ÍNDIA

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Ano LX | ABRIL 2014 | Assinatura anual | Nacional 7,00¤ | Estrangeiro 9,50¤

índia

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população decide futuro da segunda nação mais populosa do mundo

Ucrânia abre crise na europa Pág. 13 “temos que animar os Pág. 14 não cristãos” modelo de caridade Em bairros de lisboa Pág. 16


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial

No meio do furacão A missão tem os seus riscos. De acordo com a agência Fides, 22 agentes pastorais, na sua maioria padres e voluntários leigos católicos, foram mortos de forma violenta em 2013, o dobro do que aconteceu em 2012. E quantos foram os sequestrados ou estão desaparecidos? É paradigmática a situação na Síria, assolada por uma infindável guerra civil, onde alguns religiosos ou mesmo bispos deixaram de dar sinal de vida. Mas poderíamos dizer o mesmo da República Centro-Africana ou da República Democrática do Congo ou do Sudão do Sul, sem esquecer as situações do Iraque ou do Paquistão, onde na crise de violência, guerra e opressão, os missionários são das poucas pessoas capazes de levar conforto e esperança. Apesar de se terem multiplicado os raptos, a escolha dos missionários tem sido corajosa: ficar no meio do povo como última âncora de salvação. “Estas situações dramáticas não são para nós excecionais”, explicou ultimamente Laurent Tournier, porta-voz da Conferência dos religiosos e religiosas franceses. “Quando se parte em missão pesam-se todos os riscos. Dedicamos tempo ao discernimento. Em geral a partida requer dois anos de preparação. E mesmo que a missão comece em contexto calmo, sabemos que a situação pode evoluir.”

Não é desrespeito pelas decisões das embaixadas ou consulados dos países a que pertencem os missionários, que aconselham a deixar. Eles não estão lá à procura do martírio, mas é uma opção exigida pela própria vocação de entregar a vida de modo total pelo Evangelho. “Serei o último a fechar a porta”, disse o jesuíta Ziad Hilal, missionário na Síria, a quem o provincial perguntou o que pensava fazer. “Está em causa a minha fidelidade ao povo para o qual fui enviado”, explicou o religioso, de 40 anos, que aprendeu a lidar com as ameaças da vida quotidiana. E a razão é simples : “O mal está aí, mas eu sei que Deus não nos abandona. Estamos envolvidos numa missão que nos ultrapassa. Certamente que posso ser raptado ou morto, mas sinto-me incapaz de abandonar o povo ao seu destino.” É esta a linha geral: não se abandona o campo de trabalho. Quando se parte em missão é como desposar um país, um povo, uma cultura. Fica-se para apoio e conforto de quem não tem voz e para ser instrumento de reconciliação e de paz. DARCI VILARINHO

Em casos de maior perigo, a decisão de reentrar pertence sempre ao religioso atingido. Praticamente todos optam por ficar. “Nós partimos para criar comunidades, e isso precisa de pelo menos dez anos de trabalho”, sublinha o mesmo Tournier. “Não se trata em caso algum de ser suicidas, mas estas situações fazem parte da nossa vida. Um missionário parte para se entregar totalmente”. Abril 2014

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº4 Ano LX – ABRIL 2014 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 25.200 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colabora­ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diaman­tino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pa­­che­co – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção e Arquivo Capa Lusa Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ri­car­do Neto Design e com­po­sição Happybrands e Ana Pau­la Ribeiro Ad­mi­nis­tração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

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QUANDO A ÍNDIA FAZ ELEIÇÕES, 814 MILHÕES VOTAM POR VIDA MELHOR

03 EDITORIAL No meio do furacão 05 PONTO DE VISTA Sobre os valores de Abril 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Transformar por amor 08 MUNDO MISSIONÁRIO Mais de 300 mil vítimas da fome em Moçambique

Visita do Papa à Coreia gera onda de entusiasmo No Dubai a maior paróquia do mundo Sri Lanka acusado de violar direitos humanos 10 A MISSÃO HOJE “Acredito na formação e promoção humana” 11 PALAVRA DE COLABORADOR Alma missionária 12 A MISSÃO HOJE João XXIII e João Paulo II uma missão comum 13 DESTAQUE Demasiado fortes, demasiado dependentes 14 ATUALIDADE “Temos que mudar a compreensão do ministério e dos sacramentos” 16 ATUALIDADE Um “oásis” de solidariedade social 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Celebrar a misericórdia 24 TEMPO JOVEM Crescer forte e saudável 26 SEMENTES DO REINO Páscoa: a festa maior 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHa 31 VIDA COM VIDA Olhos sempre fixos na meta 32 OUTROS SABERES Sabedoria rural 33 2014 ano allamano Método peculiar de evangelização 34 FÁTIMA INFORMA Via-sacra junta 200 figurantes


ponto de vista

Sobre os valores de Abril O drama de muitos, a sua morte e a austeridade terão sido em vão se a pobreza e as desigualdades se mantiverem. texto Henrique Pinto*

Os dramáticos desequilíbrios a todos os níveis e o lixo social gerado por sistemas de governo neo-liberal, que mais do que apostar nas famílias e na construção de comunidades locais, desejaram tornar tudo e todos imunes à diversidade, ou à interdependência que caracteriza a natureza de tudo quanto existe, levaram e continuam ainda a levar às ruas milhares de pessoas que se sentem terrivelmente maltratadas e violadas nos seus direitos e deveres. Temo que diante da ilusão de uma economia que parece dar sinais positivos de si, os inúmeros tempos de antena, artigos de jornal, seminários e workshops não tenham sido capazes, no final, de inaugurar um novo tempo, com novos paradigmas, capazes de colocar no centro de toda a governação o ser humano, o seu incondicional valor e dignidade para lá da economia, e os valores da liberdade, do trabalho, da habitação, da saúde, da proteção social, da educação e tantos outros, pelos quais o 25 de Abril de 1974, em Portugal, se tornou uma revolução urgente e necessária.

cidadania e cooperação, e de uma mais justa distribuição da riqueza que não encontrem nunca mais no empobrecimento, no desemprego, na perda de casa, da família, da comunidade, no abandono e na exclusão social, as criaturas humanas que habitualmente os colocam em risco e os violam. Com o passado compreendemos o presente. Se até ontem, com um Estado essencialmente Providente, a vida ainda assim, sem comunidades estruturadas e fortes, era possível, hoje, a defesa de um Estado mais reduzido ou pequeno, e esvaziado de importantes funções sociais, sem que possa fazer apelo, no terreno, a comunidades robustas e inclusivas, tornariam a vida e o projeto de cada um muito difícil senão mesmo impossível. Os valores de Abril, o que, pelo fazer da história, também hoje valorizamos, nomeadamente a sustentabilidade de uma nação como Portugal, precisam de um Estado infatigável e de comunidades da sociedade civil possantes, imbuídas de consciência política e práticas de cidadania. * co-fundador da CAIS

Se há 40 anos foi imprescindível dizer não ao fascismo e defender a vontade popular, o exercício da liberdade e a democracia, hoje, diante de um total desrespeito pelos valores de Abril, urge, por um lado, dizer não às partidocracias, aos parlamentos sem povo, aos interesses de famílias e grupos instalados no serviço público, e por outro, recuperar e proteger o acesso a direitos e deveres básicos através de uma educação para a Abril 2014

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leitores atentos

Renove a sua assinatura Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o nú­­me­ro ou nome do assinante. Na folha on­de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos es­ti­mados assinantes renovem a assinatura para 2014. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os do­­na­tivos para as missões são de­dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA “a nossa revista”. É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto Não sou católico, mas do meu ponto de vista o vosso trabalho é excecional. Bem hajam. Carlos – Queluz

Bom amigo Carlos, a sua curta mensagem e o seu contributo é para nós muito significativo. Temos a certeza que a maioria dos nossos leitores professa a fé católica ou pelo menos pertence à área cristã. Mas não se fica por aqui. A nossa revista, de acordo com o seu estatuto editorial, assume-se como uma publicação “com a 6

Renovo com muito gosto Pelos mais esquecidos

Venho informar que renovo a minha assinatura da Fátima Missionária para o presente ano com muito gosto. Segue comprovativo. Perante as difamações contra a Igreja pelos pecados de alguns dos seus membros, é bom saber que muitíssimos outros (no silêncio da comunicação social e no cansaço) continuam o trabalho duro da construção do Reino de Deus. Com os melhores cumprimentos e votos de fecundo apostolado. Fernando

A melhor difusão

Agradeço antes de mais tudo o que dais e ensinais com o vosso exemplo de entrega aos outros. O que disse Jesus: “Sede minhas testemunhas… Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho” fazem-no os missionários levando a mensagem de Jesus, cada vez mais longe, àqueles que são esquecidos pelos homens, mas que são os mais amados por Cristo, os pobres e oprimidos. Obrigado pelo vosso amor e dedicação ao próximo. Maria de Lurdes

Feliz por ajudar

Tenho recebido nas paróquias que me foram confiadas a vossa revista Fatima Missionária, que muito agradeço e que naturalmente coloco na entrada das salas de catequese, pois há catequistas que lhe pegam e mesmo adolescentes e que até me pedem para levar. Outras vezes levo para o Centro Social (são em três paróquias), pois dá para as funcionárias e sobretudo Centros de Dia, outras vezes levo para os Escuteiros... É uma forma de falar de vós e da Missão Ad Gentes... Se puderdes continuai a mandar, pois alguma coisa tocará!...

Gosto muito de ler a Fátima Missionária, também por trazer notícias de África, onde vivi tantos anos naquele que é hoje o Zimbabwe. Cheguei lá em 1961 e ajudei muita gente que chegava à cidade onde vivi, Bulamayo. Fui intérprete de quem precisava para tratar documentos, arranjar emprego, ir ao médico, etc., etc. Hoje já com 79 anos, voltaria a fazer o mesmo, e continuo a fazer. Fico feliz ajudando quem precisa.

missão de promover os autênticos valores humanos e cristãos, tais como a paz, a solidariedade, a justiça, a fraternidade e a defesa do ambiente”e dirige-se “a um público muito variado, sem distinção de raça nem credo”. Disse há tempos o Papa Francisco sobre a Igreja: “Procuramos mesmo ser uma Igreja que encontra novos caminhos, que é capaz de sair de si mesma e ir ao encontro de quem não a frequenta, de quem a abandonou ou lhe é indiferente. Quem a abandonou fê-lo, por vezes, por razões que, se forem bem compreendidas e avaliadas, podem levar a um regresso. Mas é

necessário audácia, coragem”. E ainda: “Deus está na vida de cada pessoa. Deus está na vida de cada um. Mesmo se a vida de uma pessoa foi um desastre, se se encontra destruída pelos vícios, pela droga ou por qualquer outra coisa, Deus está na sua vida. Pode-se e deve-se procurar na vida humana. Mesmo se a vida de uma pessoa é um terreno cheio de espinhos e ervas daninhas, há sempre um espaço onde a semente boa pode crescer. É preciso confiar em Deus”.

