ETIÓPIA

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Ano LXII | Abril 2016 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

ETIÓPIA

UM PAÍS EM CRESCIMENTO que não se livra da fome MISSÃO HOJE

Missionários atenuam dramas dos mexicanos Sacerdotes tentam ajudar os que sofrem ensinando-os a perdoar

atualidade

Tunísia em dificuldade para travar jihadistas

Espírito de resistência da sociedade civil é uma das esperanças para o país

MÃOS À OBRA

Novas "casas de saúde" chegam a aldeias isoladas Projeto na Costa do Marfim combate a pobreza e a falta de infraestruturas


Apoie a formação de novos missionários Com uma BOLSA DE ESTUDOS em seu nome ou em nome de quem desejar. Por 250€, valor que poderá ser repartido em prestações, se assim o desejar

BENEFÍCIOS DA BOLSA

Fica inscrito no livro dos benfeitores dos Missionários da Consolata Participa na ação apostólica dos missionários Beneficia de uma missa diária celebrada por todos os benfeitores

CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt IBAN: PT50 0033 0000 45441863347 05

Um abraço entre a fé e a vida


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 04 Ano LXII – ABRIL 2016 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

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ESTATUTO EDITORIAL http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

PAÍS EM CRESCIMENTO “ UM QUE NÃO SE LIVRA DA FOME

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 23.000 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Patrick Silva, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa Francisco Pedro Contracapa Lusa Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00 € Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

04 | EDITORIAL Sempre no meio das pessoas

11 | PERFIL SOLIDÁRIO Paixão pela educação

05 | PONTO DE VISTA Ano da Vida Consagrada: um balanço

12 | A MISSÃO HOJE Missionários escutam povo angustiado

06 | HORIZONTES Um homem bom 07 | DESTAQUE A continuidade na transição? 08 | MUNDO MISSIONÁRIO • Índia: Igreja convidada a caminhar para as periferias • Etiópia: Missionário lança um grito de desespero • Guatemala: Condenação chegou tarde mas chegou • Paraguai: Maus-tratos de menores aumentam • Paquistão: 24 Milhões de crianças sem escola • Palestina: Belém e Lourdes de mãos dadas 10 | A MISSÃO HOJE “Encontrei a mão de Deus”

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

13 | FÁTIMA INFORMA Memórias da Irmã Lúcia inspiram compositores 14 | ATUALIDADE Espírito de resistência é esperança para tunisinos 16 | DOSSIER • Etiópia: Um país em crescimento que não se livra da fome • Diáspora portuguesa com pouca expressão • O eterno problema da desnutrição 22 | MÃOS À OBRA Construir “casas de saúde” para assegurar cuidados básicos 23 | IMAGENS DE MISERICÓRDIA 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Distintivo do cristão 26 | TEMPO JOVEM Uma aplicação chamada proximidade 28 | SEMENTES DO REINO “Tu amas-me?” 30 | VIDA COM VIDA Rico de virtude e de sapiência 31 | LEITORES ATENTOS 32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

Sempre no meio das pessoas Junto à Praça de São Pedro, no Vaticano, foi aberto um posto de saúde para apoio dos sem-abrigo. Depois dos chuveiros e da barbearia, é mais uma estrutura dedicada aos pobres da cidade. Nada de anormal, poderíamos pensar. Mas é mais um gesto de misericórdia a que já nos habituou o Papa Francisco. O rosto de todas as iniciativas de solidariedade é o padre Conrado Krajewski, um polaco que o Papa quis nomear bispo para coordenar toda a sua atividade benfazeja. “Não serás um bispo de secretária, nem te quero ver atrás de mim nas celebrações. Quero-te sempre no meio das pessoas. Tu deverás ser a minha mão para levar uma carícia aos pobres, aos deserdados e aos últimos. Em Buenos Aires com frequência saía para ir ao encontro dos mais pobres. Agora já não posso: é difícil sair do Vaticano. Então fá-lo-ás tu por mim, serás o prolongamento do meu coração que os alcança e lhes leva o sorriso e a misericórdia do Pai celeste”. São deste teor as instruções de Francisco ao padre Conrado – assim o chamam os pobres que ele assiste. Levando a sério a sua missão, este bispo visita habitualmente as localidades mais pobres de Roma e da periferia, desde lares de idosos às estações de caminhos de ferro onde cerca de 500 pessoas se enfileiram todas as noites à espera da sopa dos pobres, distribuída por organizações de solidariedade. Foi em nome do Papa que o Esmoler se deslocou à ilha de Lampedusa, já depois do

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Fátima Missionária

naufrágio que matou 350 imigrantes clandestinos. Esteve lá quatro dias e distribuiu 1.600 cartões de telefone aos sobreviventes, para contactarem as suas famílias. “O meu objetivo é este, diz Krajewski: estar com as pessoas e partilhar as suas vidas, nem que seja por 15, por 30 ou 60 minutos”. O cargo de esmoler não é de agora. Tem séculos de existência, mas nunca esteve tão ativo como agora, para este auxílio de proximidade. Ativo e provocante. A um cardeal, não identificado, que se “orgulhava” de dar todos os dias dois euros a um pedinte numa rua próxima do Vaticano, o bispo Conrado não se coibiu de lhe dizer: “Eminência, isso não é dar uma esmola. Para dar uma esmola tem de lhe custar. Dois euros não são nada para si. Pegue nessa pessoa pobre, leve-a para o seu apartamento, deixe-a tomar um banho – e a sua casa de banho ficará a cheirar mal por três dias – e quando ela estiver no duche, faça-lhe café e sirva-lho, e se for preciso dê-lhe uma camisola sua. Isso é que é dar uma esmola”. Alguns dirão: isto não resolve os problemas dos pobres. Mas são sinais de uma maior abertura da Igreja no campo assistencial. E são um estímulo para outros sectores da Igreja, talvez ainda fechados nos seus próprios problemas e pouco abertos às periferias. Darci Vilarinho

Quero-te sempre no meio das pessoas. Tu deverás ser a minha mão para levar uma carícia aos pobres, aos deserdados e aos últimos


PONTO DE VISTA

ANO DA VIDA CONSAGRADA: UM BALANÇO JOSÉ VIEIRA . MISSIONÁRIO COMBONIANO PRESIDENTE DA CIRP .

O Papa Francisco proclamou o Ano da Vida Consagrada (AVC) de 30 de novembro de 2014 a 2 de fevereiro de 2016 para olhar o passado com gratidão, viver o presente com paixão, abraçar o futuro com esperança. A iniciativa colocou a vida consagrada nas suas muitas expressões, habitualmente vividas no serviço humilde e calado, sob o radar das atenções eclesiais. Um dado positivo! O AVC celebrou a consagração em três dimensões: Evangelho, Profecia e Esperança. Porque a vida consagrada começa e vive-se através do encontro pessoal e comunitário com Jesus, Palavra encarnada e Boa-nova alegre para todos; porque é prenúncio do encontro com Deus, Pai de Misericórdia, hoje, para todos; porque com o envelhecimento e a redução de membros, os consagrados continuam fiéis ao carisma em vez de se preocuparem com a autopreservação da instituição. A Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) e os secretariados regionais estiveram muito ativos nos 14 meses do AVC com iniciativas diversas a nível nacional, diocesano e de vigararia que incluíram encontros, gestos simbólicos, produção de vídeos e de canções, divulgação de

mensagens, entre outras atividades. O “Barómetro da Vida Consagrada”, um estudo de opinião entre os jovens adultos, reavivou a esperança: os jovens mantêm a relação com Deus, entendem a consagração e apreciam uma linguagem existencial de proximidade. As bolsas de estudo patrocinadas por diversos institutos que vão permitir a 11 irmãs, cinco irmãos e sete leigos frequentar um curso de Ciências Religiosas nas Faculdades Bakhita da República Democrática do Congo foram outro fruto lindo do AVC. Os mosteiros de clausura entraram no AVC através da corrente de oração pelas vocações. Uma nota de pesar pelo falecimento da irmã Maria do Carmo, do Instituto de Jesus, Maria e José, num acidente com o Sinal Itinerante em Viseu. O veículo a pedais para 13 pessoas percorria o país dos consagrados. O AVC concluiu em Portugal a 7 de fevereiro com a peregrinação nacional a Fátima, inserida no programa do Santuário. O Papa Francisco recordou no encerramento do AVC que este desagua no Ano Santo da Misericórdia. Um fim feliz: os consagrados têm que conjugar cada dia o verbo ‘misericordiar’ para traduzirem a paixão por Jesus através da paixão pelo seu povo, sobretudo pelos mais pobres.

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horizontes

Um Homem Bom Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Chamava-se Gastão: senhor Gastão. Debaixo deste simples “senhor Gastão” escondia-se o título de comendador com que foi agraciado pelo presidente do governo; a patente de coronel da carreira militar; gestor de uma prestigiada escola privada que ajudou a fundar; presidente de comissões e grupos de direção para que era convidado. Nenhum destes títulos impressionava o senhor Gastão – nem quem dele se aproximava e convivia porque nem sabiam que ele os tinha. O senhor Gastão era conhecido por ser um homem bom. E nesta designação cabiam a generosidade e competência na resolução dos problemas que lhe apresentavam; a coragem para criar soluções novas; a importância que atribuía a cada pessoa independentemente do seu estatuto; participação ativa sempre que era preciso lançar mãos ao trabalho; a alegria de viver e as gargalhadas com que a expressava; o empenho colocado nos encontros de amigos e colaboradores que gostava de promover; a facilidade com que pedia ajuda e aceitava contributos; a sua confiança nas pessoas e a certeza de que, em conjunto, é possível construir um mundo melhor; a convicção de que a sua vida era um presente de Deus para ser usado a criar felicidade. Um dia, o senhor Gastão adoeceu. Doença grave. Depois de intenso tratamento, conseguiu recuperar. Mesmo sabendo que a recuperação não seria por muito tempo, voltou à sua atividade de sempre. Da doença, nunca o ouvíamos falar. “Estou novo”, dizia, ocultando possíveis preocupações.

