Terrorismo

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Ano LXII | Agosto/Setembro 2016 | Assinatura Anual Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

TERRORISMO

PORTUGAL E ESPANHA na mira dos Jihadistas mais radicais destaque

Acordos de paz violados no Sudão do Sul Sete milhões de pessoas vivem em situação de carência alimentar

Missão hoje

Voluntários vão ajudar a construir escola

Grupo de jovens parte para a Tanzânia em missão de trabalho comunitário

MÃOS À OBRA

Formação agrícola procura fixar indígenas no Brasil Comunidade macuxi promove ação de formação em agricultura biológica


Apoie a formação de novos missionários Com uma BOLSA DE ESTUDOS em seu nome ou em nome de quem desejar. Por 250€, valor que poderá ser repartido em prestações, se assim o desejar

BENEFÍCIOS DA BOLSA

Fica inscrito no livro dos benfeitores dos Missionários da Consolata Participa na ação apostólica dos missionários Beneficia de uma missa diária celebrada por todos os benfeitores

CONTACTOS Rua Francisco Marto, 52 – Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800–048 LISBOA Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt IBAN: PT50 0033 0000 45441863347 05

Um abraço entre a fé e a vida


SUMÁRIO

Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 08 Ano LXII AGOSTO/SETEMBRO 2016 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

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ESTATUTO EDITORIAL http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

OBSESSÃO JIHADISTA “ACOM O AL ANDALUS

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial Eugénio Butti Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 22.700 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Albino Brás, Álvaro Pacheco, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, João Nascimento, Leonídio P. Ferreira, Teresa Carvalho Diamantino Antunes (Moçambique) Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção Capa e Contracapa Lusa Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00 € Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

04 | EDITORIAL Longe da rotina e do ruído

11 | PERFIL SOLIDÁRIO Educar por amor

05 | PONTO DE VISTA Uma Igreja família de povos

12 | A MISSÃO HOJE Jovens vão construir uma escola

06 | HORIZONTES Eu preciso de ti

13 | FÁTIMA INFORMA Curso aborda drama dos refugiados

07 | DESTAQUE Sudão à beira da esperança traída

14 | ENTREVISTA “Uma sociedade sem Deus é uma sociedade frágil”

08 | MUNDO MISSIONÁRIO • Quénia: Diocese de Meru reconhece o “missionário da água”

16 | DOSSIER • A obsessão jihadista com o Al-Andalus

• Chile: Bispo organiza diálogo sobre violência rural

• “Ameaças ao Al-Andalus são para ter em conta no jihadismo”

• Bangladesh: Falência da família conduz ao radicalismo dos jovens

22 | MÃOS À OBRA Escola de agricultura biológica procura fixar jovens indígenas

• Sudão do Sul: Combates obrigam milhares a refugiar-se nas igrejas • Iraque: Em Erbil primeira pedra da “casa da misericórdia”

23 | IMAGENS DE MISERICÓRDIA 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Aceitar a diversidade

• Argentina: Droga e narcotráfico problemas atuais mais graves

26 | TEMPO JOVEM Servir é preciso

10 | A MISSÃO HOJE O testemunho de um homem bom

28 | SEMENTES DO REINO “Eu vim trazer o fogo ao mundo” 30 | VIDA COM VIDA Gigante por fora e por dentro

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

31 | LEITORES ATENTOS 32 | GESTOS DE PARTILHA 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

Longe da rotina e do ruído Vêm aí as férias. Onde e para quê? Em casa, na montanha ou no mar, não faltam espaços verdes ou azuis, nem agências para os preencher. A nossa vida frenética e estressada precisa de repouso físico, intelectual e espiritual. Tensos e fatigados, com o coração dividido e disperso, necessitamos todos de algumas semanas ao ar livre, de descontração, de sol ou de mar para pacificar o coração e recuperar forças perdidas. Não há instituição, paróquia, grupo ou movimento que não organize acampamentos ou campos de férias para promover o crescimento humano e espiritual dos participantes, sobretudo jovens e adolescentes, em todas as suas dimensões: pelo contacto com a natureza, para chegar ao seu Criador; pela experiência de amizade, para valorizar a importância do grupo e da comunidade; pelos trabalhos de campo, para chegar ao serviço e à solidariedade; pela experiência da fé e do conhecimento de si mesmos, para dar a cada participante a possibilidade de encontrar o seu caminho e reordenar a própria vida. São tempos para valorizar e experiências para conhecer aqui ou noutros países. Há, por exemplo, cada vez mais italianos, austríacos e alemães que, cansados da rotina e do ruído da cidade, optam por passar as suas férias em mosteiros e conventos que lhes ofereçam momentos de reflexão e contato com a natureza. Há ordens religiosas, algumas até de clausura, que abrem as portas dos seus mosteiros para tempos de oração, de escuta e orientação 04

Fátima Missionária

espiritual. Há cerca de três mil abadias, mosteiros e conventos italianos que aceitam reservas para experiências deste género. Lembro-me da experiência que há tempos eu próprio fiz com um grupo de 34 portugueses numa cartuxa do século XII, pertencente desde 1934 aos Missionários da Consolata, e adaptada para lugar de acolhimento, casa de retiros e escola de oração. Provenientes de Portugal, mas imergidos num ambiente natural inimaginável, junto de um rio de água límpida, no meio do arvoredo e das montanhas dos Alpes, aí passámos cinco dias de reflexão, oração e conhecimento mútuo. O ambiente natural era propício a uma experiência desse género. Todos os participantes ainda hoje recordam essas férias como um tempo único e oportuno para relaxar o corpo e alimentar o espírito. Por outro lado, está cada vez mais enraizado entre nós o voluntariado missionário como meio de preencher as férias com atividades em favor de populações mais desfavorecidas ou menos conhecedoras dos valores do Evangelho. São algumas centenas os jovens e menos jovens que, de forma gratuita e de livre vontade, partem em missão para outros países ou mesmo dentro do próprio país para um serviço de apoio a pessoas e situações necessitadas de instrução ou acolhimento benfazejo. Modos de relaxar o corpo, servir o próximo e revitalizar as próprias forças. Darci Vilarinho

Está cada vez mais enraizado entre nós o voluntariado missionário como meio de preencher as férias com atividades em favor de populações mais desfavorecidas ou menos conhecedoras dos valores do Evangelho


PONTO DE VISTA

UMA IGREJA FAMÍLIA DE POVOS EUGÉNIA COSTA QUARESMA . DIRETORA DA OBRA CATÓLICA PORTUGUESA DE MIGRAÇÕES .

Neste século XXI, era da globalização, da mobilidade e do desenvolvimento tecnológico, sabemos que é possível fazer muito mais no que respeita a erradicar as causas nefastas das migrações forçadas. As razões que motivam a fuga e a luta pela sobrevivência, não são hierarquizáveis, independentemente do estatuto jurídico: migrantes e refugiados são pessoas. Não podemos por egoísmo, comodismo e indiferença condenar à morte milhões de seres humanos que buscam o essencial para viver com dignidade. Compete aos Estados, mas também estão ao nosso alcance gestos concretos de promoção de paz e justiça, que pela via do diálogo, cooperação, solidariedade, se revelam mais eficazes. As políticas que tenham no centro o bem comum e a justa distribuição de bens são condição que salvaguarda a dignidade e desenvolvimento integral da pessoa e dos povos. A Igreja propõe que alarguemos os nossos horizontes: migrantes e refugiados são o próximo a acolher e também portadores de uma Boa Nova que nos revela o rosto de Deus, e nos mostra que o planeta terra é a nossa casa comum. De modo particular neste ano da misericórdia, o apelo à conversão do nosso estilo de vida pessoal, interpela-nos a abraçar o desafio de renovação social. Por força das migrações, o encontro de culturas é inevitável e paulatinamente vai-se forjando uma Igreja família de povos. É na

comunidade cristã, lugar privilegiado para a prática da hospitalidade, reconhecimento e cuidado da fraternidade, que se enfrentam os novos desafios, superam-se discriminações e preconceitos, contribui-se para o desenvolvimento do diálogo intercultural, inter-religioso e ecuménico. Com cada diáspora aprende-se a aceitar a universalidade da Palavra e a valorizar a diversidade que caracteriza este rosto da Igreja de Cristo dispersa no mundo. Animada por tantos missionários (sacerdotes e religiosas), pessoas que por amor ao reino se fizeram migrantes com os migrantes, tornaram-se presença de Deus que escuta o clamor de justiça, acompanha e ajuda a tomar consciência da vocação de cada um comprometendo-o na comunidade cristã e na sociedade. Em contexto de mobilidade, o acolhimento, o diálogo, o reconhecimento do papel da fé, para a missão da Igreja e transformação social dos países de acolhimento e destino, são distintivas da Pastoral de Migrações que em Portugal se desenvolve sob o olhar da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana que confia à Obra Católica Portuguesa de Migrações a observância da mesma, onde se inclui a promoção da Semana Nacional de Migrações (7 a 14 de agosto) que pretende envolver as comunidades cristãs, numa dinâmica de reflexão, oração e ação centrada na visão dos migrantes e refugiados: rosto de misericórdia.