Noémi

Padre Carlos

DV


horizontes

TRANSFORMAR PELO AMOR

texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI

A chave entrou na fechadura de forma demorada e incerta. Nélia olhou o relógio: três da manhã. – Obrigada, meu Deus! Chegou em salvamento! Tal como não se permitia dormir – nunca conseguia fazê-lo antes de Alberto chegar a casa – também não se atrevia a levantar e ir falar com o filho: nem queria ver o estado em que ele chegava. A sua revolta era imensa. Sabia que estivera na rua, a destruir-se! Quanto desejou ter uma vida diferente com o filho: jantarem juntos, conversar sem que ele fugisse ou se ofendessem, fazer programas em conjunto, rir, ou simplesmente estarem juntos! Quanta saudade tem de lhe aconchegar os lençóis e de o afagar contra o peito! Fê-lo tão pouco! Enquanto Alberto deambulava pela casa, tropeçando nos móveis e abrindo e fechando portas e gavetas, o pensamento de Nélia rodopiava, ora poisando o seu dedo acusador em Alberto, ora apontando-o diretamente para si. Sabe que o modo de vida de Alberto

é também sua responsabilidade. O pior é não saber o que fazer para remediar o passado: não podia anular-lhe o desespero quando a discussão entre os pais estalava, ou a solidão de ver a mãe embriagada, ou ainda o choro pela mãe a meio da noite, sem resposta, porque a diversão da noite tinha sido para ela mais atrativa. Ver o filho chegar naquele estado, noite após noite, e assumir o mesmo estilo de vida que ela viveu, era ver-se ao espelho no pior de si. Para não doer, evitava-o. Deixava-o sozinho – como sempre! Sem conseguir adormecer, Nélia decide que não pode continuar nestes lamentos sem nada fazer. Desistir do filho e pensar agora em si, foi o que todos a aconselharam e está a dar resultado: está a tratar-se da depressão e do alcoolismo, cuida da sua imagem, cuida da alimentação, passou a encontrar-se com amigas. Agora, já se sente pessoa e com esperança no futuro. Mas, “Alberto estraga tudo”, costuma queixar-se. Hoje, reolhando para a vida de ambos, decidiu que não vai mais abandonar o filho. Não vai permitir-se acreditar que ele não tem solução. Se ela vê nos erros de Alberto o espelho dos seus, também pode ver nas suas próprias conquistas o espelho das possibilidades do filho. E vai lutar

tanto por isto que ele vai encontrar a mãe que no passado procurou e não encontrou. Se ela foi capaz de acordar de um pesadelo, porque não ele? E que melhor forma de viver do que ajudar alguém a viver? Nasceu o sol. Nélia levantou-se decidida a criar mudança. Espreitou o quarto de Alberto. Deitado sobre a cama ainda com o vestuário com que chegara, era a imagem do abandono de si. Nélia não sente a revolta habitual. Ao contrário, sente-se desafiada a cuidar do filho, com vontade de o abraçar. Cobre-o carinhosamente com uma manta e passa-lhe a mão pelos cabelos, como nos seus sonhos. Está a experimentar em si um amor que desconhecia. Descobri-lo esta manhã foi a coisa mais maravilhosa que lhe aconteceu. Quer que o filho o sinta também! Quando ele acordar, saberá que a mãe cuidou dele durante a noite. E o “bom dia” que a mãe lhe dará, inesperado, vai dar-lhe cor ao dia – porque será acolhido tal como é, e em paz! E porque ela não desiste, um dia, também Alberto descobrirá em si a medida do seu amor e quanto ele transforma!

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mundo missionário texto E. AssunçãO fotos LUSA

Mais de 300 mil vítimas da fome em Moçambique

visita do Papa À COREIA gera onda de entusiasmo

O ministro da Agricultura de Moçambique, José Pacheco, admitiu numa entrevista recente que uma grave carestia está a flagelar mais de 300 mil moçambicanos nas regiões centrais e meridionais do país. Segundo as informações do governante, o grave fenómeno é consequência de diversos fatores, entre os quais a seca, aluviões e pragas de insetos. Os animais selvagens, como elefantes e hipopótamos, também contribuíram para agravar o flagelo, destruindo as colheitas. O governo está a desenvolver esforços para socorrer as populações e promover o cultivo de géneros alimentares. Estão a ser concedidos subsídios aos agricultores para adquirir sementes, fertilizantes e alfaias agrícolas, assim como apoio para irrigação dos campos.

A Igreja da Coreia do Sul está a registar um autêntico “boom” de adesões ao “Asian Youth Day” – Jornada Asiática da Juventude – que terá a participação do Papa Francisco, de 14 a 18 de agosto. A preparação da jornada, que envolve a Igreja Católica e todo o país, está a processar-se a grande ritmo para acolher jovens de 29 países da Ásia. O governo criou um grupo de apoio à comissão da Igreja, formada de leigos e bispos, cujos trabalhos decorrem com grande intensidade. Durante a visita do Papa terá lugar a beatificação de 124 novos mártires coreanos, um acontecimento que toca profundamente o coração do povo coreano. Esta é a terceira visita de um Papa à Coreia do Sul, depois das visitas de João Paulo II em 1984 e 1989.

Ide por todo o mundo

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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Falar de trabalho missionário, outrora consistia em descrever a ação de alguém que tendo sido enviado além fronteiras aí se dedicava a tornar Cristo conhecido. Havia quem enviava e havia quem era enviado. Nos últimos tempos, porém, encontrando-me ao serviço do governo geral do Instituto da Consolata, em Roma, tenho notado com agrado e surpresa que os superiores não só enviam mas consideram-se enviados também eles. O Superior Geral e os seus quatro conselheiros passam bem pouco tempo na casa geral em Roma e no momento em que escrevo encontram-se todos em Fátima para duas semanas de atividade e


No Dubai a maior paróquia do mundo

Sri Lanka ACUSADO DE VIOLAR DIREITOS HUMANOS

Localizado na costa do Golfo Pérsico, o emirado do Dubai é o mais populoso entre os sete emirados árabes. A cidade do Dubai, conhecida mundialmente pelo seu estilo moderno e futurista, alberga uma comunidade católica na paróquia de Santa Maria, porventura a maior do mundo, constituída por 400 mil fiéis. O espaço da igreja, com capacidade para acolher 1.700 pessoas, torna-se demasiado pequeno para a multidão de fiéis que participam na Eucaristia dominical e até durante a semana. Para que todos possam participar torna-se necessário o apoio de altifalantes e ecrãs gigantes colocados na praça em frente do templo. Nas maiores celebrações litúrgicas a multidão chega a 20 mil fiéis. A maior parte são trabalhadores imigrantes provenientes da Índia e das Filipinas. Cerca de 85 por cento da população do Dubai é estrangeira.

Mais de 200 sacerdotes e 100 religiosas escreveram uma carta às Nações Unidas a exigir uma “intervenção internacional” para defender os direitos humanos no Sri Lanka. Os signatários denunciam as violações do direito humanitário, ocorridas durante a guerra civil e que ainda hoje continuam a acontecer no país. A carta dirigida ao conselho da ONU para os direitos humanos tem como primeiro signatário Rayappu Joseph, bispo de Mannar, que é definido como o “Romero do Sri Lanka”, e que tem sido sujeito a pressões e ameaças de morte. Passados cinco anos após o fim da guerra, “desaparecimentos, abusos sexuais, prisões, detenções e torturas em nome do antiterrorismo, restrições à liberdade de reunião, de expressão, de associação e de movimento mantêm-se ainda hoje”, denunciam os religiosos. “Os defensores dos direitos humanos são acusados de serem apoiantes do terrorismo e traidores”. Os signatários pedem à ONU que investigue as violações dos direitos humanos internacionais e do direito humanitário no tempo da guerra civil.

programação ao lado dos confrades de Portugal. É belo este novo estilo: quem envia não permanece distante dos enviados, mas são os próprios membros do conselho geral que passam mais de metade do seu tempo no campo da missão. Com a facilidade e rapidez dos transportes e dos meios de comunicação social dos nossos dias é possível ser ao mesmo tempo superior em Roma e missionário da linha da frente no Brasil ou noutro país. Peço orações para que este entusiasmo de ir por todo o mundo nos contagie a nós os membros da família da Consolata, e vos contagie também a vós, amigos leitores.