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Fátima Missionária

Cinco anos mais tarde, aos 76 anos, a doença voltou a manifestar-se, anunciando um final próximo. Fui visitá-lo a casa. Estava muito frágil, acamado. Mas feliz! Na conversa, só quis saber de mim, dos projetos em que estava envolvida, da minha família e dos amigos comuns. Relembrou e agradeceu os momentos e projetos que

partilhámos. E eu, sem jeito, só pude agradecer a viagem em que ele me envolveu, no barco que ele tão bem pilotava. O abraço daquele dia, foi o abraço da despedida. A fragilidade do seu braço contrastava com a grandiosidade do seu olhar. O olhar de um homem bom que me deixou o coração cheio. Foi a última vez que o vi. Depois, só o encontro para o adeus. Ali, na homenagem final, estavam a esposa que amava, os cinco filhos e os netos que preenchiam e encantavam o seu mundo familiar; os alunos e professores da escola que criara e que conhecia pelo nome; as crianças e jovens da instituição de solidariedade que ajudou a fundar e que corriam para ele como se de um pai se tratasse; os colegas de projetos, os muitos amigos, individualidades civis, militares e religiosas, e muitos, muitos outros que o quiseram homenagear. A sua despedida foi com cânticos, como só podia ser. Cânticos muitas vezes por ele cantados, afirmando certezas de um Deus sempre presente e amoroso. Foi uma festa para um homem bom que, em liberdade, fez uma escolha de lugar: na linha da frente, quando se tratava de construir “bocadinhos” para um mundo melhor. Ali, todos lhe devíamos e dissemos um muito obrigado! Não ao comendador nem ao coronel, nem ao gestor nem ao presidente disto ou daquilo. Agradecíamos ao “homem grande”, porque “homem bom” que usou a sua história para melhorar a história de muitos mais.


DESTAQUE PRESIDENTE ANGOLANO PRETENDE RETIRAR SE EM 2018

A CONTINUIDADE NA TRANSIÇÃO?

Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

A forma como o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, anunciou a sua intenção de se retirar do poder, em 2018, um ano depois das eleições presidenciais, deixam antever a possibilidade de se estar a preparar a continuidade na sucessão, na liderança do MPLA e nos destinos do país. “Tomei a decisão de deixar a vida política em 2018”, disse o Presidente angolano durante uma reunião do Comité Central do MPLA, realizada a 11 de março, sem no entanto esclarecer por que razão essa data, quando o seu mandato termina em 2017. “Penso entretanto que deveremos estudar com muita seriedade como será construída a transição. Na minha opinião é conveniente escolher o candidato a Presidente da República, que é competência do Comité Central [órgão máximo entre congressos] nos termos dos estatutos, antes da eleição do presidente do partido no sétimo congresso ordinário”, acrescentou o líder angolano. As declarações de José Eduardo dos Santos estão a ser recebidas num misto de surpresa e desconfiança. Em primeiro lugar, como já sublinharam os partidos da oposição, porque não é a primeira vez que isso acontece, sem que daí tenham saído resultados. Em segundo lugar, no ano passado, referindo-se ao facto de “em certos círculos restritos” ser “quase dado adquirido que o Presidente da República não levaria o seu mandato até ao fim”, José Eduardo dos Santos, afirmou claramente: “mas é evidente que não é sensato encarar essa opção nas atuais circunstâncias”, numa referência à crise do país. Finalmente, a outra razão para a surpresa e desconfiança deve-se ao facto de o líder angolano ter anunciado a sua retirada do poder um ano depois das eleições previstas para o próximo ano, sem esclarecer

se, apesar dessa intenção, voltaria ou não a recandidatar-se à Presidência da República.

Segundo mais antigo Presidente africano

Esta indefinição parece apontar no sentido de que José Eduardo dos Santos pode estar a pensar candidatar-se às eleições e, mais tarde, abdicar do cargo para um seu sucessor de confiança, assegurando a continuidade na transição. A este propósito, dois nomes têm sido falados de forma recorrente: Filomeno dos Santos, filho do Presidente, e Manuel Vicente, atual vice-Presidente de Angola. Uma segunda solução não está a ser descartada: a de o anúncio de José Eduardo dos Santos ser um toca a reunir do MPLA para pedir ao atual líder angolano para permanecer no poder em nome da estabilidade do país. A crise económica, resultante da queda do preço do petróleo e as divisões internas dentro do MPLA podem justificar esta leitura, mas também tornam a continuidade do atual Presidente no poder mais insustentável. A forma como anunciou a sua intenção de se retirar da vida política e deixou suspenso o país acerca do que pretende efetivamente fazer é a própria expressão de quanto o poder depende do atual Presidente da República. José Eduardo dos Santos está no poder há cerca de 37 anos e é o segundo Chefe de Estado mais antigo no poder em África, a seguir a Teodoro Obiang Nguema, da Guiné Equatorial.

A FORMA COMO ANUNCIOU A SUA INTENÇÃO DE SE RETIRAR DA VIDA POLÍTICA E DEIXOU SUSPENSO O PAÍS ACERCA DO QUE PRETENDE EFETIVAMENTE FAZER É A PRÓPRIA EXPRESSÃO DE QUANTO O PODER DEPENDE DO ATUAL PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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mundo missionário

por E. assunção

ÍNDIA

Igreja convidada a caminhar para as periferias

“Apelamos a todas as pessoas de boa vontade da Índia a colaborar connosco para uma Igreja melhor”, escrevem os bispos indianos no final da 32ª Assembleia Plenária, no início de março. “A Igreja na Índia oferece um contributo significativo para a construção da nação através da educação, do desenvolvimento social, da saúde e do serviço aos pobres”, escrevem os bispos. O documento enumera os principais problemas da sociedade indiana: materialismo crescente, consumismo e dependência dos meios de comunicação, migrações

e fosso crescente entre ricos e pobres, corrupção e trabalho infantil, analfabetismo e intolerância, liberdade religiosa e fanatismo religioso, e violação dos direitos fundamentais inscritos na Constituição indiana. Para os bispos, a Igreja como comunidade inclusiva e acolhedora deve sair da sua “zona de conforto”, tornando-se uma “constante presença de Cristo” que pugna pelos “valores do amor, da justiça, da igualdade, da misericórdia e da paz”. Ela deverá viver “em plena solidariedade com as pessoas, especialmente com os pobres”.

Etiópia

Guatemala

O segundo país mais populoso de África, a Etiópia, é um dos mais pobres do mundo. O missionário Christopher Hartley clama: “Em quase dez anos de vida missionária, é a primeira vez que vejo o país morrer de sede”. A seca provoca lutas tribais pelo acesso às poucas fontes de água para as pessoas e animais. “As colheitas estão irremediavelmente perdidas, transformando esta enorme paisagem num deserto”. Mais de 400 mil crianças estão a sofrer de desnutrição; mais de 10 milhões de pessoas precisam de ajuda urgente para sobreviver.

Passados 30 anos, os ex-militares Esteelmer Francisco Reyes Giron e Heriberto Valdez Asig foram declarados culpados e condenados a 360 anos de prisão por crimes contra os direitos humanos. O caso remonta a 1982. Algumas mulheres de Sepur Zarco, no norte do país, foram violentadas e escravizadas pelos soldados de um destacamento militar, que fizeram desaparecer os seus maridos. O horror durou cerca de seis meses e marcou a vida de muitas pessoas para sempre.

Missionário lança um grito de desespero

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Fátima Missionária

Condenação chegou tarde mas chegou


MUNDO MISSIONÁRIO PARAGUAI

MAUS TRATOS DE MENORES AUMENTAM

Trata-se de uma chaga social difusa e “culturalmente aceite”. Nos últimos três anos registaram-se no Paraguai várias mortes de crianças devido a maus-tratos, às mãos dos patrões que as desfrutavam em trabalhos domésticos. Neste país sul-americano é considerado “normal” que uma criança trabalhe como empregada doméstica e até

as próprias famílias aceitam o fenómeno, convencidas que assim os filhos poderão alcançar um futuro melhor. Só em janeiro de 2016 foram registadas 12 denúncias de maus-tratos a crianças. Segundo as estatísticas oficiais, mais de 46 mil crianças e adolescentes trabalham para famílias ricas em troca da alimentação e alojamento.

PAQUISTÃO

24 MILHÕES DE CRIANÇAS SEM ESCOLA Dos 51 milhões de crianças paquistanesas, entre cinco e 16 anos, 47 por cento não frequenta a escola. É o próprio governo que o afirma no seu relatório anual. Mais de 24 milhões de crianças paquistanesas não estão escolarizadas. Um quarto da população terá menos de 16 anos. De notar que mais de metade das crianças que não frequentam a escola serão meninas. O relatório sublinha

a escassez de recursos destinados à instrução. Recorde-se que um terço das escolas paquistanesas tem apenas um ensinante e 18 por cento possui apenas uma sala, ao passo que um décimo das escolas nem sequer tem edifício para acolher as crianças. Valha uma nota positiva: o número das crianças do Paquistão que não frequentam a escola desceu de um milhão, em relação ao ano passado.

PALESTINA

BELÉM E LOURDES DE MÃOS DADAS Entre as duas cidades, Lourdes e Belém, nasce uma parceria em apoio dos cristãos palestinianos. Ambas têm um “destino comum”, uma vez que “sem peregrinações”, Belém seria uma aldeia desconhecida na Palestina, assim como Lourdes” (França). Por ocasião da visita à Terra Santa para assinar o acordo de parceria, a presidente da Câmara da cidade mariana, Josette Bourdeu,

apontou os laços que unem a cidade natal de Jesus e a cidade dos Pirinéus. Assinado no início de março, o acordo prevê uma colaboração concreta e dinâmica entre as duas cidades, tendente a criar novos postos de trabalho, sobretudo no setor do turismo. A colaboração procurará desenvolver projetos no campo da economia social, favorecendo a comercialização de artesanato palestiniano dentro de uma rede de santuários ligados a peregrinações em todo o mundo. Recorde-se que o rosário oficial do Santuário de Lourdes, lançado em 2012, foi fabricado por uma família de Belém, em madeira de oliveira, tendo sido vendidos cerca de 25 mil por ano.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

REZAI, REZAI SEMPRE No dia 13 de março celebrou-se aqui em Roma, a poucos passos do Vaticano, uma maratona de 24 horas de oração intitulada “3 anos com o Papa Francisco” para interceder e dar graças a Deus pelo Santo Padre que nesse mesmo dia celebrava o terceiro aniversário da sua eleição. Foi a prenda de anos que o povo cristão quis oferecer ao Papa. Agradecemos estes três anos de serviço e exemplo durante os quais o Papa Francisco não se poupou a canseiras, até ao ponto de renunciar às férias, sem porém nunca descurar a oração, e sabemos de facto que, não obstante os seus muitos afazeres, ele passa todos os dias longas horas a rezar. Falando de mim próprio devo admitir que durante os muitos anos em que dediquei parte do meu tempo a reuniões e encontros certas vezes acontecia que para não atrasar as refeições ou outros compromissos se saltava o tempo estabelecido para a oração. Fica-me bem considerar e seguir os exemplos deste Papa a quem nunca falta tempo para rezar, e é por isso que vos convido a responder com empenho ao pedido que ele nos faz todos os domingos durante a oração do meio dia: “por favor não se esqueçam de rezar por mim!”. Como nos diz São Paulo, “orai sempre sem cessar!”