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horizontes

EU PRECISO DE TI Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Após o falecimento do seu marido, há dois anos, Dulce tem sofrido uma degradação crescente do seu estado de saúde. Aos 83 anos, sentia estar a concluir o seu papel na vida. O último sinal da sua debilidade foi o abandono da cozinha solidária que ajudara a criar e aonde todos os dias acolhia e servia as várias dezenas de pessoas que ali recorriam, recebendo em troca o seu carinho e respeito. Também declinou os passeios de fim de dia, não só por ser difícil movimentar-se, mas sobretudo por não querer ser um fardo para quem lhe assegurava cuidados e companhia: a sua filha Luzia, nos fins de tarde e fins de semana e a Dora durante a semana. Das dores de Dulce, a maior, ela não se permite verbalizar a ninguém: o Zé e o Pedro, mesmo vivendo ali ao lado, não passam nem uma tarde consigo – visitam a mãe de fugida e “de longe a longe”. – Têm muitos afazeres, os meus filhos – diz Dulce para si mesma, a tentar convencer-se de que esse é o motivo de tal saudade. Luzia percebe o sofrimento da mãe. Como podem os irmãos dar prioridade a tudo o resto, até mesmo às atividades recreativas e desportivas, secundarizando as necessidades da mãe? E as dificuldades dela própria, tentando conciliar todas as exigências da sua vida? Sente-se exausta, correndo entre a intensa vida profissional, a vida familiar e o apoio à mãe. Já fora assim na doença do pai, com a justificação de que ela é a que “tem jeito” para prestar tal apoio. Dulce ia-se apercebendo destes dilemas de Luzia. Sentia-se “um peso” mas reconhecia que precisava dela ao seu lado. Via-a cansada, a entristecer. Tomou uma decisão: ainda era mãe dos três filhos e havia ainda uma

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Fátima Missionária

lição a transmitir-lhes. Convocou-os para almoço em família. Mais diretiva do que era seu hábito, disse-lhes: – “Chamei-os hoje aos três porque vocês são os meus mais queridos. Estou a precisar do vosso apoio. Primeiro pensei que eu era apenas um peso. Depois percebi que quero aproveitar a vida. Tenho um pedido a fazer. Sei que a Luzia está muito cansada. Não aguenta continuar a cuidar de mim, sozinha. Somos uma família e precisamos cuidar uns dos outros. Se todos colaborarmos, nada será peso demasiado grande para ninguém. Estes são os valores que o pai e eu vos transmitimos e sei que vocês também acreditam neles. Pedro e Zé, eu preciso de vocês e a Luzia também. Eu preciso de ti, Zé! Eu preciso de ti, Pedro! Quando eu for embora com o pai, quero contar-lhe que deixei três filhos atentos que se apoiam uns aos outros. É o maior presente que lhe posso entregar”. Luzia não segurava as lágrimas. Pedro e Zé olhavam o chão e a mãe, emocionados e envergonhados. Não havia nada a comentar. Era isto mesmo! Dulce continuou: – “Pedi à Dora para fazer um quadro com a distribuição dos dias em que cada um de vocês me fará companhia. Podem trocar, mas quero-vos a todos, porque sei que podem. Vou gostar tanto de estar perto de cada um de vocês... Há tanta coisa por conversar! É que eu preciso tanto de ti, Pedro! E de ti, Zé! E de ti, Luzia!” Ninguém se atreveu a falar. Estava tudo dito, tocando no fundo de cada um, no cantinho onde os laços se formam e se agigantam. Por isso, provocou a mudança que repôs o equilíbrio e a unidade – e a vida ganhou outras liberdades!


destaque Conflito arrasta-se apesar dos acordos de paz

Segundo as Nações Unidas, por causa da guerra, sete milhões de pessoas vivem em situação de carência alimentar e três milhões padecem de fome severa

Sudão à beira da esperança traída Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

As comemorações dos cinco anos de independência do Sudão do Sul ficaram marcadas pela suspensão de uma comunicação do Presidente da República, Salva Kiir, ao país, na sequência de sons de disparos. Dias antes, confrontos entre forças de segurança afetas ao atual Presidente da República e do primeiro-ministro, Riek Machar, causaram em Juba, a capital, 272 mortos, dos quais cerca de três dezenas são civis. A guerra civil que divide o país, o mais jovem do continente africano, teve início em 2013, quando Salva Kiir, de etnia dinka, acusou o seu então vice-presidente, Riek Machar, de etnia neur, de planear um golpe de Estado, dando origem a um conflito étnico que se arrasta há três anos. Desde dezembro de 2013 que o conflito fez 50 mil mortos e cerca de 1,5 milhões de deslocados. Segundo as Nações Unidas, por causa da

guerra, sete milhões de pessoas vivem em situação de carência alimentar e três milhões padecem de fome severa.

Uma economia à espera da paz

O conflito está a pôr em causa todas as esperanças de paz e progresso geradas com o fim de um dos mais graves conflitos africanos, que opôs o Sudão do Norte ao Sudão do Sul e que se prolongou entre 1983 e 2005. Para as populações do sul, o fim do conflito trouxe a esperança de regresso a uma vida normal à qual, em 2013, pôde juntar o orgulho nacional de um território, do tamanho da Península Ibérica, tornado independente. Apesar de em agosto de 2015 Kiir e Machar terem assinado um acordo de paz, conseguido após 19 meses de negociações, o conflito prosseguiu, mesmo depois de, já em abril deste ano, Riek Machar ter regressado a Juba para reassumir o seu posto e constituir

um governo de unidade nacional. O Sudão do Sul é um país rico em petróleo, minerais e em recursos agrícolas. No entanto, Juba depende dos oleodutos do Sudão – o país do qual se separou há cinco anos – para fazer chegar o petróleo ao Mar Vermelho. Para além disso, os investimentos e a ajuda internacionais feitos no jovem país acabaram por alimentar a corrupção e não sortir o efeito desejado. A quebra do preço internacional das matérias-primas e o conflito interno estão também a agravar a situação do país, com uma inflação que atinge os 300 por cento. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, referindo-se ao conflito, disse recentemente estarmos perante “uma esperança traída (...) por aqueles que colocaram o poder e o lucro acima de seu povo” e denunciou “as violações massivas dos direitos humanos e a corrupção monumental”.

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mundo missionário

por E. assunção

Quénia

Diocese de Meru reconhece o “missionário da água” José Argese projeta, há dezenas de anos, igrejas, hospitais e barragens. É dele o projeto e a construção da catedral da diocese de Meru. Mas a menina dos seus olhos é um enorme aqueduto que fornece água potável a meio milhão de pessoas. “A população de Meru ficará eternamente grata ao irmão Argese pela promoção humana que ele realizou”, afirmou André Mbiko, diretor da gestão do aqueduto de Tuuru. “Chamamos a atenção de todo o país, especialmente do governo do Quénia, para o contributo único que um só missionário deu para a formação humana, para o desenvolvimento e a civilização da população de Meru”, acrescentou o diretor, que já pediu ao governo para conceder o título de cidadão honorário ao veterano missionário. Hoje com 84 anos, José Argese chegou ao Quénia em 1957, e logo, dois anos depois, este missionário da Consolata italiano iniciou a construção de uma grande obra de engenharia hidráulica para recolha e distribuição de água a várias aldeias de Meru. A importância e a qualidade

do empreendimento foram reconhecidas por várias organizações e países, inclusive pela ONU que, em 1999, lhe atribuiu a insígnia “Path to Peace” um dos maiores galardões pelo seu contributo para o desenvolvimento da paz a nível internacional.

Chile

Bispo organiza diálogo sobre violência rural

Mais de mil polícias estão destacados na região de Temuco, Chile, para defender prédios agrícolas e floresta. Chame-se “violência rural” ou “conflito mapuche”, importa terminar com um desastre que regista mais de 300 ataques, por ano, e que aterroriza “pequenos, médios e grandes agricultores”, tornando a região cada vez mais pobre. Por iniciativa da Igreja, foi criada uma mesa de diálogo que reúne comunidades índias mapuche, autoridades, académicos e agentes sociais, para encontrar uma solução para o conflito na região de Araucanía. Apesar de criticado, o bispo de Temuco, Eduardo Vargas, mostrou-se disponível para ceder o lugar a alguém mais válido do que ele, o que significaria “libertar-se de um grande peso”. Os encontros irão prolongar-se durante seis meses, de 15 em 15 dias. 08

Fátima Missionária


MUNDO MISSIONÁRIO BANGLADESH

FALÊNCIA DA FAMÍLIA CONDUZ AO RADICALISMO DOS JOVENS

“Os pais não cuidam dos filhos: é a falência da família. Deram-lhes apenas dinheiro e vida fácil, sem cuidar da sua formação, das ideias e da mentalidade”, critica Gervas Rozario, bispo de Rajshahi. “Expuseram-nos à propaganda ideológica, prometendo-lhes o paraíso ou que se tornariam heróis se matassem”, explicou o bispo ao comentar a

tragédia de Daca, no início de julho. Um comando de sete jovens terroristas matou 22 reféns. “O que impressiona a opinião pública é que os terroristas eram todos jovens de bem”, comentou o prelado, que lança um apelo aos líderes islâmicos. “É preciso fazer mais no país e fazê-lo juntos”. É preciso unir todas as forças sãs “para repropor os valores da paz e da tolerância”.

SUDÃO DO SUL

COMBATES OBRIGAM MILHARES A REFUGIAR SE NAS IGREJAS

Cessar-fogo traz a calma a Juba, capital do Sudão do Sul, depois de terríveis combates entre soldados do governo, com as milícias aliadas, e as forças do vice-presidente Riek Machar, a meio do mês passado. “A questão mais urgente é humanitária, dada a falta de água potável. Milhares de pessoas refugiaram-se nas igrejas”. A Cruz Vermelha está presente nos dois hospitais principais da capital que acolhem os feridos. A população deste mais recente país africano encontra-se exausta para enfrentar o interminável e doloroso caminho para a paz.

IRAQUE

EM ERBIL PRIMEIRA PEDRA DA “CASA DA MISERICÓRDIA”

O Papa Francisco deixou, em abril passado, a seguinte sugestão: “Seria belo, qual recordação deste Jubileu, que em cada diocese se levantasse um monumento vivo, uma obra estrutural de misericórdia”. Em resposta às palavras do Papa, o arcebispo caldeu, Bashar Warda,

lançou a primeira pedra para a construção de um centro de acolhimento de idosos, no início do mês passado. A “Casa da Misericórdia”, assim será chamada, irá ser construída nos terrenos pertencentes à Igreja caldeia, nos arredores de Erbil.

