Grécia

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ANO LXI | AGOSTO/SETEMBRO 2015 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

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GRÉCIA

SINAIS DE POBREZA NO PAÍS QUE INVENTOU A DEMOCRACIA

EQUIPAS DE VOLUNTÁRIOS PARTEM PARA ÁFRICA Pág. 10 A ENCÍCLICA E OS POBRES Pág. 14 DO MUNDO “ESTOU EM MISSÃO SEJA ONDE FOR” Pág. 23


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial

MUDAR DE RUMO Não têm faltado comentários à encíclica Laudato Si que o Papa Francisco dirigiu ao mundo inteiro sobre o cuidado da Criação em vista de um crescimento na responsabilidade para com a casa comum. Se há muitíssimas vozes positivas, não têm faltado vozes discordantes, dizendo-a bem intencionada, mas economicamente errada, pela visão negativa em relação aos mercados e por tantos aspetos da economia global merecedores de críticas. Mas não há dúvida que na Carta temos um urgente desafio a proteger a nossa casa comum na preocupação real de unir toda a família humana na procura de um desenvolvimento sustentável e integral. Tudo imbuído de muita esperança, sabendo que, com ajuda de todos “as coisas podem mudar”. Em sintonia com a doutrina social da Igreja, a pergunta de Francisco é direta: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem nos vai suceder, às crianças que estão a crescer?” Sim, porque “somos nós os primeiros interessados em deixar um planeta habitável para a humanidade que nos vai suceder”. A este propósito, chamo a atenção dos nossos leitores para a interessante abordagem que aqui faz da encíclica o teólogo Marcelo Barros. De facto, Francisco afirma claramente que a terra, maltratada e saqueada, grita e os seus gemidos unem-se aos de todos os pobres da terra. Convida a ouvi-los e exorta todos e cada um – indivíduos, famílias, coletividades locais, nações e comunidade internacional – a uma “conversão ecológica”, isto é, a “mudar de rumo”, assumindo o compromisso de cuidar da casa comum.

e do ar, mas também do homem. É necessário um trabalho conjunto para criar uma ecologia humana sustentável. O termo “ecologia” é assumido não no significado comum, e por vezes superficial, de uma preocupação “verde”, mas no sentido bem mais profundo de um olhar global sobre o planeta Terra. Sendo ele um ecossistema, não se pode agir sobre uma parte sem que as outras o ressintam. Por isso é preciso buscar soluções integrais. “Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental”. Isto requer “uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza”. É evidente a ligação profunda entre as grandes questões ambientais globais e as pequenas ações quotidianas de defesa do ambiente e do território, como sejam a separação diferenciada de resíduos ou a poupança da água ou da energia. Não são “deveres ascéticos verdes”, mas verdadeiros atos de amor que exprimem a nossa dignidade e dão forma a uma cultura ecológica, de que o mundo tanto precisa. Tarefa enorme e responsabilidade inadiável, porque é preciso mudar de rumo. DARCI VILARINHO

“Tudo está relacionado”, diz o Papa. Não se trata somente da proteção da Terra, da água, do céu Agosto/Setembro 2015

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº8 Ano LXI – AGOSTO/SETEMBRO 2015 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 24.100 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa e Contracapa Lusa Ilustração Hugo Lami e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€; Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€; Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

TAREFAS PARA HOJE

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18 TREZE PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE A GRÉCIA, UM ADMIRÁVEL PAÍS EM CRISE 03 EDITORIAL Mudar de rumo 05 PONTO DE VISTA Pastoral do Turismo e Família 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Num mundo maior 08 MUNDO MISSIONÁRIO

Marcha pelo fim da violência contra as mulheres na Índia Igreja de São José passa a mesquita em Mossul Infância destruída nas plantações de café do Peru Quénia acolhe mais de 600 mil refugiados Momento difícil para o processo de paz na Colômbia 10 A MISSÃO HOJE Sair do sofá para ajudar quem precisa 11 PERFIL SOLIDÁRIO O rosto da solidariedade 12 A MISSÃO HOJE Neo-sacerdote tanzaniano para a Europa 13 DESTAQUE Fantasma da guerra volta a pairar no Burundi 14 ATUALIDADE A encíclica e os pobres do mundo 22 MÃOS À OBRA Sementes ajudam a sustentar hospital 23 TESTEMUNHO DE CONSAGRADO “Estou em missão seja onde for” 24 GENTE NOVA EM MISSÃO Humildade 26 TEMPO JOVEM A alegria da missão 28 SEMENTES DO REINO Eu sou o Pão Vivo 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Sofrer, um direito! 32 O QUE SE ESCREVE 33 MEGAFONE 34 FÁTIMA INFORMA Aprender a ser missionário


ponto de vista

PASTORAL DO TURISMO E FAMÍLIA texto CARLOS ALBERTO GODINHO*

A família constitui a estrutura fundamental para o desenvolvimento da pessoa e da sociedade. Tendo como seu alicerce a vivência do amor – seu “princípio interior” (FC, 18) –, é na família que se aprendem e desenvolvem os múltiplos valores humanos, pessoais e sociais. Daí que o Vaticano II considere a família como a “célula primeira e vital da sociedade” (AA, 11), precisamente porque ela é o fundamento do autêntico e integral desenvolvimento da pessoa e da sua maturação em ordem ao compromisso com os demais. A família é ainda uma comunidade de contínua aprendizagem e crescimento – a “escola de humanismo mais completo e mais rico” (FC, 21) –, pois nela se vivem as primeiras e essenciais relações interpessoais, num contínuo intercâmbio educativo entre pais e filhos, no qual cada um deles dá e recebe. Ora, para que a família viva esta sua vocação necessita de espaço e de tempo para aprofundar a sua partilha e laços de comunhão.

férias: prevendo espaços de vivência comum, que facilitem a partilha e o diálogo; definindo atividades compagináveis com os interesses dos seus diversos membros, capazes de envolver a todos; com horários comuns, mesmo que sem a rigidez do quotidiano; celebrando a sua fé em conjunto, seja na celebração dominical, seja na oração e meditação da Palavra de Deus, em espaço particular. As comunidades cristãs devem, igualmente, abrir-se ao serviço às famílias: vivendo para com estas um autêntico acolhimento; integrando-as nas celebrações comunitárias, litúrgicas ou de piedade; promovendo ações de reflexão e de convívio que envolvam as famílias em descanso; e, muito particularmente, sensibilizando os casais cristãos para um autêntico testemunho, que seja verdadeira proclamação do “Evangelho da família”. O tempo de férias é ocasião propícia à renovação da vida familiar, em que cada um se revigora interiormente; e em que a comunidade familiar, no seu todo, se reforça na sua identidade. * Diretor da Obra Nacional da Pastoral do Turismo (ONPT)

Numa época marcada por tanta dispersão, em que a família, quantas vezes, se vê subalternizada por múltiplas exigências colocadas aos seus membros, particularmente na articulação entre tempo de trabalho e de partilha familiar, o tempo de férias surge como uma oportunidade singular para o fortalecimento dos laços de comunhão e de amor entre todos os membros da família, precisamente porque caracterizado por uma maior disponibilidade e também por uma renovada criatividade. Assim, as famílias deverão atender à programação dos seus tempos de Agosto/Setembro 2015

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ponto de vista

PASTORAL DO TURISMO E FAMÍLIA texto CARLOS ALBERTO GODINHO*

A família constitui a estrutura fundamental para o desenvolvimento da pessoa e da sociedade. Tendo como seu alicerce a vivência do amor – seu “princípio interior” (FC, 18) –, é na família que se aprendem e desenvolvem os múltiplos valores humanos, pessoais e sociais. Daí que o Vaticano II considere a família como a “célula primeira e vital da sociedade” (AA, 11), precisamente porque ela é o fundamento do autêntico e integral desenvolvimento da pessoa e da sua maturação em ordem ao compromisso com os demais. A família é ainda uma comunidade de contínua aprendizagem e crescimento – a “escola de humanismo mais completo e mais rico” (FC, 21) –, pois nela se vivem as primeiras e essenciais relações interpessoais, num contínuo intercâmbio educativo entre pais e filhos, no qual cada um deles dá e recebe. Ora, para que a família viva esta sua vocação necessita de espaço e de tempo para aprofundar a sua partilha e laços de comunhão.

férias: prevendo espaços de vivência comum, que facilitem a partilha e o diálogo; definindo atividades compagináveis com os interesses dos seus diversos membros, capazes de envolver a todos; com horários comuns, mesmo que sem a rigidez do quotidiano; celebrando a sua fé em conjunto, seja na celebração dominical, seja na oração e meditação da Palavra de Deus, em espaço particular. As comunidades cristãs devem, igualmente, abrir-se ao serviço às famílias: vivendo para com estas um autêntico acolhimento; integrando-as nas celebrações comunitárias, litúrgicas ou de piedade; promovendo ações de reflexão e de convívio que envolvam as famílias em descanso; e, muito particularmente, sensibilizando os casais cristãos para um autêntico testemunho, que seja verdadeira proclamação do “Evangelho da família”. O tempo de férias é ocasião propícia à renovação da vida familiar, em que cada um se revigora interiormente; e em que a comunidade familiar, no seu todo, se reforça na sua identidade. * Diretor da Obra Nacional da Pastoral do Turismo (ONPT)

Numa época marcada por tanta dispersão, em que a família, quantas vezes, se vê subalternizada por múltiplas exigências colocadas aos seus membros, particularmente na articulação entre tempo de trabalho e de partilha familiar, o tempo de férias surge como uma oportunidade singular para o fortalecimento dos laços de comunhão e de amor entre todos os membros da família, precisamente porque caracterizado por uma maior disponibilidade e também por uma renovada criatividade. Assim, as famílias deverão atender à programação dos seus tempos de Agosto/Setembro 2015

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horizontes

NUM MUNDO MAIOR

texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI Marco era ainda um jovem quando decidiu que seria cabeleireiro. Mas, com uma condição: ser “muito bom”! À sua sensibilidade para o “belo” associava a sensibilidade para com as pessoas. Importava-se com elas. Na sua pressa de aprender, aceitou propostas desafiantes nos esforços e capacidades que exigiam. Aos 19 anos aceitou ir trabalhar em Itália, num cabeleireiro de grande qualidade e exigência. Atreveu-se numa nova cultura, noutra língua… E outros se seguiram: Roma, Paris, Lisboa. Tornou-se “uma estrela”. Agradecido à vida sempre tão generosa, queria fazer algo mais! Por isso, quando foi convidado para ser formador numa escola profissional, aceitou com o entusiasmo de quem vai iniciar uma viagem há muito desejada. Rapidamente percebeu que o seu papel junto dos alunos teria de ser bem maior do que transmitir-lhes conhecimentos. Encontrou um grupo desmotivado, “agarrado” a preconceitos e juízos de valor que os impedia de serem valorizadores de si ou de alguém mais. O desrespeito e a crítica destrutiva que usavam para derrubar o colega, criava um clima de conflito e desprazer no grupo. Que fazer? Transmitir valores… Foi o que fez! Contudo, as suas reflexões individuais ou em grupo não pareciam ter efeito prático. Um dia, Marco viu anunciada a candidatura a um programa de estágios em Itália para formandos de cursos profissionais. Acreditou ser esta uma excelente oportunidade para aqueles jovens experimentarem outros mundos, se questionarem nas suas atitudes e construírem sonhos mais elevados.