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a missão hoje

“Encontrei a mão de Deus” Falar de Unkanha, há cerca de 50 anos, era falar de uma grande e florescente missão da diocese de Tete, em Moçambique. Falar agora de Unkanha, é deixar-se invadir pela tristeza ao observar a ruína e o abandono em que se encontra Texto | FRANCO GIODA Foto | DR

Nos anos 1950, os primeiros missionários chegaram à procura de um lugar com água para iniciar a atividade missionária. Todavia, na sua breve existência, a missão sofreu sempre pela “bendita” água. E em 1971 foi abandonada por falta de segurança. As duas guerras, a colonial e a civil, deixaram os dois distritos de Marávia e Zumbo sem missionários. Os Missionários da Consolata, quando abriram a missão de Nossa Senhora da Consolata de Fingoè, em 2013, estenderam a sua ação a Unkanha, a cerca de 75 quilómetros, e às suas numerosas comunidades cristãs, sem apoio espiritual há mais de 40 anos. A sua preocupação foi encontrar-se imediatamente com as comunidades. Era evidente a necessidade e urgência da formação de catequistas e animadores, deixados sós por muitos, demasiados anos. Começaram os encontros e cursos de formação. Onde? No isolamento, entre as ruínas e a vegetação rasteira da antiga missão de Unkanha. Durante mais de um ano, organizámos a vida e as atividades formativas. Depois, pelas condições logísticas e a situação de isolamento do lugar, fomos constrangidos a deixar a zona desertificada em termos populacionais e fixar-nos em Nhamawende, uma vila a poucos 10

Fátima Missionária

Um encontro casual permitiu a Franco Gioda, missionário da Consolata, levar água à população de Nhamawende

Tal como na missão abandonada, também aqui se vive com a dificuldade de obter água. Organizar encontros e cursos em continuação para meia centena de pessoas, mas com a água distante, torna-se um problema e um desconforto permanente


perfil solidário

quilómetros de distância. Passámos da antiga missão isolada e em ruínas para a periferia de uma pequena vila em crescimento, entre plantas e arbustos da floresta. Os cristãos da comunidade vizinha empenharam-se em fazer os tijolos para a nossa casa, e apesar da nossa comunidade missionária ser em Fingoè, esta casa, tão simples, serve como ponto de apoio para as visitas às comunidades e como estrutura para os encontros e cursos formativos para os animadores e catequistas. Além disso, temos sempre consciência que os verdadeiros missionários são eles próprios. Tal como na missão abandonada, também aqui se vive com a dificuldade de obter água. Organizar encontros e cursos em continuação para meia centena de pessoas, mas com a água distante, torna-se um problema e um desconforto permanente. Próximo de nós está o centro de saúde, com o mesmo problema. Estamos a 360 quilómetros de Tete, capital do distrito, e fazer chegar até cá uma máquina perfuradora para fazer poços, tornava-se proibitivo. Mas encontrei a mão de Deus num encontro que tive a poucos quilómetros de Nhamawende. A 4 de dezembro do ano passado, na estrada de regresso a Fingoè, encontrei um camião. O condutor pediu-me uma informação e acrescentou que estava a chegar uma perfuradora. Entre outras coisas, perguntou-me se tinha necessidade de fazer um poço. Quase nem acreditava no que ele me dizia e fi-lo repetir a pergunta. Imediatamente, perguntei-lhe quando estaria disponível e sobretudo quanto viria a custar. Combinou-se tudo ali, no meio da estrada. Vendo que o preço até era acessível, e pensando na população de Nhamawende, no posto de saúde, nos cursos de formação e em toda a atividade da missão, perder esta ocasião teria sido um verdadeiro pecado. De algum lugar o dinheiro para este projeto viria. E a 7 de dezembro, três dias depois deste encontro tivemos água! Não existe o acaso (o encontro casual com o camionista na estrada), mas existe a providência.

Paixão pela educação Texto | FP

Uma experiência de voluntariado num orfanato na província de Gaza, em Moçambique, foi o suficiente para despertar em Susana Damasceno o sentimento de que no mundo “todos somos iguais e dispomos dos mesmos direitos”, sobretudo no acesso à educação e à leitura. No regresso a Portugal, e depois de uns meses de introspeção, decidiu abandonar uma carreira já iniciada, e dedicar-se “com a mesma persistência e obstinação” a projetos de educação para a cidadania global em Portugal e de promoção da qualidade de educação, em Moçambique. Fundou a organização não governamental Ação e Integração para o Desenvolvimento Global (AIDGLOBAL), em novembro de 2005, e desde então todos os seus esforços têm sido canalizados para o sonho que persegue: que todas as crianças tenham acesso à educação e aos livros. Para isso criou, com a ajuda dos membros da organização, um programa de apoio integrado às bibliotecas municipais e escolares, na província de Gaza, em Moçambique, e vários projetos pontuais na Guiné-Bissau e em Cabo Verde. “Tenho procurado constituir-me como veículo ao serviço da leitura, do combate à iliteracia e, acima de tudo, da promoção de uma cidadania plena e ativa. Sem livros, não podemos crescer, não podemos ser senhores e donos do nosso destino, das nossas decisões, das nossas ações”, diz Susana Damasceno.

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a missão hoje

“Implementamos muito as Escolas de Perdão e Reconciliação (ESPERE)” – um projeto que está a ser desenvolvido também em Portugal – e “damos ajuda psicológica”

Alessandro conti, 51 anos, lamenta o elevado número de casos de violência sobre as crianças, e de abuso sexual de menores nas comunidades mexicanas

Missionários escutam povo angustiado Os traumas e as preocupações de muitos mexicanos fazem com que vários missionários se dediquem a escutá-los para lhes dar alegria de viver Texto | JULIANA BATISTA Foto | ANA PAULA

A violência, o narcotráfico, o machismo, a pobreza e a riqueza convivem lado a lado no México. Perante os dramas desta população, os missionários da Consolata escolhem escutar. Aproximam-se daqueles que sofrem, tentam ajudá-los a saber lidar com os seus problemas, ensinando-os a perdoar e a reconciliarem-se.

Assim nasceu no país um “centro de ajuda e de escuta da Consolata”, que funciona graças à colaboração de “psicólogos e terapeutas”, amigos da congregação. “Implementamos muito as Escolas de Perdão e Reconciliação (ESPERE)” – um projeto que está a ser desenvolvido também em Portugal – e “damos ajuda psicológica”, contou.

Alessandro Conti é um dos missionários que se disponibiliza há vários anos para ouvir os que estão angustiados. O sacerdote admite que é evidente naquele país que se pode fazer algo “a nível assistencial”. Contudo, os missionários optam por se dedicar a escutar, uma vez que há “muita gente ‘destroçada’, com muito sofrimento devido a problemas familiares, desproteção laboral, machismo e violência”.

Segundo o sacerdote italiano, de 51 anos, existe um elevado número de casos de “violência sobre as crianças” e de “abuso sexual” de menores. “Escuto pessoas que contam que sofreram abuso sexual 30 anos após a sua ocorrência”.

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Fátima Missionária

A capacidade dos missionários para acolher, faz com que sejam “muito procurados”. “Nas ESPERE há pessoas que dizem que estão

lá porque lhes mataram a irmã, ou outro familiar por causa do narcotráfico, e sentem que não podem fazer nada. Então, têm toda uma raiva dentro delas”, sublinhou. Também a confissão é um meio através do qual os sacerdotes se deparam com os dramas daquele povo. “Oitenta por cento das pessoas que confesso odeiam alguém. Ou o pai, ou a mãe, ou os irmãos, ou o chefe. Há muito ódio e ressentimento”, disse Alessandro Conti. Em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA, o sacerdote destacou que procura “ajudar as pessoas a ‘sararem as suas feridas’ para que elas consigam ser protagonistas de um futuro melhor. Se a pessoa está ‘destroçada’ por dentro não tem força para viver”.


FÁTIMA INFORMA

Memórias da Irmã Lúcia inspiram compositores Vários compositores portugueses criaram, pela primeira vez, uma obra inspirada nos textos da Irmã Lúcia. O resultado vai ecoar na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima Texto | JULIANA BATISTA Foto | ANA PAULA

Seis profissionais com reconhecimento nacional e internacional inspiraram-se nas memórias da irmã Lúcia e criaram um espetáculo que será apresentado dia 3 de abril. Com o nome, “Tropário para uma pastora de ovelhas mansas. Ciclo para Coro, Piano e Acordeão sobre fragmentos das memórias da Irmã Lúcia”, o concerto resulta de um trabalho original criado pelos compositores João Madureira, Alfredo Teixeira, Sérgio Azevedo, Nuno Côrte-Real, Rui Paulo Teixeira e Carlos Marecos. O espetáculo terá lugar na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, entre as 15h30 e as 16h30, e será interpretado pelo Grupo Vocal Officium Ensemble, sob a direção do maestro Pedro Teixeira. Ao acordeão estará Octávio Martins e ao piano João Lucena e Vale. A coordenação deste projeto, a convite do Santuário de Fátima, coube ao compositor Alfredo Teixeira. O projeto composicional apresenta uma “particular relação” com a arquitetura da Basílica de Nossa

A Basílica de Nossa Senhora do Rosário foi o palco escolhido para apresentar as obras originais de seis compositores portugueses

Senhora do Rosário. “Esse lugar não será, certamente, uma clausura, para este ciclo musical, mas o solo arável da sua génese”, lê-se num comunicado do Santuário de Fátima.