ARGENTINA

DROGA E NARCOTRÁFICO PROBLEMAS ATUAIS MAIS GRAVES

“A droga é o fruto e, ao mesmo tempo, a causa de um grande declínio ético e de uma crescente corrupção da vida social”, escreve o bispo argentino Vicente Bokalic. Os principais destinatários da droga são os jovens

que, frequentemente, “a nossa sociedade idolatra e, ao mesmo tempo, despreza”. Efetivamente não os ajuda a crescer, a encontrar o seu lugar na sociedade, a descobrir o sentido da vida e a ter esperança no futuro.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

NEM TODOS GOSTAM DESTE PAPA Ultimamente o próprio Papa Francisco tem mencionado que nem todos apreciam o seu estilo e a sua frontalidade. Estranho seria se assim não fosse. Refere-se isto, creio eu, especialmente ao facto de ele ser fiel a Jesus que convida a que a nossa linguagem seja sim-sim não-não. Referindo-se aos ‘padrinhos’ mafiosos dizia-lhes ele sem rodeios "estais excomungados" e, falando do massacre sistemático dos arménios por mão dos turcos, não hesitou em falar de "genocídio", palavra esta que os grandes da terra preferem não usar. De facto, este Papa não tem papas na língua nem se preocupa quando é mal interpretado. No interior da própria Igreja há quem ache que já basta. Mencionam alguns, incluindo cardeais e bispos, que este era o Papa de que se precisava para sacudir algumas estruturas envelhecidas, mas que agora é preciso voltar à normalidade, ou seja, aos tempos de antes do Papa Francisco. Também na Igreja existem os famosos velhos do Restelo. Não é isso que pensam as pessoas que às centenas de milhares acorrem à praça de São Pedro para ouvir uma sua palavra de bondade e encorajamento. Deus lhe conceda um longo e fecundo pontificado.

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a missão hoje

Tito Abraão, 68 anos, tem sido uma ajuda fundamental para os missionários em Moçambique, através dos seus conhecimentos no setor da construção civil

O testemunho de um homem bom

Trabalha há 25 anos nas missões, em Moçambique. Natural de Amarante, emigrou para França, depois de cumprir o serviço militar em Angola. Ganhou conhecimentos no setor da construção civil e iniciou atividade por conta própria, quando regressou a Portugal. Sentindo-se chamado à vocação, deixou tudo e partiu para a missão como leigo Texto | DIAMANTINO ANTUNES Foto | DR

Extrovertido e conversador, Tito Abraão é um exemplo de simpatia e boa disposição, um modelo de entrega à causa missionária. É um homem bom, um cristão de fé granítica, um empreiteiro que constrói com competência e mestria, generoso e muito trabalhador. Não será pois de estranhar que a remodelação dos edifícios onde funciona a nova Escola Secundária da Consolata, em Nampaco, no norte de Moçambique, tenha sido conseguida com muito do seu esforço e dedicação. Tem ainda um gosto especial pela arte da barbearia e é de pente e tesoura na mão que gosta de desfiar algumas das histórias que o levaram a optar por ser missionário leigo, enquanto desbasta o cabelo do seu interlocutor. A sua primeira motivação era ser padre missionário, mas por vários motivos acabou por desistir do seminário. Regressou a casa e começou a trabalhar na construção. 10

Fátima Missionária

Mas o primeiro convite para partir para terra de missão não tardou a chegar. Foi desafiado pelo bispo de Lichinga, Luís Gonzaga Ferreira da Silva, a ir um ano para o Niassa, a fim de construir uma casa para as religiosas. O bispo quis até pagar o trabalho feito, mas Tito Abrãao nunca teve facilidade em aceitar pagamento pelo seu trabalho e recusou. Durante esse tempo, viveu na residência episcopal. Terminado o primeiro ano, mesmo sem qualquer contrato, decidiu continuar mais um ano, e depois outro e mais outro, até que lhes perdeu a conta. Trabalhou sempre com o bispo de Lichinga, até à sua resignação. Chegou a trabalhar nove anos sem ir de férias. Construiu casas, escolas, igrejas, centros de saúde e de tudo um pouco. Com o passar do tempo, a vocação de leigo missionário fortaleceu-se e foi encontrando no dia a dia a confirmação e as razões para ficar: “Fui ficando porque gostei daquilo e


perfil solidário

Depois de tantos anos, de momentos bons e de outros de provação, Tito aceita tudo com a convicção de que “nada existe sem o conhecimento e sem a permissão de Deus”

a verdade é que tinha vocação, sentia-me bem”. Ao todo, esteve 15 anos a trabalhar no Niassa. Recebeu até um convite para entrar de novo no seminário, mas o seu percurso convenceu-o de que havia feito a escolha certa e optou por entrar para Leigo Missionário da Consolata. Depois do Niassa, foi destinado à missão do Guiúa onde trabalhou cerca de ano e meio. Após esta breve passagem, regressou ao Niassa, trabalhando na missão de Mecanhelas durante quatro anos. Em 2011, seguiu para Nampula para a obra de construção da Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Paz, inaugurada em 2013. Ao mesmo tempo, foi realizando trabalhos para as irmãs, de várias congregações. A última empreitada foi a transformação do antigo Seminário da Consolata em escola secundária. Graças à sua mestria, os Missionários da Consolata contam agora com um estabelecimento de ensino com oito salas de aula, biblioteca, laboratório, sala de professores, secretaria, salas de direção e de conselho pedagógico e casas de banho. O trabalho deste leigo empenhado foi fundamental para mais um esforço de missão. Depois de tantos anos, de momentos bons e de outros de provação, Tito aceita tudo com a convicção de que “nada existe sem o conhecimento e sem a permissão de Deus”. As dificuldades deram-lhe estrutura, contribuíram para o seu esforço de aperfeiçoamento, reforçaram-lhe a perseverança. Quando se lhe pergunta o que perspetiva para o futuro, se pensa ficar ou regressar a Portugal? A resposta sai breve e sem hesitação: “Vou continuar! Vou continuar, enquanto puder”.

Educar por amor Texto | FP

A aventura de Marta Baeta, 26 anos, natural do Barreiro, começou com uma campanha de voluntariado na favela de Kibera, situada na capital do Quénia, e considerada a maior do mundo. Inicialmente, o compromisso era ficar três meses, a dar aulas e ocupar o tempo livre de 25 crianças, com idades entre os três e os seis anos. Mas no final deste período, ficou a vontade de fazer algo mais por aquelas crianças, não apenas de forma temporária, mas definitiva. É neste contexto que Marta decide mudar-se para Nairobi e criar o projeto “From Kibera With Love”. Numa primeira fase, com a ajuda de familiares e amigos, conseguiu colocar 16 crianças na escola primária. Agora, são já cerca de 60 as crianças apoiadas, não só através do acesso à educação, mas também do apoio médico, alimentar, vestuário, calçado e material escolar. É ainda assegurado auxílio a 30 famílias, nomeadamente na remodelação das suas casas e acesso ao mercado de trabalho. Para conseguir isto, a jovem desdobra-se em contactos via internet ou em atividades de angariação de fundos. E “vive numa casa onde não há frigorífico, dorme num colchão no chão, nem mesa tem na sala. Não sabe o que é sair de casa sem olhar por cima do ombro, nem se lembra do que é ir ao café com os amigos”, segundo descreve uma voluntária que a visitou recentemente.

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a missão hoje

Os voluntários José Henrique Pinho, Cristina Soares, Cristina Silva, Vanessa Cardoso, Sónia Cunha e Pedro Ribeiro, serão acompanhados por Paulo Rocha e pelo padre Thomas Mushi

Voluntariado missionário na Tanzânia

Jovens vão construir uma escola

Texto | Elísio Assunção e Thomas Mushi Foto | TERESA SILVA

Eles aceitaram o desafio! Seis jovens do norte desejam dar um bocadinho de si. Inseridos num projeto de voluntariado dos Missionários da Consolata, de Águas Santas, Maia, vão partir em missão. Anseiam por um agosto diferente. Estão decididos a sair da sua zona de conforto e a ajudar outros que tanto precisam. Dedicam cerca de um mês ao projeto dos Missionários da Consolata: “Quero ir à escola, ajudas-me?” para construir a escola na aldeia de Mkindu, em Morogoro, Tanzânia. Durante um ano, fizeram uma caminhada de formação e preparação; realizaram atividades para angariar fundos; visitaram paróquias; estiveram com jovens em catequeses; deram a conhecer o projeto. Agora sentem-se imensamente gratos pelo acolhimento e ajuda que receberam.

da aldeia abraçaram: construir um edifício para as crianças se prepararem para ingressar na primária. Os Missionários da Consolata decidiram, com a ajuda dos amigos e benfeitores, apoiar o sonho das 700 famílias de Mkindu. O grupo de jovens escolheu sujar as mãos e colaborar. Entre os seis, há um arquiteto. A sua presença dá maior garantia em acompanhar a obra em colaboração com os missionários e o povo da aldeia. “É um ótimo projeto! Estamos entusiasmados e esperamos cumprir a nossa missão fazendo parte da história da educação do povo de Mkindu e das aldeias vizinhas”, afirmou um jovem. “Queremos responder ao pedido dos seminaristas filósofos da Consolata, de Morogoro. Vamos também tentar reabilitar três infantários, de outras tantas aldeias”.

A missão consiste num mês de trabalho de promoção humana e de ajuda na construção da nova escola da aldeia de Mkindu. É um desafio que os pais e os responsáveis

Em Mkindu, a população “está muito entusiasta, à espera da chegada dos nossos visitantes, os jovens portugueses”, escreve o missionário Cipriano Mvanda. “Estão atarefados

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Fátima Missionária

a organizar as atividades que terão lugar durante a sua estadia”. Uma verdadeira festa está a ser preparada: “As atividades incluem jogos, tais como futebol, corridas, canto e danças tradicionais”. Para além disso, “organizámos turnos de trabalho para a construção da escola-infantário, juntamente com os nossos hóspedes”, explica o missionário. A comunidade de Mkindu espera que “a visita seja um bom momento de partilha e de estímulo recíproco, sobretudo no que respeita aos desafios que os nossos jovens hoje enfrentam”, confessa o missionário. “A comunidade tem mostrado de várias maneiras o seu entusiasmo. Já temos mais de 60 crianças que, mesmo em estruturas frágeis e pobres, já frequentam o infantário. Existe uma boa colaboração com as autoridades locais; o terreno para a construção já está preparado; e já começamos a construir as estruturas básicas. Contamos com as ofertas dos nossos amigos, para continuar a obra. Agradecemos o seu interesse e colaboração monetária”.