Desafiou a escola e os seus alunos a candidatarem-se. Pela primeira vez, viu o grupo unir-se como um todo, a organizar-se na entreajuda e a vibrar com algo que beneficiava a todos. E conseguiram! A viagem iniciou-se com um sentimento de conquista e de orgulho conjunto. Marco estava lá, envolvendo, questionando, orientando, supervisionando. Foram três semanas de estágio em cabeleireiros italianos. Mas, foram fundamentalmente três semanas de encontro entre eles, colegas, na descoberta da cultura de outro povo, a conviver com pessoas que os aceitaram e respeitaram nas suas diferenças, nas suas inseguranças e inaptidões.

Devagarinho, Marco observava-lhes a aceitação da diferença, os preconceitos a diluírem-se, os horizontes do sonho a rasgarem-se numa identidade maior de “cidadãos do mundo”, empenhados no “todo”. “Todos”, “nós”, era uma nova atitude que parecia quererem adotar. Regressaram a casa. Na bagagem, traziam um novo mundo, sentindo serem sua parte, de pleno direito, mas também na responsabilidade. Para Marco, este foi o maior sucesso: ajudar a abrir horizontes que desenhariam caminhos novos no olhar e na vida dos alunos que aprendera a estimar, porque decidiu ser “próximo”.

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

Igreja de São José passa a mesquita em Mossul O líder do Estado Islâmico da cidade de Mossul, Iraque, que foi criada capital do auto-proclamado Califado Islâmico, ordenou que a igreja de São José fosse transformada em mesquita. Situado no bairro de Maidan, centro histórico da cidade, o templo foi despojado de cruzes, estátuas e de todos os símbolos cristãos. Com o diminuir de fiéis e de sacerdotes, a igreja acolhia atualmente peregrinações principalmente durante as festividades dedicadas a São José.

MARCHA PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NA ÍNDIA A agressão contra uma religiosa na maternidade do hospital de Raipur, no estado indiano de Maharashtra, motivou uma marcha silenciosa e uma vigília de oração, que reuniu dois milhares de pessoas. Tomaram parte, na iniciativa, jovens, mulheres e crianças das comunidades hindu, muçulmana, sikh e cristãos de várias confissões. A manifestação realizou-se junto da catedral de São Francisco, de Nagpur, no início de julho. Tendo tomado parte na marcha, o arcebispo Abraham Viruthakulangara afirmou aos presentes: “Nós, cristãos, somos uma comunidade pacífica, fazemos parte integrante desta antiga terra-mãe. Não é tolerável que a nossa vida tranquila seja perturbada por ataques programados”. Além de exprimirem solidariedade com as 8

Missionárias Salesianas de Maria Imaculada, a que pertencia a religiosa agredida, os manifestantes pediram que fosse feita justiça. De facto, 15 dias depois da agressão, “as autoridades ainda não tinham descoberto os culpados que cometeram o crime atroz de atacar a integridade de uma mulher”. Membros das diversas comunidades religiosas presentes lançaram um apelo ao governo para que “seja mais eficaz em tutelar os cidadãos, em particular os mais débeis”. Durante a manifestação iniciou-se um movimento de recolha de assinaturas e, ao mesmo tempo, foram acesos círios para exprimir solidariedade com as vítimas de abusos e violências.

Infância destruída nas plantações de café do Peru Milhares e milhares de crianças do Peru estão ocupadas em atividades laborais durante todo o dia para ajudar a família. E deste modo hipotecam o seu futuro. No departamento de Pasco, uma das regiões mais pobres do Peru, 64 por cento das crianças trabalha em restaurantes ou no setor agrícola, sobretudo nas plantações de café. Levantam-se às cinco da manhã para ir apanhar os grãos de café, durante oito horas. Terminado o trabalho estudam das seis às dez da noite. Mais grave é a situação das meninas, que trabalham como domésticas e, muitas vezes, acabam por ser abusadas.


Ide por todo o mundo

Quénia acolhe mais de 600 mil refugiados “Não percais a esperança”, exorta Virgílio Pante, bispo de Maralal, aos mais de 600 mil refugiados que vivem no Quénia provenientes do Uganda, Ruanda, Burundi, República Democrática do Congo, Somália, Etiópia, Eritreia, Sudão e Sul Sudão. Vice-presidente da Comissão para os Refugiados da Conferência Episcopal do Quénia, Virgílio Pante celebrou a Eucaristia para refugiados de vários países, exortando-os a não perder a esperança, não obstante as

Momento difícil para o processo de paz na Colômbia “O processo está vivo”, afirma o presidente da Conferência Episcopal da Colômbia, Augusto Castro Quiroga, arcebispo de Tunga. “Não é verdade que se encontre no momento pior, não obstante os recentes ataques das Forças Armadas Revolucionárias da

dificuldades que têm de enfrentar no dia a dia. “Sede firmes na fé e acreditai em Deus. Lembrai-vos que até Jesus foi refugiado em África”. O bispo missionário da Consolata apelou aos quenianos para que evitem o tribalismo e o racismo, e ajudem os refugiados a ter acesso à escola e ao trabalho. A terminar, Virgílio Pante pediu ao governo queniano que facilite a repatriação voluntária, mas que não expulse à força os somalis que não querem sair do Quénia. Recorde-se que o governo decidiu encerrar o campo de Dadaab, com 350 mil refugiados somalis, depois dos atentados terroristas atribuídos aos Shabaab da Somália. Colômbia (FARC) constituam um obstáculo às negociações”, afirmou o bispo missionário da Consolata. “Existe pouco otimismo, mas é necessário reanimar o processo de paz de modo que todo o povo colombiano o apoie e o país supere esta fase”. Vinte e seis líderes religiosos – da Igreja Católica, anglicana, luterana, presbiteriana, ortodoxa, evangélica, menonita e diversas instituições que trabalham para a reconciliação, associadas a diversas religiões, assim como comunidades islâmicas e indígenas – uniram as suas vozes a favor da paz na Colômbia e assinaram a carta “As armas são o falimento da palavra”. Pela primeira vez na história da Colômbia os líderes religiosos uniram-se para advertir o governo e a guerrilha: “As armas são um erro e a palavra é a estrada justa”.

Escrevo estas linhas quando o Papa Francisco se encontra em visita de missão a três países da América do Sul – o Equador, a Bolívia e o Paraguai – e não é certamente por turismo ou vaidade que um homem de quase 80 anos se sujeita a tais canseiras. Enquanto isto acontece lá no sul do extremo ocidente, nós missionários da Consolata aqui em Roma desejamos a 8 de julho boa viagem e boa missão a três nossos jovens confrades enviados para a Coreia do Sul lá no extremo oriente. São eles o tanzaniano padre Patrick Francis, o congolês padre Stephano e o colombiano padre Yair Alberto que vão em nosso e vosso nome proclamar lá longe que Jesus Cristo é vida, fraternidade, paz e salvação. Esta viagem papal e este envio missionário chamam-me à mente o Concílio Vaticano II que há 50 anos afirmava no decreto “Ad Gentes” que a difusão do Evangelho compete a todos, desde o Papa ao último batizado. Toda a Igreja para todo o mundo! Esse decreto conciliar ainda está longe de ser aplicado visto que os crentes, as paróquias e as dioceses ainda estão bem longe de responder plenamente ao seu chamamento missionário. Que o exemplo do Papa Francisco e dos nossos três enviados nos sirva de exemplo.

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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a missão hoje

SAIR DO SOFÁ PARA AJUDAR QUEM PRECISA

Missionários da Consolata, resume bem o espírito e a vontade de contribuir para um mundo melhor que os 22 leigos levam na bagagem para o continente africano.

Este ano, foram organizados três grupos, com voluntários de vários pontos do país, desde a área Três grupos de leigos missionários da Consolata vão da Grande Lisboa à região metropolitana do Porto, estar em missão de voluntariado no mês de agosto, passando pela região Centro. As idades variam entre os e os 61 anos, mas o sentido de missão é o mesmo e em Moçambique e na Tanzânia. Uns vão ajudar nos 18 pode ilustrar-se com as palavras deixadas por Fátima centros educativos, outros nos centros de saúde e Moreira, economista reformada e a menos jovem alguns até na recuperação de edifícios. Seja qual for em idade: “Sei que vou ficar uma mulher muito mais a atividade, a motivação é comum: o de querer fazer completa e sã espiritualmente. Espero poder deixar o meu cunho de simplicidade, honestidade e humildade algo pelos outros que sempre me foi transmitido. Quero voltar com o texto FRANCISCO PEDRO foto DR sentido de ter dado tanto quanto recebi. E espero que esta seja a primeira de muitas outras vezes em que posso fazer algo pelos outros”. “Porque nenhuma boa história começa com: naquele dia que fiquei no sofá …”. Este lema, escolhido por A oportunidade de deixar uma marca solidária nos um dos grupos de voluntários que vão em missão, locais de acolhimento, por mais remotos que sejam, no âmbito dos campos de trabalho promovidos pelos

A partida destes grupos é o culminar de um trabalho de preparação que durou entre um e dois anos, com ações de formação nas áreas da inculturação, da religião, do ecumenismo, do desenvolvimento pessoal e do trabalho em equipa. Os resultados de todo este esforço só mais tarde serão conhecidos. Mas de uma coisa Bernard Obiero tem a certeza: “Quem parte nunca regressa igual, por isso, vale a pena partir”

Bernard Obiero (ao centro) numa das ações de formação das equipas de voluntários

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perfil solidário

é, de resto, um dos principais objetivos deste tipo de missões. “Sente-se nos voluntários uma grande vontade de ajudar e de descobrir outras culturas, de explorar para além do mundo próprio de cada um”, afirma o padre Bernard Obiero, responsável pela área do voluntariado em Portugal do Instituto Missionário da Consolata (IMC). Neste sentido, o grupo que partiu a 29 de julho para a paróquia de Maúa, em Moçambique, preparou-se para auxiliar nos estudos as crianças e jovens do centro educativo local, visitar as comunidades católicas e partilhar experiências com a população. No Guiúa, também em Moçambique, a outra equipa de voluntários é esperada no Centro Catequético, a partir de 31 de julho, para atividades com os filhos dos catequistas em formação, apoio ao centro de saúde, contacto pastoral com as famílias e dinamização de trabalhos com os mais jovens. Já o grupo que parte a 2 de agosto para Ubungo, na Tanzânia, leva como tarefa principal a participação no melhoramento das instalações da missão da Consolata, através de trabalhos de limpeza, pintura e pequenas reparações. Os intervalos serão aproveitados para a visita a outras missões e contacto com as comunidades. A partida destes grupos é o culminar de um trabalho de preparação que durou entre um e dois anos, com ações de formação nas áreas da inculturação, da religião, do ecumenismo, do desenvolvimento pessoal e do trabalho em equipa. Os resultados de todo este esforço só mais tarde serão conhecidos. Mas de uma coisa Bernard Obiero tem a certeza: “Quem parte nunca regressa igual, por isso, vale a pena partir”.