Conferência sobre a vida

O padre Manuel Morujão vai realizar uma conferência com o tema “Quem perder a sua vida… salvá-la-á”. A intervenção do sacerdote decorre dia 10 de abril, às 16h00, no salão da Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores.

Fé e Luz em peregrinação

O Movimento Fé e Luz, que agrega pessoas com deficiência inteletual, vai celebrar o aniversário da associação com uma peregrinação à Cova da Iria, entre 15 e 17 de abril.

Hospitalidade abre caminhos

A peregrinação nacional ao Santuário de Fátima da Família Franciscana Hospitaleira está marcada para o dia 17 de abril e irá decorrer sob o tema “Abrir caminhos de misericórdia”.

O concerto faz parte de um “vasto programa musical” que integra a proposta cultural do santuário para a celebração do Centenário das Aparições.

Agenda

ABRIL

DIA 9 Retiro no Seminário da Consolata: “Estive na prisão e fostes ter comigo” DIA 25 Peregrinação dos Combatentes

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Espírito de resistência é esperança para tunisinos Foi o primeiro país árabe a libertar-se do ditador, também é aquele onde a Primavera Árabe parece dar fruto. Mas os jihadistas fazem tudo para destabilizar a pequena nação herdeira de Cartago e o apoio exterior é vital Texto | LEONÍDIO PAULO FERREIRA * Foto | LUSA

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Fátima Missionária


atualidade

A exceção da Primavera Árabe

É entre os deserdados mas também entre os licenciados condenados ao desemprego que grupos jihadistas como o Estado Islâmico tentam recrutar, sobretudo numa Tunísia que sempre teve fama de sociedade aberta e que em inícios de 2011 não só esteve na origem da Primavera Árabe como passados cinco anos parece ser o único caso regional de sucesso na passagem da ditadura à democracia. “Na Tunísia, ser empreendedor é resistir ao desemprego e ao terrorismo”, afirmava numa recente entrevista ao ‘Le Monde’ Alaya Bettaieb, que dirige a incubadora de empresas da Escola Superior Privada de Engenharia e Tecnologia de Túnis, mais conhecida como Esprit, uma homenagem evidente à influência francesa que se mantém viva neste país árabe seis décadas depois da conquista da independência. A Esprit (Espírito) está localizada nos subúrbios norte de Túnis e conta com 4800 estudantes. Segundo o jornal francês, a regra são as classes mistas e mesmo nos intervalos rapazes e raparigas conversam de forma descontraída, indiferentes às ameaças dos jihadistas. Diga-se que este à vontade na relação entre os sexos não nasceu com a Primavera Árabe, pois o pai da indepedência, Habib Burguiba, era um progressista, reconhecendo às tunisinas um papel na construção do país. E mesmo Ben Ali, sucessor de Burguiba em 1987 e ditador derrubado em 2011, sempre se orgulhou do sucesso das tunisinas, com boa parte dos diplomatas a serem mulheres. País pequeno, sem recursos petrolíferos, a Tunísia assentou o seu sucesso económico na imagem de estabilidade, o que lhe permitia atrair turistas e investimentos. Mas

População 11 milhões Área 164 mil quilómetros quadrados Capital Túnis Religião Islão sunita, com minúscula comunidade judaica Língua Árabe é oficial, francês muito falado nas cidades Esperança média de vida 73 anos os homens e 77 anos as mulheres Economia Turismo, produtos agrícolas, pequena indústria Moeda dinar

apesar da revolução pacífica (Ben Ali fugiu de avião e evitou-se um banho de sangue), de eleições livres e de um partido islamita, o Enahda, que tem aceite o jogo democrático, nada é certo no futuro da Tunísia, pois ainda no início de março um grupo vindo da Líbia, onde já existe um ramo do Estado Islâmico, tentou ocupar a cidade fronteiriça de Ben Guardane para criar uma base de expansão para o resto do país. Os jihadistas fracassaram, contudo, houve centenas de mortos, sobretudo terroristas (36 mortos) mas também militares e civis, e ficou a certeza de que voltará a haver operacões do género na região sul próxima da Líbia, país onde depois da queda do ditador Muammar Kadhafi se instalou o caos. Sabe-se que milhares de jovens tunisinos combatem nas fileiras do Estado Islâmico, sobretudo na Síria e no Iraque, e que são as desigualdades sociais e as injustiças numa sociedade marcada pelos favorecimentos o grande alimento da revolta dos candidatos a mártir. Mas tanto no confronto recente com os jihadistas, como no ano passado durante o ataque ao Museu do Bardo (21 mortos), em Túnis, como no massacre de turistas numa praia de Sousse (38 mortos), muitos tunisinos tentaram contrariar os terroristas,

arriscando a própria vida, e muitos mais ainda condenaram as ações. Apesar da forma brutal como se iniciou a revolução de Jasmin, ainda em dezembro de 2010 (um jovem desempregado vê a polícia apreender-lhe o carrinho onde vendia legumes e em protesto imola-se pelo fogo), tudo na Tunísia permitia esperança de uma evolução positiva. A sociedade era aberta, não havia clivagens religiosas ou étnicas, o exército era apolítico, os índices de alfabetização e demográficos assemelhavam-se aos da Europa do sul. E comparado com Líbia, Egito, Iémen ou Síria, a verdade é que o balanço geral da transição tunisina só pode ser positivo. E no ano passado, num grande incentivo ao povo tunisino, a Academia Norueguesa até entregou o Nobel da Paz ao conjunto de organizações da sociedade civil que tem lutado para manter o país pacífico e fora de alcance do jihadismo internacional. A fragilidade da Tunísia, orgulhosa herdeira de Cartago, é hoje evidente num Norte de África ameaçado pelo jihadismo, vigiado em Marrocos e na Argélia, controlado no Egito, mas com rédea solta na Líbia e um pouco por todo o Sara, onde as fronteiras políticas pouco contam. E também ter um Presidente como Béji Caid Essebsi, figura forte e respeitada mas com 89 anos, deixa temer por um futuro de instabilidade, em que os partidos que agora fazem frente comum ao jihadismo se deixem distrair pela luta pelo poder. A favor do país joga a força da sua sociedade civil, mas sem apoio exterior, sobretudo económico, a Tunísia terá dificuldade em resistir ao assalto jihadista. A Esprit não pode ser um caso isolado, tem de ser no futuro um reflexo da Tunísia. * jornalista do DN

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ETIร PIA 16

Fรกtima Missionรกria


DOSSIER

Um país em crescimento que não se livra da fome A economia etíope é uma das que mais tem crescido em África nos últimos anos. Mas a fome continua a perseguir milhões de pessoas, naquele que é o segundo país mais populoso do continente africano. Os Missionários da Consolata vão tentando minimizar a falta de infraestruturas estatais, nas áreas do ensino, mas sobretudo da saúde Texto e fotos | FRANCISCO PEDRO

A viver há três anos em Addis Abeba, Paula Caetano, portuguesa do Barreiro, ainda se mostra surpreendida com o rápido crescimento da capital da Etiópia. “Olha, isto é uma obra nova”, comenta a doutorada em agronomia, depois de, há poucos metros atrás, ter explicado que aquela estrada nova, com quatro vias de asfalto liso, havia sido aberta ao anarquismo do trânsito etíope meia dúzia de dias antes. Sem exagero, se os etíopes usassem gruas, como na Europa, a cidade classificada como a Bruxelas da África estaria neste momento transformada numa selva de guindastes. Mas não. Os prédios crescem como cogumelos, erguidos a partir de andaimes de madeira, fazendo desaparecer as barracas quase que por magia e engolindo os terrenos agrícolas, fruto de uma política que muitos consideram

expansionista, mas outros tantos entendem como uma injustiça para os mais desfavorecidos. Falar abertamente sobre o assunto, só em privado e com algumas reservas. Afinal, “toda a gente sabe que as comunicações, quer telefónicas, quer eletrónicas, podem ser intercetadas a qualquer momento”, admite um alto quadro etíope, pedindo naturalmente o anonimato. Escudado na bandeira do combate ao terrorismo, o governo liderado por Hailemariam Desalegn, que conta com o apoio da totalidade dos 547 deputados que formam o Parlamento, aniquila à nascença qualquer tentativa de contestação pública. É aquilo a que alguns analistas chamam de “democracia musculada”. Uma democracia que tarda em chegar às periferias, quer rurais, quer sociais. No coração de Addis Abeba salta à vista a imponente sede da União

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massa de terra misturada com palha, e protegidas com chapas de zinco. Nas zonas mais rurais, muitos dos etíopes ainda vivem nas ‘cabanas’ circulares, com telhados de colmo. Proliferam as carroças de tração animal, ou apenas burros – carregados de recipientes amarelos, sinal da luta diária por uns litros de água; de lenha; de vegetais, ou até de ‘bolachas’ de bosta de vaca seca, amassadas com palha e vendidas como carvão. As cabras, vacas e até camelos, atravessam as estradas nos sítios mais inesperados e sem aviso prévio. E as mulheres surgem de todo o lado, vergadas pelo peso descomunal dos enormes feixes de lenha, numa espécie de duelo resignado entre a luta pela sobrevivência e a sábia teoria de que na natureza “nada se perde, tudo se transforma”.