FÁTIMA INFORMA

Curso aborda drama dos refugiados Ação de formação que prepara cidadãos para a missão vai tratar de assuntos como a crise migratória e a perseguição a cristãos Texto | JULIANA BATISTA Foto | LUSA

O Seminário da Consolata, em Fátima, vai acolher mais uma edição do Curso de Missiologia, de 22 a 27 de agosto, reunindo participantes oriundos de países muito diversos, de várias idades e ocupações. Durante seis dias, docentes de diferentes áreas vão abordar temas com vista à qualificação do missionário e, consequentemente, da missão. “Este ano a problemática dos cristãos perseguidos e dos refugiados é incontornável”, uma vez que esta é “uma realidade muito atual e implicativa para todo o cristão”, disse Célia Cabecinhas, religiosa da Congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, envolvida na organização do curso. Para ajudar os participantes a conhecer a “dimensão deste problema”, responsáveis da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre vão contribuir para esta formação, assim como

missionários que “entregam a sua vida no acolhimento e na partilha com os nossos irmãos perseguidos, refugiados, ou noutras periferias existenciais”, revelou a religiosa, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA. O Curso de Missiologia é uma iniciativa dos Institutos Missionários Ad Gentes com o apoio das Obras Missionárias Pontifícias.

Queda do Muro de Berlim

Agenda

Os peregrinos de Fátima são convidados a recordar a queda do Muro de Berlim e a fazer uma breve oração pela paz dia 13 de agosto, às 21h30, após a procissão das velas. A evocação será feita perante o bloco de betão oferecido ao Santuário de Fátima e exposto na entrada sul do recinto.

AGOSTO

Melodias pelo santuário

Internacional Aniversária dedicada aos migrantes

“Cem anos de melodias marianas” vão ecoar pela Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima dia 14 de agosto, a partir das 15h30. O concerto de improvisações sobre temas relacionados com Fátima está a cargo de Giampaolo Di Rosa, organista titular da Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma (Itália).

Aprender a dar catequese

O Curso Geral de Catequistas decorre de 21 a 28 de agosto no Centro Catequético, em Fátima. A formação é destinada a catequistas com alguma experiência na educação para a fé e contempla trabalhos práticos de catequese.

DIA 12 e 13 Peregrinação

SETEMBRO

DIA 18 Peregrinação Nacional de Dadores de Sangue DIA 24 Peregrinação da Família Passionista DIA 25 Peregrinação Motard

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“Uma sociedade sem Deus é uma sociedade frágil” Ainda a tomar ‘o pulso’ aos desafios que tem pela frente, o novo Superior Provincial dos Missionários da Consolata em Portugal, padre Eugénio Butti, 64 anos, tem já uma certeza: a missão existe para anunciar o Evangelho e deve crescer a partir dos valores da fé cristã Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | ANA PAULA

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ENTREVISTA

existimos para pregar o Evangelho. A nossa missão é a missão ‘ad gentes’, com uma finalidade clara, que é fazer conhecer Jesus Cristo a quem não o conhece Que estratégia vai adotar a nova direção para reforçar a presença do Instituto Missionário da Consolata em Portugal? Temos que tomar consciência da caminhada que estava a ser feita, valorizá-la, levá-la para a frente e, eventualmente, escolher novos caminhos, mas numa ótica de continuidade. Penso que não podemos fugir aos sete valores indicados pela última Conferência Regional: consolação, universalidade, respeito pela vida, comunidade, partilha, trabalho e fé cristã. São valores que fazem parte do nosso património e talvez tenhamos que reforçá-los, vivê-los e atualizá-los, a partir da fé cristã. Ou seja, relembrar que existimos para pregar o Evangelho. A nossa missão é a missão ‘ad gentes’, com uma finalidade clara, que é fazer conhecer Jesus Cristo a quem não o conhece. E é preciso ter a consciência que o resultado do nosso trabalho missionário não depende de nós, mas sobretudo da comunhão e amizade profunda com Jesus, que nos disse: ‘Sem mim nada podeis fazer’. Devemos comunicar o Evangelho pela nossa vida, pela maneira de ser, e não apenas pelas palavras e pelas obras.

A Europa enfrenta hoje um período difícil. Como podem os missionários tornar-se presença consoladora e protetora junto dos mais vulneráveis? Os vulneráveis são os pobres, os idosos, os refugiados… mas são

também aqueles que procuram um sentido verdadeiro e pleno para a sua vida. Podem ser até os que vivem na abundância, mas que estão tristes e insatisfeitos, por terem uma vida sem sentido. A nossa missão deve dirigir-se também a todas essas pessoas. Vivemos numa Europa que foi cristã, mas que parece não se interessar mais pelos valores cristãos e acha que pode construir uma sociedade sem Deus. Hoje insiste-se muito na laicidade, o que pode ser bom, mas também muito empobrecedor. Uma sociedade sem Deus é uma sociedade frágil, sem pontos de referência. Portanto, e recordando a frase do Evangelho – ‘Construir a casa sobre a rocha’ – , diria que a nossa contribuição na Europa é também ajudar a construir esta casa sobre a rocha, que é Cristo. É preciso reconstruir a nossa vida sobre alicerces verdadeiros, que já existem, mas talvez tenham sido esquecidos. Temos que ajudar a sociedade a reencontrá-los.

Os missionários sempre se movimentaram nas periferias da sociedade, onde há sofrimento e solidão. Essa é uma missão que urge desenvolver também em Portugal e na Europa? Esse é o grande desafio sobre o qual todos estamos a refletir. De facto, não é fácil reposicionarmo-nos nesta realidade. Antes, era mais fácil entender a nossa missão. Ir aos pagãos, era ir a África, ou à Ásia, ou a territórios onde a fé ainda não estava anunciada. Agora percebemos que também aqui encontramos realidades que os missionários encontravam quando iam a África. Encontramos pessoas e comunidades que do Evangelho não sabem nada ou quase nada. O grande desafio é ir ao encontro dessas pessoas. Muitas vezes perdemo-nos em discussões, do que fazer e como fazer, quando o importante é percebermos o que

significa ser missionário. Acho que esta questão não está ainda bem clara.

E para si o que significa ser missionário?

É, antes de tudo, comunicar uma experiência de encontro com o Senhor, que deu sentido à minha vida. A vida é bela vivida com Jesus. Não é a mesma coisa viver a vida com Cristo ou sem Cristo. Quem não tem Cristo na sua vida, que perspetiva tem de futuro? Uma barreira? Mas quem acredita em Jesus sabe que não é uma barreira que encontrará no fim da vida terrena, mas braços abertos que o acolhem. Por isso, evangelizar é ajudar as pessoas a encontrarem-se com a pessoa de Jesus, para que possam descobrir nele o sentido da sua vida, a alegria de viver, a força para enfrentar as situações difíceis da vida, para dar sentido à dor, ao trabalho, e também à morte.

Como pode fazer-se essa evangelização numa sociedade tendencialmente secularizada como a europeia?

O Papa Francisco dá-nos indicações claríssimas, quando diz que a Igreja não deve fazer proselitismo. Não devemos obrigar ninguém a crer, temos é que propor aquilo que para nós é um tesouro, e comunicá-lo por irradiação, através de uma vida coerente com o Evangelho, formando comunidades fraternas. E anunciar o Evangelho não é só tarefa dos missionários, mas de todo o cristão, que é chamado a ser coerente, a interessar-se pelos outros, a comunicar o amor que está no seu coração, as convicções que o animam e que dão sentido à sua vida. Por isso, gostaria que a Família da Consolata, desde missionários, leigos, amigos e benfeitores, se unisse nesta tarefa evangelizadora.

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TERRORISMO A obsessão jihadista com o Al-Andalus Espanha é desde sempre apontada como território islâmico a reconquistar, seja pela Al-Qaeda seja pelo ISIS. Mas agora Portugal já é percebido também como parte desse Al-Andalus que por volta do ano 1000 era das regiões mais desenvolvidas do mundo, terra de prosperidade e de tolerância religiosa. Da propaganda aos atos vai grande distância e mesmo que a ameaça jihadista seja muito vaga, as forças de segurança têm de estar atentas e preparadas para tudo, até para a chegada do terror a Portugal Texto | LEONÍDIO PAULO FERREIRA* Foto | LUSA

O Estado Islâmico, também conhecido por ISIS ou Daesh, tem um grupo especial para preparar ataques terroristas em Espanha, revelou no início de julho o jornal madrileno ABC, baseando-se em informações dos serviços secretos do país vizinho. Para os jihadistas, Espanha é sinónimo de Al-Andalus, o território na Península Ibérica que os muçulmanos dominaram durante alguns séculos em torno do ano 1000. E existe uma verdadeira obsessão com a sua reconquista, mesmo que até agora não passe de mera propaganda para recrutar novos combatentes. As ameaças costumam surgir em vídeos que circulam na internet e ainda há semanas, num deles, um jihadista afirmava que “os muçulmanos voltarão a povoar Córdoba, Toledo ou Játiva. Al-Andalus não 16

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és espanhol ou português, és o Al-Andalus muçulmano”. A referência a Portugal como parte do Al-Andalus era rara, mas agora começa a ser frequente. A identificação com Espanha é natural, pois é no nosso vizinho que se encontram os principais monumentos de origem islâmica na Ibéria, como a torre Giralda em Sevilha, o palácio de Alhambra em Granada ou a Catedral-Mesquita de Córdova. E se a presença muçulmana em Portugal terminou em 1249 com a conquista definitiva do Algarve, já no território espanhol prolongou-se até 1492. Contudo, o facto de alguns portugueses se terem voluntariado para o ISIS, usando mesmo como novo nome árabe a designação de Al-Andalusi, atraiu a atenção e os jihadistas começaram


DOSSIER

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a incluir Portugal no cobiçado Al-Andalus. O que implica novos riscos para o país. A seguir aos grandes atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos da América, contra as Torres Gémeas de Nova Iorque e o Pentágono em Washington, o terror de inspiração jihadista elegeu Madrid como primeiro alvo na Europa. Bombas explodiram em simultâneo em quatro comboios que entravam na estação de Atocha matando 191 pessoas. Foi a 11 de março de 2004 e sabe-se que o ataque foi organizado por uma célula local constituída sobretudo por imigrantes marroquinos mas inspirada pela Al-Qaeda, o grupo fundado pelo saudita Osama bin Laden. Mas desde então, a Península Ibérica tem sido poupada. Os atentados de Londres em

