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Ano LVIII | AGOSTO/SETEMBRO 2012 | Assinatura anual | Nacional 7,00¤ | Estrangeiro 9,50¤
Voluntariado
DEIXAM TUDO para viver com os índios
Consolata abRE novas casas 10 Missionário traduz bíblia em “xitshwa” 14 MÉXICO QUER 18 MENOS POBREZA
CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA
NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS
Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.
MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA
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editorial
sentido obrigatório
As famílias estão a resistir com dificuldade à pobreza crescente e avassaladora que resulta da presente recessão económica. Até quando? Aumenta, de dia para dia, o número de pessoas que vivem na indigência. As estatísticas apresentam números preocupantes que acentuam uma desigualdade social reveladora de privações materiais pesadas, sem disponibilidade de rendimento suficiente para viver com um mínimo de dignidade. O número de inscritos nos centros de emprego aumentou 24,5% em junho, face ao mesmo período do ano passado. Os desempregados atingiram agora os 645.995, isto é, mais 127.250 em apenas um ano. Os jovens com menos de 25 anos são os mais afetados. Chegam aos 37,1% . O grupo mais fragilizado são as famílias com dois ou mais filhos ou em que um, ou os dois cônjugues, perderam o trabalho. A pressão fiscal iníqua não poupa os grupos mais desfavorecidos, gerando maior desigualdade em relação às classes mais abastadas. As poupanças das famílias têm vindo a diminuir drasticamente. Faltam medidas capazes de proteger as famílias que têm mais filhos e que se encontram em situação de pobreza absoluta. Mais pobres e sem recursos, não podem ser abandonadas e a sua difícil situação requer atenção e alguma urgência. As praças e ruas de vários países europeus têm vindo a encher-se de manifestantes, que clamam por ajuda e maior justiça. Os protestos alertam para o peso que está a tornar-se insuportável e não podem deixar indiferente quem tem o poder de decidir. Os seus gritos não podem ser ignorados. No meio de uma devastadora crise económica e de emprego, o povo precisa de medidas para avistar a luz da esperança ao fim do túnel.
A crise não afeta igualmente todos os estados europeus Nem todos experimentam os graves problemas de orçamento e do sistema económico financeiro. Todavia nenhum líder europeu pode sentir-se tranquilo e em paz com a sua consciência política. Sabem-no bem a senhora Merkel, o francês Hollande, o holandês Mark Rutte e o italiano Mário Monti. A crise já tem muitos anos e tem vindo a causar Unir forças para que a “casa comum” sucessivas vítimas no velho continente. Enquanto os países do Norte apresentam maior capacidade seja um espaço unido e integrador para gerir as contas públicas, os do Sul debatem-se dos povos e estados com as suas com graves problemas de estabilidade e não podem culturas, capaz de ultrapassar ser deixados à deriva. Lisboa, Dublim, Atenas, Roma, obstáculos e barreiras Nicósia e, quem sabe quando, as capitais do Leste clamam por uma união de forças. Os abanões que sacodem a Europa requerem a prática de diversas virtudes que fazem parte do património cultural e moral europeu. Entre outras, emerge a necessidade do sentido de responsabilidade com quem se encontra em dificuldade, mesmo que não esteja isento de culpas; o espírito de solidariedade, até mesmo para evitar males maiores; os naturais apelos ao rigor e ao sacrifício. Mas a porta de saída da crise passa por cerrar fileiras à volta do projeto europeu. Os estados são chamados a unir forças para que a “casa comum” seja um espaço unido e integrador dos povos e estados com as suas culturas, capaz de ultrapassar obstáculos e barreiras. Só assim se poderá avançar com segurança e com maior equidade para o futuro. EA Agosto/Setembro 2012
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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA
Nº 8 Ano LVIII – AGOSTO/SETEMBRO 2012 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 26.900 exemplares Diretor Elísio Assunção Chefe de Redação Francisco Pedro Redação Elísio Assunção, Manuel Carreira Colaboração Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos e Magda, Carlos Camponez, Darci Vilarinho, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; Diamantino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira; Álvaro Pacheco – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio Assunção e Arquivo Capa e Contracapa Ana Paula Ilustração H. Mourato e Ricardo Neto Design e composição Happybrands e Ana Paula Ribeiro Administração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ (inclui o IVA à taxa legal) Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal
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MÉXICO QUER MAIS DEMOCRACIA E MENOS POBREZA
03 EDITORIAL Sentido obrigatório 05 PONTO DE VISTA Ser e parecer 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Mamã, papá, tenho um segredo! 08 MUNDO MISSIONÁRIO Analfabetismo acrescenta pobreza em Angola
Guerra na Síria gera um extraordinário espírito solidário Desiquilíbrios sociais aumentam na União Europeia Exposição missionária já foi visitada por mais de 41 mil pessoas 10 A MISSÃO HOJE Consolata reforça proximidade com abertura de novas casas 11 FIO DA HISTÓRIA De Marchi apresenta-se ao reitor 12 A MISSÃO HOJE Nova evangelização: a que desafios quer responder? 13 DESTAQUE Dois anos de “Primavera Árabe” 14 ATUALIDADE “Eles vibram quando encontram a palavra de Deus na própria língua” 16 ATUALIDADE “Vida pessoal também se realiza no ato de construir para os outros” 22 GENTE NOVA EM MISSÃO A festa das férias 24 TEMPO JOVEM Fortificar os laços 26 SEMENTES DO REINO Ele está no meio de nós 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHa 31 VIDA COM VIDA Homem de muitos ofícios 32 OUTROS SABERES Líderes movem massas 33 A MISSÃO É SIMPÁTICA 700 anos a percorrer o mundo 34 FÁTIMA INFORMA Fé e arte, por terras de Nossa Senhora
ponto de vista
Ser e parecer
texto João César das Neves *
«Porque não há nada escondido que não venha a descobrir-se, nem há nada oculto que não venha à luz» (Mc 4, 22). Os últimos tempos têm mostrado a verdade desta afirmação. Múltiplos casos de pessoas, sobretudo poderosas, pretenderam mostrar-se diferentes do que são, ocultar atos censuráveis ou enveredar por negócios de reduzida transparência. Esses depois viram tudo isso nas primeiras páginas dos jornais e, pior, obsessivamente analisado e espiolhado por muitos, incluindo agentes da autoridade. Assim se cria a longa sequência de escândalos que nos tem ensombrado. O clima de crise propicia este tipo de situações e provavelmente o surto deve-se apenas a isso. De facto é difícil provar e ocioso discutir se hoje as pessoas são mais ou menos atrevidas ou desonestas que em épocas passadas. Também pode acontecer, como dizia Chesterton, que o mundo não esteja pior, mas sejam os jornais que estão melhores. O que não há dúvida é que os casos de escândalos de vária ordem têm-se multiplicado a vários níveis. O primeiro elemento que surpreende é que alguém tente uma coisa dessas. Há até casos incríveis, em que o atrevimento parece inacreditável. Com frequência são pessoas que até tinham uma carreira bem orientada e deitam tudo a perder com um risco inútil e desnecessário. Isto é um bom aviso. Sabemos como as circunstâncias podem embrulhar qualquer um numa espiral de males que leva à perdição: «A todo aquele que tem, há de ser dado, mas àquele que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado» (Lc 19, 26). Em seguida coloca-se a questão de saber como os cristãos devem enfrentar coisas destas. Aí há vários cuidados a ter. Devemos começar pela consciência de que existe uma concupiscência dos olhos (cf. 1Jo 2,16), que nos delicia na contemplação do mal alheio. Muita gente peca por procuração, saboreando a miséria de histórias que nunca se atreveria a cometer. A imprensa aproveita-se disto para o obsessivo relato dos pormenores dos casos, assim gerando uma indústria de pecado enlatado, que se pode consumir de forma asséptica no conforto do lar. É decisivo repudiar essa atividade. Uma coisa é a saudável denúncia do mal, que deve ter sempre por finalidade o bem comum e nunca esquecer a caridade para com os acusados. Outra é a orgia de acusações e calúnias com que os novos meios de comunicação nos inundam diariamente. Basta ver-nos a nós ou a alguém que conheçamos tratado desta maneira para tomar consciência da extrema violência e injustiça deste processo, para mais feito em nome da equidade. Muitos até invocam a expulsão dos vendilhões do templo para envolver Jesus nas suas indignações. Mergulham em pleno no caudal de injúrias contra quem discordam, anunciando fazê-lo em nome d’Aquele que usou o chicote de cordas em Jerusalém. Esquecem que a razão desse comportamento tão insólito do sempre pacífico Jesus era: «O zelo da tua casa me devora» (Jo 2, 17, cf. Sl 69(68),10). Ou seja, só por graves ofensas ao Altíssimo Jesus fez o que apenas fez uma vez. Invocar esta história para justificar os nossos chicotes é fazer da casa de Deus um covil de ladrões. O mundo tem muito mal, como sempre teve. A nossa atitude deve ser a de anunciar a alternativa salvadora e ser já presença viva dela no mundo contemporâneo. * professor universitário
Agosto/Setembro 2012
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leitores atentos
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Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o número ou nome do assinante. Na folha onde vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos estimados assinantes renovem a assinatura para 2012. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os donativos para as missões são dedutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.
