldeia de Mymensingh, 110 quilómetros a norte da capital, Daca

Bangladesh um país pobre

Com metade dos seus 160 milhões de habitantes a sobreviver com menos de um euro por dia, o Bangladesh faz justiça à sua fama de país pobre. Independente graças a uma guerra desde 1971, depois de durante 24 anos ter sido o Paquistão Oriental, o país integra a área cultural de língua bengali, cujo principal centro é Calcutá, na vizinha Índia. A agricultura continua a ser a grande actividade económica, contudo não cria oportunidades para uma população 16 vezes maior que a portuguesa, mas que vive num território que é mais ou menos um Portugal e meio. A emigração é a solução para muitos jovens deste país de maioria islâmica, curiosamente de vida política dominada há duas décadas por duas mulheres. Hasina Wajed, actual primeira-ministra, já chefiou duas outras vezes o governo de Daca. É filha de Mujibur Rahman, considerado o pai da independência bengali. A líder da oposição é Khaleda Zia, viúva de Ziaur Rahman, outra figura histórica da independência do Bangladesh. Ambas chegaram a estar presas sob suspeita de corrupção quando, em 2007, os militares assumiram o poder para afastarem uma classe política desacreditada. Foi nessa época que Mohammed Yunus, Nobel da Paz, tentou formar um partido para contrariar a tradicional bipola-

No Bangladesh, 80 milhões de pessoas afundam-se na pobreza, sobrevivendo com menos de um dólar por dia

rização entre a Liga Awami, o partido de centro-esquerda de Hasina, e o Partido Nacional do Bangladesh, de centro-direita, liderado por Khaleda. Yunus acabou por desistir, talvez porque a sua capacidade de atracção, tão eficaz junto dos poderosos do mundo, não chega para captar os votos dos bengalis, apesar de muitos terem saído da miséria graças ao seu Grameen Bank.

O banqueiro Nobel Num discurso proferido em 2002,

o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton descreveu Mohammed Yunus como “um homem que há muito devia ter recebido o Nobel da Paz”. E insistiu: “Vou continuar a dizê-lo até que lho entreguem”. Clinton teria ainda de esperar mais quatro anos para que

o Comité Nobel reconhecesse os esforços do antigo professor de Economia oriundo do Bangladesh e do seu Grameen Bank para ajudar os mais pobres através do microcrédito. A ideia terá surgido a Yunus em 1976, durante uma visita à aldeia de Jobra, perto da universidade de ChittaABRIL 2011

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Assim nascia gong, onde então dava aulas. Aí, este terceiro de nove irmãos, filho de um ourives de Bathua, percebeu como um pequeno empréstimo podia fazer uma enorme diferença na vida dos mais pobres. Logo ali pegou no equivalente a 20 euros que tirou do bolso e entregou-os a um grupo de 42 mulheres para estas comprarem o bambu para os móveis que fabricavam.

Assim nascia uma ideia que já deu

ajuda a mais de oito milhões de pobres, na sua larga maioria (acima dos 90 por cento) mulheres. No anúncio do Nobel, em 2006, o Comité norueguês afirmou que Yunus “revelou ser um líder que conseguiu traduzir uma ideia em actos que ajudaram milhões de pessoas, não só no Bangladesh como em muitos ­outros países”.

uma ideia que já deu ajuda a mais de oito milhões de pobres, na sua larga maioria (acima dos 90 por cento) mulheres

Mas não se pense que o banqueiro A formação de esquerda tinha por dos pobres, como é conhecido em referência ao título de um livro que escreveu, é uma figura consensual. Não só em 2010 um documentário dinamarquês pôs em causa os benefícios do microcrédito, como já este ano Yunus foi afastado da liderança do Grameen Bank. Acusado de usar o banco para aumentar a sua fortuna pessoal, Yunus acabou por perder o cargo com um argumento legal: no Bangladesh os funcionários dos bancos têm de se reformar aos 60 anos. E Yunus já tem 70. Claro que o facto de a decisão ter sido anunciada pelo ministro das Finanças, que tem 77, apenas veio reforçar a ideia de que o afastamento de Yunus – substituído por um antigo funcionário do banco que se apressou a vir criticá-lo na imprensa – teve motivos políticos.

De facto, depois de um breve perí-

odo de activismo enquanto estudante nos Estados Unidos, durante a guerra de libertação do Bangladesh em 1971, Yunus irritou, em 2007, a então ex-primeira-ministra Sheikh Hasina, ao tentar formar o seu próprio partido.

nome Nagorik Shakti, ou seja, Poder do Povo. Mas se Yunus acabou por abandonar este projecto, o governo do Bangladesh parece não ter esquecido a sua “traição”. Apesar das perseguições na justiça, Yunus nunca perdeu o sorriso e a calma, sublinhando que apenas está interessado numa transição pacífica que garanta que o Grameen continuará a ajudar os pobres.

Casado pela primeira vez, com

uma americana de origem russa que conheceu enquanto estudante nos Estados Unidos, Yunus separou-se meses após o nascimento da filha. Tudo porque Vera Forostenko, a sua primeira mulher, achou que o Bangladesh não era sítio para criar uma criança. Monica Yunus é hoje cantora lírica em Nova Iorque. Mas Yunus tem ainda uma outra filha, Deena Afrozi Yunus, do seu casamento com uma investigadora em Física. Dos seus irmãos, Muhammad Jahangir é o mais conhecido por apresentar vários programas de televisão no Bangladesh. É também activista social.

No Bangladesh, as mulheres são tão pobres que não dão garantias de pagar as dívidas. No entanto o crédito malparado é surpreendentemente baixo, provando que, mesmo entre os mais pobres, sobrevive a dignidade e o sentido de pagar o que se pede emprestado FÁTIMA MISSIONÁRIA

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Pergunta O que é o microcrédito? É uma forma de financiamento para pessoas que, por serem muito pobres e sem bens próprios, não têm acesso ao sistema bancário tradicional. E onde nasceu o conceito? O Bangladesh é visto como o berço do mi­crocrédito, sobretudo graças a Mohammed Yunus, que desenvolveu o Grameen Bank a partir de 1984. Não admira que tenha surgido nesse país asiático, um dos mais populosos e miseráveis do mundo, onde boa parte da população sobrevive com o equivalente a menos de um euro por dia. Antes do microcrédito surgir, como se financiavam os pobres do Bangladesh? Da mesma forma que os pobres de outras partes do mundo, ou seja através dos chamados prestamistas. O problema é que esses financiadores informais muitas vezes comportam-se como verdadeiros agiotas, o que significa que exigem taxas de juros elevadíssimas que criam um ciclo de dependência por parte dos pobres que pedem os empréstimos. Como acontece isso? Imagine-se um camponês do Bangladesh que pede dinheiro para comprar duas vacas e assim poder vender o seu leite. Se a taxa de juro que paga for muito elevada, a maior parte do novo rendimento irá para o agiota. E se por más condições climáticas faltar o pasto para os animais e um deles morrer, de repente o juro a pagar


tas & respostas até pode ser superior ao do rendimento da venda do leite da vaca sobrevivente. Então, o camponês volta a endividar-se só para poder pagar os juros e acaba por se condenar à miséria. São conhecidos inúmeros casos de suicídio de agricultores que se deixaram prender neste ciclo. De que forma actua o microcrédito evitando esse ciclo trágico? Bancos como o Grameen dirigem-se sobretudo a mulheres. Vários estudos culturais mostraram que na Ásia do Sul, e não só, são elas que mais se preocupam com a sobrevivência familiar, enquanto por vezes os homens são capazes de gastar os rendimentos escassos em jogo, álcool ou sexo. Ora como essas mulheres são tão pobres que não podem dar garantias de pagar, a lógica é fazer um empréstimo colectivo, em que várias pessoas assumem o compromisso de devolver, com juros, o valor cedido. E a verdade é que o cha-