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Na internet circula um mapa do futuro califado, que não se quer limitar a Raqqa e Mossul. E Espanha e Portugal lá surgem

2005 mostraram que a Grã-Bretanha também estava na mira da Al-Qaeda e, depois da emergência do ISIS, liderado pelo autoproclamado califa Abu Bakr Al-Baghdadi, a França tem sido a nação da Europa Ocidental mais atacada. Ainda em meados do mês passado, um camião conduzido por um tunisino acelerou sobre uma multidão que celebrava em Nice a festa nacional francesa matando mais de 80 pessoas. O ISIS reivindicou o atentado, mesmo que se


suspeite que não teve envolvimento logístico, apenas foi fonte de inspiração. Também a Bélgica foi atacada já este ano. E há ainda nos últimos tempos que referir, apenas no contexto europeu, o avião russo abatido sobre o Egito e o grande atentado ao aeroporto Ataturk em Istambul, na Turquia. “São menções agressivas que há que ter em conta no momento de avaliar em conjunto a ameaça do terrorismo jihadista”, considerou em entrevista ao DN Fernando Reinares, o maior perito espanhol em terrorismo, referindo-se à obsessão do ISIS agora, e da Al-Qaeda antes, com os países ibéricos. Desde 2004, os serviços de segurança espanhóis tiveram de adaptar-se à nova ameaça terrorista, depois de décadas a lutar contra os independentistas bascos

da ETA. Mas quanto a Portugal é uma incógnita saber se o país se tem preparado para lidar com grupos terroristas interessados em atacar o território nacional. De certeza que há partilha de informações com os espanhóis e outros europeus para prevenir infiltrações de terroristas. É que a nível interno, a comunidade islâmica portuguesa parece bem integrada e pouco apta a radicalismos. Que os jihadistas considerem Portugal um alvo mais fácil do que a Espanha não é de descurar. E podem sempre procurar nos livros de história razões de queixa contra os portugueses. No seu livro ‘O Ocidente e o Islão’, publicado no ano passado, o ensaísta Jaime Nogueira Pinto admitia um historial de conflito entre Portugal e o mundo islâmico.

hoje há 1.500 milhões de muçulmanos no mundo, na sua esmagadora maioria alheios ao terrorismo que é feito em nome da religião que seguem

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Um califa espanhol Os muçulmanos dominaram a Península Ibérica em vários graus entre 711 e 1492. Ou seja, entre a invasão de Tariq e a derrota em Granada do último rei muçulmano do lado norte do estreito de Gibraltar. De modo geral, fala-se desses sete séculos e território variável como o Al-Andalus, uma expressão que lembra a anterior passagem dos vândalos e sobrevive até hoje no nome de Andalusia, dado à maior região espanhola. Mas o mais brilhante Al-Andalus, aquele onde havia prosperidade económica e tolerância religiosa, coincidiu com o califado de Córdova, proclamado por Abderramão III em 929 e que durou até 1031, quando se fragmentou nos chamados reinos de Taifas.

Em entrevista ao DN afirmou mesmo que “está muito presente na história de Portugal a luta com o Islão”, dando como exemplos desde a conquista de Lisboa em 1147, as batalhas em Marrocos depois da tomada de Ceuta em 1415 e ainda os planos no século seguinte de Afonso de Albuquerque para atacar Meca, a mais sagrada cidade para os muçulmanos, hoje 1.500 milhões no mundo, na sua esmagadora maioria alheios ao terrorismo que é feito em nome da religião que seguem. Jaime Nogueira Pinto percebe o fascínio dos jihadistas pelo Al-Andalus, “pois estamos a falar do período de maior extensão do poder muçulmano, um século depois de Maomé. Até serem parados em Poitiers. E o califado espanhol que nasce dessa expansão tem um grande significado cultural, de luxo, de requinte. Torna-se um mito, como o grande califado de Bagdad, que surge nas ‘Mil e Uma Noites’”. Acrescenta ainda que “é evidente que hoje em 20

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dia os que reclamam o califado, o regresso a uma antiguidade ideal e forte, insistam nessas memórias”. Também numa entrevista ao DN, em setembro de 2015, quando ainda era ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete referia o Al-Andalus como “uma ideia de vez em quando ressuscitada numa certa literatura árabe”, mas não lhe dava fundamento especial como ameaça. Temia, isso sim, a ação de algum terrorista em Portugal, mesmo isolado, os tais lobos solitários, aludindo à dezena de portugueses ou luso-descendentes que se sabe terem viajado até à Síria e o Iraque para integrarem as fileiras do ISIS. Na internet circula um mapa do futuro califado, que não se quer limitar a Raqqa e Mossul. E Espanha e Portugal lá surgem. Também foram detetadas pela imprensa espanhola fotografias ou fotomontagens com imagens de monumentos islâmicos e da bandeira do ISIS, como o palácio da Aljaferia, em Saragoça. Tudo pode não ir além da propaganda, mas é preciso estar atento, sobretudo por causa da insistência no tema. Afinal já lá vão 15 anos desde que pela primeira vez o Al-Andalus foi percebido na retórica jihadista. Aconteceu em outubro de 2001 numa mensagem vídeo do egípcio Ayman Al-Zawahiri de apoio aos palestinianos. E foi divulgada pela cadeia televisiva Al-Jazeera, do Qatar: “O mundo tem de saber que não permitiremos que se repita na Palestina a tragédia de Al-Andalus”. Al-Zawahiri é desde a morte de Bin Laden em 2011 o líder da Al-Qaeda, rival estratégico do ISIS mas coincidente no objetivo de criar um neocalifado à escala global. * jornalista do DN

“Ameaças ao Al-Andalus são para ter em conta no jihadismo”

Excertos da entrevista de Fernando Reinares ao DN em fevereiro. Perito espanhol em terrorismo esteve em Lisboa para uma palestra no Instituto de Defesa Nacional “Tanto o denominado Estado Islâmico como a Al-Qaeda e as suas ramificações territoriais falam do Al-Andalus com hostilidade contra Espanha e Portugal. São menções agressivas que há que ter em conta no momento de avaliar em conjunto a ameaça do terrorismo jihadista. Ainda que nos pareçam definições fora da realidade, são manifestações que compete interpretar em termos de segurança porque podem ser reais nas suas consequências”. “Falar do Al-Andalus e relacioná-lo com a noção de jihad defensiva, como se grande parte da Península


Ibérica se tratasse de um território muçulmano sob ocupação de infiéis, é algo que até há pouco os jihadistas associavam quase exclusivamente com Espanha. Mas a radicalização e o recrutamento, em concreto por parte do Estado Islâmico, de alguns indivíduos de origem portuguesa, está a modificar o discurso dos terroristas neste sentido”. “Quando se perpetraram os atentados de 11 de março de 2004, Espanha tinha um sistema antiterrorista muito desenvolvido e eficaz, mas para a luta contra a ETA e outras manifestações menores de terrorismo interno. Depois do 11 de Março houve que adaptar as estruturas de segurança interna aos desafios do terrorismo jihadista. Mais extensas capacidades de inteligência, uma maior coordenação policial e a cooperação internacional ampliada fazem que Espanha esteja agora, com efeito, entre as nações europeias mais bem preparadas contra a ameaça jihadista”. “Espanha, como o resto das nações europeias, deve progredir na construção de resiliência social e desenvolver programas de prevenção da radicalização onde seja necessário implementá-los”. “Tanto Espanha como qualquer outro país da União Europeia beneficiaria muito, em matéria de antiterrorismo, se a habitual cooperação bilateral neste campo fosse complementada e enriquecida fazendo uso dos mecanismos intergovernamentais para a cooperação multilateral que já existem mas estão subutilizados”. “O problema em países como a França e Bélgica tende a ser o jihadismo homegrown ou autóctone. São jovens vulneráveis nascidos e criados nesses países os que se

radicalizam e eventualmente acabam por incorporar-se em organizações jihadistas”. “Nestes últimos três ou quatro anos produziu-se uma grande transformação do fenómeno jihadista em Espanha, com algumas mudanças fundamentais como a eclosão de um jihadismo autóctone que não existia antes”. “O leque de possíveis expressões que pode adotar a ameaça do terrorismo jihadista na Europa Ocidental é amplo. Num extremo do dito leque observamos atentados complexos, planificados centralizadamente desde o diretório das organizações jihadistas e muito letais. No outro polo situam-se os atentados cometidos por jihadistas isolados, que atuam por conta própria, unicamente inspirados pela propaganda terrorista e em regra com resultados menos sangrentos”.

“Tanto Espanha como qualquer outro país da União Europeia beneficiaria muito, em matéria de antiterrorismo, se a habitual cooperação bilateral neste campo fosse complementada e enriquecida fazendo uso dos mecanismos intergovernamentais para a cooperação multilateral que já existem mas estão subutilizados”

“Intervenções como a invasão do Iraque em 2003 favoreceram sem dúvida um aumento global da ameaça terrorista”. “O jihadismo global e a ameaça terrorista que lhe é inerente surgiram há mais de um quarto de século e as suas raízes encontram-se num fundamentalismo islâmico muito implantado em países como a Arábia Saudita ou o Paquistão, que justifica moral e utilitariamente a jihad terrorista”. “Por outro lado, há que situar o atual auge do terrorismo jihadista, antes de mais, no contexto de instabilidade política, cultura autoritária e conflitos sectários que existem em grande parte do mundo árabe e islâmico. É mais uma expressão de antagonismos internos do próprio mundo islâmico do que de conflito entre civilizações”.