Diálogo aberto Envio-lhe esta pequena lembrança; é pouco, para o que os senhores precisam, mas é dado de coração. Desde há muito que sou assinante da revista missionária, de que muito gosto, pelo que fala das missões, tudo o que ela contém é rico; aprecio muito “A palavra faz-se missão”, porque me ajuda a compreender as leituras do domingo. Termino
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Assinante nº 200
Estimados amigos, Sou assinante nº 200. Tem esta carta o fim de vos enviar o pagamento da revista, que muito aprecio. Depois de a ler, dou-a sempre a algum amigo, para que fique também a conhecê-la e a saber quão grandes são as vossas ações missionárias por esse mundo além. Bem hajam! Que o Senhor vos dê saúde e forças para tão grande apostolado. Só quem conhece África e não só, sabe quanto é difícil a vida por lá. Que Deus vos acompanhe e vos guarde de todos os perigos e tentações. Odete NR Fez bem em recordar-nos que é assinante nº 200. Felicitamos a senhora, não só por ter um número tão redondinho, mas sobretudo porque é uma assinante de longa data, quer dizer dos primeiros tempos da revista. Onde isso já vai!
me dá. Desde o primeiro número que tenho empatia com alguns colaboradores: São os missionários Tobias de Oliveira e Norberto Louro. Sigo com muito interesse o percurso de vida do primeiro e gostava de ser amiga dos dois. São meus amigos pelo que me ensinam. Parabéns e continuem com este trabalho missionário. Maria
Admiradora
Ex.mos Senhores, Faço votos para que todos quantos trabalham na FÁTIMA MISSIONÁRIA se encontrem bem. Que o Senhor Jesus vos dê saúde e força para continuarem o vosso maravilhoso trabalho de entrega e amor ao próximo. Feliz daquele que põe a sua vida ao serviço dos mais fracos e oprimidos, porque será grande a sua recompensa no céu. Lourdes
Uma opinião
Decidi enviar um pequeno apontamento de opinião. Há poucos anos que conheço, ou melhor tenho acesso, à «Nossa Revista». Foi tarde, mas valeu a pena. É uma leitura que me dá muita satisfação pelo conhecimento e cultura geral que
pedindo a Deus que dê muitas vocações religiosas. Alcina A senhora Alcina dá-me a oportunidade de realçar uma frase que ela usa na sua carta. E é quando diz que aprecia muito o texto “A palavra faz-se missão”. Como todos sabem essa página é escrita pelo padre Darci Vilarinho que reside na casa dos missionários da Consolata na paróquia da Palmeira, perto de Braga. Há muitos anos que ele se encarrega
desta página, e fá-lo sempre com muito agrado dos leitores. Muitos nos têm escrito a agradecer. Era aqui que eu queria chegar. Nós, que preparamos a revista, gostaríamos de saber a opinião de outros leitores a respeito dos vários temas tratados. Ganhem coragem! Podem mandar por email, por correio normal ou até por telefone. Há leitores atentos que já o fazem. Fazei-o vós também! MC
horizontes
MAMÃ, PAPÁ, TENHO UM SEGREDO! texto TERESA CARVALHO ilustração JOSÉ LOURO Carlota estreia os patins num vaivém entre a sala e a cozinha enquanto os pais preparam o jantar. Passa pelo meio de ambos, atrapalhando-os e dando uma gargalhada daquelas que gravam felicidade no coração dos pais. Na vivacidade dos seus cinco anitos gosta de “ser menina” mas também de “ser grande”. Sabe “ajudar de verdade” e encontra muitas formas de o fazer – Vamos jantar, Carlota! – Hum, que cheirinho! A lamber-se, Carlota termina “os treinos” e encavalita-se na cadeira. – Olha, papá, o teu peixe está a ficar mais pequenino – enquanto belisca o peixe do prato do pai. – Oh, nãoooo! – Luís simula uma luta com Carlota tentando, no meio de gargalhadas, reaver o peixe “roubado”. É assim que se vive em casa de Carlota, numa harmonia que os três constroem todos os dias. Sentem-se tão felizes neste cantinho que pensar em mudar o seu modo de vida dá-lhes medo. Mas, Paula e Luís vêm-se hoje confrontados com a necessidade de desafiar esse medo. Para isso, precisam de Carlota. – Filha, hoje depois do jantar, vamos fazer uma reunião de família. O papá e a mamã precisam da tua ajuda para decidir sobre um assunto muito importante. É tão importante que só podemos falar dele na reunião. – Uauh! Vamos comer depressa, ‘tá’ bem? Com Carlota a apressar todos, a reunião chegou rápido. Carlota sentou-se no sofá numa postura que supõe ser própria de uma
“reunião”. O pai e a mãe sentaram-se um de cada lado. Paula deu início à reunião. – Carlota, o assunto da reunião é a tua priminha Júlia. Ela está a precisar de ajuda porque os papás dela estão muito doentes. – Eles vão morrer como a avó? – Não, querida, mas a doença deles não tem cura. Por isso não podem cuidar da Júlia e ela está muito triste. Queres ajudar a Júlia? Gostavas que ela viesse morar para a nossa casa como se fosse uma maninha tua? – E ela não vai estragar as coisas, mamã? Nem me vai empurrar mais vezes? Se calhar ela fazia isso porque estava triste por causa dos pais! – Era mesmo, minha querida! – E vocês querem ser papá e mamã dela? – Só se tu quiseres ser maninha dela! – Ela ficava mais contente se viesse para a nossa casa? – Ficava. Ficava muito mais feliz do que está agora. – Vocês sabem, vou contar um segredo: Eu tenho uma estrelinha
no meu coração e eu falo com ela. Ela ajuda-me a ser amiga e a andar contente… dá-me muito amorzinho, tanto, que dá para ajudar muita gente, também a Júlia! Carlota foi ao seu quarto, trouxe uma boneca das suas preferidas, a Bia, e determinou: – Tenho muitas, mamã! A Bia vai ajudar a Júlia a ficar feliz. A fingir que é a minha estrelinha! Paula e Luís choraram de felicidade pela sua filha. Não lhe podiam explicar que os pais de Júlia eram toxicodependentes sem esperança de recuperação; que Júlia corria o risco de ser institucionalizada, se não a protegessem; que a história de Júlia a tem deixado com olhos e coração de menina triste e muito só… Mas um dia – esperam – verão Júlia a ser “menina feliz”, trazendo consigo a bênção de criança que nasceu para “ser grande”!
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mundo missionário texto E. Assunção fotos lusa
Analfabetismo acrescenta pobreza em Angola
Desastres, calamidades e guerra deixaram marcas profundas de pobreza na vida das populações do Lubango, Angola. Segundo um estudo recente de uma organização não governamental, a situação agrava-se com o alto índice de analfabetismo que se regista nas aldeias da província de Huíla, juntando-se à precária organização administrativa, à falta de estruturas e à baixa produtividade. As consequências são evidentes: um desenvolvimento quase nulo, que não ajuda a arrancar da pobreza as populações. O programa de combate à fome e à pobreza está a produzir resultados positivos. Mas de pouco servem os esforços, sem o acesso da população à educação. A redução da pobreza e a criação de melhores condições de vida passam pelo combate do analfabetismo, até à sua total erradicação.
Guerra na Síria gera um extraordinário espírito solidário
Famílias cristãs que abandonaram as suas casas por causa da violência estão hospedadas em casa de famílias muçulmanas. Ao invés, cristãos acolhem famílias muçulmanas. Multiplicam-se no seio da sociedade síria iniciativas espontâneas de solidariedade para mitigar o sofrimento das vítimas da guerra civil. Uma larga maioria da sociedade civil síria recusa este conflito que está a devastar e a paralisar o país. Homens e mulheres de boa vontade, de todas as etnias e religiões rejeitam o sectarismo e a lógica perversa de um conflito que já causou mais de dois milhões de deslocados, obrigados a abandonar as suas cidades e aldeias, procurando abrigo em lugares mais tranquilos.
Missão lá missão cá
Tobias Oliveira, missionário da Consolata português,
de férias em Portugal
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Já não é a primeira vez que me refiro ao facto de a ação missionária dizer mais respeito a um estilo de vida do que a um espaço geográfico. Fala-se de missões ultramarinas e eu mesmo, em tempos, defendi que para ser missionário se deve partir para as missões. Neste momento em que me foi pedido para deixar a África, vejo mais claramente que há muito quem é missionário na sua própria terra. Foi assim com a padroeira das missões Santa Teresinha; é assim com aqueles leitores que, pela oração, pela ação, e até mesmo pelo sofrimento, tornam Jesus Cristo
Desiquilíbrios sociais aumentam na União Europeia
Mais de 20 pontos percentuais separam o país com maior e o país com menor taxa de desemprego na União Europeia dos 27 (UE). Os dados do mercado de trabalho publicados pelo Eurostat, o organismo de estatísticas da UE, revelam uma tendência para o crescente aumento do número de desempregados nos países da zona euro. Enquanto na Áustria os cidadãos sem emprego chegam a 4,1 por cento, na Espanha são 24,6 por cento. Entre os países com maiores dificuldades neste âmbito estão Grécia, Portugal, Eslováquia e Bulgária. No que diz respeito à população juvenil, mais uma vez a Espanha lidera o ranking com 52,1 por cento. Entre as nações que se aproximam dos 40 por cento de jovens desocupados, estão Portugal, Itália e Grécia.
conhecido e amado, embora nunca partindo para as missões. De facto, a missão está, acima de tudo, no coração, no modo de manifestar Cristo a quem O não conhece. Nós missionários, embora sabendo que Jesus nos envia a todo o mundo, devemos também responder às necessidades desta velha Europa. A isso convida-nos a própria Igreja, ao falar de nova evangelização. Ao vir agora de férias a Portugal, fiquei contente em saber que os Missionários da Consolata aceitaram, nestes dias, a responsabilidade pastoral e evangelizadora do Zambujal e de São Marcos, nos arredores de Lisboa. Também cá é missão.
Exposição missionária já foi visitada por mais de 41 mil pessoas
A uma média de 700 visitantes por dia, a exposição missionária «Alarga o espaço da tua tenda», patente na cripta da Igreja da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima, já foi apreciada por mais de 41 mil pessoas, em dois meses. «Tem sido um instrumento válido e uma boa ocasião para fazer catequese e divulgar a missão», disse à FÁTIMA MISSIONÁRIA o padre Eugénio Butti, do Instituto Missionário da Consolata (IMC). Dos quatro núcleos que compõem a mostra, o que mais tem despertado o interesse dos visitantes é o que dá a conhecer os missionários de várias épocas e geografias. Não só pela história de cada um, mas sobretudo pelo facto de existirem diversos espelhos espalhados pela sala, num convite a que todos sejam o rosto da missão. «As pessoas ficam encantadas ao descobrir que também elas fazem parte do desafio missionário», acrescentou o sacerdote. Organizada pelos Institutos Missionários Ad Gentes (IMAG), em parceria com o Santuário de Fátima, a exposição tem dois objetivos: dar a conhecer a história e a dimensão teológica da missão e convocar os cristãos a responderem positivamente aos novos desafios da Igreja missionária. Está aberta todos os dias, das 09h00 às 19h00, até 31 de outubro.