O ROSTO DA SOLIDARIEDADE Quando se fala em Instituições de Solidariedade em Portugal, há um nome incontornável: o do padre Lino Maia. Nascido há 67 anos, em Vila do Conde, o sacerdote tem dedicado a sua vida a mobilizar a sociedade para ser fraterna e atenta aos mais carenciados e necessitados. Animado pelos princípios da defesa da dignidade humana, do bem comum, do associativismo, da solidariedade e da subsidiariedade, não se tem poupado a esforços na proteção dos direitos sociais em tempos de reforma do Estado Social. Líder da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social (CNIS) desde 2006, foi galardoado recentemente com o Prémio Fé e Liberdade, pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. No início do ano, já tinha sido condecorado pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com o grau de Grande-Oficial do Ordem de Mérito. “Quando se fala de respostas sociais, fala-se de uma comunidade que não desmobiliza, que se organiza e se envolve e, particularmente nos momentos mais difíceis como o desta persistente crise, se comporta de uma forma resiliente e expansionista e em contraciclo, se comparada com os outros setores tradicionais da sociedade portuguesa e com outras sociedades irmãs”, defende Lino Maia. FP Agosto/Setembro 2015

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a missão hoje

NEO-SACERDOTE TANZANIANO PARA A EUROPA texto e foto ELÍSIO ASSUNÇÃO Uma multidão dirige-se para um terraço amplo, rodeado de bananais a perder de vista. Sobre a terra bem negra, mexida de recente, tinham sido erguidas tendas prontas a acolher um milhar de pessoas. Entre a casa dos avós e a casa dos pais iria ter lugar a Missa Nova de Thomas Mushi. Jovem missionário da Consolata, fora ordenado sacerdote na catedral de Moshi, no norte da Tanzânia, em 9 de julho, com 28 novos sacerdotes. Quatro dias depois, celebra a primeira Missa na casa dos pais. A noite daquela segunda feira, 13 de julho, fora chuvosa e as estradas eram autênticos canais de lama, por onde os carros deslizavam pelos trilhos adiante. O ambiente estava ao rubro. O entusiasmo e a alegria jorravam dos rostos. Trocavam-se sorrisos amplos e calorosos, misturados com saudações em swahili, língua oficial da Tanzânia: jambo, habari, msuri, karibu, assante e outras. A Missa fora marcada para as 10

horas. Os convidados e vizinhos ainda continuam a chegar. Cerca do meio dia, um “land cruiser”, todo enfeitado, para junto do local. A banda musical faz ouvir sons de festa e da viatura sai o neo-sacerdote. Rodeado pelos pais e irmãos, é acompanhado até sua casa pelo pároco e demais sacerdotes. A alegria dos presentes é vibrante, alimentada pelo canto e pela dança. Inicia a Missa Nova. Cabe a um sacerdote espiritano da terra o privilégio de proferir o sermão que dura mais de uma hora. Aliás trata-se de saldar uma “dívida” antiga. Thomas Mushi era jovem acólito quando o seu conterrâneo João Mandeleo celebrou a primeira Missa. “Nessa altura ajudei-te, eu – lembrou-lhe Thomas Mushi. Agora ajudas-me tu, a mim”. O neo-sacerdote mostra-se seguro e sereno durante toda a celebração da Eucaristia, incensada com fumos e aromas que vinham da cozinha ali ao lado. Terminada a celebração segue-se um rito significativo e comovente.

Thomas Mushi, missionário da Consolata, celebra primeira Missa em casa dos pais

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Acompanhado pela família mais chegada, o neo-sacerdote vai abençoar e rezar junto dos túmulos do tio e do irmão mais velho, situados junto das casas. A multidão vive o rito em silêncio orante. Quando tudo parecia terminado, segue-se uma longa sessão de agradecimentos. Aqui o neo-sacerdote mostra toda a sua maturidade e à vontade em conduzir este momento tão rico e tão apreciado pela assembleia. O canto e a dança fazem a passagem da celebração eucarística para a mesa do banquete. Eram já as 16 horas! Qualquer observador europeu ficaria de boca aberta e olhos esbugalhados diante de um espetáculo tão envolvente, e tão profundamente vivido e sentido por todos. A Igreja Católica da Tanzânia é viva e dinâmica, particularmente no norte. A diocese de Moshi tem clero mais que suficiente para as suas exigências pastorais, o que já não sucede noutras dioceses. O povo nutre uma grande veneração pelo clero e está disposto a fazer tudo pela Igreja. Thomas Mushi deixa a sua diocese e irá trabalhar para a diocese do Porto, onde, no último ano, realizou o seu estágio de preparação para o sacerdócio.


destaque

TERCEIRA ELEIÇÃO DE NKURUNZIZA CRIA INSTABILIDADE POLÍTICA E SOCIAL

FANTASMA DA GUERRA VOLTA A PAIRAR NO BURUNDI texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA A recandidatura de Pierre Nkurunziza ao terceiro mandato presidencial, no Burundi, fragilizou os equilíbrios políticos e sociais do país e levanta novamente o espectro da guerra civil que, entre 1993 e 2005, fez cerca de 300 mil mortos e acabou por afetar os países da região. Pierre Nkurunziza foi o primeiro Presidente a ser eleito após a guerra civil, em 2005. Reeleito em 2010, na sequência de umas eleições fortemente contestadas pela oposição, o anúncio da sua recandidatura nos últimos meses tem sido considerado inconstitucional e esteve na origem de uma tentativa de golpe de Estado, a 13 de maio, e dos protestos provenientes dos principais bairros periféricos da capital, Bujumbura. Desde então que se calcula que os protestos causaram cerca de 70 mortos e a fuga de 120 burundeses para fora do país, em consequência da forte repressão exercida pelas autoridades contra os opositores. Os partidos da oposição boicotaram

as eleições legislativas e municipais que decorreram no início do mês e as eleições presidenciais foram adiadas por alguns dias.

no sentido de uma comunidade nacional comum”. E acrescentou: o Burundi está novamente à beira da “violência devastadora”.

Receio do regresso ao passado

A história após a independência do Burundi ficou marcada por meio século de instabilidade política e social, de golpes de Estado e massacres entre hutus (cerca de 80 por cento da população) e tutsis. O próprio Pierre Nkurunziza perdeu o seu pai e cinco dos seus irmãos nos diferentes conflitos entre hutus e tutsis e, em 1995, entrou para o Conselho Nacional para a Defesa da Democracia (CNDD), um dos principais grupos da rebelião burundesa, onde se distinguiu pela sua capacidade de organização das forças.

As Nações Unidas teceram duras críticas à forma como decorreram as eleições legislativas e municipais. Em primeiro lugar, pela voz de TayeBrook Zerihoun, vice-secretário geral das Nações Unidas para os assuntos políticos, para quem “o Burundi está de novo à beira do precipício e o grave perigo que o país enfrenta não deve ser subestimado”. Zerihoun sublinhou ainda a crescente polarização no país e denunciou a “escolha aparente de líderes do Burundi de colocar os seus interesses pessoais à frente do país”. Em segundo lugar, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra ‘ad Al Hussein, referiu que “a crise decorrente da decisão do Presidente Nkurunziza para concorrer a um terceiro mandato (presidencial) tem prejudicado uma década de progressos no estabelecimento de instituições democráticas e ganhos preciosos

A história após a independência do Burundi ficou marcada por meio século de instabilidade política e social, de golpes de estado e massacres entre hutus (cerca de 80 por cento da população) e tutsis

Recentemente, o vice-presidente deste partido disse publicamente que quem impedir Pierre Nkurunziza de se candidatar às eleições será tratado da mesma forma que os que assassinaram Melchior Ndadaye. Melchior Ndadaye foi o primeiro Presidente hutu e o primeiro Presidente democraticamente eleito do Burundi, cujo assassinato conduziu a cerca de 12 anos de guerra civil.