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mãos à obra

Escola de agricultura biológica procura fixar jovens indígenas Depois de décadas de luta pela posse da terra, a comunidade macuxi de Maturuca, no Brasil, procura agora dar mais um passo no caminho da autoSsustentabilidade, através da formação e capacitação técnica das camadas mais jovens Texto | Francisco Pedro Foto | DR

O objetivo é criar uma escola de formação em agricultura biológica, para ajudar e incentivar os jovens a promoverem culturas mais produtivas e amigas do ambiente

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Durante anos, lutaram contra a presença de fazendeiros e garimpeiros na terra que consideravam sua, e contra o aumento do consumo de bebidas alcoólicas. A luta pela posse da terra foi vencida, com a homologação da área indígena Raposa Serra do Sol, no estado de Roraima, no norte do Brasil. O combate ao alcoolismo também já deu os seus frutos, mas a comunidade sentiu que era preciso fazer mais para fortalecer a autonomia económica de uma zona isolada e exposta às alterações climáticas, e contrariar a tentação dos jovens de procurarem

novas formas de vida nas cidades mais próximas. Foi neste contexto que nasceu o projeto “Terra Mãe”, desenvolvido pelos Missionários da Consolata, e assumido pela comunidade macuxi, residente na região de Maturuca. O objetivo é criar uma escola de formação em agricultura biológica, para ajudar e incentivar os jovens a promoverem culturas mais produtivas e amigas do ambiente. E estabelecer parcerias que permitam o desenvolvimento tecnológico dos sistemas de irrigação. Através deste plano, que ainda se encontra na fase de recolha de fundos, os macuxi pretendem reforçar a produção agrícola durante o verão, apostando essencialmente no plantio de melancia, macaxeira e outros frutos, produtos que, por tradição e por falta de meios, têm sido produzidos apenas na época de chuvas. Habituada a gerir com sucesso outros projetos comunitários, como foi o caso do programa “Uma vaca para o índio”, que começou com a distribuição de umas dezenas de vacas e já atingiu as 42 mil cabeças de gado, a comunidade de Maturuca perspetiva agora um novo incentivo à diversificação da produção, aumento dos rendimentos das famílias, fortalecimento da união comunitária e, consequentemente, uma melhoria da qualidade de vida da população indígena. A execução do projeto conta com o apoio do Conselho Indígena de Roraima (CIR), da diocese de Boavista e de dois especialistas em agricultura biológica.


IMAGENS DE MISERICÓRDIA

Foto | ARQUIVO

Dar de comer a quem tem fome é a primeira obra de misericórdia corporal. Cumpre aqui esse mandato de Jesus uma das primeiras missionárias enviadas por José Allamano para o Quénia. Mas é incalculável o número de situações de fome e de miséria que receberam no início século passado o apoio manifesto dos missionários. “O que fizestes ao mais pequenino dos meus irmãos a Mim o fizestes”.

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# gente nova em missão inclusão

ACEITAR A DIVERSIDADE

Olá amiguinhos! As férias estão a meio e de certeza já têm muitas histórias para contar. Se há meninos e meninas que foram ou ainda vão passear pelo nosso belo país, outros há que vão ou foram passear por locais mais longínquos; em ambos os casos (creio poder arriscar dizer) essas memórias irão ganhar “corpo” nas imensas fotografias que irão contar essas histórias, até porque costuma dizer-se que uma imagem vale mais do que mil palavras. E mais do que histórias, vão mostrar a beleza da diversidade Texto | Cláudia FEIJÃO ilustração | david oliveira

Quem viaja para fora do seu país procura sempre conhecer novas culturas, novos lugares, novas pessoas de forma a enriquecer-se cultural e pessoalmente; mas, nos dias de hoje, já não é necessário sair do seu país para encontrar a multiculturalidade existente no mundo. Se é verdade que já é possível “viajarmos” pelo mundo e conhecermos lugares diferentes e saber a sua cultura, falta, no entanto, o mais importante: o contacto com as pessoas. Mesmo quem fica no seu país encontra esta diversidade; basta pensar no nosso, com o número elevado de turistas que nos visita ou com os imigrantes que chegam e que vivem no nosso país. São as línguas que são diferentes, ou, em alguns casos, a forma de vestir ou a alimentação, até mesmo a forma de cada um se relacionar com Deus. O encontro com cada uma dessas pessoas é o encontro com a diversidade (seja ela cultural ou religiosa); e,

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compreendendo e aceitando essas diferenças, as pessoas tornam-se, interiormente, mais ricas. Que alegria quando as pessoas se aceitam umas às outras respeitando as suas diferenças; quando tal acontece reina a paz e o amor, e o mundo é muito melhor e feliz. Jesus viveu e ensinou-nos isso mesmo: amar todas as pessoas e não fazer qualquer distinção entre elas, acolhê-las e promover a sua inclusão. Cada cristão, onde quer que esteja, onde quer que vá, o que quer que faça, segue sempre o exemplo de Jesus. Por isso, pequenos missionários, procurem acolher todas as pessoas, e não colocar ninguém de parte (ou porque tem uma característica ou uma cor diferente, ou fala uma outra língua), porque, só dessa forma, encontrarão a beleza da diversidade; mais do que procurar a cultura e a história de um lugar, o mais importante é encontrar a beleza que existe em cada pessoa. É aceitar a diversidade!


SABIAS QUE O Dia Mundial da Paz, celebrado a 1 de janeiro, foi proposto pelo Papa Paulo VI em 1967, e que não se destina apenas aos católicos mas a "todos os verdadeiros amigos da paz"? E que o dia 21 de setembro é o Dia Internacional da Paz e foi declarado pela ONU em 1981?

MOMENTO DE ORAÇÃO Senhor, agradeço-te por tudo o que criaste e cuja beleza permite contemplar todo o Teu amor. Agradeço-te por todos aqueles que procuram diariamente e em condições difíceis construir um mundo melhor onde reine a paz e o amor. Peço-te que dês coragem a todas as pessoas que por todo o mundo defendem os que são marginalizados, para que consigam destruir o egoísmo que impede de ver a beleza que existe em cada pessoa. Pai-Nosso… Glória…

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tempo jovem

Não há dúvida de que a situação de pobreza (não só económica) em que vivem muitas pessoas no mundo é fruto de políticas que favorecem um pequeno número de pessoas, geralmente detentoras de muito poder e interesses de vária ordem, mas que excluem ou ignoram o bem comum

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SERVIR É PRECISO


Texto | ÁLVARO PACHECO Foto | DR

Recentemente estive a rever fotos de anos anteriores, em especial de 2007, um ano que me marcou imenso pelas experiências únicas que Deus me ofereceu, tanto como missionário, como enquanto amante deste mundo, dos seus povos e culturas. Estas experiências ocorreram no âmbito de viagens que fiz relacionadas com o meu trabalho e sacerdócio. Visitei o Quénia em janeiro desse ano para um encontro de editores das revistas missionárias do nosso Instituto, pois fui diretor da nossa revista coreana; participando também no Fórum Social Mundial; depois, em outubro, participei num curso de formação permanente para missionários com cerca de dez anos de ordenação que teve lugar no Brasil, e que durou três meses. Foi, sem dúvida, uma bênção enorme, pois tive assim a possibilidade de conhecer mais alguns países, sobretudo do ponto de vista missionário. É neste contexto que se enquadra a reflexão que vos proponho. Visitando algumas das nossas missões e paróquias do Quénia e do Brasil, pude ver o resultado de anos de trabalho incansável no meio de populações carenciadas a vários níveis, nomeadamente religioso, social e económico. Vi também situações que me marcaram profundamente, pois embora soubesse que elas existiam, uma coisa é vê-las na televisão, outra é vê-las diretamente. Destaco duas situações particulares de um nível extremo de pobreza, embora a primeira seja bem mais dura que a segunda: a Kibera, ou seja, o mais famoso bairro de lata de Nairobi, capital do Quénia, considerado por muitos o maior da África, que acolhe mais de 800 mil pessoas; e a favela de Peri, na zona norte de São Paulo, no Brasil. Ter presenciado tal miséria fez-me questionar ainda mais a credibilidade daqueles que se autointitulam “servidores do povo”, ou seja, os políticos e agentes económicos e até mesmo gente ligada à religião. Não há dúvida de que a situação de pobreza (não só económica) em que

vivem muitas pessoas no mundo é fruto de políticas que favorecem um pequeno número de pessoas, geralmente detentoras de muito poder e interesses de vária ordem, mas que excluem ou ignoram o bem comum. Por exemplo, durante a minha estadia no Brasil, acompanhei as manobras políticas do Senado, bastante agitadas na altura por casos de corrupção que envolviam o chefe máximo da mesma entidade. Eles, os ditos “servidores”, nada ou pouco mais fazem que engordar as suas contas bancárias, enquanto a maior parte do povo é obrigado a sobreviver numa selva de incompetência, má gestão, falta de infraestruturas (sobretudo relacionadas com a saúde e a educação), de emprego, de oportunidades para melhorarem o seu nível de vida. Tive também a oportunidade de conhecer uma nossa missionária da Consolata, italiana, que trabalhou nas favelas do Peri por mais de 30 anos: uma vida dedicada ao amor e ao serviço dos mais pobres, em especial de crianças. Vi como o poder maior que liberta, promove e dignifica o ser humano é o poder do amor, nas suas mais variadas formas. E vi também, como vi noutros missionários que conheci noutras latitudes, a alegria e felicidade que emanava do seu discurso e forma de estar e conviver com as pessoas, uma forma que me falava do Cristo que a escolheu, chamou e convidou para ser sua discípula, amiga e missionária. E a única forma de poder que não corrompe nem destrói, que não abusa nem discrimina, que não condena nem faz sofrer é o amor. O mesmo que Jesus anunciou e praticou, convidando-nos a fazer o mesmo uns com os outros. Como podemos usar este poder? Uma das formas mais práticas, profundas, significativas e libertadoras de praticar e partilhar este amor é através da vocação missionária, nas suas variadas formas. Se Cristo te interpelar, não tenhas medo de responder “sim”, porque “a messe é cada vez maior e os trabalhadores cada vez menos”.

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sementes do reino

“Eu vim trazer o fogo ao mundo” Texto | JOÃO NASCIMENTO Foto | LUSA

Até que ponto as injustiças e misérias humanas afetam as nossas decisões? Até que ponto a dor e a pobreza dos mais desfavorecidos nos sacodem e convertem?