São elas [mulheres] que mais se preocupam com a sobrevivência familiar

mado crédito malparado é surpreen­ dentemente baixo, tendo em conta a fragilidade económica das pessoas envolvidas. Isso mostra também que mesmo entre os mais pobres sobrevive a dignidade e o sentido de pagar aquilo que se pede emprestado. Que tipo de empréstimos são concedidos? Numa primeira fase as verbas emprestadas eram muito limitadas. Por exemplo, a primeira acção de Yunus, há 35 anos, ainda antes de fundar o Grammen Bank, envolveu o equivalente a uns 20 euros e serviu para financiar a compra de bambu por mulheres do Bangladesh que faziam mobiliário com esse material. O dinheiro é também emprestado para comprar ferramentas, sementes, animais e até maquinaria. O objectivo é sempre o mesmo: dar aos pobres uma base para se libertarem da miséria. Como foi acolhido o conceito de microcrédito? É um sucesso global, ao ponto de Yunus ter recebido, em 2006, o Prémio Nobel da Paz pelo seu contributo para tirar milhões de pessoas da miséria. O governo no Bangladesh apoiou a ideia e até possui uma quota importante no Grameen Bank. E por todo o mundo multiplicaram-se os organismos envolvidos no microcrédito, a ponto de existir hoje em cerca de uma centena de países, incluindo a primeira potência

económica mundial, os Estados Unidos. E tem havido críticas ao microcrédito? Um documentário dinamarquês denunciou ilegalidades no Grameen e isso trouxe graves problemas de imagem ao banco de Yunus, apesar de as suspeitas terem sido mais tarde desfeitas. Mas pior é a degradação do próprio conceito de microcrédito revelado por uma reportagem da televisão britânica BBC: haveria clientes do microcrédito a serem vítimas de uma inesperada agiotagem, algo que era suposto nunca acontecer. O próprio Yunus admitiu ter ficado surpreendido por a sua ideia ter dado margem para reaparecerem os chamados, por terras do Bangladesh, “tubarões dos empréstimos”. Qual a razão da actual polémica com a manutenção de Yunus à frente do Grameen Bank? Prestes a fazer 70 anos, o economista deveria deixar a liderança do banco que ajudou a fundar, porque a lei do Bangladesh impõe, como limite de idade para a função, os 60 anos. Mas o Grameen sempre foi visto como uma excepção, dada a sua importância para o desenvolvimento do país. E esta agressividade das autoridades segue-se a vários processos menores em tribunal contra Yunus destinados a desmoralizá-lo. Suspeita-se de que os governantes não gostaram da sua intenção de criar um novo partido político, apesar de entretanto esta ter sido abandonada.

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Respeito ou indiferença? Em Abril, um mês primaveril e de espera ansiosa pela chegada de Jesus Ressuscitado, vamos pensar como é que tratamos os nossos colegas deficientes físicos ou motores e que precisam de cuidados especiais, tanto na escola como em casa. Vamos reflectir sobre o 5º princípio: Crianças com deficiência física ou mental devem receber educação e cuidados especiais exigidos pela sua condição particular. Porque elas merecem respeito como qualquer criança

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texto CARLOS E MAGDA ilustrações RICARDO NETO

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ntigamen­te, as crian­ças e adultos deficientes ficavam em casa fe­ chados, sem poderem sair, pois os seus familiares tinham vergo­ nha de os mostrar à sociedade. Foi no século XVIII, que apareceram as pri­ meiras escolas especializadas para cegos e surdos. E só em 1960, em alguns países, as pessoas com deficiência passaram a ter di­ reito a estudar e a trabalhar. Actualmente, existem leis que ajudam essas pessoas a in­ gressar na sociedade. Existem vários géneros de deficiências: defi­ ciência motora, deficiência mental e defi­ciên­

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cia sensorial. Alguns deficientes precisam de aparelhos próprios para o seu problema. É muito benéfico que os nossos colegas porta­ dores de deficiência possam estar connosco na escola. Na nossa companhia, poderão desen­ volver melhor outras capacidades. É nosso dever respeitar os nossos amigos que são diferentes de nós. Devemos ser tolerantes, solidários e ajudá-los a ultrapassar as barreiras que vão surgindo no dia-a-dia. Com a vossa vontade de ajudar o próximo, vamos todos dar o nosso máximo para ser­ mos bem sucedidos e felizes no apoio a estes nossos colegas.


Entre as plantas da Natureza Existem as espontâneas e as cultivadas Mas quais delas são as mais apreciadas? Serão as rosas ou as orquídeas Como flores requintadas… Ou a papoila e o dente de leão Como as mais simples e abandonadas? Escolhes uma flor Pela sua identidade Ou apenas pela sua grandiosidade? Será que Deus fez tudo diferente Para nos aborrecer, Ou para com alegria nos fazer crescer? Seja flor ou pessoa, Que Deus coloque no meu caminho, Seja ela parecida ou diferente… Que a todas, eu possa amar de modo consciente! Que possa tratar de modo especial, Aquela que mais de mim precisar… Porque todas são diferentes, Mas com muito amor para dar!

Algumas dicas para ajudares uma pessoa deficiente Não gozar; Não imitar; Não olhar fixamente; Dar lugar nos transportes públicos; Deixar passar à frente nas filas; Ajudar sem impor (perguntar primeiro se precisa de ajuda); Quando quiseres cumprimentar, pega-lhe na mão e faz força durante algum tempo; Para ajudar um invisual a andar, pega-lhe levemente pelo cotovelo; Para chamares a atenção de um surdo, toca-lhe no ombro; Se quiseres falar com ele, fala-lhe de frente.

Que a todos respeite Pelas suas necessidades… Mas que a todos admire Pelos seus dons e capacidades!

Solução do número anterior A L C I N A S Z I C I N A L

V L M E M A N

Como é que és para os outros? Seguindo os caules das flores, coloca cada letra na flor correspondente

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Uma causa

Maior Muito recentemente, fui confrontado por um grupo de cristãos intelectuais que me desafiou, entre perguntas e afirmações, a dar explicações lógicas da minha vocação missionária e sacerdotal texto LUÍS MAURÍCIO

artiram da afirmação que “o chamamento de Deus” só faz sentido para aqueles que “andam envolvidos” nas coisas de Deus. Segundo eles, a descoberta da minha vocação só podia partir

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de uma experiência religiosa bem sucedida, dentro da Igreja. Ficaram boquiaberos, quando lhes disse que a minha vocação sacerdotal tinha começado a dar os primeiros sinais num ambiente


totalmente afastado de uma experiência ligada às coisas de Deus. A minha vocação não era fruto de um qualquer “contágio” vindo de alguns bons testemunhos cristãos da minha paróquia. De facto, desligara-me dela, após receber o sacramento do crisma, aos 10 anos. Nunca estive integrado, activamente, em nenhum grupo ou movimento da Igreja. À medida que ia crescendo, a possibilidade remota de assumir um compromisso cristão ia-se perdendo entre os deslumbramentos da ciência. Os estudos de Medicina fizeram-me sentir, a um certo ponto, dono de uma verdade muito mais lógica da vida que aquela Verdade que eu tinha aprendido no catecismo da Igreja.