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atualidade

ECOLOGIA Teólogo brasileiro analisa documento papal

A ENCÍCLICA E OS POBRES DO MUNDO

Finalmente saiu a encíclica do Papa Francisco sobre a ecologia. Poética e profética, começa por retomar o «Cântico das Criaturas», de São Francisco, para confirmar: “A nossa casa comum é como uma irmã, com quem partilhamos a existência e é como uma boa mãe que nos acolhe nos braços”. A partir daí, convida todos para renovar o diálogo sobre o modo como estamos construindo o futuro do planeta

texto MARCELO BARROS fotos LUSA

A encíclica está organizada de acordo com o método latino-americano do “ver, julgar e agir”. Mesmo se cada etapa se interliga com a outra, parte da realidade, confronta-a com a Palavra de Deus e depois tenta discernir o que propor de concreto. No capítulo um, descreve: 14

“O que está a acontecer na nossa casa comum”. Elenca a questão das mudanças climáticas que será tema de importante encontro da ONU, em Paris (dezembro deste ano). Trata da crise da água, do desflorestamento, da perda da biodiversidade e insiste: tudo isso

está ligado à desigualdade social e às injustiças do sistema que dominam o mundo. O capítulo dois é dedicado ao “Evangelho da Criação”. A encíclica insiste que ao falar de criação, discernimos no universo o “projeto


do amor de Deus”. Desmistifica a natureza (não é divina), mas sem cair no antropocentrismo – nenhuma criatura é supérflua. A novidade maior é que o Papa trata a ecologia a partir da realidade social do mundo, da injustiça do

sistema económico excludente e da cultura da indiferença que infesta a humanidade. Parte de um documento dos bispos da Nova Zelândia que afirma: “20 por cento da população mundial consome recursos numa medida tal que roubam (e usa essa expressão) às

nações pobres e às gerações futuras aquilo do qual essas precisam para sobreviver”. Assim, Francisco denuncia profeticamente “a raiz humana da crise ecológica” e elabora princípios e diretrizes para uma “ecologia Agosto/Setembro 2015

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integral”. Propõe uma ética em defesa dos vulneráveis, tanto os pobres como a terra, a água e a biodiversidade. A partir daí, elabora “algumas linhas de orientação e ação”. Pede uma “política e economia em diálogo para a plenitude humana, insiste na urgência de uma educação e espiritualidade ecológicas que aprofundem o diálogo e a colaboração entre as diversas religiões e suscite uma “conversão ecológica”. Leonardo Boff declarou que nem a ONU faria um documento tão aberto. A encíclica consagra a ecologia integral que une as questões ambientais do cuidado com a natureza à urgência de uma justiça internacional para os empobrecidos e excluídos. Ao iniciar e concluir essa reflexão com um hino de louvor a Deus e em forma de oração, a encíclica convoca-nos a construir um outro modo de organizar o mundo e gerir a nossa vida pessoal a partir do cuidado e da amorosidade como caminhos de intimidade com o Espírito que “abarca todo o universo, conhece toda a palavra e está presente em toda criatura”.

Instrumento de estudo

Mas o que esperariam da encíclica Laudato Si, por exemplo, os índios Ka’apor, cansados que estão de exigir que o Estado brasileiro os defenda e garanta a proteção da floresta? Será preciso lê-la do ponto de vista deles e de muitas outras vítimas da violência ambiental. Muitos estão esperando por essa encíclica. Sobretudo as comunidades e igrejas perseguidas pelo seu empenho na defesa da Criação e em conflito com os grandes projetos nas regiões amazónicas: mineração, monoculturas, hidroelétricas e barragens, infraestruturas para os chamados “projetos de desenvolvimento”, que revelam rapidamente o interesse quase exclusivo de desenvolver os capitais 16

Esperamos que essa encíclica confirme uma posição clara da Igreja ao lado das vítimas do assim chamado “racismo ambiental”. Desejamos que, ao denunciar os riscos da sobrevivência do planeta, o documento seja solidário com as comunidades mais pobres. Essas são por um lado as vítimas maioritariamente atingidas por essa violência e, por outro, em muitos casos, indicam-nos caminhos de preservação da vida e de organização de economias com baixo impacto ambiental nos territórios


Em termos de política internacional, a encíclica poderia ser oportunidade para relançar a proposta de criação de um Tribunal Penal de Justiça Ambiental. Hoje, de fato, não existem mecanismos adequados de responsabilização a nível internacional por crimes ambientais de quem investe, provocando graves violações dos direitos socioambientais às populações locais e a criminalização dos líderes populares que a eles se opõem. Um dos motivos da criação da rede latino-americana Iglesias y Minería, por exemplo, foi exatamente evitar o isolamento das comunidades mais empenhadas nessas frentes e demonstrar apoio moral, político e institucional da Igreja. Esse será, talvez, o efeito prático mais imediato e importante de Laudato Si. Esperamos que essa encíclica confirme uma posição clara da Igreja ao lado das vítimas do assim chamado “racismo ambiental”. Desejamos que, ao denunciar os riscos da sobrevivência do planeta, o documento seja solidário com as comunidades mais pobres. Essas são por um lado as vítimas maioritariamente atingidas por essa violência e, por outro, em muitos casos, indicam-nos caminhos de preservação da vida e de organização de economias com baixo impacto ambiental nos territórios. Em muitos países está a ser implicitamente declarada uma guerra de baixa intensidade, disputando territórios e bens naturais. A história repete-se ao estilo das antigas colónias, como bem demonstra o saudoso Eduardo Galeano em “As veias abertas da América Latina”, mas com ritmos e tecnologias bem mais impactantes,

chegando assim a violar também os direitos das futuras gerações. O espírito consumista e o sistema capitalista crescem a uma velocidade exponencial; outros modelos de vida que com dificuldade resistem à agressão deles observam-nos com angústia e incompreensão, definindo-os, lucidamente, “sistemas suicidas”. Desse ponto de vista, a leitura de Laudato Si poderia ter profundas implicações político-económicas. As comunidades que a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho define como “indígenas e tribais” representam, a nosso ver, um “baluarte”. Assim, como ao longo da história as fortalezas protegeram territórios inteiros das invasões e frearam o controle inimigo dos territórios, da mesma forma o direito à autodeterminação das populações locais pode ser uma estratégia, hoje, para evitar a entrega indiscriminada dos bens comuns às corporações mineiras ou às multinacionais da comunicação, da água ou das grandes cadeias de produtos alimentares.

Direitos indígenas

A Igreja deveria apoiar com força o direito à “consulta prévia, livre e informada” das comunidades locais, assim que seja garantido o autocontrole de seus territórios. A Rede Eclesial Panamazónica comprometeu-se nesse sentido em diversos países da América Latina. Articula comunidades cristãs de base, grupos e instituições religiosas e as conferências episcopais da grande Amazónia, com especial atenção aos direitos dos povos indígenas e com uma interessante proposta de colaboração permanente com a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos.

meses depois da publicação da encíclica, poderá tocar também esses temas delicados e urgentes. Em termos de política internacional, a encíclica poderia ser oportunidade para relançar a proposta de criação de um Tribunal Penal de Justiça Ambiental. Hoje, de fato, não existem mecanismos adequados de responsabilização a nível internacional por crimes ambientais. Assim, mesmo em caso de graves violações desses direitos, as multinacionais e os governos locais, vinculados entre si por acordos e interesses económicos, acabam praticamente impunes. Sobretudo, esperamos que o documento do Vaticano sobre ecologia ofereça uma releitura teológica das referências bíblicas que ao longo da história, por interpretações patriarcais e colonizadoras, separaram a Criação do homem, considerando esse último o dominador e controlador da vida. Sabemos quanto o sistema capitalista, ecocida e suicida, herdou da cultura religiosa cristã. Por outro lado, temos a inspiração radicalmente evangélica de São Francisco e o testemunho vivo de muitos e muitas mártires que nos relançam em defesa da vida. Precisamos igualmente de um profundo e humilde processo de conversão e purificação. Uma nova escuta da Revelação, a partir do encontro fecundo entre a Palavra bíblica, o livro da criação e a sabedoria dos povos e das religiões.

A visita do Papa Francisco a Washington em setembro, poucos Agosto/Setembro 2015

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dossier

GRÉCIA Treze perguntas e respostas sobre a nação fundadora da democracia

UM ADMIRÁVEL PAÍS EM CRISE Extrema-esquerda no governo, dívida pública insustentável, braço de ferro com a União Europeia, ameaça de saída da Zona Euro, bancos fechados. A Grécia é tudo isto nestes dias, mas também uma grande nação que deu nome à Europa e foi a pioneira na democracia há 2500 anos texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* foto LUSA

1. Porque se fala tanto agora de a Grécia poder deixar de ter o euro como moeda ou até de sair da União Europeia? Desde 2009 que a Grécia vive uma grave crise económica e perdeu mesmo um quarto da riqueza neste espaço de tempo. Má gestão dos dinheiros estatais, corrupção e clientelismo político juntaram-se 18

para deixar o país numa situação de bancarrota que só duas ajudas financeiras da União Europeia e um perdão parcial da dívida pública permitiram evitar. Mas no início deste ano os gregos elegeram um governo de extrema-esquerda que se recusou a prosseguir com as reformas exigidas pelos credores e estes retaliaram deixando de emprestar dinheiro.

2. Têm razão os gregos para contestar as reformas que o resto da Europa lhes exigia? Sim, em parte. Por ter sido o primeiro país da Zona Euro (os 19 Estados membros da União Europeia, em 28, que usam a moeda única) a precisar de ajuda, a Grécia teve de aceitar condições de austeridade ainda não testadas


suaves, mesmo assim causando sérios problemas. Contudo, a contestação grega e a forma como o governo geriu as negociações com a União Europeia acabaram por ser prejudiciais ao país. Em vez da boa vontade dos parceiros, conseguiram que alguns países, como a Alemanha e a Finlândia, se recusassem a ajudar. 3. Têm fama de excessiva dureza com os gregos os governos da Alemanha e da Finlândia. Porquê? Tanto os líderes de Berlim como de Helsínquia (e de mais algumas capitais) garantem querer ajudar os gregos, mas desde que estes façam a sua parte, isto é, corrigir os crónicos defeitos na gestão pública que levaram a esta dívida pública igual a quase 200 por cento do PIB (riqueza produzida num ano no país). Argumentam esses governantes de que os contribuintes dos seus países não querem estar sempre a dar novas oportunidades aos gregos pagando os excessos destes.

e que trouxeram grande pobreza ao país. A economia entrou em recessão, o desemprego explodiu (mais de 25 por cento ainda hoje) e sinal do grande desânimo entre a população até a taxa de suicídio subiu de forma alarmante. Por causa do que se passou na Grécia, os posteriores programas de austeridade aplicados à Irlanda, Portugal e Chipre foram mais

Nunca nenhum país deixou a Zona Euro ou abandonou a União Europeia. Aliás, são situações nem sequer previstas nos tratados europeus. Evitar a bancarrota grega é essencial para salvaguardar a moeda única

4. Diz-se que ajudar a Grécia não é uma questão de dinheiro mas uma escolha política. Que só assim se pode salvar a União Europeia. É verdade? Bem, nunca nenhum país deixou a Zona Euro ou abandonou a União Europeia. Aliás, são situações nem sequer previstas nos tratados europeus. Evitar a bancarrota grega é essencial para salvaguardar a moeda única. E garantir a continuidade da Grécia na Europa a 28 significa defender o projeto de construção europeia. Assim, por Agosto/Setembro 2015