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a missão hoje

Alessandra Pulina trabalhou com a população marginalizada na Colômbia

“Acredito na formação e promoção humana” Sem pressas e com muita disponibilidade para ouvir, a irmã Alessandra Pulina partiu em missão para a Guiné-Bissau, onde espera continuar o seu apostolado de promoção espiritual e humana. Vai reforçar a equipa de missionárias da Consolata que trabalham no país há mais de 20 anos texto FRANCISCO PEDRO foto DR Se é verdade que o ambiente onde se cresce tem influência na formação da personalidade, então Alessandra Pulina, 40 anos, é disso um bom exemplo. Natural da Sardenha, uma bonita ilha italiana do mar Mediterrâneo, habituou-se a conviver ao ar livre, em contacto com a natureza e rodeada de pessoas “simples e diretas”. Aos 18 anos, descobriu o mundo da missão e deixou-se envolver num universo até então desconhecido, durante um campo de trabalho orientado por três missionários da Consolata. Sentiu que Deus lhe “estava a bater à porta”, mas precisava 10

de mais certezas. Durante os anos de universidade, participou em ações de voluntariado, ajudou a formar jovens, e foi partilhando desejos e dúvidas com os religiosos e religiosas que encontrava pelo caminho. Um caminho que a ajudou a consolidar a fé e a vontade de enveredar por uma vida missionária, de ser mais “um grão de areia” na imensa praia de Deus. “Foi na Casa Allamano que me senti em família e percebi claramente que era aquele o estilo de vida que se encaixava com tudo o que ia descobrindo no meu


palavra de colaborador

“Foi na Casa Allamano que me senti em família e percebi claramente que era aquele o estilo de vida que se encaixava com tudo o que ia descobrindo no meu interior mais profundo”, recorda Alessandra

interior mais profundo”, recorda Alessandra. Feita a escolha, a entrada na comunidade das missionárias da Consolata aconteceu logo após a conclusão da licenciatura em Pedagogia. Seguiu-se uma missão na Colômbia e uma incursão na costa das Caraíbas, para um contacto com o povo afrodescendente que vive numa região de fronteira em situação de marginalização. Aí, ficou contagiada com a alegria dos jovens, “com a sua extraordinária capacidade de enfrentar situações adversas, desejo de melhorar as perspetivas de futuro e esperança numa mudança do rumo dos seus destinos”. E foi com este espírito que partiu para uma nova missão, desta vez na Guiné-Bissau. Pouco conhece do país, e muito menos da instabilidade política e social que o flagela. Mas encara isso como uma vantagem, pois na mão leva apenas “um bilhete de ida” – como todo o bom missionário – e na bagagem transporta uma vontade imensa de “falar pouco e escutar muito”, para melhor acolher e evangelizar. “Não acredito nos grandes acontecimentos. Geralmente, a esperança e a novidade surgem a partir do povo, das pessoas simples, das que não ficam à espera de ocasiões especiais mas se envolvem no dia a dia. Acredito na formação. Formação que por vezes se chama alfabetização, outras promoção humana, outras educação, e outras ainda preparação de líderes. Uma formação que permita aos guineenses e às guineenses uma maior possibilidade de escolha nas decisões pela construção do seu próprio futuro”, destaca a religiosa.

Alma missionária texto DARCI VILARINHO A Fernanda não se ocupa só das assinaturas da Fátima Missionária, mas também das publicações de outros institutos que se dedicam à evangelização. “Foi a minha tia que me transmitiu este espírito missionário”, diz alto e bom som esta dinâmica colaboradora. Natural de Azinheira, Rio Maior, Fernanda Vargas é casada e tem uma filha e uma neta. O trabalho numa fábrica de pão e pastéis de nata congelados não a impede de dedicar-se de alma e coração a esta grande causa. “Fazer a cobrança das assinaturas é por vezes difícil – diz ela sem rodeios. Por isso pago sempre em janeiro e depois fico à espera que as pessoas me entreguem o dinheiro da assinatura. Confio. Faço-o porque se trata de uma revista missionária, e como ajuda à vossa missão. Digo sempre às pessoas: já que não podes ir tu, ajuda os outros a partir”. E acrescenta: “Faço-o com muito gosto, mas é difícil. O que a gente dá nunca faz falta”. É o seu coração generoso e entusiasta que a move nesta ação solidária.

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a missão hoje

desafio novo em nome da dignidade da pessoa humana e da vitalidade da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Releiam-se os textos do Concílio, relembre-se a atualidade da Encíclica “Pacem in Terris”. A missão que nos é proposta por João XXIII mantém-se plenamente atual.

JOÃO XXIII E JOÃO PAULO II UMA MISSÃO COMUM mais o centro da globalização, o antigo Núncio na Turquia e Arcebispo de Veneza abriu horizontes e propôs uma especial atenção e cuidado aos sinais dos tempos. E que estava em causa?

texto Guilherme d’Oliveira Martins fotos LUSA Pode dizer-se que a memória de João XXIII e de João Paulo II chega aos nossos dias como marco de diferenças e complementaridades. Lembramos o sentido profético da decisão do Cardeal Roncalli ao convocar o Concílio Ecuménico Vaticano II. Compreendendo que o mundo estava em acelerada mudança e que a Europa não era 12

O entendimento do pluralismo, do papel crescente da laicidade, o diálogo entre religiões, a abertura a todos os homens e mulheres de boa vontade, a liberdade religiosa, a paz e a justiça. Longe de ter sido o Papa de transição que muitos julgavam que viesse a ser, João XXIII abriu um novo capítulo na vida da Igreja Católica, pondo-a em maior contacto com o Mundo Contemporâneo e chamando o Povo de Deus ao movimento, ao compromisso e à ação, no sentido do ser e do agir. Daí que as Constituições “Gaudium et Spes” e “Lumen Gentium” sejam documentos incindíveis. Não se tratava de completar o Concílio Vaticano I, mas de lançar um

Se pensarmos no Cardeal Woytila encontramos um mesmo sentido profético na sua ação determinada. Foi um Pontífice peregrino, que foi até aos confins da terra, como missionário do novo tempo. Dir-se-á que tirou as devidas consequências da herança de João XXIII e de Paulo VI. Assim foi. Adotou, por isso, o nome dos dois, João e Paulo, com evidente intencionalidade. Invocou o gesto inicial de João e a determinação continuadora de Paulo. João Paulo II, no seu magistério, deu passos decisivos no sentido de alargar ao mundo a mensagem da Boa Nova. Vindo do centro e do leste da Europa e projetando a sua presença no hemisfério sul mudou a face da Igreja, tirando as devidas consequências do gesto audaz do Papa Roncalli e da força lúcida do Pontífice Montini. Ambos foram fazedores de pontes, com repercussões que hoje sentimos quer na sabedoria de Bento XVI e na sua proposta de Fé e de Razão, de Amor e Esperança, quer na proximidade do Papa Francisco, que de um modo muito próprio continua o compromisso assumido na missão comum dos dois Papas cuja canonização celebramos – São João XXIII e São João Paulo II. As diferenças e as complementaridades são caminho, verdade e vida. texto conjunto MISSÃOPRESS


destaque

mais importantes em águas profundas e navegável durante todo o ano, que já foi tomada pelas milícias pró-russas. Para além disso, pretende impor um acordo procurando delimitar até onde poderá ser considerado aceitável o alargamento da influência da União Europeia ao Leste.

Uma contabilidade difícil

O Braço-de-ferro da Ucrânia

Demasiado fortes, demasiado dependentes

texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA Meses de manifestações e confrontos, um país à beira da guerra civil, um Presidente que foge e se refugia num país vizinho, um Estado que decide ir em auxílio das populações que falam a sua língua, regiões que declaram a sua autonomia e decidem aliar-se a países vizinhos, após uma intervenção militar? A Europa vive uma das suas maiores crises diplomáticas do período pós guerra-fria, para delimitar as fronteiras da sua repartição do poder. A decisão do ex-Presidente Ianukovitch de pôr termo ao acordo de associação com a União Europeia foi claramente sentida como uma cedência às pressões de Moscovo no sentido de manter a Ucrânia na sua esfera de influência. Essa decisão abriu antigas feridas internas entre os que não esquecem o domínio,

as perseguições e as deportações impostas ao povo ucraniano no tempo da União Soviética e os que sempre se sentiram mais próximos de Moscovo do que de Bruxelas. A invasão da Crimeia, em nome da defesa das populações russófonas, seguida do referendo com vista à sua integração na Rússia e a movimentação das tropas de Moscovo ao longo da fronteira da Ucrânia criaram uma situação de desconfiança entre os dois países que a diplomacia internacional dificilmente conseguirá resolver nos próximos anos. Nesse sentido, dir-se-ia que a Ucrânia entrou na segunda fase da sua independência, após 1991: a da libertação da tutela de Moscovo. Vladimir Putin está interessado em preservar a base da marinha russa em Sabastopol, uma das

O atual conflito colocou frente a frente forças com demasiado poder para arriscarem uma guerra, pelo que a saída deste conflito deverá realizar-se quer por via negocial, quer por via de sanções económicas. Mas também aqui as decisões não serão tomadas com base numa contabilidade fácil. A Ucrânia tem um acordo de cedência de utilização da base naval por parte das forças russas até 2042, que lhe garante uma redução em 30 por cento dos custos do seu consumo energético em gás fornecido por Moscovo, que corre o risco de terminar agora. Também a Alemanha recebe 35 por cento de gás natural da Rússia através dos gasodutos que atravessam a Ucrânia, e é um dos principais investidores estrangeiros na Rússia. A economia russa também depende fortemente das suas exportações de gás para a Europa. A fuga de capitais e a desvalorização do rublo (a moeda oficial russa), precipitaria a queda das taxas de crescimento económico. Neste quadro, Rússia, Estados Unidos da América, Ucrânia e União Europeia enfrentam o desafio de encontrar uma solução para as suas divergências sem que nenhuma das partes perca a face. Na realidade, são demasiado fortes e demasiado dependentes para levarem longe a lógica do conflito. Talvez esta não seja a melhor razão para a paz, mas é uma boa via para evitar a guerra.

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atualidade

“Temos que mudar a compreensão do ministério e dos sacramentos” A solução para enfrentar a falta de vocações na Europa não passa só por África. Para Salvador Medina, conselheiro geral dos Missionários da Consolata para o continente americano, o futuro convida também a uma nova forma de encarar a celebração dos sacramentos e a uma maior integração dos leigos texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA

FÁTIMA MISSIONÁRIA Enquanto colombiano e conselheiro geral para a América do Instituto Missionário da Consolata (IMC) tem contactado de perto com novos movimentos sociais, sobretudo os indígenas. São visões muito diferentes das europeias…

No fundo, têm o sonho da terra sem males, que é uma utopia mas que, em alguns lugares, está a concretizar-se.

como multiétnicos, pluriculturais, multilingues e, consequentemente, a mudar as políticas educativas, económicas e territoriais.

FM São grupos que se pensava estarem condenados à extinção?

FM Essas mudanças fizeram-se sentir também ao nível da prática religiosa?

Salvador Medina Os novos grupos sociais, inspirados na espiritualidade e filosofia dos povos originários do continente americano, têm uma proposta a que chamam de projeto de vida, que assenta no bom viver, o que não é igual a viver bem. É uma vida com qualidade mas em comunhão com toda a criação e não apenas com os seres humanos. Eles respeitam a mãe terra, o cuidado da criação, a partilha da terra – que é comunitária – e os produtos da terra, que devem ser distribuídos.

