FÁTIMA MISSIONÁRIA Agosto/Setembro 2013

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ANO LIX | AGOSTO / SETEMBRO 2013 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

SUCESSÃO

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QUATRO EXEMPLOS DE RENÚNCIA QUE MARCARAM A ATUALIDADE

MALOCA MISSIONÁRIA ‘NASCE’ NA SELVA Pág. 12 O MUNDO ENCANTADO Pág. 14 DE MARIA SANTUÁRIO PROPÕE ROTEIRO DE VERÃO Pág. 34


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial

EM BUSCA DO EQUILÍBRIO “As minhas férias eram sempre a monotonia do costume. De bar em bar, de discoteca em discoteca, de evasão em evasão. O mesmo cansaço e insatisfação. Mas naquele ano foi diferente. Um amigo, verdadeiramente amigo, convidou-me para uma “semana de deserto”. Foi assim que ele a chamou. E o que é isso? Perguntei. Vem ver. Só te pedimos que te libertes de ti mesmo. Fui, à experiência. No princípio tudo me era estranho e eu, crítico e céptico, pouco ou nada entendia. Depois comecei a fazer o que me pediam: trabalho, leitura, silêncio, reflexão. E entendi ali mesmo que «quem tem Deus como centro tem o universo inteiro como circunferência»”. É com o testemunho de um jovem de 19 anos que abro esta reflexão sobre o tempo de férias, de que todos precisam para pacificar a vida e recuperar o equilíbrio, facilmente quebrado por ritmos e ruídos enervantes, pressas e horários. Tensos e fatigados, divididos e dispersos, precisamos de prestar um pouco mais de atenção a nós próprios e aos outros. Bastam algumas semanas de ar livre, de descontração e de sol para voltarmos pacificados. Férias como reencontro: “Espero pelo verão como quem espera por uma outra vida” (Ruy Belo). A vida é um dom encantador que não se pode desbaratar. Vivê-la bem, com amor e respeito por tudo quanto o Criador nos concedeu, é sinal de inteligência e sensatez. Fundamental é fazer um banho de natureza para pacificar o olhar e adquirir um novo vigor. Olhar as aves do céu. Contemplar as flores do campo. Deixar-se tocar pela

brisa do mar ou da montanha. Repousar nas belezas naturais como sinais eloquentes da beleza eterna de Deus. Férias como crescimento nas relações humanas. Os contactos humanos são sempre enriquecedores, e um dia havemos de ver como Deus construiu a nossa vida através de outras vidas. “Acredito que aquilo que mais nos descansa é uma relação saudável com outra pessoa sem ter de me estar a defender, a mascarar ou a arranjar conversa, e isso é o que acontece com Deus” (V.P. Magalhães). Férias como tempo solidário: cada gesto feito com amor deixa paz e alegria no coração de quem o faz e de quem o recebe, e é tesouro acumulado no céu. Descanso ajudando a descansar no serviço gratuito aos que mais precisam: junto de outros povos e culturas, em apoio a pessoas singulares necessitadas ou no acolhimento benfazejo a pessoas em recuperação. Férias como “tempo do Espírito” para um encontro mais prolongado com Deus e os seus valores: uma caminhada rumo a um santuário, uma semana bíblica, litúrgica ou missionária, a leitura de um bom livro podem tornar-se verdadeiras escolas de vida, de silêncio ou mesmo de oração. É um descanso que faz reencontrar a vida. DARCI VILARINHO

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº8 Ano LIX – AGOSTO / SETEMBRO 2013 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 25.900 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colabora­ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diaman­tino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pa­­che­co – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção e Arquivo Capa e Contracapa Lusa Ilustração H. Mourato e Ri­car­do Neto Design e com­po­sição Happybrands e Ana Pau­la Ribeiro Ad­mi­nis­tração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ (inclui o IVA à taxa legal) Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal

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CORAGEM PARA ABDICAR

03 EDITORIAL Em busca do equilíbrio 05 PONTO DE VISTA A próxima estação 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Uma poesia de mundo novo 08 MUNDO MISSIONÁRIO Bispos do Gana reclamam direito à saúde

Violência ameaça paz em El Salvador Jovens australianos acolhem apelo do Papa ONU discute tolerância religiosa na Indonésia 10 A MISSÃO HOJE População espera 12 horas pelos missionários 11 PALAVRA DE COLABORADOR Tristezas não pagam dívidas 12 A MISSÃO HOJE Maloca missionária ‘nasce’ no meio da selva 13 DESTAQUE Os 7 cêntimos da indignação 14 ATUALIDADE O mundo encantado de Maria 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Preparar o regresso 24 TEMPO JOVEM Escutar, acolher, devolver 26 SEMENTES DO REINO Porta estreita 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA A felicidade de servir 32 OUTROS SABERES Na roda da vida 33 NOTAS MISSIONÁRIAS Faz o bem e não olhes a quem 34 FÁTIMA INFORMA Itinerário de peregrinação desafia à felicidade


ponto de vista

A PRÓXIMA ESTAÇÃO

texto JOÃO CÉSAR DAS NEVES

Uma das muitas vantagens de ser cristão é olhar sempre para o essencial. Os discípulos de Jesus nunca contemplam a turbulência do quotidiano sem pensar nas forças profundas que a geram. Nunca olham para a cruz sem considerar a ressurreição. Portugal, vivendo a sua longa via-sacra de austeridade e ajustamento, teve no início de julho de 2013 uma série de percalços que perturbaram o caminho. Alguns viram aí a Verónica que limpa o sangue ou até um Cireneu que alivia a carga. Outros simplesmente interpretaram como mais uma das muitas quedas do caminho, esta mais violenta que as anteriores. Muitos, como de costume, duvidam que o condenado se levante. Que dizer com segurança acerca destes acontecimentos, aliás ainda longe do fim? Para evitar as especulações e fantasias que pululam na nossa imprensa, e que tanto mais falam quanto menos sabem, deve usar-se a abordagem cristã e contemplar as forças determinantes. O país passa por um doloroso e intenso período de ajustamento. Após décadas de desequilíbrios e enviesamentos, avança um forte processo de poupança e transformação. Os aspectos mais visíveis são financeiros e orçamentais, mas há enormes desenvolvimentos nos campos produtivo, regional, laboral, e outros. Está a nascer a futura economia nacional. Os sofrimentos são óbvios, mas o que surpreende é a forma como a sociedade portuguesa tem reagido à terrível pressão. A História diz que seria sempre muito difícil sair daqui; mas um povo flexível, empenhado e solidário teria resultados mais rápidos e menos desastrosos. Ora

Portugal, longe de ter uma boa resposta, viveu nos últimos anos uma evolução mais favorável que a maior parte dos parceiros em condições semelhantes. O processo está longe do fim. Os ajustamentos vão durar muitos anos, e nunca poderemos voltar às tolices anteriores. Mas aproxima-se o fim do princípio. A generalidade das previsões oficiais afirma que a economia parará a queda no final de 2013, tendo crescimento ligeiro em 2014. O desemprego, que crescerá ainda algum tempo, aproxima-se dos máximos antecipáveis. Portugal não pode abrandar a vigilância, mas começa a colher os frutos da pesada terapêutica. Estes factos estão certamente ligados aos acontecimentos de julho. O cansaço e desgaste pelas pesadas medidas gerou as fracturas na coligação governamental. Mas, apesar dos cépticos, é também crescente o debate à volta do período pós-troika que deve começar em julho de 2014, o que certamente inspira muitos dos comportamentos políticos e económicos destes dias. Que devem dizer os cristãos a isto? Dizem que é preciso evitar euforias e desânimos. Que os problemas ainda são muito grandes e exigem ainda muita atenção. Que uma abordagem solidária, dialogante e comprometida é essencial para facilitar a difícil tarefa que nos cabe a todos. Não sabemos bem em que estação da via-sacra nos encontramos. Aquilo que não podemos esquecer é o que se diz em todas elas: “Nós vos adoramos e bendizemos, ó Jesus, que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo”.

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leitores atentos

RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o nú­­me­ro ou nome do assinante. Na folha on­de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos es­ti­mados assinantes renovem a assinatura para 2013. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os do­­na­tivos para as missões são de­dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto Sou assinante de Fátima

Missionária há já alguns anos, leio-a com agrado e lamento quando esbarro em assuntos como “O futuro decide-se hoje”. Será preciso ofender os velhos para defender a natalidade? É que a terceira idade está boa de saúde e muito ativa. Vejo-a na minha vida e quando vou buscar os netos ao colégio, onde há um grande número de avós. Realmente houve culpas nos anos 60, 70, etc., quando os jovens, não velhos, consumiam drogas e uma grande massa de jovens 6

Basta uma migalhinha

Envio este cheque para pagamento da assinatura. O resto é para ajudar o Jean da Costa do Marfim, pois dói-me o coração quando vejo tanta pobreza e não poder ajudar mais. Se todos dessem uma migalhinha… Que o pão dos anjos seja o pão dos pobres. Há tanta gente que nem se lembra que eles existem. Obrigado por tudo quanto nos dizem por meio da revista, porque assim ficamos a saber melhor o que se passa no mundo. Dulce Lina

Leitora de 92 anos

Venho pagar a assinatura e o resto é para ajudar quem mais precisa. É pouco, mas é com amor. Quero enviar-vos os meus parabéns pela nossa revista cada vez mais querida e amorosa. Eu já leio muito menos, porque os meus 92 anos não dão para mais, mas depois de ler dou-a a uma amiga que muito a aprecia. Maria

Elo que liga à infância

Vivo sempre na esperança de ir aí pessoalmente. Como não tem sido possível, aqui estou deste modo. Fiquei muito triste pela morte do padre Carreira que eu conhecia desde criança. A vossa revista é

não queriam filhos ou queriam um menino para ser rico. Hoje continua a haver disto, mas quem planeou? Os jovens sem cabeça. Os idosos, depois duma vida de trabalho, continuam, com o bom senso que a idade traz, a aguentar o barco e a apoiar a família. Lourdes Geada – Lisboa

Cara dona Lourdes, obrigado pelas suas palavras em defesa dos idosos. Realmente, no artigo, não pretendíamos ofendê-los. Longe disso. Apenas queríamos alertar para o grande problema da população em Portugal que está a diminuir drasticamente e que vai ter

elo que me liga à minha infância. Aprecio-a muito, por todo o conteúdo. Muito grata por tudo. Maria Alice

Rico conteúdo

As minhas saudações a todos os que trabalham na Fátima Missionária. Bem hajam pelo envio mensal e pelo conteúdo tão rico. É a única revista que recebemos aqui em casa e que tanto gostamos de ler. Logo que chega sou o primeiro a lê-la, mas logo a seguir passo-a à assinante direta que é a minha mulher. Obrigado. Elias