Francisco Reyes, diretor do hospital rural de Gambo, enfrenta uma luta diária para assegurar verbas para a gestão da unidade

Por falta de recursos económicos, as pessoas adiam até à última uma ida ao médico 18

Fátima Missionária

Africana e o lustroso hotel que está a ser construído nas imediações, o luxuoso complexo do hotel Sheraton ou o novíssimo e ainda pouco utilizado comboio de superfície. Mas basta circular pelas entranhas da cidade ou arriscar uma saída em direção ao sul do país para tropeçar num conjunto de realidades um pouco diferentes. Em vez de prédios multiplicam-se as pequenas casas de rés do chão, a maioria feitas com

Crise de nutrição É verdade que nos últimos anos o país tem demonstrado um crescimento económico invejável – cerca de 8,7 por cento em 2014/2015 – impulsionado pela expansão dos sectores da indústria transformadora e da construção. Mas também não é menos verdade, de acordo com as estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), que a inflação tem vindo a aumentar acima dos 10 por cento, que faltam ainda inúmeras infraestruturas básicas e que, segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM), há neste momento perto de 10 milhões de etíopes a passar fome. Devido à seca que tem fustigado o país, um quarto dos distritos estão oficialmente considerados em crise de nutrição. Na região de Gambo, 245 quilómetros a sul de Addis Abeba, por exemplo, o cenário roça a pobreza extrema. A população vive essencialmente da agricultura de subsistência, as crianças alimentam-se mal e


muitos dos doentes, quase sempre num estádio avançado da doença, são transportados ao hospital de carroça, por trilhos irregulares e densas nuvens de pó. Ali ainda prolifera a lepra, abundam as doenças respiratórias e a tuberculose, persiste a podoconiosis (um problema que afeta principalmente os pés e as pernas das pessoas que têm contato prolongado com o solo com os pés descalços nas regiões mais elevadas), e os casos de queimaduras em menores teimam em não abrandar. Por falta de recursos económicos, as pessoas adiam até à última uma ida ao médico. Depois, há os hábitos culturais, que em nada ajudam a combater os flagelos do sub-desenvolvimento. “Aqui é muito frequente vermos doenças que na Europa são banais e que se curam rapidamente, mas que aparecem em estados muito avançados, quase terminais, porque as pessoas não costumam consultar o médico no início da doença. Por falta de meios, ou de unidades de saúde, as pessoas vão-se socorrendo dos remédios tradicionais até não poderem mais”, conta Francisco Reyes, diretor do Hospital Rural de Gambo. Luta entre a vida e a morte Fundado como leprosaria em 1923, pelos monges capuchinhos, o hospital é gerido desde 1975 pelos Missionários da Consolata. Encaixado numa zona de floresta, a mais de 2.000 metros acima do nível do mar, o complexo distribui-se por pavilhões de consultas e internamento, rodeados de zonas verdes, onde frequentemente se veem crianças a brincar, adultos a conversar e a rezar, ou a usar as cozinhas e lavandarias, colocadas à disposição dos familiares dos pacientes. Um ambiente quase bucólico, que contrasta com a

Paula Caetano vive há três anos e meio em Addis Abeba depois de ter casado com Behailu Guta, de nacionalidade etíope

Diáspora portuguesa com pouca expressão A diáspora portuguesa tem pouca expressão na Etiópia, apesar das ligações diplomáticas entre os dois países remontarem ao século XVI, quando as tropas lusas ajudaram a salvar o então império da Abissínia dos ataques a que estava a ser alvo. Cinco séculos depois, o número oficial de portugueses a trabalhar ou a viver no país ronda as duas dezenas. Paula Caetano, 49 anos, é uma delas. Não está ligada a nenhuma organização não governamental (ONG), como a maioria dos compatriotas, mas vive em Addis Abeba há três anos e meio, depois de ter casado com um etíope – Behailu Guta, 45 anos –, que a desafiou a experimentar uma vida em comum na segunda nação mais populosa de África. Ambos são doutorados em Agronomia, mas nem um nem outro exercem atualmente profissões ligadas à sua

área de formação. Paula, natural do Barreiro, fez investigação no Instituto de Agricultura de Addis Abeba, e está atualmente desempregada. O marido aceitou o desafio para ser o ‘ponta de lança’ na Etiópia da ONG espanhola “Llevant en Marxa”, com quem trabalhava há vários anos em regime de voluntariado. Agora, na qualidade de responsável por vários projetos de desenvolvimento, trabalha com frequência com os Missionários da Consolata, na preparação e implementação desses mesmos projetos, sobretudo nas zonas rurais. “A adaptação não foi fácil, sobretudo por causa da língua [a maioria dos etíopes fala amárico ou oromo], mas aqui a vida é mais simples e conhecemos pessoas que de outra forma seria difícil conhecer”, admite Paula Caetano.

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luta entre a vida e a morte que se trava diariamente no interior das enfermarias pobres e mal iluminadas. As 150 camas, partilhadas pelas diversas valências, estão permanentemente ocupadas. E as consultas externas são procuradas todos os dias por uma média de 250 doentes, que não têm outra alternativa num raio de 40 quilómetros. Sem apoios do Estado, ou sequer da diocese – que se limita a prestar auxílio nas questões burocráticas – os 175 trabalhadores contratados (três

deles médicos), travam uma batalha constante, por vezes inglória, perante a preocupante escassez de recursos. É frequente faltarem anti-sépticos, não há máscaras especiais para quem trata dos tuberculosos, e os medicamentos por vezes têm que ser administrados em doses menores, por imposição das debilidades do stock. “O ideal seria adquirirmos os fármacos e os consumíveis numa só compra, a cada seis meses ou para todo o ano, porque comprando em grande quantidade podíamos

SAIBA MAIS DURANTE MUITO TEMPO CHAMADA DE ABISSÍNIA, A ETIÓPIA É UM DOS PAÍSES MAIS ANTIGOS DO MUNDO E O SEGUNDO MAIS POPULOSO DE ÁFRICA

ETIÓPIA

94,1 milhões de habitantes 3 milhões de habitantes

ADDIS ABEBA GAMBO

8,4%

0,3%

OUTRAS RELIGIÕES

ANIMISTAS

Em média cada família tem sete filhos

34,7%

MUÇULMANOS

Ordenado médio nacional em euros

Fonte: INE/Eurostat/AIS

1 euro = médio 23médio birrNacional Ordenado em euros Ordenado Nacional em euros

CRISTÃOS (1% de católicos)

4,37€ 4,37€

839 839 100 100

PORTUGAL ETIÓPIA PORTUGAL ETIÓPIA

20

56,6%

Fátima Missionária

1,09€ 1,09€ 0,63€ 0,63€ quilodedemaçãs maçãs 1 1quilo

0,71€ 0,71€

quilode debatatas batatas 11quilo

0,80€ 0,80€

0,59€

11 litro de leite

conseguir melhor preço. O problema é que não temos dinheiro suficiente para fazer esse tipo de compras, pois estamos dependentes das ajudas que nos vão chegando a pouco e pouco. Neste momento, estamos a comprar à semana, para mantermos os mínimos, mas há sempre períodos de dois ou três dias em que um fármaco falta e é preciso suprir a falta com outro alternativo”, afirma resignado Francisco Reyes, irmão missionário da Consolata, atualmente com 50 anos, 23 deles passados em Gambo. Orçamento no vermelho Cada paciente paga 30 birr (pouco mais de um euro) por consulta e uma média de 20 euros por uma semana de internamento. Apesar destes valores se revelarem uma sobrecarga para a maioria dos orçamentos familiares, “cobrem apenas 25 por cento” das despesas gerais da unidade, que ultrapassam os 20 mil euros mensais. Criado para “atender a população rural e pobre” dos distritos de Arsi Negele e Kore, o Hospital de Gambo pratica “os preços mais baixos do mercado”. Como na Etiópia não existe o acesso gratuito aos serviços de saúde, “há um grupo da Cáritas que tenta cobrir as despesas quando alguém não tem mesmo posses”. O resto das verbas para garantir a sobrevivência da unidade provém “de doações de instituições, de particulares e da realização de pequenos projetos”, explica Reyes, que ao longo dos anos se foi habituando a deixar o dia de amanhã “nas mãos de Deus”, sob pena de perder a sanidade mental. “O lógico seria chegar a um acordo com o governo para que subsidiasse uma parte dos ordenados dos profissionais contratados, ou nos fosse concedida uma comparticipação para os medicamentos”. Como esta parece ser uma meta difícil de atingir, resta viver um dia atrás do outro, “sempre com a esperança que se encontre uma solução” para os inúmeros problemas clínicos e financeiros que surgem a todo o momento e quando menos se espera, conclui o missionário espanhol.


O eterno problema da desnutrição

A desnutrição continua a afetar milhares de crianças, muitas delas por não terem hábitos corretos de alimentação

Associada normalmente à insegurança alimentar, a Etiópia atravessa de novo um período de grandes dificuldades devido ao insucesso das duas últimas temporadas de colheitas, atribuído ao fenómeno El Niño. A seca severa que tem atingido o país provocou uma quebra na produção agrícola entre 50 a 90 por cento, que afetou os pastos e causou a morte de muitas cabeças de gado, tornando ainda mais difícil o acesso da população à comida.

Segundo estimativas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o número de etíopes que carece de assistência alimentar deverá aumentar dos atuais 10 milhões para perto de 18 milhões até ao final do ano. Neste grupo inserem-se cerca de seis milhões de crianças, que além de atingidas pela desnutrição, irão faltar mais às aulas por se verem forçadas a percorrer a pé distâncias maiores à procura de água. A região de Gambo nem é uma

das mais afetadas, porque a terra é fértil e a falta de água não é tão grave como noutras zonas do país, mas a malnutrição continua a afetar crianças e adultos, em muitos casos por questões culturais. “Existe a malnutrição crónica, provocada pela falta de certos nutrientes, e a malnutrição severa que afeta sobretudo as crianças entre os dois e os seis anos. E isto devido a costumes, tabus e tradições da população”, explica o diretor do Hospital Rural de Gambo. De acordo com Francisco Reyes, logo que uma criança começa a andar – e porque a mãe por norma já tem outro bebé nos braços – torna-se autónoma e fica ao cuidado dos irmãos mais velhos, que podem ter apenas mais um ou dois anos. Em casa, podem ter ovos, leite e até carne, mas como passam o dia no campo, a cuidar dos animais, o habitual é que peguem “numa maçaroca de milho e num pedaço de pão” e fiquem um dia inteiro apenas com esses alimentos no estômago. “Ninguém se preocupa quanto come a criança, ou que coisas come. Ela normalmente não pede nada e os irmãos que cuidam dela não têm a capacidade para dizer que tem que comer esta ou aquela coisa, até que acabam doentes”.

Homenagem ao padre Carlos Domingos

Cumprindo a tradição etíope, a população de Gambo reuniu-se para celebrar os 40 dias da morte do missionário da Consolata, padre Carlos Domingos, no passado mês de fevereiro. A Eucaristia contou com a presença de vários religiosos e religiosas que trabalham na Etiópia e foi concelebrada pelo padre Eugénio Butti,

que esteve acompanhado da irmã (Lúcia Domingos) e de uma sobrinha (Mónica Farinha) do missionário falecido a 2 de janeiro, na sequência de um acidente. No final da celebração foi feita uma oração junto do túmulo do sacerdote, construído nas imediações da igreja da missão.