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muito dinheiro que custe dar nova oportunidade aos gregos, não o fazer poderia iniciar um processo de consequências imprevisíveis. No mínimo seria a prova de que não existe solidariedade dentro da União Europeia. 5. Deve muito à Grécia esta Europa, certo? Deve o nome do próprio continente, que vem de um mito grego. Deve também as bases da sua civilização, que tem como pilares o classicismo greco-romano e o cristianismo. Foram os gregos que há 2500 anos inventaram a democracia, sistema político de que a Europa tanto se orgulha. 6. Esta Grécia de hoje é a continuidade dessa Grécia da Antiguidade? Sim, tanto em termos de território como de língua, e isso é indesmentível. E em Atenas, a capital, lá está a Acrópole com os templos clássicos, para recordar esse legado. Mas a Grécia moderna descende sobretudo do Império Bizantino, que era a metade oriental do Império Romano, e que durou até 1453, quando Constatinopla foi conquistada pelos turcos otomanos. 7. Diz-se que a Grécia tem muito de semelhante a Portugal. É mesmo assim? Quem já visitou a Grécia, país do Mediterrâneo Oriental, terá notado as paisagens de oliveiras e a presença contínua do azul do mar, tal como em Portugal. Também o povo, tanto no tipo físico como na mentalidade, é parecido ao português. E até alguns dos defeitos dos gregos tão falados por estes dias são também muito portugueses, como a fuga aos impostos, se bem que felizmente, por lá como por cá, cada vez haja menos tolerância para com quem não cumpre os deveres para com a sociedade. 20

A economia grega entrou em recessão e a taxa de desemprego subiu para mais de 25 por cento

8. Certamente, também há diferenças acentuadas entre os dois países da Europa do Sul? A mais óbvia é a pertença dos gregos ao mundo cristão ortodoxo. Isso explica a proximidade cultural à Rússia, até vista durante esta crise como a ajuda que a União Europeia recusava dar. E há ainda um certo orientalismo na sociedade grega, fruto de séculos sob domínio otomano. 9. Como nasceu a Grécia moderna? Durante quatro séculos depois da queda de Constantinopla, os gregos foram súbditos do Império Otomano. Ora a dinastia reinante, embora turca e de religião muçulmana, sempre tolerou as comunidades conquistadas, desde que estas fossem leais. Até 1821 isso aconteceu com os gregos, que viviam espalhados pelo Império Otomano, com estes a fornecerem administradores ao aparelho de Estado e a dominarem vastos setores da economia, como a marinha mercante. Mas a influência dos valores da Revolução Francesa e a ideia de Estado-Nação fez-se

sentir e com a ajuda da Rússia, da França e da Grã-Bretanha uma pequena Grécia (região de Atenas e península do Peloponeso) ganhou a independência em 1830. Depois,

Ao longo da sua história moderna, ou seja nos últimos dois séculos, a Grécia tem procurado seguir a Europa Ocidental como modelo. Assim, a seguir à Segunda Guerra Mundial conseguiu ser o único país dos Balcãs que não ficou comunista. E quando aderiu em 1981 à CEE, o antepassado da União Europeia, ficou a ser o único Estadomembro que não tinha fronteiras com os outros, o que prova o seu excecionalismo


a tensão com a Rússia, a matriz ortodoxa da Grécia torna-a uma ponte importante entre o Ocidente e Moscovo; e perante o fluxo de refugiados oriundos de África e do Médio Oriente, a Grécia tem um papel-chave de vigilância da Europa. 13. Voltando à crise. Pode ser-se otimista sobre o futuro dos gregos?

graças à fragilidade do Império Otomano nos seus tempos finais, foi alargando território a norte e às ilhas do Egeu. 10. Mas falharam o sonho de reconquistar Constantinopla, não foi? Sim. Para certos nacionalistas gregos, o país teria de ter Constantinopla como capital e abarcar as duas margens do Egeu, mas quando depois da Primeira Guerra Mundial tentaram conquistar a Anatólia, os turcos resistiram e o resultado foi a troca de populações. Mais de um milhão de gregos partiram da Anatólia e algumas centenas de milhares de turcos foram obrigados a deixar a Grécia. O critério foi religioso, o que fez com que os muçulmanos de Creta, de língua grega, tivessem de ir para a Turquia, enquanto cristãos do leste turco, de língua turca, fossem forçados a emigrar para uma Grécia que nada lhes dizia. As exceções foram os turcos da Trácia Ocidental, autorizados a permanecer na Grécia, e os gregos de Constatinopla, a atual Istambul, onde vive ainda o principal patriarca da Igreja Ortodoxa.

11. Essa tensão com a vizinha Turquia permanece até hoje? Sim, e apesar dos dois países serem aliados na NATO a desconfiança mútua é enorme. Não é por acaso que o governo grego tem recusado as pressões, nesta época de crise, de cortar nas despesas com as forças armadas. 12. Fala-se muito da importância geopolítica da Grécia. O que significa isso? Ao longo da sua história moderna, ou seja nos últimos dois séculos, a Grécia tem procurado seguir a Europa Ocidental como modelo. Assim, a seguir à Segunda Guerra Mundial conseguiu ser o único país dos Balcãs que não ficou comunista. E quando aderiu em 1981 à CEE, o antepassado da União Europeia, ficou a ser o único Estadomembro que não tinha fronteiras com os outros, o que prova o seu excecionalismo. Ora, esse destino ocidental é valioso, sobretudo na atualidade: quando se fala de choque com o Islão, a Grécia surge na fronteira entre o mundo cristão e o mundo islâmico; quando cresce

Neste momento é arriscado fazer previsões. A crise mexeu com a sociedade, alterou o sistema partidário (ascensão da extrema-esquerda, mas também surgimento de um partido neonazi), trouxe desafios económicos novos. O acordo de última hora com a União Europeia mostrou um inesperado pragmatismo do primeiro-ministro Alexis Tsipras. Este homem conseguiu transformar um pequeno partido de extrema-esquerda, o Syriza, no maior partido, depois ganhou um referendo onde desafiava a União Europeia e agora, mesmo dizendo estar cético, defende cumprir aquilo que os credores exigem. Com os bancos fechados durante toda a primeira metade de julho, e levantamentos no multibanco limitados a 60 euros diários, a Grécia teve uma antecipação do caos que geraria uma rutura com a Zona Euro e não quer ir por esse caminho. Mas é evidente que ou a economia cresce muito na próxima década (improvável) ou terá de haver um reajustamento da dívida pública, para que não se torne insustentável pagar juros (provável). É grande a capacidade da Grécia para dar a volta por cima; aconteceu várias vezes no passado. E a prova disso é que mesmo em crise o país continua a ser o mais democrático da região e aquele onde o nível de vida é mais elevado. *jornalista do DN

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mãos à obra

SEMENTES AJUDAM A SUSTENTAR HOSPITAL

Um acordo com 200 agricultores da aldeia de Gambo, na Etiópia, permitiu melhorar a segurança alimentar de centenas de famílias e assegurar uma maior participação da população no apoio ao hospital local, gerido pelos missionários da Consolata texto FRANCISCO PEDRO foto DR Partindo do provérbio chinês, que não se deve apenas dar o peixe a quem dele precisa, mas também ensinar a pescar, os missionários da Consolata na Etiópia criaram um projeto de apoio aos agricultores da aldeia de Gambo, que serviu também para sensibilizar a comunidade e levá-la a apoiar de forma mais efetiva o Hospital Rural

local, construído e gerido pela missão, desde a década de sessenta do século passado. Ao abrigo deste programa, que envolveu o investimento de pouco mais de 7.000 euros, foi assinado um acordo com 200 agricultores, a quem foram fornecidas sementes de trigo e fertilizantes. Os camponeses, por sua vez, comprometeram-se a doar um quinto da colheita ao hospital, garantindo assim o reforço da matéria-prima que serve de base a muitas das refeições fornecidas aos utentes da unidade de saúde. Situada na província de Arsi, na região de Oromia, a 245 quilómetros da capital Addis Abeba, a aldeia de Gambo está cercada por bosques. Tem cerca de 2.000 habitantes, mas a sua zona de influência abrange uma área com meio milhão de moradores. A principal estrada de acesso é em terra batida e de difícil circulação, sobretudo durante o período de chuvas, e a maior parte da população vive da agricultura de subsistência e das trocas diretas, sem envolvimento de moeda.

Agricultores envolvidos no projeto entregam um quinto da produção para consumo no hospital

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Como a generalidade dos camponeses está excluída das transações comerciais e do acesso ao crédito, e o poder de compra de sementes e fertilizantes é praticamente nulo, os missionários avançaram com o projeto de parceria, que garantia por um lado um sistema de troca, e por outro, que o hospital passaria a ter o fornecimento regular de trigo. Ao mesmo tempo, os agricultores entravam num sistema que os livrava das eventuais crises económicas e asseguravam a segurança alimentar das suas famílias. O Hospital Rural de Gambo está dotado neste momento com 150 camas e é o único centro sanitário em funcionamento no distrito de Kore. Atende uma média de 250 pacientes por dia, revelando-se fundamental para o desenvolvimento económico-social da população, que não pode permitir-se a deslocações às grandes cidades, por falta de meios e de estradas em razoável estado de conservação.


testemunho de consagrado

“ESTOU EM MISSÃO SEJA ONDE FOR” Manuel Joaquim Gomes Barbosa, 57 anos, pertence à congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus – Dehonianos –, é reitor do Seminário de Alfragide e secretário da Conferência Episcopal Portuguesa. Entrou no seminário aos 10 anos e foi ordenado sacerdote aos 26 texto FRANCISCO PEDRO foto RICARDO GRAÇA FÁTIMA MISSIONÁRIA Lembra-se do momento em que decidiu seguir a vida de consagrado? Como foi construindo essa vocação? Manuel Barbosa Entrei cedo no seminário e fui crescendo com alguma intenção missionária, incutida pelos padres e missionários que por lá passavam e nos entusiasmavam. Mas só pelos 17 anos pensei mais a sério na vocação. Quando terminei o 12º ano, era habitual pedir para ir para o Noviciado. Na altura, já como postulante, pedi mais um ano de espera para refletir, frequentando ao mesmo tempo o primeiro ano do curso de filosofia em Coimbra. Esse ano foi precioso para tomar uma decisão de vida, que hoje renovo em cada dia.