O passaporte com o número 328, emitido por ocasião da Peregrinação Anual dos Missionários da Consolata, foi contemplado com uma viagem a Roma, Itália, durante cinco dias, para duas pessoas, em regime de meia pensão. O portador do documento deve apresentá-lo numa das casas dos missionários.

tremendos reflexos no futuro. Não há dúvida que os idosos têm hoje um papel inestimável na sociedade. Não só pela sua experiência e bom senso, mas também, como muito bem afirma, pela ajuda direta aos filhos e aos netos. Com a crise que a todos atinge, demos graças a Deus pela terceira idade que temos para “aguentar o barco e apoiar a família”. Bem haja e continue a ler-nos e a interpelar-nos. DV


horizontes as conversas e os olhares tinham um único foco: Filipe, que punha a poesia a dançar para falar de paz, de amor, de fraternidade e da esperança que poisa dentro de cada um de nós. Havia lágrimas disfarçadas distribuídas pelas mesas. Terminada a atuação do grupo, Luísa foi ao encontro de Filipe. Ele, com todo o entusiasmo da sua juventude, mas também humildade, confirmou que os textos que declamou eram de sua autoria. Estuda teatro, música e quer seguir formação universitária em arte. Tem muitos projetos ligados a estas áreas. Luísa apresentou Filipe a Mafalda e ao seu dilema. Mais uma vez Mafalda explicou o seu desgosto por a netinha Inês querer seguir Artes. - A Inês?! Eu conheço-a! Ela é maravilhosa. A senhora só pode ter muito orgulho nela. Ela é completa. Já a vi trabalhar numa peça de teatro e é brilhante. E é maravilhosa no violoncelo e tem uma voz que é um espetáculo,… ela será uma grande artista, acho que já é artista!

UMA POESIA DE MUNDO NOVO texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI O colorido dos ornamentos e a música convidavam a entrar e indicavam que era ali o jantar de solidariedade para as Missões em Moçambique. Luísa gostava especialmente destes encontros. Costumava passar por todas as mesas a conhecer e cumprimentar todos. Mafalda, uma senhora de 75 anos, apresentou-se: – O mundo é muito pequeno. Eu sou amiga da sua professora primária, a Irene! Este foi o início de uma conversa que se estendeu aos netos de Mafalda. Contou estar desgostosa por a sua neta ser muito boa aluna em tudo, mas querer fazer o Curso de Artes. Tentara demovê-la, mas sem sucesso. A conversa acolheu toda a mesa com troca de opiniões sobre vocação, profissões, avós e arte.

O primeiro grupo coral solidário na animação do jantar subiu ao palco. Um rapazinho que aparentava ter 15 anos pegou no microfone e com um sorriso largo e sereno deu início à atuação do grupo, declamando: – “Encontrei um menino, era bem pequenino. Mostrou-me o seu sonho. Era maior do que ele e maior do que o mundo que ele conhecia. No sonho do pequenino cabia o mundo inteiro, os homens todos. Ele ensinou-me a olhar para fora de mim e ver todos os homens como irmãos. Vocês aqui têm também este sonho de menino?” O rapazinho retirou-se e o coro deu-lhe continuidade cantando “I have a dream” (“eu tenho um sonho”). O rapazinho de nome Filipe introduziu todas as outras músicas do coro. Para ouvi-lo, calavam-se

Mafalda vibrava de orgulho a cada adjetivo de Filipe à neta. Luísa ouviu toda esta descrição. Foi com certeza a melhor poesia que Filipe declamara naquela noite, dando-lhe uma intensidade de vida, com a sua alma de artista. A lição de Filipe era imensa: ele era capaz de olhar o “bonito” de outra pessoa, valorizava-o e enaltecia-o. Ficava feliz com isso. Não era apenas o artista que era já brilhante: era o rapazinho Filipe que dava lições de mestre. Se esta lição fez mudança na avó, não sei. Mas em Luísa uma lágrima escondida falou da esperança no homem e no mundo: Se o “Filipe” é capaz de reconhecer e enaltecer o que de belo existe no “outro” e apostar no belo que existe em si, então o mundo está cheio de vitalidade para se transformar em mundo novo.

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

BISPOS DO GANA RECLAMAM VIOLÊNCIA AMEAÇA PAZ DIREITO À SAÚDE EM EL SALVADOR Incluir o direito à saúde na revisão da Constituição A escalada de violência e de homicídios registada no do país é o objetivo de uma campanha lançada pelo Secretariado Católico Nacional, órgão da Conferência Episcopal do Gana. Os católicos pretendem que no novo texto constitucional o “direito do doente” seja substituído pelo “direito à saúde”, de modo a garantir o acesso de todos os ganeses a uma assistência sanitária completa. Tal direito deverá incluir a nutrição, a higiene ambiental e os serviços higiénico-sanitários, de modo a resolver “os problemas de saúde que fustigam os cidadãos, desde as zonas rurais até às grandes cidades”, explica Samuel Akologo, membro do Secretariado Nacional Católico, por ocasião do lançamento da campanha, que se estende a todas as paróquias e associações da Igreja.

início de julho em El Salvador gerou um coro de críticas e polémicas, à volta da chamada “trégua dos esquadrões”. O bispo auxiliar de San Salvador lamentou a violência homicida que vitimou 61 pessoas, na sua maioria jovens e crianças. “O Estado deve garantir a nossa segurança como cidadãos, mas infelizmente não existe esta percepção na comunidade”, afirmou o bispo Rosa Chavez. A população só poderá “acreditar na trégua dos esquadrões”, quando cessar a violência. O prelado deixou claro que “o problema é grave” e o processo de paz “é frágil”. Um relatório recente da polícia refere que pelo menos duas dezenas dos últimos homicídios foram cometidos pelos esquadrões. Em março de 2012, os dois principais esquadrões do país, Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18 proclamaram uma trégua que resultou na redução dos homicídios diários de 14 para cinco.

Fé e política

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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No dia 8 de julho, o Papa Francisco deslocou-se à ilha italiana de Lampedusa para rezar e chorar pelos milhares de migrantes que nos últimos anos perderam a vida no mar tentando chegar à Europa como refugiados. Este facto, que tocou o meu coração endurecido, levou-me também a comparar a política italiana ao atual momento da Igreja Católica. Na política aqui contam mais os homens que os programas e assim surgem líderes como Sílvio Berlusconi ou Beppe Grillo que, cavalgando a onda do descontentamento popular, obtêm altas percentagens de votos. Sobre isto não me alongo, mas chamo a atenção para os perigos que uma


JOVENS AUSTRALIANOS ACOLHEM APELO DO PAPA Os Jovens Estudantes Cristãos, AYCS na sigla inglesa,

lançaram um grito de “compaixão” pelos migrantes e por aqueles que pedem asilo à Austrália. O apelo surgiu depois da visita do Papa Francisco a Lampedusa, exigindo aos políticos que prestem particular atenção às crianças “confinadas” em campos de acolhimento e de detenção, segundo o sistema de imigração vigente na Austrália. “As crianças são particularmente vulneráveis e entram na Austrália à procura de ajuda”, afirmam os jovens. “É de capital importância para a sua saúde e bem-estar que as crianças e as suas famílias não permaneçam longos períodos em detenção”. Quando aportam à Austrália, “procuram a estabilidade e a segurança que todas as crianças merecem”. Ultimamente mais de oito mil estudantes do ensino superior fizeram a experiência de voluntariado em campos de detenção para imigrantes.

ONU DISCUTE TOLERÂNCIA RELIGIOSA NA INDONÉSIA A comissão das Nações Unidas para os Direitos

Humanos examinou em Genebra, na segunda metade de julho, o estado da tolerância religiosa na Indonésia. Os dados discutidos foram recolhidos junto da sociedade civil e das comunidades religiosas, que assinalaram o deteriorar-se da tolerância, acabando mesmo em “perseguição religiosa”. A Indonésia afirma que respeita o pluralismo religioso, assim como as seis religiões reconhecidas pelo Estado: islão, protestantismo, catolicismo, hinduísmo, budismo e confucionismo. As estatísticas registam um aumento dos lugares de culto. Entre 1997 e 2004, o número de mesquitas cresceu 64 por cento, as igrejas cristãs 131 por cento, as igrejas católicas 152 por cento, os templos hinduístas 475 por cento, e os templos budistas 368 por cento. Contudo, vários relatórios documentam o aumento da intolerância religiosa nos últimos anos. Há quem acuse o governo indonésio de ser “cúmplice na perseguição das minorias religiosas”.

situação semelhante pode trazer à nossa Igreja. Temos um programa e um exemplo a seguir, visto que a palavra de Deus e a pessoa de Jesus Cristo são para nós farol e guia, e temos este Papa que aquece as nossas vidas com o fogo da sua palavra e do seu exemplo; noto porém que há já cristãos dispostos a repousar tranquilos, porque o Papa Francisco vai transformar o mundo e a Igreja sem necessidade da nossa colaboração. Se seguirmos os seus apelos e exemplos, evitaremos que ele acabe por ser só uma voz quebrada no deserto.