SM Sim, mas de há 50 anos para cá, têm vindo a levantar a mão e a dizer: “Eu estou aqui”. Estão organizados a nível continental e nacional e têm adotado uma filosofia de vida e uma espiritualidade, com formas próprias de ser, de viver, de trabalhar e legislar. Com isto, têm-se tornado os novos sujeitos sociais na construção das nações, ao ponto de as terem levado, pela pressão, a redefinir as suas constituições, a declarar os países

SM Na verdade, era um continente muito ligado à religião católica, mas depois chegou o pluralismo que trouxe de volta as práticas religiosas ancestrais e levou a Igreja Católica a admitir que os indígenas tinham a sua religião, os afros tinham a sua religião, portanto, era preciso dialogar. Depois, surgiu a invasão do neopentecostalismo, oriundo sobretudo da América do Norte, que gerou muitos movimentos religiosos, igrejas e até seitas.

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Nós, missionários da Consolata, sempre tivemos um conceito de animação missionária que pensava na missão vista a partir da Europa, uma missão que ficava longe. Isso parecia bem à comunidade cristã de cá e favorecia as comunidades de lá. Agora a missão chegou, como uma exigência, também aqui

FM Isso aconteceu naturalmente ou foi facilitado por um certo entorpecimento da Igreja Católica? SM Digamos que tudo se junta. Porque, por um lado, tem havido alguma acomodação da Igreja Católica e, por outro, tem-se assistido ao florescimento do pluralismo, da liberdade, que reconhece direitos e diferenças. Ao mesmo tempo, a Igreja ao não apoiar a teologia da libertação e as comunidades eclesiais de base, deixou-nos um pouco divididos internamente, dando espaço para tudo.

Perfil Salvador Medina, de 64 anos, nasceu em Aguadas, província de Caldas, na Colômbia. Foi ordenado sacerdote em maio de 1982, em Bogotá, e Superior Provincial dos Missionários da Consolata na Colômbia-Equador. Integra a direção-geral do IMC, como conselheiro geral para a América.

FM A África pode ser a salvação da Igreja Católica na Europa em termos de vocações? SM Penso que não. É verdade que temos crise de vocações, mas depende de que lado estamos a olhar. Acho é que a Igreja tem que florescer em África e o velho continente tem que mudar. Não sei qual o caminho a seguir para garantir a Eucaristia nas comunidades, mas não temos que trazer os missionários todos de África. Temos é que mudar a compreensão do ministério e dos sacramentos. Pode ser que o caminho seja desclericalizar.

SM Nós, missionários da Consolata, sempre tivemos um conceito de animação missionária que pensava na missão vista a partir da Europa, uma missão que ficava longe. Isso parecia bem à comunidade cristã de cá e favorecia as comunidades de lá. Agora a missão chegou, como uma exigência, também aqui. Já não podemos ficar a animar para uma missão que está longe. Temos que animar para uma missão ‘ad gentes’, para os não cristãos que estão no meio de nós. E a estes que estão no meio de nós damos o nome de missão ‘inter gentes’. Não se podem perder os muitos anos de caminhada na abertura da solidariedade para a universalidade. Mas a promoção humana transforma-se mais numa formação, em vez de uma ação suportada por estruturas físicas. Hoje, trabalha-se mais pela construção de cidadania, consciência dos direitos humanos, dos direitos dos povos e do direito da terra.

FM Essa necessidade de mudança é sentida também no campo da animação missionária? Abril 2014

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atualidade

Francisco Crespo tem sido o timoneiro do projeto social na paróquia de São Vicente de Paulo

O apoio à terceira idade foi uma das primeiras apostas do Centro Social e Paroquial

Um “oásis” de solidariedade social O Centro Social e Paroquial de São Vicente de Paulo, instalado há 55 anos na encosta de Monsanto, tem conseguido resistir às convulsões sociais e políticas e assume-se hoje como uma instituição que está na vanguarda no apoio social a crianças, idosos e deficientes texto FRANCISCO PEDRO fotos ANA PAULA Encaixado entre dois bairros esquecidos pelo poder político e nem sempre bem frequentados, na zona periférica da cidade de Lisboa, o Centro Social e Paroquial de São Vicente de Paulo exibe-se, imponente, como uma espécie de “oásis” da solidariedade social. As paredes de branco imaculado, em contraste com os grafitis revolucionários distribuídos de forma anárquica pelas construções circundantes, espelham bem o respeito que os habitantes dos bairros da Serafina e da Liberdade nutrem por esta obra, construída a pulso, ao longo dos últimos 55 anos. Os alicerces foram lançados pelos Vicentinos, nos idos anos 20 do século passado, mas foi a chegada do missionário da Consolata, padre José Gallea, em 1958, que deu um importante impulso ao projeto. Visionário e dinâmico começou por criar as primeiras respostas sociais, servindo-se de 16

pré-fabricados para acompanhar crianças, jovens e adolescentes carenciados. Tinha o sonho de erguer uma obra que respondesse às necessidades da população, naquele tempo afetada pela fome e pela falta de assistência médica. Mas conseguiu deixar apenas uma semente do fruto que pretendia ver prosperar, pois em 1961 foi transferido para outras paragens. Seguiu-se um período de degradação da obra já construída, devido à mudança sucessiva de párocos, até que, na revolução de abril, os movimentos extremistas se apoderaram das instalações, deixando pouca margem de manobra aos sacerdotes ali colocados. Quando Francisco Crespo, missionário da Consolata, chegou à paróquia, em 1977, encontrou um cenário desolador. “Não havia ninguém que quisesse aqui ficar, estava tudo destruído e era preciso

começar do zero”, recorda o agora cónego e diretor do Departamento da Pastoral Sócio-Caritativa do Patriarcado de Lisboa. Consciente de que o caminho teria

Com os olhos na missão As inúmeras atividades e ocupações do cónego Crespo não o fazem esquecer os desígnios missionários. Imbuído desse espírito, promoveu um ação de solidariedade na paróquia de São Vicente Paulo e conseguiu juntar 8.000 euros para o projeto de alfabetização que os Missionários da Consolata pretendem dinamizar na Costa do Marfim.


A creche e jardim de infância acolhem neste momento 240 crianças

de ser feito por etapas, identificou prioridades e, um ano depois, com a ajuda da Cáritas, tinha a funcionar um pré-fabricado para acolhimento de idosos, um serviço que viria a dar origem ao primeiro Centro de Dia do país. Seguiu-se um espaço provisório para as crianças em idade pré-escolar, em parceria com a Santa Casa da Misericórdia, até à construção de raiz de um jardim de infância, com ATL (Centro de Atividades de Tempos Livres), e a criação de um movimento juvenil.

Caridade com qualidade

À medida que o complexo crescia, os bairros definhavam, muito por culpa da construção da Ponte 25 de Abril e da abertura do Eixo Norte-Sul. As habitações, na sua maioria, transpiravam humidade e iam-se revelando um depósito confrangedor de idosos dependentes e solitários. Francisco Crespo sentia-se incomodado: “Entrávamos nas casas e ficávamos admirados como se conseguia viver assim. Era preciso fazer uma coisa a sério”. Nasce então o lar para a terceira idade. Não satisfeito, e movido pelo lema pastoral “por amor”, o cónego construiu ainda uma creche e um lar para deficientes adultos, muitos deles resgatados das ruas, vítimas de abandono e maus-tratos. O corolário

“A única coisa que me preocupa agora é procurar que o serviço de caridade seja feito com qualidade, que as pessoas sejam bem assistidas, bem acompanhadas, e que haja aqui respeito, formação humana, social e cristã” de toda esta obra surge com uma última construção: uma igreja de linhas arquitetónicas simples, mas com capacidade para 500 pessoas. “De um lado está Cristo que vence, que evangeliza, do outro está todo o exercício da caridade”, explica o pároco de São Vicente de Paulo, para justificar a implantação do templo num lado e de todas as outras valências no lado oposto do complexo. Quem entra neste Centro, dificilmente se apercebe que foi construído por fases, muito menos da sua capacidade de acolhimento. Mas o facto é que, neste momento, os 170 funcionários da instituição cuidam de 790 utentes, dos mais novos aos mais velhos, e asseguram o fornecimento de 1.200 refeições diárias. Quando se pergunta como foi

possível erguer tamanha obra, em contextos sociais e económicos quase sempre desfavoráveis, Francisco Crespo encolhe os ombros e responde de forma desconcertante: “Não posso dizer porque não sei. É daquelas coisas a que chamamos milagre. A verdade é que investi aqui milhões, não pedi um tostão ao banco, não devo nada a ninguém e nunca passei noites sem dormir, preocupado com a forma como havia de pagar. Por isso, é um autêntico milagre, ou de São Vicente de Paulo ou de Nossa Senhora da Consolata”. Em jeito de conclusão, o cónego Crespo traça as linhas com que se cose o dia a dia do Centro Social e Paroquial de São Vicente de Paulo, essa espécie de paraíso social da freguesia de Campolide. “A única coisa que me preocupa agora é procurar que o serviço de caridade seja feito com qualidade, que as pessoas sejam bem assistidas, bem acompanhadas, e que haja aqui respeito, formação humana, social e cristã”.

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dossier

custos Previstos quatro mil milhões de euros em gastos com a campanha eleitoral

QUANDO A ÍNDIA FAZ ELEIÇÕES, 814 MILHÕES VOTAM POR VIDA MELHOR

É necessário mais de um mês para pôr os indianos a votar. As legislativas começam dia 7 de abril, nos estados de Assam e Tripura, e terminam a 12 de maio no Bihar, Uttar Pradesh e Bengala Ocidental. Ao todo são nove fases, com os resultados a serem divulgados dia 16. Saber-se-á nessa altura se os 814 milhões de eleitores preferiram manter o Partido do Congresso ou se, como as sondagens indicam, vão eleger primeiro-ministro Narendra Modi, um nacionalista hindu. É o destino da segunda nação mais populosa do mundo que está em causa texto Leonídio Paulo Ferreira* fotos LUSA


Um dos mais míticos magnatas indianos, Ratan Tata, terá dito um dia que “se alguém tem negócios e não investe no Gujarate então é estúpido”. Esse estado do ocidente da Índia ganhou fama por oferecer uma versão desburocratizada do país, com boas estradas e sem cortes de eletricidade. E o homem que recolhe os louros por esse sucesso é Narendra Modi, há mais de uma década ministro-chefe e agora favorito na corrida a

primeiro-ministro, que se cumpre, por etapas, entre 7 de abril e 12 de maio.

população sobrevive com menos de um euro por dia, um punhado de rupias.