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a missão hoje
Grupos da Família Missionária da Consolata em Fátima em procissão para o altar
Consolata reforça proximidade com abertura de novas casas A diocese de Coimbra, a paróquia de São Marcos (Sintra) e o bairro do Zambujal (Amadora) vão ser as novas frentes de trabalho dos Missionários da Consolata em Portugal. Pretende-se fortalecer a presença junto dos estudantes universitários, dos que sofrem com a doença e dos que lutam contra a exclusão social texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA A escolha de uma árvore como símbolo da apresentação dos projetos e destinações para os próximos anos dos Missionários da Consolata em Portugal teve um duplo sentido. Mostrar que há raízes muito fortes, feitas de um passado rico em missão e espiritualidade, e sugerir que desta ‘árvore’ – que é toda a Família Missionária da Consolata – podem sair sementes, suficientemente férteis para construir um
futuro pleno de evangelização, de verdadeiro auxílio a quem mais precisa de apoio e de valores. «Queremos ter uma presença significativa do ponto de vista do nosso carisma, da missão que Deus nos confiou, para servir o melhor possível as pessoas que estão ao nosso lado. E isso só se faz quando não temos medo de questionar e dar passos que nos podem ajudar a redescobrir a nossa identidade», afirmou o Superior Provincial, padre António Fernandes, no encontro com os missionários e grupos de leigos, no início do mês de julho, em Fátima. Seguindo esta linha de orientação, vai ser aberta uma nova residência missionária no bairro do Zambujal, no concelho da Amadora, para dar continuidade ao trabalho que tem vindo a ser feito com as comunidades locais, sobretudo as mais jovens. Em São Marcos, o foco principal do trabalho pastoral irá centrar-se no Hospital Amadora-Sintra, para onde foi destacado um missionário para exercer as funções de capelão hospitalar. Em Coimbra, a nova equipa missionária (ver infografia) terá como principal desafio o acompanhamento e fortalecimento dos laços com a realidade universitária. No âmbito do tema escolhido para o próximo ano pastoral (Fé, Missão e Martírio), foram ainda anunciadas várias conferências, sessões formativas e retiros espirituais.
Hora Allamano em Águas Santas Há dias, quando nos reunimos em Eucaristia, Em Águas Santas tem-se vivido com entusiasmo a [H]ora Allamano. Todos os ramos da Família Missionária da Consolata reúnem-se em oração. Acontece às 21h00 do 16 de cada mês. As sementes desta oração estão a ser lançadas e não sabemos que frutos vão dar. Porém há factos que acendem em nós a chama da esperança. 10
demos conta que, no final da celebração, uma senhora recolheu e levou consigo um punhado de folhetos da [H]ora Allamano, certamente para reunir a família e amigos neste momento de oração sugerido pelo folheto. O tempo mostrará que esta e muitas outras sementes caíram em boa terra!
Destinações FÁTIMA Padres (6) Agostinho Silva Antonio Rossi Aventino Oliveira Darci Vilarinho Eugenio Butti Manuel Carreira
fio da história
Irmãos (3) António Gonçalves João Alfaiate José Afonso
Águas Santas Padres (4) Seminarista (1) Eduardo Frazão Herculano Silva Norberto Louro Ramón Cazallas
LISBOA (Casa Regional) Padres (4) António Fernandes Carlos Domingos Elísio Assunção Jaime Marques
Antipas Tesha
Irmão (1) Albino Henriques
PALMEIRA (BRAGA) Padres (4) André Ribeiro João Monteiro Serafim Marques Jorge Amaro (Missão itinerante)
SÃO MARCOs (nova) Padres (4) David Kuzenza Fernando Rocha João Baptista Coelho José Barros (Capelão do Hospital Amadora-Sintra)
COIMBRA (nova) Padres (3) António Gaspar João Batista Amâncio Luís Brito
ZAMBUJaL (nova) Padres (3) Albino Brás Mário Campos Luís Maurício Guevara
De Marchi presenta-se ao reitor texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO Com o padre João De Marchi nada acontecia por acaso. A sua vinda para Fátima foi deveras providencial. Fátima era naquele tempo uma pequena aldeia com meia dúzia de casas. Sobressaía o Santuário, com todas as suas estruturas. A primeira coisa que o padre De Marchi fez, e bem, foi apresentar-se ao reitor do Santuário, e dizer-lhe ao que vinha: trazia licença do senhor bispo, D. José Alves Correia da Silva, para se instalar em Fátima e abrir um seminário para formação de futuros missionários. Condição imposta pelo prelado: que o padre De Marchi ajudasse nas confissões e outros serviços religiosos do Santuário. Esta condição que, à primeira vista, podia parecer uma cláusula negativa, acabou por ser, afinal, uma mais valia para a realização do projeto que o padre De Marchi tinha em vista. Sendo ele estrangeiro precisava de alguém ou alguma coisa que o lançasse no conhecimento dos párocos e de outras personalidades e até mesmo dos peregrinos. Precisava de vocações, de professores e de apoio financeiro para custear as despesas que se adivinhavam. O Santuário foi o trampolim que o catapultou para estas alturas. Agosto/Setembro 2012
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a missão hoje
NOVA EVANGELIZAÇÃO: A QUE DESAFIOS QUER RESPONDER?
rotineiro das suas comunidades requerem o retorno às nascentes da fé. É preciso encontrar-se de novo com o Senhor ressuscitado, para exclamar com alegria: “Vimos o Senhor!”. As comunidades cristãs são o lugar normal para viver esta experiência mediante a escuta da Palavra, a vivência litúrgica, a comunhão e a entreajuda fraternas.
No começo da evangelização, a Igreja lançou-se na aventura do anúncio e testemunho de Jesus Cristo movida pelo Espírito Santo e pelos sinais e apelos exteriores. As pessoas eram cativadas pela palavra dos apóstolos e pela vida admirável Não só Palavra e obras, mas da comunidade dos crentes. Como há de ser a sobretudo testemunho pessoal nova evangelização a que a Igreja é chamada? e comunitário. Hoje vem mais em texto Padre Jorge Guarda foto ANA PAULA Mostrar o Evangelho vivido por pessoas e comunidades do mundo atual é o grande desafio. A secularização, o pluralismo de crenças e de modelos de vida, a ciência e a técnica e muitos outros fatores da sociedade não podem amedrontar os cristãos, mas interpelá-los. Hão de corresponder ao apelo e impulso do Espírito a entrar nos ambientes do mundo, a levantar neles a questão de Deus
Bispo de Roraima, Roque Paloschi, entre os índios de Maturuca, norte do Brasil
e testemunhar o Evangelho como luz que ilumina a vida dos homens. Redescobrir e testemunhar a alegria da vida cristã. O ar cansado de muitos cristãos e o ambiente
A Igreja não está sozinha nesta missão: há sinais e dons do Espírito que a impelem, iluminam e ajudam
evidência o mandato missionário de Jesus: “Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei”. (Jo 13, 34-35). O estilo de vida dos cristãos deve tornar-se atrativo, despertar interesse, mostrar que a graça de Cristo transforma as pessoas e as torna capazes de amar todo o próximo. O sujeito da nova evangelização é a Igreja no seu todo. A irradiação dos dons de Cristo é dinamismo que envolve todos os batizados: quem recebeu o dom da fé é impelido ao testemunho. E todos vivem, vibram e sofrem com a missão: nuns sítios o Evangelho alastra e é motivo de alegria, noutros há recusa e perseguição. Mediante a comunhão de experiências, apoio espiritual e colaboração ajudar-se-ão uns aos outros. É a Igreja como corpo vivo de Cristo que evangeliza. A Igreja não está sozinha nesta missão: há sinais e dons do Espírito que a impelem, iluminam e ajudam. Os progressos científicos e tecnológicos põem à disposição meios que facilitam a difusão do Evangelho. A busca espiritual espera encontrar cristãos e comunidades que saciem de bondade, beleza e verdade os corações humanos com os dons de Cristo. O Espírito Santo está em ação na Igreja, com iniciativas que a dinamizam e geram testemunhos vivos do Evangelho. Só pelo Espírito a Igreja é capaz de repensar a prática pastoral e a vida das comunidades cristãs e fazer as necessárias mudanças.
Texto conjunto MISSÃOPRESS
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destaque
Estado, religião, fundamentalismo e democracia
Dois anos de “Primavera Árabe” texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA «Não pretendemos fazer do Iémen um estado religioso. (…) A religião é uma fonte de inspiração sem estar em desacordo ou em incompatibilidade com a democracia». As palavras são de Tawakkul Karman, laureada com prémio Nobel da Paz, e de alguma forma exprimem uma das grandes incógnitas da denominada primavera árabe, desde que o Médio Oriente e o Norte de África foram sacudidos por várias manifestações, revoluções, guerras civis, exigindo reformas políticas. Desde o início que alguns intelectuais europeus foram acusados de serem ora ingénuos sobre o que se passava nos países
árabes, ora de se mostrarem demasiadamente contidos, por vezes, mesmo, pouco solidários face a um movimento de base democrática em defesa de mudanças políticas e sociais. Uma das razões desse posicionamento tinha a ver com o receio de a democracia servir de trampolim para regimes políticos teocráticos e para o domínio de partidos que nada tinham de democrático.
Do Norte de África ao Médio Oriente
Já antes tinha acontecido na Argélia, teme-se agora que o mesmo venha a acontecer na Tunísia e no Egito com a chegada de partidos islâmicos ao poder. Na Síria, grassa a guerra civil. No Líbano, temem-se os riscos de contágio do conflito sírio, pondo em confronto os defensores e os opositores de Bachar Al-Assad . Na Líbia, ainda não é claro que o país se consiga reunir em torno de um sentimento nacional, enquanto as armas do que resta do conflito que levou ao fim do regime de Muammar Kadhafi desestabilizam o Mali e o Sudão. Na Argélia, a Frente Nacional de Libertação, no poder desde a independência, manteve
o poder. Em Marrocos, a monarquia alauita – que vai já na sua 23.ª dinastia com Mohammed VI – encetou um programa de reformas do regime, esvaziando, assim, os primeiros sinais que se fizeram sentir de contestação ao regime. No seu conjunto, os países do Golfo vão contando com os recursos do petróleo para conter os sinais de contestação interna, aumentando os salários da função pública e dos militares, reforçando as políticas sociais e investindo nas políticas de emprego. O Irão, que normalmente não integra a geopolítica da primavera árabe, não está, no entanto, fora do que se passa à sua volta, sobretudo tendo em conta que ele está também no centro de um conflito entre xiitas e sunitas que o opõe às monarquias do Golfo. Entre o islão oficial, os partidos no poder e os movimentos islâmicos integristas, entre o Estado laico e o poder religioso, eis pois as grandes questões da equação que a primavera árabe pôs em movimento e que não se deslindarão a curto prazo.