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a missão hoje

POPULAÇÃO ESPERA 12 HORAS PELOS MISSIONÁRIOS Joana Matias, de 22 anos, foi este ano reforçar a presença do grupo missionário Ondjoyetu na região montanhosa do Gungo, em Angola. Depois de 128 dias de missão, e já em Portugal, a jovem, licenciada em enfermagem e residente na Urqueira (Ourém), partilhou com a FÁTIMA MISSIONÁRIA a sua experiência texto JULIANA BATISTA foto ELSA NEVES Que atividades desenvolveu no Gungo? Estive principalmente na área da saúde. Fiz identificação de patologias, aconselhamento terapêutico e consultas de vigilância. No entanto,

também realizava outras funções, se assim fosse necessário, como tarefas domésticas. O que mais a impressionou? Para além das paisagens belíssimas, as pessoas. A forma calorosa e desinteressada como nos acolhem é simplesmente inacreditável, para além do grande exemplo de humildade, simplicidade e generosidade que todos os dias nos consegue surpreender. Quais são as maiores carências da população? Sinceramente, não sei dizer quais as maiores carências deste povo, pois ele nada possui. No local de missão não há eletricidade, água potável ou rede de telemóvel. As casas são construções em adobes, e as camas são esteiras em cima de paus ou no chão. A alimentação é preparada ao lume e a água para cozinhar, beber e tomar banho é toda proveniente dos rios. Há poucos locais com posto de saúde, e mesmo esses são deficitários. As crianças cumprem um plano de vacinação? As crianças que se encontram perto dum posto de saúde procuram cumprir, mas as que têm que

“A forma calorosa e desinteressada como as pessoas nos acolhem é simplesmente inacreditável, para além do grande exemplo de humildade, simplicidade e generosidade que todos os dias nos consegue surpreender”

Joana Matias numa das ações de aconselhamento terapêutico

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palavra de colaborador caminhar muitas horas para aí chegar não o fazem. Por outro lado, as condições de armazenamento das vacinas nem sempre são as mais adequadas, pelo que não é certa a sua eficácia. As crianças frequentam as aulas? O governo angolano procura criar condições para que as crianças frequentem a escola, mas ainda existem muitas que não vão às aulas. Apesar de existirem vários níveis de ensino, as crianças não conseguem assimilar o que lhes é transmitido, seja por dificuldades de aprendizagem ou por um método de ensino deficitário. As crianças no 5.º ano, por exemplo, sabem identificar as letras, mas têm muita dificuldade em ler. Há algum episódio que a tenha marcado? Existem duas experiências que mais me marcaram. A Páscoa foi uma delas. Marcou-me pela alegria e a fé com que as pessoas a vivem. Normalmente, a Páscoa no Gungo coincide com o tempo das chuvas, ou seja, os caminhos ficam intransitáveis. Por isso, procuramos permanecer num local acessível. Foi incrível observar centenas de pessoas a deslocarem-se sob condições adversas para celebrarem a Páscoa connosco. Outro momento marcante foi a minha última subida ao Gungo. À nossa chegada, estava toda a população à nossa espera e encontrámos uma casa que a própria população havia construído para a equipa ficar. Aquelas pessoas esperaram mais de 12 horas pela equipa missionária. Foi incrível ver como quem nada tem ainda consegue dar um pouco. Quais são os seus planos para o futuro? Neste momento os meus planos para o futuro passam por arranjar emprego e desenvolver-me a nível profissional. O desemprego jovem assusta-me muito, no entanto, a vida é cheia de dificuldades e de provações, por isso, não vou desistir de arranjar trabalho no meu país sem tentar. Mas, se tiver que emigrar não tenho medo.

TRISTEZAS NÃO PAGAM DÍVIDAS texto e foto DARCI VILARINHO A vila da Caranguejeira, a poucos quilómetros de Fátima, é terra abençoada. Pela bondade do seu povo e pelos numerosos consagrados e missionários que já ofereceu à Igreja. Foi lá que encontrámos a nossa colaboradora Maria Encarnação Marques Carreira Miguel, prima direita do saudoso padre Francisco Marques. Viúva há quatro anos e mãe de quatro filhos espalhados pelos vários cantos do mundo, a Encarnação é uma mulher simpática, cheia de energia e sempre pronta a ajudar seja quem for. Contou-nos alguns pormenores da sua vida, que não tem sido fácil, mas a sua alegria é contagiante, porque “tristezas não pagam dívidas”. Foi emigrante 11 anos em França, mas hoje, já reformada, vive para os filhos e para os netos. O seu espírito de ajuda fez dela uma assídua colaboradora na difusão e na recolha das assinaturas da FÁTIMA MISSIONÁRIA, na sua zona. A sua lista, com algumas dezenas de assinantes, está em dia. Lamenta que às vezes as pessoas, “pela crise que não abranda”, mostrem alguma dificuldade em renovar a assinatura. Mas ela insiste e convence. “Sempre pelas missões”.

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a missão hoje

Os leigos Rui Sousa e Viviana Nunes acompanham a construção da maloca

MALOCA MISSIONÁRIA ‘NASCE’ NO MEIO DA SELVA

importante é que já podemos ir à missa aos domingos”, sublinha o diretor do colégio local, Orlando Alvarez, observando atentamente os trabalhadores em ação.

Já foram assentes os primeiros tijolos da “maloca para todos”, um centro pastoral destinado ao serviço da missão, ao anúncio do Evangelho e ao acompanhamento do povo de Deus na selva amazónica peruana

As expectativas em relação à maloca são muitas e à medida que vai crescendo o edifício também cresce nas pessoas um sentimento de proximidade com o Evangelho. “Que bom que já temos um lugar onde estar com maior intimidade com Deus”, expressou Amanda Flores, uma jovem de 14 anos, que espera ansiosamente a sua oportunidade para finalmente receber o sacramento do batismo. Agora é só esperar que a obra termine para que, junto com a comunidade, seja possível contribuir para a consolidação desta Igreja nascente, através da evangelização, da promoção humana e do cuidado do meio ambiente.

texto VIVIANA NUNES/RUI SOUSA foto DR “Depois de 12 anos a viver aqui, finalmente vejo nascer a igreja católica. Já temos um lugar onde recorrer”. Estas foram as palavras de alegria que Ada Flores manifestou, ao ver começar as obras da maloca. Um passo de gigante para a pequena comunidade de Soplin Vargas, no Peru, que só foi possível graças à generosidade de muitas pessoas, principalmente as que se associaram à campanha “Uma maloca para todos”, promovida pelos Missionários da Consolata. Em breve, estará de pé um teto comum, feito por todos e para todos. As obras começaram nos primeiros dias de julho e a previsão é que decorram até final de agosto. Inicialmente, o projeto contemplava um espaço para encontros, catequese e para a celebração da 12

Eucaristia, construído em madeira, com telhado de palmeira. Contudo, por uma questão ambiental, decidiu-se fazer em tijolo e cimento. Seria necessário derrubar cerca de 100 palmeiras para o telhado, que teria uma duração aproximada de três a quatro anos, pelo que o impacto na floresta amazónica seria devastador. Por falta de recursos económicos e para cumprir a promessa feita à população, de uma presença efetiva da Igreja Católica o mais breve possível, a maloca será adaptada para servir também de casa aos missionários. Com dois quartos, uma casa de banho, uma cozinha e um salão com 90 metros quadrados, a estrutura funcionará, nos próximos tempos, como um espaço multifuncional. “O mais


destaque MANIFESTANTES EXIGEM O FIM DO BRASIL A DUAS VELOCIDADES

OS 7 CÊNTIMOS DA INDIGNAÇÃO texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA Sete cêntimos (20 cêntimos de real) nos bilhetes de autocarro e de metro foi o aumento que faltava para trazer milhares de brasileiros às ruas das principais cidades do país e no estrangeiro, naquelas que foram consideradas as maiores manifestações desde 1992. Mas o que os brasileiros vieram pedir foi bem mais do que a redução nos preços dos transportes públicos: foi o fim de um país a duas velocidades. As manifestações de junho no Brasil não deixaram de surpreender a opinião pública internacional. O país tem sido visto como um espaço de oportunidades a nível internacional e encontra-se entre um dos que conseguiu transformar

o seu crescimento económico num desenvolvimento mais sustentado. Os progressos alcançados na agricultura transformaram o Brasil num dos principais produtores mundiais de bens alimentares e a sua política energética, associada à descoberta de grandes reservas petrolíferas, permitirão transformá-lo num importante exportador de energia. Nos últimos anos, tornou-se também uma terra de acolhimento de trabalhadores, em particular os mais qualificados, aumentando a sua aura de país de oportunidades. A organização do Mundial de Futebol, em 2014, e dos Jogos Olímpicos, em 2016, vieram reforçar esta imagem de credibilidade e visibilidade exterior, de um país dinâmico e pleno de potencialidades.

O móbil para as reformas?

No entanto, esta visão esconde a realidade de um imenso Brasil com um pé no grupo dos países ricos e outro nos enormes desafios que enfrentam os Estados em vias de desenvolvimento. Se, por exemplo, tomarmos por referência a Grã-Bretanha, a economia brasileira

é maior, mas o seu nível de desenvolvimento não é comparável e está muito longe de atingir a grande massa da população. A presidente Dilma Roussef fez do lema um “Brasil sem miséria” uma das prioridades do seu programa político, mas para isso terá de enfrentar importantes reformas políticas cuja urgência foi sublinhada pelas manifestações de junho. Nesse sentido, apesar da queda abrupta que Dilma sofreu nas sondagens de opinião – passando de 65 por cento de opiniões favoráveis para apenas 30 por cento – a explosão social do mês passado poderá ser mobilizada a seu favor, de modo a forçar as resistências que enfrenta para encetar as reformas políticas e sociais.

Dos estádios ao país à volta deles Desde que chegou ao poder com Luiz Lula da Silva, em 2003, o Partido dos Trabalhadores procurou conciliar os interesses dos grupos económicos nacionais com as políticas sociais, evitando a radicalização política de outros países da América Latina. Mas as manifestações vieram pôr em evidência os enormes riscos de um Brasil a duas velocidades, exigindo o fim da fratura entre o país do progresso económico, reconhecido internacionalmente, e o país onde milhões de pessoas se veem excluídos desse desenvolvimento. Adquire, assim, particular significado a frase que, durante as manifestações, circulou profusamente nas redes sociais acerca do Mundial de Futebol de 2014, mas que assume também plena expressão do sentimento que trouxe milhares de pessoas às ruas: “Temos estádios de última geração construídos para a copa do mundo, agora só falta construir um país em volta deles”.