A sabedoria de Deus é loucura aos olhos do mundo e ninguém pode compreender os desígnios do espírito senão através do próprio Espírito. Que Deus nos “incomode” e nós O rejeitemos é normal, porque ninguém sai impune do combate contra Deus. Vencer quer dizer convencer-se de que vale a pena este combate que dura a vida inteira porque toda ela é preciosa e merece ser conquistada.

do martírio. Um dia antes da sua morte, explicará aos seus discípulos a importância da futura vinda do Espírito Santo, que vai acender o fogo que Ele, Jesus, veio trazer à terra e os iluminará quanto ao sentido e valor da sua morte. Naquele dia os apóstolos não estavam ainda preparados para compreender até que ponto seriam capazes de aceitar uma proposta tão estranha.

Leio a Palavra Lucas 12,49-53

O sabor amargo do primeiro contacto com este texto é inevitável para podermos atingir a doçura da sua profundidade. Sendo sinal de contradição, as palavras de Jesus sacodem-nos e desafiam-nos a não sermos medíocres, egoístas ou acomodados. Ele não veio para nos dividir mas para nos libertar do medo de ser sinal de contradição, de ser criticados, incompreendidos, mas autênticos.

Este novo episódio de Lucas tem duas mensagens de Jesus a partir de tons muito diferentes um do outro. Primeiro, o tom do Mestre aos seus discípulos, no seu relacionamento próximo e diário com eles: Cristo é consciente da sua dificuldade para o compreenderem e aceitarem. Depois, o tom do Mestre com a formulação de uma pergunta que deve ter sacudido os discípulos e nos sacode hoje a nós certamente. Jesus faz uma confidência aos discípulos que só muito mais tarde a irão entender: está ansioso por receber o batismo

Saboreio a Palavra

Rezo a Palavra

No diálogo sincero comigo mesmo pergunto-me: até que ponto a minha vida e oração são coerentes com a proposta de Jesus neste texto? Até onde estou eu disposto a ser sinal de divisão e contradição diante do mal e injustiças que me cercam?

Vivo a Palavra

Um dos atos mais nobres do ser humano é a sua capacidade para decidir. Uma decisão que pode ter repercussões incalculáveis sobre nós e sobre os outros para o resto da vida. Ela desafia-nos a sair de nós mesmos para aderirmos à proposta de Jesus de sermos mansos e humildes de coração mas também corajosos e ousados. Até que ponto as injustiças e misérias humanas afetam as nossas decisões? Até que ponto a dor e a pobreza dos mais desfavorecidos nos sacodem e convertem? 28

Fátima Missionária


A palavra faz-se missão

AGOSTO

SETEMBRO

07

04

9º Domingo Comum Sab 18, 6-9; Heb 11, 1-19; Luc 12, 32-48

Traças e ladrões

Há bolsas que não envelhecem, há tesouros que os ladrões não conseguem roubar, há bens que as traças não corroem: o que depositarmos no Céu.

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20º Domingo Comum Jer 38, 4-10; Hebr 12, 1-4; Lc 12, 49-53

O fogo de Deus

Acende, Senhor, o fogo nos nossos corações. Faz-nos ateadores do teu fogo divino no mundo. Para que ardemos de zelo pela salvação da humanidade.

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Assunção de Nossa Senhora Apo 12, 1-10; 1 Cor 15, 20-27; Luc 1, 39-56

Senhora da Esperança

Elevada ao Céu em corpo e alma, a Mãe intercede pelos seus filhos. A minha alma louva o Senhor, que olhou para a pequenez da sua serva.

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21º Domingo Comum Is 66, 18-21; Heb 12, 5-13; Luc 13, 22-30

Abre-nos, Senhor!

Eu sou o caminho, a verdade e a vida, diz o Senhor. Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque muitos tentarão entrar sem o conseguir.

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Sir 3, 19-31; Heb 12, 18-24; Luc 14, 1-14

Um lugar à mesa

Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados e os cegos; e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te: ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.

Sab 9, 13-19; Flm 9-17; Luc 14, 25-33

Opção radical

Se alguém vem ter comigo, sem me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos e até à própria vida, não pode ser meu discípulo.

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24º Domingo Comum Ex 32, 7-14; 1Tim 1, 12-17; Luc 15, 1-32

Reconciliar-se com Deus

Em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo. Veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou o primeiro deles, mas alcancei misericórdia.

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25º Domingo Comum Am 8, 4-7; 1Tim 2, 1-8; Luc 16, 1-13

É no dar que se recebe

Na contabilidade de Deus, é no dar que se recebe. Dom partilhado é dom enriquecido. Longe de ti a corrupção ou outras práticas ilícitas.

25

26º Domingo Comum Am 6, 1-7; 1Tim 2, 11-16; Luc 16, 19-31

Os regalos deste mundo

Ai daqueles que vivem comodamente... vestidos de púrpura e linho fino… nesta sociedade de consumo e de festas. Os contrastes e as injustiças bradam aos céus. DV

22º Domingo Comum

23º Domingo Comum

intenção pela evangelização Agosto Para que os cristãos vivam o seguimento do Evangelho dando testemunho de fé, de honestidade e de amor pelo próximo

Viver o Evangelho

É isso mesmo o que se pretende: que cada um seja na sua família, no seu ambiente ou no seu trabalho uma imagem de Cristo, vivendo coerentemente a sua fé. “Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar” (Papa Francisco). Setembro Para que os cristãos, participando nos Sacramentos e meditando a Sagrada Escritura, se tornem cada vez mais conscientes da sua missão

Missão evangelizadora

É pela Palavra escutada e pelos sacramentos recebidos que se vive à imagem de Jesus, o evangelizador por excelência. Com Ele podemos diariamente renovar a nossa aliança, dizendo: “Senhor, deixei-me enganar, de mil maneiras fugi do vosso amor, mas aqui estou novamente para renovar a minha aliança convosco. Preciso de Vós. Resgatai-me de novo, Senhor; aceitai-me mais uma vez nos vossos braços redentores” (Papa Francisco). DV

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Fátima Missionária

“Fico indignado quando vejo tratar mal os animais. Não vos parece que toda a Criação e em particular os animais deveriam ser tratados com mais respeito?” Joaquim Mendonça – Castelo Branco

Certamente, senhor Joaquim. Também eu ficaria indignado. Toda a Criação deve ser por nós respeitada e amada. Leia-se a propósito a última encíclica do Papa Francisco “Laudato si”. É um verdadeiro hino à natureza que o Homem é chamado a respeitar e cuidar como espaço vital, com toda a sua beleza natural e as suas crescentes riquezas. Por outro lado, os animais, tal como nós, são criaturas que devemos amar e com as quais nos devemos alegrar, tal como Deus se alegra com a sua existência. Criaturas de Deus, os animais também sentem o abandono e os maltratos. Fazê-los sofrer e matá-los sem necessidade é pecado. Mas, atenção! O ser humano não pode colocar o amor aos animais acima do amor às pessoas. Tem havido ultimamente um esforço legislativo da parte de

“Leio folha a folha”

Minha amiga Fátima Missionária, muito obrigada por todos os meses vires ter comigo e eu com tanta saudade leio folha a folha e fico edificada com tanta coisa escrita sobre os missionários que, longe das suas famílias, andam pelo mundo a lutar em favor de outras pessoas mais necessitadas de amor e compreensão. Bem hajam. Fátima

alguns partidos a favor dos direitos dos animais. Que se respeitem, está muito bem. Mas que se ponham ao nível do ser humano, isso não. “É evidente a incoerência de quem luta contra o tráfico de animais em risco de extinção, mas fica completamente indiferente perante o tráfico de pessoas, desinteressa-se dos pobres ou procura destruir outro ser humano de que não gosta”, disse o Papa Francisco que fez ultimamente críticas em relação a quem dispensa mais atenção e cuidados a animais do que a seres humanos. E isso não caiu bem nas associações animalistas. Mas Francisco insiste: “Não é compatível defender a natureza e apoiar o aborto. Às vezes nota-se a obsessão de negar qualquer preeminência à pessoa humana, conduzindo-se uma luta em prol das outras espécies que não se vê na hora de defender igual dignidade entre os seres humanos”. Cada ser no seu lugar. Alguém disse que tratar os animais como humanos leva a tratar os humanos como animais. E tem razão. DV

Publicação interessante

Saúdo todos os missionários da Consolata e seus colaboradores, particularmente os que contribuem para que a leitura desta vossa publicação se torne muito interessante, para além de enriquecedora, humana e espiritualmente. Grata pelo vosso trabalho. Sara Celeste


gestos de partilha

Apoie os nossos projetos e ajude-nos a concretizá-los Quero ir à escola Os Missionários da Consolata estão a apoiar o projeto destas 700 famílias de Mkindu, na Tanzânia e lançam um apelo: Warda Baththromeo 7 anos

ajudas-me? Envie a sua contribuição para: MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA Projeto “Quero ir à escola” Rua Francisco Marto, 52 2496-448 FÁTIMA NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50 0033 0000

Ajudem a construir a escola para crianças de Mkindu tijolo 1,00€ saco de cimento 5,00€ balde de tinta 10,00€ mesa + banco 25,00€ porta 50,00€

45441863347 05

Crianças de Mkindu – Tanzânia Olívia Pinto 20€; Anónimo (Caranguejeira) 10€; Anónimo X 20€; Inácia e Preciosa Formiga 20€; Eduardo Soares 30€; Fátima Matias 15€; Natália Ribeiro 20€; Germana Santos 18€; Maria Anjos 15€; Anónimo 5€; Maria Chaves 13€; Noélia Ávila 70€; Emília Carreira 10€. Total geral = 15.917,20€ Padre Casimiro Torres Tomás Leal (Ferreira PFR) 16€. Ofertas várias Isalinda Guilherme 33€; António Sousa 73€; Carlos Silva 43€; Isabel Pacheco 143€; Carminda Duarte 43€; António Pereira 43€; Lídia Vicente 186€; Anónimo 30€; Ângela Feteira 33€; António Lopes 30,50€; Fernanda Vargas 109€; Antónia Borges 33€; Carlota Lemos 33€; Maria André 30€; Celina Nascimento 135€; Marcelina Carneiro 50€; Ana Silva 43€; José Nogueira 36€; Anónimo 43€; Joaquim Duarte 143€; Isabel Rocha 93€; Joaquim Vitorino 43€; Rosário Souto 26€; Antónia Sampaio 93€; Lurdes Diogo 30€; Manuela Queiroz 93€; Alfredo Nunes 93€; Saudade Baltazar 43€; Armindo Pacheco 33€; Rosa Martins 36€; Ângela Sousa 33€; Rosário Florêncio 31€; Anónimo 130€; Manuela Reis 30€; Armanda Pereira 33€; Manuela Ferreira 36€; Isabel Marques 43€; Albertina Keil 20€; Clarisse Filipe 34€; Rui Teixeira 93€; José Candeias 50€; Maria Salvador 43€; Manuel Nogueira 20€; Agostinho Fernandes 66€; Gracinda Jesus 150€; Natividade Silva 43€; Maria Azevedo 45,50€; Alice Pereira 33€; Alice Oliveira 43€; Amélia Bastos 43€; António Mota 36€; Eduarda Pequito 30€; Maria Góis 43€; Rosa Pereira 193€; Anónimo 43€; Lisete Sousa 43€; Carmélia Caetano 43€; Anónimo 30€; Maria Amaro 43€; Júlia Mata 39€; Gabriela Santos 200€; Anónimo 30€; Anabela Pinheiro 43€; Adelaide Cândido 42€; Maria Jesus 43€; Manuel Vilas Boas 36€.