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mãos à obra

Construir “casas de saúde” para assegurar cuidados básicos O elevado índice de pobreza e a falta de infraestruturas sanitárias serviram de incentivo aos missionários da Consolata para lançarem um projeto para a construção de pequenas unidades de saúde em aldeias isoladas, na Costa do Marfim Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | RAMON Lázaro Esnaola

O aumento das solicitações para tratar casos de emergência médica, quer na missão da Consolata em Marandallah, quer na de Dianra, na Costa do Marfim, associado ao isolamento das povoações, à pobreza, e à carência de infraestruturas básicas, levaram à criação de um projeto para construção de pequenas “casas de saúde” que possam servir de apoio à população de 11 aldeias, nos arredores de Dianra. Cada unidade custa em média 2.500

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euros, e será constituída por um edifício pequeno, de construção simples, mas adaptada para realizar consultas médicas, assegurar a vacinação dos mais novos, armazenar material, dar formação a futuros auxiliares de saúde, e promover ações de prevenção, revelam os missionários envolvidos na campanha. A ideia é que estes pequenos centros sirvam de apoio logístico ao Centro de Saúde José Allamano, que

funciona na vila de Dianra e que está também em processo final de reestruturação e ampliação. Equipado com dois consultórios, farmácia, centro de formação em saúde e um vestiário, o espaço será reforçado em breve com um serviço de maternidade e um laboratório clínico, o que deverá levar ao aumento do quadro de pessoal, neste momento composto por uma enfermeira e três auxiliares, todos formados na escola profissional de Korhogo, com o apoio da missão de Dianra. A Costa do Marfim registou uma média de crescimento de três por cento do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos três anos, mas continua a figurar na lista dos países mais pobres do mundo. Segundo dados das Nações Unidas, 35 por cento dos cerca de 23 milhões de habitantes vive com menos de um euro por dia. A esperança média de vida é de 51 anos e 29,6 por cento das crianças com menos de cinco anos estão abaixo do peso normal. Ao nível da saúde, 77,5 por cento da população não tem acesso a qualquer instalação de cuidados médicos e 2,7 por cento está infetada com o vírus HIV/Sida. Em termos de preferência religiosa, mais de 40 por cento dos marfinenses são muçulmanos, 19,4 por cento são cristãos católicos e 19,3 por cento evangélicos. Há ainda uma percentagem superior a 12 por cento que professa as religiões tradicionais.


IMAGENS DE MISERICÓRDIA

Foto | Arquivo

Eis outro campo da promoção humana: ensinar, instruir. Muitas pessoas não se promovem, não fazem melhor, porque ninguém as ensinou. Ninguém aprende sozinho, ninguém se promove sem a ajuda dos outros. É extraordinária a rede de escolas primárias, secundárias e universitárias que os missionários ergueram em territórios ditos de missão. Para que as pessoas através do conhecimento mudem o seu modo de ver e de interagir com o mundo. É uma obra de misericórdia sempre necessária e atual.

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# gente nova em missão ALEGRIA

DISTINTIVO DO CRISTÃO

Olá amiguinhos! A Festa da Vida é a festa mais importante para os cristãos, pelo que é motivo de grande alegria por ser a manifestação do grande amor de Deus por toda a Humanidade. E porque a alegria é o sinal distintivo de todo o cristão, neste Ano Santo da Misericórdia há que vivê-la ainda com mais intensidade Texto | Claúdia feijão ilustração | david oliveira

A propósito das palavras do Papa Francisco que disse que «um cristão sem alegria ou não é cristão ou está doente» lembrei-me que, há uns anos, ouvi um amigo dizer que o cristão tem de ser alegre, jamais pode ser alguém deprimido. Porquê? Porque por mais que o seu caminho seja difícil, como uma estrada com muitas curvas, com subidas íngremes e descidas vertiginosas, o cristão confia em Deus pois sabe-se amado por Ele. Assim, um cristão é sempre alegre! A alegria é o “selo de qualidade” do cristão. E há forma mais rápida de mostrar a nossa alegria do que o nosso sorriso? Por isso, pequenos missionários, sorriam sempre a todos os que convosco se cruzem, e cumprimentem-nos com alegria. Mas ser alegre também é ficar feliz com o que de bom acontece aos outros. Não vos alegra saber que, quando fazem algo de bom ou vos acontece alguma coisa que vos deixa feliz, os outros também ficam alegres e felizes por vós? Então, devem ficar felizes com a felicidade dos outros, fazer dela a vossa felicidade, pois isso é a manifestação do amor, do amor fraterno por cada pessoa a exemplo de Jesus. É tão bom amar e ser amado. O amor ao próximo pode ser visível no sorriso, mas também nas ações que fazemos, como, por exemplo, ajudar os pais quando eles estão cansados, assumindo algumas responsabilidades como arrumar o quarto, separar e deitar fora o lixo, pôr a mesa; ou ajudar os irmãos quando eles precisam. Isto, claro, sem reclamar. Porque é alegria, o cristão facilmente cria amizades, estabelece laços, é interessado e atencioso para com todos os que encontra (e de forma especial para com os que estão desanimados), é caridoso, e faz das dificuldades um desafio, razão pela qual é força animadora e consoladora para todos. Assim, pequenos grandes missionários, sorriam sempre! Basta um sorriso sincero para transformar o “mundo” de alguém. E sorrindo, deixo-vos uma adivinha: qual é a coisa qual é ela que é gratuita, mas sempre bela? Muito bem, acertaram todos!!! É o (vosso) sorriso! 24

Fátima Missionária


SABIAS QUE

O sorriso faz bem à saúde? Ele reforça as defesas do nosso organismo. Por exemplo, desde logo exercita os músculos faciais; mas também ativa a circulação, e faz com que os nossos neurónios libertem uma substância química, a endorfina, que tem poder analgésico, entre outros.

MOMENTO DE ORAÇÃO Obrigada Senhor pelo Teu amor que me consola nos momentos menos bons e que me fortalece para viver e testemunhar com alegria o imenso amor que tens por todas as pessoas. Onde haja tristeza e desânimo que eu leve a alegria com o meu sorriso a consolação com o meu abraço e o amor com a minha presença. Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória…

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tempo jovem

UMA aplicação CHAMADA PROXIMIDADE

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Fátima Missionária


Texto | ÁLVARO PACHECO Foto | TERESA SILVA

Sabemos o quanto a nossa sociedade está cada vez mais ligada ao mundo virtual, com termos como “online”, “wi-fi”, “whatsapp” e outros fazendo parte do dia a dia, não só dos mais novos como de muitos menos jovens. Há inclusive adolescentes e jovens que não conseguem imaginar um mundo sem telemóveis, tablets e outros instrumentos tecnológicos que aos poucos mudam a forma como as pessoas se relacionam entre si. Recordo que no passado Natal uma das publicidades mais recorrentes tinha precisamente a ver com a possibilidade de toda a família estar ligada com o “wireless”, fazendo tudo menos falar uns com os outros.

tu tiveres um pouco de tempo, podes vir a minha casa buscar o original.’ Assinado: teu avô virtual”.

Recentemente, recebi um e-mail que nos pode convidar a uma reflexão sobre a transformação nas relações interpessoais. Esta é a história que esse email contava: “O avô finalmente comprou um computador e até se desenvencilha bem, em especial com os emails. E eis que recebe um do André, seu neto de quinze anos, que diz: ‘Bom dia, avô, como vais? É muito bom saber que agora nós podemos trocar mails. Assim não preciso de ir a tua casa para ter notícias tuas! Olha, avô, para a minha semanada tu agora podes fazer transferência para esta minha conta jovem: PT50009999. Fácil, não é avô? Teu neto André, que te adora’. E o avô responde: ‘Querido André, está tudo bem. Eu comprei um velho scanner a um amigo. Assim, eu vou scanizar uma nota de 20 euros e enviá-la por mail; quando

O Evangelho deve ser entendido não só como um livro (neste caso, quatro livros) que nos fala de Jesus, mas acima de tudo entendido como sendo o próprio Jesus, ou seja, a incarnação da Boa Nova que Deus nos transmite através da missão do Seu Filho e nosso irmão. Mais ainda: Jesus entrega a Sua missão a cada um de nós, cada um segundo a sua vocação e capacidades. Mas a alguns ele faz uma proposta mais direta e comprometedora: de serem continuadores pessoais da sua mesma missão. Como tenho mencionado em crónicas anteriores, o nosso mundo está cada vez mais necessitado destes e destas que se colocam ao serviço da missão de forma comprometida para toda a vida.

Ora, certamente se Jesus fosse vivo hoje, também faria uso dos meios que temos à disposição, mas não deixaria de dar preferência ao método de comunicação mais usado por Ele há dois mil anos: o “face-to-face”. Ou seja, o encontro pessoal, onde ver, escutar, abraçar e partilhar outras formas de amizade e amor, tem mais sentido, profundidade e valor e, como tal, era o método preferido e o mais admirado por todos os que O seguiam e com Ele conviviam.

Para que esta missão seja possível – e falo por experiência própria – é necessário que se faça uma aplicação

especial à vida e à relação com o próximo: gostaria de lhe chamar o “app” (aplicação) da proximidade. É esta mesma proximidade que o Papa Francisco tanto tem mencionado nos seus discursos, toda ela baseada na figura e ação de Jesus, o qual era o Mestre da proximidade por excelência. Basta pensar que, se quisesse, Ele podia ter ficado comodamente instalado numa sinagoga em Jerusalém, com filiais em Nazaré, Betânia, Cafarnaum e outras localidades onde era seguido e adorado por multidões. Porém, ao contrário do que seria normal, Ele escolheu a missão feita em caminho, baseada na proximidade às pessoas. Esta proximidade caracteriza-se acima de tudo pelo acolhimento, aceitação do outro e por atitudes que vão desde a compaixão à misericórdia, passando pela partilha, compreensão, empatia, consolação, entre outras. Todas elas valorizam, promovem e defendem a dignidade de cada pessoa. Mais do que ninguém, o missionário deve ser especialista nesta aplicação da proximidade, para que a Igreja seja de verdade e cada vez mais autêntica e humildemente um instrumento credível e ativo do amor de Deus no mundo e para com o mundo. Claro, falar é fácil, mas é necessário tomar consciência da nossa vocação humana para a felicidade. E o nosso mundo precisa de gente dedicada a este serviço de amor pela humanidade a tempo inteiro. Somos ainda poucos e a missão é mais urgente do que nunca.