FM Como prepara as suas homilias? É difícil chegar ao coração de todos os fiéis presentes na assembleia?

nem se trata de ser fácil ou difícil, mas de manter a exigência interior no que sou e onde estou.

MB Preparo a homilia lendo calmamente os textos bíblicos, procurando ver o que dizem à minha vida, sem a preocupação de ver como os propor à assembleia. A partir daí tento ver alguns pontos de partilha que possam ser de bom anúncio para a vida das pessoas. Acredito que os fiéis são capazes de perceber a Palavra com a minha singela ajuda.

FM Tem saudades de partir em missão para as periferias, como pede o Papa Francisco? Onde gostaria de fazer trabalho pastoral, fora de Portugal?

FM É mais fácil celebrar a Eucaristia ou ser porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa? MB Não são coisas comparáveis. Celebrar a Eucaristia é da essência da vida cristã, que deve ser para sempre e todos os dias; ser porta-voz da CEP é um serviço para um determinado período e que exerço o melhor que sei e posso, na confiança de quem me pediu esse serviço. Tento viver com alegria e serenidade quer a centralidade eucarística da minha vida quer esta missão que me foi confiada. O mesmo acontece com outras tarefas que me são pedidas na congregação. Como costumo dizer,

MB Estou em missão seja onde for, mesmo nas periferias que estão mesmo ao lado; basta abrir os olhos com coração disponível. Mas mantenho o desejo, que ainda não se concretizou, de partir para outras terras; por exemplo, para Angola, onde ajudei a iniciar a presença dehoniana há 12 anos. A minha atitude de sempre é estar disponível, seja onde for, para servir a Igreja de Jesus Cristo, ajudado pela espiritualidade que recebi do Padre Dehon.

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gente nova em missão

TOMA NOTA Ser humilde não é ser inferior aos outros

Olá amiguinhos missionários! Então e as vossas férias grandes, estão a correr bem? Desta vez queremos falar-vos acerca de algo que Jesus nos pede que sejamos sempre, mas que não é muito frequente nos dias que correm: ser humildes. E ser humilde não é ser fraco, muito pelo contrário, ser humilde é semente que dá bom fruto. Continuação de boas férias! texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO

HUMILDADE

A humildade é essencial para praticarmos o bem. Hoje em dia é frequente vermos pais a ensinarem os seus filhos que o único caminho para a felicidade é serem melhores que os outros, que têm de ir para a faculdade e que no final desse percurso, o melhor emprego têm de arranjar, que ser chefe é que é bom e nada mais abaixo disso. 24

E como resultado, encontramos adultos frustrados, que não sabem lidar com as dificuldades e não encontram a felicidade quando ela está mesmo à sua frente. Ser humilde não é ser inferior aos outros, ser humilde não é ser fraco. Ser humilde é desempenhar qualquer tarefa com amor, mesmo que pareça a mais pequena. Ser humilde é saber que podemos passar despercebidos e que só

nós saibamos quão é importante para todos o que estamos a desempenhar. E ao mesmo tempo ser humilde é reagir com um sorriso a quem nos tenta humilhar por se sentir superior, pois sabemos que aos olhos de Jesus, que nos conhece melhor que ninguém, nós somos especiais e estamos a fazer o que Ele nos pede.


HUMILDADE LEVA À GRATIDÃO O sentimento de gratidão enche o coração, e quem é grato é feliz. Mas só consegue alcançar a gratidão quem é humilde. A gratidão nasce no solo fértil da humildade. Quem não é humilde, pensa sempre que tudo lhe é devido e queixa-se do que não recebe. A humildade, pelo contrário, torna-nos gratos, porque nos damos conta de que nada merecemos do bem que recebemos. Em vez de se sentirem frustrados porque não receberam a consola de jogos que queriam, ou porque não tiveram a festa de anos igual à do vosso coleguinha, pensem nas coisas boas com que vocês são abençoados. No amor da família e dos amiguinhos, na escola e na catequese. O quanto bem

vocês podem fazer com os dons que Deus vos deu. Uns são bons em desporto, outros a desenhar, outros a escrever, outros a ouvir, outros a falar e cada um pode com humildade fazer o bem, mesmo que pareça insignificante, uma gotinha, porque todos juntos formam o oceano. Todos precisamos de todos. Desde o Presidente da República à senhora da limpeza. E todas as profissões são necessárias. Todas devem ser desempenhadas com humildade, para que as pessoas se possam sentir gratas e por isso felizes e realizadas. Isto vem de Deus e chama-se serviço. Pois nós não devemos querer ser servidos, mas antes servir. E ao fazê-lo, é como o agricultor a lançar a boa semente à terra. Ao fim de algum tempo olhamos à volta e temos a cultura a crescer, pessoas que ao verem o nosso testemunho, também elas o querem viver nas suas vidas, porque quem é feliz em Jesus, irradia uma luz que contagia. Há tantos exemplos de pessoas gratas e felizes. Procurem esses. Não se deixem influenciar pelos que apenas se lamentam, porque se sentem demasiado bons para viverem com o que lhes é dado. No Evangelho de São Lucas podem encontrar orientação para este tema, no episódio dos dez leprosos que Jesus curou: “Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em voz alta; caiu aos pés de Jesus com a face em terra e agradeceu-Lhe. Era um samaritano. Tomando a palavra, Jesus disse: «Não foram dez os que ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?» E disse-lhe: «Levanta-te e vai. A tua fé te salvou»”. (Lc 17, 11-19)

SABIAS QUE

A Irmã Irene Stefani disse: “Humildade: Deus, em cima do nada da nossa humildade, constrói um mundo de perfeição”.

MOMENTO DE ORAÇÃO Amigo Jesus: Obrigada por todas as graças Obrigada pelos dons que tenho Obrigada pelos dias de sol e pelos dias de chuva Obrigada quando ganho e quando perco Pois aprendo sempre e não me desvio de Ti Obrigada por me chamares a ser um bom missionário A servir Perdoa-me se às vezes me esqueço disto Mas é em Ti que quero viver Para ser humilde e grato Uma gotinha no oceano A luz no mundo que o meu Batismo acendeu. Pai-Nosso… Glória… Agosto/Setembro 2015

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tempo jovem

A ALEGRIA DA MISSÃO

texto ÁLVARO PACHECO foto ANA PAULA Uma das palavras que mais tem andado em voga nestes últimos tempos, no contexto eclesial, é a palavra alegria. Certamente todos ou quase todos a associamos à encíclica do Papa Francisco “A alegria do Evangelho”, dado o impacto que teve e continua a ter. Todos procuramos alcançar uma vida alegre e feliz, uma vida vivida com sentido e intensidade, com paixão e muita partilha. Para tal,

alegria e paixão pela vida, por Deus e pelo próximo, pessoas que me inspiram a dar sempre o melhor de mim. Entre eles está um homem simples, humilde, bom e sempre alegre, que consegue com um acordeão ou um sorriso cativar os outros e partilhar com eles a alegria que lhe é característica. Chama-se João Alfaiate, é missionário da Consolata e vive a sua consagração a Deus como irmão. Tem 81 anos, 38 dos quais dedicados ao Quénia, onde deixou muito de si, em especial a alegria que espalhou por muitas crianças abandonadas que esperavam ao domingo para o ouvirem tocar e com ele brincar. E temos também benfeitores coreanos que o recordam com

Se Cristo vivesse hoje entre nós, certamente a sua página do Facebook ou Instagram teria milhões e milhões de seguidores e seriam muito mais milhões os “likes” que diariamente seriam lá colocados. Geralmente não pensamos nisso, mas certamente Jesus era um homem alegre e bem-disposto e com uma atitude muito positiva perante a vida procuramos todos modelos que nos inspirem e motivem, mesmo no mundo das chamadas “novas tecnologias”. Se Cristo vivesse hoje entre nós, certamente a sua página do Facebook ou Instagram teria milhões e milhões de seguidores e seriam muito mais milhões os “likes” que diariamente seriam lá colocados. Geralmente não pensamos nisso, mas certamente Jesus era um homem alegre e bem-disposto, com uma atitude muito positiva perante a vida. Certo, por vezes os seus discursos eram duros e até mesmo chocantes, mas sempre centrados na defesa e promoção da dignidade, valor e beleza de cada pessoa que Ele encontrava. E destes encontros brotava uma imensa e profunda alegria no coração de quem por Ele era abençoado, perdoado, abraçado ou desafiado a um amor mais intenso, humilde e profundo. Também eu tenho modelos de 26

saudade e carinho: em 2007 organizámos uma peregrinação “espiritual” a Espanha com 35 benfeitores, com passagem por Lourdes e Fátima. Um dia, entra ele com o acordeão na sala de jantar e mal começou a tocar, levantaram-se várias senhoras que começaram a dançar, contagiando outros que resistiam a dar um pé de dança. Esta foi não só uma prova de que a música é uma linguagem universal, como um exemplo de que a alegria é contagiante quando se tem um espírito dócil e profundamente humano. Sempre que o encontro, cada vez que vou a Fátima por motivos de trabalho, sinto uma paz interior bastante grande e uma alegria imensa por ser missionário e por ter entre os meus irmãos este homem de Deus, de sorriso cativante e espírito jovem e alegre. Falar com ele, do que viveu lá pelas áfricas e sentir a paixão com que se

dedica aos outros através da música ou de serviços simples é um prazer enorme. Não tem Facebook, mas nem dele precisa, porque quem o encontra “face-to-face” (cara-a-cara) imediatamente põe um “like” nele. Por isso dizia eu que Jesus terá sido certamente um homem alegre e de fácil convívio, porque a sua vida, a sua missão, o seu Evangelho, são fonte de alegria para quem se deixa cativar por Ele. É triste encontrar por vezes missionários, consagrados e outros cristãos que pouca alegria transmitem no seu atuar quotidiano ou até mesmo nas Eucaristias, dando a entender que seguir a Cristo parece ser um fardo. Claro, a vida não é sempre um mar de rosas e mesmo elas têm espinhos: por isso é que pessoas como o irmão João Alfaiate nos ensinam muito sobre a vida, sobre a nossa condição humana e a maneira como devemos estar em sociedade. Fazem-no não com muitas palavras, mas com uma presença ativa e alegre, alegrando quem tem a felicidade de os encontrar. Todos temos uma vocação particular na vida: a de sermos felizes fazendo felizes os outros à nossa volta. Uma forma de viver esta vocação é a entrega total e radical a Deus e à humanidade através da missão que Cristo entrega a quem decide segui-Lo mais de perto. Talvez tu, jovem amigo, sintas este chamamento… e se o sentires, deixa-te ao menos desafiar pela alegria que brota do dar a vida pela missão que Cristo iniciou há 2000 anos atrás, Por outras palavras, “vem e vê”.