O mundo dos desejos

Eram muitos os meus desejos no tempo maravilhoso de estudante. Ser um grande médico, rico e famoso, descobrir alguma vacina importante, viajar pelo mundo, ir à Lua. Estava conven-

cido que me encontrava no caminho certo. O desejo é o movimento que vai em direcção a um objectivo que conhecemos ou imaginamos como fonte de satisfação. Em princípio, os meus estudos estavam orientados para cumprir os meus sonhos. Eis senão quando a minha vida parecia bem encaminhada, uma estranha sensação de “vazio imenso” começou a dar sinais dentro de mim. O meu desejo autêntico de ser “aquilo que eu queria ser” começou a dar lugar a uma instabilidade existencial. Cheguei ao ponto de compreender que o lugar onde chegara na travessia da minha vida tinha sido fruto de escolhas bem feitas, mas totalmente desligadas de um facto essencial: o meu ser também é constituído de transcendência. A minha vida tinha sido construída sobre a base dos desejos e, quer se goste quer não, o mundo dos desejos desenvolve-se dentro dos parâmetros do dinamismo sensível das faltas ou carências e das necessidades da nossa vida. Gastei 23 anos da minha vida para poder compreender e aceitar um ensinamento que me fora transmitido quando eu nem sequer tinha dado conta: “Deus veio ter connosco para nos mostrar o caminho, a verdade e a chave para ser feliz neste mundo”.

Fé e desejo de auto-realização

Só reflectindo sobre os passos dados, consegui conhecer e avaliar todos os desejos que me tinham levado a fazer as múltiplas escolhas da minha vida ainda tão breve. Em primeiro lugar, apercebi-me que muitas vezes agimos movidos por desejos dos quais nunca somos perfeitamente conscientes. Por outro lado, também há desejos que actuam em nós e nos agitam, e dos quais temos consciência. Muitas vezes, são desejos vãos e falaciosos, desejos ou necessidades só aparentemente espontâneos. De facto, são gerados pela opinião da cultura e da sociedade, que excita despropositadamente a nossa imaginação, provocando muitas vezes a perda de sentido. O meu projecto de auto-realização não tinha hipóteses perante o confronto com a verdade infinita da minha vida. Deus tinha um projecto que ia para

Confiar somente em Deus foi a minha maior ousadia até hoje. Optar pela sua proposta através da minha vocação, continua a ser a aventura que mergulha o meu ser em felicidade autêntica além dos meus desejos. A concretização de um sonho tão divino escondia em si a realização e o preenchimento não só da minha vida, mas também da vida daqueles a quem Ele me envia. Garanto-vos que não me foi nada fácil fazer uma leitura da minha vida com os olhos da fé. Descobrir a vontade de Deus, libertando-me dos meus sistemas de segurança, fez-me mergulhar na aventura e no risco. “Não só de pão vive o homem”. Motivado pela certeza incerta da sua forte presença, consegui lançar-me na aventura de viver o desafio de procurar, sentindo a vertigem do deixar todo o tipo de desejos e seguranças pessoais. Confiar somente em Deus foi a minha maior ousadia até hoje. Optar pela sua proposta através da minha vocação, continua a ser a aventura que mergulha o meu ser em felicidade autêntica. Renunciar aos meus próprios desejos em função das pessoas que mais necessitam é a experiência humana máxima de libertação que um ser pode experimentar. Deixar casa, pai, mãe, irmãos, namorada, filhos naturais que não vou ter, prestígio e fama, por uma causa maior foi, é e será o meu maior ganho sobre esta terra. ABRIL 2011

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Amou-os até ao fim “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13, 1) texto DARCI VILARINHO foto FM

assim que São João nos apresenta o gesto de Jesus de lavar os pés aos seus discípulos. Um gesto profético e simbólico: Jesus depõe as vestes da sua glória, ajoelhase diante da nossa humanidade, lava os pés sujos dos discípulos para acedermos ao seu banquete divino. São João não re­lata no seu evangelho a institui­ção da Eucaristia. Em seu lugar, coloca este gesto de Jesus que exprime o signi­ficado mais profundo da Eucaristia. Toda a sua vida foi um lava-pés, um serviço aos homens, uma verdadeira “diaconia”: a vida totalmente dedicada aos outros, feita “pão partido para o mundo”. O acento é posto sobre o amor, que é o profundo significado da Eucaristia: De facto a Eucaristia acabará, porque é uma instituição para a vida terrena, mas o amor não acaba, porque é eterno.

Lavar os pés uns aos outros

É a arte de amar que Jesus trouxe do seio do Pai para no-la ensinar. Lavar os pés uns aos outros indica qualquer serviço humilde e custoso feito aos irmãos e irmãs e abarca toda a esfera das “diaconias”: Através das nossas mãos, nos serviços manuais e nos trabalhos concretos de cada dia. Através da nossa boca, com a qual podemos e devemos pronunciar palavras de FÁTIMA MISSIONÁRIA

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consolação, de conforto e de apoio. Através do nosso coração no acolhimento, estima e consideração por todos os nossos irmãos. São “diaconias” que exprimem todas as obras de misericórdia corporais e espirituais que Jesus fez e nos mandou fazer. Lavai os pés uns aos outros quer então dizer: Amai-vos, aceitai-vos, prestai serviços mútuos com paciência e amor. Acolhei o pobre, o marginal, não fecheis a porta a quem quer que seja.

Amou-os até ao fim

Mas há um sentido mais profundo neste gesto de Jesus que Bento XVI assim exprimiu: “Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo. Ele ama até ao fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina, depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus. Ele não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés, para que possamos estar à sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo”. Ex-

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pressa a disponibilidade total de Jesus até à morte. Depor o manto quer dizer dar a vida. O lava-pés é o dar a vida por nós, é o morrer e o ressurgir de Jesus por nós. Alude por isso à sua paixão, morte e ressurreição. É o descer de Jesus ao último lugar. Assim o entendeu também Charles de Foucauld, para quem Jesus sempre desceu: “Por toda a sua vida ele só desceu, desceu ao encarnar-se, desceu ao fazer-se filho, desceu ao obede-

cer, desceu ao fazer-se pobre, abandonado, exilado, perseguido, supliciado, ao colocar-se sempre no último lugar”. Na preparação da nossa Pás­coa talvez seja oportuno reflectir e passar para as nossas vidas este gesto admi­ rável de Jesus, transforman­ do as relações de domínio em rela­ções de serviço, des­ cen­do ao nível de cada pessoa, superando rupturas e criando alianças, encurtando distâncias e vencendo di­­ferenças, limpando os pés sujos da raiva e da vingança, ajoelhando-nos como Jesus diante de qualquer irmão que precise dos nossos gestos solidários. Como Ele fez, façamo-lo nós também.