CONTACTOS Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 | IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 - 2496-908 Fátima | T: 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 Apartado 2009 - 4429-909 Águas Santas Maia | T: 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 - 1800-048 Lisboa | T: 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo - 2735-206 Cacém | T: 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 - 4700-713 Palmeira Braga | T: 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 - 3090-431 Alqueidão | T: 233 942 210 | alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D - Bairro Zambujal - 2610-192 Amadora | T: 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 Agualva-Cacém | T: 214 265 414 | saomarcos@consolata.pt

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vida com vida

Irmão Francisco Ratti

Gigante por fora e por dentro

Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

“Pobre de condição social, ótima saúde, robusto como Hércules, pedreiro de marca. Tem uma vontade enorme de se sacrificar pelo Senhor. Tenho a certeza que vai ser um sucesso!” Assim o descreve o seu pároco ao apresentá-lo aos Missionários da Consolata. Francisco nasceu na Lombardia, Itália, em 13 de outubro de 1906. Depois da escola primária, fica em casa a ajudar a família que escassos meios tem para viver. Depois do serviço militar deixa-se engolfar em teorias irreligiosas e subversivas. Um dia, para diante duma imagem da Virgem Maria e um mundo de doçura invade o seu coração. E promete consagrar a sua vida aos mais pobres como missionário. Com a força e o corpanzil que tem, faz-se irmão missionário da Consolata. Em 7 de outubro de 1935 concretizase o que ele chama “a maior paixão do seu coração e da sua vida” – a profissão perpétua. Um ano depois parte para as missões do Quénia. E entra em cena o mafarrico: o irmão Francisco tem de passar quatro anos como prisioneiro em campos de internamento militar durante a Segunda Guerra Mundial. Terminada a prova, passa um período de descanso na sua terra

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Fátima Missionária

natal. É recebido em triunfo pela vila em peso e pela banda musical local. E ele prega-lhes um sermão: “Cada um de vós é soldado na luta pelo bem, e as batalhas vencem-se com a oração e uma genica desmedida” – e aponta para o sacrário e a estátua da Virgem Maria. E ei-lo de volta para as suas queridas missões do Quénia. Começa a construir igrejas e capelas. Gigante e entusiasta, trabalha “como quatro juntas de bois e come como meia dúzia de lobos esfomeados”. E chegam os diabetes e uma dieta que o manda comer como um menino franzino. Dizialhe um missionário: “Olha que se não observas a dieta, morres”. E o gigante Francisco: “Morrer de fome ou dos diabetes é a mesma coisa. Se não como, como posso construir igrejas? A dieta que vá passear”. Nestes anos vive como que numa viagem de lua de mel com a missão: construir igrejas enchia-o de entusiasmo e comoção. O temperamento impetuoso vai amainando. Em 1963 a doença obriga-o a voltar para a Itália. Vai caindo o pano da vida. Prodiga atenções especiais e divertidas aos confrades, quer ser útil a todos. No dia 14 de maio de 1967 parte para a nova missão no Céu, onde provavelmente se ocupa agora a retocar as linhas da construção da Igreja Santa de Deus.


O QUE SE ESCREVE

Os Padres da Igreja e a Misericórdia

Foram também eles grandes mestres dos primeiros séculos do cristianismo. Sobressai neste livro de modo particular Santo Agostinho, o cantor por excelência da misericórdia divina, mas propõem-se também alguns dos textos mais significativos e sugestivos dos padres da Igreja do Oriente e do Ocidente, geralmente pouco conhecidos. Útil neste Ano Jubilar na catequese, na lectio divina e na oração, para sustentar e alimentar a fé.

A Lista do Padre Carreira A história desconhecida do português que escondeu refugiados durante a Segunda Guerra Mundial

O subtítulo deste livro já diz muito. Joaquim Carreira, padre português nascido na Caranguejeira, uma aldeia próxima de Fátima, arriscou a sua vida para esconder e proteger centenas de judeus e dissidentes numa Roma ocupada pelos nazis. Fê-lo no Pontifício Colégio Português, do qual se tornara reitor em 1941. Pelos seus feitos e coragem, 70 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, foi tornado “justo entre as Nações” pelo Yad Vashem, o Memorial do Holocausto de Jerusalém. António Marujo, jornalista de renome, oferece-nos neste precioso livro uma visão pormenorizada do homem e do momento histórico em que viveu, fruto de uma longa investigação. É imperativo ler. Autor: António Marujo 205 páginas | preço: 15,98 € Vogais 20|20 Editora

Autor: Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização 116 páginas | preço: 8,90 € Paulus Editora

Identidade e Missão do Religioso Irmão na Igreja

Este documento sublinha a grande riqueza e atualidade da vocação dos irmãos na vida consagrada. O seu conteúdo é muito válido e até inovador à luz do Vaticano II. A identidade e a missão do irmão religioso pode resumir-se na fraternidade como um dom que o irmão recebe de Deus Trindade, comunhão de pessoas. Dom que o irmão partilha com os outros membros da comunidade e que oferece ao mundo para a sua construção. Autor: Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica 70 páginas | preço: 5,00 € Paulus Editora

A Fonte inesgotável da Graça

Diz acertadamente o padre Dário Pedroso, sj, no prefácio, que este livro é um precioso contributo para nos ajudar a conhecer, a amar, a venerar, a glorificar e a reparar o Sagrado Coração de Jesus que é a ‘verdadeira e única fonte’ da graça, da santidade, do amor, da perfeição. “Ajuda-nos a penetrar um pouco mais nesse mistério insondável que é o Coração do Redentor, Coração do Bom Pastor, do Bom Samaritano, de Salvador, de Amigo de pecadores”. Autor: Maria Stella Salvador 244 páginas | 12,90€ Paulus Editora

Manual do animador perfeito 10 conselhos para não fazer perder a fé aos jovens

Não basta a boa vontade para ser um bom animador de pastoral juvenil. É preciso técnica e profissionalismo e saber fazer voluntariado de maneira competente. O autor deixa aqui 10 conselhos muito práticos para o exercício de uma boa animação juvenil. Do simples cartaz à organização de um encontro de oração dão-se princípios práticos para ajudar os adolescentes no crescimento da fé. Autor: Diego Goso 112 páginas | preço: 7,90 € Paulus Editora

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MEGAFONE

por albino brás

“Por último, mas em primeiro, [QUERO] ir falar com o meu maior amigo [Jesus] e sua mãe [Maria]. Dedicar-Lhe esta conquista e agradecer-Lhe por ter sido convocado e por me conceder o dom da sabedoria, perseverança e humildade para guiar esta equipa e Ele a ter iluminado e guiado. Espero e desejo que seja para glória do Seu nome” Fernando Santos treinador da seleção portuguesa de futebol, na conferência de imprensa após a vitória de Portugal no Euro 2016

“Nunca chegarás ao teu destino se paras a atirar pedras a todo e qualquer cão que te ladre” Winston Churchill (1874-1965), político e estadista britânico

“Para que queremos as crenças religiosas se perdermos os mais elementares sentimentos humanos” José Maria Castillo teólogo espanhol

“Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe, não praticar o que se ensina e não perguntar o que se ignora” São Beda (672-735) monge inglês

“A fé em Deus consiste em abrir-se, em deixar-se ir, numa confiança profunda, num ato de amor” Yann Martel escritor canadiano 34

Fátima Missionária

“Não procures ser melhor que os outros, procura ser melhor do que eras ontem” Carlos Hilsdorf economista, conferencista brasileiro


TERRA

Peregrinação

SANTA COM OS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

29 outubro / 05 novembro 2016

TEL AVIV TibErÍaDEs CAFARNAUM Tabor CESAREIA HAIFA SÃO JOÃO DE ACRE NazarÉ CANÁ JERUSALÉM Belém

Ein KareN

Ein Karem

mais informações

917 513 575

boa partida LisPorto comde do e


Devaneio de um caminhante Nada começa em nós. Nada termina em nós. Carregamos, todos, o peso da história que antecedeu a chegada, quer a conheçamos ou desconheçamos. Somos a herança genética de quem nos precedeu, somos do lugar onde nascemos, onde fomos criados, onde chorámos as primeiras lágrimas, somos do sol que nos aqueceu ou do frio que nos enregelou. Seremos, também, do lugar onde choraremos as últimas lágrimas,

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Fátima Missionária

somos o somatório das histórias que contamos, das que ocultamos, das que não conseguimos escrever, das que contam por nós, e das que nos contam. Somos a sombra e o sol dos dias. Somos como as estações do tempo, mas, as nossas, ocorrem em tempos diversos, com duração indefinida, sem nunca podermos saber o quando, o onde e o como. Arnaldo Afonso da Fonte


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