Também eu tenho modelos de alegria e paixão pela vida, por Deus e pelo próximo, pessoas que me inspiram a dar sempre o melhor de mim. Entre eles está um homem simples, humilde, bom e sempre alegre, que consegue com um acordeão ou um sorriso cativar os outros e partilhar com eles a alegria que lhe é característica. Chama-se João Alfaiate, é missionário da Consolata e vive a sua consagração a Deus como irmão

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sementes do reino

EU SOU O PÃO VIVO texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA

Num tempo em que, segundo parece, apesar das crises, temos tanto “pão” e tantas opções para a alimentação, que sentido terão as palavras de Jesus? O que significa ser o Pão Vivo?

Leio a Palavra Jo 6,51-58

Este trecho do Evangelho é colocado na sinagoga de Cafarnaum. O tema continua a ser o pão, numa contraposição entre os que se limitam a uma busca de um pão material e o verdadeiro pão oferecido por Jesus. Jesus não só apresenta o verdadeiro pão, mas vai mais além, ao identificar o pão com a sua carne. Tal linguagem não é bem aceite por aqueles que o escutam, mas não entendem o que Jesus quer dizer. A verdade é que tais palavras só têm sentido quando inseridas num contexto eucarístico. Esta incompreensão das afirmações de Jesus é comum no Evangelho de São João; basta pensar na incompreensão de Nicodemos ou mesmo da Samaritana.

Saboreio a Palavra

Jesus oferece a sua “carne” como verdadeiro alimento, ou seja, a mesma “carne” que fez presente a divindade entre a humanidade é agora alimento para esta 28

humanidade, a fim de que tenha vida. Mas Jesus não fica por aqui. Oferece também o seu sangue, que é verdadeira bebida. Facilmente podemos imaginar o espanto dos que o escutavam, porém, a comunidade cristã entendia muito bem tais palavras. O sangue recorda a paixão e morte de Jesus. O que pretendia Jesus com tal discurso? Afirmar que se entregou totalmente por esta humanidade, partilhando e assumindo toda a sua vida. Assim, os discípulos são agora convidados a receberem este pão e

Celebrar hoje a eucaristia é “comer” e “beber” o corpo e sangue de Jesus, ou seja, é encontrar-se com o Senhor que veio ao encontro da humanidade. É desejar tornar-se semelhante ao Mestre para o imitar no concreto da nossa vida, onde somos convidados a tornar presente o nosso Deus, tal como Jesus fez

este vinho para que também eles se ofereçam para tornar presente Deus na humanidade.

Rezo a Palavra

Senhor, quando pensamos em ti, não queremos apenas recordar o passado, mas queremos entrar em contacto com a tua realidade sempre presente e viva. Tu te ofereces a nós para que nós sejamos semelhantes a ti. Ajuda-nos a ser como tu, irmãos dos irmãos.

Vivo a Palavra

Celebrar hoje a Eucaristia é “comer” e “beber” o corpo e sangue de Jesus, ou seja, é encontrar-se com o Senhor que veio ao encontro da humanidade. É desejar tornar-se semelhante ao Mestre para o imitar no concreto da nossa vida, onde somos convidados a tornar presente o nosso Deus, tal como Jesus fez. A Eucaristia renova a nossa união com Jesus, mas é também compromisso, é o “lavar” os pés dos irmãos, tal como recorda o Evangelho de João. “Comer” e “beber” o corpo e sangue de Jesus é o nosso compromisso com a construção do Reino de Deus.


intenção pela evangelização

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO AGOSTO 30 22º Domingo Comum Deut 4, 1-8; Tg 1, 17-27; Mc 7, 1-23 02 NA BOCA E NO CORAÇÃO 18º Domingo Comum Ex 16, 2-15; Ef 4, 17-24; Jo 6, 24-35 DÁ-NOS, SENHOR, O PÃO DA VIDA Senhor, faz com que nunca falte o pão na mesa de cada um dos teus filhos, e suscita em nós o desejo da tua Palavra para que possamos saciar a fome de verdade que puseste no nosso coração.

09 19º Domingo Comum

1 Re 19, 4-8; Ef 4, 30-5, 2; Jo 6, 41-51 O PÃO DA NOSSA CAMINHADA Guia, ó Pai, a tua Igreja, sustém-na com a força do alimento que não perece, a fim de que, perseverando na fé, chegue a contemplar a luz do teu rosto.

15 Assunção de Nossa Senhora

Senhor, que nunca se possa dizer de nós que te honramos com os lábios, mas o nosso coração está longe de ti. SETEMBRO

06 23º Domingo Comum

Is 35, 4-7; Tg 2, 1-5; Mc 7, 31-37 UMA PALAVRA DE ALENTO Deus nosso Pai, ajuda-nos a pronunciar palavras de encorajamento aos corações desalentados para que soltem a própria língua e cantem connosco as tuas maravilhas.

13 24º Domingo Comum

Ap 11, 19-12, 1-6; 1 Cor 15, 20-27; Lc 1, 39-56 A RAINHA DA NOSSA CASA Há tanta desordem na nossa terra, Senhora. Entra em nossa casa, para que, ajudados por Ti, vivamos neste mundo em harmonia uns com os outros.

Is 50. 5-9; Tg 2, 14-18; Mc 8, 27-35 “A FÉ SEM OBRAS ESTÁ MORTA” Que eu não me limite, Senhor, a professar a fé com os meus lábios, mas que falem por mim as obras de amor fraterno, como sinal e garantia da tua presença no meio de nós.

Prov 9, 1-6; Ef 5, 15-20; Jo 6, 51-56 FELIZES OS CONVIDADOS Também hoje, ó Deus da vida, nos fazes teus amigos e comensais; alimenta-nos com o teu Pão e dá-nos a certeza de participar um dia no banquete do teu Reino.

Sab 2, 12-20; Tg 3, 16-4,3; Mc 9, 29-36 O MAIOR E O MAIS PEQUENO Concede-nos, Senhor, a sabedoria que vem do alto para que compreendamos que para ti o maior é aquele que serve.

16 20º Domingo Comum 23 21º Domingo Comum

Jos 24, 1-18; Ef 5, 21-32; Jo 6, 60-69 PARA ONDE IREMOS? Porque só tu és o Caminho, Senhor, faz com que nada deste mundo nos afaste de ti, única fonte de Verdade e de Vida.

20 25º Domingo Comum

27 26º Domingo Comum

Num 11, 25-29; Tg 5, 1-6; Mc 9, 38-48 SACERDOTE, PROFETA E REI Senhor, infunde em nós o teu Espírito Santo, para que pela força do nosso batismo, nos tornemos anunciadores do teu Reino. DV

Agosto A fim de que, saíndo de nós mesmos, saibamos tornar-nos próximos de quantos se encontram nas periferias dos relacionamentos humanos e sociais

Aproximar-se das pessoas

Não se podem ajudar as pessoas, se não saímos de nós mesmos e não sujamos as mãos. O exemplo veio-nos de Jesus, que se aproximou dos excluídos do seu tempo. Ele “sujou” as mãos, por exemplo, tocando os leprosos. E, assim, ensinou à Igreja “que não se pode fazer comunidade sem proximidade”, afirmou o Papa Francisco. Quantos excluídos no nosso tempo! Quantos necessitados de proximidade e ajuda! Talvez mesmo ao nosso lado.

Setembro A fim de que os catequistas sejam na sua vida testemunhas coerentes da fé que eles anunciam

Testemunhar a fé

Qual é o objetivo da catequese? Fazer com que alguém aprenda o significado dos gestos e palavras de Jesus e assim entre em comunhão e em intimidade com Ele. De facto, só Jesus pode levar ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade. Por isso, ensinar a doutrina de Jesus sem a viver na própria vida, é incoerência e contratestemunho. Aliás, não terá incidência sobre as pessoas que a recebem. Poderão aprender coisas sobre Jesus e a sua Igreja, mas nunca saberão viver de Jesus e com Jesus. DV

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gestos de partilha

Abrace

esta vida

Acredita que ainda se eliminam crianças na Guiné-Bissau em nome das crenças no sobrenatural, em pleno século XXI? Basta que tenham alguma deficiência, sejam gémeas, ou apenas feias demais para o gosto dos pais, e têm a sentença lida à nascença. A Casa Bambaran, em Bissau, foi criada para acolher estas crianças, rotuladas de Irã ou crianças feiticeiras. E precisa da nossa ajuda.

Dê colo a esta ideia

Alimentar uma criança na Casa Bambaran custa 4,60€ por dia. O custo médio diário de cada utente (alimentação, educação, saúde, vestuário) é de 19,20€ Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Projeto “Crianças Irã” Rua Francisco Marto, 52 | 2496-448 FÁTIMA NIB 0033.0000.45365333548.05

um abraço entre a fé e a vida

APOIE OS NOSSOS PROJETOS E AJUDE-NOS A CONCRETIZÁ-LOS CRIANÇAS IRÃ Escuteiros (Alcateia 124) 20,00€; Ercília Janin 20,00€; Joaquim Curado 500,00€; Arminda Vieira 20,00€; Filomena Vaz 50,00€; Delfina Eduardo 50,00€; Céu Almeida 20,00€; Sérgio e Margaret Matos 110,00€; Vera Costa 20,00€; Ana Oliveira 10,00€; Anónimo 5,00€; Helena Barros 80,00€; Elisa Dinis 10,00€; Maria Ferreira 20,00€; Anónimo 40,00€; Alice Marques 47,60€; Eduarda Mayor 100,00€; Virgílio Santos 25,00€; Inácia Ferreira 20,00€; Manuel Inácio 20,00€; Adélia Antunes 10,00€; Lurdes Pinto 5,00€; Luciana Alves 10,00€; Helena Barros 60,00€; Manuela Inácio 25,00€; Anónimo 20,00€. Total geral = 18.998,30€. COSTA DO MARFIM Anónimo 10,00€; Helena Barros 60,00€; Anónimo 10,00€; Sofia Alfaiate 350,00€; Adelina Antunes 100,00€; Inês Jordão 250,00€; Anónimos 318,64€. OFERTAS VÁRIAS Anónimo 43,00€; Cândido Cosme 29,00€; Lucília Santos 36,00€; Conceição Lucas 43,00€; Zeferino Soares 25,00€; Antero Inácio 50,00€; Fernando Zagalo 93,00€; Lienette Neto 26,00€; Antónia Borges 33,00€; Armanda Pereira 33,00€; Joana Carvalho 37,00€; Rosa Filipe 73,00€; Anónimo 53,00€;