Depois de ter crescido vários anos acima dos oito por cento (e em 2010 até acima dos 10 por cento), a economia indiana desacelerou para apenas 3,2 por cento no ano passado, insuficiente para reduzir a pobreza num país que é a décima potência mundial, e um colosso tecnológico, mas onde um terço da

Em queda de popularidade está o Partido do Congresso, que conduziu o país à independência em 1947 (arrancada aos britânicos) e governou dois terços do tempo desde então. Não deverá repetir o triunfo de 2009 e mesmo a aposta em Rahul Gandhi para liderar a campanha, em vez do desgastado


primeiro-ministro Manmohan Singh, pouca diferença fará. Se os resultados da governação estivessem a ser bons, talvez o herdeiro da mais famosa dinastia política indiana pudesse cavalgar a aura familiar, mas assim há até quem julgue que é um passo errado. A imprensa prevê a mais cara campanha eleitoral de sempre, com gastos na ordem dos quatro mil milhões de euros. É um sinal do envolvimento dos meios empresariais, fortes por trás de Modi, o candidato dos nacionalistas hindus do BJP, partido que quando esteve no poder foi visto como ainda mais reformista que Singh, que em 1991, como ministro das Finanças, decidiu abrir a economia indiana, desistindo de certo estatismo herdado de Jawaharlal Nehru e do Mahatma Gandhi. Boa parte do esforço de comunicação do BJP é para melhorar a imagem de Modi, suspeito durante anos de ter fechado os olhos a um massacre de muçulmanos. O voto das minorias religiosas (os muçulmanos são 150 milhões) e a força dos partidos regionais ou representativos das castas desfavorecidas no parlamento vão acabar por ser decisivos, até porque Modi, se vencer, será sem maioria absoluta. Resta saber se é possível encontrar uma fórmula de crescimento económico que, além de criar milionários e fazer prosperar a classe média, consiga também arrancar da pobreza centenas de milhões de pessoas. É esse o grande desafio àquela que é, com toda a justiça, chamada de a maior democracia do mundo. * jornalista do DN

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Rahul Gandhi

Filho, neto e bisneto de primeiros-ministros, Rahul Gandhi não assume ser candidato ao cargo, mas lidera a campanha do Partido do Congresso, desde a conquista da independência pela Índia em 1947 quase um feudo familiar. Hoje vice-presidente do partido, sabe que repetir o triunfo de há cinco anos é quase impossível, dada a perda de velocidade da economia e a aura de vencedor que rodeia Narendra Modi, o seu grande rival. Por isso esta campanha será um teste à nova geração dos Nehru-Gandhi, encarnada por Rahul e a irmã

Ilhas Cristãs em Mar Hindu O catolicismo chegou à Índia levado pelos portugueses, mas quando as caravelas de Vasco da Gama aportaram em Calecute descobriram que naquelas terras havia já cristãos. Seguiam o rito ortodoxo sírio e eram conhecidos por cristãos de São

Priyanka. Filho de Rajiv Gandhi e da italiana Sonia (eram colegas em Cambridge), Rahul sofreu o duplo choque do assassínio da avó Indira e do pai e durante anos estudou nos Estados Unidos da América e na Grã-Bretanha, com a mãe a querer mantê-lo afastado da política e do perigo. Mas Sonia, ela própria, decidiu a partir de certo momento assumir o seu destino de chefe do clã e do partido e só não é hoje primeira-ministra da Índia, cedendo o lugar a Manmohan Singh, porque quis evitar polémicas com as suas raízes estrangeiras. Sobre as capacidades de Rahul, de 43 anos, existem algumas dúvidas: os telegramas dos diplomatas americanos revelados pelo wikileaks descrevem-no como “sem consistência”. Continua também por perceber como vai conciliar o seu discurso contra as dinastias na política indiana com a sua própria condição de famoso herdeiro.

Tomé, por se acreditar que o apóstolo teria vindo para Oriente espalhar a mensagem de Jesus. Hoje os cristãos indianos de toda as confissões (há também anglicanos) serão cerca de 30 milhões, menos de três por cento da população, e a maioria usa apelidos portugueses, como Fernandes, Dias, Mascarenhas ou De Souza. Já houve vários ministros cristãos, como Eduardo Faleiro


China

Paquistão Nepal

Deli

Butão Bangladesh

ÍNDIA

Narendra Modi

Esteve até há poucos meses na lista negra dos Estados Unidos da América, que lhe recusavam visto de entrada no país, mas com o aproximar das eleições gerais em que é favorito começou a ser frequentado por diplomatas dispostos a esquecer os problemas de 2002. Na época, Narendra Modi era já ministro-chefe do Gujarate e viu-se acusado de nada ter feito para travar a onda de violência inter-religiosa que fez dois mil mortos, sobretudo muçulmanos. O pertencer aos nacionalistas hindus do BJP, onde certas fações insistem em ver

ou George Fernandes, e em geral a comunidade está bem integrada. Da presença portuguesa, que em Goa durou até 1961, ficaram os nomes mas também as igrejas brancas que marcam a paisagem da costa do Malabar, essa que o descobridor do caminho marítimo avistou em 1498.

os indianos que seguem o Islão como descendentes dos antigos invasores, reforçaram a desconfiança sobre a atitude de Modi, que sempre se declarou inocente. Com o passar dos anos, a maioria dos indianos passou, porém, a dar especial crédito a Modi pelo seu desempenho económico, que fez do Gujarate, com os seus 60 milhões de habitantes e tradição mercantil, um destino privilegiado do investimento estrangeiro na Índia. Pouco a pouco, esse estado ocidental tornou-se um pequeno dragão, mais dinâmico que o resto da Índia, apesar de persistirem as desigualdades. Aos 63 anos, este filho de um vendedor de chá que subiu a pulso na vida (um contraponto importante com Rahul Gandhi, oriundo da elite) é dado como provável primeiro-ministro, mas quase de certeza terá de negociar apoios com a multiplicidade de partidos regionais e de casta que pululam no país.

Calcutá Burma

Bombaim

Baía de Bengala

Goa

Oceano Índico

Sri Lanka

O GIGANTE EM NÚMEROS 1210 milhões de habitantes 6 países fronteiriços (sete se

contarmos toda a Caxemira reivindicada pela Índia) 28 estados e sete territórios 22 línguas oficiais (hindi e inglês usadas na administração central) 6 religiões principais (hinduísmo representa 80 por cento da população) 5 castas 70 por cento de população rural 56,5 por cento dos indianos não têm acesso a água potável 33,3 por cento das casas não têm eletricidade 66 anos de esperança média de vida 22 bebés em cada mil morrem antes de completarem um ano 33 por cento da população vive com menos de um euro por dia 37 por cento de analfabetismo entre os adultos 98 por cento das crianças frequentam a escola primária 1,2 por cento da riqueza nacional aplicado na saúde 136.o no índice de desenvolvimento humano da ONU 10.o a potência económica mundial 3. maior consumidor mundial de energia 3,2 por cento de crescimento do PIB em 2013 56 magnatas indianos na lista da revista 'Forbes' 18,6 mil milhões de dólares é a fortuna de Mukesh Ambani, o mais rico indiano 82 mil livros publicados por ano (dos quais 21 mil em hindi e 18 mil em inglês) 4 milhões de exemplares diários do 'Times of India', o maior jornal de língua inglesa do mundo 1000 filmes ou mais por ano Abril 2014

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gente nova em missão

Páscoa Vamos viver com alegria o ressuscitar de Jesus Cristo

CELEBRAR A MISERICÓRDIA Olá amiguinhos! Neste mês celebramos a vitória da vida e do amor: a ressurreição de Jesus, o renascer para uma vida nova, livre e feliz. Pela misericórdia de Deus, pelo seu imenso amor, ressuscitamos com Cristo para a verdadeira vida. Exultemos de alegria, porque neste ano, vamos viver de forma especial o “Domingo da Divina Misericórdia”: a Igreja vai “ganhar” um novo santo, (ainda) beato João Paulo II texto CLÁUDIA FEIJÃO ilustrações RICARDO NETO

Deus ama-me imensamente

“Deus ama-nos sem medida, ama-nos infinitamente!” É esta a mensagem que Jesus coloca no nosso coração: Deus nosso Pai ama-nos sem medida! Ele é misericordioso. E quem ama quer sempre o melhor para o ser amado. Qual de vocês não quer o melhor para os pais, os irmãos, os avós, os amigos? Mesmo quando se portam menos bem (e por vezes até repetem o erro) eles fazem-vos entender que não devem fazer isto ou aquilo sem, no entanto, deixarem de vos amar. 22


Momento de oração

Não vos lembra nada, este grande amor?

Jesus contou uma história sobre um filho que escolheu ir viver longe do Pai, mas algum tempo depois voltou e foi recebido por Ele com grande alegria. Lembram-se? Boa! Ouvi o que todos disseram em uníssono: é a parábola do filho pródigo, ou melhor, do Pai misericordioso. Aquele Pai não deixou de amar o filho porque ele optou por determinado caminho. Ele aguardou o regresso do filho, o que aconteceu quando este compreendeu a má decisão que tomara e se arrependeu. E o Pai, mal o avistou, correu cheio de amor para abraçá-lo. Deus é este Pai misericordioso que perdoa os nossos erros, por mais graves que sejam, e nos faz renascer para a verdadeira vida, sem pecado. Deus não se cansa de amar e de perdoar os seus filhos, respeita as decisões de cada um e recebe-os de braços abertos. “O Senhor não se cansa de perdoar, os homens é que se cansam de Lhe pedir perdão”, diz o nosso Papa Francisco. Por isso, tal como aquele filho, também nós devemos ser corajosos e “regressar” sempre ao Pai, independentemente dos nossos erros, e pedir-lhe perdão, pois Ele é paciente e misericordioso, e espera sempre por nós.

Obrigado Senhor por me amares sem condições Faz com que eu seja também misericordioso para com todos e dá-me força para proclamar a Tua Misericórdia a todas as pessoas, a fim de que descubram a felicidade que é viver contigo e para Ti. Pai Nosso e Glória…

Mais um Santo na Igreja

Este ano, o “Domingo da Divina Misericórdia”, que é o domingo a seguir à Páscoa, vai ser celebrado com alegria acrescida: o beato João Paulo II vai ser declarado santo. Será canonizado pelo Papa Francisco. O dia escolhido não podia ser mais adequado! Sabem porquê? Foi o Papa João Paulo II que no ano 2000, na cerimónia de canonização de Santa Faustina, e cumprindo o que Jesus pedira a esta apóstola da misericórdia, determinou que o segundo domingo da Páscoa fosse designado “Domingo da Divina Misericórdia”. Mais: o dia 2 de abril de 2005, dia em que ele partiu para junto do Pai, era precisamente véspera do Domingo da Divina Misericórdia. E mais ainda: foi no dia da “Divina Misericórdia” que ele foi beatificado. Alegremo-nos pois, amiguinhos, e digamos: São João Paulo II, rogai por nós!