A palavra faz-se missão EM ABRIL

4º Domingo da Quaresma 1 Sam 16, 1-13: Ef 5, 8-14; Jo 9, 1-41

“O Senhor ungiu os meus olhos” Também nós nascemos cegos e tivemos que lavar os olhos. A luz é um dos símbolos mais belos da Sagrada Escritura. “O Senhor é minha luz e salvação, de quem hei-de ter medo?”. Pelo baptismo, o Senhor ungiu os nossos olhos e deunos a graça de sermos seus discípulos, filhos da luz. Mais: entregou-nos a tarefa de rasgar as trevas do nosso mundo. Abre, Senhor, os meus olhos, à beleza da tua vida e torna-me consciente da grandeza da fé que, pelo baptismo, me concedeste. 5º Domingo da Quaresma Ez 37, 12-14; Rom 8, 8-11: Jo 11, 1-45

Libertar-se das ligaduras A água, a luz e a vida são signos baptismais desta Quaresma e de toda a nossa existência. Pelo baptismo fomos sepultados com Cristo para nele ressuscitarmos para uma vida nova. “Lázaro, vem para fora”. Deixemos túmulos e ligaduras e acreditemos em Cristo, nossa vida e ressurreição. “Quem acredita em mim nunca mais morrerá”. Sigamo-lO. Ponhamos em prática a sua Palavra e levemos a sua vida a quem vive em túmulos e ligaduras ainda por desfazer. Liberta-nos, Senhor, de tudo o que nos impede de caminhar contigo e de viver para ti em cada momento da nossa vida. Domingo de Ramos Is 50. 4-7; Fil 2, 6-11; Mt 26, 14-27, 66

Sigamos os seus passos Abre-se a semana santa por entre palmas e aclamações. Passa Cristo já vitorioso no cumprimento da vontade do Pai. Porque obedeceu até à morte e morte de Cruz, Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todos os nomes. Entremos com Cristo na semana santa da nossa vida. Carreguemos a nossa própria história e levemo-la até ao fim. Na obediência de servos, seremos com Ele exaltados. Ajuda-me, Senhor, a seguir os teus passos, no caminho do calvário e no domingo de ressurreição. Páscoa do Senhor Act 10, 34-43; Col 3, 1-4; Jo 20, 1-9

Com Cristo, ressuscitámos A vida cristã é Cristo ressuscitado. Se ressuscitou a cabeça, ressuscitaram também os membros. Já brilha no nosso rosto um sorriso de Páscoa. Pelo baptismo rejeitámos o velho fermento, que corrompia as nossas obras. Somos fermento novo, misturado na massa do mundo, para nos tornarmos pão fresco que toda a humanidade possa comer. “Celebremos a festa da Páscoa, não com fermento velho nem com fermento de malícia, mas com os pães ázimos da pureza e da verdade”. Senhor, que os nossos rostos de cristãos sejam sempre rostos de Páscoa, que iluminem o mundo. DV

Para que os missionários através da proclamação do Evangelho e o testemunho de vida saibam anunciar Cristo aos que ainda O não conhecem

Dizer e fazer Continuamos a bater no mesmo ponto: os exemplos de vida e acção valem mais do que muitos sermões. Já se dizia de frei Tomás: “Fazei o que ele diz e não o que ele faz”. E o outro que nas suas reflexões tinha chegado à seguinte conclusão: “A melhor homenagem que podemos fazer a um santo é imitar as suas virtudes”. Pode parecer vaidade, alguém ter a ousadia de se propor como modelo, mas se for um bom modelo isso é óptimo. O beato Allamano, sendo embora muito humilde, tinha essa coragem. Muitas vezes, falando aos padres e alunos da Consolata, dizia isso mesmo. “Eu fiz isto e aquilo e dei-me bem”. Experimentai e vereis que é possível e dá bom resultado. Em 2009, foi publicado em Itália um livro que fala de Allamano e tem como subtítulo: «Agora quero falar um pouco de mim mesmo». O livro, compilado por Francisco Pavase, cita frases interessantes onde Allamano fala com muita simplicidade e abre o coração aos seus ouvintes, dizendo: “Hoje falovos como um pai fala aos seus filhos”. Ou então: “Hoje vou fazer o elogio de mim próprio”. Estas palavras saídas da boca de Allamano parecem contradizer o seu estilo de vida que era: “O bem quere-se bem feito e sem barulho”. Era preciso ter coragem e muita confiança nos jovens a quem se dirigia para se propor com tamanha franqueza para exemplo deles. MC ABRIL 2011

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A vida depois dos 50

Os médicos e os remédios estão a prolongar a vida das pessoas cada vez para mais longe. Por isso a média etária sobe, os idosos (velhos) são cada vez mais numerosos e as bengalas multiplicam-se pelos caminhos e ruas. Mas esta obra não se destina apenas aos que estão perto dessa fase; destina-se a todos para que se preparem desde cedo para a enfrentar com qualidade de vida que apeteça viver. A autora, experiente na matéria, apresenta-nos um livro cheio de novidades e curiosidades que dá gosto ler e meditar. Autora: Isabel Antunes | 67 páginas | preço: 11,00€ | Paulus Editora

A única verdade é amar

A verdadeira história de Tom Trueheart

Autor: Raoul Follereau 493 páginas Editorial Aparf

150 páginas | preço: 10,50€ | Paulus Editora

Um título que está Tom vive no país das histórias e tem seis irmãos mais vena Bíblia, porque lhos. Todos eles trabalham para uma agência de histórias, a única verdade é cabendo-lhes desempenhar o papel do herói e terminá-las Deus e Deus é amor. de forma bem sucedida. Tom está nos seus 12 anos e é chaTudo o resto é vaidamado a resgatar os irmãos. Para conhecermos todas as pede. Um livro de peso ripécias pelas quais o garoto tem de passar, nada melhor e de valor. Devia ser do que ler o livro. É atractivo e desperta a fantasia de novos obrigatório como lie velhos. vro de texto em todas as escolas. Fala Autor: Ian Beck | 248 páginas | preço: 11,90€ | Editorial Presença da vida e da obra de Raoul Follereau. Divide-se em três partes: batalha con- Quando for grande quero ser padre tra o egoísmo, batalha contra a lepra e Um título provocador. Já lá vai o tempo em que ser padre era batalha contra a guerra. Faz-nos lemuma «festa»; hoje, para ser autêntico, tem de ser um «servibrar as palavras do Hino Nacional. ço». Por isso há tão poucos jovens que desejem ser padres. “Contra os canhões, marchar, marNeste livro o autor esforça-se por ser realista, indo à Bíblia char”! Depois de lermos este livro sobuscar apoios que exaltem o sacerdócio, mas nem por isso mos impelidos a dizer: “Este homem, deixa de afirmar que para ser sacerdote é preciso renunciar a se não existisse, era preciso invenmuita coisa. Um livro que se lê bem e é acessível a qualquer tá-lo”. Bem empregados os 10,00€ leitor. Autor: Padre José Manuel Martins Almeida que o livro custa! Vamos a ele!