As manifestações vieram pôr em evidência os riscos de um país a duas velocidades

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atualidade

TESTEMUNHO “Sinto que Deus me chama e me põe à prova”

O MUNDO ENCANTADO DE MARIA Aos 73 anos, Maria do Céu Sales ainda gosta de aprender com o silêncio. Está fechada em casa há sete anos, mas da sua boca não se houve uma única palavra de lamento. Pelo contrário. Assume-se como uma mulher feliz, sonhadora e determinada. E só se arrepende daquilo que não fez texto e foto FRANCISCO PEDRO Há quem lhe chame uma força da natureza, quem lhe atribua um dom privilegiado, quem diga que é “um fenómeno do Entroncamento”. Maria do Céu Sales acha piada, mas não se deixa impressionar. Diz que se limita a ser “verdadeira e frontal” com as pessoas e com a vida, e a deixar transbordar o lado bom dos seus “diálogos com Deus”: “Sou como o Evangelho, ou me aceitam ou me rejeitam”. Encerrada há sete anos com a mãe (de 101 anos) no mesmo quarto, continua a sonhar com as borboletas, os passarinhos e os formigueiros que fizeram parte da sua infância, por terras alentejanas. E, mais importante – como faz questão de sublinhar – continua a manter um diálogo permanente com Deus. Pode soar a devaneio, mas a lucidez e a clareza com que expõe as suas ideias demonstram que se trata de convicção, de uma forma determinada e genuína de viver a fé. “Estou aqui fechada e estou feliz porque estou com Deus. Sinto que 14

Maria do Céu Sales e a mãe, Matilde Sales, vivem no mesmo quarto há sete anos

As amigas adoram ouvir os seus conselhos e nunca saem de pensamentos a abanar. Sentem-se reconfortadas com as ‘injeções’ de fé, de otimismo, bom senso e felicidade. “As pessoas andam muito tristes, preocupam-se muito com o materialismo e não sabem ver o lado bom da vida. Eu faço da vida uma história bonita”


Ele me chama continuamente e me põe à prova. Podem não acreditar, mas quando Lhe peço qualquer coisa, sei que ele me ouve, porque sinto um arrepio na espinha”, afirma à FÁTIMA MISSIONÁRIA, sentada na borda da cama, onde todos os dias reza pelo menos quatro horas. Duas ao acordar e mais duas antes de adormecer. Licenciada em Farmácia e formada na espinhosa escola da vida, Maria do Céu especializou-se em diagnósticos sentimentais. As amigas adoram ouvir os seus conselhos e nunca saem de pensamentos a abanar. Sentem-se reconfortadas com as ‘injeções’ de fé, de otimismo, bom senso e felicidade. “As pessoas andam muito tristes, preocupam-se muito com o materialismo e não sabem ver o lado bom da vida. Eu faço da vida uma história bonita”, explica a ex-professora de física e matemática. Maria do Céu Sales nasceu há 73 anos em Alcaria Ruiva, no concelho de Mértola, no seio de uma família abastada para a época. Logo aí começou a distinguir-se pela tendência filantrópica. Emprestava as botas a quem andava descalço e dividia o lanche com as crianças da escola. Quando terminou o magistério primário, casou-se. Sabia que o futuro marido tinha uma doença complicada, mas mesmo assim, decidiu seguir em frente. Já casada e a morar em Lisboa, tirou o curso de Farmácia. Deu aulas de físico-química e matemática, foi catequista e participou ativamente em associações de cariz religioso. Aos 46 anos, foi-lhe diagnosticado um cancro. Davam-lhe dois meses de vida. Digeriu a notícia em silêncio durante cinco dias, o

tempo suficiente para marcar uma consulta no Instituto Português de Oncologia (IPO). Só depois contou ao marido e aos dois filhos. Conseguiu que lhe removessem o tumor em França, mas a partir daí a saúde nunca mais foi a mesma. Mesmo assim, teve forças para cuidar do marido, até ao seu último suspiro. Quando ficou de cama, vencida pelo cansaço, a mãe disponibilizou-se para a ajudar. Hoje, os papéis inverteram-se e é Matilde Sales que está acamada. Partilham ambas o “quarto encantado”. Um espaço iluminado por uma ténue luz amarelada,

Felicidade em alta entre idosos

A felicidade evidenciada por Maria do Céu Sales é semelhante à de muitos idosos portugueses, que encaram o envelhecimento de forma positiva, independentemente da situação económica ou de saúde. Um estudo recente, realizado por Manuel Villaverde Cabral, do Instituto de Ciências Sociais, concluiu que a felicidade entre os idosos é “muito alta”. “As pessoas cada vez vivem mais, têm um estado de saúde do qual se ocupam e que, evidentemente, piora com a idade, mas têm um sentimento pessoal subjetivo, familiar e social de felicidade

povoado por bibelots, figuras religiosas, borboletas em arame dourado, perfumes, fotografias, marionetes e livros, muitos livros. “É muito bom estar aqui. Aprende-se muito em silêncio. E isso é mais importante do que a vida lá fora”, assegura Maria do Céu.

bastante elevado”, disse o investigador à agência Lusa. O estudo, feito com base num inquérito a mil idosos, constatou ainda que o associativismo sénior é “virtualmente desconhecido” em Portugal. “Nem as políticas públicas, as instituições da Igreja ou a própria sociedade civil parecem contar com qualquer papel significativo dos seniores na definição e aplicação das suas intervenções e iniciativas”, pois “não existem quaisquer organizações de idosos que falem em nome próprio e da sua diferença”, refere o documento.

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dossier

HISTÓRICO Casos raros de renúncia ao poder

CORAGEM PARA ABDICAR Começou com Bento XVI, primeiro Papa a renunciar em sete séculos. Depois foram a rainha Beatriz da Holanda e o emir do Qatar. Agora, também Alberto II decidiu que era tempo de deixar de ser rei dos belgas. Em cinco meses, quatro abdicações. Trata-se de um sinal de humildade de quem não vê o poder como o valor máximo ou orgulho de ter a última palavra sobre o destino? texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA 16


Para o Vaticano, a saída de Bento XVI da chefia da Igreja Católica deve ser definida como renúncia, mas a imprensa mundial não teve dúvidas em falar de abdicação, relembrando que ao poder religioso os papas somam um poder temporal que vem pelo menos desde a criação dos Estados Pontifícios no século VIII e que sobrevive até hoje no estatuto de independência dos 44 hectares encravados em Roma. Mas para lá da semântica (ver caixa) existe a raridade da decisão de Bento XVI, pois há sete séculos que não se dava a renúncia de um Papa. Uma raridade que contrasta com a quase normalidade da abdicação de Beatriz, a rainha da Holanda, que tal como a sua mãe, Juliana, e a sua avó, Guilhermina, preferiu passar a coroa ao herdeiro antes que surgissem sinais de debilidade. Aliás, no caso da Holanda, a novidade é o rei ser um homem, Guilherme Alexandre, pois o último monarca masculino datava do século XIX. O contraste entre a saída de Bento XVI e a de Beatriz serve bem para ilustrar não haver uma regra na vaga de abdicações que tem marcado 2013, pois além do Papa, que anunciou a renúncia em fevereiro, e da monarca holandesa, substituída em abril, aconteceram também as passagens de testemunho do emir do Qatar e do rei da Bélgica. O que motiva os poderosos a deitarem a toalha ao chão? Num ensaio no jornal francês 'Le Monde', Julie Clarini e Stéphanie Le Bars hesitam entre a humildade e o orgulho da renúncia, para acrescentarem que “só aquele Agosto / Setembro 2013

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que tem o poder pode pretender abandoná-lo: é um caso de decisão pura, reservada a alguns indivíduos em funções supremas”. E notam que até em república existem exemplos de abdicação. É o caso de Charles De Gaulle, o homem que encabeçou a França Livre na Segunda Guerra Mundial e que em 1969, sendo Presidente da República, decidiu anunciar a sua demissão a 28 de abril, com efeitos “hoje ao meio dia”. Procurando na história, é emblemático Carlos V, o soberano mais importante da Europa no século XVI, que em 1555 abdicou de ser rei de Espanha e imperador germânico. “Proclamou-se assim mestre do tempo e mestre da sua morte”, que aconteceria em 1558 num mosteiro espanhol (ver peça secundária), notam Clarini e Le Bars. Contemporâneo, o fundador dos Jesuítas, Santo Inácio de Loyola, afirmou sobre a abdicação: “o Imperador deu um raro exemplo aos seus sucessores... ao agir assim, provou ser um verdadeiro príncipe cristão... possa o Senhor em toda a sua grandeza oferecer ao Imperador a liberdade”. Outro exemplo célebre de abdicação é o de Cristina da Suécia, no século XVII. Rainha aos seis anos, por morte do pai numa batalha, mostrou-se monarca brilhante, mas cedo cansada da governação e mais interessada nas artes e na filosofia.

O que vale uma palavra

Abdicação. s.f. (Do lat. 'Abdicatio, -onis'). 1. Ação de renunciar a um cargo, um título, um direito, um privilégio...; ato ou efeito de abdicar. = abandono, renúncia, resignação. 'A abdicação de todos os seus direitos surpreendeu os restantes herdeiros'. 2. Polít. Ação de renúncia, voluntária ou não, do poder supremo, da 18

Em junho de 1654, com apenas 27 anos, abdicou numa cerimónia que impressionou a Europa. Numa encenação, foi-se despojando dos vestígios da autoridade real. Mas aquela que viria a converter-se ao catolicismo apesar das origens protestantes (e que morreria em Roma), manteve a designação de rainha, apesar de ter entregue a coroa ao primo, realçando o problema de um soberano nunca poder tornar-se num cidadão comum. Recordemos o caso de Eduardo VIII, que renunciou à coroa

-ministro Winston Churchill com as possíveis simpatias nazis do ex-rei. Também Bento XVI, nascido como o alemão Joseph Ratzinger, teve o desafio de lidar com um futuro pós-papado. Hoje é Papa emérito e vive no Vaticano a umas centenas de metros de Francisco, o nome adoptado pelo cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio que lhe sucedeu no trono de São Pedro. Mas ao contrário de Carlos V, de Cristina da Suécia ou mesmo de Beatriz, Bento XVI não teve o poder

Sobre as motivações de Bento XVI sabe-se que alegou a fragilidade dos seus 85 anos perante os grandes desafios do mundo católico, talvez lembrando-se dos últimos tempos do seu antecessor, João Paulo II. Mas suspeita-se que se tratou de uma decisão refletida, com as autoras do ensaio no 'Le Monde' a falarem de “uma meditação tão antiga quanto profunda, obedecendo a altas motivações espirituais, e não apenas como uma resposta a um enfraquecimento físico”. É uma tese que se adapta bem ao perfil intelectual de Bento XVI

de Inglaterra em 1936 por amor a uma americana divorciada. Mesmo longe do trono, nunca deixou de ser visto como alguém que as leis da genealogia tinham um dia posto à cabeça do maior império mundial e daí a preocupação do primeiro-

governação de um estado, de um reino, de um império... 'A abdicação do trono em favor do irmão foi a solução escolhida pelo rei'. 3. Polít. Documento em que se consigna a renúncia ao poder supremo. “O czar acaba de assinar a abdicação” (R. Jorge, 'Passadas', p. 263) In 'Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea”, Academia das Ciências de Lisboa

de escolher o seu sucessor. Foi o conclave de cardeais que decidiu. A impossibilidade de designar um sucessor acentua assim a diferença entre a renúncia papal e as abdicações clássicas, quando o monarca sabe que lhe sucederá, em regra, um filho ou outro familiar. Sobre as motivações de Bento XVI sabe-se que alegou a fragilidade dos seus 85 anos perante os grandes desafios do mundo católico, talvez lembrando-se dos últimos tempos do seu antecessor, João Paulo II. Mas suspeita-se que se tratou de uma decisão refletida, com as autoras do ensaio no 'Le Monde' a falarem de “uma meditação tão antiga quanto profunda, obedecendo a altas motivações espirituais, e não apenas como uma resposta a um enfraquecimento físico”. É uma tese que se adapta bem ao perfil intelectual de Bento XVI. Sobre as motivações para abdicar


O contraste entre a saída de Bento XVI e a de Beatriz serve bem para ilustrar não haver uma regra na vaga de abdicações que tem marcado 2013, pois além do Papa, que anunciou a renúncia em fevereiro, e da monarca holandesa, substituída em abril, aconteceram também as passagens de testemunho do emir do Qatar e do rei da Bélgica

pode-se também especular sobre o caso do Qatar, um minúsculo país cuja riqueza em petróleo e gás natural permite fazer negócios mundo fora e influenciar a geopolítica do Médio Oriente. Apoiante dos partidos islamitas que se têm imposto nas eleições realizadas nos países da Primavera Árabe, o emir terá sentido que a sua missão estava cumprida, tal o sucesso do seu reino. Mas terá também pensado ser o momento para designar um sucessor, evitando conflitos entre os seus filhos de várias mulheres. Quanto a Alberto II, a passagem de testemunho ao filho Filipe justifica-se por razões de saúde, pois tem 79 anos, mas num artigo intitulado 'Tempo de Abdicar', o jornal espanhol 'El País' destacava também os escândalos da Casa Real, desde a fuga aos impostos até paternidades não assumidas.