Manifestação de jovens estudantes Iemenitas da Universidade de Sana
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atualidade
MOÇAMBIQUE Bíblia aguarda financiamento
A atividade missionária assenta na formação de catequistas e líderes das coomunidades
“Eles vibram quando encontram a palavra de Deus na sua própria língua” A trabalhar em Moçambique há 25 anos, Alceu Agarez, padre missionário da Consolata, natural de Murça, já se sente mais africano do que europeu. Descontraído por natureza, gosta de estar com o povo, de partilhar costumes e culturas, de reinventar novas formas de evangelizar. Esta disponibilidade levou-o a entregar-se de corpo e alma à tradução da Bíblia para a linguagem mais utilizada pela população de Inhambane. Uma tarefa árdua, que está concluída, mas ainda não tem financiamento assegurado para cumprir a sua verdadeira função: tornar o Evangelho acessível a todos os que vivem naquela província moçambicana texto FRANCISCO PEDRO fotos ANA PAULA 14
Alceu Agarez transplantou as suas raízes transmontanas para Moçambique
FÁTIMA MISSIONÁRIA Após cinco anos de trabalho deu por concluída a tradução da Bíblia em “xitshwa”, um dos idiomas da província de Inhambane. Foi difícil? Alceu Agarez Foi um trabalho muito exigente e cansativo. Começámos a fazer oito horas por dia, mas tivemos que reduzir para seis porque o cansaço era muito. As dificuldades foram várias. Os quatro colaboradores locais que faziam parte da equipa tinham uma certa dificuldade em entender as línguas
Gostaria de trabalhar num dicionário mais completo – português/xitshwa e vice-versa – e de completar uma gramática. Mas aí entram de novo os problemas financeiros que usávamos como base para a tradução, por não terem um conhecimento estruturado do próprio idioma, que tem muita falta de vocábulos. Foi preciso introduzir palavras, ‘roubando’ ao português ou até ao grego, depois de percebermos que eram as mais usadas pelo povo. F.M. Partiram do zero para esta tarefa? A.A. Não. Já havia uma tradução feita pelos
protestantes, mas com cerca de cem anos. Além de incompleta, era demasiado antiquada e com uma linguagem que às vezes não correspondia muito bem à nossa teologia. F.M. Como surgiu esta ideia? A.A. A pedido do bispo e empurrado pelos superiores
do Instituto Missionário da Consolata, depois de
Eu não sou a mesma pessoa que foi para Moçambique. Sinto-me muito identificado com aquela cultura, porque descobri valores diferentes, que para mim são essenciais
formatação, página por página. Mas a publicação está dependente do financiamento, pois ainda não sabemos quem a pode subsidiar. O que sabemos é que a população está muito entusiasmada e sempre a perguntar-nos quando vai sair. Pode servir perto de um milhão de pessoas. F.M. Há mais projetos para o futuro? A.A. A primeira coisa que penso fazer é rever os livros
litúrgicos que já temos publicado, para inserir os novos textos bíblicos e ter uma linguagem mais atualizada. Depois, aproveitando o muito vocabulário que juntei no computador, gostaria de trabalhar num dicionário mais completo – português/xitshwa e vice-versa – e completar uma gramática. Mas aí entram de novo os problemas financeiros. F.M. A propagação de seitas em Moçambique prejudica o vosso trabalho pastoral? A.A.É um facto que essas seitas se espalham por todo
o lado. Em parte prejudicam o nosso trabalho, mas ao mesmo tempo são um estímulo. Reconhecemos que põem em perigo, mas se calhar são necessárias para nos acordar e obrigar a trabalhar de uma maneira diferente. Se apostarmos mais nestes meios de ter a palavra de Deus transmitida de uma forma mais verdadeira e completa [como o caso da Bíblia] também nos defendemos dessa invasão.
F.M. O que é que lhe dá mais satisfação como missionário? A.A. A aceitação no meio do povo e sentir que estamos
juntos. Ver que estão a enriquecer com tão pouco que lhes dou e que o facto de convivermos os torna alegres e agradecidos. No fundo, eles estão a dar-me tanta coisa. Eu não sou a mesma pessoa que foi para Moçambique. Sinto-me muito identificado com aquela cultura, porque descobri valores diferentes, que para mim são essenciais.
verificarmos que era uma grande necessidade, porque o trabalho pastoral de evangelização, se não partir da palavra de Deus na língua local, é muito deficiente. O português nunca há de ser uma língua sentida. Eles vibram é quando encontram a palavra de Deus na sua própria língua. A reação é totalmente diferente. F.M. Quando é que a obra estará disponível e quantas pessoas poderá servir? A.A. Neste momento está uma pessoa a tratar da Agosto/Setembro 2012
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atualidade
PerU Voluntariado missionário
Trio missionário: Rui e Viviana com o padre coreano Moonjung Kim, de Soplin Vargas
“Vida pessoal também se realiza no ato de construir para os outros”
Os mais importantes “clientes” de Rui Sousa são as crianças
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A prova de fogo começa agora. Após ano e meio de preparação e inculturação, Rui e Viviana vão finalmente viver com as comunidades indígenas que pretendem ajudar, em Soplin Vargas, na floresta amazónica do Peru. O casal continua radiante como no dia da primeira partida texto FRANCISCO PEDRO fotos RUI E VIVIANA
Se a missão desse frutos apenas com entusiasmo, o casal de missionários Leigos da Consolata que está a tentar construir uma “Maloca para todos” na isolada cidade de Soplin Vargas, no Peru, já tinha o sucesso garantido. Rui Sousa, 30 anos, e Viviana Nunes, 29, carinhosamente conhecidos por Copi e Vivi, estão preparados para continuar a espalhar sorrisos cativantes e sonhos contagiantes por mais dois anos e meio, em terras peruanas. Mas estão conscientes do muito trabalho que ainda têm pela frente, da paciência que lhes vai ser pedida, da perseverança que lhes vai ser exigida. Nada que lhes tire o sono. Pelo contrário. De partida para a segunda fase do projeto, após um curto período de férias em Portugal, parece que ganharam novo fôlego só por saberem que vão finalmente poder viver com as comunidades indígenas que se propõem ajudar – quichua, secoya e huitoto. Depois de ano e meio a ‘saltar’ de casa em casa, de povoação em povoação, da Colômbia para o Peru e do Peru para a Colômbia, têm tudo pronto para fixar residência no pequeno lugarejo de Soplin Vargas, uma espécie de ilha no meio da selva, onde cerca de 600 pessoas se aninham em pouco mais do que uma centena de modestas habitações. Há lá um hospital, é verdade. Mas não funciona por falta de profissionais que aceitem o desafio do isolamento. Também há um edifício camarário, mas serve para pouco mais do que assegurar algum emprego e garantir a comunicação exterior, através de um dos seis telefones que existem na povoação (os destinatários das chamadas são chamados com o recurso a um altifalante). As ‘estradas’ para o dito mundo civilizado são feitas de água, através de percursos fluviais, não inferiores a duas horas e meia.
E o único veículo que se ouve a circular na aldeola é a motorizada conduzida pelo responsável pela recolha do lixo. Feita a descrição da nova morada de Copi e Vivi, impõe-se a pergunta. O que leva um jovem casal de Ermesinde (Valongo) a deixar para trás o emprego e a perspetiva de uma carreira profissional (ele era funcionário administrativo, ela formada em psicologia) para se dedicar ao desenvolvimento de um projeto de voluntariado missionário num local tão recôndito? “A vida pessoal também se realiza no ato de construir para os outros”, responde Viviana sem pestanejar. Rui acena prontamente com a cabeça para manifestar a sua inteira concordância e evitar interromper o discurso da mulher. Casados há dois anos, partiram em missão pouco depois da lua de mel. Experimentaram viver sozinhos pela primeira vez (cá viviam em casa dos pais da Viviana) e partilhar juntos as 24 horas do dia. Aprenderam a conhecer os limites um do outro e dizem-se hoje um casal “mais unido e solidário”. Em conjunto com Moonjung Kim, padre Missionário da Consolata, e com a população de Soplin Vargas, propõem-se construir uma maloca
Saudade de moelas Os portugueses têm um modo muito próprio de classificar o sentimento provocado pelas longas ausências no estrangeiro, longe da família. Chamam-lhe saudade. Rui e Viviana não fogem à regra. Com uma particularidade. Quando vieram de férias a Portugal, em junho e julho, trouxeram uma vontade enorme
comunitária, com piso em cimento, paredes em madeira e teto em palha, para apoiar a evangelização, promover a formação e o artesanato local, como fonte de rendimento das comunidades. De Soplin e das outras 34 aldeias da paróquia, que se distribuem pelas margens do rio Putumayo, ao longo de uma linha de 450 quilómetros. Apesar das dificuldades iniciais de adaptação ao idioma, à comida e ao estilo de vida, a recetividade tem sido “muito boa”. Alguns habitantes, conhecedores de formas de vida mais urbanas, como as que veem nas esporádicas deslocações à longínqua cidade colombiana de Leguízamo, perguntam com frequência porque deixaram tudo para ir viver com quase nada. “A esses respondemos que essa é a graça da vocação laical”, esclarece o Rui. “Não queremos ser como eles, mas acreditamos que partilhando a nossa diversidade cultural nos enriquecemos mutuamente. Não é essa uma das mais belas riquezas da missão?”, reforça Viviana Nunes.
de abraçar os familiares, mas também de ‘matar saudades’ dos paladares. Rui vinha desejoso de uma boa pratada de moelas. Viviana, para além da típica francesinha do Norte, entregou logo à mãe uma longa lista de iguarias com as quais se queria deliciar.