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tempo jovem

Crescer forte e saudável Há dias, num encontro com profissionais da saúde, ouvi um comentário sobre a imensa quantidade de pessoas com doenças de todo o tipo que têm surgido nestes últimos tempos. Um facto paradoxal, já que vivemos numa época de grandes avanços na ciência e mergulhamos, ao mesmo tempo, numa exagerada cultura da imagem e de cuidados excessivos com o corpo texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA Pessoalmente, acho que muitas das doenças que afetam o organismo humano são fruto do pouco cuidado e atenção na nossa saúde mental e afetiva. Não é novidade saber que o nosso estado de ânimo tem uma grande influência

subjugados por uma falsa ilusão de felicidade, mas longe da verdade de si mesmos, quem são realmente. Descobrir quem somos, como somos, como sentimos e reagimos, pode ajudar-nos a responder aos muitos

Uma autoestima equilibrada, em detrimento da baixa ou alta autoestima, traz um conjunto de efeitos benéficos para a nossa saúde e qualidade de vida. É fácil reconhecer a pessoa com uma autoestima equilibrada pela sua personalidade saudável, pouco conflitiva, e pela sua evidente maneira positiva e satisfatória que tem de perceber e respeitar a vida sobre a evolução, agravamento ou melhoria nas doenças, especialmente nas terminais. Na escola da vida, temos ultimamente deixado de lado a importância do autoconhecimento e da autoestima para dar lugar ao mundo mágico do viver submetidos à aparência e à ditadura do “vale tudo” e do “faço o que me apetece”, sem medir limites nem consequências. É um mundo surrealista que nos faz esquecer que não estamos sós e que “o outro” acaba sempre por delimitar a nossa área de vivência e ação. Tenho constatado em muitos casos que, quando a doença é de tipo psicossomático, ou seja, provocada por um mal-estar psico-emocional, na maioria das vezes, acaba por fazer ver aos doentes que têm andado a caminhar pela vida 24

“porquês” das nossas atitudes e modos de nos relacionarmos com os demais, e aqui estamos a entrar no campo da “autoestima”. Para quem desconhece o significado do termo autoestima é importante saber que ela pode definir-se como a capacidade de valorizar o que pensamos sobre nós mesmos, o que sentimos e a forma como atuamos. Uma autoestima equilibrada, em detrimento da baixa ou alta autoestima, traz um conjunto de efeitos benéficos para a saúde e qualidade de vida. É fácil reconhecer a pessoa com uma autoestima equilibrada pela sua personalidade saudável, pouco conflitiva, e pela sua evidente maneira positiva e satisfatória que tem de perceber e respeitar a vida. Estou convencido que, quanto mais a pessoa se conhece a si mesma,

mais se respeita e respeita as outras pessoas com quem convive e partilha a vida. Deixo-vos um decálogo para aprender a fazer crescer “forte e saudável” a própria autoestima:

1Toma consciência que o teu

comportamento acaba sempre por provocar efeitos nas pessoas que te rodeiam. Pensa sempre nas possíveis consequências, positivas e negativas, daquilo que dizes e fazes.


2 Antes de soltar palavras que

ferem, pergunta-te qual é o objetivo, ou o que pretendes com as palavras que dizes. Se a tua intenção é corrigir ou transmitir um valor, fica sabendo que nunca a via das palavras ou atos violentos dá resultados positivos e provoca melhorias, nem nos outros nem em ti mesmo.

3

Aprende a dar aos outros o que eles esperam realmente de ti. Para isso é preciso “escutar-conhecer-compreender” o outro. Geralmente

damos aquilo que nós queremos ou imaginamos que o outro quer.

4

Procura sempre compreender, e só depois ser compreendido.

5 Assume com maturidade e

valentia a responsabilidade do teu comportamento, atos e omissões.

6

Deixa de lado a “forte tendência e necessidade” que habita no coração do homem de guardar rancor, fomentar inveja e má competitividade.

7 Aprende a rir de ti mesmo. 8 Não procures os aplausos e a

aprovação dos outros.

9

Aceita o fracasso com naturalidade, sem sentimentos de culpa, e vê nele uma nova oportunidade.

10

Assume e desfruta os riscos e os desafios.


sementes do reino

Páscoa: a festa maior Foram quarenta dias de caminhada para chegar à maior das festas cristãs: a Páscoa. Agora é tempo de celebrar. Jesus está vivo, venceu o maior dos inimigos: a morte texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA

Leio a Palavra

Jo 20, 1-9 Tudo começa muito cedo no primeiro dia da semana, quando Maria Madalena vai ao sepulcro para prestar homenagem ao Mestre de Nazaré. O dado cronológico é muito mais que uma simples indicação do dia da semana. Recorda o momento do início da criação do mundo. Quer dizer que estamos perante uma nova criação, a da Páscoa definitiva. O texto é também marcado pelo movimento apressado. A corrida de Maria Madalena para avisar do que tinha encontrado. A corrida rápida do “outro discípulo” e a corrida mais lenta de Pedro. Domina o desconcerto. Maria Madalena assusta-se ao encontrar a pedra removida. Pedro não entende, “o outro discípulo” acredita, mas parece também não entender, pois afirma o Evangelho que ainda não tinham entendido que Jesus devia ressuscitar dos mortos.

Saboreio a Palavra

Maria Madalena representa aqui a comunidade dos discípulos de Jesus. Uma comunidade marcada pela dor. O Mestre já não estava com eles, vão ao sepulcro para lhe prestar homenagem, mas nada encontram… Depois temos as outras duas personagens do Evangelho: Pedro e o “outro discípulo”, que representam as duas atitudes perante o evento da Páscoa de Jesus. Pedro representa aqueles que sentem vergonha com aquilo que acontecera. Aos dois custa-lhes aceitar que Jesus tenha tido que sofrer na cruz, acreditam que a morte pôs o ponto final nesta “aventura”. Por outro lado, temos o “outro discípulo” (será o discípulo amado?) que corre mais veloz, talvez 26

porque mais decidido. Vê e acredita, pois só quem ama pode entender certas coisas. É a imagem ideal do discípulo de Jesus, aquele que está em perfeita sintonia com o Mestre.

Rezo a Palavra

A morte e a ressurreição são mistério. Faça do silêncio a sua oração. Contemple este evento

extraordinário, reviva a corrida dos discípulos. Deixe-se espantar pelo sepulcro vazio.

Vivo a Palavra

A ressurreição significa que agora a morte, a injustiça, o sofrimento deixam de ter poder sobre a pessoa que ama. Agora o cristão faz parte de uma nova vida. Como discípulos devemos ser testemunhas da ressurreição. Não vimos o sepulcro vazio; mas fazemos, todos os dias, a experiência do Senhor ressuscitado. O testemunho será precioso, se for comprovado pelos gestos de Jesus: amor e entrega ao próximo.


intenção pela evangelização

A Palavra faz-se missão ABRIL

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5º Domingo da Quaresma Ez 37, 12-14; Rom 8, 8-11; Jo 11, 1-45 Libertar-se das ligaduras A água, a luz e a vida são signos batismais desta Quaresma e de toda a nossa existência. Pelo batismo fomos sepultados com Cristo para nele ressuscitarmos para uma vida nova. “Lázaro, vem para fora”. Deixar túmulos e ligaduras e acreditar em Cristo, nossa vida e ressurreição. “Quem acredita em mim nunca mais morrerá”. Sigamo-lo. Ponhamos em prática a sua Palavra e levemos a sua vida a quem está amarrado em túmulos e ligaduras. Retira, Senhor, todas as nossas ligaduras e liberta-nos de tudo o que nos impede de caminhar contigo e de viver para ti.

13 Domingo de Ramos

Is 50, 4-7; Filip 2, 6-11; Mt 21, 1-11 De palmas nas mãos Entremos no cortejo de Ramos com Cristo, de palmas nas mãos, cantando hossanas. Entremos com Ele na semana santa da nossa vida. Completemos em nós o que falta à Paixão de Cristo. Vamos todos atrás de Jesus. Vem da sua pessoa o atrativo irresistível, que desperta renúncias e doação total. A sua entrega salvará o mundo. E a oferta da nossa vida também. Ajuda-me, Senhor, a seguir os teus passos, no caminho do calvário e na Páscoa de ressurreição.

20 Domingo de Páscoa

Desde já podemos depositar no nosso coração as sementes dessa ressurreição: dizendo o nosso sim a Cristo, aderindo à sua Pessoa, vivendo cada uma das suas Palavras e procurando com Ele as coisas do alto, os valores que não morrem. A Páscoa de Jesus é a nossa Páscoa. Senhor, que os nossos rostos de cristãos sejam sempre rostos de Páscoa, que iluminem o mundo.