Bento XVI foi o primeiro Papa a renunciar em sete séculos

Não se pode falar de apego ao verdadeiro poder por parte dos reis europeus. São os chefes nominais de democracias, mas na verdade nada mandam. A existir sim, é apego ao protagonismo, ou então o sentimento de que fazem falta aos seus povos. Parece ser o caso da octogenária Isabel II de Inglaterra, que obriga a continuar à espera o seu filho Carlos, um príncipe herdeiro a caminho dos 65 anos. Também em Espanha Juan Carlos recusa renunciar, ele que foi tão importante na restauração do prestígio da monarquia ao opor-se ao golpe militar de 1981, Agosto / Setembro 2013

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obra de saudosistas da ditadura. Fragilizado por escândalos como o da caçada aos elefantes, exibição de luxo num país com seis milhões de desempregados, o rei mantém-se agarrado ao seu lugar, mesmo que pela primeira vez o seu herdeiro, Felipe, seja mais popular. A história, aliás, está cheia de falsos insubstituíveis, que erradamente pensavam sê-lo, a começar por Francisco Franco, o generalíssimo espanhol, que morreu ligado a uma máquina, com os seus fiéis a quererem eternizá-lo. Em sentido contrário, o melhor exemplo, talvez venha mesmo de um republicano como o sul-africano Nelson Mandela (ver peça secundária), que num continente habituado aos líderes eternos decidiu em 1999 que não se recandidataria a um segundo mandato presidencial. Se já era uma referência moral, ainda ganhou mais estatuto, pela sua coragem de desistir de um poder que quase todos queriam que estivesse nas suas mãos. Merece também destaque, viajando um pouco mais para o passado, a atitude de George Washington, o pai da independência americana. Depois de dois mandatos presidenciais, recusou recandidatar-se, impondo uma regra que só Franklin Roosevelt ousaria violar e por ser tempo de guerra. Tal como Carlos V se recolheu junto de um mosteiro extremenho, Washington retirou-se em 1789 e passou o resto dos seus dias na sua quinta de Mount Vernon, na Virgínia. Ninguém diria faltar coragem a Mandela, que lutou contra o regime racista do 'Apartheid', ou a Washington, que obrigou o Império Britânico a conceder a independência aos Estados Unidos. *jornalista do Diário de Notícias

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O EXEMPLO DE MANDELA Nelson Mandela passou quase 30 anos detido, boa parte deles na ilha-prisão de Robben, por defender os direitos da população negra da África do Sul. Advogado de formação, começou por lutar por meios pacíficos contra o regime racista branco, mas depois do massacre de Sharpeville, em 1960, com a polícia a disparar sobre a multidão, optou por receber treino militar e veio a chefiar o 'Unkhonto We Sizwe', ou 'Lança da Nação', o braço armado do ANC. Considerado o preso político mais célebre do planeta, Mandela era, porém, um mistério até 1990, quando foi libertado. E a surpresa aconteceu quando, em vez do robusto quadrigenário de barba negra que surgia na mais famosa das suas fotos, se viu um homem

de cabelo grisalho, com mais de 70 anos, de aspeto frágil. E maior foi ainda a estupefação quando o antigo chefe guerrilheiro se revelou uma voz moderada, querendo que o seu país se transformasse numa nação arco-íris. Mandela teve um parceiro importante em todo o processo para pôr fim ao regime de 'Apartheid', Frederik De Klerk, último chefe de Estado na versão racista da África do Sul. Decididos a encontrar forma de implementar a democracia que traria também o domínio da maioria negra, os dois líderes foram tão inspiradores que em 1993 lhes foi entregue o Nobel da Paz. Depois, em 1994, nas primeiras eleições multirraciais da história sul-africana, o ANC obteve uma vitória esmagadora e Mandela


recebeu um impressionante voto de apoio da população, com 63 por cento, contra os 20 por cento de De Klerk. Decidido a ganhar a confiança da minoria branca, de ascendência holandesa, britânica e também portuguesa, escolheu o seu adversário como um dos dois vice-presidentes. Para muitos dos

Quando terminou o seu mandato em 1999, Mandela recusou recandidatar-se. A decisão de se afastar do poder, apesar da popularidade, contribuiu ainda mais para a construção do mito cinco milhões de brancos sul-africanos, um décimo da população, Mandela passou também a ser visto como figura paternal. Quando terminou o seu mandato em 1999, Mandela recusou recandidatar-se. A decisão de se afastar do poder, apesar da popularidade, contribuiu ainda mais para a construção do mito. Numa África onde os líderes costumam se eternizar, 'Madiba', como é chamado, mostrou ser diferente. Desde então, dedicou-se à sua fundação, que combate a pobreza e a sida, e tornou-se figura de referência mundial. Um bom exemplo da homenagem que lhe é prestada foi o sucesso do filme 'Invictus', que mostra como Mandela usou o raguêbi em 1995 para unir os sul-africanos, fazendo com que um desporto considerado dos brancos se tornasse paixão dos negros. Gravemente doente, Mandela continua a ter a admiração do mundo. Aos 95 anos vive rodeado de filhos, netos e bisnetos e da sua terceira mulher, Graça Machel, viúva do presidente moçambicano Samora.

A ABDICAÇÃO DE CARLOS V Foi o homem mais poderoso da Europa no século XVI, mas um dia renunciou aos seus títulos e refugiou-se num palácio construído junto ao mosteiro de San Jerónimo de Yuste, perto de Cáceres. Nascido na Flandres em 1500, o imperador Carlos V morreria em 1558 na Espanha. Filho de Filipe o Belo e de Joana a Louca, Carlos V era o herdeiro de várias dinastias. Por via paterna, descendia dos senhores da Borgonha e da Casa de Áustria; por via materna, era neto dos reis católicos. Não tinha ainda 20 anos quando, por morte do avô espanhol, Fernando, assumiu o título de rei, pouco depois sucedendo também ao avô Maximiliano como imperador do sacro império romano-germânico. As suas possessões incluíam a Espanha e as colónias nas Américas, também Nápoles e a Sicília, a Flandres e a Holanda e ainda as terras dos Habsburgos espalhadas pela Áustria. Com tanto poder não admira que tenha feito guerras contra meia Europa, sobretudo contra Francisco I de França. Teve também que lidar com a emergência do protestantismo em terras germânicas, destacando-se como defensor do catolicismo – aliás o seu guia espiritual, o teólogo Adriano de Utreque, seria mais tarde o Papa Adriano VI.

Nos jogos de poder da época estavam também envolvidos os Estados Pontifícios e a determinado momento Carlos V chegou a invadir Roma. Fez, porém, as pazes com Adriano VI que o coroou imperador em 1530, a última vez que um sacro imperador foi coroado por um Papa. Teve vários filhos ilegítimos, o mais famoso dos quais dom João de Áustria, que se distinguiria na Batalha de Lepanto contra os turcos. Mas foi do casamento com Isabel, princesa de Portugal, que nasceu o futuro Filipe II, que acabaria por ser monarca de toda a Ibéria. Cansado de guerras e manobras diplomáticas, Carlos V decidiu abdicar. Concretizada em 1555, a abdicação levou à divisão dos seus domínios, com o filho Filipe a herdar a Espanha e o irmão, Maximiliano II, a Áustria. Doente de gota, Carlos V passou o resto dos seus dias na Extremadura espanhola. Morreu afastado do poder a 21 de setembro de 1558.

Outro dos desafios vinha do Império Otomano e, se conseguiu evitar a queda de Viena, foi incapaz de impedir que os turcos se apoderassem da Hungria. Decidiu combater Solimão I sobretudo no mar, fazendo uso da armada espanhola para atacar o Norte de África. Agosto / Setembro 2013

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gente nova em missão

FIM DE FÉRIAS Faz a tua lista com dicas de poupanças fundamentais

PREPARAR O REGRESSO Olá pequenos missionários! As férias são tão boas, não são? Sobretudo estas que são grandes e quentinhas! Mas quando se começa a vislumbrar no horizonte o final delas, isso significa que está na hora de preparar o regresso à escola e à catequese. Também é bom este corre-corre de saber o horário novo, os livros, se na turma há amiguinhos novos, o material que é necessário, e ter tudo pronto para começar. Mas neste regresso, há pessoas que andam preocupadas: os vossos pais e educadores. Porque é preciso tempo e paciência, mas também porque é preciso dinheiro. A “crise” de que tanto se fala tem dois lados, um lado mau (muito mau) e um lado bom. Vamos ver como e, já agora, um bom regresso para todos! texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO

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O PREÇO DE ESTUDAR

Andar na escola, mesmo que seja na escola pública, custa dinheiro. Ele é os livros, ele é o material, ele é as despesas de alimentação e transportes, e tudo bem somadinho leva uma fatia substancial do orçamento das famílias. E nos

dias que correm, depois das contas pagas, o que sobra não é muito. Então, o que fazer? Um bom missionário também é previdente, por isso poupar é a palavra-chave.