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dossier
MÉXICO O influente país católico está cansado do narcotráfico e da lei da selva
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MÉXICO QUER MAIS DEMOCRACIA E MENOS POBREZA Durante sete décadas, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) deu todos os presidentes mexicanos. O nome esclarece tudo: por trás da contradição entre ser revolucionário e ser institucional, uma máquina partidária bem oleada manteve uma democracia de fachada, que só acabou em 2000. Agora, o seu candidato, Enrique Peña Nieto, venceu as eleições e promete que não haverá um regresso ao passado, mas sim respeito pelo jogo democrático e uma aposta no desenvolvimento económico de um país que, com 115 milhões de habitantes, é o mais populoso de língua espanhola e, a seguir ao Brasil, aquele com mais católicos. Mas o seu triunfo fica muito ensombrado pela necessidade de recontagem de metade dos votos texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* fotos LUSA Quando Enrique Peña Nieto, com o seu ar de galã, e a mulher Veronica Rivera, atriz de telenovela, apareceram a celebrar o triunfo nas presidenciais de 1 de julho muitos mexicanos devem ter-se questionado até que ponto o Partido Revolucionário Institucional (PRI) se tinha convertido à democracia, depois de 12 anos de oposição, que se seguiram a sete décadas de poder absoluto. Mas a verdade é que Peña Nieto foi o mais votado, com 38% dos votos, enquanto o eterno candidato da esquerda, Lopez Obrador, se ficou pelos 32% e Josefina Vazquez Mota, a candidata da direita que se via como sucessora do presidente cessante Felipe Calderon, não foi além dos 25%, pagando o insucesso da governação do Partido da Ação Nacional (PAN). Mal se soube dos resultados, Peña Nieto recebeu um telefonema de
Barack Obama, com o presidente dos Estados Unidos, o influente vizinho do Norte, a dar os parabéns ao homem do PRI e não ligando a aos protestos de Lopez Obrador que, como nas anteriores presidenciais, denunciou vastas fraudes e afirma que os resultados não são verdadeiros, conseguindo, porém, que seja feita uma recontagem de metade dos votos. Em causa estão vídeos que dão conta de ofertas em compras de supermercado a alguns votantes em Peña Nieto. O poder de contestação de Lopez Obrador e do seu Partido da Revolução Democrática (PRD) é muito, como se viu em 2006, até porque além da mobilização popular a esquerda também controla boa parte dos assentos parlamentares e triunfou em vários estados, além de controlar a Cidade Agosto/Setembro 2012
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Queima de sete toneladas de marijuana em Guaymas, interceptada na baía de Tepoca
do México. Mas o novo presidente, que precisará de negociar com a oposição, terá sempre a hipótese de, caso seja oficializada a sua vitória, procurar entendimentos com o PAN, pois Josefina Vazquez Mota foi célere a admitir a derrota
e a pronunciar-se a favor da defesa do México como uma grande democracia latino-americana.
UM PRESIDENTE COM AR DE GALÃ DE TELENOVELA
com o jornal espanhol “El País”, Rosa Marta exibiu memórias e não escondeu a sua grande admiração pelo novo presidente do México, hoje com 45 anos, que depois de uma paixoneta platónica na infância (tinha a professora 24 anos) a ajudou já adulto a chegar a autarca de uma localidade vizinha de Atlacomulco.
Enrique Peña Neto é descrito de forma carinhosa pela sua antiga professora primária em Atlacomulco (a sua cidade natal, a 150 quilómetros da Cidade do México) como “muy noble, muy decentito, muy educadito”. Numa conversa 20
Ora, são inúmeros os desafios para um país que desde a independência em relação a Espanha tem sido
Peña Nieto estudou no liceu de Toluca e licenciou-se em Direito pela Universidade Panamericana, associada à Opus Dei. Muito ligado ao Partido Revolucionário Institucional (PRI), sucedeu em 2005 como governador do estado do México (Edomex, para evitar confusões com a república federal) ao tio Arturo Montiel, envolvido em escândalos de corrupção. Bem sucedido na gestão do mais populoso estado mexicano, apoiou-se nos políticos de Atlacomulco para se impor na escolha do candidato do PRI às presidenciais. Casado com Angélica Rivera, uma
muito marcado pela relação com o vizinho do Norte, a ponto de ficar célebre a frase “pobre México, tão longe de Deus e tão próximo dos Estados Unidos”. No passado, o México perdeu para os americanos largas porções de território, o que
atriz feita famosa pelas novelas românticas da Televisa, tem três filhos de um primeiro casamento com Mónica Pretelini, que morreu em 2007 e tinha sido sua mulher desde os tempos de juventude. A idade, a telegenia e agora até a sua segunda esposa estrela conferem a Peña Neto um ar de galã que os seus adversários tentaram denegrir durante a campanha eleitoral, mas que também vale votos, sobretudo femininos. Conta o “El País” que nos comícios se chegou a ouvir gritos de “Enrique, bónbón, te quiero em mi colchón”. Mas os ataques pessoais em vésperas de votos não impediram o triunfo de Peña Neto, mesmo que tenha causado má impressão a revelação que tinha dois filhos fora do casamento (do tempo de Pretelini) e a sua incapacidade para citar escritores durante uma feira literária.
A nível económico, os 3,5% de crescimento do Produto Interno Bruto em 2011 são promissores, até porque a média dos últimos dez anos se ficou pelos 1,8%
explica que nos Estados Unidos haja cidades chamadas Los Angeles, Albuquerque, San Francisco, San Antonio ou El Paso. Mas, hoje, a relação com os americanos tem que ver sobretudo com dois fatores: a economia e o narcotráfico. E Peña Nieto tem bem isso em mente, pois os anos de Calderon caraterizaram-se por um legado de mais 12 milhões de pobres e por 60 mil mortos por causa da droga. A nível económico, os 3,5% de crescimento do Produto Interno Bruto em 2011 são promissores, até porque a média dos últimos dez anos se ficou pelos 1,8%. Contudo, enquanto a economia dos Estados Unidos não recuperar, será difícil ao México fazer melhor, pois 80% das suas trocas comerciais são com os parceiros da NAFTA (sigla inglesa para Acordo de Livre Comércio da América do Norte). A fórmula esboçada por Peña Nieto durante a campanha (onde contou com uma forte cobertura da Televisa, a grande televisão do país) para relançar a economia passa por limitar os monopólios estatais e forçar alguns setores à concorrência a fim de se modernizarem. O desafio será especialmente sério no que diz respeito ao petróleo, pois a estatal Pemex é a grande fonte de receitas do Estado. Quanto à luta contra os narcotraficantes, Peña Nieto promete criar uma força policial especial recrutada entre os militares e contratou o antigo chefe da polícia colombiana para elaborar uma estratégia. O insucesso no combate aos gangues obriga a repensar todo o modelo, pois a sociedade mexicana está cansada da lei da selva que impera em
algumas cidades e de ver imagens de corpos decapitados (600 casos no ano passado). Mais uma vez a colaboração com os Estados Unidos será decisiva, pois o destino da droga são as cidades americanas. Tardará ainda vários meses até o dirigente do PRI se instalar no Palácio de Los Pinos, a residência oficial do presidente, até porque a tomada de posse só ocorrerá a 1 de dezembro e pelo meio é preciso ver o que acontece com a recontagem dos votos. Será tempo suficiente para Peña Nieto se preparar para lidar com um país que é um colosso cultural hispanófono (basta pensar em Diego Rivera ou em Otávio Paz), um influente país católico e uma poderosa economia (das maiores do mundo, organizou recentemente a cimeira do G-20 em Los Cabos). Respeitar a democracia, relançar a economia, combater a pobreza
O gigante de língua espanhola Berço da civilização asteca, o México foi conquistado no século XVI pelos espanhóis, com Herman Cortés a ser o grande chefe militar. Seguiu-se a cristianização das populações índias, muitas vezes pela força, e a transformação do vasto território no vice-reino da Nova Espanha. No início do século XIX, tal como o resto da América Latina, o México conquistou a independência. Era então um país ainda maior que na atualidade, pois as guerras com os Estados Unidos causaram entretanto perdas tão importantes como o Texas ou a Califórnia. Alvo de influências estrangeiras, o México chegou mesmo a ter um breve imperador de origem austríaca, mas Maximiliano acabaria fuzilado pelos rebeldes nacionalistas. Depois de uma série de ditadores militares e de revoluções, como a de Emiliano Zapata, o país tornou-se ao
sobretudo entre as populações índias do Sul e ainda contrariar a criminalidade não são tarefas fáceis. Mas é bom sinal que a taxa de participação nas presidenciais tenha sido de 62%, a mais alta da história do país. Que ser um político, neste caso, se revele um caminho de sucesso. *jornalista do Diário de Notícias
longo de quase todo o século XX uma democracia de fachada, com o Partido Revolucionário Institucional (PRI) a governar durante 70 anos. Só em 2000 a democracia se consolidou no país. ÁREA 1,96 milhões de quilómetros quadrados. POPULAÇÃO 115 milhões de habitantes. CAPITAL Cidade do México (20 milhões de habitantes). LÍNGUA Espanhol e idiomas indígenas. RELIGIÃO Catolicismo (esmagadora maioria). ESPERANÇA MÉDIA DE VIDA 75 anos (homens) e 80 anos (mulheres). MOEDA Peso. RENDIMENTO MÉDIO POR HABITANTE 8900 dólares. DESEMPREGO 4,9%. CRESCIMENTO ECONÓMICO EM 2011 3,5% EXPORTAÇÕES Petróleo, equipamento de transportes, produtos agroalimentares, gado.
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gente nova em missão
férias Com alegria
Olá amiguinhos missionários! Estamos de férias! É a altura ideal para carregar as baterias, observar o belo que existe à nossa volta; saborearmos a vida que dia a dia vamos vivendo, procurando um novo ritmo. Procuremos tempo para correr, para descansar, tempo para amar, sorrir, abraçar, e deixar perder-se no tempo a maldade, o ciúme, a indiferença. Saboreemos a vida, fazendo dela uma caminhada sempre nova, na companhia do nosso maior amigo: Jesus! Boas férias, num tempo que é poderoso de vida nova! texto CARLOS e MAGDA ilustrações RICARDO NETO
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Momento de oração
Mas também conversar, Com alma e coração, partilhar e comungar, deixar de lado a discussão.
Férias bem gozadas com satisfação não é só pensar em dormir… Mas é entrar em comunhão Para a todos ver sorrir!
Ajuda-me meu Jesus, a libertar-me da minha apatia a viver em pleno as férias E correr mundo com alegria!
Ter tempo para pensar no presente e no passado. Parar para rezar… Deus estará sempre ao nosso lado. Poder fazer caminhadas, respirar o ar puro, partilhar umas risadas, preparar melhor o futuro.