Evangelho diário 2011

Pensamentos sobre a Eucaristia

Todos podem ter bons pensamentos sobre o sacramento da eucaristia, mas nem todos sabem escrever tão bem como o papa Ratzinger. Coligidos por Inácio Coco, o Papa apresentanos aqui 142 pequenos textos seleccionados das suas homilias, mensagens, discursos e outros, que poderão servir muito bem para as nossas reflexões diárias.

Este pequeno manual coloca diante de nós o Evangelho da missa de cada dia ao longo de todo este ano de 2011. Os cristãos que puderem participar pessoalmente na celebração já têm aqui meio caminho andado; os que não puderem ir, podem acompanhar a leitura mesmo estando nas suas casas. Ao alcance de todas as pessoas e todas as bolsas.

Moisés – História de um salvamento

Editorial AO

Autor: Achim Buckenmaier | 200 páginas | preço: 15,50€ | Paulus Editora

Autor: Bento XVI | 136 páginas | preço: 7,50€ | Editorial AO

Este livro, se não é um romance pouco lhe há-de faltar, pois tem todos os ingredientes necessários para isso, a começar pela nobre figura do protagonista da história, Moisés. Não lhe falta nada: nem barba, nem ousadia, nem olhos fulgurantes. Depois, vêm todas as outras personagens, que circulam à volta dele, e todos os episódios descritos na Bíblia. E é neste ponto que reside o essencial do enredo. A Bíblia no contexto histórico Secretariado Nacional do Apostolado e as relações com acontecimentos da actualidade. Por cima de da Oração tudo e em tudo a presença de Deus. Quem quiser refrescar as suas ideias sobre Organização: Elias Couto a Bíblia, tem aqui um belo texto. 352 páginas | preço: 2,00€

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Palavras que comprometem II

Livro pequeno, for­ mato bolso, acessível e útil para todos tanto nos conteúdos como no preço. A autora fala dos primeiros evangelizadores, os apóstolos, dos segun­ dos e dos terceiros até dizer que todos somos, ou podemos ser, evangelizado­ res. Fala depois das verdades da nossa fé, indo buscar apoio à palavra de Deus, sobretudo ao Novo Testamento. Autora: Margarida Maria Osório Gonçalves 193 páginas | preço: 6,36€ Gráfica de Coimbra 2

O leproso de Kormalam

Há livros que nunca se fazem velhos e este é um deles, embora já tenha sido publicado em primeira edição em 1998. É a história da vida de um jovem italiano que se fez missionário comboniano e trabalhou vários anos em África. Tendo con­ traído a doença da lepra, tornou-se apóstolo de outros companheiros também leprosos. Morreu como santo. Uma biografia que se lê com respeito e com fé. Autor: José Cortivo 179 páginas | preço: 3,00€ Editorial Aparf

As oito bem-aventuranças

Pronunciadas por Je­ sus, naquilo que se chama o “sermão da montanha”, as bem-aven­turanças têm da­ do pano para mangas a muitíssimos escri­ tores que as têm lido e interpretado de variadíssimas ma­ neiras. É um tema que está longe de ser esgotado. O padre Anselmo não podia deixar de o abordar também nas suas andanças literárias. Ele aponta as bem-aventuranças como “caminho para uma vida feliz e com sentido”. A leitura é agradável e de fácil compreensão. Autor: Anselm Grün 180 páginas | preço: 12,50€ Editorial AO

Igreja mais atenta às pessoas “Tive um sonho: sonhei com uma Igreja diferente. Uma Igreja mais ao jeito de Jesus. Uma Igreja que definitivamente deixasse de querer mobilizar «massas» e ter números, para ser mais «fermento»; uma Igreja que não perdesse todo o seu tempo «a fazer coisas», mas que fosse capaz de «estabelecer laços» e «vínculos afectivos»; uma Igreja mais atenta aos problemas e às preocupações reais das pessoas”. Nuno Santos | Correio de Coimbra | 3 Março 2011

Justiça e caridade

“A caridade é, acima de tudo, amor. Não se res­ tringe à esmola, como é vulgarmente entendida, mas antes abarca todo o universo das relações em que nos achamos com os semelhantes num dado tempo e lugar, sejam eles nossos inferiores, iguais, ou nossos superiores, do ponto de vista social. Don­ de se infere que a caridade autêntica só existe, quan­ do existe a justiça”. Teodoro A. Mendes Acção Missionária | Março 2011

Sistema educativo

“Um programa educativo para o país também não pode menosprezar, nem esquecer propostas váli­ das e testadas de projectos educativos inovadores, de avaliação dos resultados não apenas dos exames, mas do desempenho so­ cial daqueles em que o país investiu ao longo de anos nas escolas”. António Marcelino Notícias de Beja | 10 Março 2011

Cuidados paliativos

“Os cuidados paliativos não podem ser encarados como «filhos menores» no siste­ ma de saúde, ou tão pouco se resumem a uma inter­ venção caritativa e bem-in­ tencionada de cariz huma­ nista. Eles devem ser parte integrante duma boa políti­

ca de saúde, com médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais para tal preparados, onde não falte a vertente científica, huma­ na e espiritual”. Maria Susana Mexia A Defesa | 9 Março 2011

Haja propostas!

“Não basta fazer análises sociológicas que vão es­ pelhando o rosto da so­ ciedade em que vivemos. É cada vez mais urgente apresentar propostas para alterar aquilo que parece estar mal. Já todos sabe­ mos como a modernidade trouxe consigo a «idolatria dos bens» que se manifes­ ta numa avidez da posse que provoca violência, pre­­­varicação e morte”. Rui Ribeiro O Mensageiro | 10 Março 2011

Cristo na missão

“O verdadeiro problema da missão hoje é a própria pessoa do evangelizador. Só uma «experiência deci­ siva» de Cristo pode mar­ car o nascimento da sua vocação missionária”. Daniel Moschetti Além-Mar | Março 2011

Jovens à deriva

comportamento que não somos capazes de en­ tender. Antes de julgar é preciso tentar descobrir o conteúdo profundo das suas atitudes. Estes jovens têm necessidade de com­ preensão e de perdão com­ passivo”. Luís Vieira Boa Nova | Março 2011

Crianças na família

“As crianças desde cedo absorvem e sentem o pul­ sar do ambiente familiar em que estão inseridas, aprendem e registam com grande facilidade quase tudo o que se passa em seu redor; a sua percepção as­ semelha-se ao mecanismo de uma câmara de filmar que capta mais do que mui­tos pais acreditam”. Valentes | Março 2011

Liberdade de ensino

“Muito se tem escrito e debatido sobre o tema da relação entre o estado e a sociedade civil a propó­ sito da concretização da liberdade de aprender e ensinar. As dificuldades maiores encontradas têm estado no entanto liga­ das aos vultuosos inves­ timentos necessários à diversidade da população escolar abrangida, à crise do estado-providência e à decadência demográfica”.