POUPAR ESTÁ NA ORDEM DO DIA

Quando falamos em poupança, não é apenas colocar moedinhas no mealheiro, é também cuidar bem do vosso material e não deixar que ele se estrague tão depressa. Cooperar em casa com os vossos pais e estabelecer metas. Com regra torna-se parte da vossa forma de ser rapidamente, garantimos-vos. Agora há também a venda de livros usados. Não tenham vergonha, encadernem-nos com papel bonito. Durante algum tempo, antes desta crise económica, as pessoas tendiam a desperdiçar muito, em geral, comida, comprar objetos que não necessitavam, enfim ao contrário dos nossos avós e bisavós, consumir sem pensar no amanhã. Não foi bom e afastou as pessoas de Jesus, ao não pensar em mais ninguém senão em si mesmas, de tanto consumir. E agora que esta “bola de neve” chegou a um ponto crucial e crítico, que fazer?

‘gadgets’ caríssimos que até agora os pais acorriam em massa para oferecer aos seus filhos.

COMO LEVAR ESTA MENSAGEM AOS OUTROS

Tanto na escola como na catequese podem fazer coisas giras sobre este tema. Decerto que tantas cabeças missionárias juntas podem elaborar uma lista de dicas fundamentais para poupar e ser mais feliz em Jesus.

Amigo Jesus Perdoa-me se por vezes faço birra E exijo dos meus pais o que vejo nos outros ou na televisão Como missionário que quero ser, sei que Tu nos ensinas a amar o que é simples Vou colaborar e vou poupar para que não me falte o essencial a mim e aos outros E não ter uma atitude negativa, mas antes positiva, porque Tu estás sempre presente. Pai Nosso

COMO FARIA JESUS, OU O LADO BOM DESTA CRISE ECONÓMICA

Pois enquanto a maioria consumia desenfreadamente, a Igreja, duramente criticada pela imprensa, continuava a cumprir a sua tarefa missionária de ajudar o próximo. Mas o próximo tornou-se um amigo, um vizinho, um familiar, e a Igreja, sempre presente, é o sorriso, o ombro, a mão, o colo de Jesus. E as pessoas voltaram a encontrá-Lo na caridade e também nas pequenas coisas, nas coisas gratuitas e na partilha. Por isso, se vocês têm dúvidas, procurem em Jesus as respostas. Ele vos mostrará como é bom partilhar e conviver na ausência de

O MEU MOMENTO DE ORAÇÃO

O Sol não se paga! A exposição moderada ao Sol melhora a circulação sanguínea e permite a produção de vitamina D. Por isso, ao longo do ano, caminhar com a vossa família um pouco ao fim de semana fará bem a todos; por exemplo irem a pé à Eucaristia, bem simples, não?

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tempo jovem

ESCUTAR, ACOLHER, DEVOLVER Enquanto vivemos e construímos a nossa pequena história dentro da grande História da humanidade, é fácil descobrir que o ritmo do nosso caminhar marca o sentido da nossa existência. Por vezes caminhamos lentamente, outras vezes velozmente; outras vezes ainda com um ar cansado. Mas o certo é que há uma misteriosa força interior em nós que, apesar do cansaço e dos momentos de tédio, nos impele a caminhar

problemas. Parar defronte dos problemas significa armar-se de coragem e fazer do “problema” que nos separa do outro um desafio a “escutar” para poder ultrapassar. Escutar exige não só não julgar, mas também ouvir para compreender o que outro pensa e sente realmente. Pôr em prática a arte de saber escutar é como conectar-se com o outro e deixar que a sua presença faça “ressonância” em nós. Para isso é condição obrigatória tirar “as sandálias” do próprio eu para nos podermos aproximar e sentir o outro como “terra sagrada” a quem devemos todo o respeito. Só é possível escutar se nos atrevermos a mergulhar no silêncio interior

da nossa vida, desligando-nos dos barulhos do preconceito e da tentação da falsa interpretação do outro. Eis o grande desafio! Escutar para acolher as coisas boas e menos boas que o outro tem, tal como eu tenho, mas também, acolher o novo e o diverso que não sabia nem imaginava que o outro tinha.

Fazer a devolução

Alguns psicólogos utilizam muito a expressão “fazer a devolução” quando utilizam a técnica do “espelho” que tem como finalidade “devolver” o que ele compreendeu após ter escutado o paciente ou cliente. Acho esta técnica engraçada, porque permite a quem está a ser escutado confrontar-se

texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA Caminhar é tomar consciência da grande tela que é o mundo onde todos somos chamados a desenhar com as cores do nosso ser, as marcas e as pegadas que manifestam as profundas motivações pelas quais nos movemos, sentimos e existimos. Caminhar é encontrar “pedras no caminho” e decidir o que fazer com elas, se lhes damos um pontapé, com o risco de ficarmos feridos, ou se as juntamos e vemos se, com elas, podemos construir um alicerce seguro ou um terreno mais estável por onde caminhar. O homem sábio detém-se diante da pedra, para poder escutá-la e acolhê-la, e fazer dela um elemento útil e necessário para tornar o seu alicerce interior mais forte e estável.

Escutar para acolher

Deter-se diante da pedra que aparece como obstáculo não significa tornar-se vítima dos 24

Pôr em prática a arte de saber escutar é como conectar-se com o outro e deixar que a sua presença faça “ressonância” em nós. Para isso é condição obrigatória tirar “as sandálias” do próprio eu para nos podermos aproximar e sentir o outro como “terra sagrada” a quem devemos todo o respeito


consigo próprio, numa perspectiva nova e diversa, a partir das suas próprias palavras. Estou convencido que seríamos grandes sábios se, durante o nosso caminhar do dia a dia, treinássemos a arte de saber escutar o outro, e de maneira especial aqueles com quem frequentemente entramos em conflito. Estou certo de que, se em cada dia fizéssemos o propósito de acolher com respeito o impacto emocional que o outro provoca em nós, sem preconceitos, deixaríamos de ver o outro como se fosse um obstáculo na nossa vida.

balança do diálogo ficaria nivelada para poder abrir caminho para uma nova comunicação, mais autêntica e sincera. Não fiquemos calados ou afogados no perigoso mundo da interpretação. É preciso “devolver” ao outro o que sentimos a partir daquilo que escutámos e acolhemos. Deixo-vos um belo pensamento que faz parte dos anexos da minha bíblia e que me tem ajudado bastante a caminhar na procura de sentido.

Se praticássemos todos os dias a arte de “devolver” ao outro o que realmente vimos e ouvimos, e quanto isso mexeu connosco, a

Só é possível escutar se nos atrevermos a mergulhar no silêncio interior da nossa vida, desligando-nos dos barulhos do preconceito e da tentação da falsa interpretação do outro. Eis o grande desafio!

Pedras no caminho Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, Mas não esqueço que a minha vida É a maior empresa do mundo… E posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e Tornar-se autor da própria história… É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar Um oásis no recôndito da própria alma… É agradecer a Deus, cada manhã, o milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter a coragem de ouvir um “não”!!! É ter segurança para receber uma crítica, Mesmo que injusta… Pedras no caminho? Guardo-as todas, porque um dia vou construir um castelo…

Agosto / Setembro 2013

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sementes do reino

PORTA ESTREITA Num mundo que prega a facilidade como linha de máxima, Jesus apresenta um discurso que vai na linha oposta. Um convite a esforçar-se para entrar numa porta que é estreita texto PATRICK SILVA

Leio a Palavra

Lc 13, 22-30 Na sua viagem rumo a Jerusalém, Jesus vai passando e interagindo. Alguém se aproxima com uma pergunta curiosa: “Senhor, são poucos os que se salvam?” Quem fez a pergunta talvez esperasse uma resposta matemática, mas Jesus aponta numa outra direção: não se deve perder tempo com o quantificar de quantos irão entrar, mas colocar toda a atenção no “esforço” necessário para entrar, pois a porta é estreita. A resposta é depois ilustrada com uma parábola, muito semelhante àquela das virgens: depois que o dono da casa fechou a porta, não é possível entrar.

Saboreio a Palavra

É bom saber que Jesus é um peregrino que vai passando e que não foge às perguntas do povo, mesmo aquelas que parecem complicadas. Para todos existe uma resposta, pois Jesus aponta para a salvação como meta possível para toda a pessoa.

Rezo com a Palavra

A salvação é para todos. Ore com o curto salmo 117 (116), louvando a Deus que oferece a todas as pessoas a possibilidade de viverem no seu Reino eterno.

Vivo a Palavra

O Evangelho que meditamos apresenta três importantes considerações para a nossa vida. 1. A porta estreita da salvação reclama a necessidade de cada pessoa se esforçar para entrar. 26

Com isso não se pode concluir que Deus deseja dificultar o acesso à felicidade, mas que somos corresponsáveis por chegar lá. Vivemos numa sociedade que propõe portas largas e automáticas, que não exigem nenhum esforço, mas para entrar no Reino é necessário entrar por uma porta estreita, ou seja, precisamos de nos modificar para entrar por ela. 2. A salvação é uma realidade possível para todos. Cada pessoa pode alcançá-la, mas ao convite de Jesus, é necessário responder com uma resposta pessoal e efetiva. Jesus não veio para condenar, mas para oferecer o caminho da salvação. 3. A pessoa que interpelou Jesus sobre o número dos que se salvariam estava preocupada com os números, pois não sabia se estava dentro ou fora. Esta pergunta recorda-nos que não existem privilegiados, gente que já alcançou a salvação, mas que a salvação é para todos, mesmo para aqueles que hoje vivem no pecado; a possibilidade da salvação está ao alcance de todos, mas é necessário um “esforço”. Estamos dispostos a este “esforço”? A recompensa é a salvação.


intenção missionária

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO AGOSTO

SETEMBRO

04 18º Domingo Comum

01 22º Domingo Comum

Ecl 2, 21-23; Col 1-11; Luc 12, 13-21 NO BANCO DE DEUS Acumular? Certamente, mas no Céu, diz-nos Jesus. Guardai-vos de toda a avareza; a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra.

11 19º Domingo Comum

Sab 18, 6-9; Heb 11, 1-19; Luc 12, 32-48 TRAÇAS E LADRÕES Há bolsas que não envelhecem, há tesouros que os ladrões não conseguem roubar, há bens que as traças não corroem: tudo o que depositarmos no Céu.

15 Assunção de Nossa Senhora

Apo 12, 1-10; 1 Cor 15, 20-27; Luc 1, 39-56 SENHORA DA ESPERANÇA Exultemos de alegria no Senhor, ao celebrar este dia de festa em honra da Virgem Maria. Na sua Assunção alegra-se a terra e o Céu, cantando os louvores ao Filho de Deus.

18 20º Domingo Comum

Jer 38, 4-10; Hebr 12, 1-4; Lc 12, 49-53 O FOGO DE DEUS Acende, Senhor, o fogo nos nossos corações. Faz-nos ateadores do teu fogo divino no mundo. Faz com que ardemos de zelo pela salvação da humanidade.