Ingredientes
Deus Amigos Diálogo Partilha Família Capacidade de escuta Capacidade de observação Aproximar Deus à família e fazermos uma rica oração. Depois juntamos os amigos e o diálogo e desfrutamos de uma grande amizade. Depois de obter esta maravilhosa surpresa acrescentamos a partilha, a capacidade de escuta e a capacidade de observação nos outros, no mar, no céu, na montanha… No final obtemos umas férias totalmente diferentes e mais solidárias com a nossa família e amigos e com forças renovadas para o próximo ano! Agosto/Setembro 2012
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tempo jovem
Não posso deixar de pensar naquele grande Homem de nazaré, que um dia teve a coragem de abrir as portas do seu pequeno mundo de laços fortes para incluir os conhecidos e desconhecidos que faziam parte dos seus laços fracos
Fortificar os laços texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA Um jovem missionário está a tirar um curso sobre novas tecnologias de comunicação. Contou-me que um professor apresentou uma estatística que comprova que apenas comunicamos, com maior frequência, com cinco a oito pessoas da longa lista de contatos que temos nos nossos telemóveis, e-mails e redes sociais. Estes poucos mas frequentes contatos chamam-se «laços fortes». Os muitos outros das nossas infindáveis listas fazem parte do universo dos «laços fracos». Esta distinção tão desproporcionada levou-me a uma reflexão profunda sobre o valor das minhas relações interpessoais, a partir da minha lista de contatos e das comunicações que faço com frequência. Pegando na minha enorme lista, descobri que são apenas sete as pessoas com quem comunico semanalmente. São muitas aquelas com quem o faço de modo esporádico. As pessoas que fazem parte do círculo dos meus sete «laços fortes» são aquelas com quem mantenho um relacionamento afetivo e familiar de amizade. Com elas alimento uma forte ligação de trabalho e de projetos. O resto do meu grande e variado universo de contatos são pessoas que vou conhecendo, por diversos motivos, com quem vou tecendo a grande rede de experiências que constroem a vida.
Laços fortes
As pessoas que pertencem ao grupo dos laços fortes são uma espécie de pilares seguros, em quem me apoio. Geralmente conhecem as minhas forças
e fraquezas, as tristezas e alegrias, as capacidades e potencialidades do meu ser. Com elas tenho a possibilidade de sonhar, projetar e partilhar um pedacinho da minha vida simples e complexa. As minhas decisões dependem muito do parecer e sentir dessas pessoas porque, na realidade, há um laço forte que me une a elas. Significa que há entre nós um conhecimento mútuo. Dito de outro modo, as pessoas que fazem parte dos laços fortes são aquelas com quem podemos contar sempre.
Laços fracos
As pessoas que fazem parte dos meus “laços fracos” sejam mais ou menos conhecidas, mais ou menos próximas, também são importantes para o meu
um “tu” diferente. Chegar ao “nós” comunitário torna-se o grande desafio nesta aventura de construir o mundo, marcando a diferença. Hoje mais que nunca, é urgente “fortificar” os laços que constroem, em detrimento dos laços interesseiros que destroem. Hoje mais que nunca, é obrigatório criar novos laços com aquilo que nos é diferente e novo, para podermos construir a verdadeira civilização do Amor. Não posso deixar de pensar naquele grande Homem de Nazaré, que um dia teve a coragem de abrir as portas do seu pequeno mundo de laços fortes para incluir os conhecidos e desconhecidos que faziam parte dos seus laços fracos. Pois, quando os seus discípulos lhe disseram “a tua mãe e os teus irmãos procuram-Te”, Ele não
Hoje mais que nunca, é urgente “fortificar” os laços que constroem em detrimento daqueles laços interesseiros que destroem. Hoje mais que nunca, é obrigatório criar novos laços com aquilo que nos é diferente e novo para podermos construir a verdadeira civilização do Amor crescimento e desenvolvimento pessoal. Ficarmos só com os “laços fortes” pode segregar-nos da imensa aventura de viver e conhecer o novo e diferente. Geralmente os que vivem em grupos fechados, que são muito seletivos e elitistas, superlativam os “laços fortes” e instrumentalizam os “laços fracos” segundo os próprios interesses. Laços são laços e todos acabam por servir para costurar a dinâmica da nossa existência. O importante é não deixar de valorizar tanto uns como outros.
hesitou em responder: “A minha mãe e os meus irmãos são aqueles que fazem a vontade do meu Pai”. Deste modo, nascia um novo paradigma nas relações humanas onde o Infinito é a “pedra de toque”.
Laços que incluem
Na medida que caminhamos e fazemos história, vamos criando laços. Estes laços garantem uma conexão entre o “eu” pessoal e Agosto/Setembro 2012
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sementes do reino
Virgílio Pante, bispo de Maralal, Quénia, com um grupo de jovens artistas
Ele está no meio de nós texto DARCI VILARINHO foto ANA PAULA “Ele está no meio de nós!”. Qual divino personagem invisível, Jesus está presente no meio daqueles que estão unidos no seu nome, escutam a sua Palavra e celebram os divinos mistérios. Lê-se no capítulo 18 de São Mateus: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome – ou seja, no meu amor – Eu estou no meio deles”. É Ele que efetivamente aquece os corações dos fiéis, ilumina o seu pensamento e fortalece a sua vontade. Quando está no meio de nós? Só durante a oração feita em unidade? Só nas celebrações litúrgicas? Muito mais do que isso. Podemos ter a sua presença entre nós todas as vezes que estamos dispostos a dar a vida uns pelos outros. Todas as vezes que, perdoando-nos e acolhendo-nos uns aos outros, cumprimos o seu 26
mandamento novo: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Podemos ter a certeza da sua divina presença todas as vezes que estamos dispostos a formar um só entre nós e a fazer a sua divina vontade. É condição fundamental o amor recíproco para que, silenciosamente, como irmão invisível, Jesus se introduza entre duas ou mais pessoas ou no meio dos nossos grupos. A sua divina presença é uma fonte de amor e de luz para os nossos relacionamentos e todas as nossas atividades. É um milagre contínuo esta divina presença: Cristo vivo nos Céus, presente na Eucaristia e na Palavra, presente no necessitado ou no pobre, mas também misticamente presente e operante no meio de nós, reunidos no seu nome, na comunhão fraterna, na comunidade cristã. Talvez estejamos pouco atentos a esta divina presença. O que tantas vezes existe entre nós é um relacionamento simplesmente humano e terreno, guiado pelas sensações instintivas de simpatia, antipatia, interesse, indiferença ou
preconceitos. Somos chamados a construir relações mais profundas, divinas, de ordem sobrenatural. Os apelos de São Paulo ao amor recíproco entendemo-los melhor, se os virmos nesta luz: “Não fiqueis a dever nada a ninguém, a não ser isto: amar-vos uns aos outros. Quem ama o próximo cumpre plenamente a lei. De facto todos os mandamentos estão resumidos numa só frase: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus no meio de nós não é um estado que se conquiste de uma vez por todas, porque Jesus é vida. Exige de nós uma atenção permanente a vivermos em unidade ou a recompô-la todas as vezes que ela se rompe. Esta é a raiz de toda a evangelização. Será feita não pelas nossas capacidades humanas, mas pelo próprio Jesus que, presente no meio de nós, evangeliza, anuncia a Palavra e converte os corações.
intenção missionária
A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO AGOSTO
05
18º Domingo Comum | Ex 16, 2-15; Ef 4, 17-24; Jo 6, 24-35 Dai-nos, Senhor, o Pão da Vida
Senhor, suscita em nós o desejo da tua Palavra para que possamos saciar a fome de verdade que puseste no nosso coração.
12 19º Domingo Comum | 1 Re 19, 4-8; Ef 4, 30-5, 2; Jo 6, 41-51 O Pão da nossa caminhada
Guia, ó Pai, a tua Igreja peregrina no mundo, sustém-na com a força do alimento que não perece. Que ela chegue a contemplar a luz do teu rosto.
15
Assunção de Nossa Senhora | Ap 11, 19-12, 1-6; 1 Cor 15, 20-27; Lc 1, 39-56 A Rainha da nossa casa Entra na nossa casa, ó Rainha do Céu, põe ordem na nossa vida para que vivamos neste mundo em harmonia uns com os outros.
19 20º Domingo Comum | Prov 9, 1-6; Ef 5, 15-20; Jo 6, 51-56 Felizes os convidados
Ó Deus da vida, alimenta com o teu Pão cada um de nós, teus filhos, e dá-nos a certeza de participar um dia no banquete festivo do teu Reino.
26
21º Domingo Comum | Jos 24, 1-18; Ef 5, 21-32; Jo 6, 60-69 Para onde iremos?
Senhor, só Tu és o Caminho e só Tu tens Palavras de vida. Faz com que nada deste mundo nos afaste de Ti, única fonte de Verdade e de Vida.
SETEMBRO
02
22º Domingo Comum | Deut 4, 1-8; Tg 1, 17-27; Mc 7, 1-23 Na boca e no coração
Senhor, faz que nunca se possa dizer de nós que Te honramos com os lábios, mas que o nosso coração está longe de Ti.
09 23ª Domingo Comum | Is 35, 4-7; Tg 2, 1-5; Mc 7, 31-37 Uma palavra de alento
Deus nosso Pai, ajuda-nos a pronunciar palavras de encorajamento aos corações desalentados para que cantem connosco as tuas maravilhas.
16 24º Domingo Comum | Is 50. 5-9; Tg 2, 14-18; Mc 8, 27-35 “A fé sem obras está morta”
Ajuda-me, Senhor, a que eu não me limite a professar a fé com os meus lábios, mas que as obras de amor fraterno falem por mim.
23 25º Domingo Comum | Sab 2, 12-20; Tg 3, 16-4,3; Mc 9, 29-36 O maior e o mais pequeno
Senhor, dá-nos a sabedoria que vem do alto para que acolhamos a Palavra do Teu Filho e compreendamos que para Ti o maior é aquele que serve.
Agosto Para que os jovens, chamados ao seguimento de Cristo, se disponham a proclamar e a testemunhar o Evangelho até aos confins da terra
Jovens ousados
Os jovens são, por natureza, generosos e gostam de se empenhar em grandes causas. Muitas vezes o que lhes falta é alguém que lhes apresente propostas ousadas que exijam esforço. Nós adultos, julgamos que os jovens se «conquistam» com paparicos, mas o que eles desejam é que lhes deem asas e os ensinem a voar. No caso concreto desta intenção missionária levanta-se ainda mais a fasquia e entra-se no campo da vocação missionária.