“Ficamos tristes com tan­ tos jovens que abandonam a fé ou não a praticam, e depressa os classificamos na categoria de irrecupe­ Guilherme Oliveira Martins ráveis, de pecadores pelo Ecclesia | 22 Fevereiro 2011

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Gurué, Moçambique

Donativos de apoio ao Centro de Acolhimento Paróquia do Gurué, Moçambique Mulheres Agrupamento de Escolas (Caranguejeira – Leiria) – 200,00€; Mulheres Missionárias da Consolata (Mem Martins) – 500,00€; Alexandrina Gravito – 20,00€; Margarida Silva – 93,00€; Isabel Crespo – 43,00€; Hélder Leitão – 3,00€; António

Crespo – 43,00€; Maria Céu Crespo – 43,00€; Anónimo – 25,00€; Fátima Matias – 10,00€; Maria Almeida – 3,00€; Anónimo – 30,00€; Eugénia Miranda – 14,00€; José Gambôa – 40,00€; Amélia Novo – 40,00€; Isabel Ferreira – 25,00€; Filomena Bacelo – 30,00€; Leocádia Montei-

Projecto 2011

Gurué Acolhimento a doentes e acompanhantes Paróquia do Gurué, Moçambique

Imagine-se doente, a dormir ao relento, ou ter um filho hospitalizado e não poder estar perto dele. Isso acontece na diocese de Gurué, que tem dois milhões de habitantes e apenas um hospital. O bispo da diocese, Francisco Lerma, missionário da Consolata, pretende construir um centro de acolhimento para doentes e acompanhantes.

porta 25 euros

telhas 10 euros tijolo 1 euro pregos 5 euros viga de madeira 20 euros

sacos de cimento 15 euros

Solidariedade vários projectos

Escola secundária de Empada Guiné-Bissau António Mota – 8,00€; Anónimo – 20,00€; Fernanda Castro – 90,00€; Rute Lobo – 18,00€; Samuel Garcia – 10,00€; Joaquim Oliveira – 43,00€; Rosa Rebelo – 15,00€; Judite Cunha – 10,00€; Esmeralda Torres – 3,00€. Bolsas de Estudo Conceição Policarpo – 100,00€; Padre Heitor Morais – 500,00€; Fernanda Januário – 1.000,00€; Óscar Bártolo – 150,00€; Armando Braga – 25,00€; Anónimo – 50,00€; Ana Carvalho – 250,00€;

Adozinda João – 250,00€; Isabel Soares – 250,00€; Joaquina Lourenço – 250,00€; Gioconda Magalhães – 250,00€; Maria Cinta – 500,00€; Armando Pedro – 250,00€; Maria Jesus – 250,00€; Maria Domingues – 250,00€; Conceição Nascimento – 250,00€; Anónimo (Cacém) – 250,00€; Henrique Silva – 250,00€; Alzira Santos – 275,00€; Maria Soares – 250,00€; José Ferreira – 250,00€; José Almeida – 250,00€; Daniel Tomás – 250,00€; Inês Jordão – 250,00€; Dulce Gaspar – 250,00€; Alice Rosa – 250,00€; Marieta Luz – 500,00€; Carminda Gameiro e família – 250,00€. Padre José Salgueiro – Moçambique Zaida Bernardo (Moita MGR) – 10,00€. Leprosos Armando Cunha – 10,00€. Ofer-

ro – 10,00€; Isabel Rocha – 60,00€; Francisco Júnior – 20,00€; Amélia Costa – 53,00€; Alexandre Montesanto – 20,00€; Ana Moreira – 15,00€; Ausenda Carvalho – 10,00€; José Mirra – 10,00€; Gabriela Santos – 25,00€; Manuel Neto – 25,00€; Anónimo – 200,00€; Gracinda Silva – 20,00€; Maria Anjos Sousa – 25,00€; Alice Gonçalves – 5,00€; Fernanda Morgado – 20,00€; Lurdes Eugénio – 10,00€; Emília Sobreira – 30,00€; Edite Trindade – 10,00€; Maria Formiga – 10,00€; Lucinda Amado – 3,00€; José Amaro – 28,00€; Anónimo – 30,00€; Irmãs do Carmelo da Imaculada Conceição – 20,00€; Adélia Frade – 28,00€; Lucília Pereira – 20,00€; Gracinda Moreira – 18,00€; Lurdes Dias – 8,00€; Rosa Carvalho – 50,00€; Conceição Lourenço – 10,00€; Ana Pinto – 5,00€; Conceição Costa – 5,00€; Margarida Pinto – 5,00€; Bárbara Silva – 20,00€; Anónimo – 1,00€; Anónimo – 5,00€; Helena Pedrosa – 25,00€; Anónimo – 50,00€; Manuel Rodrigues – 10,00€; Aurora Mauro – 25,00€; Maria Neves – 20,00€; Helena Barros – 60,00€; Amaro Serrano – 5,00€; Júlia Quitéria – 100,00€; Conceição Pacheco – 20,00€; José Lopes – 25,00€; Teresa Oliveira – 10,00€; Francisco Pombo – 10,00€; José Gonçalves – 2,00€; Gracinda Vieira – 20,00€; Filomena Vaz – 50,00€; Anónimo – 20,00€; Piedade Duarte – 90,00€; Anónimo – 10,00€; Carlinda Lima – 50,00€; Fátima Guerra – 10,00€; Suzete Policarpo – 250,00€; Maria Oliveira – 5,00€; Gabriela Barata – 10,00€; Rolando Raposo – 20,00€; Conceição Faustino – 10,00€; Anónimo – 1,00€; Associação Amigos de Raoul Follereau – 2.500,00€; Anónimo – 20,00€; Silvestre Brilhante – 20,00€; Maria Moura – 20,00€; Ercília Fernandes – 25,00€; Missionários da Consolata (Águas Santas) – 820,00€; Maria Cinta – 20,00€; Padre Joaquim Ferreira – 500,00€; Conceição Pinheiro – 100,00€; Anónimos (Junça) – 200,00€; Artur Oliveira – 250,00€; Alice Rosa – 80,00€; Associação Amigos de Raoul Follereau – 5.000,00€. Total geral = 22.214,00€.

tas várias Editora Papa-Letras – 43,00€; Manuel Terra – 33,00€; Leonilde Godinho – 93,00€; Delmira Silva – 33,00€; Isabel Nunes – 293,00€; Armindo Pacheco – 33,00€; Ana Silva – 43,00€; Conceição Pereira – 50,50€; Emídio Major – 106,00€; Lurdes Maurício – 84,00€; José Gambôa – 33,00€; Lurdes Lopes – 33,00€; Lisete Sousa – 36,00€; Lurdes Reis – 86,00€; Conceição Ascensão – 243,00€; Diamantina Jesus – 63,00€; Rui Teixeira – 53,00€; António Sampaio – 53,00€; Ângela Sousa – 33,00€; Anónimo – 50,00€; Elísio Cruto – 39,10€; Isabel Pacheco – 25,00€; Joaquina Clemente – 43,00€; Odete Vargues – 43,00€; Ana Faustino - 43,00€; Laura Ranito – 33,00€; Ana Valverde – 36,00€; Rosa Oliveira – 200,00€; Pedro Almeida – 100,00€;

António Pinto – 43,00€; Emília Almeida – 48,00€; Lília Flor – 56,00€; Artur Pedrogam – 43,00€; Deolinda Alves – 43,00€; Carlos Prazeres – 43,00€; Fernanda Januário – 1.500,00€; Carmélia Caetano – 43,00€; Adelina Santos – 28,00€; Emília Ferreira – 43,00€; Fernando Pedrosa – 53,00€; Carlos Voss – 151,00€; Sacramento Lourenço – 50,00€; Maria Gameiro – 33,00€; Manuel Soares – 33,00€; Guilhermina Maldonado – 43,00€; Rita Clode – 58,00€; Irene Serrano – 43,00€; Rosa Felipe – 55,00€; Marcelina Santos – 103,00€; Luzia Lopes – 43,00€; Quitéria Paiva – 200,00€; Júlia Silva – 53,00€; Alcina Ferreira – 68,00€; Anónimo – 50,00€; Albino Monteiro – 65,00€; Anónimo – 43,00€; Júlia Mata – 112,00€.