25 21º Domingo Comum

Is 66, 18-21; Heb 12, 5-13; Luc 13, 22-30 ABRE-NOS, SENHOR! Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, diz o Senhor. Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir.

Sir 3, 19-31; Heb 12, 18-24; Luc 14, 1-14 UM LUGAR À MESA Quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te.

08 23º Domingo Comum

Sab 9, 13-19; Flm 9-17; Luc 14, 25-33 OPÇÃO RADICAL Se alguém vem ter comigo, sem me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Ser cristão é uma opção radical.

15 24º Domingo Comum

Ex 32, 7-14; 1Tim 1, 12-17; Luc 15, 1-32 RECONCILIAR-SE COM DEUS Em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo. Veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou o primeiro deles, mas alcancei misericórdia.

22 25º Domingo Comum

Am 8, 4-7; 1Tim 2, 1-8; Luc 16, 1-13 É NO DAR QUE SE RECEBE Na contabilidade de Deus, é no dar que se recebe. Dom partilhado é dom enriquecido. Longe de ti a corrupção ou outras práticas ilícitas.

29 26º Domingo Comum

Am 6, 1-7; 1Tim 2, 11-16; Luc 16, 19-31 OS REGALOS DESTE MUNDO Ai daqueles que vivem comodamente... Vestidos de púrpura e linho fino, deitados em leitos de marfim... nesta sociedade de consumo e de festas. Os contrastes e as injustiças bradam aos céus. DV

Agosto Para que as Igrejas particulares do continente africano, fiéis ao anúncio evangélico, promovam a construção da paz e da justiça

Pela justiça e pela paz

Educar para a justiça e para a paz é uma enorme tarefa da Igreja do nosso tempo. Em todo o mundo, mas sobretudo no continente africano, onde vão surgindo focos de tensão, guerrilhas, golpes de Estado e atentados contra a justiça e a paz. Têm sido incessantes os apelos do episcopado aos países africanos. Os cristãos, portadores do tesouro da graça e da paz que receberam de Cristo, deverão trabalhar para uma maior justiça social e um sistema económico ao serviço do homem e do bem comum.

Setembro Para que os cristãos que sofrem a perseguição em numerosas regiões do mundo possam ser, com o seu testemunho, profetas do amor de Cristo

Testemunho na perseguição

A perseguição aos cristãos tem sido um tema largamente tratado na nossa revista. Há, nos tempos modernos, muito mais mártires do que houve nos primeiros tempos da Igreja. A Índia, o Paquistão, a China, o Iraque e o Afeganistão, entre outros, são países que apresentam elevados índices de restrições à prática da religião. Admitir esta realidade é o primeiro passo para que a Igreja se coloque ao lado daqueles que sofrem por seguir a Cristo e os ajude a testemunhar a própria fé. DV Agosto / Setembro 2013

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o que se escreve

João Coelho Baptista

Na aurora da

PAZ Consolata

Na aurora da paz Missão em Moçambique

Este é o segundo livro de João Coelho Baptista, missionário da Consolata, que trabalhou durante 26 anos em Moçambique. Chegou a sofrer um ataque dos guerrilheiros e esteve um mês em cativeiro, narrado no seu primeiro livro “Sangue que a terra bebeu”. Volta agora a narrar este e outros acontecimentos num novo livro a que deu o título “Na aurora da paz”. São páginas escritas com a vida. “Uma vida a respirar missão”, segundo as palavras do bispo Augusto César, que prefacia o texto. Autor: João Coelho Baptista 200 páginas | preço: 8,00€ Consolata Editora

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OUVIR, FALAR, AMAR A compreensão é a única força de mudança

AUTO-DE-FÉ

A Igreja na inquisição da opinião pública

Li e gostei. É uma longa entrevista de Laurinda Alves ao jesuíta Alberto Brito, especialista em comunicação interpessoal e relações humanas, sobre uma matéria que nos toca e interpela a todos. Ouvir, “porque ouvir os outros é a maior escola da vida”. Falar, porque é “a comunicar e a dialogar que nos entendemos e que se constroem relações”. Amar, “porque é a partir da aceitação de nós próprios e dos outros que tudo é possível”. Autor: Laurinda Alves 192 páginas | preço: 13,90€ Editora Oficina do Livro

Esta é uma obra que divulga perguntas que crentes e não crentes gostariam de fazer sobre Deus, Fé e Igreja, num diálogo franco entre Zita Seabra e o padre Gonçalo Portocarrero . “Hoje, a Igreja está constantemente em inquisição da opinião pública: cada vez que se fala de fé, parece que se está a falar em qualquer coisa de muito estranho”, explicou a autora. É um livro de grande interesse sobre questões sempre atuais. Autores: Zita Seabra e Gonçalo Portocarrero de Almada 332 páginas | preço: 14,00€ Editora Alêtheia

SÓ AVANÇA QUEM DESCANSA

REZEM POR MIM

Vasco Pinto de Magalhães é autor de várias publicações de grande relevo. Esta vai já na 3ª edição. “Descansar não deveria ser uma opção vital? Viemos a este mundo para trabalhar ou para descansar? O nosso objetivo devia ser trabalhar para estar cada vez mais descansados, mais equilibrados, mais saudáveis, mais em Deus”. É um livro que pode ajudar a saborear umas boas férias. Autor: Vasco Pinto de Magalhães 94 páginas | preço: 9,50€ Edições Tenacitas

Citações do Papa Francisco

É um texto que nos revela o essencial do pensamento do Papa atual através de algumas das suas citações. Com temas tão polémicos como a eutanásia ou o aborto e conceitos fundamentais do cristianismo como o amor, a família, a dignidade humana e a fé, é um livro importante para conhecer o homem que está a trazer a esperança de renovação à Igreja e ao mundo. Autores: Julie Schwietert Collazo e Lisa Rogak 236 páginas | preço: 14,00€ Edições Asa


o que se diz D. MANUEL CLEMENTE PATRIARCA DE LISBOA

Manuel Clemente, recém-nomeado patriarca de Lisboa, é um excelente comunicador e respeitado intelectual. É uma figura reconhecida tanto no meio eclesial como no meio cultural, social e político. Há, porém, muitas outras qualidades, curiosidades e episódios da sua vida que foram fundamentais para a construção da sua identidade e que nos são revelados nesta pequena biografia. Autores: José Carlos Nunes, Ricardo Perna, Sílvia Júlio 125 páginas | preço: 10,00€ Paulus Editora

LUMEN FIDEI

A Luz da Fé

O Papa Francisco brindou toda a Igreja com o lançamento da Encíclica Lumen Fidei, documento que encerra a trilogia das virtudes teologais, iniciada pelo seu predecessor, o Papa emérito Bento XVI. No texto, “escrito a quatro mãos”, é perceptível a finura teológica de Ratzinger e a sensibilidade pastoral de Bergoglio. A fé, “a expressão com que a tradição da Igreja designou o grande dom trazido por Jesus Cristo” é apresentada como luz para um caminho a ser percorrido por todo o fiel. Autor: Papa Francisco 80 páginas | preço: 2,90€ Paulus Editora

Catequese missionária “Torna-se, de facto, necessário que todos os itinerários de catequese e de formação cristã assumam esta perspectiva missionária como elemento central quer a nível de conteúdos quer de método. Isto significa que o chamamento à santidade, ao seguimento de Jesus Cristo, ao serviço na Igreja e à missão são uma única realidade a promover desde a iniciação cristã, continuando com os jovens, e envolvendo as famílias, os adultos, a comunidade inteira”. Bispos portugueses | Nota pastoral

A fé e a busca de Deus “A luz da fé em Jesus ilumina também o caminho de todos aqueles

que procuram a Deus (…) Configurando-se como caminho, a fé tem a ver também com a vida dos homens que, apesar de não acreditar, desejam-no fazer e não cessam de procurar. Na medida em que se abrem de coração sincero ao amor, e se põem a caminho com a luz que conseguem captar, já vivem – sem o saber – no caminho para a fé.” Encíclica Lumen Fidei, nº 35

A caminho das periferias “As publicações da Igreja situam-se na linha da missão

evangelizadora, e esta não se reduz apenas ao religioso. É anúncio à dignificação da pessoa. Fomentar o dinamismo da comunidade cristã e seus membros só tem sentido para os pôr fora de portas, apaixonados pela urgência do Evangelho e construção de uma sociedade justa e fraterna, a caminho das periferias, como recomendou o Papa Francisco.” António Marcelino | Notícias de Beja | 4 de julho 20113

Reflexos das migrações “Muitos imigrantes, que procuraram em Portugal melhores condições

de vida, estão a regressar aos seus países de origem ou a emigrar para outros. Esta convulsão social afeta profundamente o panorama do nosso país que envelhece rapidamente e diminui a população ativa, com reflexos na estabilidade familiar, escolar e também eclesial”. António Vitalino | Notícias de Beja | 4 de julho 2013

Sugestões para férias “Sugiro que levemos para férias entre as nossas leituras a Bíblia

(leitura por excelência de um cristão), a nova Encíclica acabadinha de sair, para irmos saboreando lentamente as pérolas de sabedoria que a mesma contém e, sobretudo, uma abertura de coração ao amor de Deus, para com o Seu olhar ver tudo e todos de outra maneira”. Carlos Magalhães de Carvalho | Presente | 11 de julho 2013

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gestos de partilha

COSTA DO MARFIM Fernanda Carvalheira 20,00€; Anónimo 5,00€; Dulce Marques 18,00€; Carlota Lemos 68,00€; O. P. 5,00€; Conceição Gameiro 3,00€; João Afonso 38,00€; Adília Pires 5,00€; Família Lorenzini Bruno 40,50€; Helena Barros 80,00€; Fátima Matias 10,00€; Anónimo 8,00€; Paulo Fonseca 5,00€; Idalina Martins 25,00€. Total geral = 6.325,65€. CREMILDO DO GUIÚA (Moçambique) Florinda e Carlos Peralta (Lourel) Uma máquina de costura de pedal para ele e outra automática para outra pessoa. OFERTAS VÁRIAS Manuela Queiroz 93,00€; Conceição Vilarinho 30,00€; António Pinto 43,00€; José Palinhos 43,00€; António Soares 29,00€; Emília e Maria Ramos 50,00€; Odete Vargues 43,00€; Celeste Duarte 43,00€; Feverónia Martins 50,00€; Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria 53,00€; Manuel Inácio 50,00€; Lurdes Matos 86,00€; Júlia Mata 69,00€; Belmira Morgado 28,00€; Emília Silva 43,00€; Alzira Borrêcho 40,00€; Maria Salvador 93,00€; José Candeias 29,00€; Lurdes Marçal 44,97€; Gil Silva 28,50€; Antónia Sampaio 43,00€; Catarina Jaulino 33,00€; Clara Duarte 43,00€; Fernanda Vargas 52,00€; Maria Piedade 40,00€; Maria Oliveira 53,50€; Manuela Ferreira 29,00€; Rui Teixeira 93,00€; Elsa Ferreira 28,00€; Lúcia Oliveira 50,00€; José Valinho 26,00€;

“Faz o teu vídeo mostra-nos a tua missão” Envia até 10 de outubro o teu vídeo original para: fazoteuvideo@consolata.pt Os Missionários da Consolata lançam a 1ª edição do concurso “Faz o teu vídeo, mostra-nos a tua missão”. Este desafio é dirigido a todos os jovens entre os 12 e os 25 anos e tem como objetivo a partilha de valores missionários através da utilização de novas tecnologias. A captação de imagem deve ser feita através de smartphone, sendo permitida a utilização de programas de pós-produção vídeo e de áudio.