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt

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vida com vida PADRE MIGUEL BRUNO

SOFRER, UM DIREITO!

texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração HUGO LAMI Conheci-o em 1950, era eu jovem estudante na Itália e ele confessor dos seminaristas, de 60 anos. Quando jovem, lera várias vezes a revista dos Missionários da Consolata, e dela recebeu a vocação missionária. Nascera em 1891, foi recebido no Instituto pelo fundador, padre José Allamano, e ordenado sacerdote em 20 de maio de 1920. Antes e depois de ser sacerdote, teve de sofrer por causa de conflitos bélicos: primeiro durante a guerra ítalo-austríaca, depois durante a Primeira Guerra Mundial. Durante a Segunda Guerra Mundial foi deportado para campos de concentração inimigos. Dos pais herdara um coração grande, alegre e generoso. Trabalhador incansável, homem prático e dotado de boa inteligência, dedicou-se a aprender bem os ensinamentos do fundador. Tinha sempre um dito chistoso para alegrar a companhia. Depois de ter de abandonar a Abissínia, seu querido campo de missão, escrevia: “Foi há 11 anos que, com uma angústia enorme, tive de abandonar a minha pátria de adoção e todos os meus queridos filhos espirituais nesse país. Nada poderá jamais apagar a visão palpitante da minha missão, onde muito sofri e muitíssimas consolações recebi”. O padre Bruno fez muito bem nas missões porque, como ele dizia, “A minha confiança em Deus não tinha limites e dava-me uma coragem desmedida mesmo para trabalhar em situações difíceis. Ardia sempre em mim um grande desejo de me sacrificar pelas almas”. Dedicação e fidelidade ao Instituto eram marcas indeléveis da sua vida.

Foi também confessor na casa dos noviços na Itália, a quem dava conselhos mestres: “Recorda-te: Deus dá o seu amor sem medida… A sombra de Deus cobre sempre toda a tua vida. Nosso Senhor é bom pagador: dás-lhe um copo de água e ele dá-te um barril de vinho. Ai de ti se perdes de vista o Senhor Jesus”. Quando o sol estava para se pôr na sua vida por causa dum tumor no esófago que o levou à enfermaria da Casa Mãe em Turim, dizia: “Fui sempre um servo inúti. E para mim, sofrer não é só um dever, é um direito que Deus me dá”. E finalmente, antes da partida, no

dia 20 de novembro de 1965, dizia: “Grande é a minha alegria, agora que vou para a Casa do Senhor!” Como é encorajante e belo ver o trabalho da graça numa alma onde mora o amor!

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o que se escreve STRESS? QUAL STRESS? LAUDATO SI – LOUVADO SEJAS A vida parece Carta encíclica do injusta. Derruba-te. Papa Francisco Depende de ti sobre o cuidado da levantares-te. Se casa comum Com este documento tens este livro não de excecional estás só

Escrito por uma psicóloga clínica, este é um livro curioso. De leitura leve e acessível, contém dez testemunhos de pessoas que foram ajudadas a identificar sinais, a prevenir o stress e a conquistar o tão almejado equilíbrio biopsicossocial e espiritual, tão difícil de alcançar, mas que todos procuram. Um ótimo livro para o próprio benefício ou para oferecer a um amigo, familiar ou colega. Autor: Isabel Antunes 182 páginas | preço: 11,00 € Paulus Editora

VOLTAR A JESUS Para a renovação das nossas paróquias e comunidades

Se nos próximos anos não se promover nas nossas paróquias e comunidades um clima de conversão humilde e alegre a Jesus Cristo, facilmente veremos como a fé se extinguirá gradualmente e como o nosso cristianismo multisecular se diluirá em formas religiosas cada vez mais decadentes e sectárias, e cada vez mais afastadas do movimento de seguidores inspirado e desejado por Jesus. Quem o diz é o autor deste livro, José Antonio Pagola, um sacerdote jesuíta, apaixonado pela pessoa de Jesus. Um livro de grande atualidade para a renovação das paróquias e comunidades. Autor: José Antonio Pagola 152 páginas | preço: 12,50 € Paulus Editora

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A VIDA DE FRANCISCO O Papa do povo

atualidade, o Papa Francisco lança “um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos, e as suas raízes humanas, dizem respeito e têm impacto sobre todos nós”. Um bom livro de leitura e reflexão para as férias. Autor: Papa Francisco 184 páginas | preço: 5,00 € Paulus Editora

SE DEUS É BOM, PORQUE SOFREMOS? Se Deus é bom, como sofrer? Se Deus é bom, porque sofremos?

Não têm faltado biografias do Papa Francisco. Cada uma abordando facetas diferentes. Esta mostra um Bergoglio pelo caminho da simplicidade, da austeridade, do amor e da denúncia. Um homem que tomou a decisão de seguir a formação de 14 anos entre os jesuítas, aprendendo a superar os obstáculos que foram aparecendo. Um homem que forjou a sua vocação de pastor ao apaixonar-se pelo povo, e começou a sonhar uma Igreja pobre para os pobres com o Evangelho vivo da rua. Vale a pena ler.

Que desafio! Como pode um Deus de bondade e poder infinito estar diante de tanta maldade e sofrimento? A consciência, o sentir humano, continuará a protestar e tem razão. Até porque, por um lado, há pessoas que conseguiram tirar um enorme partido do sofrimento e outras a quem o sofrimento arrasou a vida. É um desafio que tem a ver com a história e a experiência de cada um. O testemunho de Luís Nazareth torna o livro ainda mais apetecível.

Autor: Evangelina Himitian 238 páginas | preço: 15,90 € Editora Objetiva

Autor: Vasco Pinto de Magalhães 124 páginas | preço: 10,00 € Edições Tenacitas


megafone por Albino Brás

Já visitei várias cadeias nos Estados Unidos e acho que as prisões em Portugal são mais humanizadas. Temos muito que aprender com países como Portugal. O ambiente é mais saudável e parece-me que estão mais interessados em dar aos reclusos uma vida melhor

John Legend cantor norte americano após visita à cadeia de Santa Cruz do Bispo

Há quem tenha ‘medo que o medo acabe

Mia Couto escritor moçambicano

A única coisa que é necessária para que o mal triunfe é que os homens bons não façam nada

Edmund Burke filósofo e político anglo-irlandês

É evidente a incoerência de quem luta contra o tráfico de animais em risco de extinção, mas fica completamente indiferente perante o tráfico de pessoas, desinteressa-se dos pobres ou procura destruir outro ser humano de que não gosta

Papa Francisco Encíclica Laudato Si

Creio que o sistema partidário está profundamente doente José Ribeiro Castro deputado do CDS

Aqueles que acreditam que o dinheiro tudo pode, acabam por fazer tudo por dinheiro

Voltaire escritor e filósofo iluminista francês Company (1863-1947)

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fátima informa

Ação de formação contempla programa de qualificação para leigos e missionários

APRENDER A SER MISSIONÁRIO

religiosas de várias congregações, e de diferentes nacionalidades, vão participar em mais uma edição do Curso de Missiologia, que vai realizar-se no Seminário da Consolata, em Fátima.

texto JULIANA BATISTA foto ANA PAULA Jovens, catequistas, voluntários, missionários em férias, seminaristas, estudantes de teologia, sacerdotes, religiosos e

A ação de formação, que visa a qualificação do missionário e da missão, irá decorrer de 24 a 29 de agosto e é promovida pelos Institutos Ad Gentes com o apoio das Obras Missionárias Pontifícias (OMP). O curso “ajuda todos aqueles que fazem e partem em voluntariado missionário a realizar a missão como fruto de contemplação, segundo o exemplo de Cristo”, explicou António

Curso de Missiologia propõe novas ferramentas de trabalho para ajudar os que pretendem partir em missão pastoral ou de voluntariado

Catequistas em formação

O Curso Geral de Catequese vai realizar-se de 16 a 23 de agosto, no Centro Catequético, em Fátima. A formação é intensiva e destina-se a catequistas com alguma experiência de catequese.

Comunicação e família

O tema “Comunicação e família: partilha de afetos” vai guiar mais uma edição das Jornadas Nacionais de Comunicação Social, que estão marcadas para os dias 24 e 25 de 34

Lopes, sacerdote e diretor das OMP, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA. Durante esta semana, os temas ligados à missão serão abordados em conferências, trabalhos de grupo, debates, plenários, testemunhos missionários e oração em comum. Os vários conteúdos serão ministrados por José Cordeiro, bispo de Bragança, António Couto, bispo de Lamego, frei José Nunes e Isabel Varanda, docente na Universidade Católica Portuguesa de Braga.

setembro. O encontro decorre na Casa Domus Carmeli, em Fátima.

Agosto em agenda

Ao encontro dos jovens

01/04 Encontro Mariápolis Centro Pastoral Paulo VI 08 Peregrinação das comunidades africanas 31/08 a 02/09 Simpósio do Clero

As Jornadas Nacionais da Pastoral Juvenil vão realizar-se dias 25 e 26 de setembro, em Fátima. O encontro parte este ano para a sua quarta edição e terá lugar no Seminário do Verbo Divino.

Setembro

19/20 Jornadas Missionárias Nacionais


Peregrinação

TEL AVIV TIBERÍADES CAFARNAUM TABOR CESAREIA HAIFA SÃO JOÃO DE ACRE NAZARÉ CANÁ JERUSALÉM BELÉM EIN KAREN EIN KAREM

COM OS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

Acompanhada pelo Padre António Fernandes

21 a 28 novembro 2015 mais informações

917 513 575


A MATA DOS VALINHOS Encantadora, mística quão transcendente a Mata dos Valinhos! É natureza terrena elevada ao sublime. Veste-se de verde, muito verde… de musgo, de sobreiro, de azinheira… E veste-se de castanho troncos velhos, carcomidos, escultóricos de oliveira. Calça-se de pedra cinzenta mais clara ou mais escura vestígios da paisagem agreste quando, ali, a Virgem brilhou outrora. Agora diferente , é a paisagem, esbanjado está o mundo novamente e a humanidade roga o Seu brilho suplica a Sua bênção desse passado sempre e sempre recente. MValentina, março 2015


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