Setembro
Nós e os outros
Para que comunidades cristãs estejam sempre mais disponíveis para enviar missionários e recursos materiais em favor das Igrejas mais pobres Uma das grandes tentações que podemos ter é dizer: “Primeiro nós; depois vós, se nós precisarmos”. É assim em muitos aspetos da nossa vida. No campo missionário, dá-se o mesmo. Uma paróquia pode ter tudo muito bem organizado, mas ai de quem tenta levar-lhe um jovem voluntário, um escuteiro ou um seminarista. MC
30 26º Domingo Comum * Num 11, 25-29; Tg 5, 1-6; Mc 9, 38-48 Sacerdote, profeta e rei Senhor, infunde em nós o Teu Espírito Santo, para que nos tornemos anunciadores das maravilhas do teu Reino. DV
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o que se escreve A samaritana e o poço A tempestade no mar Zaqueu na árvore
Vejo um ramo de amendoeira Opúsculo de 80 páginas
contendo três parábolas ou metáforas nas quais o autor faz passar como que três épocas em que ele próprio se revê e faz rever o mundo e a Igreja. Uma nota curiosa é ser o texto escrito em prosa, mas entremeado com poesias alusivas ao tema. Autor: D. António Couto 80 páginas | preço: 5,00€ Paulus Editora
Três pequeninas histórias tiradas do Evangelho. São dedicadas aos mais pequerruchos que ainda não sabem ler, mas gostam de as ouvir ler e até são capazes de as decorar. Também apreciam muito os bonecos existentes em cada página. Tudo em ponto pequeno e muito colorido. Autores: Susanne Brandt e Klaus-Uwe Nommensen 28 páginas | preço: 1,50€ cada Edições Salesianas
Não são receitas de cozinha nem de médico. São receitas de humanização. São cerca de cinco dezenas cada qual com o seu tema específico, reagrupadas em 16 blocos. Fala-se de Deus, de Cristo, de Nossa Senhora, da Igreja, da família e outros. O título é provocatório e convida a ler. Quem lê um tema tem vontade de ler o que vem a seguir. Autor: Manuel Morujão, S.J. 216 páginas | preço: 10,00€ Editorial A. O.
Oração diária do casal
Os místicos das religiões
Trata-se de um livrinho simples que, no entanto, pode ajudar os casais, marido e mulher, a rezar, a meditar e a crescer na determinação de continuar a construir a sua casa sobre a rocha firme. Vemos, hoje, tantos casais a sofrer porque não conseguem encontrar um ponto de encontro que os ajude a serem felizes. Talvez este livrinho lhes possa servir. Autores: Jaime e Cecília Boing 68 páginas | preço: 2,50€ Editorial Missões
Por que razão nos deixa Deus sofrer?
O autor tenta dar uma resposta correta e plausível à pergunta que o título faz. Mas, apesar de todo o seu saber teológico, não consegue satisfazer os anseios de quem pergunta. Pois se a razão não chega e a teologia também não, tem que se ir à fé buscar a resposta e, se esta também não satisfizer, resta-nos a oração. Autor: Karl Rahner 76 páginas | preço: 5,50€ Editorial Franciscana 28
Receitas de humanização
O livro tenta explicar o que é a mística, quem são os místicos e a influência que eles exercem na religião que professam e no mundo dos homens onde vivem. Místicos encontram-se em todas as religiões; eles têm sensivelmente as mesmas caraterísticas: o silêncio, a tentativa de se unirem com o ser supremo a quem adoram. Conseguem isto deixando-se penetrar pela força do Espírito no seu íntimo. Exige uma certa formação. Autor: José Luis Vázquez Borau 144 páginas | preço: 16,50€ Paulus Editora
o que se diz O silêncio de Deus e a revolta do homem
O livro trata de filosofia, ciência e religião. Precisamente por estas três palavras, o livro destina-se a pessoas que tenham cultura em qualquer uma destas áreas. Por aqui passam várias correntes de pensamento em que o homem se esforça por prescindir de Deus, avantajando-se ele próprio na convicção de que pode resolver todos os problemas, através das ideias, das máquinas e da sua própria experiência. O autor, um franciscano, dá pistas. Autor: José Antonio Merino 170 páginas | preço: 7,00€ Editorial Franciscana
Intimidade
A intimidade relaciona-se com o eu, com o que é só meu e que, por isso, não quero devassá-lo, nem divulgá-lo, nem mostrá-lo a outros que não sejam os meus íntimos. O presente opúsculo exalta e torna a exaltar esta virtude no respeito de cada um por si próprio e pelos outros, ou seja a ressalva absoluta da intimidade em todos os campos e em todos os sentidos. Autor: Miguel-Ángel Martí García 212 páginas | preço: 11,00€ Edição Diel
O melhor é a família “A família, fundada pela união conjugal entre um homem e
uma mulher, além de todos os acontecimentos culturais que a caraterizam, continua a ser o principal caminho para a geração e crescimento da pessoa. A família é o lugar onde a criança aprende a falar, encorajada pela mãe e pelo pai, e olha para o futuro como promessa.”. José Carvalho | O Mensageiro | 28 de junho 2012
Liturgia do futebol “Como ‘liturgia’, o futebol tem ritos e cerimónias muito próprios e
que por serem tão difundidos, quase o torna uma religião, gerando até adaptação de termos que são usados nas várias religiões tradicionais: quando se apelida um estádio de catedral, um certo chefe de clube de papa e outro de cardeal, os patrocinadores de padrinhos, as designações clubistas com epítetos neo-pagãos”. António Couto | Notícias de Beja | 28 de junho 2012
Tempo de crise “Em tempo de crise vale tudo. São os gangues organizados, os
roubos, as agressões e consequentes vítimas mortais, as agressões aos mais desprotegidos, os assaltos a residências, comércio, bancos e instituições diversas. Foi exatamente isto que disse em Bruxelas o relatório de transparência internacional, acusando Grécia, Espanha, Itália e claro, Portugal”. Salvador Santos | A Defesa | 27 de junho 2012
Socialismo “O embate entre o capitalismo e comunismo que marcou o século
passado pode ser entendido como disputa em torno de duas formas de coordenação da divisão social do trabalho: mercado livre, no capitalismo, e planeamento centralizado pelo estado, no comunismo. Na atual economia globalizada, o mercado tornou-se o principal coordenador da divisão social do trabalho”. Jung Mo Sung | Concilium | maio 2011
Férias “Os meses de verão são sinónimo de liberdade, diversão e
brincadeira para os mais pequenos e de muita criatividade para os adultos. Com praticamente três meses de férias há que manter as crianças ocupadas, de preferência com qualidade. Avós, tios e primos, colónias, ATL são algumas das possibilidades”. Rita Bruno | Família Cristã | julho/agosto 2012
Mulheres na Igreja “Na missão da Igreja, todos temos lugar, e a nós mulheres não nos
falta trabalho. Complexos de inferioridade e superioridade à parte, não existem papéis maiores ou menores, no cenário da missão evangelizadora; o que há e são protagonismos diferentes, com a mesma dignidade”. Maria de Fátima | Vida Consagrada | abril 2012
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gestos de partilha
Solidariedade vários projetos
Rosa Peixoto – 13€; Anónimo – 30€; Lúcia Marques – 13€; Fátima Matias – 10€; Eduardo Soares – 25,00€; Paulino Maia – 5€; João Afonso – 33€; António Melo – 50€; Darvim Madeira – 20€; Anónimo – 2€. Total geral = 20.862,19€.
Contactos
Bolsas de Estudo Isaura Portugal 250€; Noémia Canavarro – 10€; José Ferreira – 250€. Ofertas várias Fernando Gomes – 36€; D. Eurico Nogueira – 293€; Centro Clínico São Lucas – 93€; Filomena Neto – 43€; Lúcia Oliveira – 50€; Joaquim Silva – 43€; Júlia Mata – 40€; Antónia Sampaio – 43€; Anónimo – 45€; Amélia Costa – 53€; Maria Góis – 43€; Lourdes Dias – 53€; António Sousa – 40€; Teresa Figueiredo – 43,00€; Rogério Carvalho – 36€; Rosa Ribeiro – 43€; Mário Albuquerque – 229€; Teresa Carvalho – 36€; Guilhermina Maldonado – 43€; Fernanda Carrilho – 25€; Rosa Martins – 33€; Irmãs Franciscanas M. de Maria – 103€; Anónimo – 250€; Edite Carvalho – 33€; Agostinho Gameiro – 50€; Manuel Nogueira – 40€; José Rafael – 53€; Conceição Morais – 106,00€; Alberta Pereira – 43€; Maria Céu Oliveira – 35€; Manuela Fernandes – 43€; Isabel Pacheco – 25€; Alcina Guedes – 25€; Fernando Roldão – 29€; Felicidade Além – 46€; Peregrinação da 3ª Idade, da paróquia de Fiães – 220€; Valdemar Monteiro – 36€; Joaquina Padeiro – 33€; Emília Rocha – 33€; Rosa Gomes – 54€; Carlos Prazeres – 33€; Alzira Henriques – 74,€; Gabriela Santos – 250€; José Faria – 36€; Gilberto Laurêncio – 93€; Fernanda e Orlando Dionísio – 50€; Maria Barroso – 40€; Isabel Pacheco – 50€; Rosa Ramos – 28€; Maria Rosário Duarte – 79€; António Ribeiro – 40€; Abaulina Caçador – 35€; David Pereira – 20€; Ernesto Silva – 100€; Francisco Santos – 53€; Rui Teixeira – 93€; João Santos – 100€; Cecília Santos – 33€.
Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt 30
vida com vida
Homem de muitos ofícios Padre Carlos Saroglia nasceu em São Rafael Cimena, Turim, a 10 de dezembro de 1883. Entrou na Consolata em 1903 já com metade dos estudos teológicos feitos. Ordenou-se em 1906 e logo a seguir partiu para o Quénia onde permaneceu até 1929, altura em que regressou a Itália. Faleceu a 24 de janeiro de 1961 texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO O missionário de que falamos hoje foi homem de muitos ofícios; não houve quase nada que ele não tivesse feito, até mesmo a arte de vedor para descobrir veios de água na terra. Quando entrou na
Consolata, em 1903, já trazia a maior parte dos estudos feitos. Três anos depois, em 1906, foi ordenado sacerdote. E, dadas as necessidades urgentes que se verificavam naqueles primeiros
tempos da missão, não admira que, em dezembro desse mesmo ano, tivesse partido para o Quénia. Os missionários da Consolata tinham chegado ali apenas há quatro anos, mas já tinham impulsionado muitas estruturas: comprado terrenos, montado oficinas, fundado missões, construído igrejas e… aprendido a língua. O padre Saroglia, caiu ali como que de paraquedas. Foi chegar e andar! Nós, cá de longe, temos dificuldade em compreender como é que estes homens, sem saberem uma palavra dos dialetos locais, se inseriam tão rapidamente nos trabalhos que lhes eram pedidos. Vê-se que o Espírito Santo atuava fortemente para lhes dar sabedoria e força para se lançarem a trabalhos tão difíceis. O padre Saroglia, quando chegou tinha apenas 23 anos de idade, e recebeu logo ordens para dirigir os trabalhos agrícolas numa quinta pertencente aos Missionários da Consolata. Permaneceu ali quatro anos até que foi chamado para a residência de Limuru, local por onde passavam todos os missionários e de onde partiam longas caravanas com apetrechos e mantimentos para as missões recém-formadas. Foram nove anos de grande azáfama. Em 1921, realizou-se em Turim a primeira assembleia geral do Instituto, na qual ele foi chamado a participar. Tendo regressado ao Quénia, deu meia dúzia de voltas, de missão em missão, com a saúde cada vez mais arrombada, até que em 1929 teve de regressar à Itália para se tratar. E África nunca mais. Durante os últimos decénios da sua vida exerceu vários cargos de menor responsabilidade e em 1961 deu por terminada a sua missão na terra. As suas últimas palavras foram: “Deus é que manda; quando Ele chama, temos de ir”.