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sementes do reino

“Tu amas-me?” Texto | PATRICK SILVA Foto | LUSA

A noite é geralmente o melhor horário para pescar, mas é também o momento das trevas, isto é, da ausência de Jesus, pois Ele é a luz do mundo

Um misto de alegria e apreensão terá acompanhado os discípulos de Jesus após a experiência em Jerusalém durante aquela Páscoa. Depois de terem acompanhado o Mestre por três anos, pelas estradas da Galileia e arredores, de repente perderam-no, porque parecia ter sido derrotado na cruz. Mas afinal o Mestre não era um derrotado, era um vencedor. Continuava vivo, e por várias vezes apresentou-se aos seus. O encontro foi especial para Pedro.

Leio a Palavra Jo 21, 1-19

Estamos no último capítulo do Evangelho de São João, um texto que provavelmente não teria pertencido à obra original, mas hoje é parte integrante e isso é o mais importante. O texto apresenta uma das aparições de Jesus aos discípulos, desta vez em Tiberíades. Pedro aparece como o centro do grupo; é ele que toma a decisão de ir pescar naquela noite, os outros discípulos associam-se.

Naquela noite, porém, a pesca foi um fracasso. A noite é geralmente o melhor horário para pescar, mas é também o momento das trevas, isto é, da ausência de Jesus, pois Ele é a luz do mundo. Assim, o resultado não podia senão ser um fracasso. Mas com a chegada da manhã (a luz) vem também a chegada de Jesus e a situação vai mudar. Obedecem às ordens deste “estranho”, mas os discípulos não o reconhecem! É a abundância da pesca que faz com que o discípulo predileto reconheça esse “estranho”. Após a pesca, o texto concentra-se no encontro entre Pedro e o Ressuscitado.

Saboreio a Palavra

A segunda parte do texto é dedicada à troca de palavras entre Pedro e Jesus. Pedro é convidado por três vezes a professar-lhe o seu amor. É claro que vêm à mente as três vezes que Pedro negou conhecer Jesus. Pedro tinha dificuldade em aceitar o caminho da cruz; para ele o Messias deveria ser poderoso. Jesus recorda-lhe que precisa de mudar de mentalidade, pois o valor fundamental do Reino de Deus é o amor, que entrega a própria vida.

Rezo a Palavra

No silêncio da sua oração responda à pergunta de Jesus: “Tu amas-me”? O que significa amar Jesus?

Vivo a Palavra

A pesca dos discípulos sem a presença de Jesus foi um fracasso. Isso é uma advertência para nós. Podemos dispor dos meios mais sofisticados para realizar a missão, mas se Jesus não estiver presente, se Ele não for o centro da missão, será tudo um fracasso. Amar Jesus significa aderir ao caminho do Mestre; a cruz está sempre no horizonte, não como instrumento de violência, mas como sinal da entrega total aos outros. Ou seja, a cruz é agora doação da vida por amor. 28

Fátima Missionária


A palavra faz-se missão

ABRIL

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2º Domingo da Páscoa | Act 4, 32-25; 1 Jo 5, 1-6; Jo 20, 19-31

Domingo da Misericórdia

“Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia”. Detenho-me no gesto do Mestre, que transmite aos discípulos receosos e admirados a missão de serem ministros da misericórdia divina. Soprando sobre eles, Jesus confia-lhes o dom de “perdoar os pecados”, que brota da ferida do seu lado trespassado: uma vaga de misericórdia para toda a humanidade. Sobretudo neste Ano Jubilar.

Que a minha vida, Senhor, à imagem da tua, seja portadora de misericórdia para com todos.

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3º Domingo da Páscoa | Act 5, 27-41; Ap 5, 11-14; Jo 21, 1-19

Apascenta as minhas ovelhas

“Pedro, amas-me mais do que estes”? Só Deus sabe o que se passa no coração de cada pastor que Ele chamou. Só Ele é capaz de medir a intensidade do seu amor e dedicação. Apesar das limitações e fraquezas daqueles que chama, o Senhor não desdenha de lhes confiar a enorme missão de pastorear e fazer conhecer os caminhos de Deus.

Pela tua infinita misericórdia, perdoa, Senhor, os nossos erros, e recebe os frutos do nosso amor.

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4º Domingo da Páscoa | Act 13, 14-52; Ap 7, 9-17; Jo 10, 27-30

A vocação de Pastor

Hoje é Dia das Vocações de especial consagração. O Cordeiro Pascal transformou-se em Pastor. Pela sua morte e ressurreição conquistou para Si um rebanho, que Ele conduz para as pastagens eternas. De ovelhas desgarradas tornou-nos comunidade de pessoas, que conhecem e seguem a sua voz. Que sorte a nossa, poder ouvir a sua voz, sermos chamados pelo nosso nome e experimentarmos a sua predileção.

Suscita no mundo, Senhor, pastores segundo o teu coração, que nos ajudem a ouvir a tua voz.

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5º Domingo da Páscoa| Act 14, 21-27; Ap 21, 1-5; Jo 13, 31-35

O nosso distintivo

“Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. Basta essa marca para identificar os seguidores de Jesus. Amar é a nossa vocação e o nosso ofício. Criados à imagem e semelhança de Deus, é no amor que encontramos a nossa identidade mais profunda de filhos de Deus e irmãos de Cristo. “Como Eu vos amei”, acrescenta Jesus. Esse “como” dá-nos a medida, o modelo e a perfeição desse amor. Não há outra forma de fazer missão nem outros conteúdos a anunciar.

Ensina-me, Senhor, a tua divina arte de amar, e dá-me força para te imitar.

intenção pela evangelização Para que os cristãos de África deem testemunho do amor e da fé em Jesus Cristo no meio dos conflitos político-religiosos

Cristãos de África O facto é indesmentível. O número dos católicos em África, no espaço de quase dois séculos, cresceu rapidamente. Sobretudo pela ação heroica e abnegada de gerações de missionários. Confirmam-no as comunidades vivas com a consolidação da Igreja no continente, o crescimento do clero autóctone, os Institutos de Vida Consagrada locais e a progressiva extensão da rede de catequistas. Mas têm sido várias as provas a que as comunidades foram ultimamente submetidas. Na Nigéria, a seita radical islâmica Boko Haram encontrou o território ideal para desencadear ações extremistas de pendor anticristão. Os 160 milhões de nigerianos são metade cristãos e metade muçulmanos. E os conflitos político-religiosos têm aumentado. Também no Quénia, onde 30 por cento da população é católica, surgem inquietações. Nos últimos dois anos esse país tem sido alvo de uma série de ataques do grupo somali islamita Al Shabaab, com a morte de centenas de pessoas. Pede-se o testemunho de fé dos cristãos nestes conflitos. DV

DV

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LEITORES ATENTOS

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Fátima Missionária

Há uma coisa que me inquieta. Se é tão bonita, como dizem, a vocação do padre ou do missionário, porque é que há tão poucos a segui-la? David Sanches – Fundão

Aí está uma pergunta que toca o mistério. Quem sabe lá porque há tão pouca gente a enveredar por esse caminho. Porquê tão poucos padres? Porquê tão poucos missionários? Trata-se de uma vocação, um chamamento. Não é uma simples profissão. Não vai quem quer, mas só quem se sente chamado. Pode haver um conflito entre a vida como projeto pessoal e a vida como vocação. A vida como projeto pessoal coloca o acento na liberdade da pessoa para fazer o que lhe apraz, e a vida como vocação coloca a pessoa diante do mistério de um chamamento interior que faz do homem interlocutor de Deus. Daí o grande número de desistências durante o longo tempo de preparação. E se calhar é também devido à pouca vivência da vocação cristã no seio das nossas famílias. Acresce que as famílias são cada vez menos numerosas. Junte-se o testemunho de fraca autenticidade de uma parte dos que servem esta missão. Junte-se ainda os condicionamentos do celibato não profundamente entendido e as dificuldades de responder com radicalismo evangélico numa sociedade cada vez mais laxista e permissiva. Mas creia, senhor David. Antes poucos, mas bons. Que amem a sua vocação, que se sintam felizes de servir, que sejam totalmente de Deus, totalmente das pessoas e totalmente de si mesmos. DV

Frutos de um retiro Vimos expressar o nosso cordial agradecimento à Família da Consolata pela realização, em Fátima, do retiro organizado pela FÁTIMA MISSIONÁRIA, subordinado ao tema: “Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes”. Queremos de forma particular demonstrar o nosso especial apreço pela forma como o digníssimo padre José Matias o orientou. As suas celebrações e homilias são sempre bonitas. Mais uma vez, sem recorrer a eloquentes discursos, extensas exposições ou locuções, o padre Matias fez-se pequenino, e como só os pequeninos sabem fazer, ilustrou-nos a misericórdia das cores do arco-íris, com a singeleza e graciosidade de um beija-flor. Saímos todos mais rejuvenescidos e ricos para trilharmos o caminho missionário. Bem hajam. Nelson Rodrigues e Hilária Costa (casal)

Coração lindo e grande Muito obrigada pelos dois livros recebidos e por todas as vossas atenções e cuidados para comigo. Junto cheque com a quantia necessária para o pagamento dos livros e para a renovação da assinatura do próximo ano. É uma revista com um coração lindo e grande. Nem sempre consigo ler tudo, por causa de outras leituras e escritos que tenho a fazer e por causa dos meus oitenta anitos. Cumprimentos para os autores da revista e para todos os que para ela trabalham. Maria Ester