27 2º Domingo da Páscoa

Act 2, 42-47; 1Ped 1, 3-9; Jo, 20, 19-31 O dinamismo da Páscoa Para entender a Páscoa temos que olhar para a comunidade cristã dos primeiros tempos. Vivendo a experiência maravilhosa da ressurreição, os primeiros crentes formavam uma comunidade cheia de vida e dinamismo. Fiéis aos ensinamentos de Jesus e dos Apóstolos, unidos em fraterna comunhão, assíduos à Eucaristia, perseverantes na oração, partilhavam com todos os seus bens e a sua alegria. É com este espírito de comunhão e de missão que se constrói a Igreja. Ensina-nos, Senhor, esta comunhão fraterna, de vida, de oração, de ideais e de bens. DV

Para que o Senhor Ressuscitado encha de esperança o coração daqueles que experimentam a dor e a doença

Esperança para quem sofre O campo do sofrimento humano é muito vasto e diversificado. A medicina, por mais avançada que seja, não consegue chegar a toda a parte. O sofrimento não é só a doença. Há outros males mais profundos e hoje mais difusos, que atingem o ser humano: a ansiedade, a angústia e a desilusão. Dar esperança a quem sofre no corpo ou no espírito é uma obra de misericórdia. De que modo? Responde Jesus: “Vinde a Mim todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei”. E São Paulo: “Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja”.Cada homem ou mulher atingidos pelo sofrimento são uma especialíssima parcela do infinito tesouro da redenção do mundo. A Igreja vê em todos os irmãos e irmãs de Cristo que sofrem uma grande força sobrenatural e um enorme património espiritual. Ter esperança diante da dor é ter a convicção de que o sofrimento não prevalecerá nem privará o homem ou a mulher da sua dignidade e do sentido da sua vida. Alguém dizia e com razão que “a esperança é a poesia da dor, é a promessa suspensa diante dos olhos que choram e do coração que padece”. DV

Act 2, 34-43; Col 3, 1-4; Jo 20, 1-9 Com Cristo, ressuscitámos “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá”. Abril 2014

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o que se escreve João XXIII – Diário da Alma

Um mundo que falta fazer

“No seu labor teológico, Bento Domingues assume uma interrogação permanente sobre as razões da sua fé”. Evidenciam-no as crónicas deste volume que reúne textos saídos no Público de 2003 a 2014, dedicados a questões sociais e políticas: “A presente crise económico-financeira e os estragos que ela está a provocar à democracia e à Europa, a reflexão ética sobre o exercício do poder, o escândalo gritante da miséria de tantos em contraste com a opulência de alguns, a busca da justiça social (…) e o diálogo entre culturas e religiões como caminho para a paz”. Tudo numa linguagem incisiva e lúcida, iluminada pela Palavra da liturgia. Para ler e meditar. Autor: Frei Bento Domingues Organização de António Marujo e Maria Julieta Mendes Dias 510 páginas | preço: 19,90 € Círculo de Leitores

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É uma nova edição de um diário que fez história, onde João XXIII, que neste mês de abril será canonizado em Roma, deixou escritos que espelham a sua vida, “mesmo naquilo que, por detrás do sorriso e por vezes da brincadeira inocente, ele conservou mais ciosamente secreto: a sua oração, a sua alma”. Um diário que vai dos 14 anos até aos 81, poucos meses antes da sua morte. Vale a pena perscrutar a alma deste homem aberto e otimista que não teve receio de convocar o Concílio Vaticano II. Autor: João XXIII 408 páginas | preço: 17,90 € Paulus Editora

O amor ao irmão

Chiara Lubich é uma grande figura carismática do nosso tempo, conhecida pela sua infatigável ação em prol da unidade e da paz. Neste livro, a fundadora do Movimento dos Focolares apresenta-nos a sua experiência de vida. Através de apontamentos, páginas do seu diário, respostas a perguntas e trechos de conferências, traça-nos um caminho experiencial que do amor a Deus conduz ao amor do irmão, e vice-versa, para que a família humana viva mais unida. Autor: Chiara Lubich Elaboração: Florence Gillet 132 páginas | preço: 6,00 € Editora Cidade Nova

A ferida do outro Economia e relações humanas

As sociedades de mercado estão a atravessar uma crise que é essencialmente relacional. Luigino Bruni, professor de Economia Política na Universidade de Milão, compara, neste livro muito interessante, os mercados a campos de batalha onde por vezes as pessoas se ferem reciprocamente. Mas que se podem tornar um espaço de verdadeiro encontro com o outro e até uma bênção se se procura o bem comum e fraterna comunhão. Curiosa e profunda a dedicatória do autor: “a todos aqueles que sabem amar as feridas dos outros transformando-as em bênçãos”. Autor: Luigino Bruni 214 páginas | preço: 12,00 € Editora Cidade Nova

Segui-l’O no caminho

É o segundo opúsculo de uma série de livrinhos do biblista Gianfranco Ravasi num itinerário à descoberta de Jesus de Nazaré, analisado aqui sobretudo na sua faceta de grande comunicador: “Nunca ninguém falou como este homem”. O Jesus de todos os evangelistas é um orador fascinante. Da sua boca de pregador ambulante saem palavras que consolam e inquietam, que tocam temas altíssimos e descem para acontecimentos quotidianos. Autor: Gianfranco Ravasi 64 páginas | preço: 4,00 € Paulus Editora


o que se diz A minha primeira Bíblia Uma história de amor

Com muita ilustração e pouco texto aqui está um belíssimo livro que ensina aos pais como explicar, de maneira simples e apelativa, as várias histórias bíblicas. Como responder às várias questões que elas apresentam e como falar de toda a obra de Deus com amor e carinho. Até os mais pequeninos poderão entender que Deus criou o mundo e o ser humano unicamente por amor e que esse amor infinito está presente em toda a criação. Textos: Omar Asdrúbal León Carreño Ilustrações: Freddy Bernal 250 páginas | preço: 15,90 € Paulus Editora

YOU CAT Update! Confissão!

Mais um opúsculo da série Youcat, desta vez sobre o sacramento da reconciliação. Citando palavras do Papa Francisco, este livrinho juvenil recorda que “o confessionário não é nenhuma câmara de tortura. Deus não espera por mim para me ralhar, mas para me receber com doçura”. E faz o convite aos jovens e a todos: “Deixa que Jesus, o Ressuscitado, entre na tua vida. Se estavas longe, dá um só passo na sua direção. Ele está à tua espera de braços abertos”. Autores: Klaus Dick, Rudolf Gehrig, Bernhard Meuser, Andreas Sub 89 páginas | preço 4,90 € Paulus Editora e dnpj

Provocações de Francisco “Quando o Papa diz que o padre é «homem de misericórdia

e compaixão», que deve estar «junto das pessoas, curando as feridas», ou que deve «imitar Jesus, cuja vida era passada nas ruas, ao encontro de quem quer que se encontre ferido na sua vida», ele está a dirigir-se também a mim, a cada um de nós, leigos. Também nós devemos ser misericordiosos e cheios de compaixão nos locais e áreas que nos pertencem”. Jorge Cotovio | Correio de Coimbra | 13 de Março 2014

Servidores do bem comum “Como pais temos muito a aprender no campo do elogio feito com

sinceridade e alicerçado na competência e não na adulação. Mais do que oportunistas, precisamos de cidadãos que sejam servidores do bem comum, colocando ao serviço dos outros as qualidades recebidas numa atitude de bem-fazer e de fazer bem!” António Sílvio Couto | Notícias de Beja | 13 de Março 2014

Mudança de vida “A Igreja necessita de renovação, de conversão, de mudança

interior nos seus membros, nos mais responsáveis, no modo de servir e amar, de ser mais una, mais digna, mais serva. As famílias precisam de conversão para viverem o amor, o dom, o serviço, o perdão, a dignidade de ser «igreja doméstica». (…) Todos, um por um, com sério exame de consciência, precisamos de nos ver à luz de Deus e apostarmos numa radical mudança de vida.” Dário Pedroso | Voz da Fátima | 13-03-2014

Transformar o ambiente “Não olho muito às multidões que vêm à igreja. Elas são

importantes, mas não me dizem grande coisa. Olho sobretudo para as pessoas que trabalham, para as que sentem a responsabilidade de serem cristãs. Interessa-me, essencialmente, formar essas pedras, para que depois possam fermentar na comunidade através de movimentos, por exemplo. Serão elas a transformar o ambiente.” Alcides Neves | Presente | 13 de Março 2014

Um pastor de almas “Sedutor na palavra oportuna, atento na ancoragem

individualizada que fazia a cada situação concreta, arrebatador pela convicção com que falava, mobilizador na (re)invenção que incutia nas intervenções socioculturais, Dom José Policarpo foi um verdadeiro pastor de almas. Nas suas constantes deambulações pelos meandros intersticiais entre fé e ciência, buscou sempre pontes onde outros adivinhavam confrontos, procurou sempre unir o que outros separavam e conseguiu sempre incutir uma perspectiva transcendental onde outros encontravam apenas razão”. Roberto Carneiro | Ecclesia | 14 de Março 2014

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gestos de partilha

Costa do Marfim Solange Maximiano 100,00€; Anónimo 10,00€; Ermelinda Marques 300,00€; Anónimo 10,00€; Mariana e Dina Fernandes 20,00€; Anónimo 5,00€; Zulmira Carpinteiro 250,00€; Anónimo 5,00€; Céu Almeida 15,00€; Bárbara Silva 5,00€; Alice Marques 33,00€; Anónimo 15,00€; Manuel Alves 18,00€; Fátima Matias 10,00€; Trindade Pereira 100,00€; Gracinda Santos 5,00€; Isabel Marques 50,00€; Maria Rosado 30,00€; Celeste Portela 200,00€; Fernanda Morgado 75,00€; Donzília Cardoso 20,00€; Amélia Martins 20,00€; Anabela Silva 23,00€. Total geral = 14.784,65€. Bolsa de estudo Anónimo 250,00€; Mercês Jesus 250,00€; Noémia Navarro 10,00€ Crianças de Mecanhelas – Moçambique Madalena Ferreira mãe do padre Simão Pedro 150,00€. Criança Yéo Issa – Costa do Marfim Filomena Bacelo 50,00€; Eduardo Soares 20,00€; Eduarda Bento 50,00€; Fernanda António 15,00€; Bárbara Silva 10,00€; Idalina Carvalho 10,00€; Anónimo de Fiães 50,00€; Anónimo de Fiães 125,00€; Anónimo 10,00€; Alzira Costa 10,00€. Crianças de Moçambique Lúcia Marinho 23,00€. Crianças do padre Paulino – Tanzânia Virgínia Campos 10,00€; Guida Borges 10,00€. Leprosos Celeste Martins 23,00€. Ofertas várias Assinantes da lista de Alice Pais 81,00€; Irmãos São João de Deus 53,00€

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida SEMINARISTA JOÃO FUSER

Olhos sempre fixos na meta texto Aventino Oliveira ilustração H. Mourato “Mora em mim um sonho de menino: Trazer sempre um crucifixo pendurado por cima do meu peito, mesmo aos endireitos do coração, e sonhar que já sou um missionário, mesmo pequenino!” São palavras deste jovem a um sacerdote da Consolata que lhe falara na vida missionária. Como para Teresinha do Menino Jesus, as missões ficaram para sempre no coração deste jovem, mas apenas em sonho. Para que outros possam calcurrilhar os atalhos e os caminhos das missões proclamando a Boa Nova do Senhor Jesus, é preciso que alguns se imolem e se ofereçam ao Senhor como holocaustos vivos, santos e agradáveis (Romanos 12, 1). João Fuser nasceu perto de Turim, na Itália, no dia 20 de setembro de 1910. Quase 22 anos depois, em 16 de setembro de 1932, voava levemente para a meta celeste. Entrou para o Seminário da Consolata aos 14 anos. Dele dizia um colega de curso: “O João não era nenhuma cimeira de inteligência, mas sim um Evereste de dedicação e generosidade”. Tinha um caráter forte, alegre e prazenteiro. Durante o ano do noviciado dedicou-se em profundidade ao estudo e à prática da vida íntima com Deus. Distinguia-se na execução das cerimónias litúrgicas que tinham para ele uma importância extrema. Saboreava especialmente a leitura dos salmos. No 2º ano dos estudos teológicos na casa mãe dos Missionários da Consolata, em Turim, adoeceu com uma tuberculose pulmonar. Aceitou de coração aberto e jovial esta

prova. Um dia, um colega tirou-lhe uma fotografia, dizendo-lhe: “Olha bem aqui para a lente da máquina”. Na foto, ficou ele com os olhos fixos lá no alto. E explicou depois: “Quero que a minha imagem me mostre de olhos fixos lá onde bem depressa irei morar: o Céu”. Acima de tudo, tinha valor para ele a vontade de Deus.

límpido contemplaria lá da morada celeste. Pode parecer estranho, mas dizem as testemunhas oculares que a doença e a proximidade da morte ateavam nele cada vez mais o seu amor à vida missionária. Como era seu desejo na terra, por lá anda agora com o Crucificado Ressuscitado em cima e dentro do coração.