8 Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt 8 Rua D.a Maria Faria, 138 Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | aguas-santas@consolata.pt 8 Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt 8 Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt 8 Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA

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Serafina Drudi nasceu em Misano, Forli, a 12 de Julho de 1889. Entrou no Instituto das Missionárias da Consolata em 1910. A 3 de Novembro de 1913 partiu para o Quénia. Faleceu em Nieri a 12 de Janeiro de 1966

Farei tudo o que Deus quiser

Trazemos para aqui, para a galeria dos famosos, uma missionária da Consolata texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO

alamos da irmã Serafina Drudi. Nasceu em Misano, província italiana de Forli, no longínquo 1889. Aos 21 anos entrou nas irmãs missionárias da Consolata, um instituto que o padre José Allamano

fundou nessa altura. A Serafina pertenceu ao primeiro grupo de alunas. Entretanto fez a preparação religiosa e missionária e em 1913, com apenas 24 anos de idade, partiu para o Quénia. Interrogamo-nos: Que coragem não teve ela, e outras jovens

da mesma idade, raparigas com poucas letras em darem um salto no escuro, sem saberem o que as esperava. Isto só se pode explicar pelo grande amor que tinham às missões e ao povo a quem iam servir. Uma vez chegada, a irmã Serafina desempenhou várias actividades, desde a catequese, a enfermagem, as visitas às famílias em longas caminhadas pelas aldeias, à procura de crianças malnutridas, idosos e moribundos à espera do baptismo. Outro trabalho muito apreciado foi o que realizou nos hospitais de campanha ingleses durante a guerra de 1914-1918. A dedicação da irmã foi de tal ordem que as autoridades militares do governo inglês a condecoraram com a medalha de mérito “M.B.E”. Além destas qualidades humanas de bem-servir, a Serafina possuía outras que faziam dela uma boa companheira. Inseria-se facilmente em qualquer tarefa de que fosse incumbida e contornava as dificuldades com jovialidade e até com humor. Amava as pessoas todas sem distinção, fossem brancas ou negras, fossem superioras ou dependentes. Era simples no trato, mas ao mesmo

tempo, era espertalhona, e não deixava fazer o ninho atrás da orelha. Gostava de dar nomes extravagantes ou gaiatos às coisas. Por exemplo ao hospital onde prestava serviço chamava-lhe «Clínica Drudi». Drudi era o seu próprio nome. A sua superiora provincial dava-lhe enfaticamente o nome francês «Ma mère». Quando ela própria era superiora gostava que lhe dissessem: “O meu Serafim de amor”. Mulher que sempre lutou pela vida, a sua e a dos outros, custou-lhe muito aceitar a ideia de que tinha de morrer dentro de pouco tempo. Quando o médico lhe disse que não havia mais nada a fazer, ela agarrou-se à fé em Deus e em Nossa Senhora da Consolata. Depois entregou-se. “Que Deus faça de mim tudo o que Ele quiser”. E começou a cantarolar este estribilho, musicado por ela própria: “O que Deus quiser! O que Deus quiser!”. E Deus quis que ela se finasse em 12 de Janeiro de 1966, depois de um honroso palmarés de vida missionária. No funeral teve as honras do bispo, Dom Gatimo e do Superior Geral dos Missionários da Consolata que se encontrava casualmente naquela diocese.

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Mais uma vez, com os samburus. Eles acentuam os aspectos mais característicos da sua cultura, através de provérbios sobre família, amizade e boas acções

Boas falas, bons amigos texto MANUEL CARREIRA foto Ana Paula

Uma boa acção vence a malvadez Apoio à compreensão: Não é difícil compreender o significado deste provérbio. Muitos de nós teremos experimentado como ele é verdadeiro. E até é recomendado no Evangelho. “Senhor, se o meu inimigo me ofender, quantas vezes lhe hei-de perdoar? Irei até sete vezes? Não te digo que irás até sete, mas até setenta vezes sete!”. Quer dizer sempre. Mas isto não é fácil. E, precisamente, porque não é fácil é que tem tanto valor. Com um simples gesto podemos converter um malvado ou conquistar um amigo que andava perdido. Provérbio samburu

A uma boca boa segue uma boca boa

Apoio à compreensão: Provérbio curto que, em português, soa como um trocadilho ou uma tautologia. A tautologia consiste em sons repetidos que se decoram facilmente e podem transmitir mensagens cheias de sabedoria. Neste provérbio, a boca significa a palavra, a frase, a conversa. A resposta corresponde à parte inicial. Se falares bem dos outros, eles falarão bem de ti. Tautologias em português: Tal pai tal filho. FÁTIMA MISSIONÁRIA

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Tal vida, tal morte. Como fizeres, acharás. E outros. Provérbio samburu

Não há fera tão má que não tenha pelo menos um amigo ou um parente

esponjas elásticas onde se pu­rifica o ar que respiramos. Este provérbio compara a construção de uma família com o trabalho dos pulmões: é preciso pa­ciência, perseve-

rança, silêncio. Cada membro da família tem de cumprir a sua parte. Todos em equipa, a puxar para o mesmo lado é que vencem as resistências. Provérbio samburu

Apoio à compreensão: Qualquer pessoa, por muito má que seja, terá pelo menos um amigo ou um parente de quem goste e com quem se dê bem. Podíamos aplicar aqui a frase portuguesa, que também se usará noutros paí­ses, e soa assim: “Sem amigos não se pode viver”. Só que, por vezes, há pes­soas tão quezilentas, que não têm ponta por onde se lhes pegue. É preciso lidar com elas com falinhas mansas e luvas nas mãos. Mesmo assim, vale a pena insistir para não perder a sua amizade. Provérbio samburu

As famílias cons­troem-se com os pulmões

Apoio à compreensão: Os pulmões são órgãos da respiração. São tão impor­ tan­tes como a vida, pois sem eles não se pode viver. Mas tra­balham em silêncio como

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Samburu é um povo de semi-nómadas, que se dedica a pastar os seus rebanhos, constituído principalmente por bovinos


Coroas pelos caminhos do Alentejo texto NORBERTO LOURO ilustração MÁRIO JOSÉ TEIXEIRA