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Crianças de Mkindu – Tanzânia José Correia 50,00€; Aires Ferreira 100,00€; Filomena Vaz 50,00€; Lúcia Leitão 50,00€; Rosário Duarte 250,00€; Rosário Duarte 60,00€; Anónimo 1,50€; Alexandre Valente 25,00€; Anónimo 10,00€; Helena Barros 100,00€; Anónimo 10,00€; Anónimo 40,00€; Anónimo 20,00€; Anónimo 40,00€; Anónimo 5,00€; Artur Ramos 30,00€; Anónimo – Benigna Rito Gomes 10,00€; Guilhermina Santos 5,00€; Carlos Fernandes 11,70€; Fátima Sousa 10,00€; Preciosa Neto 5,00€; Cecília Fontes 25,00€; Anónimo (Fiães) 125,00€; Palmira Ribeiro 20,00€; AMC – Zona Sul 1.000,00€; Joaquim Oliveira 93,00€; Bárbara Silva 10,00€; Francelina Santos 11,00€; Anónimo 30,00€; Maria Fonseca 25,00€; Cesaltina Cardoso 10,00€; Donzília Cardoso 20,00€; Amélia Martins 20,00€; Isabel Joaquim 10,00€; Sandra Roda 10,00€; Maria Pereira 20,00€; Celeste Areia 15,00€; Anónimo (Fiães) 50,00€; Gracinda Santos 13,00€; Guida Borges 52,00€; Adelaide Belo 1,00€; Natália Nascimento 20,00€; Fernanda Carreira 18,00€; Lucília Cordeiro 20,00€; Olinda Marques 10,00€; Odete Pedro 5,00€; Salomé Afonso 20,00€; Maria Aguiar, Alzira Grilo, Maria Rosário e Piedade Cristina 100,00€; Miguel Soares 30,00€; Leonilde Monteiro 9,00€; Suzete Casaca 15,00€; Cármen Blanco 25,00€; Jorge Carreira 5,00€; Anónimo 20,00€. Total geral = 11.372,70€ Bolsas de Estudo António Matos 250,00€; Belmira Sousa 150,00€; Belmira Sousa 100,00€. Crianças Irã Anónimo 50,00€; Hermínia Lourenço 20,00€; Anónimo 40,00€; Fernanda Pires 13,00€. Crianças do Quénia Lúcia Marinho 13,00€. Ofertas várias Vitória Capão 295,00€; Etelvina Dias 45,00€; Anónimo 50,00€; Anónimo 48,00€; Anónimo 50,00€; Anónimo 250,00€; Maria Antunes 50,00€; Manuel Antunes 29,00€; Anónimo 36,00€; Anónimo 60,00€; Rosa Ribeiro 28,00€; Manuela Reis 30,00€; Guilhermina Maldonado 33,00€; Manuel Silva 43,00€; Lourdes Dias 63,00€; Joaquina Padeiro 43,00€; Alberta Pereira 43,00€; Manuel Santos 250,00€; Henrique Macedo 360,00€; Emília Santos 43,00€; Aristides Alves 36,00€; Anónimo 40,50€; Gilberto Laurêncio 51,00€; Vasco Gouveia 33,50€; Estela Barroso 43,00€; Áurea Simplício 40,00€; João Monteiro 36,00€; Família Lorenzini Bruno 90,50€; Anónimo 90,00€; Ermesinda Guerra 90,50€; Maria Ferreira 36,00€; Manuela Gama 36,00€; Alberto Monteiro 36,00€; Ernestino Caniço 36,00€; Lucília Rebelo 100,00€; Isabel Inácio 39,00€; Delfina Marques 86,00€; Rosa Oliveira 36,00€; Filomena Querido 36,00€; José Barrote 33,00€; Lurdes Matos 129,00€; José Ferreira 100,00€; José Faria 50,00€; Fernanda Simões 43,00€; Alda Ferreira 40,00€; Rosa Costa 53,00€

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vida com vida

Padre CÓSIMO BRIGANTI

Rico de virtude e de sapiência Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Cósimo nasceu no sul da Itália em 14 de março de 1926, um mês depois da morte do beato José Allamano. Ainda jovem, conheceu os Missionários da Consolata, e desses encontros nasceu uma amizade duradoura que o levou a entrar para o Instituto. Ao missionário que ao seu pedido respondeu positivamente escreveu: “Foi com imensa alegria que recebi a sua resposta. Prometo fazer tudo para

concretizar a imagem do missionário que descreveu na sua carta”. Entrou em 1949 para o seminário teológico, e foi ordenado sacerdote no dia 7 de junho de 1952. Dele escreveu o mestre dos noviços: “Era um noviço generoso, todo dedicado à sua vocação missionária”. Ainda durante o seu noviciado, quis Satanás entravar o seu caminho para a missão: ao ir de moto ajudar uma paróquia num serviço religioso, deu um trambolhão, ficando bastante ferido. Transportado ao hospital em condição grave, preparou-o o superior para o pior, exortando-o a aceitar a vontade de Deus. O padre Cósimo exclamou: “Mas então, já não poderei ser missionário? Vou rezar, e peço que todos rezem, para que o Senhor me cure, para eu poder ir trabalhar nas missões ao menos alguns anos!” Ao saber do êxito ótimo da operação, exclamou cheio de alegria: “Graças a Deus partirei em breve para as missões”. Foi enviado para a missão de Nyeri, no Quénia. Como bom músico que era, jovial, e entusiasta, fez um trabalho precioso em várias missões, como encarregado de escuteiros, fundador duma escola para a promoção humana de jovens moços e moças, diretor das escolas da zona da missão, e várias outras atividades. Em 1962 vai para a Itália para ajudar os seus idosos pais de quem era filho único. Seis meses depois, com grande alegria parte de novo para o Quénia. Mas dois anos mais tarde a sua saúde fraqueja e tem de voltar para a Itália. E de repente, em 20 de agosto de 1964 sucumbe a um ataque de coração. Na África, choraram a sua partida. Diziam numa carta: “A ferida da separação sangra abundantemente a dizer-te quanto bem te queremos! Vive, caríssimo padre, no amor de Jesus e Maria. Saudamos-te nós, os teus amados filhos e filhas da missão de Mwea!” Assim o recordamos também nós: vivente no amor de Jesus e Maria.

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Fátima Missionária


O QUE SE ESCREVE

A Confissão Arrependimento Porta da Misericórdia Sacramento da Misericórdia Soren Kierkegaard,

um dos maiores pensadores cristãos da época moderna, escreveu que somos cristãos na medida em que tomamos consciência de sermos perdoados dos nossos pecados. Conversão, arrependimento e misericórdia são os temas fortes deste pequeno livro, precioso e oportuno. De uma forma simples e catequética, o autor explica como a fé da Igreja pensou e ensinou aos fiéis a importância do arrependimento. Autor: Cardeal Jorge Medina Estévez 76 páginas | preço: 5,00 € Paulus Editora

Os milagres como Evangelho Sentido teológico dos milagres de Jesus

Fará sentido ainda hoje falar de milagres? O livro, vencedor da segunda edição do prémio PAULUS, poderá ser uma resposta. Como diz o autor, longe de qualquer simplismo, que poderia levar a conclusões precipitadas, a questão dos milagres, na perspetiva cristã, reveste-se de profunda complexidade, requerendo uma adequada compreensão e meditação dos textos bíblicos. O autor pretende aqui revisitar o conceito bíblico de milagre, frequentemente mal interpretado, descobrindo-o mais propriamente como sinal e não tanto como uma violação das leis naturais. Autor: Renato Filipe da Silva Oliveira 128 páginas | preço: 11,00 € Paulus Editora

Pequenos Passos Possíveis Chiara Corbella Petrillo A palavra às testemunhas Aqui está uma biografia de alguém que passou rapidamente por este mundo e deixou um rasto de santidade. “Para chegares ao Senhor não deves ir a correr, mas também não deves caminhar demasiado devagar: deves ter um ritmo constante, contínuo e, sobretudo, centrado no presente”. Vale a pena acompanhar os testemunhos que aqui deixaram aqueles que conheceram esta jovem mulher, e vê-los como “uma fonte onde ir beber”. Autor: Vários 108 páginas | preço: 9,00 € Editorial A.O.

Verifica-se atualmente entre os crentes uma certa desafeição para com o sacramento da confissão. As causas vão da negação da sua utilidade à convicção de que o perdão é algo meramente privado entre a própria consciência e Deus. O Jubileu da Misericórdia pode constituir uma boa oportunidade para redescobrir o valor e a beleza deste sacramento. É o que se pretende com este livro, que vale a pena meditar. Autor: Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização 136 páginas | preço: 8,90 € Paulus Editora

Os Salmos da Misericórdia

A misericórdia é uma das características divinas que o Saltério mais evidencia. Este livro que recolhe e comenta vários “salmos da misericórdia” é um bom instrumento pastoral e um guia precioso para acompanhar os peregrinos à Porta Santa e para descobrir que “a misericórdia de Deus, como diz o Papa Francisco, não é uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor”. Autor: Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização 136 páginas | preço: 8,90 € Paulus Editora

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MEGAFONE

por albino brás

“Acho que ninguém está preparado para a morte. Ainda hoje quando penso nisso é uma coisa que não me agrada, porque eu gosto de viver. Não é uma questão de ter medo da morte, eu tenho é pena de deixar de viver”

Nicolau Breyner (1940-2016) ator e cineasta português, Público, 2010

“Um homem só tem direito a olhar outro homem de cima para baixo, se for para o ajudar a levantar-se”

Gabriel García Márquez (1927-2014) escritor, jornalista, editor, ativista e político colombiano

“A prova de que uma pessoa encontrou Deus não está na sua maneira de falar de Deus, mas de como fala das coisas terrenas”

Simone Weil (1909-1943), escritora, mística e filósofa francesa

“As pessoas nunca são tão completamente e entusiasticamente más, como quando o são ao agirem por convicção religiosa”

Umberto Eco (1932- 2016), escritor, semiólogo, linguista italiano 34

Fátima Missionária

“Quando eu nasci, as frases que hão de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa: salvar a humanidade"

José de Almada Negreiros (1893-1970), escritor e artista português


Uma noite extra alojamento e pequeno almoço numa estadia de uma ou mais noites

Condições

assinatura actualizada Disponibilidade do hotel no período pretendido Campanha válida até 31 de Dezembro de 2016 Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2495-908 Fátima | Portugal telefone 249 539 400 hotelconsolata@consolata.pt


RECADO

Porque é que o há de vir já te perturba? Não deixes essa sombra ameaçar! A vida é só presente. O amanhã pode nunca chegar. A vida é sempre e só este momento. sem há pouco nem logo. Só agora. A vida é eternidade em cada hora. Há tempo de ter medo e de sorrir, mas cada tempo tem a sua vez. Porque é que hás de temer já o porvir, se agora o amanhã é só talvez? Fernanda Seno – Trilho de pó

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