Chegava a galope o desenlace final da sua vida. Recebeu com uma piedade edificante a Santa Unção, e quis dizer diante de todos que oferecia a sua vida pelas missões com que tanto sonhara, as missões que com o seu olhar Abril 2014

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outros saberes

Sabedoria rural

texto NORBERTO LOURO foto ANA PAULA

O sentimento religioso é um dos elementos mais comuns e mais abundantes nas culturas de todos os povos. Todos têm variadas formas de exteriorizar esses sentimentos. A nossa própria linguagem está eivada de expressões que manifestam a nossa pertença religiosa cristã. Já reparou que, no que respeita às variações e efeitos do clima, na linguagem popular rural, põe-se sempre, no começo ou no efeito dessas variações, um santo ou um mistério da nossa fé? Vejamos, por meses, essa sabedoria condensada em provérbios:

Em São Vicente de janeiro (dia 22), sobe ao outeiro. Se vires verdejar, põe-te a chorar; se vires terrear, põe-te a cantar; se vires luzir, põe-te a sorrir. Chuva pela Senhora das Candeias (dia 2 de fevereiro) dá muitas abelhas para as colmeias. Quem em março não merenda, aos mortos se encomenda. (O trabalho é tanto que, quem não se alimenta bem, corre o risco de ir para os anjinhos!). Pelo São Marcos (25 de abril) bogas aos sacos. Mês de maio, mês das flores, mês de Maria, mês dos amores. No São João (dia 24 de junho) a sardinha pinga no pão. Frio em julho abrasa em São Tiago (dia 25). Em dia de São Lourenço (dia 10 de agosto) vai à vinha e enche o lenço. 32

São Mateus (21 de setembro) ou seca as fontes ou leva açudes e pontes.

Natal em casa, Páscoa na praça, Espírito Santo no campo, faz o ano branco.

Em São Simão (28 de outubro) fava na mão.

O clima, impregnado de fé. O santo substitui o dia! A cultura urbana muito disso levou, mas lembra-se com saudade!

Dos Santos (1 de novembro) ao Advento, nem muita chuva, nem muito vento.


2014 ano Allamano

Método peculiar de evangelização texto DARCI VILARINHO foto FM É missão da Igreja fazer-se próxima das situações mais difíceis, anunciar Jesus Cristo com a Palavra e com o testemunho de obras de consolação que promovam e elevem. Os primeiros missionários da Consolata foram enviados por José Allamano para o Quénia em maio de 1902. Ele sabia que a razão principal era levar a luz da fé aos não cristãos. Mas sabia também que era necessário começar pela parte material. Por isso exortava a não se deixarem “levar pelo zelo intempestivo de correr atrás deste ou daquele indivíduo para os converter”. Antes de formar cristãos, o missionário deve formar homens: “Será preciso fazer com que os indígenas – dizia ele – sejam homens laboriosos para que depois se tornem cristãos. Será preciso mostrar-lhes os benefícios da civilização para os atrair ao amor da fé. Poderão assim amar uma religião que, além das promessas de outra vida, os torna mais felizes sobre esta terra”. Esta opção, por ele aprovada e apoiada, encheu-o de alegria, porque estava convencido que empenhar-se na promoção do ser humano era um grande serviço à caridade de Deus. Em 1909 a Santa Sé aprovou este método de evangelização: “A característica destas missões é esta: os missionários não se limitam a introduzir a religião, administrar sacramentos, recolher das florestas crianças abandonadas e cuidar delas nos orfanatos, mas com o esplendor da fé levam a esses povos a luz da civilização, ensinando-os na agricultura, na criação dos animais, no exercício dos ofícios

mais usuais, levando da Europa máquinas e instrumentos de última invenção”. Numa circular aos seus missionários do Quénia, em 1910, Allamano exulta com a aprovação da Santa Sé e relaciona o método com o exemplo do célebre jesuíta Mateus Ricci (1552-1610) que, para penetrar na China, usou o mesmo estilo pastoral começando por “ensinar matemática, compor mapas e relógios de sol: coisas que o fizeram respeitado e digno, e depois acreditado em tudo o que ensinasse da fé cristã”. É uma belíssima página da história de José Allamano, que pode ser colocada ao lado dos últimos documentos missionários

Aqui ficam mais algumas pinceladas na figura do beato José Allamano (1851-1926), que ao longo deste ano a ele dedicado, queremos retratar. Para que seja mais conhecido e amado e a sua vida exemplar seja para todos estímulo e convite à invocação pós-conciliares. O caminho da evangelização dos nossos tempos é o da atenção ao homem integral, capaz de transformar as pessoas e a sociedade, numa genuína fraternidade.

A criação de uma tipografia ajudou ao processo de evangelização no Quénia

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fátima informa

Via-sacra junta 200 figurantes

Atores amadores voltam a representar os últimos passos de Jesus Cristo a caminho do calvário

O ano passado, assistiram à representação mais de duas mil pessoas. Percurso recorda sacrifícios dos Pastorinhos texto e foto LUCÍLIA OLIVEIRA Fernando será, pela primeira vez, Jesus Cristo, interpretando assim o papel principal desta via-sacra ao vivo, que se realiza no domingo de Ramos, 13 de abril, a partir das 14h30. Irene Reis volta a assumir o papel de Maria, a mãe de Jesus, nesta segunda edição promovida pela paróquia de Fátima, num percurso de dois quilómetros e meio que liga a Cova da Iria (Santuário) à

Azeite de Fátima

“Um segredo bem guardado” é o mote do museu do azeite que abriu portas em Fátima, a 15 de março. Com um investimento de 50 mil euros, financiado ao abrigo do PRODER, o espaço da Cooperativa de Olivicultores de Fátima pretende aproveitar os cinco milhões de visitantes que visitam a cidade-santuário.

“Quereis oferecer-vos a Deus?” A proposta-desafio é tema da conferência do padre Nélio Pita, pároco de São Tomás de Aquino (Lisboa), a 13 de abril, a partir 34

Igreja Matriz (onde foram batizados os pastorinhos). São “dois lugares tão fortes na mensagem de Nossa Senhora e este percurso foi o que realizaram, na fé, os Pastorinhos, com tantos sacrifícios, para consolarem a Jesus, pela conversão dos pecadores”, explica o pároco de Fátima, Rui Marto. O sacerdote considera a dramatização “um grande momento de caminhada quaresmal», realçando que “a mostra de Jesus na via-sacra pode ir ao mais íntimo da alma, converter o coração”. Ao percurso da morte e paixão de Cristo e de cenas bíblicas vão juntar-se passagens referentes aos pastorinhos, extraídas das das 16h00, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário. Encerra assim o ciclo de conferências promovidas pelo Santuário de Fátima sobre este ano pastoral.

Novos ícones

Desde o dia litúrgico dos beatos Francisco e Jacinta Marto (20 de fevereiro) que o Santuário de Fátima possui novos ícones dos videntes. O trabalho artístico é do padre esloveno Marko Ivan Rupnik, autor do mosaico colocado na parede de fundo do presbitério da Basílica da Santíssima Trindade.

memórias da irmã Lúcia. Alguns figurantes, crianças e adolescentes, apresentam parábolas de Jesus. “O que Jesus anunciava é agora posto à vista, a misericórdia de Deus Pai, na consumação no calvário e na ressurreição”, salienta Rui Marto. Os preparativos há muito que decorrem. Desde a reavaliação do itinerário, dos textos, dos figurantes, das opções, os ensaios, a indumentária, tudo está a ser preparado. Mais de 200 figurantes vão entrar em cena nesta representação, que em 2013 foi acompanhada por mais de dois mil espectadores.

Abril em agenda 12/13 Peregrinação da Sociedade de São Vicente de Paulo 25/26 Convívio de jovens que participaram nas Páscoas Jovens – Seminário da Consolata 26/27 Peregrinação do Movimento Esperança e Vida


Único museu em Fátima integrado na Rede Portuguesa de Museus e certificado pela Herity International

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Rua Francisco Marto, 52 2496-908 FÁTIMA

GPS N39.629085 W8.669469 Telefone +351 249 539 470 Fax +351 249 539 479

museuartesacra@consolata.pt HORÁRIO Verão (abril a outubro) terça-feira a domingo 10h00 - 19h00 Inverno (novembro a março) terça-feira a domingo 10h00 - 17h00 Encerra segunda-feira e dia de Natal

VALE

1 entrada

Válido até 31/12/2014 042014


Páscoa na aldeia Era o tempo das giestas floridas do rosmaninho pisado nas ruelas, das colchas ricas pendentes das janelas, dos malmequeres, amores e margaridas. Era o tempo das campinas em flor, das canções, do riso e da Alegria, do campanário tocando Aleluia e das saídas de Deus – Nosso Senhor. Páscoa na aldeia em tempos de bonanças, dos afilhados, de folares, de crianças, das nossas almas e receber a Luz. Entrava a Primavera em nossas casas, entrava a Fé, o Bem ganhava asas, como se os anjos nos trouxessem Jesus. Maria Helena Amaro Jornal Kerigma, São Miguel – Açores


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