Há dias, com partida de Lisboa, um grupo de 15 pessoas avançámos pelo Alentejo dentro. Fomos em peregrinação até Vila Viçosa. O percurso foi animado por um são convívio, apreciações artísticas dos monumentos impressionantes de Évora, memorizações históricas na passagem por vilas acasteladas e visão projectada no futuro das enormes potencialidades instaladas em Amareleja (a maior central de energia solar do mundo) e na barragem do Alqueva (o maior lago artificial da Europa). Vila Viçosa foi o coração do passeio. Éramos sete sacerdotes, um diácono, dois irmãos e cinco nossos colaboradores. Celebrámos a Eucaristia no santuário de Nossa Senhora da Conceição, proclamada padroeira de Portugal, por decreto de dom João IV, com estas palavras: “Assentamos de tomar como padroeira de nossos reinos e senhorios, a Santíssima Virgem, Nossa Senhora da Conceição […] e lhe ofereço em meu nome e do príncipe dom Theodósio e de todos os meus descendentes sucessores, reinos, senhorios e vassalos, a sua caza da Conceição sita em Vila Viçosa”. A sua pro-

messa foi tão solene, que mais nenhum rei da Casa de Bragança viria a utilizar a coroa real. A Rainha era ela! O facto admirável de reconhecer autêntica dignidade de usar coroa só à Virgem Maria trouxe-me à memória dois outros casos de coroações bem diferentes. No Natal do ano 800, depois de consumar a restauração do Império Romano, para que fosse reconhecida e aceite a sua autoridade sobre todos os reinos conquistados, Carlos Magno fez-se coroar pelo Papa Pio VII, junto da tumba de São Pedro, em Roma, imperador do Sacro Romano Império, com suprema autoridade sobre os povos do Ocidente. Mil anos mais tarde, em 1804, Napoleão, querendo restaurar de novo o Império Romano desfeito, quis ser coroado pelo Papa, como Carlos Magno. Porém, no decorrer da cerimónia, tirou orgulhosamente a coroa das mãos de Leão III e, para demonstrar que não estava submetido a ninguém, coroou-se imperador a si mesmo! Missão mais simpática, assumiu, sem dúvida, dom João IV, no dia 25 de Março de 1646, ao pôr nas mãos de Maria,

e através dela, nas mãos do autêntico Dono de tudo, os destinos do reino restaurado, os seus haveres e súbditos, com aquele gesto significativo. Infelizmente, são cada vez mais, hoje em dia, os reis e reizinhos que arrogantemente se emancipam de Deus e de tudo o que é sagrado e se coroam a si mesmos. Chegam ao ponto de menosprezarem e até ridicularizarem aqueles que, com plena liberdade, aceitam a soberania de Deus, manifestando-o com gestos e sinais. Faz lembrar aquela personalidade presente na cerimónia da entrada solene dum bispo na sua diocese. Ao ver o prelado ficar só com um pequeno barrete redondo vermelho na cabeça, depois de tirar o chapéu eclesiás­ tico, avisou-o em alta voz: Ó senhor bispo, olhe que lhe ficou o forro do chapéu agarrado à cabeça! O nome daquele pequeno barrete vem do latim “solideo”, que quer dizer “SÓ DE DEUS”, todo de Deus. Ele, o bispo, claro! Só de Maria, dissera dom João IV, ao depor a coroa. Nesta dança de coroas, em definitiva, quem teve razão foi ele. Tudo a Deus pertence. ABRIL 2011

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80ª Peregrinação “O jovem tem muita sensibilidade para as necessidades do mundo que o rodeia” texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto Ana Paula

peregrinação ao Santuário de Fátima é um dos momentos mais esperados pelos jovens da diocese. Ocorre a 9 de Abril, no dia anterior à peregrinação diocesana de Leiria-Fátima. Os jovens, a partir do 10º ano de escolaridade, são desafiados a um conjunto de actividades subordinadas ao mesmo tema da peregrinação: “Com Maria e os pastorinhos aprendemos o serviço humilde da caridade”.

O grande objectivo é levar os jovens «a fazer experiência de Igreja na Igreja diocesana, para poderem perceber que outros jovens, em outras paróquias vivem a mesma experiência de fé», explica o responsável pelo Departamento da Pastoral Juvenil da diocese de Leiria-Fátima. Durante a tarde, haverá uma “espécie de «peddy paper» e alguns «workshops», onde se desenvolve a temática da peregrina-

Via-sacra no Santuário

ferencista. É a quinta e última conferência do ciclo de conferências de Inverno, promovido pelo Santuário de Fátima no primeiro ano do ciclo comemorativo do centenário das Aparições, dedicado às aparições do Anjo.

Durante o período de Quaresma, os fiéis, que o desejarem, podem fazer a via-sacra às sextas-feiras às 14h, na Colunata Sul. Esta devoção quaresmal é dirigida pelas religiosas de Fátima. Aos domingos, a via-sacra decorre no recinto do Santuário.

Última conferência

“Eu sou o Alfa e o Ómega”, do livro do Apocalipse (1,8), é o tema da conferência que se realiza a 10 de Abril, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, no Santuário de Fátima, pelas 16h. O ex-reitor, Luciano Guerra, será o conFÁTIMA MISSIONÁRIA

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Música do hino a concurso

Até 4 de Abril, está aberto o concurso para a composição musical do hino do centenário das aparições. O texto a musicar é da autoria de Marco Daniel Duar­te, seleccionado num primeiro concurso para a letra do hino. «Mestra do Anúncio, Profecia do Amor» é o título da composição.

ção de uma forma dinâmica”, salienta o padre Manuel Henrique. As actividades da peregrinação pretendem levar ao aprofundamento do tema da caridade, de acordo com a temática do presente ano pastoral. Sábado à noite, haverá um plenário do trabalho realizado pelos grupos de jovens durante a tarde. O dia terminará com uma vigília de oração dos jovens, a quem se juntam os escutas caminheiros. No fim da vigília, haverá a adoração da cruz com a possibilidade de confissões. No domingo, 10 de Abril, os jovens integrar-se-ão na 80ª peregrinação diocesana a Fátima.

ABRIL em agenda

01 Encontro nacional Inter-Es­ colas

10 Conferência na basílica sobre: “Eu sou o Alfa e o Ómega”

10 Peregrinação diocesana Lei­ ria-Fátima

16/17 Peregrinação Sociedade de São Vicente de Paulo

24 Concerto da Páscoa (en­ trada livre)

25 Encontro dos coros infantis


un’altra visione del mondo mwingine mtazamo wa dunia another view of the world otra visión del mundo inny pogląd na świat une autre vision du monde wona wunyowani wa elapo eine andere sicht der welt djôbe mundu di oto manêra

7

Apenas euros por ano MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA | Rua Francisco Marto, 52 | Ap. 5 | 2496-908 FÁTIMA Telefone 249 539 430 | 249 539 460 | geral@fatimamissionaria.pt | www.fatimamissionaria.pt


Caminhos de Páscoa Se tens tristeza, alegra-te! Cristo ressuscitou. Se tens inimigos, reconcilia-te! Jesus é paz. Se tens amigos, busca-os! Jesus é encontro. Se tens pobres a teu lado, ajuda-os! Jesus é dádiva. Se tens soberba, sepulta-a! Jesus é humildade. Se tens pecados, converte-te! Ressurreição é vida nova. Isaura Martins


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