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outros saberes
Líderes movem massas Se alguém tiver um amigo no topo, pode estar descansado que não fica sem emprego. Muitas vezes não se olha à necessidade, o que interessa é responder à cunha e beneficiar o amigo texto MANUEL CARREIRA foto LUSA
A ovelha que está para ser mãe pode dormir descansada que o dono não a mata
Apoio à compreensão Neste caso a ovelha é poupada, não tanto pelo valor que ela tem por si, mas pela cria que se está a formar dentro dela. O que se diz da ovelha, pode dizer-se de outros animais e até das árvores que dão sinais de virem a dar bons frutos. A poda tem de ter isso em conta, para não suceder que se cortem os melhores ramos. Tanzânia
A multidão tem muitas cabeças, mas não tem miolos Apoio à compreensão Vemos muitas vezes arruaceiros a gritar em longas manifestações, mas nem sempre têm um objetivo
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realizável. Falam, porque outros falam, gritam, e não se pergunta, qual o objetivo a alcançar, qual é a garantia de validade. É por isso que se diz: “Quem quer que tenha bons pulmões, consegue manipular as massas”. Inglês
Atrás da minha casa há sempre alguém que fala mal de mim
Apoio à compreensão É um tipo de crítica que se faz nas costas da pessoa. Mostra a cobardia de alguém que não tem coragem de dizer as coisas diretamente ao interessado e, por isso, refugia-se no anonimato, inventando defeitos nos outros sem que eles possam defender-se. Macua
Quem não tem padrinhos morre mouro
Apoio à compreensão Ter padrinhos significa ter familiares ricos, ou amigos bem colocados em altos cargos que favorecem essas pessoas, independentemente do seu mérito pessoal. Desde tempos antigos, esta maneira de proceder tornou-se uma chaga social à qual nem os papas ou outros dignitários eclesiásticos conseguiram escapar. Português
Um dia bom torna-se evidente logo de manhã
Apoio à compreensão Logo de pequena qualquer criança dá sinais de como será quando for grande. Por isso quem educa uma criança tem de estar atento para promover as faculdades boas e reprimir as más. Aplicando às árvores diz-se: quem quiser que uma planta cresça direita, tem de a manter segura com esteios enquanto ela for nova. Tanzânia
a missão é simpática
700 anos a percorrer o mundo texto NORBERTO LOURO ilustração JOSÉ LOURO Há dias fui ao cemitério, não para um enterro, mas para sentir o que ali se sente. Falo do cemitério de Fátima. Passando pela porta mais estreita, logo à entrada, deparei com uma sepultura sigilada, coberta por uma laje onde se lê: “Aqui descansaram os restos mortais de Francisco e Jacinta Marto a quem Nossa Senhora apareceu”. Descansaram, porque “o corpo de Jacinta foi trasladado para o Santuário a 1 de maio de 1951. O corpo de Francisco foi exumado e trasladado a 13 de fevereiro de 1952”. Lembro-me muito bem desses dias. Assisti aos
atos da trasladação e nunca mais esqueci aquela carita ressequida, mas incorrupta, da Jacinta que, juntamente com o seu irmão, viveu tão intensamente o insondável mistério do amor de Deus, através de Maria. Dali, comecei uma peregrinação descendente e, passando entre as campas, compreendi porque é que as há, em grande quantidade, com dedicatórias em tantas línguas. É que os seus “moradores” vieram de todo o mundo e ali quiseram ficar para sempre, atraídos por aqueles com quem o Céu falou, bem perto deles. Dois nomes despertaram a minha atenção e provocaram uma comoção irreprimível: Maria Rosa e Maria da Soledade Mourão Ferreira. Foram nossas mães, nossas professoras, nossas incomparáveis benfeitoras. Digo “nossas”, isto é, dos Missionários da Consolata, pois elas acolheram, em 1943, o primeiro de nós, o padre João De Marchi, sem nada e à procura de tudo. E nada lhe regatearam! Arrebanhados que
foram os primeiros seminaristas, trataram-nos como mães e mestras. Dona Rosa (Rosinha), acamada, e Dona Soledade, escritora, foram, além do mais, inspiradoras e corretoras dos livros sobre Fátima escritos pelo padre De Marchi, quando ele ainda mal sabia falar português. Alguns dos que foram alunos delas, as meninas dos seus olhos, e testemunharam as suas virtudes, repousam agora bem perto delas, no mausoléu dos Missionários da Consolata. Ali repousam já 13 missionários da Consolata: um dentro da capelinha e 12 em dois talhões de seis cada. Conheci-os a todos e demorei o pensamento em oração por cada um deles, recordando pedaços de vida vivida em comum. Tomei nota da duração de vida de cada um, num papel; somei o tempo aproximativo que dedicaram à missão após a ordenação sacerdotal e deu a admirável soma de mais de setecentos anos. Sim, senhor! Setecentos anos de vida missionária, gastos a fecundar com a mensagem evangélica as terras por onde andaram e agora a descansar neste chão sagrado de Fátima que os acolheu para sempre, junto dos Pastorinhos, cuja mensagem, a mesma deles, continua a percorrer o mundo. Recordar é viver. Ganhei mais vida neste lugar para onde hei de ir, quando Deus quiser.
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fátima informa
Fé e arte, por terras de Nossa Senhora texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto E. ASsUNçÃO Em Fátima, os peregrinos e fiéis rezam, habitualmente, aos pés de Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições, ou fazem um momento de adoração na capela do Sagrado Lausperene, na igreja da Santíssima Trindade. Mas há outros lugares de paz, de beleza que proporcionam o encontro com Deus. Habitualmente não estão abertos ao público, por se tratar de capelas privadas de instituições religiosas. Os vitrais fazem brilhar outra luz na capela do Instituto das Filhas de Santa Maria de Leuca. Os dois trípticos mostram que a palavra é o Verbo. Completam o conjunto duas janelas com as letras da oração mariana “Avé Maria – Santa Maria” como se estivessem a ser recitadas por dois coros. O altar tem a forma de U (unidade, união), com o sacrário a fazer parte do conjunto. É a primeira capela, em Fátima, dedicada aos pastorinhos, a do Carmelo de São José, das Irmãs Carmelitas Descalças, a mesma ordem a que pertenceu a irmã Lúcia. A capela, em forma circular, é encimada por uma pomba, a do Espírito Santo, com seus raios de luz. O vitral da capela retrata o Milagre do Sol, a que muitos peregrinos assistiram juntamente com os pastorinhos em outubro de 1917. E ali encontram-se também as estátuas dos dois beatos Francisco e Jacinta Marto. A capela do Instituto das Irmãs Oblatas de Maria Virgem de Fátima evoca a Cova da Iria, através da simbólica Mensagem de Fátima. A base do altar tem a forma de uma árvore e está interligada com os motivos do ambão e cadeira do presidente da assembleia. As campestres tonalidades encontram-se no chão, paredes e teto. O sacrário, em forma de círculo, dourado, associa o sacramento ao sol. Interior da capela das religiosas de clausura do Carmelo de São José, Fátima
Jornadas missionárias lembram Vaticano II
50 anos depois do início do Concílio Ecuménico Vaticano II, as Jornadas Missionárias abordam a temática sob o tema “Missão, memória e profecia”, de 14 a 16 de setembro, no Centro Paulo VI. As inscrições devem ser efetuadas até 6 de setembro.
Teresa Salgueiro canta para sacerdotes
A antiga vocalista do grupo Madredeus, Teresa Salgueiro, vai cantar para os participantes do VII Simpósio Nacional do Clero, que irá decorrer de 4 a 7 de setembro, em Fátima. O tema do encontro será “O padre, homem de fé – do 34
mistério ao ministério” e é programado para a participação de sacerdotes e seminaristas.
Itinerário disponível em sete idiomas
Os peregrinos portugueses e estrangeiros são convidados a percorrerem um itinerário que faz evocação da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima. A proposta para o percurso leva o peregrino a três pontos do Santuário de Fátima: Recinto de oração, diante do presépio; Basílica de Nossa Senhora do Rosário e Capelinha das Aparições. O desdobrável-guia pode ser recolhido junto ao presépio.
Agenda em agosto 14-15 Peregrinação dos Idosos 22-23 Peregrinação diocesana da Guarda 27/8-1/9 Curso de Missiologia no Centro Allamano
setembro
8-9 Peregrinação dos Convívios Fraternos 14-16 Jornadas Missionárias Nacionais 29 Peregrinação da Associação Portuguesa de Escolas Católicas 29/30 Peregrinação Nacional do do Rosário
Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA tel: 249 539 460 | geral@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt
OUTRA VISÃO
DO MUNDO
| un’altra visione del mondo | mwingine mtazamo wa dunis another view of the world | otra visión del mundo | inny pogląd na świat une autre vision du monde | wona wunyowani wa lapo eine andere sicht der welt | djobe mundu di oto manêra 다른 세계관
APENAS
7 EUROS
POR ANO
Comunhão Podia ser a Terra prometida cada flor cada rio cada centelha do sol incandescente sobre nós, falam de Ti, Senhor, são Tua voz! E nós, soltos no sol, na flor, no dia, cantamos para Ti um canto de perene alegria. Podia ser a Terra prometida esta hora, este espaço, esta emoção, pois que vivida em Ti a nossa vida sabe a terra de mel e promissão. Fernanda Seno | “Cântico Vertical”