Todos os vídeos enviados (fazoteuvideo@consolata.pt) deverão ser originais, com a duração máxima de 2 minutos, dando referência a uma experiência real de missão (nacional ou internacional, individual ou de grupo). A data limite de apresentação dos trabalhos é até dia 10 de outubro de 2013 e a entrega do prémio terá lugar dia 20 de Outubro de 2013.

Maria Silva 50,00€; Isabel Rocha 93,00€; Isabel Marques 36,00€; Anónimo 150,00€; Amélia Costa 63,00€; Anabela Susano 43,00€; Aristides Alves 36,00€; Joaquim Rocha 36,00€; Anónimo 233,00€; Isabel Gambôa 30,00€; Manuela

Oliveira 24,00€; Manuel Nogueira 40,00€; Joaquim Duarte 93,00€; António Soares 47,00€; Artur Couto 30,00€; Vitória Antunes 100,00€; Elizabete Carreira 50,00€; Manuel Castelão 30,00€; Anónimo 25,00€; Francisco Campos 50,00€.

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt 30


vida com vida

PADRE EDMUNDO CAVICCHI

A FELICIDADE DE SERVIR No dia 28 de setembro de 1953, o padre Edmundo Cavicchi, missionário da Consolata, estava a trabalhar no seu quarto, na missão de Imenti, no Quénia. Instintivamente levantou o olhar e viu diante de si seis homens. Perguntou: “O que é que vocês querem”? No mesmo instante percebeu que eram guerrilheiros Mau-Mau. Levantou-se de rompante e fugiu para fora de casa gritando: “Mau-Mau!” Recebeu duas feridas, nas costas e no ombro direito. Ali perto, a irmã Eugénia jazia assassinada. Começava para ele um longo calvário de sofrimento marcado pela cruz de Cristo texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração H. MOURATO Nascido em 17 de novembro de 1913, Edmundo foi ordenado sacerdote em 1938 e partiu imediatamente para as missões do Quénia. Inteligência superior, dum dinamismo exuberante e uma paixão extraordinária pelo estudo, aprendeu várias línguas clássicas, europeias e africanas. Italiano de nacionalidade e vivendo no Quénia, que era então uma colónia inglesa, durante a Segunda Guerra Mundial foi internado em campos de concentração no Quénia e na África do Sul. Durante esse internamento era ele que animava os outros prisioneiros tornando-se para eles fonte de esperança, alegria e divertimento. De volta ao Quénia depois da guerra, foi nomeado membro do Conselho do Ministério da Educação. Mostrava

um conhecimento profundo, um amor intenso e uma admiração desmedida pelo povo Kikuyu no meio do qual trabalhava.

mim com uma tristeza profunda e calma no rosto, pronunciou metade do meu nome, baixou a cabeça e afastou-se lentamente.

O ataque de que fora alvo afetou profundamente a sua personalidade. Complexos de perseguição, momentos de euforia, identificação de confrades como inimigos, tudo baralhava a sua percepção da vida. Passou uma vez quinze dias na biblioteca da Universidade Católica em Washington a estudar as origens e o significado profundo da palavra “Consolata”. Vi-o pela última vez em Turim, na Itália, já perto do fim da sua vida. Passeava ele lentamente no pórtico da Casa Mãe. Fui-lhe ao encontro e cumprimentei-o. Olhou para

Dava sem nada guardar para si. Para ele, ser grande era caminhar no meio das coisas pequeninas num verdadeiro espírito de verdade. E a felicidade queria dizer servir os outros.

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outros saberes

NA RODA DA VIDA texto NORBERTO LOURO foto LUSA “A roda da vida” tem-nos causado muitas surpresas nos últimos tempos e nunca se falou tanto dela como agora. No campo da genética, no campo moral e da ética, no campo da fé, no campo da saúde e no campo económico. É um nunca mais acabar de perguntas, respostas, convicções e modos de encarar a vida. Gente sábia e sabedoria popular de todos os quadrantes têm comentado a vida com frases lapidares densas de significado. Eis algumas: “Não fales bem de ti (da tua vida)

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aos outros, pois não os convencerás. Não fales mal, pois te julgarão muito pior do que és” (Confúcio, sábio chinês). De facto: “Para boa vida levar: ver, ouvir e calar!” (Sabedoria popular) “Diferentes na vida, os homens são semelhantes na morte” (Lao Tzé, sábio chinês). E isso é tão evidente que não se discute, mas é provocador. Mas, por acaso alguém adverte sobre quais são as consequências disso para a vida? É que:

A vida é preciso fazê-la render pois o empréstimo exige pagamento de juros, além de sobejo de algum capital do ganho. Senão, ficam consequências dramáticas para toda a vida e, em herança, para vidas futuras. E a vida torna-se como a cebola: “Descasca-se chorando” (Provérbio popular). Santo António admoesta-nos: “De palavras estamos cheios, de obras vazios”.

“A vida não é um dom, é um empréstimo”.

“Para boa vida levar: ver, ouvir e calar!” (Sabedoria popular)


notas missionárias

FAZ O BEM E NÃO OLHES A QUEM Todos conhecemos o antigo provérbio: “Faz o bem e não olhes a quem”. Um missionário experimentou esta realidade num contexto novo texto CARLOS DOMINGOS ilustração HUGO LAMI Um dia voltava de uma visita às comunidades mais afastadas quando encontrou numa pequena aldeia um grupo de mulheres muito constrangidas. Depois de indagar a razão de tal comportamento, foi-lhe dito que uma menina tinha sido mordida por uma serpente. Curioso e ao mesmo tempo desejoso de ajudar no que fosse possível, seguiu as mulheres até à casa da menina doente.

Chegados à entrada das palhotas, foram recebidos de soslaio pelo curandeiro tradicional que, pelos vistos, já se encontrava no local havia algum tempo. Procurava também ele oferecer os seus préstimos para salvar a menina e para granjear alguns favores com as suas curas. Uma visita rápida permitiu ao missionário diagnosticar o problema: a menina tinha uma infeção grave no pé direito e agora estava ainda mais fraca porque tinha tido também um ataque de paludismo. O missionário recomendou que levassem imediatamente a menina para a clínica da missão, onde as irmãs poderiam tratar a ferida e ao mesmo tempo medicar o forte ataque de paludismo. Lá se organizou uma padiola para transportar a menina e vários homens foram comissionados para esse efeito.

relativos e sobretudo com o grande carinho das irmãs. Três semanas depois já apresentava sinais de restabelecimento e logo a seguir pôde deixar a clínica. Foi só quando um grupo de pessoas veio agradecer ao missionário o seu interesse pela criança que lhe disseram que a menina era uma parente afastada da autoridade local, o régulo. O missionário respondeu que tinha feito o que podia sem querer saber quem era a paciente: o que lhe interessava era que a criança, fosse de quem fosse, ficasse curada. Tal como Jesus que veio até nós para “tratar” as nossas “feridas” sem olhar à situação social de cada um de nós. Antes, pelo contrário: Ele procurou os mais humildes, os excluídos e os pobres do seu tempo. É isso mesmo que distingue o missionário: fazer o bem a todos sem distinção, filhos de régulos ou de plebeus. Faz o bem e não olhes a quem.

Depois de uma viagem atormentada, lá chegou à missão onde foi tratada com os remédios Agosto / Setembro 2013

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fátima informa

A visita à capela do Santíssimo Sacramento é uma das propostas feitas aos peregrinos

ITINERÁRIO DE PEREGRINAÇÃO DESAFIA À FELICIDADE texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto SANTUÁRIO DE FÁTIMA Ser peregrino de Fátima é também descobrir lugares e escutar as palavras que Nossa Senhora dirigiu à Lúcia na segunda aparição, em 13 de junho de 1917. O roteiro “Não tenhais medo” guia o peregrino por três locais no Santuário de Fátima: junto ao presépio, no recinto; capela do Santíssimo Sacramento, no piso inferior da basílica da Santíssima

Trindade, e Capelinha das Aparições. Diante do presépio somos convidados a pensar na vida, na nossa e na dos outros, constituída por muitas e diferentes experiências; a dirigir o olhar para o céu, fixando a Cruz Alta, e a meditar nas bem-aventuranças. Já na capela do Santíssimo Sacramento, somos convidados a lembrar que a nossa

vocação principal é a felicidade, mas que o medo se atravessa no nosso caminho. E que medos nos assustam e desanimam? Neste percurso interior (de reflexão) e exterior, dirigimo-nos para a Capelinha das Aparições. Ecoam as palavras de Nossa Senhora à Lúcia, a 13 de junho de 1917: “Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio”, para mais um momento de introspeção. No final deste itinerário há a oportunidade de assumir compromissos para o futuro, enquanto peregrino que se confia à Virgem, na consagração a Nossa Senhora.

Em agenda Agosto 4/7 e 25/28 Oficinas musicais criativas, Santuário de Fátima 25/29 36ª Semana Bíblica Nacional, Seminário Verbo Divino 26/31 Curso Missiologia, Seminário da Consolata

Setembro

6/7 Simpósio Ibérico da Pastoral Juvenil 10/12 Pastoral Social, Centro Paulo VI

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ONDE NÃO SOFRE NINGUÉM

Há de haver um país Onde os sonhos florescem… Onde vivem unidos a Beleza e o Bem… Onde sorrir e amar nunca será loucura!... Onde a brisa da tarde É sempre mansa e pura… E não sofre ninguém!... Maria Isabel Lereno Versos apenas


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